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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CAMPUS BALNEÁRIO CAMBORIÚ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – NPJ SETOR DE MONOGRAFIAS
O REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO.
GUSTAVO KOBUS GRANEMANN
Itajaí , 8 de novembro de 2010
DECLARAÇÃO
DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PÚBLICA EXAMINADORA
BALNEÁRIO CAMBORIÚ, ____ DE ____________ DE 2010.
________________________________ Professor(a) Orientador(a)
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CAMPUS BALNEÁRIO CAMBORIÚ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – NPJ SETOR DE MONOGRAFIAS
O REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO.
GUSTAVO KOBUS GRANEMANN
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel
em Direito. Orientador: Professor MSc. Solange Lúcia Heck Kool
Itajaí, 8 de novembro de 2010
AGRADECIMENTO
Aos meus amigos de classe (em especial Samuel M. Clezar e Ernani Urio, companheiros desde os
tempos do colégio), devo a eles grande parte do que sou hoje. Também à minha professora orientadora
Solange Lúcia Heck Kool, por ter aceitado me orientar no desenvolvimento deste trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedico esta obra a minha mãe Denise Kobus, ao meu pai Nery José Granemann de Melo, bem
como aos seus cônjuges Fabiano Dias Perfeito e Daniela Longhi de Castro.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, 8 de novembro de 2010
Gustavo Kobus Granemann Graduando
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Gustavo Kobus Granemann, sob o título
O representante comercial autônomo, foi submetida em 23/11/2010 à banca
examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Solange Lúcia Heck Kool,
presidente da banca, e MSc. Silvio Noel de Oliveira Junior, examinador, e aprovada
com a nota .
Itajaí, 8 de novembro de 2010
Solange Lúcia Heck Kool Orientador e Presidente da Banca
MSc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CC Código Civil Brasileiro de 2002 CLT Consolidação das Leis do Trabalho CRFB Constituição da Republica Federativa do Brasil OIT Organização Internacional do Trabalho
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................................................X INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................................11 CAPÍTULO 1.........................................................................................................................................................13 RETROSPECTO DO DIREITO DO TRABALHO ..........................................................................................13
1.1 O TRABALHO NO MUNDO ..............................................................................................................................13 1.1.1 A escravidão .........................................................................................................................................14 1.1.2 A servidão .............................................................................................................................................14 1.1.3 As corporações de ofício .....................................................................................................................15 1.1.4 A locação ..............................................................................................................................................16 1.1.5 A revolução industrial ..........................................................................................................................17 1.1.6 A igreja .................................................................................................................................................19 1.1.7 O princípio do direito do trabalho .......................................................................................................19 1.1.8 Criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ................................................................21 1.1.9 A declaração universal dos direitos do homem ...................................................................................21
1.2 DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL ..................................................................................................21 1.3 AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO........................................................................................24 1.4 TAXIONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO ......................................................................................................25
1.4.1 Direito público......................................................................................................................................25 1.4.2 Direito privado .....................................................................................................................................26 1.4.3 Direito social ........................................................................................................................................26 1.4.4 Direito misto .........................................................................................................................................27 1.4.5 Direito unitário.....................................................................................................................................27
1.5 DAS FONTES DE DIREITO ................................................................................................................................27 1.5.1 Fontes do direito do trabalho...............................................................................................................28
1.5.1.1 Leis..................................................................................................................................................................28 1.5.1.2 Costumes .........................................................................................................................................................29 1.5.1.3 Sentença normativa .........................................................................................................................................29 1.5.1.4 Convenções Coletivas .....................................................................................................................................30 1.5.1.5 Regulamento das empresas .............................................................................................................................31 1.5.1.5 Jurisprudências dos tribunais ..........................................................................................................................32
CAPÍTULO 2.........................................................................................................................................................33 DO CONTRATO DE TRABALHO ....................................................................................................................33
2.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE TRABALHO...................................................................33 2.1.1 Natureza jurídica do contrato de trabalho...........................................................................................34
2.2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO DE TRABALHO .......................................................................35 2.3 CARACTERÍSTICAS JURÍDICAS DO CONTRATO DE TRABALHO.........................................................................35
2.3.1 Bilateralidade do contrato de trabalho ................................................................................................36 2.3.2 Onerosidade do contrato de trabalho ..................................................................................................36 2.3.3 Comutatividade do contrato de trabalho .............................................................................................37 2.3.4 Continuidade do contrato de trabalho .................................................................................................38 2.3.5 Sucessividade do contrato de trabalho.................................................................................................38 2.3.6 Consensualidade do contrato de trabalho ...........................................................................................39
2.4 OBJETO ILÍCITO E DO TRABALHO PROIBIDO ...................................................................................................39 2.5 ESPÉCIES DE CONTRATOS DE TRABALHO .......................................................................................................40
2.5.1 Contrato por tempo indeterminado ......................................................................................................41 2.5.2 Contrato por prazo determinado..........................................................................................................42 2.5.3 Contrato de experiência .......................................................................................................................43 2.5.4 Contrato por obra certa .......................................................................................................................44 2.5.5 Tipos especiais de contrato ..................................................................................................................45
2.5.5.1 Advogados.......................................................................................................................................................45 1.5.5.2 Empregados domésticos..................................................................................................................................46 1.5.5.3 Bancários.........................................................................................................................................................47 1.5.5.4 Vendedores ou viajantes .................................................................................................................................48
1.5.5.5 Atletas de futebol ............................................................................................................................................48 CAPÍTULO 3.........................................................................................................................................................50 O REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO E O DIREITO DO TRABALHO.............................50
3.1 DO REPRESENTANTE COMERCIAL .....................................................................................................50 3.2 DO REPRESENTANTE COMERCIAL AUTÔNOMO ..........................................................................................52 3.3 ELEMENTOS QUE DETERMINAM O VÍNCULO EMPREGATÍCIO....................................................................52 3.4 CARACTERÍSTICAS JURÍDICAS DA REPRESENTAÇÃO COMERCIAL ...........................................................54
3.4.1 Atividade empresarial ..........................................................................................................................54 3.4.2 Não eventualidade ................................................................................................................................54 3.4.3 Mediação para realização de negócios mercantis ...............................................................................55 3.4.4 Autonomia.............................................................................................................................................55
3.5 DO PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE...................................................................................................56 3.6 O REGISTRO DO REPRESENTANTE COMERCIAL E A IMPORTÂNCIA DESTE REGISTRO .................................57 3.7 DAS OBRIGAÇÕES DO REPRESENTANTE COMERCIAL..................................................................58 3.8 DOS DEVERES E DIREITOS DO REPRESENTADO ...............................................................................................60 3.9 DA COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DE CONTROVÉRSIAS ENTRE REPRESENTANTE E REPRESENTADO ...................................................................................................................................................60 3.10 DA EXTINÇÃO DO CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO...........................................................................62
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................................................65 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .........................................................................................................68
x
RESUMO
Trata a presente monografia do estudo do Direito do Trabalho,
tratando especialmente do contrato de trabalho e do representante comercial
autônomo. Buscou-se no primeiro capitulo conhecer a historia do trabalho e do
direito do trabalho e sua evolução tanto num contexto global, como nacional. Por
outro lado, o segundo capitulo tratou de apresentar noções acerca do contrato de
trabalho, buscando apresentar suas formas, fontes, características e sua natureza
jurídica. Por fim, no terceiro capítulo buscou-se apresentar da maneira mais clara as
características do trabalhador representante comercial autônomo, tendo em vista a
forma de seu contrato, os seus direitos e deveres para com o representado, assim
como a existência ou não de vinculo empregatício na relação entre o representado e
o representante. Quanto à Metodologia empregada, adotou-se o método indutivo,
operacionalizado com as técnicas do referente, das categorias, dos conceitos
operacionais e da pesquisa de fontes documentais. O modo de relato utilizado foi o
descritivo.
11
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto o estudo do Direito do
trabalho, sobre tudo o contrato de trabalho e as características da profissão do
representante comercial autônomo.
O seu objetivo geral é desenvolver uma pesquisa buscando
conhecimento acerca do vínculo empregatício do representante comercial para com
o representado, analisando a estrutura legislativa e judicial brasileira.
