o Que Pode e Deve Ser Dito Sobre Ciência No Discurso Da Divulgação Científica

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  • MARTINS, M. F. O que pode e deve ser dito sobre cincia no discurso da divulgao cientfica: ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar. Revista Cientfica Cincia em Curso R. cient. ci. em curso, Palhoa, SC, v. 1, n. 1, p. 49-58, jul./dez. 2012.

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    O QUE PODE E DEVE SER DITO SOBRE CINCIA NO

    DISCURSO DA DIVULGAO CIENTFICA: NS PRECISAMOS

    DA INCERTEZA, O NICO MODO DE CONTINUAR1

    Marci Fileti Martins2

    Resumo: Interessa-me analisar nos materiais de divulgao cientfica, certos enunciados

    como incerteza, incompletude, imperfeio, provisrio, no pode ser compro-vado jamais, nada existe a no ser que observemos e ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar que materializam certos sentidos sobre cincia. Sentidos estes aparentemente conflitantes com o funcionamento de um discurso da cincia concebido tan-

    to como uma atividade de triagem entre enunciados verdadeiros e enunciados falsos, quanto como a produo de um sujeito da cincia que est presente pela ausncia (PCHEUX, 1975, p. 97-98). Interessa-me, portanto, como prope Pcheux (1983), alcan-

    ar a objetividade material contraditria do interdiscurso que determina o discurso de di-

    vulgao cientfica, na atualidade, buscando, de um lado, compreender as condies de

    produo histricas e ideolgicas que tornam possveis o surgimento desses enunciados e,

    consequentemente, desses sentidos sobre cincia e, de outro, interrogar sobre o papel da

    divulgao cientfica de modo como se d a produo circulao do conhecimento numa

    sociedade como a nossa.

    Palavras-chave: Discurso da cincia. Divulgao Cientfica. Produo do Conhecimento.

    Circulao do Conhecimento.

    INTRODUO

    Podemos afirmar que o que deriva da cincia, atualmente, no mais de interesse

    exclusivo dos cientistas. De fato, a cincia ganha novos sentidos ao, intensamente, sair

    dos lugares de produo e circulao tradicionais (as instituies acadmicas com seus

    papers e congressos, por exemplo) para se construir noutro espao social e histrico em

    que ressignificada atravs de materiais miditicos (revistas e programas de TV) deno-

    minados materiais de divulgao de cincia. Nesta conjuntura, interessa-me analisar

    nos materiais de divulgao cientfica, certos enunciados como incerteza, incomple-

    tude, imperfeio, provisrio, no pode ser comprovado jamais, nada existe a

    no ser que observemos e ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar

    que materializam certos sentidos sobre cincia. Sentidos estes aparentemente conflitan-

    tes com o funcionamento de um discurso da cincia concebido tanto como uma ativi-

    dade de triagem entre enunciados verdadeiros e enunciados falsos, quanto como a pro-

    duo de um sujeito da cincia que est presente pela ausncia (PCHEUX, 1975, pp.

    97-98). Interessa-me, portanto, como prope Pcheux (1983), alcanar a objetividade

    material contraditria do interdiscurso que determina o discurso de divulgao cientfi-

    ca, na atualidade, buscando, de um lado, compreender as condies de produo histri-

    cas e ideolgicas que tornam possveis o surgimento desses enunciados e, consequen-

    1 In: INDURSKY, Freda; FERREIRA Maria Cristina L., MITTMANN, Solange (Orgs.). O discurso na

    contemporaneidade: materialidades e fronteiras. So Carlos: Claraluz, 2009. 2 Docente da Fundao Universidade Federal de Rondnia. E-mail: [email protected]

  • MARTINS, M. F. O que pode e deve ser dito sobre cincia no discurso da divulgao cientfica: ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar. Revista Cientfica Cincia em Curso R. cient. ci. em curso, Palhoa, SC, v. 1, n. 1, p. 49-58, jul./dez. 2012.

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    temente, desses sentidos sobre cincia e, de outro, interrogar sobre o papel da divulga-

    o cientfica de modo como se d a produo circulao do conhecimento numa socie-

    dade como a nossa.

