78
O SENTIDO DE UM ABRIGO PSÍQUICO PARA UMA VIDA MENTAL Alicia B. D. de Lisondo Organizadora 2003

O SENTIDO DE UM ABRIGO PSÍQUICO PARA UMA VIDA … · QUADRO COMPARATIVO DAS DIFERENÇAS ENTRE A FAMÍLIA “ SUFICIENTE-MENTE ... Freud da voz ao infantil ... Cabe a Melanie Klein,

  • Upload
    haduong

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

O SENTIDO DE UM ABRIGO PSÍQUICO PARA UMA VIDA MENTAL

Alicia B. D. de Lisondo Organizadora

2003

AS AUTORAS ADRIANA CAMPOS CERQUEIRA LEITE

Doutora em Psicanálise e Psicopatologia Fundamental, pela Universidade Paris VII

Doutora em Saúde Mental, pela UNICAMP

Pesquisadora do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da UNICAMP

ALICIA BEATRIZ DORADO DE LISONDO - organizadora

Membro Efetivo e Analista Didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Membro do Núcleo de Psicanálise de Campinas e Região

Analista de Crianças e Adolescentes

Docente do Curso de Formação de Psicanálise de Crianças e Adolescentes da Sociedade

Brasileira de Psicanálise de São Paulo

ANA MARIA QUEIROZ GUIMARÃES PROTTI

Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Membro do Núcleo de Psicanálise de Campinas e Região

Curso de Psicanálise de Crianças e Adolescentes da Sociedade Brasileira de Psicanálise

de São Paulo (concluído)

CLÍCIA ASSUMPÇÃO MARTARELLO DE CONTI

Docente do Curso de Especialização de Fonoaudiologia da UNIMEP

Membro da Sociedade Psicanalítica de Campinas

APRESENTAÇÃO

Este Projeto - Um Abrigo Psíquico foi escrito por psicólogas e psicanalistas com vasta experiência na área clínica e na área das investigações psicanalíticas no campo dos infans, crianças e adolescentes. Elas fazem parte da equipe do Serviço de Psicologia Psicanalítica, na Unidade de Atendimento Infantil (UAI) do Centro de Controle de Investigação Imunológica Dr. Antônio Carlos Corsini.

As autoras pretendem que este trabalho seja explorado por profissionais da área da saúde

e contribua para um enriquecimento pessoal na compreensão mais profunda sobre a complexidade psiquê e soma (mente e corpo), juntamente com o relacionamento humano na intimidade da vida institucional evidenciando a questão da subjetividade do ser em formação.

O conteúdo deste trabalho constitui a base epistemológica da aplicação clinica do Serviço de Psicologia Psicanalítica nas áreas:

1. Da Observação de Bebês às Intervenções precoces 2. Avaliação Psicanalítica 3. Psicoterapia Psicanalítica às Crianças e Adolescentes

4. Grupo Operativo

5. Acompanhamento Terapêutico

6. Grupo de Pais

7. Formação de Aprimorandos e Estagiários

8. Pesquisa e Divugação na Comunidade Cientifica

9. Embasamento para o Curso “Conceitos Fundamentais da Teoria e da Técnica de

Psicanálise - Infans, Crianças e Adolescentes”

“A Psicanálise chega para pôr tênue luz aos cantos inconscientes escuros da alma encolhida”

Alicia Lisondo (da poesia Cruz e Luz)

ÍNDICE

SENTIDO DE UM ABRIGO PSÍQUICO PARA A VIDA MENTAL .............................................. 1

A FUNÇÃO MATERNA E PATERNA NA SITUAÇÃO EDÍPICA................................................ 7

OS ALICERCES DA IDENTIDADE HUMANA. A FUNÇÃO MATERNA E PATERNA NA

CONFIGURAÇÃO EDÍPICA. ................................................................................................. 22

A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA INTERSUBJETIVIDADE.................................... 25

POR QUE O PRIVILÉGIO AOS INFANS.................................................................................. 31

COMPLEXO FRATERNO – A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PRÓPRIA .......................... 36

POR QUE O ESPELHO – SEU SENTIDO E USO..................................................................... 42

USO E ABUSO DA TV E COMPUTADOR................................................................................ 45

PROJETO MINHA HISTÓRIA DE VIDA .................................................................................. 47

O LUGAR DAS HISTÓRIAS INFANTIS/ DO BRINCAR / DA REPRESENTAÇÃO DA

CRIATIVIDADE........................................................................................................................ 49

POR QUE OS CLÁSSICOS CONTOS DE FADA?..................................................................... 52

A QUESTÃO DA VERDADE.................................................................................................... 54

QUADRO COMPARATIVO DAS DIFERENÇAS ENTRE A FAMÍLIA “ SUFICIENTE-MENTE

BOA” E O INFANS NUM ABRIGO .......................................................................................... 56

PROPOSTAS CONCRETAS...................................................................................................... 59

FILIAÇÃO SIMBÓLICA E FILIAÇÃO DIABÓLICA.................................................................. 61

BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................................66

1

SENTIDO DE UM ABRIGO PSÍQUICO PARA A VIDA MENTAL

“ ... Maldição!

Ter vindo ao mundo para endireitá-lo” . (p. 47)

“ Teria sido melhor que a minha mãe não me houvesse dado a luz.” (p. 75)

Hamlet

Pretendemos pensar sobre o abrigo para crianças vítimas daquela que é talvez a grande epidemia do final do século XX e que infelizmente invade o século XXI ainda com a marca da tragédia - embora já podendo contar com muitos avanços do campo médico -. Como toda tragédia, essa também nos toca de maneira muito mais contundente quando nos deparamos com a história de cada uma das crianças atendidas pelo Centro Corsini. Quando os números ganham nomes, rostos, histórias e singularidades tomam imediatamente outra dimensão, a dimensão da subjetividade. Pois bem, é justamente esta dimensão singular que mobiliza o olhar da psicanálise e que orienta este projeto.

A psicanálise é a ciência e arte que no inicio do século revoluciona a epistemologia da época quando descobre a dimensão inconsciente do ser humano. O mito do homem racional é descentrado de sua hegemonia num cambio significativo e copernicano. Freud da voz ao infantil vivo e presente na vida de todos . A sexualidade humana tem lugar de destaque nos primórdios da vida mental e vida fora. A satisfação do bebê mamando no seio de sua mãe transcende a necessidade biológica. Este primeiro modelo de relação afetiva, poética, misteriosa e estruturante da vida humana tem sido motivo de inspiração na arte em todas as suas manifestações. Sexualidade não é, portanto, sinônimo de genitalidade.

Cabe a Melanie Klein, a tripeira genial, segundo Lacan, descobrir o bebê presente em todos nós. Com ela a psicanálise de crianças é consagrada com a sua força terapêutica e a revolução dos paradigmas teóricos. Ao colocar brinquedos para ir ao encontro da criança lá onde ela está; permite que outra linguagem se escute e veja na cena analítica. A criança faz ou deixa de fazer usando o recurso da linguagem pré-verbal. Seu corpo na realidade, como o corpo do ator na representação, é um palco expressivo, aquém e além da palavra. A caixa de brinquedos é o seu alfabeto e assim conta, revela, nesse espaço sagrado do consultório para, com, contra ou dentro da pessoa da analista afetos, fantasias, pensamentos, figurações que permitem o contato com esse ser em formação (Klein, 1930,1952,1959) .

Bion, seu seguidor é o analista do pensamento. Ele enraíza no encontro do feminino- continente e do masculino-conteúdo, a preciosa capacidade humana do pensar. Não há conhecimento divorciado do mundo emocional. Aqui jaz a divisória de águas entre a psicanálise e o cognitivismo. O pensamento humano não é só obra de um sistema neuronal. É preciso um aparelho psíquico para poder pensar, um espaço mental esculpido por obra de uma mãe com revêrie que exige a presença da função paterna (Protti, 2001).

2

2

Bion provoca o terceiro escândalo psicanalítico ao derrubar a clássica divisão entre o neurótico do universo freudiano e o homem sadio. No ano de 1957 contribui com seu célebre trabalho “Diferenciação da parte psicótica e não psicótica da personalidade” . Todos temos algo de loucos. A diferença está no alcance, profundidade, áreas de comprometimento ou inibição das funções dessas partes psicóticas que invadem a vida psíquica como um câncer com suas manifestações surdas ou barulhentas (Bion, 1957).

Winnicott chega à psicanálise após longo percurso na pediatria. Resgata a psicanálise de um certo individualismo ao propor uma teoria ambientalista. Não há bebê sem mãe. É a mãe “suficientemente boa” capaz de “ preocupação materna primária” a responsável pelo “ verdadeiro self” do bebê e a garantia da vivência de continuidade do ser. É este o autor que dá estatuto teórico ao célebre “ursinho” acompanhante do infans desde o primeiro ano de vida. Este “ursinho” é e não é a mãe. Ocupa um “espaço potencial” assim como a cultura e a obra de arte. Está a caminho do processo de simbolização, isto é, a renúncia concreta à materialidade de sua existência. O símbolo exige elaborar o luto da presença da “coisa em si” .

Lacan influenciado pelo estruturalismo enfatiza a importância do Outro, da cultura e da linguagem que antecedem o nascimento do infans. A importância do “ nome do pai” (fig. 1) como portal do mundo simbólico; a reformulação do complexo de Édipo ao compreendê-lo como manifestação da relação simbiótica, imaginária e dual da mãe com o bebê como falo e a fase do espelho1 têm trazido importantes contribuições em especial a diferenciação da ordem do real, imaginário e simbólico.

Importa destacar que apesar das divergências do pensamento psicanalítico atual, pela diversidade de leitos epistemológicos, há uma convergência, qual seja :

A importância do Outro na constituição do psiquismo do infans e a força estruturante do infantil.

Ante a desintegração do núcleo familiar pela morte dos pais, pela destituição do Poder Familiar ou pela rejeição materna primária do infans entre outras complexas configurações psíquicas, sociais, religiosas, míticas, legais e culturais o abrigo surge como uma alternativa possível, ciente da impossibilidade de substituir plenamente uma família “suficientemente boa” , isto é, capaz de propiciar o processo de humanização, o desenvolvimento mental, a constituição da subjetividade nas inevitáveis passagens estruturais para vir a ser um sujeito social, pensante, criativo com uma identidade sexual capaz de simbolização e aprendizado.

Assim, sob o vértice da psicanálise pretende-se, neste projeto, introduzir e problematizar algumas questões que possam contribuir para que o abrigo que protege a integridade física da criança possa constituir-se também em um abrigo que promova e proteja a vida psíquica. Não dizemos olhar a toa, é pelo olhar, olhar do Outro que vai se constituir aquilo que chamamos subjetividade. Mas não serve qualquer olhar. Trata-se de um olhar desejante, um olhar que espera algo daquele ser que inicia a vida, um olhar de alguém que está de tal forma envolvido com o bebê que chega a confundir-se com ele ainda que, depois, precise dele se separar. É um olhar atento que como um imã atrai o infans a querer penetrar no mistério do Outro. Toda relação amorosa se inicia com o olhar ( Meltzer ,1994; Haag,1991; Geissmann, 1993).

O abrigo protege a vida da criança incapaz de cuidar-se e deve, além disso, constituir-se num espaço que propicie o crescimento psíquico, um “espaço potencial” para a criação.

1 Ver item “ Porque o espelho – seu sentido e uso” neste trabalho. Figura 1 - “Adoración del Niño” - Corregio

3

3

A relação dos cuidadores com as crianças e adolescentes está regida pelas leis trabalhistas que nem sempre contemplam a especificidade, complexidade e exigências do trabalho necessário para criar a vida mental. O sistema trabalhista atual de turnos de oito ou doze horas e conseqüente alternância permanente dos funcionários para cobrir o dia e a noite dificulta a criação de uma estrutura psíquica pelo infans. A qualidade da relação que se cria entre os cuidadores e os hospedados é fundamental e ela depende da disponibilidade e qualidade afetivas do cuidador. O contato mental, a partir da interpretação afetiva dos cuidados sensoriais, estrutura a vida psíquica.

Todos os sentidos são conclamados a orquestrar o reconhecimento do cuidador através da voz, do olhar, do contato físico, do perfume e das sensações proprioceptivas e cinestésicas. Ante o “desaparecimento” do cuidador o infans pode viver angústias catastróficas, de liquefação, de precipitação, sentindo-se despedaçado e desintegrado. O desaparecimento do cuidador é vivido como definitivo afinal, ele não tem ainda a representação psíquica do outro ou a capacidade de simbolizar ou pensar, ficando impedido de compreender a noção de transitoriedade que implica em noções de tempo e espaço. Para o infans o cuidador não vai e volta como quando é capaz de viver a experiência afetiva de dizer “tchau” , de brincar de despedida quando a mamãe vai embora, ou o típico jogo de esconde- esconde.

Remetemo-nos a experiência do “ fort-da” relatada por Freud (1920). Seu neto, na ausência da mãe, balbuciava esses sons que no alemão se assemelham ao som das palavras usadas para se despedir e para o reencontro enquanto lançava um carretel segurado por uma corda. Ele lançava o carretel para, em seguida, recuperá-lo puxando-o pela mesma corda. Esta experiência foi sabiamente interpretada por Freud como a representação de uma mãe que vai e volta. Na brincadeira, contudo, a criança adquire o controle sobre uma situação que na realidade lhe escapa completamente vivenciando-a ativamente buscando suplantar a angústia experimentada pela passividade com que vivencia a experiência que dá origem à brincadeira. Pedimos ao leitor que guarde esta experiência em mente para compreender a importância do brincar na expressão das vivências psíquicas e a elaboração das angústias. O espaço do percurso do carretel é sagrado assim como qualquer templo religioso (Luzuriaga, 1970).

A cada afastamento repete-se uma situação traumática que inunda o self primitivo e frágil de uma angústia indizível, irrepresentável que esfacela o ser em formação num encadeamento de traumas cumulativos. Contra essas experiências o psiquismo precisa de um escudo protetor e esta é uma das funções maternas2: dosar a estimulação prevenindo a perigosa sobre-excitação. Para o bebê o mundo é o que ele pode apreender sensorialmente.

A constância da presença atenta e capaz de contato mental do cuidador e a regularidade no exercício de sua função não garante, mas é condição necessária e de fundamental importância nos primórdios da vida mental (Houzel, 1997). O cuidador alfabetiza emocionalmente o bebê ao interpretá-lo: “Você está bravo porque demorou a mamadeira” ou “Você está alegre porque encontrou o ursinho” (Ferro, 1977).

2 Observe-se que não dizemos funções da mãe mas sim, função materna. A possibilidade do exercício dessa função, em geral atribuída a mãe, existe para aquele capaz de identificar-se com o bebê

4

4

O cuidador é o Outro num vínculo de amor, ódio e conhecimento. Quando dizemos ódio referimo-nos a algo diferente de Thanatos ligado a destrutividade. A célula originária das relações sociais é concebida entre o infans e o Outro capaz de criar sentido e fazer com que a vida tenha sentido. O primeiro objeto estético, fonte de curiosidade, é o corpo, o rosto, e a mente do cuidador a serem tocados, agarrados, cheirados, lambidos, enfim, explorados. O valor da vida humana não depende da manipulação mecânica de um corpo coisa. O valor é dado pela atribuição de sentido que o cuidador outorga. Ser a “majestade o bebê” é um passo necessário da regulação narcísica na construção da auto-estima (Freud, 1914). A desilusão é um processo que deve vir posterior e gradualmente.

Não pretendemos criar um ambiente sem falhas. Isso não é real nem mesmo para a criança que se desenvolve num lar saudável e estável. As falhas ambientais, desde que aconteçam em um momento apropriado permitem e promovem o crescimento.

A desilusão só pode vir no momento em que o bebê puder diferenciar eu e não-eu. Antes disso qualquer desilusão é vivida como uma perda no próprio eu, como uma amputação cuja “dor fantasma” é insuportável. A desilusão é necessária e deve ser lenta e gradual, do contrário, ela adquire o estatuto de um trauma que só pode ser para sempre repetido sem ser jamais elaborado.

A transcendência da ordem material, a possibilidade de ir além da vida vegetativa, a fundação do humano depende da formação do superego formado pela introjeção das figuras parentais. São eles os responsáveis pela transmissão de valores sociais, culturais, éticos. A filogênese palpita nesse superego que protege e condena. Por trás do simples gesto de oferecer uma mamadeira o infans engole um mundo de valores e sentidos (Aulagnier, 1979).

Bion (1962), chama de “splitting forçado” o mecanismo ao qual recorre a criança vítima de uma desilusão precoce: o seio é cindido entre, de um lado, a materialidade do leite e, de outro, o amor, fonte de segurança, que recebe junto com o leite. A cisão vem no lugar da ilusão.

Não é suficiente, embora auspicioso, cuidar do nome para não estigmatizar o paciente portador de HIV. Deixar de se referir a ele como “aidético” é, sem dúvida, importante, mas acima disso está a necessária compreensão do infans com uma mente a ser parida num nascimento psíquico. Este é o desafio e o sentido de um Serviço de Psicologia Psicanalítica para crianças e adolescentes. Trata-se da construção da subjetividade de um ser humano para que não esteja condenado a ser um morto em vida. Ainda que não haja um comprometimento anatômico, enzimático, metabólico ou outras dificuldades orgânicas, as dificuldades psíquicas aparecem como palco privilegiado para o desvelamento das falhas na estruturação do aparelho mental. (Geissmann, 1993).

O cuidador proporciona um útero mental a um corpo pulsional, desejante. Aprende-se a amar quando se é amado, aprende-se a pensar quando se é pensado, “aprende-se” a sonhar quando se é sonhado, entra-se na linguagem quando se é interpretado pelo Outro e, fatalmente, aprende-se a destruir, ou a refugiar-se no isolamento autístico quando o ser sofre a insuportável dor da desintegração e/ou quando não se tem quem acuda a súplica do choro e/ou do esperneio, quando se sofre a incapacidade de penetrar no coração de um Outro significativo. A angústia de separação é catastrófica quando se impõe antes da necessária simbiose. O infans aninhado no corpo da mãe forma uma envoltura psíquica que o infans vive como desgarramento, quando não há modulação entre os encontros e as separações (Anzieu, 1987; Tustin, 1984). Quando se cai no abismal vazio sem ter quem segure e ofereça sentidos verdadeiros para a vida. A angústia a qual nos referimos encontra sua expressão em várias obras de arte tais como: “O grito” (fig.2).

Figura 2 - “ O Grito” - Edvard Munch

5

5

“Não existo” (fig.3) é o desenho de um adolescente adotado aos 6 meses de idade após ter vivido entre várias amas de leite, refugiado de canto em canto escapando de seu destino: a morte. Em sua tribo de origem havia uma lei que não devia ser transgredida: quando uma mãe morria no parto seu filho também devia morrer.

As falhas na estruturação da subjetividade são o portal das mais graves patologias: autismo, psicose, perversões, psicopatias, problemas na aprendizagem, doenças psicossomáticas, condutas anti-sociais, tais como: roubo, mentira ou homicídio. Há ainda, os casos de suicídio, anorexia e outras das, assim chamadas, patologias do vazio (Rosenfeld, 1992). Esse é o risco quando o abrigo não pode substituir a função materna e paterna (Lisondo, 2000). O cumprimento de papéis pseudomaternais, e pseudopaternais podem significar um pseudopapel de cuidado. Isto é, cuida-se da materialidade de um corpo que exige enorme dedicação porque sobre ele paira o fantasma da morte, mas se pode negligenciar a construção da vida psíquica quando o infans não é visto, compreendido, aninhado, segurado corpo a corpo, abrigado na mente e no coração. Ele precisa ser fonte de inspiração das canções de ninar, do brincar e da poesia sendo, assim, interpretado como ser humano. Cuidar da vida de um ser humano é algo maior que o sinistro vírus do HIV, a nova praga de Tebas ( Lisondo, 2002) .A sintonia de um cuidador com um infans pode evocar metáforas artísticas como a de bailarinos, ou da soprano na ópera que dá voz ao coração.

O desfile de personagens inconstantes manipulando estes seres a cada turno de trabalho só permite identificações superficiais, de extrema fragilidade. O inconsciente é atemporal e não compreende a leis trabalhistas. Assim como o choro, o desespero e as agonias intensificam-se com um cuidador estranho a cada hora. Dessa agonia, o “ falso self” será o corolário, a forma possível da criança proteger-se (Winnicott, 1971).

O “ falso-self” comporta desde uma dimensão saudável e adaptativa até uma dimensão patológica. Trata-se de uma adaptação do bebê às falhas ambientais. Por vezes, a criança sente que essa proteção é de tal modo necessária que se torna difícil a vivência de um “self verdadeiro” provocando um sentimento perturbador de irrealidade, de não existência. Isso acontece quando o “ falso self” , originário da necessidade de proteção de um “self verdadeiro” , teme tanto às agressões ambientais que permanece em ação todo o tempo. Este é o sentido das armaduras defensivas, a “segunda pele” , a concha autística (Huberman de Chiappini, 1997; Bick, 1968; Tustin, 1984, Franch, 2001) . Desse modo, o verdadeiro contato humano, nutriente da vida psíquica, fica absolutamente prejudicado. O que torna tal dificuldade mais preocupante é que a criança pode parecer aparentemente adaptada. Assim, a criança desenvolve um “ falso self” (Winnicott, 1949), uma mente cuidadora que visa à suplantação das falhas ambientais. A criação desse “ falso self” impõe um grave prejuízo ao processo de integração deixando o campo livre para as patologias psicossomáticas.

