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O recomeço - Editora Viseu · espadas, separando de dez em dez todas as cem, elas enroladas em seus panos para serem levadas para seus respectivos donos. Guardou todos os itens na

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Alvarenga, Juan A essência de um herói: A origem / Juan Alvarenga – 1ª ed. – Maringá: Viseu, 2018.

ISBN 978-85-5454-856-8

1. Ficção 2. AventuraI. Alvarenga, Juan II. Título.

82-3 CDD-B869.93

Índice para catálogos sistemáticos:

1. Ficção: Literatura brasileira B869

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de pro-cessos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem a permis-são expressa da Editora Viseu, na pessoa de seu editor (Lei nº 9.610, de 19.2.98).

Editor

Thiago Domingues

Projeto Gráfico e Editorial

Rodrigo Rodrigues

Revisão

Graziela Rustiguella Franzoni

Copidesque

Jade Coelho

Capa

Tiago Shima

Ilustrações

João Eduardo

Copyright © Viseu

Copyright © Juan Alvarenga

Todos os direitos desta edição são

reservados à Editora Viseu

Avenida Duque de Caxias, 882

Telefone: 44 - 3305-9010

e-mail: [email protected]

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I

O recomeço

Tudo se inicia em uma Era de Recomeço, partindo de um fim turbulento, período intenso de guerras. O cenário do

conflito não durou muito. Porém, se durasse mais alguns dias, todas as raças seriam dizimadas.

Era Medieval. Guerreiros com suas armaduras pesadas, es-padas e escudos, e alguns magos que preferiam se encapuzar para manter sua identidade resguardada. A sociedade também se compunha por ladinos, que eram mestres em se esgueirar pe-las sombras. Ladino era o nome dado para os guerreiros silen-ciosos, eles usavam pouca proteção, mas eram mais letais. Em sua maioria, formava-se de assassinos silenciosos.

Até então, muitas pessoas não sabem o motivo de tanta destruição ter começado, mas, certo dia, criaturas surgiram e começaram a atacar as pessoas. Criaturas de todos os tipos: algumas eram apenas animais possuídos por algum espírito ma-ligno, outras eram criaturas mitológicas de diversas culturas. A origem é um mistério, mas a destruição que tais seres causaram em apenas cinco anos foi preocupante.

Anões, Humanos e as três raças de Elfos. Não havia muita solidariedade entre elas. Talvez isso tenha sido o motivo precur-sor de tantas mortes. Todas essas raças vivem separadas em suas cidades, sobrevivendo com a falsa ilusão de que conseguiriam combater a ameaça sem ajuda. Após dois anos de perdas, todos decidiram que uma aliança devia ser formada para amenizar o cenário devastador que estava sendo instaurado.

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Após cinco anos de batalhas pela sobrevivência, a esperança já havia se esvaído, restando apenas o desespero. Os quatro deu-ses Flora (deusa dos Elfos Puros), Sharkan (deus dos Anões), Karash (deusa dos Elfos da Floresta) e She’ker (deus dos Elfos Negros) também se uniram e resolveram dar uma chance para seus filhos sobreviverem, eles decidiram interferir no livre arbí-trio das raças, mesmo sabendo que o tal ato estava listado nas proibições. No meio da cidade de Horizion, eles ergueram uma enorme torre usando de suas magias e, em seguida, consegui-ram aferrolhar as criaturas por tempo indeterminado. Os deuses tinham a consciência de que se tratava de uma medida urgente e provisória, mas foi o que puderam fazer para salvar seus filhos. Nenhum deles imaginava se seria amanhã ou daqui um ano, mas sabiam que em algum momento nefasto o mal culminaria.

A torre surgiu diante dos olhos dos homens, foi algo que res-taurou a fé de cada pessoa. O mesmo monumento que alegra seus olhos hoje poderia cegá-los amanhã. Os deuses sabiam que seus filhos precisavam de poder para no futuro eliminar o mal, mas eles não o tinham para dar. Uma benção foi deixada para todos, mas somente alguns seriam capazes de despertá-la. Essa habilidade daria aos indivíduos uma evolução de poder mais rá-pida e mais forte do que eles poderiam alcançar em toda vida: resistência, velocidade, força e sabedoria. Na torre, uma frase foi deixada para que o marco fosse lembrado:

A benção é a chave de tudo.

Após a intervenção dos deuses, todas as raças voltaram a se evitar. Algumas pessoas achavam que aquela torre seria eterna e que as criaturas nunca sairiam. Outros tinham um ódio guarda-do pelo tempo de guerra, queriam treinar e adquirir força para quando o momento chegasse, eles eliminassem o maior número possível de inimigos.