O objetivo institucional é o de produzir monografia para
obtenção do Título de Bacharel em Direito - Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando de apresentar
uma breve historia da evolução do trabalho no Brasil e no mundo, bem como as
primeiras matérias legislativas a tratar do tema, resguardando os direitos do
trabalhador.
No Capítulo 2, trata-se de um quadro de subsídios para melhor
entendimento do objeto principal do presente estudo. Nele inicia-se o estudo do
contrato do trabalho, abordando sua natureza, suas fontes, modalidades e até
mesmo sua duração.
O Capítulo 3, por fim, aborda o tema principal do presente
trabalho acadêmico, visto que este, adentra mais profundamente nas características
do representante comercial, analisando sua legislação especifica para um estudo
detalhado sobre a sua autonomia.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados,
seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o
representante comercial autônomo.
12
Para a presente monografia foram levantadas as seguintes
hipóteses:
O representante comercial autônomo seria mero mediador para
realização de negócios mercantis, não possuindo, assim, vínculo empregatício;
O representante comercial autônomo não seria considerado
empregado, sim trabalhador, visto que não obedece os requisitos da CLT para
caracterização dos elementos empregatícios.
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de
Investigação1 foi utilizado o Método Indutivo2, na Fase de Tratamento de Dados o
Método Cartesiano3, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia
é composto na base lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas
do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa Bibliográfica7.
1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente
estabelecido [...]. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. 11 ed. Florianópolis: Conceito Editorial; Millennium Editora, 2008. p. 83.
2 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 86.
3 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.
4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54.
5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25.
6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 37.
7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209.
Capítulo 1
RETROSPECTO DO DIREITO DO TRABALHO
1.1 O TRABALHO NO MUNDO
Para Martins8, a etimologia da palavra trabalho vem do latim:
tripalium, literalmente traduzida se torna “três paus”, era um instrumento romano de
tortura, nada mais eram do que três estacas formando uma pirâmide, onde eram
castigados os escravos.
O surgimento do trabalho, veio como forma de punição de
escravidão. Tal escravidão, só cessava com a morte do escravo, ou quando o
mesmo conseguia sua liberdade, sendo pouco provável a segunda hipótese, pois
não tinham direitos, somente obrigações, denominadas: trabalho. Neste sentido,
leciona:
A primeira forma de trabalho foi a escravidão em que o escravo era considerado apenas uma coisa, não tendo qualquer direito, muito menos trabalhista. [...] Nesse período, constatamos que o trabalho do escravo continuava no tempo, até de modo indefinido, ou mais precisamente até o momento em que o escravo vivesse ou deixasse de ter essa condição. Entretanto, não tinha nenhum direito, apenas o de trabalhar.9
A necessidade de defesa obrigou o homem a dedicar seu
trabalho ao desenvolvimento de instrumentos para sua defesa, seja nas lutas contra
tribos rivais, ou contra feras que os ameaçavam. Nesta vertente, sabiamente
doutrina:
O Homem sempre trabalhou; primeiro para obter seus alimentos já que não tinha outras necessidades em face do primitivismo de sua vida. Depois, quando começou a sentir o imperativo de se defender dos animais ferozes e de outros homens iniciou-se na fabricação de armas e de instrumentos de defesa. [...] o osso encontrado nos restos de animais putrefatos partia-se com facilidade e passou, no período paleolítico, a lascar pedras para fabricar lanças e machados,
8 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 18 ed. São Paulo: Atlas, 2007. 9 MARTINS, Sérgio PinMto. Direito do trabalho. p. 4
14
criando sua primeira atividade industrial. E usava seus produtos para a caça de animais e nas lutas contras outros homens.10
Sendo assim, a escravidão foi a primeira forma de trabalho na
qual um homem trabalha para o outro.
1.1.1 A escravidão
No inicio, apos uma grande batalha, o lado vencedor matava o
lado vencido para devorá-lo, ou até mesmo para livrar-se de possíveis incômodos
que acarretariam este povo dominado. Porém após certo tempo o homem percebeu
que seria de maior proveito usar o vencido como seu objeto para trabalho escravo. A
eles eram incumbidos os serviços manuais exaustivos, não só pelo fato de ser
cansativo, mas porque tal gênero de trabalho era considerado altamente impróprio, e
até tido como desonroso para os homens válidos e livres.11
Os intelectuais filósofos Platão e Aristóteles concordavam com
tal regime de trabalho, defendendo que o labor braçal destinava-se somente aos
ignorantes, indignos, neste teor constata-se:
Na Grécia, Platão e Aristóteles entendiam que o trabalho tinha sentido pejorativo. Envolvia apenas a força física. A dignidade do homem consistia em participar dos negócios da cidade por meio da palavra. Os escravos faziam o trabalho duro, enquanto os outros poderiam ser livres. O trabalho não tinha significado de realização pessoal. As necessidades da vida tinham características servis, sendo que os escravos é que deveriam desempenhá-las, ficando as atividades mais nobres destinadas as outras pessoas.12
Desta forma, o trabalho escravo teve eu início com as grandes
batalhas, como forma de penalizar os vencidos, dando à estes trabalhos braçais e
pesados em vez de matá-los.
1.1.2 A servidão
Pouca coisa difere a servidão da escravidão, uma vez que o
servo não dispunha de total liberdade de ir e vir, e grande parte de sua produção
rural era obrigatoriamente destinada ao Senhor, como forma de pagamento pela
10 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 19 ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 27 11 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 12 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 4
15
terra que cultivava. Sobre o tema, o nobre doutrinador infra constata:
[...] os senhores feudais davam proteção militar e política aos servos, que não eram livres, mas, ao contrario, tinham de prestar serviços na terra do senhor feudal. Os servos tinham de entregar parte da produção rural aos senhores feudais em troca da proteção que recebiam e do uso da terra.13
A servidão foi uma modalidade de trabalho muito generalizada,
quando um individuo, que mesmo não tendo condição jurídica de escravo, não
dispunha da sua total liberdade. Funcionava de forma em que sua base legal era
fixada na posse da terra pelos senhores, que ao fornecerem uma pequena gleba
para o servo exercer suas atividades rurais firmadas na agricultura e pecuária,
tornavam-se possuidores de todo o direito sobre este, inclusive sobre grande parte
do que o mesmo produzia em sua terra.14
Portanto não tinham caráter de escravos, e somente detinham
alguns direitos básicos, como o de herança de animais e objetos pessoais, conforme
o entendimento a seguir exposto:
Aos servos era assegurado o direito de herança de animais, objetos pessoais e, em alguns lugares, o de uso de pastos, mas o imposto de herança cobrado pelos senhores absorvia, de maneira escorchante, os bens dos herdeiros. E impostos havia a vários títulos, e, até mesmo quando se casava uma jovem, para obter licença do senhor da terra, havia que lhe pagar uma quantia [...].15
Não deve ser considerado forma de pagamento o direito do
servo de criar animais e de o de uso pessoal da terra do Senhor Feudal.
1.1.3 As corporações de ofício
Em um terceiro momento da historia do trabalho, surgiram as
corporações de ofício, que regulamentavam o processo produtivo artesanal. No
inicio, existiam dois personagens nesta modalidade, os mestres e os aprendizes,
mas no século XIV surgiu o conhecido como companheiros, em grau intermediário.
Os mestres eram os proprietários das oficinas, os companheiros eram os
trabalhadores que recebiam remuneração vinda dos mestres, e os aprendizes eram 13 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 4 14 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 15 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho.
