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UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO HELOÍNE MANGERONA MORENO O RECEPCIONISTA BILÍNGUE E O USO DA TRADUÇÃO EM UM HOTEL DE NEGÓCIOS NA CIDADE DE BAURU BAURU 2010

O RECEPCIONISTA BILÍNGUE E O USO DA TRADUÇÃO EM UM …principalmente no campo comercial. Esta investigação monográfica configura-se como um estudo de caso, o qual explorou o

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UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO

HELOÍNE MANGERONA MORENO

O RECEPCIONISTA BILÍNGUE E O USO DA

TRADUÇÃO EM UM HOTEL DE NEGÓCIOS NA

CIDADE DE BAURU

BAURU 2010

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HELOÍNE MANGERONA MORENO

O RECEPCIONISTA BILÍNGUE E O USO DA

TRADUÇÃO EM UM HOTEL DE NEGÓCIOS NA

CIDADE DE BAURU Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Humanas como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Tradução, sob orientação do Professor Ms. Paulo Renato de Paula Frederico.

BAURU 2010

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HELOÍNE MANGERONA MORENO

O RECEPCIONISTA BILÍNGUE E O USO DA TRADUÇÃO EM UM

HOTEL DE NEGÓCIOS NA CIDADE DE BAURU

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Humanas da Universidade Sagrado Coração como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Tradução sob orientação do Professor Ms. Paulo Renato de Paula Frederico. Banca examinadora:

___________________________________ Ms. Cínthia Maria Ramazzini Remaeh

Universidade Sagrado Coração

____________________________________ Ms. Leila Filipine

Universidade Sagrado Coração

____________________________________ Ms. Paulo Renato de Paula Frederico

Universidade Sagrado Coração

Bauru, 10 de novembro de 2010.

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Dedico meu trabalho à minha mãe Ivone, à Vó Dina e à Tia Valéria.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para lutar durante os quatro

anos de faculdade e especialmente à minha família pelo apoio e paciência comigo.

A todos os professores que me ensinaram durante o curso e ainda aos meus amigos

que também me apoiaram e estiveram presentes durante esse trajeto.

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RESUMO

Em redes hoteleiras, uma necessidade corrente e real é oportunizar comunicação quando hóspedes estrangeiros são envolvidos. Com a abertura comercial e as transações internacionais em maior número, bem como por atrativos turísticos, a presença de um profissional proficiente em uma segunda língua traz um diferencial muito importante e significativo para um hotel, independentemente do seu porte ou da cidade na qual está situado. Nesse contexto, a língua inglesa pode ser considerada uma língua de acesso, dado seu status de língua internacional, principalmente no campo comercial. Esta investigação monográfica configura-se como um estudo de caso, o qual explorou o contexto de uma recepção de hotel de negócios na cidade de Bauru, interior de São Paulo, e teve como objetivo principal investigar a necessidade de incluir profissionais bilíngues dentre seus recepcionistas. Os resultados reforçam a grande necessidade da contratação de tais profissionais que possuam competência linguística, mas que também apresentem competência sociocultural, para que seja possível a comunicação com os hóspedes estrangeiros. Palavras-chave: Comunicação. Recepcionista Bilíngue. Hóspedes estrangeiros.

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ABSTRACT :

In hotels, there is a real and current necessity to provide communication in a context which foreign guests are involved. With the trade opening and the international business expansion, as well as touristic events, the presence of a second language proficient professional brings an important and considerable differential for a hotel, regardless of its size or the city where it is located. In this context, English language may be considered as a bridge language, according to its international status, mainly in the trade field. This monographic investigation constitutes a case study, which has explored the context of a business hotel front desk in the city of Bauru, located in the countryside of the State of São Paulo. This study aims at investigating the need of including bilingual professionals in their front desk. The results reinforce the great need of recruitment of these professionals who are linguistically competent, and who also present sociocultural competence, in order to make possible a communication with foreign guests. Key- words: Communication. Bilingual Receptionists. Foreign guests.

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Lista de Quadros Quadro 1- Resumo dos acontecimentos ocorridos, de janeiro a agosto de 2010, no hotel Howard Johnson Bauru, e ainda como foi solucionado cada caso. .................... 30

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Lista de Figuras Figura 1- Foto do Hotel Howard Johnson Bauru .............................................................. 22

Figura 2- Foto do lounge ...................................................................................................... 22

Figura 3- Foto da entrada do hotel ..................................................................................... 24

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Sumário Lista de Quadros Lista de Figuras 1 Introdução ........................................................................................................................ 10

2 Hospitalidade ................................................................................................................... 12

3 Tradução e Comunicação ............................................................................................. 17

4 Hotel Howard Johnson Bauru ....................................................................................... 21

5 Experiências de um recepcionista bilíngue ................................................................ 25

6 Considerações finais ...................................................................................................... 31

Referências ............................................................................................................................. 32

Apêndice ................................................................................................................................. 33

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1 Introdução Este estudo analisa o cotidiano do recepcionista bilíngue e o uso da tradução

nas situações vividas na recepção de um hotel de negócios chamado Howard

Johnson na cidade de Bauru, interior de São Paulo, durante os meses de janeiro a

agosto do ano de 2010.

Seus objetivos são discutir a importância do trabalho do tradutor no ramo

hoteleiro, buscar e analisar uma possível interface entre tradução e turismo,

discutindo a questão da hospitalidade por meio da tradução. Objetiva-se, também,

estudar especificamente o caso de um hotel da cidade de Bauru e o espaço que se

pode dar ao tradutor neste âmbito. Finalmente, outro objetivo é descrever prováveis

formas de hospitalidade por intermédio da presença do tradutor dentro de um hotel.