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Cada um dos povos se separou para reerguer sua raça, sua cidade e seus costumes, afinal toda guerra altera o escopo ético de uma sociedade e, consequentemente, a consciência cultural também é afetada. Cerca de seis meses se passaram, doenças de-sapareceram, a comida voltou a crescer em suas hortas, riachos voltaram a correr e alguns animais voltaram a ser criados em suas fazendas. Era apenas o mínimo, mas todos sentiram enor-me gratidão por ter sustento mais uma vez.

Os Anões foram os primeiros a conseguir entender um pouco do mistério. Hogger um Anão ferreiro, o mais habilidoso entre os seus irmãos. Por um pedido, fabricou cerca de cem espadas para que alguns pudessem treinar. Ao trabalhar nessas espadas, Hogger sentiu algo diferente, uma sensação distinta, sentiu seu martelo de trabalho ficar mais leve e os músculos do seu corpo ficaram bem quentes por um instante.

Havia um lugar em seu corpo que estava mais quente, na verdade a sensação era como se ele estivesse em chamas. Em seu pulso esquerdo, bem no centro, próximo das veias que ali passavam, havia uma marca com cerca de dois centímetros. O calor havia passado quando ele notou que tal marca tinha o for-mato de uma bigorna. A cicatriz era simples, uma comparação singela, como se Hogger houvesse sido marcado com um ferro quente, assim como um animal. O anão olhou por algum tempo aquele símbolo, tentou entender o que sentiu. Buscava associar a marca com seu velho objeto de trabalho.

Logo após sentir algo tão novo e diferente, o anão ficou curio-so para usar o martelo, que agora estava mais leve. Dessa vez, resolveu moldar um machado para que ele também pudesse treinar com seus irmãos. Em média, Hogger demorava cerca de cinco horas para terminar toda a criação de uma espada. Ele tra-balhou no machado com bastante calma, como o machado seria seu, colocou ainda mais carinho durante os processos de criação.

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Ao final de cansativas quatro horas, ele havia terminado. Gas-tou uma hora a menos, percebeu que, mesmo com todas as pre-cauções, ainda sim havia gasto menos tempo no processo. Após o término, avaliou o fio do machado, o peso e o design para saber como melhor manusear durante uma batalha. Hogger notou que nunca havia criado algo tão incrível quanto aquilo.

Ele pegou seu machado e o enrolou em um tecido grosso, deixando-o separado dos outros itens. Começou a armazenar as espadas, separando de dez em dez todas as cem, elas enroladas em seus panos para serem levadas para seus respectivos donos. Guardou todos os itens na carroça, que estava nos fundos de sua pequena fazenda, e foi dormir, pois partiria logo pela manhã.

Hogger morava a seis quilômetros de Zaum, que era a cidade dos Anões. A fazenda era bem simples, cerca de madeira, um quintal bem pequeno, onde sua vaca e seu cavalo ficavam. Do lado de dentro, apenas um quarto, um banheiro e uma sala. No quarto, havia uma cômoda e sua cama – ambas de madeira – e um tapete verde bem sujo no chão; na sala, havia duas cabeças de animais que ele havia caçado: um urso e uma raposa. A cabeça da raposa ficava bem ao centro, aparentemente ele tinha mais orgu-lho daquele troféu. No fundo da sua casa havia um quintal com uma fornalha, sua bigorna de trabalho e alguns lingotes de ferro espalhados nas proximidades. Hogger passava boa parte do seu dia trabalhando, curiosamente preparava suas refeições em sua fornalha, esse era o motivo de não haver cozinha em sua casa.

Na manhã seguinte, o anão acordou bem cedo, eram quatro horas. Ele se preparou, buscou seu cavalo e o prendeu na carro-ça. Logo depois foi conferir se todas as armas estavam ali. Saiu rumo a Zaum.

Não demorou muito até chegar ao centro da cidade onde pa-rou a carroça. Lá estava o templo de Sharkan, o Deus de seu

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povo. A cidade de Zaum possuía cerca de três mil habitantes, eram poucos Anões, mas ainda assim, sortudos por sobrevive-rem ao caos. O templo já não estava em seu momento de luxo e glórias, mas continuava a ser o orgulho dos Anões. Além do templo que se localizava no centro da cidade, também havia al-gumas casas de tijolos com suas bases feitas de ferro, todas pe-quenas, porém muito bem trabalhadas. As ruas eram de pedras e com vários postes de ferro iluminando a cidade.

Hogger se sentou na escadaria do templo e aguardou. As pes-soas se aproximaram com curiosidade, o que tem na carroça? Alguns desses eram clientes que haviam solicitado seus serviços.

