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4 | NOVEMBRO 2015 O SEGREDO DE QUEM FAZ O boi como PROVIDENCIAL terceira safra Leandro Mariani Mittmann [email protected] A agricultura brasileira é tida como privilegiada ao poder praticar uma segunda safra na mesma área e no mesmo ano. A imagem da colheitadeira em ação seguida do trator com uma plantadeira engatada desperta a admiração de americanos e europeus, que veem da janela a neve tomar suas lavouras durante semanas. Pois ultimamente têm se expandido no Brasil as iniciativas de agregação de uma terceira safra no período de 365 dias: de bois. É assim que define Antonio José Gazarini , que, com um irmão e dois primos, há pouco mais de seis anos, foram conquistados pela integração lavoura-pecuária, em Jataí/GO. O Grupo Irmãos Gazarini é mais um exemplo do bem sucedido casamento lavoura & gado. Eles cultivam soja, milho, feijão e painço em uma ampla área (que não é revelada), onde na entressafra entram bois magros para engordarem em uma vistosa braquiária. São muitas as vantagens do sistema, lista Gazarini, sobretudo o controle de invasoras e a melhoria das qualidades físicas, químicas e biológicas do solo. Divulgação

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4 | NOVEMBRO 2015

O SEGREDO DE QUEM FAZ

O boi como PROVIDENCIALterceira safra

Leandro Mariani [email protected]

A agricultura brasileira é tida comoprivilegiada ao poder praticar umasegunda safra na mesma área e nomesmo ano. A imagem da colheitadeiraem ação seguida do trator com umaplantadeira engatada desperta aadmiração de americanos e europeus, queveem da janela a neve tomar suas lavourasdurante semanas. Pois ultimamente têm seexpandido no Brasil as iniciativas deagregação de uma terceira safra noperíodo de 365 dias: de bois. É assim quedefine Antonio José Gazarini, que, comum irmão e dois primos, há pouco mais deseis anos, foram conquistados pelaintegração lavoura-pecuária, em Jataí/GO.O Grupo Irmãos Gazarini é mais umexemplo do bem sucedido casamentolavoura & gado. Eles cultivam soja, milho,feijão e painço em uma ampla área (quenão é revelada), onde na entressafraentram bois magros para engordarem emuma vistosa braquiária. São muitas asvantagens do sistema, lista Gazarini,sobretudo o controle de invasoras e amelhoria das qualidades físicas, químicas ebiológicas do solo.

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A GRANJA | 5

A Granja — Quando vocês come-çaram na integração lavoura-pecu-ária e qual a razão do investimen-to? Vocês se basearam em algumainiciativa, algum exemplo?

Antonio José Gazarini — Inicia-mos há seis para sete anos, mais oumenos. Uma pessoa nos despertou, umapessoa que tem prática com a pecuária,enquanto nós não tínhamos prática ne-nhuma. E ela falou: “o negócio é bom,fazer a integração lavoura e pecuária”.Essa pessoa, que tem prática, mas nãotem formação, era gerente de uma fa-zenda vizinha, e hoje ele é parceiro nos-so no negócio (gado). Ele falou: “não, éuma coisa que dá certo e tal, eu já vifazer...” Então, começamos a fazer emum pedaço pequeno para ver como éque funcionava, e aí foi criando corpoe nós intensificamos o negócio. Hoje fa-zemos em uma área boa (não releva-da). Fazemos a integração e temos umpequeno confinamento para “terminar”o gado que não “termina” na palhada.Fazemos em cima de milho de primeirasafra. Plantamos o capim junto com omilho. Semeamos o capim na frente eplantamos o milho atrás. Usamos o ca-pim Brachiaria ruziziensis. E por quenós usamos este? Porque é um capimque não forma touceiras e é fácil dematar, ele se forma bem muito e rápido,não tem um crescimento muito rápido,dá uma boa massa foliar e na hora dematar se usa uma dose menor de des-secante para erradicar. Como plantamosjunto do milho, quando germina, ger-mina tudo junto. Quando o capim co-meça a perfilhar, aplicamos um produtopara dar uma segurada nele, para nãoatrapalhar o crescimento do milho. Aí omilho cresce e ele fica por baixo. En-tão, tira-se o milho na colheita e, com30 dias, o pasto está formado e se podelargar o gado, que fica de maio até se-tembro. E fazemos também na últimasoja, a colhida mais no tarde e que saino período melhor para fazer a segundasafra, quando se semeia o capim comavião, no momento em que a soja co-meça a maturação. As folhas da sojacaem em cima da semente do capim, eo que acontece? As sementes germiname ficam debaixo da soja, que, quando écolhida, o capim está com cinco ou seis

centímetros de tamanho. Com 30 dias,o capim está formado e o gado é solto.Também fazemos de outra maneira:onde se colhe a primeira soja ou o pri-meiro feijão, que é colhido mais nocedo, semeia-se o capim, planta-se omilho em janeiro, colhe-se em junho, eaí solta-se o gado até setembro. São trêsmaneiras.

