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Raízes de uma luta política sempre acirrada PÁGINA 6 Ano XIII • nº 158• 1 a 31 de maio de 2013 • Saquarema • Rio de Janeiro www.osaqua.com.br • Diretora: Dulce Tupy Parabéns, Saquarema, pelos 172 anos! U ma edição muito an- tiga, publicada em Portugal no século 18, foi reeditada em 2007 pela Secretaria Estadual da Cultura do Rio de Janeiro, onde é descrito o Círio de Nazareth de Saquarema, o mais antigo do Brasil. Além da descrição da igre- ja e da imagem da santa, o livro registra usos e costumes locais. Escrito por Frei Agostinho, é uma verdadeira obra-prima, só agora revelada ao público. Página 3 A cidade comemora seus 172 anos de emancipação po- lítico-administra- tiva e o jornal O SAQUÁ traz uma edição histórica em ho- menagem a esta data significa- tiva, que deu ao município au- tonomia política, porém sem esquecer suas origens, seus grandes nomes, sua cultura. Vista aérea do Centro da cidade GILDÉSIO EDIMILSON SOARES Casamento selou a paz entre famílias A s tradicionais famílias Nunes e Men- donça fazem parte da história polí- tica e econômica do município. Em 1959, o casamento de Elzira e Simeão selou a paz entre as duas famílias que, até então, eram adversárias políticas. O ex-vereador Si- meão Nunes abriu mão de uma carreira na Câmara, para se dedicar ao primeiro posto de gasolina da cidade, o Posto Bacaxá, hoje na Rodovia Amaral Peixoto. Páginas 8 e 9 O casamento de Elzira Mendonça e Simeão Nunes foi notícia em Saquarema e repercutiu até em Niterói EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL EDIÇÃO ESPECIAL Folia do Divino mantém tradição milenar em Saquarema Livro descreve Círio de Nazareth A Festa do Divino é um festejo religioso por- tuguês que chegou ao Brasil com os colonizadores. O costume se mantém até hoje em vários municípios no Rio Janeiro e, nos últimos anos, foi resgatado em Saquarema o le- vantamento do mastro que fica junto à igreja de N. Sra. de Na- zareth, nos dias que antecedem o folguedo. Página 7 HISTÓRIA O mastro do Divino percorre as ruas da cidade

O Saquá 158

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Edição de maio de 2013 do jornal O SAQUÁ, de Saquarema, Rio de Janeiro. O Jornal O SAQUÁ é produzido mensalmente em Saquarema pela Tupy Comunicações, distribuído na Região dos Lagos e enviado para assinantes no Brasil inteiro.

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Page 1: O Saquá 158

Raízes de uma luta política sempre acirradaPÁGINA 6

Ano XIII • nº 158• 1 a 31 de maio de 2013 • Saquarema • Rio de Janeiro www.osaqua.com.br • Diretora: Dulce Tupy

Parabéns, Saquarema, pelos 172 anos!

Uma edição muito an-tiga, publicada em Portugal no século 18, foi reeditada em

2007 pela Secretaria Estadual da Cultura do Rio de Janeiro, onde é descrito o Círio de Nazareth de Saquarema, o mais antigo do Brasil. Além da descrição da igre-ja e da imagem da santa, o livro registra usos e costumes locais. Escrito por Frei Agostinho, é uma verdadeira obra-prima, só agora revelada ao público. Página 3

A cidade comemora seus 172 anos de emancipação po-lítico-administra-

tiva e o jornal O SAQUÁ traz uma edição histórica em ho-menagem a esta data significa-tiva, que deu ao município au-tonomia política, porém sem esquecer suas origens, seus grandes nomes, sua cultura.

Vista aérea do Centro da cidade

GILDÉSIO

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Casamento selou a paz entre famílias

As tradicionais famílias Nunes e Men-donça fazem parte da história polí-tica e econômica do município. Em

1959, o casamento de Elzira e Simeão selou a paz entre as duas famílias que, até então, eram adversárias políticas. O ex-vereador Si-meão Nunes abriu mão de uma carreira na Câmara, para se dedicar ao primeiro posto de gasolina da cidade, o Posto Bacaxá, hoje na Rodovia Amaral Peixoto. Páginas 8 e 9

O casamento de Elzira Mendonça e Simeão Nunes foi notícia em Saquarema

e repercutiu até em Niterói

EDIÇÃO ESPECIAL • EDIÇÃO ESPECIAL • EDIÇÃO ESPECIAL • EDIÇÃO ESPECIAL • EDIÇÃO ESPECIAL • EDIÇÃO ESPECIAL • EDIÇÃO ESPECIAL • EDIÇÃO ESPECIAL

Folia do Divino mantém tradição milenar em Saquarema

Livro descreve Círio de Nazareth

A Festa do Divino é um festejo religioso por-tuguês que chegou ao

Brasil com os colonizadores. O costume se mantém até hoje em vários municípios no Rio

Janeiro e, nos últimos anos, foi resgatado em Saquarema o le-vantamento do mastro que fica junto à igreja de N. Sra. de Na-zareth, nos dias que antecedem o folguedo. Página 7

HISTÓRIA

O mastro do Divino percorre as ruas da cidade

Page 2: O Saquá 158

Maio/20132 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

O jornal de Saquarema

Na segunda metade da década de 50, não me recordo preci-samente do dia, mês e ano, acompanhado por meu pai,

entrei na Padaria Natal, no centro da Vila, mais conhecida como a padaria de Darcy, o Bravo, dono da padaria e pesquisador da história de Saquarema, e antes de dizer que queríamos uma dúzia daquela deliciosa broa de milho, com o leve sabor de erva-doce, Darcy recebeu meu pai com uma pilha de papel sobre o balcão e uma cobrança desafiadora: “Casimiro, Saqua-rema não comemora a data de sua eman-cipação com festa, solenidade, missa e desfile cívico-escolar. Olha só, já temos o brazão do muni-cípio regulamen-tado em detalhes por lei específica, mas n inguém sabe onde está o desenho com sua representação gráfica. Ainda é preciso uma lei criando a bandei-ra do município e outra oficializando o hino municipal de Saquarema, que já tem letra e música, de autoria de José Bandeira, faltando registrar a melodia em partituras para a banda de música tocar. Eu estou falando com você, Casimiro, porque você e Dona Nair são muito bons para articular essas coisas”.

Dito e feito! Casimiro empolgou-se, topou a ideia, arregaçou as mangas e via-bilizou tudo rapidamente. Com uma cópia da lei que detalhava o conteúdo do brazão do município, Casimiro acionou um amigo desenhista, artefinalista e conhecedor dos princípios básicos que regem a heráldica

(arte e ciência dos brazões e bandeiras), chamado Ayrton Sá Rego, para fazer um novo original para o brazão que estava sumido, além de uma proposta para a bandeira do município, que acabou sendo aprovada pela Câmara de Vereadores, através da Resolução nº 5/62, em 11 de maio de 1962, e sancionada pelo então prefeito Hélio Bernardino de Mattos. Como bom músico instrumental, tocador de piston e flauta, conhecedor de teoria musical, filho do maestro Francisco Vigno-li, Casimiro resolveu escrever as partituras com a melodia do hino que se tornou oficial pela Resolução nº 13/65, sancio-nada em 27 de julho de 1965, pelo então

prefeito Gentil Ma-noel Mendonça. Paralelamente, Casimiro Vignoli e sua incansável es-posa, Nair Vignoli, agilizavam a cons-trução da sede própria do então Ginásio Professor Alfredo Coutinho por eles fundado, que acabara de formar, em 1962, a primeira turma de ginasianos e Saquarema. Até o clima era favo-rável para quem,

como o casal Casimiro e Nair, envolvia-se animadamente com a ideia de um desfile cívico-escolar pelas ruas de Saquarema, no 8 de maio.

Foi tudo muito rápido até a realização de um grande sonho de dois ilustres sa-quaremenses, Casimiro Vignoli e Darcy Bravo: comemorar com festa, foguetório, solenidades, missa e desfile cívico-escolar a data da emancipação político-adminis-trativa da terra natal.

Não faz muito tempo, um pre-feito, em pleno exercício do mandato, perguntou-nos: quem foi esse tal de Oscar

de Macedo Soares? Pois é! Poucos sabem. Outros tantos se indagam: quem foi Alberto de Oliveira, Oliveira Viana, Alfredo Coutinho, Francisco Fonseca, Beatriz Amaral, Sampaio Corrêa, Francis-co Vignoli, Darcy Bravo? E por aí vai... Ou melhor, por aí fica! Não há resposta pela total ausência de política cul-tural nacional, estadual e mu-nicipal. Por isso esta edição his-tórica, como se fosse a reper-cussão do grito de um município em busca de sua memória.

