O Rosmaninho Em Portugal

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  • 7/25/2019 O Rosmaninho Em Portugal

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    O Rosmaninho em Portugal

    Se gosta de caminhar pelo campo, certamente j teveo privilgio de encontrar campos pintados com o lils

    do rosmaninho e perfumados pelo seu odor. Venhaconnosco numa visita guiada aos rosmaninhos dePortugal.

    Pedro Bingre

    Quem percorrer os descampados ibricos meridionais, a sul do Minho e da "Espanha verde"(nome dado s regies setentrionais da Galiza, Astrias, !antbria, #a$s %asco&&& onde oclima n'o mediterrnico), durante os meses de #rimavera e *er'o, +icar com certezaencantado com os per+umes ue lhes enriuecem os ares& E para chamar-lhes "per+umes" dispensvel ter um nariz muito apurado ou um sentido potico das coisas, pois os odores

    ue as ervas e os arbustos ue a$ encontramos s'o de +acto t'o intensos, t'o ricos e t'ounanimemente apreciados ue podemos, com ob.ectividade, dar-lhes esse nome& / di+$cilpercorrer as serras calcrias do 0este estremenho portugu1s sem se cheirar o tomilho ou oalecrim2 di+$cil passar um regato sem detectar o odor da hortel' ou do poe.o2 imposs$velcorrer o sul do Alente.o sem ue os vapores da esteva nos acalmem2 e muito improvvelue nas caminhadas n'o topemos, mais cedo ou mais tarde, com alguma espcie derosmaninho& 3izemos "alguma espcie" porue na verdade poss$vel encontrar cincoespcies de rosmaninho em #ortugal, embora o vernculo as rena sob um nico nomevulgar&

    4egundo a nomenclatura empregue pela ta5onomia botnica, todos os rosmaninhospertencem ao gnero Lavandula6&& (!uriosamente, apesar de a nomenclatura botnica serredigida em latim, e de o portugu1s ser uma l$ngua neolatina, podemos veri+icar ue ognero Rosmarinus6&, t'o abundante em #ortugal na espcie Rosmarinus officinalis6&,

    recebeu o nome vernculo de&&& alecrim, em lugar de rosmaninho7)&

    0s rosmaninhos portugueses s'o todos eles peuenos arbustos lenhosos, +acilmenteidenti+icveis pelo aroma (parecido, mas n'o muito, ao da al+azema da per+umaria) e pelasespigas violetas ue coroam a peuena copa& Estas espigas, geralmente peuenas (8 a 9cm), s'o compostas por peuenas +lores tubulares e labiadas, aninhadas entre brcteasuase da mesma cor, estando o con.unto (no caso das espcies L. pedunculata(Miller)!av&, L. luisieri(:ozeira) :ivas-Mart$nez e L. viridisr&) completado por tr1s longas brcteaspetal;ides violetas, lilazes ou brancas ue en+eitam o topo da espiga em .eito de penacho(ver +otogra+ia)& Acham-se por uase todas as regies do pa$s, +ormando os matorrais ue

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    primeiro colonizam os terrenos privados de coberto arb;reo ou arbustivo alto2 na#rimavera chegam a tingir de violeta enormes e5tenses de incultos por todo o sul, interiore oeste portugueses& Em

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    0 conhecimento cient$+ico dos rosmaninhos portugueses tem uma hist;ria pr;pria& Asespcies portuguesas de Lavandula+oram sendo descobertas e destrin@adas ao longo devrios sculos& %rotero, na sua #lora Lusitanica(9F), assinalava apenas L. spica6& (aal+azema cultivada, n'o espontnea), L. stoec"as6& e L. multifida6&& Mais de um sculodepois, estando o pa$s melhor investigado por botnicos nacionais e estrangeiros, . #ereira!outinho descrevia na #lora de Portugal(8H edi@'o, IJ) cinco espciesC tr1s id1nticas sdescritas por %rotero (+azendo notar ue a 6& stoechas 6& portuguesa pertencia variedadepedunculata!av& dessa mesma espcie) , e ainda L. latifolia*illars e L. viridisAit& A $ova#lora de Portugalde Amaral Kranco (I9), obra actualmente tida como a re+er1ncia maiscorrecta para este gnero do nosso pa$s, re+ere cinco espciesC constata ue a+inal a L.stoec"asue se supunha e5istir aui um par de espcies distintasC L. pedunculatae L.luisieri(reconhecendo portanto ue a verdadeira L. stoec"as, comum em Kran@a, n'oocorre por c)2 L. viridis2 L. latifoliae L. multifida2 alude ainda ao cultivo da al+azema(nome atribuido a vrias espciesC L. dentata6&, L. spica6&, L. angustifolia6& e, por vezes,s . re+eridas espontneas L. latifoliae L. multifida)&

    0 gnero Lavandula, por seu turno, pertence +am$lia das 6amiceas ou, como melhorconhecida, 6abiadas& :ecebem este nome porue todas possuem +lores tubulares cu.a"boca" termina em dois lbios (superior e in+erior) ou, mais raramente, num s;& Muitas s'oas espcies de labiadas a ue o >omem d aplica@'oC o poe.o (%ent"a pulegium6&), opatchouli (Pogostemon cablin(%lanco) %enth&), o bas$lico (&cimum basilicum6&), oman.erico (&cimum minimum6&), a segurelha (!atureja "ortensis6&), o alecrim(Rosmarinus officinalis6&), a salva (!alviaspp&)& 4'o caracter$sticas de climasmediterrnicos e sub-tropicais, embora algumas suportem bem climas mais +rios&

    Apesar de t'o abundantes no nosso pa$s, os rosmaninhos parecem estar a desaparecer

  • 7/25/2019 O Rosmaninho Em Portugal

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    velozmente das tradi@es portuguesas, particularmente no ue respeita culinria rsticae aplica@'o paisagista& Em ualuer hipermercado poss$vel comprar pouuitos ramosde rosmaninho (geralmente L. pedunculataou L. luisieri) por duas ou tr1s centenas deescudos, mesmo uando o e5terior do pr;prio estabelecimento est rodeado de matosdessa espcie7 E o mesmo se repete para o poe.o, o alecrim, a hortel, o tomilho&&&abundantes por tantas ribeiras& 4er ue as novas gera@es de cozinheiros . n'oconseguem identi+icar no campo os ingredientes habituais da cozinha verncula de outroraLE outro tanto sucede nos .ardins ue a cada passo plantamos&&& onde se instalam uasesempre espcies e5;ticas de Lavandula, enuanto noutros pa$ses se aprecia bastantea.ardinar com as portugues$ssimas Lavandula pedunculata, L. luisieri, e mesmo orosmaninho-verde (L. viridis), ue praticamente ignorado aum-+ronteiras& 6eiam-se,por e5emplo, algumas publica@es da Royal 'orticultural !ocietypara constatar como nomundo do paisagismo anglo-sa5;nico estas espcies s'o estimadas&

    !omo a publica@'o deste artigo decorre . em pleno *er'o, o leitor encontrar peloscampos o . t'o gabado odor do rosmaninho, mas in+elizmente encontrar as suas belasespigas +lor$+eras . secas&