A Granja — São seis anos. O sis-tema está bem consolidado ou estãoem fase de melhoramento?

Gazarini — Sempre tem algumacoisa para melhorar. Mas já temos umcerto controle sobre isso, ainda quesempre seja necessário fazer algumasmudanças. Não se pode ficar estacio-nado. Vamos fazendo algumas mudan-ças, mas está bem consolidado. Porém,não adianta chegar a uma chapada e fa-lar: “vou fazer a integração aqui”. Por-que você tem que ter uma infraestrutu-ra de água e um curral para a hora demanusear o gado. Fazemos cerca elé-trica com dois fios eletrificados porquena hora de fechar o gado, de repente,ele pode estourar essa cerca. Tem queter lugar para dar uma encurralada nogado.

A Granja — Quantas cabeças degado são trabalhadas por ano?

Gazarini — Varia entre 5 mil e 6mil.

A Granja — Além disso, que ou-tra infraestrutura para o gado vocêsprecisaram implantar?

Gazarini — Temos áreas que, pelanatureza, já temos a infraestrutura deágua, por exemplo. Temos aguadas boasna fazenda. E tem que complementar oalimento no cocho, um proteinado, en-tão é preciso ter um equipamento paradistribui-lo. Temos um cocho bem rús-tico, inclusive feito de big-bag. Então,são coisas baratas para não encarecer osistema. E maquinário, o único usadoque não faz parte da agricultura é o mis-turador-distribuidor para os cochos.

A Granja — E quais as vantagensda integração boi e lavoura?

Gazarini — Temos aqui algumas in-vasoras que são problemas, algumas re-

sistentes ao glifosato. Por exemplo, a buva,a trapoeraba, a erva-quente, que são dedifícil controle. E onde você implanta abraquiária, ela dá uma supressão nas in-vasoras, que não vêm no meio da braqui-ária. Então, a braquiária controla as inva-soras. Isso é uma coisa boa que temosaqui. E a cobertura do solo. Onde tem ocapim, nos dias mais secos, fica uma co-bertura boa de massa, onde a umidadesegura um pouco mais. Temos aqui do-enças como o mofo-branco, uma doençade solo, onde usamos a braquiária tam-bém para um certo controle. Então, sãoalgumas vantagens que a gente vê fazen-do a integração. Fora a reciclagem de nu-trientes, um trabalho que a braquiária faz,além da massa que ela deixa e as galeriasque ficam através das raízes.

A Granja — E os ganhos econô-micos?

Gazarini — Só o fato de controlaressas invasoras já é um ganho muitogrande. E o controle da soja-guaxa, atiguera, que o gado come, enquanto nalavoura de milho o gado come todasaquelas espigas que caem na colheita,milho que não fica brotando na culturasubsequente. E ainda essa parte de re-ciclagem de solo e proteção de solo. Temtambém a viabilidade econômica. Não éuma coisa que rende muito, mas vocêtem um dinheiro fora de época, vocêdiversifica sua atividade. Agora, a co-bertura de solo é muito boa. Só o fatode proteger o solo... Estamos em unsdias de estiagem, e onde não tem co-bertura, o solo está seco; onde tem co-bertura, o solo está úmido.

A Granja — O gado é adquiridona região?

Gazarini — Sim, na região. Adqui-rimos gado no ponto de confinamento.Você calcula um gado que é colocadoem um pasto para ele ficar até o pontode ir para a palhada, mas tem que ad-quirir um gado que você tem a certezaque vai sair naquele ano. No nosso caso,não temos as pastagens para manter ogado gordo. E o que nós fazemos? Ad-quirimos o gado, deixamos nessas pas-tagens para manutenção e depois leva-mos ele para a palhada, e da palhada elevai direto para o abate. O pouco que

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6 | NOVEMBRO 2015

O SEGREDO DE QUEM FAZ

Hoje você temque otimizar a

sua propriedade.Os solos,

principalmente osmais valorosos, os

de maior valoragregado, devemser aproveitados

ao máximo

A braquiária faz asupressão deinvasoras de

difícil controle eresistentes ao

glifosato comobuva, trapoerabae erva-quente, e

a massa do capimmantém a

umidade do solopela cobertura

não vai, segue para um confinamento.Ele tem que fechar o ciclo dele dentrodo ano. Escolhemos um gado que per-cebemos que terá ganho corporal.

