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2.

O Roteirista Profissional - Marcos Rey

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Técnica para criar roteiros para áudiovisuais.

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Introduo -

1. Idia - story-line - argumento ou sinopse: trs fases

anteriores ao roteiro

A idia: o primeiro chute na bola

Como encontr-Ia: a agulha no palheiro

Qual seu gnero ficcional preferido?

Surge a idia: c agora?

Story-line: Shakespearc pode ajudar

O argumento: o bolo comea a crescer

Idia, story-line e argumento

2. Antes de levar o argumento ao forno, confira:

localizao - poca - destinao - mensagem

Localizao e poca

O pblico a que se dirige: sucesso ou qualidade?

E aquela histria de mensagem? A moral da fbula

O que j foi dito, redito rapidinho

3. Sobre o que no deve haver dvidas: gneros

plot- narrativa - ingredientes e temperos

A escolha do gnero: apenas uma questo de rtulo

O plot

Quem conta a histria: voc ou ele?

Ingredientes: sempre falta alguma coisa

4. Os personagens: s vezes eles so a prpria

histria -

A entrevista: no responda por ele, deixe-o falar

Tipos e prottipos

5. O roteiro: comece assim ...

O diretor precisa saber No esquea as rubricas

6. Dilogo: mais arte que tcnica No olhe para a tela

Solilquio: para cmicos e doidos O dilogo c suas modulaes

O subtcxto: o invisivcl intcligcnte Dilogos adicionais

Personagens do "al qucm fala?" A ameaa dos dialoguistas

7.A imagem: os planos, cortes e flashback Cenas e suas subdivises Os planos: enquanto assiste a um filme, classifique-os O inicio e o final das cenas

Flashhack: o passado explicando o presenteInserts 8. O roteirista e quem paga a conta

9.Adaptao: a quase impossibilidade do aplauso unnime

Aqui tambm o bom-senso mais importante que qualquer regra

Uma adaptao infanto-juvenil

10. Entrevista (ou mero papo): o aprendiz de roteirista faz perguntas ao veterano

11. Memorial ainda no-computadorizadoO rdio: a primeira escola de roteiristas

O telerrdio: a imagem como simples decorao O teipe muda tudo E depois? _ 12. Trechos contnuos de um roteiro para televiso

Uma auto-adaptao

13.. A Moreninha na tev 14. Vocabulrio crtico

IntroduoSei que seria mais direto c aparentemente mais didtico reunir neste livro uma seqncia de frmulas como os norte-americanos fazem, com incomparvel habilidade, quando transmitem conhecimentos prticos. Em seus Do it yourself, sempre de grande vendagem, o leitor pode at sentir sobre a sua a mo do autor, emprestandolhe msculos, tendes e experincia para produzir deleitosos objetos de fim de semana: de um porta-retrato a uma estante sofisticada ou como transformar um liqidificador quebradq num brinquedo espacial para o caulinha. Mas - lamentavelmente - o Siga as Instrues, com seus desenhos milimetrados, setas e linhas pontilhadas, no funciona com igual segurana quando o material de trabalho so as palavras e o objeto a ser produzido um roteiro para cinema ou tev.

Fazendo esse tipo de ponderao, que revela minha incapacidade para criar frmulas mgicas, optei nesta empreitada, alm de certas normas, pela transmisso de experincias pessoais, o que aprendi e o que tive de desaprender: estradas, atalhos e becos sem sada duma carreira que ao longo de algumas dcadas somou sucessos e fracassos - estes sempre mais teis - como roteirista de cinema, tev e rdio.

11. Alm do mais, rebelar-se contra regras fixas, procura dum caminho pessoal, no geral a melhor manifestao de talento dum aprendiz de qualquer ofcio. No pretendo ensinar como se prepara drinques. No mximo voc aprender selecionar bebidas e sacudir com time profissional a coqueteleira.

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Idia - story-line argumento ou sinopse: trs fases anteriores ao roteiro

A idia: o primeiro chute na bola

A idia o tomo. Voc quer fazer um roteiro de cinema ou tev, no? Ouviu dizer que se paga bem e que se pode escrev-Io em casa, livre do relgio de ponto e da conduo. Mas preciso partir de alguma coisa, de alguma idia.

Que tal a histria dum homem e duma mulher que se conhecem em Paris, pouco antes da chegada dos nazistas, apaixonam-se perdidamente, e no dia da entrada dos alemes na cidade marcam um encontro numa estao ferroviria, ao qual ela no comparece. Desiludido, ele foge com um pianista negro para o norte da frica, abre uma boate, e, quando menos espera, sua amada ressurge com o ...