    O que dominamos Divulgao Cientfica, hoje, segundo alguns pesquisadores,

    (BUENO, 1984. ZAMBONI, 2001.) pode ser relacionada a um conjunto de materiais

    que vo desde revistas, programas de TV e de rdio passando por livros didticos, aulas

    de cincia do segundo grau, at revistas em quadrinhos. E tem, imaginariamente, como

    funo colocar em linguagem acessvel os fatos/pesquisas cientficas os quais so her-

    mticos e incompreensveis para os sujeitos no especialistas.

    Interessa-me dentre esses materiais, aqueles produzidos na articulao entre a ci-

    ncia e a mdia, pelo que , tradicionalmente, chamado Jornalismo Cientfico. Nessa

    relao, o discurso de cincia ressignificado a partir da sua publicizao, ou seja, a

    cincia retirada do seu meio de circulao tradicional e levada a ocupar um lugar no

    cotidiano do grande pblico. O efeito de sentido que a se estabelece o que podemos

    chamar de efeito de informao cientfica (ORLANDI, 2001), em que o conheci-

    mento cientfico passa a informao cientfica.

    Neste funcionamento, o discurso de divulgao atua como um discurso sobre

    (MARIANI, 1988) em que, ao falar sobre cincia coloca-se entre esta e os sujeitos co-

    nhecido pelo interlocutor. Os sentidos a produzidos, por um lado, mostram a cincia, na

    maioria das vezes, apenas em seus resultados, como produtos acabados e por outro,

    constroem a imagem de um leitor de cincia que se constitui pela falta de conhecimen-

    to/informao, o que imprime a necessidade de um didatismo ao discurso de divulga-

    o. De tal modo, atravs recursos lingusticos como definies, explicaes, estatsti-

    cas, citaes, analogias, e outros como esquemas, desenhos e fotos, este discurso deslo-

    ca o conhecimento cientfico que passa a significar a partir de outras condies de pro-

    duo.

    O discurso de divulgao cientfica, portanto, se inscreve num espao de negocia-

    o entre as formaes discursivas (FD) da mdia (jornalismo), da cincia e do grande

    pblico (no especialistas), sendo esta negociao determinada por uma interdiscusivi-

    dade que vai ela mesma produzir, atravs de encadeamentos e articulaes a delimita-

    o, evidentemente instvel, entre estas FD, as quais no se constituem independente-

    mente, mas sim prope Guimares (1993 apud ORLANDI, 1996, p. 68) no se d partir

    de discursos j particularizados, ela prpria a relao entre discursos que d a particu-

    laridade, ou seja, so as relaes entre discursos que particularizam cada discurso.

    Desse modo, proponho pensar o discurso de divulgao cientfica, especificamen-

    te, na sua relao com a FD da cincia, naquilo que essa FD particulariza o discurso de

    divulgao, buscando compreender como certos enunciados, que surgem no discurso de

    divulgao como incerteza, incompletude, imperfeio, provisrio, no pode

    ser comprovado jamais, nada existe a no ser que observemos e ns precisamos da

    incerteza, o nico modo de continuar, podem estar materializando certos sentidos

    sobre cincia, aparentemente conflitantes com o funcionamento de um discurso de cin-

    cia concebido tanto como uma atividade de triagem entre enunciados verdadeiros e

    enunciados falsos, quanto como a produo de um sujeito da cincia que est presente

    pela sua ausncia (PUCHEUX, 1975, p. 71-98)

  • MARTINS, M. F. O que pode e deve ser dito sobre cincia no discurso da divulgao cientfica: ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar. Revista Cientfica Cincia em Curso R. cient. ci. em curso, Palhoa, SC, v. 1, n. 1, p. 49-58, jul./dez. 2012.

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    Inicio me posicionando, posteriormente, ao que Pcheux e Fichant (1977) cha-

    mam de corte galilaico, num momento da histria da cincia em que surgem fundamen-

    tos como o Princpio da Incerteza, de Heisemberg (1927), o Teorema da Indefinibilida-

    de, de Tarski (1930) e o Teorema da Incompletude, de Gdel (1931). O objetivo mos-

    trar que os efeitos do aparecimento dessas definies na fsica e na lgica-matemtica

    so decisivos para o entendimento do funcionamento do discurso da cincia na contem-

    poraneidade.