A Granja — A integração é feitaem toda a área de grãos? A ideia éaumentar?

Gazarini — Não. Fazemos em tor-no de 30% (da área). Neste ano, o cus-to do gado magro, a reposição, foi umpouco complicada, e fizemos um pou-co menos. Mas isso depende de pers-pectiva de mercado. Se não quisermospôr o gado em cima, plantamos capimsó para fazer cobertura. Não temos criado gado, apenas “terminamos”, e se fi-car inviável a aquisição do gado, se acoisa não é boa... neste ano mesmo,uma parte ficou só em cobertura docapim e dessecamos para plantar. Fi-cou muito bom. E tem a oportunidadede tirar a semente do capim. Nós pro-duzimos parte da semente do capim.

A Granja — Que recomendaçõeso senhor daria a quem está pensan-

do em começar a integração lavou-ra-pecuária?

Gazarini — Se quiser fazer só co-bertura de solo, é uma coisa, não temmuito segredo. Agora, se for para fa-zer integração mesmo, com o gado, es-colher uma área que esteja próxima deaguadas, que seja mais fácil de fazerum curral, ou que já tenha um curral,que assim já economiza, porque issotudo é investimento. Que a área nãoseja muito isolada da casa porque, derepente, o gado escapa ou acaba a ener-gia elétrica. Fazemos tudo com bate-ria, mas pode dar problema na bateria.Tem que ter a presença de pessoas parasempre estar vigiando. Escolher umasemente boa de capim, tomar muitocuidado para não deixar o capim cres-cer muito, principalmente no meio dalavoura de milho. Tem que dar uma se-gurada no capim porque senão atra-palha a lavoura principal, o milho – nasoja, não, porque é feita depois. Por-que hoje tem produto para controlar ocapim e não matá-lo. E também tem oponto certo de aplicar e controlar essecapim porque se fizer muito novo, podematá-lo; se tiver o capim muito alto, jáprejudicou a lavoura de milho. Então,em um ponto de equilíbrio que é muitoimportante.

A Granja — Aprenderam tudoisso com quem? Com a prática?

Gazarini — Na verdade, esse par-ceiro nosso, na parte de gado, foi eleque nos indicou. Temos nossos agrô-nomos e que orientam. Eles têm expe-riência com controle de ervas daninhas.No começo, às vezes apanhamos nocontrole do capim. Matamos o capimou o capim atrapalhou o milho. Então,fomos ajustando o ponto de equilíbrio.

A Granja — Sobre integração la-voura-pecuária, tem muita pesqui-sa para apoio ao produtor, da Em-brapa e de outras instituições?

Gazarini — Não temos muitas in-formações de fora, não. Estamos maisno pouco que sabemos. Fomos apa-nhando. Mas não é uma coisa muitodifícil de fazer. São alguns ajustes só etem dado certo. No Brasil inteiro se fazisso hoje. Não com muita intensidade,

mas em todas as regiões do Brasil setem notícias que se faz essa integra-ção. Às vezes, não a integração pro-priamente dita, mas uma cobertura desolo já tem. E a maioria faz integraçãotambém. Para alguns, é novidade, maspara muitos, não.

A Granja — Na sua opinião, qualo futuro da integração lavoura-pe-cuária na agricultura brasileira? Sediz que será uma prática generaliza-da...

Gazarini — Eu vejo com bonsolhos, acho que tem um futuro promis-sor. Por quê? Porque hoje você tem queotimizar a sua propriedade. Hoje, os so-los, principalmente os mais valorosos,os de maior valor agregado, devem seraproveitados ao máximo. Em solo caro,é preciso verticalizar o seu negócio. Euma das maneiras de verticalizar é fa-zer isso. Nós, por exemplo, estamos fa-zendo a terceira safra sem irrigação.Fazemos feijão, milho e gado. É neces-sário tentar tirar do solo o máximo quese puder. E só o fato de fazer essa co-bertura de solo melhora a sua estruturafísica, controla ervas daninhas, tem ocontrole de pragas e doenças de solo. Écomo dizemos, um conjunto positivo.