É vital para a cidadania pre-s e r v a r n o s s a memór ia , por flagrar os mo-mentos em que ocor re ram ao longo do tempo, as grandes e pequenas mudanças, tenham sido políticas, econômicas, sociais ou morais. Prestes a con-templar 13 anos, em julho próximo, o jornal O Saquá tem publicado am-plas e detalhadas matérias reunindo precioso material histórico, além dos aspectos geográficos, naturais e cul-turais, todos, direta ou indiretamente, comprometidos com as circunstân-cias históricas e antropológicas do

município que, através das épocas, delinearam o perfil atual de Saquare-ma. Nossa intenção é contribuir para que a população de Saquarema possa alongar o alcance de sua ligação com as raízes, consolidar sua identidade com a terra onde vive e, sobretudo, sentir-se orgulhosamente inserida no contexto histórico da evolução de um

pequeno povoado que se tornou vila e, hoje, é um município em franco desenvolvimento.

De acordo com uma tese antropológica reco-nhecida mundialmente, o homem é produto do meio. Mas como sabê- lo se desconhecemos as origens? Quem so-mos, só desvendando de onde viemos e por onde

passamos, sem o que t o r n a - s e a v e n t u r a para onde v a m o s . . . O ontem, o hoje e o ama-nhã constro-em a história, narração cro-nológica dos fatos ocorridos

na vida das populações, em parti-cular, e da humanidade, em geral. Ninguém poderá construir um bem sucedido presente, visando um fu-turo promissor, se incorrer na igno-rância do passado. Assim, estamos publicando esta edição histórica para comemorar os 172 anos da emancipação política e administra-tiva de Saquarema. É o nosso pre-sente para a cidade e seus cidadãos.

Av. Ministro Salgado Filho, 6661Barra Nova – Saquarema – RJ

Tel.: (22) 2651-7441Fax.: (22) 2651-8337

Editora: Dulce Tupy – [email protected] adjunto: Silênio Vignoli Diretor comercial: Edimilson SoaresDiretora de arte: Lia Caldas / Subito Creative - www.subito.cr

Colaboradores autônomos: Alessandra Calazans (redação e revisão), Michele Maria (redação e revisão), Agnelo Quintela, Paulo Lulo e Pedro Stabile (fotografia), Rossini Maraca (publicidade)

Jornalista Responsável: Dulce Tupy (registro:18940/87/62)

O SAQUÁ

CNPJ: 04.272.558/0001-87 Insc. Munic.: 0883

[email protected]

twitter.com/osaquafacebook.com/osaqua

Gráfica: Editora Esquema Tiragem: 5.000 exemplaresCirculação: Saquarema e Região dos Lagos

As matérias assinadas não refletem necessariamente a opinião do jornal.

Por que fazer uma edição histórica?Dulce Tupy

Casimiro Vignoli, Darcy Bravo e o 8 de maioSilênio Vignoli

www.tupycomunica.com

C O M U N I C A Ç Õ E S

O Ex-vereador Darcy Bravo, autor do livro Minha Terra Saquarema, pode ser considerado o

pioneiro no resgate da memória do

município Os saudosos Seu Casimiro e Dona Nair na porta de sua casa

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Maio/2013 3O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL

O primeiro registro histórico da igreja e imagem de N. Sra. de Nazareth de Saquarema

O Santuário Mariano é uma série de 10 livros, escritos por um padre franciscano em Portugal no século 18, entre 1707 e 1723.

Com o título de Santuário Mariano, e his-tória das imagens milagrosas de Nossa Se-nhora a série é na verdade um inventário das igrejas e imagens dedicadas à Virgem Maria no Reino Português, começando por Portugal mas incluindo também as colônias situadas na Índia Ocidental, Ásia Insular, África, Filipinas e Brasil. Obra con-siderada raríssima, o Santuário Mariano teve parte do volume 10 publicada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, através da Secretaria Estadual de Cultura e INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural). É um dos mais antigos registros históricos da igreja e imagem de Nossa Se-nhora de Nazareth de Saquarema.

Impressos numa oficina em Lisboa, os 7 primeiros volumes da série descrevem as igrejas e ima-gens de Portugal. O 8º volume é so-bre as igrejas e imagens da África e Ásia. O 9º volume descreve 194 igre-jas e imagens no Norte e Nordeste do Brasil (Bahia, Pernambuco, Mara-nhão e Pará). E o 10º volume é dedica-do às 146 igrejas e imagens encontra-dos no Sul e Sudeste do Brasil, sendo

Capa do livro Santuário Mariano, publicado no Século XVIII, em Portugal

Estandarte do Círio de Nazareth de Saquarema, o mais antigo do Brasil

Pintura à óleo de Antenor de Oliveira (acervo Casimiro Vignoli)

Imagem original de Nossa Senhora de Nazareth, esculpida em madeira

AGNELO QUINTELA REPRODUÇÃO

PAULO LULO

83 na então Capitania do Rio de Janeiro, 40 em São Paulo, 13 em Minas Gerais, 5 no Es-pírito Santo, 4 no Paraná e Santa Catarina e 1 na então Colônia do Sacramento (Rio Grande do Sul). Compunha ainda este úl-timo volume, as igrejas e imagens nas Ilhas do Oceano, mas esta parte não foi reedita-da pela Secretaria Estadual de Cultura. A reedição, feita em 2007, limitou-se ao Rio de Janeiro. Com 336 páginas, é ricamente ilustrada, com textos em caracteres antigos, do tipo de Claude Garamond (1490-1561), e contém algumas iluminuras (ilustrações) provavelmente da publicação original.

Entre os sítios religiosos documentados

na Capitania do Rio de Janeiro encontra-se a igreja e imagem de Nossa Senhora de Nazareth de Saquarema. No entanto, o au-tor do Santuário Mariano, Frei Agostinho de Santa Maria, nunca esteve aqui. As in-formações de campo, no Brasil, foram co-letadas por Frei Miguel de São Francisco, membro da Província Franciscana da Ima-culada Conceição. Em 1711, as primeiras informações coletadas por Frei Miguel fo-ram destruídas pelos franceses que invadi-ram o Rio de Janeiro. Mas o frei conseguiu refazer a pesquisa nos anos seguintes e enviá-la para Frei Agostinho, em Portugal.

Dos 83 santuários no Rio de Janeiro, 34 eram na capital; 1 em Nova Iguaçu; 5 em Duque de Caxias; 5 em Magé; 4 em Guapi-mirim; 1 em Cachoeiras de Macacu; 1 em Mangaratiba; 3 em Angra dos Reis; 1 em Paraty; 5 em Niterói; 6 em São Gonçalo; 6 em Itaboraí; 3 em Maricá; 1 em Saquarema; 1 em Araruama; 2 em Cabo Frio; 1 em Quis-samã; e 3 em Campos. Além da descrição das igrejas e imagens, o Santuário Mariano descreve também aspectos da fauna, flora, referências geográficas e linguísticas, usos, costumes e rituais religiosos nativos de ín-dios e negros. É verdadeira obra-prima.

O ano de 1630 marcou o início da devoção do povo saquaremense à sua padroeira Nossa Senhora de Nazareth, celebrada anualmente em 8 de setembro pelo Círio mais antigo do Brasil. Parabéns Saquarema pelos 172 anos de sua emancipação político-administrativa.

Venerável Irmandade de Nossa Senhora de Nazareth

PORTUGAL, 1723

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Maio/20134 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

A pré-história de Saquarema preservada na Praça do Sambaqui da Beirada

Filomena Crancio

O Município de Sa-quarema não se destaca apenas por sua beleza e história, mas

também por sua pré-história, contada pelos seus sambaquis, objetos de estudos da Arqueolo-gia Pré-Histórica Brasileira, que estuda o período anterior a 1500 anos. O primeiro grupo humano que chegou à região onde hoje se localiza o município de Sa-quarema se instalou onde atu-almente está erguida a Praça do Sambaqui da Beirada, em Barra Nova, numa faixa litorânea en-tre a lagoa e o mar, com paisa-gem de restinga.

Sítio arqueológico é um local onde são encontradas evidên-cias de culturas passadas. O sí-tio arqueológico de ocupação li-torânea, característico da região de Saquarema, é o sambaqui. Os sambaquis são bens nacionais, protegidos pela Lei Federal 3924 (26 de julho de 1961). Samba-quis são antigos locais de mora-dia temporária de comunidades pré-históricas, cuja subsistência era baseada na coleta animal e vegetal, pesca, caça e onde exer-ciam as atividades domésticas, artesanais e cerimoniais. Seus habitantes viviam organizados em pequenos grupos familiares.