O ideal familiar e/ou institucional da criança independente, auto-suficiente, sobre adaptada, “ boazinha” , “ bem comportada” e “obediente” pode inibir a expressão dos afetos, os traumas, as perdas, os lutos onde está em destaque a orfandade, a morte real dos progenitores. O sofrimento impingido pela doença não pode dessa forma ser expresso.

Na gênese da patologia somática está o congelamento na circulação dos afetos, o déficit representacional, a incapacidade para simbolizar, a escravidão a um mundo primitivo e concreto. Ser doente e ao menos ser alguém no apelo desesperado para existir.

Figura 3 - “ Não Existo” - realizado por uma criança da UAI

6

6

O último suspiro humano consistiria em desistir da vida, procurar inconscientemente a morte deixando prevalecer o trabalho do negativo finalmente realizando o desligamento (Green, 1994). Nos delírios da psicose escutamos o berro agudo de restituição, a “solução” para tramitar as mortes, a orfandade, a dor de um corpo espetado, retalhado, entubado, sondado, cortado, furado, mutilado...

O destino sombrio do infans pode ser a morte psíquica ou a morte da subjetividade quando falha a função materna e paterna.

O corpo berra o que a psique não pode expressar através da linguagem pré-verbal: o choro, o grito ao vento ante a retirada do Outro como no grito de Munch (Fig. 2). O esperneio, os pesadelos, os sonhos, a brincadeira, os desenhos, a pintura, os contos de fada, as representações teatrais, a escrita, o diário secreto, o devaneio, os diálogos imaginários, as conversas...

Ante os traumatismos cada ser humano tem um limiar de tolerância. Cabe aqui lembrar que o infans pelo desamparo estruturante, e a vulnerabilidade extrema da condição humana, depende do OUTRO para ser, como revela a patologia do pânico (Costa Pereira, 1999). Muito além da satisfação da necessidade, da fome, o bebê requer um útero mental, um seio pensante, fonte de mistérios, objeto estético que o alfabetiza emocionalmente. O bebê é um filósofo em potencial que sabe e aprende o essencial da condição humana. Ele sabe quando sua vida tem valor através da linguagem sensorial, do olhar, da expressão facial, do calor dos braços que o aninham, da calidez do suporte corpo a corpo, do tom da voz que tal qual um manto sonoro o embala (Anzieu, 1987). O infans sabe da dor da rejeição quando a sua dor não é compreendida, quando seu choro suplicante não encontra escuta, quando o tremor de seu corpo não pode se refugiar no perdido corpo materno ou substituto, quando seu olhar não encontra em quem se fixar, quando não há ritmo nem constância e, sobretudo, quando encontra a cada vez um estranho. Tudo lhe é estranho: o cheiro, o timbre de voz, o rosto, a força e, finalmente, a forma diferente de ser. Nesse caso, a depressão cava o buraco na alma como um abismo sem fim, a angústia de precipitação (Houzel, 1991), a angústia ante a queda sem fim da desintegração do self.

Essa vivência muito precoce de “não existir” para sua mãe, faz o infans sentir-se como inanimado. Seus objetos são também sentidos como inanimados. A esse respeito foi muito útil o conceito de alucinação negativa desenvolvido por Green (1999), e de vazio como morte fenomenal, desenvolvido por Winnicott (1963). A quarta figura revela os caminhos possíveis ante a súplica humana: a compreensão ou a rejeição. Destes caminhos depende o destino de uma outra vida.

Figura 4 - "L’Implorante ou La Suppliante" - Camille Claudel, 1900

7

7

A FUNÇÃO MATERNA E PATERNA NA SITUAÇÃO EDÍPICA

O processo de humanização do bebê exige que o pai e a mãe tenham construído os alicerces da identidade masculina e feminina na própria triangulação edípica anterior à gestação do bebê. O vir a ser homem, mulher, pai e mãe são realizações em permanente transformação. Na relação do casal em que prevalece Eros, ou seja, pulsão de vida, ou ainda, amor; a função materna e paterna transformam o frágil e vulnerável bebê biológico em um sujeito.

A identidade sexual, a relação com o Outro como Outro - na alteridade -, o pensamento, a reparação simbólica, a linguagem, o conhecimento, a criação do espaço mental, são também as conquistas da "alfabetização emocional" (Ferro, 1995) iniciada pelos pais, os primeiros modelos de identificação. A ordem do constitucional não é negada no processo de vir a ser. A configuração edípica sustenta a função materna e paterna.

Para que a mãe possa exercer a função materna, precisa realizar na maternidade o aprés-coup da feminilidade (Anzieu, 1989).

A função materna pressupõe a função paterna. O pai é, à luz da triangulação edípica, o outro do objeto e não um segundo objeto (Green, 1994). O pai simbólico e real gesta em complementaridade com a função materna a identidade do filho.

Kancyper (1994), nos fala do ressentimento e da temporalidade no vínculo pais-filhos. Fala-nos ainda de uma compulsão à repetição que mantém situações da história do sujeito congeladas através do tempo, enquistadas pelo rancor, impedindo o processo de integração temporal. Prosseguindo, o autor acrescenta que o sujeito ressentido não retorna ao passado com o fim de restaurá-lo e assim poder rescrever sua história, mas sim, faz um uso particular do passado, com fins distintos, detendo o processo de humanização.

8

8

A SUBJETIVIDADE ORIGINA-SE, ESTRUTURA-SE E CONSTITUI-SE

NA INTERSUBJETIVIDADE

A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO

- O bebê nasce entre a natureza - o corpo biológico - e a cultura

humana.

- Sua vida virtual é inviável após a cesura do parto. O corte do cordão

umbilical o desliga da natureza apenas carnal.

- Este bebê é sujeitado a uma rede de vínculos narcisistas que por

ele aguardam.

- Ele ingressa numa sociedade como propriedade e proprietário, amo

e escravo: S. e O.

- Para compreender a proibição do incesto como geradora do

ingresso à cultura, cabe mergulhar nas raízes da relação mãe-bebê,

constitutivas do psiquismo humano.

- A separação, a discriminação, o desprendimento surgem de uma

matriz fusionada, indiscriminada e unida. A função paterna separa a

simbiose original na díade inicial.

- O bebê não pode renunciar a esta mãe e a este pai. Ele não

escolheu nascer de onde nasceu. Ele pertence à espécie

irrevogavelmente.

- A filiação é o ninho dos laços intersubjetivos. Há um continuum

entre indivíduo e sociedade. Há um continuum entre natureza e cultura.

9

9

- Narciso contém Édipo e Édipo contém Narciso. É Narciso quem

precisa responder em cada encruzilhada os dilemas traçados pelas

“crenças” da completude narcisista: a origem, a morte, a diferença dos

sexos, a diferença entre gerações.

- Em cada encruzilhada é preciso renunciar aos objetos parentais

incestuosos.

- A conquista edípica é a humanização do ser humano. O caminho

prévio de Édipo foram os avatares do percurso narcísico.

- A possibilidade de o bebê objetivar um mundo exterior dependerá

de que se possa, no objeto, encontrar um Outro. Com o Outro aprenderá a

reconhecer os lugares do O. e do S.

- O Outro, os pais, precisam tomar a forma que a fase do

desenvolvimento exige.

- Há um tempo preferencial para a perda dos objetos que o ego irá

deixando para posicionar-se em novos deslocamentos.

- Este tempo está dado em Freud pela anatomia do ser humano, sua

particular constituição, as cargas filogenéticas e as influências culturais.

- Este processo tem um percurso e um término com as perdas dos O.

auto-sensuais, incestuosos edípicos mãe - pai.

- O complexo edípico em Freud se “resolve” como a resolução do

auto-erotismo, com a culminação das vicissitudes das perdas dos objetos

auto-eróticos, com o tempo do desenlace do narcisismo.

- A batalha auto-erótica do “meu-meu” e do “teu-teu” permite brincar

de perder e de recuperar a completude, a atemporalidade, o fálico, a

bissexualidade.

10

10

- Para que o bebê venha a ser sujeito, a mãe o sujeita e a ele se

sujeita. A mãe se torna objeto por estar sujeita e então permite que o bebê

seja um sujeito.

- O processo de humanização que se inicia na ligação mãe-bebê

precisa de tempo para percorrer o que a humanidade demorou séculos

para evoluir.

“Eu sou o seio” (Freud, 1938).

Caminho do “amor irrestrito a si mesmo” ao

amor do Objeto.

- Os pais permitem elaborar os lutos da completude oral, anal, fálica,

edípica pelas perdas do seio, fezes, dos objetos incestuosos e oferecem

substitutos para as perdas (jogo do carretel).

A sociedade deveria permitir o cumprimento do rol materno e paterno.

Na luta contra a doença mental e com

as prevenções precoces.

O CASAL permite o diálogo entre o corpo do bebê e o mundo ao estar em

contato mental com o filho.

Flexibilidade suficiente para promover o desenvolvimento mental.

11

11

A SUBJETIVIDADE ORIGINA-SE, ESTRUTURA-SE E CONSTITUI-SE NA INTERSUBJETIVIDADE

FUNÇÃO PATERNA (fig. 5)

Pai - PROTEÇÃO

RÊVERIE À MÃE

HOLDING

SER OBJETO DE RIVALIDADE NO TRIÂNGULO EDÍPICO

TRABALHO PSÍQUICO:

- INVESTIMENTO LIBIDINAL AO BEBÊ

- LIMITAÇÃO DA LOUCURA MATERNA

- GARANTIA DE TRANSFORMAÇÃO DA LOUCURA MATERNA

- AFIRMAR A POTÊNCIA FÁLICA NA TRIANGULAÇÃO,

ATRAVÉS DO BEBÊ

- INTERDICÇÃO

- Importância do pai real (Salas) e simbólico (Dor) -

- A presença do pai e seu investimento pulsional em relação ao bebê são

fundamentais para a constituição psíquica.

- A função paterna é um falo ordenador.

- O pai separa a simbiose original na díade inicial.

- Propicia a mudança catastrófica para caminhar da dependência até a

independência, da fusão até a separação.

- O pai permite elaborar a relação dual e especular da mãe com o bebê.

- Aparece como o terceiro, o Outro da mãe (Green), para separar o bebê

Figura 5 - San Cristóbal, 1637 (São Cristóvão) - José de Ribeira

12

12

da relação incestuosa na origem da vida.

- Diferenciação mãe - bebê: S. - O, fusão/ separação.

- Proíbe a realização edípica incestuosa. O pai é estruturante da

CULTURA, alicerce de todas as diferenciações posteriores (continente e

conteúdo), da repressão originária com a autoridade proibidora.

- A função paterna é mediadora da família à cultura . O pai interfere na

identificação narcisista onde um se duplica no outro.

- O pai permite outros nascimentos metafóricos a cada cesura que o

desenvolvimento exige: desmame, postura ereta, a penetração no

mundo etc.

- O pai, com sua presença, garante a inclusão do filho na fileira das

gerações. Garante a transmissão geracional.

Metáfora Paterna:

Nome do pai, acesso à ordem simbólica.

Estruturação das instâncias psíquicas.

1- Primazia do falo na ordem da cultura.

Na origem, o filho é o desejo do desejo da mãe. Origem das

identificações alienantes.

2- O pai diz para a criança: " não dormirás com tua mãe".

O pai diz para a mãe: "o filho não é o FALO".

- O pai interdita, proíbe, diz não, coloca os limites necessários para o

desenvolvimento mental.

- O pai permite o encontro com a lei, o outro do outro.

3- O pai reinstaura a instância do falo como o desejado pela mãe.

13

13

Pai :

- faz suportável a renúncia incestuosa.

- recebe impulsos deslocados da mãe.

- permite o acesso a ambientes mais amplos (Dor).

- Na posição (P.D) de M. Klein ele permite a passagem do seio ao pênis

(dentição, marcha, linguagem). O pai permite elaborar o processo de luto

pela perda do seio. O investimento libidinal do seio se dirige ao pênis na

configuração oral.

- O pai faz a aparição na “organização genital primária”. Início da P.D.

kleiniana. Triangulação edípica.

- O pai tem uma presença potencial num espaço, também potencial, que

introduz a distância para o surgimento da função de Terceiro e da lei.

- Acesso ao simbólico.

- Importância do Pai real na criação de imagens cinéticas e visuais das

representações de coisa no INCONSCIENTE (Salas, Maldavsky).

- O Pai é aquele que priva a mãe do falo. O pai renuncia à sua

onipotência.

- Pai não é criador da lei, é o REPRESENTANTE.

- Declínio do Complexo Edípico (Lacan).

- A identificação com o pai forma o ideal do ego (Janine Smirgel,

Aragonés).

- A identificação primária com o pai da pré-história pessoal é direta e

imediata.

É a forma mais primitiva de ligação afetiva com um Outro (Freud).

- A identificação secundária e a castração "humanizam" o pai e ao filho.

- Ambos são homens, eles têm a mesma descendência e pertencem à

14

14

condição humana.

Lei: - Parentesco

- Proibição do incesto: Ligação filial simbólica no SOBRENOME

- A função paterna, fundante da cultura permite elaborar a identificação

narcisista do filho com a mãe, em que há uma duplicação no outro.

- Ocupação de diferentes lugares. A função paterna garante a

“passagem” do três potencial ao três afetivo. (Green)

- O pai é fonte de identificação masculina tanto na menina quanto nos

meninos, dada a condição bissexual do ser humano.

- Tanto na heterossexualidade quanto na homossexualidade há uma

“fase passiva feminina”.

- A paternidade está ligada ao nascimento da homossexualidade no

menino.

- O pai lança o filho à procura do mundo externo, na descoberta do

desconhecido, penetração do conhecimento.

- Permite que o filho caminhe do desejo de gestar na fase passiva

feminina, identificado com a mãe, ao desejo de fecundar.

- Permite ao filho diferenciar seu sexo e renunciar ao outro.

- Permite a origem materna do rol paterno.

15

15

A SUBJETIVIDADE ORIGINA-SE, ESTRUTURA-SE E CONSTITUI-SE

NA INTERSUBJETIVIDADE

FUNÇÃO MATERNA

Freud - Lacan e continuadores.

A mãe permite se doar para fazer parte do ego narcísico inicial do filho.

Reciprocamente, o bebê faz parte do narcisismo da mãe.

A mãe é um escudo protetor (Freud, 1920).

No contexto narcísico, jaz a raiz da intersubjetividade.

“A sua majestade o bebê” (Freud) rejeita a dor da separação.

A dor de perder a completude atemporal, a bissexualidade, o falo no

auge da onipotência e da onisciência.

- Os pais tecem um projeto identificatório para o filho (P. Aulagnier).

- A mãe, com sua ação específica ao satisfazer as necessidades

alimentares, é um objeto anaclítico (Freud):

- Apoio físico; Escolha objetal apoiada.

- Modelo.

- Não tomar posse do filho como sendo a sua “propriedade privada” - o

seu falo-, na crença de que com ele se completa, no auge da auto-

suficiência. (Lacan)

- A aliança narcísica do início da vida é transitória. A relação muda é

transformada do narcisismo ao socialismo da fusão indiscriminada até a

alteridade.

- A mãe cria uma relação narcísica num vínculo endogâmico. A relação

16

16

incestuosa é insubstituível.

- O ego, o objeto e o auto-erotismo constituem uma unidade.

- A mãe oferece o sorriso diferente do “seio bom”no trabalho de des-

corporalização (Green).

- O bebê internaliza a “estrutura enquandrante da mãe”- superfície de

representação -.

- A mãe precisa consentir a separação (Green).

- A “loucura materna” é uma loucura “normal”. É a expressão de toda a

onipotência que a mãe tem sobre o bebê.

Pensamento Kleiniano

Posição autista-contígua (Ogden) P.S. P.D. ( Ogden integra o

pensamento de Bion e Winnicott).

Posição adesiva (E. Bick) P.S. P.D.

- A mãe gesta a experiência de segurança básica ao tolerar e

transformar a dependência originária do filho.

- Criar no filho o desejo da maternidade e paternidade na organização

genital inicial entre os 6 e 12 meses, com a iniciação do triângulo edípico.

- A mãe estabelece uma relação comensal que se apoia em K. (Bion).

- A mãe cria uma “relação de intimidade” (Meltzer) delimitada pela

atenção seletiva, isto é, a mãe é um objeto continente (Bion).

- A mãe é capaz de comunicação psíquica com o bebê. O rêverie. Ela

permite, no encontro mental, a “realização” da pré-concepção (Bion).

17

17

- A mãe é um container pensante.

- O “rêverie”, conceitualizado por Bion, é um estado mental da mãe

capaz de devaneio. É a atitude aberta e receptiva da mãe para acolher

qualquer conteúdo do bebê.

- O rêverie é uma função do pré-consciente materno (Guignard).

- A função materna é desintoxicante das IP do bebê - capacidade

transformadora.

- Conduto vincular da díade.

- Modelo para o aprendizado (Sor-Senet).

- O rêverie é um conduto para injetar devoção e paixão.

- A função do rêverie abre a Cc. rudimentária do bebê para:

- o contato humano

- o contato com os sentimentos

- o contato com os pensamentos

- O rêverie permite acolher os conteúdos do bebê em AT-ONE-

MOMENT.

- A função rêverie é posta em cena da ação à função alfa da mãe no

vínculo com o bebê em uma relação emocional profunda.

Esta função permite a criação :

- Da barreira de contato.

- Do véu da ilusão, véu de conjecturas.

- A função do rêverie abre a Cc. Rudimentária do bebê que é sensorial.

- A parceria mãe - bebê é fonte e matriz do crescimento.

- A Cc. de si mesmo não é sensorial.

- Cc. órgão que permite a percepção básica da qualidade psíquica do “si

18

18

mesmo”.

- A mãe transmite, ensina e sustenta a função alfa do bebê.

- Ela inicia a atividade K. da mente e capacita o bebê para a mudança

catastrófica.

- Ensina ao bebê a brincar e criar a tolerância à frustração numa

misteriosa alfabetização emocional (Ferro).

- Ensina à mente do bebê a qualidade onírica.

- Permite ao filho diferenciar seu sexo e renunciar ao outro.

- A mãe cria uma relação narcísica num vínculo endogâmico. A relação

incestuosa é insubstituível.

O Pensamento de Winnicott

A mãe suficientemente boa e a preocupação materna primária: ambiente

facilitador.

- Propicia o estado fusional do bebê com a mãe (narcisismo primário de

Freud).

- Garante o sentimento da continuidade do SER do bebê.

- Permite o desenvolvimento do verdadeiro self no interjogo de ilusão e

desilusão.

- Permite o viver criativo e o gesto espontâneo, manifestações do

verdadeiro self.

- Permite a construção do objeto subjetivo.

- O papel de espelho do olhar da mãe. Concordância e harmonia entre o

estado interior do bebê e a expressão do olhar da mãe.

- A mãe exerce a função de “holding”.

19

19

A SUBJETIVIDADE ORIGINA-SE, ESTRUTURA-SE E CONSTITUI-SE

NA INTERSUBJETIVIDADE

CASAL PARENTAL

- A mãe e o pai são modelos de identificação.

- Os pais são os historiadores.

- O casal, na relação genital complementaria (continente e conteúdo),

recíproca, criativa, suficientemente, amorosa e transcendente, constitui, em

alteridade, os lugares simbólicos da triangulação edípica. Esta parceria é o

primeiro modelo de relação afetiva e de vínculos que oferece uma imagem

social de comunidade. Estes lugares simbólicos assimétricos permitem

criar a perspectiva, o espaço mental, a projeção temporal para vir a ser.

- Um EU intérprete é capaz de aprender a pensar, criar, simbolizar,

na experiência emocional do bom encontro.

- O casal discriminado permite a percepção realista da diferença

entre os sexos: continente diferente de conteúdo.

- Na cultura, gestam-se os tabus básicos: parricídio e incesto.

- As relações de parentesco sustentam o Édipo como estrutura: o

conjunto de relações da criança com seus pais - (Freud).

- Super-ego aparece como desenvolvimento do ego sob a influência

da autoridade dos pais.

- O super-ego forma-se pelo modelo do super-ego dos pais.

- Os pais são o veículo ou mensageiros de uma instância moral

superior.

- O super-ego está enraizado ao I.D.

20

20

- Antes de resolver o conflito edípico ele tem que ser formado.

O conflito edípico se passa na constituição de 3 pares.

a) Par mãe-filho – função reverie

Aprendizado dos usos – eixo horizontal da tábua de Bion – Prepara para o

crescimento vertical.

b) Par pai-filho – inclui o crescimento no sentido de eixo vertical da tábua.

Aquisição da capacidade semântica. Avance nas estruturas do pensamento

abstrato.

c) Formação do par do filho observador e do casal parental combinado. Na tábua como

modelo seria a hipotenusa do triângulo formado com os dois anteriores. “Marca o

crescimento na tábua.”

Par mãe-filho usos

Par pai-filho Filho que

observa a relação virtual

entre o pai

Cresc. capacidade de abstração e a mãe

21

21

A SUBJETIVIDADE ORIGINA-SE, ESTRUTURA-SE E CONSTITUI-SE

NA INTERSUBJETIVIDADE

O DESENVOLVIMENTO DO SELF DOS PAIS

- Os pais precisam ter elaborado a situação edípica: diferença de sexos e de

gerações.

- Os pais precisam elaborar as mudanças catastróficas na passagem

transgeracional até a independência do filho e elaborar os lutos na crise da

metade da vida, o devir, o envelhecimento, a morte.

- Os pais precisam ter a capacidade de abandonar o lugar em que a

onipotência do filho, pelo desvalimento da condição humana, os tinha

colocado.

- Capacidade de aceitar o papel do filho como testemunha das realizações e

das frustrações da vida dos pais no balanço existencial.

- Não abortar nem perpetuar a adolescência.