    Na terceira metade do sculo XX, a comunidade cientfica ainda se recuperava

    dos efeitos provocados pelo que chamarei de corte einstainiano, que colocava a cin-

    cia num ponto sem regresso (REGNAUT apud PCHEUX; FICHANT, 1977) a partir

    do qual novos sentidos comeam a aparecer. A ideia de que tempo e espao no so

    absolutos e se constituem relativamente (Teoria da Relatividade Geral) e mais ainda,

    uma viso da realidade que, ao mesmo tempo, que era para ns no especialistas, con-

    tra-intuitiva, era para a cincia estabelecida um ponto de ruptura com seus pressupostos

    mecanicistas e determinadas, em que haveria tanto o repouso absoluto quanto o tempo

    absoluto ou universal, o qual todos os relgios mediriam. Segundo Hawking (2002),

    esses conceitos perturbaram algumas pessoas que se perguntavam: se tudo era relativo

    no existiriam, ento, padres morais absolutos?

    Entretanto, a mesma linguagem matemtica e lgica que possibilitou o desenvol-

    vimento da mecnica newtoniana e seus efeitos, tambm, foi responsvel pelas desco-

    bertas de Einstein, o que no implica, portanto, estar em jogo, no discurso da cincia,

    uma negao de certo pr-construdo envolvendo a infalibilidade da lgica-matemtica.

    Dito de outra maneira, os sentidos a constitudos para a lgica-matemtica garantem-

    lhe o status de metalinguagem, que atravs da demonstrao (axiomtica e algortmica)

    e da verificao (objetiva), capaz de descrever, de forma inequvoca e absoluta, os

    fenmenos. Isso envolve a aceitao de um real independente do sujeito e acessvel por

    essa metalinguagem. Um enunciado de Einstein, logo aps a Segunda Guerra Mundial,

    em 1948, aps lhe oferecerem a residncia do novo estado de Israel, a qual ele declinou,

    materializa os sentidos do discurso da cincia que sustentava as suas descobertas: A

    poltica para o momento, mas uma equao para a eternidade (Hawking 2002,p.26).

    Curiosamente, no discurso da cincia, assim, logicamente constitudo, outra ruptu-

    ra, essa agora muito mais desestabilizadora comea a se constituir. Determinada pelo

    processo de demarcaes e acumulao ideolgica que, segundo Pcheux e Fichant

    (1977), precede necessariamente o momento do corte e determina a conjuntura na qual

    este se produzir, essa ruptura ou corte o que se convencionou chamar mecnica

    quntica, a qual traz profundas implicaes para a maneira como a cincia, a partir

    desse momento, passa a ver a realidade e a participao do observador no processo cien-

    tfico.

    O aspecto perturbador da teoria quntica envolve as ideias de outro alemo, We-

    ner Heisenberg, que, em 1926, formulou o Princpio da Incerteza. Esse princpio sur-

    ge da necessidade prtica de prever a posio e a velocidade futuras de uma partcula a

    partir dos postulados feitos por Max Planck, que em 1900, afirmou que luz sempre vem

    em pequenos pacotes chamados quanta. Segundo Heisenberg a hiptese de Planck

    implica que quanto mais exatamente se tenta medir a posio de uma partcula, menos

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    exatamente se consegue medir sua velocidade e vice e versa. O Princpio da Incerteza,

    desse modo, assinala o fim do sonho de uma teoria da cincia que propunha um modelo

    de universo completamente determinstico. Nas palavras de Hawking (1988, p.65)

    no se pode por hiptese prever eventos futuros com preciso, uma vez que tambm

    no possvel medir precisamente o estado presente do universo [...] a mecnica qunti-

    ca, portanto, introduz um inevitvel elemento de imprevisibilidade ou casualidade na

    cincia. Alm disso, a mecnica quntica mostra que neste processo de medio, h

    ainda uma indeterminao no que de respeito s caractersticas do elemento avaliado

    que pode tanto se comportar como uma partcula quanto como uma onda (de luz). O que

    determinar se ele uma partcula ou uma onda a observao. Desse modo, a mecni-

    ca quntica situa-se, em certa medida, numa relao contraditria com prprio funcio-

    namento de discurso cientfico, que se constri pela objetividade e neutralidade ao ex-

    cluir o sujeito do processo.