Patrimônio local, estadual e nacional

Os sambaquis têm a forma de colinas que foram formadas pela ação humana e não por forças da natureza e é forma-do por camadas arqueológicas superpostas que representam sucessivas ocupações huma-nas. As camadas depositadas primeiro são as mais antigas; as camadas superiores são as mais recentes. Os habitantes dos sambaquis sepultavam seus mortos segundo rituais pecu-liares, no próprio local de mo-radia. Porém, sambaqui não é um cemitério e muito menos de índios, que chegaram aqui mui-to depois dos sambaquianos.

A arqueóloga e professora Lina Kneip, que foi a grande es-pecialista do Museu Nacional/

UFRJ no estudo dos sambaquis, apresentou no período de 1975 a 1978 às autoridades munici-pais de Saquarema projeto su-gerindo a criação de uma “Re-serva Arqueológica e Ecológica de Barra Nova”. Na época, foi aprovado apenas a criação de uma praça municipal, que hoje é a Praça do Sambaqui da Bei-rada. Datado de 4520 anos AP (Antes do Presente), o samba-qui da Beirada foi pesquisado no decorrer de 1987 por uma equipe, sob a coordenação da professora Lina. Protegido pela Praça do Sambaqui da Beirada, inaugurada em 31 de maio de 1997, o mais antigo sambaqui de Saquarema ganhou a primei-ra exposição arqueológica ao ar livre de um sambaqui no Brasil.

Na Praça do Sambaqui da Beirada encontra-se também preservada densa vegetação de restinga, representada pela disposição em mosaico, pela composição florística e espécies de valor medicinal e alimentar. Aberta à visitação pública, loca-liza-se na confluência da rua do Sambaqui da Beirada com a rua Arqueológa Lina Kneip, próxi-mo à Avenida Litorânea.

Ao lado do Sambaqui da Beirada, existe também um ou-tro sambaqui, o da Pontinha,

Etapa das escavações no Sambaqui da Beirada, em 1987

A praça do Sambaqui da

Beirada mantém uma exposição

a céu aberto, única no Brasil

Vistoria no Sambaqui de Manitiba

qui da Beirada é o mais antigo e o sambaqui da Pontinha o mais recente em Saquarema.

O sambaqui de Manitiba I, o maior sambaqui já pesquisa-do em Saquarema, apresentou 7 camadas de ocupação, datan-do a camada mais antiga em 4270 anos AP e a mais recente 3810 anos AP. Há ainda o sam-baqui de Jaconé, apresentando--se coberto por densa vegetação de restinga, no interior de um parque. Ele foi datado em 3760 anos AP, em sua base, e em 3350 anos AP, em sua superfí-cie. É importante citar também o sambaqui de Saquarema, já destruído, que localizava-se no centro urbano da cidade, na Vila. Pesquisado em 1993, revelou a ocorrência de ossos humanos trabalhados em se-pultamentos secundários, ca-racterizando um cerimonial funerário não identificado em sambaquis brasileiros.

A principal razão para a pro-teção dos sambaquis de Saqua-rema é em virtude de seu valor intrínseco como fonte de conheci-mento sobre a cultura do homem pré-histórico brasileiro. Os graves danos causados aos sambaquis pela retirada de terra do solo ar-queológico são irreversíveis. Os sambaquis ajudam a construir a identidade de Saquarema, fazen-do parte do patrimônio local e devem ser protegidos por órgãos municipais e pela população des-te aconchegante município.

localizado no loteamento Jar-dim Barra Nova. Datado de 1790 anos AP, é o único sambaqui do Brasil que apresenta hábitos fu-nerários de cremação por toda sequência arqueológica. Seus artesãos eram hábeis na arte de lascar o quartzo, produzindo ar-tefatos lascados bem elaborados e em grande quantidade. Apesar de estarem próximos geografica-mente, eles não são um mesmo sambaqui. Além das variações culturais significativas, existem as cronológicas, pois o samba-

FOTOS: WILLIAN BORBA

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Maio/2013 5O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL

A grande batalha da Confederação dos Tamoios foi em Saquarema

O cacique Cunhambebe foi o chefe supremo da Confederação dos Tamoios contra os portugueses

Em abril comemora-se o Dia do Índio, mas poucos sabem que o maior episódio da resistên-cia indígena no Brasil foi em Saquarema. A Confederação

dos Tamoios ocorrida no início do pro-cesso de colonização do país, no século 16, foi um momento heroico da história dos nativos brasileiros, especialmente da nação Tupinambá, que ocupava grande parte do litoral, quando os portugueses aqui chegaram. O escritor e pesquisador Paulo Luiz Oliveira lançou o livro Ta-moios, Senhores do Litoral, editado pela Tupy Comunicações, que revela aspectos até então encobertos, entre eles o fato de que possivelmente a batalha decisiva da Guerra dos Tamoios teria sido em Sam-paio Corrêa, antigo Campo de Maranguá.

A Confederação dos Tamoios reu-niu além dos Tupinambás, que eram a maioria, membros das tribos Goitacás, Camacuans, Carajás, Aimorés, Carijós e Guainás, contra os colonos portugue-ses. Nesta luta de morte, destacaram-se os caciques Cunhambebe, Pindobuçu, Coaquira, Jagoanharó, Arari, Parabu-çu e Aimberê que era filho de Cairuçu, chefe da aldeia de Uruçumirim (Praia do Flamengo, no Rio de Ja-neiro). Segundo Paulo Luiz, Cairuçu morreu devido aos maus tratos decorrentes do trabalho escravo e Aimberê con-seguiu autorização dos portugueses para realizar o ato fúnebre de seu pai. Assim começou a rebelião indígena, que resultou na morte de muitos portu-gueses e a fuga de vários índios. A Confederação dos Tamoios foi então a gran-de revolta dos primeiros habitantes da terra brasilis, sendo que Tamoios significa em tupi o que chegou primeiro, o mais antigo, o nativo.

Dezenas de aldeias indígenas foram visitadas pelo guerreiro Aimbe-rê, com seu grito de guerra, que passou o comando militar para o cacique mais velho e mais te-mido pelos ”pêros”, como os índios chamavam os coloniza-dores portugueses: o cacique Cunhambebe, de Angra dos Reis, que tornou-se o chefe supremo. Em 1555, chegou à Bahia da Guanabara o fran-cês Nicolas Villegagnon, que se instalou numa ilha onde estabeleceu uma fei-toria: a França Antártica. A aliança entre os Tamoios e

os franceses durou até 1567, quan-do os portugueses conseguem finalmente expulsar os franceses numa batalha san-grenta, onde matam Aimberê e sua espo-

sa Iguaçu, que morrem juntos, lutando pela liberdade. Os corpos na Bahia de Guanabara foram resgatados pelo padre jesuíta José de Anchieta.

Em 1574 chega ao Rio de Janeiro o comandante militar Antônio Salema que forma um exército de mais de 1.000 ho-mens, portugueses e índios catequizados. Decidido a exterminar todos os indíge-nas que habitavam o outro lado da Bahia da Guanabara até a Região dos Lagos, em setembro de 1575 Salema chega ao Cam-po de Maranguá, entre Sampaio Corrêa e Jaconé. Fortemente armados com espa-das, lanças, arcabuzes e canhões, os por-tugueses massacram a aldeia indígena e levam como prisioneiros cerca de 500 guerreiros Tamoios amarrados e pos-teriormente decapitados nas areias da praia de Jaconé. Depois, o cruel Salema segue neste rastro de sangue até Arraial

do Cabo, onde também dizima todos os indígenas, transformando a região, de Maricá a Macaé, num verdadeiro deser-to humano. Somente em 1594, os padres da Ordem do Carmo se interessam por Ipitangas, onde constroem um convento dedicado a Santo Alberto.

Os Tamoios foram destruídos, mas até hoje permanecem os traços da cultura indí-gena na toponímia local, em nomes como Sa-quarema, que vem de “socó-rema”, que quer dizer bandos de socós, ave pernalta muito comum na lagoa. Também ficaram impreg-nados em nossa gente usos e costumes nati-vos e uma tradição alimentar como é o caso do beiju, feito de tapioca, que se chamava em tupi “ibeiju” e moqueca que vem de “mo-quém”, onde se assava o peixe em folha de bananeira, chamada “pokeka”. A tradicional sola, com coco ou amendoim, e as esteiras de tabua ainda são vendidas nas feiras. E os olhos castanhos, ligeiramente puxados como os asiáticos, os cabelos negros, lisos, e a pele morena demonstram que apesar de tudo resistem os traços desta cultura milenar dos povos tradicionais do Brasil.

Sempre acreditamos que com nosso trabalho estaríamos, mesmo modestamente, contribuindo para o progresso do nosso município. Por isso, sentimo-nos honrados em fazer parte deste coral, cantando “parabéns para você Saquarema” pelos seus 172 anos de emancipação político-administrativa.