16
os mais novos, que recebiam dos mestres o treinamento metódico do ofício da
profissão. Nesta fase histórica já havia uma maior liberdade ao trabalhador.16
Acerca do tema: “As corporações mantinham com os
trabalhadores uma relação do tipo bastante autoritário e que se destinava à
realização dos seus interesses do que à proteção dos trabalhadores.”17
As corporações detinham algumas características peculiares:
(a) estabelecer uma estrutura hierárquica; (b) regular a capacidade produtiva; (c) regulamentar a técnica de produção. Os aprendizes trabalhavam a partir de 12 ou 14 anos, e em alguns países já se observava prestação de serviços com idade inferior.18
As corporações de ofício tiveram seu fim com a Revolução
Francesa19 em 1789, pois eram entendidas como incompatíveis com o ideal de
liberdade do homem na época. Dizia-se que a liberdade individual difere da idéia de
existência de corpos intermediários entre o individuo e o estado. Outras causas que
acarretaram o fim da modalidade de trabalho em tela foram a liberdade de comercio
e o encarecimento dos produtos das corporações. Tendo isso, o inicio da liberdade
contratual veio logo apos, e o decreto D’allarde supriu as corporações de oficio
permitindo a liberdade contratual.20
1.1.4 A locação
Na sociedade pré-industrial, existe um quarto tipo de relação
de trabalho, a locação. Esta consistia em um contrato pelo qual a pessoa se
obrigava a executar uma obra ou prestar serviço à outra mediante remuneração. A
locação de serviços é apontada como precedente da relação de emprego moderna,
objeto do direito do trabalho.21
16 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 17 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 32a ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 24. 18 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 4. 19 A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Para a França, abriu-se em 1789 o longo período de convulsões políticas do século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia constitucional e dois impérios. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_Francesa. Acesso em: 06 jul. 2010. 20 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 21 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho.
17
Fatores econômicos e sociais, como o desenvolvimento da
máquina a vapor e o êxodo rural22 tiveram importante contribuição para que se
instalasse nos séculos XVIII e XIX na Inglaterra, o fenômeno da Revolução
Industrial.23
1.1.5 A revolução industrial
A revolução industrial24, como o próprio nome já diz, acabou
por revolucionar a indústria no início do século XVIII, e por conseqüência
transformou a vida dos trabalhadores da época. Acerca do assunto, introduz:
A Revolução Industrial acabou transformando o trabalho em emprego. Os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários. Com a mudança, houve uma nova cultura a ser aprendida e uma a ntiga a ser desconsiderada.25
A invenção da máquina à vapor e a sua inserção na industria
acabaram por provocar uma revolução nos métodos de trabalho, o salário recebido
pelos trabalhadores era quase sempre o mínimo necessário para a pobre
sobrevivência de sua família. refletindo diretamente na relação entre o patrão e o
trabalhador. Tendo isto, ainda importou em uma forte redução na mão-de-obra, uma
vez que nas grandes oficinas e fabricas que apareceram, não era necessário um
numero tão grande de empregados para obter o resultado esperado. Fato este, que
acarretou em protestos, e até rebeliões para exteriorizar a revolta pela troca da mão-
de-obra humana, pela de máquinas automatizadas.26
Neste sentido, Süssekind continua seu raciocínio:
Verificam-se movimentos de protestos e até verdadeiras rebeliões com a destruição de máquinas, mas, posteriormente, com o
22 Êxodo rural é o termo pelo qual se designa o abandono do campo por seus habitantes, que, em busca de melhores condições de vida, se transferem de regiões consideradas de menos condições de sustentabilidade a outras, podendo ocorrer de áreas rurais para centros urbanos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Êxodo_rural. Acesso em: 05 jul. 2010 23 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 24 A Revolução Industrial consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social. Iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolução_Industrial. Acesso em: 06 jul. 2010 25 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 5 26 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho.
18
desenvolvimento dos sistemas de comércio, em especial, com a adoção da máquina a vapor nas embarcações, estenderam-se os mercados, e, conseqüentemente, as indústrias se desenvolveram, admitindo um maior número de trabalhadores, mas seus salários eram baixos porque, com o antigo sistema de artesanato, cada peça custava muito mais caro do que com a produção em série.27
O direito de trabalho e o contrato de trabalho tiveram um
notório desenvolvimento a partir da Revolução Industrial, pois com as novas
maquinas criadas na época, eram necessários empregados para operá-las, e com
isto criou-se o trabalho assalariado, e assim, surgira uma causa jurídica, pois os
trabalhadores passaram a reunir-se para reivindicar melhores condições de trabalho
e salário, e redução das jornadas excessivas, bem como bater de frente com a
exploração de menores e de mulheres no trabalho.28
As maiores intervenções feitas pelo estado naquela época
foram:
A jornada de trabalho foi limitada em 12 horas, excluindo-se intervalos para refeição. O trabalho não poderia se iniciar antes da 6 horas e terminar após as 21 horas. Deveriam ser observadas normas relativas à educação e higiene. Em 1819, foi aprovada lei tornando ilegal o emprego de menores de 9 anos. O horário de trabalho dos menores de 16 anos era de 12 horas diárias, nas prensas de algodão. Na França, em 1813, foi proibido o trabalho dos menores em minas. Em 1814, foi vedado o trabalho aos domingos e feriados. Em 1839, foi proibido o trabalho de menores de 9 anos e a jornada de trabalho era de 10 horas para os menores de 16 anos.29
Segundo Souto Maior, o fenômeno da revolução gerou
conseqüências que merecem ressalte:
No fenômeno da Revolução Industrial, destaca-se, a priori, o
surgimento do capitalismo financeiro, que veio por substituir o capitalismo industrial
formado anteriormente. As empresas passaram a ser dependentes dos bancos. Em
segundo plano, a Revolução Industrial transformou a livre concorrência no
monopólio, pois eram formados grandes conglomerados econômicos e as grandes
empresas passaram a absorver as pequenas. E por ultimo, a produção em série veio
a possibilitar a superprodução, representada pela excessiva quantidade de bens 27 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. p. 32 28 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 29 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 7
19
produzidos em um curto espaço de tempo.30
Sendo assim, a Revolução Industrial foi a causa da
transformação do trabalho como até então era conhecido. Fazendo com que as
industrias fossem atrás de mão-de-obra e os empregados passassem a perceber
salários.
1.1.6 A igreja
A igreja pronunciava-se a favor do proletariado, e algumas
declarações atingiram diretamente os subordinados, sendo este o entendimento do
nobre doutrinador:
Ao terminar o século, o Papa Leão XIII publica a Encíclica “Rerum Novarum” e proclama a necessidade da união entre as classes do capital e do trabalho, que têm “imperiosa necessidade uma da outra; não pode haver capital sem trabalho nem trabalho sem capital”. A palavra do Sumo Sacerdote ecoou e impressionou o mundo cristão, incentivando o interesse dos governantes pelas classes trabalhadoras, dando força para sua intervenção, cada vez mais marcante, nos direitos individuais em benefício dos direitos coletivos.31
No mesmo sentido, escreve:
A Encíclica Rerum Novarum (coisas novas), de 1891, do Papa Leão XIII, pontifica uma fase de transição para a justiça social, traçando regras para a intervenção estatal na relação entre trabalhador e patrão. Dizia o referido Papa que “não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital” (Encíclica Rerum novarum, Capitulo 28).A encíclica tinha cunho muito mais filosófico e sociológico. [...] As encíclicas evidentemente não obrigam ninguém, mas muitas vezes serviram de fundamento para a reforma da legislação dos países.32
Isto posto, o papa supracitado é um dos responsáveis por
tornar popular a idéia de que todos os trabalhadores tinham direito a vida e assim, o
Estado deveria zelar por eles.
1.1.7 O princípio do direito do trabalho
A primeira lei verdadeiramente tutelar admitida no direito de 30 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São Paulo: LTr, 2000. p. 57-58. 31 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. p. 41. 32 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 7.
20
trabalho foi promulgada sob o ministério de Sir Robert Peel, em 1802 na Inglaterra, e
fora dominada Moral and Health Act. Nela regulava-se o trabalho dos menores, os
proibindo de laborar no turno da noite.33
À lei inglesa de 1802, segue-se a Cotton Act de 1817 e a criação da Inspetoria do Trabalho em 1833, com maior proteção ao trabalho dos menores. O trabalho das mulheres foi proibido nas minas e reduzido para dez horas nas demais indústrias, durante a década de 40 a 50.34
Visto isto, vale ressaltar, que nessa época a maioria das leis
que tratavam de alguma forma o direito do trabalho, tinham como objetivo regular o
trabalho feminino e dos menores.
