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O QUE SERÁ PRECISO · 2017-12-18 · O QUE SERÁ PRECISO PARA DOMÁ-LOS? CULTIVANDO O AMOR Quando o policial Mitchell King aparece na porta de Tash Buckley afirmando que precisa

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O QUE SERÁ PRECISOPARA DOMÁ-LOS?

CULTIVANDO O AMORQuando o policial Mitchell King aparecena porta de Tash Buckley afirmando queprecisa protegê-la, ela acha que o coraçãovai parar de bater! Não por temer estarencrencada, mas porque Mitch é seu ex-namorado… e o único homem que amou navida. Ele afirma que ela corre perigo,porém, Tash está mais preocupada comoefeito inebriante que ainda exerce sobreela. Confinados em uma cabana à beira-mar, a cada minuto que passa se torna

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impossível para Tash resistir ao desejo porseu sensual guardião.

DESPERTANDO A PAIXÃOAo perder a herança à qual tinha direito,Nell Smythe-Whittaker tem planos deconquistar a própria fortuna… com umapequena ajuda do delicioso bad boy RickBradford! Sem se verem desde a infância,terão de se unir à medida que um mistérioé desvendado. Rick depende de Nell tantoquanto ela precisa dele. E apesar de seupassado turbulento, Rick está determinadoa provar que pode ser exatamente ohomem que Nell deseja!

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Querida leitora,

Chegamos à edição 100 de HarlequinSpecial em grande estilo, pois os heróisdesta edição são absolutamente…especiais! Mitchell e Rick se desdobramem atenção e carinho para proteger asmulheres que tocaram seus corações.Mas também não deixam de mostrar aelas como podem fazer para superaremseus problemas e serem mais felizes!Esperamos que tenha bons momentoslendo Cultivando o amor e Despertandoa paixão.

Boa leitura!

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Boa leitura!Equipe Editorial Harlequin Books

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Michelle Douglas

REBELDESDOMADOS

TraduçãoVanessa Mathias Gandini

Rafael Bonaldi

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2015

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SUMÁRIO

Cultivando o amor

Despertando a paixão

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Michelle Douglas

CULTIVANDO OAMOR

TraduçãoVanessa Mathias Gandini

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Mitch tinha um sorriso queconseguia desequilibrar qualquermulher. Uma chama de calor surgiuem seu abdômen.

Ela engoliu em seco e uniu as coxas.Mitch tinha um tipo de rosto quepoderia fazer uma mulher esquecer osvotos que havia feito para si mesma...Votos de nunca mais se apaixonar porele novamente.

Eles chegaram à praia. Mitch desceudo barco e ofereceu uma das mãos paraela.

– Continue com suas sandálias. Asconchas são afiadas.

Tash aceitou a mão que ele havia

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Tash aceitou a mão que ele haviaestendido e Mitch a ajudou a sair docaiaque. Ela sentiu o coração subir àboca pela proximidade dele.

– Obrigada. – A voz dela soou fraca.Ele soltou a mão dela e Tash teve que

se esforçar para se manter em pé.Percorreu o olhar ao redor, forçou-se afingir interesse na paisagem em vez dohomem que estava do seu lado.

– Seria possível se esconder domundo nessa caverna.

Tash teve uma visão súbita de umamanta grossa sendo colocada na areiaalém das conchas, uma garrafa dechampanhe, morangos... e um homemnu.

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A visão dela e Mitch fazendo amor adominou. O calor surgiu entre suaspernas e seus lábios se partiram. Eladirigiu um olhar para ele... apreciandoos ombros largos, o peito poderoso e osbíceps fortes.

Tocar nele seria o paraíso.

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CAPÍTULO 1

– SIM! – TASH abriu a tampa damáquina de lavar, dobrou umacamiseta e jogou-a na secadora. Emseguida, lançou um short, depois outracamiseta e uma calça. – Ah, sim! – Elaexibiu um largo sorriso. Assim queligasse a máquina, suas férias iriamcomeçar oficialmente.

Uma semana gloriosa.Apenas para si mesma.

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Ela dançou um pouco. Uma semana!Uma semana inteira.

Uma batida na porta principal apegou de surpresa no meio da dança e apróxima camiseta passou direto dasecadora para o cesto de roupas sujas.Tash se virou para fulminar o cesto.

Não, não, não fique nervosa. Férias.Lembra-se?

Ela deixou escapar um suspiro. Assimque estivesse fora de Sydney poderiacontinuar com a excitação que quisesse,mas até lá ela não tinha intenção dearruinar sua imagem.

Queixo erguido?Certo.Expressão facial entediada?

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Certo.Aos 17 anos ela levava semanas...

meses!... Para aperfeiçoar essa atitudeparticular. Agora poderia fazer isso àvontade.

Tash desceu o corredor, determinadaa se livrar de quem quer que estivessedo outro lado da porta o mais rápidopossível. Abrindo a porta, ela lançouum olhar para a figura esboçada dooutro lado da tela e tudo pareceuparar... Seus pés, sua mente, seu humorde férias. Um grito começou a ecoar emsua mente. O ar pressionava seuspulmões... quente, seco e sufocante.

Ela engoliu a saliva para emudecer ogrito e cruzou os braços para esconder a

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forma com que suas mãos começaram atremer devido à adrenalina que haviainvadido seu corpo. Cada músculo doseu estômago se apertou até doer.

Mitch King.Oficial Mitchell King a fitou de volta

como se fosse algum guerreiro sagrado.Do topo do cabelo louro até a ponta dasbotas. Mesmo sem o uniforme era comose estivesse vestindo um. Tudo sobreele gritava herói... A forte mandíbula, osdentes alvos e o azul dos olhos. Umhomem em uma missão. Um homemque sabia o certo e o errado.

Tash não estendeu o braço para abrira tela. Ela não quebrou o silêncio.

– Posso entrar? – finalmente

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– Posso entrar? – finalmenteindagou.

Erguendo uma sobrancelha, elarecostou um dos ombros contra aparede.

– Está aqui para me prender?Os olhos dele se estreitaram. O

estômago dela continuava secontraindo.

– Claro que não.– Não achei que pudesse.Ela começou a fechar a porta. Ele

manteve a voz calma.– Não foi bem uma pergunta, Tash.

Se fechar a porta no meu rosto, vouabrir à força.

Ela não duvidava disso nem por um

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Ela não duvidava disso nem por umúnico momento. Até onde ela conheciao oficial Mitchell King, os fins semprejustificavam os meios. Ninguémchegava perto da frieza dele.

Sem uma palavra, ela abriu a portade tela e depois se virou e caminhou atéa cozinha. Ela acrescentou um leveoscilar de quadris porque era maisdigno do que baixar a cabeça. E porquesem o seu usual uniforme jeans e asbotas ela se sentia vulnerável. Umoscilar de quadris distraía a maioria doshomens.

Não que Mitch King fosse a maioriados homens.

Ela se virou com as mãos nos quadris

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Ela se virou com as mãos nos quadrisquando alcançou a cozinha, mas o solque penetrava as janelas a lembrava deque era verão e que Tash tinha grandesplanos para essa semana.

Assim que se liberasse da visitainesperada.

– Como posso ajudá-lo?A forma com que os lábios dele

estremeceram disse a ela que eleestivera lendo sua animosidade. E elafizera questão de demonstrar isso. Tashviveu no mesmo subúrbio que Mitchpela maior parte dos seus 25 anos, masnão se falaram nem uma vez pelosúltimos oito anos.

Ele não se preocupou em agradar a

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Ele não se preocupou em agradar aela.

– Temos um problema e temo quevocê não vá gostar da solução. – Osolhos dele eram gentis. – Não posso lhedizer o quanto sinto por isso.

– Não estou interessada em seussentimentos.

Mitch comprimiu os lábios.– Qual é o problema? Se for alguma

coisa a ver com o pub então você teráque falar com Clarke.

– Não é sobre o pub.Pelos últimos três dias, Tash tinha

administrado o Royal Oak, umestabelecimento local que servia ostrabalhadores de fábricas da área. Não

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era um estabelecimento da moda ou daalta sociedade, mas era limpo egeralmente livre de problemas e Tashtinha toda a intenção de garantir que olocal permanecesse daquela maneira.Ela cruzou os braços de novo.

– Bem, se não é sobre o pub...?– Você tem falado com Rick

Bradford recentemente?Tash se esforçou para não deixar o

queixo cair. Quando estava certa de quetinha isso sob controle ela deixouescapar uma risada selvagem.

– Você tem que estar brincando,certo? Da última vez que você e euconversamos sobre Rick, você oprendeu. Injustamente, devo

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acrescentar. Se acha que vou degradar aimagem de Rick com você então é umabsoluto idiota. – Ela colocou todo osentimento que podia naquele absoluto.Era uma palavra boa para uma garotacomo ela.

Mitch cerrou uma das mãos empunho... As mãos dele eram fortes ebronzeadas. Ele inclinou-se na direçãodela, seus olhos frios como o gelo, todoo calor tinha ido embora.

– Então nada mudou? Você ainda ovê com bons olhos? – Ele soltou umsuspiro. – O que há com mulheres ebad boys?

Tash ergueu o queixo.

– A julgar pela minha memória, não

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– A julgar pela minha memória, nãofoi pelo bad boy que me apaixonei.

Ele congelou. Depois, desviou osolhos para o outro lado. Ela também,desejando que pudesse tomar de voltaaquelas palavras. O ambiente ficou tãosilencioso que os únicos sons que elaouvia eram o zunido da geladeira e ocortador de grama do vizinho.

Mitch clareou a garganta e pelo cantodo olho ela o viu enfiar a mão em umdos bolsos. Ele apanhou um pacote defotografias e esticou-o na direção dela.

– Acreditamos que Rick seja oresponsável por isso.

Ela não queria apanhar as fotografias.Queria bater na mão dele, levá-lo até o

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corredor e expulsá-lo de sua casa. Mitchsempre considerou Rick umencrenqueiro. Quando ela e Rickestiveram na escola, se alguém fossepego furtando em uma loja, de acordocom Mitch, Rick tinha que estar por trásdisso. Se houvesse uma briga noplayground então Rick deveria terinstigado. Se havia grafite nas paredesda estação do trem Rick deveria tê-losfeito. Ela bufou. Loucura! E ainda assimera na porta da avó de Rick que apolícia vinha bater primeiro.

Mitch estivera errado. Ah, tãoerrado. Mas isso não tinha impedidoseu melhor amigo de ser preso apesarde tudo. Ele passou 15 meses na prisão.

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E ela havia ajudado inconscientementea colocá-lo ali.

Mas não desta vez. Tash tinhaaprendido algumas experiências nosúltimos oito anos. Ela não confiava maisem homem nenhum. Principalmentenaquele que estava à sua frente nomomento.

Tash estendeu uma das mãos eapanhou as fotografias. A primeiramostrava uma casa destruída pelo fogo.Ela jogou a fotografia em cima dobalcão.

– Rick não é, e nunca foi, umincendiário.

A segunda mostrava um carro batido.Ela ergueu os olhos e levantou uma

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sobrancelha.– As linhas de freio do carro foram

deliberadamente cortadas. A mulherteve sorte em sair do veículo comapenas uma concussão e uma clavículaquebrada.

Ela lançou a fotografia por cima daoutra no balcão.

– Rick nunca iria machucar umamulher. – Protegia as mulheres. Ela nãose importava em dizer isso em voz alta.Porém, Mitch nunca iria acreditar nela.

A terceira e a quarta fotografiafizeram seu estômago se revirar.

– E ele certamente não iria massacraresses animais. Isso é... – As fotografiasmostravam um campo de ovelhas com a

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garganta cortada. Uma delas estava deperto. Ela virou a fotografia e a colocouno balcão. O ácido queimava seuestômago.

– É isso que aconteceu com asúltimas três namoradas de Rick.

– Sinto muito, oficial King, mas temoque não possa ajudá-lo com suainvestigação.

– Você falou com Rickrecentemente?

Ele havia telefonado para ela haviaduas noites para dizer que estava vindopara a cidade.

– Não. – Ela manteve o rosto suave eilegível. – Não falo com Rick há meses.

Os olhos dele se estreitaram.

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– Não estou certo de que acredito emvocê.

Tash deu de ombros.– Não me importo com o que você

acredita, mas a verdade tem que serdita, você usou uma aproximação maissuave da última vez. – O ar tremuloucom uma tensão silenciosa. Como se jánão tivesse tremulado o bastante!

– Você nunca vai me perdoar, não é?– Não.– Eu estava tentando protegê-la.– Mentiroso.Ela falou com tanta suavidade que

soou quase como ternura. Ele recuouum passo.

– Nós sabemos que Rick está vindo

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– Nós sabemos que Rick está vindopara Sydney.

Ela manteve a boca fechada.– E achamos que você é a próxima da

lista dele.Ela precisou ter força de vontade

para não revirar os olhos nas órbitas.– Além do fato de eu saber que Rick

nunca iria machucar uma mulher...qualquer mulher... eu nunca fuinamorada dele. Acho que isso meexclui da lista, não acha?

– Não.Ela sentiu o sangue congelar nas

veias.– O que o torna tão certo de que sou

a próxima da lista dele?

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– Um papel amassado com o seuendereço.

Ela congelou.– Encontrado onde?– Naquele campo de ovelhas

abatidas. – Ele a encarou comseriedade. – Dois oficiais secretos daCentral Sydney estão a caminho agora.Um deles se encaixa com a suadescrição.

Nós temos um problema... Você nãovai gostar da solução.

– E a parte de que não vou gostar?– Eles vão examinar sua casa para

aguardar por Rick, e nós temos que tirá-la daqui.

Ela começou a menear a cabeça.

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– Para sua própria segurança.Isso deveria ter soado jocosamente

melodramático, mas não soou. Ela oencarou por um momento tenso,observando a forma com que os lábiosdele estavam comprimidos.

– Nós significa você?Ele assentiu com a cabeça.Ela não podia acreditar que ele estava

parado na sua cozinha indagando sobreRick Bradford novamente.

Tash apontou para a mala no sofá,aberta, mas organizada.

– Olha, estou prestes a viajar poruma semana de férias. Para a costa. Eunão estarei por perto para estragar sua

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vigilância ou qualquer coisa que vocêtenha planejado.

– Você não entende, Tash. Nósprecisamos levá-la para algum lugarseguro. Não queremos arriscar que vocêacabe parando em um hospital... Oupior.

– Por que você? – A questão escapoudos lábios dela.

– Minha história com Bradford ébem conhecida – falou secamente. – Osmeus superiores me querem fora docaminho.

– Então mesmo os seus superioresacham que seu julgamento sobre oassunto é nublado?

Ele não disse nada. Apenas estendeu

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Ele não disse nada. Apenas estendeuuma das mãos e virou a fotografia daovelha; espalhou cada fotografia paraque ela pudesse experimentar o totalimpacto delas.

Tash sentiu um calafrio. Não mostrefraqueza. Rick não era responsável poressas coisas terríveis, mas alguém era.Alguém que queria machucá-lo dealguma maneira. Alguém que não seimportava com quem machucasse noprocesso. Ela não podia impedir seuolhar de vaguear pelas fotografias... Acasa queimada. Que horrível deve servocê perder tudo o que possui nomundo em alguns segundos. Elapercorreu o olhar ao redor da cozinha e

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da sala de estar. Tash não tinha muito,mas...

Ela olhou para a fotografia do carroamassado e engoliu em seco. Algumasdas perguntas que Rick tinha feito paraela na outra noite tinham sidosinistras... Há alguma pessoa nova naárea? Alguma coisa incomum aconteceuultimamente? Ele tinha perguntado issosem levantar nenhuma suspeita daparte dela, mas agora...

Ela conhecia seus direitos. Poderiadizer não. Pelos céus, ela não tiravaférias nunca. Mas devia isso a Rick. Sepudesse ajudar para que essa situaçãotivesse uma conclusão... ajudar a limpar

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o nome dele... o sacrifício de umasférias seria um preço pequeno a pagar.

– Para onde pretende me levar?Ele encontrou o olhar dela e apenas

deu de ombros.Obviamente era um plano secreto.– Quanto tempo acha que vai levar

essa operação?– Não mais do que alguns dias.Ela dirigiu o olhar para as fotografias

outra vez. Quem no mundo iria querermachucar aquelas mulheres? E o queelas tinham a ver com Rick?

– Quando teremos que partir?– Em uma hora estaria bom.Ela suprimiu um suspiro.

– Você disse que há dois oficiais a

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– Você disse que há dois oficiais acaminho? Vou fazer a cama no quartode hóspedes.

– Apenas deixe o lençol em cima docolchão. Eles podem fazer a própriacama.

Típico de homem.Ela cerrou as mãos em punho. Não

havia nada típico sobre Mitch King, eela não iria se esquecer disso.

– Então acho que vou apenas colocaro restante de roupas úmidas nasecadora, fazer a mala e depois trocarde roupas.

– Tash, obrigado por ser razoávelsobre isso.

O olhar dele se dirigiu para os

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O olhar dele se dirigiu para ospunhos cerrados dela. Tash abriu asmãos e vestiu um falso sorriso.

– Não sou mais uma adolescente,oficial King. Não tenho absolutamentenenhum desejo de conhecer a pessoaresponsável por essas coisas terríveis. –Ela gesticulou para as fotos. – Masposso lhe dizer agora: você está nocaminho errado se pensa que essapessoa é Rick. – E quanto mais cedo apolícia descobrisse isso, melhor.

Ele não disse nada por um longomomento.

– Suponho que seja muito pedir quevocê me chame de Mitch?

– Você supôs certo.

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Ela se afastou com o coração batendoacelerado.

– Você já tem uma mala feita. Nãoprecisa fazer outra.

– São coisas de férias. – Biquínis,shorts e camisas alegres.

– Que servirão – gritou atrás dela.Aquilo soava promissor. Ela se

perguntou se o orçamento da ForçaPolicial se estendia para colocá-la emum ótimo resort em algum lugar nacosta norte. Isso iria significar que asemana dela não seria totalmenteperdida.

Tash se focou nisso em vez de pensarem despender as próximas horas nacompanhia de Mitch.

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Ela não era uma adolescente, pensou,erguendo o queixo. Era uma mulheradulta com uma visão clara e uma ricasabedoria.

Após ligar a secadora, ela rumou parao quarto e apanhou o celular de dentrodo bolso, verificou sua lista de númerosarmazenados até chegar ao número deRick. Tinha que alertá-lo sobre arecepção que poderia esperar quandochegasse a Sydney.

Mitch subitamente aproximou-se daentrada do quarto. Droga! Ela apertouo delete e o número de Rickdesapareceu.

Os olhos dele cintilaramperigosamente.

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– Você estava tentando ligar paraBradford?

– Vou telefonar para Mandy, minhavizinha, e deixar uma mensagem nasecretária eletrônica dela, dizendo quealguns amigos da cidade vão ficarhospedados aqui. Você sabe como éesse lugar. Se estranhos subitamenteaparecem sem explicação haverá todosos tipos de alertas.

Ele se aproximou da porta enquantoela fazia a ligação. Quando terminou,ele estendeu a mão para apanhar otelefone.

Em vez disso, ela ergueu o queixo eguardou o celular no bolso.

– Não me teste, Tash.

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Um olhar para o rosto dele lhe diziaque ele iria tomar seu telefone à forçase necessário. Ela repousou o celular napalma da mão dele com mais força doque a necessária.

– Posso ver que as próximas horasserão cheias de alegria. Bem, gostaria dealguma privacidade enquanto me visto.A menos que você queira forçar suacompanhia também.

Sem dizer uma palavra, ele se virou ese afastou do quarto. Tash precisou sesentar na beirada da cama e respirarfundo por alguns minutos. Ela seergueu da cama novamente para vestirseu jeans usual, botas e uma camisetapreta.

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APENAS QUANDO estavam dirigindosobre a ponte do porto de Sydney comvista do Opera House e do porto, Tashpercebeu o quanto havia levado oaroma de Mitch aos pulmões. Ela fitouatravés da janela do passageiro, malnotando os iates coloridos abaixo ou aforma com que a luz cintilava no portoem um verão de perfeita exuberância.

O aroma de Mitch não tinhamudado. Nem um pouco. Ele aindacheirava cítrico com um leve toque dementa. Seus pulmões incharam aobeber isso como se estivessem sedentos.Com um movimento abrupto, elabaixou o vidro, preenchendo o interiordo veículo com o ar quente do verão.

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Mitch lançou um rápido olhar paraela e ela encontrou os olhos dele apenaspara provar que podia. O que ela via naprofundidade do azul dos olhos dele,contudo, abalou-a completamente. Elaentendeu a preocupação. Ela era umacidadã de risco e ele era o oficialencarregado de protegê-la. Seus lábiosestremeceram. E ela soube o quãoseriamente ele levava essa tarefa.

Mas... arrependimento?Como ele, ela voltou a olhar para a

frente e tentou ignorar as fortes batidasdo seu coração.

– Você estará a salvo, Tash, prometo.Isso tudo vai acabar quando vocêmenos esperar.

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Ela acreditava nele. Ainda assim,quanto mais cedo ele a deixasse no local“secreto” e saísse do seu caminho,melhor.

Mais dez minutos de tensão sepassaram.

– Como está Rick?Ele falou com tanta suavidade que

ela quase não o ouviu. Ela desejou quenão o tivesse ouvido. Oito anos atrás eletinha tomado dela não apenas o seumelhor amigo, mas também suaautoestima e sua convicção de que obem vencia o mal. Uma risada amargaescapou de sua garganta.

– Você realmente acha que souingênua o bastante para discutir sobre

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ele com você novamente? Ou talvez queele seja estúpido o bastante paradiscutir seus feitos comigo?

Os nós dos dedos dele se tornarambrancos enquanto ele agarrava ovolante. Ela voltou a fitar a paisagem àfrente. Tash se lembrava daquelas mãose como o polegar dele tinha friccionadoseu pulso para a frente e para trás,fazendo sua pulsação acelerar, fazendo-a desejar que ele tivesse feito muitomais com aquelas mãos. Lembrou comoum dos dedos dele tinha traçado suabochecha, e como isso a fazia se sentir agarota mais linda do mundo. Ela selembrou de como as mãos dele tinhamse curvado em seu rosto nas poucas

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vezes que ele a beijou, como se fossepreciosa.

Preciosa? Ela não tinha sido nadamais que um meio para um fim.

– Eu apenas quis dizer que ouvi queele está fazendo um bom trabalho comjovens problemáticos no centro deMelbourne. Eu o admiro por isso.

– Bem, talvez você queira fazer umadoação para essa causa da próxima vezque abrir seu talão de cheques, oficialKing.

Eles não se falaram novamente.Fizeram o caminho em um silêncioincômodo por mais uma hora. Tash nãodisse uma palavra quando ele virou naautoestrada e rumou para o norte. Ele

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também não deu mais nenhumainformação. Agora isso seria umasurpresa.

Por fim ele virou para uma pequenaestrada fechada com apenas a estranhafazenda aqui e ali para mostrar algumsinal de habitação. Antes de alcançaremo final da estrada, Mitch parou o carropróximo a um arbusto.

– Esse não é o caminho para um bomresort – resmungou.

– O que a fez pensar que eu estarialevando-a para um resort?

Ela enrugou o nariz.– Pensamento positivo.Ele exibiu um largo sorriso e o

coração dela acelerou. Simples assim.

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Coração idiota.– Então para onde está me levando?

– A voz dela soou áspera.– Estou levando-a para uma cabana.– Por favor, me diga que há água

corrente e eletricidade.– Tem os dois.Quão ingênua ele achava que ela

era?– Não vejo nenhum poste de

eletricidade.– Há um gerador.Ela voltou a recostar as costas no

banco e cruzou os braços.– Por que não posso ir a um resort

sob um nome falso ou algo do tipo?Vou pagar do meu próprio bolso.

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– Não é uma questão de dinheiro,Tash. É uma questão de mantê-lasegura. A melhor forma de fazer isso éfazendo-a desaparecer, tirando-a decirculação.

– Você não pode me manter aquicontra a minha vontade. – Emboraambos soubessem que se ele escolhesseisso, ele poderia.

– Você realmente quer arriscarpartir?

Ela fulminou as árvores à sua frente.Ele estacionou o carro sob a sombra

de uma árvore na nativa paisagemaustraliana.

– Teremos que andar o restante docaminho.

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Ah, estava ficando cada vez melhor.Ele ergueu as mãos para o ato ao vê-

la fulminar com o olhar.– Juro que são apenas três minutos

de caminhada.Teria sido mais fácil se não fosse

pelas formigas. Ela gritou quando viu aprimeira.

Mitch girou o corpo para encará-la.– O que há de errado?Ela apontou.– Por Deus, você está calçando botas.

Elas não vão machucá-la.– Eu as odeio. – Ela havia se sentado

em um formigueiro uma vez quandoera pequena e nunca mais se esqueceu.As formigas haviam injetado tanto

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veneno que seu organismo desenvolveuuma febre naquela noite e ela terminouna sala de emergência de um hospitallocal. O pai havia batido nela por ela tersido tão estúpida para se sentar em umformigueiro.

A lembrança fez seu estômago secontrair. Ela empurrou uma das mãoscontra as costas de Mitch.

– Vá mais rápido. – Parecia magro eforte sob a ponta de seus dedos. – Naverdade, corra!

– Tash! – A irritação era clara na vozdele. Ele virou-se para encará-la, masfelizmente não disse uma palavra. Comum menear de cabeça ele começou acorrer levemente, a mala dela debaixo

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de um dos braços como se não pesassenada. Ela permaneceu ao lado dele, suabolsa de mão batendo contra o seuquadril e seus pés latejando ao pensarnas formigas.

Mitch diminuiu o passo. Tashverificou o chão buscando sinais deformigas antes de erguer a cabeça. Aterra de uma grama exuberante se abriapara uma vista tão inesperadamentebela, tão intacta, que lhe roubou porum momento a habilidade de falar.

A curva de terra em que estavampegava uma brisa do oceano e abaixo seestendia uma pequena praia. Além dabaía o mar cintilava azul e verde semuma onda espumante a vista.

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À esquerda deles havia uma grandecabana, cercada por árvores.

– Onde... onde estamos?Mitch se virou da porta da cabana

que havia acabado de destrancar.– Bonito, não é?– Lindo. – Subitamente, passar

alguns dias em uma cabana secreta comuma praia particular não parecia ser tãodifícil afinal de contas.

Tash seguiu Mitch para o interior dacabana. Ela não se importou em tentaresconder seu alívio.

Ele exibiu um largo sorriso.– Não é tão ruim quanto você

esperava?

A sala principal, completa com um

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A sala principal, completa com umtapete no centro e um sofá confortávelencostado na parede, era quente ereceptiva. À esquerda havia umacozinha totalmente equipada, com ummicro-ondas e uma geladeira. Umamesa com três cadeiras estava próxima auma estante de madeira repleta delivros.

Ele gesticulou para uma porta e Tashentrou no quarto. O ambiente possuíauma cama dupla com uma manta azul ebranca. Ela meneou a cabeça.

– É adorável. Realmente adorável. –Se ela fosse dona de uma cabana, essaera exatamente a forma que ela iria

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querer que parecesse. – Quem é o donodaqui?

Ele desviou os olhos para o outrolado.

– Eu.Ela ficou boquiaberta.– Isso é seu?– Comprei a terra há cinco anos. –

Ele deu de ombros. – Passei meusferiados e fins de semana livreconstruindo essa cabana.

Ele havia feito o quê? Por ummomento ela desejou fugir. Em vezdisso, engoliu em seco.

– Obrigada por me deixar usá-la.Mitch não disse nada.Tash umedeceu os lábios.

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– Acho melhor você me mostrar otoalete e como o gerador funciona. Edepois você pode voltar para limpar asruas e manter a paz.

Ele teria que encarar quem quer quefosse que tivesse machucado aquelasmulheres? Seu coração bateu forte. Elarecuou um passo. Tash não queria queninguém tivesse que lidar com alguémtão furioso e desequilibrado. Nemmesmo Mitch.

Ele franziu o cenho e clareou agarganta.

– Tash, acho que você não entendeua situação direito.

– Ah?

– Eu não vou deixá-la aqui sozinha.

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– Eu não vou deixá-la aqui sozinha.Sou seu guarda-costas enquanto duraroperação.

Ela deixou-se cair pesadamente nosofá.

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CAPÍTULO 2

A EXPRESSÃO de Tash dizia a Mitchmais do que palavras poderiam dizer.Ela preferia encarar quem quer quefosse o responsável por machucaraquelas mulheres a passar mais tempona companhia dele.

Mitch virou-se para encará-la,suprimindo um xingamento. Ambossabiam que a pessoa responsável eraRick, e sem dúvida ela ainda pensava

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que poderia salvá-lo. Assim como elahavia pensado oito anos antes. Mitchnão iria deixar isso acontecer. Ele nãoiria dar a Rick a chance de machucarTash novamente.

Ele aguardou pelos gritos histéricosdela.

E continuou aguardando.Ele deveria saber que ela não era

mais histérica.Mitch deu de ombros. Ela poderia

nunca perdoá-lo por ter colocado Rickatrás das grades, mas estava certa, nãoera mais a garota doce que uma veztinha sido. Seu coração sangrou umpouco ao ter o pensamento, sabendoque ele tinha sido parcialmente

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responsável por esse endurecimento.Ele tentou se desculpar na época, masela não queria ouvir. Uma parte delenão a culpava realmente.

Mitch friccionou a nuca.– Isso é mesmo necessário... Um

guarda-costas?Ele voltou-se para ela de forma

neutra e profissional. Ele haviaencontrado dificuldades oito anos antese não achava que agora seria mais fácil.

– Eu não faço as regras, Tash. Apenassigo ordens.

– Ao pé da letra.Ele ignorou o sarcasmo dela.– Naturalmente, você terá o quarto. –

Ele gesticulou para o cômodo. – Eu vou

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dormir no sofá.Ela ergueu uma sobrancelha dizendo

a ele que isso nunca estivera em dúvida.Um sorriso relutante surgiu nos

lábios dele. Ele tinha que admirar acoragem dela.

– Vamos tirar algumas coisas docaminho e depois podemos relaxar.

– Relaxar? Você realmente acha queisso vai acontecer?

Os olhos grandes e azuis delazombaram dele.

Eles exerciam o mesmo poder, amesma intensidade de oito anos atrás.Quando tinha sido apenas uma garota,e ele, um jovem faminto por promoção.

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Dezessete. Ele tinha que continuar selembrando daquele fato na época.

Ela não tem mais 17 anos.Mitch ergueu o queixo. Não tinha

intenção de baixar a guarda enquantoestivessem naquele lugar selvagem.Nenhuma! Ele não iria relaxar atéBradford estar sob custódia. Poderiahaver uma história entre ele e Tash,mas ele se recusava a ser distraído porisso. Ou por ela.

– O que precisamos tirar docaminho?

– Primeiro eu vou lhe mostrar asinstalações.

Ela suspirou quando viu a pequenarepartição com o toalete.

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– Ao menos tem uma porta. – Tashpercorreu o olhar pelo pequenoambiente. – E parece ser relativamentelivre de aranhas.

– E aqui é o chuveiro.– Água quente?Ele meneou a cabeça. Os ombros

dela se curvaram um pouco e ele teveque lutar contra o desejo de praguejar.Tash poderia bancar a durona... comose pudesse aceitar tudo o que o mundolançava sobre ela... mas por trás disso,era vulnerável... e gentil. Se eleencontrasse Rick primeiro...

Mitch cerrou as mãos em punho. Eleiria mantê-la a salvo. Ele jurou isso parasi mesmo.

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Ninguém iria encontrá-los ali.Ele virou-se para encontrá-la

observando-o com os olhossemicerrados. Tash apontou para ochuveiro.

– Quando você providenciou isso?– Ontem.– Então você sabia... – Ela cruzou os

braços. – Não, você não sabia.– Eu estava passando alguns dias de

férias aqui.Os olhos azuis dela cintilaram. Ele

nunca tinha visto olhos tão lindos antes.– Então estou interrompendo suas

férias.– Não é nada demais.

– Bem, apenas parece justo, já que

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– Bem, apenas parece justo, já quevocê está interrompendo meu feriado –falou vagarosamente.

Mitch clareou a garganta.– Estou impressionado – declarou. –

Você não parece muito horrorizadapelas amenidades.

Ela sorriu. Isso foi súbito einconsciente e fez com que a respiraçãodele ficasse presa na garganta.

– Estou apenas grata por não ter queme aliviar atrás de um arbusto. Rick eeu costumávamos ir para o parquenacional por alguns dias e normalmenteesse era o caso lá.

No momento em que as palavrassaíram, ela olhou como se quisesse

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tomá-las de volta.Ele deveria mudar o assunto, tentar

deixá-la à vontade. Mas...– Você quer falar sobre isso? Clarear

o ar?Tash virou-se para encará-lo.– Sobre Rick? – indagou.– Sei que você me odeia por tê-lo

prendido.– Eu parei de odiá-lo há anos, oficial

King.– Se esse é o caso, então qual é o

problema?– O problema é que não o perdoei

por me usar para isso. Eu não o perdoeipor você ter fingido estar apaixonadopor mim, por me fazer confiar em você.

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E depois me trair da forma que vocêfez.

– Faria alguma diferença se lhedissesse o quanto sinto por isso?

– Não. E francamente, Mitch, nãoquero falar sobre isso. Vamos apenasnos focar em passar os próximos diastão fácil e rapidamente quanto possível,está bem?

Ele assentiu com a cabeça e girou osombros para tentar aliviar a tensão doseu corpo.

– HÁ MAIS alguma coisa que eu precisesaber?

Ele não sorriu.

– Não saia sozinha. – Ele gesticulou

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– Não saia sozinha. – Ele gesticuloupara a floresta que os cercava.

Tash suspirou. Ela queria…precisava… que ele mantivessedistância dela.

Ela franziu o cenho e depois fitou oinfinito azul do céu.

– Estamos seguros aqui, certo?– Sim.– Alguns criminosos não vão passar

por essa floresta, vão?– É praticamente garantido de que

isso não vá acontecer. Quase ninguémsabe desse lugar.

– Certo, então. – Ela inspirouprofundamente. – Eu entendo por quenão podemos continuar como

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planejamos antes de toda essabobagem.

– Não estou lhe entendendo.– Você planejou passar alguns dias

aqui, certo?– Certo.– Eu também. Bem, não aqui,

obviamente, mas planejava passaralguns dias em uma praia. – Elaplanejara viajar cinco ou seis horas até acosta, mas... Não importa. – E pelorestante da semana planejava ler umromance ou dois, pedir pizza, comermuito chocolate e não fazer nenhumtrabalho.

Após três anos de trabalho semintervalo, ela merecia umas férias.

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– Está sugerindo que passemos asférias juntos?

– Não!Os lábios dele estremeceram.– Claro que não.– Mas... Sim para a parte das férias. –

Tash o fitou nos olhos. – Exceto... –Subitamente ela apontou para ele… –Você não vai pavonear com apenas umapeça de roupa como deveprovavelmente fazer quando está aquisozinho. Nadar nu é proibido.

Ela não deveria ter pensado emMitch nu. Suas bochechas começaram aaquecer. Um sorriso muito preguiçosose espalhou pelo rosto dele. Os olhosquentes como as noites no

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Mediterrâneo encorajavam-na a desistirde sua atitude. Mãos que,aparentemente, não tinham perdidosua sedução durante os oito anos que sepassaram tentaram-na a baixar aguarda. E as essências de menta ecítrico a envolviam, fazendo com queela ficasse com água na boca e uma dorcomeçasse a surgir na parte baixa doseu abdômen.

Seu peito apertou. A pulsaçãoacelerou. Suas mãos se cerraram empunho.

O sorriso dele se curvou de umamaneira intrigante e ela começou asentir o coração bater forte. Ele seinclinou para mais perto, inundando-a

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com calor e o aroma mentalado ecítrico.

– Quase valeria a pena apenas paraver o olhar no seu rosto. Você pode teruma boca esperta e uma atitude ligeira,Tash Buckley, mas tenho a sensação deque seria tão fácil quanto nuncadesequilibrá-la.

– Isso não poderia ser possível! – Elarecuou um passo. Não poderia quererMitch depois de todo esse tempo. –Faça isso e vou embora. – O medotornou sua voz ácida.

Ele recuou um passo e o azul tropicalde seus olhos se tornou frio como ogelo.

– Então você seria uma tola.

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Talvez, mas ao menos ela seria umatola com o coração intacto.

– Nós vamos continuar exatamentecomo planejamos... Separadamente.

Ela virou-se e voltou para o interiorda cabana.

Era apenas por alguns dias, três nomáximo, ela disse a si mesma, rumandopara o quarto onde Mitch haviadeixado sua bagagem. Ela abriu a malae com o máximo de rapidez possívelvestiu o biquíni. Tudo o que precisavafazer era manter as coisas polidas eagradáveis.

Agradável? Ela fez uma careta. Certo,agradável poderia não ser possível, maspolido... distantemente polido... muito

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distantemente… Isso ela poderia fazer.Por Deus. O homem estava apenasfazendo o seu trabalho. Devia a elealguma medida de gratidão, quergostasse ou não.

Certo, bem, obviamente ela nãogostou disso, mas poderia ser adulta emrelação ao assunto. Ela cerrou osdentes. Ela seria adulta em relação aoassunto.

Tash vestiu um sorriso, calçou oschinelos e voltou para a sala principal.Mitch sentou-se à mesa, apenas...

Ela engoliu a saliva. Ele apenas sesentou ali.

Tash se lembrou da tentativa dele emse desculpar.

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– Mitch?Ele ergueu os olhos. Mitch observou-

lhe as pernas desnudas e algo cintilouem seus olhos.

Ela meneou a cabeça.– Eu, hum... – Tash franziu o cenho

e se inclinou na direção dele. – Se eunão estivesse aqui, o que você estariafazendo?

Ele deu de ombros. Parecia casual,mas algo dizia a ela que não. Tashengoliu a saliva e suspeitou que seusorriso tivesse se transformado em umacareta.

– Bem, se eu fosse você, continuariacom isso.

A menos que fosse andar nu pela

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A menos que fosse andar nu pelacabana ou nadar nu.

– Suspeito que se eu for à praia vourestringir seu estilo – falou lentamente,seus olhos duros de uma maneira queela não lembrava antes.

Ele poderia estar certo.– Há espaço suficiente para nós dois

na praia.– Essa não é a impressão que tive.Ela recuou um passo.– Vou dar um mergulho. – Tash não

esperou resposta e saiu pela portaseguindo na direção da praia.

Ela deixou cair sua toalha sobre afina areia branca e, recusando-se a se

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virar e olhar para o que havia atrás desi, rumou direto para a água.

Tash remou por alguns momentos, ochoque da água gelada enrijecendo suapele. Erguendo o rosto para o sol, elasaboreou o contraste entre o frio e oquente.

Ela nunca tinha nadado em umapraia deserta antes. Mesmo que fosseuma boa nadadora preferia a segurançade uma praia patrulhada. Hoje,contudo, sabendo que Mitch iria vê-lade algum lugar, ela se moveu para afrente na água, encarando as ondas efinalmente mergulhando embaixo deuma.

E a cada vez que pensamentos de

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E a cada vez que pensamentos deMitch ou Rick e a ameaça ao seu bem-estar tentavam invadi-la, ela os afastavapara longe de sua mente.

– Tash!O grito veio da costa. Ela começou a

nadar mais rápido e engoliu um bocadode água, lembrando-se às pressas deque alguém lhe desejava mal. Ela sevirou e viu Mitch acenando.

Por quê?Esse pesadelo já poderia ter chegado

ao fim?Sentindo o estômago revirar, ela

rumou para a costa. Em seguida,aceitou a toalha que ele lhe entregou.

– O que foi?

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– Você está aqui há uma hora e meia.Não acha que é tempo de um intervalo?

Uma hora e meia? Ela enrubesceu.Mas não tinha por que ficar

perturbada.Exceto pela forma com que os olhos

de Mitch continuavam fixos em suaspernas... e seus quadris.

Ele recuou um passo.– Já passou da hora de usar o

bronzeador.Ela espremeu o cabelo para tirar a

água e depois vestiu a saída de banho.Tash fez o melhor para ignorá-lo, masnão era fácil quando ele andava aalguns metros de distância, de um lado

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para o outro, com aquelas pernas fortese bronzeadas.

Tash desviou os olhos para vestir umchapéu e repousar a toalha aberta naareia. Ela se deitou e depois apanhouum tubo de bronzeador na bolsa. Tashusou o produto no rosto, depois nosbraços e pernas. Finalmente ela colocouos óculos escuros.

Ele não disse uma palavra.O silêncio a irritou.– Alguma novidade?Mitch parou de andar de um lado

para o outro e meneou a cabeça.– Nenhuma. – A expressão do rosto

dele suavizou um pouco. – Mas acheique você pudesse estar faminta então

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preparei um lanche. Apenas sanduíchese frutas.

Ela não queria que ele cuidasse delaou dissesse para ela o que deveria fazer!

– Não preciso que você faça coisaspara mim ou me diga o que fazer. Soucapaz de decidir quando preciso passaro bronzeador e posso preparar meupróprio lanche!

Ele ficou tenso e seus olhoscintilaram.

– Acho que quer dizer: “Obrigada,Mitch, pelo trabalho.”

Ha!– Você, ao menos está sendo pago

para estar aqui, sendo pago para fazerlanche, sendo pago para manter os

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olhos em mim, enquanto supostamentedevo me submeter e dizer: “Obrigada,Mitch”? – Ela soltou uma risada áspera.– Como se isso fosse acontecer.

Ele jogou a cesta de piquenique naareia.

– Você quer fazer críticas quanto aodinheiro quando sua vida está emperigo?

Ela odiava a forma com que suapulsação se acelerava ao encarar osolhos dele.

– Se acha que vou continuar ouvindoas besteiras que você fala, Tash, estámuito enganada.

Ele girou o corpo para o outro lado eela se colocou em pé.

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– Vai me jogar em uma prisão?– A polícia está fazendo tudo o que

pode para mantê-la segura! Você nãoconsegue demonstrar nenhumagratidão por isso?

– Se fosse qualquer outro oficial queestivesse aqui, eu não teria problema.Chame outro oficial para vir aqui hoje evou mostrar a gratidão que você quer!

– É época de férias escolares. Verão.Não há outra pessoa disponível a menosque eu possa telefonar para a oficialPeters que está de férias com os filhos.É isso o que você quer?

Ela quase disse sim, mas suaconsciência não deixou.

– Rick fez isso com perfeição!

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– Ele é inocente, seu idiota! – gritouela o mais alto que pôde.

Os olhos dele cintilaram de raiva.– Você é a idiota... A idiota cega...

Quanto a Rick.Tash cerrou as mãos em punho...

ergueu-as...E depois a imagem do pai surgiu em

sua mente e ela congelou. Tash recuouum passo, seu peito subindo e descendorapidamente.

– Eu nunca odiei ninguém em toda aminha vida com a intensidade que oodeio, oficial Mitchell King.

Ele ficou pálido.– Não quero estar aqui com você –

resmungou. – Qual são minhas opções?

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– Há uma casa segura em Hornsby.Você precisaria ficar no interior da casao tempo todo, escondida. – Ele passouuma das mãos entre o cabelo. – Eu melembro do quanto você é ativa...Quanto odeia ficar presa… E imagineique você fosse preferir estar aqui.

Ela praguejou e se sentou,repousando o rosto entre as mãos porum tempo. Eles não poderiamcontinuar dessa maneira. Ela quasebatera nele!

Tash ergueu a cabeça e inspirouprofundamente.

– Que tipo de sanduíches vocêpreparou?

– Presunto e tomate.

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O favorito dela. Tash estendeu umdos braços e apanhou um sanduíche dacesta.

– Obrigada.Ele se sentou também, mas manteve

a cesta entre eles. Sábio. Muito sábio.– Sinto muito.Ela não queria uma desculpa. Queria

que ele fosse embora.– Se entendi mal e você prefere a

casa, apenas diga uma palavra.Ela considerou isso. Considerou

seriamente. Tash fitou a praia, as ondas,o céu. Ela meneou a cabeça.

– Isso – ela gesticulou para a praia – émelhor.

Um denso silêncio pairou no ar.

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Você gostaria de aliviar o clima?Tash baixou o sanduíche. Isso iria

ajudar?– Sabia que nunca mais confiei em

outro homem depois do que você fez?Ele baixou a cabeça.– Tash. – Mitch ergueu as mãos para

o alto. – Por Deus, Tash, você eraapenas uma criança.

Ela ficou tensa ao ouvir isso.– O quê? Você não acha que uma

garota de 17 anos pode amarverdadeiramente? – Tash o amara comtodo o seu coração. Ela nunca se sentiutão apaixonada por outro homem. Nemantes. Nem depois.

Ela nunca mais iria querer se sentir

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Ela nunca mais iria querer se sentirdaquela maneira novamente. Quandopensou que ele pudesse corresponderao seu amor ela estivera no topo domundo. Quando descobriu que ele ausara para conseguir informações queiriam levar a prisão de Rick...

Traição não começava nem adescrever isso.

Mitch se virou para encará-la.– Sinto muito, de verdade. Pensei...

pensei que você tivesse superado isso.Achei que você fosse considerar issocomo um leve flerte. Só depois percebio quanto a havia magoado.

– Um leve flerte? – Tash o encaroucom descrença. – Mitch, garotas de 17

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anos não consideram nada como leve,exceto talvez, as regras dos pais.

Ela fora muito ingênua. Masaprendera uma lição: Não confiar emninguém.

– Tinha 22 anos e achava que sabiatudo. – Ele soltou uma risada curta eincrédula.

Vinte e dois? Ela se esquecera doquanto ele também era jovem.

– Mas fiz muita coisa errada, Tash.– Como, por exemplo?Ele fitou as próprias mãos e depois a

água.– Quando comecei na polícia estava

sedento para salvar o mundo. – Oslábios dele estremeceram. – Você pode

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traduzir isso como uma fome porpromoção se quiser.

– E por isso pegar Rick com drogasfoi tamanho golpe para você.

Ele assentiu com a cabeça.Faminto para salvar o mundo? Ela

estreitou os olhos enquantocontemplava o mar. Ele não haviasalvado. Havia apenas destruído. Omais triste era que ele não sabia oquanto ele havia destruído. E mesmoagora ela não poderia falar para ele.Não iria falar para ele.

– Então você deve estar satisfeitoconsigo mesmo atualmente – observou.

– Mas a enganei, Tash. Julguei mal oque eu precisava fazer, o que eu

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precisava sacrificar para subir de posto efazer a diferença. Não sei se você selembra disso, mas o dia em que Rick foiconsiderado culpado e foi sentenciadovocê virou para me encarar com umolhar muito significativo.

– Isso não o impediu na época nemagora.

Ele ficou em silêncio por um longomomento.

– Vale a pena lutar por algumascoisas. Acho que a lei e a justiça sãoduas dessas coisas.

– E se alguém se machuca no fogocruzado?

– Se for por um bem maior... – Elehesitou. – Não vou fingir que não me

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arrependo disso.– Por que você quis ser um policial?Ele fitou o mar.– Eu não disse isso a ninguém antes.

Mas, se alguém merece saber isso, essealguém é você.

Mitch se virou para encará-la. Elaprendeu a respiração. O nó em suagarganta ardia fazendo com que seusolhos lacrimejassem. E tudo o que elapodia lembrar era como as mãos delehaviam tomado o seu rosto oito anosantes e o quanto havia entregado seucoração a ele.

– Não – declarou.Ele franziu o cenho.– Não?

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Aliviar o clima? Ela soltou uma risadaáspera. Isso não estava aliviando nemum pouco e sim nublando o clima.

– Não – repetiu, clareando agarganta. – Não quero saber mais nadasobre você, oficial King. Pode manter osseus segredos para si.

Com isso ela se ergueu, sacudiu atoalha e rumou na direção da cabana.Ela entrou no local apenas paraencontrá-lo a dois passos de distância.Tash virou-se para encará-lo.

– Você vai seguir cada passo que euder?

Ele parou próximo a ela, apanhouuma garrafa d’água da geladeira e

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pegou a mochila que estava sobre amesa.

– Fique à vontade, Srta. Buckley. –Ele gesticulou para a cozinha. – Vouestar na praia se precisar de algumacoisa.

Ela ergueu o queixo.– Obrigada. – A voz dela soou fria,

polida e distante.Sem dizer mais nada, ele partiu.Tash fechou os olhos com força.

Baixar a guarda perto de Mitch iria serfatal. Ele poderia se aproximar sendosolícito, mas ele não confiava nela maisdo que havia confiado no passado.Aquela mochila era muito suspeita. Eletinha sido muito cuidadoso em levá-la

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com ele. Ela podia apostar sua vida queo seu celular estava naquela mochila. Eo dele. Juntamente com as chaves docarro. Ele não iria dar a ela uma chancede colocar as mãos em qualquer umdesses objetos.

– Arrependimento? Sim, certo –murmurou. Mitch iria dizer e fazerqualquer coisa para conseguir o quequeria. Tudo em nome do seu trabalhoé claro.

Bem, uma coisa era certa. Ele não iriacolocar as mãos nela.

TASH TOMOU um banho.Ela explorou o interior da cabana.

Estava bem equipada. Tash tinha que

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dar um crédito a Mitch por isso. Ela nãoencontrou seu celular. Não queesperasse isso.

Deitou-se na cama e fitou o teto.Apesar do sol e do mergulho mais cedo,ela não conseguiu cochilar. Sua menteestava cheia de questões e medos. Emque tipo de encrenca Rick estavaenvolvido? Ele estava seguro? Quemestava atrás da violência contra aquelasmulheres? Alguém queria realmentemachucá-la? Se esse fosse o caso, porquê?

Ela se ergueu da cama para seaproximar da estante de livros. Tashselecionou um livro ao acaso. Quinzeminutos depois ela jogou o livro para

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um lado. A única coisa que ela nãoprecisava ler era um gráfico deprocedimento policial.

Não que ela estivesse com medo.Não ali.

Não com Mitch tão perto.Tash preparou um chá e o sorveu

sem degustar uma única gota.Finalmente calçou os tênis, apanhou

uma maçã e rumou de volta para apraia. Atividade... Era disso que elaprecisava. Ela não estava acostumada aficar sem nada para fazer.

No minuto em que Mitch a viu, eledesligou o celular. Depois, voltou aguardar o aparelho na mochila.

Mitch não disse a ela com quem ele

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Mitch não disse a ela com quem eleestivera falando.

Ela não perguntou.– Se for legal – falou lentamente – eu

estava pensando em fazer umacaminhada... apenas ao longo da costa.

– Claro. – Ele se deitou na areianovamente e ajustou o boné sobre osolhos.

– Atrás daquelas rochas ali... – elegesticulou para a esquerda – há umbanco de areia.

– Obrigada. – Novamente ela foi fria.Isso tinha que ser melhor do que gritarcom ele, certo? Meneando a cabeça, elase virou e começou a caminhar.

Pela hora seguinte Tash se perdeu na

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Pela hora seguinte Tash se perdeu namaravilha que era fitar aquelas rochas.Era um mundo lindo e selvagem.

Ainda assim, com o som das ondas sequebrando, os gritos das gaivotas e ocheiro forte de sal no ar misturado comas essências de eucalipto e casuarinas,ela pôde sentir a tensão deixar seucorpo.

Até a imagem do rosto de Mitchsurgir em sua mente.

Ela realmente tinha o interrompidotão cruelmente e se afastado quando eleestivera prestes a revelar algo queobviamente significava muito para ele,algo secreto que ele nunca haviacompartilhado antes? Tash levou as

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mãos aos quadris. Ela olhou de um ladopara o outro da praia antes de fazer ocaminho de volta.

Como iriam passar mais três diasjuntos? Sua boca ficou seca. Por Deus,ela havia quase batido nele. Eles nãopoderiam continuar dessa forma.

Por Deus, isso foi há oito anos!Mitch ainda estava deitado de costas

com o boné sobre os olhos.– Está dormindo?– Não.Mas ele não se sentou.Ela se sentou, mas não muito perto

dele.– Tenho uma proposta para você.Ele ainda não se sentou.

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– A polícia quer questionar Rick,certo?

Ele não estivera se mexendo antes,mas ficou completamente imóvel aoouvir as palavras dela. Tash o encarou ecomprimiu os lábios. Haja como umadulto.

– Eu prefiro ter essa conversa cara acara.

LENTAMENTE MITCH se sentou. O queela estaria pensando em fazer agora?Ele ajustou o boné na cabeça.

– Você sabe que queremos.– Mas você não tem prova suficiente

para prendê-lo, certo? Toda a prova quevocê tem é meramente circunstancial.

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– O que está pensando em fazer,Tash? – Ele estendeu um dos braços eretirou os óculos de sol que ela usava,colocando-os sobre o colo dela. Elequeria ver os olhos dela. Queria saberse ela estava mentindo para ele, seplanejava algo estúpido.

O rosto dela, no entanto, nãodemonstrou nenhum sinal. Elameramente piscou algumas vezesenquanto seus olhos se adaptavam à luzdo sol.

– Eu sei que Rick não é responsávelpor esses crimes que você o estáacusando. – Ela era tão cega em relaçãoa Bradford. – Deixe-me telefonar paraele. Deixe-me falar com ele.

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Ele ficou tenso. Cada músculo do seucorpo gritava não. Porém se ele dissessenão de imediato, ela iria se levantar ecaminhar. Ele não queria que ela seafastasse. Estava cansado da frieza dela.

– Por que eu deixaria você fazer isso?Por que lhe daria a oportunidade dedizer a ele que a polícia está atrás dele?

Ela inclinou-se na direção dele e oformato de seus lábios deixou-ohipnotizado por alguns minutos.

– Rick é inocente até que provem ocontrário.

– Eu conheço Bradford.– Você sempre o perseguiu... Por

quê?– Ele é um traficante!

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– Você o persegue muito antes de tê-lo flagrado com drogas. Por quê? Furtaralguns chocolates? Por Deus, Mitch,essas coisas acontecem quando estamoscrescendo. Você sabe disso tantoquanto eu. Sou culpada por fazerexatamente as mesmas coisas!

Ele cerrou os dentes com tanta forçaque podia sentir a pulsação na base desua mandíbula. Por fim ele relaxou.

– Era o líder que levou crianças comovocê e Cheryl O’Hara a se desviarem docaminho.

– Cheryl? – Ela fechou os olhos.Quando os abriu novamente, seus olhostinham se tornado escuros e

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melancólicos. – Você está errado. Vocênão sabe o quanto está errado.

– Eu sei que ele a atingiu! – Comoela poderia defendê-lo depois de todoesse tempo? – Sei que ele bateu emvocê!

As costas dela ficaram tensas.– Certamente ele não fez isso.– A primeira vez que a vi depois de

meu treino básico, você estava com ummachucado no rosto. Alguns mesesdepois, um olho roxo. – Um incidentepoderia ser classificado como acidente.Mas dois? Sem chance.

Tash cruzou os braços.– Você estava com um olho roxo e

Rick com os dois, além do nariz

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quebrado e um corte no lábio. Euperguntei ao seu pai sobre isso. Ele medisse que Rick tinha batido em você eque ele hum... tinha o repreendido porisso.

– E você acreditou nele?Ele sentiu o desdém no tom de voz

dela.– É claro que acreditei nele!– É claro que sim – zombou.Tash fez menção de se erguer, mas

ele tomou-a por um dos pulsos,mantendo-a no lugar.

– Está me dizendo que Rick nãobateu em você?

Com uma surpreendente agilidadeela se livrou da mão que a prendia.

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– É claro que ele nunca me bateu!– Então quem...?Ela ergueu uma sobrancelha, nem

mesmo tentando esconder suazombaria.

– Você é o detetive, descubra issosozinho!

Mitch a viu caminhar até a cabana.Quando ela estava longe, deixouescapar um xingamento. Por que atrouxe ali? O que o fez pensar que seriauma boa ideia?

Tudo o que queria fazer era mantê-laa salvo!

É claro que ele nunca me bateu!Ele se sentou com as sobrancelhas

franzidas. A voz dela, o rosto, os olhos,

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tudo havia emitido muitaautenticidade. Ele secou as palmas noshort. Se Rick não havia batido nela,então quem teria feito isso?

Sua pele se tornou pegajosa. Sua bocasecou. Não. Por favor, Deus ele nãopoderia ter entendido isso tão errado!

Mitch se ergueu e apressou-se nadireção da cabana. Ele abriu a porta enão se importou em fechá-la. Tashvirou-se de onde estava lavando asmãos na pia.

– Seu pai – declarou. – Foi seu paique bateu em você?

Ela cruzou os braços e o fulminoucom o olhar.

– Bem, você viu como ele era

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– Bem, você viu como ele erahabilidoso com os punhos.

Não era uma resposta direta, mas eleviu a verdade nos olhos dela. Mitchengoliu em seco. Ele poderia terentendido isso errado? Todo essetempo…

– Por que você não me disse?Os lábios dela estremeceram como se

ele fosse a coisa mais patética que ela játinha visto.

– Você nunca perguntou – observou.– Meu pai era um homem grande. Vocêviu os resultados das mãos dele.

Ele tinha visto.– Rick tentou impedi-lo?

Novamente ela não respondeu, mas

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Novamente ela não respondeu, masalgo amargo surgiu no brilho dos olhosdela.

– E você decidiu não fazer nada arespeito.

Tash estava certa. Ele havia escolhidonão fazer nada, acreditando que Ricktinha sido o responsável.

Ele estivera tão errado.– Se você tivesse tentado ajudar Rick

em vez de brigar com ele, poderia tersido capaz de ajudar. Ele já tinhabastante miséria na vida sem vocêprecisar acrescentar mais.

Ela passou por ele em direção aoquarto e, desta vez, ele não tentouimpedi-la.

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CAPÍTULO 3

MITCH SAIU da cabana. A luz fortequase o cegou, mas era a luz de umnovo conhecimento que o deixouzonzo.

Como ele tinha lido a situação delade forma tão errada no passado?

Mitch fez o caminho de volta para apraia... Onde havia deixado a mochila ea toalha. Ele tinha 22 anos e estivera tão

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certo que sabia tudo. Ele não sabianada!

Passou as mãos pelo cabelo. Quantoele havia contribuído para Rick terentrado no mundo do crime?

Mitch resmungou. Rick teria resistidoa qualquer tentativa de amizade vindada parte dele. Rick não havia confiadoem ninguém em uma posição deautoridade. Um dos poucos deleitesque Rick tinha apreciado, até ondeMitch poderia dizer, era zombar daautoridade com uma casual insolênciadesignada para irritar, quebrar as regrassempre que possível e rir em face àsconsequências.

Dado a vida caseira do garoto, Mitch

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Dado a vida caseira do garoto, Mitchmal poderia culpá-lo pela sua raiva efalta de confiança. Mesmo quandoaquela raiva tinha encontrado voz empequenos crimes. Mas assim que Ricktinha progredido para as drogas elehavia ultrapassado uma linha invisível.Mitch fulminou o horizonte. Ele serecusava a assumir responsabilidade poraquilo.

Mas isso não mudava o fato de queele e Rick tivessem mais em comum doque ele pensava... Ambos odiavamviolência contra mulheres. Ao menos,Rick tinha odiado antes de ir parar nacadeia.

Mitch repousou as mãos nos joelhos,

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Mitch repousou as mãos nos joelhos,inspirou profundamente e deixou umsuspiro escapar dos seus lábios antes deendireitar as costas. Esse poderia nãoser mais o caso. A prisão mudava umhomem, e a julgar por tudo o que elehavia ouvido, Bradford não tinha sidoum modelo na prisão.

Ele pensou de novo naquelasfotografias e seu estômago se apertou.Os detetives da Central Sydneyresponsáveis pelo caso o consideravamculpado. Mitch não tinha motivos paraduvidar deles. Rick poderia não ter sidoresponsável por machucar Tash oitoanos antes, mas era o responsável poresse último dilúvio de violência. Mitch

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estava certo disso, mesmo que Tash nãopudesse enxergar isso.

Da mesma forma que você estevecerto que ele havia batido em Tash háoito anos?

Ele se virou para o outro lado. Nãoera apenas a conexão de Rick com essastrês mulheres. Havia uma convincenteprova física também. E não era apenascircunstancial. Um calafrio tomou contado seu corpo. Ele não iria dar a Rick achance de machucar uma quarta vítima.Seus lábios se comprimiram. Bradfordpoderia ter muito rancor de Tash...Poderia até mesmo culpá-la por ter idoparar na cadeia. Isso o tornava perigoso.Selvagem.

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Garotas de 17 anos não consideramnada como leve.

Rick tinha encarado o pai dela,tentara vencê-lo. O coração de Mitchbatia forte. Não era de se admirar queela o tivesse colocado em um pedestal.Não era de se admirar que ela serecusasse a ouvir a razão agora. Issotudo iria desiludi-la, e ela não mereciaisso.

Ele suprimiu um xingamento,apanhou a toalha, a mochila e os óculosescuros e marchou de volta para acabana.

Tash não estava na sala principal, oque significava que ela deveria estar noquarto.

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– Tash?Sem resposta.Mitch jogou a toalha e a mochila em

cima de uma cadeira e colocou osóculos sobre a mesa com tanta forçaque deslizaram para o outro lado.

– Tash, quero conversar com você!Ele fechou os olhos e contou até

cinco. Depois, os abriu, aconselhando asi mesmo a moderar seu tom.

– Quero que me diga sobre essa suaproposta. Por que eu deveria deixá-latelefonar para Rick?

Ela apareceu na sala.– Você quer dizer que vai realmente

ouvir minha ideia?

– Não estou fazendo nenhuma

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– Não estou fazendo nenhumapromessa. A decisão final é do detetiveno comando, não minha. Mas se suaideia tiver mérito vou dar crédito a ela.

– Por quê? – perguntou, não semovendo da entrada da porta.

Ela agia como se ele fosse o predadore não Rick.

Tash cruzou os braços.– Bem?Ele ergueu o queixo.– Sinto muito pelas coisas terem dado

tão errado há oito anos. Sinto muito setirei conclusões falsas e não fiz asperguntas certas.

Ela desviou o olhar para o outro lado.Mitch endureceu o coração.

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– Você pode não querer ouvir meupedido de desculpa, mas isso não vaime impedir. Eu sinto muito. Você podequerer não aceitar isso, mas esse é umproblema seu.

– Problema? – Ela o fulminou com oolhar.

– Do que mais você chamaria isso?Os olhos dela se estreitaram.– Estou farto de pedir desculpas

agora. Sinto muito se entendi algumascoisas erradas no passado. Sinto muitose a magoei. Agora, você deixou bemclaro que não quer ser minha amiga.Certo. Então vamos manter tudo demodo profissional.

Ela piscou.

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– Há oito anos cometi um erro. Sepuder me retratar de alguma maneiraagora, eu me retrato.

Finalmente ela se moveu para ointerior da sala.

– Está dizendo que acredita que Rické inocente?

– Não é o que estou dizendo.Ela os serviu de um copo de água

gelada e se sentou à mesa.– A polícia quer interrogar Rick,

certo?Ele se sentou do lado oposto ao dela

e curvou a mão ao redor do copo.– Certo.– Você quer mesmo prendê-lo?

Ele não iria dizer isso a ela, mas, ela

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Ele não iria dizer isso a ela, mas, elapoderia manter o rosto ilegívelatualmente.

– Vamos querer segurá-lo parainterrogá-lo.

– Então, para conseguir isso, vocêestá usando minha casa enquanto mefornece um guarda-costas pelo que...Três dias? Isso parece como um usorazoável do tempo e dos recursos dapolícia?

– Nós levamos a violência contra asmulheres muito a sério.

Ela prosseguiu como se ele nãotivesse dito nada.

– Quando acredito que com umúnico telefonema poderia convencer

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Rick a entrar na delegacia de políciamais próxima.

Ele se inclinou sobre a mesa.– Para se entregar?Tash o fulminou com o olhar.– Para ajudar com sua investigação –

devolveu. – Espero que quem quer queseja que vá interrogar Rick tenha amente mais aberta do que você, oficialKing.

Ele engoliu a água para afogar aresposta imediata que surgiu em seuslábios.

– Por que Rick iria fazer isso?– Porque, apesar de tudo, Rick ainda

confia em mim.

Isso era exatamente o que Bradford

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Isso era exatamente o que Bradfordqueria que ela pensasse enquanto ele aacalmava com um falso senso desegurança.

– E você acha que vai convencê-lo? –Qual era o jogo dela?

Os olhos dela pareceram cintilar fogoe ele esperou para que ela começasse agritar com ele novamente. Ela não o fez,mas o fogo não se apagou. Ele teve umaimagem espontânea dela nua comaquele tipo de fogo cintilando em seusolhos azuis. Eles iriam...?

