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SALVADOR, QUARTA-FEIRA , 5/3/2008 VIVIANE RANGEL | DIVULGAÇÃO LUBISCO | DIVULGAÇÃO EDITORA Symona Gropper Caderno2 [email protected] LIVRO O jovem cronista baiano Ricardo Cury lança, amanhã, seu primeiro livro, Para colorir . Oriundo da cena rock local, Cury conta em textos leves e sintéticos as dores e delícias de ser músico independente na Bahia, além de experiências de viagem | 3 | OSBA DÁ INÍCIO HOJE À TEMPORADA DE CONCERTOS DE 2008 SHOW O músico carioca Pedro Moraes abre temporada de shows todas as quintas-feiras, no Teatro Gamboa Nova, para lançar o primeiro CD solo, Claroescuro. Avesso a rótulos, Moraes persegue na sua arte a evolução da música brasileira, com ênfase na canção | 2 | |3| ADENOR GONDIM |27.07.07 Dylan em apresentação na Cidade do México, no início da parte latino-americana da turnê. Um dos pontos altos do show é o clássico Like a Rolling Stone. que faz a platéia vibrar. No palco, ele toca guitarra, gaita e teclado FOTOS FERNANDO ACEVES | EFE MARINA NOVELLI E RODRIGO SOMBRA [email protected] [email protected] São Paulo e Rio de Janeiro rece- bem o talvez mais representati- vo cantor americano da segun- da metade do século XX, hoje, amanhã e sábado. Bob Dylan desembarca no País pela quarta vez para mais uma apresenta- ção da sua Never Ending Tour . O show traz canções de seus últimos discos, Time Out of Mind (1997), Love and Theft (2001) e Modern Times, álbum lançado em 2006 que chegou ao topo da Billboard . Estão incluídas ainda no re- pertório canções sessentistas como Like a Rolling Stone , Blowin’ in the Wind e All Along the Watchtower , todas executa- das em sua última apresenta- ção, em Guadalajara, México, no último dia 3. SURGE UM TROVADOR – No inverno rigoroso do ano de 1961, Bob Dylan podia sentir a América mudando. “Nova Ior- que era o melhor lugar para se estar. Minha consciência estava começando a mudar também, a mudar e a se expandir. Uma coi- sa era certa: se eu quisesse com- por canções de folk, precisaria de algum tipo de modelo novo, alguma identidade filosófica que não se desgastasse. Ela teria que vir de fora e por si mesma. Sem que eu soubesse exata- mente, isso estava começando a acontecer”, escreve Dylan em suas Crônicas (lançadas no Bra- sil pela Planeta, em 2005). No ano seguinte, gravaria The Freewheellin´ Bob Dylan, com canções rabiscadas em pa- pel amarrotado no bolso de sua jaqueta: Blowin´in the Wind , Don´t Think Twice, It´s All Right, Masters of War , e entraria para a história da música popular. Ele achara o modelo de suas can- ções folk e com isso inventara a si mesmo. Figura central do renasci- mento da música folclórica americana, Dylan despontava como herdeiro de Woody Gu- therie, lendário compositor folk que homenageou em sua pri- meira música, Song to Woody , quando tinha 20 anos. Com composições inspira- das no fraseado verborrágico da poesia beat, baladas de amor e versos poderosos que encapsu- lavam as inquietações dos pares de sua geração, ele atingiu em cheio corações e mentes. FOLK ELETRIFICADO – Três ál- buns depois, a primeira e mais polêmica reinvenção de sua fi- gura veio através da guitarra elé- trica. Em Highway 61 Revisi- ted(1965), Dylan escandalizou a comunidade folk ao amplificar a acústica tradicional e adicio- nar peso e ironias àquelas can- ções de origem proletária com- prometidas em narrar os desca- minhos da vida do homem ru- ral, canções engajadas. Sua mú- sica mais popular, Like a Rolling Stone, foi gravada nesse disco. A provocação de Bob Dylan aos dogmas do cancioneiro folk lhe renderiam a acusação de Ju- das e volumosas vaias durante suas turnês entre os anos de 1965 e 1967. Mais do que isso, ocasionaria episódios de céle- bre disparate, como quando Pe- ter Seeger, um dos organizado- res do festival de Newport, ameaçou – num arroubo puris- ta – investir contra os cabos que ligavam as guitarras de Dylan com machado em punho. Eletrificado, Dylan gravaria clássicos como Blonde on Blon- de e Blood on the Tracks (este úl- timo tido pela crítica como seu melhor disco) e daria de ombros para o zeitgeist dos anos 60, com suas marchas, protestos e des- bunde da geração hippie, refu- giando-se com a família em uma fazenda, por anos. Nesse hiato, Dylan ainda en- contraria tempo para escrever o livro de poemas Tarântula , con- vidar o dramaturgo e roteirista Sam Shepard para rodar o longa Renaldo e Clara e con- verter-se ao cristianis- mo. Em seu controverso período como cristão re- nascido, o cantor e compositor não só desagradou sua família – de origens judaicas – como en- frentou um declínio criativo, em discos repletos de canções funda- mentalistas e clichês religiosos. No final dos anos 80, mais precisamente em 89, Dylan da- ria outra guinada em sua carrei- ra. Abandonando parcialmente sua verve religiosa, lançaria Oh Mercy , disco que deu origem à chamada Never Ending Tour . BOB DYLAN EM THE NEVER ENDING TOUR | Hoje e amanhã, 22h, Via Funchal, São Paulo | Dia 8, 22h, Rio Arena, Rio de Janeiro | www.viafunchal.com.br e www.rioarena.com.br “A cena da música folk havia sido um paraíso do qual eu tinha que sair. Dentro de pouco anos, se desencadearia uma tempestade de bosta. As coisas começariam a ser queimadas. Sutiãs, certificados de alistamento, bandeiras americanas” Bob Dylan, em seu livro Crônicas NA ESTRADA Bob Dylan chega ao País com sua ‘Turnê Sem Fim’. São dois shows em São Paulo e um no Rio de Janeiro O retorno do bardo ao Brasil