    preciso destacar, que para muitos, o observador, no um sujeito autoconsci-

    ente, mas sim um dispositivo fsico que faz a medida. Contudo, esses sentidos a ins-

    taurados funcionam polemizando a posio de neutralidade do sujeito da cincia estabe-

    lecida, de onde agora emergem efeitos de outra posio do sujeito da cincia: aquela

    constituda por uma certa subjetividade. assim que Niels Born em 1955, falando da

    fsica quntica que ajudou a criar, mostra essa nova cincia que contraditoriamente,

    constitua-se tanto pelos sentidos mecanicistas quanto pelos qunticos. Ele diz, em seu

    artigo Fsica Atmica e Conhecimento Humano

    Em vista da concepo mecanicista da natureza no pensamento filosfico, compreensvel

    que s vezes se tenha visto na noo de complementariedade uma referncia ao observador

    subjetivo, incompatvel com a objetividade da descrio cientfica [...] Longe de conter

    qualquer misticismo alheio ao esprito da cincia, a noo de complementaridade aponta

    para condies lgicas da descrio e da experincia na fsica atmica (BORN, 1995, p.

    115).

    Entretanto, no mesmo artigo, Born j anunciava certos efeitos dessa subjetividade

    ao afirmar tambm que

    devemos manter uma distino clara entre observador e contedo de observao, mas de-

    vemos reconhecer que a descoberta do quantum lanou uma nova luz sobre os prprios

    fundamentos da descrio da natureza, revelando pressupostos at ento despercebidos no

    uso racional dos conceitos em que se baseia a comunicao da experincia. [...] Enquanto,

    na concepo mecanicista da natureza, a distino sujeito-objeto era fixa, d-se espao

    uma descrio mais ampla atravs do reconhecimento de que o uso coerente de nossos con-

    ceitos requer tratamentos diferentes para essa separao (BORN, 1995, p. 115-116).

    Mas foram outros fsicos, sobretudo, Eugene Paul Wigner, que rompendo de for-

    ma mais decisiva com o pr-construdo mecanicista, prope a necessidade da conscin-

    cia para completar a mecnica quntica. Contudo, mesmo aceitando, prope Roberto

    Covalon, em seu artigo Conscincia quntica ou conscincia Crtica que a introduo

    de elementos subjetivos na Fsica Quntica considerada altamente indesejvel, tendo

    sido tentadas diferentes formulaes para contornar esse problema, quero destacar aqui,

    que a mecnica quntica decisiva no sentido de materializar certas contradies do

  • MARTINS, M. F. O que pode e deve ser dito sobre cincia no discurso da divulgao cientfica: ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar. Revista Cientfica Cincia em Curso R. cient. ci. em curso, Palhoa, SC, v. 1, n. 1, p. 49-58, jul./dez. 2012.

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    discurso da cincia de uma forma agora incontornvel. E os seus efeitos podem ser ob-

    servados, j que o sujeito que antes se constitua no discurso da cincia, exclusivamente,

    presente pela sua cincia (PCHEUX, 1975, pp.71-98) passa a ser objeto de debate,

    agora, por sua possvel participao no processo de produo de conhecimento. E essa

    discusso decorre da assuno diria espetacular da mecnica quntica, que garante

    para o sujeito uma posio ativa na construo da realidade.

    Retomando a questo inicial envolvendo o aparecimento de alguns enunciados, o

    discurso de divulgao cientfica, que parecem contradizer os sentidos constitudos no

    discurso da cincia, podemos dizer agora, que esses enunciados materializam o funcio-

    namento do discurso da cincia, determinado, em parte, pelos sentidos introduzidos pelo

    aparecimento da mecnica quntica. Assim, o enunciado da Revista Superinteressante,

    da edio 107, de agosto de 1996:

    Voc acha que o gato desta pgina est saltando do telhado de c para o telhado de l? Pura

    impresso. o mesmo gato em dois telhados ao mesmo tempo. Impossvel? No para a F-

    sica Quntica. Ela acaba de provar que um tomo capaz de estar em dois lugares na mes-

    ma frao de segundo (1996).

    Materializa no discurso de divulgao, sentidos sobre cincia, em que o pr-

    construdo da mecnica quntica determinante. A referncia ao gato remete ao expe-

    rimento de raciocnio, conhecido pelo nome de Gato de Schrdinger, proposto pelo

    austraco Erwin Schrdinger. O experimento busca ilustrar o carter de incerteza que

    acompanha a caracterizao dos objetos qunticos: uma partcula/onda s se torna part-

    cula ou onda a partir da ao do observador. Outros enunciados, agora do programa de

    TV Discovery na Escola: nada existe a no ser que [...] construmos a realidade?

    materializam esses sentidos.