Trata-se de uma pesquisa empírica de campo, que por meio de uma

observação assistemática, observará o cotidiano de um recepcionista bilíngue em

um hotel de negócios que recebe hóspedes estrangeiros. Essas observações

almejarão definir o papel do tradutor no âmbito de turismo e suas implicações para o

trabalho desse profissional em redes hoteleiras de modo geral, principalmente

aquelas que estabeleçam amplos contatos internacionais. Esta pesquisa se justifica no âmbito acadêmico, pela escassez de referências

na interface turismo e tradução. Além disso, poderá contribuir como norteador da

terminologia e do processo tradutório. Portanto, cada vez mais são necessárias

novas teorias acerca do tema, pois se trata de uma área em constante

desenvolvimento e de muita importância, não só para o ramo hoteleiro como

também para o público geral.

No âmbito social, por se tratar de um cargo profissional, este trabalho

encontra igual justificativa. Os trabalhos da área de turismo não se destinam apenas

aos profissionais e estudantes de turismo, mas também ao público em geral: turistas,

hóspedes, curiosos, pesquisadores e leitores de todos os tipos, que nem sempre

dominam a língua inglesa. Devido a esse fato, a tradução se faz importante para

aproximar o leitor da informação.

Outro ponto a ressaltar é a possibilidade de aquisição de mais conhecimento

sobre o tema e sobre o processo tradutório, o que poderá auxiliar em futuras

traduções, já que as teorias usadas no projeto oferecem tal oportunidade. Para a

aluna que apresenta este estudo, ele representa um primeiro passo para futuras

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pesquisas e projetos acerca da tradução e hospitalidade. No decorrer do curso, e

ainda mais do projeto, quando pudemos ter mais contato com essa face da tradução,

detectamos que trabalhos desse âmbito são escassos, o que impulsionou uma

pesquisa pessoal sobre tal processo tradutório.

A pesquisa será dividida em um estudo sobre hotelaria, hospitalidade e

tradução. Após o estudo, uma observação do cotidiano de um recepcionista bilíngue

será feita para avaliar a importância de um profissional tradutor dentro da recepção

de um hotel de negócios na cidade de Bauru.

O hotel analisado é o Howard Johnson Bauru e a pesquisa foi realizada

durante os meses de janeiro a agosto de 2010. As situações analisadas foram

observadas pela própria acadêmica, que trabalha como recepcionista bilíngue neste

hotel.

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2 Hospitalidade

Neste capítulo descreveremos o conceito de hospitalidade, que não se limita

apenas a hotéis, mas também a estabelecimentos como restaurantes, lojas e

lugares que atendem o público em geral.

Veremos que o modo como recebemos uma pessoa, seja ela um hóspede ou

até mesmo um amigo, pode influenciar a decisão da pessoa em recorrer novamente

aos serviços prestados. O modo como acolhemos alguém em nosso território,

permite inserir o desconhecido em um espaço que não lhe pertence e até mesmo

deixá-lo à vontade para expressar seus costumes e vontades.

De acordo com Gotman (2001), a heterogeneidade está totalmente ligada à

hospitalidade, pois o ato de acolher e prestar serviços a alguém, que por qualquer

motivo esteja fora de seu local de domicílio, implica o contato com pessoas de

diferentes culturas, raças e também diferentes idiomas. A hospitalidade é uma

relação especializada entre dois protagonistas, aquele que recebe e aquele que é

recebido, mas não é só isso.

De acordo com Lúcio Grinover (2002), no texto “Hospitalidade: Reflexões e

Perspectivas”, a hospitalidade propicia a relação entre um ou mais hóspedes e uma

organização, colocando a questão de recepção nesta organização, inserindo-a no

modo de funcionamento existente.

A noção de hospitalidade também pode ser ampliada, englobando a relação

que se estabelece entre o espaço físico da cidade e seus habitantes, pois não

somente a acomodação é abrangida como também a alimentação, o conforto e o

acolhimento, proporcionando ao visitante a sensação de bem-estar.

Hoje o conceito de hospitalidade estende-se para além dos limites de hotéis, restaurantes, lojas ou estabelecimentos de entretenimento. Isso implica na necessidade de recorrer a análises de caráter histórico, epistemológico e empírico das ações que são empreendidas na área da hospitalidade. Esta, que enriquece com discussões interdisciplinares, é uma atividade, um campo de conhecimento que se vale de certas práticas que vão desde o planejamento, visando soluções de problemas concretos do dia-a-dia de seus produtos e serviços, até recortes específicos, não apenas da antropologia, da sociologia, da história, da geografia, da economia, da política etc, mas também das ciências tecnológicas aplicadas à administração, à educação, à comunicação, à arquitetura, ao urbanismo, ao planejamento ambiental, aos recursos naturais etc. (GRINOVER, 2002, p.27).

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Como podemos ver, de acordo com Grinover (2002), a hospitalidade se

estende e enriquece desde práticas do dia a dia, até mesmo proporcionando a

solução de problemas específicos, que envolvem não apenas aspectos linguísticos

como também assuntos ligados à política, à comunicação, à economia, ou seja,

abrange assuntos gerais.

A acomodação dos hóspedes e o modo como eles são recebidos são fatores

importantes que influenciam a decisão de no futuro hospedaram-se novamente no

mesmo hotel. Aquele que recebe deve estar preparado para enfrentar diversas

situações de diferenças, sejam elas culturais ou apenas idiomáticas.

Baptista (2002) questiona de que forma a hospitalidade pode contribuir para

melhorar a qualidade de vida das pessoas e tornar o mundo um lugar mais humano.

Do ponto de vista ético, esta é uma questão importante, pois a hospitalidade pode

manifestar-se por meio de palavras, gestos, leis e grande pluralidade de formas de

gerir os tempos e espaços. Portanto, essa questão de mudança depende não

apenas de quem acolhe, mas também de quem é acolhido.

Julgamos, por exemplo, que o sentido de humanidade reclamado por um

mundo violento, incerto, desencantado e cético é indissociável de uma ligação

positiva a um lugar, de uma referência afetiva aos espaços onde se dorme, onde se

come, onde se ama, onde se trabalha e onde se partilham alegrias e tristezas.