Ele tentou afastar da mente asimagens que se lançavam contra ele emuma sucessão vívida.

– Estamos trabalhando em dois

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– Estamos trabalhando em doisterritórios diferentes aqui – declarouela. – Você está operando sob a erradailusão de que Rick é culpado. Estouoperando na correta suposição de que éinocente.

– Se ele é inocente, Tash, por quenão contatou a polícia ainda?

– E se ele ainda não sabe dessescrimes?

Ele detestava arruinar as ilusões dela,mas quanto mais cedo ela encarasse arealidade mais segura ela estaria.

– Uma prova física que o liga com ascenas do crime foi encontrada. Nóssabemos que ele esteve recentementenas casas de cada uma das vítimas.

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Ela mordiscou o lábio inferior.– Ele sabe, Tash. – Mitch resistiu à

vontade de acrescentar: ele é culpado.De qualquer maneira, os olhos dela

cintilaram novamente.– Onde as digitais dele foram

encontradas? Em uma lata dequerosene que poderia ter sido usadapara começar o fogo, ou uma faca quepode ter sido usada para cortar asgargantas daquelas ovelhas ou no carroque foi batido?

– Não, mas...– Mas nada! – Ela desprezou as

palavras dele gesticulando com uma dasmãos no ar.

– Apesar do que acabei de dizer, você

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– Apesar do que acabei de dizer, vocêainda acredita que ele não sabe nadasobre esses crimes? – Ele precisou detoda a concentração para continuarsentado à mesa como uma pessoacivilizada em vez de derrubar a mesacomo um homem enlouquecido.

– Se ele foi ver essas mulheresrecentemente então ele deve sabersobre os crimes. – Os lábios dela secomprimiram. – Mas Rick não temmotivos para confiar na polícia. Talvezesteja tentando encontrar alguma provaprimeiro e resolver o crime sozinho. –Ela ergueu os olhos para encará-lo. –Quem você acha que é responsávelentão?

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O fogo nos olhos dela se apagou.– Eu não sei. Minha melhor aposta

seria alguém com quem ele esteve nacadeia. Alguém que se tornou inimigodele. Alguém que quer arruinar a vidadele. – Ficou pensativo. – Por que eleiria mudar de ideia quanto a ir a políciase conversasse com você?

– Como eu disse, Rick confia emmim. Se ele é inocente, como acreditoque seja, então não tem nada a temer.Exceto o tempo que você vai levar paradescobrir quem é realmenteresponsável. E se isso trouxer umaresolução rápida para essa confusão,então certamente terá valido a pena.

Ela estava certa, mas... Ele sustentou

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Ela estava certa, mas... Ele sustentouo olhar dela.

– Como sei que você não vaisimplesmente alertá-lo sobre o esquemados detetives em sua casa?

O olhar dela não mudou, mas certasatisfação se espalhou por seu rosto.

– Você vai ter que confiar em mim,oficial King.

TASH SEGUROU a respiração e esperoupara ver qual decisão Mitch iria tomar.Quanto mais cedo essa farsaterminasse... Mais cedo ela estaria longede Mitch.

Mas isso não é uma farsa, umapequena voz surgiu em seu interior.

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Não, não era uma farsa. Alguémrealmente estava machucandomulheres. E ela era a próxima da lista.Ela sentiu o sangue congelar nas veias.

Tash repousou as palmas das mãossobre a mesa.

– Mitch?Ele ergueu o rosto, seus olhos se

alargando ao vê-la usar seu nome emvez do sarcástico oficial King.

– Você parece se esquecer de que éuma questão de honra me assegurar deque o criminoso correto seja pego.

– Não me esqueci disso nem por ummomento – assegurou. – Entãocertamente minha sugestão é válida?

Ele assentiu com a cabeça.

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– Você está certa.Ela se sentou ereto na cadeira.– Verdade?– Pode passar a mochila para mim?Ela o fez.Seu coração perdeu uma batida

quando ele apanhou o seu celular damochila em vez do dela. É claro que eleiria falar com seus superiores primeiro.

– Detetive Glastonbury, aqui é odetetive King.

Ela ficou atenta ao rosto dele.– Não, nenhum problema e

nenhuma pista do criminoso ainda.Ela ouviu enquanto ele descrevia sua

proposta.– Acredito que ela seja confiável.

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Tash piscou. Estava se referindo aela?

– Mas...Ele assentiu com a cabeça e disse:– Entendo.Mitch desligou o telefone.– Eles não se convenceram. Sinto

muito.Ele sentia? Ela deu de ombros.– Qual foi a queixa deles?– Além do fato de acreditarem que

estão apertando a armadilha em voltadele e o terão a qualquer momento?

Ela suspirou.– Não querem assumir o risco de que

eu possa alertá-lo.Ele hesitou.

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– Estão com a conta de telefone deRick.

Ela o encarou cegamente.– Tash, sabem que você falou com

Rick na quinta-feira à noite por cerca dedez minutos.

Oh.– Você mentiu sobre isso.Sim, ela mentira. Eles não pareciam

querer dar crédito a ela depois disso.Exceto...

– Se têm os registros de telefone deleentão certamente podem rastrear ondeele está pelo sinal do celular dele?

– Eles o fizeram. O celular dele foijogado em uma lata de lixo no shoppingdo centro.

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Certo.– Você quer me dizer o que você e

Rick conversaram?– Não.– Você não está fazendo nenhum

favor a si mesma.– Se ele não tem o celular meu plano

não teria funcionado de qualquermaneira.

O olhar dele não deixou o rosto dela.Tash deu de ombros novamente.

– Além do mais, posso lhe dizer quenós apenas falamos sobre coisas semimportância, mas você ainda não iriaacreditar em mim.

Os lábios dele estremeceram em ummeio sorriso triste. Ela fitou os lábios

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dele e se lembrou de como ela os haviasentido contra os seus. Há tanto tempo.Será que a sensação seria a mesmaagora?

– Acredito que isso seja irrelevante.Em alguns dias Rick vai estar sobcustódia e sendo interrogado.

A voz dele a atraiu de volta para opresente. Ela tentou se livrar dafascinação que a estava consumindo.Ela e Mitch obviamente estariam presosali pela duração da operação e ela teriaque lidar com isso. Mas...

Tash afundou-se na cadeira. O queiriam fazer pelos próximos três dias?Nadar, ler um livro ou dois? Ela erahonesta o suficiente para admitir que

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pudesse encontrar alguma distração nomergulho, mas não seria capaz derelaxar o bastante para saborearqualquer coisa sedentária.

Tash conteve um suspiro.– Bem, obrigada por finalmente ouvir

minha ideia. – Ela sorveu um gole daágua. – E obrigada por argumentarsobre o meu caso. Você não precisavafazer isso.

Ele se ergueu e guardou o celulardentro da mochila.

– Você não achou que eu fosse?Ela umedeceu os lábios e meneou a

cabeça. Ele não tinha pensado na ideiadela como sendo uma boa ideia emprimeiro lugar.

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– Cuidado, Tash. Você está deixandoo seu ressentimento cegar suapercepção. Provavelmente seria maissábio me julgar quanto ao que souagora, não o que fui há oito anos.

Isso tinha certa verdade. Elaprecisava lidar com essa situação comouma adulta.

Ele dirigiu o olhar para o seu relógiode pulso.

– Hora do jantar.Tash piscou. Ela abriu a boca.

Fechou-a novamente.Ele ergueu uma sobrancelha.– O quê?– Você sabe cozinhar?

– É claro que sei cozinhar – declarou

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– É claro que sei cozinhar – declarouincrédulo. – Não é tão difícil assim. –Rumou para a geladeira e removeu umatravessa de carne moída. – Apenasporque sou homem não quer dizer queeu seja inútil na cozinha.

Ela manteve a boca bem fechada.– Então eu iria apreciar se você

mantivesse suas visões preconceituosaspara si mesma.

Isso foi o bastante para ela abrir aboca novamente.

Ele ficou calado e depois se viroupara encará-la, com alguns tomatesfrescos e uma jarra de molho de tomatenas mãos.

– Você estava sendo preconceituosa,

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– Você estava sendo preconceituosa,certo?

Ela permaneceu calada.– Não estava? – Os ombros dele

relaxaram. – Desculpe. Não sou umchefe ou qualquer coisa assim, masposso cozinhar. Eu acho que cozinhar érelaxante, você não acha?

Ela engoliu em seco.– Parece outra tarefa diária para

mim.Ele ficou tenso e depois se virou para

encará-la, seus olhos se estreitando paraela. Um canto de sua boca se curvou.

– Não sabe cozinhar, hum?– Não posso dizer que tive muita

experiência.

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Ele repousou uma tábua na mesa ecomeçou a cortar uma cebola.

– O que você come, então?Os dedos dele eram ágeis como os

dos chefes de cozinha que ela estavaacostumada a ver na tevê.

– Tash?Subitamente ela percebeu que

estivera fitando a mão dele enquantoele cortava a cebola, completamentepresa ao ritmo disso. Ela forçou-se adesviar os olhos das mãos dele. Ela nãoqueria pensar naquelas mãos.

Tash limpou a garganta.– Nos dias em que vou trabalhar,

normalmente como uma refeição nopub.

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– O que você faz nas outras refeiçõesdo dia?

Ela deu de ombros.– Cereal.Ele parou de cortar tomates desta

vez, para encará-la.– Você quer dizer cereal para o café

da manhã?Tash encolheu os ombros.– Gosto de cereal.– Você come cereal na janta?– Algumas vezes.– Você sabe cozinhar alguma coisa?– Posso fritar um ovo. – Embora ela

mal fizesse isso. – Torrada tambémconta?

– Eu… – Mitch deu de ombros. –

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– Eu… – Mitch deu de ombros. –Claro, por que não? – Ele lançou umbreve olhar para ela. – E quanto àsalada?

– Compro aqueles pacotes prontos nosupermercado. Não vejo por que ter otrabalho de cortar tudo aquilo se jápode comprar pronto.

– Por que é fresco e pode ser maisgostoso?

– Ou se você estiver economizando –acrescentou. – Felizmente, esses diasnão estou tendo que me preocupar comisso.

Ela, Rick e Mitch tinham crescido emuma classe de trabalhadores do bairro.

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Dinheiro tinha sido um problema paramuitas pessoas.

Teria sido para Mitch e os pais dele?Ele estivera muito a frente dela naescola para que ela soubesse muitosobre ele. Ocorreu a ela então que elenão tinha oferecido muita informaçãosobre si mesmo quando a haviaauxiliado na primeira vez.

Os lábios dela estremeceram. Eleestava brincando com ela ou o quê?

Você está na cabana dele. Ele estámantendo-a a salvo. Ele acabou de levaro seu caso aos superiores. Dê algumcrédito a ele. Por Deus, ele está fazendo oseu jantar!

Oito anos antes ele tinha apenas 22

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Oito anos antes ele tinha apenas 22anos. Tão jovem. Ela não pensara nisso.Talvez porque ela tivesse abafadoaquelas lembranças e não as deixara vera luz do dia desde então.

– Você gosta do seu trabalho noRoyal Oak?

– Sim, gosto. – Ela descansou oscotovelos na mesa. – Sou boa no quefaço. Gosto de nossos clientes e me doubem com eles. Eles me tratam comrespeito.

Um sorriso ergueu um canto doslábios dele.

– O quê? – exigiu. – Você não vai medizer que boas garotas não trabalhamem pub, certo? Porque tenho uma

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notícia para você... Não sou uma boagarota.

Ele jogou a cabeça para trás e deurisada. O som preencheu a cabana. Elao encarou.

– Estou esperando você dizer quecomprou o lugar.

– O pub? – Ficou boquiaberta. – Eu?– Por que não?– Ah, não sei – falou lentamente. –

Mas talvez o fato de não ter nenhumaqualificação para os negócios ouhabilidade em contabilidade pode serum começo.

– Você pode adquirir isso – desafiou.– Há rumores dizendo que vocêrecuperou aquele hotel sozinha.

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– Os rumores são exagerados. Eumeramente tive algumas ideias queClarke me deixou colocar em prática.Eu tive apoio. A equipe do pub éexcelente. Somos um bom time. – Elafranziu o cenho. – Você ouviu rumoresde que Clarke está vendendo o local?

– Não.Ela meneou a cabeça. Tash não

queria ser proprietária de um pub.Estava feliz com as coisas da forma queestavam. Ela se forçou a se concentrarno presente e gesticulou para a tábua.

– O que está fazendo?– Uma saborosa carne moída. –

Ficou tenso antes de repousar a faca

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sobre a tábua. – Não perguntei se háalguma coisa que você não come.

– Não tenho esse problema. – Nãopoderia ter, crescendo com o pai.

– Qual sua comida preferida?– Peixe e batata frita.– Espero que goste da minha comida.Ela assentiu com a cabeça. Tash se

lembrou do momento na praia maiscedo quando ele estivera prestes a lhedizer por que tinha se unido à forçapolicial. A outra lembrança de quandoquase bateu nele fez seu estômago seapertar. Tinha que encontrar umamaneira de passar os próximos dias semfazer algo de que pudesse se arrepender

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para sempre... E sem perder a sanidade.Tash se serviu de outro copo d’água.

– Hum, Mitch, fui um pouco rudehoje.

Ele começou a se lembrar dasmemórias dolorosas.

– Quero me desculpar. Nós nuncavamos concordar sobre Rick, entãoproponho que não prolonguemosnenhuma discussão sobre ele até irmosembora daqui.

Ele ficou tenso de onde estavafritando a carne moída.

– Você está falando sério?– Acho que isso não vai nos ajudar a

alcançar nada.– E o que você quer alcançar?

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– Gostaria de que passássemos ospróximos dias tão pacificamente quantopudermos.

– Você não terá uma discussão sobreesse assunto, Tash.

Ela contou o número de vezes queele se desculpou com ela nesse dia.Tinha sido ao menos cinco. Ela engoliuem seco.

– Então você aceita minha desculpa?– Sim.Ela soltou um suspiro.– Obrigada.Ele não disse mais nada. Acrescentou

os ingredientes à carne moída econtinuou fritando-a. Ela umedeceu oslábios novamente.

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– Então... – Tash sorveu mais umgole d’água – por que você decidiu serum oficial da polícia?

Ele não se virou imediatamente.Colocou uma medida de água em umcopo e jogou sobre a carne. Colocou atampa na frigideira e baixou o fogo.

– Sabe de uma coisa, Tash? Acho quevocê estava certa mais cedo. Acho queisso não é um problema seu afinal decontas.

Tash ficou perplexa.– Isso precisa ferver por meia hora.

Vou tomar um banho rápido.Ele apanhou a mochila e deixou a

cabana.

Tash sorveu o restante da água que

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Tash sorveu o restante da água quehavia no copo.

– Certo – murmurou para o silêncio.E, erguendo-se da cadeira, caminhou

até a praia, rezando para que o frio danoite pudesse encontrar uma maneirade acalmar a tempestade que seformava em seu interior.

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CAPÍTULO 4

MITCH MEDIU o momento exato emque Tash saiu do quarto e entrou nasala. Ele não precisava ver o relógio.Havia feito isso havia cinco minutos...1h45 da manhã. O sono obviamente adeixou, assim como a ele.

A extensão da raiva e doressentimento em direção a ele duranteo dia o havia surpreendido, e era por

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isso que a sugestão dela o deixouestupefato.

Mitch se sentou. Uma voz interior oalertou para ser sábio e fingir o sono,mas ele ignorou isso.

– Não consegue dormir?Ela se moveu mais para o interior da

sala.– Desculpe, não queria perturbá-lo.– Você não perturbou. – Ele soltou

um longo suspiro. – Também nãoconsigo dormir.

– O sofá é desconfortável?– De forma alguma.Ele havia deixado uma lâmpada

acesa na cozinha e em meio ao fraco

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brilho ele pôde ver a forma com que elamordiscou o lábio inferior.

– Está preocupada que não estejasegura aqui? – Permaneceu calada. –Estou confiante de que nenhum perigovai nos atingir. Contudo, vou me sentirmelhor quando tudo isso acabar. –Quando ele soubesse que ela estariasegura.

– Eu também. – Ela alisou o cabelocom as mãos. – Sei que ficar sentada anoite inteira pensando nisso não vai sernada produtivo.

– Não.– O que preciso é de um copo

generoso de vinho tinto. – Ela exibiu

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um meio sorriso. – Isso me deixarialenta o bastante para dormir.

Mitch ficou pensativo. Ele tinhaalgum vinho na cabana? Ele nãotomava muito vinho. Brandy. Ele abriuum armário da cozinha e alcançou umagarrafa. Sim... como havia esperado...Uma garrafa nova.

Carregando as taças em uma dasmãos e a garrafa debaixo do braço, eleabriu a porta da cabana e saiu. Durantetodo o tempo ele foi cuidadoso paranão se aproximar muito dela. Ele nãoqueria assustá-la mais do que já tinhaassustado. De fato, ele não queria falarnovamente, mas após uma brevehesitação ela o seguiu.

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Mitch se sentou em um lado daescadaria da frente e repousou as taçasno chão. Ela se sentou ao lado dele.Mitch os serviu da aguardente. O ar frioda noite e a essência do mar aliviou atensão que ele sentia.

Tash apanhou uma das taças.– Não gosto de uísque.– É brandy.Ela enrugou o nariz.– Têm o mesmo cheiro para mim.– Que crueldade! – Ele fingiu estar

ofendido, enquanto apanhava sua taça.– Que tipo de garçonete é você?

Estava mais claro aqui do lado defora em meio à luz da lua e das estrelasdo que no interior da cabana enquanto

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observava um canto da boca dela securvar.

– Você tem que saber que sou umagerente de hotel e não uma garçonete.

– A mesma coisa.Uma risada escapou da garganta dela

e ele sentiu a tensão deixá-lo aindamais.

– Experimente. Apenas um gole.Você pode se surpreender. – Ele girou obrandy no copo e levou-o ao nariz antesde sorver um generoso gole.

Tash o viu. De perto. Tão perto quesentiu o estômago se apertar. E depoisela copiou as ações dele. Seu nariz seenrugou como se estivesse esperandopor um gosto ruim, mas depois de um

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momento a expressão do seu rostosuavizou.

– Certo, isso não é tão ruim. Talvezeu possa me acostumar com isso afinalde contas.

Ela parecia consideravelmenterelaxada, mas conforme ele fitou-lhe asmãos... a forma com que elas seapertavam ao redor da taça... a tensãoapertou seu peito.

– Tash, nunca tive uma ameaça deviolência contra mim.

Ela não disse nada.– Imagino que seja bem assustador.Tash fitou a taça com o cenho

franzido.

– Há uma parte de mim que apenas

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– Há uma parte de mim que apenasnão consegue levar isso a sério. – Elaergueu uma das sobrancelhas. – Nãosou estranha à raiva e luta. Vi maisbrigas de bar do que posso contar nasmãos e interrompi muitas delas. Antesdisso tinha o meu pai. Com tudoaquilo, porém, sabia de onde a ameaçaestava vindo, mas isso... – Ela ergueu osolhos e encontrou os dele. – É estranhopara mim.

Não havia nada que ele pudessedizer quanto a isso. Mitch apenasassentiu com a cabeça e tentou engolir abile que havia subido a sua garganta.

– Aquele flash de ira que faz alguémquerer brigar... Eu entendo isso. Não

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concordo com isso, mas entendo. E seicomo ler os sinais. O que não entendo éalguém tramar a sangue frio como vaimachucar outra pessoa.

– As pessoas fazem isso. – Elemanteve a voz tranquila. Não queriaassustá-la.

– Sim. – A palavra soou como umsuspiro.

Conversar sobre a ameaça e sepreocupar com isso não iria ajudá-la arelaxar.

– Diga-me algo.– O quê?– O que fez você oferecer uma trégua

nesta tarde?

Ela ficou tensa por um longo

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Ela ficou tensa por um longomomento e depois pareceu recordarsubitamente.

– Ah, aquilo. – Desviou os olhos dataça e o encarou.

Sim, aquilo. Queria confiar nela, masnão conseguia.

– O flash de violência queconversamos… Eu quase bati em você.– Ela inspirou profundamente. – Nuncabati em alguém antes. Nem mesmocheguei perto disso. Nunca mais querochegar a esse limite novamente.

– Esse tipo de choque pode fazeruma pessoa perder a cabeça. Não sejatão dura consigo mesma.

– Talvez. – Tash voltou a fitar a taça.

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– Talvez. – Tash voltou a fitar a taça.– Mas não foi só isso. Ser forçada apassar tempo na sua companhiajuntamente com toda a história de Rickme levou de volta ao passado e emcomo me sentia naquela época. Oresultado disso foi... Bem, você viu. –Ela deu uma pausa. – Sei que você sedesculpou e acredito em suasinceridade, mas…

Ela não prosseguiu. Ele não sabia seestava pesaroso ou aliviado.

– Você não deveria se fechar dessamaneira. Por que não conversou comalguém?

Ela deu uma risada áspera e ergueuuma sobrancelha.

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– Quem? Com quem eu poderia terconversado Mitch? Meu pai?

Ele fechou os olhos.– Você tinha prendido o meu melhor

amigo.Rick. Ele voltou a abrir os olhos.– Você deve ter amigas.– Todas que me culparam pela prisão

de Rick. – Ela lançou um olharsignificativo para ele. – Justamentecomo as teria culpado se a situaçãotivesse sido oposta. Porque o fato é quese não tivesse levado você à festanaquela noite você nunca teriadescoberto sobre as drogas. Então, Ricknunca teria sido preso.

– Não então, talvez.

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Ela meramente deu de ombros.Ele tentou engolir a saliva mais não

podia. O mundo em que Tash haviacrescido tinha sido duro e inflexível.

Ele havia colocado um traficante dedrogas atrás das grades. Rick parecia termuita influência sobre ela.

– Além do mais, confiar em você nãotinha sido algo bom para mim entãonão era algo que estava ansiosa pararepetir.

Sabia que nunca mais confiei emoutro homem depois do que você fez? Aspalavras dela ecoaram em sua mente.

– Por que você ainda me odeia?– Talvez eu odeie. – Tash declarou

em meio à escuridão. – Ou talvez isso

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finalmente tenha passado. – Ela ergueua cabeça. – Sim, é isso que parece…Como se hoje fosse algum tipo depurificação. Eu não o odeio mais pelomesmo motivo que não odeio mais meupai.

Ela o colocou na mesma categoria dopai?

– Não sei se você se lembra de comoé ser uma criança, Mitch. – Ele ficoutenso. – Mas é algo que nunca podereiesquecer. Temos tão pouco poderquando somos crianças. Você estásempre à mercê dos impulsos de outraspessoas.

Ele se lembrava. A bile subiu à suagarganta. Ah, sim, como ele se

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lembrava.Tash se virou para encará-lo.– Mas não sou mais uma criança. Sou

eu quem controlo a minha vida agora.Meu pai não pode mais me machucar.Nem você.

As palavras dela abriram um abismodentro dele.

– Tash – disse. – Eu...– Não estou dizendo isso para fazê-lo

se sentir culpado. Você tinha apenas 22anos. Eu me esqueci do quanto você erajovem.

– Se eu pudesse voltar e mudar comolidar com a situação, voltaria.

– É o que você diz. – Havia umasurpreendente falta de amargura no

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tom de voz dela. – Mas isso não épossível. Se precisa ajustar algo em suaconsciência é um problema seu. O quepenso não deveria importar.

Importava se ele quisesse a amizadedela.

Ele endireitou as costas. O que estavapensando? Ela nunca iria confiar nelenovamente.

– Você não mudou para os subúrbiosdo oeste de Sydney até completar 12anos, certo?

Tash tinha uma boa memória.– E sua família era o quê? Classe

média?– Eu morava com meus avós. Meu

avô era um contador.

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– Então dinheiro nunca foi umproblema.

– Não, tive sorte. – Ele forçou-se adizer as palavras. – Tive oportunidades.– Oportunidades que crianças comoTash e Rick nunca tiveram.

Ela assentiu com a cabeça.– Você nunca foi um de nós e isso

também ajuda. Você não sabiarealmente o que estava fazendo.

Ele estivera tirando criminosos darua!

Mas sabia que não era isso o que elaquisera dizer, e ele não queria começara brigar com ela novamente, entãomanteve a boca fechada.

– Sabe, se você tivesse passado pelas

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– Sabe, se você tivesse passado pelasmesmas experiências que eu, Rick eCheryl, acho que você teria agidodiferente.

Ele ficou tenso.– Isso não muda o que aconteceu,

mas significa que posso olhar para vocêcom um olhar mais gentil.

Ele fitou a noite a sua frente e passouuma das mãos pelo cabelo.

– Você perguntou – finalmente disse.E ela dera uma bela resposta a ele.E ele não queria mais falar sobre isso.– Para onde você estava indo em suas

férias?– Norte. Eu teria gostado de ir até a

baía Byron. Nunca estive ali, mas ouvi

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falar muito sobre o local. Deve sermuito bonito, mas é longe... Ao menosdez horas de viagem de carro. Eu iriaviajar até o porto de Coffs hoje e depoisver como me sentia. Cinco noites emCoffs me pareceu ótimo.

– O que você planejou para essascinco noites?

– Além de nadar, ler um romance oudois e comer fora todas as noites?

– Além disso. – Tash tinha a praiapara nadar. Ele tinha uma estante cheiade livros. Eles também poderiam comerfora, mas ele poderia fazer umchurrasco. A cabana era rústica, mas elesempre comia bem quando estava ali.

Ela repousou os braços nos joelhos, o

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Ela repousou os braços nos joelhos, obrandy firme em uma das mãos. A luaformava luzes prateadas em seu cabeloe cílios até ela parecer quase celeste.Uma dor começou a incomodar seucoração. Ele tinha magoado essamulher. Gostaria de recompensá-la sepudesse. Faria de tudo para mantê-lasegura e se esquecer de Rick poralgumas horas.

– Bem? – indagou.– Eu queria tentar fazer algo que não

tivesse feito antes, como surfar ou algodo tipo.

– Parece divertido.Os lábios dela estremeceram em um

sorriso triste.

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– Sim, parece. E ainda não tivenenhum feriado real nesses três anos.

– Três anos! – Ele ficou boquiaberto.Ela estivera trabalhando em tempointegral durante todo aquele tempo. –Isso é ilegal!

Ela bufou.– O quê? Vai me prender?– Alguém precisa falar com Clarke –

resmungou. Tash merecia algo melhordo que trabalhar em um pub, sendouma escrava em um pub.

– A mãe de Clarke ficou doente etudo o mais. O tempo passou. Nadadisso foi planejado. Clarke e euchegamos a um acordo financeiro queagradou a nós dois.

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Ela quisera construir um pé-de-meia,ter uma segurança financeira. Eleentendia, mas...

– Então foi isso.Ele ergueu as mãos para o alto.– Certo. – Ambos sorveram um gole

do brandy.– Então o que mais você iria fazer nas

suas férias?– Eu queria algo diferente, fora do

comum como...Ele inclinou-se na direção dela,

intrigado por ela ter se interrompido.– Como?– Você vai achar que é estupidez...Agora ela realmente tinha a atenção

dele.

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– Fale.Ela ergueu um ombro.– Há um santuário nativo da vida

selvagem do lado de fora de Coffs. Elesresgatam selvagens machucados. Hátodos os tipos de vida selvagem ali.Você pode até alimentar os cangurus. –Ela deu uma pausa. – Eu iria passar odia ali, fazer um piquenique e umadoação. Pensei que pudesse ser...divertido.

Um sorriso iluminou o rosto dele.– Você tem um coração gentil por

trás da fachada de durona.Ela virou-se para encará-lo e ele ficou

sério.

Mitch inspirou profundamente e

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Mitch inspirou profundamente etentou não focar na tentação dos lábiosdela.

– Não acho que seja estupidez. Achoque parece ótimo. Parece um bomlugar. – Ele podia apostar que o pai delanunca a levara ao zoológico. Ao menoso pai dele...

Ele interrompeu o pensamento.Então ela olhou para ele. Realmente

o encarou e fez com que ele sentisse oestômago se apertar. O olhar delabaixou para os lábios dele e ele sentiumais do que o seu estômago se apertar.Ele poderia jurar que tinha visto umachama dourada nos olhos dela, mas achama foi abruptamente apagada. Ela

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se moveu para longe dele, ainda que jáhouvesse uma distância significativaentre eles.

Ela estava preocupada que ele fosseencurtar a distância?

Em um movimento rápido, ela secolocou de pé.

– Acredito que o brandy fez efeito.Obrigada, Mitch.

Ele gritou boa noite para ela.Ela não tivera férias em três anos? Ele

assobiou baixinho. Bradford nãopoderia ter escolhido um tempo pior setivesse tentado. Ele...

Mitch ficou tenso. Um calafriopercorreu seu corpo. Se Bradfordestivera em contato com Tash, talvez ele

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tivesse estabelecido o tempo exato quedesejava?

No escuro suas mãos se cerraram empunho. Ela não era uma mulherestúpida. Não poderia saber o tipo dehomem que Rick tinha se tornado.

Ele iria se assegurar de que ela nãodescobrisse isso. Mas ele tinha quepensar em alguma coisa, e rápido.

TASH ERGUEU os olhos de onde estiveralavando sua tigela do café da manhãpara encontrar Mitch encarando-a. Oolhar dele fez com que sua pulsação seacelerasse.

– O quê? – Agarrou um pano ecomeçou a secar a tigela vigorosamente.

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– Pensei em algo na noite passada.As mãos dela ficaram imóveis.– Sobre como trazer uma rápida

conclusão para essa situação?– Temo que isso esteja fora de minha

jurisdição.– Uma ideia? – indagou.Ele assentiu para a tigela que ela

ainda estava secando.– Terminou aí?– Ah, claro.Ela guardou a tigela na prateleira. No

momento seguinte Tash encontrou suamão enclausurada à dele enquanto elea levava para fora da cozinha.

– Surpresa! – Soltou a mão dela egesticulou para um caiaque.

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Tash ficou boquiaberta. Dirigiu oolhar para ele pelo canto de um dosolhos.

– Certo – ela conseguiu dizer.– Olha, sei que não é uma prancha

de surfe, mas achei que isso pudesse serdivertido.

Ela se virou para ele enquanto aconversa que tiveram na noite passadavoltava em sua mente. Eu queria algodiferente, fora do comum. Ela nuncatinha andado de caiaque antes. Elacaminhou ao redor da embarcação.

– Onde conseguiu isso?– Esse caiaque estava encostado na

parede dos fundos da cabana atrás dealgumas lonas.

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Isso explicava o barulho que ela haviaouvido mais cedo.

– E me assegurei de que estivessetotalmente livre de aranhas.

Ela apreciou isso.– Então… – Ele friccionou a nuca e

fitou os olhos azuis dela. – O que vocêacha?

Por algum motivo a incerteza deletocou-a. E ela tinha que dar crédito aele... Mitch realmente estava tentandotornar essa experiência o mais fácil quepudesse para ela. Tash dirigiu o olharpara o caiaque e depois para o azul domar abaixo. Uma onda de excitação adominou.

– Você vai me ensinar como guiar

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– Você vai me ensinar como guiaressa coisa?

– Esse é o plano.– E nós temos permissão para

explorar essa pequena baía?– Sim.– Então acho que parece um plano

perfeito!Ele exibiu um largo sorriso. Isso a fez

piscar. Ela se forçou a olhar de voltapara o caiaque. Ele é um homematraente, mas você não pode se iludir denovo.

Ha! Diga isso para a pulsação dela!Tash inspirou profundamente. Ela

estava cansada. Essa era uma situaçãoestranha.

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– Certo, então como vamos fazerisso? Faremos um piquenique...Podemos estocar aqui na frente dobarco. – Ele colocou uma das mãos na...proa? Como era chamado? – E depoisrumamos para a costa até sentirmos quejá tivemos o bastante, paramos paracomer e depois voltamos?

Isso parecia ótimo, mas...– Você tem permissão para fazer isso?Ele deu de ombros.– Claro.Mitch não disse mais nada e ela não

o pressionou para detalhes. Tashergueu um remo.

– Estou acostumada a carregarbandejas e drinques e levantar o

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pequeno barril para colocá-lo no lugar,mas não sei por quanto tempo vouaguentar remar.

– Isso não vai importar. Se você secansar podemos pegar mais leve. Estouacostumado com isso.

Tash o encarou com incerteza.– Tem certeza de que você não vai se

importar com a minha lentidão?– Tash, isso é supostamente um

exercício de diversão e frivolidade. Nãoé algo para se estressar.

– Ah, certo. – Tash mordiscou o lábioinferior. –Estou um pouco fora deprática com isso. – Deu uma pausa. –De qualquer forma, posso fazer algunssanduíches.

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Ele assobiou em uma falsa admiraçãoe ela estava tentada a dar um empurrãode brincadeira nele... Mas isso iriasignificar tocá-lo. Significaria pressionara mão contra aquele peito bronzeadoe...

Pare!– Então o que acha de eu preparar

um piquenique? – A voz dela soouaguda. – Enquanto você faz o que épreciso fazer com o caiaque?

– Parece ótimo para mim.Ela correu para dentro da cabana.

Tash permaneceu na cozinha pordiversos momentos antes de se lembrardo que estava prestes a fazer e depoiscomeçou a entrar em ação.

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Quando Tash terminou de prepararos sanduíches e os colocou em umaembalagem de plástico, Mitch osestocou em uma sacola a prova d’águacom garrafas de água. Ela entregou aele algumas maçãs. Ele ergueu umasobrancelha.

– Isso não é comida para férias.Ela deu de ombros.– Porém elas o satisfazem quando

você está faminto.Ele acrescentou-as à sacola e depois

alcançou um pacote de biscoitos.– Isso é comida para férias. Vamos.Mitch suspendeu a sacola em um dos

ombros e ela o seguiu até a praia, onde

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ele já havia aprontado o caiaque. Eleexibiu um sorriso para ela.

– Empolgada?– Claro – declarou, devolvendo um

sorriso.– Certo, você se senta na frente.Ele manteve o caiaque estável

enquanto ela se acomodava onde elehavia indicado. Mitch os empurrou edeslizou para trás dela em ummovimento suave. Isso fez com que elasentisse a boca se ressecar quandopercebeu o quanto ele deveria estar emforma para fazer tudo isso sem esforço.

Ela afastou o pensamento e ajustou oboné na cabeça. Era cedo… Nenhumdos dois tinha dormido tarde... E o ar

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ainda estava frio. Ela percebeu asensação do vento contra a peledesnuda dos seus braços... E o contrastede toda a força e o calor em suas costas.Tash engoliu em seco e desprezou opensamento.

– Eu, hum... O movimento é tãosuave.

– Estamos com muita sorte. Está tudomuito calmo hoje.

Havia algo na voz dele... A tensãonão estava mais no tom de voz dele... Eessa ausência o fazia soar mais jovem,mais livre. Ela queria se virar para vê-lo.

E então ela ficou grata por não poderfazer isso.

Mitch deu a ela algumas instruções e

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Mitch deu a ela algumas instruções elogo estavam trabalhando em sintoniasem precisar trocar uma palavra.Rumaram para o norte ao longo dacosta. Estavam a apenas alguns metrosfora da costa; as ondas gentis e o tempoclaro.

– Olhe. – Mitch deu um tapinha noombro dela e apontou para baixo.Abaixo deles nadava uma larga arraia.

Um suspiro escapou dos lábios dela.– Lindo – arfou, trazendo a essência

do oceano para os seus pulmões. –É tãoquieto aqui.

Os únicos sons eram o suavemovimento dos remos deles, o agitar

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das águas contra o caiaque e o som depássaros em terra firme.

– É por isso que prefiro caiaques abarcos velozes. Tenho certeza de queesqui aquático e toda a velocidadedevem ser divertidos, mas...

– Mas nada pode vencer atranquilidade disso – ela finalizou paraele.

– Essa tranquilidade não a assusta?Não quando ele estava atrás dela.

Tash meneou a cabeça.– Não?Ela percebeu que ele havia mal

interpretado a ação.– Eu... – Umedeceu os lábios. – Posso

ver por que o silêncio e a solidão podem

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intimidar algumas pessoas, mas... – Elase lembrou da alegria do silêncioquando ela e Rick tinham acampadoquando adolescentes. – Mas eu gosto. Acidade nunca é quieta. Isso é…

Ela ficou tensa.– O quê?– Relaxante – completou ela. – Isso é

relaxante. – Será que havia relaxadodurante os últimos três ou quatro anos?

Ela mordiscou o lábio inferior. Claroque tinha.

Mas não desse jeito.

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CAPÍTULO 5

TASH COLOCOU o pensamentoperturbador de lado e gesticulou comuma das mãos na frente do rosto.

– Quanto você já explorou longe dacosta?

– Eu estive quilômetros e quilômetrosem ambas as direções. Alguns dias faziauma cesta de piquenique... Parava emalgum lugar para nadar e comer.

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Algumas vezes apenas usava o caiaquepor uma hora.

Eles manobraram ao redor de umarocha. Um flash de movimento chamousua atenção. Ela se inclinou para afrente com tanta rapidez que o caiaquebalançou.

– Uma foca!Atrás dela, Mitch deu uma risadinha

e fez algo para mantê-los estável.– Ele toma banho de sol ali quase

que regularmente.Uma foca! Ela vira uma foca! Tash

sentou-se estupefata por um momentoantes de se lembrar de remarnovamente.

Eles continuaram em um ritmo lento

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Eles continuaram em um ritmo lentoaté Tash perder todo o senso do tempo.Ela viu gaivotas mergulharem paraconseguirem um peixe, pelicanossurfando na superfície da água, outraarraia e um cardume de peixesprateados. A paz do dia e o calor do sole a sensação de ser uma com a naturezapenetrou em sua alma até ela se sentirleve e aquecida.

Mitch tocou-lhe o ombro e os dedosdele pareceram se demorar ali poralgumas batidas do seu coração. Apulsação batia forte em sua garganta.

– Pode ver aquilo ali?Ela piscou e fez o seu melhor para

seguir a direção dos dedos dele em vez

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do calor que aquecia o seu ombro. Tashsombreou os olhos com a mão e seconcentrou na paisagem.

– Hum... – Ela clareou a garganta. –O que é?

– Uma caverna marinha.Tash quase se virou para olhar para

ele, mas depois se lembrou do calor nosolhos dele na noite passada que tinhacompetido com o ardor do brandy emseu estômago e resistiu à tentação.

– Uma caverna marinha? Você jáesteve lá?

– Aham. – Ele moveu o caiaque nadireção da caverna. – Você quer ver?

Ela fitou a abertura que emergia narocha… na escuridão.

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– Eu, hum… Presumo que sejaseguro?

– É seguro quando a maré está baixa,o que acontece agora.

Era? Ela percorreu o olhar ao redor,sentindo-se como uma marinheira deprimeira viagem.

– Você é claustrofóbica?Ela meneou a cabeça.– Podemos levar o caiaque para

dentro da caverna?Um tremor... parte medo, parte

excitação como se ela estivesse prestes aembarcar em uma montanha russa... aabalou.

– Sim, por favor.

Tash repousou o remo através dos

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Tash repousou o remo através dosseus joelhos e Mitch lançou o caiaquena direção da estreita abertura. O túneltinha cerca de cinco ou seis metrosantes de se abrir para uma rocha comgrandes fendas de luz. Cristais de salrevestindo o interior cintilavam com umbrilho prateado ao redor deles,transformando a caverna em umareluzente terra de fadas.

Tash ficou boquiaberta.– Eu nunca vi algo assim em toda a

minha vida – sussurrou e virou-se paraencará-lo. – Posso pegar uma conchacomo uma lembrança?

A meia luz suavizou o rosto dele,tornando-o parecido com um anjo.

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Quanto mais ela o encarava mais eleentrava em foco. E então ele sorriu. Elapiscou e forçou-se a desviar os olhospara frente. Seu coração batiaacelerado.

– Eu, hum... – Droga! Funcionecérebro! Funcione boca! – Isso se vocênão se importar.

Ele não disse nada, apenas os moveupara a pequena praia e ela se perguntouse ele havia notado a sua reação... Suafascinação momentânea com ele.

Fascinação, hum? É assim que vocêchama isso?

Ela fechou os olhos com força.Sua respiração se tornou mais

instável. Ela tentou dizer a si mesma

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que isso era resultado do esforço deremar, mas não era. Mitch tinha umsorriso que conseguia desequilibrarqualquer mulher. Uma chama de calorsurgiu em seu abdômen. Ela engoliu emseco e uniu as coxas. Mitch tinha umtipo de rosto que poderia fazer umamulher esquecer os votos que haviafeito para si mesma... Votos de nuncamais se apaixonar por ele novamente.

Ele apenas estava tentando lhe darumas férias.

Ele quer Rick atrás das grades.Novamente.

Mas isso não tinha muito a ver comela. Ele não perguntou nada sobre Ricka ela nesse dia, não tinha tentado

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descobrir se ela sabia do paradeiro deRick ou como a polícia poderiaencontrá-lo.

Eles chegaram à praia. Mitch desceudo barco e ofereceu uma das mãos paraela.

– Continue com suas sandálias. Asconchas são afiadas.

Tash aceitou a mão que ele haviaestendido e ele a ajudou a sair docaiaque. Ela sentiu o coração subir àboca pela proximidade dele.

– Obrigada. – A voz dela soou fraca.Ele soltou-lhe a mão e ela teve que se

esforçar para se manter em pé. Tashpercorreu o olhar ao redor, forçou-se a

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fingir interesse em seus arredores emvez do homem que estava do seu lado.

– Seria possível se esconder domundo nessa caverna.

Ela teve uma visão súbita de umamanta grossa sendo colocada na areiaalém das conchas, uma garrafa dechampanhe, morangos... e um homemnu.

A visão dela e Mitch fazendo amor adominou. O calor surgiu entre suaspernas e seus lábios se partiram. Eladirigiu um olhar para ele... apreciandoos ombros largos, o peito poderoso e osbíceps fortes.

Tocar nele seria o paraíso.

Ela ergueu os olhos para encontrá-lo

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Ela ergueu os olhos para encontrá-loencarando-a.

Mitch recuou um passo, seu rostosubitamente enrijecido.

– Escolha sua concha, Tash.O alerta na voz dele atingiu-a como

um balde de água fria. Ela se agachoupara apanhar uma concha. Esse... essedesejo era apenas um reflexo do que elahavia sentido oito anos antes quandoera uma adolescente.

Exceto...Ela nunca o quis com esse tipo de

calor carnal antes.E havia mais motivos do que ela

poderia contar por que ela deveriaresistir a essa atração agora.

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Sua mão se fechou ao redor de umaconcha... Cinza por fora e rosa pordentro. Ela se colocou em pé.

– Obrigada.Obrigada pela aventura.Sem outra palavra, voltaram para o

caiaque e começaram a remar.

ELES EMERGIRAM de volta na luz do sol eMitch teve que lutar contra a vontadede praguejar. Com o coração batendoforte e com um esforço sobre-humanoele puxou o ar para dentro dospulmões.

Ele sentia o corpo doer com o desejode voltar para a costa, espalhar a mantasobre a areia e se deitar com Tash e...

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Muito profissional!– Acho que é hora de voltarmos para

a cabana.As palavras dele soaram frias. Não

que ele tivera essa intenção. As costasde Tash ficaram rígidas e ele fez umacareta e praguejou baixinho. Por queele não podia encontrar um átomo demoderação perto dessa mulher?

Ela jogou a cabeça para trás.– Eu me sinto como se pudesse andar

de caiaque o dia inteiro.– Acredite-me, suas costas e ombros

já estarão doídos o bastante amanhã.Uma hora depois, quando voltaram

para o caminho que levava a cabana, eletinha formulado um plano. Primeiro,

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no entanto, ele tinha que levá-los devolta a salvo para a praia.

Mitch puxou o caiaque para a praia.Tash saiu da embarcação antes que elepudesse oferecer a mão para ajudá-la.Ele apanhou a toalha dela e esticou-ana areia. Mitch colocou a sacola térmicacom o almoço deles ao lado.

– Você queria sol e ondas. – Inclinoua cabeça. – Isso tudo a espera.

Ela mordiscou o lábio inferior edirigiu o olhar para o caiaque.

– Você não precisa de nenhumaajuda com... alguma coisa?

– Não.Ele a queria ali, apreciando o tempo e

o clima de férias. Ele precisava subir à

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cabana e ficar longe dela o mais rápidopossível. Ele precisava de uma chancepara pensar com clareza novamente.

Tash apanhou os óculos escuros dobolso do short e os colocou. Depois,baixou a aba do boné sobre o rosto. Elasentou-se na toalha sem dar maisnenhuma palavra.

Ela olhou para Mitch.–Sem dúvida você tem telefonemas

para fazer. – Inesperadamente elaacabou com o clima de férias. Suaeducação fria, de qualquer forma, nãoapagou o fogo que ainda chamejava nointerior dele.

Mitch apanhou a sacola com oscelulares e elevou-a até o ombro. Ele

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elevou o caiaque para o outro ombro erumou para a cabana.

No minuto em que entrou nointerior da cabana ele se serviu de umcopo de água gelada. Depois, deixou-secair pesadamente no sofá, com a cabeçaentre as mãos.

– Droga! – Seu trabalho era protegê-la, mantê-la a salvo. Estava vulnerávelagora e seduzi-la seria imperdoável.

Pode não haver muita seduçãoenvolvida.

A expressão do rosto dela na cavernasurgiu em sua mente e ele gemeu. Elepoderia não tirar vantagem davulnerabilidade dela. Isso seria...Divino? Incrível? O melhor?

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Seria desprezível.Mitch se ergueu e sorveu mais alguns

goles da água gelada. Ele não iriadormir com sua relutante hóspede, eele iria tornar o tempo dela o maisprazeroso possível. Isso não iria apagaro passado, não iria mudar o fato de eletê-la machucado, mas poderia suavizarisso um pouco.

Seus lábios estremeceram. Quem eleestava tentando ajudar a se sentirmelhor... Tash ou a si mesmo?

Talvez ambos.Ele colocou o pensamento de lado e

se sentou à mesa. Precisava inventar umplano prático para que conseguissempassar o restante do dia e o dia

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seguinte, e se ele precisasse, o diadepois do seguinte. O detetiveGlastonbury iria informá-lo assim queBradford fosse levado sob custódia, masaté lá iriam permanecer ali. Juntos.

Ele passou uma das mãos pelo rosto.Viva um dia após o outro. Tudo o queele tinha que descobrir no momento eracomo iriam passar o restante desta tardee desta noite seguros. Mitch pensoumuito. A tensão em seus ombrosdiminuiu e sua respiração se tornoumais regular. Ele poderia fazer isso. Elepoderia.

MITCH ERGUEU os olhos de onde estavano sofá folheando uma revista de

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informática quando Tash emergiu doquarto. Ela voltara da praia no meio datarde, tomara um banho e depois ficouno quarto por... Ele olhou para orelógio. Eram cinco horas. Ela haviadormido por duas horas.

– Tirei um cochilo.Ele fechou a revista.– Férias são difíceis. – Os lábios dela

estremeceram, mas era mais uma caretado que um sorriso. Ele se apressouantes que ela pudesse lembrá-lo de queisso não eram férias. – Você nãodormiu muito a noite e é incrível comoo mergulho e o remo podem cansá-la.

– Foi um cansaço prazeroso –admitiu ela. – Mas agora preciso de um

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café. Quer um?– Não, obrigado.Ela fez um café instantâneo. Ele

revirou os olhos nas órbitas.– Há uma cafeteria na cozinha, Tash.Ela deu de ombros.– Demora muito. Estou feliz com um

instantâneo.– Algumas coisas valem a pena

esperar – ficou pensativo. – Você disseque queria fazer coisas novas em suasférias, certo? Aprender coisas novas?

Os olhos dela se estreitaram.Finalmente ela sorveu um gole do café.

– Aham.– Esta tarde vou ensiná-la a cozinhar.Tash o encarou e baixou a caneca.

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– Mitch, queria aprender coisasnovas e divertidas.

– Vou ensiná-la a fazer um bolo.Ela comprimiu os lábios e repousou a

caneca na mesa.– De que tipo?Ele deixou um suspiro escapar.– Chocolate.– Não vai levar mais de uma tarde

para aprender a fazer isso?– Você vai ficar encantada ao ver o

quanto é fácil.– Se esse é o caso, então... Então

podemos fazer cobertura também?– Cobertura de chocolate está bom

para você?

Finalmente um sorriso curvou os

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Finalmente um sorriso curvou oslábios dela.

– Não estou convencida de que opreparo seja divertido, mas apreciar obolo será. – Ela girou os olhos nasórbitas. – Não que meus quadrisprecisem disso.

Não havia nada de errado com ocorpo dela, era de fato espetacular. Masela congelou como se tivesse percebidoque acabara de convidá-lo a observá-la.Ambos desviaram o olhar ao mesmotempo.

– Sente-se e termine seu café –murmurou. – Vou apanhar osequipamentos e os ingredientes para obolo.

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Mitch ensinou Tash como fazer umbolo. Ele deu as instruções e ela asseguiu ao pé da letra... Medindo emisturando.

Eles deram risada. Não muito, masriram ao mesmo tempo e ele não podiase lembrar da última vez que se sentiratão bem.

Até onde ele se lembrasse de manterseus pensamentos focados na tarefa emvez da forma com que o cabelo dela lhecaía sobre os ombros e...

Mitch se interrompeu.– Mexa a massa.Tash fez como ele falou. Parou um

minuto depois, com a respiraçãoofegante.

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Ela iria respirar daquela maneiraquando fizessem amor?

– Isso é mais difícil do que remar.Mitch deu risada.– Preparar um bolo como uma forma

de exercício? Eu não tinha pensadonisso antes.

– Você poderia fazer um DVDcombinando um exercício com aculinária. Poderia usar suas credenciaisde polícia… Policial Master Chef.

Ambos deram risada.Ela era uma mulher diferente do dia

anterior. No dia anterior ela haviairradiado raiva e ressentimento em umaatitude nada amigável. Mas esta tarde...Ele engoliu em seco. Ela não era apenas

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atraente. Era a mulher mais atraenteque ele já tinha conhecido.

Sua boca ficou seca.Cada átomo do seu corpo se

incendiava com o desejo de fazer amorcom ela. Seu coração batia contra o seupeito. Ser profissional era pedir muito.

Ele inspirou profundamente. Eletinha que manter o juízo. Ontem ela oodiava. Ela poderia estar armando umacilada apenas para rejeitá-lo.

Vingança.Mitch não queria acreditar nisso. Isso

não se ajustava com o que ele haviaconhecido dela oito anos antes.Contudo, oito anos era muito tempo, eas pessoas mudam.

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Ele se arrependia de tê-la magoadocom cada fibra do seu corpo, mas ela oestava magoando por não dar nenhumcrédito a eles. E se ela sabia disso ounão, isso não iria fazê-la se sentirmelhor.

– Quanto tempo devemos assar obolo?

Ele voltou à realidade e descobriuque ela havia colocado a mistura emuma travessa de bolo. Mantenha o foco.

– Quarenta minutos.Tash colocou a travessa no formo e

depois lançou um olhar para o relógio econtou quarenta minutos.

– Como você sabia como fazer umbolo sem precisar seguir uma receita?

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– Minha avó gostava de assar bolos.– E quanto à sua mãe? Ela gostava de

assar ou era como eu?– O que quer dizer... Como você?

Está me dizendo que não apreciou isso?Ela fitou-o de volta. Tash repousou

as mãos nos quadris e ele esperou queela o desafiasse, que se aprofundasseem áreas que ele não queria ir. Se elaestava se vingando ou não, ele podiaver que ela lutava para manterdistância.

– Acho que a questão que mais apressiona, Tash, é como você nuncaaprendeu a cozinhar?

– Não há mistério nisso. Minha mãesaiu de casa quando eu estava com 8

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anos. Meu pai não cozinhava. Entãonão tive ninguém para me ensinar –declarou isso sem autopiedade. –Aprendi a esquentar comida congeladae fazer torradas. Isso me pareceusuficiente na época.

Mitch assentiu com a cabeça e depoisa guiou pelos ombros até uma cadeira àmesa.

– Você fez o bolo, então lavo a louça.Ela o encarou como se fosse

argumentar. No final apenas deu deombros.

– Você a viu novamente? Sua mãe –esclareceu ele. – Tentou encontrá-laalguma vez?

– Não. Ela me deixou com um

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– Não. Ela me deixou com umhomem que era muito briguento. Eunão a culpo por ter ido embora, mas aculpo por me deixar naquela situação.Não estou interessada em conheceruma pessoa assim.

As palavras dela fizeram com que elesentisse um calafrio.

– Você não vê mais seu pai?– Não.Ela não prolongou o assunto. Eram

perguntas que ele não tinha o direito defazer... Principalmente se não tinhaintenção de responder as questões delaem retorno. Droga! Por que ele não seaprofundou mais na investigação oito

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anos antes para descobrir o querealmente havia acontecido?

Quando Mitch lançou um olhar paraela havia um brilho divertido nos olhosdela.

– Vou contar sobre o meu pai e eu sevocê me contar o que aconteceu com osseus. Eles a abandonaram com seusavós?

A bile encheu a boca dele.– Morreram quando eu tinha dez

anos.Tash ficou boquiaberta.– Oh, Mitch, isso foi realmente

deselegante da minha parte. Eu sintomuito.

Ele assentiu com a cabeça.

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– E sinto muito por sua perdatambém, é claro.

O rosto dela irradiou sinceridade. Eleassentiu com a cabeça novamente.

– Obrigado.O silêncio se prolongou. Tash limpou

a garganta.– Eu, hum... enfrentei meu pai.Ele se virou da pia.– Você o quê?– Eu estava com 18 anos e ele se

aproximou de mim e o enfrentei.Ele a encarou. O pai dela tinha sido

um homem grande.– Não fiz isso com raiva. Só queria

impedi-lo. – Ela ficou pensativa. – Faziajudô desde os 15 anos.

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– É mesmo?– Rick me aconselhou.Mitch engoliu a saliva. De várias

maneiras Rick tinha sido um melhoramigo para ela do que ele havia sido.

– Isso me ajudou a evitar o pior daviolência do meu pai, para me esquivardos golpes dele, mas sempre tinhamedo de revidar. Um dia, porém,estava cansada de ser assustada o tempotodo.

– Meu Deus, Tash!– Não quebrei as costelas dele. Não

quebrei o nariz ou o braço dele.Todas essas coisas tinham acontecido

com ela?

– Mas o mandei para o chão e o

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– Mas o mandei para o chão e odesarmei completamente. E depoisdisse a ele que iria quebrar cada umadaquelas coisas se ele tentasse me baternovamente.

– O que aconteceu?– Saí de casa e não nos falamos mais

desde então.E então ele viu. Ela se recusava a se

permitir a ser vulnerável com pessoasque a magoavam, e quem iria culpá-la?Deveriam cuidar dela. Em vez disso,eles a haviam traído.

Assim como ele tinha feito.

TASH PULOU quando Mitch uniu asmãos.

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– Chega disso! Férias. Lembra-se?– Está bem. Vamos.Ele gesticulou para que ela se

erguesse da cadeira.Mitch a guiou para o lado de fora da

cabana e ela parou de caminharabruptamente quando viu uma mesa deacampamento e cadeiras montadassobre a grama. A cadeira estava defrente para o mar. Com as mãos nosombros dela, ele a levou até a cadeira.

– Não se mova.Mitch desapareceu, apenas para

retornar alguns minutos depois. Elerepousou uma garrafa de cerveja namesa na frente dela, uma tigela de

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frutas secas e um livro de romancefavorito dela.

– Divirta-se.Ela fitou tudo aquilo boquiaberta.– Relaxa, Tash. Aproveite a vista.– E quanto a você? – No minuto em

que as palavras saíram não tinha maisvolta. Ele deixou claro que orelacionamento deles era estritamenteprofissional, mesmo que o flagrasseencarando-a com desejo no olharalgumas vezes. Tash se remexeu nacadeira. – Você ganhou uma chance dedescansar também.

– Estou bem.Agora isso era uma meia verdade.

Pare! Ela apanhou o copo e sorveu um

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gole da cerveja.– O que você acha?Tash sorveu outro gole da bebida.– Está tudo maravilhoso.Ele exibiu um largo sorriso.– Aprecie tudo enquanto cuido do

jantar.Ela piscou.– Obrigada. – Mas duvidava que ele

tivesse ouvido.Ninguém jamais a havia mimado

dessa maneira antes. Ela fitou apaisagem à sua frente.

Por que ele estava sendo tão bomcom ela? Principalmente quando elaestivera tão furiosa com ele no diaanterior?

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Porque ele é um homem bom.Tash forçou o seu olhar adiante para

a vista daquele oceano glorioso. Elaapanhou algumas frutas secas. Ele searrependia de tê-la magoado oito anosantes. Ela não queria reconhecer isso...Seu ressentimento tinha lhe fornecidoum escudo conveniente... Mas essa eraa verdade. Tash não duvidava maisdisso. Contudo, isso não significava queela precisava perdoá-lo.

Ela apanhou o livro e fulminou acontracapa. Certo, ela poderia perdoá-lo, mas não precisava confiar nele.

Tash deu de ombros. Ela não odiavamais Mitch. Era bom saber disso.

Ela sorveu outro gole da bebida e

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Ela sorveu outro gole da bebida edepois repousou o copocuidadosamente na mesa. Nada dissomudava o fato de Mitch acreditar queRick fosse o culpado de crimes terríveisou que ele fosse usá-la para prendê-lose pudesse.

Sim, bem, ele poderia fazer isso sem aajuda dela. Ela não iria arriscar seucoração uma segunda vez. Nem iriaarriscar a liberdade de Rick novamente.Ela sabia o que Rick tinha feito ou nãotinha feito. Mesmo que não tivesse aliberdade de falar sobre isso. Umapromessa era uma promessa.

– Bon appétit!Mitch apareceu na varanda.

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– Sinto muito se não posso pedir umapizza aqui, mas pensei quehambúrgueres caseiros pudessem serum bom substituto.

Por um momento insano ela teve quelutar contra as lágrimas.

– Tash?Ela não sabia o que dizer.

Certamente ela poderia confiar nelecom a verdade. Eles poderiam manterisso de forma extraoficial, nãopoderiam?

– Você não gosta de hambúrgueres?– Eu amo hambúrgueres. – A voz

dela soou fraca.Mitch se agachou ao lado dela.

– Juro que vou mantê-la segura.

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– Juro que vou mantê-la segura.Você não precisa se preocupar.

Ela meneou a cabeça. Não poderiadizer nada a ele. Mitch e seu trabalhonão poderiam ser separados.

Além do mais, ele estava falandosério sobre a segurança dela. Mas quemiria manter o coração dela salvo dele?

– Sei que você vai, Mitch. – Tashforçou um sorriso. – Isso parece ótimo.– Sem outra palavra, ela apanhou osanduíche de hambúrguer e começou acomer.

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CAPÍTULO 6

NO DIA seguinte, Mitch levou Tashpara pescar... Outra experiência nova.Eles se sentaram nas rochas no final dabaía e seguraram suas varas na água porduas horas.

O vento mal se mexia e o sol aqueciasua pele com uma costumeirabenevolência que ela começou asaborear. Ocasionalmente umaondulação na água batia contra as

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rochas abaixo deles de uma maneiraque fazia com que algumas gotas d’águaos atingisse. Ela inspirou o aroma fortee salgado do mar e o delicioso cheiro deeucalipto.

Tash e Mitch mal se falaram. Elaoperou sob a premissa de que conversariria assustar os peixes. Em vez de issotê-la perturbado, ela relaxou em meioao silêncio. E quanto mais ela relaxava,mais ar parecia entrar em seus pulmões.

Tash pescou dois peixes. Mitch osidentificou, mas um deles era tãopequeno que o devolveram para a água.Mitch pescou três peixes... Três tainhas.Ele se virou para ela com um largosorriso.

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– Adivinhe o que vamos ter para oalmoço?

Ela fitou o peixe, e depois suagarganta se ressecou. Ela teve queengolir antes de poder falar.

– Peixe e batata frita?– Sim.O favorito dela.– Por que você está sendo tão bom

comigo?Ele a encarou e ela não pôde ler nada

na expressão do rosto dele.– Quero dizer, você poderia

simplesmente ter me deixado sóenquanto apenas me observasse. Masnão foi isso o que você fez. Você tentoudesviar a minha mente do fato de

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alguém estar querendo me machucar.Você tentou me dar as férias que perdi.Você não precisava fazer nada disso.

Ele olhou para o outro lado.– Estou apreciando isso também.– Eu sei, mas não foi isso o que

perguntei.Ele voltou a encará-la, enquanto ela

reconhecia a turbulência nos olhos dele.Ela não poderia deixar de tocar noassunto. Queria saber o porquê.

E por que você quer saber isso?Sem aviso, o sangue dela começou a

pulsar em seus ouvidos. Mitch levantouum ombro.

– No sábado foi porque me senti malpor você estar nessa situação.

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Pena. Ela tentou manter o rostoilegível.

– E você pode acrescentar culpa a issoquando descobri sobre o seu pai... Sobrecomo tinha lido a situação de forma tãoerrada.

Ela suprimiu um suspiro.O brilho dos olhos dele se

intensificou.– Gosto de você, Tash.O coração dela parecia que a saltar

do peito.– Gostei de você há oito anos. Eu

queria...Ele se interrompeu e fitou o mar.– Você me usou há oito anos.– Sim, eu a usei. E sinto muito.

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Ela ergueu um ombro, depois odeixou cair.

– Acredito em você. Não estouprocurando por outra desculpa, masque garantia tenho de que não estejame usando novamente agora?

Ele se inclinou para mais perto dela.Tash arfou ao ver o pulso firme e oombro dourado dele.

– Você sabe o quanto sua pergunta éreveladora, Tash?

Ela franziu o cenho. Continuerespirando. Não se esqueça de respirar.

– É como se você quisesse confiar emmim, mas está com medo que eu tirevantagem de você novamente.

Ela queria confiar nele. Isso podia

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Ela queria confiar nele. Isso podiafazer dela uma idiota, mas...

Ele se inclinou ainda para mais pertopara e ela pôde sentir o calor do sol napele dele. Mitch retirou os óculos de sole uma onda de desejo a invadiu ao fitaros olhos dele que eram muito azuis paraconter mentiras. O desejo de trazer oslábios dele para perto dos dela ainvadiu até que ela mal pudesse pensar.Ela ansiava por beijá-lo. Ansiava portocá-lo, sentir o gosto dele, ir além dealguns beijos que haviamcompartilhado havia oito anos.

Quando ele estendeu a mão pararetirar os óculos escuros dela, ela voltou

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a realidade. Gentilmente ela meneou acabeça e o afastou.

Um suspiro escapou dos lábios dele,mas ele se afastou dela e voltou para oseu pedaço de rocha.

– Não sei como responder a suapergunta, Tash. Ao menos, não daforma que iria convencê-la de que nãoestou tentando usá-la para ganharinformações sobre Rick.

Ambos ficaram em silêncio.– Não sou parte do time que o

investiga atualmente. Meu chefe sabeque tinha essa cabana e sabia que todosnós tínhamos uma história. Suspeitoque ele me queira fora do caminho.

Interessante.

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– Mas, exceto as questõespreliminares que lhe fiz sobre Rick nasegunda-feira, não o mencioneinovamente. Talvez isso fale mais altoem meu favor do que qualquer outragarantia que possa lhe dar.

Ela umedeceu os lábios.– Mas você também está me dando

essas garantias?Ele sustentou os olhos dela.– Sim.– Há uma coisa que você precisa

saber sobre Rick. – O sangue delepulsava em seus ouvidos. – Ele não eratraficante de drogas há oito anos. Eletomou a culpa por outra pessoa. E,antes que pergunte, não tenho a

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liberdade de lhe dizer quem é essaoutra pessoa.

Os olhos dele se estreitaram,instantaneamente alerta.

– Está sendo ameaçada ouchantageada por essa pessoa?

– Não, mas fiz uma promessa.– Você acha que isso tem uma

influência no caso atual?Ela meneou a cabeça.– Apenas acho que é algo que você

deva saber, é só isso.O brilho dos olhos dele se

intensificou.– Por quê? Principalmente se você

não me disser a verdade para que areparação possa ser feita para Rick.

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– Por quê? – Ela gesticulou com umadas mãos no ar. – Porque, Mitch, vocêcontinua se enganado sobre Rick e é domeu interesse que você o julguecorretamente.

– OH, MEU Deus! – Tash exclamou deprazer. – Esse é o melhor peixe combatata frita que já comi na minha vidainteira!

Isso fez com que Mitch desse umsorriso, mas ela esperava por mais.Desde a conversa deles sobre Rick, eleestivera quieto. Muito quieto.