    O experimento de Schrdinger busca elucidar ainda, que o gato poderia, em certo

    momento, estar vivo e morto ao mesmo tempo, assim como uma partcula e uma onda

    que seriam onda/partcula ao mesmo tempo. Outro enunciado, na mesma matria, ilustra

    isso:

    O problema que para as regras qunticas nenhuma das duas possibilidades pode-

    ria ser excluda. Enquanto a caixa estivesse fechada e ningum olhasse l dentro, o gato

    permaneceria num estado indefinido, morto e vivo a um s tempo. Foi uma situao

    como essa que os fsicos americanos David e Chris Monroe criaram agora no laborat-

    rio. No a mesma coisa, claro, pois eles observaram um simples tomo balanando de

    um lado para outro numa gaiola magntica.

    Isso posto vemos que outros sentidos do discurso cientfico so questionados pela

    fsica quntica, agora envolvendo a lgica que funciona nos termos de Pcheux (1975,

    p.71) como uma atividade de triagem entre enunciados verdadeiros e enunciados fal-

    sos. De fato, a lgica clssica possibilitou o desenvolvimento tanto da Fsica Clssica

    quanto da Fsica Quntica, na sua origem. Contudo, os paradoxos que emergiam da me-

    cnica quntica colocavam em colapso a prpria lgica assentada em sentidos disjunti-

    vos ou..., ou..., j que, voltando ao gato, haveria um estado indefinido em que o gato

    estaria vivo (partcula) e ao mesmo tempo morto (onda), mas destaque-se: isso ainda

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    no seria a realidade, seria apenas probabilidade matemtica, a realidade: o gato vivo ou

    morto, se constituiria observao.

    Quero tratar agora, de maneira bastante sucinta, de outros fundamentos que tam-

    bm constituem o campo da fsica hoje: do Teorema da Indefinibilidade de Tarski e do

    Teorema da Incompletude, de Godel, relacionando-os com os da mecnica quntica.

    Acredito que esses fundamentos compem, juntamente com as noes de domnio da

    Cincia Clssica, as relaes de sentidos que instituem o discurso da cincia, contempo-

    raneamente.

    O Teorema da Indefinibilidade, do polons Albert Tarski, proposto em 1930,

    afirma que o conceito da verdade para as sentenas de uma linguagem dada no pode

    ser consistentemente definido dentro dessa linguagem, de modo que, para se chegar a

    verdade que sustenta uma sentena necessrio, a fim de evitar paradoxos semnticos,

    distinguir a linguagem de que se est falando (linguagem objeto) da linguagem de que

    se est usando (metalinguagem).

    Uma implicao disso envolve a necessidade de uma interpretao da linguagem

    utilizada, ou seja, deve-se aceitar, como prope Santos, que uma mesma cadeia de sons

    ou de sinais escritos pode pertencer a linguagens diferentes, ser em ambas uma frase,

    mas com significados diferentes de tal modo que, numa, ela verdadeira, enquanto na

    outra falsa, ou seja, no diremos que uma frase verdadeira, mas sim que ela verda-

    deira numa certa linguagem. Assim, Tarski conclui que o que devemos procurar definir

    no um predicado geral de verdade, mas uma srie de predicados distintos (SAN-

    TOS, 2003, p. 24). Alguns dos opositores de Tarski, dentre eles Davidson, escreveu

    sobre a proposta de Tarski: ''A menos que estejamos preparados para dizer que no exis-

    te nenhum conceito nico de verdade (mesmo enquanto aplicado a frases), mas, apenas

    um nmero de conceitos diferentes, para os quais usamos a mesma palavra, temos de

    concluir que h algo mais a respeito do conceito de verdade. (DAVIDSON apud

    SANTOS, 2003, p. 24).

    Essa situao envolvendo a constituio dos sentidos da lgica no discurso da ci-

    ncia mostra tambm um rompimento com o pr-construdo da lgica clssica (disjunti-

    va, absoluta no que diz respeito verdade). De fato, de acordo com Chateaubriand a

    concepo semntica da verdade de Tarski conduziu consolidao da concepo lin-

    gustica e matemtica da lgica na sua forma atual. Diz ainda, que a concepo absolu-

    tista de lgica que se encontra em Frege, em Russell e at mesmo em Hilbert, deu lugar

    a uma concepo relativista de lgica centrada na teoria de modelos e na teoria da prova

    como teorias de sistemas formais. O que, evidentemente, aproxima-a dos fundamentos

    da mecnica quntica.