Constituindo, pois, um modo privilegiado de relação com o outro, condição de urbanidade e de civilidade, as práticas de hospitalidade deverão marcar todas as situações da vida, ou seja, a hospitalidade não deverá ficar circunscrita à disponibilidade para receber o turista, o visitante que chega de fora e está provisoriamente na cidade. Pelas razões de ordem ética enunciadas anteriormente, é necessário alargar a atitude de acolhimento e de cortesia a todo o próximo, seja ele o vizinho, o colega de trabalho ou qualquer outro que no dia-a-dia cruza o nosso caminho (BATISTA, 2002, p.162).

Aceitar receber em nosso território o outro como hóspede significa que

devemos acolhê-lo, colocando à sua disposição o melhor do que somos e

possuímos. Contudo, nossa casa continua sendo a mesma, ou seja, a nossa casa.

Do mesmo modo, o outro mantém a sua liberdade e seu segredo. A hospitalidade

permite vivenciar uma distância e, ao mesmo tempo, uma proximidade, experiência

simplesmente imprescindível no processo de aprendizagem humana. Desse modo,

devemos transformar os espaços urbanos em lugares de hospitalidade, não como

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algo convencional ou artificial, reduzida a um ritual de comércio e falsa cortesia, mas

algo ligado ao carinho e à sensibilidade, os quais só podem ser dados por outra

pessoa.

A inserção de uma pessoa em um espaço que não lhe pertence necessita do

auxílio daquele que trabalha e ajuda o hóspede a lidar com diversas situações. Isso

ocorre devido às pessoas serem diferentes tanto na cultura como no idioma e faz

com que pequenas diferenças se transformem em grandes problemas.

John Walker (2002) ressalta que a cultura é um comportamento adquirido e as

pessoas de diferentes países possuem crenças, valores, atitudes, hábitos,

costumes, tradições e até mesmo outras formas de comportamento que são únicos e

diferem dos outros. Além disso, a melhor maneira de harmonizar-se com a cultura

alheia é conhecendo e respeitando as diferenças. Outros fatores a serem levados

em consideração são as diferenças entre os sexos nas culturas e a maneira pela

qual as pessoas se comportam. O autor ainda afirma que é de extrema importância

que todos os funcionários, principalmente os que possuem contato direto com os

hóspedes, como os recepcionistas, adquiram um conhecimento intercultural e um

entendimento de identidade étnica. Walker (2002) ainda coloca que a língua pode

representar outra barreira à compreensão cultural devido aos mal-entendidos e aos

erros de interpretação, mesmo entre os falantes da mesma língua, pois as palavras

e símbolos possuem significados diferentes para pessoas de formação cultural

diferente.

Uma pessoa pode manifestar a sua formação e origem cultural de diversas maneiras, como no jeito de vestir, na linguagem, comida, gestos, maneiras etc. A dificuldade que muitas pessoas apresentam em lidar com costumes e línguas estrangeiras é de fácil resolução, porquanto se tratam de aspectos visíveis e compreensíveis. É muito mais difícil lidar com valores, crenças e opiniões diferentes dos nossos. A tentativa de ajustar-se a uma cultura diferente pode ser particularmente frustrante se o indivíduo de uma cultura de baixo contexto tem de conviver numa cultura de alto contexto. Uma cultura de baixo contexto é aquela na qual o volume de informações, intenções e significados é expresso por meio da simples articulação de palavras e frases. O contexto, neste caso, desempenha um papel de menor importância. As culturas de alto contexto são aquelas em que o contexto é de fundamental importância, nas quais o que está “por trás” das palavras é tão importante quanto as próprias palavras” (WALKER, 2002, p.438).

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De acordo com Medeiros (1999), os profissionais que lidam com pessoas

devem estar sempre atentos quando se comunicam com clientes e colegas de

trabalho. Falhas de comunicação podem provocar desde mal-entendidos até brigas

sérias e prejuízo. O autor argumenta que a comunicação é um processo

relativamente complexo, no qual estão envolvidos muitos fatores. O autor simplifica

esse processo apresentando cinco elementos básicos da comunicação, destacando-

se 1) emissor como quem fala, escreve e sinaliza; 2) o receptor como aquele que

escuta, lê e vê; 3) a mensagem, o que está sendo dito, escrito e sinalizado; 4) o

código, que seria representado pelo idioma, linguagem, alfabeto, símbolos, etc; 5) o

meio, que destaca a fala, a escrita, os gestos, as expressões faciais, o telefone, a

televisão, o rádio etc.

Medeiros (1999) coloca que quando há interação entre duas pessoas na

comunicação pessoal, os papéis de emissor e receptor são alternados, pois os

indivíduos tanto falam quanto escutam. Muitos códigos são utilizados para a

transmissão da mensagem. Já na comunicação verbal, que é a forma de

comunicação mais percebida pelas pessoas, o código é representado pelas

palavras, sejam elas faladas ou escritas. Por último, ainda temos a comunicação não

verbal, que seria representada pelos gestos, expressões faciais, tom de voz, postura

e até mesmo o modo de vestir, que muitas vezes revelam para outras pessoas os

nossos sentimentos e emoções.

Muitas vezes, podem ocorrer falhas no processo de comunicação, o que pode

gerar problemas. Algumas falhas são bastante comuns, por exemplo, quando

simplesmente não mandamos a mensagem que deveríamos mandar. Esse problema

pode ocorrer por diferentes motivos, tal como o uso incorreto de gírias, expressões

locais ou o uso da língua portuguesa com pessoas estrangeiras, que por

incompetência linguística podem não compreender o que queremos dizer.

A falta de informação como, por exemplo, por pressa, preguiça ou outro

motivo, faz com que toda informação necessária não seja transmitida e isso pode

levar o receptor a completar a mensagem por conta própria e de forma equivocada.