O Último Tamoyo, óleo sobre tela, de Rodolpho Amoêdo, retratando a morte do cacique Aimberê, atendido por um padre

jesuíta. A obra faz parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes

Cidade que tudo me diz: das belas paisagens, ao povo feliz!Parabéns Saquarema, por seus 172 anos de emancipação político-administrativa.

Vereador Guilherme PitiquinhoPrimeiro Secretário da Câmara de Vereadores de Saquarema

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Maio/20136 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

Nossa reverência ao município de

Saquarema pelo dia 8 de Maio, que

este seja sempre uma data de

reconhecimento aos ideais,

convicções e lutas que movem o

destino rumo ao progresso.

DISTRIBUIDOR DE BEBIDAS

Em 8 de Maio, Saquarema se enche

de grande alegria, afeto e amor.

Parabéns à Cidade por sua história de

bravura pela emancipação político-

administrativa!

Raízes do Tempo Saquarema dão frutos até hojeSilênio Vignoli

A assinatura da Lei 238, em 8 de maio de 1841, pelo Visconde de Baependy, então vice-pre-sidente da Província do Rio

de Janeiro, concedendo a emancipação político-administrativa de Saquarema, já prenunciava que um forte governo con-servador estava prestes a instalar-se no poder imperial. No decorrer do processo de assunção deste grupo ao poder, ocorreram sérias perturbações da ordem pública na primeira elei-ção na Vila Nossa Senhora de Nazareth de Saquare-ma, 3 anos após a eman-cipação. Dois candidatos digladiavam ferozmente na luta pelo poder: de um lado, o coronel conserva-dor Francisco Álvares de Azevedo Mace-do, fazendeiro e senhor de engenho, e de outro, o padre Ceia (José da Ceia de Al-meida) representante do Partido Liberal.

Foi no âmbito deste episódio que o Partido Conservador, presidido pelo Vis-conde de Itaboraí, abastado fazendeiro no município, passou a ser nacionalmente chamado de Saquarema, numa alusão ao aguerrido clima das disputas políticas em Saquarema. Durante várias décadas, um influente grupo de conservadores da po-lítica fluminense, ligados à cafeicultura, entre os quais o Barão de Saquarema, ins-talou o mais forte governo conservador do Império, dando início ao período que a historiografia denomina de “O Tempo Sa-

quarema”, título do livro do professor Il-mar Rohloff de Mattos. Os “saquaremas”, conservadores, constituíram assim a opo-sição aos chamados “luzias”, os liberais.

Estruturados num governo coeso com sólida sustentação, passaram a usar o rolo compressor de uma Câmara conservado-ra hegemônica, onde só havia um depu-tado liberal, e a contar com um Conselho de Estado subservientemente ao Império, sintonizado com as propostas do gover-no. Com tais atributos, os saquaremas ti-

veram força suficiente, não só para reprimir o Movi-mento Praieiro, derradeiro ato dos liberais, como tam-bém para promover uma série de reformas polêmi-cas, viabilizadas pelas me-didas centralizadoras im-plantadas em 1840 e 1841, como ressalta Marcello Basile, mestre em História

do Brasil pela UFRJ, no capítulo “A He-gemonia Saquarema”, do livro História Geral do Brasil, da professora catedrática Maria Yeda Linhares. Quando o Visconde de Monte Alegre substituiu Araújo Lima na presidência do Conselho de Ministros, em 1849, reuniu nas pastas da Justiça, da Fazenda e dos Estrangeiros, respectiva-mente, Eusébio Queiroz Matoso Câmara, o Visconde de Itaboraí e o Visconde de Uruguai, compondo a famosa “Trindade Saquarema”, com força total para execu-tar as reformas requeridas pelo regime.

A perturbação da ordem pública, logo na primeira eleição de Saquarema eman-cipada, refletiu nos níveis superiores de poder e trouxe consequências. Uma foi a

transferência da sede da Vila de Saqua-rema para Mataruna, na freguesia de São Sebastião de Araruama, através de de-creto do presidente da Província do Rio de Janeiro, deputado João de Almeida Pereira Filho. Outra foi a inclusão do item Segu-rança no rol das reformas. A pretexto de acabar com a de-sorganização em nível local, o Gabinete Saquarema colo-cou a Guarda Nacional sob rígido controle do governo central, transferindo ao mi-nistro da Justiça – que an-teriormente já nomeava os coronéis-chefes – o poder de nomear todos os oficiais da corporação.

Por sua vez, a penalidade por indis-ciplina eleitoral, que levou a sede da Vila de Saquarema para Mataruna, em Arau-ama, só terminou em 1860, quando o pre-sidente da Província do Rio de Janeiro, Ignácio Francisco Silveira da Motta, em

24 de julho, assinou decreto trazendo de volta o status de município para a Vila de Saquarema, após intensa mobilização liderada pelo Barão de Saquarema. Pode-

ria-se então dizer: a primeira eleição ninguém esquece, sobretudo se for traumá-tica, como aconteceu com Saquarema. Sociólogos e an-tropólogos garantem que o homem é produto do meio. Então, dá para entender por-que, da emancipação até os dias de hoje, nunca faltou ao processo político do municí-pio, aquele calor exacerbado, nem sempre saudável, dos sa-quaremas que enfrentaram os liberais e, graças à hegemonia estabelecida, transformaram

1850 num ano decisivo para a consolida-ção do Estado Imperial. Neste caso, his-toricamente, caberia aqui uma pequena correção na clássica ressalva: qualquer semelhança não é mera coincidência.

Qualquer semelhança não é mera

coincidência

Saquarema se fez há 172 anos, quando ocorreu sua emancipação político-administrativa. Comemorar o 8 de Maio é reconhecer o valor desta história escrita com a força pulsante daqueles que idealizaram este município.

G R U P O

BELA BEL

Page 7: O Saquá 158

Maio/2013 7O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL

Emancipação significa liberdade e

independência, Saquarema conhece a

grandeza dessa palavra e vive sua glória em

8 de Maio com toda sua gente. Parabéns!

São os votos da Rio Lagos.

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A certeza e confiança no futuro levaram Saquarema até os seus 172 anos. Parabéns cidade querida por seu aniversário

Que este dia 8 de Maio seja mais

que especial, seja inesquecível

para todos os saquaremenses

que escreveram a história deste

valoroso município. Minhas

sinceras felicitações pela data.

Vereador KilinhoVice-presidente da Câmara de Vereadores de Saquarema

Com grata satisfação parabenizamos Saquarema pelo seu aniversário. Que todos os melhores sonhos deste grande povo sejam semeados e colhidos em frutífero amanhecer.

Festa do Divino: uma herança portuguesa

nas terras do Brasil

Poucos municípios na Região dos Lagos preservaram uma das grandes heranças da cultura re-ligiosa portuguesa, a tradicional

Festa do Divino, comemorada no período de Pentecostes, desde a Idade Média, nos países europeus católicos, especialmente em Portugal. Chegou ao Brasil junto com os colonizadores e se consolidou em vá-rias localidades, entre elas Paraty, no Rio de Janeiro, no distrito de São Vicente, em Araruama, e em Saquarema, onde perma-nece até hoje.

Cultuada pelos fiéis, que fazem pro-messas para o Espírito Santo, a Festa do Divino ou Folia do Divino, manteve o costume do levantamento do mastro em frente à igreja de N. Sra. de Nazareth, que

fica hasteado nos dias que antecedem as festividades. No dia da folia, o ponto alto é a missa seguida da procissão, com ban-da e grupo de foliões e o quadro com a representação do coroamento do impera-dor. Sempre uma criança é coroada e seu séquito é formado por princesas e outras figuras típicas. A bandeira do Divino e a coroa de prata ficam expostas no centená-rio coreto do Império, para adoração dos fiéis, em frente à Praça Oscar de Macedo Soares, onde também se faz a benção da mesa com pão, frutas e vinho, e se oferece um banquete. Tradição milenar, o Divino é uma manifestação da religiosidade po-pular, que se caracteriza a identidade do povo saquaremense, calcado em profun-das raízes católicas.

FOTO

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Page 8: O Saquá 158

Maio/20138 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

Posto Bacaxá, uma tradição de qualidade em SaquaremaDulce Tupy

Desde que foi inaugurado, há cerca de 80 anos, o Pos-to de Bacaxá, no Km 70 da Rodovia Amaral Peixoto, é uma referência no municí-

pio. Inaugurado com apenas uma bomba de gasolina, que funcionava à manivela, o posto de Lúcio Nunes, ex-prefeito de Saquarema, foi um empreendimento da família que já era dona do Bazar Nunes, primeiro bazar da Rua Professor Francis-co Fonseca. Em frente à casa do também ex-prefeito e farmacêutico Gentil Men-donça, um dos mais influentes chefes políticos da região, o Bazar Nunes ainda resiste ali, quase na esquina da atual Pra-ça Santo Antônio, onde começou o namo-ro entre dois herdeiros de famílias rivais na política local: os Nunes, da UDN, e os Mendonça, do PSD.