    J o teorema da Incompletude de Godel proposto pelo matemtico Kurt Godel, em

    1931, na mesma poca das propostas de Tarski, envolve tambm uma ruptura com o

    discurso da cincia nos seus sentidos constitudos, agora, sobre a natureza da matemti-

    ca. O teorema afirma, nas palavras de Hawking (1988, p.139), que, dentro de qualquer

    sistema formal de axiomas, como a matemtica atual, sempre persistem questes que

    no podem ser provadas nem refutadas com base nos axiomas que definem o sistema.

    Em outras palavras, Godel mostrou que certos problemas no podem ser solucionados

    por nenhum conjunto de regras e procedimentos: Hawking diz ainda, que foi um grande

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    choque para a comunidade cientfica, pois derrubou a crena generalizada de que a ma-

    temtica era um sistema coerente e completo baseado em um nico fundamento lgico.

    Outros enunciados Existe harmonia no mundo? Qual o papel da imperfeio,

    agora, da Revista poca, de agosto de 2006, uma revista no especializada em divulgar

    cincia, so tambm reveladores, pois mesmo sendo ambos enunciados interrogativos,

    ao invs de se questionar atravs deles o pape da imperfeio, produziu-se um efeito de

    sentido em que a imperfeio aceita como tendo j um espao, uma significao no

    discurso de divulgao. A dvida, neste caso, refere-se aos sentidos da harmonia.

    A busca pela harmonia e, consequentemente, pela beleza e simetria constituem

    tambm o discurso da cincia desde Pitgoras, passando por Kepler chegando at a

    atualidade. Segundo Oliveira (1996), enquanto para Pitgoras e Kepler a harmonia era

    constitutiva das esferas celeste ou do cosmos, o que demonstraria a perfeio desses

    objetos, na atualidade, a harmonia pode ser entendida como a busca por leis fsicas fun-

    damentais que, em princpio, descreveriam todos os fenmenos da natureza. Contudo,

    essas leis fundamentais esbarram em contradies criadas dentro do prprio discurso da

    cincia, tanto pela mecnica quntica quanto pela incompletude da matemtica e in-

    definibilidade da verdade na lgica.

    Assim, outros sentidos surgem atravs de enunciados como imperfeio, dese-

    quilbrio, os quais se relacionam contraditoriamente, com a harmonia e a desorga-

    nizao. No discurso de divulgao, observamos estes sentidos quando, no mesmo

    artigo, o cientista e divulgador de cincia Marcelo Gleiser afirma:

    Vou escrever sobre a importncia da imperfeio. Todas as coisas fundamentais

    que existem dependem de um desequilbrio. Quando o sistema est equilibrado no se

    transforma [...] no h criao, nada acontece (POCA, 2006, p.88).

    Assim, a relao interdiscursiva entre o discurso da cincia e o da divulgao, que

    particulariza este ltimo, pode aqui ser compreendida como resultado da prpria relao

    interdiscursiva que articula e delimita o prprio discurso da cincia. Dito de outra ma-

    neira, o discurso da cincia na atualidade, resultado de demarcaes ou rupturas in-

    tra-ideolgicas definidas como aperfeioamento, correes, crticas, refutaes, nega-

    es de certas ideologias ou filosofias juntamente com um processo de cumulao

    (PCHEUX; FICHANT, 1977), em que essas demarcaes estariam como que matu-

    rando para, ento, finalmente surgirem como sentidos determinantes dentro do discurso

    da cincia.

    A conjuntura delineada nesse trabalho, portanto, permite-nos considerar um fun-

    cionamento para o discurso da cincia, em que convergem FD resultantes desse com-

    plexo: demarcao/cumulao/ transformao. Essas FD articulam-se tanto por uma

    lgica 1 (clssica), uma lgica 2 (lgica relativista), uma matemtica 1 (clssica), uma

    matemtica 2 (matemtica ps-Gdel) e, finalmente pela FD da mecnica quntica, que

    se constitui pelos sentidos da incerteza, da probabilidade e da subjetividade. Essa cons-

    tituio do discurso da cincia, por sua vez, vai produzir encadeamentos, articulaes e

    delimitaes no e com o discurso de divulgao regulando: em certa medida, neste

    ltimo, o que o sujeito divulgador pode e deve dizer e tambm o que e no pode e no

    deve dizer sobre cincia.