O Retorno do Bardo ao Brasil

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Turnê de Bobo Dylan pelo Brasil, março de 2008 Matéria de Capa do Caderno 2, do Jornal A Tarde.

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Page 1: O Retorno do Bardo ao Brasil

S A LVA D O R ,Q U A RTA - F E I R A ,5/3/2008

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EDITORASymona Gropper Caderno 2

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LIVRO ❙ O jovem cronista baiano Ricardo Cury lança, amanhã,seu primeiro livro, Para colorir. Oriundo da cena rock local, Curyconta em textos leves e sintéticos as dores e delícias de ser músicoindependente na Bahia, além de experiências de viagem | 3 |

OSBA DÁ INÍCIO HOJEÀ TEMPORADA DECONCERTOS DE 2008

SHOW ❙ O músico carioca Pedro Moraes abre temporada de showstodas as quintas-feiras, no Teatro Gamboa Nova, para lançar o primeiroCD solo, Claroescuro. Avesso a rótulos, Moraes persegue na sua arte aevolução da música brasileira, com ênfase na canção | 2 |

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Dylan em apresentação na Cidade do México, no início da parte latino-americana da turnê. Um dos pontos altos do show é o clássico Like a Rolling Stone. que faz a platéia vibrar. No palco, ele toca guitarra, gaita e teclado

FOTOS FERNANDO ACEVES | EFE

MARINA NOVELLI E RODRIGOSOMBRAm n o v e l l i @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

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São Paulo e Rio de Janeiro rece-bem o talvez mais representati-vo cantor americano da segun-da metade do século XX, hoje,amanhã e sábado. Bob Dylandesembarca no País pela quartavez para mais uma apresenta-ção da sua Never Ending Tour.

O show traz canções de seusúltimos discos, Time Out ofMi n d (1997), Love and Theft(2001) e Modern Times, álbumlançado em 2006 que chegou aotopo da Bi l l b o a rd .

Estão incluídas ainda no re-pertório canções sessentistascomo Like a Rolling Stone ,Blowin’ in the Wind e All Alongthe Watchtower, todas executa-das em sua última apresenta-ção, em Guadalajara, México,no último dia 3.