Já com o término da Primeira Guerra Mundial surgiu o
constitucionalismo social, onde normas de interesse social e de garantias
fundamentais abrangendo também o Direito do Trabalho são incluídas dentro das
Constituições de alguns países.35
A primeira Constituição a versar sobre o Direito o Trabalho foi a
Mexicana no ano de 1917, trazendo em seu art. 123 a jornada de oito horas, a
proibição do trabalho aos menores de 12 anos, a limitação da jornada para os
menores de 16 anos à seis horas, jornada noturna de sete horas, descanso
semanal, proteção à maternidade, salário mínimo, direito a sindicalização e greve,
indenização na dispensa, seguro social e proteção contra acidente de trabalho.36
Já em 1919, a constituição de Weimar, da Alemanha passou a
tratar do tema. Sobre o tema, leciona:
A segunda, é a da Alemanha, de Weimar (1919), que repercutiu na Europa, considerada a base das democracias sociais. Disciplina a participação dos trabalhadores nas empresas, a criação de um direito unitário do trabalho, a liberdade de coalizão dos trabalhadores para a defesa e melhoria das suas condições de trabalho, o direito a um sistema de seguros sociais, o direito de colaboração dos trabalhadores com os empregadores na fixação dos salários e demais condições de trabalho e a representação dos trabalhadores
33 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 9 ed. São Paulo: LTr, 2003. 34 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. p. 72. 35 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 36 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho.
21
na empresa.37
Temos isto como o inicio da inclusão do Direito do Trabalho
nas constituições no mundo, pois após estes, os demais países começaram a tratar
do Direito de Trabalho, constitucionalizando assim os direitos trabalhistas.38
1.1.8 Criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
Com o encerramento do conflito armado após o fim da Primeira
Guerra Mundial, os representantes dos países vitoriosos reuniram-se em 1919, para
definir o pós-guerra. Deste encontro consolidou-se o Tratado de Versalhes, como
denota-se:
Surge o Tratado de Versalhes, de 1919, prevendo a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que iria incumbir-se de proteger as relações dentre empregados e empregadores no âmbito internacional, expedindo convenções e recomendações nesse sentido.39
Vale destacar novamente, que um dos principais objetivos da
OIT era “proteger as relações entre empregados e empregadores no âmbito
internacional, expedindo convenções e recomendações nesse sentido”.40
1.1.9 A declaração universal dos direitos do homem
Em dezembro de 1948 a Declaração Universal dos Direitos do
Homem previa alguns direitos aos trabalhadores, como por exemplo: a limitação
razoável do trabalho, férias remuneradas periódicas, repouso e lazer etc. Surge
assim a nova teoria pregando separação entre o econômico e o social, o que é
verificado hoje na nossa constituição de 1988, que trata dos dois temas
separadamente e preconiza um Estado neoliberalista41.42
1.2 DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL
Em nosso país, a formação do direito do trabalho tiveram forte
37 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. p. 25. 38 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 39 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 8. 40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 8. 41 O neoliberalismo prega que a contratação e os salários dos trabalhadores devem ser regulados pelo mercado, pela lei da oferta e da procura. O estado deve deixar de intervir nas relações trabalhistas, que seriam reguladas pelas condições econômicas. Entretanto, o empregado não é igual ao empregador, e portanto, necessita de proteção [MARTINS, 2006, p. 09] 42 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho.
22
influencia de fatores externos e internos. As influências externas, isto é, vindas de
outros países, que exerceram alguma pressão no sentido de levar o Brasil a elaborar
leis trabalhistas destacam-se as transformações que ocorriam na Europa, e a
crescente elaboração legislativa de proteção ao trabalhador. Outro fator de peso, foi
o compromisso assumido pelo Brasil de elaborar normas trabalhistas. compromisso
esse, que fora assumido quando o país ingressou na Organização Internacional do
Trabalho (OIT), criada pelo Tratado de Versailles (1919).43
Já quanto aos fatores internos que colaboraram para o Direito
do Trabalho no Brasil, os principais seriam o movimento operário imigrante, as
greves, e a Primeira Grande Guerra Mundial, e assim continua o raciocínio:
Os fatores internos mais influentes foram o movimento operário de que participaram imigrantes com inspirações anarquistas, caracterizado por inúmeras greves em fins de 1800 e inicio de 1900; o surto industrial, efeito da Primeira Grande Guerra Mundial, com a elevação do numero de fabricas e operários – em 1919 havia cerca de 12.000 fabricas e 300.000 operários; e, de modo destacado, a política trabalhista de Getúlio Vargas (1930).44
Outros autores defendem a tese de que a evolução do Direito
do Trabalho no Brasil difere, da forma em que se teve na Europa, e categorizam as
duas formas distintas de evolução, denominadas Ascendentes e Descendentes,
assim disserta o nobre doutrinador Arnaldo Süssekind:
Os movimentos ascendentes, que deram origem às legislações trabalhistas do México, Inglaterra e França, caracterizaram-se pela sua coexistência com uma historia social marcada pela luta de classes, com trabalhadores fortemente apoiados por suas organizações profissionais, com o espírito de classe bem nítido e com a existência de industrias ou atividades produtivas arregimentando grande massas de trabalhadores.45
Já em nosso país, o movimento foi de cima para baixo, pois
não haviam lutas para uma evolução, não existiam associações profissionais de
expressiva representatividade nem atividades econômicas que exigiam massas
proletárias densas. O movimento no Brasil veio do governo para a coletividade, e
43 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 44 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. p. 29-30. 45 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. p. 49-50.
23
não o contrário.46
A produção industrial já havia alterado muito a vida social na
Europa desde o fim do século XVII, já em nosso país, ainda no século XIX a
atividade rural ainda prevalecia. Isto posto, a historia do direito do trabalho no Brasil
também não se identifica à da Europa no quesito temporal. O Brasil era um país em
que predominava a atividade agrária, por isso as camadas sociais mais evidentes
eram as dos senhores de terras e escravos, mas a partir de 1850 a situação
começou a mudar com a extinção do tráfego de escravos, e aos poucos a mão de
obra começou a ser substituída pela mão-de-obra imigrante.47
Somente a partir da Constituição de 1934 as normas de
trabalho começaram a existir, e destaca os principais aspectos desta Constituição, e
das seguintes:
A de 1934 [...] acrescentou [...] o pluralismo sindical, autorização para criação, na mesma base territorial, de mais de um sindicato da mesma categoria [...]. a de 1937 [...] a concepção política do Estado Novo e as restrições ao movimento sindical [...]. a de 1946 acolheu os princípios liberais da ordem política. [...]. a de 1967 exprimiu os objetivos dos governos militares iniciados em 1964 e introduziu o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço [...]. a de 1988 valorizou o direito coletivo com a proibição da interferência do poder publico na organização sindical, embora mantendo o sistema do sindicado único.48
Depois disso, apareceu a Consolidação das Leis do Trabalho,
que deriva das diversas leis esparsas que existiam tratando sobre assuntos
trabalhistas, senão vejamos:
Existiam varias normas esparsas sobre os mais diversos assuntos trabalhistas. Houve a necessidade de sistematização dessas regras. Para tanto, foi editado o Decreto-lei Nº 5.452, de 1º-5-1943, aprovando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O objetivo da CLT foi apenas reunir as leis esparsas existentes na época, consolidando-as. Não se trata de um código, pois este pressupõe um direito novo. Ao contrario, a CLT apenas reuniu a legislação existente
46 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. p. 41 47 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São Paulo: LTr, 2000. 48 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. p. 30.