  • MARTINS, M. F. O que pode e deve ser dito sobre cincia no discurso da divulgao cientfica: ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar. Revista Cientfica Cincia em Curso R. cient. ci. em curso, Palhoa, SC, v. 1, n. 1, p. 49-58, jul./dez. 2012.

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    Outros enunciados, alm daqueles j destacados, agora da revista Scientific Ame-

    rican Brasil, de dezembro de 2005 e do livro de divulgao Uma Breve Histria do

    Tempo, de Stephen Hawking, so resultado dessa interdiscursividade:

    [...] Apesar de perspectivas to distintas, ambas as abordagens descreveriam tudo que exis-

    te no Universo. No haveria maneira de determinar qual descrio verdadeira [...] (Scientific American Brasil, dezembro de 2005, p.57).

    [...] Qualquer teoria fsica sempre provisria, no sentido de que no passa de hiptese: no

    pode ser comprovada jamais. No importa quantas vezes os resultados de experincias

    concordem com uma teoria, no se pode ter certeza de que, da prxima vez, o resultado

    no vai contradiz-la. [...] (HAWKING, 1988, p.23).

    ALGUNS ENCAMINHAMENTOS

    Nas consideraes sobre os discursos da cincia e da sua divulgao propostas

    aqui, optei por destacar das suas condies de produo, apenas um dos elementos que

    as constituem, aquele relacionado histria, especificamente, histria da cincia. Uma

    elaborao, portanto, na qual as condies de produo possam ser pensadas de maneira

    mais ampla; levando em conta as questes ideolgicas, polticas, econmicas (e no

    econmicas) so fundamentais para a compreenso dos pontos, aqui levantados.

    Pcheux (1975, p.190) tratando das condies de apario do que ele denomina cincias

    da natureza, vai afirmar que elas esto ligadas s tambm novas formas de organizao

    do trabalho imposta pela instaurao dos modos de produo capitalista.

    Por tanto, uma questo que surge, envolve a compreenso dos modos de produo

    capitalista: suas condies de reproduo da fora de trabalho e das ideologias a inscri-

    tas, que na conjuntura delineada neste trabalho esto, juntamente com a histria, susten-

    tam a produo do conhecimento cientifico, contemporaneamente.

    Algumas cifras podem ilustrar o lugar, por exemplo, da fsica quntica na conjun-

    tura econmica da atualidade. Os investimentos nessa rea, chegam a 6 milhes de dla-

    res em tecnologia de imagem para a medicina, 10 milhes de dlares em medicina nu-

    clear, 30 milhes em armas nucleares por ano, 40 milhes em energia nuclear. De tal

    modo, a seguinte afirmao do fsico Leon Lederman, Coordenador do Laboratrio Na-

    cional de Acelerao de Partculas de Illinios:

    [...] Parece uma arrogncia csmica acreditarmos que podemos prosseguir com

    uma declarao de que nada existe a menos que o observemos. No corao da fsica

    quntica est a incerteza. No apenas o Principio da Incerteza, mas todo o conceito de

    incerteza. Ele parece cativante se espalha por toda a cincia. Mas ns sabemos que a

    mecnica quntica funciona, olhe a sua volta. S no sabemos por que funciona mate-

    rializa sua posio enquanto cientista que se ope aos sentidos estabelecidos dentro da

    cincia clssica, produzindo nessa posio uma relao de desigualdade-subordinao

    (PCHEUX, 1975, p.191).

    Que reflete uma luta de interesses dentro do campo da cincia. Nessa conjuntura

    em que, segundo alguns dados, 30% do produto nacional bruto no mundo devido ao

  • MARTINS, M. F. O que pode e deve ser dito sobre cincia no discurso da divulgao cientfica: ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar. Revista Cientfica Cincia em Curso R. cient. ci. em curso, Palhoa, SC, v. 1, n. 1, p. 49-58, jul./dez. 2012.

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    conhecimento de como as partculas subatmicas funcionam, Lederman tem uma certa

    vantagem econmica sobre seus concorrentes.

    Finalmente, gostaria interrogar sobre o papel da divulgao cientfica no modo

    como se d a produo e circulao do conhecimento numa sociedade como a nossa,

    relacionado com as formulaes aqui apresentadas. Vemos que, sobretudo, a mecnica

    quntica intervm no discurso de divulgao, e este por sua vez, produz seus prprios

    encadeamentos, articulaes e delimitaes determinando o que pode e no pode ser

    dito sobre cincia. Contudo, do mesmo modo que no discurso cientfico, no discurso de

    divulgao tambm se inscrevem sentidos de uma cincia clssica. Assim, no estamos

    tratando, aqui, de um funcionamento discursivo homogneo no sentido quntico, nem

    para o discurso da cincia nem para o discurso de divulgao.