SURGE UM TROVADOR – Noinverno rigoroso do ano de1961, Bob Dylan podia sentir aAmérica mudando. “Nova Ior-que era o melhor lugar para seestar. Minha consciência estavacomeçando a mudar também, amudar e a se expandir. Uma coi-sa era certa: se eu quisesse com-por canções de folk, precisariade algum tipo de modelo novo,alguma identidade filosóficaque não se desgastasse. Ela teriaque vir de fora e por si mesma.Sem que eu soubesse exata-mente, isso estava começando aacontecer”, escreve Dylan emsuas Crônicas (lançadas no Bra-sil pela Planeta, em 2005).

No ano seguinte, gravariaThe Freewheellin´ Bob Dylan,com canções rabiscadas em pa-pel amarrotado no bolso de suajaqueta: Blowin´in the Wind ,Don´t Think Twice, It´s All Right,Masters of War, e entraria para ahistória da música popular. Eleachara o modelo de suas can-ções folk e com isso inventara asi mesmo.

Figura central do renasci-mento da música folclóricaamericana, Dylan despontavacomo herdeiro de Woody Gu-therie, lendário compositor folkque homenageou em sua pri-meira música, Song to Woody,quando tinha 20 anos.

Com composições inspira-das no fraseado verborrágico dapoesia beat, baladas de amor eversos poderosos que encapsu-lavam as inquietações dos pares

de sua geração, ele atingiu emcheio corações e mentes.

FOLK ELETRIFICADO– Três ál-buns depois, a primeira e maispolêmica reinvenção de sua fi-gura veio através da guitarra elé-trica. Em Highway 61 Revisi-ted(1965), Dylan escandalizou acomunidade folk ao amplificara acústica tradicional e adicio-nar peso e ironias àquelas can-ções de origem proletária com-prometidas em narrar os desca-minhos da vida do homem ru-ral, canções engajadas. Sua mú-sica mais popular, Like a RollingSt o n e, foi gravada nesse disco.

A provocação de Bob Dylanaos dogmas do cancioneiro folklhe renderiam a acusação de Ju-das e volumosas vaias durantesuas turnês entre os anos de1965 e 1967. Mais do que isso,ocasionaria episódios de céle-bre disparate, como quando Pe-ter Seeger, um dos organizado-res do festival de Newport,ameaçou – num arroubo puris-ta – investir contra os cabos queligavam as guitarras de Dylancom machado em punho.

Eletrificado, Dylan gravariaclássicos como Blonde on Blon-de e Blood on the Tracks (este úl-timo tido pela crítica como seumelhor disco) e daria de ombrospara o ze i t g e i s t dos anos 60, comsuas marchas, protestos e des-bunde da geração h i p p i e, refu-giando-se com a família emuma fazenda, por anos.

Nesse hiato, Dylan ainda en-contraria tempo para escrever olivro de poemas Ta r â n t u l a , con-vidar o dramaturgo e roteiristaSam Shepard para rodar o longa

Renaldo e Clara e con-verter-se ao cristianis-mo. Em seu controverso

período como cristão re-nascido, o cantor e compositornão só desagradou sua família –de origens judaicas – como en-frentou um declínio criativo, emdiscos repletos de canções funda-mentalistas e clichês religiosos.

No final dos anos 80, maisprecisamente em 89, Dylan da-ria outra guinada em sua carrei-ra. Abandonando parcialmentesua verve religiosa, lançaria OhMe rc y, disco que deu origem àchamada Never Ending Tour.

BOB DYLAN EM THE NEVER ENDINGTOUR | Hoje e amanhã, 22h, ViaFunchal, São Paulo | Dia 8, 22h, RioArena, Rio de Janeiro |www.viafunchal.com.br ew w w. r i o a r e n a . c o m . b r

❛“A cena da músicafolk havia sido umparaíso do qual eutinha que sair.Dentro de poucoanos, sedesencadearia umatempestade debosta. As coisascomeçariam a serqueimadas. Sutiãs,certificados dealistamento,bandeirasamericanas”

Bob Dylan, em seu livroCrônicas ❚

NA ESTRADA ❚ Bob Dylanchega ao País com sua‘Turnê Sem Fim’. Sãodois shows em São Pauloe um no Rio de Janeiro O retorno do

bardo ao Brasil