Ele provavelmente estava repensandoem tudo e tentando determinar se elapoderia estar dizendo a verdade a ele.

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E, se esse fosse o caso, quem na terrapoderia ser o responsável ao invés deRick?

Mitch era um bom policial, mas ela eRick tinham protegido Cheryl muitobem. Ela duvidava que a suspeita delepudesse chegar até ali.

– Mitch?Ele mal ergueu os olhos.Ela gesticulou com uma das mãos na

frente do rosto dele.– Você pode parar de trabalhar e

apreciar o dia?– Mas...– Acredite, é para o melhor.Cheryl tinha conseguido vencer na

vida. Ela sempre fora esperta e

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trabalhara duro. Isso não seriatotalmente perdido agora por causa deum estúpido erro de adolescente.

– Quem é você para decidir isso?Ele fulminou-a com os olhos. Ela

piscou, depois engoliu a saliva.– Então... então você acredita em

mim?– Eu não sei.Eles se sentaram do lado de fora na

mesa de acampamento e a conversapareceu estar em desacordo com abeleza da paisagem.

– Eu não deveria ter mencionadoisso. – Ela deveria ter mantido a bocabem fechada.

– Você deveria ter mencionado isso

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– Você deveria ter mencionado issohá oito anos. – As palavras deleemergiram baixas e selvagens.

– Por que você se importa? Vocêencerrou o caso! Conseguiu a fama e asatisfação de ser considerado o oficialmais brilhante da polícia. Vocêconseguiu tudo o que queria.

Ele se colocou em pé.– Eu acredito na lei e na justiça! – A

cadeira dele caiu no chão. – Queria apessoa certa acusada dos crimes que eraresponsável! Não estou atrás desoluções rápidas. Estou atrás daverdade. Que direito você ou Rick ouqualquer um dos outros tinham decorromper o curso da justiça?

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A raiva dele estimulou a dela e ela secolocou em pé também.

– Que direito? Que direito? Verdadee justiça eram mitos de onde fui criada.Onde estava esse ideal quando meu paiestava me esbofeteando? Onde estavaesse ideal quando a mãe de Rick estavavendendo seu corpo na rua?

– Você nunca me contou sobre essasituação! Nunca contou a ninguém.

Mas a prova estaria ali se ele ouqualquer uma das autoridades tivesseinvestigado mais a fundo.

– Quanto à mãe de Rick, é por issoque o serviço social o colocou com aavó.

– Ah, pelos Céus, Mitch! A avó dele

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– Ah, pelos Céus, Mitch! A avó deleera prostituta também.

Ele ficou boquiaberto.– Nós não tínhamos fé em um

sistema que não nos fazia nenhumfavor.

A raiva surgiu no interior dele.– Você alguma vez confiou em mim,

Tash?– Confiei em você, mas não no que

você representava.– E se for a mesma coisa?Ela se endireitou na cadeira e sentou-

se pesadamente.– É disso que tenho medo.Mitch sentou-se também.

– Não espero que entenda nossos

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– Não espero que entenda nossosmotivos no passado. A menos que vocêtenha crescido daquela maneira... – Elase interrompeu. Estava feliz por Mitchnão ter crescido da forma que elacresceu. Ela desejou que acreditasse naverdade e justiça da forma que eleacreditava.

– Você acha que a minha vida foi ummar de rosas?

Ele deu uma risada que ela nãoentendeu.

Ela ergueu o queixo.– Não tenho ideia. Como poderia?

Você nunca me falou sobre a suainfância. Então pode perder esse tom devoz e essa atitude.

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Incrivelmente, ele quase sorriu e elasentiu uma onda de desejo invadi-la.Tash fez o seu melhor para resistir aisso.

– Eu me mudei para os subúrbios dooeste de Sydney com meus avós quandoestava com 12 anos.

Ela segurou a respiração para ver seele iria continuar.

– E você está certa, não experimenteia pobreza ou a pobre educação ou faltade benefícios de saúde ou qualqueroutra coisa que era predominante naárea e que torna a vida tão difícil.

Ela não tinha conhecido Mitch atéele retornar do treinamento de polícia,quando todas as garotas em seu ano de

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escola tinham declarado que ele era ohomem mais sexy que elas já tinhamvisto.

– Onde você morou antes disso?– Em uma pequena cidade rural no

norte de New South Wales. King é onome do meio da minha mãe. Meusavós mudaram meu nome quando fuimorar com eles.

Ela sentou-se de volta, um calafriotomando conta do seu corpo.

– Por quê?– Para proteger minha privacidade.

Para me dar uma chance de começar denovo.

Ela o encarou.– Para começar de novo o quê?

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O rosto dele congelou.– Quando estava com 12 anos, meu

pai assassinou minha mãe.As palavras eram sobrecarregadas e

levou um momento para que o sentidodelas entrasse na mente de Tash.Quando fizeram sentido ela oscilou eabraçou a mesa para impedir que caísseda cadeira. A mesa inclinouperigosamente e por um momento tudoo que estava na mesa ameaçou cair noseu colo.

O quê?O quê!Tash colocou a outra mão na mesa

para estabilizá-la, para se firmar, paracontar as dolorosas batidas do seu

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coração. Ela queria que ele repetisse oque acabara de dizer. Ele realmentetinha dito...? Não havia palavras paraacabar com o horror dessa revelação e oque ele tinha sido obrigado a viver.

Eu estava faminto para salvar omundo.

Ele deu de ombros. Mitch nãoquisera salvar o mundo. Ele haviadesejado salvar sua mãe. Doze anos!Suas mãos se apertaram. Ela engoliu aslágrimas.

– Mitch, sinto muito. Isso é... é… Eusinto muito.

Como alguém conseguia superar umacoisa dessas? O rancor que ela haviasustentado contra ele pelos últimos oito

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anos subitamente pareceu pequeno etrivial.

Ela ajustou o boné e tentou acalmaras batidas do coração.

– Acho que é incrível... Tudo o quevocê conquistou... Depois desse tipo detrauma. – Era o tipo de coisa quepoderia arruinar a vida de alguém parasempre. – Você o odeia? Seu pai?

– Eu o odiei por muito tempo, masnão mais. – Ele ergueu o queixo e oolhar dele era quase um roçar físicocontra a pele dela, como a suave brisaque dançava entre eles. Ela inspirou aessência de sal e grama banhada pelosol. Ouviu ao ritmo das ondas na praia.

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Muito lentamente isso acalmou asbatidas do seu coração.

Eles se entreolharam pelo o quepareceu ser um longo tempo.

– Sinto-me como se finalmente oentendesse – disse.

– Isso é uma coisa boa?Não era necessariamente confortável,

mas...– Acho que sim. Posso ver agora por

que ser policial é tão importante paravocê, porque é uma vocação e nãoapenas um emprego. – Ele queriaproteger pessoas como a mãe dele. –Posso ver que a verdade e a justiça sãoconceitos que você quer acreditar edefender. – E, fitando-o diretamente

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nos olhos, disse: – Eu lhe devo umadesculpa.

– Não quero sua piedade, Tash. Nãoé por isso que lhe contei a minhahistória.

– Piedade não é minha emoçãoprincipal no momento. – Tash seremexeu na cadeira. – Vergonha sim. –Ela ergueu uma das mãos para o altopara impedi-lo quando ele se inclinouem sua direção. – Sei que não é o quevocê pretendia. Sua história me ajudoua colocar o que aconteceu entre nós emperspectiva. É óbvio que me agarrei aomeu rancor e mágoa por muito tempo.Pensei que você fosse alguém semcoração e hipócrita que faria qualquer

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coisa para uma promoção. Foi mais fácilculpá-lo... do que me enxergar.

– Eu a enganei – falou serenamente.– Ganhei sua confiança, deixei vocêpensar que estava interessado em você.

– Sim, mas você tinha motivos maispuros do que jamais atribuí a vocêantes. Você não era um traidor desangue frio em busca de sua própriaglória. Você era como eu... Tentandofazer o seu melhor com os recursos quetinha disponíveis.

Ele ficou em silêncio por ummomento.

– Está tentando me dizer que vocême perdoou?

Ela sorriu.

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– Estou tentando dizer que, se vocêestiver de acordo, gostaria que fôssemosamigos.

Mesmo? Ela havia acabado deoferecer a Mitch sua amizade? Tashesperou pelo pânico ou oarrependimento tomar conta do seu ser,banhá-la em um suor frio, esperou poruma retratação se formar em seuslábios. Mas nada aconteceu.

Em vez disso, aqueles olhos azuis aencararam firmemente.

– Você tem certeza?Ela umedeceu os lábios e assentiu

com a cabeça.– Sim.

O olhar de Mitch se fixou nos lábios

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O olhar de Mitch se fixou nos lábiosdela e seus olhos escureceram. Umcalor a invadiu, e isso a deixou empânico.

– Amizade é tudo o que estouoferecendo, Mitch.

Ele desviou os olhos dos lábios dela.– É claro.Ela deu de ombros.– Quero dizer…– O quê? – Apressou-se em

perguntar.– Você pode não querer isso. – Ele

poderia ter amigos suficientes.– Eu quero.A forma com que ele disse isso a fez

engolir em seco.

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– Pode não dar certo.Mitch cruzou os braços.– Por que não?Ela não podia pensar num único

motivo. Tash o fulminou com o olhar.– Está bem. Somos amigos então.Ele exibiu um largo sorriso e ela

sentiu o sangue ferver nas veias.

UM TEMPO depois, Mitch deixou-asozinha na praia para que ela nadasse edepois lesse um livro. Por fim a chamoupara entrar na cabana.

– O que foi? – Ela observou ossanduíches cortados em pequenostriângulos e arranjados em pratos, oqueijo, as bolachas e duas generosas

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fatias do bolo que tinham assado no diaanterior.

– Nenhum de nós dois terminou oalmoço e quero que você se mantenhaforte para o entretenimento desta noite.Aprecie o lanche, Tash. Você deve estarfaminta.

Ela alcançou um sanduíche e odevorou.

– Eu, hum... Este é o melhor boloque já assei, sabia?

– Isso nunca esteve emquestionamento.

– O que vamos fazer nesta noite? Oque é esse entretenimento que você estáfalando?

– Espero que você tome um banho

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– Espero que você tome um banhoprimeiro, mas tudo será revelado antesdo que você imagina.

– Certo. Então isso não envolvenatação ou esportes na água?

– Não. Haverá um pouco decaminhada, mas não muita. Vocêpoderá querer cobrir suas pernas e usartênis.

– Está bem.Tash terminou de apreciar o bolo e

rumou para o toalete a fim de tomarum banho.

Quando ela finalmente se uniu aMitch novamente na área de estarprincipal, com a pele e o cabelo livresdo sal, ela usava calças e camiseta. O

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único tênis que possuía com ela eramsuas botas de trabalho, então ela ascolocou. Elas provavelmente pareciamincompatíveis com o restante do traje,mas o calor nos olhos de Mitch ainformaram de que ela estava muitobem.

Melhor do que bem, na verdade.Tash engoliu a saliva e tentou não

insistir nisso.Ah, querido Deus, ela precisava de

um banho frio.Você acabou de tomar um!Mitch usava short, uma camisa polo

cor de areia que tornava o azul dosolhos dele mais vívido e tênis. Ocoração dela batia forte contra o peito.

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A boca estava seca. Não havia sentidoem negar isso. Uma grande parte deladesejava que os entretenimentos destanoite envolvesse ficar na sala, acenderalgumas velas e…

– Pronta para mais uma aventura?Ela endireitou as costas e assentiu

com a cabeça.– Claro que estou.Mitch guiou-a para o lado de fora da

cabana; a mochila em seu ombro. Elatentou não deixar seu olhar se demorarnaqueles ombros poderosos.

– Então o que estamos fazendo? Paraonde vamos?

– Vamos sair para uma caminhada.

O resto de suas perguntas morreu

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O resto de suas perguntas morreuquando ele estendeu um dos braços etomou-lhe uma das mãos e a guiouatravés de um caminho ao longo dafloresta de eucalipto. Ela fitou suasmãos entrelaçadas e algo começou aqueimar em seu abdômen.

– Você, hum... Está preocupado quepossa tropeçar?

Ele exibiu um largo sorriso para ela.– Não, apenas quero segurar sua

mão, Tash. Isso é um problema?Ela estava certa de que deveria ser,

mas se viu meneando a cabeça epronunciando um silencioso: “Não.”

– Excelente.

Então, você vai deixar que ele a beije

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Então, você vai deixar que ele a beijeem seguida?

Tash abanou uma das mãos na frentedo rosto. Quieta!

Mitch pressionou-lhe a mão e depoisa soltou.

– Teremos que ir sozinhos em fila deagora em diante durante uma parte docaminho, e precisaremos ficar o maisquieto possível.

Ela abriu a boca, mas depois de umsegundo fechou-a novamente e apenasassentiu com a cabeça. Ele queriasurpreendê-la e ela descobriu que nãoqueria estragar a diversão dele. QuandoMitch começou a caminhar, ela oseguiu.

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A luz do final do entardecer entravaatravés das frestas das árvores. O somde pássaros ecoava no topo das árvores.

Tash adorava esse horário do dia epermitiu que os sons e as essências dafloresta a relaxassem. Eles caminharampara algum lugar por cerca de dezminutos, ela supôs, antes de Mitchparar. Ele ergueu um dedo para oslábios e depois apontou para a clareira afrente. Ele deu um passo à frente e ela oseguiu. Ele parou novamente egesticulou para que ela avançassealguns passos. E foi quando ela viu.Eles.

Cangurus.

Na verdade, eram pequenos

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Na verdade, eram pequenoscangurus... Mas ela não estavapreocupada com isso enquanto seagachava ao lado de Mitch,boquiaberta, e os observava.

Deveria haver no mínimo uma dúziadeles pastoreando em pequenos gruposna clareira. Agarrando um dos braçosde Mitch, ela exibiu um largo sorrisopara ele e apontou para um filhote nabolsa da mãe. Ele apontou para outro.

Ela não podia se lembrar da últimavez que tinha visto cangurus na floresta.Tash observou, absorvendo aestranheza deles... As orelhas grandes eas pequenas patas da frente, a forma

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com que balançavam seus rabos fortes eos belos rostos bicudos dos filhotes.

Ao mesmo tempo e em um nívelmais primitivo, ela saboreou a força deMitch enquanto se inclinava na direçãodele, o ombro e o braço quente ereconfortante pressionado contra odela.

Uma pequena brisa dançava entreeles.

Tash se endireitou. Ela não podiaesconder o sorriso.

– Isso foi demais!Ele sorriu de volta.– Achei que você fosse gostar. Eu sei

que não é a mesma coisa que visitar um

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parque selvagem onde você tem achance de alimentá-los, mas...

– É melhor – declarou.O sol havia começado a se pôr e as

sombras na floresta começaram a seaprofundar. Mitch apanhou a mochilaque carregava no ombro. O celular delaainda estava ali? Ela deu de ombros,sem se importar com isso. Ele remexeunos conteúdos antes de entregar umagarrafa d’água a ela e acender umatocha. Depois ele caminhou de árvoreem árvore por provavelmente dois outrês minutos antes de encontrar o queestava procurando.

– Ali. – Ele puxou-a para mais pertodo seu corpo para que ela pudesse

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seguir a linha do seu braço e o raio deluz.

– Oh! – arfou. Tash apanhou a tochadele e se moveu para mais perto daárvore. – Um coala! – Ela fitou e fitou oanimal. O coala não se moveu.Descansou no galho da árvore,obviamente sonolento. Aparentemente,coalas dormem por cerca de vinte horaspor dia. Ela se recusou a tirar os olhosdele, com medo de que o animaldesaparecesse.

– Nunca vi um coala na florestaantes.

– É incrível, não acha?Ele tinha se movido para trás dela e

seu calor a cercou, sua respiração

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perturbando o cabelo dela em uma dastêmporas. Tash sentiu arrepios. Elaengoliu em seco.

– Existe um animal mais fofo noplaneta?

– Não sei se você pensa que sãofofos... – ela ouviu o sorriso na voz dele– mas se estiver feliz em se sentarnaquela lenha ali por um tempo osgambás vão aparecer logo.

Ela não se moveu na direção dalenha. Em vez disso, virou-se paraencará-lo. Ele poderia não ter sidocapaz de dar aulas de surfe a ela, masdera muita diversão. E agora elecompartilhava a mágica da vidaselvagem com ela.

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Mitch tentou dar a ela tudo o que elapoderia desejar para as férias. O que eraainda mais incrível, ele a havia feito seesquecer da maldade que a aguardavaem casa.

– Você me deu os dias mais perfeitos,Mitch.

– Fico feliz em ouvir isso.Esse homem tinha passado por tanta

dor e sofrimento e tudo o que elequeria fazer era aliviar a carga de outraspessoas. Como ela pôde tê-lo julgadotão mal? Ela não conseguia dizer se osolhos dele haviam escurecido ou se aescuridão da noite tinha seaprofundado.

– Você me fez esquecer coisas ruins.

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– Esse era o plano.Ela se moveu para mais perto e

subitamente se sentiu mais viva do quenunca.

– Acho que nunca serei capaz deagradecer a você apropriadamente. – Atocha escapou de seus dedos e caiu aosseus pés. Ela ergueu as mãos e apoiouas palmas contra o peito dele. Tash nãopoderia ter confundido a forma comque a respiração dele se acelerou ou aforça com que o coração dele batiacontra suas palmas.

– Tash.Ao ouvir seu nome ela teve a

impressão de que ele a estava alertando,mas o som soou suave como uma

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carícia. Quando ela se colocou na pontados pés para tocar os lábios nos dele, asmãos dele se moveram para os seusombros como se ele quisesse afastá-la,mas seus lábios se abriram para os delae suas línguas dançaram. Ele tinhagosto de oceano e verão e ela seesqueceu de quem estava beijandoquem enquanto seus corpos caíam nochão, precisando do contato um com ooutro e procurando por mais.

Ele a afastou dele, com a respiraçãoofegante como se ele tivesse praticadoalgum esporte.

– Essa não é uma maneira de meagradecer, Tash.

Ela agarrou os braços dele e tentou

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Ela agarrou os braços dele e tentouencontrar seu equilíbrio.

– Isso parou de ser umagradecimento depois do primeirobeijo.

– Você disse que era uma má ideia.– Quando?– Esta tarde você disse que amizade

era tudo o que podia dar. Essa manhãvocê se esquivou de um beijo.

Ela não o desejava com esse tipo deferocidade havia oito anos. Podia veragora o quanto ele tinha sido cuidadosocom ela na época.

– Eu deveria estar com a cabeça nalua. – Os dedos dela se curvaram notecido da camisa dele. – Além do mais,

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entendo que seja uma prerrogativa demulher mudar de ideia.

Ele resmungou.Ela franziu o cenho.– Você acha que isso é uma má

ideia?– Supostamente devo estar

protegendo você.– Correção... Você está se

assegurando de que eu esteja fora deperigo. Você disse que o perigo nãopode nos seguir até aqui.

– Não vai, mas...– Então a ideia que você precisa ser

um supervigilante é bobagem e vocêsabe disso.

Ele não disse nada.

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– Você sabe que há uma coisa quepoderia tornar minhas férias realmenteinesquecível.

– O quê?– Um caso passageiro.Ele praguejou.– Sei que a maioria das pessoas me

consideram durona. Eu já até fuiconsiderada uma... garota má.

Os olhos dele se alargaram.– A verdade é que o oposto é

verdadeiro.O corpo dele era belo e totalmente

sedutor e tudo no interior dela searqueava em direção a ele, ansioso paraexplorá-lo.

Os olhos dele cintilaram em meio à

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Os olhos dele cintilaram em meio àluz da lua.

– Está me dizendo, Tash, que vocêquer algo selvagem e impulsivo?

Ela sorriu de volta para ele.– Fico feliz que você finalmente

tenha entendido, oficial King.

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CAPÍTULO 7

ELES VOLTARAM para a cabana emtempo recorde.

Assim que fecharam a porta atrásdeles, Mitch encostou-a contra amadeira e a beijou, seus lábios quentese famintos. A luz da lua entrava atravésdas janelas iluminando o ambiente.

A áspera madeira da porta picava ascostas dela. Movendo os braços queestavam em volta do pescoço dele, ela

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se inclinou contra o peito masculino ecaminhou com ele até a sala, seminterromper o beijo, apreciando asensação e saboreando-o.

Ele repousou uma das mãos na baseda coluna feminina e puxou-a contra oseu corpo.

Ela arfou enquanto o calor seespalhava, o desejo... E a excitação. Seusjoelhos começaram a se entortar eMitch os levou até o chão com maisvelocidade do que graça para que elapudesse se sentar sobre ele.

Com um gemido, ela subiu o tecidoda camisa que ele usava e correu osdedos pelo estômago e peitomasculinos. Mitch gemeu, seus

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músculos se apertando debaixo daponta dos dedos dela. Em meio à luzfraca, sua pele cintilava. Ela correu asmãos sobre o corpo dele novamente.Ele se contorceu debaixo do toque dela,seus olhos azuis cintilando.

Ela fez isso? Criou esse desejo, essafebre nele? Ela?

Tash correu as mãos mais para baixo,mergulhando-as debaixo da cinturadele. Ela exibiu um largo sorriso.Sentou-se corretamente e jogou ocabelo para trás.

– Tash – avisou ele.– Quero que você tire sua camisa –

comandou ela.

Ele se ergueu nos cotovelos para

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Ele se ergueu nos cotovelos paraobservá-la. Isso fez com que a saliênciaem seu short ficasse mais firme contra ajunção das pernas dela.

– Oh! – oscilou ela. Teve que engolirem seco duas vezes.

Ele exibiu um sorriso lento e apulsação dela se acelerou.

– Então é assim que você querbrincar, hum?

Com outro homem ela suspeitavaque o autodomínio já a teria atingido,mas não com Mitch. O fogo nos olhosdele não lhe dava nenhuma chance deparar.

Ela deveria dizer a ele...?Tash ergueu o queixo.

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– Você tem um problema com isso?Em um movimento rápido ele

arrancou a camisa pela cabeça e jogou-apara um lado.

Ela não se importou em ver onde apeça tinha caído. Estava muito ocupadaabsorvendo a amplidão dos ombrosdele, a profundidade do peito, a formacom que os músculos dos braços sedestacavam e o abdômen bem definido.E então ela deixou suas mãos seguiremseu olhar... lentamente. Ela queriaconhecer cada centímetro dessehomem.

As mãos dele se moveram paradebaixo da blusa que ela usava,

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brincando perigosamente com a suaconcentração, e ela as afastou.

– Não me toque!Mitch exibiu um largo sorriso e o

sangue dela se aqueceu tão rápido quepareceu ferver.

– Ao menos tire sua blusa também. –A voz dele soou aquecida como o mel,entrando em seus ouvidos como umadoce promessa. – É apenas justo.

Tash considerou isso. Ela não seimportava com o que era justo. Tudo oque queria era enlouquecer Mitch damesma forma que ele a haviaenlouquecido desde quando seconheceram. Foi por isso que ela tirou acamisa pela cabeça e jogou-a para um

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lado. Por isso desenganchou o sutiã e ojogou para o outro lado. E foi por issoque se contorceu no que esperava seruma atitude sedutora, empurrando osseios para a frente, as extremidades seenrijecendo conforme o sorrisodesaparecia do rosto dele e eleumedecia os lábios.

– Você é linda – declarou, sua vozrouca.

Sentada em cima dele, sentia-selinda.

Ele procurou alcançá-la novamente,mas ela envolveu os dedos ao redor dospulsos firmes e os pressionou contra ochão ao lado da cabeça dele.

– Toda a minha vida fui uma boa

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– Toda a minha vida fui uma boagarota.

Ela não esperava que ele acreditassenela. Não esperava que ninguémacreditasse nela. Será que Mitch iriafugir se descobrisse que ela era virgem?Ela não iria se arriscar. Talvez ele nemnotasse.

Ela fitou os olhos azuis dele.– Apenas por uma vez quero agir

como uma garota má.Empurrar as mãos dele para baixo fez

com que seus rostos ficassem maispróximos. Aqueles olhos encantadoresse fixaram nos dela.

– Você esteve lendo Cinquenta tonsde cinza, Tash?

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– E se estive?– Você gostaria que eu a espancasse?

– Ele ergueu a cabeça e seus lábiosroçaram os dela enquanto ele falava,sua respiração tocando o cabelo dela natêmpora e os mamilos começaram adoer. – Devo pegar minhas algemas?

– Se fizer isso vou prendê-lo comelas. – Mas a voz dela soou tão fracaquanto um sussurro. O baixo gemidona garganta dele lhe dizia que ele nãoacreditava nela.

Mitch ergueu a cabeça novamente epassou a ponta da língua nos mamilosdela. Tash ficou tensa, cada nervo doseu corpo gritava com vida.

– Eu disse para não me tocar...

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Ele tocou um mamilo com a língua edepois o sugou. Ela arqueou contra elecom um gemido. Nada poderia ser tãobom, tão desejável!

Em um movimento rápido, os lábiosdele nunca deixando o mamilofeminino, uma mão no ombro dela parapuxá-la mais firmemente contra eleenquanto a outra mão cobria-lhe o seio,o polegar se movendo para a frente epara trás até ela pensar que estivessecompletamente afogada em sensações.

A respiração dela soou ofegante.Tash arqueou contra os lábios dele.Arqueou-se contra a virilha masculina.Ambos estavam suados.

– Sabe o que eu acho? – Ele

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– Sabe o que eu acho? – Elepressionou beijos molhados contra opescoço feminino, os dedos abrindo osbotões da calça dela como se já tivessefeito isso um milhão de vezes antes.

– O quê? – quis saber ela.– O que você realmente precisa...Ele não iria espancá-la de verdade,

iria? Isso poderia ser sedutor quandoele falava no assunto, mas Tash iria saircorrendo se realmente o fizesse. Ela seafastou dele para fitar seus olhos azuis.Ele afastou-lhe uma mecha de cabeloque lhe caía sobre o rosto.

– O que você realmente precisa,Natasha Buckley...

O uso do nome inteiro dela em seu

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O uso do nome inteiro dela em seumurmúrio de desejo a fez estremecer.Ele correu os dedos na parte lateral dosseios dela e ela mordiscou o lábioinferior para conter um grito de prazer.

– ...é perder o controle.Ela precisava disso?– Você se reprime demais, mas não

nesta noite.– Eu não sou...Os lábios dele capturam-lhe o

mamilo novamente.Ela gemeu quando os dedos hábeis

dele fizeram coisas que ela nunca tinhafeito antes.

– Você estava dizendo? – declarouele lentamente contra os lábios dela,

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antes de rolar seus corpos juntos.O joelho dela atingiu a mesa de café

e o cotovelo dele acertou alguma coisa.– Quando estava com 17 anos e

fantasiava sobre fazer amor com você,não era dessa maneira.

– Não? – Ele baixou o olhar paraencará-la.

– Tudo era suave e gracioso. Nãohavia suor e batidas de joelho e...

Ele cobriu-lhe um dos seios e correuo polegar sobre o mamilo enrijecido.

– Havia alguma coisa desse tipo?Ela engoliu em seco.– É claro. – Mas na época não havia

nada tão selvagem quanto às sensaçõesque a invadiam agora. Ela nem mesmo

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sonhara com uma coisa dessas. – Mas,por favor, Mitch, vou estar machucadaamanhã.

– Você vai estar muito, muitosatisfeita amanhã – prometeu ele, umbrilho travesso em seus olhos azuis.

Colocando-se em pé, ele ergueu-a nocolo e rumou para o quarto.

MITCH FITOU o teto, seus dedoscorrendo as costas de Tash. Ele amava asensação da pele desnuda dela contraseu corpo, o calor dela em seu peito.

Eles não tinham falado.Ainda.Ele não tinha aberto a boca porque

fazer amor com Tash tinha sido tão

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intenso que virava o seu mundo decabeça para baixo. Não estava certo doque ela sentia. Ele sabia que havia dadoprazer a ela, mas...

Ele fitou-a novamente.– Você está bem?Mitch podia sentir o sorriso dela

contra o seu corpo. Ela aproximou orosto do peito dele.

– Estou mais do que bem.Ele deixou escapar um suspiro e

fechou os olhos por um momento.– Por que não me disse? – indagou

tranquilamente.Ela ficou tensa. Ele apertou um braço

ao redor do corpo dela para que ela nãopudesse se afastar.

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– Você poderia dizer, então?– Aham.Dera a ele sua virgindade. Por quê?

Isso significava alguma coisa?Ele franziu o cenho para o teto.– Você deveria ter me dito.– Por quê?Mitch afastou-se levemente para

poder encará-la.– Por que eu teria sido mais gentil,

mais cuidadoso.– Não tenho nenhuma queixa.Isso não respondia a questão.– E não queria lhe dar uma desculpa

para parar.– Não estou certo de que poderia ter

parado. – Ele foi honesto o bastante

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para admitir.Ela dera a ele sua virgindade e ele

tinha a sensação de que isso poderiaassustá-lo, mas não assustou.

– Você teria acreditado em mim?Ele ficou tenso até reconhecer que

não havia acusação no tom de voz dela.– É uma surpresa – admitiu. – Mas

teria acreditado em você.Ela se ergueu em um cotovelo para

fitar o rosto dele.– Isso afetou seu prazer? Isso não é...– Você foi demais, Tash. Nós fomos

demais. Não posso me lembrar daúltima vez que eu... – A voz delefalhou. Ele não podia se lembrar daúltima vez que fazer amor tinha o

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tocado tão profundamente. – Isso foiincrível.

O sorriso dela fez com que elesentisse algo se apertar em seu peito.

– Descanse agora. – Ele pressionou acabeça dela contra o seu ombro,envolveu um braço seguramente aoredor dela. Ela havia lhe dado a suavirgindade. Isso tinha que significaralguma coisa.

QUANDO MITCH acordou na manhãseguinte, ele sabia exatamente o que anoite anterior tinha significado.Significava que ele e Tash pertenciamum ao outro. Ele sabia com cada fibrado seu corpo quem ele era. E precisava

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se assegurar de que estivessem namesma página quanto a isso.

Tash não estava na cama com ele,mas o aroma de café lhe dizia que elanão estava longe.

Ele exibiu um largo sorriso,subitamente se sentindo com muitaenergia... Era como se tivesseconquistado o mundo. Mitch rumoupara a sala principal da cabana, vestidocom uma calça. Um rápido vislumbreda porta lhe disse que Tash estava napraia. Ele preparou um chá, apanhouum pacote de biscoitos e rumou para apraia.

Ela se virou antes que os pés delepisassem na areia, um sorriso curvando

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seus lábios. Enquanto ele se dirigia parao lado dela, Tash fez uma lenta ecompreensível avaliação do corpo dele.O brilho dos olhos azuis dela quase ofez tropeçar. Depois ele teve que lutarcontra o desejo de correr para ela epuxá-la contra o seu peito desnudo. Eele estava feliz... muito feliz... por nãoter se importado com uma camisa. Eledesejou que ela também não tivesse seimportado com uma blusa. Nãoimportava. Ele pretendia tirar a blusadela o mais rápido possível.

– Bom dia – disse.Ele depositou um beijo nos lábios

femininos... rápido e leve... E depois sesentou ao lado dela.

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– Eu trouxe o café da manhã.Tash dirigiu o olhar para os biscoitos

e ergueu uma sobrancelha.– Vou precisar mais do que isso para

prosseguir com o dia.Ele quase jogou o pacote de biscoitos

para um lado para possuí-la ali na areiasob o sol. Mitch se afastou no últimomomento. Ela estaria provavelmentemachucada devido à noite passada. Etinham muito tempo. Tinham o restode suas vidas.

– Vou cozinhar algo mais substancial– prometeu. – Eu queria conversar.

Ela traçou um dedo ao longo da coxainterna dele.

– Não é o que eu tinha em mente.

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Mitch capturou-lhe a mão e beijou-lhe os dedos. A fome nos olhos dela, odivertimento e o calor de seu rosto,dizia a ele que ela estava tão envolvidaquanto ele. Seu coração perdeu umabatida.

– A noite passada foi incrível.– Você não vai conseguir nenhum

argumento meu sobre isso.– Isso pode parecer clichê, Tash, mas

a noite anterior significou algo paramim. Algo grande.

Os olhos azuis dela ganharam umbrilho.

– Estamos aqui há apenas três dias...Quatro contando com hoje... Mas sinto

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como se minha vida inteira tivesse sidovirada de ponta cabeça.

Ela o encarou e depois finalmenteassentiu com a cabeça.

– Eu também.Mitch beijou-lhe os dedos

novamente e depois os soltou paraservi-los de duas canecas de chá. Eleabriu o pacote de biscoito, ávido.

Ela apanhou um biscoito e o mordeu.– Não posso deixar de sentir que as

coisas aconteceram muito mais rápidodo que deveriam.

– Ou talvez elas estejam se movendoexatamente como deveriam.

Ela dera a ele sua virgindade. E elesabia o que isso significava... Ela era

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dele e ele iria amá-la e protegê-la pelorestante de suas vidas. Ele a haviadecepcionado uma vez. Não iria fazerisso novamente.

– Fiquei acordada por um longotempo na noite passada, pensando. –Ele se sentiu vivo e contente... inteirode uma maneira que não achava serpossível. Quando seu pai tinhaassassinado sua mãe, isso haviafraturado alguma coisa em seu interior.Na noite anterior Tash o havia feito sesentir inteiro novamente. Ele se viroupara encará-la.

– Nós pertencemos um ao outro,você e eu. – Nada tinha feito maissentido para ele do que isso.

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A mão dela congelou a meiocaminho da boca com o biscoito. Tash oencarou, boquiaberta. Ele não a culpavapela surpresa. A percepção também ochocou.

– Olhe, pensei muito sobre isso. Querouvir meu plano?

Ela umedeceu os lábios.– Está bem.Mitch inspirou profundamente.– Isso é o que acho que devemos

fazer. Quando voltarmos para Sydney,você deveria vir morar comigo. – A casadele era melhor do que a de Tash. –Você pode desistir do seu emprego.

Ele odiava a ideia de vê-la seescravizando atrás do bar do Royal Oak.

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– Aquele pub está em umavizinhança perigosa e odeio a ideia devocê estar sujeita a qualquer tipo deviolência ou ameaça. – Ele fez umapausa. – Você pode voltar à faculdadese quiser. – Ela poderia estudar para terum emprego melhor, um emprego maisseguro. Um dia iriam se casar e terfilhos. Seria perfeito. Mas isso poderiaesperar. Ele não queria apressá-la.

– VOCÊ PERDEU totalmente o juízo?Tash se colocou em pé, espalhando

areia por todos os biscoitos. O únicomotivo de o chá não ter voado foiMitch segurar as canecas.

– Não vou voltar para a faculdade!

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– Não vou voltar para a faculdade!Para que iria querer fazer isso?

Ele gesticulou com as mãos para oalto.

– É apenas uma sugestão e...– Não vou desistir do meu emprego!– Isso a coloca em perigo! – gritou de

volta.– Bobagem! Posso lidar com meu

trabalho. – Ela o empurrou colocandouma das mãos no peito dele. – Gosto domeu trabalho. Sou boa no que faço. Issosignifica algo para mim.

O rosto dele se contorceu emfrustração.

– Mas...

– E isso não é tão perigoso quanto o

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– E isso não é tão perigoso quanto oseu trabalho!

– Isso é diferente!– Como? – Tash gritou para ele. –

Você gosta disso, não é? É bom no quefaz, não é? – Ela cruzou os braços. –Você vai se propor a desistir dessepequeno e aconchegante cenário?

Ele franziu as sobrancelhas.– Claro que não.– Não vou me mudar para sua casa,

Mitch – assegurou. – Nós nosconhecemos por três dias inteiros!

– Não se trata de quanto tempo vocêconhece uma pessoa. É sobre o quãobem você a conhece. – Apontou para o

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próprio coração. – Aqui. É ter acoragem de seguir suas convicções.

– Vou lhe dar as convicções! O quevocê quer fazer é me colocar em umagaiola bonita, mas não deixa de ser umagaiola. E sei que isso tem a ver com oquanto você se sente impotente sobresua mãe, mas não vou deixar ninguémse apoderar da minha liberdade dessamaneira. Sou uma adulta e tenho odireito de tomar minhas própriasdecisões. Sei o que é não ter poder enão vou voltar a esse estadonovamente.

Eles se entreolharam. Ambosrespiravam rápido.

Ela se lembrou da decepção que

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Ela se lembrou da decepção quesentiu oito anos antes e sentiu um nóde emoção se formar em sua garganta.

– O que aconteceu com você? Ontemvocê era um ser humano razoável. Hojeestá agindo com um... homem dascavernas!

Mitch passou uma das mãos pelorosto.

– Eu achava que eram as mulheresque começavam a sonhar com finaisfelizes depois do sexo, não os homens.

Mitch a encarou de volta.– Você era virgem.– E daí?– E daí que isso tem que significar

alguma coisa. Você tem 25 anos, por

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Deus. Ter esperado tanto tempo...Ela teve que suprimir um grito de

frustração em sua garganta, mas portrás disso havia um tremor de medo.

– Isso não significa nada! Ou melhor,vou lhe dizer o que isso significa, Mitch.Eu sou uma hipócrita!

Ele ficou boquiaberto.– Claro que não.Ela cruzou os braços, virando-se para

fitar o mar.– Talvez não mais. – E era um alívio

saber disso. – Eu... – Ela teve queengolir a saliva. – Não me lembro demeus pais serem bons um com o outro.Não havia nenhum modelo para quepudesse olhar quando estava crescendo.

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A mãe e a avó de Rick mehorrorizaram. Eu não poderiaimaginar... – Ela estremeceu esubitamente ele estava do seu lado. Elenão a tocou, mas sua presença ajudoupara que algo se liberasse em seuinterior. – Quando tinha quinze anos,uma garota na escola ficou grávida. Onamorado terminou com ela e a mãe aexpulsou de casa. Recebeu benefícios desegurança social, mas cada vez que a viaparecia mais magra e mais suja. Morreude uma overdose de drogas e o bebê foipara um lar de adoção. Outra colega daescola foi abusada sexualmente pelopai.

Mitch deixou escapar um

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Mitch deixou escapar umxingamento.

Ambos fitaram o horizonte ao longe.Ela se virou para encará-lo.

– Em minha mente, o sexo tem sidoassociado com uma terrível sordidez. –Principalmente quando ela fora umaadolescente. – Quando estavapreparada para arriscar meu coração...arriscar meu corpo... eu fui... magoada.

Ele praguejou novamente.– Contudo, ninguém me avisou sobre

hormônios. Os últimos 12 mesesestive... inquieta. Mas não conhecimuitos homens nesse período. Essa éminha única culpa. Eu não saio paralugares onde posso encontrá-los. Todos

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os homens que conheço não meconvidam mais para sair porquecontinuava os decepcionando, masesses últimos dias tem sido... – elarespirou fundo – uma revelação.

Tash fitou os próprios pés,enterrando-os na areia.

– A noite passada foi incrível. Estoufeliz que tenha acontecido. Mas foiapenas sexo.

Mentirosa.– O fato de ser uma virgem não

significou nada... Exceto um sinal daprisão em que estive durante o meudesenvolvimento e adolescência. – Elaergueu os olhos para encará-lo e fez o

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seu melhor para parecer formal. – Vocême ouviu?

Ele desviou os olhos dos dela.– Alto e claro.– Vou escovar meus dentes.Ele não a seguiu, então deveria ter

entendido que ela queria ficar só.

TASH ESCOVOU os dentes e depois voltoupara o interior da cabana. Para todo olugar que olhasse havia prova do amorque fizera com Mitch na noitepassada... Seu sutiã pendurado em umaprateleira, a blusa no sofá, a camisa polode Mitch debaixo da mesa de café.

Ela agarrou suas coisas e jogou-as noquarto. Apanhou a camisa de Mitch e

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colocou-a de volta na mochila queestava em um canto do sofá.

Você acabou de rejeitá-lo, sua idiota!Não, ela não o havia rejeitado. Havia

apenas deixado claro que não estavapronta para morar com ele ainda.

Você disse que foi apenas sexo!Tash pensou novamente na noite

anterior e um sorriso sonhador surgiuem seus lábios. Ela nunca tinhaimaginado que fazer amor pudesse sertão... explosivo. Ou totalmentesatisfatório.

Ou que isso iria deixá-la se sentindotão vulnerável.

Tash cruzou os braços na frente dopeito e o sorriso desapareceu de seus

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lábios. Foi apenas sexo. Ela meneou acabeça. Tinha sido muito mais do queapenas sexo.

Mas por que Mitch teve que assustá-la? Por que ele não poderia fazer ascoisas devagar... ser casual por umtempo até que ela se acostumasse comtudo isso? Tash moveu os dedos eprocurou por algo que mantivesse suasmãos ocupadas.

Seus olhos se iluminaram ao ver amochila abandonada no chão próximoà porta. Ela agarrou o objeto, colocou-osobre a mesa e começou a encher asgarrafas d’água. Depois, investigou ointerior da mochila. Os celularespoderiam permanecer ali.

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Uma embalagem dourada chamou-lhe a atenção. Uma barra de chocolate!Mitch esteve escondendo dela?

Ela agarrou o chocolate e...– O que pensa que está fazendo?Tash virou-se para encará-lo; o

coração na garganta.– Droga, Mitch, não me espione

desse jeito! Está tentando me fazer terum ataque cardíaco?

Contudo, era bom que ele estivesseali. Eles precisavam conversar.Precisavam ajustar algumas coisas.

– Eu não a estava espionando. – Orosto dele escureceu. – Mas obviamentevocê estava.

Ela o encarou.

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Ele avançou um passo e apanhou amochila que estava sobre a mesa.

– No minuto em que minhas costasestão viradas para você, você está notelefone com Rick, certo?

Tash ergueu a barra que tinha emsua mão.

– Chocolate – falou suavemente. –Não é um celular.

Ele piscou.– Apesar de tudo o que eu disse,

você ainda acredita que Rick sejaculpado, não é?

– A cadeia muda uma pessoa.Um nó de emoção se formou em sua

garganta e ela mal pôde respirar.

– Você tem uma mente suja às vezes,

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– Você tem uma mente suja às vezes,Mitch, sabia disso? – Ela engoliu emseco, forçando um desprezo em seu tomde voz. – É claro que vou seduzi-lo,atraí-lo para um falso senso desegurança e depois, no momento emque você estiver desprevenido, vouroubar o meu telefone e fazer ligaçõessecretas.

– Você tentou telefonar para Rick ououtra pessoa?

– Não vou nem mesmo dar umaresposta. – Ela fez menção de se virar,mas depois desistiu. – Mas aquelaacusação é muito significativa.Obviamente, se você está preocupadoque eu possa fazer isso, então Rick não

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pode estar fora do alcance telefônicocomo você disse. – Os olhos delacintilaram. – Você mentiu sobre aquilo.

– Menti.Ele nem mesmo parecia arrependido!– Era mais fácil do que dizer a você

que os detetives do caso se recusaram aconfiar em você.

Ela cruzou os braços.– Depois da noite passada você

realmente acha que eu agiria pelas suascostas?

– O que quer dizer? – exigiu ele, seusolhos frios como o gelo. – A noitepassada foi apenas sexo, lembra-se?

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CAPÍTULO 8

A RESPIRAÇÃO dela ficou presa nagarganta como se ele tivesse lheesbofeteado.

Mitch ficou tenso.– Tash, eu...Ela precisou fazer um esforço para

manter os olhos abertos e se concentrarna respiração.

Será que as palavras dela tinhamrasgado o coração dele daquela

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maneira?– Não telefonei para Rick. Não que

espere que você vá acreditar em mim. –Ela sentiu o estômago arder. – Mas atéaí confiança nunca foi um ponto forteentre nós dois, não é? Se você confiasseem mim, essa pergunta nunca teria sidofeita. Seja lá o que for que você tenhadito nessa manhã, está óbvio agora quea noite passada não mudou nada.

– Se confiasse em mim, você teriadito que era uma virgem.

Ele observou algo importante.O silêncio entre eles se estendeu.

Essa conversa não tinha chegado aofim, nem de longe, mas ela não tinhavontade de continuar isso no momento.

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Tash suspeitava que Mitch também nãotivesse. Havia muitas mágoas de ambosos lados.

– Vou nadar. – Ela apanhou obiquíni e uma saída de banho. –Enquanto você telefona para os seuscolegas e os informa de suas suspeitas.

Ele não disse nada, não tentouimpedi-la.

E ela não olhou para trás. Nenhumavez.

TASH NADOU.No dia anterior a água tinha

deslizado como seda contra sua pele.Hoje o sal e a areia a picavam e airritavam.

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Conforme se movia através dasondas, músculos que ela desconheciapossuir doíam e protestavam, gritandocomo um rude lembrete de suafraqueza nata por Mitch e tudo o quetinha acontecido na noite anterior... E oquanto ela havia permitido isso.

Mitch. Ela não fora capaz de resistir aele oito anos antes e não fora capaz deresistir na noite anterior. Uma terrívelsensação de déjà vu se acomodou sobreos seus ombros, tornando seus braços,seu peito e sua cabeça pesados.

Aquela gaiola dourada com que ele apresenteara... Ela engasgou com algoque parecia ser um soluço. Isso iriatorná-la miserável.

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Tash fechou os olhos e os pelos deseus braços se arrepiaram. Será que eleprecisava colocá-la naquela gaiola parasua própria felicidade? Sem isso, seráque o miserável seria ele? Ela abriu osolhos e não se importou com o quantoferoz o sol brilhasse, o calor não estavaaquecendo esse dia.

Por que ela não pôde ter resistido pormais um dia ou dois quando toda essafarsa iria chegar ao fim?

Se ela tivesse lutado contra o seudesejo na noite anterior poderia nuncasaber o quanto incrível poderia ser fazeramor com Mitch. Ele a haviatransportado para um lugar de tantoprazer e deleite que mesmo agora os

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dedos de seus pés se encolhiam apenasde pensar nisso. Ela boiou, fitando océu azul, a água como uma carícia napele, e lembrou-se de como o fizeragemer e tremer.

E depois se lembrou da maneira comque tudo havia se desenrolado nessamanhã e sentiu o corpo afundar. Tashergueu a cabeça sobre a água, tossindo.Tudo o que podia ver era como o rostodele escurecera com a suspeita quandoele entrou na cabana e a encontrou coma mochila.

Na noite anterior tinha fitado aquelesolhos e compartilhado sua alma. Comoele podia...?

Engane-me uma vez, erro seu.

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Engane-me uma vez, erro seu.Engane-me duas vezes, erro meu.

– Engane-me três vezes... – Elaempurrou os ombros para trás e ergueuo queixo. – Isso não vai acontecer.

MITCH A aguardava quando elafinalmente retornou à costa.Silenciosamente ele entregou uma saídade banho para ela. Com o mesmosilêncio, ela apanhou a toalha. Tash seafastou alguns passos e virou-se decostas para se secar.

– Você está bem? – perguntou ele.– Sim – respondeu ela. – Você?Mitch não disse nada e finalmente o

suspense ficou demais. Ela se virou.

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– Já estive melhor. – Ele deu umapausa. – Acho que provavelmente lhedevo um pedido de desculpa.

Ela cruzou os braços e ergueu assobrancelhas.

– Acho que provavelmente a julgueimal. Se esse foi o caso, então sintomuito.

Acho? Provavelmente? Se? Ela apertoua mandíbula.

Mitch ampliou a distância entre eles.– Você vai dizer alguma coisa?– Temo que esteja emudecida por

um pedido de desculpa tão sincero.Um rubor coloriu o rosto dele.Ela meneou a cabeça.

– Não tenho nada a dizer. –

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– Não tenho nada a dizer. –Engolindo em seco, Tash desviou osolhos dele.

– Então espero que você fiquesatisfeita em saber que o nosso tempoaqui acabou.

Tash voltou a encará-lo.– Isso não teria acabado se tivesse

aceitado o seu pedido de desculpa?Por um momento os olhos dele

cintilaram.– Você estava esperando por mais

sexo com a garota má?– Não é assim, Tash.– Sabe de uma coisa? Eu não me

importo mais. – Não havia mais nada adizer, mais nada a resgatar.

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O rosto dele se tornou pálido. Elaignorou isso. Ignorou as fortes batidasdo seu coração também, para dar deombros, erguer o queixo e vestir umaexpressão de indiferença no rosto.

– Presumo que Rick tenha sidolevado para o interrogatório?

Ele assentiu com a cabeça.– Eu gostaria de vê-lo.O rosto dele escureceu.– Quando você vai parar de se

enganar em relação a ele?– Enganar? – Ela abriu a boca e

depois a fechou. – Ele sabe mais sobreamizade do que você jamais saberá.Quando vai perceber que ele nunca me

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machucou? Ele nunca machucariaqualquer mulher.

– Diga isso a Dixie Bennett e LeahManning.

– Ainda cego pelo preconceito depoisde todo esse tempo? Por trás dessafachada você não passa de umhipócrita.

– Como eu disse. – As palavras delesoaram secas. – O nosso tempo aquiacabou.

– Aleluia!

ELES NÃO disseram uma única palavrano caminho de volta a Sydney. Mitchdeixou claro para ela que se ela quisessever Rick poderia ir à delegacia por seus

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próprios meios e não pelos dele.Aparentemente ele não iria ter parte noencorajamento.

Ela havia tido um vislumbre doslábios comprimidos dele e tinha serecusado a contemplá-lo novamente. Etambém não iria dignificar a ordemdele com uma resposta.

Mas, enquanto se dirigiam para longeda cabana, com a praia particular e asmemórias gravadas em seu cérebro... eno corpo... seu coração queimava comonunca tinha queimado antes. Ela nuncairia voltar para esse lugar e o sofrimentotomou conta do seu ser, e não havianada que ela pudesse fazer a respeito.

Enquanto passavam de uma

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Enquanto passavam de umatranquilidade rural para o barulho dacidade e finalmente para suavizinhança, seus pensamentosescureceram. Quando chegaram à casadela, Mitch nem desligou o motor. Elesaiu do carro, puxou a mala do porta-malas e colocou-a no chão perto doportão.

Ela saiu do carro e fez menção depassar por ele, mas ele a impediu.

– Ainda não terminamos, Tash. Eunão vou deixar que você me ignore. Issoainda não acabou.

– Isso é o que você pensa. – Tashqueria que ele fosse embora. Agora. –

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Dê lembranças a Rick e diga que estareilá o mais rápido possível.

Os lábios dele estremeceram.– Isso não vai dar certo.Do que ele estava falando?Colocando um dos braços ao redor

da cintura feminina, ele puxou-afortemente contra o seu corpo. Seuslábios encontraram os dela, exigentes,insistentes. Ele mordiscou e sugou e elasentiu a cabeça girar e tudo o que pôdefazer foi se agarrar a ele e abrir a bocaquando ele exigiu isso dela. Suarespiração e sua língua se mesclaram adele até que se sentissem como sefossem um só. E inteiros.

E então ele a liberou e ela quase caiu.

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E então ele a liberou e ela quase caiu.Mitch passou o polegar sobre o lábioinferior dela com um brilho possessivonos olhos.

– Você era virgem, mas isso não fazde você uma estúpida. O que nós temosé incrível e você é uma tola se fugirdisso.

Tash sentiu o coração bater forte. Elanão conseguia pensar em uma únicacoisa a dizer.

– Não lutei por você há oito anos,mas não vou deixá-la sem luta destavez, Tash. Vejo você de manhã. Quemsabe até lá ambos teremos tido tempode pensarmos sobre a nossa situação.

Ela o viu ir embora e, Deus a perdoe,

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Ela o viu ir embora e, Deus a perdoe,tudo o que poderia fazer era desejarque o amanhã já tivesse chegado.

LEVOU CINCO horas para que o detetiveGlastonbury e sua equipe terminassemde interrogar Rick. Mas não tinhamprovas suficientes para segurá-lo efinalmente Tash estava livre para levá-lo para casa.

Antes que alcançassem a liberdadeda porta principal, porém, Mitchemergiu de um escritório e bloqueou-lhes o caminho. Ele a encarou comraiva e ela engoliu em seco.

Rick cruzou os braços.– Ora, ora, se não é o oficial King.

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Mitch se inclinou para mais perto esua essência invadiu as narinas de Tashdeixando-a zonza.

– Se você arrancar um único fio decabelo dela, Bradford, vou persegui-locom toda a minha alma.

– Se eu arrancar um cabelo dela voumerecer isso – devolveu.

Mitch piscou, mas continuoufulminando-o com o olhar.

– Estamos de olho em você.– Mensagem recebida, alto e claro.Tash revirou os olhos e se perguntou

qual dos dois iria bater no peitoprimeiro.

Aqueles olhos devastadores seviraram para ela.

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– Amanhã.Tash assentiu com a cabeça. Ele

estava certo. Ela não poderia fugir, masnão conseguia deixar de pensar que issoapenas iria terminar em mágoa. Paraambos.

– Vá à minha casa no meio damanhã – declarou e não se opunhatotalmente à ideia. De uma forma oude outra, precisavam esclarecer ascoisas. – Vou assar um bolo.

– ACHO QUE você gostaria de me verlonge para ter o seu grande encontroamanhã?

Tash ergueu os olhos do sofá, ondeestava reclinada com seu novo livro de

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receitas. Ela havia se apressado emcomprá-lo para esta tarde antes que elae Rick chegassem em casa, juntamentecom alguns ingredientes. Tash seendireitou e colocou os pés no chão.

– Você é mais do que bem-vindo aficar para o bolo e o café se quiser. – Defato seria provavelmente uma boa ideiapara Mitch conhecer Rick melhor. –Mas, se descobrir que tem alguma coisapara fazer depois disso, não vou meimportar. Mitch e eu temos algumascoisas para, hum... – ela limpou agarganta – esclarecer.

– Vou sair daqui de manhã.Ela suprimiu um suspiro. Isso seria

provavelmente para o melhor.

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– Obrigada, Rick.Tash realmente queria perguntar

mais sobre o que ele pensava que estavapor trás dessa onda de violência, quemestava tentando armar contra ele, masela engoliu as palavras. Eles já haviamconversado. Tinham trocado algumasideias, mas nada parecia fazer sentido.

Ela conhecia Rick. Sabia o quantoisso deveria estar sendo difícil para ele.Ela não queria acrescentar ainda maispeso à situação.

Rick repousou as mãos atrás dacabeça e exibiu um largo sorriso paraela.

– Você realmente vai assar um bolopara Mitch?

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O que a havia possuído? Ela fez umacareta.

– Sim.Ele ficou sóbrio e se inclinou na

direção dela, com os cotovelos nosjoelhos.

– Tash, o que está acontecendo? Oque você espera para amanhã? – Elefranziu as sobrancelhas. – E...

– E o quê?– Do que você tem medo?Ela engoliu em seco.– Posso lhe dizer do que tenho

medo. Essa é fácil. Mas o que eu quero?– Ela fechou o livro de receitas emeneou a cabeça. – Essa é umapergunta muito difícil.

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– Então comece com a mais fácil.Tash encontrou os olhos dele.– Você entende que... coisas…

aconteceram quando Mitch e euestávamos presos na cabana, certo? –Tash pensou que ele pudesse revirar osolhos ao ouvir isso então acrescentou: –Não estou falando apenas de sexo. – Elamordiscou o lábio inferior. – Nós nosconectamos de uma maneira... – Ela seergueu do sofá para andar de um ladopara o outro da sala. – Não sei do quevocê vai querer chamar isso...Emocional, mental, espiritual. – Elavoltou a se sentar novamente. – Seja láo que for, não estava preparada, masnão posso negar isso. Não posso virar

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minhas costas para a situação. – Elafranziu o cenho. – E, por último, nãoquero virar minhas costas. Ainda.

Quando dirigiu o olhar para ele, elenão estava rindo. Rick simplesmente aencarou de volta com uma seriedadefatal.

– Você e Mitch sempre seconectaram dessa maneira, Tash. Porque isso deveria surpreendê-la agora?

– Mas... mas aquilo que aconteceu háoito anos.

– Isso não torna a situação menosreal.

– Eu era apenas uma criança.– Você era mais uma mulher do que

uma criança.

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A boca dela ficou seca.– E isso pode ter acontecido há oito

anos, mas até onde posso ver essachama ainda está viva hoje. O desejo devocês dois ficou evidente na delegacia.

Oh, ótimo. Ótimo. Ela se colocou empé.

– Nós apenas passamos quatro diasjuntos. É tolice achar que isso pode serreal. Talvez seja apenas uma questão dehormônios.

– Essa é sem dúvida uma desculpaconveniente!

Ela engoliu a saliva lentamente antesde erguer a cabeça.

– Ele me traiu, Rick. Ele me usou.

– Oito anos atrás ele pensou que

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– Oito anos atrás ele pensou queestivesse protegendo-a. – Os lábios deleestremeceram. – Oito anos atrás eletambém teve dificuldade em manter asmãos longe de você. Mas ele o fez. Ele éum bom homem, Tash.

Ela também sabia disso. Tash sesentou na beirada do sofá.

– Você não disse do que tem medo –falou Rick.

Ela não queria dizer as palavras emvoz alta. Porém, não encarar os fatosnão ajudava. Ela tinha aprendido essalição quando estava com 8 anos. Tashinspirou fundo e esperou que sua vozfosse soar forte e estável.

– Temo que Mitch e eu estejamos

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– Temo que Mitch e eu estejamoscaindo em algum tipo derelacionamento quente e pesado e... Eque vamos terminar despedaçando umao outro, destruindo um ao outro. –Assim como a mãe e o pai dela. Como amãe e o pai de Mitch.

– E ainda assim você ainda não querse afastar?

Os ombros dela se curvaram.– É loucura, não acha?– Você não quer se afastar porque

pensa que pode haver algo que valha apena ser explorado, mas você tambémnão quer que seus corações fiquemdespedaçados no processo. – Elemeneou a cabeça. – Isso não é loucura.

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– Ele se remexeu na cadeira,endireitando-se levemente. – Então oque você quer é que Mitch dê a vocêsdois a chance de ver até onde as coisaspodem ir, ver como elas podem sedesenvolver?

– Ah, estou certa de que ele vaiquerer levar as coisas para o próximonível.

– Mas...?– Eu apenas não sei como isso vai ser

possível. Ele não confia em mim nemno meu julgamento.

– Apenas quer mantê-la segura.Ela pensou na mãe e teve que fechar

os olhos por um momento.

– Ele quer me colocar em uma gaiola,

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– Ele quer me colocar em uma gaiola,e eu não poderia suportar isso.

– Então você terá que fazê-loenxergar o que você precisa para serfeliz.

Lentamente ela assentiu com acabeça. Isso era exatamente o que elaprecisava fazer, mas... faria algumadiferença? Poderia ver por que ela nãopoderia viver o tipo de vida dele? Iriaao menos ouvi-la?

A compaixão nos olhos de Rickmexeu com ela.

– O que foi?– Por que está se escondendo da

verdade? Parece que isso não vai ajudara sua causa.

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Que verdade?– Continue – exigiu.– Tash, você amou o homem há oito

anos e o ama agora. Não estou certo deque algum dia você vá parar de amá-lo.

– Mas...– Mesmo que você tenha enterrado

isso por anos debaixo de uma sombrade mágoa e raiva.

Ela ficou tensa.– Nós não nos conhecemos o

bastante para nos amar.– Quem disse? Parece que o amor faz

suas próprias regras... Não me parecealgo lógico.

Rick estava certo? Ela amava Mitch?Sua boca ficou seca. Isso era loucura.

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Rick soltou uma risada áspera.– Quer saber o que é irônico em tudo

isso? Mesmo que Mitch decida quepode viver por suas regras e vocês doisdeclarem o amor que sentem um pelooutro, isso não garante que cada um devocês será feliz.

Ela sentiu um nó se formar em suagarganta.

– Minha mãe dizia que amava o meupai... – ele prosseguiu. – Mesmo que elanão fosse revelar a identidade dele...Mas não vejo que isso tenha trazidofelicidade ou alegria a ela. Por todo obairro há contos de infelicidade emágoa e...

– Isso não está ajudando, Rick! – Ela

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– Isso não está ajudando, Rick! – Elao interrompeu antes que ele pudessedeprimi-la ainda mais. – O amor nãopode ser de todo horrível. – Fulminou-o com o olhar, odiando o que eledissera, embora soubesse que eraverdade de alguma maneira.

– Você está certa. – Ele exibiu umlargo sorriso. – Lembra os Schmidts?

Tash exibiu um largo sorriso de voltapra ele. Os Schmidts tinham sido umcasal antigo que vivia em uma ruapróxima a de Tash quando ela estavacrescendo. Eles não tiveram filhos e elapodia ver agora que isso provavelmentetinha sido uma fonte de grande tristezapara eles. Talvez fosse por isso que

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tinham encorajado as crianças do bairroa entrar em sua casa para apreciar leitee biscoitos frequentemente. Aquelebolo austríaco de chocolate da sra.Schmidt era o melhor.

– Não tente fazer aquele boloamanhã, Tash. De verdade. Isso écomplicado.

Bom conselho. Embora talvez Mitchpudesse mostrar a ela como fazer issoum dia. Se as coisas dessem certo.

Se.– A sra. Schmidt me disse uma vez

que o sr. Schmidt era o único homemcom quem ela esteve durante toda avida. Eles se casaram quando ela tinha18 anos, e ele 22. Ela disse se sentia

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feliz todos os dias por ter se casado comele. Isso foi no 45º aniversário decasamento.

Rick cruzou as pernas e fitou opróprio pé.

– O sr. Schmidt me disse que amelhor parte do dia dele era entrar emcasa depois de um dia de trabalho e vera sra. Schmidt. Eles se amavam e eramfelizes. Isso funciona para algumaspessoas.

Então qual era o segredo deles? Eladirigiu o olhar para Rick.

– Você já se apaixonou alguma vez?Ele meneou a cabeça.– Você não quer, não é?

– Parece mais uma inconveniência se

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– Parece mais uma inconveniência sevocê me perguntar.

Havia muita verdade naqueladeclaração. Mas... ela inspirouprofundamente.

– Acho que se você conseguir fazercom que dê certo isso pode ser a melhorcoisa da sua vida.

– É um grande se, Tash.O coração dela, que tinha começado

a ficar leve, voltou a ficar pesadonovamente. Ela assentiu com a cabeça.Parecia um grande se para ela e Mitch.

Rick se ergueu da cadeira.– Vou assistir ao jogo de críquete

desta noite. Espero me encontrar comalguns colegas. Você quer ir?

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Ela negou com a cabeça.– Há algumas coisas que quero fazer

por aqui. Divirta-se.Rick deixou Tash fitando a silenciosa

sala de estar e soltando um pesadosuspiro. Tash queria descobrir se ela eMitch poderiam ser felizes juntos.

Ela se deitou no sofá e revirou osolhos.

– Isso será fácil. – Ela apanhou o livrode receitas. Primeiro as coisasimportantes. Tash escolheu um bolopara assar para o dia seguinte. Talvez,uma vez que isso estivesse feito, elavoltasse a pensar nos assuntos maiscomplicados.

De fato, ela poderia fazer o bolo hoje.

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De fato, ela poderia fazer o bolo hoje.Havia comprado todos os tipos deingredientes exóticos mais cedo. Elapoderia assá-lo hoje e congelá-lo no diaseguinte.

Tash fitou uma receita. Bolo delaranja com glacê de limão.

Ótimo. Ela iria fazer esse.Tash apanhou os ingredientes. Ela

pré-aqueceu o forno e untou a fôrma.Começou a fazer o creme e bater comforça.

E foi quando uma ideia lhe surgiu.Ela se sentou enquanto mexia a

massa.Mitch queria protegê-la de todo o

mal... de qualquer coisa que pudesse

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magoá-la ou prejudicá-la. Isso eraimpossível. Ele tinha que saber disso.Era apenas o fato de ele considerar oestilo de vida dela mais perigoso do queo da maioria. Ele pensou que o trabalhodela fosse colocá-la em situaçõesperigosas. E se ela mostrasse a ele, oconvencesse, de que não precisava deproteção? E se ela pudesse provar queestava tão segura quanto qualquer outrapessoa? Ela poderia dizer tudo isso, masele não iria acreditar nela. Mas se elevisse isso em ação...

Isso aliviaria a mente dele? Iriaacalmar as dúvidas e os medos dele?

Ele poderia ser feliz em umrelacionamento com ela então?

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Valia a pena tentar, não valia?Tash se ergueu. Ela voltou a bater a

massa com vigor até a mistura ficar levee fofa, até a pulsação em sua garganta eas batidas do seu coração acalmarempara que ela pudesse respirarnovamente.