Os Nunes eram donos do lado direi-to da rua que era um verdadeiro capin-zal que dava na antiga estação do trem; e os Mendonça, donos do lado esquerdo. O namoro entre Simeão Nunes e Elzira Mendonça começou com ele, no balcão do Bazar Nunes, e ela em casa. O casa-mento dos dois jovens de famílias adver-sárias politicamente se realizou na igreja de Nossa Senhora de Nazareth, em 1957, selando uma sólida união que resultou em 58 anos de casamento. A festa foi um evento notável que atraiu convidados e políticos da época, entre eles o deputado

O ex-vereador e empresário Simeão Nunes segurando um dos muitos prêmios que o Posto Bacaxá ganhou, ao longo de sua história

Saquarema ergueu seu

pendão em 8 de Maio

de 1841. Esta data inspira

respeito e admiração pela Cidade em festa e

nós saudamos cada cidadão saquaremense

nesta data tão especial.

POSTO BACAXÁ

Posto Nunes e Costa Ltda

Parabéns, Saquarema!

ACERVO LÚCIO NUNES

Page 9: O Saquá 158

Maio/2013 9O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL

Posto Bacaxá, uma tradição de qualidade em Saquarema

SAQUAREMA E SEUS 172 ANOS DE PROGRESSO, DE DESENVOLVIMENTO, CONTANDO A SUA HISTÓRIA

O Instituto de Benefício e Assistência dos Servidores

Municipais de Saquarema – IBASS, através do seu

Presidente e da sua equipe, apresenta os parabéns a todos

os saquaremenses; e ao mesmo tempo deseja parabenizar

a todos que aqui residem, desfrutando da grande beleza

que essa terra possui. Esse gesto traduz um motivo todo

especial, as comemorações de mais um aniversário na sua

longa caminhada, de 1841 a 2013.Parabéns terra querida, que tem oferecido orgulho para

todos os seus filhos.Que Deus continue estendendo as suas graças para todos

os seus dirigentes, para que continuem prestando os seus

serviços pela grandeza do município e o bem estar da

nossa gente.Viva Saquarema terra querida.

IBASSInstituto de Benefício e Assistência dos Servidores Municipais de Saquarema

federal Agenor Barcelos Feio e esposa, que foram padrinhos do casamento, que repercutiu até em jornais de Niterói, en-tão capital do Estado do Rio de Janeiro. Do casamento de Simeão Nunes, na épo-ca vereador, e Elzira, hoje viúva, resulta-ram três filhos: duas mulheres, Luciane e Eliane, e o caçula Lúcio, empresário e atu-al administrador do Posto Bacaxá.

Sócio de Edilson e Ézio Costa, filho do também ex-prefeito de Saquarema

Joaquim Costa, de outra família tra-dicional da cidade, Lúcio tornou-se o herdeiro natural de uma tradição que permeia toda a vida política e comercial de Bacaxá, desde o início do século pas-sado. A maior veia comercial de Bacaxá, por exemplo, a Rua Professor Francisco Fonseca, foi ocupada pioneiramente por sua família, que por sua vez vendeu os lotes para outros comerciantes locais como os Oliveira, que estabeleceram o

primeiro supermercado de Bacaxá, onde hoje fica o Esperança. Também o prédio do supermercado Só Ofertas foi constru-ído em lote vendido pela família Nunes, assim como a loja de material elétrico de Zequinha Martins.

Formado em administração de empre-sas, Lúcio Nunes é um vencedor. Há 30 anos à frente do Posto Bacaxá, reconhecido por sua excelência, tem sido contemplado com vários prêmios, entre eles os que rece-beu no Texas, em Dubai e na Inglaterra, es-

tando agora de viagem marcada para rece-ber mais um prêmio em Madrid, Espanha. Casado com Carla e pai de Ana Paula, diz que o segredo da empresa - que hoje tem 25 funcionários - é a busca pela qualida-de, tanto dos produtos como dos serviços prestados. “Procuro fazer sempre o me-lhor”, diz Lúcio, ao lado do sócio Edilson Costa, parceiro de todos os dias, neste que é o maior posto de combustível da cidade, cuja marca é o atendimento personalizado, com muito profissionalismo.

Calçada do Bazar Nunes, primeiro bazar da Rua Prof. Francisco Fonseca

O primeiro posto da cidade ficava localizado na altura da

atual Casas Bahia e tinha apenas uma bomba à manivela

Lucio Nunes e Edilson Costa, gerações de sucesso

Casamento de Simeão e Elzira, tendo ao lado esquerdo os pais, Lucio

Nunes e Polidoria e do lado direito Laura e Gentil Mendonça

A foto da Rua Professor Francisco Fonseca, publicada no livro Raízes de Minha Terra, de Herivelto Bravo Pinheiro, ainda sem calçamento

e praticamente desocupada, tendo ao fundo apenas o Bazar Nunes, à direita, e a casa de Gentil Mendonça, no fundo, à esquerda

ACERVO HERIVELTO BRAVO PINHEIRO

FOTO

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ACERVO HERIVELTO BRAVO PINHEIROACERVO LÚCIO NUNES

Page 10: O Saquá 158

Maio/201310 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

Costa do sol?Poucos livros retratam o município de Saquarema, mas eles são fundamentais

Que nossa querida Saquarema continue a brilhar, que eu possa continuar contribuindo para o seu crescimento e de nossa gente. Parabéns Saquarema pelos seus 172 anos !!

São os votos do seu vereador Abraão da Mel Gil

“Vejo sangue no ar... E há poetas míopes que pensam que é o arrebol”Jorge de Lima

Ivan C. Proença*

Um fundamento básico da es-trutura democrática de um país deveria abranger o indis-pensável respeito ao direito

das minorias. No caso, refiro-me às popu-lações indígenas e afrodescendentes. Exa-to respeito que nunca existiu do ponto de vista de quem exerceu Poder ao longo de nossa história. Inclusive na, hoje, decanta-da Costa do sol ou Região dos Lagos do nosso Estado, litoral do “sol e amor”.

O massacre (por emboscada) dos Tamoios, por exemplo, foi página cons-trangedora e a ser sempre repudiada por todos que pretendem uma sociedade justa e equilibrada. Ainda hoje, resquí-cios do autoritarismo quando nos anos 1970 se transferiu o Museu do Índio para a rua das Palmeiras para dissimular o banimento e as arbitrariedades cometi-das pela Ditadura contra o ISEB que ali funcionava, em Botafogo. E agora, ao in-vés da devida restauração e retomada, a ameaça de demolição do histórico prédio ao lado do Maracanã.

Aqui em Saquarema, e municípios vizinhos, resta a memória do escra-vismo impiedoso praticado contra os escravos que trabalhavam nas planta-ções de café, cana de açúcar ou como serviçais nas grandes Fazendas. A propósito, registrem-se dois Quilom-bos como focos de resistência (Bacaxá, e, outro em Bonsucesso). Datas preci-sas e locais exatos, nossa escassa bi-bliografia a respeito não define.

Ao que tudo indica a Serra do Qui-lombo de Bacaxá (século XVIII) se situa nos arredores, e a oeste, da estrada Ba-caxá-Latino Melo, alto e fundos de uma

vertente da Serra conhecida como Cas-telhana, conquanto esta seja apenas um contraforte de região montanhosa, possí-vel nascente do rio que nomeia o Distrito. No ano de 1730, dois bacaxaenses, com suas espingardas, caçavam (o que era e é comum) na região, quando os negros-vi-gias do Quilombo os avistaram e, supon-do um ataque, se anteciparam e mataram os caçadores. Foi o que bastou para as autoridades locais solicitarem ao gover-nador tropas do Comando Militar do Rio de Janeiro que, comandados pelo capitão João de Abreu Pereira, ocuparam a re-gião e promoveram mais um massacre exterminando os negros ali refugiados no Quilombo. Por aí se começa a entender a reação de sinhazinhas e sinhozinhos de hoje em relação à Lei das domésticas. A História não acabou.

Por outro lado, Quilombo quer dizer em quimbundo “pouso no mato“. Baca-xá, no tupi é “terra de frutas (ácidas)“. Cabe a perplexidade: o dito progresso no sistema em que vivemos, implica neces-sariamente em “extermínio“ do pouso--repouso-paz, e da natureza com suas árvores e frutos?

* Ivan Cavalcanti Proença é professor e escritor

EDIMILSON SOARES

O mestre e doutor em literatura brasileira, Ivan acaba de relançar 3

livros de sua extensa obra

Bibliografia básica de Saquarema

Pouco tem sido escrito sobre Sa-quarema. Muito pouco, se con-siderarmos a necessidade de se produzir cultura local, uma his-

tória contada a partir de seus próprios membros, crônicas sobre a cidade, poesia, etc. Mas algumas iniciativas devem ser resgatadas e, se possível, estes livros pio-neiros que constituem uma espécie de bi-bliografia básica do município, deveriam ser reeditados, pela importância que têm.