O excesso de informação, como o fornecimento de muitos detalhes sem importância,

pode desviar a atenção do receptor do assunto central da conversa e fazer com que

o mesmo não compreenda o que foi transmitido.

Outra situação de conflito ocorre quando a outra pessoa não recebe a

mensagem do jeito que pensamos que estamos enviando. Do momento em que

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mandamos a mensagem até o momento em que o outro recebe a mensagem, uma

série de interferências pode ocorrer. Pequenos detalhes, como ruídos externos e

internos, ou até mesmo barulhos que ocorram no ambiente, podem prejudicar o

entendimento da mensagem enviada.

Até mesmo conversas paralelas acabam por desviar a atenção do receptor

que tenta acompanhar as duas conversas. A diferença de referencial também pode

ser outro fator que atrapalha a compreensão, pois o receptor entende a mensagem

de acordo com o seu contexto, que pode ser diferente daquele em que a mensagem

foi enviada. E por último destacamos os preconceitos, simpatias e antipatias. Esses

são sentimentos do receptor que podem influenciar a forma como ele entende a

mensagem enviada.

Como vimos, a hospitalidade é um conceito importante, principalmente dentro

da recepção de um hotel, pois é o local onde os hóspedes terão o primeiro contato

com o estabelecimento. Este local causará a primeira impressão nesse hóspede, a

qual pode ser positiva ou negativa. Isso depende de como esse hóspede é acolhido,

ou seja, a recepção deve ser feita cuidadosamente e sempre, de um modo que faça

com que o hóspede se sinta inserido em um espaço significativo.

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3 Tradução e Comunicação

Como relatado no capítulo anterior, a comunicação e a informação são fatores

importantes para fazer com que um hóspede compreenda bem o que está sendo

passado pelo recepcionista. Pelo fato desses fatores já poderem provocar mal-

entendidos, até mesmo entre falantes da mesma língua, acolher hóspedes

estrangeiros se torna uma tarefa mais difícil ainda, pois há momentos nos quais a

cultura e as expressões locais de determinados lugares são diferentes e podem

gerar problemas na compreensão.

Neste capítulo, abordaremos a importância do recepcionista possuir o

conhecimento de um segundo idioma e demonstraremos o valor que a tradução

possui quando necessitamos criar uma identidade cultural e ao mesmo tempo

manter a coerência e homogeneidade. Além disso, será apresentado um breve

resumo da história da tradução, a fim de comprovar o grande caminho que ela

percorreu até chegar aos dias de hoje.

Lawrence Venuti (2002), em seu texto “Escândalos da Tradução”, leva em

consideração como a tradução forma identidades culturais específicas e as mantém

com um relativo grau de coerência e homogeneidade. Além disso, revela como a

tradução cria possibilidades para a resistência cultural, a inovação e a mudança em

qualquer que seja o momento histórico. O fato de a tradução ser obrigada a voltar-se

para as diferenças culturais e linguísticas de um texto estrangeiro, pode promover ou

reprimir com a mesma eficácia a heterogeneidade na cultura doméstica.

Sendo assim, se o recepcionista bilíngue se expressar de maneira incorreta

pode correr o risco de até mesmo afetar a identidade e a cultura do outro. Desse

modo, ele deve estar atento para passar a mensagem de uma forma que seja

compreensiva e só alguém com estudo e conhecimento suficiente da cultura do

outro pode ser capaz de solucionar os problemas linguísticos e até mesmo as

diferenças culturais.

Na construção de representações de culturas estrangeiras, a tradução é que

exerce um enorme poder. Cânones peculiarmente domésticos para literaturas

estrangeiras podem ser estabelecidos com a escolha de textos estrangeiros e o

desenvolvimento de estratégias. Estes se amoldam a valores estéticos domésticos e

revelam exclusões e admissões, centros e periferias, os quais são distanciados dos

que existem na língua estrangeira.

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Contudo, uma vez que as traduções são geralmente destinadas a comunidades culturais específicas, elas iniciam um processo ambíguo de formação de identidade. Ao mesmo tempo em que a tradução constrói uma representação doméstica para um texto ou cultura estrangeiros, ela também constrói um sujeito doméstico, uma posição de inteligibilidade que também é uma posição ideológica, informada pelos códigos e cânones, interesses e agendas de certos grupos sociais domésticos. A escolha calculada de um texto estrangeiro e da estratégia tradutória pode mudar ou consolidar cânones literários, paradigmas conceituais, metodologias de pesquisa, técnicas clínicas e práticas comerciais na cultura doméstica (VENUTI, 2002, p.131).

Magalhães (2007) afirma que a tradução simultânea é como uma atividade

mágica, porém com um desafio muito maior. O erro na versão instantânea pode, por

exemplo, transformar aplauso em vaia, certeza em incerteza, paz em guerra, para os

que falam e seus povos.

Sendo assim, o intérprete tem que ouvir e falar ao mesmo tempo, repetindo

em outras palavras ideias que não são suas, sem perder de vista o conteúdo, a

intenção, o sentido, o ritmo e o tom da mensagem transmitida por seu intermédio.

Magalhães (2007) afirma que o objetivo final da interpretação é comunicar e este é

um processo imperfeito, porém o que realmente importa é que todos consigam se

entender.

O mesmo ocorre com o recepcionista bilíngue que também exerce a atividade

de traduzir e verter o que está sendo dito para o hóspede estrangeiro. Essa atividade

deve ser executada de maneira cautelosa e com muita atenção, pois até mesmo

uma expressão local, usada em um momento errado, pode provocar

desentendimentos ou ainda a não solução de possíveis problemas.