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CAPÍTULO 9

TASH ANDOU de um lado para o outroda sala de estar… para a frente e paratrás… e fez uma oração silenciosa paraque Rick, de acordo com a palavra dele,tivesse desaparecido mais cedo nessamanhã e não estivesse prestes a emergirdo quarto de hóspedes paratestemunhar sua agitação. Ela deveriatê-lo ouvido partir, mas tinha dormidoaté os passarinhos começarem a cantar.

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O que, é claro, significava que ela haviadormido demais.

Tash enxugou as mãos no short eajustou a camiseta. Depois, percorreu oolhar ao redor. Ela havia congelado obolo. Parecia bom. Ela até mesmocolocara granulado no topo. Havialavado os pratos. A mesa estavaarranjada com pratos e guardanapos. Ocafé estava fervendo em sua novacafeteira.

Não havia mais nada a fazer além deesperar.

Esperar nunca foi tão entedianteantes. Ela voltou a andar de um ladopara o outro.

Você também nunca lutou pelos

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Você também nunca lutou pelosdesejos do seu coração antes.

Ela uniu as mãos. Bem observado.E depois ela ouviu o carro de Mitch

parar na frente da casa e seu coraçãocomeçou a bater descontrolado. Elainspirou profundamente. Tashcaminhou através do corredor nomesmo momento em que Mitchentrava pela varanda. Eles fitaram umao outro através da porta de vidro. Oumelhor, devoraram um ao outro.Quando ela alcançou a fechadura,destrancou a porta e a abriu.

– Entre.– Obrigado.

Ele inclinou-se para beijá-la, mas ela

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Ele inclinou-se para beijá-la, mas elarecuou um passo.

Seus olhos se estreitaram. Ela engoliuem seco.

– Não quero nublar as cosas ao...– Um beijo vai nublar as coisas? Eu

pensei que isso fosse deixá-las muitoclara.

Por um momento ela foi tentada,seriamente tentada, a fazer da maneiradele... A cair na cama juntos agora econversar depois.

Oh, continue!Ela recuou mais um passo.– Você disse que precisávamos

conversar. Então, está bem, vamos

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conversar. Se você apenas veio aquipara...

Ele pressionou um dedo nos lábiosdela.

– Não diga isso – avisou.Ela o encarou e assentiu com a

cabeça. Tinha que parar de ser tãoespinhosa se essa conversa estivesseindo para algum lugar.

Ele retirou o dedo.– Eu quero conversar.– Ótimo. – Ela enxugou as mãos no

short. – Isso é bom.E então a puxou para mais perto e

beijou-lhe a bochecha. Seu calor aatingiu e sua essência a invadiu. E entãoa soltou. Respirando fundo, ela forçou-

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se a voltar à realidade, virou-se e guiouo caminho até a sala de estar.

Ele fitou a mesa e um canto de seuslábios se curvou.

– Você realmente fez um bolo?O começo daquele sorriso

desapareceu quando ele percorreu oolhar ao redor. Ela suprimiu umsuspiro.

– Sim, Rick está hospedado aqui, masele saiu no momento.

Mitch voltou a encará-la e seu olharera intenso demais. Ela fez o que pôdepara ignorar o julgamento nos olhosdele. Ela teve que tentar manter ocontrole da conversa ou iriam brigar emsegundos. Tash gesticulou para o bolo.

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– Comprei um livro de receitas. É umbolo de laranja com glacê de limão.

Ele engoliu em seco e assentiu com acabeça.

– Parece ótimo. Muito profissional.Eles ficaram se olhando por um

tempo antes de ela encontrar forçaspara se mover novamente. Ela colocou atampa de volta sobre o bolo e depoisserviu duas xícaras de café.

– Estive folheando o livro de receitase biscoitos ANZAC não parecem ser tãodifíceis de fazer. Posso tentar napróxima semana.

Ela estava tagarelando!– Tash, eu...

– Sente-se e coma um pedaço do

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– Sente-se e coma um pedaço dobolo, Mitch!

As palavras saíram dos lábios delacomo balas. Ela não poderia... não iria...dar a ele a chance de dizer alguma coisaque pudesse atingi-la.

Ele se sentou.Ela cortou e serviu o bolo.– Encarnei a sra. Schmidt enquanto

estava fazendo isso.– Sra… Quem?– Esqueça. – Tash tinha que parar de

tagarelar. – Você consegue fazer aquelebolo austríaco de chocolate?

– Isso está além da minha habilidadede cozinhar.

Ele ergueu o pedaço de bolo. Ela

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Ele ergueu o pedaço de bolo. Elaesperou até que ele desse uma mordida.Os olhos dele se alargaram. Ela tambémdeu uma mordida e...

Tash voltou a se sentar na cadeira eexibiu um largo sorriso.

– Deu certo!Ele sorriu de volta.– Você duvidou disso?– Claro que sim. Primeiro pensei que

fosse usar sal acidentalmente em vez deaçúcar e depois achei que tivessemexido demais a massa ou não obastante, então pensei que fossequeimar ou ficar cru. – Ficou séria. –Parece que muitas coisas podem darerradas quando fazemos um bolo.

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Ele também ficou sério e apontoupara o bolo.

– Mas nada deu errado. Você feztudo com perfeição. É uma cozinheiraextraordinária.

Ele deu mais uma mordida, mas nãosorriu. Colocou o bolo de volta noguardanapo.

– Tash...– Coma seu bolo, Mitch!Ele a encarou. Ela o encarou de volta.

Ele apanhou o bolo e continuoucomendo. Ambos limparam os dedosno guardanapo e tomaram o café.

Tash repousou a caneca na mesaprimeiro.

– Sei o que você veio dizer.

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Ele abriu a boca, mas ela ergueu umadas mãos.

– Sei que você pensa que podemosresolver nossos problemas, Mitch, quepodemos dar certo, mas não estou tãoconvencida.

Ele abriu a boca novamente.– Mas... – disse ela.Ele engoliu em seco.– Mas?– Isso não significa que pense que

não há nenhuma chance para nós dois.Os lábios dele se comprimiram. Ele

recostou-se na cadeira e cruzou osbraços.

– Isso é uma grande coisa vindo devocê.

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As mãos dela se cerraram em punho.Ele achava que isso era fácil para ela?

– Está deliberadamente tentandocomeçar uma briga?

Ele passou uma das mãos pelo rosto.– Não. – E então afastou a mão e

seus olhos faiscaram para ela. – Masquero que você admita que o quecompartilhamos foi mais do que sexo.

A boca dela ficou seca.– Foi mais do que sexo – conseguiu

dizer Tash.Algo no interior dele desatou... Ela

notou pela forma como os ombros delerelaxaram e a maneira como a colunadele estava curvada agora na cadeira. Eela não poderia ter explicado o porquê

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também, mas isso fez com que elasentisse uma dor.

Honestamente. Se quer que isso dêcerto...

O coração dela se contraiu.– Eu lhe dei a minha virgindade. Isso

significa alguma coisa.Mitch ergueu os olhos. Um brilho

triunfante iluminou seus olhos… umbrilho possessivo… que fez o coraçãodela bater mais forte e trouxe todos osmedos dela à superfície.

– Mas, Mitch, não posso viver damaneira que você quer.

– Podemos resolver isso!– Podemos? – gritou de volta para

ele. – Meus pais não poderiam. Seus

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pais não poderiam. O que o faz pensarque seremos diferentes?

Ele voltou a recostar as costas, pálido.– Isso foi um golpe baixo.Tash sentiu os olhos arderem.– Não deveria ser – sussurrou ela.

Mitch encontrou os olhos delanovamente. Ela ergueu um ombro. –Estou apenas expressando fatos.

– Você vê alguma solução nisso? –quis saber ela.

– Está com raiva, não está? –devolveu ele.

– É claro que estou com raiva! Sevocê tivesse deixado as coisas seguiremseu curso natural tudo ficaria claro esimples.

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– Ah, é mesmo? – Ela cruzou osbraços. – Bem, não concordo com você.

Ele se inclinou para mais perto.– E acho que poderia convencê-la a

permitir que me aproximasse.Tash tinha uma terrível sensação que

ele seria capaz de convencê-lafacilmente, mas...

Isso era muito importante para elesarruinarem!

– O que o faz pensar que você sabemais do que eu?

Ele piscou.Ela levou uma das mãos ao peito.– O que o faz pensar que você sabe

melhor sobre o que é certo para mim?Ele voltou a se recostar na cadeira.

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– Pelo bem do argumento –prosseguiu – digamos que vamos fazeramor bem aqui e agora.

O coração dela quase falhou quandoele lambeu os próprios lábios.

– Mas uma vez que tivermosterminado...

– E saciado.Ela teve que fechar os olhos e contar

até três.– Você vai ficar feliz que eu continue

morando nessa casa e trabalhando naRoyal Oak e vivendo a minha vida damaneira que quero? Ou você vaiesperar que eu desista de todas essascoisas apenas para lhe dar uma pazmental?

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Ele a encarou como se não soubesseo que dizer. E depois seu rostoescureceu.

– Está determinada a nos destruirantes que tenhamos uma chance dedesenvolver qualquer tipo derelacionamento?

– Não estou tentando nos destruir!Isso é o que quero prevenir! – Aspalavras deixaram os lábios dela em umgrito. Ela ergueu-se da cadeira. – Estoutentando descobrir se podemos darcerto! Estou tentando descobrir sepodemos ser felizes juntos ou se vamosterminar despedaçando o coração umdo outro. – Voltou a se sentar. – E tudoo que você está interessado é...

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Ele ergueu-se da cadeira.– Desculpe, eu…Ele fechou os olhos e respirou fundo.

Ela ansiava por alcançá-lo, envolver osbraços ao redor da cintura masculina edescansar a cabeça no ombro dele.

– Eu não queria bater na mesmatecla, mas... mas pensei que secontinuasse lembrando-a do quantosomos incríveis juntos...

Não era algo que ela iria se esquecer.Jamais.

– Tash, eu... estamos na mesmapágina. Eu juro.

Ela deixou escapar um suspiro.– Está bem, então.

Ele a encarou e assentiu com a

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Ele a encarou e assentiu com acabeça.

– Você tem um plano?– Mais ou menos. Eu estava

esperando que você fosse me dar umhoje. – Ela estreitou os olhos. – Masquero que você esteja aberto às coisasque vou lhe mostrar.

– O que você vai me mostrar?Iria mostrar a ele a sua vida.– Não vou lhe dar um itinerário do

dia. – Cruzou os braços. – Você vaidescobrir, e nesse meio tempo teráapenas que confiar em mim.

Ele exibiu um largo sorriso e elasentiu a pulsação acelerar.

– Feito.

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– Está bem. – Tash umedeceu oslábios e depois notou o desejo com queele os contemplava. Oh, querido Deus!Ela uniu as mãos. – Bem, venha então.Não há tempo a perder. – Se elaquisesse manter a sanidade e não beijá-lo, tinham que partir. Agora.

Tash apanhou os pratos e as canecase os colocou na pia antes de alcançar abolsa e ajustá-la no ombro. Elagesticulou para que ele a seguisseatravés do corredor e para fora da casa.Ela trancou a porta e o deixou passarpelos carros deles até a rua.

– Vamos caminhando – declarou decerta forma desnecessariamente, mas

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isso ajudou a aliviar o silêncio entreeles.

Tash gesticulou para que cruzassem osinal até um parque com árvores emesas de piquenique.

– No caminho vamos apenas pararpor um momento para dizer olá para oscavalheiros jogando xadrez.

– Eles ainda fazem isso?– Claro que sim. Alguns rostos nunca

mudaram durante os anos, massuponho que isso seja esperado. – Erauma tradição para a meia dúzia ou maisde homens aposentados na área que seencontravam no parque diariamente ejogavam xadrez e dominó.

Os homens a cumprimentaram antes

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Os homens a cumprimentaram antesque ela tivesse a chance de acenar.Houve gritos de “Olá, querida dama” eofertas de assentos, as quais elarecusou. Exigências foram feitas quantoao local onde ela estivera pelos últimosquatro dias.

– Apreciando o sol das minhas férias.– Isso foi o que o seu chefe nos disse

– Mario declarou, sorrindo de alegriapara ela. – Nós telefonamos para elepara descobrir o que havia acontecidocom você.

Ela estava ciente da tensão de Mitchao seu lado. Tash percorreu o olharatravés do grupo.

– Onde está Alfred?

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– Antoinette o fez pintar a parede dacozinha.

Isso a fez dar risada.– Quem é o seu jovem? – Nigel quis

saber.Ela não se importou em tentar

corrigi-los. Eles iriam pensar o quequisessem. Além do mais, ela esperavaque isso fosse verdade.

– Esse é meu amigo, Mitch King.Ela o empurrou para a frente e ele

trocou apertos de mão com os homens.Tash agarrou-lhe um dos braços.– Deixem-no, cavalheiros. Temos

que conversar, mas vejo vocês durante asemana.

Assim que tinham dado alguns

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Assim que tinham dado algunspassos, ela largou o braço dele. Eramuito difícil manter o bom sensoquando a tentação e o desejo abombardeavam.

– Espero que não tenha seimportado. Eu sabia que estariam seperguntando sobre mim. – Ela revirouos olhos. – Mesmo que tenha dito a elesque estava saindo de férias há umasemana.

Mitch a encarou.– Então por que tenho a sensação de

que o fato de passarmos por eles não foium acidente?

Ele não era estúpido; ela precisavaadmitir isso. Tash arregalou os olhos e

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ele balançou a cabeça com um meiosorriso.

– Grupo barulhento, não?– Sim – concordou. – Eu os chamo

de vigilantes do bairro.– Eles não seriam muito úteis se uma

briga acontecesse ou algo do tipo.– Talvez não, mas se pensassem que

algo parece suspeito iriam chamar acavalaria. E algumas vezes isso é osuficiente.

Ela podia sentir o ardor dos olhosdele, mas não se virou para encontrá-los.

– Próxima parada – anunciou,apontando.

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MITCH OLHOU para a entrada dacomunidade do lado oposto do parquee se perguntou o que Tash esperava queele visse ali.

Eles entraram no local e ele retirou osóculos escuros, piscando para ajustar osolhos à fraca iluminação. Espalhados afrente deles estava múltiplos grupos dedois em esteiras, parte em algum tipode exercício de artes marciais.

– Judô – disse.Antes que Mitch pudesse dizer

alguma coisa, ele se viu afastado deTash quando um grupo de quatrogarotas a cercaram. Alguém mostrouuma fita vermelha e ele se viu sorrindo.Tash uniu as mãos.

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– Está bem, meninas, em suasesteiras. Mostrem-me seus últimostreinos.

Ele se endireitou. Ela era umatreinadora?

Com um sorriso, Tash apontou parauma cadeira. Estava longe o bastantepara que ele não ficasse no caminho,mas perto o bastante para que tivesseuma visão das garotas... e da treinadora.

– Não tire os seus olhos de suaoponente, Lou. Casey, incline seujoelho um pouco mais. Ótimo. Jo,quero que você me mostre o quetreinou da última vez.

Ele se sentou ali, encantado.Encantado por Tash ter tamanha

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compreensão com essas adolescentes. Eencantado por ver que ela dominava adisciplina.

– Ela é uma de minhas melhoresalunas. Você deve ser o amigo que eladisse que iria trazer. Eu sou SimonFlatcher. Está interessado em aprendera arte?

Mitch ergueu-se e trocou um apertode mão com o homem que falava comele.

– Mitch King. Esse lugar é seu?Simon deu de ombros.– Administro uma escola de judô,

mas compartilhamos o hall dacomunidade com muitos outrosassociados.

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Mitch virou-se de volta para Tash eassentiu com a cabeça.

– Ela é boa.– Ela teria ganhado um título do

Estado se quisesse. – Simon deu deombros. – Mas ela não quer. Vocêdeveria vê-la em ação algum dia. Nasnoites de terça-feira, quando ela nãoestá trabalhando.

Ele guarda essa informação.– Está interessado, Mitch?Ah, ele estava interessado, mas

menos no esporte e mais na mulher.– Posso estar – disse ao outro

homem. – Estou apenas considerandominhas opções no momento.

Ele sabia o que Tash estava tentando

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Ele sabia o que Tash estava tentandodizer a ele: que o mundo dela era tãoseguro quanto o dele, que ela nãoprecisava de um protetor ou umdefensor. Seu coração bateu forte. Issoera bom, mas não mudava o fato de elaestar mais segura em um trabalho deescritório e vivendo em um subúrbiomelhor. Ela estaria muito mais segura seBradford não estivesse hospedado emsua casa. Mas nem mesmo essepensamento pôde fazê-lo desviar osolhos da figura segura e ágil dela. E seucoração continuava batendo forte.

TASH REPOUSOU um copo de cerveja nafrente de Mitch e outro para si mesma

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na mesa antes de subir em umbanquinho ao lado dele.

– Estou um pouco faminta, entãopedi algumas batatas com creme decebola e molho de pimenta doce paracompartilhar. Se estiver faminto possopedir um hambúrguer ou algo do tipo.

Ele meneou a cabeça. Não queriafalar sobre comida. Queria falar sobreela.

– Faz um longo tempo desde queestive aqui.

Eles estavam no Hotel Royal Oak... Opub de Tash.

Ele ergueu a cerveja até os lábios.– Você conhece cada pessoa aqui?

Ela nem mesmo percorreu o olhar ao

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Ela nem mesmo percorreu o olhar aoredor, apenas ergueu um ombro esorveu um gole da sua cerveja.

– Sim.– Quanto tempo você tem ensinado

judô para essas garotas?– Essas garotas em particular ou

ensinar judô em geral?Ele a fitou cegamente. Havia tanta

coisa que ele não sabia sobre essamulher. Ele a estivera tratando como agarota que ela fora havia oito anos emvez da mulher que ela se tornara.

E então ele se lembrou de fazer amorcom ela e ficou tenso. Na maioria dasvezes, ele corrigiu, remexendo-se em

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seu banquinho. Ele a havia tratadocomo uma garota na maioria das vezes.

– Rick me disse para aprender judôquando estava com 15 anos.

Mitch sentiu o estômago se apertarao ouvir o nome do homem.

– Ele conhece Simon e nós chegamosa um acordo. Eu não podia pagar aslições, mas chegaria cedo e arranjaria asesteiras e depois voltaria para guardartudo, varrer o chão para que ficasselimpo para o próximo grupo usar o halle esse tipo de coisa.

Rick poderia ter sido um bom amigopara ela uma vez, mas Mitch ainda nãoconfiava nele. Não que Rick fosse capazde fazer qualquer coisa a Tash

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enquanto a polícia o estivesseobservando tão de perto. Era apenas oúnico pensamento que mantinha Mitchsão.

– Simon me ensinou como evitar umgolpe, como cair para me machucarmenos. Quando fiquei pronta, ele meensinou a lutar.

Mitch a encarou.– Você não gosta de lutar?– Não! Você gosta?Bem, não, mas...– Odeio violência, mas saber como

lutar... não apenas como me defender,mas ser capaz de desarmar alguém...Isso faz com que me sinta poderosa e eugosto disso.

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Ele exibiu um largo sorriso.– Você é especial, sabia disso?– Uma das coisas mais úteis que

Simon me ensinou foi a ler a linguagemcorporal de um oponente. Isso tem sidoinestimável. Eu posso prevenir que umabriga aconteça antes de ela começar.

Ele não gostava do pensamento detê-la evitando brigas ali.

– Quando estava com 18 anos,progredi tanto que comecei a dar aulas.Aquelas garotas que você viu hoje nãopodem arcar com as taxas pelas classes,mas não peço nada a Simon por treiná-las.

– Você está fazendo isso de graça?

– De graça? – Ela sacudiu a cabeça

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– De graça? – Ela sacudiu a cabeçaem negativa. – Posso não estarganhando nenhum dinheiro disso, masnão é de graça. Estou dando a elas oque uma vez Simon me deu. E,esperançosamente, essas garotas vãoseguir o mesmo caminho. É umaresponsabilidade, um dever que precisaser preenchido, mas não é umaobrigação. Eu aprecio isso. Tirei muitaslições disso.

Nesse momento, Clarke, o chefe deTash, se aproximou deles.

– Nem pense sobre isso – disse antesque ele abrisse a boca. – Não vou ficaratrás do balcão por dez minutosenquanto você resolve qualquer

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problema urgente. Ainda estou deférias.

Clarke dirigiu o olhar para Mitch.– Viu com quem tenho que lidar?

Qualquer um iria pensar que ela é achefe e não eu. Não vou pedir que vocêtrabalhe nem mesmo por dez minutos...Mas tenho que contratar uma novafuncionária. É uma longa história. Vouvê-la na próxima semana. Mas acho quevocê sabe sobre ambas as pessoas queescolhi… E como você terá quetrabalhar com a pessoa que contratar,pensei que fosse gostar da informação.

– Ah.– Vim até aqui para perguntar se

você tem cinco minutos para dar uma

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olhada no apelo ou se confia no meujulgamento superior.

Tash revirou os olhos e depoisencarou Mitch.

– Você se importa...?– Vá em frente. – Esticou uma das

pernas. – Vou pedir um hambúrguer,estou faminto. Quer algum coisa?

– Não, obrigada. – Ela deu umsuspiro. – Não devo demorar.

Mitch a viu cruzar o bar com Clarke,seus olhos dançando nas coxasbronzeadas debaixo do short, e umsuspiro escapou. Ele voltou a atenção àmesa quando percebeu que doishomens tomavam assentos ao lado dele.

– Sou Pete, e esse é Mick.

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Ambos pareciam jogadores dehóquei.

Mitch se endireitou.– Mitch – disse. – Prazer em

conhecê-los. Há alguma coisa que possafazer por vocês?

– Tash nunca trouxe um homempara o pub antes – observou Pete.

– Mas ela é uma grande amiga nossa– disse Mick.

– E nós apenas queremos dizer que émelhor você tratá-la bem se é queentende o que estou dizendo.

Mitch fitou os dois homens e depoispercorreu o olhar ao redor do pub.Cada cliente ali os observava.

– Presumo que todos aqui se sentem

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– Presumo que todos aqui se sentemda mesma maneira sobre Tash?

– Está certo.– Fico feliz em saber disso. Tash é

uma boa garota. A melhor.Ele fitou o outro lado na direção de

Tash. Ela percorreu o olhar ao redorcomo se tivesse sentido o olhar dele edepois se endireitou e ergueu umasobrancelha. Ele meneou a cabeça paraavisá-la de que não precisava daintervenção dela.

– Não tenho intenção de fazer nada anão ser tratá-la bem.

Ambos os homens relaxaram como setivessem sentido a sinceridade dele. Eele era sincero.

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– Mas estou curioso. Por que estãotão felizes em defendê-la?

– Ela é uma de nós. – Mick ergueuum dos ombros. – Além do mais eladeu um emprego para o meu filho aquina época em que... Digamos apenas quefoi uma boa época. Eu sereieternamente grato a ela por isso.

Garotas adolescentes e garotos? Elaobviamente tinha uma riqueza detalentos escondidos. Ou talvez nãoestivessem tão escondidos e ele apenasnão os tinha visto antes.

– Ela me deu um belo conselho umavez – falou Pete. – Eu estive com muitosproblemas com o meu chefe na fábricade vidros. Eu estava perto de perder

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meu emprego. Tash conversou comigoe me impediu de fazer algo realmenteestúpido. Ela me deu um formuláriopara trabalhar em uma das fábricasautomotivas e me ajudou até quepreenchesse tudo. – Ele se endireitouna cadeira. – Eles me contrataram e... –Ele ergueu as mãos para cima como sejá tivesse dito tudo.

Tash voltou à mesa.– Está assustando o meu amigo,

Pete? – Acomodou-se em umbanquinho. Tash tinha uma graça que ofascinava. E uma vida que começava afasciná-lo também.

– Apenas estamos conhecendo-o,minha querida. – Apontou a cerveja na

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direção dos homens. – Até logo.Tash os viu partir e depois se virou

para encará-lo.– Tudo bem?– Sim.Os olhos dela se estreitaram, mas ela

não o desafiou. Em vez disso, falou:– Eu pedi um hambúrguer para você.– Obrigado.E, de modo bizarro, dado a todos os

pensamentos que surgiam em suamente, a conversa prosseguiu. Elescomeram o almoço, Tash contou a elehistórias engraçadas sobre incidentesque haviam acontecido no pub e ele seviu contando histórias engraçadas sobreseu tempo no treinamento de polícia.

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Eles riram. Muito. Isso o lembrou dequando andou de caiaque com ela.

E de quando fizeram amor.Ele deu o seu melhor para não

insistir nessa parte.A conversa terminou, e o silêncio

reinou. Ainda havia muitas coisas nãoditas entre eles. Tash dirigiu o olharpara ele e perdeu a graça casual deantes. Os dedos de suas mãos seentrelaçaram e o rosto dela pareceuficar tenso.

Ele fez isso com ela.Ele!O peito de Mitch estava apertado. O

que o faz pensar que você sabe melhoras coisas do que eu?

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– Tive que conversar com Rick ontemsobre amor.

Mitch sentiu a boca ficar seca.– Parece-me estranho que algo como

isso que deveria ser tão positivo... umaforça tão boa... pode ser tão ruim paraalgumas pessoas.

Como os pais dela. Como os paisdele.

– Parece que algumas pessoas quealegam se amar podem ser felizes juntasenquanto outras que clamam o mesmoapenas parecem destruir um ao outro.Eu estive tentando descobrir por queisso acontece.

Ela fez uma pausa, fitando...fulminando... a mesa.

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– Sabe, eu me importo com você,Mitch.

Tudo no interior dele pareceucongelar.

– Não sei o quanto ainda, mas é osuficiente para que não queira meafastar do que podemos ter apenasporque as coisas se tornaram maisdifíceis. Mas, qualquer que seja essesentimento entre nós, não querotransformar isso em algo destrutivo. Eusei que você também tem sentimentospor mim, mas não quero que se tornemdestrutivos também. Não quero quesejamos como nossos pais.

O estômago dele se apertou.

– Não cheguei a nenhuma conclusão

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– Não cheguei a nenhuma conclusãoreal sobre a diferença entrerelacionamentos bons e ruins, mas hojequero lhe mostrar as coisas que mefazem feliz, as coisas que preciso emminha vida... Minha comunidade,ensinar judô, meu emprego. Essascoisas são boas para mim. Se você asodeia, ou as vê como más influênciasentão você e eu vamos ter problemas.Grandes problemas.

– Não as odeio, Tash. – Ele sabia obastante agora para entender que elanão estava tentando afastá-lo. Eletentou forçar cada uma de suasinseguranças para um lado. Da mesmaforma que ela fizera.

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Ele respirou fundo e encontrou osolhos dela.

– O dia de hoje me mostrou a visãosuperficial que eu tinha da sua vida.Você faz um trabalho incrível e tembons amigos. Eu... eu sinto muito se ajulguei mal.

Ela se endireitou no banquinho e oencarou.

– Obrigada.Exceto...Ele ainda não confiava no hóspede

que estava em sua casa. Bradfordpoderia não estar na prisão, mas issonão o tornava inocente. Contudo,Mitch não disse isso em voz alta,

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porque ele não queria que brigassemnovamente.

– Você pode viver com o meu estilode vida?

– Facilmente. – Contanto que ele nãocontasse com Bradford na equação.

Tash se remexeu no banquinho.– Então a pergunta continua...Mitch ficou tenso.– Que pergunta? Prometo que nunca

vou pedir que mude de emprego ou dacasa onde mora.

Ela o encarou de volta e sorriu.– Acredito em você. Essa não é a

questão.Não era?Ela se inclinou na direção dele.

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– Mitch, o que você precisa para serfeliz?

Ela. A resposta veio depressa à suamente. Tudo o que ele precisava eradela. O instinto o preveniu de dizer aspalavras em voz alta. Ele não tinha odireito de apressá-la. Porém, jurou a simesmo que faria tudo o que estivesseao seu alcance para fazê-la feliz. Parafazê-la se sentir amada, estimada esegura e tudo o mais que ela precisasse.Para sempre.

Ele não iria apressá-la, mas ela aindaestava sentada ali à mesa com ele. Eladissera que se importava com ele. Mitchesticou uma das pernas e exibiu umlargo sorriso para ela.

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Ela se sentou um pouco mais reta,ajustou a camisa, mas sua pulsação atraiu. O calor o invadiu imediatamente.

– Gostaria que você visse à minhacasa... Onde eu moro – disse ele. –Quero ver seu rosto enquanto vocêanalisa minha cozinha. Tenho muitasferramentas modernas perfeitas paracozinhar.

Os lábios dela estremeceram.– Quero ver seu rosto enquanto você

verifica minha coleção de música emeus DVDs... Para ver se você podeviver com eles.

Ela umedeceu os lábios e ele sentiuvontade de beijá-la.

– Eu realmente quero preparar o

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– Eu realmente quero preparar ojantar para você esta noite. Queroassistir a um filme com você depois,ouvir um pouco de música talvez, tomarum pouco de brandy.

Ela engoliu em seco. Depois, deu deombros.

– Isso parece bom.E enquanto ela estava ali ele havia

mostrado a ela de todas as formas quepodia que eram feitos um para o outro.Mitch a havia convencido para ficarcom ele esta noite. Se iria ser na camadele ou no quarto de hóspedesdependia dela.

É claro, se ela ficasse no apartamentodele durante a noite, Bradford não

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poderia tocá-la. Ela estaria a salvo.Segura e amada como deveria ser.

E, no mínimo, ele teria o prazerinegável de acordar com ela na manhãseguinte. O nó no estômago deleafrouxou.

TASH SE esticou e suspirou, sentindo-sesaciada e sexy e quente. Ela abriu osolhos e virou a cabeça no travesseiropara observar Mitch.

Seu coração se expandiu até que elaachasse que era impossível que elepermanecesse dentro do peito.

A noite anterior tinha sido incrível,inacreditável. Um sorriso a iluminou.Talvez ela e Mitch não estivessem

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condenados afinal de contas. Talvez, selevassem as coisas devagar, poderiamfazer as coisas darem certo. Ela queriaisso com todo o seu ser porque...

Ela o amava.Tash mordiscou o lábio inferior e

meneou a cabeça levemente. Ela nãoiria pensar nessas palavras ainda,quanto mais dizê-las em voz alta. Eracedo demais.

Devagar. Eles iriam levar as coisasdevagar.

Os olhos de Mitch se abriram e osorriso que ele exibiu fez com que elaencolhesse os dedos dos pés.

– Bom dia, linda.

O coração dela disparou dentro do

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O coração dela disparou dentro dopeito.

– Bom dia.Ele se inclinou e plantou um beijo no

nariz dela e puxou-a para mais perto doseu corpo. Ela se aconchegou ao peitodele, alegrando-se com a sensação dacarne masculina e poderosa debaixo desuas mãos e bochecha.

Ele mordiscou-lhe o lóbulo de umaorelha.

– O que você tem planejado parahoje?

Ah...– Ainda não sei.– Excelente.

Tash quase sucumbiu ao sorriso dele

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Tash quase sucumbiu ao sorriso delee se ergueu para encostar a cabeça notravesseiro, levando o lençol. Ele olhouo lençol e um brilho iluminou seusolhos. Ah, como ela queria sucumbir aisso! Mas...

– Mas... – disse ela.O olhar dele encontrou o dela e ela

se inclinou para beijar-lhe uma dasbochechas para aliviar o ardor que suaspalavras pudessem trazer.

– Mas – ela repetiu – tenho umhóspede em casa e não vou desprezá-lo.

Ele ficou sério. Mitch não disse nada,mas a tensão nos ombros e boca diziamtudo o que ela precisava saber.

Tash limpou a garganta.

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– Se não tiver nenhum plano hoje, eugostaria...

Aqueles olhos azuis procuraram osdela.

– Sim?Tash puxou uma mecha do cabelo

para trás da orelha.– Nós evitamos o assunto de Rick

ontem.Ele a observou cuidadosamente.– Não queria brigar.– Eu também não. Contudo, está

óbvio que você ainda não confia nele.Ele manteve a boca fechada, o que,

ela refletiu, poderia ser algo sábio.Tash virou-se para encará-lo.– Gostaria que você conhecesse Rick.

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Mitch piscou.– Então se você não tiver outros

planos...– Não tenho outros planos.– Bem, então, talvez você pudesse

considerar a ideia de passar o diacomigo e com ele?

Mitch assentiu com a cabeça.– Certo. – Mas a expressão dele

continuou séria.Tash soltou um suspiro.– O dia de ontem o surpreendeu,

não é?Ele ergueu um dos ombros.– Sim.– Então você não pode estar aberto

ao fato de que Rick também possa

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surpreendê-lo?O rosto dele ganhou uma sombra

novamente.– Não duvido disso nem por um

momento.– Esqueça. – Ela se ergueu da cama.Mitch capturou-lhe um dos pulsos.– Eu disse que está tudo bem, certo?– Não, não está tudo bem! Você está

determinado a pensar o pior dele.– Quero que você me ouça por um

momento.Ela ficou tensa.– Vá em frente.– Quero que você fique longe dele

até que toda essa bagunça sejaesclarecida.

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Tash ficou boquiaberta. Ele nãopoderia estar falando sério, poderia?

– Depois disso ficarei feliz emconhecê-lo da forma que você quer.

Rick era o melhor amigo dela. Elenão merecia isso.

– Não!Mitch endureceu a mandíbula e ela

afastou o braço que ele mantinha preso.– Confio em Rick com a minha vida.

E, como você observou outro dia... Nãosou uma idiota. Por que não aceitaminha palavra quando digo que Ricknão está por trás desses crimes? Por quevocê nem mesmo considera isso?

– Porque pelo que posso ver, Tash,acho que o seu julgamento nesse

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assunto está nublado.– Então esse é um problema seu, não

meu! E retiro o convite que fiz maiscedo. Não quero passar o dia com vocêresmungando e agindo como um tipoidiota de cão de guarda.

Ela se afastou da cama.– Vou tomar um banho.Quando retornou ao quarto, Mitch

ainda estava na cama... Na posiçãoexata que ela o havia deixado.

– Posso vê-la hoje à noite? – indagouno momento em que os olhos delaencontraram os seus.

Tash colocou a camisa para dentrodo short.

– Eu... Não. – Ela levou as mãos aos

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– Eu... Não. – Ela levou as mãos aosquadris. – Como você pensa que isso vaifuncionar se você não confia em mim...Se você não me ouve?

Mitch ficou tenso.– Você apenas precisa dar um tempo

a nós dois. Vamos conseguir fazer comque dê certo.

Será que o tempo realmente iria fazeralguma diferença? Ela abriu a boca, maso telefone tocou. Tash gesticulou paraque ele atendesse.

Mas não importava o que a outrapessoa tivesse dito para ele, isso fez comque agisse imediatamente.

– Certo. – Mitch desligou o telefone,saiu da cama e começou a vestir um

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jeans. Tash fez o seu melhor para nãose distrair com as linhas longas epoderosas do corpo dele.

Ele se virou para encará-la uma vezque estava vestido.

– Talvez possamos finalmente deixarisso para trás de nós. Rick acabou de serpreso por uma acusação de ataque.Ataque contra uma mulher.

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CAPÍTULO 10

ATAQUE CONTRA uma mulher? Rick?Tash sentiu o sangue congelar nas

veias. Será que Mitch não podia ver?– Alguém está tentando armar uma

cilada para ele!– Não quero desiludi-la ou magoá-la,

Tash, mas quanto mais cedo esse véucair dos seus olhos, melhor.

Ele não iria nem mesmo considerar aposição dela. Sua mandíbula ficou

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apertada.Ela não iria se importar em discutir

com ele. Não fazia sentido.– Você vai para a delegacia?– Sim.– Eu gostaria de ir com você.Mitch sacudiu a cabeça em negativa.– Vou deixá-la em casa.Ótimo.Não conversaram durante os dez

minutos de carro até a casa dela. Eleestacionou na frente da casa, masdeixou o motor ligado. Tash saiu doveículo.

– Eu telefono – disse ele.Ela baixou a cabeça para fitar dentro

do carro.

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– Não se preocupe. Você e eu, Mitch,não temos mais nada para conversar.

O rosto dele escureceu.Ela ergueu o queixo.– Há uma coisa que você poderá

gostar de pensar, oficial King.Ele a encarou de volta, seu rosto tão

rígido quanto uma pedra.– Em breve você vai perceber que

Rick não é culpado desses crimes.Quando isso acontecer, vai voltar suamente para quem realmente possa ser oresponsável, porque até eles serempegos eu ainda estou em perigo.

Ele piscou, cético.– Quanto mais cedo eu puder provar

a você o quanto Bradford é ruim, mais

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cedo poderemos deixar essa bobagempara trás.

Tash bateu a porta e se afastou. Elanão viu o carro dele enquanto seafastava. Em vez disso, subiu os degrausda frente e praticamente arrombou aporta. Praguejando, ela jogou a bolsa demão no quarto, despreocupada sobreonde pudesse cair. De fato, elapraguejou durante todo o percursodentro de casa. Café. Ela precisava deum café... quente e forte. Tash encheua cafeteira com água. Alcançou umacaneca.

– Olá, Tash.Cada pelo dos seus braços se ergueu

em uma rígida atenção. Bem

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lentamente ela se virou.Cheryl O’Hara estava sentada na

cadeira oposta, com as pernas cruzadase apontando uma arma para o peito deTash.

– Faz um tempo. – Ela vestiu umsorriso jocoso no rosto.

Tash engoliu em seco e assentiu coma cabeça.

– Faz.Mas não tanto tempo até onde Tash

sabia.Subitamente Tash teve que lutar

contra um terrível cansaço.O café ficou pronto.– Café?

– Não, obrigada. Isso não é uma

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– Não, obrigada. Isso não é umavisita social, Tash.

– Percebi isso, mas tive uma manhãdifícil. Você se importa se eu tomar umcafé?

– Nem um pouco. Espero queprecisemos de calma antes datempestade.

As palavras de Cheryl a acalmaram.Ela tomou o café. Durante todo otempo ela manteve o olho em Cheryl,preparando-se para agir caso a mulherfizesse um súbito movimento. Não queela estivesse certa de que ação pudessetomar. Cheryl tinha uma arma, porDeus!

– Então? – Tash fingiu um momento

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– Então? – Tash fingiu um momentode alegria. – É você quem está por trásda violência e não Rick?

– Os policiais são uns idiotas.– Você não vai conseguir qualquer

argumento sobre isso. – Ah, mas umdeles poderia fazer amor como umanjo. Eu sinto muito, Mitch. Por que elanão tinha dito a ele que o amavaquando teve a chance? Tudo ficavaclaro agora. Ela não se importava seargumentassem sobre a mesma coisa acada semana desde agora até aeternidade. Seria melhor do que nuncavê-lo novamente. Idiota! Tinha sidouma idiota.

Tash curvou os dedos ao redor da

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Tash curvou os dedos ao redor dacaneca e recostou um dos quadriscontra o balcão da cozinha.

– Eu deveria ter percebido antes quevocê era a responsável por tudo isso. –Ela meneou a cabeça. – Isso nunca meocorreu.

Ela estivera muito ocupada pensandoem Mitch.

– Você demorou pra perceber.E agora ela iria pagar por isso. Tash

tentou abafar o medo que subiu à suagarganta e quase a fez engasgar. Elaprecisava manter a cabeça erguida seesperava sair dessa ilesa. E viva.

Ela dirigiu o olhar para a armaequilibrada negligentemente nas mãos

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de Cheryl e depois franziu o cenho. Elase inclinou para mais perto do banco afim de dar uma boa olhada na arma.Gentilmente, Cheryl ergueu o revólverpara que Tash pudesse ver.

– Cheryl, é uma arma de chumbo.– Aham.Ela franziu o cenho.– Você vai me matar com uma arma

de chumbo? – Levar um tiro de umaarma de chumbo iria machucá-la, masnão iria matá-la. Nem mesmo de perto.

– Ah, não. – Cheryl exibiu umsorriso. – Não vou matá-la.

Tash tentou não se curvar de alívio.– Vou apenas fazer uma cicatriz

nesse seu rosto bonito para que

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nenhum homem queira olhar para vocênovamente.

E então ela apontou a arma para orosto de Tash.

MITCH ESTACIONOU o carro a cincoquadras da casa de Tash. Ele se sentou,o motor em marcha lenta, em um ladoda estrada, tamborilando os dedoscontra o volante.

Confiança nunca foi um ponto forteentre nós dois, não é?

Ela poderia dizer isso novamente.Você vai voltar sua mente para quem

realmente possa ser o responsável,porque até eles serem pegos eu aindaestou em perigo.

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Ele afastou o muro de dor que ocercava, seu treinamento policial inatovindo à tona. O detetive Glastonburydissera a ele que havia 95 por cento decerteza de que Bradford era oresponsável por essa onda de violência,e não havia como negar que a prova,embora atualmente circunstancial, eraconvincente, mas...

Isso ainda deixava 5 por cento dechance para o erro.

Com um xingamento, Mitch virou ocarro para a outra direção. Cinco porcento era uma possibilidade pequena,mas ele deveria ter escoltado Tash até acasa dela para se assegurar de que tudoestivesse bem em vez de ter saído com o

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carro em uma onda de ciúme. Umresmungo de frustração saiu dos lábiosdele. Seu profissionalismo o haviaabandonado pela duração dessaoperação inteira.

Mitch parou a duas casas de distânciada casa de Tash. Nada parecia estar forade lugar. Ele ignorou a porta da frentepara entrar pela porta dos fundos dacasa. Mitch parou quando ouviu vozes.Tash estava ao telefone?

Ele ouviu com atenção e seus lábiosse comprimiram e cada músculo do seucorpo ficou tenso. Haviadefinitivamente duas vozes. É claro,poderia ser uma vizinha ou uma amiga.

Cinco por cento? A probabilidade era

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Cinco por cento? A probabilidade erapequena, mas desta vez ele não iria searriscar. Mitch continuou contornandoa casa.

Um olhar para a fechadura na portados fundos e ele suprimiu umxingamento. Havia sido arrombada.Quem quer que fosse a companhia deTash, certamente não era uma amigadela.

Ele dirigiu o olhar para a fechaduraoutra vez. Droga! Ela tinha asfechaduras mais frágeis que ele já vira.Mitch entrou pela porta dos fundos emuma pequena sala de estar. Eleespreitou através da fechadura da portae seu sangue congelou. Uma mulher

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tinha uma arma apontada para Tash.Uma mulher que estava de costas paraele, e ele teve que sufocar cada instintode entrar ali como um touro bravo. Issoiria apenas piorar as coisas.

Ele pressionou as costas contra aparede. Tentou desacelerar as batidasdo coração, clarear a névoa queameaçava descer sobre ele.

Tash. Arma.Sem chance! Ninguém iria machucar

Tash. Respire. Pense!O ruído de potes e panelas o

interrompeu.– O que você pensa que está

fazendo? – gritou a mulher

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desconhecida. Ele franziu o cenho.Conhecia aquela voz.

– Tive o pior dia da história domundo, Cheryl.

Cheryl?Cheryl O’Hara?E um grande número de eventos

subitamente surgiu em sua mente. Ricknão era o traficante. Ele fechou osolhos. A festa tinha sido na casa deCheryl. Traços de maconha tinham sidoencontrados com Cheryl. Mas Ricktinha dito que as drogas eram dele! Elesabe mais sobre amizade do que vocêjamais vai saber. Mitch abriu os olhosnovamente, seus lábios secomprimindo. Por que Rick iria

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defender Cheryl? Por que queriaprotegê-la? O que Cheryl tinha com elee Tash?

– Você não vai atirar em mim até eutomar o meu café da manhã.

Os ombros dele ficaram tensos e osolhos se estreitaram. Ninguém iriaatirar em ninguém. Mitch dirigiu oolhar para a porta para ver Tashquebrando ovos em uma frigideira.

– São dez horas, boneca. Você aindanão teve tempo de ter um dia ruim.

Tash colocou pão na torradeira.– O que é isso... O talento e a

sabedoria de Cheryl O’Hara?Por Deus, Tash, não a deixe nervosa!Mas Cheryl apenas deu risada.

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– Aham. Então onde você estavaontem à noite?

Tash remexeu os ovos com aespátula.

– No apartamento de Mitch King.Lembra-se dele? Oficial Mitchell King?

O pão saltou na torradeira. Tashconversava como se... como se nadaestivesse acontecendo. Ele a admirava,mas...

Mas o quê? Ela estava ganhandotempo, puro e simples.

– Garota, você ainda tem uma quedapor ele?

Tash colocou os ovos sobre a torrada.– Parece que sim. – Ela ergueu um

prato. – Quer um pouco?

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Bela ideia, ele aplaudiu, mas nãofuncionou. Cheryl gesticulou com umadas mãos no ar e a arma balançouperigosamente.

– Aquele homem arruinou tudo nopassado! Não posso acreditar em você!

Ele se preparou para se lançar emcima de Cheryl. Não seria o ideal, masele não iria dar a ela uma chance de eladar um tiro na mulher que ele amava.

Ele desejou que tivesse dito isso a elanessa manhã... na noite anterior e nessamanhã.

– Você dormiu com ele?– Sim.A arma parou de balançar, o cano

apontado para o chão, e ele deixou

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escapar um suspiro. A melhor coisa quepoderia acontecer seria se eleconseguisse entrar na cozinha e seposicionasse atrás da cadeira de Cheryl,onde iria simplesmente desarmá-la eimobilizá-la.

– Você é uma fracassada. Aquelehomem brincou com você como umidiota quando estávamos no colegial.

– Pelo menos não fui estúpida obastante para ser pega com drogas.

– Sou eu que estou com a arma!Ele ouviu o som de talheres e viu

encantado quando Tash ergueu umagarfada da torrada à boca e comeu. Elaencontrou o olhar dele por um

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momento. Ele piscou. Quando ela haviapercebido que ele estava ali?

– Ouvi sobre o seu pai, Cheryl. Eusinto muito.

Cheryl jogou a cabeça para trás.– Ele era um miserável. – As mãos

dela estremeceram.Tudo no interior de Mitch congelou.

Era por isso que Rick e Tash tinhamfeito tudo em seu poder para protegerCheryl. A bile subiu à sua garganta. Aspessoas que deveriam ter protegidoCheryl não protegeram. Isso ficou porconta dos amigos dela para quefizessem o que pudessem. E então elecometeu um erro estúpido com a suaatitude e...

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Pense nisso depois!– Então presumo que você ainda

tenha uma queda por Rick? – indagouTash.

– Nós fomos feitos um para o outro!Somos almas gêmeas. E ele iria perceberisso se apenas outra mulher o deixassesozinho!

Mitch entrou na sala e se escondeuna sombra de uma estante epermaneceu imóvel.

Cheryl começou a se virar, como setivesse sentido alguma coisa.

– Se você me machucar vou meassegurar de que Rick nunca a perdoe.

Cheryl congelou antes de se virarpara Tash.

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– Se você me der uma cicatriz, mecegar, vou me assegurar de que ele sesinta tão culpado que vai ficar aqui paracuidar de mim. Se me machucar dequalquer maneira, vou me assegurar deque você nunca tenha uma chance comele. Nunca. Você me ouviu?

Cheryl se colocou em pé.– Sou eu que ele ama, não você!Tash deu de ombros.– Acho que posso convencê-lo a

pensar de outra maneira. Posso lembrarque você é a pobrezinha da Cheryl eque ele não deve tirar vantagem devocê.

– Sua vadia!

– Que tipo de chance você acha que

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– Que tipo de chance você acha quevai ter com ele então?

Foi quando Mitch viu Tash ergueruma espátula e ele se lembrou dafirmeza com que ela podia arremessaruma pedra em uma lata de refrigerantena praia, com sua mira fatal.

– Eu mudei de ideia. – A voz deCheryl soou alta e trêmula.

Ele dirigiu o olhar para a espátula eentão Tash assentiu com a cabeça.

– Vou matá-la e depois vou...Isso não vai acontecer.– Agora! – gritou ele, saindo do lugar

em que estava escondido. Tash lançou aespátula como um foguete e o objetoacertou Cheryl, que começou a oscilar.

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Ele avançou um passo, apanhou a armada mão dela antes que ela soubesse oque ele estava prestes a fazer, mas nãoantes de ela arranhar-lhe o rostoenquanto lutava freneticamente paraencontrar os olhos dele. Com umxingamento, ele girou-lhe o corpo eempurrou-lhe o rosto contra o chão,um joelho no meio das costas dela.Mitch deslizou a arma para a porta dosfundos e para longe do perigo antes deagarrar um dos braços de Cheryl eforçá-lo para trás. Ela gritou de dor.

– Fique parada – ordenou.Tash tocou-lhe o ombro.– Não a machuque, Mitch. Ela não

está bem.

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Ele afrouxou a mão que mantinhaCheryl presa, mas apenas uma fração.Mitch apanhou algemas e depois aprendeu contra a cadeira. Ele queriagritar com ela, dizer que ela era louca,mas ela começou a chorar.

Realmente chorar.Tash o expulsou para um lado e

sentou-se no braço da cadeira eenxugou o rosto de Cheryl com umlenço.

– Cheryl, por que você tem que levaras coisas tão longe?

A empatia dela o encantou. Umminuto atrás essa mulher estiveraapontando uma arma para ela!

– Eu tenho que conquistá-lo –

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– Eu tenho que conquistá-lo –soluçou.

– Mesmo que isso a transforme emum coelho assustado?

Mais soluços.– Mesmo que isso a transforme em

uma pessoa igual ao seu pai?Os soluços de Cheryl pararam, como

se as palavras de Tash a tivessemcurado. O rosto dela ficou pálido eMitch se assustou.

– Não sou como ele – sussurrou.– Como você chama o ato de

machucar pessoas para conseguir o quequer? Como você chama quando quertentar forçar alguém a amá-la?

Cheryl meneou a cabeça.

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– Não. Não!Tash colocou as mãos uma de cada

lado do rosto de Cheryl e forçou-a aencará-la.

– Rick a ama como amiga, mas elenunca vai amá-la mais do que isso. Éhora de encarar a verdade e deixá-losozinho, da forma que o seu pai deveriatê-la deixado quando você pediu.

O rosto de Cheryl se enrugou.O coração de Mitch se apertou e sua

mente ameaçou explodir.Tash tocou-lhe um dos braços.– Você está bem?Ele assentiu com um gesto de cabeça.

Mas… as coisas poderiam terterminado de forma diferente hoje. Se

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tivessem, isso teria sido culpa dele. Tashpoderia estar machucada. Ou pior.Uma sombra escura se acomodou sobreos seus ombros, ofuscando a claridadedo dia. Ele descansou as mãos nosjoelhos e se concentrou em respirar.

– Tash, suas fechaduras são terríveis,sabia disso? Você precisa melhorar suasegurança em casa.

Isso não mudava o fato de ele terestragado tudo. Rick era inocente. Ricksempre fora inocente. Tash tentou dizerisso a ele, mas ele se recusou a ouvir.

Ele estivera tão certo e isso poderiater causado a morte dela. O ácidoqueimava sua língua e estômago.

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Confiança. Ele se recusara a confiarnela. Ele a havia traído. Novamente.

O TIME do detetive Glastonbury chegouà casa e levou Cheryl. Mitch notou apalidez estampada no rosto de Tash etocou-lhe um dos braços.

– Você está bem?Ela percorreu o olhar ao redor.– Eles já foram?Ele assentiu com um gesto de cabeça.– Não sei como vamos resolver tudo,

Mitch, mas o amo. – Ela se atirou nosbraços dele e se agarrou a ele. – Tenteitransformar esse amor em algo racionale lógico que possa controlar, mas não éassim, é?

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Ele envolveu os braços ao redor delae enterrou o rosto em seu cabelo macio.

– Não – concordou ele. – Não éracional ou lógico. Mas poderoso.

Mitch não podia acreditar que atinha em seus braços e que ela estavasegura.

Os braços dela se apertaram ao redordele.

– Quando vi Cheryl com aquela armao primeiro pensamento que tive foi... euqueria ter dito a ele que o amava.

– Pensei exatamente a mesma coisa.– Ele a afastou levemente para fitar-lheo rosto. – Queria dizer ontem que aamava... e na noite anterior... e nessamanhã, mas tinha medo de assustá-la.

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Tash assentiu com a cabeça.– Nada como um susto real para

colocar isso em perspectiva, hum?– Por Deus, Tash! – Deixou escapar

um suspiro. – Essa é uma forma decolocar isso.

Ela engoliu em seco.– É que... eu pensei que se fôssemos

devagar... Teríamos uma chance melhorde sucesso.

Ele se livrou dos braços dela e sevirou para o outro lado.

– Sucesso? – Voltou a encará-la. –Estraguei tudo, Tash. Tudo! Vocêpoderia ter se machucado. Ou pior.

– Isso não é culpa sua. Você não éresponsável pela loucura de Cheryl.

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Você voltou para se assegurar de queestivesse segura, não foi?

– Sim, mas...– Nós salvamos o dia, não salvamos?Ele ficou tenso e um brilho cintilou

em seus olhos.– Nós formamos um belo time.Ela assentiu com a cabeça.Mitch moveu-se para mais perto dela

e tocou-lhe o rosto.– Sinto muito por não ter acreditado

em você sobre Rick. Tudo o que eupodia pensar era em mantê-la a salvo.Porque se alguma coisa acontecesse avocê...

Ele não conseguia terminar essasentença. Tash cobriu-lhe o rosto com

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as mãos.– Estou segura. Agora. Graças a você.Mitch respirou fundo.– Prometo a você que vou

pessoalmente ver se Rick está limpo.Não apenas desses crimes, mas dasacusações de drogas também.

– Obrigada.– Não posso acreditar que me permiti

ser tão cego pelo preconceito.– Não posso acreditar que me permiti

ser tão cega pelo medo.Ele encontrou o olhar dela

novamente e o rosto dela ficou aindamais sério. Tash o liberou e se sentouno sofá.

– Ainda estou assustada – disse Tash.

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– Ainda estou assustada – disse Tash.– Não quanto a Cheryl – acrescentouantes que ele pudesse tranquilizá-la. –Sobre nós dois. Nós nos amamos, mascomo poderemos fazer com que isso dêcerto?

Ele se moveu para mais perto dela etomou-lhe uma das mãos.

– Quero que isso dê certo.– Eu também.Querer e fazer acontecer eram duas

coisas diferentes.– Ambos vimos muita coisa do lado

escuro da vida para acreditarmos emcontos de fadas, não é?

Tash concordou com um gesto decabeça, mas isso não a impediu de

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querer um conto de fadas com cadafibra do seu ser.

– Certo... – Ele se virou para encará-la. – Vamos esclarecer as coisas.

Ela piscou. E depois viu a sabedoriadisso.

– Sim. – Tash assentiu com a cabeça.– Nós evitamos os assuntos mais difíceispor muito tempo.

– Você quer começar?Ela respirou fundo.– Era disso que o dia de ontem se

tratou. Você mentiu quando disse quepoderia viver com a forma como levo aminha vida.

– Não. Eu tinha entendido tudoerrado. A vida que você leva é valiosa e

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importante. Você está certa em terorgulho disso.

Tash deixou escapar um longosuspiro.

– Certo, sua vez.Ele friccionou a nuca com uma das

mãos.– Meu trabalho é importante para

mim.Ela já sabia disso.– É uma vocação, não um emprego.

Embora sinta como se estivessecontribuindo com algo maior e melhordo que eu.

– Não tenho um problema com o seutrabalho, Mitch.

– Nem mesmo se eu tiver que

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– Nem mesmo se eu tiver queprender um dos clientes regulares doRoyal Oak de quem você seja fã?

Ela ficou em silêncio por ummomento.

– Isso já aconteceu antes. Todos osclientes do pub conhecem asconsequências de serem pegosinfringindo a lei. Eu odeio quandoalguém assume esse risco, mas nãoposso controlar as atitudes das pessoasmais do que você. Você tem umtrabalho a fazer. Eu entendo que issonão seja pessoal.

Um pouco da tensão deixou osombros dele e ela subitamente percebeuum dos medos dele.

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– Eu nunca iria tentar usar minhainfluência com você para que você setornasse cego em relação a algo que nãodeveria.

Mitch a encarou por um longomomento. Finalmente ele assentiu coma cabeça.

– Acredito em você.Ambos deixaram escapar um suspiro.– Sei que sua comunidade aqui é

importante para você, Tash, mas e se eufor transferido para outro Estado?

Certo, certo. Ela voltou a se sentar. Epensou muito.

– Contanto que eu ainda pudessetrabalhar e continuar com o meu judôou alguma outra forma de arte marcial,

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poderia viver em outro lugar. Porém,gostaria de voltar para visitar algunsamigos meus e gostaria de convidá-lospara me visitarem também.

Ele se inclinou na direção dela.– Você mudaria por mim?Ela nunca se sentiu mais nua em

toda a sua vida.– Sim – sussurrou.Ele a encarou como se ela fosse a

coisa mais incrível que ele já tivessevisto na vida. E depois ele se sentou nosofá.

– Do que estou falando? Se você nãoquisesse se mudar, não iria mudar. Eu...

Ele se interrompeu e suas mãos seapertaram. Por trás do brilhante azul

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dos olhos dele ela podia ver que amente dele estava a mil. Sua boca ficouseca.

– Mitch?Ele se virou para encará-la.– O segredo sobre o amor que você

esteve procurando, Tash?Ela se inclinou na direção dele.– Eu achei que tivesse descoberto.– Diga – ordenou.– Isso não vai soar romântico –

avisou.– Eu não me importo! – Ela apenas

queria a verdade.– Respeito – disse ele.– Respeito – repetiu ela.

Ele assentiu com a cabeça com

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Ele assentiu com a cabeça comveemência.

– Respeito.Eles se encararam por um longo

momento. Ela se remexeu no sofá.– Certo, deixe-me me assegurar de

que estejamos na mesma página quantoa essa palavra. Respeito... – faloulentamente – é ouvir quando você mediz que a minha casa precisa de umamelhora no sistema de segurança.

– Respeito é quando luto contra omeu desejo de prendê-la para mantê-lasegura porque sei que você é umapessoa que valoriza a independência,faz uma contribuição valorosa para a

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sociedade e tem todo o direito de vivera vida que escolher.

Ela queria se sentar no colo dele eentão se perder em meio a beijoscalorosos.

Sua pele latejava, seus dedos doíam ecada célula do seu corpo queriaalcançá-lo. Contudo, ela se ergueu dosofá e se afastou para longe dele.

Ele franziu o cenho.– Tash?Seu coração batia tão forte que ela

teve que pressionar uma das mãoscontra o peito. Ela não queria sepermitir ter esperança, mas agora tudoestava à tona. Ela não poderia fazer

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nada contra a onda quente e fria quealternava em seu interior.

– Está me dizendo que você prometeme respeitar?

– Sim! – Ele se colocou em pé. –Tash, eu a amo! Sei que prometerrespeitá-la não é romântico. Mas issosignifica que sempre vou levar suaspreocupações, seu bem-estar, sua saúdee seus desejos a sério. Meus pais não serespeitavam. Seu pai não respeitou suamãe. Eu acredito que se respeitamosum ao outro... – Ele se interrompeu. –Está chorando?

– Não! – Um soluço escapou doslábios dela. – E você está errado. Essa é

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coisa mais maravilhosa e romântica quejá ouvi.

Em dois passos ele estava ali, com osbraços ao redor dela e insinuando seucaminho entre as coxas femininas. Ele aencarou.

– Você está falando sério?Tash assentiu com um gesto de

cabeça.– Eu a amo e quero dar essa chance a

nós dois, Tash.– Eu o amo e quero que você me

beije.Ele o fez. De uma forma intensa e

doce que tocou a alma dela e fez comque os dedos dos seus pés seencolhessem.

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Por fim eles se separaram, ambosrespirando com dificuldade.

– Vamos levar as coisas devagar –disse. – Do jeito que você queria quelevássemos.

– Está bem – sussurrou ela.Ele franziu o cenho.– O que exatamente você quer dizer

com levar as coisas devagar?Ela sorriu. Jogou a cabeça para trás e

rui de alegria.– Isso significa que não vamos morar

juntos por pelo menos seis meses.Ele comprimiu os lábios.– Poderá haver pernoites?– Estou contando com isso.

– Devagar? Certo. Não vou pedir que

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– Devagar? Certo. Não vou pedir quevocê se case comigo por doze meses.

– E uma vez que estivermos casadosgostaria de esperar um ano ou maisantes de termos filhos.

Ele sorriu. Ela sorriu de volta,lançando os braços ao redor do pescoçodele.

– Quero saborear cada momento denosso relacionamento. – Ela acreditavanisso agora... acreditava neles. De almae coração. Ela e Mitch poderiam fazeras coisas darem certo porque amavamum ao outro e queriam o que eramelhor um para o outro.

– Quero saborear cada dia que tiver asorte suficiente para estar com você.

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Ela tocou-lhe o rosto, espantada peloquanto o amava... E pelo amor que viarefletido nos olhos dele.

– Mitch?Ele pressionou um longo beijo em

um lado do pescoço dela e ela arqueouo corpo contra o dele.

– Humm...?Tash tentou se lembrar de como

respirar.– Quando você me pedir em

casamento, poderá fazer isso na cabana?Ele se afastou levemente para sorrir

para ela.– O que você quiser – prometeu ele,

seus lábios encontrando os delanovamente.

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Tash o beijou de volta, dizendo a eleem uma linguagem que não precisavade palavras que ela já tinha tudo o quequeria.

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Michelle Douglas

DESPERTANDO APAIXÃO

TraduçãoRafael Bonaldi

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– Princesa... – escapou dele, commuito desejo.

Nell se aproximou, olhando para seuslábios. Rick segurou o queixo dela e oergueu, sentindo tanta necessidade debeijá-la que achou que iria cair dejoelhos. O desejo corria como fogo pelasveias dele. Os olhos dela brilhavam.

Com lágrimas.– Não se atreva a me beijar por

piedade.Nell não se moveu, e Rick soube que

ela estava tão presa pelo desejo quantoele.

– Por favor, Rick, não me beije só por

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– Por favor, Rick, não me beije só porter dó de mim.

Contra a própria vontade, ele asoltou. Rick engoliu em seco duas vezesantes de falar.

– Piedade era a última coisa que eutinha em mente.

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CAPÍTULO 1

RICK BRADFORD olhou para a elegantemansão vitoriana diante dele e depoispara o bilhete em sua mão, antes deamassá-lo e enfiá-lo no bolso do jeans.

Ele checara com a amiga Tash antes.– Tem certeza que é o endereço

certo? Nell Smythe-Whittaker telefonoue perguntou se eu não podia passar lá?

– Pela décima vez, Rick, sim! Foi aprincesa que ligou. E não, ela não

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mencionou o motivo. E não, eu nãoperguntei.

Durante a noite anterior, o cérebrode Tash sofrera uma overdose de amor.Ele franziu os lábios. Não que eletivesse algo contra Mitch King, e eraótimo ver Tash feliz, mas, até onde elesabia, a experiência de vida da amiganão era lá grande coisa. E por que elanão perguntara à princesa qual era oassunto?

Pois ela estava vendo o mundo porlentes coloridas. Ele franziu um poucomais os lábios. Ele não tinha certeza seaguentaria ser a vela no mundinho felize entorpecido de Tash e Mitch pormuito tempo. Era hora de seguir em

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frente. No dia seguinte ele iria para acosta, encontraria trabalho em outrolugar e...

E o quê?Ele ergueu um ombro.Primeiro, ele iria descobrir o que Nell

Smythe-Whittaker queria. Você não vaidescobrir nada parado como um imbecildiante da porta.

Expirando longamente, ele cobriu-secom um manto de confiança casual equase insolente. As pessoas do mundode Nell – o que incluía a própria Nell,provavelmente – costumavam olhar decima para pessoas como ele, e Rick nãotinha intenção de dar a eles, ou a ela, a

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satisfação de pensar que ele ligava parao que eles pensavam.

Será que Nell olharia de cima donariz empinado para ele? Ele não falavacom ela desde que tinham 10 anos.Podia contar as vezes que a vira desdeentão – e mesmo assim, a distância. Elesnunca conversavam, mas ela sempreerguia a mão, em sinal dereconhecimento. E Rick sempre acenavade volta.

E a sensação nunca parecia real. Dealguma forma, parecia algo fora darotina diária. Ele passou a mão pelorosto. Estúpido! Contos de fadas! Eleestava velho demais para essas besteiras.

Você tem apenas 25.

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É? Bem, na maioria dos dias elesentia ter 50 anos.

Cerrando os dentes, ele abriu oportão e caminhou até o amplo terraçocom seu xadrez de azulejos nas corescreme e ocre. Com muita força devontade, ele diminuiu os passos até umcaminhar sossegado e plantou umsorriso descompromissado no rosto.

De perto, podia ver que o castelopomposo de Nell precisava de algunscuidados. A tinta descascava dos caibrosdas janelas e das paredes, aqui e ali.Uma parte da calha pendia em umângulo incomum e a maior parte dogramado do jardim estava grandedemais, malcuidado. Em vários pontos

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ele percebia o brilho metálico deembalagens de chocolate ao sol.