O primeiro deles, sem dúvida, é o livro Minha Terra, Saquarema, do ex--vereador Darcy Bravo, obra póstuma, publica em 1979, edição feita pela família que recebeu apenas 50 exemplares da edi-tora, hoje considerados raríssimos. Outra raridade, hoje só encontrada em sebos es-pecializados no Rio de Janeiro, são os dois volumes do livro Saquarema, Sua gente, sua história, do jornalista Alexandre Dias, cujo primeiro volume foi publicado em 1974 e o segundo em 1991, com prefácio do então prefeito Carlos Campos. Estes dois volumes editados pelo próprio au-tor chegaram a ser vendidos em algumas bancas de jornais da cidade.

Dois outros livros essenciais são os da Coleção Memória da Cidade, editada em 2008 pela Tupy Comunicações, no segun-do governo do prefeito Antônio Peres. O primeiro volume, Alberto de Oliveira – O

Poeta de Saquarema, de Antônio Francis-co Alves Neto, o popular vereador Chico Peres, e Lina Malheiros Barcellos, se es-gotou rapidamente. Publicado em home-nagem ao sesquicentenário (150 anos) do ilustre poeta saquaremense, que foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, contemporâneo de Olavo Bilac e Machado de Assis, o livro é uma refe-rência não só no município, tendo levado os autores a assumirem a condição de acadêmicos correspondentes da Acade-mia de Letras Rio-Cidade Maravilhosa, em reconhecimento pela obra.

O segundo volume da Coleção Me-mória da Cidade é o Raízes de Minha Terra, de Herivelto Bravo Pinheiro, fi-lho de Darcy Bravo, que herdou do pai o gosto pela pesquisa e a paixão de co-lecionador de fatos e objetos históricos. Com uma série de fotografias inéditas que retratam diversas fases da evolução de Saquarema, o livro é também uma raridade, cujos 1.000 exemplares da pri-meira edição se esgotaram rapidamente, merecendo hoje uma segunda edição, assim como os demais que compõem um roteiro básico de pesquisa sobre o município, mas que infelizmente não se encontra ao alcance dos estudantes, pro-fessores e do público em geral. É uma pena, um oco no vazio cultural.

Homenagear a Cidade de Saquarema é homenagear toda gente. Gente que aqui nasceu e

gente que aqui escolheu para viver, trabalhar e fortalecer o município

mais bonito e acolhedor da região. Parabéns a toda gente de

Saquarema!

Vereador Chico Peres

Page 11: O Saquá 158

Maio/2013 11O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL

Em 10 de julho de 1957 aceitamos o desafio

pioneiro de oferecer complemento educacional a

quem concluía o então ensino primário em

Saquarema e ficava sem o acesso às faculdades.

Às vésperas de completarmos 56 anos,

orgulhamo-nos pelo tanto que pudemos fazer

em prol da formação profissional da juventude

saquaremense. Parabéns Saquarema pelos 172

anos de sua emancipação político-

administrativa.

Colégio Cenecista Professor Alfredo Coutinho

Colégio Cenecista, uma grande contribuiçãoParte da história contemporâ-

nea de Saquarema passa pelos bancos escolares do Colégio Cenecista Professor Alfredo

Coutinho, que há praticamente 56 anos assumiu o compromisso de trabalhar pela formação dos pequenos cidadãos saquaremenses. Com uma metodologia construtivista, o colégio tornou-se uma referência no município, preparando seus alunos para o futuro, incentivando o olhar crítico e atuante nas transforma-ções sociais, que vão muito além dos muros do ambiente escolar.

O processo de fundação da escola vem do desejo da sociedade da época de ofertar ensino de qualidade com o dife-rencial da metodologia participativa para construção do aprendizado. Com a parti-cipação de muitos colaboradores, o Colé-gio Cenecista se estabeleceu na cidade em 10 de julho de 1957, quando o casal Nair e Casimiro Vignoli esteve à frente de todo processo, tornando realidade aquele ide-al. Após a instalação, outras demandas surgiram; a mobilização social se forta-leceu e, nesta busca contínua, não faltou apoio dos benfeitores, entre eles o Dr. José Cláudio Bulcão, que doou terreno de 3 mil m² para a construção da sede.

Enquanto a obra era realizada, 2 salões foram cedidos, para viabilizar a rotina da escola, por Emídio Azevedo, que foi além e, junto à esposa Reginalda Pereira (Dona Nadinha), abriu sua casa para receber os professores de fora da cidade. Muitos vinham de Niterói e tinham refeições e pernoite gratuitos. Essas pessoas foram o alicerce para que o projeto conseguisse se estruturar, ressaltando a professora Luzia

O gramático Alfredo Coutinho

Nascido no Palmital, Saquare-ma, em 1861, o professor Alfre-do Coutinho foi um dos gran-

des gramáticos da língua portuguesa. Órfão de pai, aos 13 anos, foi criado por um tio fazendeiro, tendo se matricula-do no Colégio São Bento, no Rio, onde morou na casa de seu primo, o Dr. An-tonio Joaquim de Macedo Soares, mi-nistro do Supremo Tribunal Federal, pai do grande Oscar de Macedo Soares, também filho de Saquarema.

Aluno do segundo ano da Faculda-de de Medicina, contraiu febre amarela que, junto com a varíola, assolava a en-tão Capital da República. Retornando para Saquarema, começou a trabalhar

numa venda em Jacarepiá. Em 1887, casou-se com uma jovem professora, Virginia de Vasconcelos, filha de um comerciante local, com quem teve 6 fi-lhos, todos saquaremenses.

Alfredo Coutinho e a esposa exerce-ram o magistério durante 13 anos em Ba-caxá, depois em Valença, Niterói e, final-mente, em Mendes, na época município de Barra do Piraí. Estudioso e voltado ao ensino, escreveu uma aritmética que não chegou a ser publicada e uma Gramática da Língua Portuguesa que teve várias edições e cujos exemplares, hoje raríssi-mos, ainda são preservados na biblioteca do Colégio Cenecista de Saquarema. Fa-leceu em 1912, em Mendes.

Na biblioteca do colégio ainda são encontradas as raríssimas edições da gramática do autor

Pereira Rodrigues, responsável pedagó-gica nos primeiros anos da instituição de ensino, bem como do padre Manoel, que além de incentivar, manteve-se atuante como professor licenciado de latim, fran-cês, inglês e ciências.

Atualmente, o colégio busca permanen-te atualização e acompanha às modernas ferramentas educacionais, tornando-se ca-pacitado e competitivo, com foco no edu-cando e na união de forças com as famílias locais, para que o sucesso seja alcançado, tanto na orientação profissional quanto na formação crítica do indivíduo como cida-dão. É com essa visão que o Colégio Cene-cista Professor Alfredo Coutinho orgulha-se de integrar a história de um município que tem em sua gente a força e a coragem para transformar o próprio destino, confiando sempre que isto se dá através da educação.

O patrono que deu nome à escola, Alfredo Coutinho

Fachada do Colégio Cenecista Professor Alfredo Coutinho

EDIMILSON SOARES

Page 12: O Saquá 158

Maio/201312 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

Instituto Madre Maria das Neves,uma homenagem à pioneira social

Michele Maria

Inaugurado em 2 de dezembro de 1899, por iniciativa do Dr. Oscar de Macedo Soares, o atual Institu-to Madre Maria das Neves se cha-mava Casa de Caridade Nossa Se-nhora de Nazaré e, por influência

de seu benfeitor, era administrada pela viúva paulista Rita de Cássia Aguiar, que se mudara para o Rio de Janeiro. Para chegar a Saquarema, Rita partiu de Nite-rói em 1898, numa calhoça - carruagem de tração animal montada sobre 4 rodas - percorrendo 80 km, pela antiga estrada de rodagem, alongada por muitas curvas. Viajava junto com duas assistentes para trabalhar na primeira Casa de Caridade do município, além do próprio Dr. Oscar e dois cavalheiros. Precisaram pernoitar em Itaboraí, pois o caminho era muito longo para ser percorrido em um só dia. Quando chegou, a comitiva teve uma recepção calorosa, que parou a cidadezinha, com o povo grato por receber ajuda es-piritual e física em um mesmo lugar.