A figura do intérprete remonta aos tempos imemoriais e continuará por muitos séculos mais, até o dia em que a humanidade fale uma única língua, o que certamente ainda vai demorar. Até lá, é preciso que desempenhemos nossas funções profissionais, nosso ofício, com o máximo de segurança. (MAGALHÃES, 2007, p74)

Para mostrar que a tradução já percorreu um grande caminho e passou por

muitos estágios até chegar aos dias de hoje, citaremos uma autora que em seu texto

resume bem todo o trajeto do tradutor desde o período de descobrimento do Brasil

até ser estabelecida a nomeação dos intérpretes e o acesso das mulheres a

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profissões que antes eram proibidas. A autora Lia Wyler (2003), em seu texto, afirma

que desde o descobrimento do Brasil houve um extraordinário número de línguas

em confronto, o que exigiu a presença de mediadores, ou seja, os intérpretes que na

época eram chamados de línguas para que efetivamente pudesse ocorrer a

comunicação.

Wyler (2003) revela que em carta datada de 1o de maio de 1500, Pero Vaz de

Caminha, escrivão da frota portuguesa, relatou o primeiro ato de tradução realizado

entre portugueses e índios, ao informar que precisaram recorrer à mímica para se

entenderem. Ainda é destacado pela autora que os portugueses não quiseram

sequestrar os habitantes da terra achada para aprenderem a se comunicar com eles.

Para os portugueses, os intérpretes talvez não fossem os senhores da fala, mas eram sempre referidos como “grandes línguas”, qualidade que lhes podia garantir o sustento e mesmo a vida. Em carta a El-rei datada de 1551, o governador Tomé de Souza relata que, tendo ido correr à costa, aprisionara no Rio de Janeiro dois franceses e que “não os mandara enforcar por ser um deles grande língua e o outro ferreiro, ambos trabalhadores de grande valia e, no caso, de graça. (WYLER, 2003, p.37)

A institucionalização do intérprete brasileiro foi processada dentro de padrões

clássicos. Conforme a estrutura colonial se ampliava e se tornava mais complexa, o

ofício do intérprete se adequou às novas atribuições, ao mesmo tempo em que

transformava ou perdia outras. Cada vez que o intérprete se enquadrava no sistema,

havia um novo meio de seu ofício ser exercido, com a exigência de novos requisitos

que nem todos poderiam realizar.

Após a segunda metade do século XVI, os intérpretes participantes de

entradas oficiais passaram a receber a patente de “cabos” e “cabos de entrada”,

além de serem nomeados pela mais alta autoridade local. Em 1549, com a chegada

dos jesuítas, houve uma nova alteração na profissão do intérprete, pois os padres

identificaram que a escolha de língua de doutrinação e a legitimidade teológica eram

questões muito importantes.

A autora ressalta que os jesuítas aprenderam a língua franca usada pelas

tribos da costa brasileira, atentos à vantagem de utilizá-la como instrumento de

poder terreno e espiritual. Sendo assim, puderam dispensar os intérpretes e

estabeleceram as bases de uma educação plurilíngüe, na qual os missionários e

alunos se transformaram em intérpretes de línguas nativas e da política jesuíta. Os

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mamelucos ainda se transformaram nos intérpretes da sociedade colonial,

substituindo gradualmente os degredados e náufragos dos primeiros tempos.

A abertura dos portos ao comércio exterior provocou uma nova transformação na vida do intérprete. Data de 10 de novembro de 1808 o decreto histórico do Príncipe Regente Nosso Senhor d. João, que “cria um Intérprete para as visitas dos navios estrangeiros que entram no Porto do Rio de Janeiro”. De 1808 em diante, seguem-se espaçadamente novos decretos reais nomeando intérpretes para a Secretaria de Governo da Bahia, para o porto da ilha de Santa Catarina, a fortaleza de Santa Cruz, a Intendência Geral da polícia, para as alfândegas do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. (WYLER, 2003, p.43)

Wyler argumenta que em 21 de outubro de 1943, foi estabelecido que a

nomeação de intérpretes seria feita mediante concurso público classificatório e

universal, promovido pelas Juntas Comerciais, e ainda assegurou às mulheres o

acesso à profissão, que antes era expressamente proibido a elas, as quais hoje são

a maioria.

Esse capítulo teve como objetivo comprovar a ligação que ocorre entre a

tradução e a cultura, e ainda demonstrar as possibilidades que a tradução cria

independentemente da inovação ou mudança em qualquer que seja o momento

histórico. Também foi apresentado um breve resumo da trajetória do tradutor de

acordo com a autora Lia Wyler.

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4 Hotel Howard Johnson Bauru

Neste capítulo descreveremos como foi criada a rede Howard Johnson de

hotéis. Também apresentaremos uma descrição de como é o hotel na cidade de

Bauru, o número de apartamentos ali existentes e a localização deste

estabelecimento.

Walker (2001) menciona que a marca Howard Johnson é norte-americana e

foi criada em 1925. Tudo começou na cidade de Wollaston, estado de

Massachusetts, quando Howard Dearing Johnson comprou uma pequena farmácia,

que vendia doces, jornais e remédios. É destacado também que Howard Johnson

entrou no ramo de restaurantes e ficou famoso devido a seus sorvetes, que levavam

o seu nome.

No ano de 1939, havia 107 restaurantes da rede Howard Johnson e apenas

em 1954 surgiu o primeiro hotel, no estilo motel americano, na cidade de Savannah,

estado da Geórgia, com o nome Howard Johnson Motor Lodges. A marca Howard

Johnson tornou-se um ícone da cultura popular americana, devido ao telhado laranja

de seus estabelecimentos, um símbolo de identificação durante 1940 e 1950.

Em 1961, houve um acréscimo considerável de hotéis, os quais totalizavam

88 em 33 estados americanos e nas Bahamas. A rede continuou expandindo-se, e

em 1975, havia mais de 1000 restaurantes e 500 hotéis nos Estados Unidos e

Canadá. A década de 1970 marcou o fim do design original de seus hotéis e iniciou-

se uma reformulação estrutural e visual, como por exemplo, a cor do telhado.