Então... os rumores eramverdadeiros. A princesa estava passandopor um momento difícil.

Ignorando a campainha que ele nãobotava fé que funcionaria, ele ergueu amão e estava prestes a bater na portaornamentada quando vozes vindas dasjanelas francesas semiabertas em outraparte mais adiante do terraçochamaram a atenção dele. As palavrasnão pairavam simplesmente no arquente do verão. Elas voavam.

– Você não terá outra oportunidadecomo essa, Nell!

Uma voz masculina. Uma voz

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Uma voz masculina. Uma vozmasculina irritada. Os músculos de Rickse retesaram, prontos para entrar emação. Ele odiava valentões e, maisainda, homens que brigavam commulheres. Esgueirou-se para perto dasjanelas.

– Você é um projeto de homemdesprezível, sr. Withers.

Ele parou. A voz dela não tinhamedo, apenas nojo. Ela obviamentepodia lidar com a situação sozinha.

– Você sabe que essa é a únicaresposta para a sua situação atual.

– É mesmo? E suponho que seja umacoincidência essa solução específicatambém encher os seus bolsos?

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– Nenhum banco de Sydney vaiconsiderar o empréstimo de que vocêprecisa. Eles não tocarão seu plano denegócios nem com uma vara.

– Uma vez que você não é gerente debanco e eu não tenho mais fé em seuprofissionalismo, o senhor terá quedesculpar meu ceticismo.

Rick sorriu.Isso aí, princesa!– Seu pai não ficará feliz.– É verdade. Mas isso também não é

da sua conta.– Você está desperdiçando seus

talentos limitados. – Houve um silêncio.– Você é uma mulher muito bonita.

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Nós formaríamos um bom time, você eeu, Nellie.

Nellie?– Fique onde você está, sr. Withers.

Não quero que me beije.Rick ergueu-se, instantaneamente

alerta.No instante seguinte ele ouviu um

tapa, seguido por sons de passosarrastados. Rick foi em direção àsjanelas, mas elas se abriram antes e eleprecisou se colar contra a parede dacasa. Ele então viu Nell carregar umhomem de terno lustroso até o portão,puxando-o pela orelha.

– Tenha um bom-dia, sr. Withers.

O homem ajeitou o terno e

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O homem ajeitou o terno eendireitou os ombros. Rick aproximou-se de Nell, com um sorriso. Ele cruzouos braços, flexionando os bíceps.

O homem exibiu um sorrisinho queRick pagaria para poder arrancar dorosto dele... só que ele não era mais essetipo de pessoa.

– Então, você é durona. É assim quevocê gosta?

– Sr. Withers, temo que isso o senhornunca descobrirá. – Ela olhou para tráse encontrou os olhos de Rick, verdes...lindos. – Olá, sr. Bradford.

A voz dela o envolveu como umacarícia.

– Olá, princesa. – Ele não quis

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– Olá, princesa. – Ele não quischamá-la assim; a palavra simplesmenteescapou. Seus olhos se arregalaram e acontinuaram encarando até o fôlegovoltar para a garganta dele.

– Bem, não pense que esse seucomportamento vai salvá-la da sua atualsituação...

– Oh, fique quieto, seu homenzinhonojento.

Então Rick a observou com maiscuidado, e o que viu o deixou confuso.Nell parecia ter acabado de sair de umfilme dos anos 50. Ela usava um vestidoque chamava a atenção de cada impulsomasculino no corpo dele. Tinha umcorpete cinturado e uma saia que

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chegava até os tornozelos. A estampaera havaiana, completa com surfistas nomar, areia e palmeiras.

– O sr. Bradford é dez vezes maishomem do que você e ainda por cimapossui modos, como um verdadeirocavalheiro.

Ele tinha? Rick balançou a cabeça.Eles estavam em páginas diferentes.

Sem dizer outra palavra, ela virou-see segurou o braço dele.

– Estou muito contente por você tervindo. – Ela então o levou para oterraço, ignorando com sucesso o outrohomem. – Sinto muitíssimo. Eu entrariacom você pela porta da frente, nãoquero que pense que você terá o mesmo

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tratamento que aquele outro, mas nãoconsigo abrir aquela maldita velharia.Por favor, não repare na bagunça.

Ela o levou pelas janelas francesas atéuma sala grande – uma sala de estar, deestudos ou música, algo do tipo. O quequer que fosse, não era o tipo de lugarcom que ele estava acostumado e,apesar das palavras dela, o local nãoestava ridiculamente bagunçado. Haviapilhas a esmo de caixas e papéis portodos os lados, e a única mobília na salaera uma mesinha de canto.

– Por que você não consegue abrir aporta? – Ele soltou o braço do dela. Ocalor dela era... quente demais.

– Ah, eu não sei. – Ela fez um gesto

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– Ah, eu não sei. – Ela fez um gestocom a mão no ar. – Ela está emperrada,ou enferrujada, ou algo do tipo.

Por que ela não mandava alguém daruma olhada nela?

Não é da sua conta. Ele ficou pertodas janelas francesas até ouvir obarulho do portão se fechando. Eleolhou para trás, para ter certeza de queo homem havia saído, e então voltou-separa Nell.

– O que foi aquilo?Aqueles olhos verdes pegaram fogo

novamente.– Ele é um corretor que quer vender

minha casa, só que não estouinteressada. De várias formas! Ele

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mostrou-se ser um sujeito sexista,também. Estou avisando, sr. Bradford,se tentar algum dos mesmos truquesque ele, você receberá o mesmotratamento!

Ela era uma espoleta, loura e esguia,em um vestido retrô. Ele queria rir. Masdepois, a vontade passou.

O fogo nos olhos dela se apagou. Elaergueu a mão como se fosse passá-lapelo rosto, mas então a abaixou ejuntou as duas com elegância diante docorpo.

Ela estava tão diferente da última vezem que ele a vira.

– Desculpe, o que eu disse foihorrível. Meu sangue está fervendo, e

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não estou pensando direito.– Está tudo bem – disse ele, pois era

tudo que ele sempre dizia para asmulheres.

Nell balançou a cabeça.– Não, não está. Não tenho o direito

de julgá-lo da mesma estirpe que o sr.Withers.

Foi então que ele percebeu que portrás daquela perfeição loura havialinhas de cansaço ao redor dos olhos eque ela não estava usando batom.

– Eu prefiro que você me chame deRick.

O esboço de um sorriso brincou noslábios dela.

– Aceita um café, Rick?

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E assim, do nada, ela o levou para 15anos atrás. Venha brincar. Não forauma ordem nem um pedido, mas umasúplica.

Ele precisou engolir em seco. Elequeria sair por aquelas janelas francesase nunca mais voltar. Ele queria...

Ele se recompôs.– Achei que você nunca ia perguntar.Ela sorriu de verdade, desta vez, um

sorriso que alcançou os olhos dela.– Venha, então. – Ela inclinou a

cabeça e o levou por um corredor. –Você não se importa se sentarmos nacozinha em vez de na sala de visitas, seimporta?

– De forma alguma. – Ele tentava

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– De forma alguma. – Ele tentavamanter o tom seco longe da voz. Ele erao tipo de homem que nunca eraconvidado para a sala de visitas.

Os ombros dela ficaram tensos, e elesoube que ela lera o seu tom. Ela girounos calcanhares e o levou na direçãooposta, para a porta da frente. Elagesticulou para a grande sala àesquerda.

– Como pode ver, a sala de visitasestá em bom estado.

Ele pretendia olhar apenas para asala, mas não pôde deixar de reparar noque havia ali: provavelmente mobíliasob os lençóis empoeirados, e parte dogesso de uma das paredes havia caído,

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deixando um buraco que ninguém seimportou de consertar. Um tapeteenrolado se encontrava encostado emoutra parede, junto com mais caixas depapelão. A luz entrando pela imensajanela tampouco favorecia o lugar. Sonsde arranhões soavam da lareira.Pássaros ou um gambá?

Ele sorriu.– Em bom estado é, hã, o termo

correto.– Sim, é por isso que atualmente eu

prefiro a cozinha.A voz dela podia ser ríspida, mas seus

ombros estavam rijos e eretos. Ele aseguiu até a cozinha, que tampoucoestava em boas condições. Os

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empregados obviamente haviadesertado, mas há quanto tempo sóDeus sabia. Uma pilha de louça suja –uma mistura de tigelas e assadeiras,basicamente – acumulava-se na pia,caixas de alimentos dominavam umcanto da imensa mesa de madeira,enquanto o resto parecia estarpolvilhado de farinha. Entretanto, ocheiro ali era bom.

Ela limpou um espaço para ele sesentar. Ele o fez com cuidado, pois nãoqueria mandar nada pelos ares com ocotovelo ou um movimento desajeitado.Nell movia-se pela bagunça comfacilidade e um desprezo casual, comose estivesse acostumada. Por um

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instante ele não acreditou. A princesacrescera em um mundo onde os outroslimpavam a bagunça que ela deixavapara trás e mantinha tudo organizado.Aquela atitude era um mero vislumbreda polidez natural dela.

Ou artificial, dependendo de comoalguém visse. Ela não a tinha aos 10anos, mas os pais dela eventualmente ahaviam ensinado.

O cheiro do café lhe atingiu emcheio, e ele o sorveu lentamente.

– Então... você está de mudança?Nell o encarou como se tivesse se

esquecido que ele estava ali. Ela lhelançou um daqueles sorrisos quietos.

– Mudança para cá.

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Para cá? Sozinha? Para essa grandemansão vazia?

Não é da sua conta.Ele torceu os lábios. Desde quando

ele conseguia resistir a uma dama emperigo? Ou, neste caso, uma princesaem perigo.

– O que está acontecendo, Nell?Ela se voltou e o encarou de frente,

cruzando os braços.– Mesmo?Ele não tinha certeza a que esse

mesmo se referia: se ao genuínointeresse dele ou se ao fato de ele terfeito uma pergunta pessoal. Elelembrou-se da insolência descolada edeu de ombros.

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– Mesmo.Ela colocou uma caneca diante dele.

Só depois que Rick se serviu de leite ede duas colheres de açúcar foi que sesentou diante dele com a própriacaneca. A anfitriã perfeita. A princesaperfeita.

– Sinto muito. Estou tão acostumadacom todos sabendo dos meusproblemas que sua pergunta me pegoude surpresa.

– Eu voltei para a cidade na noitepassada. – E os dois naquela mesavinham de mundos diferentes, mesmotendo crescido no mesmo subúrbio.

Mesmo em meio a todo o desesperoe a bagunça, ela brilhava como se fosse

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feita de ouro. Ele? Ele desaparecia emmeio ao cenário.

– Ouvi dizer – aventurou-se ele –que seu pai teve sérios problemas.

Ela comprimiu os lábios.– E quase levou consigo a fonte de

renda de centenas de pessoas.Ela estava se referindo aos

trabalhadores da fábrica de vidro? Elaestava na família Smythe-Whittakerhavia três gerações. Tash contou comoeles estavam preocupados na época emque a fábrica estava para fechar, que odesemprego na área iria aumentar.Mas...

– Fiquei sabendo também queapareceu um comprador de última

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hora.– Sim. Não graças ao meu pai.– A crise financeira mundial afetou

drasticamente muita gente.– É verdade. – Ele não sabia por que,

mas amava a maneira com que elaenunciava cada sílaba. – Porém, em vezde encarar os fatos, meu pai demoroutanto para agir que a venda da fábricanão cobriu todas as contas. Tive queceder tudo que tinha.

Ai.– Mas eu me recuso a vender a casa

dos Whittaker.A avó deixara a propriedade para

Nell, em vez de para o pai?Interessante.

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– Mas você deu todo o seu dinheiro aele?

Ela descansou os cotovelos na mesa eencarou o fundo da caneca.

– Não todo. Eu já tinha gastado umtanto iniciando meu próprio negócio. Sebem que, para ser bastante franca comvocê, Rick, nunca pareceu ser o meudinheiro. Além disso, como eu nuncafui a filha que meu pai quis, me pareceua coisa certa a fazer.

– Mas você ainda está brava com ele?Ela riu, e ele gostou da maneira como

os lábios dela se curvaram de maneirasedutora. Lábios que não precisavam debatom.

– Estou. E como todos por aqui já

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– Estou. E como todos por aqui jásabem o motivo, eu vou compartilhá-locom você, moço durão.

Ele inclinou-se na direção dela,intrigado.

– Além do fato de ele não ter tido odireito de brincar com o dinheiro dostrabalhadores, a primeira solução delefoi me casar com Jeremy Delaney.

O queixo dele caiu.– Jesus, Nell, os Delaneys rolam na

grana, mas não é bem um segredo queele é... – Ele deu de ombros. TalvezNell não soubesse.

– Gay? Eu sei. Não entendo por queele se recusa a ter orgulho disso.Suspeito que ele ainda tema o pai.

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– E você se recusou a se casar comele?

– Claro que me recusei.Ele lembrou-se da maneira com que

ela havia enxotado o corretor e sorriu.– Claro que você recusou.– Então, meu pai exigiu que eu

vendesse a casa.Não era uma casa, era uma mansão.

Mas ele se deteve antes de salientarisso.

– E você se recusou a fazer isso,também?

Ela ergueu o queixo.– Como todos sabem, eu passei para

ele meu pequeno apartamento nocentro da cidade. Passei para ele meu

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carro esporte e o que sobrou do meudinheiro, mas não vou vender a casa. –Os olhos dela faiscavam.

Ele ergueu as mãos.– É justo. Não estou sugerindo que

você deva vender. Mas, caramba, Nell,como você vai se manter sem umcentavo?

A chama nos olhos dela se apagou, eos cantos dos lábios murcharam. Então,ele viu Nell recobrar o ânimo.

– Cupcakes – anunciou ela, com oqueixo naquele ângulo.

– Cupcakes? – Ela endoidara?Em um movimento fluido ela se

levantou e pegou um prato antes de

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tirar a tampa de uma travessa queestava ali próxima.

– Morango e creme, delícia demaracujá, creme de limão e caramelocrocante. – A cada designação elaretirou uma criação incrível atrás daoutra e as colocou sobre o prato, e dealguma forma a cozinha bagunçadatransformou-se em... uma terra dossonhos, em uma festa de aniversário.

Ela pôs o prato diante dele com umfloreio, e tudo que ele conseguiu fazerfoi encarar com deslumbramento osquatro cupcakes mais lindos que já virana vida.

– Eu faço torres de cupcakes e bolospara eventos especiais em qualquer

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sabor ou cobertura, na cor que o clientequiser. Forneço cupcakes em dúziaspara aniversários, chás, e festas defirmas. Faço até embalagens especiaiscom caixinhas chiques e sininhos... oupelo menos laços e glitter, dependendodo que o cliente quiser.

Ele encarou os bolinhos no prato edepois olhou para a montanha depratos na pia.

– Você os fez? Você?A surpresa dele não a ofendia.– Sim.A princesa podia cozinhar?Ela apontou com a cabeça para os

docinhos e lhe entregou um pratinhode sobremesa e um guardanapo.

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– Sirva-se.Ela estava falando sério? Ninguém

oferecia tesouros de dar água na bocacomo aqueles para caras como ele.Caras como ele fingiam indiferençapara qualquer coisa coberta por cremeou glacê, como se comer doces fosse umsinal sério de fraqueza.

Mas não parou para pensar. Rickpegou o cupcake mais próximo, umaconfecção de cobertura amarela-claracom um triângulo de limãocaramelizado por cima, espetado emum ângulo inusitado, e então parou. Eleofereceu o prato primeiro a ela.

Ela olhou para o relógio e balançou acabeça.

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– Só posso depois das 15h, e aindasão 14h.

– Essa me parece uma regra estúpida.– Você não entende. Eu os acho

viciantes. Para o bem do meu quadril,das minhas coxas e da minha saúde emgeral, precisei me impor alguns limites.

Ele riu e deu uma mordida.A maciez do bolinho, a avalanche de

doçura e toque do limão lhe atingiramde uma vez. Ele fechou os olhos etentou guardar a memória dassensações, e tudo dentro dele se abriu.Na cadeia, ele ocasionalmente tentavase afastar de todo o horror ao imaginaralguma experiência sensorial do mundoexterno. Coisas pequenas como o vento

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no rosto enquanto descia uma colina deskate, a sensação de nadar no mar, ocheiro da sebe e dos eucaliptos noParque Nacional. Ele teria acrescentadoo gosto dos cupcakes da princesa, se ostivesse conhecido nessa época.

Ele terminou o cupcake e encaroucom fome o prato. Ela se importaria seele comesse outro?

RICK ENCARAVA os três cupcakesremanescentes com tanta fome no olharque algo dentro dela se contraiu.Começou como uma ardência sutil nopeito, mas que se intensificou e sealojou no estômago. Uma coisa era terpena de si mesma pela situação

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deplorável em que se encontrava, masoutra era ver o mundo como um lugarfeio e ruim como Rick via. E é melhornão se esquecer disso.

Ela engoliu em seco antes de falar.– Termine com eles. Foi o que

sobrou de um pedido que entregueimais cedo, hoje.

Ele olhou para ela, incerto. Chegaraali com aquela insolência perfeita debad boy, naquela camiseta preta, masera apenas um show, uma fachada,como o sorriso dela de garota da altasociedade. Ainda assim... ela olhou paraaqueles ombros largos e sua bocasalivou.

Nell então voltou para a realidade.

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Nell então voltou para a realidade.Ela não achava atraente aquele jeito derapaz durão.

Ele empurrou o prato, e por algummotivo o coração dela ficou pesado.

– Como... quando você aprendeu acozinhar?

Ela não queria falar sobre isso.Quando ela pensava demais nas coisasque era boa em fazer – cozinhar ejardinar – e nos motivos por trás deles,se sentia patética demais.

E ela não ia mais ser patética.Ela então colocou o melhor sorriso de

garota da sociedade no rosto – o que elausara nos vários eventos beneficentesaos quais se sentia obrigada a

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comparecer, mesmo que isso a honrassede alguma forma.

– Aparentemente tenho uma aptidãonatural. – Ela deu de ombros, demaneira elegante, como ensaiarainterminavelmente com a mãe. – Quemdiria? Estou tão surpresa quanto osoutros.

Ele a encarou, e ela descobriu queera impossível ler a expressão dele. Elanotou apenas que o sorriso insolentevoltara.

– A que horas você começou acozinhar hoje?

– Três horas.Ele bateu os dois pés no chão e

inclinou-se na direção dela, com a boca

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aberta.– É domingo, e sábados e domingos

são meus dias mais atarefados. Hojetenho que fazer uma torre de bolo parao aniversário de uma menina, quatrodúzias de cupcakes para um almoço decaridade, um chá de despedida desolteira e alguns chás menores à tarde.

– Você fez tudo isso sozinha?Ela tentou não deixar que o espanto

dele a chateasse. Em alguns dias, elatambém ficava admirada.

Ele olhou para a cozinha ao seuredor.

– Acho que isso a deixa com asemana toda para cuidar da bagunça.

Ah, ele era como todo mundo! Ele

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Ah, ele era como todo mundo! Eleachava que ela era uma esnobeimprestável sem cérebro nem força devontade, e provavelmente semintegridade moral, também. Você éinútil.

Ela endireitou os ombros.– Eu acho – começou ela, artificial

como um adoçante – que tudo o que eupreciso é encontrar um homem grandee forte, com músculos e conhecimentona área... e de preferência com um potede ouro no banco... para ter na palmada minha mão e... – Ela concluiu comum dar de ombros dos grandes. Seuvocabulário de gestos era vasto.

Os olhos dele brilharam.

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– E então você nunca mais terá quecozinhar de novo na vida?

– Ah, mas você não sabe de umacoisa. Eu gosto de fazer cupcakes.

– E de levantar às 3h?Ela ignorou essa parte.Ele franziu o cenho.– É por isso que você queria me ver?Ela levou um tempo para entender o

que ele queria dizer. Quando entendeu,riu.

– Acho que você possui os músculos,mas e os conhecimentos na área? – Elanão perguntou do pote de ouro. Issoseria crueldade. – Eu acho que não. –Ela impediu um suspiro. Nada de

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autopiedade. – Mas não, não foi por issoque pedi para você passar aqui.

– Se você sabia que estou ficando nacasa de Tash, por que não foi lá vocêmesma?

Ela ouviu o que ele não disse. Porque você se acha melhor do que eu?Acontece que ela não achava. Porém,ele não acreditaria nisso. Ela umedeceuos lábios.

– Não acho que eu seria bem-vindalá. Acho que Tash não gosta muito demim.

Ele fez um careta.– Mas que diabos...?– Há um tempo atrás, eu fui até o

Royal Oak. – O hotel onde Tash

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trabalha. Nell estava sozinha e queriafazer amizade com as pessoas quesempre haviam evitado. Pelo amor deDeus, eles moravam todos na mesmavizinhança. Eles deveriam se conhecer.Ela teve cuidado para não demonstrarque estava mal. Nell tinha muita práticanisso, também.

Olha só você, sentindo pena de simesma mais uma vez.

Ela ergueu o queixo.– Eu pedi uma cerveja. Tash me

serviu uma limonada e falou que seriamelhor se eu bebesse logo e fosseembora.

Rick a encarou.

– E você encarou isso como um sinal

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– E você encarou isso como um sinalde que ela não gosta de você?

Ela não tinha facilidade em fazeramigos, e as recentes reviravoltas emsua vida serviram apenas paraconfirmar isso.

– Sim.– Princesa, eu...– Eu realmente gostaria que você não

me chamasse assim. – Ela nunca forauma princesa, apesar do que Rickpensava. – Prefiro Nell. E não hámotivo algum para Tash gostar de mim.– Dado o fato de que os pais de Nellnunca a deixaram se misturar com asoutras crianças da vizinhança, não erade se espantar que eles não gostassem

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dela e que tivessem levado essesentimento para a vida adulta.

Ele parecia querer discutir, então elacontinuou, séria, impessoal, intocável.

– Você se lembra do jardineiro quetrabalhou aqui por muitos anos?

Ele recostou-se, cruzando a perna.Apesar da pose casual, ela podia veralgo se mexendo na mente dele.

– Foi ele que me expulsou daquinaquele dia?

Aquele dia. Ela não sabia comoaquele dia podia ainda estar tão vívidona mente dele.

– Venha brincar. – Ela estendera amão pelas grades do portão de ferro dedois metros e meio de altura e Rick a

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segurara brevemente, antes de John oafugentar. Ele alegara que Rick não erao tipo de menino com o qual eladeveria brincar. Porém, ela encontrarauma imensa solidão recíproca nos olhosdo menino de 10 anos. Foi o que lhedera coragem para falar com ele, emprimeiro lugar. O engraçado é que,apesar de ele tê-la visitado apenas maisduas vezes, ela nunca mais se sentiratão sozinha.

Naquele dia, John lhe dera seupróprio espaço no jardim. Aquilotambém a fizera se sentir melhor.

Mas Rick também se lembravadaquele dia?

– Sim, foi John quem o afugentou.

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– John Cox. Lembro de tê-lo vistopor aí. Ele bebia no Crown and Anchor,se isso ajuda. Por quê?

– Você o conhecia bem?– Não sei se já cheguei a falar com

ele.– Certo. – Ela franziu o cenho.

Aquilo não fazia sentido.– Por quê? O que ele disse?– Nada. – Ela engoliu em seco. – Ele

morreu oito meses atrás. Câncer depulmão.

Rick não disse nada e, apesar de nãoter se movido, ela sentiu que todos osmúsculos dele se retesaram.

– John e eu éramos... bem, amigos,de certa forma. Eu gostava de

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jardinagem e ele me ensinou a plantar emanter um jardim.

– Cozinha e jardinagem? Sua lista detalentos é interminável, princesa?

Ela deveria estar imune à zombarianessa altura do campeonato, mas nãoestava. Deu de ombros de maneira acutucá-lo, da mesma forma que o“princesa” dele. Um dar de ombros desuperioridade, que dizia sou melhor quevocê. A mãe dela fora proficiente nessetipo.

Os lábios de Rick se curvaram.Ela jogou o cabelo por sobre o

ombro.– John era reservado. Ele não tinha

muitos amigos, então eu era uma das

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poucas pessoas que o visitavam nassemanas finais dele.

Rick abriu a boca. Ela ficou prontapara ouvir alguma coisa sarcástica, masele fechou-a boca rapidamente. Elarespirou aliviada. Apesar do que Rickpudesse pensar dela, Nell chorouquando John morreu. Ele sempre forabom para ela. E elogiara seus esforços.

– Nell?Ela voltou daqueles últimos dias que

John passara no hospital.– Se vocês dois nunca conversaram,

então o que vou te contar é meioestranho, mas...

– Mas?– John me pediu um último favor.

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– Que tipo de favor?– Ele queria que eu te entregasse

uma carta.Olhos castanhos escuros, da mesma

cor do chocolate, a encararam de volta.Oito por cento de cacau. Chocolateamargo.

– Ele queria que eu te entregasseuma carta, Rick.

– Para mim?Ela se levantou e foi até a gaveta da

cozinha onde guardava documentosimportantes.

– Ele pediu que eu a entregassepessoalmente.

E assim ela o fez.

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CAPÍTULO 2

TODOS OS instintos de Rick diziam paraque ele se levantasse e fosse embora,que fugisse daquela casa, daquelacidade detestável, e nunca maisvoltasse.

Ele queria estar longe de Nell, daperfeição loura e do ar de superioridadenatural dela, tão diferentes da garota daqual ele se lembrava.

Tais lembranças eram meros contos

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Tais lembranças eram meros contosde fadas. Ele as transformara emfantasias em um esforço para afastar avil realidade que o cercava. Ele tinhaconsciência do que estava fazendo, masele quisera se agarrar à esperança deque coisas melhores estavam por vir – achance de um futuro melhor.

Claro, todos esses sonhos seestilhaçaram no instante em que elecolocara o pé na cela da prisão.

Ainda assim...A carta na mão de Nell começou a

tremer.– Não vai pegá-la?– Não tenho certeza.Ela se sentou.

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– Não faço ideia do que esse tal deJohn Cox tinha para me dizer. – Elasabia o que tinha na carta? Eledeliberadamente relaxou os ombros,deixou-se desmontar na cadeira ecolocou um sorriso de canto no rosto. –Acha que ele vai me acusar de roubar aprataria da família?

Ela fez uma careta, e por um instanteele lembrou-se de olhos selvagens,enquanto ela ordenava: “Fuja!”

Ele queria que ela o mandasse fugirnaquele instante.

– Afinal de contas, eu não desaponteias expectativas dele ou do seu pai.

Aqueles olhos verdes incríveisarderam em chamas, e ele se perguntou

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o que ela iria fazer. Iria levá-lo até oportão pela orelha? E se ela tentasse, elepermitiria? Ou ele a beijaria?

Ele mexeu-se na cadeira, passando amão pela camisa. Ele não ia beijar aprincesa.

– Se eu me lembro bem... – elapronunciou cada sílaba – você foi para acadeia por posse de drogas, e não porroubo. E se os rumores zanzando pelacidade estiverem corretos, as acusaçõesestão em processo de serem retiradas, eseu nome, limpo.

Ela achava que isso compensava os15 meses atrás das grades?

Um peso repentino ameaçou cairsobre ele. Uma festa estúpida o levou

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a...Ele passou a mão pelo rosto. Cheryl,

na época com 17 anos, não sabia o queestava fazendo, não sabia os problemasque a maconha que ela comprarapoderia lhe causar – a todos eles. Elaestava buscando uma fuga – fuga deum pai que abusava sexualmente dela.Ele entendia isso. O medo que ele viranos olhos dela, porém, quando a políciachegara, o desespero dela – o desesperode alguém que fora repetidas vezestraída por pessoas que deveriam amá-la– ainda o atormentava em pesadelos.

O peito dele ficou pesado. A pequenaCheryl, que ele conhecia desde o jardimde infância. A pequena Cheryl, que ele

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tentara confortar, quando na verdadenão havia conforto suficiente nomundo. Não fora culpa dela.

Assim, ele levara a culpa por ela. Elesempre fora uma pessoa mais propícia aacabar no mundo das drogas, dequalquer forma. Aos 18 anos, elepassou 15 meses na cadeia. Rickrespirou fundo. No final das contas,nada disso fizera diferença. Era isso querealmente o atormentava.

Nell ergueu o queixo.– Então pare de bancar o criminoso

comigo.Aquilo o trouxe de volta. Ele não

sabia o motivo, mas de repente sentiuvontade de sorrir.

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– A única forma de descobrir o queJohn tem a dizer é abrindo a carta.

Ele cruzou os braços.– O que você tem a ver com isso,

afinal?– Eu fiz uma promessa a um homem

no leito de morte.– Que você já cumpriu.Ela inclinou-se, pegou a mão dele e

colocou a carta nela, com um estalido.Ela cheirava a cupcakes.

– Agora, fique com ela.Nell afastou-se. Foi até o outro lado

da cozinha e encheu as canecas dos doiscom o café mantido quente nopercolador. Mas o aroma doce delapermaneceu ao redor dele. Rick o

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aspirou. Ele piscou até sua visão clareare conseguir ler seu nome escrito noenvelope.

Pelo amor de Deus, abra logo essamaldita coisa e acabe logo com osuspense. Seria mais um cidadãoexemplar lhe dizendo o momento exatoem que a vida dele saíra dos trilhos,listando uma liturgia de danos –imaginários e reais – causados e o que avida lhe reservaria se ele não seendireitasse.

Suspirando, ele desdobrou oenvelope. A carta não era longa. Eleregistrou quando Nell colocou a canecareabastecida diante dele, acrescentandoleite e açúcar.

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Ele abriu a boca para agradecer,mas...

A caligrafia era a mesma doenvelope. Ele leu as palavras, mas nãoconseguiu registrá-las. Elas dançavamna página e então voavam para atingi-locom a força de uma marreta. Rick fezuma careta. Ele segurou a folha depapel com tanta força que ela rasgou.Ele praguejou – em alto e bom tom – epontos pretos surgiram no seu campode visão.

Nell se levantou.– Rick! Coloque a cabeça entre os

joelhos. Agora!E então ela forçou a cabeça dele para

baixo, colocando-a entre os joelhos dele

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enquanto ordenava que ele respirasse.Ele seguiu as instruções dela – puxandoar para os pulmões, segurando e depoissoltando – e assim que a tontura passouele se ergueu novamente.

Ele virou-se para ela e agitou a cartaamassada abaixo do seu nariz.

– Você sabe o que diz aqui? Vocêsabe o que...

Ela balançou a cabeça.– Eu não estava lá quando ele a

escreveu. Ela já estava selada quandoele me entregou. Ele nunca me contouo conteúdo, e eu também nuncaperguntei. – Ela fez um daqueles dar deombros. – Mas admito que fiqueicuriosa. – Ela se recompôs, toda altiva,

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loura e esguia em seu vestido havaianolindo e maluco. – Porém, eu jamaisabriria a correspondência de alguém.

Ele não tinha certeza se acreditavanela.

Nell deu a volta na mesa, sentou-se elevou a caneca aos lábios. Um ato tãorotineiro que acalmou um pouco a feradentro dele. Ela então o encarou.

– Espero que ele não o estejaacusando de algo ridículo, como roubaras pérolas da minha avó.

– Não é nada disso.– Que bom, pois sei com certeza que

foi meu pai.Pai. A palavra ecoou na mente dele.

Pai. Pai. Em letras pretas horríveis.

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– E sinto muito por não tê-loprocurado antes. John morreu, e depoisos negócios do meu pai desmoronarame... e eu não sabia onde procurar porvocê.

Ele percebeu que ela não quisabordar Tash para perguntar por ele.

– Mas quando ouvi dizer que vocêestava na cidade...

Ele passou a mão pelo rosto antes deengolir metade do café em um só gole.

– Ele disse mais alguma coisa a você?– A carta ainda se encontrava amassadana mão dele.

Ela fez menção de passar o dedo pelacobertura de um cupcake, mas desistiuno último instante.

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– Ele disse que talvez você fizesseperguntas, e que ficaria feliz se eutentasse respondê-las.

Ele segurou uma risada histérica.Algumas perguntas? Tudo que ele tinhaeram perguntas.

Ela franziu a testa.– Isso não é sobre aquele

desentendimento de quando tínhamos10 anos, é?

Ele não entendia por que elaentrelaçava as mãos diante do corpo.Não fora ela a ser levada para adelegacia.

– Eu tentei dizer aos meus pais e àpolícia que eu te dei o medalhão por

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vontade própria, que você não oroubou. Que foi um presente.

Ela encarou a caneca.– Achei que ele fosse meu, para

poder te dar – disse ela bem baixinho.Ele pensou em como ela entregou oapartamento, o carro e os fundos para opai sem reclamar. Então por que serecusar a entregar a casa dosWhittaker?

Ela endireitou-se e jogou o cabelopara trás.

– Foi então que percebi que meuspertences não eram meus.

Mas por algum motivo ela achavaque a casa era?

– Eu disse a eles que queria te dar

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– Eu disse a eles que queria te daralgo porque você me deu seuaviãozinho de brinquedo.

Era só o que ele tinha para dar a ela.– Que, pode acreditar, eu me recusei

em absoluto a receber quando memandaram.

Isso o fez rir.– Eu nunca tive a chance de dizer

isso antes, Rick, mas eu sinto muito.Meus pais estavam tão bravos. E opolicial me assustou tanto que eu... euacabei dizendo o que eles queriamouvir. Foi muita covardia minha, e sintomuitíssimo que esse episódio tenhacausado problemas para você.

Foi a primeira vez que ele foi para a

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Foi a primeira vez que ele foi para adelegacia. Entretanto, não foi a últimavez que ele foi rotulado de ladrão,mentiroso e arruaceiro pela Lei.

Eles eram apenas duas criançastrocando tesouros e tentando forjaruma conexão. Nada disso fora culpa deNell, e ele sempre soube disso.

– Não se preocupe, princesa. – Eleusou o apelido para lembrar-se de todasas diferenças entre eles, para reforçá-las.

Ela apontou para a carta na mãodele.

– Mas John não está falando de nadadisso aí, está?

Ele balançou a cabeça, e os ombros

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Ele balançou a cabeça, e os ombrosdela despencaram de alívio.

– Então... você tem alguma pergunta?Ela parecia tão intrigada e aturdida

quanto ele realmente estava. Eleimaginou se ela não estava contando osminutos para o fim da entrevista. Seráque ela achava constrangedor e erradoque ele estivesse sentado ali, diantedela? Ou seria estranhamentereconfortante?

Ele afastou a ideia e colocou a cartana mesa, fazendo o possível paradesamassá-la.

– Não vou fazer rodeios – leu ele. –Então fiquei sabendo que sou seu pai.

Nell colocou a caneca tremulamente

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Nell colocou a caneca tremulamentesobre a mesa. Ela o encarou, abrindo efechando a boca.

– Mas ele o afugentou. – Então osolhos dela se encheram de lágrimas.

Rick por fim teve certeza de que elanão tinha ideia do conteúdo da carta.

Ele continuou lendo:– É melhor levar isso para o túmulo

comigo, pois isso nunca foi motivo dealegria para mim. Não espero quetampouco seja para você.

A respiração profunda de Nellreverberou no silêncio.

– Eu não tenho fé em você.Ela bateu as mãos na mesa.

– Mas é bom saber que você tem um

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– Mas é bom saber que você tem umirmão ou irmã. Ela praticamente saltouda cadeira.

– Quem? – Ela exigiu saber,forçando-se a sentar novamente,franzindo o cenho. – Mais novo oumais velho?

Ele ergueu uma sobrancelha.– Acho que eu é que deveria estar

fazendo as perguntas.– Ah, sim, claro. Desculpe.– Não vou contar quem é ele ou ela.

Se isso realmente importar para você,então terá que provar.

O queixo dela caiu.– Mas isso é... como... como ele pode

ser tão frio e cruel? Ele deveria ter

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cuidado de você e... – Ela engoliu emseco. – Desculpe. – Ela fez ummovimento, fechando um zíperimaginário na boca.

– Ele termina a carta simplesmenteassinando John Cox.

– Sei que as perguntas são suas, Rick,e não tenho ideia de como respondê-las. Não faço ideia de quem possa ser asua irmã. Eu nunca vi John com umamulher, muito menos com uma criança.Eu...

Ele entregou a carta para ela,observando o rosto de Nell conformeela lia as linhas. A expressão dela ficousombria, o que acalentou o coraçãodele.

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NELL IGNOROU as primeiras linhasdirecionadas a ela na carta.

Srta. Nell, se acha que Rick é digno deseu perdão, e se acha que pode ajudá-lo... Ela bufou. Que besteira era essa?Que tipo de pai dá as costas ao própriofilho? Ela pensou no próprio pai e todasas exigências dele, e refreou um suspiro.

– Você encontrará uma pista onde osmalmequeres crescem. – Ela virou acarta, mas não havia nada escrita noverso.

– Alguma ideia do que isso significa?– perguntou Rick, sentadodisplicentemente na cadeira como seeles estivessem discutindo o clima.

Ela coçou a cabeça.

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– Acho que ele está se referindo aalgum lugar na propriedade onde hámalmequeres, mas...

– Mas?Rick soava entediado. Ela o encarou,

tentando ler sua expressão, mas nãoconseguiu.

– Acontece que não me lembro deJohn já ter plantado essas flores aqui.Aparentemente, minha mãe nãogostava delas.

Ela espetou o dedo na delícia demaracujá.

– Por que ele não podia contar quemé seu irmão ou irmã? – Ela o espetou denovo. – Por que ele não contou averdade desde o início, o motivo pelo

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qual ele não foi um pai para você? –Espetada. Espetada. – Eu nãoimaginaria nem em um milhão deanos...

Ela então se levantou, limpando odedo em um guardanapo.

– Certo, então o que mais omalmequer pode representar?

Rick pegou o cupcake de creme emorango e enfiou metade dele na boca.Hipnotizada, ela observou a maneiracomo aqueles lábios se fecharam sobreo doce, a apreciação que se ascendeunos olhos dele e como a boca delefuncionava, a forma como o pomo deadão subia e descia... a maneira como a

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língua dele surgiu para apanhar umpedacinho no canto da boca.

Nell desviou o olhar.– Poderia ser algum nome.– Você conhece alguma Malmequer,

ou coisa do tipo?As palavras saíram desinteressadas.

Ele não se importava? Ela tentou focarna pergunta que ele fez, em vez dasoutras que surgiam em sua mente.

– Acho que não. – Ela então olhou aagenda de contatos na gaveta dacozinha e no celular. – Certo, talvezhaja um papel de parede commalmequeres em algum lugar da casaou... algum adorno no formato da flor,ou pintura...

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– Princesa, você viveu aqui a vidatoda. Você realmente precisa ir de salaem sala neste mausoléu para descobrirse há algum papel de parede demalmequer?

Claro que não. Ela conhecia cadacômodo intimamente. Podia se lembrarcomo eles eram há dez anos como sefosse ontem. Nunca houve nenhumapintura com malmequeres em lugaralgum da casa. Nem papel de parede,lençol ou cortina. Nada.

Ela olhou para Rick novamente.Podia lidar com o jeito rebelde dele. Naverdade, isso lhe causava certa emoção.Considerando que ela não passava pormuitas emoções diferentes, ficaria com

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o que conseguisse. Podia lidar inclusivecom a fria barreira que ele erguera. Elase reconhecia nessa atitude, mesmo quesentisse que ele a estava julgando portrás daquela parede, considerando-afraca. Mas isso... esse vazio escondidona indiferença e no cinismo... ela estavaficando enfastiada.

– Você não se importa?– Por que eu deveria? – Ele lambeu o

açúcar dos dedos.– Porque...– O que ele já fez para mim?– Não com John! Você não se

importa com o fato de ter um irmão ouirmã em algum lugar do mundo?

Ele pegou o último cupcake. Uma

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Ele pegou o último cupcake. Umamecha negra de cabelo caiu sobre orosto dele. Nell olhou para a janela,sem ver, determinada a não observá-lodemolindo o doce com aqueles lábiosdeliciosos – da mesma forma que eleparecia determinado a demolir achance, a dádiva que recebera.

Ela levou as mãos ao peito. Ter umirmão...

Nell parou e olhou para trás. Rickainda estava lá. Ele não havia lido acarta e saído pisando duro; havia lido ecompartilhado. Ele podia fingir toda aindiferença que quisesse, mas se nãoligasse para o que estava acontecendo,não estaria ali.

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Os cupcakes dela eram bons, masnão tanto assim.

– Eu gostaria de ter um irmão ouirmã.

– E você gostaria que ele ou ela fosseparecido com quem? – Ele inclinou-separa trás, com as mãos juntas atrás dacabeça. – Sua mãe ou seu pai?

Ela fez uma careta.– Acho que é sempre assim. Um

irmão teria provado definitivamenteque sou a ovelha negra da família.

– Não foi o que eu quis dizer.Claro que foi.– Tudo bem. – Ela tornou a voz seca.

– Você recebeu um choque, então é

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normal dizer coisas dolorosas para osoutros.

Ele esfregou a mão no rosto.– Minha intenção não foi feri-la.

Desculpe. Eu só me recuso atransformar isso em um conto de fadas,como você aparentemente está fazendo.

Ele não queria criar expectativas altasdemais. Não podia culpá-lo por isso.

Rick se levantou.– Acho que já estou abusando da sua

hospitalidade.Foi a vez de Nell se levantar.– Mas... nós ainda não descobrimos o

que os malmequeres significam, ou...– Não sei se me importo, princesa...

Ela abriu a boca, mas ele balançou a

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Ela abriu a boca, mas ele balançou acabeça, e a expressão no rosto dele a fezficar em silêncio.

– Boa menina – disse ele.Ela ergueu o queixo.– Não seja condescendente.Ele mostrou um sorriso que fez os

joelhos dela fraquejarem e o sangueferver, e de repente ela queria que elefosse embora. Naquele instante.

– Você sabe onde me encontrar sedecidir investigar isso mais a fundo. –Então ela se virou para jogar fora aborra de café. Quando ela voltou, ele jáhavia partido. Ela se sentou, sentindo ocoração acelerado como se estivesse emuma corrida.

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RICK ENTROU na casa de Tash, com acabeça girando e as têmporas latejando.O que diabos ele deveria fazer agora?

O que você quer fazer?Ele queria fugir.Mas...Ele respirou fundo, buscando sua

costumeira indiferença, mas não aencontrou. Pensamentos demais lhevinham à mente. E uma verdade triste eimplacável – talvez ele não pudessefazer nada com a informação que JohnCox resolveu compartilhar tãotardiamente. Os malmequeres iampermanecer um mistério para sempre.

Neste caso, ele podia entrar no carro– agora – e ir embora sem olhar para

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trás, sem um arrependimento sequer.Exceto...

E se Nell descobrir o que elessignificam?

Ele tinha um irmão ou uma irmã. Eledescansou as mãos sobre os joelhos etentou respirar.

– É você, Rick?A voz de Tash o trouxe de volta.– Sim, só eu – respondeu ele,

guardando toda a raiva e confusão.Tash podia ser a melhor amiga dele,mas ele não iria compartilhar anovidade com mais ninguém. E eleesperava que a princesa fizesse omesmo.

Ele forçou-se a caminhar até a sala.

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Ele forçou-se a caminhar até a sala.Tudo que ele queria era fechar os olhose dormir. Tash o espiou e semicerrou osolhos.

– O que Nell queria?Ele abriu a geladeira.– Refrigerante?– Não, obrigada.Ele pegou uma lata e deixou-se

desmoronar em uma poltrona.Tash cruzou os braços.– Nell obviamente mexeu com você.– Na verdade, não. – Ele deu de

ombros. – Ela queria saber se eu tenhotempo e disposição para fazer algunsreparos na casa dos Whittaker.

– Senhor, a princesa vai ser seu

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– Senhor, a princesa vai ser seupróximo projeto?

Ele esticou as pernas.– Ainda não decidi. – Ele deu um

longo gole. O líquido gelado ajudou aaplacar a queimação na garganta. – Olugar está em ruínas.

– É uma pena. O lugar é antigo elindo. Dizem por aí que ela só semudou agora para não ter que colocaras coisas no lugar de novo. – Tash lhelançou um de seus olhares. – Dizem poraí também que ela está longe de estarbem financeiramente.

– Também tive essa impressão. O quemais dizem por aí?

Tash gerenciava um pub local, o

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Tash gerenciava um pub local, oRoyal Oak. Muitos trabalhadores dafábrica de vidro frequentavam o lugar.Tash sabia tudo de relevante que estavaacontecendo.

– Aparentemente as coisas tambémnão estão bem entre ela e o pai.

Isso ele sabia muito bem.– O sr. Smythe-Whittaker deixou a

casa para Nell, e eu não sei como essascoisas funcionam, mas era para o paidela gerenciar o imóvel até ela fazer 25anos – Tash torceu os lábios – , o queaconteceu essa semana. Ela se mudoupara lá e...

– O pai dela se mudou para outrolugar?

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– Bingo.Antes que ele pudesse perguntar

mais alguma coisa, Mitch entrou nasala.

– Ei, linda.– Ei, boneca. – murmurou Rick em

resposta, mas nem Tash ou Mitchprestaram atenção.

Tash pulou da poltrona para lançar-se sobre o grande detetive louro.

– Pegou muitos caras malvados hoje?Mitch estufou o peito e bateu nele

com uma das mãos.– Um monte.Por um momento a cena fez Rick

sorrir. Mitch, o detetive meticuloso, e

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Tash, a bartender sem amarras,apaixonados. Um milagre dos grandes.

Ele levantou-se e andou até a portada frente.

– Vou jantar fora hoje – anuncioupor sobre o ombro.

Ele precisava de tempo para pensar.Aquela situação toda podia ser uma

grande armação elaborada.Ou você podia ter um irmão ou irmã.Será que ele podia mesmo fugir disso

tudo?Ele apertou o passo, mas os

pensamentos e a confusão continuarama bombardear sua mente. Que tudofosse para o inferno! Por que esseproblema tinha que envolver a

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princesa? Ela lhe deu problemas 15anos atrás, e a sabedoria adquirida amuito custo lhe avisava que ela renderiaproblemas hoje também.

NA TARDE seguinte, Nell limpou a testacom o antebraço e encarou a pilha depratos para lavar.

Só encará-los não dará conta doserviço. Se ela quisesse tirar meio dia defolga nas segundas-feiras, precisariacomeçar a usar o tempoprodutivamente. Andou até a pia,quando uma batida soou na porta dosfundos.

Ela virou-se, e então engoliu em seco.Rick. De jeans surrado e outra camiseta

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preta. E com aquela insolência de badboy. Ela não sabia se ficava aliviada ouapreensiva.

Nell limpou as mãos no short. Oinstinto lhe dizia que quanto menostempo ela passasse com Rick, melhor.Melhor para sua paz de espírito e parasua saúde de forma geral, se a formacom que o coração pulava e se agitavafosse algum indicativo. Nell tentouafastar as apreensões. A família delanão o tratara bem, e ela lhe devia essa.

Com um suspiro, ela acenou paraque ele entrasse, dando adeus ao sonhode uma cozinha limpa e de um banhoquente de banheira com um bom livro.

– Boa tarde.

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Ele apenas meneou a cabeça aosentar-se no mesmo lugar em que sesentara no dia anterior.

– Gostaria de alguma coisa?– Não, obrigado.Nenhum dos dois falou, e o silêncio

foi ficando pesado. Ela umedeceu oslábios.

– Eu... – Nell não conseguia pensarem nada para dizer.

– Posso contar o que me ocorreunoite passada?

Nell sentiu a boca seca, sem saber omotivo. Deu de ombros, querendodizer prossiga.

– Eu me perguntei se não há a menorpossibilidade de John Cox ter

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permanecido por aqui para ficarpróximo de seu outro filho.

Demorou um tempo para ela captar ainferência. De uma forma distorcida,conseguia entender como ele chegara aessa conclusão. Sem dizer nada, Nell foiaté a gaveta de documentosimportantes e retirou dali uma pasta,que entregou a Rick sem conseguirarticular uma sílaba sequer. O conteúdofalaria por si mesmo.

Ele a encarou por um instante eentão começou a vasculhar os envelopesde papéis. Franziu o cenho, parecendo,por um instante, um demônio. Um quea persuadiria com tentações sombrias,que só poderiam acabar em ruína e

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destruição. O coração dela bateu maisrápido.

– Esse é um teste de paternidade queseu pai fez... há 20 anos.

– Exato. Ele pediu o teste quandominha mãe e ele se divorciaram. Naépoca, ele disse que não seriafinanceiramente responsável por umacriança que não fosse dele. – Só que oteste mostrava sem sombra de dúvidaque Nell era filha dele.

Rick fechou a pasta.– Caramba, Nell, aquele homem é

um péssimo pai.Ela arqueou uma sobrancelha.– É mesmo?

Uma luz se acendeu naqueles olhos

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Uma luz se acendeu naqueles olhosnegros, e um pouco doconstrangimento entre elesdesapareceu.

– Ok, você me pegou nessa.E então Rick riu, uma risada que o

transformou completamente, fazendo-oparecer jovem e despreocupado. Arisada também o tornouassustadoramente atraente, de umaforma perigosa e emocionante que fez osangue dela ferver.

Ela apontou para a pasta.– Não posso dizer que o culpo,

todavia. Minha mãe não é do tipo demulher que deixaria a verdadeatrapalhar... uma boa oportunidade.

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A mãe dela estava no Mediterrâneocom o marido número quatro, até ondeNell sabia. Sim, a família dela era muitounida.

Rick uniu as mãos atrás da cabeça einclinou a cadeira para trás. Ela seperguntou se ele sabia como aquelapose era estimulante para uma mulher– os ombros largos em exibição, osbíceps e o peito evidentementemusculosos na camiseta preta,indicando um abdome definido... tudoisso em uma postura traiçoeiramenteaberta e convidativa.

Nell apostava que ele sabia.Mesmo com toda aquela amostra de

vigor masculino, eram os olhos dele que

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a mantinham cativa. Eles a estudaramaté ela não aguentar mais e ter vontadede sair dali. Nell tentou um dar deombros, como se dissesse perdeualguma coisa em mim? Ela o executoucom aprumo, mas isso não o impediude continuar. O esboço de um sorrisosurgiu nos lábios dele.

– Agora estou começando aentender.

Ela olhou de forma intrigada para ele– um olhar do tipo do que diabos vocêestá falando?

– Desculpe, mas eu não.Ele abaixou os braços.– Todos esses anos, achei que você

tinha o melhor de tudo.

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Ela jogou o cabelo sobre os ombros.– Claro que eu tive. Tive a melhor

educação que o dinheiro pôde comprar.Tive roupas de marca, aulas de piano eférias no exterior. Tive...

– Pais que foram tão bons quanto osmeus.

Ela engoliu em seco.– Não se pode ter tudo. – Nem

autocomiseração. – Além disso, elesforam meros produtos da própriacriação deles... e tiveram lá seus pontospositivos.

– Cite um.– Nós já descobrimos um. Eles não se

traíram a ponto de eu ser a filha secreta

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de John e, portanto, sua irmãmisteriosa.

– Só pensei em perguntar.Ela hesitou.– Eu me pergunto...– O que?– Será que sua mãe nos diria algo que

possa ajudar?Ela não gostava de perguntar sobre a

mãe de Rick – ela fora uma prostituta.Nell tinha muitos assuntos para resolvercom os pais, mas nunca precisou ver amãe vender o corpo. Ela sempresoubera de onde a próxima refeição iavir. Sempre tivera segurança. Nelljuntou as mãos com força. Ela era muitograta por tudo que tivera.

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Rick balançou a cabeça.– Ela teve demência há alguns anos.

E progrediu muito rápido. Mal mereconhece, hoje em dia.

Oh. O coração dela doeu por ele.– Sinto muito.Rick meramente encolheu os ombros.– O que você vai fazer? – perguntou

ele daquela forma casual e indiferente,o que fez o coração dela doer aindamais.

– Bom, tive outra ideia. Deveríamosverificar a cabana de John. Ela estávazia desde que ele foi para o hospital.Digo, ela foi limpa, mas pode conteralguma pista.

– Poderia ser um golpe, sabia?

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– Com qual propósito? – Ela nãoacreditava que fosse uma armação.Nem por um segundo. E quando elaandou até a porta, Rick levantou-se e aseguiu.

Eles abriram caminho pelo jardim degrama alta e caminharam até o final doquarteirão. A casa dos Whittaker foiconstruída em um terreno generoso, emuma época mais generosa. Apropriedade se encontrava na melhorparte da cidade. Não era à toa que o paidela queria vendê-la.

Mas ela não iria vender a casa! Nellsegurou um suspiro. Era tudo que podiafazer, não deixar seu coração murchar acada passo que davam.

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– Caramba, princesa, parecem maisanos de negligência do que meses.

– John ficou doente por muito tempoantes de ir para o hospital. Ele tinha umajudante, mas... – Ela encolheu osombros e olhou ao redor. O pai delanão cuidara de nada. – As ervasdaninhas cresceram exponencial elivremente. A situação é menos pior doque parece. – Ela cruzou os dedos.

– Está vendo algum malmequer poraí?

Ele adotou aquele tom novamente.– Acho que essas flores aparecem

uma vez por ano, apenas. Elas precisamser replantadas todos os anos.

– Para quê se dar ao trabalho?

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– Pela cor e pelas flores espetaculares.Pelo perfume e pela beleza selvagem.Pela...

Ela parou abruptamente e Ricktrombou nela.

– Mas o que...Ele segurou os ombros dela, mas Nell

não precisava de apoio. Ela girou noscalcanhares e segurou os braços dele.

– Você encontrará uma pista onde osmalmequeres crescem.

O rosto dele perdeu um pouco dainsolência. E muito da cor. Ela nãoconseguia se concentrar com ele aencarando tão intensamente. Elasentou-se em um banco próximo eesfregou as têmporas.

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– Quando eu descobri que minhamãe não gostava de malmequeres? Johnme contou quando eu quis plantaralguns.

Rick sentou-se ao lado dela,esbarrando em uma roseira exuberante.O aroma se espalhou pelo ar.

– E por que eu queria plantarmalmequeres? Oh, mas... ele não podiasaber, podia?

– Saber o quê?– Naquele dia em que ele o

afugentou, ele me deu meu próprioespaço para plantar no jardim.

– E você plantou malmequeres?Ela balançou a cabeça.

– Eu queria, mas não pude. Eu tinha

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– Eu queria, mas não pude. Eu tinhauma velha lata de chocolates comfiguras de malmequeres, e eu a mostreipara John e disse que queria plantaraquelas flores.

Ele ficou tenso ao lado dela.– O que aconteceu com a lata, Nell?– Eu colocava todos os meus tesouros

nela e... mas era um segredo. Não haviacomo John saber. Havia? Bem, eu aenterrei no jardim. Saí no meio da noitee a enterrei quando ninguém podia mever. – Ela virou-se para encarar aquelesolhos de chocolate. – E nunca mais adesenterrei.

– Certo, tudo que precisamos fazer étentar descobrir onde ela está

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enterrada. – Ele inclinou-se apoiado nasmãos unidas atrás da cabeça como senão tivesse preocupação alguma, masagora ela já podia ver por trás daquelafachada. – E aposto que você seesqueceu do local há muito tempo.

Não. Ela se lembrava. Perfeitamente.Ela também se reclinou com as mãos

unidas sobre a cabeça, respirando juntoo aroma das flores.

– Isso não o lembra de um churrascode domingo?

Ele não disse nada.– Do que você tem medo? – Ela fez a

pergunta que não tinha direito de fazer.Ela se irritava por ele ainda a continuarchamando de princesa. Aquilo era

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enervante, e ela queria irritá-lo emtroca.

– De onde eu vim, Nell, churrascosde domingo não são uma raridade; elesnão existiam.

Ele disse o nome dela de um jeitoque a fez desejar que ele a tivessechamado de princesa.

– Do que eu tenho medo? De queisso não seja uma armação, e que tudoque seu jardineiro disse seja verdade.Tenho medo de ter um irmão de 13anos crescendo por aí sem eira nembeira como eu cresci, sem o apoio deninguém.

O estômago dela revirou.

– Tenho medo que ele acabe em

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– Tenho medo que ele acabe emconfusão, ou pior, virando umaestatística. Isso é bom o suficiente paravocê?

Aquilo não era bom. Era horrível. Ospais dela nunca mostraram muitointeresse por ela, mas ela sempre sesentiu protegida.

– Eu me lembro exatamente aondeeu a enterrei, Nick.

Ele e encarou e então deu uma meiarisada.

– Você é cheia de surpresas, não?Ela levantou-se e limpou o short.– Espero que John a tenha deixado

exatamente no mesmo lugar, do

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contrário, vamos passar muito tempocavando.

Ela o levou até o barracão dejardinagem, onde pegou uma pá, umtesourão e algumas espátulas. E luvas.Rick riu baixinho quando ela perguntouse ele não queria um par.

– Você que sabe – avisou ela. –Vamos para onde o mato cresce maisalto.

Ele pegou a pá e o tesourão, e fezuma elegante reverência.

– Mostre o caminho, princesa.Era loucura, mas ele a fazia se sentir

realmente como uma nobre. Não umaprincesa em um pedestal, mas uma decarne e osso.

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Ela então o levou até o lado maisafastado do jardim.

– Troco uma espátula pelo tesourão.– Ele lhe entregou a ferramenta, e elacortou as ervas daninhas, que estavamgrossas e grandes demais. – Isso vai darum trabalhão quando eu arranjartempo para limpar todo o jardim. –Resmungou. – Acredite ou não, há umcanteiro aqui embaixo.

Nell cortou até encontrar a superfíciedele. O canteiro não era pequeno, nemcomo se lembrava. Ela caminhou ate ocentro dele e, fechando os olhos, deutrês passos para a direita. Depois, deuum passinho para frente e fez um X nochão.

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– O X marca o local – sussurrou ela.

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CAPÍTULO 3

RICK OLHOU para o local, e o suor friodesceu pelas suas costas. O que diabosele estava fazendo ali?

Ir embora, todavia, demonstrariafraqueza – e ele nunca demonstravafraqueza. No mundo em que cresceu,aquilo podia ser fatal.

– Acho que não precisaremos da pá,a terra está fofa, e não acho que a lata

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esteja enterrada muito fundo. Aespátula servirá.

Foi só quando Nell ficou de joelhosno chão que ele conseguiu voltar a si.

– Princesa, você vai se sujar.Ela sorriu, mas não olhou para cima.– Gosto de me sujar no jardim.Ela certamente sabia como usar um

tesourão.– Não sou boa só com cupcakes,

sabia?– Não duvidei nem por um segundo

que você fosse uma expert emjardinagem. – Ele se perguntou sedeveria entrar no canteiro e ajudá-la.Porém, como Nell parecia muito à

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vontade, ele teve a impressão de queiria apenas atrapalhá-la.

– Posso ajudar?O sorriso dela aumentou.– Só fique aí, sendo bonito.Ele teve que sorrir também.– Posso cozinhar outras coisas,

também. Um dia desses eu preparo umassado para você.

Uma parte dura e inflexível dentrodele cedeu um pouco. Ali, agachada naterra, ela era a antítese da damasuperior que ele vira ontem. Rickentendeu que devia ter tocado emalgum ponto delicado e acionado todaaquela pose dela. Da mesma forma que

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ele usava o olhar irônico e a pose dedesprezo.

Mas ele não iria deixar o vislumbrede uma mulher desestabilizá-lo.

– Princesa, por mais que eu admiresuas habilidades aqui e na cozinha, elasnão são muito domésticas. – Ele tomoucuidado para não esboçar nenhumjulgamento em sua voz.

– Ah, é porque...Nell então congelou, fazendo um

gesto no ar com a mão, desprezando oque quer que fosse dizer. Ela franziu ocenho. Mas o que...?

O som de metal contra metal deixouos dois atentos. Engolindo em seco,Nell continuou a cavar. Rick sentou-se

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na beirada de madeira do canteiro,tentando domar o coração desenfreado.

Em poucos movimentos Nell puxou alata, tirou a terra que a encobria elimpou os joelhos. Deixou o tesourãoaos pés de Rick e sentou-se ao seu lado.A lata estava no colo dela. Ambos aencaravam.

– Malmequeres – disse John.Ela assentiu.– Por que John não deixou que você

plantasse malmequeres aqui?– Porque minha mãe não gostava

deles, lembra-se?– Ninguém os teria visto aqui no

fundo do jardim.

– Sempre achei melhor evitar

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– Sempre achei melhor evitarproblemas.

– Eu sempre fiz exatamente o oposto.Ela olhou para ele com um sorriso,

seus olhos verdes tão cheios de humorque o peito dele ficou apertado.

– Vou seguir seu exemplo, e encheresse canteiro de malmequeres.

Bom para ela.Ela estendeu a lata para ele.– Gostaria de ter a honra?Ele balançou a cabeça.– Os tesouros eram seus. Além disso,

você pode estar errada, e John nuncatenha ficado sabendo dessa lata.

– Não estou errada.

A certeza dela fez o coração dele se

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A certeza dela fez o coração dele seacelerar.

– Bem, lá vamos nós. – E puxou atampa.

Os olhos dele descobriram umavariedade de quinquilharias. Coisastolas que uma garota de 10 anosguardaria como tesouro. E do meio detodas elas, Nell retirou um medalhãode ouro que ele reconheceuimediatamente. Ela o estendeu para ele,e o coração de Rick deu um salto.

– Quando eu enterrei isso aqui, eujurei que o entregaria a você quandotivesse chance.

– Nell, eu não poderia...Ela o colocou na mão dele.

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– Isso não me deixa feliz, nemmesmo agora. Lembra-me do problemaque ele causou. Pode jogar fora e mepoupar aborrecimentos, se quiser.

A troca de presentes da infância foium símbolo da amizade deles. Mas osadultos não viram isso na época. Omedalhão cintilava na mão dele, comonaquele mesmo dia.

– Eu fico com ele.Ela então pegou o avião de metal que

Rick lhe dera, e uma risada escapoudele. Ele o pegou e passeou com ele noar, da mesma forma que fazia quandoera criança.

– Você o guardou mesmo.

– Eu não era uma criança birrenta.

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– Eu não era uma criança birrenta.Geralmente fazia o que me mandavam.– Ela torceu os lábios. – Ou pelo menoseu tentava. Essa foi minha únicaexceção.

Além daquela imensa mansãovitoriana. Ele se perguntou por que acasa significava tanto para ela.

– Eu deveria ter batido pé commuitas outras coisas, Rick. Sinto muitonão ter feito isso.

Ele devolveu o avião.– Esqueça isso. Nós éramos crianças.

E que chances um garoto tímido de 10anos tinha contra pais bravos epoliciais? Ei, eu me lembro disso. – Eleriu quando ela tirou da lata um monte

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de pulseiras baratas de fios em umamiríade de cores. – As meninas naescola ficavam loucas por causa delas.

– Eu sei, eu as cobiçava também.Entrei de fininho em uma loja e ascomprei quando minha mãe não estavavendo, mas ela me proibia de usar.Aparentemente elas me faziam parecervulgar, e ela ameaçou jogá-las fora.

Então Nell as enterrou nesta lata paraque ninguém as tirasse dela... etampouco pôde usá-las. Nem mesmoem segredo.

Ela retirou alguns outros itens –enfeites de cabelo, um cubo mágico – ealguns cartões-postais. No fundo da lata

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havia dois envelopes brancos, cominiciais marcadas em tinta preta.

Um deles era endereçado a Nell.E outro a Rick.Com um tsc que quebrou a gravidade

do momento, ela entregou o envelope aele e guardou suas coisas de volta nalata.

– Quer abri-los aqui, ou a ocasiãopede um café?

– Café? – Os lábios dele se curvarampor conta própria.

– Não está cedo demais para umabebida, está?

– Claro que não. Já deve ser quase15h.

– Não tenho cerveja, mas há meia

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– Não tenho cerveja, mas há meiagarrafa de um Chardonnay barato nageladeira.

– Eu topo.Ele a ajudou a guardar as

ferramentas do jardim e a seguiu até acozinha. Deixou os envelopes na mesaenquanto ela lavava as mãos e pegava agarrafa na geladeira.

Ele leu o rótulo.– Você não estava brincando quando

disse que era barato.– Cale a boca e nos sirva – disse ela

com humor. – Quando a escolha éentre vinho barato ou nenhum vinho...

– Boa escolha – concordou ele,sentindo um aperto no peito pela

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evidência dos maus bocados que aprincesa enfrentava.

Ele lhe entregou um copo e umacarta. Sem pensar em preliminares, elaabriu o envelope e escaneou o conteúdoda folha de papel.

Rick, quieto, sentia o coraçãoacelerado.