- Os pais devem elaborar a resistência às mudanças catastróficas que

implicam o desenvolvimento do filho, sem exigir que precise ser "um adulto

antes da hora", "um ser clonado", "uma possessão narcísica".

- O filho e o OUTRO numa relação de ALTERIDADE.

O FILHO PERMITE A TRANSCENDÊNCIA, A CONTINUIDADE NO TEMPO

DA ESPÉCIE HUMANA, A SOBREVIVÊNCIA DO NOME NO CORPO, O

SANGUE NO SER DO OUTRO.

“ Com neuróticos, é como se estivéssemos numa paisagem pré-histórica

– por exemplo em Jurássico, os grandes Sáurios ainda correndo por

todo canto” (Freud, 1941)

22

22

23

23

OS ALICERCES DA IDENTIDADE HUMANA. A FUNÇÃO MATERNA E PATERNA NA CONFIGURAÇÃO EDÍPICA.

“ Teria sido melhor que a minha mãe

não me houvesse dado a luz.” (p. 75)

Hamlet

a) As falhas nas funções materna e paterna no mito edípico

Na psicanálise contemporânea o objeto ganha fôlego no seu duplo estatuto de objeto interno e objeto real. A subjetividade do ser humano é construída numa relação intersubjetiva: mãe- pai- bebê.

Este modelo teórico liberta a psicanálise do solipsismo e permite abordar numa matriz dialética a estruturação da subjetividade do infans. (Kaes,1993)

O conceito de “configuração edípica” (Faimberg, 1992), amplia e aprofunda o célebre e tradicional complexo de Édipo freudiano ao incluir a qualidade mental e a história dos objetos edípicos: os pais. A pergunta sobre a origem da vida em Freud é constitutiva da configuração edípica.

A configuração edípica permite alinhavar, na matriz metapsicológica, a dimensão narcísica e edípica da constituição da identidade humana.

O célebre mito é usado neste trabalho como metáfora para focar o lugar dos pais na construção da identidade humana. Este foco privilegia uma posição teórica, uma reformulação técnica, uma perspectiva terapêutica: a esperança e fé científica na potencialidade da psicanálise para ajudar a crianças, adolescentes, pacientes psicóticos e pais a transformar o destino trágico da deterioração mental numa vida mais humana e com sentido.

Este enfoque não pretende excluir a importância da ordem do constitucional. A relação parental é o modelo social inicial e um filho nasce das entranhas do ventre para, e numa cultura. A função materna e paterna muito além de satisfazer as necessidades biológicas, podem transformar o ser primitivo do bebê num ser pensante capaz de aprender na experiência emocional, brincar, significar, se expressar na linguagem pré-verbal e verbal, construir uma identidade sexual, simbolizar, sonhar, criar e viver na alteridade das relações humanas.

Na versão de Graves (1955) todo filho nascido de Jocasta seria seu assassino. Laio, tendo conhecimento da nefasta profecia oracular, abandona Jocasta. Ela, no entanto, sem saber das razões do parceiro e sem poder aceitar a separação, o embriaga e concebe Édipo. Ao seu nascimento, Laio lhe atravessa os pés com um prego, os amarra juntos e o abandona no monte Citeron. O seu nome condensa esta história. O buraco nos pés é o “pictograma” do buraco preto do self primitivo (Aulagnier, 1979). O trauma inicial não pode ser contido, re-significado, elaborado.

24

24

Jocasta aparece nesta versão como omissa. O filho não nasce de um encontro estético, genital e consciente, numa penetração afetiva. Nasce de uma atuação, numa noite de embriaguez. A perda do enamorado não é tolerada, ela se apropria de Laio. Será que o filho não seria o seu falo? A perpetuação da fantasia de completude incondicional? Jocasta não reconhece Édipo como filho no leito nupcial. Ela não faz o trabalho de elaboração do luto pela morte do marido. Não pode elaborar a perda da juventude e aceitar a passagem geracional na sua meia idade quando o filho ocupa o lugar de marido no leito nupcial. Ela não alimenta a mente de Édipo com a verdade possível. Ela, como Laio, obstaculiza o caminho do saber possível na rede de intrigas, mentiras e segredos. Estes pais eram pais mortos desde sempre, parafraseando Green (1994). A transgressão, o filicídio, a adoção, os segredos e mentiras regem o destino trágico do herói antes do seu nascimento biológico.

Que casal é este como modelo de relação afetiva e social? Édipo está travado na procura de sua verdade histórica, guardada na sua cripta mental (Abraham; Torok, 1995). Ele não pode pensar sobre si mesmo - desliga os fatos e os símbolos - nem alinhava com a função narrativa os elos (elementos alfa), que lhe permitiriam alcançar a verdade para promover a mudança catastrófica (Bianchedi,1999) na sua história. Ele evita a ansiedade catastrófica (Meltzer, 1984) que o precipita à catástrofe.

Pensar é fazer relações (Segal, 1992) e o primeiro modelo de relação afetiva é o casal parental. Jocasta erotiza o filho narcisicamente e o induz ao incesto. Ela não é mensageira da relação erótica sexual e genital com o marido porque não há o estatuto de um outro diferente- seu homem- no mundo interno (Athanasiu, 1982).

Laio estava condenado à infertilidade segundo a voz do oráculo de Delfos. Ele é o pai narcisista, onipotente, que decide tiranicamente sobre a vida e morte do filho. O pai intruso que se apropria de seu destino. Édipo é seu duplo narcisista, sem tempo e espaço psíquico próprio. O único objeto narcisista para o pai e o filho é a mesma mulher: Jocasta. Ele não pode conceber um projeto identificatório exogâmico, para que Édipo venha a ser um Homem. Laio intenta matar o filho duas vezes. Após o nascimento e na encruzilhada existencial da passagem geracional, provocando-o sem reconhecê-lo. O pé é novamente ferido. A angústia de precipitação (Houzel,1991) − impensável e inominável −, do secreto filicídio na catástrofe psíquica primitiva da não integração (Bick,1968; Winnicott,1956; Tustin,1984; Bion,1977; Bianchedi, 1999), é reavivada.

A profecia oculta, o não dito, a mentira, (Bianchedi,1997) está na gênese do filicídio, a partir da gestação e gerando a posterior adoção do herói. Ele perde as referências genealógicas ao ignorar a identidade dos objetos edípicos. Os pais reais não só são pais desconhecidos como são pais que não podem conceber um filho numa filiação simbólica. Os pais adotantes não instauram uma relação simbólica de parentesco que possibilite a transcendência.

Os pais adotantes, Mérope e Pólibo, denegam a adoção, sem poder lidar com a dor mental ante o luto pela perda do filho próprio pela esterilidade (Lisondo, 2002).

Laio e Jocasta, ao transgredir e desafiar a proibição divina, não podem aceitar a castração estruturante denegando a lei divina e superior. Jocasta não aceita o rompimento do namoro, não pode aceitar a separação.

25

25

A prisão narcísica condena aos pais biológicos, adotantes e à Édipo e sua descendência ao destino trágico. O pai amarra os pés e a vida a uma sinistra sepultura, tece o projeto identificatório de um transgressor assassino sem perspectiva de alteridade humana, sem a criação de um espaço psíquico potencial. A mãe é cúmplice da trama.

O bebê perde a função protetora da mãe e do pai. Não há uma relação simbólica de parentesco. Édipo não pode construir a própria identidade. Ser homem como o pai, perder a mãe como objeto erótico (Freud,1923) e, paradoxalmente, ser diferente do pai. Na adolescência, num outro nascimento metafórico, a sexualidade humana é re-estruturada. Ele pergunta ao oráculo sobre o por vir, o futuro, o destino, quando se depara com a evidência da adoção. A pergunta do jovem e a resposta do Deus enigmaticamente silenciam a profunda questão inconsciente passada-presente de sua origem, de seu nascimento. “Quem sou eu? De onde eu venho? (Freud,1913; Lisondo,1996). Onde está a função paterna estruturante (Dor, 1998)? Onde está a função materna capaz de criar uma mente ao nomear as agonias primitivas? ( Lisondo, A., 1992).

Numa outra versão do mito, Laio está proibido de conceber um filho pela homossexualidade perversa e não pelo estado mental homossexual comum na cultura grega (Meltzer,1974). A psicanálise discrimina entre estados perversos- que se devem a bisexualidade estruturante da sexualidade humana- e a estrutura patológica perversa centrada na destrutividade do Outro. Esta é a lição de Sofócles. Édipo é um homicida porque foi assassinado na sua subjetividade quando infans e vida afora. Esta é uma oportuna contribuição da psicanálise para o direito de família, no que diz respeito à adoção. Além dos critérios jurídicos, sociais, legais, médicos, deveria se ter em conta critérios psicanalíticos ante a complexidade da adoção tal qual revela nossa preocupação no apêndice sobre “Adoção simbólica e adoção diabólica” .

A teoria e a técnica no trabalho psicanalítico para dar “pensabilidade” à função materna e paterna será no nosso projeto posta em prática com a criação de um grupo de pais biológicos, adotantes, e familiares que exerçam a função materna e paterna, aberto à comunidade.

Não se trata de responsabilizar unicamente os pais pelo sofrimento psíquico da doença mental assim como parece ter sido enfatizado por uma mítica cultura psicanalítica. Os paradigmas científicos contemporâneos (ciências da complexidade) apontam para a aceitação da incerteza indo muito além das interpretações de causas e efeitos diretas e lineares.

Os pais condenam-se culpam e censuram a si próprios pela desgraça. Libertá-los desta prisão imobilizadora faz parte do desafio psicanalítico.

A questão em foco trata de ampliar a percepção dos pais para possibilitar o reconhecimento e a continência intrapsíquica das próprias histórias, tomando mais consciência das fantasias, defesas e desejos inconscientes ao invés de atuá-los e/ou repeti-los compulsivamente nos filhos, visando a evitar a perpetuação do desnecessário sofrimento mental.

A teoria inspira e sustenta a técnica. Os pais tem sido, às vezes, eternos pacientes sem ter podido realizar a pré-concepção psicanalítica da personalidade. Isto quer dizer que não tem tido a oportunidade de se beneficiar da psicanálise em seu viés terapêutico e preventivo.

26

26

A ampliação e o aprofundamento teórico permite, na psicanálise atual, dar um estatuto metapsicológico ao trabalho com pais. Ampliar a consciência, perceber a realidade mental do filho, lidar com a ferida narcísica quando o filho não alcança os ideais paternos (Geissmann, 1993), resgatar a verdadeira capacidade dos pais que chegam à consulta, permitir a compreensão com olhos e ouvidos psíquicos das queixas dos filhos, transformar o lugar que o filho ocupa no espaço mental dos pais, encorajar com paixão e fé científica a esperança nas mudanças possíveis, dar sentido ao “porque” da análise de um filho, discriminar o alcance e as limitações do trabalho com pais, encaminhar respeitando o timing.

“ Parece que eu precisei passar por esse martírio todo com Gui para aprender a ser mãe”

A CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA INTERSUBJETIVIDADE

(Fig. 6)

a) Pinceladas sobre a vida pré-natal do infans na instituição

Os níveis mais primitivos da mente em seu estado “proto-mental” , o pré-natal, o “soma-psicótico” estão pouco diferenciados do corporal (Bion,1976; Rascovsky,1977; Bianchedi, 1997). Estes níveis perduram na personalidade nascida. A relação entre estes diferentes níveis da mente é conflituosa. Os níveis primitivos, o proto-mental e os níveis pós-natais da mente do bebê podem funcionar como línguas incompreensíveis, uma torre de Babel, em que não se podem comunicar. A partir de 1976, Bion conceitualiza estas formações arcaicas que perduram na personalidade como “vestígios de fenômenos pré-natais” . As proto-emoções são conceitualizadas por este autor como “ terror sub-talâmico” . Este medo de auto-agressão, que leva ao ataque ou fuga, não está controlado pelos níveis superiores da mente e, portanto, não tem significado mental. A personalidade total para (1997) inclui os aspectos pré-natais, aspectos do bebê, do latente, da criança, do adolescente e do adulto. O corpo, as identificações no ego corporal (Haag, 1991) e os aspectos primitivos da mente coexistem. Estes aspectos primitivos podem também ser fonte da criação e originalidade.

O bebê intruso, não desejado, não sonhado, não nomeado ou “produto à venda” está também gerando em seu corpo um ego corporal e um psiquismo primitivo. Este eu gesta relações objetais primitivas no útero (Aray,1985). Neste nível primitivo, o eu, para Meltzer (1984), não pode realizar representações mentais das experiências emocionais, mas as traduz como estados corporais e, ao mesmo tempo, reage frente a elas com estados corporais e ações. O corpo é o cenário onde explodem as angústias psicóticas avassaladoras que a mente não pode elaborar.

As pressões, as oscilações desagradáveis no meio amniótico, as contrações prematuras e/ou a contração muscular do ventre materno etc. podem provocar alterações somáticas vivenciadas como emoções cruas: o pânico, o medo bem como a agonia ante a ameaça da vida despertada por um desequilíbrio na bio-regulação deixam suas marcas no caráter do bebê. Para Freud (1913), em “Totem e Tabu” , a filiação filogenética é um protótipo privilegiado e mítico da matriz - o tempo mítico, no “eterno retorno” (Eliade,1984) - e não uma referência cronológica. Este tempo vivo tem o poder da gênese. É o mesmo Freud que, em “Construções em Análise” (1937), analisa o “mito científico” como uma construção.

Figura 6 - Estruturação da Subjetividade - Diagrama Alícia Beatriz Dorado de Lisondo

27

27

Trata-se da construção de uma verdade histórica representada pela organização dos traços depositados pelas vicissitudes do destino pulsional e da relação intersubjetiva. Assim o mestre articula sua hipótese onto e filogenética. A hipótese é de que pode haver neste infans uma maior vulnerabilidade e fragilidade psíquica já ao nascer. Ante a falta do objeto continente conhecido e compreensivo, o infans bebê é forçado a uma exigência de sobreadaptação prematura na procura e encontro com outro objeto. Este bebê traumatizado será mais sensível ao trauma do desencontro. Mesmo no momento das identificações adesivas há um contato íntimo, como, por exemplo, nos estados autísticos (Meltzer,1984). As marcas destas emoções cruéis que emanam deste soma em sofrimento estão no núcleo do inconsciente (Andrade,1998; Anzieu,1995).

b) O abrigo como situação traumática e fonte de angústia psicótica na metapsicologia do desamparo

“ O desamparo inicial do ser humano é a fonte primordial de todos os valores morais.” (Freud,1895)

O infans abandonado sofre, além do trauma do nascimento - “vivência arquetípica” que gera respostas atávicas e fonte primordial de angústia (Freud,1926) - uma situação traumática cumulativa. A perda do ventre materno, aquele paraíso inóspito para o infans não desejado, não é suficientemente compensado. O infans no hospital e/ou abrigo precisa enfrentar o trauma do abandono. A privação é a falta do objeto diferentemente da frustração que é uma não realização (Green,1988). O infans também precisa se adaptar aos desconhecidos e estranhos (Freud,1919) cuidadores. A criança, além da perda e separação de “um corpo para dois” (McDougall,1987), sede do psiquismo pré-natal durante a vida intra-uterina, perde, às vezes para sempre, o corpo familiar da mãe biológica e, com o corte do cordão umbilical, pode instaurar-se a narcísica ferida sangrante ao ser separado da relação humana sem o “apego”, como estuda Bowlby (2001), com figuras confiáveis que acalmem a angústia de separação. O momento do nascimento está muito próximo do momento da morte.

Há uma fratura real entre a filogênese e a ontogênese na vida pós-natal. Freud, em 1937, é categórico ao escrever que não significa qualquer supervalorização mística da hereditariedade crermos que, mesmo antes de o ego existir, suas linhas de desenvolvimento, tendências e reações que exibirá mais tarde já estão traçadas.

Para o infans, sua mãe é o mundo e é Deus. Kierkegaard, ao explicitar a angústia ante o nada, faz referência à experiência humana do desamparo. A obra mística de João da Cruz, quando revela a ascese do homem rumo à perfeição “união de amor com Deus” , torna-se um modelo da experiência de sintonia mental de um infans com a sua mãe como objeto estético (Meltzer,1994), ou da adesividade normal no olhar e contato atento da mãe. O Nada remete às trevas profundas da “noite escura” . O abandono não é o dado anacrônico de uma história passada, ele se encarna nas dificuldades para estruturar a subjetividade do bebê, num re-conhecimento simbólico (Geffray,1990): “Meu filho. Meus pais” .

Para Freud, a angústia é afeto e sua origem é a experiência de desvalimento do nascimento; uma reação contra o perigo que repete pautas adquiridas durante a adaptação filogenética ante a ameaça de uma situação traumática.

28

28

O ego do bebê adotado corre o risco de perpetuar a vulnerabilidade e fragilidade inicial. No bebê desgarrado da mãe biológica, que às vezes nunca mais voltará a encontrar, a couraça anti estímulos pode não se formar (Freud,1920). A invasão de estímulos pode ser vivida como uma intrusão. Não há uma consciência que se possa criar para começar a perceber qualidades psíquicas se falta a função materna adequada que possa modular, dosar e tornar compreensíveis os estímulos com sentido. A ansiedade catastrófica, o terror sem nome, o pânico, a não integração abrem o caminho para as intensas ansiedades de queda sem fim e de estar liquefeito.

O desamparo inicial - Hilflosigkeit - e o sentimento de insegurança podem nortear a vida do bebê que não tolera a falta de garantias de existência (Pereira,1997). Este ego é a sede da angústia ante a ameaça da situação traumática, seja a angústia de separação, de castração ou ante a perda de amor. O paciente adotado, clama na sala de análise por “provas de amor” , para ser especial e único. Ele ausculta nas entranhas do analista os limites da condição de “analisabilidade” (Fédida,1988; Ferro,1997). Também em análise o paciente adotado entra em angústia extrema quando se aproxima das questões sobre o nascimento, a origem, a vida intra-uterina, as inevitáveis separações no processo analítico. A angústia extrema tem como fonte a repetição da situação traumática (Garma,1985). Defesas maníacas podem encobrir sentimentos de invalidez e enfermidade. A identificação com super-heróis permite a criação de um nascimento mítico (Lisondo,1992).

O bebê adotado pode viver e repetir vida afora, pelo profundo desamparo inicial, a experiência traumática do pânico. Neste caso, o pânico aparece como o prenúncio, o berro existencial que antecipa a possível queda no abismo e a catástrofe psíquica. Assim Winnicott (1963) entende o pânico, como uma tentativa de dominar as impensáveis agonias primitivas. O bebê não pode se defender eficazmente ou agir ante um perigo real. Para quem chorar, berrar, espernear? Entretanto, estas primeiras experiências vitais, quando a sensorialidade está no apogeu, são a matéria-prima para a construção do psiquismo, como mostra a literatura psicanalítica.

Para Melanie Klein (1935), a angústia é o vínculo significativo do ego com os objetos. O instinto de morte, gerador de desejos, fantasias e relações de objeto, é a resposta do medo pela vida ameaçada. O ego ligado a Eros faz face ao instinto de morte. A perda real do objeto lança o bebê ao iminente e terrível perigo de aniquilamento da vida. A angústia de morte é correlacionada à angústia paranóide. Quero destacar que o surgimento da angústia paranóide é menos grave, mais limitada e específica que a ansiedade catastrófica (Bick,1968), experimentada no estado de falta de integração como uma experiência passiva de total desamparo. A desintegração, através dos processos dissociativos, é uma operação defensiva ativa a serviço do desenvolvimento.

A história traumática pode levar a consolidar defensivamente a concha autística como garantia de sobrevivência. Com esta cobertura, tapa-se o buraco aberto e desgarrado da ferida não cicatrizada (Tustin,1984) por uma separação traumática e catastrófica com a mãe biológica, se o bebê não encontra uma mãe pensante capaz de um bom rêverie na unidade primária adotiva, capaz de interpretá-lo como sujeito. Com o corpo da mãe que desaparece, desgarra-se o próprio self (Rosenfeld, D.,1992).

29

29

A adoção é uma situação traumática que deve ser compreendida tendo em conta a predisposição, a precipitação e a perpetuação (Pollock,1967). Há fatores na história de um sujeito que, sem serem em si traumáticas, podem precipitar um transbordamento de angústia, por ser ele mais sensível, isto é, estar predisposto. As respostas à situação traumática podem se perpetuar se o bebê está exposto à repetição da situação. As experiências de separação vida afora podem ser vividas como traumáticas.

O “objeto buraco” (Quinodoz,1996), que corresponde a um “sujeito buraco” , faz referência a um objeto vivido, na transferência, como inexistente gerando “buracos de ansiedade” . É um objeto sem representação, um “buraco na fantasia” . A autora exemplifica tal conceito, na situação clínica, através da paciente para quem os pais biológicos eram inexistentes e não ausentes, tanto quanto a analista na transferência. “Eu nasci quando tinha seis meses de idade” . Através de mecanismos defensivos bastante primitivos, tais como: negação, onipotência e cisão; a paciente amputava a origem traumática de sua vida e o sentimento de ser inexistente para os pais biológicos. Nascer do Nada é ser Nada. Ela repetia em atuações a tragédia de sua origem (Lisondo,1992), que era irrepresentável, inominável. O Projeto “Minha história de vida” pretende registrar através do álbum fotográfico e dos filmes, a passagem do infans, criança e adolescentes pela Vila das Pipas. A figurabilidade e o contorno das experiências emocionais registradas, aquilo que o olhar pode resgatar, se transforma em matéria prima para a representação, como forma imagética.