A localização de Bauru é privilegiada, em virtude de se encontrar no centro do

Estado de São Paulo, beneficiando toda logística, principalmente de transporte

rodoviário e aéreo. O hotel Howard Johnson Bauru está localizado na Rua Luso

Brasileiro, na parte alta da cidade, zona sul. Na Avenida Getúlio Vargas, a 50 m do

hotel, encontram-se lojas, restaurantes, bares, chopperias e bancos.

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Figura 1- Foto do Hotel Howard Johnson Bauru Fonte: acervo do Hotel

O hotel possui 165 modernos apartamentos, oferece dois tipos de categoria,

standard e premium, sendo que os quartos contêm ar condicionado com controle

remoto, cofre eletrônico que comporta um laptop, frigobar, telefone com sistema de

recados, TV a cabo, rádio-relógio, internet banda larga, sensor de fumaça e

sprinkler. As acomodações do andar premium contam ainda com um lounge no

décimo-primeiro andar, com bar, TV de plasma de 42 polegadas e business center.

Figura 2- Foto do lounge

Fonte: acervo do hotel

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Ainda em relação à infra-estrutura o hotel oferece facilidades e área de lazer

como sala de ginástica, bar/restaurante, serviço de quarto 24 horas, business center,

garagem com manobrista, piscina com raia para natação (25 m), pista de cooper,

hidromassagem, sauna, internet WiFi no lobby e restaurante e ainda uma lavandeira

para atender a emergências de hóspedes.

Além disso, o hotel oferece três salas de eventos com capacidade para até 54

pessoas em auditório, 28 pessoas em formato “U” ou ainda 36 pessoas em formato

escolar. As salas contam com equipamentos e internet banda larga e os nomes

destas foram designadas em homenagem às nossas ferrovias (Sorocabana, Paulista

e Noroeste).

A Ábaco Hotelaria S.A., razão social da rede Howard Johnson, é definida

como jovem e dinâmica. Sua estratégia está focada no mercado consumidor e os

sólidos valores de gestão garantem à empresa taxas de crescimento expressivas e

retorno satisfatório aos investidores. Com uma estrutura completa para consultoria e

gestão hoteleira, a Ábaco Hotelaria S.A. tem no seu quadro diretor a experiência

necessária para o gerenciamento de seus clientes, fornecedores e investidores de

forma clara e precisa.

A área de vendas e central de reservas trabalha constantemente para

aumentar os resultados dos empreendimentos, focando seus trabalhos em vendas

de hospedagem de turismo de negócios, sem abrir mão do turismo de lazer e

familiar. As parcerias estratégicas compreendem desde a ampliação de

fornecedores e parceiros, até a criação de valor conjunto aos clientes corporativos.

Consequentemente, a taxa de fidelização de clientes é das mais altas do mercado,

criando parcerias benéficas e duradouras. A Ábaco Hotelaria S.A. está localizada na

Avenida Brigadeiro Faria Lima 1478 – conjunto 304-305, Jardim Paulistano – São

Paulo – SP.

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Figura 3- Foto da entrada do hotel Fonte: acervo do hotel

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5 Experiências de um recepcionista bilíngue

Neste capítulo, descreveremos nossas experiências vividas como

recepcionista bilíngue no Hotel Howard Johnson na cidade de Bauru-SP desde o

mês de janeiro de 2010 até o mês de agosto do mesmo ano.

Semanalmente muitos estrangeiros, por motivos de trabalho e negócios,

hospedam-se e chegam a ficar durante toda a semana, deixando o hotel nos finais

de semana. A seguir, mencionaremos mês a mês (de janeiro a agosto de 2010)

situações em que houve a necessidade do uso da língua para a solução de

problemas apresentados pelos hóspedes.

Janeiro:

Uma hóspede norte-americana chegou ao hotel, dirigiu-se à recepção muito

alterada, pois sua bagagem havia sido extraviada no aeroporto em São Paulo. Para

ajudá-la, entramos em contato com a companhia aérea e explicamos o fato ocorrido,

passando os dados e endereço do hotel para que no outro dia sua bagagem fosse

enviada.

Em uma situação assim, se o recepcionista não dominar o idioma inglês ou

ainda acabar se desesperando por ver a situação da hóspede, não conseguirá

resolver a situação e nem se comunicará.

Como já vimos anteriormente no capítulo I, receber e aceitar o hóspede em

nosso território significa que devemos acolhê-lo e colocar à sua disposição o melhor

do que somos e possuímos. É por meio da hospitalidade que criamos algo ligado ao

carinho e à sensibilidade.

Fevereiro:

Um hóspede alemão que já estava hospedado no hotel há alguns dias fez o

seu check out pela manhã e logo perguntou sobre o táxi que a empresa em que ele

trabalhava ficou de mandar para buscá-lo e levá-lo ao aeroporto.

Visto que o táxi não havia chegado e o hóspede já estava atrasado para sua

viagem, este se irritou e começou a falar em alemão. Como não havia ninguém que

soubesse esta língua, pedimos para que ele falasse com a recepção em inglês para

que todos pudessem compreendê-lo. Após começar a falar em inglês e esclarecer o

fato, a própria recepção solicitou outro táxi e explicou a situação para o taxista, pois

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o motorista não podia cobrar nada do hóspede, mas teria que passar na empresa,

que cometeu o erro, para poder receber o valor da corrida. Mesmo com a situação

em processo de resolução, o hóspede só conseguiu se acalmar quando o táxi

chegou.

Esta situação mostra que se não houver alguém que possa compreender o

idioma e resolver o problema do hóspede com agilidade, mesmo não sendo culpa do

hotel, o problema pode se agravar e se tornar uma situação difícil de ser

solucionada. Medeiros (1999) afirma que podem ocorrer falhas no processo de

comunicação e essas podem gerar problemas por diferentes motivos o uso incorreto

do idioma pode fazer com que o outro não compreenda o que queremos dizer.