Com um ar de desgosto, ela o passoupara Rick.

– Não gosto desses joguinhos.Ele leu.

Querida srta. Nell,Se acha que ele vale todo esseesforço, passe para ele todos essesdetalhes, por favor.

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Atenciosamente,John Cox

Ela levantou e arrancou a carta dasmãos de Rick.

– Ele o trata por ele. – Ela deu umtapa na folha de papel com as costas damão. – Nem sequer teve a decência deusar seu nome. É... é...

– Está tudo bem.Ela devolveu a carta.– Não, não está.Ela sentou-se, irritada, e bebericou o

vinho, com o qual parecia estar bemacostumada. Ele teria sorrido, mas acarta estava abrindo um buraco na suamão.

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– E só para você saber, os detalhesdos quais John fala são para oprocurador dele.

Rick não achou nem por um segundoque John havia deixado dinheiro paraele. Teria sido outra falsa esperança.Cerrando os dentes, passou o dedo pelaabertura do envelope e retirou a carta.

Aquela que era endereçada a ele.

Rick,Se você chegou até aqui, então vocêganhou a aprovação da únicamulher em quem confiei e a únicamulher para a qual tive tempo. Sevocê não estragar tudo, ela lhe dará

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as informações necessárias para apróxima etapa da sua jornada.

E assinou simplesmente como JohnCox.

Ele deu a carta para Nell ler também.– Falante ele, não?Rick sentou-se na cadeira.– O procurador, Clinton Garside, é

um sujeito ladino e desagradável.– Assim como John Cox.Ela balançou a cabeça, mas então

percebeu que, com base nas evidências,o estava contradizendo. “Ladino edesagradável” era uma boa descrição deJohn no momento.

– Nunca conheci esse lado dele. Ele

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– Nunca conheci esse lado dele. Eleera calado e certamente nãodemonstrava afeto, mas era bondosocomigo.

Talvez, mas ainda assim não deixouque ela plantasse os malmequeres.

NELL OLHOU para Rick e de repentepercebeu que ele estava a poucos passosde abandonar aquela busca. Seusinstintos avisavam que algo de ruim iriaacontecer – algo prejudicial. Algo queiria feri-lo de forma intrínseca. Comomensageira, ela não podia deixar de sesentir meio responsável.

Você já tem problemas suficientes.

Que seja. Ela devia essa a Rick pelo

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Que seja. Ela devia essa a Rick peloque acontecera há 15 anos.

– Clint vai tratá-lo da forma usual,ele vai demorar semanas para recebê-lo.E isso é inadmissível.

– Nell, eu...– Se você tem um irmão ou irmã por

aí que precisa de você, então não éaceitável.

Rick comprimiu os lábios, afundandona cadeira sem dizer mais nada.

Nell sacou o celular da bolsa e ligoupara o número de Clint Garside.

– Olá, aqui é Nell Smythe-Whittaker.Gostaria de marcar um horário parafalar com o sr. Garside, por favor. Seique ele é muito ocupado, mas esse é

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um assunto de extrema importância, eeu esperava poder vê-lo o quanto antes.

– Só um instante, vou verificar aagenda dele – disse a recepcionista.

– Obrigada. – Ela procurou na mentee encontrou um nome. – É você,Lynne?

– Sim, srta. Smythe-Whittaker.– Por favor, me chame de Nell.

Como vai o seu marido, depois da lesãoque ele sofreu jogando futebol? Ele vaipoder jogar na próxima temporada? Osfãs esperam que sim.

– Nós também, estamos de dedoscruzados. Gentileza sua perguntar.

Exatamente. E em troca...

– Houve um cancelamento na

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– Houve um cancelamento naquarta, às 15h30. Pode ser?

– Quarta, às 15h30 – repetiu ela,olhando para Rick. Ele deu de ombros eassentiu. – Perfeito! Muito obrigada,Lynne. De verdade. – E desligou.

– E você pretende me levar pela mãoaté lá?

O tom dele estava ligeiramente maisagressivo. Ela endireitou-se e ergueu oqueixo.

– Isso vai acelerar as coisas.– Por que você está tão determinada

a encontrar a verdade?Ela segurou a haste da taça de vinho

e girou repetidas vezes o líquido.

– Há vários motivos. Um deles é a

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– Há vários motivos. Um deles é aculpa. Seu pai morreu há oito meses esó agora tive tempo de entregar a cartaa você.

– Se é que ele foi meu pai.Se.– Você não tinha ideia do conteúdo

da carta. Se tivesse...– Eu teria tentado encontrá-lo no

mesmo dia! E teria feito milhares deperguntas a John sobre cada aspecto davida dele, mas a questão não é essa. Eudeveria tê-la entregue antes.

– Você passou por muitas coisasnesses últimos meses. Não precisa sesentir culpada.

– O medalhão – sussurrou ela. – Ele

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– O medalhão – sussurrou ela. – Elejá causou tantos problemas.

– Nós éramos crianças, Nell.– Ainda me sinto mal por isso.Ele estendeu a mão para segurar a

dela, porém, desistiu no últimoinstante.

– Gostaria que não se sentisse assim.Ele não a havia tocado, mas o calor

irradiava de seus olhos, agora maistenros e dotados de uma sensualidadegentil que ameaçava enfeitiçá-la. Nelltinha certeza que ele sabia muito bemcomo beijar uma mulher.

Ele precisou de todas as forças parafocar na conversa.

– A polícia achou que você tinha me

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– A polícia achou que você tinha meforçado a entregar o medalhão, ochamaram de ladrão e mentiroso.

– Não foi culpa minha, Nell. Muitomenos sua.

Ela assentiu por fim.– Mais alguma coisa?– John – suspirou ela. – Não posso

evitar a sensação de que ele queria queeu ajudasse você e... ele era bom paramim.

Ele se levantou, com os olhos frios.O coração dela acelerou.– Não estou tentando justificar o

comportamento dele. É algo chocante eimperdoável. Claro, se preferir que eunão vá com você ao procurador na

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quarta, tudo bem. – Ela pegou a taça etomou um gole, fingindo se tratar dealgo caro.

Rick deu uma risada imprevista.– Que dupla nós formamos.– Do que você está falando?Ele fez um gesto de desprezo com os

dedos.– Se acha que sua presença vai tornar

o encontro mais rentável, então euadoraria.

– Tudo bem, então. – Disse ela,tomando outro gole.

– E... quero agradecer desde já. Decoração.

– De nada.

– Isso, porém... – ele ergueu o copo e

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– Isso, porém... – ele ergueu o copo ebebeu o último gole – é terrível.

Ela fingiu estar ofendida, com umsorriso.

– Sei mais ou menos onde fica oescritório de Garside. Gostaria de tomarum café, antes?

– Ah, é uma ótima ideia, Rick. Mas...– Você tem outros planos. Sem

problemas. – Ele se levantou,indiferente. Ela queria que realmentefosse verdade. Os convites para tomarcafé foram bem esparsos, nos últimosmeses. – Vejo você em frente aoescritório às 15h25.

Ela também se levantou.– Combinado.

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– CORRIJA-ME SE eu estiver errado, Nell...você se importa se eu a chamar de Nell?

Nell suprimiu um arrepio quandoClint Garside sorriu morosamente paraela.

– Nem um pouco.– Tinha a impressão de que você

queria tratar de assuntos pessoais.– Ah, mas é assunto pessoal, sr.

Garside. Antes de começarmos, gostariade esclarecer algumas coisas para o sr.Bradford e meu ex-funcionário, ofalecido John Cox. Isso me tiraria umpeso das costas.

– Bem... claro, claro.Ele alisou o cabelo e lançou outro

olhar pegajoso para ela; mal olhou para

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Rick. Ela podia perdoar a indiscrição,mas jamais a antipatia. Ele tinha odireito de se achar melhor que osoutros.

– É preciso que você entenda,todavia, que minha equipe precisará deum tempo para localizar o arquivo. Éum caso antigo, e tenho certeza quevocê gostaria...

– Ah, espero que não. – Nell cruzouas pernas e alisou o corpete do vestido.– Depois que o documento forencontrado, eu gostaria de discutir apossibilidade de vender a casa dosWhittaker. Gostaria de saber se osenhor se interessaria em cuidar detodos os trâmites.

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Ela passou os dedos pela aba dodecote e podia jurar que Rick, ao seulado, estava segurando o riso. Ela nãoousou olhar para ele, com medo de terum ataque histérico.

Nell jogou o cabelo para trás eassumiu a pose mais superior queconseguiu.

– Claro, eu não conseguiria focar navenda com esses outros problemas emmente. – Ela suspirou e fez menção dese levantar. – Talvez você possa me ligardepois que encontrar os documentosrelevantes, e daí prosseguiremos com anegociação.

– Ah, por favor, espere, Nell. Nãonos precipitemos. – Clint deu a volta na

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mesa e a levou para a cadeiranovamente. – Vamos dar mais umaolhada para ver se eles não estão aquino escritório.

– Pois não. – Ela sorriu para ele. –Não sei como agradecer.

Rick quase deixou escapar um riso deescárnio. Clint lançou um olhar mordazpara ele, mas Nell tocou o braço doprocurador para manter seu foco, antesde dar uma cotovelada em Rick.

– O arquivo? – Ela o lembrougentilmente.

– Ah, sim. – Ele deu um tapinha namão dela antes de ir até um arquivo dooutro lado da sala. Ugh! Ela limpou a

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mão, depois que ele virou de costas. Seutoque era como o de um peixe morto.

– Bingo! – Clint virou-se com outrosorriso imenso e grudento, segurandouma pasta. O coração dela disparou.Seria esse o grande momento em queRick descobriria a identidade do irmãoou da irmã?

– Então... – Clint voltou para suacadeira. – Sobre a casa...

Ao seu lado, ela via que Rick estavauma pilha de nervos.

– Talvez possamos terminar esseassunto antes, para depois...conversarmos em particular? – Elatossiu delicadamente e indicou Rick.

– Pois não.

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Ele abriu o arquivo e olhou o quedeveriam ser as instruções de John.

– Não há nada muito difícil aqui. Osr. Cox deixou uma carta para o sr.Bradford, para o caso de ele virprocurá-la. Ele precisará assinar umdocumento para retirá-la, claro.

– Claro – repetiu ela.– Mas, antes, o sr. Bradford precisa

me fornecer uma senha.Ela ficou sem ar. Seu corpo inteiro

murchou como um balão antes de elase recompor. Voltou-se para Rick,tentando mascarar o pânico. Umasenha?

– Você terá apenas uma chance, sr.Bradford.

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Ácido queimou a garganta dela.– Ah, Rick...Ele meramente sorriu, aqueles olhos

negros dançando.– Sem problemas, princesa. – Ele

virou-se para o procurador. – A senha émalmequer.

– Correto.Malmequer? Ele era um gênio!– Você só precisa assinar aqui. – Clint

deu uma caneta a Rick sem ao menosolhar para ele. A falta de cortesia dohomem a deixava louca. O povo dacidade não ficara sabendo que o nomede Rick havia sido limpo?

Ah, mas onde há fumaça há fogo. Oslábios dela se curvavam diante da

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mesquinhez e da mentalidade limitadado povo dali.

Rick leu a declaração breve, assinou epegou a carta. Ele segurou brevementeo ombro dela.

– Obrigado, Nell.E então, ele foi embora. Nell ficou se

perguntando se iria vê-lo novamente.

POUCO TEMPO depois, Nell conseguiuescapar de Clint Garside.

– Ei, princesa.Ela virou-se e viu Rick encostado no

muro, do lado de fora do escritório.Com uma das pernas dobradas eapoiada na parede, ele era a epítome daindolência casual. Ela precisou engolir

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em seco para conter a onda defelicidade que sentiu ao vê-lo.

Lentamente, ela deixou o ar escapardos pulmões. Rick vestia uma calçasocial preta e uma camisa social branca,sem gravata, com as mangas enroladasaté os cotovelos. Parecia um modelopara um comercial de jeans.

– Tudo certo?Era Nell quem devia perguntar isso.

Ela engoliu em seco e assentiu,tentando não deixar transparecer oalívio por ele ter esperado.

– Não tinha certeza se você estariaaqui.

– Por que não?

Aquele olhar negro intenso a

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Aquele olhar negro intenso aobservava como se... ela fosse digna deser observada, percebeu ela. Como seele gostasse não só do que estavavendo, mas... como se ele gostasse dela.

Sem dúvida era apenas umaimpressão. Rick tinha uma reputaçãocom as mulheres, e flertar lhe era tãonatural quanto respirar.

– Achei que fosse querer ficarsozinho para ler a carta. – Quando eledesviou o olhar, ela se aproximou. – Oque ela diz?

– Ainda não a abri. A rua não meparece o lugar certo para isso. Gostariade um pouco mais de privacidade.

Ele queria privacidade total? Ou não

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Ele queria privacidade total? Ou nãoqueria estar totalmente sozinho?

– Você poderia voltar para a casacomigo se quiser.

Um canto da boca dele curvou-separa cima, fazendo o sangue delafervilhar.

– Você está morrendo decuriosidade, não está?

– Absolutamente – concordou ele. –E tenho cupcakes em casa. Tem um decaramelo esperando por mim.

– Tem um para mim também?Ela revirou os olhos exageradamente.– Claro que sim. Eu jamais seria

grosseira de comer um na frente dasvisitas sem antes oferecer. Você pode

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comer o de cheesecake de cereja ou ode chiclete, se quiser.

– Fechado!Eles caminharam em silêncio. Ela

estava ciente do magnetismo que eleirradiava, da graça e da segurança coma qual o corpo alto dele se movia – compassos mais curtos para acompanhá-la.

– Você foi magnífica, sabia?– Eu? Foi você quem adivinhou a

senha!– Você fez aquele procurador

pegajoso comer na sua mão.Ela bufou.– Ele apenas se deixou levar pela

própria ganância.

– Você o dominou perfeitamente. Eu

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– Você o dominou perfeitamente. Eufui para o escritório dele pronto parame impor, mas...

– Mas?– Mas foi uma delícia observar você,

e eu não quis interromper. Não melembro da última vez que me divertitanto.

As bochechas dela coraram.– Eu me saí bem, não foi? – Ela disse

isso pois não queria que ele visse comoas palavras dele a tocaram.

Ele jogou a cabeça para trás e riu.– Você acabou com ele como um

inseto depois que saí?– Fiquei tentada, mas não.Ele diminuiu o passo, para estudá-la.

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– Por que não?Ela continuou olhando para a frente.– Não vale a pena fazer inimigos. –

Ela já os tinha em número suficiente. –Ele acha que estou explorando minhasopções e que ele é o número um naminha lista. Além disso, eu não queriaacabar com nossas chances antes devocê ler a carta. – Quem sabe se teriamde consultá-lo novamente?

Ele não disse nada, o que a forçou asorrir para ele.

– Vou deixar para esmagá-lo outrodia.

O coração dela começou a bater comforça. Ela precisava ter cuidado, emuito. Corria o risco de transformar

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aquele homem em seu Sir Galahad.Assim como fizera há dez anos... e emsua adolescência – o garoto de suasfantasias que chegaria em um cavalobranco e a resgataria.

Nell fez uma careta e apertou opasso. Bem, ela não era um dama. ERick Bradford estava longe de ser umSir Galahad.

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CAPÍTULO 4

NELL ENTROU na cozinha, pôs café nacafeteira e colocou na mesa um pratocom os confeitos açucarados.

Embora estivesse ciente da atividadede Nell, Rick só conseguia focar nacarta que ele deixara na mesa da sala. Osol entrava pelas janelas pincelando apia e uma brisa agradável soprava pelaporta aberta dos fundos; a cozinhaestava impecável, ainda que abarrotada.

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As iniciais em tinta preta pareciamzombar dele. Rick deliberadamentevoltou-se para Nell.

– Quando você se mudou de voltapara cá, princesa?

– Sexta.– Sexta? Cinco dias atrás, você quer

dizer?– Exato. – Ela despejou o café

fervente em duas canecas. Usava outrovestido rodado. Este era branco comcerejas estampadas, preso na cinturapor um cinto vermelho.

Ela se mudou na sexta, fez todas asencomendas do final de semana, lidoucom aquele comprador da casa e

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arrumou tempo para ajudá-lo? E semreclamar. Nem uma vez.

Por quê?Por causa de um incidente tolo de 15

anos atrás e um senso deresponsabilidade para com um homemmorto? Ele sentou-se na cadeira,sentindo o peito pesado.

Ela sentou-se também, e olhou para acarta, mas não disse nada. Em vez disso,cortou o cupcake de caramelo emquatro partes, depois cortou um pedaçopela metade e levou a pequena fatia atéa boca. Seus lábios se fecharam e elasuspirou lentamente, com os olhossemicerrados.

Ele engoliu em seco. Se o sabor e a

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Ele engoliu em seco. Se o sabor e atextura do caramelo faziam isso comela, ele imaginou como ficarialambendo chantilly de seu...

Rick levantou-se de chofre dacadeira, sentindo calor e uma ereção seformar. Inferno! De onde isso viera?Cerrando os dentes, ele tentou afastarda mente o cheiro do açúcar. Ao tomarum gole do café, acabou queimando alíngua.

– Ignorar a carta não é a solução –disse ela, comendo outro pedaço. Eledesviou o olhar. – Você ainda não temcerteza se quer um irmão ou irmã, nãoé?

Ele já havia lhe contado isso.

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– Você não consegue entender meulado?

– Acho que sim. Você teme que eleou ela o rejeite.

A candura dela lhe atingiu o coração.Ele se segurou para não fazer umacareta.

– Tenho medo disso, também.A simples admissão já o aliviou um

pouco.– Quem, em sã consciência, rejeitaria

você, princesa?– Eu sei. É inconcebível, não é? – Ela

ergueu o nariz e deu de ombroselegantemente. Mas o ato foi tãoexagerado que ele se descobriutentando não sorrir.

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Ele pegou um pedaço do cupcake.– Você tem medo de que, por causa

de seu histórico, a pessoa já o rejeite.Mas, ao mesmo tempo, teme que esseparente esteja no mesmo caminho queo seu, que ele ou ela precise de ajuda.

Ele precisou de todas as forças paraengolir.

– Não há uma resposta fácil, não é?Ele mal aguentava olhar para ela,

temendo a compaixão que poderiaencontrar naqueles grandes olhos. Eleafastou a cadeira e sentou-se na beiradada mesa.

– Você sabe que ainda não precisa teressas preocupações, não sabe?

Muito lentamente, ele se virou para

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Muito lentamente, ele se virou paraela. Não havia compaixão em seu rosto,mas sim uma compreensão que pareciaabsoluta.

– Você pode descobrir quem é esseirmão ou irmã e então decidir se querprocurar a pessoa ou não.

Nell tinha razão. Na verdade, estavacertíssima. Ele se endireitou. Se a pessoaem questão estivesse perfeitamentebem, ele poderia virar as costas e irembora.

Mentiroso.Mas, se não fosse assim, talvez ele

pudesse ajudar anonimamente.Ou talvez ainda ele se apresentasse.

Talvez pudesse tentar ter uma família

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mais uma vez e...Ele fechou os olhos e a mente para

aquela possibilidade. Era cedo demaispara pensar nisso, cedo demais para seenvolver no conto de fadas que Nellcriara, no qual tudo terminava bempara todos. No mundo real, geralmenteas coisas davam mais errado do quecerto.

Ele foi para pegar a carta, quando eladisse:

– Também me ocorreu... – Elamordeu o lábio.

– O quê?Ela sorriu.– E se John deixou uma carta para

seu irmão ou irmã com aquele

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procurador pegajoso para ser abertafuturamente?

Ele ficou tenso.– E se no futuro essa pessoa o

procurar? Não seria melhor se... – Elanão sabia como terminar a frase,embora seu pensamento estivessecorreto.

Ele cerrou os punhos.– Está dizendo que é melhor eu

prevenir do que remediar?Eles se encararam por um instante.– Estou dizendo para você ler a

maldita carta, Rick, para depoisaproveitar o cupcake.

Um riso escapou dele. Ela não eramais uma jovenzinha tímida. Ele queria

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perguntar sobre essa transição, massuspeitava que ela fosse desconversar.

Rick então abriu a carta, tentandonão pensar demais no que estavafazendo.

O envelope continha apenas umafolha de papel dobrada. Suspirando, elea desdobrou e a encarou. E a encarou.

E então soltou a palavra mais rudeque conhecia.

Nell deu um pulo.– Como é que é?– Desculpe – resmungou ele por

educação.Ela umedeceu o lábio inferior, e de

repente, ele sentiu um desejoincontrolável.

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Nell se afastou, como se houvesselido a mente dele, com as bochechascoradas e o fôlego entrecortado. Se elequisesse, poderia seduzi-la, ali e agora.

Se ele quisesse...Uma risada amarga escapou dele.

Ah, como ele queria, mas havia sempreum preço a pagar ao seduzir umamulher. E, no caso, aquele preço seriaalto demais.

Ele levantou-se e saiu, com ospunhos fechados.

– Por favor, não esmurre nenhumaparede. Já tenho buracos demais paraconsertar.

As palavras dela não surtiramqualquer efeito sobre ele.

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– Presumo que você reconheça entãoo nome que esteja aí.

Nome? Rá! Ele voltou e colocou acarta diante dela. Com uma olhadacautelosa para ele, Nell a pegou da mãodele.

Ela franziu o cenho, olhou o verso dopapel, olhou para ele contra a luz.Então franziu ainda mais a testa, antesde bater a carta na mesa.

– Mas isso não faz sentido!– É obviamente algum tipo de

código.– Um código?Ela xingou, surpreendendo-o a ponto

de fazê-lo rir. Nell então levantou, comos olhos semicerrados e as mãos juntas.

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– Ele passa a sua infância inteiraignorando você... – ela fez um gestoamplo com o braço – e agora vemimportuná-lo e provocá-lo combobagens.

Ela fez um murmúrio ininteligível defrustração. Rick se encostou na parede.A princesa não estava brava: estavafuriosa. Na verdade, ela fervia de raiva.

Ela apontou um dedo na direçãodele.

– Se eu pudesse colocar as mãos neleagora, eu faria as orelhas dele ferverem.– Ela bateu a mão na mesa. – Bem, nósvamos decifrar o código! E que o diaboo carregue!

Ela olhou para Rick e ajeitou os

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Ela olhou para Rick e ajeitou osombros.

– O quê?– Com quem você está realmente

brava, princesa?A cor deixou o rosto dela.– Não sei do que você está falando. –

Ela sentou-se e cruzou as pernas,polidamente.

Ele também se sentou, mesmosabendo que deveria ir embora.

Ela empurrou o papel na direçãodele.

– Todos esses números e letras... elesnão significam nada.

Ele queria mesmo se incomodar comtudo aquilo? Passou as mãos pelo

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cabelo e lutou contra a exaustão que oinvadiu. Se fosse embora agora, qualseria a pior das hipóteses?

A resposta logo lhe ocorreu. Elepegou um dos cupcakes, necessitandoda doçura deles para aplacar o amargor.A pior das hipóteses seria ter queencarar no futuro uma versão maisjovem dele mesmo, uma criança que elepoderia ter ajudado. Como elejustificaria o abandono dela, depois dereceber a chance de descobrir averdade?

Conseguiria viver com essa culpa?Talvez, mas seus ossos diziam o

contrário.Para o inferno com tudo isso!

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Quando voltou à realidade,encontrou Nell escrevendo o código emum caderninho.

– O que você está fazendo?– Copiando.– Por quê?Ela havia levado para o lado pessoal,

como se John tivesse mentido para ela.– Vou fazer uma pesquisa sobre

códigos na internet para ver o que eudescubro.

– Nell, isso não é problema seu.– Mas não é o que parece. Venha. –

Ela se levantou. – Ainda nãoverificamos o chalé dele. Pode haverainda alguns pertences dele, algo quepossa nos dar uma dica.

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Rick a seguiu. Ele deveria dizer queaquele não era mais problema dela. Sóque... não ia fazer mal dar uma olhadaonde John Cox passou mais de 30 anosde sua vida. Talvez isso lhe desse umanoção de quem o homem havia sido.

Depois, ele iria embora.De vez.Em meio ao mato alto do quintal, os

dentes-de-leão balançavam ao vento.Nell apontou para um.

– Eu sempre gostei deles, acho. Sãoalegres, não acha? Eu amava quandoeles ficavam felpudos e conseguiaassoprá-los ao vento. Achava que, seconseguisse assoprar todas as sementes

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de uma só vez, poderia fazer umpedido.

– Algum desejo seu já se tornourealidade?

– Acho que um ou dois já, eu fiztantos.

Estava mentindo, ele quase podiajurar que sim. Talvez pelo gesto dela delevar a mão até o rosto e colocar umamecha imaginária de cabelo atrás daorelha. Ou a maneira como,meticulosamente, ela evitou o olhardele.

Eles passaram pelo barracão dojardim e chegaram aos fundos dapropriedade. Nell abriu um portão em

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uma cerca de bambu, revelando umchalé. Rick a seguiu.

– Eu jamais repararia nessa cabana,se não soubesse que ela está aqui.

– É esse o propósito. Longe de mimquerer saber onde a criadagem mora.

Ele não conseguia dizer ao certo seela concordava com aquela afirmaçãoou não. Ela tampouco lhe deu tempopara descobrir e foi logo girando amaçaneta... mas a porta não abriu. Nellvoltou-se para ele, encolhendo osombros.

– Trancada. Queria saber onde está oconjunto de chaves-mestras dapropriedade.

Ele sabia como abrir uma

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Ele sabia como abrir umafechadura...

Nell desceu a varanda, ajoelhou-se eenfiou o braço debaixo do alpendre. Amão reapareceu segurando uma chave.

Pensou então que Rick nãoconseguiria simplesmente abandonar asituação. Nell conhecia o pai dele e apropriedade como ninguém. Se elequisesse resolver o mistério, iria precisarda sua ajuda.

Ela seria a chave.

NELL JOGOU a chave para Rick.Ele a pegou como se tivesse pegado

bolas curvas a vida toda. O que

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provavelmente era verdade. Ela reteveum suspiro.

– Faça as honras.– Por quê?– Como assim, “por quê?” – Ela não

estava a fim de explicar a ambivalênciada situação. – Porque você está maisperto. Até onde eu sei, esse lugar estáfechado há meses. Se tiver algum bichoaí dentro, você o encontrará primeiro.

– Você não está me convencendo,princesa. Eu vi como você pegou achave debaixo da varanda. Você nãotem medo de insetos ou aranhas.

– E fantasmas? – Ela falou aquilo sempensar. Rick fez uma careta diante dassobrancelhas erguidas dela. – Não

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fantasmas de verdade. Fantasmas dopassado. – Ela alisou a saia do vestido,obtendo uma desculpa para não olharpara ele. – Essa área era completamenteproibida para mim quando eu erapequena, então não fico totalmente àvontade aqui.

– Princesa, esse chalé é seu. Vocêtem todo o direito de estar aqui.

Nell ergueu o queixo e considerou oque ele disse antes de pegar a chave dasmãos dele e abrir a porta. Depois,acendeu a luz.

A sala e a cozinha estavam quasevazias e, apesar de uma fina camada depoeira, limpas e arrumadas. Ela andoupela cozinha e olhou os armários.

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– Há alguns utensílios e talheres, masacho que nada pessoal.

– Também não há nada aqui – disseele, olhando o armário da sala.

– Talvez tenhamos mais sorte nosquartos. – Mas quase não havia rastrosde John Cox nos dois cômodos.

Nell deixou-se cair na escrivaninhano quarto menor. Será que John usavaaquele cômodo como escritório? Sefosse o caso, o que ele fazia ali?

Além de evitar seus deveres comopai, claro.

Ela olhou para Rick. Não sabia dizerque impressão a cabana passava a ele.

Ele se virou como se sentisse o pesodo olhar dela.

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– Você esperava que fôssemosencontrar algo.

– Claro que sim. Você não?– Desde o começo achei que fosse

uma idiotice.Ah, que ótimo. Ela olhou para o teto.

Então ela não só era uma menininhamimada, mas também uma idiota? Nellendireitou-se ao perceber para o queestava olhando.

– A entrada de um sótão. – Elapuxou uma cadeira e fez um gesto paraRick.

– Se há alguma coisa lá em cima,princesa, são revistas pornográficas.

– Olha, eu não sou alta o suficientepara examinar ali, então quer fazer o

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favor de me ajudar?Mas ele não se moveu, ficou apenas

encarando-a.– Eu também posso trazer a escada

de jardinagem...Com um resmungo que ela ficou feliz

em não entender, Rick subiu nacadeira, abriu a portinhola e espiou ládentro.

Nell observou a maneira como osmúsculos do antebraço delesalientaram-se, junto com os bíceps. Elacerrou os punhos, tocando o canto daboca com a ponta da língua. Rick foilindo na juventude, mas nada emcomparação com o homem em quehavia se transformado. E aquela calça

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não deixava dúvidas sobre amasculinidade dele.

– Tem alguma coisa aqui.– O que?Esperou que fosse uma pista para

entender a mensagem criptografada.– Vou subir. – E desapareceu sótão

acima.– O que é? – chamou ela.– Uma caixa.– Com fotos, talvez? Alguma

certidão...O rosto dele surgiu na abertura,

rindo para ela.– Você é uma eterna otimista, não é?

A caixa está trancada. Pegue.

Ela subiu na cadeira e a segurou.

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Ela subiu na cadeira e a segurou.Depois ele desceu.

– Não se preocupe, princesa, eu seilidar com uma fechadura.

Ela não conseguia desviar o olhar dacaixa.

– Nell?Ela engoliu em seco e forçou-se a

olhar para ele.– Não precisaremos arrombar a

fechadura. – Ela lhe entregou a caixa epegou o medalhão que trazia nagarganta, retirando dali uma chaveminúscula.

Ele estreitou o olhar.– Onde você conseguiu isso?Ela tocou o medalhão.

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– Isso era da minha avó. E esta – elaapontou para a caixa – era a caixa dejoias dela.

Ele a encarou, sua expressão ficandomais tensa.

– John Cox roubou as joias da suaavó?

Ela deu uma risada alta.– Não acho que ele a roubou. Diria

que ele provavelmente a salvou.A compreensão surgiu nos olhos

dele.– De seu pai?– Sim. – A avó dela teve algumas

peças muito valiosas. Nell achava queelas estavam perdidas havia tempos.

Ele colocou o braço ao redor dos

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Ele colocou o braço ao redor dosombros dela e caminharam até acozinha, onde se sentaram em volta damesa com a caixa. Depois que ele tirouo braço, ela ainda podia sentir o calor eo cheiro dele, uma mistura de poeira eerva aromática, como páprica.

– Não vai abri-la?Claro que sim. Só que... ela nunca

esperou ver aquela caixa novamente. Eaquilo a fazia sentir ainda mais falta daavó.

– Ou você prefere levá-la para casa eabri-la com privacidade?

Ela ergueu o queixo.– Eu nunca disse que você era um

ladrão, Rick Bradford! – Uma tentação,

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claro que Nell tinha a intenção deresistir, mas um ladrão? Nunca.

Por um instante a pose dele perdeuum pouco da insolência.

– A polícia tem meu histórico deroubos menores em lojas, srta. Smythe-Whittaker.

– Não vou me dignar a responder. –Ela puxou a caixa para si, destrancou-ae abriu a tampa. – Ah, os anéis! Eu melembro de vê-la usando. Meu avô deueste a ela. – Ela tocou um imensodiamante. – E esta esmeralda pertenceuà avó dela. E este sinete de ouropertencia à mãe dela. – Ela os erguiauma por uma, entregando-os a Rick.

– O diamante e a esmeralda

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– O diamante e a esmeraldapoderiam render alguma coisa.

– Eu jamais os venderia!Nell sabia que ele jamais entenderia

seu sentimentalismo, mas... a avó foi aúnica pessoa na vida que Nell haviaamado incondicionalmente.

– Quantos anos você tinha quandoela morreu?

– Dezessete.– Deve ter sido duro.Com certeza, mas nada em

comparação com o que Rick haviapassado.

– Ah, olhe. John deixou uma cartapara mim.

Ele revirou os olhos.

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– Ele está se revelando umcorrespondente profissional.

Querida srta. Nell,Se encontrou a caixa da sua avó,então espero que você entenda porque eu a escondi. Sinto muito nãotê-la resgatado antes de seu pai pôras mãos no colar de diamantes.

Ela parou e olhou para a caixa.– É, sumiu.– Só temos a palavra de John de que

foi seu pai quem o pegou.– E o que sei do meu pai.Rick endireitou-se. Infelizmente, isso

não deixava os ombros dele menos

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deliciosos.– Mas que inferno, Nell.Ele apenas sorriu.Com quem você está realmente

bravo?Ela limpou a garganta e alisou o

pedaço de papel.

Sei que sua avó queria deixá-laspara você, e sei que você gostaria dedeixá-las para suas filhas.Meus cumprimentos, John.

Ela dobrou a carta e a pôs de volta nacaixa, junto com os anéis que Rickdevolveu, e a trancou.

– Rick, pode guardar a caixa de

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– Rick, pode guardar a caixa devolta?

– Por quê? Você deveria pelo menosusar essas peças, se não vai vendê-las.

Em um mundo ideal...Ela umedeceu os lábios.– As chaves-mestras da casa dos

Whittaker estão desaparecidas. Atéencontrá-las eu não posso... – Elaparou, engolindo em seco. – O queestou tentando dizer é que não consigopensar em um lugar melhor paraguardá-los do que aqui.

– Você está se esquecendo de umacoisa.

– O quê?– Eu sei onde ela está.

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– Já disse que não acredito que vocêseja um ladrão.

– Não, mas vou fazer uma proposta,princesa, que pode levá-la a ver ascoisas de outro jeito.

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CAPÍTULO 5

O CORAÇÃO de Nell estremeceu pelamaneira casual com que Rick disse apalavra proposta. Havia ali muitaspromessas, e ela sabia que promessaseram mentiras. Ela queria investirnaquela palavra mais esperanças do quepodia, uma forma de se redimir peloincidente do medalhão. A fantasiainfantil de ter um amigo verdadeiro.

Mas Rick Bradford não sabia disso.

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Mas Rick Bradford não sabia disso.Ele era bem diferente daquele meninode outrora, para quem a vida não foigentil. E ela precisava se lembrar de queele não tinha motivos para ser gentilcom ela.

– Proposta? – Ela ficou orgulhosapela voz não ter saído trêmula.

– Estava pensando em ir embora deSydney até o final da semana.

Isso lhes deixava pouco tempo paradesvendar o código de John.

– Já fiquei muito tempo parado, eagora é hora de fazer alguma coisa.

– Com o que você trabalha? – Elanão se conteve. Será que ele tinha umemprego fixo?

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– Eu geralmente pego trabalhos emconstruções aqui e ali.

A resposta era não.Ele sorriu indolentemente, como se

tivesse lido a mente dela.– Não gosto de me prender muito

tempo a uma coisa só. Gosto deliberdade.

Ela entendeu que isso valia tambémpara relacionamentos.

– O que você está pensando? –perguntou ele de chofre, fazendo-apular.

– O quão terrível a prisão deve tersido. – Não lhe ocorreu mentir, porém,quando a expressão do rosto dele sefechou, ela desejou ter feito isso. – Sinto

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muito você ter ido para a prisão poralgo que não fez.

– Isso é passado.Nell precisou conter um arrepio. Ele

carregaria as cicatrizes da prisão parasempre.

– Você disse que estava planejandodeixar Sydney, no passado. Mudou deideia?

Ele se levantou e caminhou até ooutro lado da mesa antes de voltar atéela.

– Vou chegar ao fundo desse malditomistério!

Ele disse maldito com tanta raiva queela não pôde deixar de fazer umacareta.

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Rick passou a mão pelo rosto,encarando-a com os olhos cansados.

– Desculpe.Ela balançou a cabeça, desaprovando

o próprio decoro.– Não precisa pedir desculpa.

Entendo sua raiva.– Acho que entende, mesmo.Ela não queria seguir aquela deixa,

então limitou-se a dizer:– Acho que é mais prudente

descobrirmos quem é seu irmão ouirmã.

– Só que já fiquei tempo demais nacasa de Tash.

Duvido.

– Além disso, ela está apaixonada.

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– Além disso, ela está apaixonada.Estou sobrando. – Ele sorriu. – E nãoaguento mais a overdose de amor entreela e Mitch.

Acredito!Por algum motivo, os braços dela se

arrepiaram.– O que eu ia propor é que você me

deixasse usar de graça esse chalé pelaspróximas semanas. Digo, ele estáfechado, mesmo.

O arrepio se irradiou pelo pescoço echegou à espinha.

– Em troca, farei alguns trabalhos nacasa grande.

Os arrepios desapareceram. Ele nãotinha a intenção de tirar vantagem dela,

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afinal de contas?– Que tipo de trabalho?– Quaisquer reparos que forem

necessários, e talvez alguma pintura.Seria brilhante! Ela abriu a boca para

aceitar a proposta antes que ele aretirasse, mas então reparou no olharde Rick. Um olhar que ela reconheciados olhos do próprio pai, que dizia: Euvou fazer as coisas do meu jeito e nãoligo para os métodos que terei queutilizar.

Ela não era mais uma tola. O paihavia descoberto isso, e Rick logodescobriria também. Nell empurrou acaixa de joias na direção dele.

– Ponha de volta.

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– Isso é um sim?– As negociações estão em

andamento, mas, independentementedo resultado, não afetam o destinodessa caixa.

Ele reclinou-se, de braços cruzados, epor um instante Nell achou que ele iarecusar. Então, ela disse:

– Deus, onde estão meus modos?Você, por favor, poderia guardar a caixano sótão?

Um canto da boca dele se ergueu.– Não estava esperando um “por

favor”, princesa.– Eu sei, mas não há desculpas para

falta de educação. Você acha que essechalé é bom o bastante para você?

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– Sim.– Então eu proponho que voltemos

para casa e pensemos em algum acordoque satisfaça ambos os lados.

Ele riu alto, e ela desejou que ele nãotivesse feito. Rick ficava muito maisbonito e gentil quando ria.

Rick então guardou a caixa no sótão.Voltaram em silêncio para a casa.

– Prefiro ir direto aos detalhes, Rick.Quanto tempo você pretende ficar?

Ele deu de ombros.– A princípio, um mês.– Tudo bem. – Ela estava usando sua

voz para negócios. – Podemos fazeracordos semanais, depois disso.

– Certo.

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Ele estava rindo dela? Nell não sabiadizer ao certo.

– Então, incluído na sua lista dereparos de quatro semanas... – elaadentrou o grande hall com suaescadaria que se curvava até o primeiroandar – pode consertar isso?

– Anotado.Não importava se ele estava rindo

dela. Nell ergueu a cabeça e entrou nagrande sala de estar, com suas janelasimensas.

– Pode consertar o buraco na parede?Ele o mediu com os olhos, depois

com o dedo, e finalmente agachou-separa olhar melhor, fazendo a calçadelinear aquelas coxas e aquele traseiro

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que a deixaram salivando. Ah, minhanossa. Uma fome que nem todos oscupcakes do mundo aplacariam tomouconta dela.

Rick virou-se.– Isso não... – Um sorriso tomou

conta do rosto dele, e Rick cruzou osbraços. – Viu algo interessante,princesa?

O calor a engolfou. Nell desejou quea terra se abrisse e a engolisse.

– Não seja ridículo. – A voz dela saiucomo um grasnado, fazendo o sorrisodele dobrar de tamanho.

Ela apontou para a parede.– Você dizia...?Muito lentamente, ele se endireitou.

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– Não faço parte do acordo, Nell.– Em momento algum achei que

fizesse. – Como Rick podia achar umacoisa dessas, dele e dela? Então, ela selembrou que a mãe dele era umaprostituta.

Nell fechou os olhos e engoliu emseco. Se 15 anos atrás ela tivesse ficadodo lado dele, poderia sair daquelasituação e...

Ah, quem ela queria enganar? Issonão apagaria o senso deresponsabilidade que ela sentia porJohn.

– Por favor, podemos voltar para astarefas?

– Claro. – Ele gesticulou para a

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– Claro. – Ele gesticulou para aparede. – Isso parece ter sido umabatida na parede, que abriu o buraco.Posso fechá-lo e repintar o cômodotodo.

Assim, valeria a pena aguentar aszombarias de Rick!

– Então, temos um acordo.Ele riu.– Você não tem muita noção, não é?– Do que você está falando?– Até agora, combinamos o

equivalente a uma semana de trabalho.Só?– Vou consertar as calhas que estão

caindo do lado de fora. Isso já rendeoutro dia de trabalho.

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Nossa. Hã...– E que tal pintar o exterior da casa?

– Bem que estava precisando.Ele balançou a cabeça.– É muito trabalho para uma pessoa

só. Pelo estilo e a idade deste lugar,seria melhor deixar a tarefa paraprofissionais. Além disso, não sei sevocê poderia pagar pelos materiais nomomento.

– Quanto custaria?– Pela tinta e o trabalho braçal? Eu

não esperaria menos de 20 mil.Tanto assim? Ela precisava se sentar.

Só que não havia nenhuma mobília nasala.

– Posso ligar para alguns lugares e

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– Posso ligar para alguns lugares efazer cotações para você.

Ela assentiu.– Vou precisar disso para o plano de

negócios que pretendo apresentar parao banco.

– Sei que isso não é da minha conta...começou ele.

Ela o olhou.– ... mas essa casa vale tanto a pena,

assim?– Sim. – Ela fez uma promessa que

não tinha intenção de quebrar. Cerrouos punhos. Ela podia dar conta!

Rick caminhou com seu passoindolente até ela. Parou a alguns

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centímetros, levando as mãos aosquadris sensuais e cerrando os olhos.

– Quais são seus planos para estelugar?

Um marido e filhos – uma família.Muitas risadas. E amor. Mas até lá...

– Vou transformar a casa dosWhittaker na casa de chás maisrequisitada de Sydney.

Ela esperou que ele risse e achamasse de louca. Mas, ao contrário,ele se virou para avaliar o cômodo.

– É uma boa ideia para um lugarantigo como esse. Quais cômodos vocêplaneja utilizar como área útil?

– As duas salas grandes da frente, asala de jantar, que abre para o terraço, e

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a biblioteca. São cômodos bemespaçosos. Para reuniões menores, háuma saleta e a sala de música.

Ela o levou para conhecê-los,avaliando cada um deles.

– Parece estar tudo em ordem,tirando uns reparos aqui e ali, nada queum pouco de cimento e uma furadeiranão resolvam. E talvez umarecauchutada. Posso pintar as duas salasda frente e a de jantar em um mês.

Ele inspirou e suspirou.– Na verdade, a biblioteca também.

Não há muito que fazer lá.Ela mordeu o lábio.– Quanto vai me custar o material

para tudo isso?

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– Depende do tipo da tinta que vocêescolher. Você precisa de algo durável.Que cores você prefere?

– Os vitorianos não tinham medo decores, e essas salas são grandes obastante para ficarem bem coloridas.Pensei em um azul-real e um verde-jade para as duas salas da frente, talvezaté um tom de coral. A biblioteca écheia de prateleiras, não há muitoespaço para se pintar, então talvezcreme, para o ambiente não ficar muitoescuro.

– Esta sala abre para o terraço e ojardim. Talvez você devesse pintá-la deverde para combinar com o tema, e decoral algum dos cômodos da frente.

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– Ah, é uma boa ideia. Mas quantoisso vai me custar?

Ele endireitou-se antes de anunciarum valor que a fez arquear assobrancelhas. Por fim, ela assentiu.

– Certo, posso dar conta. Acho quetemos um acordo, Rick.

Ele lhe lançou um sorriso matreiro.– Não tão rápido, princesa, as

negociações ainda não acabaram.Não?– Você é duro na queda.– Em troca de todo o trabalho em sua

casa, tenho uma exigência adicional.Ela cruzou os braços.– E qual seria?

Por um instante o olhar dele recaiu

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Por um instante o olhar dele recaiunos lábios de Nell. Ela prendeu arespiração. Ah, ele não queria dizer...?

Eles desviaram o olhar ao mesmotempo.

– Que você me forneça meia dúziade cupcakes por dia. Um trabalhadorprecisa comer.

Ela pôs as mãos na cintura.– Rick, você não pode comer seis

cupcakes por dia. Seus dentes vãoapodrecer, e você vai ficar doente. Quetal dois por dia, e alguns sanduíches?

– Quatro cupcakes e algunssanduíches.

Ele comia direito? Tashprovavelmente cuidava disso no

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momento. Como ele estava dedinheiro? Não que ela pudesse falar doassunto, mas estava conseguindo pagara contas. Ela respirou fundo.

– E ainda tem o churrasco dedomingo que vou fazer.

– Agora sim.– Venha. – Ela o levou até a cozinha,

onde redigiu um breve contrato em umbloco de notas. Assinou-o e o passoupara ele.

– Acha que é necessário?– Aprendi a não correr riscos.– Você confia em mim quanto às

joias da sua avó, mas não com oacordo?

– Eu já disse, não acredito que você

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– Eu já disse, não acredito que vocêseja um ladrão. – Ela continuoufitando-o, sentindo-se exposta. – Issonão quer dizer necessariamente que euconfie em você.

O CORAÇÃO de Rick ardia por ela,enlutado pela garotinha de olhosgrandes que sorrira para ele com ocoração tão aberto que o fizera acreditarem dias melhores.

– Soa como algo que você penou paraaprender, princesa.

Ela não respondeu. Rick assinou ocontrato porque queria que elaconfiasse nele. Para o melhor ou o pior.

– Você mudou, princesa. Muito.

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Ela bufou.– Está dizendo que não sou mais

gorda?– Não use essa palavra! – A voz dele

saiu mais aguda do que ele pretendia.Em sua mente, reverberavam apenasinsultos: Sua gorda inútil! Como alguémpoderia amar você! Você é gorda e feia!Coisas horríveis que homens diziam amulheres para feri-las.

Nell o encarou com os olhossemicerrados. Ele retribuiu.

– Você nunca foi gorda.Ela desviou o olhar.– Eu era cheinha, meio sem jeito e

quase cronicamente tímida.O que era verdade.

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– Eu sempre a achei bonitinha.Ela olhou para ele novamente. Ela

tentou ocultar, mas Rick percebeu queela queria acreditar nele.

– Se isso é verdade, então você faziaparte de uma minoria.

Ele ainda a achava bonita, mas nãopodia fazer nada a respeito. Nellrepresentava problemas. Ecomplicações. Tudo que ele queriaevitar.

– Então, como você passou de tímidae sem jeito a sofisticada?

– Ah, é uma história entediante.A relutância dela o intrigava.– Eu gostaria de saber.

Ela suspirou e levantou-se para fazer

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Ela suspirou e levantou-se para fazerum café. Ele estava prestes a dizer queela ingeria cafeína demais quando elacolocou alguns de seus extraordinárioscupcakes diante dele, e Rick decidiuficar quieto.

– Delícia de mirtilo e tutti-frutti –informou ela, sentando-se.

Ele ergueu uma sobrancelha.– E então?– Bom, eu não era exatamente o tipo

de criança que meus pais queriam queeu fosse. Eles queriam uma menininhadelicada que fizesse balé e encantasse atodos.

Rick fez uma careta. Nell não seenquadrava naquelas exigências.

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– Quando me tornei adolescente,minha mãe esperava que eu metornasse louca por moda, umacompanheira para as expedições decompras dela.

– E seu pai?– Quem sabe? Ele provavelmente

teria ficado feliz se os colegas do clubede golfe tivessem feito comentáriossobre como eu estava me tornando umadestruidora de corações e que ele iriater que afugentar os meninos com umbastão.

Será que Nell sabia que aquela erasua descrição atual?

– Quando minha avó descobriu oquanto eu estava infeliz, resolveu me

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ajudar. Ela me levou a um terapeutaque me fez superar a timidez. Tambéma uma estilista que me ensinou quaistipos de roupas, cabelo e maquiagemeram melhores para mim. – Ela tomouum gole de café. – Claro, nada dissoaconteceu da noite para o dia.

– Você sabe que seus pais estavamerrados por terem tais expectativas,certo? – Eles deveriam ser chicoteadospor fazê-la se sentir um fracasso.Pessoas assim não deveriam ter filhos.

– Agora eu sei.Ele deu uma grande mordida em um

dos bolinhos, e a encarou por um longoinstante.

– Por que toda essa determinação em

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– Por que toda essa determinação emevitar autopiedade?

– Porque, apesar da minha mágoacom meus pais, minha infância não foidifícil como a sua, ou a de Tash, ou dalouca da Cheryl, por quem você foi paraa cadeia. – Ela mostrou um meiosorriso. – Cheryl costumava me jogarpedras sempre que me via no jardim.

Isso não o surpreendia. A vida nacasa de Cheryl sempre foi mais do quechocante. Mas...

– Não é uma competição, princesa. –Nell tinha todo o direito de sentir dor edesapontamento.

– Diga isso aos meus pais.

Ele então percebeu a expressão no

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Ele então percebeu a expressão norosto dela.

– Não funcionou, não foi? Elescomeçaram a notar você?

– Sim. Eu só levei muito tempo paraperceber que isso não fazia diferença,que eles não iriam me amar mais porestar mais sofisticada.

Ele conteve um xingamento, sabiaque ela não ia gostar.

– Então percebi que estava perdendotodo esse tempo indo a festas que nãogostava, comprando roupas que nãoqueria e andando com mulheres queme chamavam de amiga, mas que nãotiveram a decência de retornar minhas

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ligações desde que a calamidade seabateu.

Dessa vez ele esbravejou.– Foi então que decidi que estava

farta de tudo isso e que precisava focarem coisas mais importantes. – Os lábiosdela se curvavam. – Como cupcakes.

Ele teria rido se não tivesserepentinamente visto tudo com clareza,o motivo pelo qual ela havia feitoaquilo.

– Você entregou sua poupança, seuapartamento e seu carro a seu pai porque deseja se desconectar de seupassado.

– Bingo, garotão. – Ela soavasofisticada e segura, mas não podia

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ocultar a vulnerabilidade em seus olhos.– Acha isso uma atitude estúpida?

– Acho que foi inteligente e corajosa.Você não precisa provar nada para essaspessoas.

– Obrigada.Ela sorriu, e por um instante ele

achou que os olhos dela estavambrilhando.

– Só tem uma coisa que eu nãoentendo.

– O quê?– Por que você está lutando para

manter essa relíquia em forma de casa?Por que não se livra dessaresponsabilidade?

– Essa casa pertencia à minha avó.

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– Essa casa pertencia à minha avó.Ela foi a única pessoa que me amouincondicionalmente. E ela amava essacasa. Meus pais moraram uns temposaqui porque queriam ser vistos na casagrande. Só o que eles veem aqui sãocifrões. Enquanto eu vejo...

Ela não terminou a frase.– Uma casa de chá vitoriana.– Acha que é besteira?– Acho que é um plano de negócios

interessante, com bastante potencial.Ela se inclinou na direção dele, seu

rosto acesso e vivo. Da mesma formacomo o havia olhado 15 anos antes,quando lhe entregou o medalhão. Só

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que ela não era mais uma garota, erauma mulher. E ele, um homem feito.

Rick tentou ajeitar o jeansinsuspeitamente, tentando lembrar-sedo que estava tentando evitar. Negócios– ele teria apenas negócios com Nell.

– Fiz minha lição de casa. Chássofisticados se tornaram um ótimoempreendimento em Sydney. Muitaspessoas procuram por locais temáticos,algo diferenciado. Acho que a casa dosWhittaker se encaixa perfeitamentenesse nicho.

Ele não duvidada nem um pouco.– Sei que a casa dos Whittaker não é

uma Downton Abbey, mas ela tem seucharme próprio.

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– Absolutamente, mas...– Mas?Ele odiava ser a voz da razão.– Vai ser necessário uma belo capital

inicial para tirar os planos do papel. – Acasa precisava de tinta, dentro e fora.Os jardins precisavam ser domados epodados. Ela iria precisar de cadeiras emesas apropriadas, bem como talheres elouças. Nada disso ia ser barato.

– É por isso que estou preparandoum plano de negócios para apresentarao meu gerente de banco, com projeçãode gastos, ganhos etc. Espero que issome garanta um empréstimo.

– A não ser que você tenha outrosbens que não mencionou. Neste caso,

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você terá que dar a casa dos Whittakercomo garantia.

– Como você sabe disso?Não era uma acusação, e sim uma

dúvida genuína.– Eu fiz um curso de

empreendedorismo na prisão.Ela mordeu o lábio e assentiu.– Você tem seu próprio negócio?Ele balançou a cabeça.– Se você é tão habilidoso quanto diz,

então deveria começar seu próprionegócio de construção.

Ele engasgou.– Eu?– Por que não?

– Há pelo menos um milhão de

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– Há pelo menos um milhão demotivos!

– E provavelmente outro milhão demotivos pelos quais você deveria – disseela naquele tom de voz. – Bom, euainda vou preparar minha proposta. Senão tiver sorte, terei então queencontrar investidores.

– O que significará que o negócio nãoserá mais só seu.

– Não é o ideal, mas melhor do quenada.

Se ele quisesse, poderia estalar osdedos e fazer o dinheiro aparecer paraela. Por um instante, ficou tentado afazer isso. Mas logo afastou a ideia. Ricknão contou a Nell que era rico

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simplesmente por não querer que anotícia se espalhasse.

– Deve haver alguma iniciativa dogoverno que auxilie negóciosincipientes. Vou dar uma pesquisada.

Ele tinha que dar algum crédito aNell. Ela não estava sentada,simplesmente esperando que o PríncipeEncantado viesse resgatá-la.

Ela ergueu o queixo.– E se demorar mais do que esperava

para tirar meu negócio do papel, queseja.

Enquanto isso, ela iria ter que cuidarda reforma da casa.

– Você sabe que os anéis da sua avólhe renderiam o dinheiro de que

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precisa.– Fora de questão.Cabeça-dura. Ele respeitava isso,

mesmo que não fosse lhe servir denada.

Quando ela semicerrou os olhos, elereconheceu o raciocínio por trásdaquelas profundezas verdes. Queemenda ao acordo deles ela iria propor?Rick cruzou os braços e esperou.

Nell umedeceu os lábios.– Se eu ajudá-lo a decifrar o código

de John, você daria uma olhada nomeu plano de negócios, depois que eu oterminar?

Ele sorriu.

– Princesa, se você conseguir decifrar

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– Princesa, se você conseguir decifraraquilo, eu escreverei a proposta paravocê.

Ela estendeu a mão por sobre a mesa.– Então temos um acordo.A mão dele envolveu a dela por

completo, com um aperto firme. Elenão queria soltar.

– Quando você quer se mudar para ochalé?

Ele continuou segurando-a, mesmosabendo que era perigoso.

– Amanhã.Nell olhou para o relógio.– Santo Deus! – Ela retirou a mão. –

Vou precisar de patins para arrumar abagunça daquele lugar.

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– O chalé está ótimo, princesa.– Claro que não!– Não precisa se preocupar.Ela levantou a cabeça, o queixo

erguido quase que inconscientemente.– Vou deixar a chave no mesmo

lugar. Você conseguirá encontrá-la?– Vou dar um jeito.Nell então colocou os cupcakes

restantes em um saco de papel marrom.– Leve-os com você.– Pagamento adiantado?– Vai impedir que eu os coma. Além

disso, Tash e Mitch talvez gostem deum ou dois.

Ele não sabia dizer o porquê, mas seucoração doeu por ela. Ele quase disse

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uma tolice, como convidá-la para jantarcom eles.

Por que diabos a princesa iria quererjantar com ele? Rick então levantou-se,agradeceu pelos bolinhos e saiu.

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CAPÍTULO 6

RICK COMIA o último cupcake e tomavauma caneca de café quando Nell entroupela porta dos fundos.

– Ei, como vai?Linhas ornamentavam os olhos dela,

e seu vestido rodado, amarelo, comgrandes círculos roxos, pareciaamassado. Ele se perguntou o que elaestava fazendo.

– Você pode começar a usar a porta

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– Você pode começar a usar a portada frente, se quiser.

Um sorriso baniu as linhas decansaço do rosto dela.

– Você a consertou?Ele engoliu em seco. Uma mulher

como aquela princesa podia fazer umcidadão como ele se sentir o Super-Homem, se não tomasse cuidado.

– Não foi nada. A madeira rachou.Eu consertei a porta, está novinha. – Eletentou se recompor. Ela talvez fosseuma dama em perigo... ou não. Mas elenão era um herói. Ambos sabiam disso.– Eu prometi fazer valer o nosso acordo.

– Sim, mas não esperava que vocêcomeçasse a trabalhar no instante em

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que se mudasse. Achei que tiraria umdia ou dois para se acomodar.

Acomodar-se? Não era necessáriomuito tempo para desfazer uma mala.

– Você deixou cupcakes e sanduíchesno chalé para mim. – O chalé estavaimpecável, também. Ele se perguntouquem ela havia contratado para limpartudo.

– Ah, foi apenas um gesto de boavizinhança. Se soubesse que iriacomeçar hoje, eu teria dado uma chavea você. – Ela levou a mão à cintura. – Oque me leva à pergunta: como vocêentrou?

Ele engoliu em seco, esperando queaquela suspeita devastadora sumisse do

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rosto dela, que ela saísse correndo paracontar a prataria da casa. Desde quesaíra da cadeia, era assim que as pessoaso tratavam. Ele foi para a prisão aindagaroto, mas saiu de lá muito mais sábioe duro na queda. Ele não podia fazeruma comparação entre Cheryl e Nell –as vidas das duas eram muito diferentes–, mas os mesmos instintos protetoressurgiam nele sempre que ele olhavapara a princesa.

Rick suava frio. Ele não tinha aintenção de aproximar-se daquelaforma de mais ninguém – não tinha aintenção de levar a culpa por nada queo levasse de volta para a cadeia. Nuncamais.

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– Ah, deixe de besteira, seu idiota!Ele ficou pasmo diante da

agressividade de Nell.– Se eu confio em você com as joias

da minha avó, vou confiar com oconteúdo da minha casa. Pelo amor deDeus, não há mais nada de valor aquipara ser roubado. Meu pai já fez isso hámuito tempo.

Diante da máscara de irritação norosto dela, ele voltou à realidade,dando de ombros.

– A segurança da casa é tão ruimassim?

– Não é grande coisa. Você deveriainstalar um sistema de alarme. Eu, hã,entrei pela porta dos fundos.

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– Mas eu a tranquei.– Você precisa se lembrar de usar

também a trava.Ela suspirou.– Um sistema de alarme? É melhor

colocar na lista.Nell se virou para a cafeteira, mas viu

a garrafa dele cheia de café instantâneo,e se voltou para ele com desgosto:

– Quer mais?– Não, obrigado.– Por que não fez café de verdade?– Aquele café é seu.– Então, aposto que há leite na

geladeira com o seu nome, e tambémaçúcar no armário.

Ele mudou de posição.

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– As pessoas podem se irritar comessas coisas.

Ela apontou a colher de chá para ele.– Vamos esclarecer uma coisa.

Enquanto estiver trabalhando aqui,sinta-se à vontade para usar chá, café,pão, biscoitos, o que quer que haja noarmário. E, se eu quiser, vou me servirdo seu café instantâneo. Algumproblema com isso?

Ele sorriu.– Nenhum, princesa.Ela fez café e o bebeu fechando os

olhos, como se aquela fosse a primeirachance do dia que tinha para relaxar.Ele perguntou-se novamente o que ela

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andava aprontando. Visitando tipos dasociedade em busca de investidores?

– Ah, eu ia perguntar. Aquele carroparado lá fora é seu?

– É.– Há espaço na garagem, se quiser.– Há uma garagem?– Venha comigo.Com uma caneca de café em mãos,

ela cobriu o terreno entre a casa e ochalé. Escondido estrategicamente atrásdas árvores e de frondosos arbustoshavia um imenso galpão com trêsgrandes portas de madeira.

– Eu não fazia ideia de que havia essagaragem aqui. – Ele já devia ter passadocentenas de vezes pelo lugar. Virou-se

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para investigar o espaço. – O que eraaqui antes?

– Estábulos, muito tempo atrás. Elesforam convertidos há anos, por isso oportão e a grade não são automáticos.Há um certo charme nessas grandesportas de madeira, não gostaria detrocá-las por mera conveniência. – Elatomou um gole de café. – Essa baia estálivre.

Abriu o portão, revelando o espaçovazio. Na baia ao lado havia uma van,como aquelas que passavam pelavizinhança vendendo sorvete nainfância deles. Só que, em vez desorvetes, a lateral dela estava decoradacom cupcakes. “Cupcakes da Candy”

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estava escrito em letras pastéisfloreadas.

Rick virou-se para ela, cruzando osbraços.

– Seu negócio é obviamente maior doque eu imaginava.

– Pois é. – Ela deu outro gole.– Por que você não me contou?Por um instante o olhar dela

descansou nos ombros dele. O coraçãodele começou a bater em um ritmo tãovelho quanto o tempo. Ele cerrou osdentes. A princesa e ele não iam dançaraquele tango.

– Nell?Ela deu um pulo.– Desculpe, eu...

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Ela desviou o olhar, corando. Elecerrou ainda mais os dentes.

– Desculpe, estou cansada. Estádifícil me concentrar. – Ela gesticuloupara a van. – Todos esperam que eufalhe. Algumas pessoas me disseramisso diretamente. Outras riram, como sefosse uma piada. Outras sorrirameducadamente, levantandosobrancelhas céticas. Não preciso dessetipo de negatividade na minha vida.

– E você achou que eu fosse reagirdessa forma.

– Você reagiu assim.– Eu...– Você achou que meu negócio de

cupcakes se limitava a algumas entregas

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nos fins de semana e nada mais. Nempassou pela sua cabeça a possibilidadede eu trabalhar de segunda a sexta, masé o que eu faço. Eu entro na Candy elevo cupcakes e café para as massas. Ou,pelo menos, para os funcionários dosescritórios. Você não vai acreditar emquantas pessoas se dão de presente umcupcake por semana para um chá oucafé da tarde.

Nossa.– Não achei que você fosse me julgar

como fez.Ele sentiu um frio na barriga.– Você foi para a cadeia. Sei o que as

pessoas falam a seu respeito. Achamque você é um criminoso. Acham que

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não é digno de confiança. E ainda vãopensar assim, mesmo depois que seunome for limpo, pelo fato de você já terestado na cadeia.

Cada palavra era como uma facada.– Eu não o tratei assim.De fato, mas ele ficou esperando que

ela repetisse o tratamento geral. Oestômago dele revirou. Aquilo não erajusto, era? Ela não havia mostrado nadaalém de... simpatia.

– Eu também sei o que as pessoaspensam de mim: a princesinha mimadaque nunca precisou erguer um dedo navida. – Ela caminhou até ele e cutucou-o no ombro. – Bom, eu não sou fútil,

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não sou um fracasso e não sou... nãosou inútil!

Ele segurou com cuidado o dedodela.

– Você não é inútil, princesa. Você ésimplesmente incrível. Desculpe por tê-la julgado mal. Você está mesmo dura?

– Sim.– E em meio aos seus problemas você

encontrou tempo para me ajudar.– Ajudar ou perseguir?Ele riu.– Obrigado por limpar o chalé.– De nada.Deus, quanta vulnerabilidade

naqueles grandes olhos verdes, quantadoçura naqueles lábios.

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– Princesa... – escapou dele, commuito desejo.

Nell se aproximou dele, olhando paraseus lábios. Rick segurou o queixo delae o ergueu, sentindo tanta necessidadede beijá-la que achou que iria cair dejoelhos. O desejo corria como fogo pelasveias dele. Os olhos dela brilhavam.

Com lágrimas.– Não se atreva a me beijar por

piedade.Ela não se moveu, e ele soube que ela

estava tão presa pelo desejo quanto ele.– Por favor, Rick, não me beije só por

ter dó de mim.Contra a própria vontade, ele a

soltou. Ele engoliu em seco duas vezes

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antes de falar.– Piedade era a última coisa que eu

tinha em mente, princesa.Ele precisava fugir dela até

reencontrar seu senso de equilíbrio.– É que... acho que seria uma ideia

realmente ruim beijar você.– Definitivamente.Ele a observou com cuidado, mas não

viu nenhum traço de ironia.Nell jogou o cabelo para trás.– Além disso, não quero que nem

você, nem ninguém pense que estou meaproveitando de você.

Ele quase riu.– Aproveitando-se de mim?

– Você entendeu o que eu disse...

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– Você entendeu o que eu disse...seduzindo você para fazer os consertosem minha casa de graça. Eu possomuito bem me virar.

Ele olhou para Candy.– Não duvido disso.– Que bom – disse ela, alisando o

vestido. – Tenho algumas chaves paravocê: da porta da frente, dos fundos edo portão. – Ela as jogou para o alto eRick as pegou no ar. – Agora, se não seimporta... vou tomar meu merecidobanho.