Desista. Isso j foi feito. Chama-se Casablanca. Afinal, voc tem ou no uma idia? Como encontr-Ia: a agulha no palheiro

Dizem que a melhor forma de se encontrar uma agulha num palheiro sentando-se nele. Se sentir a picada, encontrou a agulha. Nada vem do nada. E muito menos as idias, produtos de trs vertentes: vivncia, leitura e imaginao.

12. 13. Vivncia: Graciliano Ramos no teria escrito Memrias do crcere se no tivesse sido preso na ditadura Vargas. Dostoievski, em certo perodo da vida, viciou-se na roleta: escreveu O jogador. Knut Hansun vagou pela Europa inteira sem ter o que comer, antes de escrever sua obra-prima, Fome. Mximo Gorki viveu anos perseguido pelos agentes da polcia poltica, da ter escrito com xito O espio. Hemingway no teria publicado Por quem os sinos dobram, se no tivesse participado ativamente da guerra civil espanhola.

Voc tambm deve ter vivido uma experincia que lhe deixou sua marca ou cicatriz mesmo sem ter se metido em grandes aventuras. Xavier de Maistre no escreveu Viagens ao redor de meu quarto? Procure na infncia, sempre rica de sugestes. Quem sabe um dos amores da juventude? Guerras conjugais, choques com os patres, doenas, ideais polticos? No se preocupe muito com originalidade; qualquer idia, mesmo muito usada, pode ter suas impresses digitais, diferenando-se do que j foi feito.

s vezes a idia no nasce de fatos que voc viveu, mas que aconteceram a pessoas do seu meio, parentes, amigos ou conhecidos. Acontecimentos que o impressionaram. O que a memria retm sempre d histria.

Leitura: o bom rotemsta normalmente o que leu muito e que continua atualizado com a literatura, a grande fonte para qualquer gnero ou formato de fico. Claro que as tcnicas do romance nada tm a ver com as do cinema e tev, mas a o que interessa ' o contedo, a criao de personagens, o clima e a dialogao.

A literatura d a base, o brilho, a ambio. Ainda no conheci um bom roteirista que no fosse um viciado consumidor de romances, tanto que a grande maioria dos filmes estrangeiros so baseados em contos, romances e peas teatrais. No Brasil, onde se l pouco, os produtores no exploraram suficientemente essa fonte. Notveis contistas e romancistas nacionais nunca foram adaptados. Mas adaptao tema do qual trataremos mais tarde. O que quero dizer por enquanto que a leitura revigora e abre as possibilidades dum roteirista.

Imaginao: a mais contestvel propulsora de idias, a menos confivel. Muitas vezes o que se supe uma bolao de momento no passa duma lembrana transfigurada. Algo que se leu ou

que se viu no cinema ressurgindo com a fora duma criao original. Certamente Jlio Verne e H. G. Wells foram autores muito imaginativos, porm ao escrever Dom Casmurro, Maehado de Assis, narrando um simples caso de adultrio, no recorreu muito a ela.

O que se conclui que no necessrio descobrir uma pedra rara, nica, para resultar num bom roteiro. Mesmo o lugar-comum, quando recriado, personalizado, corretamente desenvolvido, tornase um trabalho de qualidade, e imaginativo.

Qual seu gnero ficcional preferido?

Sua idia vir atrelada a um gnero de fico. Ser comdia, drama, policial ou o qu? Atente para suas tendncias naturais. Se detesta comdias no ser por a que ir procurar sua idia. Saber o que no se vai fazer j um passo frente.

Concentre-se. O que mais o preocupa ou o encanta? O que mais voc odeia?

O dio tambm uma fora criativa. No o dispense. Cervantes no suportava os romances sobre cavaleiros andantes e decidiu acabar com eles, em seu Dom Quixote. Voltaire era outro que escrevia rangendo os dentes.

Depois de ver bem claro o gnero de sua preferncia, a idia pode tornar-se um parto indolor. Mas no se desespere se a idia no sair. Justamente por estar prxima s vezes menos visvel.

Surge a idia: e agora? timo que j tenha a idia, mas, cuidado. Registre-a logo na SBAT, Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, ou a mantenha em segredo. No meio pululam os salteadores de idias que, quando flagrados, costumam dizer que o importante no a histria, porm seu tratamento. As maiores vtimas, no entanto, so os autores consagrados, com direitos autorais prescritos. Roubam tudo dos falecidos, principalmente os dentes de ouro.

E agora?

Precisa testar a idia, verificar se ela pra de p, se tem consistncia, contextura. a hora da story-line.

14. Story-line: Shal