Quando se aglomeraram tomando toda a praça, Hogger se levantou e disse: Todas as espadas estão aqui. Foi até a carroça e pegou uma de cada vez, entregando aos seus respectivos donos. Sem nenhuma pressa ele analisava o rosto de cada um, ele gos-tava de receber elogios através dos olhos das pessoas. Depois de entregar todas as cem espadas, ele pediu que eles as avaliassem com cuidado, as opiniões eram algo importante.

Cada um já com sua espada em mãos, analisando minucio-samente. Alguns olhavam o fio da lâmina, outros balançavam para sentir o peso. Hogger caminhando entre os outros Anões disse: Hoje descobri sobre a benção. Todos ficaram eufóricos, co-meçaram a gritar muitas perguntas e acusações: Mentiroso, será que é verdade? Por que só ele? Todos curiosos, afinal ninguém havia descoberto nada sobre o assunto. Com um berro bem alto mandou todos se calarem e prestarem a atenção. Escutem bem, não descobri tudo, mas vou compartilhar minha experiência com vocês. – falou ele – O único trabalho que realizei após a guerra, foi à fabricação dessas espadas. – Todos estavam prestando aten-ção – Durante a fabricação de uma das armas senti algo diferente. Senti meu pulso queimar, durante isso uma marca surgiu. – Ho-gger levantou seu braço esquerdo, mostrava o símbolo no seu

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pulso. – A multidão desacreditou da veracidade do fato, afinal aquela marca poderia ser feita por qualquer pessoa.

Novamente, as palavras vieram julgando o anão: Ele só quer atenção! Acha que pode nos enganar?! Mentiroso! Hogger gritou calando-os. O silêncio deixou o clima pesado, olhares de julga-mento o cercavam, foi aí que ele buscou em sua carroça seu ma-chado, a arma ainda enrolada no tecido grosso. Chamou um dos clientes e pediu que desembrulhasse e avaliasse o objeto que ali estava. Algum tempo se passou, o silêncio continuava e o clima pesado também, até que seu irmão disse: Nunca vi uma arma tão bem-feita, tão leve e tão forte.

– Hoje após o ocorrido senti meu martelo ficar mais leve, deci-di testar como seria fabricar uma arma com essa nova sensação. – disse Hogger e continuou sua fala olhando para todas ali pre-sentes. – Este machado é o produto deste teste, é a melhor coisa que fabriquei e foi a que gastei menos tempo. Utilizei o mesmo material na fabricação, o mesmo martelo e a mesma fornalha, as únicas coisas diferentes eram minhas mãos. – O anão estava com o olhar fixo nas palmas de sua mão, parecia buscar algo que não conseguia ver. – Estou indo visitar os Elfos Puros, não gosto muito deles, mas eles são mais espertos que todos nós. Espero des-cobrir mais sobre tudo isso. As pessoas começaram aos poucos confiarem em Hogger, eles foram se aproximando, querendo ver a marca mais de perto e tocá-la, outros só cheios de perguntas.

O fato de Hogger ter descoberto a marca fez com que os ou-tros Anões começassem a treinar mais tarde, naquele mesmo dia. Após uma hora em meio àquela confusão, Hogger arrumou sua carroça, novamente guardou seu machado e seguiu rumo a Caudeum, a cidade dos Elfos Puros. Caudeum ficava ao Norte do continente, cerca de quatro dias de viagem. Zaum estava lo-calizada ao oeste, apesar de geograficamente não serem opostas ainda sim eram distantes.

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Hogger não conhecia a cidade de Caudeum, mas tinha um mapa e o caminho era simples. Ao escurecer de cada dia Hog-ger soltava o cavalo da carroça, e o prendia em uma árvore. Ele sempre procurava um campo bom para que ele pudesse dor-mir e para seu cavalo poder pastar. Este era o único momento em que saía da estrada, todo o restante do tempo se dedicava a sua jornada, com pequenas pausas para seu cavalo descansar. À medida que se distanciava de Zaum, Hogger percebia que a paisagem se modificava, a guerra havia deixado marca em todo o continente.

No primeiro dia na estrada percebeu que não havia muitos animais em meio aos campos, alguns rios com suas margens bem baixas, era possível notar muitas carcaças e corpos de pes-soas que morreram na guerra. Em algumas partes da estrada parecia impossível de passar, o espaço ocupado por corpos. Uma das várias cenas que Hogger não conseguiria apagar de sua memória. Para não perder seu sono todas as noites, ele criou o hábito de sempre fazer orações a Sharkan, agradecendo pelo sacrifício e pedindo que guiasse todas as almas que estavam per-didas.