– Preciso falar outra coisa com você,princesa. Aquelas joias não podem ficarno chalé enquanto eu estiver morandolá.

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– Mas...– Não vou voltar para a prisão, Nell.

Se elas sumirem, os dedos serãoapontados para mim.

– Não os meus!Ela dizia isso agora.– Você precisa guardá-las em um

banco. Não vou correr esse risco.

AS SOMBRAS nos olhos de Rick lhediziam exatamente como era a prisão.Ah, não em detalhes, mas em essência.Ela suprimiu um arrepio.

– Eu não pensei nisso – disse elafinalmente.

Quando o que ela realmente queriadizer era me beije. Ela limpou a

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garganta.– Tudo bem se eu pegar a caixa pela

manhã? Assim que o banco abrir eucolocarei as joias em um cofre.

Ele assentiu com a cabeça.– A primeira coisa que farei pela

manhã.Ela então voltou para a casa,

deixando-o na garagem. Sentando-sena mesa da cozinha, ela massageou astêmporas. Santo Deus, ela precisavalutar contra o desejo por Rick, pois eleestava certo – beijá-lo seria uma máideia. Iria terminar em lágrimas – asdela. No instante em que Rickdescobrisse quem era a irmã ou o irmãomisterioso, ele iria dar o fora da cidade.

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Ela então se levantou.– Sou uma mulher forte, capaz de

tornar meus sonhos realidade.Ela continuou repetindo isso até o

chuveiro.

DURANTE A semana seguinte, Nell ficoumaravilhada com o progresso que Rickfez na casa. Ele transformou a sala devisitas feia e abatida em um espaçoreluzente e cheio de potencial. Tambémtrabalhou na lareira, deixando emevidência os azulejos ao redor dela. Acornija brilhava.

Quando Nell voltava para casa detarde, Rick e ela conversavam – comcuidado, brevemente. Rick então

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continuava o que estava fazendo ou seretirava para o chalé. Ela ia pesquisar nainternet como decifrar códigos. Semmuito sucesso.

– Ah, pelo amor de Deus! Isso é umaperda de tempo. – Ela bateu a tela dolaptop. Mordeu o lábio e a acarinhou,arrependida. A última coisa de queprecisava era ter que comprar outro.

– Está sem sorte?Ela olhou para cima e descobriu Rick

na porta, usando um cinto deferramentas. Os joelhos delafraquejaram um pouco.

– Eu já vi todos os sites sobre códigose todos os filmes já feitos sobre oassunto, e ainda assim, nada. – Ela

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puxou o pedaço de papel onde anotarao código. – AOLC 217, RDUD 163,OSEAF 8, SDUNDV 64, UQCV 33,OMABDR 102 – leu ela, mesmo já otendo memorizado. – Estou cansada deme sentir estúpida!

Ele não disse nada.Nell levantou-se, segurando-se para

não chutar a perna da mesa.– Por que diabos ele fez um código

tão difícil?– Porque ele não quer que eu

encontre a resposta.– Então por que ele o contatou?– Para aliviar a culpa? Para sentir que

estava fazendo a coisa certa, me dandouma chance de resolver o mistério?

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Para aliviar a culpa? O estômagodela revirava. Ela então franziu ocenho.

– Rick, é sábado.– É.– Você não precisa trabalhar nos fins

de semana.– Por que não? Você trabalha.Ela piscou.– Quero instalar as novas trancas

para as janelas da sala de visitas. Fiqueia manhã toda tentando decifrar essecódigo, e agora quero martelar algumacoisa.

Ela suspirou. Evidentemente, ocódigo o estava deixando tão frustradoquanto ela.

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– Você ainda não me deu os recibosdessas trancas.

Ele desviou o olhar.– Não consigo encontrá-los. Assim

que conseguir, entrego para você nasegunda-feira.

Foi o que ele dissera na quarta-feira.– Posso não estar nadando em

dinheiro, mas tenho o suficiente paracobrir o trabalho que nós combinamos.– Ele também não deveria estar commuito dinheiro. – Consertar a casa foi oque escolhi fazer com o que tenho.Bem, isso e comer.

– E eu tenho algumas dúvidas sobrea biblioteca – acrescentou ele, como se

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ela não tivesse falado. – Se você tivertempo...

Algo mudou na escuridão dos olhosdele, mas ela não soube dizer o quê.

– São perguntas que eu sabereiresponder?

Ele sorriu, pegando-a de surpresa.– Esquemas de cores e coisas do tipo.Ela ergueu o nariz.– Isso eu posso fazer. Moleza.Os olhos dele vasculharam a mesa; os

dela reviraram.– Sim, há cupcakes na lata. Sirva-se. –

Então lhe ocorreu: – Eu não fizsanduíches hoje. Você gostaria que eu...

– Não é necessário. O combinado foisanduíches de segunda a sexta.

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– Foi mesmo? – Quando ele sorriadaquela forma, Nell se esquecia até dopróprio nome. A risada quente envolviaa base da coluna dela, fazendo-aestremecer. – A biblioteca – murmurouela, caminhando pela casa.

– É um belo cômodo – disse Rick daporta.

Ela evitou encará-lo.– Eu costumava passar muito tempo

aqui quando era criança. Era minha salafavorita. – Ela não atrapalhava ninguémali.

– Você era uma rata de biblioteca?– Sim.Ele caminhou pelo cômodo.

– Você pretende deixar esses livros

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– Você pretende deixar esses livrosaqui quando abrir seu negócio?

– Todas as coleções encadernadas emcouro provavelmente ficarão aqui – ocômodo não seria uma biblioteca semlivros. – Ela passou o dedo pelasprateleiras envidraçadas. – Mas levareios meus favoritos lá para cima. Eles jáestão velhos, agora. Acho que possocolocar alguns enfeites nas prateleirasaqui e ali e...

Ela parou de chofre.– O que foi? – perguntou Rick, ao vê-

la empalidecer.– RDUD. – Ela conseguiu dizer.– RDUD 163 – corrigiu ele.

Ela abriu uma das prateleiras, pegou

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Ela abriu uma das prateleiras, pegouum livro e sentou-se no chão.

– Eu jamais teria pensado nisso, nemem um milhão de anos.

– Do que você está falando, Nell?Ela segurou o braço dele e o puxou

para junto de si, apontando para alombada do livro.

– O amante de Lady Chatterley –resmungou ele. – E daí?

– OALC – Ela apontou para outrolivro. – Retrato de uma dama, RDUD. Osom e a fúria, Sonho de uma noite deverão, Um quarto com vista, O moinhoà beira do rio. Estes são meus livros deliteratura do primeiro ano de faculdade.– Ela pegou O amante de Lady

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Chatterley e entregou a ele. – Abra napágina 217.

Ele virou as páginas com força esegurança. Ambos seguravam arespiração. Na página marcada, haviaum papel dobrado, que ele puxou parasi. Quando ele devolveu o livro, elapodia jurar que as mãos de Ricktremiam.

– Pode ser alguma anotação que vocêfez.

– Pode ser – concordou ela, tentandonão apressá-lo.

Ele então levantou-se e se afastou.Não era obrigado a compartilhar oconteúdo da mensagem de John comela. Ela apenas encarou o livro,

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esperando que ele dissesse algumacoisa, com o coração acelerado.

– Um T.Ela virou-se e o viu segurando uma

folha de papel com uma única letra.– Ele não disse que ia ser fácil, disse?Ela olhou para os outros livros.– Obviamente, os livros formarão

alguma palavra. Talvez um nome.Não havia mobília ali, então ela levou

os livros para a mesa da cozinha, antesde virar-se e ir para a porta.

– Aonde você vai? – perguntou ele.– Achei que você ia querer um pouco

de privacidade.Ele arqueou uma sobrancelha, durão.– Não está curiosa?

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– Claro que estou.– Então fique. Eu jamais teria

chegado até aqui sem você.Ela não precisava de mais

encorajamento. Sentou-se à mesa eobservou-o em silêncio descobrir cadauma das seis letras. Ao terminar, os doisse afastaram para observar a mensagem:

THESUN

Um grito escapou da garganta deNell.

– Mas... o que essas malditas letrasquerem dizer?

– Numerais romanos – disse Rick,inclinando-se para observá-los com

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mais atenção. – Acho que é uma data.Ele endireitou-se.– The Sun – disseram ambos juntos,

referindo-se ao jornal de Sydney.– Não sou boa com numerais

romanos. – Nell foi até o computador,mas Rick não se moveu.

– Quer dizer 26 de maio do ano de2013.

Era quase um ano atrás.– Os números antigos devem estar na

internet. – Ela acessou a página dojornal, clicando e clicando até encontrara edição da data. – Aqui. Dê umaolhada enquanto preparo café.

Ele sentou-se onde ela estivera.

– O que você acha que devo

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– O que você acha que devoprocurar, os classificados ou algumamensagem codificada?

– É melhor não ser nada muitocodificado.

Ele riu e voltou a atenção para ocomputador.

Ela serviu o café e colocou oscupcakes em um prato: explosão cítrica,lima, creme de baunilha e café au lait.Quase passou o dedo pela cobertura doúltimo bolinho, mas se conteve noúltimo minuto. Pensou no tanto detrabalho que teve para perder o peso dequando era adolescente. Quando suacasa de chá vitoriana estivessefuncionando ela aproveitaria os frutos

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de seu trabalho sem se preocupar com asilhueta. Mas até lá...

Ela torceu o nariz. Era um fatoconhecido que mulheres mais esguiastinham mais chances e melhoresoportunidades do que mulheres maischeinhas. Não era justo. Na opiniãodela, isso era escandaloso, mas Nell nãotinha muitos recursos. Ela precisavatirar o melhor proveito possível de suacintura magra.

Virou-se.– E então?– Há uma mensagem aqui... para

mim.O coração dela deu um enorme salto.– Está dizendo quem...?

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– Não. A mensagem diz: RickBradford. Muitos anos de vida.

A data de 26 de maio era oaniversário dele?

– Você superou as expectativas. Ela éuma boa companheira.

– Ela?– Ela – repetiu ele.– Acha que é uma forma indireta de

dizer que você possui uma irmãdesconhecida?

– Acho que ele está se referindo avocê. Retorne no dia 13 de março.

Ela bateu o prato de cupcakes namesa.

– Retornar para onde? – gritou ela.

– Acho que ele quis dizer aos

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– Acho que ele quis dizer aosclassificados do jornal. Parece que eleplanejou muito bem tudo isso antes demorrer, que ele pagou esses anúncioscom antecedência. Imagino há quantotempo.

A complexidade do esquema de Johna deixou embasbacada.

– Treze de março é daqui a algumassemanas. Se é que ele está se referindoa este ano.

– Tudo então será revelado se vocêtiver olhos para ver.

Ela abriu a porta de um armário sópara poder fechá-la com força.

– E ele termina com um hip, hip,hurra!

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– Ah, grande ajuda – resmungou ela.Ele riu.– Mas ele estava certo em uma coisa.

Você é uma boa companheira. Eujamais teria chegado até aqui sem você.

– Ora, claro que não! – explodiu ela.– É esse o propósito estúpido dissotudo, não? Como você teria chegado atéos malditos pedaços de papéis em meuslivros? Como você iria saber sobre aminha estúpida lata com osmalmequeres? Como ele se atreve aarriscar tudo com algo tão... incerto!Como ele sabia que eu estaria aqui paraajudar você?

– Ele não sabia.

Ela encarou o prato de cupcakes e

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Ela encarou o prato de cupcakes efechou os punhos. Rick o tirou de pertodela.

– Princesa, não vale a pena ficarirritada.

– Não vale... – Ela começou a tremer.– Você está realmente furiosa com

ele, não?Nell tinha a sensação de que eles não

estavam mais falando sobre John.– Sim. – Pois se eles estavam falando

do pai dele ou do pai dela, nos doiscasos era verdade. – Como ele se atrevea me arrastar para este joguinho sujo!

Novamente, servia para ambos oslados.

– Que direito ele tinha? Que...

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Ela ficou sem ar, e sentou-se.– Hã... Nell? Você está bem?– Você disse que talvez ele estivesse

tentando se sentir melhor... tentandoconsertar as coisas.

– Sim, e daí?– É essa a questão. Ele quer que eu

também conserte as coisas.

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CAPÍTULO 7

RICK PAROU de chofre ao entrar nacozinha e encontrar Nell bebendo cafée comendo cupcakes.

Às 10h de uma quarta-feira.Ele contou duas embalagens, o que

significava que ela estava no terceiro, efranziu o cenho. Aquela não era amaneira de comer aqueles cupcakes!Cada mordida deveria ser saboreada aomáximo.

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Ela não olhou para ele. Rick esfregoua nuca.

– Bom dia.Ela continuou olhando para a mesa.– Dia. – Ela mordeu. E mastigou. E

engoliu.Certo, segunda tentativa.– Passei para pegar algumas coisas.

Estou sem soda e lixa de parede.– Você não precisa justificar seus

movimentos, Rick. Acredito que vocêvai honrar seu lado do acordo. Como equando fica a seu critério.

Ele hesitou, mas puxou uma cadeira.– Você tampouco precisa justificar

seus movimentos para mim, mas o quediabos você está fazendo em casa,

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comendo cupcakes como se eles nãofossem nada demais, quando omovimento da hora do chá está prestesa começar em Sydney?

Ela continuou a comer, com osombros caídos.

– A Candy quebrou.Ele fez uma careta.– Ela está no conserto?– Não.– E por que não?Ela finalmente olhou para ele. Rick

tentou não reagir diante das linhas decansaço ao redor da boca de Nell.

– Por causa disso aqui. – Ela ergueuuma pilha de cartas abertas. – Contas. –Ela então colocou uma por uma sobre a

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mesa, anunciando com amargor o totalde débito. – É mais da metade do queeu tenho na minha conta. Nomomento, não sei se tenho condiçõesde mandar consertar a Candy.

Porém, sem Candy ela nãoconseguiria ganhar dinheiro para pagaraquelas dívidas.

Se ele aprendeu uma coisa na noitepassada – além do fato de que elequeria beijá-la – era que Nell trabalhavaincansavelmente. Se alguém mereciauma folga, essa pessoa era ela.

– Quanto você vai receber dos seuspedidos, e quanto você ainda estádevendo?

Ela suspirou, empurrou o prato e

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Ela suspirou, empurrou o prato eabriu o laptop.

– Vamos ver... – Os dedos deladançaram pelo teclado.

Ele deu a volta na mesa e olhou porsobre o ombro dela. O que viu o fezfranzir o cenho.

– Princesa, há meia dúzia de pedidosaqui... – pedidos grandes, também – detrês meses atrás que ainda não forampagos. – Ele apontou para a planilha. –Olha, aqui e ali. – O movimento otrouxe para tão perto que o cabelo delapinicou o queixo dele, e o cheiro deaçúcar que ela emanava fez a boca deRick salivar. Ele se afastou algunscentímetros para evitar fazer algo

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estúpido. – Só esses três pedidos jácobririam suas dívidas.

– Eu sei, mas...Ela ergueu-se e ele precisou esquivar-

se da cadeira dela, para evitar algumdano sério. Nell caminhou até o fim damesa, virou-se e jogou os braços no ar.

– Como fazer com que paguem? Jámandei pelo menos três cartas de avisopara cada um. Já falei com eles aotelefone, e sempre me garantem que ocheque está no correio.

– Você sabe se alguma dessas pessoasestá com dificuldades financeiras?

– Não! É esse o problema. Digo, eueliminei algumas dívidas porquedescobri que...

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Porque sabia como era estarendividada, não é? Por que Nell tinhauma habilidade incrível de sentirempatia pelos outros – algo que elajamais esperaria de alguém com a vidadela. Mas, enfim, ele já a havia julgadomal tantas vezes.

Mas isso não mudava alguns fatossalientes.

– Você acha uma atitude razoável ouresponsável encomendar um monte decupcakes sendo que você não podepagar?

Por um longo instante ela não dissenada.

– Estremeço só de pensar em quantasdívidas meu pai não pagou.

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– Elas não são de suaresponsabilidade, princesa. – Enquantoisso, as pessoas com condições de pagartiravam vantagem dela. Ele cerrou osdentes.

Ela apenas deu de ombros.– Quer ouvir algo engraçado?– O quê?– Eu achava que cada uma dessas

pessoas com débitos imensos fosseminha amiga.

Ele precisou de muita força paramanter os ombros relaxados.

– O que você precisa, princesa, écontratar um cobrador.

Ela o encarou, inexpressiva.

– E, como atualmente estou à sua

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– E, como atualmente estou à suadisposição...

Por um instante cintilou nos olhosdela aquele verde-esmeralda que o faziater vontade de beijá-laincessantemente.

– Ah, eu não poderia...– Você não tem escolha.Ele tinha experiência com cobradores

– eles visitavam a mãe e a avó dele comfrequência. Assim, conhecia ocomportamento sombrio e intimidadorque era necessário, e sabia tambémcomo ameaçar alguém implicitamente.Ele ameaçaria expor aquelas pessoas nojornal local se não pagassem o quedeviam a ela.

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– Você deu duro por esse dinheiro.– Eu sei, mas...– Nell, se você não tem estômago

para isso, então talvez devesse repensarseus planos para a casa dos Whittaker.

Ela ficou imóvel diante dele. Semdizer mais nada, imprimiu as trêsdívidas e as entregou a Rick. Ele asolhou e balançou a cabeça ao ver quecontinham todas as informações de queprecisava: nomes e endereços.

– Por favor, não os assuste.– Claro que não. – Ele cruzou os

dedos atrás das costas. Depois queterminasse, aquelas pessoas iriampensar duas vezes antes de penduraruma conta novamente.

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– Digo... isso vai ser muitohumilhante para eles.

Ele iria certificar-se disso. Aquelaspessoas não a humilharam,simplesmente; elas a magoaram. Elasdeveriam ser amigas de Nell, pelo amorde Deus!

– E só para você saber... – elaumedeceu os lábios – os Fenimores temum rottweiler.

Ele tentou não focar no brilho doslábios dela. Aquela atração entre ele eNell era loucura. Uma que não chegariaa lugar algum. Ceder a ela seria umaestupidez.

Maravilhosa.Ele tentou focar na conversa.

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– Ele é feroz?– Nem um pouco. Um molengão.

Não se preocupe se eles... – Ela deu deombros.

Ele quase riu. Antes de sair, porém...– Nell, sente-se. Precisamos ter uma

conversa séria.Ela olhou para ele com suspeita, mas

sentou-se. Ele sabia que aquelas dívidaseram apenas a ponta do iceberg dosproblemas financeiros dela. Rick vinhatrabalhando no bendito plano denegócios dela e sabia que nenhumbanco de Sydney lhe emprestaria ummísero centavo se ela não hipotecasse acasa dos Whittaker. Ele disse isso emalto e bom som.

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– Mas...– Não estou dizendo isso para

dificultar sua vida, mas você precisasaber a verdade. – O pânico que surgiunos olhos dela esmagou o coração dele.– Nell, sei que você amava sua avó.

– É claro, mas...Mas o que isso tinha a ver com o

resto? Ele podia ver a pergunta nosolhos dela.

– Você quer mesmo salvar essapropriedade? Quer mesmo transformá-la em uma casa de chás vitoriana?

Ela levantou-se de chofre e juntou asmãos com força.

– É a coisa mais importante domundo para mim.

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Por que ela queria honrar a memóriada única pessoa que lhe demonstrouamor incondicional? Por que ela queriaprovar que não era inútil e podia tersucesso na vida? Por que ela não tinhamais nada no mundo? Ah, princesa,você merece muito mais.

O último pensamento o perturbou.Ele o afastou.

– Você quer mesmo, mais do quetudo?

– Sim. – Ela ergueu o queixo.Pare de pensar em beijá-la!– Então está preparada para fazer

sacrifícios?– Claro que estou!O coração dele ficou pesado no peito.

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– Você tem uma fonte de renda quea ajudará a dar início e que a manterápor um bom tempo. Nell, você precisavender o anel de diamantes da sua avó.– E provavelmente as esmeraldas,também.

Lívida, ela se sentou.Ele se agachou diante dela.– Isso não é uma traição à sua avó.– Então por que eu sinto que é?– Se ela estivesse aqui agora, o que

ela diria para você fazer?– Eu...– Ela dava mais valor a bens do que a

pessoas?– Não! Ela... – Nell deu uma

risadinha cheia de amor... e saudade. –

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Ela só queria que eu fosse feliz. Se elaprecisasse escolher entre o anel dediamantes ou esta casa, ela venderia oanel na mesma hora.

Ela então ergueu o queixo, apertandoas mãos dele.

– Você está certo. É hora de serprática. O espírito da minha avó nãoreside em algumas joias.

Ele ergueu-se e se afastou. Segurar asmãos de Nell quando ela estava tristeera uma coisa. Segurá-las quando achama da vida voltava para Nell eraoutra totalmente diferente.

Diferente, instigante e sedutora.– Pelo amor de Deus, olha só para

mim! Sentada aqui, comendo para me

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consolar e sentindo pena de mimmesma. Que patética!

Ela era muitas coisas, mas patéticanão era uma delas.

– Se alguém oferecesse um pote deouro a você para tirá-la desseperrengue... fazendo com que vocêpudesse ficar com o anel da sua avó,você aceitaria?

Ela mordeu o lábio e balançou acabeça.

– Não.Ele respirou aliviado.– Quero sair dessa por conta própria.Que bom.– Bom, enquanto você banca o

meirinho, vou tirar o anel de diamantes

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do banco e levá-lo a um avaliador. Umapeça como aquela... talvez valha a penacolocá-la em um leilão.

A tensão afrouxou um pouco nopeito dele ao ver a cor e o brilhovoltarem para a face dela. Isso aí,princesa.

– Acho melhor eu ir com você aoavaliador.

Ela o encarou por um instante, eentão um sorriso surgiu felino surgiuem seus lábios.

– Acho esse um excelente plano.Duvido que alguém vá querer tirarvantagem de mim com você ao meulado.

Exatamente.

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– Vejo você aqui daqui a algumashoras.

– Não vai precisar de mais tempo?– Acho que não. – Ele foi para a

porta.– Rick, não deixe que ninguém o faça

se sentir como um cidadão de segundaclasse. Você tem mais princípios em seudedinho do que eles possuem no corpotodo.

Ele não conseguiu pensar em umapalavra sequer.

– E você, que teria todos os motivospara ter raiva de mim, não me mostrounada além de uma amizade sincera.

Ela se aproximava dele. O bom sensodizia para ele fugir, mas seus pés se

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recusavam a obedecer. Na ponta dospés, ela o beijou na bochecha,inundando-o com sua doçura.

– Obrigada.A sinceridade dela o tirou do transe.– Não por isso, princesa. – Ele

precisava sair dali, do contrário, algocom o potencial de destruir os doispoderia acontecer.

Mas não precisaria ser assim.Mas seria. Caras como ele não

ficavam com garotas como Nell.Ele limpou a garganta.– Será que você não teria um cupcake

ou dois para um meirinho batalhadorem suas viagens cansativas?

Ela riu, pegou uma caixa de papelão

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Ela riu, pegou uma caixa de papelãocom os bolinhos e lhe entregou.

– Talvez você possa deixar um comcada uma das pessoas, como um gestode... boa vontade.

Ele sorriu.– Por trás desse rosto bonito você é

malvada, sabia?Ela piscou.– Porque um cupcake nunca é

suficiente.Um sorriso lânguido surgiu no rosto

de Nell. Tirando um chapéu imagináriopara ela, ele saiu.

RICK VOLTOU e encontrou Nellesperando por ele. Ela imediatamente

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levantou-se e foi colocar a chaleira nofogo.

– Como foi? Eles disseram coisashorríveis para você?

Não: Você conseguiu o dinheiro? Não:Você teve sucesso? Ele parou e apenas aencarou.

A expressão dela ficou sombria.– Eles foram ruins com você. Sinto

muito! Não deveria ter pedido isso avocê. Eu deveria ter feito meu trabalhosujo e...

– Eu me diverti bastante.Ela o olhou com suspeita.– Mesmo?– Desde que eu saí da cadeia, as

pessoas como os seus clientes fizeram

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eu me sentir uma escória. Não consigodescrever o quão gratificante é virar ojogo. Você tem outras dívidas para eucobrar?

Isso arrancou uma risada surpresadela. Ela pediu que Rick se sentasse,colocou um prato de sanduíches à suafrente e pegou uma cerveja para ele.

– Acho que você não deveria deixarninguém tratá-lo assim.

Era fácil falar... foi então que lheocorreu que Nell sempre o tratara comoigual – alguém que merecia respeito econsideração.

Rick mordeu o sanduíche e tomouum gole da cerveja, mas isso nãodesatou o nó que estava em sua

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garganta. Ele tirou três cheques dobolso.

Ela os conferiu, de olhos arregalados.– Você fez com que eles pagassem

tudo?Ele queria inflar o peito diante da

felicidade dela.– O que você esperava?– Mais promessas. Metade do

pagamento, no máximo. – Ela sentou-sedo outro lado da mesa, diante dele. –Não deve ter sido fácil.

– Princesa, foi facílimo.

NELL O encarou. Pode ter sido fácil paraele, mas nem um milhão de anos elateria conseguido aqueles cheques.

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– Isso é incrível.Ele era incrível.– Isso vai me manter por algum

tempo.– Você era realmente amiga daquela

gente?Ela perdeu um pouco da alegria.– Achei que sim. – Se alguma

daquelas pessoas se encontrassenaquela mesma situação financeiradesesperada, ela não a teriaabandonado. Teria oferecido, nomínimo, apoio moral. Teria...

– Princesa?– Parece que a minha vida inteira foi

uma série de escolhas malfeitas. – Não

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era nobre pensar assim, mas... – Esperoque você tenha dado uma lição neles.

– Posso garantir que eles nãogostaram da experiência.

A ternura nos olhos dele quase aderreteu. Ela levantou para tomar umcopo d’água.

– Ah, aqui. – Ela retirou umatrouxinha aveludada da bolsa. – O anelda minha avó. Talvez você queiraguardá-lo para mim.

– Não.Ela franziu a testa.– Achei que você fosse ser meus

músculos... meu cara durão. – O anelestaria mais seguro com ele do que comela.

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– Guarde o anel, e eu a protegerei. –Não havia uma centelha de promessanos olhos dele. Ela então se lembrou doque ele disse ao exigir que ela tirasse asjoias do chalé: Não vou voltar para aprisão, Nell.

A prisão deve ter sido o mais puroinferno. Ele desejou que ele tivesse sidopoupado.

– Você marcou uma avaliação?– Sim, vamos nos encontrar com o

avaliador em uma hora.Ele parou de comer e a encarou

como se visse a alma dela, como se lesseseus pensamentos.

– Tem certeza de que concorda comisso?

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Ele estava com medo de que elaficasse histérica no meio dasnegociações.

– Queria que as coisas não fossemassim, mas isso não é possível. Então,sim, tenho certeza.

Ela não queria que ele descobrisseseus pensamentos, então acrescentou,saindo da cozinha:

– Só vou me aprontar e já vamos.Pensamentos sobre ela o beijando,

sobre o desejo que surgia sempre queele estava por perto... do quão perto elachegou de se jogar nos braços dele.

Ah, teria sido outro belo exemplo deuma escolha brilhante. Rick talvez adesejasse. Ela já havia percebido como

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ele a olhava algumas vezes. Sabia queatualmente os homens a achavamatraente. E sabia também que achavaRick atraente. Aonde isso levaria? A umcoração partido.

Ela estava farta de contos de fadas.Dali em diante, lidaria apenas com arealidade.

– SINTO MUITO, srta. Smythe-Whittaker,mas este anel é uma cópia... é falso.

A sala começou a rodar, o chãosumiu debaixo de seus pés, e Nellprecisou segurar a bancada diante dela.

– É uma cópia muito boa. Não deveter sido barato mandar fazê-la. – Ojoalheiro olhou novamente a joia pela

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lente de aumento. – Mas não hádúvidas. A pedra é um cristal.

Foi a mão de Rick em seu cotoveloque fez a sala parar de girar. Com todasas forças, ela se recompôs.

– Que decepcionante.– Sinto muito, srta. Smythe-

Whittaker.– Muito obrigada pelo seu tempo.Ele devolveu o anel.– Estou à disposição. Foi um prazer.Com Rick em silêncio ao seu lado, ela

deixou a loja.– Será que ele pode estar errado... ou

mentindo?Nell balançou a cabeça.

– O homem tem uma reputação

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– O homem tem uma reputaçãoimpecável. Ele jamais considerariaaceitar dinheiro do meu pai para dizerque o anel é falso.

– Nell...– Por favor, não aqui. Vamos esperar

até chegarmos em casa. – Uma casa queela não conseguiria manter por muitomais tempo. Um peso se alojara nagarganta e no peito.

Será que ela deveria desistir da ideiamirabolante da casa de chás vitoriana earranjar um emprego de verdade?

Para fazer o quê? Quem acontrataria? E, mesmo se arranjasse umemprego, as chances de conseguirmanter a casa eram ínfimas.

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Ela só percebeu que haviam chegadoem casa ao descobrir-se sentada emuma cadeira, com um copo cheio de umlíquido de cheiro terrível na mão.

– Beba – ordenou Rick.Obedecer era mais fácil do que

argumentar. Ela bebeu tudo em um sógole.

– Minha nossa! – Ela engasgou etossiu, em busca de ar.

– Assim é melhor.– Melhor? Está tentando me

envenenar?– Você pelo menos está corada

novamente.Ela mordeu o lábio.– Eu fui patética de novo?

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– Você só levou um baita choque,princesa.

Ela ergueu o copo para ele.– Posso tomar outro? É bem...

revigorante.Ele pegou o copo da mão dela, rindo,

mas desobedeceu aquele pedido eserviu um refrigerante.

– Pelo visto estamos sendo sensíveis,agora.

– Se quer ficar completamentebêbada, é melhor encontrarmos algomelhor do que conhaque.

Ele estava certo, e ela tampoucoqueria cair de bêbada.

– Então... obviamente meu paisaqueou as joias antes de John escondê-

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las.– Mas por que ter o trabalho de fazer

uma cópia?Ela o encarou.– É verdade. Ele não teve o mesmo

cuidado com o colar de diamantes.– A menos que John tenha

intervindo antes que seu pai tivesse achance.

Ela examinou a observação na mente.– Não – disse finalmente. – Meu pai

não faria isso só por mim. Elesimplesmente riria de mim, dizendopara eu engolir o choro.

Os punhos de Rick se fecharam sobrea mesa.

– Eu certamente não gosto do seu

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– Eu certamente não gosto do seupai.

Idem.Ela suspirou.– Ele provavelmente penhorou o anel

quando minha avó ainda estava viva.Ele não tem medo de mim, mas comcerteza tinha medo da reação dela. Oque significa que não devo ter muitaesperança com o resto das joias nacaixa.

– Nell...Ela olhou para Rick por causa de seu

tom de voz e imediatamenteendireitou-se ao ver a expressão dele.

– O que foi?

– Você está ciente de que eu tive a

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– Você está ciente de que eu tive aoportunidade e os meios de tirar algodaquela caixa e mandar fazer umacópia.

– Certo, em seu tempo livre na... oquê, na única noite em que dormiuaqui?

– Eu sabia das joias havia duasnoites.

Ela cruzou os braços para não jogar alatinha nele.

– Já disse mais de uma vez que nãoacredito que você seja um ladrão. Porque está tão determinado em acreditarnisso?

Ele passou a mão pelo rosto. Ele nãoqueria que ela pensasse mal dele, mas

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continuava esperando essa reação.– Se uma reclamação formal fosse

feita, eu seria o principal suspeito.– Ah, pelo amor de Deus, quem faria

uma reclamação? Posso garantir quenão eu. – Se bem que um escândalodesses nos jornais seria uma boa liçãopara o pai dela, mas isso não traria devolta o anel de sua avó.

Ele recostou-se, aparentemente semar.

– Você realmente não acredita queeu seja um ladrão.

Ela deu de ombros, da maneira maisarrogante possível.

– Recuso-me a me repetir.Ele riu.

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– Você é uma mulher extraordinária,sabia?

– Extraordinária e pobre.Ele deu um sorrisinho malicioso,

fazendo o coração dela se retorcer e opulso se acelerar. Nell deveria desviar oolhar, ser sensata, mas parecia que ocalor do conhaque estava agora nas suasveias.

– Quer um cupcake? – ofereceu ela.– Eu adoraria, mas é melhor não.

Você me bateria se eu contasse quantosdesses eu já comi hoje.

– Com a Candy quebrada, eu tenhouma fornada sobrando.

O sorriso dele apenas aumentou.

– Ok, tudo bem! Vou morder a isca.

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– Ok, tudo bem! Vou morder a isca.Por que você está tão feliz, quandominha vida está implodindo ao meuredor?

Ele inclinou-se na direção dela.– Deixe-me emprestar dinheiro a

você, Nell.O queixo dela caiu.– Eu tenho o capital. Ao fazer seu

plano de negócios, eu calculei dequanto você precisa. – Ele disse umvalor. – Tenho mais do que o suficiente.

O queixo dela caiu ainda mais.– E pode acreditar, se há uma pessoa

que pode transformar uma casa de chávitoriana em um sucesso, essa é você.

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CAPÍTULO 8

NELL ENCAROU Rick. Por um momentoela não sabia o que dizer. Então,umedeceu os lábios.

– Não posso deixar você arriscar seudinheiro dessa forma.

– Ganhei meu dinheiro correndoriscos. E, até onde sei, esse é o menordeles até hoje.

Por algum motivo, a certeza delefazia com que as inseguranças dela

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tomassem vida.– Você não tem como saber! Não há

como saber se isso vai ser um desastreou...

– Ainda não conheci ninguém quetrabalhe tão duro quanto você.

Os olhos negros dele tinhamtamanha intensidade que a boca deNell ficou seca, e o coração delacomeçou a saltar.

Ela levantou-se e pegou uma pastacheia de recortes.

– Encontrei isso por acaso semanapassada. Não estava xeretando, sóprocurando por barbante.

– Isso são apenas imagens e ideiasque eu guardei e... – Ela não terminou

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a frase.Ele segurou a mão dela sobre a mesa.– É muito mais do que isso.Ali havia receitas, cardápios, arranjos

de mesas e nomes de empresas que elapoderia utilizar. Havia esquemas decores de casas vitorianas, bules, e tudomais que poderia servir de inspiraçãopara o próprio negócio dela. Logo Nellteria que arranjar uma pasta maior.

– Isso me ajudou a visualizar seusonho.

A mão dele era quente sobre a dela,e parecia derreter de dentro para fora.

– Rick, eu...– Este é um sonho grande. Você

pensou nele e o planejou por muito

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tempo. Você tem o ímpeto e a ética detrabalho para tornar seu negócio umsucesso.

O polegar dele acariciava o pulso delaem círculos preguiçosos. Ela sentiavontade de esticar o corpo e ronronar.

– Sou cínico o suficiente para saberque isso não é necessariamente umareceita de sucesso.

– Bom, claro que não – disse Nell,apenas para dizer algo, já que as caríciasdele estavam fazendo mal ao cérebrodela.

– Mas você tem o fator x. – Oscírculos então pararam, e o vazio deupeso às palavras dele.

– Fator x?

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– Talento. Seus cupcakes são decomer rezando.

– Ah, qualquer um pode aprenderisso.

Ele balançou a cabeça.– Ninguém faz cupcakes como você.

Por que está determinada a desvalorizarisso?

Ela deliberadamente entrelaçou osdedos com os dele.

– A questão, Rick, é que isso não meparece muita coisa. Parece que depoisde 25 anos de uma vida privilegiada oúnico talento que eu desenvolvi foi o defazer cupcakes. Sei que eles são bons,mas... – Ela deu de ombros. Por mais

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que ela quisesse parecer casual, jamaisse sentira tão nua na vida.

– Eles não são apenas bons. Sãoespetaculares. O tipo de comida que aspessoas viajam centenas de quilômetrospara provar.

Ela riu.– Agora você está sendo tolo.– E você está errada. Você é boa em

muitas coisas. Está gerenciando seupróprio pequeno negócio, não?

– Que não anda muito bem, seconsiderarmos o dia de hoje.

– Você resolveu o problema.Ele resolveu o problema.– Você tem tato social, e isso é mais

raro do que você imagina. E precisará

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disso quando seu negócio começar,você será a cara dele. Você também temvisão e coragem, e não tem medo detrabalhar duro ou se sacrificar.

Ela abriu a boca, mas ele ergueu amão.

– Desculpe, princesa, mas você nãovai me convencer a não acreditar emvocê.

Inconscientemente, ela segurou amão dele com mais força.

– Você acredita em mim? – sussurrouela.

– De corpo e alma.O coração dela pulou.– Então, você aceitará o empréstimo

para tornar seu sonho realidade?

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Ela realmente queria dizer sim, masum nó na garganta a impedia. Ela oencarou, e a expressão dele seabrandou, como se ele lesse a mentedela. Rick então tocou a bochechadela...

Nell prendeu a respiração.As mãos se soltaram.Má ideia. Qualquer tipo de contato.

Ambos sabiam disso.– Porém, preciso avisar que haverá

certas condições a reboque doempréstimo.

Finalmente ela juntou forçasuficiente para engolir.

– Por exemplo?– Ele não estará livre de juros.

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– Claro que não! Isso não é caridade,Rick. São negócios. Vou pagar cadacentavo, com juros.

– Agora também é de meu interesseque seu negócio seja bem-sucedido, e épor isso que quero que fique apenas trêsdias trabalhando com as entregas.

– Mas...– Você precisa começar a focar mais

energia no seu plano, do contrário, émelhor desistir agora.

– Eu...– Com os pedidos do final de semana

e os três dias de entregas, você ainda vaiganhar o suficiente para viver enquantoa casa fica pronta. Suas despesas

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pessoais são incrivelmente baixas... parauma princesa.

As circunstâncias exigiam isso dela.Embora fosse chamada de princesa,Nell vivia como uma indigente em umcastelo abandonado.

– E você terá o empréstimo paracobrir as despesas maiores, como ascontas de luz e impostos.

Ele estava assumindo riscos eexigindo que ela fizesse o mesmo.

– E então?O coração dela saltava no peito.– Sim, obrigada, Rick. Eu aceito seu

empréstimo.

NELL ESTENDEU a mão e Rick a apertou.

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NELL ESTENDEU a mão e Rick a apertou.Porém, não a segurou como gostaria.Quanto mais tempo ele passava nacompanhia dela, mais queria tocá-la.

Você só precisa aguentar maisalgumas semanas. Assim que eledescobrisse a identidade desse irmão ouirmã misteriosa, partiria.

Para onde?Qualquer outro lugar onde as pessoas

não cochichassem pelas costas dele.Nell não faz isso.É, mas Nell era uma em um milhão.

A felicidade atordoante que ele sentiuquando ela aceitou a proposta dele,todavia, o pegou de surpresa.

Mas...

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É que...A princesa merecia um descanso.Ele reclinou-se na cadeira,

assumindo sua pose casual.– Vou transferir o dinheiro para a

sua conta semana que vem.– Você precisa redigir um contrato.Tanto faz. Ele confiava em Nell. O

sorriso dele aumentou quando eladeixou de fazer a pergunta que ardianos olhos dela.

– Você está morrendo decuriosidade, não está?

– Não sei do que está falando.Ele riu.– Você quer saber de onde veio todo

esse dinheiro.

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Ele observou a curiosidade dela levara melhor.

– Certo, você venceu. Você está meemprestando todo o seu dinheiro?

– Não.Por trás daqueles lindos olhos verdes,

a mente dela funcionava a mil.– Você tem uma reserva para

emergências?– Sim.Ela mordeu o lábio, e ele quase riu

alto ao perceber que ela não acreditavanele.

– Qual porcentagem dos seus fundosvocê está me emprestando?

Percebendo que ela estava prestes adar para trás, Rick decidiu contar a

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verdade.– Cerca de cinco por cento. – Uma

estimativa modesta. Ele tinha tantodinheiro que mal conseguia manternúmeros específicos em mente.

Nell o encarou e, pegando papel ecaneta, fez as contas. Ela então mostroua quantia que surgiu.

– É por aí.– Você é um milionário.Como não era uma pergunta, Rick se

manteve em silêncio.Ela expirou.– Que alívio. Posso parar de me

preocupar se vou deixá-lo em apuros.Por motivos desconhecidos, Rick

sentiu um gosto ruim na língua. Será

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que ela iria pedir mais dinheiro?Aqueles olhos maravilhososencontraram os dele.

– Como você conseguiu tantodinheiro?

A surpresa dela o irritava.– Surpresa? – provocou ele.– Da cabeça aos pés – respondeu ela,

sem temer o olhar dele.– Não é o que você espera de um ex-

detento?Ela manteve o olhar dele fixo ao dela.– É você mesmo que fica lembrando

a todo mundo que já esteve na prisão.Bem, era melhor tirar isso logo do

caminho do que ser pego de surpresacom a guarda baixa.

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– E você nunca esclarece que seunome foi limpo. – Ela franziu o cenho.– Por quê?

Aquela pergunta quase reabriu asferidas dentro dele.

– Quando eu estava na prisão, umamigo me ensinou a contar cartas.

O verde dos olhos dela tornou-selúgubre, como um mar tempestuoso.

– Foi horrível, não foi? – sussurrouela. – A prisão.

Ninguém nunca havia lheperguntado isso antes. Ninguém.

– Rick?A simpatia e a atenção nos olhos dela

mexeram com ele.

– Foi mais que horrível. – As palavras

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– Foi mais que horrível. – As palavrasbrotaram antes que ele pudesse contê-las. Ela segurou as duas mãos dele. –Há homens lá dentro tão aterrorizantesque chegam a congelar seu sangue. Nãoachei que fosse sair de lá vivo. –Lembranças sombrias martelavam suamente. – As coisas que você precisafazer lá dentro para sobreviver... euachei que tudo que havia de bomdentro de mim havia desaparecido parasempre.

– Mas isso não aconteceu.Foi então que ele percebeu que o

toque dela o acalmava.– Não estou convencido disso,

princesa.

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– Eu estou.– Como você tem tanta certeza?– Tash ainda é sua amiga. Ela não

seria se você tivesse mudado tanto.Você foi bom para mim. Você está medando a oportunidade de seguir meusonho. E alguém sem bondade nocoração não se importaria com umirmão desaparecido.

– Também não tenho certeza se meimporto com isso.

– Você se importa o suficiente paraquerer saber as circunstâncias em queele ou ela se encontra.

O coração dele batia com força.– Saiba que a prisão não destruiu

quem você é. Ela não destruiu sua

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honra e integridade. Nem seu senso dehumor e sua habilidade de apreciar ascoisas simples. Não duvido que elatenha deixado algumas cicatrizes, masvocê é um homem em um milhão e nãodeixa que os outros o convençam docontrário.

Rick queria acreditar nela com todasas forças. Ele respirou fundo, incapaz delidar com toda a confusão fervilhandodentro de si e a dor das lembranças.

– Acho que a prisão teve seu ladopositivo.

Ela engasgou.– Como é?– Como eu disse, eu aprendi a contar

cartas. Quando saí de lá, fui contratado

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por uma empresa de construção, emum desses programas de reintegraçãosocial. Eu levei meu primeiro saláriopara um cassino e o tripliquei. Na noiteseguinte, fiz o mesmo. Dentro de seismeses, eu tinha dez vezes mais quemeus ganhos iniciais.

– Você fez sua fortuna apostando?– Quando consegui juntar dinheiro

suficiente, troquei a jogatina pelomercado de ações. Comecei fazendoalguns bons investimentos, corri algunsriscos, e logo estava lucrando.

– Onde você aprendeu sobre omercado de ações?

– Um dos benefícios da prisão é oacesso à educação. Fiz um curso de

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empreendedorismo. Como eu disse,houve um lado positivo.

– Então, você está me dizendo que,se não fosse pela prisão, hoje você nãoseria rico.

– Exatamente.– Como você acha que teria sido sua

vida, se não tivesse sido preso?Ele deu de ombros.– Eu teria trabalhado na fábrica de

vidro de seu pai ou em alguma dasfábricas de autopeças. Provavelmenteteria uma esposa e filhos.

– Parece uma ideia bacana.Sim, parecia mesmo.– Mas você fala como se tudo isso

não fosse possível agora.

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E não era.– Você tem todo esse dinheiro e

escolhe viver assim, andando de umlado para o outro, sem eira nem beira.

– Não estou machucando ninguém.Ela o encarou, e por fim, assentiu

com a cabeça.– Você é um bom homem, Rick, mas

a prisão roubou algo de você.– Quer conversar sobre isso?– Ela roubou sua coragem.Ele ficou rígido na cadeira.– Antes da prisão você tinha sonhos.

Agora... – ela deu de ombros – agoratem medo demais para sonhar.

As palavras dela o atravessaram.

– Pois, se sonhasse, não escolheria

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– Pois, se sonhasse, não escolheriaviver assim.

Uma camada de suor frio cobria ocorpo dele da cabeça aos pés.

– Como eu levo minha vida não é dasua conta. – Ele apontou um dedo paraela.

Nell deu de ombros, como se a friezadele não pudesse atingi-la.

– Você também é hipócrita. – Elavirou-se para lavar a louça na pia.

O queixo dele caiu, mas ele duvidavaque ela tivesse visto.

– Estou lhe emprestando umaquantia ridícula de dinheiro e você metrata assim?

Ela olhou por cima do ombro e

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Ela olhou por cima do ombro eergueu uma sobrancelha.

– Você prefere que eu fique todadeslumbrada e passiva?

Na verdade, para ser sincero, ele aqueria de várias formas. Correu o dedopelo colarinho da camisa.

– Se você pretende se preocupar comminhas coisas, então pode muito bemaceitar que eu me preocupe com assuas.

– Vou retirar a oferta do empréstimo.Ela virou-se e colocou as mãos

molhadas na cintura, originandomanchas no vestido. Rick tevedificuldade em não olhar para elas.

– Vá em frente, então.

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Ele abriu a boca. Mas então seu olharrecaiu naquelas manchas de água, e eleapenas esbravejou. Nell meramente riu.

– Você não consegue, é uma pessoamuito boa.

Ninguém achava que ele era umapessoa boa.

– Isso se chama amizade, Rick.Ela então voltou a lavar os pratos.

Amizade. Por acaso a princesa acabarade lhe oferecer sua amizade?

Naquele instante, Rick percebeu queNell lhe oferecera sua amizade quandoele havia compartilhado a carta de Johncom ela.

Pobretões como ele nãoconquistavam garotas ricas como a

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princesa, mas... isso não significava quenão pudessem ser amigos, certo?

Ele esticou o pescoço, primeiro paraum lado e depois para o outro.

– Você não me contou o que há deerrado com Candy.

Ela pegou um pano de prato.– O cara da assistência que me

atendeu novamente falou alguma coisasobre... velas e plugues? Essas coisasexistem no carro?

Ele evitou sorrir.– Sim.– Bom, aparentemente eles precisam

ser substituídos, e também o...alternador?

– Só isso? Eu posso consertar a Candy

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– Só isso? Eu posso consertar a Candypara você. Vou precisar comprar essaspeças, mas vai custar menos de 200dólares. A mecânica cobraria quatrovezes mais, imagine.

Ela jogou o pano na pia e colocou asmãos na cintura.

– Existe alguma coisa que você nãosaiba fazer?

Ele descobriu-se rindo. Nell o faziasentir-se jovem – jovem, vivo e livre.

– Você sabe lidar com procuradoressafados e agentes imobiliários sacanas, eeu sei cobrar dívidas e consertar carros.

– Você ainda não deu uma olhadaem Candy. Como pode ter certeza deque saberá consertá-la?

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– Na minha juventude desperdiçada,passei muito tempo com os caras daminha vizinhança tentando manternossas latas-velhas funcionando.Inclusive ajudei a restaurar algumas.

Ela deu um passo na direção dele,seu rosto vivo.

– Do zero? – Ele assentiu, e o sorrisodela alargou-se. – Que divertido!

A princesa se interessava por carros?– Venha. – Ele indicou a direção da

porta. – Vamos dar uma olhada nela.Na garagem, Rick abriu o capô de

Candy.– Conte-me o que você sabe sobre

motores.– Acho que bem pouco.

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Ela estava tão linda naquele vestidoao estilo dos anos 50 e nos saltos queele quase não conseguiu resistir a beijá-la.

– Isso não importa.– Não sei o que isso faz, mas é aqui

que coloco água, quando o nível estábaixo. – Ela tocou o radiador. – E é aquique coloco óleo.

– Você faz isso sozinha?– Um mecânico na oficina me

mostrou como. É moleza, mais fácil quefazer cupcakes.

Ela foi tirar uma mecha de cabelo dorosto, mas ele segurou a mão delaantes.

– Acho que você não vai querer sujar

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– Acho que você não vai querer sujarseu rosto e o cabelo de graxa.

Ela olhou espantada para as mãos.– Caramba, isso suja mais do que

jardinagem... e é tão divertido quanto.O sorriso dela quase fez as pernas

dele cederem.– Acho maravilhoso ter a habilidade

de consertar um carro.– Posso ensinar você a trocar as velas

e os plugues, e depois a instalar o novoalternador, entre outras coisas. Mas jávou avisando que é uma sujeira e tanto.

NELL ENCAROU Rick, quase com medode respirar.

– Mesmo? De verdade?

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– Claro.Ela ficaria coberta de graxa, quebraria

unhas, mas seria mais um passo para setornar independente.

E também ia ser divertido! Ocorreu-lhe então que ela andava tão ocupadaem consertar todos os buracos de suavida que havia se esquecido dadiversão. Ela não conseguia parar desorrir para Rick.

– Obrigada!Ele mostrou aquele sorriso que podia

colocar o mundo de uma mulher decabeça para baixo. O coração dela foibatendo com todas as forças até agarganta, para então voltar para o peito,e nem por todo o dinheiro do mundo

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ela teria encontrado um dar de ombrosadequado em seu arsenal.

Ela não ligava para pose. Ela seimportava em aprender coisas novas eter sucesso na vida, e...

E ela se importava com Rick.Como amigo.Nell olhou para ele, e aqueles olhos

negros estavam fixos nela com tamanhaintensidade que ela ficou imóvel – atémesmo sem respirar – e então tudovoltou de uma vez, fazendo com queela cambaleasse.

Rick estendeu a mão e a segurou.– Calma aí, princesa.Ela não sabia se era o toque no braço

dela ou a maneira como os olhos dele

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não demonstravam a casualidade dabrincadeira dele, mas a habilidade dementir a havia desertado. Ou então elaa havia jogado fora imprudentemente.E ela não fazia nada imprudente havia15 anos.

– Estou desequilibrada desde o diaem que o vi na minha varanda, Rick.

Ele ficou sério.– Princesa...Um dos dedos dele deslizou pelo

braço dela. Nell olhou para ele.– Isso não está ajudando. – Mas o

dedo não parou, ia do cotovelo até opulso dela, traçando um caminho pelaparte sensível do braço de Nell.

Ela queria jogar-se sobre ele como

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Ela queria jogar-se sobre ele comouma onda contra uma rocha e engolfá-lo.

– Concordo, princesa, pois achodifícil lembrar-me do meu próprionome quando estou perto de você.

Ela ergueu o queixo.– Sei que você me acha atraente, às

vezes.– O tempo todo.– E sei também que há muitos

motivos pelos quais nós não deveríamosnos beijar.

– É verdade.– Mas não consigo me lembrar de

nenhum deles nesse instante, então é

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melhor você citá-los para mim, Rick,pois...

Eles se aproximaram um centímetroum do outro.

– ...pois só consigo pensar em beijarvocê.

Eles foram em direção um do outro...e pararam ao mesmo tempo. Ambosolharam para suas mãos sujas de graxa.Ela não queria arruinar a camisa dele,mas...

– Não ligo para o meu vestido –sussurrou ela.

– Mas eu gosto. As coisas que eusonhei em fazer com você usando essevestido a fariam corar, princesa.

Ela não sabia que seu coração podia

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Ela não sabia que seu coração podiabater com tanta força. Não sabia quesua pele podia corar com tantaintensidade.

– Eu ligo para o seu vestido... – Aspalavras dele saíram envoltas por umrosnado que a fez tremer desde a baseda coluna.

As mãos se buscaram, os dedos seentrelaçaram. Um puxão os uniu, osseios dela esmagados contra o peitodele. Lentamente, Nell aconchegou-seàquela parede musculosa que a acolhia.

Ele inspirou com força e pressa,fazendo os dedos do pé dela securvarem.

– Parece que não precisaremos das

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– Parece que não precisaremos dasmãos – murmurou ele.

Ele acariciou a parte sensível do pulsodela com o polegar, antes de seus dedosse entrelaçarem de novo.

– Eu gosto de mãos. – As palavrasdela saíram entrecortadas, sem ar.

Ele segurou as mãos dela com maisforça. Ela tentou olhá-lo nos olhos, massua atenção parou na pulsação na baseda mandíbula dele. Nell ansiou portocá-lo ali com os lábios. Ela queria...

– Princesa?Ela olhou para cima.Muito lentamente, os lábios dele

foram em direção aos dela. Ficando na

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ponta dos pés, ela ajudou a encurtar adistância entre eles.

Finalmente, eles se tocaram.

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CAPÍTULO 9

SEUS LÁBIOS se tocaram, suas bocas seabriram, e o mundo de Nell começou agirar conforme o gosto de Rick apreencheu. Tudo o que importava era amaneira como a boca dele se moviajunto à dela – lenta e firmemente, comexperiência e desejo de dar prazer. Elalhe dizia que o mesmo delírio quecorria pelas veias dela corria pelo corpodele também.

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Ele mordiscou o lábio inferior dela eNell gemeu, arqueando as costas ejuntando-se ainda mais ao peito dele,sorvendo todas as sensações possíveisnaquele instante. Os lábios deledeleitavam-se sobre a boca de Nell, comurgência. As línguas dançavam,provocantes.

Nell imaginara que o gosto dele ia sersombrio e perigoso, como as sombrasque certas vezes surgiam nos olhos deRick, mas era de baunilha, e seu pontofraco por doce despertou. Nellexperimentava o gosto de todas ascoisas boas que jamais tivera na vida. ERick tinha o gosto de todas asqualidades que ela queria ter –

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inteligente, capaz, competente. Era ogosto... da vida.

Ela queria entrar debaixo da peledele, ou puxá-lo para debaixo da dela.Eles se beijaram até ficarem sem fôlego,e então se separaram lentamente, comos dedos ainda entrelaçados.

– Uau, isso foi interessante – disseela, quando finalmente conseguiu falar.

Ele franziu o cenho.– É, foi mesmo.Ela também franziu o cenho.– Algum problema?– Beijos assim são como promessas, e

não posso prometer nada, princesa.Não pode ou não quer? A realidade

voltou. Ela soltou as mãos dele e pegou

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um trapo para limpar as dela.– Eu disse que existe uma série de

motivos pelos quais não deveríamos nosbeijar.

Ele recostou-se em Candy, sentindoque os joelhos cederiam.

– Não gosto de casos breves.– Esses são os únicos tipos de

relacionamentos nos quais me envolvo.– Primeira falta.Ela olhou para o trapo por um

instante, antes de fechar os olhos,erguer o queixo e jogar o cabelo paratrás.

– Todos acham que vou resolverminhas dificuldades financeiras

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arranjando um marido ou namoradorico. Segunda falta.

Ele levou as mãos à cintura.– Você está me excluindo por ser

rico?– Estou desqualificando você por ser

rico e por não poder se comprometer.Não vou permitir que você me comprepara aliviar um peso na consciência.

Ele cerrou os dentes com força,impressionando-a.

– Três faltas, e estou fora. Qual vaiser a terceira? – exigiu ele.

Ela deu de ombros, petulante.– Você quer que eu faça tudo? Não

pode pensar sozinho em um ou dezmotivos?

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Semicerrando os olhos, ele caminhoulentamente até onde ela estava. Todosos instintos de Nell gritavam para queela corresse. Exceto por aqueles maistraiçoeiros que a mandavam agarrá-lo ebeijá-lo.

– Você está me confundindo comaqueles mauricinhos da alta sociedade,princesa. Não deve esperar modosgalantes de mim. Estou falando dosbenefícios de simplesmente conseguir oque eu quero sem me importar com asconsequências. – Ele deliberadamente aolhou da cabeça aos pés. – Conseguir eaproveitar... quantas vezes eu quiser. Epode acreditar, princesa, você tambémvai gostar, até que eu fique satisfeito.

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O corpo dela respondeu à sedução navoz dele.

– Sei como fazer uma mulher feliz...como fazê-la reagir e pedir mais.

Ela não duvidava nem um pouco.– E o que eu quero agora é seu corpo

se contorcendo sob o meu, implorandoe chamando meu nome enquanto vocêchega ao tipo de orgasmo que faria suamente explodir.

– Por quê? – A voz dela saiu comoum grasnado.

– A princesa se submetendo ao badboy local e implorando por mais... issoseria um belo triunfo.

Ela queria Rick. As palavras deleincendiavam o corpo dela. Nell sabia

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que sucumbir a ele partiria seu coração.Ela o encarou.– Se fizer isso, farei você atravessar o

mesmo inferno que o meu. Você podeaté conseguir me seduzir, mas nãoduvide que eu tenho a habilidade defazê-lo pagar.

Eles se encararam por instanteslongos e tensos.

– Não somos tão diferentes assim, nofinal das contas, não é mesmo,princesa?

– Não. – Ela só não sabia se isso eraum ponto contra ou a favor.

Eles não se falaram mais. Ela saiupela porta, sentindo o desejo e, ao

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mesmo tempo, uma vontade de se jogarno primeiro banco do jardim e chorar.

Porém, não fez isso, e apenascontinuou andando até a casa.

O DINHEIRO que Rick havia prometidocaiu na conta dela na segunda-feira. Ogerente do banco ligou para dar as boasnotícias – e para tentar arrancarinformações sobre a grande quantia.Nell deveria ter se dado o trabalho demudar de banco; seu pai agora ficariasabendo. Mas ela deixaria para lidarcom ele quando fosse preciso.

Rick e Nell passavam pouco tempojuntos. Ele consertou Candy. Ela assava

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cupcakes e saía para fazer entregas àssegundas, terças e quartas-feiras.

Ela esperou até quinta-feira paraabordá-lo.

– Você ainda não me deu o contratopara assinar.

– Você precisa mesmo de algo tãoformal? – Ele não a olhou enquantopintava a parede da biblioteca, em umtom luxuoso de creme.

– Sim.– Vou providenciar.Ela fez um som cético.

Provavelmente ele o providenciariacomo havia entregado os recibos para osmateriais de construção. Nell ainda não

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vira nenhum deles. Talvez ele nemreparasse se ela não o pagasse de volta.

O problema de Rick era que ele tinhatodo esse dinheiro, mas simplesmentenão se importava.

Ela diminuiu o passo. Talvez...Parou. Bem, por que não?E foi direto para o telefone, para ligar

para o advogado.

RICK OLHOU para porta ao ouvir asbatidas. Passava um pouco das 18h.

Nell.Por um instante ele ficou tentado a

fingir que não estava.A prisão roubou sua coragem.

Ao abrir a porta, Nell estava parada

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Ao abrir a porta, Nell estava paradaali com uma garrafa de champanhe.Santo Deus! Se ela tentasse seduzi-lo,ele não teria nenhuma chance de...

– Olá, Rick.– O que você está fazendo aqui, Nell?

– Ele não a seduzira na garagem,tampouco podia fazê-lo ali, apesar desua vontade de tomá-la nos braços ebeijá-la. Nell merecia coisa melhor doque ele. Ela merecia tudo que havia debom no mundo.

– Não vai me convidar para entrar?– Acha isso uma boa ideia?– Não pretendo demorar.Ele olhou para a garrafa de

champanhe e arqueou uma

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sobrancelha.Ela riu.– Só vim lhe entregar isso. – Ela lhe

deu um envelope A4.Ele a deixou entrar, afastando-se e

tomando cuidado.Ela entrou e caminhou até a cozinha

como se fosse dona do local – o quetecnicamente era verdade. Depois depegar dois copos, ela abriu a garrafa.

– Não são más notícias nem umamaldição, pode abrir – disse ela,apontando para o envelope.

O coração dele quase parou ao ler.Ela lhe entregou um dos copos, mas elenão se moveu.

– Eu quero lhe agradecer, Rick.

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Mas...– Seu dinheiro me permitirá seguir

meu sonho. Só vim lhe agradecer egarantir que vou pagar cada centavo.Bom, vou indo agora. Boa noite.

– Nell... – Ele conseguiu coaxar onome antes que ela alcançasse a porta.– Você... – Ela lhe dera 30 por centodos negócios! – Você não pode fazerisso!

Ela franziu o cenho.– Sim, eu posso. Por que não?– É muito.– Não, não é. Eu conversei com um

advogado. Ele me disse que é justo.– Mas eu não ligo para o dinheiro

que estou emprestando!

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Ela deu uma risadinha, mais triste doque sarcástica.

– Eu sei, mas eu me importo. Ebastante. Isso significa tanto para mime... eu quero tentar mostrar o quanto.

Ela conseguira, mas...– E eu queria... – os dedos dela

brincaram no ar, como se tentassemsegurar as palavras – queria dar algumacoisa em troca que significasse algo paravocê. É isso.

Ele ergueu o envelope bem próximodo nariz dela. Nell havia enlouquecido?

– Você está me dando poder sobreseu sonho?

– Sim – respondeu ela como se nãofosse nada, quando na verdade era o

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maior gesto que ele já vira.– Eu poderia destruí-lo!– Sem você, meus negócios jamais

sairiam do papel, em primeiro lugar.– Você não deveria dar a ninguém

esse tipo de poder.Ela aproximou-se e pegou o rosto

dele entre as mãos. Estranhamente,parecia que ela estava segurando ocoração de Rick. Aqueles olhos verdesardiam.

– Eu estou sempre falando queconfio em você. Talvez agora eu tenhamostrado o quanto.

Ela retirou as mãos, e ele lutoucontra os instintos primitivos que

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martelavam dentro dele. Instintos que omandavam tomá-la para si.

Ela deu um passo para trás, como setivesse percebido tal luta. Os olhos delademonstravam uma batalha própria.Nell mostrou um sorriso delicado ecorajoso.

– Aproveite o champanhe. – E então,foi embora.

Rick deixou-se cair no sofá. Eletomou um gole generoso dochampanhe e observou o papel em suamão.

Eu confio em você.Trinta por cento!Talvez agora eu tenha mostrado o

quanto.

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Ah, e como. Ninguém jamais fizeraalgo parecido, e ele não sabia o quefazer com as emoções conflitantes quepercorriam o corpo dele – uma misturade medo, exaltação e satisfação.

Aproveite o champanhe.Rindo, ele tomou outro gole. Era do

bom. A princesa não poupava nos bonsmomentos.

Ele parou quando ia tomar o terceirogole. Talvez ela tivesse outros motivos...

Os ombros dele afundaram no sofá.Nell não tinha outros motivos. Ela nãoestava fazendo joguinhos. Apenas tinhaum coração tão grande quanto a baía deSydney.

Algo sombrio abandonou o espírito

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Algo sombrio abandonou o espíritode Rick. Nell queria lhe dar algoimportante porque via nele algo queninguém mais via.

E isso lhe dava esperança.Ele só não sabia do que.

NA MANHÃ seguinte, 13 de março, Rickbateu na porta dos fundos da casa deNell, em vez de simplesmente entrar.Como fazia antes daquele beijo.

Nell olhou por cima do ombro e fezsinal para que ele entrasse.

– O papel chegou.Ele ainda estava enrolado sobre a

mesa, intocado – embora Rick soubesseque a curiosidade a devia estar

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comendo viva. Depois de terminar deempacotar uma fornada de cupcakes dedar água na boca, ela aprontou duascanecas de café fervente, e ambos sesentaram à mesa.

– Vamos lá, não há motivos paraesperarmos mais. Vamos ver para ondeessa caçada louca de John vai nos levar.

Nós? Ele tentou resistir à sensaçãoboa que a palavra causava.

– É, blá-blá-blá. Você não vai metirar do jogo agora.

Como aquela mulher conseguia fazê-lo rir nos momentos mais impossíveis?

– Sei que isso não é um jogo. Nãoestou tentando trivializar a situação.

– Não vou excluí-la, princesa. Relaxe.

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– Não vou excluí-la, princesa. Relaxe.Só quero lhe dar a chance de sair dessa,se preferir.

Ela bufou, de um jeito que nenhumaprincesa faria.

– Vai, abra os classificados.Ela estava certa. Protelar era inútil.

Com um suspiro, ele fez o que elamandou.