Rita passou 3 anos em Saquare-ma, cidade natal do Dr. Oscar, nascido no bairro de Bonsucesso. Filha de Antônio Ro-drigues Severino e Ma-ria Antônia das Neves, mais tarde se tornaria a Madre Maria das Neves, opção de nome feita em homenagem à mãe. En-tregando sua vida a Deus e servindo aos pobres, Rita fez votos de pobreza, castidade, obediência e humildade. Além da aju-da física, a caridosa levava a palavra de

Deus às casas dos menos fa-vorecidos. Logo começaram a surgir problemas, intrigas que a colocaram em rota de colisão com o vigário, obrigando-a a pedir con-selhos ao Dr. Oscar, que a levou à capital para falar com pessoas prudentes e sacerdotes esclarecidos, como D. Francisco, que mais tarde seria colabo-rador direto para a cria-ção do Instituto Madre Maria das Neves.

Antes de deixar Saquarema, em 1901, Rita cuidou para que os doentes continuas-

sem a ter assistência médica, levando a Casa de Caridade a se tornar referência hospitalar na região. Mudando-se para Campos dos Goytacazes, Rita funda a

Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência, assume o nome de Madre Maria das Neves e intensifica o trabalho social e religioso que já exercera em Saquarema. Com uma vida piedosa, faleceu em 8 de março de 1906. A Congre-gação se expandiu, então, para Minas Ge-rais a partir de 1912, quando um pequeno grupo saiu de Campos para Cataguases, formando presença missionária em 8 Es-tados do Brasil.

Desde 1996, a congregação se ins-talou em Puyo, na região amazônica do Equador e também na periferia de Bue-nos Aires, na Argentina, com atividades voltadas aos meios populares, procuran-do servir aos empobrecidos, cuidando dos doentes e idosos, educando crianças, adolescentes e jovens, levando a fé cristã à população. Segundo o jornalista Silênio Vignoli, quando a madre deixou Saqua-rema, a Casa de Caridade Nossa Senhora de Nazaré foi perdendo forças, até fechar.

Na década de 50, por iniciativa de seus pais, Casimiro e Nair Vignoli, a casa foi reformada e reaberta, com apoio da socie-dade local para a reforma da infraestrutu-ra e verba para a sua manutenção, perma-necendo como um referencial na cidade.

Instituto Madre Maria das Neves, em frente à atual Praça Oscar de Macedo Soares

A vida de Madre Maria das Neves retratada no livro escrito pela Irmã

Maria de Santa Joana D’Arc

FOTO EXTRAÍDA DO LIVRO RAÍZES DA MINHA TERRA ACERVO HERIVELTO BRAVO PINHEIRO

O município festeja 8 de Maio e todas as conquistas

e vitórias alcançadas em 172 anos de emancipação

político-administrativo.

Com orgulho de pertencer a essa

terra e fazer parte de sua história,

estamos todos unidos nesta data

pela alegria de comemorar o

aniversário desta Cidade, que a

cada ano se torna melhor!

Vereador Matheus Alves

Page 13: O Saquá 158

Maio/2013 13O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL

Barra Franca, um dilema históricoem busca de uma solução definitiva

Alessandra Calazans

Um dos grandes atrativos em Saquarema, o canal de liga-ção entre a lagoa e o mar, co-nhecido como Barra Franca, é

um local singular, não só por sua beleza natural, mas também por sua função de equilíbrio do ecossistema, que promove a renovação das águas, proporcionan-do vitalidade às espécies do ambiente e consequente reestruturação da ativida-de pesqueira. Encantador ponto turísti-co, frequentado por banhistas, demanda um frequente desassoreamento da la-goa, um problema mais antigo do que se possa imaginar.

O local, também chamado de Barri-nha, tem como característica o acúmulo de areia trazida pela maré, porém outros fatores, dentre eles a urbanização da re-gião e o consequente processo de degra-dação das margens e poluição, contribu-íram para o agravamento do problema. Antigamente, antes da Barra Franca, quando a barra fechava devido ao ex-cesso de areia que as ondas jogavam no

fundo da lagoa, os próprios pescadores se reuniam e, com enxadas, carrinhos de mão, panelas e outros utensílios, tiravam a areia que impedia a entrada da água do mar e dos peixes, abrindo um canal.

Esta atividade foi registrada no livro Viagem pelo Distrito dos Dia-mantes e Litoral do Brasil, de Augus-te de Saint-Hilaire, cientista e expe-dicionário francês que percorreu e

documentou a região, em 1822.“Nesse lugar os habitantes de Saqua-

rema rasgam de tempos em tempos um canal que estabelece comunicação entre o lago e o mar, trabalho que exige pou-cas forças, pois que o solo é constituído somente de areia. Os peixes entram no lago com as águas do mar, e estas, trans-portando mais areia, logo fecham o canal. Quando se tem pescado todo o peixe que

Barra Franca com o assoreamento que demanda mais uma dragagem

A Barra era aberta manualmente ou com máquinas, antes da obra da Barra Franca

Professor de botânica e autor do livro Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil, Auguste de Saint Hilaire foi um naturalista francês que visitou a Região dos Lagos em 1822

SILÊNIO VIGNOLI

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DE

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HIL

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E

havia entrado no lago, rasga-se novo ca-nal e o lago de novo se enche. A parte da restinga onde se rasga o canal, ou melhor, se se quiser, a extremidade da restinga, tem o nome de Barra, porque é nesse lu-gar que se faz comunicação do lago com o mar. Dizem que outrora se podia entrar com embarcações do oceano no lago, mas que trabalhos mal orientados entupiram a entrada. Restabelecer essa comunicação, se não é impossível, seria dar vida a esta zona e enriquecê-la”.

Mais tarde, usavam-se máquinas para a retirada da areia. Tudo para abrir a bar-ra, porque quando fechada, gerava gra-ves consequências, como mortandade de peixes, agravamento da poluição e alaga-mento em época de chuvas.

Hoje, a vista aérea ou de cima do mor-ro da igreja dá a real proporção da beleza e também do grau de assoreamento do local. Sucessivas obras para a construção da Barra Franca foram feitas, para garantir o fluxo das águas de forma permanente. Iniciado em 2001, o Projeto Barra Franca requereu muitos estudos e, finalmente, foi construído um molhe de pedras, uma nova passarela de pedestres ao lado da Ponte Darcy Bravo, foi feita também a contenção da margem da lagoa, reforma e ampliação da Ponte do Girau, no Jardim, e várias drenagens.

A Barra Franca deu vida nova à lagoa,

mas não resolveu a demanda por novas dragagens, talvez pela dispersão das pe-dras do molhe, devido à força das ondas. Ninguém duvida que a Barra Franca é vi-tal para a economia, turismo, pesca, meio ambiente e lazer da cidade, sem falar na energia telúrica que emana do encontro do mar com a lagoa.

GILDESIO

Page 14: O Saquá 158

Maio/201314 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

Itaúna, a praia tradicional do surfe

Sede da Associação de Surfe de Saquarema, point badalado na Praia de Itaúna

A Praia de Itaúna tem, se-gundo os grandes surfistas nacionais e internacionais, algumas das mais perfeitas ondas do planeta. Pérola do

turismo esportivo de Saquarema, Itaúna está registrada na história como pioneira do surfe e hoje é um celeiro de atletas como Raoni Monteiro, atualmente em posição de liderança no circuito mundial, após sua vitória em Bells Beach, na Austrália, ven-cendo o campeão mundial Joel Parkinson, numa bateria emocionante. É o caso tam-bém da adolescente Kayane Reis, que tam-

bém está indo para a Austrália, Alessandra Vieira que ganhou vários títulos, entre eles o de campeã mundial e Taís de Oliveira, to-das brilhantes em suas categorias.

E pensar que tudo começou com o mergulhador Armando Serra , surfista do Arpoador, do Rio, que veio fazer caça submarina em meados dos anos 60 e se encantou com as ondas de Itaúna! Rossi-ni Maraca e Tito Rosemberg vieram em seguida, em 1964, num jeep, tração 4 ro-das; constataram a qualidade das ondas, que quebravam perfeitas nas areias de-sertas de Itaúna. Ficaram acampados na

praia, na restinga, tendo ao alcance das mãos pitangueiras, pés de mamão, fruta do conde, tangerina, laranjas e uma plan-tação maravilhosa de aipim. Os pescado-res nativos receberam muito bem estes e outros surfistas que foram chegando.

Nos anos 70, surgiu a fábrica de para-fina Waxmate, de Otávio Pacheco e Paulo Proença, em Itaúna, e a fábrica de pran-chas, de Ricardo Bocão e Betão, na Bar-rinha. Vieram então os campeonatos e os patrocinadores – o jornal O Globo, a loja Ala Moana, primeira loja de surf no Rio, o Mineirinho, o Limão Brhama, a Copa CCE, a Copa Rádio Fluminense, os dois campe-onatos Town & Country, o Reef e outros, a maioria com articulação do surfista e pu-blicitário Maraca que também teve papel decisivo na realização do Mundial de Lon-gboard, que marcou o retorno dos gran-des campeonatos em Saquarema, como o WCT, o SuperSurf e o WQS.