24
na época, consolidando-a.49
A posição que fora adotada pelo supracitado autor vem a se
consolidar com a posição de Nascimento, quando este também afirma que a
Consolidação não é um código, pois sua principal função foi reunir leis existentes e
não criá-las, como sendo um código de leis novas.50
1.3 AUTONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO
Para Martins “discute-se a autonomia do Direito do Trabalho
em relação ao Direito Civil, principalmente se o primeiro não seria um apêndice do
segundo”51
Para uma ciência ter o caráter de autonomia é necessário que
esta seja vasta suficiente a ponto de necessitar de estudo adequado e particular;
que contenha doutrinas homogêneas dominadas por conceitos gerais comuns,
porém distintos de outros conceitos gerais que abrangem outras disciplinas; é
necessário também possuir um método próprio, empregar processos especiais para
o conhecimento das verdades do objeto de investigação. na verdade não existe
método próprio que é o mesmo de qualquer ramo do direito.52
Da mesma maneira que aconteceu no Direito Comercial,
também é o caso no Direito do Trabalho, que embora tenha nascido do Direito Civil,
acabou por separar-se inquestionavelmente, pois hoje possui objeto próprio de
estudo, princípios, fontes e instituições peculiares, finalidades especificas. Não
somente isto, pois no Brasil, como também é o caso de muitos outros países,
passou a contar até com jurisdições especiais próprias para dirimir afirmadores de
sua autonomia.53
Acompanhando o entendimento supra, colabora:
Embora tenha ligações com outros ramos do conhecimento humano – economia, sociologia, filosofia, psicologia, etc. – e com outros ramos do direito – direito internacional, constitucional, administrativo,
49 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 10. 50 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 51 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 20. 52 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 53 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho.
25
civil, comercial, tributário e penal -, o fato é que o direito do trabalho está voltado para uma relação jurídica que possui características bastante peculiares em comparação com as demais relações jurídicas do mundo civil, razão pela qual suas normas são especificas e seus princípios são diversos daqueles que informam o direito em geral [...]. [SOUTO MAIOR, 2000, p. 274/275]
Conclui-se que segundo os três renomados autores citados, o
Direito do Trabalho é autônomo em relação aos demais ramos do Direito, pois
apresenta os elementos necessários para a caracterização como ciência
independente.
1.4 TAXIONOMIA DO DIREITO DO TRABALHO
Para Martins, “taxionomia é o lugar em que o Direito do
Trabalho está inserido dentro da ciência do Direito.”54
Sobre esta temática, leciona:
A universalidade do Direito do Trabalho exerceu decisiva influencia na socialização de todo o Direito. Por seu turno, constitui ele a mais forte manifestação dessa socialização. A publicização do Direito prevalece, inquestionavelmente, nos sistemas jurídicos atinentes ao novo ramo do Direito; mas nele existem, igualmente, normas de Direito Privado, algumas meramente dispositivas, outras conceituadas como de ordem publica. E não se pode negar, também, que nas regras jurídicas que se contem os sistemas concernentes ao Direito do Trabalho ocorre fusão inquestionável do interesse coletivo e do individual. Daí as dificuldades para fixar sua posição na enciclopédia jurídica: como direito publico, privado, social (tertium genus), misto ou como um todo unitário, contendo, embora, preceitos de direito publico e de direito privado.55
Será objeto de estudo a partir de agora, a atuação do Direito do
Trabalho dentro dos demais ramos do direito.
1.4.1 Direito público
Os que entendem o Direito do Trabalho como parte integrante
do direito público ponderam que nas relações de trabalho a manifestação de vontade
das partes fora substituída pela vontade do Estado, que por meio de leis imperativas
54 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 23. 55 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. p. 118.
26
e irrenunciáveis passa a intervir nos mais variados aspectos destas relações.56
Verifica-se, a priori, que no Direito Laboral existem normas de
natureza administrativas, principalmente de fiscalização trabalhista. Em segundo
plano, as normas trabalhistas têm natureza intuitiva, que protegem ao trabalhador.
Por conseqüência, se tornam imperativas, não podendo se olvidadas pelo
empregador, com objetivo de impedir, fraudar ou desvirtuar a aplicado desses
preceitos.57
Ou seja, para os autores supracitados, as normas trabalhistas
protegem o empregado, sendo assim, não podem os empregadores infringí-las, caso
contrario sofrerão conseqüências previstas na legislação.
1.4.2 Direito privado
A normas trabalhistas fazem parte do Direito Privado quando
regulam os contratos entre empregados e empregadores. Senão vejamos:
[...] os sujeitos dos contratos de trabalhos são dois particulares: o empregado e o empregador. A maioria das regras do Direito do Trabalho são de ordem privada, regulando o contrato de trabalho, que tem preponderância sobre a minoria das regras de Direito Público existentes na referida matéria.58
Sendo assim, a forma particular dos contratos entre os agentes
é que determina a natureza do direito.59
1.4.3 Direito social
Para Martins “todos os ramos do direito tem natureza social e
destinam-se a promover o bem-estar dos indivíduos na sociedade”60
Nesta linha de pensamento, o mesmo autor continua:
[...] é possível afirmar que o Direito, por natureza, é social, é feito para a sociedade, não se justificando que um dos ramos do Direito tenha esse nome. [...] Não pode haver Direito a não ser na
56 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 57 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 58 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 24. 59 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 60 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 24.
27
sociedade.61
1.4.4 Direito misto
A maioria dos juristas que estudam o Direito do Trabalho o
conceituam como misto, isto é, encontram-se regras tanto de direito publico, como
de direito privado, como faz notar Evaristo de Moraes Filho, a recente formação do
novo ramo jurídico, nascido da reação do Estado ao individualismo do direito
napoleônico representa bem as duas esferas estranhas: a pública e a privada.
Contudo, não restam duvidas que hoje em dia, a maior parte da corrente sobre a
natureza jurídica do Direito do Trabalho é tomada pelos que afirmam tratar-se de
regras mistas.62
1.4.5 Direito unitário
Numa posição mais extrema, da classificação do Direito do
Trabalho, surge o Direito Unitário. Neste teor, observa:
Evaristo de Moraes Filho (1991:111) defende a tese de que o Direito do Trabalho é um Direito unitário, que seria oriundo da fusão de ramos do Direito público e do Direito privado. [...] Na teoria do Direito unitário, o que existiria seria a fusão de normas de Direito público e privado, dando origem a uma terceira realidade, distinta e nova em relação às anteriores.63
Para os autores a cima, o Direito Unitário é visto como uma
terceira modalidade, surgindo da união do direito publico e do direito privado.
1.5 DAS FONTES DE DIREITO
Para Martins “O estudo das fontes de direito pode ter varias
acepções, como o de sua origem, o de fundamento de validade das normas jurídicas
e da própria exteriorização do Direito.”64
As fontes de direito se subdividem em formais e materiais. As
primeiras compreendem o conjunto dos fenômenos sociais, contribuem para a
formação da matéria do direito, são as fontes potenciais do direito. Já as formais são
os meios pelo qual se estabelece a norma jurídica, a diferença entre as duas está na 61 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 24. 62 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 63 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 64 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 37.
28
origem do conteúdo em confronto com a norma de direito.65
Quanto ao sentido das fontes formais e materiais:
Fontes formais são as formas de exteriorização do direito. [...] Fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos, etc.66
1.5.1 Fontes do direito do trabalho
No Direito do Trabalho as principais fontes enumeram-se nas
seguintes formas: leis, costumes, sentenças normativas, convenções coletivas,
regulamentos das empresas, e as jurisprudências dos tribunais.
A forma correta da hierarquização das fontes do direito do
trabalho ficam assentadas em dois princípios básicos. Sendo estas: a)
predominância da lei constitucional sobre todas as outras do ordenamento jurídico;
b) as normas imperativas de ordem publica se sobrepõem às de caráter supletório
da vontade.67
1.5.1.1 Leis
A lei é a regra de Direito abstrata, de caráter permanente, que
impõe-se a todos os cidadãos. Uma vez promulgada e publicada fica presumido que
esta se tornou conhecida por todos, anulando a hipótese de alegação de que a
desobediência à lei resultou de seu desconhecimento.68
É material a lei que encerra preceito jurídico de conduta, isto é, cria direito objetivo. Nela se reúnem, afinal de contas, os dois elementos da verdadeira norma jurídica, o material e o formal. É neste sentido que se fala da lei como fonte do direito, e particularmente do direito do trabalho.69
Para Brandão, a lei deve ser definida como: “[...] toda regra de
direito geral, abstrata e permanente, tornada obrigatória pela vontade da autoridade
65 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 66 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 37. 67 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2000. p. 55. 68 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito do trabalho. 69 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. p. 159.
29
competente para produzir direito e expressa numa fórmula escrita [...]”.70
Portanto, tem-se a lei como uma fonte do direito do trabalho,
uma vez que for promulgada e publicada, devendo ser obedecida, sem a possível
alegação de desconhecimento da mesma.