Rick deixou a caneca de lado, jáhavia tomado café antes. A princesaconsumia muita cafeína. Ele abriu aboca, mas logo a fechou. Talvez nãofosse a hora certa para uma bronca. Emvez disso, correu os dedos pelas linhasdos classificados. Na edição do sábadode manhã, o caderno estava cheio de

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avisos de nascimentos, aniversários,casamentos, falecimentos e anúnciospessoais.

O dedo dele parou.– Rick – leu ele.– O que foi? – exigiu saber Nell.– Parque Freemont. 14h. Vá com sua

roupa de festa.– Mas o que...? – Ela levantou da

cadeira e parou atrás dele para lertambém, descansando a mão sobre ascostas dele. O coração de Rick acelerouao sentir o toque. Ela leu a mensagem evoltou para seu lugar. Rick fechou osolhos e respirou fundo.

– Ele está se mostrando tão tagarelaem morte quanto era em vida.

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Rick riu. Nell abriu o laptop.– Certo, Parque Freemont. Fica no

subúrbio. Levaremos no mínimo 40minutos para chegarmos lá.

– Não vou usar roupa de festa –resmungou Rick.

Nell levantou-se.– Vou fazer minhas entregas. Esteja

na frente da garagem às 13h em ponto.Eu o encontro lá.

Ele fechou a cara.– Ok.

NELL E Rick estavam parados diante doparque, olhando as pessoas quepasseavam e faziam piqueniques.

– Por onde devemos começar,

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– Por onde devemos começar,caramba?

O semblante de Rick estava tão tensoquanto seus ombros.

– Não é um parque tão grande assim.– É o suficiente.– Vamos andar um pouco.Ela colocou gentilmente a mão no

ombro dele e então desceram por umcaminho que levava diagonalmentepelo gramado. Eles deviam parecer umcasal peculiar. Nell usava um vestidorosa com um cinto de couro vermelho esaltos; Rick, o jeans mais velho quetinha, todo gasto, e uma camiseta pretajusta. Não havia se barbeado.

A camiseta exaltava a largura dos

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A camiseta exaltava a largura dosseus ombros e enaltecia seus bíceps.Rick era devastadora e perigosamentedelicioso, e ainda com a barba de umdia...

Ela teve uma visão onde sua línguapasseava pelo queixo dele...

– Algum motivo para você estar mebeliscando, princesa?

– Oh! – Ela relaxou a mão. –Desculpe.

Ela forçou-se a olhar ao redor até suarespiração voltar ao normal. O parqueera verde e vistoso, com uma vista aolonge da Baía. Eucaliptos e pinheiros-de-norfolk balançavam na brisa gentil,oferecendo sombra para as toalhas de

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piqueniques e as cadeiras dobráveis.Oleandros no ápice da floradaadicionavam tons de rosa, vermelho ebranco à sinfonia de cores. Em umcanto, havia uma rotunda em meio aum jardim de rosas.

Um coro de aniversário os fez virarpara a direita. Eles saíram da trilha e seaproximaram de um oleandro paraobservar.

– Parabéns, querido papai...Ela não conteve um sorriso. Havia

pelo menos vinte pessoas de váriasidades e todas estavam alegres esorridentes. Sentiu uma dor no peito.

– Eu sempre quis uma família assim –sussurrou ela. Pessoas que se amam e

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que gostam da companhia um do outro.– Eu também.Todavia, ela não tinha direito de

reclamar da infância, comparada à dele.Crianças pequenas dançavam ao

redor de idosos, sentados em cadeiras, etodos davam urras de felicitações.Quem era o foco de tanto amor? Aaniversariante cortava o bolo, de costaspara os dois. Mas Nell conseguiaimaginar o tamanho do sorriso dela.

Oh, se ao menos essa pudesse ser afamília de Rick!

Então a garota virou-se na direçãodeles, e o ar ficou parado na gargantade Nell.

Oh, meu Deus!

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Oh! Meu Deus!Ela olhou para Rick. Ele não

percebera? A semelhança erainconfundível.

Os olhos de Rick estavam fixos norosto da garota. O maxilar estava tensoe o peito subia e descia como se eleestivesse acabado de correr.

– Quantos anos você acha que elatem? – ele rugiu as palavras, e elaprecisou engolir antes de responder:

– Não sei... 18 ou 19. – Ela não tinhaideia.

Nesse instante, uma mulher de cercade 40 anos os viu. Com um sorriso, elacomeçou a andar na direção deles. Rick

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soltou um palavrão e se afastou para irembora.

– Rick, espere! Eu...– Olá?Nell virou, esperando que seu sorriso

não fosse falso demais.– Olá, eu... bem, nós... meio que

fomos convidados. – Não eraexatamente uma mentira.

– Você deve ser um dos amigos dePoppy. Sou a mãe dela, MarigoldSomers.

Marigold! Significa… malmequer eminglês. Ela precisou se segurar.

– Está tudo bem com seu amigo?Oh, santo Deus.

– Ele... teve que atender uma ligação

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– Ele... teve que atender uma ligaçãourgente.

– Venham para a festa.– Ah, acho que não podemos.A mulher continuou a encará-la.O que fazer?– Sabe, meu convite veio através de

uma fonte incomum e... – ela mordeu olábio – meu nome é Nell Smythe-Whittaker... eu não conheço Poppy,mas acredito que você conhecia meufalecido jardineiro e...

A mulher corou.– Ah, por favor, não!A aflição no rosto da outra mulher a

desconjuntou.

– Por favor, não viemos causar

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– Por favor, não viemos causarproblemas, mas...

– Mas?– Você sabia que John morreu?Ela engoliu em seco e assentiu.– Sabia que ele deixou outro filho?O queixo dela caiu.– Você?– Não eu.– Seu amigo?– Eu...Outras pessoas da festa começaram a

olhar na direção deles. Ela não queriacriar uma cena; queria encontrar Rick.Nell pôs a caixa de cupcakes quetrouxera nas mãos de Marigold.

– Diga que vieram de um admirador

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– Diga que vieram de um admiradorsecreto. Meu cartão está na tampa. Porfavor, me ligue.

A outra mulher assentiu, e Nellentão voltou o mais rápido que pode,afundando os saltos na grama.

Então...Eles encontraram a irmã de Rick.

Finalmente. Ela não o culpava pelochoque, mas... ah, minha nossa. Fazerparte de uma família dessas! O coraçãopulsava com força. Ainda assim, haviamuitas variáveis. Poppy sabia que erafilha de John? Como reagiria ao saberque tinha um irmão?

E, claro, havia Rick.

Ele estava esperando por ela no

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Ele estava esperando por ela nocarro. Nell sentou-se no banco docarona e abriu a boca para falar.

– Não.Os olhos dele eram pura escuridão.– Coloque o cinto.Eles deixaram o parque, em silêncio.

Ela compreendia o choque dele, mas araiva...?

Depois de um instante, ela balançoua cabeça de novo. Não, ela a entendia,também, e sabia que Rick estava em seudireito. Como John se atrevia aatormentar Rick com a visão de umavida que estivera tão perto dele ainfância toda?

Ao chegarem, ela saiu do carro para

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Ao chegarem, ela saiu do carro paraabrir a garagem, e ele entrousilenciosamente. Ele mal olhou para ela.

– Estou partindo. Hoje.Mas o quê...? Ela não saiu do

caminho dele.– É lógico que não.Ele lhe lançou um olhar que deveria

tê-la transformado em cinzas, mas elacontinuou antes que ele pudesse reagir:

– Você me prometeu até o fim dasemana que vem. Nós assinamos umacordo. Você precisa manter suapalavra.

Ele apontou um dedo para ela.– Esse acordo não é um contrato! E...

– Independentemente de tudo isso,

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– Independentemente de tudo isso,você ainda me deve.

– Eu não lhe devo nada!Ela concordava, mas não iria contar

isso para ele.– Eu mantive a minha palavra. Na

verdade, fiz mais que isso. E você podemuito bem fazer o mesmo.

– E por quê? – gritou ele.– Porque somos amigos, e isso é o

que amigos fazem.Ele não reagiu.– E porque essa situação não é culpa

minha.Ele passou a mão pelo rosto.– Você está certa. Você não merece

isso.

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– Tampouco é culpa sua, Rick. Vocêpode sentir raiva.

– Prometa-me que não vai interferirnessa maldita bagunça.

– E o que você vai fazer com essamaldita bagunça?

– Nada.O queixo dela caiu.– A vida daquela garota é perfeita.– Você não pode ter certeza disso só

por espiá-la pelos arbustos por cincominutos!

– Ela com certeza não precisa dealguém para arruinar a vida dela.

– Arruinar? Você é o irmão dela.– Somos dois estranhos. – Ele a

encarou com atenção. – Ou você cai

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fora, ou eu caio fora.Ela ergueu as mãos.– Certo, tudo bem.– E, Nell, eu vou embora no final da

próxima semana.Ela não tentou esconder a expressão.– Que pena, vou sentir sua falta,

Rick.Nell virou-se e saiu. Ela não queria

ouvir as desculpas dele. Nadaamenizaria a situação.

Depois de atravessar o jardim... elaencontrou a porta da cozinha aberta.Não a havia trancado ao sair?

Ela ia ligar para Rick quando umvulto assomou na porta.

– Boa tarde, Nell.

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O coração dela quase saltou do peito.– Olá, pai.

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CAPÍTULO 10

NELL FEZ café, por questão de hábito, ecolocou uma caneca diante do pai. Elaestava cansada demais para joguinhos.

– Acredito que esta não seja umavisita social.

– Quero o dinheiro que você ganhouao penhorar o anel de diamantes da suaavó.

Ela precisou de toda a força para nãoatirar seu café nele. Inspirou fundo.

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– Eu sei que você já o penhorou e osubstituiu por uma cópia. Por que estátentando me enganar?

Ele derrubou a cadeira, tamanha afúria com que se levantou, seu rostotingindo-se de todos os tons de fúria.

– Ele é o quê?Por um instante Nell quase acreditou

nele.– Você está com medo que eu

procure a polícia e termine envolvidono roubo das joias.

– Aquelas joias deveriam ser minhas!– Mas foram deixadas para mim.

Que escândalo seria se você tivessevendido as joias deixadas para sua

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própria filha. Seria uma boa lição se eufosse até a polícia.

Ele então assumiu uma expressãofria, calculista. Nell colocou o café sobrea mesa.

– Quem contou que eu haviadescoberto o anel?

– Sei que você achou mais que oanel.

– Preciso mudar de banco.– Sei quem está morando na

propriedade.– Isso não é assunto seu.– Rick Bradford é um ladrão, um

viciado e um ex-detento.A compostura dela desapareceu.

– Ele é cem vezes mais homem do

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– Ele é cem vezes mais homem doque você!

Ele riu, sentou-se e tomou um golede café.

– Filha, é assim que as coisas vão ser.Você vai colocar esta casa à venda.

Foi a vez de Nell rir.– Como espera me convencer?– Se não convencê-la, vou fazer uma

queixa formal à polícia. Vou dizer queas joias da sua avó foram roubadas esubstituídas por cópias, e quem vocêacha que vai ser o principal suspeito?

– Você!– Vou me certificar que seja seu

amiguinho, Rick Bradford.Ela lutou para respirar.

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– Ninguém vai acreditar. Ele éinocente!

Ele riu novamente, e tarde demaisela percebeu o erro que havia cometido:demonstrou fraqueza.

– Eu sei quando ele começou a moraraqui. Sei quando você colocou as joiasno banco. E sei que ele teve aoportunidade.

Não!– E, considerando seu histórico, ele

saberia como.Rick era inocente!– Ele será chamado a depor. Vou

subornar as testemunhas e instruí-las adizer que ele levou os anéis para serem

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falsificados. Vou me certificar que ele sedê mal por isso.

Ela não conseguia falar. Como seupai podia ser tão baixo?

Ele balançou a cabeça, com um olharsevero.

– Não nasci para ser um homempobre, Nell. A venda desta casa vai metirar do buraco e ajudar a reconstruirmeus negócios.

– E não se importa em ferir pessoasaté conseguir o que quer?

– Esse é um mundo cão.– Não faz diferença que eu nunca

mais fale com você, depois disso?Ele riu, um som feio que fez o

estômago dela revirar.

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– Você voltará rastejando quando viro dinheiro, exigindo sua parte. Assimcomo a sua mãe. Sim, você é igualzinhaa ela. Mas não se preocupe, sereigeneroso.

Ela apenas o encarou. Será que elaalgum dia conhecera o pai?

– Como a sua vida deve ser triste.Ele foi pego de surpresa.– Você julga seu valor de acordo com

a quantidade de dinheiro que possui,em vez de qualidades substanciais,como amizades. Eu... não queria servocê nem por todas as joias da caixa davovó.

– Excelente. Então, você não seimportará em me dar todas elas

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amanhã, quando eu voltar com ocorretor de imóveis.

O coração dela acelerou. Vender acasa? A casa não contaria para nada,além da liberdade de Rick, mas... ah,vovó, eu sinto muito.

– Pode fazer todos os discursosmoralistas que quiser, filha...

Ele disse aquela palavra como se Nellfosse propriedade dele. Ela ergueu oqueixo. Ninguém era dono dela.

– ...mas não vejo como você teriasucesso na vida, no que quer que vocêseja boa. Não a vejo fazendo bem parao mundo. Não a vejo cercada de amigosleais e amorosos.

– Talvez não, mas sou cem vezes

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– Talvez não, mas sou cem vezesmelhor do que você. – E ela sabia dissoagora, do fundo do coração. – Pelomenos eu posso dormir à noite.

Ele piscou.– Você pode voltar a ser rico, mas

será um homem muito solitário secontinuar assim. Se você sente algumacoisa por mim, talvez ainda haja umachance de forjarmos algum vínculo. Docontrário... – ela respirou fundo,mantendo contato visual com o pai –você não será convidado para meucasamento. Quando eu tiver um filho,não poderá vê-lo. E não pense em ligarpara mim quando estiver no leito demorte.

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– Você sempre foi uma garotaestúpida e inútil.

Ela forçou-se a relaxar os ombros.– Eu virei com o corretor às 11h.

Esteja aqui.– É domingo!O sorriso dele era da mais vil

autossatisfação.– Há compradores interessados, e

pessoas que ainda pulam quando eumando.

Diferente da filha inútil?Ele foi embora. Nell desabou em

uma cadeira. Se não fizesse o que o paiqueria, Rick iria para a prisão. Cerrou osdentes; ela não era inútil. Na verdade,deu a ele um belo ultimato. Engoliu em

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seco, lutando contra a náusea, e depoismassageou as têmporas. Nada garantiaque seu pai não fosse acusar Rick depoisde vender a casa.

Ela precisava de ajuda nisso, mas aquem recorrer?

De uma coisa o pai dela estava certo.A filha não vivia cercada por amigosleais. Nell tinha apenas um amigo nomundo: Rick. A menos que...

Um instante depois, ela seendireitou. Ela podia não ter amigos,mas Rick sim.

Procurou um número na listatelefônica e ligou.

– Tash? Olá, aqui é Nell Smythe-Whittaker. Eu gostaria de dar uma

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palavrinha com o sr. King, digo, Mitch.– Ele não está aqui no momento.

Quer que eu fale para ele passar aí?– Ah, não aqui. – Ela não queria que

Rick viesse.– Gostaria de marcar um encontro na

estação?– Deus, não!Tash não falou nada por um instante.– Nell, você está com algum tipo de

problema?– Eu... não sei. E por favor, não

mencione nada a Rick. Não preciso deum cavaleiro em uma armadura, só dealguns conselhos.

– Certo.

Nell sabia que Tash acabaria

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Nell sabia que Tash acabariacomentando com Rick, por puralealdade.

– Você se importaria se eu fosse atéaí em um momento conveniente, parafalar com Mitch?

– Claro que não! Mitch deve chegardaqui a meia hora, então, se estiverlivre esta tarde...

– Obrigada, Tash.Ela sabia que Tash não ia muito com

a sua cara, mas, naquele instante, Nellpoderia tê-la abraçado.

SENTADA DIANTE de Mitch e Tash, Nellsentiu a boca ficar seca. E se eles a

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acusassem de arruinar a vida de Rick?Ela não teria resposta.

– Gostariam de ficar a sós? – dissepor fim Tash.

Nell balançou a cabeça. Tash deveriasaber o que estava acontecendo, casoRick precisasse dela. E não precisavasaber que Mitch e Tash já formavamuma equipe; ele iria lhe informar tudodepois.

Ela era uma estranha ali. Mas,contanto que garantisse que nada demal aconteceria a Rick por causa do paidela, a opinião dos dois não importavamuito.

Nell ergueu o queixo.

– Acho melhor começar do começo.

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– Acho melhor começar do começo.– Mitch assentiu com a cabeça, e seujeito tranquilo contaminou Nell. Elaentão fez um resumo da situação,porém, sem mencionar a carta de John.Aquele segredo era de Rick, e só elepoderia compartilhá-lo.

Ela então contou sobre as ameaças eexigências do pai, e a expressão de Tashficou sombria. Ela ergueu-se sobre amesa, na direção de Nell, que a contevecom um gesto.

– Eu sei, eu sei. Meu pai é umcretino. Eu farei o que ele quer... euvenderei a casa. – Sua voz fraquejou. –Mas isso não irá garantir a segurança deRick. Mesmo com o dinheiro em mãos,

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o que garante que ele não prestaráqueixa contra Rick?

Caramba, se o pai dela descobrissequanto dinheiro Rick tinha...

– Você acredita que Rick é inocente,então? – perguntou Tash.

– Claro que sim! – Com certeza Tashnão achou que...

– Quem você acha que é oresponsável? – perguntou Mitch.

– Meu pai, é claro.Mitch franziu o cenho.– O resto das joias está no banco?– Sim. – A primeira coisa que ela

faria na segunda-feira seria mudar debanco.

– Você as deixaria comigo?

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Ela encarou Mitch.– Claro que sim, mas, Mitch, não

quero tornar isso oficial.Tash endireitou-se.– Então o que você quer?– Quero garantir que meu pai não

tente culpar Rick pelo sumiço das joias.Mitch assentiu.– Você disse que vai assinar um

contrato com um corretor amanhã?– Sim. – Ela mal conseguiu

responder.– Você não pode fazer isso sozinha.

Vou mandar meu procurador auxiliá-la.– Quanto é?Tash balançou a cabeça.– Nós resolvemos isso depois.

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Nell engoliu em seco e retirou o falsoanel de diamantes do bolso, deixando-ona frente de Mitch.

– Vou pegar o resto das joias amanhãde manhã. Acredito que todas sejamfalsas.

Mitch avaliou o anel.– A casa dos Whittaker está em seu

nome, certo? Isso significa que se jáhouver um comprador de prontidão,teremos seis semanas até a propriedademudar oficialmente de dono e odinheiro ser transferido para a suaconta.

Que ela teria que transferir para aconta do pai.

– O que significa que, pelas próximas

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– O que significa que, pelas próximasseis semanas, Rick estará seguro.

Seis semanas sabendo que Rick nãopoderia ser acusado de nenhum crimeque não cometeu. Mas e depois...? Atensão voltou.

– Se precisarmos, vamos forçar seupai a assinar uma cláusula que oimpede de prestar queixas contra Rick.

Isso era possível? Nell suspirou,aliviada.

– Obrigada.

– DROGA! – MURMUROU Tash enquantoela e Mitch observavam Nell ir embora.

Mitch descansou o braço sobre oombro dela.

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– O que foi?– Ela está apaixonada por ele.– Sortudo.Tash bufou.– Assim que perceber, Rick vai dar o

fora.– Por quê?Ela balançou a cabeça.– É o que ele faz.– Ela está preparada para fazer um

senhor sacrifício por ele.– Será que ela vai conseguir salvar ele

e a casa?– É o que tentaremos fazer.Ela ficou na ponta dos pés para beijá-

lo.– Já falei hoje o quanto eu o amo?

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NELL NÃO tinha certeza do que fazerquando voltou para casa. Começar aencher caixas para o seu eminentedespejo?

Sentou-se e puxou uma caixa decupcakes. Depois de encará-los por uminstante, afastou-os. Comer não iriamelhorar a situação. Ela ouviu Rickmartelando alguma coisa na sala dejantar, embora passasse das 18h e fossesábado. Como iria explicar a venda dacasa para ele? Nell também teria quedevolver o dinheiro para ele. O sonhoda casa de chás vitoriana não serealizaria tão cedo.

Ela franziu o cenho. Será que ogerente do banco rastreou de onde veio

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o dinheiro? Se foi o caso, ele informarao pai dela? Nell ergueu a cabeça...

E descobriu-se olhando para umamulher na porta de entrada.

Marigold.– Cheguei em má hora?– Claro que não... por favor! Entre.Ela ouviu as marteladas de Rick na

sala ao lado. Santo Deus, aquilo poderiaterminar em lágrimas. Muitas lágrimas.

A maioria dela, provavelmente.– Por favor, sente-se. Gostaria de um

café ou um refrigerante?Marigold sentou-se com cuidado em

uma cadeira, os olhos arregalados emum rosto pálido. Nell deu de ombros.

– Vamos cortar as formalidades e

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– Vamos cortar as formalidades etomar um vinho.

Ela pegou a garrafa da geladeira eduas taças.

– Você terá que me desculpar, mas ovinho é barato.

– É álcool, pode trazer.– Amém, irmã.Eles brindaram e beberam. Bem

rápido. Nell colocou mais vinho nastaças e então tentou imaginar o quedizer...

– Eu me lembro de você quando erapequena.

– Lembra?– Eu estudei com a sua mãe.

Lembro-me de ter vindo a alguns chás e

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festas aqui. Você não tinha mais que 6ou 7 anos quando engravidei de Poppy.

– Foi quando você parou de vir aqui?Marigold tomou um gole e assentiu.– Conheci John em uma dessas

festas.– E vocês tiveram um caso?Marigold encarou o vinho e esboçou

um sorriso.– Sim, tivemos. Foi curto, mas

intenso. Fomos muito discretos. Se Johnfosse descoberto, ele perderia oemprego, e meus amigos... bem, elesnão teriam entendido.

Nossa!– E você engravidou?Ela assentiu, e as duas beberam.

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– Foi quando as coisas ficaram ruins.John não queria nada com a criança.

– Você sabe o motivo?– Não. Ele era um homem

maravilhoso, mas muito fechado,também. Talvez por que ele cresceu emum lar para crianças, um lugar muitobrutal, pelo que entendi. Ele nuncafalou muito, mas acho que ele nãoconfiava em si mesmo perto de crianças.

– Poppy sabe que tem um pai?– Contei a ela quando fez 15 anos.

Ela sabia que meu marido Neville nãoera seu pai biológico; nós nosconhecemos quando Poppy tinha 2anos. Mas ela queria saber a verdade, eachei isso justo. Poppy escreveu cartas

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que ele nunca respondeu e insistia emmandar um convite de aniversáriotodos os anos, pois a festa no parque éuma tradição. Mas ele nunca apareceu.

Nell olhou para a taça e lembrou-seque John nunca a deixou plantarmalmequeres.

Um suspiro escapou da outramulher.

– Mas se Poppy tem um irmão...Nell a encarou.– Claro, ela tem todo o direito de

conhecê-lo. Eu jamais impediria isso.Tudo que peço é a chance de podercontar a ela primeiro.

– Mas é claro!

– Desculpe por ter entrado em

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– Desculpe por ter entrado empânico e...

– Nell!A voz de Rick soou do corredor,

junto com os passos dele.– Onde diabos você guardou a fita

isolante?Ele congelou na porta. Marigold

arfou ao encará-lo.– Minha nossa, você é a cópia dele.Aqueles olhos negros fixaram-se em

Nell com uma acusação que a cortou aomeio. Muito lentamente, ele disse:

– O acordo acabou. – Ele atravessoua cozinha e saiu pela porta. Ela sabiaque ele iria fazer as malas e partir. Devez.

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– O que aconteceu? – sussurrouMarigold.

– Rick não... acho que ele não querque Poppy o conheça. Ele acha que vaicomplicar a vida dele. E ele acha que euo traí.

Marigold levantou-se.– Eu quero contar a Poppy sobre ele.

Não quero que haja mentiras entre nós.– Ela entregou um cartão de contatopara Nell. – Você poderia entregar issopara ele?

– Sim, claro.Depois que Marigold saiu, Nell foi

para o chalé. Ela bateu duas vezes naporta antes de abri-la e entrar.

Rick andava de um lado para o

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Rick andava de um lado para ooutro, guardando suas coisas.

– Não disse para você entrar.– Ah, pelo amor de Deus, cale a boca

e me escute só desta vez. Preciso contaralgumas coisas.

– Se tiver a ver com Poppy e omaldito John, não quero ouvir.

– No parque, depois que você fugiu,eu contei a Marigold que John tinhaoutro filho.

– Você não tinha esse direito!– Se você não tivesse fugido, eu o

teria deixado resolver a situação!Marigold, a mãe de Poppy, ficou lívidaao saber. Eu lhe entreguei os cupcakescom o meu cartão no parque, por isso

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hoje ela veio me procurar. Foi só issoque aconteceu.

– Vocês estavam bebendo juntas!– Eu ia mandá-la embora? Além

disso, ela estava nervosa... e eutambém. O vinho pareceu uma boaideia... – Ela ergueu o queixo,desafiando-o. – E ainda parece.

Rick esfregou o rosto. Nell então lhefez um resumo da conversa que as duastiveram.

– Eu não ligo – afirmou ele, quandoela terminou.

– Mas...– Estou indo embora.Ela já previa essa atitude, mas mesmo

assim o golpe a partiu no meio.

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– Faça o que quiser, então! – gritouela, antes de se aproximar e cutucar oombro dele com o dedo. – Nãopodemos escolher nossas famílias. Nósdois somos a prova perfeita disso,exceto... exceto que desta vez vocêpode... você pode escolher ter umairmã! – O rosto dele empalideceu. –Marigold, o marido e Poppy parecempessoas adoráveis. Mas você não querconhecê-los, prefere rejeitá-los, comoJohn fez!

– REJEITÁ-LOS? A vida deles é perfeita! –Rick não queria destruí-la.

Ele já conhecera pessoas assim antes– gente boa e decente que não daria as

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costas para ele. Mas as vidas delesficariam um pouco pior por conhecê-lo.E eles não mereciam isso. Aquela garotaadorável – a irmã dele! – não mereciaisso.

– Quem sabe dizer se a vida delesnão seria um pouco mais perfeita comvocê nela?

Ele aproximou-se, ignorando o docearoma dela.

– Contos de fadas não viramrealidade.

– Você tem uma irmã. Isso é arealidade. Não conto de fadas.

A crença dela em “felizes parasempre” era ficção, mas ele precisavatomar cuidado para ela não contagiá-lo.

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– Essa decisão não cabe a você.– Você vai mesmo embora?Ele olhou para cima.– Finalmente ela entendeu.– Tudo bem, então! Marigold me

pediu para entregar isso. – Ela passou ocartão, tomando cuidado para não tocara mão dele. – Agora caia fora da minhapropriedade.

RICK FEZ uma careta e bateu na porta deTash.

– Tudo bem se eu passar a noiteaqui? – perguntou ele sem rodeios,quando ela apareceu.

– Claro. Suponho que Nell e vocêtenham conversado.

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– Como assim?Tash nem piscou quando ele

grunhiu. Apenas gesticulou para eledeixar as coisas no quarto de hóspedese voltou para a sala. Mitch estava àmesa. Os dois se cumprimentaram.

– Você devia saber que ela veio aquimais cedo – informou Tash.

– Então ela contou sobre John Cox,Poppy e a bagunça toda, querendo aajuda de vocês?

– Por aí. Ela tem boas intenções.– Poupe-me, Tash. Não me importo

se aquela menina é minha irmã. –Tampouco importavam as opiniões dosdois. – Nenhuma lei me obriga aconhecê-la.

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– Caramba! – O queixo de Tash caiu.– John Cox, o jardineiro, é seu pai?

Ele esbravejou. Ele jamais teriaentregado a verdade para Tash se nãoestivesse tão bravo com Nell.

– Não era dessa bagunça que euestava falando.

Obviamente. Ele esperou para queTash fizesse mais perguntas, ela sabiadar espaço e privacidade a um cara, euma onda de afeição o atingiu.Diferente de outras pessoas.

– O que diabos ela queria com vocês?Tash e o namorado trocaram olhares.– É melhor você se sentar, Rick –

disse Mitch.

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CAPÍTULO 11

– VOCÊS SÓ podem estar brincando.Quer dizer que ela vai vender a casa,que ela lutou para manter, na tentativade me não me causar problemas?

– Exatamente.Ah, princesa.– Ela sabe que isso é loucura, não?– Não – disse Tash, como se fosse

óbvio que aquilo não era loucura.

– Ela tem razão, não é loucura – disse

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– Ela tem razão, não é loucura – disseMitch.

O estômago dele congelou. Elejamais voltaria para a prisão. Jamais.

Só que...Ele não iria deixar que a princesa

vendesse a casa por causa dele.– Ela brigou comigo de propósito. Ela

me mandou embora para me despistar.– É a melhor hipótese – disse Tash. –

É o que eu teria feito no lugar dela.Rick abriu a boca, mas nenhuma

palavra saiu.– Ela tem razão, Rick. Talvez seja

melhor você desaparecer.E deixar Nell se virando sozinha?

– Nem pensar, não vou a lugar

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– Nem pensar, não vou a lugarnenhum.

Tash lhe lançou um olhar que deixouRick irritado, mas deu de ombros.

– Vou comprar a casa.– Não, não vai – disseram Tash e

Mitch ao mesmo tempo.– Não seria o melhor momento para

Roland Smythe-Whittaker saber quevocê tem dinheiro – disse Mitch.

Rick sentou-se em uma cadeira,ponderando.

– Preciso ir – disse Mitch, olhando orelógio antes de se levantar, beijar Tashe sair.

– Você tem dinheiro suficiente paracomprar aquela casa?

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Ele assentiu.– Como?– É incrível o quanto se pode ganhar

jogando pôquer, Tash.Ela fechou os olhos.– Ah, Rick.Ele não sabia o motivo, mas as

palavras de Tash arderam no coraçãodele.

– Eu poderia comprar a casaanonimamente.

Tash pegou duas cervejas dageladeira.

– Não.– Essa decisão não é sua!– O que você estaria fazendo amanhã

se eu não tivesse contado sobre a

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situação?Ele não respondeu.– Você entraria no seu carro e iria

embora sem olhar para trás, não iria?Ela estava certa. Como sempre.– Nell procurou Mitch e eu em busca

de ajuda. Ou melhor, ela veio pedirconselhos. Nós apenas lhe passamos asinformações necessárias para dar opróximo passo. Ela disse que nãoprecisava de um cavaleiro de armadurapara salvar o dia. – Tash tomou umlongo gole da cerveja. – Ela não é umamulher indefesa que você pode resgatarpara aliviar a maldita culpa, Rick.

– Que culpa?– A culpa por partir.

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Ele apenas a encarou, malconseguindo respirar.

– Ela pode se virar sozinha. Aliás,acho que ela precisa fazer isso por contaprópria para provar que pode.

A princesa era resiliente, forte. Aquestão era que...

Ele queria ser o cavaleiro dearmadura dela.

– Ela acha que você não gosta dela,sabia? – Ela provavelmente precisou demuita coragem para abordar Tash. – Eunão a conheço bem, mas gosto dela. Egostei mesmo do que ela está disposta afazer por você.

Aquilo fez o estômago dele revirar.– Ela está apaixonada por você, Rick.

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Ele quase cuspiu a cerveja, e seucoração começou a bater disparado.

– Não faça joguinhos com ela.Rick queria levantar e sair correndo.– Até onde sei, você tem duas

escolhas. Uma: você pode acordar demanhã, entrar no carro e cair naestrada.

Não, ele não iria embora. Não até tercerteza de que Nell e os sonhos delaestavam seguros.

– Ou, se você está tão obstinado emficar, é melhor começar a fazer algumacoisa para merecê-la.

Tash levantou-se e saiu. Ele percebeuque sua cerveja ainda estava a meiocaminho até sua boca e a colocou na

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mesa. Por que ele não estava no carro,fugindo de Sydney?

Porque Nell estava prestes a sacrificartudo que importava por ele.

Por ele!Ele não permitiria, pois...Rick encarou a parede, como se tudo

finalmente se encaixasse. Ele amavaNell. Ele estava apaixonado pelaprincesa.

Em algum momento, os sonhos delase tornaram os dele, também. Ela deusignificado à existência errante dele, eRick não queria voltar a vagar semrumo pela vida.

Ele queria...

Tomou outro gole da cerveja e

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Tomou outro gole da cerveja etamborilou os dedos na lata. Ele queriao sonho que acalentava antes de irpreso. Ele queria uma mulher, e filhos,e um emprego. Ele queria um lugar nomundo, e esse lugar era ao lado deNell.

É melhor começar a fazer algumacoisa para merecê-la.

NO DOMINGO, o pai de Nell e ByronWithers, o corretor de imóveis,chegaram pontualmente às 11h.

Byron mostrou um sorrisinho do tipo“eu te avisei”, e Nell precisou de todasas forças para não puxá-lo pela orelhapara fora da propriedade. Ela também

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precisou de forças para compor umafigura superior diante deles, pois nãoqueria lhes dar a satisfação de saber oquanto ela estava chorando por dentro.

Além disso, estava fazendo aquilopor Rick. Ele não merecia o que o paidela havia planejado para ele, e issotambém lhe dava forças.

Porém, ambos os homens torceram onariz ao ver o procurador que Mitchhavia mandado.

– Isso não é necessário. – O pai delareclamou.

– O sr. Browne vai avaliar o contratoantes de eu assiná-lo. Isso não énegociável. – Ela sabia o quanto o pai

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precisava da casa, e que não iria darpara trás.

Com um aceno curto de cabeça dopai dela, Byron Withers entregou ocontrato ao sr. Browne. Ela haviapreparado café e cupcakes para oprocurador, e o pai dela os observoucom vontade.

– Café, filha?– Não, Roland, isso não está no

combinado. – Ela nunca o haviachamado pelo primeiro nome antes, e ochoque nos olhos dele a deixousatisfeita. Mas o recado estava dado: seele insistisse em vender a cada dosWhittaker, ela jamais o consideraria seupai novamente.

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– Não vamos assinar essas cláusulas,aqui e aqui. Sr. Withers, elas não sãoapenas imorais, mas beiram ailegalidade – disse o procurador, antesde virar-se para ela. – Se estiver tudobem para você, gostaria de levar essecontrato para as autoridadesresponsáveis por acordos imobiliários.Isso não deveria ser permitido.

Obrigada, Mitch.Byron interveio:– Não há necessidade disso! Deve ter

sido um descuido do departamento decontratos.

As bochechas do pai dela ficaramvermelhas, e sua expressão, sombria.

Ela cruzou os braços enquanto o

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Ela cruzou os braços enquanto oprocurador forçava Byron a rubricar asmudanças e a anotar as cláusulas queaparente e inadvertidamente “estavamfaltando”.

– Essas mudanças significam que elapode desistir da venda a qualquermomento, sem precisar pagar qualquermulta.

Nell ergueu o queixo.– Meu pai afirma que já possui um

comprador interessado, então, qualseria o problema? A menos, claro, quevocês queiram procurar as autoridadesque o sr. Browne falou...

– Não precisamos nos precipitar –murmurou Byron, assinando o contrato

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recém-formulado e passando-o paraela.

Nell o assinou e encarou os dois:– Bom, agora vocês podem ir.– Precisarei entrar em contato

quando tiver que mostrar a propriedadepara os clientes – disse Byron.

– Sim, claro, mas, por favor, faça issosem a presença de Roland.

O pai a encarou como se nunca ativesse visto antes.

– Não confio nele, e não quero queele roube mais coisas de mim. – Algobrilhou no fundo dos olhos dele, e elaquase acreditou que se tratava deremorso. – Agora, tenham um bom dia.

Eles saíram, e ela voltou para a

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Eles saíram, e ela voltou para acozinha.

– Obrigado pela consultoria, sr.Browne.

– Eles estavam tentando roubá-ladescaradamente.

Até aí nada de novo, mas...– Sua ajuda foi inestimável. Muito

obrigada.– Faz parte dos meus serviços – disse

ele, levantando-se. – Além disso, nãome divirto derrubando alguém assim hámuito tempo.

MITCH SURGIU na porta de Nell na terça-feira de manhã, quando ela estavaprestes a sair para fazer entregas. Candy

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estava funcionando como nova graças aRick.

Rick.Uma queimação surgiu no peito dela

e atrás dos olhos. Ele já devia estar acentenas de quilômetros dali agora. Erao que ela esperava de coração. Desejavaque ele ficasse bem longe do alcance dopai.

Ah, mas como ela queria abraçá-lo esaber se ele estava seguro.

– Tudo bem? – perguntou Mitch.– Sim. Entre, por favor. Gostaria de

um café ou...– Não, obrigado, Nell, tenho só

alguns minutos antes do trabalho.

– Gostaria de agradecer por enviar sr.

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– Gostaria de agradecer por enviar sr.Browne no domingo. Ele foi soberbo.

– Fiquei sabendo. Comentei com elesobre as ameaças de seu pai contra Rick,e ele me garantiu que pode inserir umacláusula proibindo seu pai de moveralguma ação contra Rick.

Ela sentou-se e fechou os olhos.– Graças a Deus – sussurrou ela. –

Isso é legítimo?– Completamente. Também tenho

algumas informações que podeminteressá-la.

Ela o convidou para sentar. Ele o feze tirou o anel da avó dela do bolso.

– Descobri quem mandou fazer essacópia.

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– Eu sei, foi meu pai. Mas ele podesubornar pessoas para mentir por ele,mandando Rick para a cadeia de novo.

– Não foi seu pai.Ela o encarou.– Não...? Então quem foi?Mitch encarou as próprias mãos.– Se você disser que foi Rick, não vou

acreditar. Se foi isso que seusinformantes disseram, eles estão sob ainfluência de meu pai.

– Esse anel foi feito há quase 30 anos.Ele então lhe entregou vários recibos.

Ela leu um por um, piscou e começou agargalhar.

– Esses recibos foram assinados pelaminha avó.

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– Durante a recessão dos anos 80, osnegócios do seu avô estavam em crise.

– E minha avó vendeu as joias paraajudá-lo?

– É o meu palpite.Ela encarou os recibos, o anel, e

depois Mitch. Então, lhe ocorreu:– Essa é a prova. Eu... eu não sei

como agradecer.– Não precisa. Fico feliz em ajudar

Rick. E isso significa que você está emvantagem, agora.

Ela poderia salvar a casa e garantirque Rick não voltasse para a cadeia.Poderia tornar seu sonho realidade.

Nell endireitou-se, erguendo oqueixo e os ombros.

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– Eu me sinto perigosamentepoderosa. Obrigada por tudo, Mitch,mas daqui em diante posso cuidar dascoisas.

NO INSTANTE em que Mitch saiu, Nellligou para Byron Withers e tirou a casado mercado.

– Mas... – balbuciou ele.– Não estou aberta a negociações.– Seu pai vai ficar muito descontente!Ela sorriu.– Sim, ele vai.Ela então ligou para o pai.– Acabei de tirar a casa do mercado –

anunciou ela, sem rodeios. – Se quiser

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discutir o assunto, você é bem-vindopara vir aqui às 17h.

Ela então desligou o telefone, eentrou na Candy para vender seuscupcakes.

ROLAND AGUARDAVA Nell quando elachegou em casa.

– Você trocou as fechaduras!– Sim.– Estou esperando há uma hora e

meia!– Eu disse a hora em que ia chegar –

disse ela tranquilamente, abrindo aporta da casa dela. Nell se tornaraimune à raiva e às exigências do paidela. Seu corpo movia-se com

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liberdade. – Gostaria de café ecupcakes?

– Não! Quero saber o que pensa queestá fazendo!

– Gostaria de se sentar?– Não!Tudo bem. Ela deu de ombros.– Descobri que não foi você quem fez

a cópia do anel, afinal de contas.– Eu falei que não fui eu.– E também descobri que não foi

Rick Bradford.A expressão que o rosto de Roland

assumiu o fez parecer bem mais velhoque seus 57 anos.

– Foi a própria vovó. Aparentementeela fez isso para ajudar a empresa do

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vovô, que estava em dificuldadesfinanceiras.

Roland fechou os olhos, mas ela serecusou a deixar que a piedade aenfraquecesse. Aquele homem amaltratara a vida toda, fazendo comque ela se sentisse inútil. Ele ameaçarao homem que ela amava.

Nell ergueu o queixo.– Tenho os recibos para provar.

Assim, estou lhe dizendo pela últimavez que não vou vender a casa. Euprometi à vovó que ficaria com ela commuito amor, e é exatamente o que voufazer. Pode gritar o quanto quiser – eladeu de ombros, um gesto vindo do

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fundo do coração, dizendo eu não souinútil –, isso não me afetará mais.

– Eu irei à ruína!– Talvez, mas não por culpa minha.

Eu dei tudo o que podia: o carro, oapartamento, meu dinheiro, e nuncaouvi um “obrigado”. Nada do que eufaço é bom o suficiente para você.Chega.

O rosto dele ficou púrpura.– Essa casa deveria ser minha!– Mas não é. É minha. E gostaria que

você fosse embora, agora.Ele a xingou, mas nada a feriu. Ele a

ameaçou, mas para ela foi apenasbarulho. E então ele foi embora,

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levando consigo um peso das costasdela.

NA QUINTA-FEIRA, às 9h, um pacotechegou pelo correio. Era do procurador,Clinton Garside.

Junto, veio uma nota que diziaapenas: Sob as instruções de John Cox.Dentro, havia uma carta. O coraçãodela acelerou ao lê-la.

Querida srta. Nell,Deixei instruções com meuprocurador para enviar esta carta avocê caso Rick chegasse areivindicar a carta dele. Sei quevocê não vai entender minha

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atitude para com meus filhos, masvocê foi minha única amiga, oúnico raio de sol em minha vida, eagora vou explicar.A verdade é que quando eu erajovem, eu matei alguém. Fuicondenado por assassinato e fiqueipreso por oito anos. Sempre fuiestourado. Nunca temi ferir asenhorita devido às circunstâncias,mas eu não podia arriscar meusfilhos. Por isso, me afastei deles.

O queixo dela caiu.

Eu poderia ter amado a mulher queteve minha filha, mas eu teria que

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contar a ela sobre meu passado, eeu jamais conseguiria.

– Oh, John – sussurrou ela, secandoas lágrimas.

Rick saiu parecido demais comigo –ele precisa provar-se para simesmo, e por isso eu o coloqueineste teste. Eu a envolvi por que...bem, eu vi a maneira como vocês seconectaram quando erampequenos. Talvez vocês se tornemamigos.

– Em seus sonhos, John.

Desejo muitas felicidades a você, e

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Desejo muitas felicidades a você, eespero que você não pense muitomal de mim.Seu amigo, John.

Ela dobrou a carta e encarou aparede, desejando poder compartilhá-lacom Rick.

RICK CAMINHOU pelo apartamento deTash, tentando entender os impulsosconflitantes que o atormentavam – odesejo de correr e o desejo de ficar. Odesejo de voltar para a casa de Nell etomá-la em seus braços até ela jurar quenunca o mandaria embora de novo.

Ele ergueu e queixo e andou até a

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Ele ergueu e queixo e andou até aporta.

O que um cara como você tem aoferecer para uma garota como Nell?

Ele parou, esbravejou e voltou aandar pelo apartamento.

Faça algo para merecê-la.Como o quê?Por um instante o mundo parou, ele

levou a mão à testa e sentou-se diantedo computador de Tash. Ele digitou“como começar um negócio” no sistemade busca.

E começou a fazer anotações.

RICK LEVOU dois dias para registrar aBradford Restauração, obter o alvará

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provisório e imprimir cartões. Tambémcomprou uma van e encomendou umletreiro, além de contratar alguém paraprojetar um site. Suas noites de sonoduraram apenas três horas.

Será que um negócio convenceriaNell de que ele pretendia ficar, de queele estava empenhado em setransformar em alguém?

Ele engoliu em seco e virou-se para otelefone. E vínculos familiares? Poppy?E se a menina o rejeitasse? Ele jogou-seno sofá e passou as mãos pelo cabelo.

E se ela não o rejeitasse?A voz que sussurrava na mente dele

era suspeitamente parecida com a deNell. Lentamente, ele pegou o cartão de

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Marigold da carteira e discou o númerodela.

– Alô?A voz era feminina, e ele lutou

contra a vontade de desligar.– Hã... posso falar com Marigold

Somers, por favor?– Sim, sou eu.Ele engoliu em seco de novo.– Sra. Somers, meu nome é Rick

Bradford e eu... – Como ele diria, sou oirmão da sua filha? – Você conheceuminha amiga Nell Smythe-Whittakernaquele dia no parque.

– Rick! Que bom que ligou. Conteitudo sobre você para Poppy, e estamosmorrendo de vontade de conhecê-lo.

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A garganta dele quase fechou.– Eu adoraria.– Venha jantar conosco, que tal? Nós

adoraríamos.A sinceridade na voz dela fez o

coração dele tremer.– Prometa que virá. Amanhã?Os olhos dele começaram a arder.– Eu... tem certeza?– Sim.Eles combinaram um horário e

desligaram. Ele queria contar para Nello que havia feito.

Você ainda não a conquistou.Ele retirou do bolso uma cópia do

recibo que Mitch recuperara para ela.Era hora de ir à joalheria.

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CAPÍTULO 12

NELL FOLHEOU sua pasta de sonhosenquanto bebericava uma taça de vinhoe tentava encontrar um pouquinho deânimo.

Esfregou a testa. Sua alegria de viverlogo retornaria. Todo mundo serecuperava de um coração partido, não?

Ela olhou para o relógio da cozinha.Ainda eram 18h, muito cedo para irpara a cama, em um sábado.

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Ouviu uma batida na porta da frente.Talvez a pessoa desistisse depois de umtempo, pensou ela sem um pingo deinteresse.

Outra batida.Isso não vai ajudar a curar seu

coração.Ela forçou-se a se levantar.Sorria.Ao abrir a porta, porém, o sorriso

desapareceu do seu rosto. Seu coraçãodeu um salto, e ela precisou se segurarno batente.

– Rick? – sussurrou ela.– E aí, princesa?Aqueles olhos negros sorriram para

ela, a boca curvou-se para cima, e tudo

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que ela quis foi se jogar nos braços dele.– Eu... eu... achei que você tinha

partido de Sydney. – Por que elevoltaria?

Por ela?Ah, não seja iludida e patética. Com

muito cuidado, ela soltou-se da porta ealisou as calças de ioga.

Aquelas velhas calças de ioga.– Eu nunca fui embora. Estava na

casa de Tash.– Ah.Ah!– Entre. Estava tomando uma taça de

vinho. Quer me acompanhar?Ela precisou de todas as forças para

encontrar os modos e não soar travada.

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Muito bem!– É uma boa ideia!Agora ela só precisava encher uma

taça sem sua mão tremer.– Sente-se – ofereceu ela. – E sirva-se

de cupcakes.Ela sentou-se, as mãos trêmulas no

colo. Não queria falar do pai. Nemqueria descobrir que Rick se sentia emdívida com ela.

– Quanto tempo você pretende ficarem Sydney? – perguntou ela, pois seucoração estupidamente otimista mereciasaber a verdade o quanto antes.

O sorriso dele perdeu a arrogância.Ele engoliu em seco.

– Eu, hã... planejo ficar por aqui.

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As unhas dela fincaram-se nas mãos.Ele não vai ficar por sua causa!

– Por quê? – Ela faria qualquer coisapara retirar a pergunta.

– Droga, isso é difícil.Ela também achava.Rick foi até o outro lado da mesa,

onde ela estava sentada, e ficou sobreum joelho na frente dela. Nell quasecaiu da cadeira.

– Nell, eu amo e quero passar o restoda vida com você.

Ele retirou uma pequena caixa develudo do bolso e a abriu. O anel dediamantes da avó dela cintilou paraNell, e os instintos dela lhe diziam queaquela não era a cópia.

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– Você me daria a honra de serminha esposa?

Ele estava lhe oferecendo tudo queela queria!

Ela fechou os olhos, contou até três eos abriu de novo. O anel ainda está lá,com suas promessas. O peito dela ardia.

– Não – sussurrou. – Não, Rick, nãovou me casar com você.

RICK ERGUEU-SE, sentindo umaescuridão que ele jamais experimentaraameaçar apoderar-se dele. Elecambaleou de volta à cadeira, pois nãotinha forças para ir embora.

– Tash estava errada.– Tash?

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A voz de Nell soava espremida,carregada de lágrimas. Ao inferno comtudo! Ele desejou poder apagar osúltimos cinco minutos de sua vida. Masnão podia, e estava cansado dementiras. Nell podia não amá-lo, masjamais seria cruel.

– Ela me disse que você estavaapaixonava por mim.

– Ela não estava errada.– Como assim?Ela foi até a pia e segurou-se na

beirada até os nós dos dedos ficarembrancos. Depois, ela voltou-se para Rickcom o indicador apontado para ele,suas mãos tremendo.

– Se você estava ficando na casa de

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– Se você estava ficando na casa deTash, então você sabe a ameaça quemeu pai fez. E que eu coloquei a casa àvenda.

– Para salvar a minha pele!– Droga, Rick! Não quero que você

se case comigo por sentir que temalguma dívida a pagar.

O queixo dele caiu.– Eu não sinto que você me deve

nada. – Ele a amava!– Está certo.Ele abriu a boca, mas...– Você tem bancado o cavaleiro a

vida toda. Na infância, você medefendia das outras crianças, e depoislevou a culpa e foi para a cadeia por

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uma amiga. Só Deus sabe quantasmulheres você já resgatou de situaçõesruins. Você é especialista em donzelasem perigo.

Ele engoliu em seco. O que ela diziaera verdade, mas...

– Bem, não quero ser uma damaindefesa. Quero ser forte o suficientepara lidar com meus própriosproblemas.

– Mas você já é!– E não quero um cavaleiro de

armadura! – gritou. – Quando mecasar, quero uma parceria justa.

– Caramba, Nell! – Ele se levantou. –Não consegue ver que não sou ocavaleiro da armadura aqui? Você é!

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O queixo dela caiu.– Você é – murmurou ele, sentando-

se novamente.Ela não sabia o que dizer ou se podia

acreditar nele.– Eu passei a última semana

tentando fazer tudo para conquistá-la,para provar que sou digno de você.Estou abrindo minha própria empresade restauração de prédios. Esperoentrevistas de possíveis clientes parasemana que vem.

Ela piscou.– Eu... parabéns.– Obrigado. Eu também liguei para

Marigold e conheci Poppy. Na verdade,conheci a família toda.

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Ela bateu a taça na mesa e inclinou-se na direção dele.

– E como foi?– Muito bem. Ela é ótima. Toda a

família é. Ela tampouco é uma damaindefesa.

– Não é mesmo.– Você pode ser muitas coisas, mas

inútil você não é.Ela franziu o cenho.– Nem você.Ele descansou os cotovelos sobre a

mesa.– Princesa, eu sempre pude salvar os

outros, mas nunca pude salvar a mimmesmo.

– Ah, Rick!

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E então ela estava nos braços dele.Ele pressionou o rosto contra o pescoçodela e aspirou seu aroma.

– Você me salvou, princesa. – Elacorreu as mãos pelo cabelo dele e entãoabraçou-o com tanta força que Ricksentiu os cacos dentro de si começarema se juntar. – Você acreditou tanto emmim que eu voltei a acreditar em mimmesmo.

Ela lhe deu um beijo no canto daboca.

– Você é maravilhoso! Você deveriaacreditar em si mesmo.

Naquele instante uma luz se acendeudentro dele, tão forte que quase o

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cegou. Ele deslizou lentamente as mãospelas costas dela, e Nell estremeceu.

– Princesa, você está no meu colo.Ela sorriu.– Quer que eu levante?– Nem pensar.Ela então arfou quando ele mudou

um milímetro de posição, para que elasentisse o que estava fazendo com ele.

– Ah. – Ela arregalou os olhos. – Ah.– Calma, princesa, ainda não.– Por que não?Ele tentou fazer cara de sério.– Precisamos esclarecer mais algumas

coisas.Ela mordeu o lábio e assentiu.

– Quero ter uma família que seja o

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– Quero ter uma família que seja ooposto exato daquela na qual cresci.Quero tê-la com você, Nell, pois euamo. – Uma lágrima escorreu. Ele quisbeijá-la. – Preciso saber se você acreditaem mim.

Ela segurou o rosto dele entre asmãos.

– Sim, acredito. Nunca achei quefosse ser a garota que iria fazê-lo querersossegar. Você ficava dizendo o quantoéramos diferentes e...

Ele tocou os lábios dela com umdedo.

– Eu estava lutando contra o quesentia por você.

Nell inclinou-se para a frente e eles

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Nell inclinou-se para a frente e elesse beijaram com tanta força que ambosficaram respirando com dificuldadedepois de se separarem.

Ele tentou controlar as batidas docoração.

– Então, quer casar comigo?– Sim.Rick colocou o anel da avó no dedo

dela. Nell o encarou e então o levou atéo coração, pressionando-o.

– Como você o encontrou?– Eu procurei o joalheiro que o

comprou de seus avós e rastreei ocomprador. Fiz uma oferta paracomprá-lo de volta, e ele aceitou.

– Aposto que você pagou o dobro do

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– Aposto que você pagou o dobro doque ele vale.

Por aí.– Queria lhe dar um anel que

significasse algo para você.– Eu não preciso de coisas caras. Eu

não preciso nem desta casa. Eu o amo,Rick. Tudo que eu preciso é você.

– Princesa, você me terá pelo tempoque quiser.

– Para sempre.– E sempre – concordou ele. – Agora,

posso comer um cupcake para manterminha força, antes de levá-la para cima?

Ela riu, e o som encheu o coraçãodele.

– Vejo que teremos que encontrar

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– Vejo que teremos que encontrarum bom dentista. – Ela destampou acaixa e a ofereceu a Rick.

– Pensando melhor... – Ele recolocoua tampa, pegou-a nos braços e a levoupara o quarto. Haveria tempo paracomer depois.

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EPÍLOGO

MITCH APROXIMOU-SE de Rick.– O show já vai começar. Pronto?– Estou pronto há oito meses! – Rick

levantou-se e olhou para o começo dotapete vermelho que levava da entradade madeira ornamentada ao terraço dacasa dos Whittaker. Fileiras de rosasbrancas e vermelhas formavam umapassarela para Nell atravessar, assimque ela surgisse.

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Mitch tomou seu lugar ao lado deRick, ajeitando seu terno.

– Não acredito como vocêsarrumaram esse lugar.

Deu muito trabalho, mas ele e Nellaproveitaram cada segundo. E valeu apena. A casa resplandecia sob o solagradável de novembro em tons decreme e damasco. Ele olhou pelo jardim– uma explosão de cores – e seu pulsoacelerou. Aquele era o verdadeirotriunfo, todavia, e por mérito total deNell.

Nell.Ele olhou para o relógio e depois para

o fundo da casa. Os convidadoscochichavam entre si sob um toldo de

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listras vermelhas e brancas que dançavaao vento. Um grupo de menos de 30pessoas que incluía Poppy e a família,alguns antigos amigos de escola dele,funcionários dele e de Nell, assim comoamigos que eles fizeram. Em uma mesade cavalete ali perto havia um conjuntode chá digno de uma princesa. Nocentro das atenções estava a torre decupcakes – o bolo de casamento – queela mesma havia preparado.

Estava tudo pronto.Rick mexeu na gravata e virou-se

para Mitch.– Achei que você tinha falado que o

show...

A banda começou a tocar a marcha

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A banda começou a tocar a marchanupcial.

Rick voltou-se para descobrir Nellparada no outro lado do tapetevermelho. O queixo dele caiu. Elaestava linda.

Ela começou a caminhar na direçãodele em uma linda túnica de sedabranca ao estilo dos anos 50. Usavauma fita escarlate no pulso, e seussapatos de salto brancos apresentavamlaços da mesma cor. Nas mãos, levavaum buquê de malmequeres.

Ela caminhava na direção dele. Dele!– Estou me casando com uma

mulher de diamante.– Eu também – riu Mitch.

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Tash, a dama de honra de Nell,estava linda de escarlate. Ela e Mitch jáhaviam marcado uma data em fevereiropara um casamento no jardim só deles.

Nell estava lançando uma tendência– chás para cerimônias de casamentos.

Quando chegou ao altar, Ricksegurou a mão dela.

– Você está linda, princesa.– Você também – sussurrou ela, seus

olhos verdes brilhando.Ele queria beijá-la, mas a

cerimonialista limpou a garganta e elesse voltaram para ela. Fizeram os votosque iriam uni-los para sempre. Enfim sebeijaram – um beijo longo e solene.

Nell inclinou-se sobre ele.

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– Muito tempo atrás, uma garotaconheceu um garoto e se apaixonou,mas ela o perdeu.

Ele tocou a bochecha dela.– Muitos anos depois, o garoto

reencontrou a garota e eles seapaixonaram.

– E viveram felizes para sempre.– Estou contando com isso, princesa.

Você me fez acreditar que contos defadas podem ser reais.

– Estou disposta a passar o resto davida provando isso a você – sussurrouela ficando na ponta dos pés para beijá-lo.

Uma sensação acalentadora oenvolveu. Ela não precisava provar

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nada. Ele a segurou pela cintura e apuxou para perto. Nell o transformaraem alguém que acreditava. Eleacreditava nela. E o mais importante:ele acreditava neles. E ele se certificoude que seu beijo comunicasse isso – elee Nell, juntos para sempre.

FIM

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MAIS DO QUE UMCASAMENTO DE

FACHADALucy Gordon

Ela queria escapar, se livrar dosbraços dele e correr para um lugar queela conhecesse, no qual ainda tivessealgum comando da sua vida. Mas, aomesmo tempo, ela queria ficar ali parasempre e nunca mais sair.

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O calor dos braços dele era doce ereconfortante. Como podia ter ficadofuriosa com ele?

– Você ainda pode ver Pietro? – Elemurmurou.

Ela conseguiu erguer os olhos.– Sim, ele ainda está lá, nos

assistindo.– Olhe para mim – Damiano

sussurrou.Ela o fez e encontrou os lábios dele

próximo aos seus.– Ele deve se sentir feliz sobre nós –

ele falou suavemente, sua respiraçãosussurrando contra o rosto dela. –Ajude-me, Sally.

Ajude-me a fazê-lo feliz. Diga que

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Ajude-me a fazê-lo feliz. Diga quevocê concorda.

– Mas…– Diga. Para o bem dele.– Está bem. Eu concordo.Lentamente, Damiano inclinou a

cabeça até que seus lábios roçassem osdela. Não era um beijo apaixonado,apenas um gesto para tranquilizar omenino. Ela se manteve estável,esperando para que tudo chegasse aofim, sentindo os tremores invadiremseu corpo, lutando contra cada instintoque surgia para se pressionar contra elee tentá-lo...

Os lábios dele se afastaram, mas elaainda podia sentir o calor de sua

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respiração. Sally se afastou lentamente,erguendo os olhos para Pietro. Ele játinha desaparecido.

Ela tentou forçar sua mente aassumir o controle. O beijo de Damianotinha um poder sobre ela contra o qualprecisava lutar.

Mas sua carne a desafiava, dizendo àsua mente que os pensamentos eramirrelevantes. Só o que importava era adoçura que invadia o seu ser,destruindo o bom senso que sempregovernou sua vida.

– Não – ela murmurou. – Não.– Você concordou – ele a lembrou.– Eu concordei em ajudar a fazer

Pietro feliz, mas não com o casamento.

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Pare de tentar me pressionar contra aparede.

– Diga sim. Diga sim.– Eu já dei a minha resposta.Os olhos dele lhe diziam que

Damiano sentiu o tremor dela em seusbraços e sabia o poder que exercia sobreSally. Agora nada mais seria o mesmo.Ela se abraçou, parte temerosa, partefuriosa, parte desejosa.

– Está bem – ele disse. – Você precisade tempo para pensar, e talvez eutambém.

– O que... o que você disse?– Essa é uma decisão importante e

você não pode tomá-la em ummomento. Você é uma empresária,

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então vai precisar fazer um balanço dosprós e contras. Nós nos falamos maistarde.

O choque por aquela resposta foi tãogrande que ela sentiu a cabeça girar.

– Vamos entrar – ele disse, guiando-a na direção da porta principal da casa.

Ela esperou encontrar Pietro ali,ávido para ver mais. Mas não haviasinal dele.

– Cuidadoso da parte dele – falouDamiano. – Ele nos deixou sozinhospara não nos interromper... seja lá oque for que estivéssemos planejando.

Devo deixar Veneza, Sally pensou.Não poderia suportar machucar Pietro,mas era melhor para que ele não tivesse

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esperanças infundadas. Contudo, outravoz falava em seu interior,convencendo-a a se casar com Damianoe a colocar seu coração e sua almainteiros para ganhar seu amor.

E leia também em Amor na Itália,edição 101 de Harlequin Special,Outra vez o amor, de Lucy Gordon.

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101 – AMOR NA ITÁLIA– LUCY GORDON

Mais do que umcasasamento de fachadaSally Franklin foi para a Itáliadesejando mudar de vida. Mas nãoesperava receber uma proposta tãoirresistível do sensual DamianoFerrone. Ela seria uma noiva deconveniência. Contudo, logo seentregaria de corpo e alma a estecasamento…

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Outra vez amorA jornalista Natasha Bates aceitou otrabalho dos sonhos em Verona.Divulgar as maravilhas de uma cidadetão linda parecia perfeito… atéconhecer seu novo chefe: Mario, ohomem que estilhaçara seu coração!

Últimos lançamentos:

099 – DOCESENCONTROS – CARACOLTER

Verão do amorA última coisa que David Blaze queriaera ter que voltar à sua cidade natal.Mas ao reencontrar Kayla Jaffrey, mais

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linda do que nunca, sabe que precisa deoutra chance para reescrever essahistória de amor.

Coração da almaA jornalista Stacy Walker precisa deuma grande história. E pensa queKiernan McAllister é o personagemperfeito. Porém, ela não sabia que essemilionário sedutor não seria apenas oprotagonista de sua reportagem… mastambém de seu coração.

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Edições mensais com duashistórias da mesma saga.

HERDEIROS EM DISPUTA PELALIDERANÇA DE UM IMPÉRIO SÃO

ARREBATADOS POR PAIXÕESINUSITADAS!

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LEIA O PRÓLOGOGRÁTIS!

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Disponível gratuitamente em formato eBookaté 01/06/2015 no endereço

www.leiaharlequin.com

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DELIVROS, RJ

ZZZZ

D768r

Douglas, MichelleRebeldes domados [recurso eletrônico]

/ Michelle Douglas; tradução Vanessa Gandini,Rafael Bonaldi. - 1. ed. - Rio de Janeiro:Harlequin, 2015.

recurso digital

Tradução de: Her irresistible protector;The rebel and the heiressFormato: ePubRequisitos do sistema: Adobe DigitalEditionsModo de acesso: World Wide Web

ISBN 978-85-398-1040-6 (recurso

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15-21785

ISBN 978-85-398-1040-6 (recursoeletrônico)

1. Romance australiano. 2. Livroseletrônicos. I. Gandini, Vanessa. II.Bonaldi, Rafael. III. Título.

CDD: 828.99343CDU: 821.111(94)-3

PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COMHARLEQUIN BOOKS S.A.

Todos os direitos reservados. Proibidos areprodução, o armazenamento ou atransmissão, no todo ou em parte.

Todos os personagens desta obra são fictícios.Qualquer semelhança com pessoas vivas oumortas é mera coincidência.

Título original: HER IRRESISTIBLE

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Título original: HER IRRESISTIBLEPROTECTORCopyright © 2014 by Michelle DouglasOriginalmente publicado em 2014 por Mills &Boon Romance

Título original: THE REBEL AND THEHEIRESSCopyright © 2014 by Michelle DouglasOriginalmente publicado em 2014 por Mills &Boon Romance

Arte-final de capa:Isabelle Paiva

Produção do arquivo ePub: Ranna Studio

Editora HR Ltda.Rua Argentina, 171, 4º andarSão Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380

Contato:[email protected]

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CapaTexto de capaQuerida leitoraRostoSumário

CULTIVANDO O AMORTeaserCapítulo 1Capítulo 2Capítulo 3Capítulo 4Capítulo 5Capítulo 6Capítulo 7Capítulo 8Capítulo 9

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Capítulo 10

DESPERTANDO A PAIXÃOTeaserCapítulo 1Capítulo 2Capítulo 3Capítulo 4Capítulo 5Capítulo 6Capítulo 7Capítulo 8Capítulo 9Capítulo 10Capítulo 11Capítulo 12Epílogo

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