A experiência traumática pode obliterar o repertório emocional. Um sobrevivente de um campo de concentração explica: "a experiência vivida... tem sido invivível.” (Semprun, 1997, p. 25). A radicalidade da experiência traumática fica atenuada na seqüência: situação traumática - desamparo - angústia automática - angústia sinal. Não raras vezes os bebês dados em adoção são comparados a sobreviventes de um campo de concentração.

c) A sobreadaptação como exigência institucional.

O bebê adotado pode fracassar na organização de sistemas mentais, continentes do self emocional e corporal, pelo interjogo entre a privação no vínculo materno e paterno e a tendência à sobreadaptação (Liberman,1982). Os pais adotivos podem, inconscientemente, fazer drenar o self infantil impondo ideais e exigências que negam a história singular do bebê, sua fragilidade e vulnerabilidade e as próprias dificuldades na função materna e paterna. A ferida narcísica e a depressão severa se instauram (Bleichmar,1991). O bebê pode refugiar-se numa segunda pele, ou falso self.

Na adolescência, esta específica configuração mental pode ser revelada na possessão de uma ideologia que segura o self como bengala de sustentação, os skin heads, por exemplo. Perder a “aderência” a estes ideais é como cair no vazio, na desesperança etc. A questão não radica só no conteúdo da ideologia, muito embora a sua escolha seja reveladora da constituição da subjetividade. Importa a relação e o uso, no sentido metapsicológico, que o adolescente mantém com essa ideologia e com o grupos. Diferenciar, na clínica, a necessária “sábia loucura e a doença do sonho” no remanejamento identificatório (Guignard,1997) da psicopatologia no adolescente, é fundamental.

30

30

A criança chega mais ou menos sempre tarde à família adotiva. O bebê entra em uma outra encruzilhada identificatória com os pais adotivos (Garma,1985). A intolerância pré e pós-natais às sensações, percepções e proto-pensamentos, pela turbulência emocional que geram, pode ser excessiva e realizar-se em ódio para a realidade interna e externa. Trata-se de uma intolerância excessiva à frustração e à dor provocadas nestas crianças pelo abandono inicial e pelo peculiar espaço psíquico a ocupar na mente dos pais adotivos.

Dos pais adotivos também é exigido um esforço de adaptação ao receber um bebê desconhecido, estranho. Eles dão nome a um corpo desconhecido (Garma,1985). Os pais adotivos podem vivenciar enormes dificuldades na função materna e paterna para garantir o imprescindível contato afetivo e mental na simbiose fusional primária e, na situação edípica (Mac Donnell,1981), para construir a subjetividade. O espaço mental para o bebê pode estar obstruído. Essas falhas primárias não permitem ao bebê a criação da mente humana na vivência de continuidade do ser.

A filiação simbólica (Geffray,1990), a identidade masculina e feminina e a relação intersubjetiva entre os pais e com o bebê como alteridade (Matos, O.,1996) são decisivas no destino da adoção (Schechter,1967; Zavaschi,1988).

d) Quando uma mãe morre durante o parto ou na prematura infância

Desde “ Inibição, sintoma e angústia” em 1926, Freud estabeleceu a relação entre a angústia de separação, a dor, o luto e a depressão. A dor é, para o mestre, a verdadeira reação à perda de um objeto e a angústia, a reação ao perigo que tal perda traz consigo. Assim, por exemplo, uma mãe deprimida ameaça a continuidade da existência do filho porque o investimento no seu próprio sofrimento não lhe permite o olhar atento e fascinado para seu bebê. Lasar Segal revela artisticamente o olhar perdido e vazio no horizonte da mãe. O seu filho não tem expressão facial. O seu rosto é um contorno. Um homem de costas, afastado da díada, completa uma triangulação sinistra.

Ao nascer, sujeito e objeto não estão diferenciados. A angústia de separação da criança pequena guarda um valor prototípico com a depressão anaclítica do bebê, isto é, a reação aguda ante a perda real do objeto por períodos prolongados. O hospitalismo corresponde à ausência total e prolongada da mãe e de toda figura materna.

Siedman de Armesto (1997) lembra, inspirada na teoria de Spitz, que a profundidade da marca deixada por esta separação deve-se à falta da instância superegóica. Não há função materna e paterna introjetada. Para Spitz, amparado na teoria pulsional, é o desentrincamento pulsional que lhe permite explicar a depressão. Ante a falta do objeto, as pulsões se desviam até o sujeito, a agressividade faz o trabalho de destruição e a libido empurra o bebê já não ao auto-erotismo - para Tustin (1984), a auto-sensualidade - mas ao narcisismo primário. A agressividade contra si mesmo é a tentativa desesperada de encontrar o objeto no lugar do objeto perdido. A incapacidade para realizar o trabalho de luto pelo objeto perdido seria a conseqüência de uma ausência prolongada do objeto sem substituto representável. É o impasse do vazio na repetição do círculo vicioso em que a ausência chama indefinidamente à ausência. A aparição de outros objetos com a função materna permitirá construir o ego infantil. Para Sami Ali (1991), na depressão anaclítica o bebê é a aporia do não rosto, o rosto da ausência.

31

31

Em etapas prematuras, a perda do objeto representa um traumatismo semelhante à perda de uma parte do corpo, cuja condição de elaboração é a capacidade de fantasiar o objeto ausente. A criança pode abrigar o desejo de recuperar o objeto perdido. A cólera e as reprovações pela culpa inconsciente guardam relação com o desequilíbrio narcisista originado no sentimento de fracasso em poder fazer aparecer ou desaparecer objetos ausentes como no Fort-Da (Freud, 1920).

O luto na prematura infância implica uma situação traumática que trás a ameaça de desintegração do aparelho psíquico. O Eu, ferido na onipotência, vivencia o fracasso e a impossibilidade de possuir (diferente de recuperar) o objeto desaparecido, psiquicamente inacessível. A mãe é o objeto que segura a regulação narcisista. O processo de desinvestimento do objeto perdido trás cargas thanáticas, assim como a incorporação do objeto morto. Durante o processo analítico é preciso dar sentido ao inominável no percurso de historicização do sujeito, para permitir, no trabalho de ligadura, a possível elaboração da situação traumática. A fig. 4., o adolescente adotado em sessão analítica, mostra a vivência de inexistência ao ser ameaçado pelo escorpião como predador terrorífico. Ele nomeia a sua obra “Medo da Sombra” .

A Figura 7 mostra o peso das mortes que o mesmo paciente carrega como sombras e cujo peso vergam as costas e a vida permeada pela culpa inconsciente. O garoto sente-se com o poder demoníaco de ter matado a mãe no mesmo parto que lhe permitiu nascer. Esses cadáveres estão vivos no seu mundo interno. Ele se mata ao não poder elaborar o luto pelas perdas precoces. Aqui se evidencia o desmoronamento melancólico (Cerqueira-Leite, 2002).

Figura 7 - "As Cruzes", 1950 - Candido Portinari

32

32

POR QUE O PRIVILÉGIO AOS INFANS

“Assim como o bebê mama o

seio, mama a mente da mãe” .

Meltzer

O infans vem ao mundo em um estado psíquico de desamparo, dependência e indiferenciação, necessitando totalmente de cuidados materiais e emocionais para sobreviver. O lugar mais adequado para ele crescer e se desenvolver é na família em “ ... uma relação calorosa, íntima e contínua, com a mãe (ou quem a substitua), na qual ambos encontrem satisfação e prazer” (Winnicott).

Emoções básicas já são detectadas no feto humano, em sua protomente, de uma forma indiferenciada do corporal. Piontelli(1992), destacada psicanalista italiana, utilizou-se dos recursos tecnológicos da ultra-sonografia e através das imagens realizadas da vida intra-uterina observou cientificamente o feto em seu ambiente natural. Com um acompanhamento longitudinal pós-parto, desenvolveu importantes estudos inéditos quanto às origens da vida emocional do ser humano.

Com o trauma do nascimento (Freud,1926 e Otto Rank, ) cria-se uma situação emocional entre o bebê e a mãe carregada de emoções que exigem um esforço de adaptação ante a invasão de estímulos.

É de fundamental importância alguém que exerça a função materna para modular e transformar o impacto dessas fortes impressões sensoriais causadas pelo novo ambiente e pelas necessidades biológicas e pulsinais do bebê. Dois grandes autores psicanalíticos ampliaram e enriqueceram nossas possibilidades de pensar este assunto: Bion com o conceito da função materna e rêverie e Winnicott com o de “mãe suficientemente boa” e preocupação materna primária. Na Fig. 8 Picasso como tantos outros artistas, ressalta através da mesma cor amarela a vivência de continuidade entre a mãe extasiada no seu bebe. Ambos se encontram “olho no olho do Outro”

As emoções para o Infans têm um sentido puramente expressivo como manifestações de terror, ameaça, tranqüilidade, agitação, descarga motora, satisfação, etc... São expressões de emoções que fazem pressão em direção a figurabilidade, buscando uma representação simbólica. Toda essa seqüência do processo de simbolização da vida emocional do bebê, necessita da função materna como modelo de funcionamento ao seu incipiente aparelho psíquico.

Gradativamente, ele vai se fortalecendo e se capacitando para suportar a dor dessas emoções criando recursos psíquicos para conseguir levar adiante seu crescimento mental.

Os conhecimentos psicanalíticos estão bem mais especializados porque os estudos têm acompanhado uma seqüência ao longo do tempo. Descreveram por exemplo, um tipo de comunicação intersubjetiva, quase musical: ritmo, sincronia, diálogo, ondulações, alternâncias, tipo de conversa, amplificação. A psicanálise contemporânea avança no estudo dos primórdios da constituição do psiquismo humano quando assume o desafio de tratar pacientes autistas, psicossomáticos ou adictos com sucesso (Tustin, 1987; Meltzer, 1984; Houzel, 1991; McDougall, 1987; Haag, 1991; Geiissmann, 1993; Rosenfeld, 1992; Huberman de Chiappini, 1997; Souza Fontes, Franch 2001, Lisondo, 2002).

Figura 8 - "Maternité" - Picasso

33

33

A psicanálise amplia realmente o leque de patologias ao seu alcance. Isto não é uma audácia nosológica. É afirmar que só um tratamento capaz de criar a estrutura psíquica pode vir a dar condições para o verdadeiro processo de humanização: aprendizado, pensamento e simbolização. É lamentável que após 100 anos da existência desta ciência o mundo acorde para a existência das perturbações emocionais ante a existência de jovens bombas, o homicídio de índios no Brasil por jovens e/ou o caso Susane, a adolescente que com o namorado planeja e realiza o assassinato dos pais, ou ainda, os adolescentes que usam seringas contendo sangue contaminado como ameaça aos outros.

Desde seu início de vida, o Infans já estabelece um contato visual com a figura materna, reconhece sua voz e cheiro, busca contato e vida. Além de se sentir gratificado e tranqüilizado, esses contatos despertam seu interesse vital que darão força em direção ao seu crescimento.

Só o fato de ouvir o som da voz humana que lhe é familiar, o infans desenvolve a capacidade de discriminar uma voz de outra, de responder ritmicamente, aliviar assim sua angústia e desfrutar prazerosamente dessa comunicação. Esta experiência o provê com instrumentos a serem utilizados para padrões posteriores, de prazer, de gratidão, que tecem uma base para o amor. Os impedimentos que interferem no desenvolvimento emocional de uma identificação normal, interferem também no processo de desfrutar a satisfação, o belo, a alegria de viver. As conjunções construtivas e criativas da mente inspiradas em EROS se diferenciam, das uniões bizarras, úteis apenas para os aspectos sádicos e onipotentes da vida psíquica, ao serviço de Thanatos.

Falhas na maternagem no nível bem primitivo poderão propiciar a entrada da doença mental, que avança sobre o ser em formação, atacando e inibindo funções psíquicas que desembocam em psicopatias e/ou psicose. Distúrbios em outras áreas, da inteligência ou somáticas, poderão camuflar estados mentais patológicas graves.

O autismo, por exemplo, pode ser compreendido como uma negação onipotente de um relacionamento simbiótico do bebê com a mãe, ou seja, autismo e simbiose são extremos opostos. No autismo a criança se defende do contato humano.

A angústia de queda sem fim leva o bebê a agarrar-se na figura materna e estabelecer uma dependência simbiótica normal. Se ele não encontra essa mãe, ele agarra-se a si mesmo que corresponde a formação da “ falsa pele” , uma conseqüência da dependência simbiótica patológica, que com sua imobilização e controle, paralisa o funcionamento dinâmico projeção – introjeção. Novamente ressaltamos a importância da constância dos cuidados com o bebê. A pulsão conclama o objeto. Se o infans é o centro, é a mãe o contorno. Numa figuração geométrica, a mãe precisa ser contida para o exercício de sua função por outro círculo concêntrico e maior. É neste contorno específico que o serviço de Psicologia Psicanalítica pretende agir. O grupo com pais para criar a função materna e paterna pensante é uma das atividades planejadas para o ano 2003. A assistência domiciliar psiquicamente qualificada é a atividade a ser desenvolvida com o amadurecimento da equipe de aprimorandos e estagiários nos anos sucessivos para acompanhar os familiares adotantes. Assim, não só a criança externada do abrigo será psiquicamente tratada. A família será ajudada na detecção precoce e assistência psíquica através do método de intervenção precoce na infância (Lebovici,1999). Esta técnica pressupõe o conhecimento e experiência com o método de Observação de bebês de Esther Bick (2000).

Muitas vezes essas mães não estão disponíveis levando a criança a destruir seus próprios egos a fim de sobreviver. (Meltzer,1984)

34

34

Com a separação traumática da mãe, cria-se um conflito que poderá causar um sentimento intolerável de arrancamento. O autista vai construir sua concha de auto-sensualidade para não sofrer esta dor. No interior dessa concha, poderá negar toda experiência emocional de separação, de distanciamento, de espera, de frustração, de alteridade. A fantasia de arrancamento é um processo dinâmico de aspiração num buraco negro que absorve toda matéria e toda energia que cae em seu campo gravitacional.

A etiologia do autismo poderá ser encontrada no diálogo interdisciplinar. Devido ao vértice psicanalítico, estamos focalizando mais os fatores psicológicos no desenvolvimento mental, relacionadas às experiências dolorosas primitivas na ligação materna. O problema da interação familiar e dos pais com dificuldades emocionais são os motivos mais identificados no desenvolvimento de quadros de deterioração mental em crianças: psicose, psicopatias, problemas de aprendizagem etc.

As concepções de Bick foram expandidas por Meltzer (1984), Athanassiou (1982), Anzieu (1987) que analisaram a estruturação do psiquismo infantil e desenvolveram interessantes idéias relacionadas à dimensionalidade da mente em quatro categorias quanto à evolução das identificações: espaço unidimensional, bidimensional, tridimensional e tetradimensional.

1 – Um espaço unidimensional (quando o self e objeto são apenas um ponto), é o que se define como e pelo impulso, que chega, toca e se vai. Tempo e espaço se fundem em uma dimensão linear do self e o objeto. Os objetos são atrativos ou repelentes e o tempo não se distingue da distância, um tempo fechado, uma mescla de distância e velocidade. O ponto unidimensional é o modelo do encontro da boca com o seio.

2 – Um espaço bidimensional, quando graças à relação de objeto, o sujeito pode constituir uma identificação adesiva, um espaço de contatos, de superfícies. Depende das qualidades sensuais que podem ser captadas em sua superfície, e com isso o self também é vivenciado como uma superfície sensitiva. O pensamento não pode desenvolver-se porque falta um espaço dentro da mente, um espaço para o pensamento experimental, no qual pudesse ter lugar a fantasia. O tempo é vivido como circularidade. Daí a importância do sensorial como matéria prima para a passagem à dimensão mental.

3 – Um espaço tridimensional – quando o mundo interno pode estabelecer a identificação projetiva e o objeto foi vivenciado como resistente à penetração, constituindo o conceito de orifícios no objeto e no self. O tempo é vivido como oscilatório através da fantasia de entrar e sair do objeto, uma tendência direcional própria, um movimento inexorável de dentro para fora do objeto.

Todas essas três abordagens têm a característica comum relacionada com a inautenticidade ou com uma certa ingenuidade.

4 – Um espaço tetradimensional é a forma acabada de identificação, a identificação introjetiva, e inclui uma escolha de objeto e uma capacidade do ego de introjetar o objeto, conservá-lo dentro de si apesar da ausência e interiorizá-lo. Esse tipo de identificação se funda em uma concepção do tempo e do espaço de que o tempo passa mas não volta, e reconhece a existência e a autonomia do objeto (o outro). É quando se instala o tempo do luto pelo objeto.

Essas idéias estão relacionadas ao desenvolvimento infantil no primeiro ano de vida e como as noções de espaço e tempo são construídas na criança. Estes são os fundamentos para a aprendizagem das disciplinas escolares como história, geografia, português etc.

35

35

Sabemos que o somático interfere no psiquismo infantil e enfocando a doença grave dos portadores de HIV positivo a. precocidade da doença irá interferir de diferentes formas e graus no processo de subjetivação, na formação de identidade, de acordo com a capacidade emocional de cada criança.

O desprazer, a dor, a ameaça da morte que provem do corpo doente causam uma confusão em seu esquema corporal, afetando de diversas formas seu processo de identificação normal. Representa um esforço extra, muitas vezes devastador para a difícil tarefa de estruturação psíquica da subjetividade.

Numa perspectiva reversível podemos afirmar que a criança deprimida pode vir a deprimir as defesas imunológicas na desistência de viver/continuar vivo. As infecções podem ocupar o lugar da vitalidade psíquica.

Algo que possa sair tão errado na vida do Infans trará muitas implicações e danos graves no seu desenvolvimento como ser humano. O modo como eles serão cuidados terá a maior importância no sentido preventivo de psicopatologias graves.

Quando a perda é prematura, os processos de luto geralmente tomam um curso patológico. A saudade e a raiva ficam sem elaboração, a angústia de separação e a privação causam uma condição emocional que não é uma simples carência, mas um verdadeiro desapossamento conforme definiu Winnicott (1975)

A maior parte das influências de formação da personalidade, são aquelas recebidas nos primeiros anos de vida, especialmente na relação com a mãe e no contexto familiar. O infans é impelido por sentimentos tanto de amor quanto de ódio em relação aos pais e aos irmãos. Daí a importância dada à rivalidade entre irmãos e ao ciúme edipiano. O fundamental aqui é que dessa ambivalência entre amor e ódio, o conflito resultante seja tolerado. Assim, a ansiedade e a culpa engendradas possam ser sentidas de modo saudável levando a um crescimento da vida psíquica.

O mesmo conflito básico entre amor e ódio reflete-se no conflito intra-psiquico entre os impulsos sexuais e agressivos e também entre os instintos de vida e de morte.

O conflito é uma condição normal das transações humanas e se o infans seguir um caminho favorável, recebendo amor e proteção de sua mãe e de seu pai, crescerá sem uma pressão exagerada de seus anseios libidinais e sem uma propensão para odiar. Com isso, se sentirá apto a dirigir e controlar no seu íntimo seus impulsos contraditórios.

O perigo está nas condições adversas que interceptam o desenvolvimento emocional como a perda dos cuidados maternos e de um meio familiar típico. Muitos desvios parecem resultar de uma experiência traumática desse gênero levando a formação de uma personalidade perturbada. Através de manobras defensivas que propiciam evasões, o conflito é negado ao invés de aparecer e ser enfrentado. O infans e a criança se adaptam falsamente a situação distanciando-se de seus sentimentos e tornando-se indiferentes ao próprio sofrimento.

Assim podemos compreender o quanto sentimentos como raiva, ódio, saudade, desespero, ficam sufocados em seu íntimo, mas potencialmente ativos. O trauma vivido favorece a um ressentimento e aos sintomas de tendências anti-sociais.

Se esta situação emocional, traumática, não for cuidada adequadamente, poderá evoluir para estados de ansiedade e para a doença depressiva e\ou a formação do caráter delinqüente a uma personalidade psicopática.

36

36

As tendências anti-sociais como roubo, mentira, conduta desordenada, incontinência, destrutividade, tem a peculiaridade de causarem um incômodo, um poder que a criança descobriu para se manifestar ativamente sobre o ambiente que necessita de mudanças urgentes. Suas atuações são em grande parte inconscientes e representam a busca de algo importante que perderam e não o sentido moral que o adulto atribui.

Na base de uma tendência anti-social está uma boa experiência a ser resgatada. A capacidade do ego possibilita a percepção que a causa foi uma falha externa, pressionando o bom que foi perdido. Essa percepção é que determina o desenvolvimento da tendência anti-social e não da doença psicótica.

Podemos observar que a tendência anti-social ocorre em duas direções. Primeiro, quando a criança procura incessantemente por algo com a esperança de encontrar, típico do roubo associado à mentira. Ela furta um objeto, mas ela não quer o objeto roubado e sim, o bom que foi perdido (a mãe, a família, um bem querido). Em segundo, quando a criança está em busca de uma atitude humana que lhe traga uma estabilidade ambiental e emocional, para que contenha sua excitabilidade. A tensão resultante do comportamento impulsivo encontra na destrutividade uma maneira de se expressar e mobilizar suprimentos ambientais. É o caso das delegacias policiais ou outras localidades que sirvam de moldura para conter a violência das emoções intensas.

Na delinqüência, o que nos chama atenção é a necessidade aguda de uma autoridade que represente um pai rigoroso e forte e ajude a criança ou adolescente a recuperar seus impulsos primitivos de amor, de culpa e a capacidade de desejar corrigir-se.

Já na personalidade psicopática, realiza persistentemente atos e crimes contra a sociedade e a família (crueldade, promiscuidade sexual). Também age contra si mesma ou contra outra pessoa (toxicomania, suicídio, homicídio). Quando conseguem criar vínculos, estes são caóticos e desordenados, com uma implacável exigência com a outra pessoa (dinâmica sado-masoquista).