1.5.1.2 Costumes
Antigamente, o controle social era exercido por tradições
costumeiras que tornavam-se verdadeiras normas coletivas de conduta obrigatórias
sancionadas pela autoridade social. Tal como ocorria antigamente, ocorre no direito
do trabalho atual, tem-se o costume como uma fonte de direito, pois consiste no fato
de que determinada coletividade adota espontaneamente certa maneira de agir.71
Sobre o tema em tela, Amauri Mascaro Nascimento ressalta:
[...] exprimem o poder social, ou seja, o poder decisório anônimo do povo. Há “uma subconsciência social – por assim dizer – governando o aparecimento e a elaboração dos usos e costumes tendo falhado todas as tentativas no sentido de subordinar esses processos a esquemas estereotipados.”72
O costume tem sua origem na vida social, diferentemente da lei
escrita, que nem sempre é compatível com o comportamento social, como comprova
boa parte da legislação trabalhista brasileira. Os costumes vêm ter caráter jurídico
quando se repete, com uniformidade, através do tempo, ganhando força para ser
considerado fonte de direito.73
Em suma, os costumes são uma fonte de direito criada pela
coletividade, que adota determinados costumes como de grande importância para a
convivência coletiva.
1.5.1.3 Sentença normativa
A sentença normativa, é uma fonte típica do direito do trabalho.
Nada mais é do que a solução jurisdicional do conflito coletivo do trabalho. O limite
70 BRANDÃO, Cláudio Mascarenhas. Direito do trabalho: apontamentos para concurso. 2. ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 28. 71 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 72 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 73 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito do trabalho.
30
máximo da sua aplicação é a categoria representada pelo sindicato, dentro de sua
respectiva base territorial. Na composição dos conflitos de interesses a sentença
normativa é um ato jurisdicional, mas materialmente participa do poder constitutivo
da lei.74
O digníssimo jurista Arnaldo Süssekind continua a dissertar
sobre o tema:
A sentença normativa da Justiça do Trabalho estabelece uma regra geral, abstrata e impessoal. É um ato-regra, e, portanto, fonte do Direito. Materialmente é lei, embora tenha a forma de sentença.75
Sentença normativa e convenção coletiva de trabalho são as
representantes dos atos que fixam normas na forma compulsória, estas sendo
voluntárias e limitando-se às categorias que os sindicatos representam.76
1.5.1.4 Convenções Coletivas
Convenções coletivas são um misto de contrato e lei, portanto
devem ser consideradas fontes do direito do trabalho. Possivelmente a fonte que
melhor atende as exigências das relações de trabalho, visto que são instrumentos
de produção das normas jurídicas pelos próprios destinatários.77
Neste mesmo teor, Evaristo Moraes Filho dá continuidade ao
estudo:
A convenção coletiva de trabalho é a principal fonte normativa autônoma do direito do trabalho. sem intervenção de terceiros [...], compõem os interessados, diretamente, os seus conflitos coletivos. Invenção social e jurídica, surgida já no século XIX, embora regulada no XX, constitui a convenção verdadeiro pacto de paz entre capital e trabalho, exemplo típico de autodisciplina profissional. Verdadeiro auto-regra, funciona como lei profissional, colocando-se numa posição de meio termo entre a categoria e a lei geral do Estado, como legislação secundaria do trabalho [...]78
74 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 75 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. p. 156. 76 BRANDÃO, Cláudio Mascarenhas. Direito do trabalho: apontamentos para concurso. p. 28. 77 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 78 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. p. 161-162.
31
Por fim, a convenção coletiva de trabalho é uma fonte de direito
indispensável, uma vez que trata-se de um contrato bilateral com força de lei,
resguardando os direitos e deveres das partes contratantes.
1.5.1.5 Regulamento das empresas
Quanto ao regulamento das empresas, encontram-se
posicionamentos divergentes, em um primeiro momento analisaremos o
entendimento de Sérgio Pinto Martins, que se posiciona a favor do enquadramento
do regulamento das empresas como uma das fontes de direito do trabalho, senão
vejamos:
O regulamento da empresa vai vincular não só os empregados atuais da empresa, como também, aqueles que forem sendo admitidos no seus quadros. É, por conseguinte, uma fonte formal de elaboração de normas trabalhistas, uma forma como se manifestam as normas jurídicas, de ordem extraestatal, autônoma, visto que não são impostas por agente externo, mas são organizadas pelos próprios interessados.79
No entendimento de Evaristo de Moraes Filho, o regulamento
das empresas é uma fonte do direito do trabalho, pois não dissolvem estes, nos
concretos contratos de trabalho, suas clausulas aderem a estes, e assim tomam
vida. Entende-se que são normas no sentido impróprio, sua obrigação origina-se de
relações jurídicas contratuais. São normas que interessam a uma coletividade de
trabalhadores.80
Visto isso, passamos para a doutrina divergente, que por sua
vez, defende a não caracterização do regulamento da empresa como uma das
fontes de direito:
Quanto ao regulamento da empresa, estamos em que, no seu todo, não pode ser considerado fonte do direito. Nele se contem normas relativas ao problemas técnicos inerentes à organização produtiva e disposições sobre o objeto do contrato de trabalho.81
Portanto, ainda é matéria discutível, mas com certa
predominância na tese em que o regulamento da empresa é sim fonte de direito do 79 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. p. 41. 80 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 81 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. p. 166.
32
trabalho.
1.5.1.5 Jurisprudências dos tribunais
Para Süssekind a jurisprudência se transforma em fonte do
direito a partir do momento em que se converte em verdadeiro costume, pois é um
direito costumeiro de formação nova. O direito jurisprudencial é de fato direito
positivo aplicável.82
Outros doutrinadores tem entendimentos parecidos, senão
vejamos:
O art. 8o da CLT refere-se expressamente à jurisprudência como fonte das decisões judiciais quando a lei for omissa. Mesmo se excluirmos a sentença coletiva, não há negar que, no direito do trabalho, a jurisprudência desempenha imenso papel construtor, quase criador, na aplicação do direito objetivo. Ela muitas vezes como que pode ser considerada em verdade, o direito positivo aplicável, principalmente sob a forma de sumulas e enunciados.83
Conclui-se que a jurisprudência nasce como mero caso
julgado, mas em determinadas hipóteses, como omissão da lei, ou quando se
transformar em costume, passa a ter caráter de fonte de direito do trabalho.
82 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 83 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. p. 164.
33
Capítulo 2
DO CONTRATO DE TRABALHO
2.1 CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO DE TRABALHO
Em Portugal a definição de contrato de trabalho pode ser
encontrada no Art. 1o do anexo ao Decreto-Lei N. 49.408, sendo o contrato em que
uma pessoa exerce atividade intelectual ou manual à outra pessoa mediante
retribuição, sob direção e autoridade do contratante.84
Já no Brasil, um conceito básico do contrato do trabalho está
elencado no Art. 442 da Consolidação das Leis do Trabalho como sendo “o acordo
tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego”85.
O contrato de trabalho é um negócio jurídico onde uma pessoa
física ou jurídica recebe serviços habituais de pessoa física subordinada, mediante
pagamento de contraprestações.86
Nesta vertente:
[...] é um ato jurídico bilateral, que depende da livre manifestação da vontade de ambas as partes, para que sua celebração seja válida e possa surtir todos os efeitos práticos garantidos pela ordem jurídica. Por isso mesmo lhe são aplicáveis os ensinamentos da teoria geral dos contratos do direito comum, naquilo que não sejam incompatíveis com o direito do trabalho, principalmente no que diz respeito aos chamados vícios de consentimento.87
Outro conceito mais especifico trata o contrato de trabalho
como vinculo jurídico do tipo contratual com sujeitos, tendo como objetivo a atividade
do trabalhador e os direitos e deveres recíprocos dos sujeitos.88
Este Contrato de Trabalho Individual é oneroso, comutativo,
sucessivo, típico, informal, consensual, de adesão, embora possa ser paritário, por
84 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 85 BRASIL. Consolidação das leis do trabalho. 37 ed. São Paulo: LTr. 2010 86 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 87 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. p. 242-243. 88 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho.