Março:

Um grupo de missionários vindo da Califórnia veio pesquisar tarifas e

condições de hospedagem. Sendo assim, o grupo necessitava de todas as

informações desde as acomodações, higiene, alimentação, estrutura e preços

especiais para o grupo, já que havia 20 estrangeiros.

Como todas as informações foram passadas com precisão e todas as dúvidas

foram esclarecidas, o grupo se hospedou no hotel durante um período de 15 dias e

diariamente tivemos contato com o idioma inglês, pois desde pequenas dúvidas até

grandes problemas foram resolvidos para ajudar o grupo. Este exemplo ratifica que

somente se consegue lidar com hóspedes estrangeiros se existir uma equipe hábil e

com recepcionistas bilíngues capazes de resolver os conflitos e desafios de outro

idioma.

Como visto anteriormente, Magalhães (2007) afirma que a tradução

simultânea é como uma atividade mágica e um erro na versão pode, por exemplo,

transformar aplauso em vaia, ou seja, o recepcionista bilíngue que faz esse papel de

intérprete deve transmitir sua mensagem sempre atento para que todos consigam

compreendê-lo.

Abril:

Uma senhora norte-americana hospedou-se por intermédio de uma escola de

idiomas onde a mesma faria uma entrevista para ser coordenadora de um curso. Ao

chegar à cidade, ela não possuía reservas no hotel, então na primeira noite deixou

suas bagagens na casa de uma das professoras da escola.

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Quando veio ao hotel, pediu ajuda para recepção e queria alguém que a

acompanhasse de táxi até a casa da professora para retirar suas bagagens. Como o

motorista do táxi não compreendia o idioma, em nosso horário de almoço

acompanhamos a hóspede juntamente com o taxista. Esse fato mostra que o

profissional deve ter bom senso e ajudar dentro de suas possibilidades o hóspede a

solucionar problemas, em função da sua falta de conhecimento do idioma português.

Walker (2002) afirma que é muito importante que todos os funcionários,

principalmente os que possuem contato direto com os hóspedes, como os

recepcionistas, adquiram um conhecimento intercultural e um entendimento de

identidade étnica.

Maio:

Um indiano, logo pela manhã, dirigiu-se ao restaurante para tomar café da

manhã e perguntou ao garçom os sabores dos sucos que havia disponíveis. Como o

garçom não compreendia inglês, pediu para a recepção traduzir o que o hóspede

solicitou e explicar para ele a disponibilidade dos itens.

Dessa forma, o hóspede pôde escolher seu sabor preferido e pudemos

constatar que em uma situação como essa, se não houver um profissional bilíngue

para ajudar o hóspede, ele poderá ficar insatisfeito com o estabelecimento e ainda

pode deixar de beber ou comer alguma coisa pelo simples fato de não saber o que é

ou como pedir em português.

Walker (2002) afirma que uma pessoa pode manifestar a sua formação e

origem cultural de diversas maneiras, como no jeito de vestir, na linguagem, comida,

gestos, maneiras etc. A dificuldade que muitas pessoas apresentam em lidar com

costumes e línguas estrangeiras é de fácil resolução, porquanto se tratam de

aspectos visíveis e compreensíveis. Sendo assim, o funcionário deverá estar atento

para poder atender as necessidades do hóspede de maneira com que ele sinta que

sua origem e cultura estão sendo prevalecidas.

Junho:

Uma senhora que veio junto com um grupo de norte-americanos ficou durante

vários dias no hotel e ao realizar uma ligação para o e exterior cometeu um equívoco

e fez uma chamada normal sem ser a cobrar. Ela não se atentou a isso e falou por

mais de uma hora. Como o custo da ligação no hotel é maior do que uma ligação em

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casa, a conta da hóspede ficou bem alta. Ao verificarmos o valor alto da ligação, a

recepção alertou-a para que ela tomasse consciência do valor que estava sendo

cobrado. Ao verificar a conta, ela se desesperou porque viu que havia se esquecido

de ligar a cobrar e agradeceu à recepção por tê-la avisado. Assim, vemos que o

profissional bilíngue foi de grande importância para hóspede, pois evitou problemas

futuros e ainda fez com que ela tivesse mais confiança no hotel.

Anteriormente foi afirmado por Medeiros (1999) que a falta de informação

como, por exemplo, por pressa, preguiça ou outro motivo, faz com que toda

informação necessária não seja transmitida e isso pode levar o receptor a completar

a mensagem por conta própria e de forma equivocada, ou seja, passar a informação

é dever do recepcionista, principalmente para evitar possíveis problemas.

Julho:

Dois australianos, com o propósito de conhecer a cidade de Bauru,

solicitaram à recepção um carro de aluguel, executivo luxo, quatro portas, com ar

condicionado, direção hidráulica, vidro elétrico, trava elétrica e air bag durante dois

dias. Além disso, os hóspedes gostariam de saber se a empresa de aluguel de

carros traria o automóvel e buscaria no próprio hotel. A recepção entrou em contato

com a empresa, passou o pedido dos hóspedes e esclareceu todas as dúvidas.

Muitas vezes, podem ocorrem falhas no processo de comunicação, o que

pode gerar problemas. Algumas falhas são bastante comuns. Simplesmente não

mandamos a mensagem que deveríamos mandar. Esse problema pode ocorrer por

diferentes motivos, tal como o uso incorreto de gírias, expressões locais ou o uso da

língua portuguesa com estrangeiros, o que pode fazer com que a outra pessoa não

compreenda o que queremos dizer.

Nessa ocasião, o recepcionista precisa estar preparado para atender às

necessidades do hóspede e ainda possuir um bom nível de inglês para que nada

seja deturpado ou omitido.