Enquanto psicanalistas, podemos pensar em um lar substituto adequado com uma assistência ambiental especializada e que ofereça uma base pessoal segura. Através de um funcionamento saudável, possa encontrar uma figura de ligação afetiva estável para desenvolver no infans e na criança a capacidade de confiar em alguém e de discriminar quem mereça sua confiança.

Sob o aspecto científico, a prática clínica tem demonstrado resultados promissores para impedir que a psicopatologia se instale. A psicoterapia psicanalítica é orientada no sentido de capacitar a criança para completar seu desenvolvimento emocional e elaborar o luto, manifestando seus sentimentos de ódio e de pesar. Também procuramos trabalhar os sentimentos de envolvimento e culpa para abrirem caminho aos primeiros impulsos de reparação. Isto abre-nos à tarefa terapêutica, de tentar reconstruir funções essenciais da mente que foram danificadas, desenvolvendo na criança uma capacidade de tolerância à angústia depressiva, fator fundamental à capacidade adaptativa frente às perturbações de sua história de vida.

37

37

COMPLEXO FRATERNO – A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE PRÓPRIA

Nos abrigos podem proliferar perigosos e contagiantes virus mentais tais como:

•As fantasias, desejos, e angustias em “TER QUE SALVAR”

•A CARIDADE.

•A PATOLOGIA DA ASSISTÊNCIA, vítima inconsciente de um suposto saber e poder sobre a vida de um OUTRO.

- A denegação das reais possibilidades para abordar a deterioração mental.

O paciente que sofre de Aids como a nova praga de TEBAS pode nos defrontar com a culpa e o conseqüente castigo ante os desvios sinistros da sexualidade humana.

A equipe profissional pode então clivar a própria parte psicótica que convive com a parte não psicótica, (Bion, 1957). Sempre serão encontrados alvos dentro dos quais projetar esta parte psicótica: O governo, o sistema de saúde, os pais das crianças, etc. serão os responsáveis de plantão. A questão está no uso que se pode vir a fazer das instituições, da equipe de saúde, dos familiares, dos parceiros. Isto não invalida uma postura científica transformadora. A recusa à realidade dolorosa pode ser uma forma de bloquear o trabalho psíquico possível para transformar essa dor.

É imprescindível discriminar para efeito deste projeto:

A) A vida de uma família estruturada “suficientemente boa” , na qual os irmãos, sendo seres diferentes, aprendem a conviver com os pais, cobiçados objetos primários de amor. ( Fig. 9)

B) A vida de irmãos biológicos sem a experiência contínua da convivência psíquica.

C) O destino dos irmãos com e sem contaminação de HIV e sem a experiência contínua da convivência psíquica. O vírus é um significante que marca a presença do sinistro já na origem da vida: a relação sexual / genital dos progenitores, a transmissão da doença, o descuido durante a gestação.

D) O complexo fraterno - filhos de sangue e filhos adotivos.

Vejamos a definição de complexo:

Complexo é para Laplanche e Pontalis (1971) um conjunto organizado de representações e de recordações dotadas de intenso valor afetivo, parcial ou totalmente inconscientes, alertando que a noção de complexo tende a confundir-se com a de um núcleo puramente patógeno que convém eliminar. Deste modo, perde-se de vista a função estruturante que, em determinados momentos do desenvolvimento humano, possuem os complexos.

As fantasias no peculiar complexo fraterno (Kancyper, 1996) entre irmãos são, entre outras, fantasias fratricidas, fantasias furtivas, de excomunhão:

Figura 9 - "A Adoração da Criança" - Gherardo Delle Notti

38

38

1.Fantasias fratricidas - Caim e Abel

Na bíblia, a história mítica de Caim e Abel revela as fantasias fratricidas e pode inspirar um modelo para a compreensão da tragédia entre irmãos, portadores de HIV e não portadores, irmãos adotados e legítimos. O sacrifício precioso oferecido a Deus por Abel, o pastor, é acolhido. O fogo arde em chamas como reconhecimento simbólico de seu valoroso ser. Deus, o pai mítico, é capaz de dar sentido e enaltece este gesto de amor. Abel realiza a experiência do encontro humano intersubjetivo, é capaz de criar, como Winnicott (2002) prefere, e fazer brotar o fogo ardente da paixão bioniana em um vínculo humano.

Já Caim, o agricultor, sente-se descontente, mais cobrado que Abel, ao seguir o duro trabalho paterno e ser injustiçado pelo destino. Por que precisa seguir este caminho? Será que esta identificação não está à procura de uma primeira relação afetiva? (Freud, 1921). Seu sacrifício não arde em chamas. Ele não é reconhecido, não é observado e interpretado como um sujeito capaz de criação e gerador de bondade. Incapaz de criar o fogo como chama viva, geradora de vida, aceitação e gratidão, seu gesto se transforma em fumaça negra. Caim potencializa esta fumaça com ódio, ciúmes, inveja, ressentimento de seu irmão, o eterno rival, para conquistar um lugar e uma identidade, mesmo que negativa. Ocupar o lugar do morto para talvez poder ser...

Como castigo, Caim é expulso. Ele perde a terra e seu conhecido lugar. Ao ser desterrado, é marcado concretamente na testa. As feridas da alma são invisíveis. A marca na face, como os pés de Édipo, é o gérmen de sua identidade. Ela condensa, metafórica e metonimicamente, a marca pelo assassinato do irmão, mas também a presença protetora de Deus Pai na cabeça do filho. O vírus de HIV é a marca visível / invisível quando a- sintomática da filiação biológica diabólica thanatica, destrutiva, ao invés da filiação simbólica erótica amorosa e vital .

2.Fantasias furtivas e de excomunhão - Esaú e Jacó

Isaac e Rebeca compartilham uma longa história de esterilidade durante 20 anos. Só aos 60 anos de Isaac, na maturidade cronológica da vida, Rebeca engravida de gêmeos. Durante esta gravidez, trava-se uma luta interna em suas entranhas com grande dor. “Por quê?", pergunta a Deus. Abraão, pai de Isaac, o avô, sentencia: “Estavam preocupados porque não tinham filhos. De agora em diante vocês se preocuparão porque os tiveram. Do seio de Rebeca nascerão dois povos. Um haverá de dominar o outro. Prestem atenção: o irmão mais velho haverá de servir ao mais jovem ” .

O primogênito, Esaú, é o preferido do pai. Rebeca devota mais amor a Jacó. Os pais não estabelecem uma situação triangular edípica com os filhos. Na relação do casal não há verdade. Cada pai se “completa” com um filho.

Rebeca transgride a Lei do pai e veste ao filho Jacó com a pele de animais e com as roupas do irmão para enganar ao marido. Ela é cúmplice da mentira para que Jacó seja abençoado como primogênito pelo pai moribundo. Vestir-se com a pele do irmão é assumir um falso self - ser Esaú - exigência para ser querido, reconhecido e abençoado pelo pai e pela mãe. Jacó não tem vez. A pele é o envelope psíquico, na interface entre o mundo externo e o mundo interno, função do pré-consciente como função osmótica entre vida psíquica e realidade externa. A pele é o Eu psíquico, o primeiro continente para alcançar a experiência de integridade corporal (Anzieu,1995; Anzieu, Houzel et al., 1987).

39

39

O eu é para Freud, 1923, um eu corporal. A anatomia marca o destino. Denegar a significação da marca de HIV num dos irmãos não é vestir a um ser com a pele do Outro em aras de forjar a aceitação? O apelo a dogmas morais, religiosos, assistenciais, jurídicos etc. impedem o pensamento científico.

As obrigações morais que inspiram “TER QUE ” , enraizadas no masoquismo e/ou a crueldade superegóica são perigosas, assim como as reparações maníacas, as identificações alienantes , delírios de bondade etc.

É possível obrigar alguém a amar uma criança tendo em conta a perspectiva fundante do inconsciente humano?

A tragédia entre Jacó e Esaú não é reveladora do conflito entre filhos legítimos e filhos adotados? Diferentes constelações mentais se constituem. Na legitimidade do próprio filho, o próprio sangue e o corpo conhecido, familiar, se transcendem no bebê sonhado, desejado, esperado, investido libidinalmente. O filho adotado chega de outro corpo, outro sangue, outra história sinistra. A questão não está na diferença, testemunho de diferentes histórias, identidades, constelações mentais, subjetividades, mas na atribuição inconsciente do valor e do lugar psíquico que cada filho ocupa no espaço mental dos progenitores. Assim, José, o primeiro filho carnal de Raquel e Jacó, é o primeiro da numerosa prole. Os filhos se vêem da forma como a mãe os vê (Winnicott, 1978). Os pais esculpem identificações inconscientes alienantes, que só se podem tornar conscientes em um processo analítico.

3.Fantasias de geminação - Rômulo e Remo

Entre os gêmeos existe a dinâmica narcisista e paradoxal do duplo em todas as suas formas: especular, ideal, imortal, bissexual. A estruturação da própria identidade pode ser uma dura conquista. Estes duplos encarnam o maravilhoso e o sinistro (Kancyper,1997, Shakespeare,1995).

O irmão gêmeo é o alvo preferido das partes escondidas, dissociadas, das personalidades que se personificam e externalizam, como mostrou Bion em 1967. Entre a mesmice e a alteridade, as angústias encontram lugar na confusão de identidades. Na dialética perigosa entre nascimento e morte, dependência e independência, liberdade e escravidão, um parece se afirmar como sombra do outro que ocupa o lugar de vítima privilegiada. Na adoção de irmãos gêmeos, os riscos psíquicos se potencializam.

A) A vida de uma família estruturada “ suficientemente boa” , na qual os irmãos, sendo seres diferentes, aprendem a conviver.

É entre irmãos do mesmo sangue, portanto, supostamente com um mesmo repertório hereditário que o nível psíquico da estruturação humana alcança seu apogeu. Mesmo quando se trata de concepções múltiplas os infans não são idênticos. A recusa em perceber a diferença está na gênese dos transtornos da identidade.

40

40

O sexo do filho desejado pelos pais, os sonhos tecidos já na terna infância sobre a paternidade e a maternidade, o sentido atribuído a concepção, os desejos que pairam sobre filho, a qualidade da relação entre os progenitores, o projeto identificatório tecido para o infans, o nome escolhido, a constelação psíquica dos pais no momento da concepção, o lugar que se ocupa na prole, entre outros fatores tem o poder de tecer diferentes tendências no destino humano. Assim como Heráclito traz à humanidade a consciência da mudança e o movimento quando afirma que ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio, podemos afirmar que os irmãos nunca habitam o mesmo útero mental porque os pais não podem ser iguais para todos os filhos. Não é o mesmo, ser o primogênito homem sonhado, que ser “ fêmea, raspa de tacho” .

Os pais com os filhos constróem a própria história nesta mítica rede de relações familiares. Condições materiais tem sentidos e significações que podem se sufocar e/ou exilar justamente porque estão enraizadas em complexos relacionais inconscientes fontes de dor e sofrimento. Os inventários judiciais, por exemplo, são sempre e necessariamente inventários afetivos que implicam o reconhecimento da morte dos progenitores, a vivência de desamparo ante o infantil, e uma re-significação das relações familiares. Os bens a dividir e herdar tem valor afetivo.

B) A vida de irmãos biológicos sem a experiência contínua da convivência psíquica. O direito a uma vida humana que permita a construção da subjetividade, o SER como garantia de existência psíquica, e a identidade sexual é prioridade do processo de humanização.

A adoção psíquica é possível. Entretanto ela implica numa situação traumática para o infans e para os pais adotantes. A criança é uma estranha. Há uma história sinistra e desconhecida na origem da filiação biológica. Os pais adotantes precisam elaborar o luto da fertilidade impossível e/ou lidar com a esterilidade enigmática. O filho adotado não é o sonhado filho biológico. Os pais precisam atravessar a cesura, a brecha, o tumulto e turbulência para aceder ao nascimento metafórico da paternidade e fertilidade psíquica.

Esta cesura pode vir a ser uma fratura intransponível quando não é possível reconhecer o filho numa filiação simbólica. Freud (1926) , com sabedoria afirma a continuidade entre a vida fetal e a vida pós- natal. Na criança adotada, a falta de continuidade, é fonte de angustia impensável.

A lei não tem o poder de legislar afetos, desejos, fantasias, complexos, sonhos. A lei é humana e a história do direito mostra as mudanças através dos tempos para garantir a convivência, a ordem, a vida social. O paradoxo é que a exigência psíquica, a potencialidade traumática, na adoção de irmãos se potencializa. O risco da deterioração mental no destino das crianças adotadas se amplia. Não se trata de negar o pretender sepultar na trama de segredos e mentiras a existência de uma prole, nem privar ao infans da convivência familiar. A questão é que a família nuclear não existe e/ou sofreu a desintegração. A culpa inconsciente estará no âmago da vida do irmão “premiado” com melhor destino, porque a fantasia pode ser que vive a custas, ou que abandonou o irmão desfavorecido entre tantas outras possibilidades tecidas pelos complexos inconscientes. Não tem ser algum que possa escolher “ser concebido” , os pais biológicos que dão a vida, os pais adotantes, o nome, a prole. A impotência da condição humana nos remete a uma ordem superior.

41

41

Um ser humano pode construir vida mental e só assim será capaz de sentir dor, compaixão, sofrimento, e conquistar a consciência possível ante a diferença entre a própria vida e a dos irmãos.

Será que na tentativa de evitar a dor necessária e o sofrimento ante a privação de uma família, ante a praga herdada, ameaça permanente à vida, que marginaliza, isola a um ser humano, não se sepulta o destino do irmão salvo do HIV , dificultando, postergando, e/ou barrando a adoção?

Se na família, primeiro modelo social, a convivência é perturbada, essa deterioração transcende na sociedade através de todas as patologias mentais, que não encontram nem acolhimento, nem compreensão, nem tratamento específico, e assim sendo, a ordem, a vida civilizada almejada pela Lei é difícil de alcançar.

A situação de gêmeos merece atenção especial.

C) O destino dos irmãos com e sem contaminação de HIV e sem a experiência continua da convivência psíquica. O vírus é um significante que marca a presença do sinistro já na origem da vida: a relação sexual dos progenitores, o desligamento ante o cuidado possível durante a gestação.

É humano condenar aos irmãos a um mesmo destino? Uma questão é promover a relação entre irmãos, outra é a patológica colagem adesiva. Na família suficientemente boa (item A), ao conquistar a consciência da diferença entre os irmãos, se propicia que cada um seja tão Senhor de si mesmo, da própria vida, do SER, quanto possível porque o inconsciente na sua essência estrutural nunca será totalmente conhecido. O importante é que a vida dos filhos possa se desenvolver com independência, reconhecendo a dependência do Outro.

Quando o legislador apela para a preservação dos vínculos entre irmãos, a psicanálise pode dar a sua contribuição com questões para pensar cientificamente que não pretendem ter o poder da resposta, muito menos de certezas:

a) O Infans, criança e adolescente precisa primeiro ser capaz de se relacionar em vínculos significativos com AMOR, ÓDIO e CONHECIMENTO.

b) Antes da preservação dos vínculos, é necessário a sua criação. Para a vida de relação a experiência com um Outro é fundamental. A adoção elaborada e pensada quando os pais são “suficientemente bons” pode verdadeiramente vir a criar um ser humano pensante, capaz de vínculos significativos, e uma vida criativa.

c) O relacionamento entre os irmãos não é proibido quando só um é adotado.

d) Há uma perda real ao não compartilhar da convivência entre irmãos.

Mas a privação da função materna e paterna é fonte primeira de dor impensável .

Essas questões levantadas servem como um convite para um diálogo interdisciplinar.

42

42

D) O complexo fraterno - filhos de sangue e filhos adotivos .

Quando há uma prole de filhos adotados e filhos legítimos, a inversão da novela familiar de Freud (1909) permite ao filho adotado negar a diferente origem dos irmãos na relação básica com os pais. Quando o filho é sonhado, desejado e gerado na carne, é testemunha, como criação, da fertilidade e da vida sexual do matrimônio. Há uma continuidade entre a filogênese e a ontogênese. Diferente é a origem sinistra da criança adotada e/ou sua história traumática que gera sua orfandade. O que chega na adoção é um semelhante, mas também um intruso e um estranho que encarna o sinistro.

43

43

POR QUE O ESPELHO – SEU SENTIDO E USO

“ Esta sou eu!” 3

O espelho, com sua propriedade reflexiva tem uma importância significativa no pensamento psicanalítico, tanto em sua real concretude quanto em seu sentido abstrato, como metáfora.

Vários autores psicanalíticos enfatizam suas concepções associadas ao ato de olhar e à função especular desde as mais precoces etapas evolutivas.

Freud referiu-se primeiramente ao espelho nos seus estudos: sobre a cena primária; sobre o espelho d’água em que Narciso se mirava e sobre sua “regra de neutralidade” em 1912, no artigo “Conselhos aos Médicos no Tratamento Psicanalítico” . Outra referência pouco citada foi quanto ao seu neto de um ano e meio, mais conhecida como o do “ jogo do carretel” , que também viveu um júbilo quanto ao “ jogo do espelho” , encontrando um modo de fazer desaparecer a si próprio. Agachando-se fazia sua imagem ir embora, reafirmando a existência e a integração da imagem corporal. Esta passagem encontra-se no rodapé do artigo de Freud, 1920, “Além do Princípio do Prazer”

No jogo do espelho, admiravelmente ilustrado neste exemplo, observamos um primeiro ato de simbolização com a alternância do desaparecimento e reaparecimento do próprio corpo da criança. Esse corpo é substituído por um símbolo: o jogo do aparecer-reaparecer da sua imagem. Ao desligar-se do real do corpo a criança, de forma lúdica, toma distância, se vê e a imagem refletida reproduz a realidade fornecendo à ela um ponto de referência possível de sua própria identidade, referenciando-se a si mesma.

Mais adiante, neste mesmo artigo, Freud cita a passagem de Platão, em “Symposium”, dando importância ao jogo das imagens especulares. Finalizando, ele aborda em 1938 as vicissitudes do processo identificatório à maneira de espelhos confrontados que, permitem uma reflexão reverberante e constante na relação entre o indivíduo e o seu universo objetal, no artigo “Achados, Idéias, Problemas”.

Jacques Lacan (1949), importante psicanalista francês, retomou as idéias de Freud e descreveu o conceito do “Estádio do Espelho” . Nos primeiros meses de vida, o bebê não tem uma experiência da imagem corporal como uma unidade integrada e percebe o seu corpo como uma dispersão de todas as suas partes: “corpo despedaçado” . Haveria tantas parcialidades do corpo quantas funções fisiológicas existissem, sensações semelhantes à ilustração da pintura de J. Bosch; “O Jardim das Delícias ” (Fig. 10). Essa dispersão ocorre por falta de maturação biológica do lactente e ele fica submetido a uma confusão de sensações desordenadas e diferenciadas que ele não sabe de onde vem. Este estado acompanha o infans até aproximadamente os seis meses de idade e propicia a fantasia do corpo dividido juntamente com a angústia de despedaçamento, encontrada nas manifestações psicóticas.

O “Estádio do Espelho” compreende uma etapa dos seis aos dezoito meses aproximadamente, abstraídos em três períodos:

1º A criança percebe o reflexo no espelho como se fosse um outro ser e real.

3 Helena (34 meses)

Figura 10 - "Jardim das Delícias"- Bosch

44

44

2º A criança descobre que o outro não é um ser real, mas uma imagem.

3º A criança tem a revelação de que aquela imagem refletida é dela própria. É um momento de intenso j úbilo e ela passa a brincar com os movimentos do próprio corpo no espelho.

Esta fase situa-se no registro imaginário e a captação que o infans faz do ser pela imagem humana refletida no espelho, permite-lhe que se delineie os contornos do reconhecimento de si, momento inaugural da identificação.

O reflexo do próprio corpo favorece as noções de unidade e localização espaço-temporal, transformando o sentimento de despedaçamento da fase anterior. Nesse estádio, desenrola-se todo o drama da relação dual que o priva da consciência da sua subjetividade.

Lacan também entende que o espelho é uma metáfora do vínculo entre a mãe e o filho que vai da ilusão de completude onipotente até o da dimensão simbólica com o domínio da palavra. O advento da ordem simbólica ocorre com o afastamento da mãe pelo interdito do pai. A criança renuncia a onipotência de seu desejo e aceita uma Lei que limita e organiza. É a saída do complexo de Édipo, configurando-se a singularidade juntamente com a aquisição da linguagem verbal.

A oposição imaginário – simbólico encontra-se em todos os graus do desenvolvimento humano. A essência do imaginário é uma relação dual, um desdobramento em espelho que dissimula a si mesmo e se perde nos reflexos. É a dimensão psíquica desenfreada da vida afetiva, dos sentidos e das idéias.

A passagem da relação dual, imaginária à uma relação triádica, edípica, simbólica, efetua-se progressivamente, por etapas, cada vez mais formadoras e decisivas. Esta ultrapassagem da relação dual alienante para a ordem simbólica triádica é a essência do Édipo.

A potência fundadora da ordem simbólica é o interdito, vindo da Lei do pai. A Lei torna-se então libertadora. Separada da mãe, a criança dispõe de si mesma, orienta-se em relação a um futuro, insere-se em seu lugar na família, no social, na cultura.

Winnicott, inspirou-se em Lacan para desenvolver o tema do espelho como sendo o rosto da mãe.

Desde as primeiras fases do desenvolvimento emocional, gradativamente o bebe vai saindo de um estado indiferenciado e vivendo a separação entre eu/não-eu . Essas modificações realizam-se principalmente, quando a mãe vai sendo percebida como objeto externo, objetivamente falando, separada dele.