34
exceção.89
Sendo assim, o contrato é o ajuste das vontades onde uma
pessoa física passa a estar ao dispor de uma pessoa física ou jurídica, fornecendo
sua energia pessoal, em caráter permanente, sendo subordinado e percebendo
retribuição, a fim de realizar os fins da empresa.90
2.1.1 Natureza jurídica do contrato de trabalho
As teorias mais modernas que pretendem explicar a natureza
jurídica do Contrato de Trabalho são as teorias Contratualista e a teoria
Anticontratualista.
Para a teoria anticontratualista, não existe relação contratual
alguma entre o empregado e o empregador. Entretanto, a teoria contratualista
reconhece a relação contratual entre o os sujeitos, entendendo o contrato de
trabalho com natureza contratual.91
Nascimento confirma o estudo supracitado, reconhecendo a
existência da teoria do contratualismo, assim como a do anticontratualismo, senão
vejamos:
Contratualismo é a teoria que, como o nome indica, considera a relação entre empregado e empregador um contrato. Seu fundamento reside numa tese. A vontade das partes é causa insubstituível e única que pode constituir o vínculo jurídico. A teoria anticontratualista reúne as correntes que negam a natureza contratual do vínculo entre empregado e empregador.92
Na teoria anticontratualista, é entendido que o trabalhador é
incorporado à empresa a partir do momento em que começa a trabalhar para o
empregador, inexistindo autonomia de vontade na formação de cláusulas
contratuais. A empresa é equiparada ao estado, que impõe regras aos funcionários
públicos (trabalhadores). O trabalhador entraria na empresa e começaria a prestar
serviços, sem qualquer discussão abrangendo as cláusulas do contrato de
89 FÜHRER, Maximilianus Cláudio Américo; FÜHRER, Maximiliano Roberto Ernesto. Resumo de Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2002. 90 PINTO, José Augusto Rodrigues. Repertório de Conceitos Trabalhistas. v.1. São Paulo: LTr, 2000. 91 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 92 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao Direito do Trabalho. p. 96.
35
trabalho.93
A legislação brasileira tem caráter misto, adotando em partes, a
teoria do contratualismo, e a do anticontratualismo.94
2.2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO DE TRABALHO
As condições essenciais para a realização de contrato de
trabalho exigem: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável
e forma prescrita ou não defesa em lei, conforme determinação do Código Civil
Brasileiro:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I – agente capaz;
II – objeto lícito, possível determinado ou determinável;
III – forma prescrita ou não defesa em lei.95
Sendo assim, se desobedecidas as regras impostas pelo Art.
104 do Código Civil de 200296, presume-se não satisfeitos os elementos essenciais
para a formação do contrato de trabalho.
2.3 CARACTERÍSTICAS JURÍDICAS DO CONTRATO DE TRABALHO
Acerca das características jurídicas do contrato de trabalho, o
nobre doutrinador sabiamente ressalta:
O Contrato de Individual do emprego se configura como bilateral (origina obrigações para ambos os sujeitos), Oneroso (beneficia a ambos os contratantes), Comutativo (gera obrigações certas para os contratantes, Continuado (não se esgota com a prática de ato único),
93 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 94 SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, José de Segadas. Instituições de direito do trabalho. 95 BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: HTTP://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 20 out. 2010. 96 BRASIL. Código Civil Brasileiro. Disponível em: HTTP://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 20 out. 2010.
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ou Sucessividade de trato).97
Partindo deste estudo, examinaremos melhor cada
característica no próximo item.
2.3.1 Bilateralidade do contrato de trabalho
O contrato de trabalho é bilateral, dependendo da manifestação
de vontade de ambas as partes para que sua celebração seja válida, e assim, surta
os efeitos práticos garantidos pela ordem jurídica.98
O mesmo autor ainda completa:
Por isso mesmo lhe são aplicáveis os ensinamentos da teoria geral dos contratos do direito comum, naquilo que não sejam incompatíveis com o direito do trabalho, principalmente no que diz respeito aos chamados vícios de consentimento.99
É um contrato sinalagmático perfeito, bilateral onde as
obrigações das artes são recíprocas e interdependentes.100
Para Roberto Norris:
[...] à qualificação dos negócios jurídicos, a bilateralidade vem representar aquele ato para cuja execução ou realização se faz necessária à presença de no mínimo dois agentes, sendo indispensável à existência de pessoas em pólo opostos.101
Temos com isto, a bilateralidade como a origem da obrigação
para ambos os sujeitos do contrato de trabalho.
2.3.2 Onerosidade do contrato de trabalho
Vale ressaltar que o contrato de trabalho é oneroso, por não se
tratar de um ato de boa vontade, a título gratuito. A prestação de serviço de uma das
partes obriga a outra ao pagamento de salário.102
97 PINTO, José Augusto Rodrigues. Repertório de conceitos trabalhistas. p. 154. 98 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 99 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. p. 242-243. 100 AZEVÊDO, Jackson Chaves de. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2001. 101 NORRIS, Roberto. Curso de direito do trabalho. 1 ed. São Paulo: LTR, 1998. p. 152. 102 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho.
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O contrato de trabalho nunca será gratuito, e sim oneroso, o
empregado recebe salários pelos serviços que presta ao empregador. O empregado
sempre terá o dever de prestar o serviços ao empregador, e este por sua vez
manterá a obrigação de pagar os salários devidos ao empregado pela prestação,
conforme citação supra.
O diploma legal consolidado é enfático ao tratar da
necessidade de salário para configuração do contrato de trabalho, como transcrito
infra:
Art. 3o – Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.103
Há necessidade do contrato de trabalho ser oneroso, caso
contrario, não havendo contraprestação de salário, figura a impossibilidade jurídica
de formar-se um contrato de trabalho.104
2.3.3 Comutatividade do contrato de trabalho
A comutatividade se manifesta dentro do contrato oneroso,
dando seguimento à idéia de comutatividade vem representar, relativamente ao
supramencionado contrato, a idéia no sentido de que os contratantes se obrigam ao
cumprimento de obrigações recíprocas.105
Para José Augusto R. Pinto:
Na Comutatividade se firmam equivalência de prestações certas para ambos os contratantes ou, ao contrario, se geram prestações incertas, porque dependentes de acontecimento também incerto para um ou ambos os sujeitos; fazem ver os doutrinadores que essa classificação alternativa dos contratos é decorrência direta da onerosidade.106
O contrato de trabalho é comutativo pois é diferente dos
contratos aleatórios, neles as partes acordam desde cedo as obrigações que
ajustam e as prestações que passam a dever com reciprocidade. A comutatividade
no contrato de emprego não é expressada instantaneamente, uma vez que não se
103 BRASIL. Consolidação das leis do trabalho. p. 43. 104 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito do trabalho. 105 NORRIS, Roberto. Curso de direito do trabalho. 106 PINTO, José Augusto Rodrigues. Repertório de conceitos trabalhistas. p. 127
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trata de contrato de realização instantânea destaca-se ao longo de sua duração.107
A Comutatividade no Contrato Individual de Trabalho resulta
nas obrigações equivalentes.
2.3.4 Continuidade do contrato de trabalho
Acerca da continuidade do contrato de trabalho, José Augusto
Pinto discorre:
A Continuidade é um elemento acidental que caracteriza a existência de um vinculo empregatício, por possibilitar a interferência do elemento permanência (e, muitas vezes, ate os demais elementos, por conseqüência da prestação diária de serviços)108
É necessário que o serviço prestado seja contínuo, e não
eventual. Entendendo como continuidade a possibilidade que contrato de trabalho e
da prestação de serviços têm em si de prolongar-se indefinidamente no tempo.