“O surfe é a maior mídia positiva de Saquarema”, diz Maraca. “Só no mundial de Longboard, em 2001, o especial do cam-peonato foi repetido 7 vezes no Sport TV”, relembra ele. “A Da Hui, marca havaiana, patrocinou o Longboard, exibido na Ban-deirantes em horário nobre e em cadeia na-cional, com uma audiência de 20 milhões de telespectadores”, continua. “Agora, os campeonatos são transmitidos ao vivo, pela internet, com uma qualidade excep-cional, tendo em média 70 mil internautas no mundo inteiro”, finaliza.

Desde os primeiros tempos, em que Saquarema atraía a juventude dourada do Rio, como os consagrados surfistas Pepê e o Petit, mais conhecido como Me-nino do Rio, Itaúna sempre foi um mito que se espalhou pelo país e o mundo. O surfe em Saquarema também valorizou os terrenos em Itaúna. Hoje, o surfe é considerado uma grande fonte de ren-da em Bali, no Havaí, no Taiti, no Peru e em outros grandes points. Surfe é tão bom negócio que a Índia criou um fundo artificial numa praia que hoje é visitada pelos surfistas que vão para Bali e fazem escala em Nova Deli. Itaúna não precisa de fundo artificial. Com sua laje perfei-ta, é um paraíso tropical com seus tubos infinitamente belos.

O filme documentário sobre os principais campeonatos do

esporte em ascensão na década de 70, que teve a fundamental

participação de Maraca em todo processo de criação e produção

Em um dos grandes campeonatos da época, Maraca na companhia do filho

Maraca e ocompanheiro Titodesbravando a recém descoberta Praia de Itaúna, ainda totalmente deserta,porém com o melhordos atrativos para surfe: as ondas perfeitas

Vamos comemorar em 8 de Maio a data histórica de emancipação político-administrativa da Cidade de Saquarema. Parabéns por esta e por todas as conquistas dos seus 172 anos!

Vereador Bruno Pinheiro

À afortunada Saquarema, todas as honras e homenagens daqueles que se orgulham de contribuir com o desenvolvimento e edificação desta Cidade. Parabéns por tão esperada data

Point do Sorvete Caseiro

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Maio/2013 15O SAQUÁ EDIÇÃO ESPECIAL

Agenda 21: primeiro passo para o desenvolvimento sustentável

A Agenda 21 é um documento surgido na Rio-92, quando mais de 170 países se reuniram no Rio de Janeiro, numa Con-

ferência sobre Meio Ambiente promovida pela ONU. A Agenda 21 apontava então a necessidade de planejamento para se alcançar o desenvolvimento sustentável, baseado num tripé: desenvolvimento eco-nômico, social e ambiental. Assim, vários países começaram a construir suas Agen-das 21, entre eles o Brasil. Concluída este etapa nos anos seguintes, os estados tam-bém iniciaram suas agendas, com base nas Agendas 21 Locais, elaboradas de for-ma participativa nos municípios, ou seja, com apoio não só do poder público mas também da sociedade civil organizada, empresários, etc.

Foi o caso de Saquarema, que iniciou o debate sobre a Agenda 21 em reunião promovida pela Federação das Associa-ções de Moradores e Amigos, na época presidida pelo repórter fotográfico Edi-milson Soares e coordenada pela jornalis-ta Dulce Tupy. A reunião lotou o plenário da Câmara Municipal, que teve a partici-pação de vários vereadores, do presiden-te da Câmara Zezinho Amorim e também do então prefeito Carlos Campos. Uma comissão parlamentar especial foi criada na ocasião com os vereadores Paulo Re-nato, Carlos Chagas e Serginho da Pipa, para elaborar uma lei que acabou não sendo promulgada pelo prefeito que veio a falecer. Mais tarde, Paulo Renato faria a primeira Lei da Agenda 21, promulgada pelo prefeito Peres e depois reformada pela prefeita Franciane, a pedido do pró-prio Fórum da Agenda 21 Local.

Hoje, a Agenda 21 já apresentou vá-rios resultados, ente eles uma publicação com um diagnóstico local e vários proje-tos para o município, sendo que algumas obras apontadas como necessárias já fo-ram concluídas, como a estrada que liga Jaconé a Ponta Negra, totalmente asfalta-da. A partir daí, um intenso debate sobre

o futuro que queremos para Saquarema e que vamos deixar para nossos filhos e netos se intensificou, culminando com a apresentação da Agenda 21 este ano na Câmara Municipal, em comemoração ao Dia da Água, e posteriormente no Semi-nário Sobre Desenvolvimento Sustentá-vel, realizado na FAETEC de Bacaxá, vol-tado para os membros do poder público.

Participaram do evento em Bacaxá, coordenado pela pedagoga Layla Gar-rido do Fórum da Agenda 21 Local, a prefeita Franciane Mota, o presidente da Câmara Paulo Renato, o presidente da Comissão Parlamentar de Meio Am-biente, vereador Rodrigo Borges, o re-presentante da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, biólogo Carlinhos, e as convidadas Patrícia Kranz, consultora da Petrobras, e Karla Matos, coordenadora da Agenda 21 do INEA, da Secretaria Es-tadual do Ambiente.

Reunião preliminar com a prefeita Franciane, a consultora Patrícia Kranz e os coordenadores do Fórum da Agenda 21 Saquarema, preparando o

seminário realizado na FAETEC

Vários vereadores participaram do seminário sobre Desenvolvimento Sustentável, na foto, com a prefeita Franciane e a coordenadora

da Agenda 21 do INEA/SEA, Karla Matos

A bailarina e coreógrafa Rita Daumas promoveu uma bela apresentação da

Daumas Academia

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Eu e minha família saudamos o

município de Saquarema por sua

data maior. Só temos a celebrar a

dádiva de conviver neste lugar e

reconhecer sua magnífica trajetória.

Vereadora Adriana de Jaconé

Que o bom Deus abençoe o seu futuro, que seus filhos sempre honrem seu passado e zelem pelo presente

deste rincão abençoado. Uma sincera homenagem pelos 172 anos de Saquarema.

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Maio/201316 O SAQUÁEDIÇÃO ESPECIAL

Moto. É preciso saber usar.É preciso respeitar.

Custo de um capacetenovo: 200 reais.

Custo para sua vida: incalculável.

A imprudência cobra um preço alto. Dê valor à vida.São os votos do jornal

O SAQUÁ

São os votos do jornal

O SAQUÁ

Alberto de Oliveira, o poeta de SaquaremaChico Peres

Ao realçarmos a his-tória numa edição comemorativa dos 172 anos de eman-

cipação político-administrativa de Saquarema, não podemos deixar de lembrar de um dos seus filhos mais ilustres: Alber-to de Oliveira.

Em 2008, no sesquicente-nário de nascimento do Poeta, lançamos o primeiro volume

da Coleção Memória da Cida-de, para homenagear Alber-to de Oliveira, que nasceu no bairro de Palmital, em Saqua-rema, dia 28 de abril de 1857, e faleceu em Niterói, em 19 de janeiro de 1937, pouco antes de completar 80 anos.

Do movimento literário denominado Parnasianismo, o poeta saquaremense foi o seu maior cultor, formando uma tríade com os poetas Olavo Bi-lac e Raimundo Correia. Com Machado de Assis e outros ex-

poentes da literatura nacional, fundou a Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, tendo ocupado a cadeira nº 8, cadeira que outro ilustre saqua-remense assumiu mais tarde, o sociólogo Francisco José de Oli-veira Vianna, considerado um dos mais importantes do Brasil. Alberto de Oliveira publicou mais de 18 livros, tendo ocupa-do importantes cargos públicos no Estado do Rio de Janeiro, inclusive o de Diretor Geral da Instrução Pública, o que equi-

vale ao cargo de Secretário de Estado de Educação.

Sobre o nosso poeta, Olavo Bilac pronunciou-se em certa ocasião: “Alberto de Oliveira não é somente o maior dos nos-sos poetas vivos: é também o mais brasileiro de todos os po-etas do Brasil”. O escritor Silvo Romero, no livro “História da Literatura Brasileira”, fez a se-guinte observação sobre o poeta saquaremense: “É o mais abun-dante e talvez o mais imagino-so poeta brasileiro”. O poeta

Carlos Drummond de Andrade referiu-se a Alberto de Oliveira, em um artigo no Jornal do Bra-sil, em 1979, dizendo: “Alberto foi expoente de uma escola e de um tempo intelectual brasi-leiro. Não pode ser eliminado da cronologia, nem do quadro de valores permanentes. Existe com luz própria”.

* Chico Peres é vereador, advogado e poeta, autor do livro Alberto de Oliveira, Poeta de Saquarema