Se esta mãe com sua atitude estável e contínua não está ali como referência, a tarefa em termos do desenvolvimento emocional torna-se muito complexa. ( Fig. 11)

Quando um bebê está mamando, ele não olha para o seio, ele olha para o rosto da mãe e vê a si mesmo, recebendo de volta o que estão dando. O bebê é manejado (handling), deve ser segurado (holding) de tal forma que sua experiência legítima de onipotência não seja violada e ele não perca essa ilusão. Ele usa o objeto-mãe como se fosse um objeto subjetivo, criado por ele. Depois é que ele vai se acostumando com a idéia de que, quando olha, o que é visto é o rosto da mãe, que não é o espelho.

Figura 11 - "Mãe Preta"- Laser Segall

45

45

É a descoberta do significado no mundo das coisas vistas é um auto-enriquecimento em que a percepção toma lugar em seu mundo emocional. Evidentemente, há variações entre os bebês quanto a sua singularidade e fases intermediárias nesse esquema descrito. Há também os casos patológicos em que o bebe examina, investiga o rosto da mãe e não “algo a ser olhado”. Em distúrbios mais graves ele poderá crescer sentindo dificuldades em relação ao espelho no sentido real e no sentido figurado, sua própria capacidade criativa começa a atrofiar-se e o episódio passa a ser traumático por ser contrário ao processo de maturação.

Nesse contexto, vemos a importância do recíproco espelhamento mãe-bebê na formação da identidade da criança. Através das sucessivas experiências do “bom” olhar materno é que se estabelece na criança o quanto ela é um ente amado e está nascendo uma entidade. Nesse processo identificatório, a passagem do estado de entidade para o de identidade começa a partir da instação da confiança básica, que juntamente com uma constância da figura materna, cria-se uma coesão interna, e conseqüentemente ocorre a dessimbiotização.

Desse modo, a patologia da identidade do indivíduo tem uma relação direta com a patologia das identificações.

Nos casos de identificação adesiva (Bick,1968; Meltzer,1974; Anzieu,1987) o sujeito não conseguiu introjetar uma função especular própria e vai prolongar para toda a vida uma forma de espelhamento e imitação. A adesividade é uma maneira de recompor a ameaça de desintegração, em um funcionamento que não é de projeção – introjeção, mas simbiótico.

Paulina Kernberg (1997), uma destacada psicanalista norte-americana desenvolveu uma metodologia interessante sobre o papel e o uso do espelho como um instrumento de desenvolvimento do sentido do self e de como a pessoa se sente a respeito de si mesma. Sua idéia básica é a de que o espelho-objeto é um símbolo da relação que alguém tem com sua mãe. Em seus estudos, ela descreve condutas diante do olhar-se no espelho, desde os dois meses de idade até a etapa adulta, correlacionando as reações emocionais com o significado psicológico correspondente.

46

46

USO E ABUSO DA TV E COMPUTADOR

Da mão do mestre quando a sua preocupação clínica e teórica era fazer consciente inconsciente, o nosso desafio atual com os infans, crianças e adolescentes privados da função materna e paterna , seja transformar o sinistro preto do abismo da desesperança lá onde a vida perde o sentido de ser nas patologias do vazio, numa luz esperançosa que possa construir o sentido possível para uma vida humana. Para Lutenberg (1999), o vazio mental corresponde a uma ausência da condição humana dentro da mente.

Não é a intenção aqui negar a revolução tecnológica, comparada à invenção da imprensa neste novo século. Para a psicanálise a questão é sobre o USO que se faz da TV e/ou do computador que pode estar enraizado em EROS ou disfarçadamente em THANATOS porque há uma cumplicidade patológica, numa sociedade autista. É normal segundo critérios estatísticos.

Nas patologias do vazio sempre há uma “ fome psíquica” de experiências reais, autênticas. Quando há uma confusão entre a realidade virtual e a realidade ” real” , a experiência de assistir TV. ou se debruçar sobre a realidade virtual, é de um maior e mais profundo vazio. Criatividade mental e vazio mental são pares antitéticos. A tentativa de preencher com realidade virtual o vazio existencial é trágica.

A gênese do vazio aninha a orfandade mental crônica: não se sentir querido de verdade pelos pais, irmãos, avós, namorados, professores, cuidadores etc. A eterna “ fome” pode criar uma relação de tirania, de domínio e posse ante a atenção impessoal da maioria dos programas televisivos regidos, quase exclusivamente pelo mercado quando os programas artísticos e culturais são a exceção. Há uma recepção a- crítica de qualquer programa. Sobre estimulação erótica, destrutividade, voyeurismo, banalização do sagrado, exibicionismo , consumismo, não são alimento para a mente humana. Muito menos para um ser abrigado.

A construção da subjetividade exige viver a própria realidade psíquica e real. Substituir esta realidade, pela virtual é cair na deteorização mental e potencializá-lo.

O pensamento nasce do sentimento. A ilusão surge do universo emocional e é o coração da criatividade. O divorcio entre o sujeito e o coração emocional leva a incessante procura errática do zapping num deambular sem meta para passar o tempo.

Os seres abrigados têm já perdido muito tempo no abismo infernal do desencontro humano. Tem sobrevivido como exilados de campos de concentração a torturas psíquicas e privações humanas. O tempo é ouro para a construção da subjetividade e para o trabalho mental. Se a deteorização mental é como um câncer metafórico que carcome a vida, se trata e com urgência de que o tempo não passe sem ser um marco para as experiências significativas plenas de sentido.

A TV é uma falsa companhia porque mecânica, inanimada e “ incondicional” . Ex : a Xuxa não é uma mãe para os baixinhos telespectadores; não há uma relação humana singular, não há frustração, nem amores, nem ódios. Há uma imitação de imagens superficiais que não leva a identificação estruturante do aparelho psíquico, há uma amálgama fusionada com as figuras oferecidas. Uma cascara é formada no EU de um ser vazio. Tudo é superficial sem profundidade e transcendência. Cabe aqui questionar que modelo de feminilidade é a Xuxa para um ser abrigado onde há uma carência de modelos humanos ?.

47

47

Assistir um programa e ficar impregnado é radicalmente diferente a brincar de casinha como mamãe/ filho; médico/ paciente; ladrão/ policia; na alternância de personagens que se personificam com um Outro, com o argumento singular no espaço potencial entre realidade e fantasia. O vazio de verdadeiras figuras protetoras com capacidade para conter, sustentar, compreender e revelar o universo emocional, congela a existência humana.

Na droga, a promiscuidade, o roubo, a morte do inimigo, o suicídio se encontrará então alucinadamente a onipotente solução mágica, falsamente protetora que “tudo resolve” quando se está a beira do abismo. A televisão estimula o mundo da sensorialidade Ela pode ser usada como objeto auto- sensual. A imagem e o som são refúgios perigosos na tentativa de forjar um self . As adições tem a mesma estrutura. Não é o objeto-droga, parceiros sexuais, roupa, alimentação, bebida- é a estrutura da subjetividade que revela o dano.

Os limites firmes e amorosos ensinam a diferença entre fantasia e realidade; o EU e o OUTRO, o feminino e o masculino, EROS e THANATOS no processo de humanização. Os programas televisivos escravos da pós-modernidade, da globalização e da era da imagem pregam o auge da onipotência narcísica na auto-suficiência, que se opõe ao aprendizado pela experiência emocional e a identificação.

A TV induz a regressões profundas, que convidam à imobilidade, e à passividade. Enquanto se assiste TV o brincar, o pensamento, a exploração do mundo regido pelo pulsional, o devaneio, a dramatização, a curiosidade pelo mundo, a representação gráfica, a linguagem, estão inibidos. É na convivência humana que é possível lidar com a inveja, os ciúmes, a destrutividade; o amor, a solidariedade, a tolerância.

O barulho incompreensível, o manto sonoro ensurdecedor de explosões, tiros, desmoronamentos, risos está longe da interpretação materna na adquisição da linguagem e são matéria prima da mão das imagens assustadoras da sobre-excitação que impossíveis de serem elaboradas pelo psiquismo são evacuadas nas atuações motoras e os terrores noturnos.

A criança pequena precisa da constância, regularidade e continuidade do objeto para seu registro. A imagem fugaz da TV é fonte de vivências confusionais, por tanto terroríficas.

O abrigo como uma sala de trabalho de parto, deveria poder parir, ao dizer de Sócrates, graças ao bom “parteiro” as potencialidades humanas escondidas:

• Sonhos, ao invés de terrores e pesadelos.

• Projetos identificatórios inspirados em EROS , “quando eu for grande eu quero ser...” ao invés das identificações destrutivas thanaticas permeadas pela morte e o trabalho do negativo (Erikson 1966, Green, 1995)

• Trabalho mental ao invés de apatia , passividade, refúgios defensivos etc.

• Criatividade, ao invés da repetição compulsiva dos caminhos da morte que contornam o vazío.

• Vínculos e relações humanas ao invés da esteriotipia mecânica , os refúgios defensivos do isolamento e das conchas (SHELL) autísticas.

• A capacidade de brincar, desenhar, dramatizar ao invés da apatia da morte psíquica, a atuação, a transformação em alucinose.

• O pensamento ao invés da onipotência, a repetição, a arrogância, a inibição de funções mentais.

• Enfim, a criação da subjetividade para alcançar e sustentar o EU SOU.

48

48

PROJETO MINHA HISTÓRIA DE VIDA

Documentário social é algo que pode ter uma força tal que, a partir dele, o mundo, tudo aquilo que deixávamos de lado com indiferença, passa a se oferecer a todos nós muito além das aparências. (...) Vai extrair de

uma pessoa comum, ao acaso, sua beleza interior ou sua caricatura, vai revelar a ação escondida de um gesto.

(Jean Vigo in A proposta de Nice, 1931)

O trabalho videográfico junto ao trabalho de fotografia é essencial para a documentação da vida das crianças do Centro Corsini. O trabalho vídeográfico pretende, bem como o trabalho fotográfico, documentar o cotidiano de cada criança do centro. Além de captar imagens de arquivo que consolidam a história social de cada criança, como brincadeiras com os colegas, datas comemorativas, eventos sociais que reúnem todas as crianças, a proposta se amplia no caráter qualitativo, no sentido de se criar, com as possibilidades da linguagem do audiovisual, um pequeno documentário de cada criança-membro da instituição mostrando sua relação com o meio, com o seu próprio eu, suas ambições, seus medos, suas esperanças e suas dores.

O resgate do passado e da realidade imaginária que pode evoluir na construção do símbolo em cada criança feito pela fotografia conclui o caráter cinematográfico da documentação.

O projeto consiste na utilização dos meios fotografia e cinema para a criação de um álbum, onde cada criança terá contada e recontada a sua história de vida. A criança será documentada, assim como sua origem, através de fotos dos pais destas e de quaisquer outras pessoas, lugares e experiências significativas que possam representar sua história pessoal. Este projeto esta intimamente ligado ao serviço de psicoterapia psicanalítica.

As fotos e os filmes servirão de ferramentas para que a criança possa re-contar sua própria história e se identificar em relação ao mundo que a cerca. Para isso, acreditamos que a imagem pode permitir a criança a criação destes laços afetivos com sua vida e com as experiências e pessoas que fazem parte dela. Essa experiência oferecerá à criança algo além das imagens produzidas, ela encontrará um interlocutor para compartilhar a experiência estética evocada pelo material artístico.

A psicanálise é a ciência da origem. Tanto o auto retrato quanto a auto biografia foram estilos estéticos consagrados do renascimento.

Para Freud (1911) o paciente mental é um doente de história, sofria de reminiscências. Só que esta história é inconsciente, só se fazendo consciente na paciente histérica do inicio de século através da sintomatologia. A força pulsional cria verdadeiras peças de teatro inscritas no inconsciente numa linguagem especial. Os atores se expressam pela paralisia. A psicanálise da voz a estes personagens petrificados no silêncio do indizível.

49

49

A foto e o vídeo em si são só a oportunidade para o inicio de um processo de historização quando um Outro possa dar sentido afetivo a construção da própria história. “Era uma vez” , “quando eu nasci..” permite que o sujeito possa se situar afetivamente num lugar e um tempo permeados de sentidos onde o infantil pulsa. Muito além da ordem cronológica há uma origem mítica. O passado pulsa no presente e o futuro se pré- anuncia em projetos e sonhos. A compulsão a repetição de Freud revela a força desse passado e a sua rebeldia para as mudanças. As histórias re- escutadas e revistas atendem a um apelo da ontogênese da alma humana onde sincronia e diacronia se coagulam tal a concepção freudiana das séries complementarias e da sexualidade humana. A construção da própria história é estruturante do ser. A re-significação é trabalho psicanalítico. É a conquista da tetra dimensionalidade psíquica, a densidade existencial, que permite ao ser humano saber de sua morte, paradoxo que ilumina o sentido da vida.

O anonimato, a falta de registro, o branco, o impensável, constitutivos do inconsciente estrutural, sepultam a experiência humana permeada de afetos e marcas “congeladas” que irradiam o frio que paralisa, barra caminhos, empobrece e des vitaliza a vida mental.

A revelação artística da verdade através da imagem e do vídeo pode possibilitar que o sujeito perceba que a sua alma foi vista e compreendida por um Outro quando esse álbum e esse filme compartilhado possa ser tema de diálogos y narrativas.

Quando o horror não é abordado, a sua força arrasadora se potencializa. Trabalhar com o horror, o sinistro, é a única possibilidade verdadeira de transformação e mudança. Não falar de uma mãe morta, não retira o cadáver da alma infantil. Os segredos, mentiras e silêncios potencializam a força demoníaca do morto que arrasta, nos lutos melancólicos, não elaborados, a vida do filho.

“ Ela ( mãe da criança falecida por ser portadora de HIV) queria tampar o horror maldito, só que foi muito pior. Na vida a gente tem que enfrentar” .4

4 Pai de uma criança do UAI em entrevista psicanalítica.

50

50

O LUGAR DAS HISTÓRIAS INFANTIS/ DO BRINCAR / DA REPRESENTAÇÃO DA CRIATIVIDADE

Para Winnicott (1971), o crescimento humano possui relação direta com a provisão ambiental, e é pela importância vital dada a ela que abordar o sentido de um abrigo psíquico para a vida mental supõe que tomemos para os infans, as crianças e os adolescentes a perspectiva inequívoca de um viver criativo.

Já em Freud (1911) é a arte que reconcilia o homem ao princípio de prazer, meio pelo qual ele concede à sua vida anímica liberdade através da fantasia, sendo capaz contudo de retornar à realidade, oferecendo aos outros homens novos tipos de verdades apreciadas e valorizadas como obras que revelam os anseios mais profundos de sua própria natureza.

O trabalho cultural da humanidade é assim concebido como produto das transformações da sua vida pulsional, onde forças de extraordinária grandeza deslocam a sua meta sexual para outras metas, permitindo então que se realize a capacidade de sublimação, como uma forma bem sucedida de renúncia a um objetivo instintual originário (Freud 1908).

Fora Freud ainda que ao observar a motivação que têm as crianças para o brincar, encontra nessa atividade o mesmo sentido de realização cultural, que abarca a renúncia à satisfação instintual, a capacidade de transformação de uma experiência psíquica em jogo e pelo jogo, e a passagem da situação de passividade ao papel ativo. Segundo ele (1920), elas repetiriam ao brincar todo o vivido que causa-lhes forte impressão, para tornarem-se assim menos impactadas pela experiência, construindo através da brincadeira a possibilidade de que significados sejam gerados.

Este ponto articula-se intimamente com a posição depressiva descrita por Klein (1935), para quem o processo de formação simbólica está relacionado à mesma dinâmica. Nesta posição o ego do bebê torna-se mais integrado, diminuindo os processos de projeção e permitindo-lhe a percepção de sua realidade psíquica, que contém a ambivalência de seus próprios instintos. Concomitante a isso o aumento de sua percepção da realidade externa e da mãe como objeto total ambivalentemente amado dá origem a sentimentos de culpa e de auto-reprovação, trazendo-lhe temores de que tenham sido causados danos a esse objeto, provocados por suas fantasias . O sentimento de luto é experimentado pela criança, assim como os impulsos reparadores podem agora ser desenvolvidos para restauração do objeto interna e externamente, o que consistiria nas bases da criatividade e da sublimação.

Assim, os jogos infantis emergem como resultado dos progressos da diferenciação objetal, convertendo-se em procedimentos simbólicos, para que a mente possa transformar as relações penosas com as imagens introjetadas. O ego da criança é impelido a projetar, desviar, e distribuir desejos e emoções, como condições prévias ao desenvolvimento exitoso das sublimações. Dentro dessa compreensão, também Segal (1981) enfatiza a capacidade de lidar com a posição depressiva como pré-condição tanto da maturidade genital como da artística, dando valor preponderante à sublimação e aos aspectos reparadores na gênese da criatividade humana.

51

51

A caminho dessa diferenciação objetal, Winnicott (1951) observa contudo, a existência de objetos e fenômenos transicionais, que guardam uma importância essencial na evolução das relações de objeto , marcando uma etapa organizadora entre a necessidade que a criança tem deste objeto e a sua fantasia alucinatória. Ele dá um lugar à criatividade, que a separa da idéia de criações de obras de arte, mas situa-a intimamente ligada às diferentes abordagens do indivíduo à realidade externa. Para além do processo de criação de uma obra de arte, toda inclinação saudável para o ato de viver suporia criatividade. E essa experiência se localizaria no espaço potencial existente ente o indivíduo e o meio ambiente, lugar de origem do brincar imaginativo, e da experiência cultural.

Num período de dependência máxima, esse espaço apenas se daria com base num sentimento de confiança do infans na figura do cuidador capaz de configurar fidedignidade aos elementos ambientais.

Pelo contacto com o mundo subjetivo e pela adaptação não submissa à realidade externa, a abordagem criativa dos fatos pode vir a resultar numa experiência onde a vida seja digna de ser vivida.

A provisão ambiental, que passa pelas qualidades mentais daquele que se constitui como objeto de vínculo, proporciona ao infans uma vivência de confiabilidade, levando-o a crer que todo objeto da realidade fora por ele descoberto, e então sua experiência de ser constituir-se-á num exemplo do viver criativo, e o seu brincar constituir-se-á na descoberta do self.

Quando essa experiência de confiabilidade não se realiza, as áreas do brincar ou da experiência cultural podem perecer, fracassando também a possibilidade de que vínculos com herança cultural se constituam, ou ainda que a contribuição do indivíduo para o patrimônio de uma cultura se efetive.

O empobrecimento das experiências no campo cultural evidencia o lamentável fenômeno da criança privada, onde o brincar não é possível, e a perda desse viver criativo deixa-nos conhecer estados mentais de indivíduos para quem a vida não parece ser real ou significativa.

Importa-nos nesse contexto não apenas que uma criança brinque, mas sobretudo observar com que qualidade uma criança vem a brincar, pois isso nos dá indicadores de sua estruturação psíquica, da natureza de suas ansiedades, de suas defesas psicopatológicas, da configuração do outro no seu mundo interno. Nesse campo mora a possibilidade de detecção precoce de suas inibições, de sua capacidade de ir dando representabilidade ao proto mental, figurabilidade às experiências de amor e ódio, expressão às angústias diversas que resultem num brincar compulsivo ou repetitivo, ou que se esgote na exploração e gratificação sensorial, diferente de um brincar elaborativo, como caminho da simbolização enquanto portal da pensabilidade e da humanização (Bion-1962).

O verdadeiro jogo, no dizer de Liberman (1981), distingue-se de configurações de conduta que parecem um jogo, mas não o são. Modalidades distintas do brincar infantil podem indicar-nos diferentes graus e qualidades de sofrimento psíquico, observadas pela atuação, pela transformação em alucinose, pela ação dramática, pelo jogo estereotipado, pela evitação do jogo ou pelo estilo festivo, segundo a classificação deste autor, que aproxima-se da psicopatologia infantil, tomando também o brincar como uma organização específica da comunicação própria da criança.

52

52

A se percorrer o caminho para o verdadeiro jogo e a capacidade de brincar, há que se considerar, conforme sistematização de Jan Abram (1996), sobre o pensamento de Winnicott:

a) Que o bebê e objeto estão fundidos um ao outro. O bebê o concebe subjetivamente, e aquela que faz a função de mãe empenha-se em tornar real aquilo que o bebê está prestes a descobrir.

b) Que o bebê experimenta a onipotência, enquanto vai concebendo objetivamente o objeto, de forma gradual, numa relação de confiabilidade.

c) Que só então funda-se a capacidade de estar só, dentro do paradoxo de se estar só na presença do outro.

d) Que é possível enfim abrir-se o caminho para um “brincar com”.

As histórias, os brinquedos e as brincadeiras infantis permeiam uma terceira área que nem é a da realidade psíquica interna ou a do mundo real em que vive a criança, mas uma área da experiência no espaço potencial entre a criança e o meio ambiente, aquele espaço que é a um só tempo o da separação e o da união entre dois seres, ligados numa experiência geradora de um sentido para a existência. ( Winnicott-1971).

Assim contextualizadas, as histórias infantis ganham importância não pela função pedagógica que exercem ou pelo caráter moralizante que possuem, mas porque oferecem, no campo potencial, oportunidades de irem conferindo representabilidade à realidade emocional da criança, nomeando, explicitando, ordenando e atribuindo sentidos às suas experiências.

Klein nos demonstra o quanto é essencial permitir à criança dar vazão à sua agressividade, e reitera que por meio de brincadeiras e brinquedos ela pode vir a expressar a ampla variedade de suas fantasias de destrutividade e culpa, assim como seus temores de retaliação, sentimentos de frustração, rejeição, ciúmes, inveja e suas necessidades de reparação, numa linguagem própria do jogo infantil (Klein-1953/55).