Cumpre ressaltar, que esta continuidade é relativa, pois podem se dar interrupções e
suspensões normais como repouso, licenças, férias etc. Importa somente
manifestarem as partes interessadas em se manterem engajadas para uma
prestação contínua.109
Em alguns contratos a obrigação cessa com uma única
prestação, como por exemplo no contrato de compra e venda, em que há o termino
da obrigação contratual com a entrega e o pagamento da coisa, já o Contrato de
Trabalho é um pacto de trato sucessivo, pois exige a continuidade dos serviços,
sendo assim, havendo eventualidade nos serviços, não configurar-se-á um contrato
de trabalho.110
2.3.5 Sucessividade do contrato de trabalho
A Sucessividade é o traço de caráter de salário que mostra seu
pagamento ao empregado em prestação sucessivas, que se repetem, conforme o
valor e a época de pagamento ajustados, enquanto perdurar o vinculo Individual de
107 AZEVÊDO, Jackson Chaves de. Curso de Direito do Trabalho. 108 PINTO, José Augusto Rodrigues. Repertório de Conceitos Trabalhistas. p. 138. 109 MORAES FILHO, Evaristo; MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao direito do trabalho. 110 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho.
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emprego.111
Deve ser considerado sinônimo de continuativo, pois é uma
operação de débito permanente, este contrato realiza-se paulatinamente através de
uma série de operações de crédito, e não em uma só operação.
2.3.6 Consensualidade do contrato de trabalho
O contrato de trabalho é um contrato consensual, pois detém
características em que predomina a vontade das partes, podendo esta ser
estabelecida tanto escrita quanto verbalmente.112
A Consensualidade é uma das características do Contrato
Individual de Trabalho. Ao afirmar isso, estamos nos referindo à idéia de
consentimento, uma vez que não surtirá efeito quando ausente este ultimo, por parte
dos contratantes.113
Sobre o tema:
O consenso é igualmente, um requisito da formação do Contrato de Trabalho, assim entendido como o consentimento de ambas as partes na celebração desta relação jurídica. Basta que das partes não manifeste sua concordância para que inexista o Contrato de Trabalho.114
Portanto, o contrato de trabalho para ser consensual, exige o
consentimento de ambas as partes.
2.4 OBJETO ILÍCITO E DO TRABALHO PROIBIDO
Após estudar o titulo supra, é sabido que o objeto do contrato
de trabalho somente poderá ter um fim lícito, e se assim não o for, não terá devida
proteção legal.
No entanto, alguns doutrinadores defendem a existência de
relação de emprego mesmo na prestação de serviços em atividades ilícitas,
alegando que, se é impossível devolver ao trabalhador a energia gasta na prestação
do serviço, deverá este ser indenizado com o equivalente, devendo levar-se em 111 PINTO, José Augusto Rodrigues. Repertório de Conceitos Trabalhistas. 112 AZEVÊDO, Jackson Chaves de. Curso de Direito do Trabalho. 113 NORRIS, Roberto. Curso de Direito do Trabalho. 114 MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 10 ed. São Paulo; Atlas, 2006. p. 93.
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conta o enriquecimento do tomador do serviço em virtude da prestação de serviço.
Sendo assim devidas as verbas trabalhistas ao obreiro. Outra corrente entende que
se é ilícita a atividade do empregador, este não terá direito a qualquer verba
trabalhista, pois o ato jurídico é ilícito.115
Sobre esta matéria, discorre:
O objeto de contrato de trabalho não pode ser proibido nem ilícito. Configura-se a primeira hipótese quando, por exemplo, o menor de 18 anos é contratado para trabalhar à noite ou sob condições perigosas ou insalubres (inciso XXXIII do art. 7o da Constituição Federal). A segunda hipótese, relativa ao objeto ilícito, desenha-se quando a atividade-alvo do contrato não se harmoniza com a moral nem com os bons costumes. Exemplo: a prostituta que se declara empregada de um prostíbulo.116
Deve-se ressaltar que trabalho ilícito difere de trabalho
proibido. O contrato é tido como contrario à moral e aos bons costumes, por isto,
não tem validade alguma. Já o trabalho proibido é vetado o emprego de
determinadas pessoas, tarefas, épocas ou condições. No caso do proibido, não é
totalmente nulo, pois trata-se de um ato anulável e prevalece o interesse privado
individual, sendo devidas verbas trabalhistas na ocorrência do trabalho.117
Portanto o trabalho proibido é lícito, mas é proibido a
determinadas pessoas, já o ilícito não pode se feito por nenhuma classe de
trabalhador.
2.5 ESPÉCIES DE CONTRATOS DE TRABALHO
Acerca das espécies de contratos de trabalho:
Os contratos de trabalho, em nosso sistema legal, são de duas classes: a) de tempo indeterminado e b) de tempo prefixado. No primeiro grupo é encontrado o contrato de trabalho de uso corrente, em que o empregado é admitido por tempo que não se determina antecipadamente. No segundo grupo, aninham-se os contratos de experiência, de aprendizagem e de obra certa.118
115 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 116 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito do trabalho. p. 179. 117 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 118 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito do trabalho. p. 153.
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O contrato de trabalho tem vocação e continuidade. O
empregador deve se identificar com objetivos do empregador, sendo a recíproca
verdadeira. E com isto pode-se observar a evolução do contrato de trabalho na
sociedade moderna, deixando de ser uma peça insignificante para ganhar projeção
e importância para os empregadores, e para o Direito moderno.119
2.5.1 Contrato por tempo indeterminado
O contrato por tempo indeterminado é conceituado pela própria
denominação, é o contrato onde as partes não estabelecem o prazo de vigência. É o
contrato mais comum em todos os países, tanto que no Brasil, o contrato por prazo
determinado deve ser justificado. Ou seja, o contrato por tempo indeterminado seria
a regra, e os demais, a exceção.120
Neste mesmo sentido:
[...] é aquele cuja vigência não tem termo prefixado, ou seja, não estipula ajuste quanto ao término dele. Quando não existe a determinação de um prazo, esse contrato passa a chamar-se Contrato por Prazo Indeterminado. Aquele que assume os riscos de uma atividade econômica e tem um trabalho permanente a ser executado deve admitir empregado por prazo indeterminado. O trabalho permanente (Prazo Indeterminado) tem como normas que regulam as relações individuais de trabalho a Consolidação das Leis do Trabalho. O Contrato Individual de Trabalho por Prazo Indeterminado pode ser acordado tácita ou expressamente, desde que corresponda a uma relação de emprego (Arts. 443 e 444 da CLT)121
A não determinação da duração do contrato acaba por realizar
na pratica, o principio da norma mais favorável, uma vez que o contrato sem prazo
fixado possui maior potencial para aquisição de direitos trabalhistas pretendidos pelo
empregado.122
Sobre o assunto, Martins leciona que os contratos de trabalho
podem ser por prazo indeterminado ou determinado (art. 443 da CLT). No contrato
de prazo determinado, as partes ajustam antecipadamente seu termo, enquanto no
contrato de prazo indeterminado não há prazo para a finalização do pacto laboral.
119 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual de Contrato de Trabalho. São Paulo: Atlas, 2000. 120 SAAD, Eduardo Gabriel. Curso de direito do trabalho. 121 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual de Contrato de Trabalho. p. 19. 122 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2002.
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Quando as partes nada mencionam quanto ao prazo, presume-se que o contrato
seja por prazo indeterminado, que é o mais utilizado. O contrato de trabalho de
prazo indeterminado não é, porém, um contrato eterno, mas apenas que dura no
tempo.123
2.5.2 Contrato por prazo determinado
Segundo o art. 443, § 1º da CLT, o contrato de trabalho por
tempo determinado é o contrato cuja vigência dependa de termo prefixado ou da
execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo acontecimento
susceptível de previsão aproximada, senão vejamos:
Art. 443. [...]
§ 1º Considera-se como prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada.124
Existem requisitos para que esta modalidade de contrato seja
celebrada, o artigo 443 da CLT estabelece em seu parágrafo 2o em que situações o
Empregado pode ser contratado por prazo determinado, senão vejamos:
Art. 443. [...]
§ 2º O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando:
a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo;
b) de atividades empresariais de caráter transitório;
c) de contrato de experiência.125
Acerca dessas hipóteses, Martins leciona:
O serviço de natureza transitória é o que é breve, efêmero, temporário. Aqui está se falando de serviço transitório e não de atividade empresarial de caráter transitório. [...] A transitoriedade deverá ser observada em relação às atividades do empregador e não do empregado, de acordo com as necessidades de seu empreendimento. As atividades empresariais de caráter transitório dizem respeito a empresa e não ao empregado ou ao serviço. Seria o caso de criar uma empresa que apenas funcionasse em certas