Agosto:

Um hóspede norte-americano, que se hospeda mensalmente no hotel, avisou

à recepção que sua esposa chegaria no dia seguinte, logo pela manhã, e que ele

não estaria no hotel, pois já teria saído para trabalhar. Sendo assim, a recepção

ficou responsável por atender todas as solicitações da esposa do hóspede,

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esclarecer eventuais dúvidas e resolver qualquer problema que pudesse surgir.

Quando a hóspede chegou à recepção, explicamos tudo para a ela e deixamos claro

que estávamos ali para servi-la em tudo que fosse preciso.

Nesse acontecimento, a recepção precisou se mostrar eficiente para poder

tranquilizá-la e deixá-la à vontade, mesmo não estando em seu país de origem. Isso

só é possível ser feito por profissionais habilitados e responsáveis que

compreendam o idioma inglês.

Magalhães (2007) afirma que a figura do intérprete remonta aos tempos

imemoriais e continuará por muitos séculos mais, até o dia em que a humanidade

fale uma única língua, o que certamente ainda vai demorar. Até lá, é preciso que

desempenhemos nossas funções profissionais, nosso ofício, com o máximo de

segurança. É exatamente isso o que ocorre com o profissional recepcionista

bilíngue, que deve desempenhar sua função e passar as informações com muita

segurança, principalmente para os hóspedes estrangeiros.

Este capítulo abordou situações que foram presenciadas dentro da recepção

de um hotel por um recepcionista bilíngue. Esses dados comprovam que sem o

conhecimento da língua inglesa, os problemas que foram descritos seriam

praticamente impossíveis de serem solucionados. Além do conhecimento linguístico,

o funcionário deve possuir um conhecimento intercultural para receber bem o

hóspede e ainda demonstrar-se seguro, independentemente da situação.

A seguir, apresentaremos um quadro com um resumo dos acontecimentos

ocorridos, desde janeiro a agosto de 2010, na recepção do hotel Howard Johnson

Bauru, e ainda como foi solucionado cada caso.

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MÊS PROBLEMA SOLUÇÃO

JANEIRO Extravio de

bagagem

Contato com a

companhia aérea

FEVEREIRO Atraso de táxi Solicitação de um

novo táxi

MARÇO Informações sobre

hospedagem

Informação e

esclarecimento de

dúvidas

ABRIL Compreensão do

idioma

Informação ao

taxista

MAIO Compreensão do

idioma durante o

café da manhã

Informação ao

hóspede sobre o

que havia disponível

JUNHO Ligação para o

exterior

Informação do valor

das tarifas

JULHO Carro de aluguel Solicitação do carro

de aluguel

AGOSTO Chegada de

hóspede estrangeira

Recepção e esclarecimento de dúvidas

Quadro 1- Resumo dos acontecimentos ocorridos, de janeiro a agosto de 2010, no

hotel Howard Johnson Bauru, e ainda como foi solucionado cada caso.

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6 Considerações finais

O recepcionista bilíngue formado no curso de tradução transforma um não-

lugar em um lugar antropológico, ou seja, um lugar de significados. Não basta o

profissional conhecer a estrutura da língua, pois ele necessita ser capaz de se

expressar de acordo com o contexto social que está inserido. A competência

comunicativa dos funcionários de um hotel é um fator fundamental para o turista

decidir em que lugar se hospedará.

Os resultados do presente estudo refletem a necessidade de aprimoramento

da competência comunicativa nas interações dos recepcionistas com os hóspedes

estrangeiros, pois mesmo considerando-se e respeitando-se as variedades

linguísticas da língua inglesa, observou-se que no ramo hoteleiro a hospitalidade e o

modo como recebemos os hóspedes são fatores de grande importância.

Sabe-se que a profissão de recepcionista no ramo hoteleiro, é altamente

competitiva, e a competência comunicativa linguística dos funcionários da recepção

de um hotel pode ser um fator decisivo para que o hóspede retorne ao hotel ou

escolha outro local para que possa realizar sua viagem de negócios ou até mesmo

lazer.

Deste modo, o recepcionista de hotel com formação em tradução atende

diretamente às necessidades de desenvolvimento comunicativo em idiomas dos

hóspedes, sejam eles médicos, empresários, advogados ou alguém que esteja se

hospedando por questões de lazer.

Almeja-se que o presente estudo proporcione aos pesquisadores, professores

e público geral uma reflexão sobre a importância da presença de um recepcionista

com formação em tradução em situações vividas na recepção de um hotel. Ressalta-

se que a competência desse profissional deve ser suficiente para garantir a solução

de problemas, desde os pequenos até os grandes desafios, os quais muitas vezes

têm solução aparentemente impossível.

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Referências

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GOTMAN, Anne (dir.) L’hospitalité , Paris, Éditions du Seuil, 2001 (Coleção Communications no. 65, da École dês Hautes Études en Sciences Sociales – Centre d’Études Transdisciplinaires).

GRINOVER, Lucio. Hospitalidade: Um tema a ser reestudado e pesquisado. IN: DIAS, Célia Maria de Moraes, Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Barueri: Editora Manole Ltda, 2002.

MAGALHÃES Evandro Jr. Sua majestade o intérprete. O fascinante mundo da tradução simultânea. São Paulo- SP: Parábola Editorial. 2007

MEDEIROS, Renato Gonzalez de. Recepcionista de hotel. Rio de Janeiro-RJ: SEBRAE.1999.

VENUTI Lawrence. Escândalos da Tradução. Bauru- SP: EDUSC.2002

WALKER, R. John. Introdução à Hospitalidade. Barueri-SP: Editora Manole Ltda, 2002.

WOJSLAW, Eliane Bianchi, BORSTEL, Clarice Nadir Von. A competência comunicativa da lingual inglesa no cenário hoteleir o. ISSN:1517-7238, vol.10, nº 19, 2º semestre. 2009, p.283-298

WYLER Lia. Línguas poetas e bacharéis. Uma crônica da tradução no Brasil. Rio de Janeiro -RJ: Rocco. 2003.

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Apêndice