É pelo deslocamento que a criança opera dos impulsos sádicos, originalmente dirigidos ao corpo da mãe, que para Klein (1930) a capacidade de brincar inaugura por assim dizer a capacidade de formação de símbolos, processo pelo qual as ansiedades sofrem transformação, conferindo ao seu mundo mental a experiência de alívio e prazer, permitindo ainda que o mundo externo seja dotado de interesse.

No entanto, carrinhos, bonecas, bem como papéis e tintas não representam apenas coisas que interessam as crianças por si mesmas. No seu brincar eles se investem de significados simbólicos sagrados, gerados pelas suas fantasias, desejos e experiências como um modo arcaico de expressão, familiar à linguagem dos sonhos, e que assim como nos sonhos tornam-se aptos a irem sendo representados, ganhando sobretudo figurabilidade por imagens visuais (Freud 1900).

53

53

POR QUE OS CLÁSSICOS CONTOS DE FADA?

Inseridas numa relação da criança com alguém cuja disponibilidade mental caracterize-o como uma presença viva, as histórias podem se constituir num convite ao sonho, onde paradoxalmente ao se tomar distância da concretude dos fatos e da força devastadora das impressões sensoriais e das experiências emocionais (elementos beta), a criança encontra pela continência do outro que a ela se dirige (Bion,1962), dotado de uma capacidade compreensiva, uma aproximação de si mesma, transcendendo pela simbolização sua própria natureza anímica.

Os clássicos contos de fada, transmitidos através de diversas gerações, revelam na sua perenidade um sábio repertório sobre as verdades da condição humana. Eles são verdadeiras realizações culturais repetidas com o peso da tradição oral e escrita que os revitaliza a cada nova geração. A criança encontra neles alívio ante a possibilidade de dar figurabilidade, forma e narrativa a seus conflitos mais profundos. As personagens das histórias se oferecem à criança para com elas se identificar na célebre clivagem humana entre idealizadas princesas e bruxas malvadas, o bem e o mal, o seio bom e o seio ruim, Eros e Thanatos. Um longo caminho precisa ser percorrido até que o infans ou a criança aprenda a ser continente de suas próprias angústias e ansiedades, e possa reconhecer que todo ser humano alberga o divino e miserável dentro de si.

Um fator básico, para Klein (1929), da tendência de personificação no jogo infantil é a ocorrência dos mecanismos de identificação projetiva e introjetiva, através dos quais o conflito intrapsíquico se expressa, e a criança busca encontrar alívio da pressão super-egóica pela projeção de imagens extremamente bondosas ou cruéis, que se não fossem exteriorizadas provocariam perseguição interna, ansiedade e sintomatologia. As histórias infantis personificam dentro dessa mesma compreensão os prazeres pulsionais do ser humano, por vezes representados nas figuras de animais, assim como suas próprias crises de desenvolvimento são simbolizadas nas figuras de heróis com natureza humanizada, fadas bondosas ou bruxas perseguidoras (Bettelheim-1980).

As recorrentes polarizações entre o bem e o mal expressam uma posição de cisão, que permite num dado momento do desenvolvimento do self infantil, que os efeitos inibitórios dos sentimentos de culpa se dissipem, aliviando as pressões do super-ego primitivo, permitindo que as raivas sejam vivenciadas sem culpa, o que abre caminho para uma possibilidade maior de integração do mundo mental. Pelos mesmos mecanismos de cisão e projeção, a existência nesses contos de alguém que personifique a mãe boa idealizada que surge nas horas de dificuldade, pode circunstancialmente ser o meio capaz de tornar para a criança a dor psíquica suportável, mesmo nos momentos mais difíceis.

Muitas metáforas de morte falam às crianças da possibilidade de desapegos de velhos modos de funcionamento psíquico e da possibilidade de se renascer em planos mais elevados da existência: superação das fugas narcísicas, descoberta da alteridade.

A provisão ambiental suficientemente boa fornece enfim sustentação e compreensão às indagações cruciais do ser humano, cujos contos de fadas podem instrumentalizar a tarefa singular de cada um, em buscar sentidos que respondam às indagações:

Quem sou eu?

Como é possível lidar com as adversidades da vida?

54

54

Sob a forma de aventuras os heróis são impelidos a desenvolverem recursos para superarem seus impasses como o narcisismo mortífero revelado pelo célebre conto da Branca de Neve e a Madrasta, na cena em que ambas se encontram no espelho. Nesse lugar onde o outro é sentido como aquele que tem tudo o que se deseja, e a sobrevida de um depende da morte ou do exílio de outro, perdura uma mesma (outra) guerra observada entre palestinos e judeus, uma mesma (outra) divisão observada entre as crianças portadoras de HIV e as não portadoras, trazendo-nos a baila questões da universalidade humana que advertem sobre as conseqüências funestas do narcisismo:

Quem morre e por que?

Quem é adotado e sai do Abrigo?

Quem não é o “ escolhido” ?

Quem precisa “ morrer” para que um outro possa vir a viver?

As profundas ansiedades paranóides e depressivas, bem como as agonias primitivas dos primórdios da constituição do self encontram figurabilidade nos enredos que contém também sempre a perspectiva de uma ajuda possível para um final feliz, num propósito aparente de esperança, promovendo por vezes efeitos que levam a construção de um sentido, através do qual as atribulações são vividas sem que se perca a auto-confiança, condições para que os obstáculos sejam pensados, e saia-se das lutas de forma vitoriosa, rompendo-se as prisões do desenvolvimento pré- edípico, da desintegração, da sensorialidade rumo à expansão da própria humanidade.

Entre os ferozes animais das tendências impulsivas e das mais primitivas e devastadoras ansiedades, ou no mais sombrio abismo da densa mata existencial, o recurso útil desses contos consiste na sua potencialidade de narrar, e a do narrador de encarnar o quanto é possível gerar coragem e força de luta, para não se desanimar frente à tarefa da descoberta concomitante de si mesmo e do mundo.

Observamos que os casamentos e reinados felizes que comumente finalizam os enredos possam inspirar, ao invés da negação da dor mental, a sua transcendência, pela via da busca do reinado de cada um sobre si mesmo, no sentido do auto-governo e do predomínio do princípio de realidade sobre as tendências do princípio de prazer, transformando enfim o desespero em fé no encontro humano.

55

55

A QUESTÃO DA VERDADE

A questão da verdade sobre a origem da vida

De quem nasci? É diferente da pergunta sobre a origem das crianças, como a célebre teoria sexual infantil apontada por Freud (1908-09). A sexualidade presente na origem de toda vida e a morte são as eternas questões humanas. No bebê dado para adoção, ambas se entrecruzam de forma peculiar. Um bebê, na origem de sua vida, é engendrado em uma singular relação sexual em que Eros é arrastado e sufocado por Thanatos na auto-conservação da vida. Esta relação entre Eros e Thanatos é um fator nada desprezível nas patologias traumáticas, pois o apego ao trauma é um modo de extrema fixação introdutora do caos, oposta à ordem inerente a Eros (Maldavsky, 1995). Esta relação biológica e psíquica com o bebê é clivada. A pulsão de morte se faz mais ou menos presente quando se abandona ou se rechaça o filho não reconhecido como uma obra criadora, transcendente e estética, como mostra Meltzer (1995). Aqui a questão crucial é a fratura, quase impensável e irrepresentável, da relação primordial com os pais biológicos, no primeiro triângulo edípico que dá origem à vida, que se entrecruza com a possível “orfandade psíquica” (Lisondo, 1984) com os pais adotivos.

O filho adotivo pode estabelecer um vínculo narcisista com uma história anacrônica anterior ao seu nascimento. O não reconhecimento dos pais adotivos como pais pode ser uma forma de resistir narcisicamente à situação edípica (Zusman, 1996). A mentira pode ser o mecanismo defensivo que exclui da integração evolutiva uma dolorosa área da origem de uma vida.

O enfrentamento, a oposição e o ódio são necessários para o desenvolvimento psíquico e é preciso diferenciá-los do ressentimento e da violência que figuram em Thanatos. O adolescente adotado pode viver a re-significação edípica, tendo a sexualidade como alvo, com atroz ressentimento fixado no primeiro triângulo que origina sua vida. O círculo do deterioro mental demoníaco pode potencializar-se quando os pais adotivos são pais mortos, no dizer de Green (1980), que repetem a tragédia original. Ante a ferida narcísica, Pólibo e Mérope, pais adotivos de Édipo, evitam, afastam-se e isolam-se da questão da adoção. Ao não haverem elaborado o gesto da adoção e ao não poderem enfrentar a dor mental, perdem o filho. Ao esconderem a verdade, fonte permanente de dor, eles abandonam o filho à sentença oracular. Os buracos do corpo do mítico “herói grego” - marca metafórica da ferida narcísica no ser - perpetuam-se (Lisondo, 1992).

A verdade só é alimento para a mente humana se é uma verdade amorosa, dosada e oportuna, que possa ser tolerada para permitir o desenvolvimento mental. A verdade sem amor é crueldade (Bion, apud Rezende, 1996). Quando Édipo sabe a verdade de sua história, atua e repete a diabólica tragédia de sua origem. Faltou ao criado a sabedoria, o timing, a arte para transformar o impensável, o inominável, a sinistra sentença oracular numa triste melodia significativa, capaz de tocar na ferida da alma, ser suportada e levar ao insight. O criado alimenta o vínculo -K. A arrogância, a curiosidade voraz e invejosa e a estupidez (Bion, 1967) incendeiam o ódio de uma relação parasitária mutuamente despojadora e destrutiva (Sapienza & Junqueira Filho, 1996).

56

56

A verdade capaz de alimentar a mente é a verdade humana, aquela que pode ser tolerada e que pode ampliar a rede de significação de uma história, quando a frustração e a dor do conhecimento em torno da origem podem ser suportadas. O sujeito alcança a consciência da experiência emocional. Para Bion e Kant, a realidade última é desconhecida e incognoscível. A dúvida precisa ser tolerada tanto quanto o sentido de infinito. A criança busca, curiosa, o saber, através do instinto epistemofílico, quando as fantasias destrutivas em torno do corpo materno não inibem o aprendizado, segundo Klein. O vínculo K, para Bion, representa um vínculo ativo numa experiência emocional. Conhecer a verdade sobre si mesmo - a realidade psíquica - é uma função psicanalítica da personalidade. Adquirir um conhecimento, resultado do trabalho de elaboração e das transformações da dor, é diferente da possessão arrogante do conhecimento como baluarte para evitar a dor.

A denegação, a evacuação mediante identificação projetiva não realista e a cisão, que pretendem eliminar a penosa origem da adoção, implicam empobrecimento e perda da contribuição vital que a configuração mental desta origem, sede dos arcaísmos, pode fazer à personalidade total.

57

57

QUADRO COMPARATIVO DAS DIFERENÇAS ENTRE A FAMÍL IA “ SUFICIENTE-

MENTE BOA” E O INFANS NUM ABRIGO .

Fig. 12 e Fig. 13 5Família “ suficientemente boa” Abrigo

Há uma continuidade entre a vida pré-natal e pós-natal. Há uma fronteira entre a vida pré-natal e a pós-natal e/ou a vida pré-natal, a primeira infância e o abrigo.

Os infans sofrem o trauma do nascimento, protótipo da situação de angústia. Freud (1926)

O infans sofre traumas cumulativos. Além do necessáriotrauma do nascimento a morte real ou simbólica dos pais biológicos. A privação da função materna e paterna, a rejeição, a mudança permanente de cuidadores...

Os pais biológicos “adotam” os filhos num nascimento metafórico.

Os pais biológicos rejeitam e/ou estão impossibilitados de exercer a função materna e paterna.

Os pais biológicos nomeiam um Ser conhecido. Os pais biológicos não podem nomear a um corpo conhecido/desconhecido.

O infans ocupa um lugar numa história transgeracional. O infans é exilado da origem e da árvore geneológica presente na ordem real e carnal (de um corpo que denuncia a filiação – Ex: HIV).

Na origem da vida do infans “EROS” abre o portal da Transcendência.

Na origem da vida do infans “THANATOS” – a destrutividade da vida- abre o portal do horror.

Ante o desamparo desestruturante da condição humana, a função materna dosa os estímulos para que possam serem suportados pelo frágil e vulnerável infans.

O desamparo da condição humana é potencializado ante a privação da função materna e paterna. O ser do infans é despedaçado ante o acúmulo de estímulos sem uma referência psíquica. Ex: procedimentos médicos.

Na simbiose necessária inicial a função materna é “uma mente para dois” num útero mental (Mc Dougall, 1987)

Não é possível criar a necessária simbiose porque a função materna não é exercida continuamente pelo mesmo cuidador.

O ritmo e a alternância entre a presença e a ausência da função materna e o infans está regido por um misterioso vínculo de amor, ódio necessário e conhecimento.

O aparecimento e desaparecimento do cuidador obedece ao regime das condições de trabalho com turnos, alternância de períodos e folgas, e não as condições psíquicas do infans.

O handling, os cuidados materiais do corpo são acompanhados do holding ,SENTIDO.

O handling, os cuidados materiais do corpo é o objetivo que se separa do sentido. Falta o cuidado como expressão do amor pelo valor da vida do infans.

Os pais investem o infans na vida intra-uterina, e na história da história dos pais com um projeto identificatório, onde o filho é sonhado, nomeado, interpretado numa mítica cultura familiar.

Os pais interpretam o filho como aparição sinistra, maldição do cruel destino, castigo divino, frutos do pecado, culpa ancestral a pagar, etc. O filho encara o estigma do negativo, o desinvestimento, a marca preta da tragédia. Nesta constelação psíquica, o HIV é o significante do horror.

O infans é visto, interpretado, cuidado como SER. “A majestade o bebê” é o lugar de privilégio do infans que evoca o infantil dos pais.

O infans é visto, interpretado, cuidado como um ser doente, coitado, abandonado, rejeitado. A desqualificação do ser é potencializada. Ser portador de HIV é sua carteira de identidade.

Há na origem, uma relação amorosa, entre os pais, suficientemente boa (nunca perfeita). O filho é obra de arte transcendente dessa relação criativa que garante a continuidade da vida.

Há na origem, um “acidente do destino” , uma relação perversa, uma resignação. O filho denuncia quando contaminado de HIV o sinistro mundo psíquico dos pais.

A função materna e paterna criam a segurança básica da continuidade da existência.

O infans vivencia a vertigem da queda abisal a angústia de precipitação (Houzel), a angústia catastrófica (Meltzer,), o terror sem nome (Bion) a cada fronteira dos vínculos.

5

Figura 12 - Stefano Borsi Masaccio Figura 13 - "O Caminho do Deterioro Mental" - Diagrama de Alicia Beatriz Dorado de Lisondo

58

58

5Família “ suficientemente boa” Abrigo A constância do Objeto à função materna exercida pela mãe permite a experiência de consensualidade, e o reconhecimento do Objeto e de si mesmo.

A função “materna” é exercida, quando existe, por vários cuidadores. Necessariamente cada um é diferente do outro. O infans perde as referências, em cada despedida há uma vivência de não integração, de desintegração.

O pai real e simbólico é o Outro da mãe. O pai pode separar a necessária simbiose no início da vida quando a mãe sabe que não é tudo e aceita a complementaridade do Outro ao reconhecer sua identidade.

O pai real pode ser desconhecido, desaparecido, não reconhecido, rejeitado. A função paterna não é exercida a partir do “ lugar masculino”. O infans abandonado pode ser prótese, fetiche, duplo de personalidades perturbadas.

O infans é compreendido – O desespero é transformado em esperança de acolhimento quando encontra o coração e a mente, o desejo na função materna e/ou paterna.

O infans não é compreendido. O desespero se transforma em desistência quando reiteradamente não encontra o coração, o desejo, a mente da função materna e paterna. Deixar de chorar, a “passividade” não é o poder de estar sozinho, é a retirada do mundo humano. O início das mais sérias patologias. A paz do sepulcro mental.

A função materna integra. Há um aprendizado na e da experiência emocional “uma colherada para a mamãe e uma para o papai” – a função materna é um seio pensante.

A função materna exercida por vários cuidadores só pode conseguir fazer integração precárias - não há um aprendizado pela experiência emocional. Aqui faz o enraizamento dos problemas no aprendizado. A função materna é um seio material que não exerce a função do modelo pensante.

O infans ocupa um lugar na triangulação edípica ▲ que garante a criação da perspectiva, o esforço mental para o ser um Eu intérprete.

O infans ocupa o “não lugar” da loucura. A origem biológica deixa marcas no Inconsciente. O sinistro na triangulação edípica. Outro Triângulo se forma com os pais adotantes. O valor da vida do infans, o lugar psíquico desqualificado é conseqüência da desvalorizaçãooo da vida nos vínculos primários.

O infans pode vivenciar a dependência de um Outro.

O infans pode se proteger ante a dor de não encontrar o objeto disponível na auto-suficiência e sobre a adaptação para sobreviver. “Ser grande antes da hora” e “ser pai dos pais”

A criança encontra a revelação ante a necessária curiosidade sobre a sua origem. As perguntas sobre a sexualidade encontram os mitos familiares, albúns de fotos, filmes e história evocados e rememorados.

A criança não encontra o sentido possível ante o impensável, indizível do horror de sua origem. Por que nasci? Por que eu com HIV?

O infans desenvolve funções mentais na companhia viva do Outro, o diálogo, o brincar, as histórias, dramatizações, personificações que permitem o desplegne da pulsão epistemofílica.

O infans inibe e sepulta funções mentais potenciais quando não encontra o Outro disponível para a criação de uma relação subjetiva. O outro pode ter uma companhia transitória, passageira, fugaz.

O infans inicia a criação de um aparelho mental obra do Outro. O EU é responsável de caras funções mentais:

1.Percepção

2.Atenção

3.Julgamento

4.Atribuição

5.Discriminação

6.Memória

O infans não cria um aparelho mental ou ele é frágil, variável, sem espaço para as representações. O Eu frágil não pode desenvolver as caras funções mentais fundamentais para o aprendizado. A criança e o adolescente não aprendem pela impossibilidade estrutural; Não há aparelho para pensar; Não aprender pode ser um sintoma psíquico que esconde verdades a serem recalcadas. Não aprender pode ser obra de Thanatos, trabalho do negativo, do desligamento.

Na alternância significativa da presença e da ausência, a criança constrói o símbolo. O jogo de esconde -esconde “O Fort-da” , anuncia esta conquista. O símbolo permite a criação do objeto na ausência , no sentido de sobreviver.

O infans e a criança ao invés da ausência, vivenciam a falta à privação do Objeto. Não há esperança de reencontro, porque faltou a experiência continuada do encontro. A criança não pode criar o símbolo, ela vive na concretude de um mundo sígnico.Zusman (1994).

O infans ante a experiência de frustração – não seio disponível pode criar a experiência alucinatória de gratificação, isto é, trabalho mental.

O infans além da frustração vive inevitáveis experiências de privação. Há uma “fome mental” . Ao invés de trabalho mental, o infans evita a dor psíquica em refúgios

59

59

5Família “ suficientemente boa” Abrigo A “chupeta” pode alucinadamente ocupar o lugar do seio até que a realidade da fome se impõe.

defensivos como o isolamento. O infans alucina negativamente, quando a mamadeira é oferecida. É como se não existisse o que existe. NEGATIVISMO/ANOREXIA.

Os pais são modelos de identificação: •cumprem a função anaclítica •O progenitor do mesmo sexo do infans é o rival na

disputa do Objeto de amor até que na adolescência num outro nascimento metafórico o jovem percorre o caminho para encontrar seu próprio AMOR

O infans, criança e adolescente têm modelos de identificação transitórios, descontínuos, “não suficiente/bons” . •O cuidador não pode cumprir a função anaclítica que

exige uma presença contínua. •O infans, criança não vive a experiência de uma relação

amorosa entre um homem e uma mulher.

A sexualidade genital no adolescente não implica profunda penetração afetiva coração a coração. O adolescente pode usar de si e do outro como uma “coisa em si mesma” num mundo superficial, sensual onde só importa o próprio carnal do prazer em manipulações mecânicas de uso. A experiência emocional é transformada, banalizada, vulgarizada em FATOS CONCRETOS, SENSUAIS. NA PERVERSÃO A DESTRUTIVIDADE DO OUTRO É A META.

As impressões sensoriais são transformadas em emoções, afetos quando nomeadas em SENTIMENTOS. O sentido significativo é construído numa história de relações afetivas. Por que te amo, te cuido.

O infans, a criança e o adolescente, pela carência de relações afetivas significativas não integra o sentido, a significação às vivências que ficam despojadas de vitalidade psíquica. Quando recebem uma doação, nem sempre há um vínculo com o doador que é um “fornecedor anônimo, sem rosto” . A alegria do encontro, de se sentir amado e da gratidão não se realizam, fica a gratidão momentânea e/ou as manifestações de coisas, e não de gestos humanos.

A alteridade, o respeito pelo Outro, a reciprocidade se “mamam” no dia a dia. Ex: O controle da moral esfincteriona implica em adquirir os hábitos de higiene por AMOR a papai e mamãe e renunciar dos prazeres próprios.

É importante destinguir a “colagem adesiva” da relação afetiva. Estar grudado num outro não implica a diferenciação entre eu e não eu, muito menos uma relação de alteridade.

Na família se aprende com os irmãos a lidar com as profundas emoções que encara o rival, a inveja, o ciúmes. A disputa é pelo Objeto de AMOR primários- os pais.