    Alm disso, um dos efeitos imediatos do aparecimento da mecnica quntica na

    produo e circulao do conhecimento na verdade um efeito de continuidade, que

    pode ser observado na conservao da posio (histrica-ideolgica) de poder da cin-

    cia na nossa sociedade. Agora, esse lugar de poder, no mais garantido somente pela

    capacidade da cincia em explicar de forma inequvoca a realidade, mas sim, pela sua

    capacidade de dominar o conhecimento para produo de uma tecnologia extremamente

    poderosa. As palavras do fsico Yakir Altaranov, da Universidade da Carolina do Norte,

    quando afirma que se sabe como a mecnica quntica funciona, contudo, no se sabe

    porque funciona, ilustra esse ponto, ou seja, h um grande investimento nos produtos,

    mas nem tanto nos processos.

    De qualquer modo, outro efeito de sentido que parece estar surgindo tambm, pelo

    menos nos materiais de divulgao de cincia aqui analisados, um conjunto de dizeres

    no discurso da cincia dos cientistas e tecnlogos (PCHEUX, 1982) que, em alguns

    casos, se aproxima do discurso da cincia dos literatos. Os textos abaixo, retirados da

    revista National Geographic Brasil, de setembro de 2007, e do programa de TV Dis-

    covery na Escola; que trazem afirmaes do arquelogo dinamarqus Niels Lynnerup e

    do fsico Leon Lederman, respectivamente, parecem materializar isso:

    Niels Lynnerup, que usou o que a cincia tem de mais poderoso para penetrar nos

    segredos do Homem de Grauballe e que pode ver em seu computador as imagens tridi-

    mensionais dos ossos, msculos e tendes desses corpos, no se incomoda com os mis-

    trios renitentes. Coisas estranhas acontecem no pntano. Sempre haver alguma am-

    biguidade. Ele sorri. At gosto da ideia de haver mistrios que nunca desvendaremos.

    (NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL, 2007, p. 94) S podemos dizer que a natureza

    parece ser assim: a palavra incerteza por toda parte. [...] O Princpio da Incerteza pode

    ser chamado de princpio da tolerncia, no sentido de engenharia, onde eles fazem

    tudo funcionar, mesmo se o ajuste no for perfeito. Mas, tolerncia no sentido humano,

    que precisamos ter pessoas perguntando umas as outras: O que voc acha? Qual a

    sua opinio? Pode ser confortante para algumas pessoas ter certeza, certeza de que vai

    comer, certeza de que vai beber, de que vai fazer amor, mas certeza absoluta? Certeza

    absoluta entorpecimento, enfado. Ns precisamos da incerteza o nico modo de

    prosseguir. (LEDERMAN, 2001, Episdio Tudo sobre a Incerteza, Programa Disco-

    very na Escola)

  • MARTINS, M. F. O que pode e deve ser dito sobre cincia no discurso da divulgao cientfica: ns precisamos da incerteza, o nico modo de continuar. Revista Cientfica Cincia em Curso R. cient. ci. em curso, Palhoa, SC, v. 1, n. 1, p. 49-58, jul./dez. 2012.

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    Recebido em 19 maio 2012. Aprovado em 15 out. 2012

    Abstract: I am interested in the review of scientific materials, certain statements as uncer-tainty, incomplete, imperfection, provisional, cant ever be proven, nothing exists unless you observe and we need uncertainty is the only way to keep that embody certain sense about science. These seemingly conflicting directions to the functioning of a

    discourse of science and so conceived as a screening activity between true statements and false statements and as the production of a subject of science is that the present ab-sence (PCHEUX, 1975, p. 97 - 98). I am interested, therefore, as proposed by Pcheux (1983), to achieve the objectivity of the interdiscourse contradictory material that deter-

    mines the discourse of scientists, at present, looking on the one hand, understanding the

    historical conditions and ideological production which make possible the emergence these

    statements and, accordingly, these senses on science and on the other question about the

    role of scientific so how does the movement of knowledge production in a society like ours.

    Keywords: Discourse of Science, Popular Science, Production, Circulation of Knowledge.