Ante a desintegração do núcleo familiar, importa que um SER humano possa vir a ser capaz de estruturar a subjetividade para se relacionar. Antes de conservar os vínculos fraternos é importante criar vínculos. A exigência de adoção simultânea de irmãos inibe, limita e dificulta à adoção. Um casal precisa de um profundo trabalho de elaboração mental para criar uma fertilidade psíquica, para criar um filho adotado. A adoção múltipla potencializa os obstáculos para a criação da filiação simbólica. A criança adotada é um SER já traumatizado. Não é possível AMAR por decreto.

60

60

PROPOSTAS CONCRETAS

1)Um diálogo interdisciplinar com todas as ciências implicadas nas atividades do abrigo do

Centro Corsini.

2)Inclusão da psicanálise no diálogo com as políticas de assistência social, porque consideramos que a saúde mental ou a deterioração mental estão decisivamente em jogo no infans, na criança e no adolescente abrigado.

3)O uso da televisão em diferentes constelações mentais:

4)Tal como fundamentam vários autores ( Soifer 1981, Vasconcelos 90, Reich, Toffer e Toszac, 1981 apud Soifer,1981) sustentamos que:

a) O infans não deveria assistir televisão.

b) Na primeira infância deve-se limitar o uso da televisão a 30 minutos por dia.

c)Na latência deve-se assistir três ou quatro vezes por semana por não mais de uma hora.

d) Aos adolescentes deve-se limitar o uso da TV a uma hora por dia ou no máximo duas horas quando se assiste a filmes previamente escolhidos.

e) Muitas atividades podem substituir o tempo antes gasto com a televisão. Sugere-se além das atividades desenvolvidas no núcleo as atividades sugeridas neste projeto no ítem “Histórias infantis” .

5)Seria conveniente que os berços pudessem ter grades que possam ficar baixas, para que a criança possa ter a visibilidade de todo o ambiente.

6)É importante que o cuidador converse, olhe no olho da criança, cante, e acaricie o seu corpo.

7)O infans que chora suplica por compreensão. É importante que o bebê seja acolhido, segurado com firmeza, sustentado com o calor do corpo do cuidador, que um manto sonoro embrulhe o bebê em melodioso canto para transformar o terror sem nome em esperança de acolhimento. Não receber a sensibilidade do bebê é matá-lo psiquicamente.

8)É importante que os pais biológicos e os familiares possam visitar os filhos, sendo acompanhados, mesmo quando destituídos do Pátrio Poder. É importante assinalar que esta destituição é temporária, porque o ser humano não precisa ser eternamente condenado a esta destituição. Quando a criança encontra novamente os pais biológicos necessariamente são estranhos.

9)Filmar e fotografar cada criança para registrar através do álbum e do vídeo uma história afetiva. A imagem, acompanhada das narrativas pode construir o sentido nutriente da mente humana.

10)Colocar uma câmara para vídeo durante 4Hs alternadas entre os diferentes períodos do dia para acompanhar e observar a vida do infans na Instituição.

11)É importante que a criança possa se entregar ao sono sendo acompanhado nessa passagem. O canto, a narrativa e/ou leitura de histórias infantis no quarto, o beijo, a arrumação das roupas de cama ajuda a elaborar as despedidas e entrar num estado que a humanidade tem relacionado com a morte. Os pesadelos, a insônia , os terrores noturnos são evidências dos severos transtornos do dormir.

61

61

12)Ao regressar das atividades escolares é importante que alguém possa olhar, se interessar, conversar sobre as atividades desenvolvidas, as conquistas no aprendizado. A atenção é vivida pela criança e adolescente como manifestação de amor.

13)O infans, a criança e o adolescente precisam aprender a brincar com um adulto. Nos jogos lógicos – quebra-cabeças, memória, construções, armar objetos, etc.- é importante colocar desafios e alimento perturbador para a mente para o despertar das funções mentais.

14)Nas horas das refeições é importante poder propiciar o diálogo, compartilhar projetos, conversar sobre visitas, saídas, peças de teatro etc.

15)É importante a presença sempre contínua, freqüente e estável, de ao menos uma figura masculina. Que o residente em Pediatria toque, examine, converse, explique, para ser quem sabe aquele que acompanha o crescimento, acordando a etimologia do ser pediatra.

16)O adolescente precisa ser acompanhado nos espaços culturais e sociais que lhe permitam se abrir ao mundo, entrar com o conhecimento de outros grupos sociais etc.

17)É importante que o infans, a criança e o adolescente quando internado seja acompanhado e visitado num horário a combinar, por um estagiário que possa brincar, desenhar, conversar, perceber as questões e as angustias, saber dos desejos do internado, facilitar o diálogo com a equipe médica para elucidar as inquietações sobre a doença.

18)É importante que os infans escutem música clássica, e que quando hospitalizadas possam escutar as mesmas músicas para facilitar a vivência de continuidade da existência. Da mesma forma é importante que o infans ou criança possa levar ao hospital o seu objeto de afeição preferido, objeto transicional e ou autístico, fonte de segurança.

62

62

FIL IAÇÃO SIMBÓLICA E FILIAÇÃO DIABÓLICA

I - ADOÇÃO

V.1252 Édipo: “Venha o que venha, quero conhecer a minha origem, por mais obscuro que seja ... A sorte é minha mãe, o desenvolvimento dos meses de humanidade me fez grande. Com tal princípio, o que me importa do resto? Porque não hei de saber da onde venho?”

Todo ser humano é adotado. A concepção e o nascimento biológico não garantem o nascimento psíquico.

2. FILIAÇÃO SIMBÓLICA.

(Fig. 14)

A ADOÇÃO QUE PERMITE UMA BOA RELAÇÃO.

V.357 Édipo: “ Quem são? Quais foram os mortais que me gerarão?”

Os pais com uma elaboração sempre dinâmica e oscilante, da própria identidade na situação edípica podem criar o lugar simbólico para o filho em uma relação de alteridade.

a) Os pais podem perceber a realidade mental própria e a do filho, ampliando a consciência e o contato com a realidade. A filiação simbólica é uma conquista que exige trabalho mental. Ao dar um nome a um corpo desconhecido, oferecem ao filho um lugar simbólico em uma história edípica transgeracional. O Infans sempre tem sofrido traumatismos. Na pintura de Picasso a criança abraça a pomba como houvesse desejado ser acolhida neste mundo por braços firmes com handling e holding. Esta menina é a pomba assustada que para ser representante da paz precisa conquistá-la na sua vida intima.

b) Os pais podem elaborar um duro e sofrido trabalho, o luto pelas perdas da função procriativa, a fertilidade potencial do companheiro, o sonhado filho biológico, quando a adoção é posterior as sofridas limitações que a esterilidade impõe.

c) O filho adotado pode ocupar o lugar de um Outro que constrói a identidade na alteridade. O espaço da triangulação com os pais adotivos é estruturante do SER.

d) Os pais podem construir uma relação intersubjetiva real, podem tolerar a frustração e a dor mental quando seus ideais egóicos são desafiados.

e) Os pais podem aprender emocionalmente com o filho ao ter acesso a Pd. sempre em oscilação com a Ps. Os pais alcançam uma genuína preocupação depressiva, são capazes de gratidão, perdão, compaixão, autêntica

Figura 14 - “ L'Efant au pigeon” , 1901 - Pablo Picasso

63

63

generosidade (oposta aos delírios de bondade). Discriminam o filho como objeto total. As separações são genuínas , realísticas e simbólicas.

f) Os pais podem aprender com a experiência emocional e a dor mental. Eles podem estabelecer um vínculo K( conhecimento) apaixonado, com equilíbrio entre L,H,K ( amor, ódio, e conhecimento) que tende a “O”, O SER. A mãe com revery pode intuir a verdade dos sentimentos do bebê, o ajuda a saltar as brechas para a mudança catastrófica, o ensina o sentido da paixão ao interpretá-lo. Ela é parteira do pré-consciente, berço da linguagem, realiza a pré-concepção humana ao humanizá-lo, o acompanha a tolerar a frustração, a ter paciência, a saber esperar, a contemplar o seio pensante como misterioso objeto estético.

g) Na cesura mútua do bebê que chega e dos pais que o acolhem, se constrói a vivência possível de continuidade de ser pai –mãe -filho. É possível elaborar os traumas quando EROS predomina.

h) Os pais entre si e com o bebê estabelecem um vínculo simbiótico. Há cordial acolhida do filho como projeto messiânico que, inevitavelmente, ameaça subvertir e aniquilar o já estabelecido e familiar. As condições para tolerar o vazio e as incertezas darão suporte devido à paciência, perseverância, e amor à verdade – para acontecer novas formas de ser. A vitalidade será provada com ousadia e prudência. Os pais renovam a esperança em atos de fé.

i) O pai está psiquicamente presente no mundo mental materno e pode exercer a função paterna simbólica mesmo quando, na realidade, pode não estar presente.

Ex. quando falecido.

A presença real do pai e da mãe permitem que o filho possa viver um modelo de relação “suficientemente bom”. As experiências com o pai real ajudam a inscrever sua existência no inconsciente através da qualidade sensorial e afetiva, matéria prima das representações da coisa.

O falo não é a possessão narcísica, mas o elo de união e criatividade inspirada em EROS. O “nome do pai” permite exercer o poder da lei, abre seu espaço ao separar o necessário duelo fusional mamãe-bebê. A castração elaborada permite Re-segnificações . É possível a reestruturação do triângulo edípico e do espaço mental que permite mediar as mudanças catastróficas em uma articulação temporal e espacial.

j) Os pais podem tolerar a confrontação a oposição e o ódio necessário para a conquista da separação e independência principalmente na adolescência. Compreendem a gestação da fantasia da novela familiar invertida.

k) Os pais podem assumir a identidade masculina e feminina na complementaridade do casal que cria “elos” amorosos de ligação entre seres diferentes. Este é o primeiro modelo vivo de pensamento (criar relações entre as idéias) e o primeiro modelo de relação social para o filho.

l) Os pais podem revelar a verdade possível sobre o gesto de adoção . Esta verdade é alimento psíquico para a alma humana. Para Bion, a falsidade implica a

64

64

impossibilidade de alcançar a verdade em si porque ela é, em essência, desconhecida e incognocível.

A falsidade é diferente da mentira que precisa do mentiroso para ocultar, deformar, alterar a realidade.

3. FILIAÇÃO DIABÓLICA.

( Fig. 15)

A ADOÇÃO QUE PERPETUA A MÁ RELAÇÃO

V.1363 Édipo: “ Ai de mim! Tudo é claro agora! Oh luz do dia, te vejo pela última vez, eu que nasci de quem não deveria nascer, e me casei com quem não deveria casar-me, e matei a quem não devia matar!...”

O destino do menino adotado corre o risco de deterioração mental quando a gênese da adoção está permeada por uma constelação narcísica, pré-genital, perversa que não pode oferecer condições psíquicas para a estruturação da subjetividade.

a) A perturbação mental dos pais se arraiga em uma constelação narcísica. A paternidade psíquica está seriamente perturbada. O filho é objeto de possessão.

b) O filho aprisionado no registro imaginário, no tenebroso espelhismo narcísico, precisa encarnar a continuidade dos pais para sepultar o limite e a morte. O infans é condenado a atender os ideais egóicos paternos, herdeiros do narcisismo, em uma identificação narcísica alienante. O infans precisa ser o “baluarte” das realizações paternas. Não há reconhecimento dos filhos como o Outro da alteridade.

c) Na adoção não há trabalho de elaboração do luto pela perda da função procriativa, nem do sonhado filho biológico que, como sinistra sombra, pode sepultar a vida do filho adotado.

d) O filho ocupa o lugar de um fetiche quando a castração é recusada. O infans é privado de um lugar simbólico na configuração edípica e privado do processo de humanização.

e) O filho pode estar prisioneiro a perpetuar a simbiose patológica no registro imaginário dual, narcísico, sem permitir a entrada da função paterna e a necessária triangulação edípica.

f) Os pais não permitem o conhecimento sobre a origem, a aproximação à verdade. Não se trata de uma informação racional despojada de amor que pode ter o efeito de uma bomba explosiva que dinamita o aparelho psíquico.A verdade sem amor é crueldade. Quando o Édipo sabe “a verdade” provoca a cegueira, porque não pode perceber a mais terrível das privações : a falta de amor.

Figura 15 - Desenho feito por criança da UAI

65

65

Um triângulo diabólico se estabelece entre a ignorância, a curiosidade voraz e invejosa, e a estupidez numa relação mutuamente “despojante” e destrutiva. A mentira ocupava, em Édipo, o lugar do possível caminho para uma aproximação à verdade.

g) Os pais com dogmas fanáticos e sentenças vigorosas freiam o questionamento sobre as manifestações do Pathos no filho, Eles, no apogeu da onisciência e onipotência tomam posse como amos absolutos, de falsas realizações. Os pais evitam a dor da frustração, apelando para as defesas mais primitivas, que como trincheiras em plena posição esquizoparanóide, fazem uma clivagem é em um splitting forçado, entre a função paterna cosificada na materialidade da concretude e a experiência emocional amorosa na compreensão que promove o desenvolvimento mental.

h) Para Freud, viver significa se sentir amado pelo superego, como representante do Id e da instância paterna, o sentir-se amado provém da realidade dos pais pela dependência do ser humano. O filho é aqui vítima da paixão tirânica como Piera Aulignier aprofunda.

i) O bebê adotado sempre chega tarde demais. A travessia nas sombras da rejeição no triângulo patológico dos pais biológicos, não é re-significado no processo de humanização da ontogênese com as experiências transformadoras da relação emocional pai –mãe -infans no triângulo dos pais adotivos.

Os traumas são potencializados. O bebê pode ser hiper- excitado bombardeado com estímulos que rompem a couraça de proteção na gênese do trauma. A impossibilidade de introjetar um continente gera a angústia da não integração. A vida psíquica está em risco.

j) Os pais criam um vínculo parasitário com o filho, que se mantém altamente idealizado, como objeto onipotente, tanto no absolutismo benigno como na tirania maligna. O hóspede se prende a esse grandioso anfitrião como se fosse um apêndice parasitário, como a extensão de um objeto mutilado, em intensa desvalorização e destruição. Estão criadas as condições para uma mútua destruição. O bebê entra na “trampa psicótica” . O vínculo “k” e a mentira permeiam a relação.

k) O filho não é reconhecido como sujeito digno de amor em um vínculo amoroso regulador da auto-estima e de seu valor.

l) Falta a função paterna. O masculino não tem espaço em um mundo mental materno, não há possibilidade de criar a triangulação edípica. Por exemplo, na produção independente se recusa a diferença sexual, a incompletude da condição humana, a diferença geracional, o limite, a norma, a lei.

m) O menino adotado pode querer provar a firmeza do desejo dos pais adotivos e a força da continência no mundo mental. A confrontação, a oposição e o ódio necessários para o desenvolvimento mental, são interpretados por pais perturbados , na sua concretude, como expressão de maldade e ingratidão do filho. O vínculo demoníaco se potencializa, as feridas narcísicas sangram as transformações em alucinações ‘ tampam’ a dor mental e afastam os pais do contato real com o filho.

66

66

n) A trágica adoção de um bebê por pais perturbados, onde prevalece a parte psicótica da personalidade. Os pais ante uma angústia psicótica realizam identificações projetivas patológicas no filho. O bebê é usado como continente da loucura parental. O aparelho mental é dinamitado. O infans é um deposito. O bebe é pai de seus pais.

o) A trágica adoção por pais com estrutura perversa merece um capítulo diferenciado. A adoção do bebê é “prova do poder absoluto” na sexualidade pré-genital, polimorfa, sádica, destrutiva. O bebe é tratado como sendo um objeto inanimado. Se assassina a um bebe. Com freqüencia o adolescente contaminado tenta contaminar a seus parceiros por vingança assassina e ressentimento.

p) O infans é interpretado como um “estranho” que desperta horror e terror ao desafiar os ideais egóicos na “senda” do narcisismo. Ele ilumina e revitaliza o familiar que poderia estar oculto, escondido.

Édipo Rei Arauto: “ ... os males mais terríveis são aqueles que cada um faz a si próprio.”

67

67

REFERÊNCIAS

ABRAHAM, N.; TOROK, M. (1995). A casca e o núcleo. São Paulo: Escuta.

ABRAM, J. (1996). A Linguagem de Winnicott. Rio de Janeiro: Ed. Revinter.

AHUMADA, J.L. (1997). El rol del Psicanalista en la imagen: Problemáticas y desafios. Trabalho apresentado na APDEBA.

ALI, S. (1991). Pensar lo Somatico. Buenos Aires: Ed. Paidós.

ALVAREZ, A. (1994). Companhia Viva. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas.

ANDRADE, V. (1998). Afeto e pensamento: uma compreensão metapsicológica. (trabalho não publicado). Rio de Janeiro.

ANZIEU, D.; HOUZEL, D. et al. (1987). Las envolturas psíquicas. Buenos Aires: Amorrortu Editores.

ANZIEU, D.y outros. (1990). Las envolturas psíquicas. Buenos Aires: Amorrortu editores.

ARAY, J. (1985). Senderos del Alma. Caracas: Ed. Torin.

ARMESTO, M. S. (1997). Psicoanálisis del Duelo en la Temprana Infancia (trabalho não publicado). Buenos Aires, Argentina.

ATHANASSIOU, C. A. (1982). A constituição e a evolução das primeiras identificações. Revista Francesa. de Psicanálise. 46(6) p.1187-1209. (Trad. de Nilde J. P. Franch, na Biblioteca da SBPSP).

ATHANASSIOU, C. A. Bion et la Naissance de L’Espace Psychique.Paris: Éditions Popesco, p. 107.

AULAGNIER, P. (1979). A violência da interpretação - Do Pictograma ao Enunciado. Rio de Janeiro: Imago.

BÉGOIN, J. (1993). Significação e Interpretação da Destrutividade na Vida Psíquica da Criança. Revista Brasileira de Psicanálise. São Paulo. p. 526 e 530.

BERGÈS, J. B.G. (1999). Sobre el transitivismo. El juego de los lugares de la madre y el niño. Buenos Aires: Nueva Vision.

BETTELHEIM,B. (1980). A Psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra.

BIANCHEDI, E. T. (1997). Pre-natales - Post-natales: la Personalidad Total. Trabalho apresentado em International Centennial Conference on the Work of W.R. Bion, Túrin, Italia.

BIANCHEDI, E. T. et all. (1999). Bion, conocido / desconocido. Buenos Aires: Lugar Editorial.

BICK, E (1968). A experiência da pele em relações arcaicas. In Melaine Klein Hoje. Rio de Janeiro: Imago, 1991. Vol. I, p.194.

BICK, E. (1968). The experience of the skin in Early Object Relations. Int. J Psycho-anal., 49 p.484-486.

68

68

BION, W.R. (1962). Uma teoria sobre o pensar. Estudos psicanalíticos revisados. Rio de Janeiro: Imago.

BION, W.R. (1967). Volviendo a pensar. Buenos Aires: Ediciones Horme

BION, W.R. (1977). El Mellizio Imaginario. In Volviendo a pensar. Buenos Aires: Ediciones Horme S.A.E. Cap. II, p. 12-37.

BLEGER, J. (1975). Simbiosis y Ambigüedad: estudio psicoanalitico. Biblioteca de psicologia profunda. Buenos Aires: Paidós.

BLEICHMAR, H. (1981). El narcisismo - Estudio sobre la enunciación y la gramática inconsciente. Buenos Aires: Ed. Nueva Visión.

BLEICHMAR, H. (1991). La depresión: un estudio psicoanalítico. Buenos Aires: Ed. Nueva Visión.

BLEICHMAR, H. (1997). Lo reprimido, lo no constituido y la desactivación sectorial del inconsciente: intervenciones terapéuticas diferenciadas. In Avances en psicoterapia psicoanalítica: hacia una técnica de intervenciones específicas.Cap. III, p. 117-182.

BLEICHMAR, H. (1997). Psicoterapia de los transtornos narcisistas. In Avances en psicoterapia psicoanalítica: hacia una técnica de intervenciones específicas.Cap. IV, p. 243-276.

BOTELA, C. e BOTELLA, S. (2001). La Figurabilité Psychique, Delachaus e. Niestlé, Suiça. p. 83

BOWLBY, J.(2001). Formação e Rompimento dos Laços Afetivos. Editora Martins Fontes.

BRAIER, E. (2000). Gemelos. Narcisismo y dobles. Buenos Aires:Paidós.

CERQUEIRA-LEITE, A.C. -Em busca do sofrimento histérico. A histeria e o paradigma da melancolia. -Tese (Doutorado). – Faculdade de Ciências Médicas, UNICAMP (03/2002) – Universidade de Paris VII (07/2002).

CHIAPPINI, C. H.; MIYARES, A R. (1997). Observacion de lactentes: signos de alarma en el primer año de vida. Autismo precoz. Detección y tratamiento. Buenos Aires: Ediciones Kargieman.

DOR, J. (1998). El padre y su función en psicoanálisis. Buenos Aires: Nueva Visión.

ELIACHEFF, C. (1995). Corpos que gritam. A psicanálise com bebês. São Paulo: Editora Ática.

ERICKSON, E.H. (1970). Infancia y sociedad. Buenos Aires: Ediciones Horme.

EVANS, P.; HUCKLEBRIDGE, F. and CLOW, A. (2000). Mind, imunnity and health: the science of psychoneuroinmmunology. London: Free Association Books.

FAIMBERG, H. (1996). El mito de Édipo revisitado. In Transmisión de la vida psíquica entre generacionés. Buenos Aires: Amorrortu, Cap. IV, p.130-145.

FÉDIDA, P. (1988) A clínica psicanalítica: estudos. São Paulo: Escuta

FÉDIDA, P. (1991). Nome, Figura e Memória - a linguagem na situação psicanalítica. São Paulo: Ed. Escuta.

FERRO, A. (1997). Na Sala de Análise. Rio de Janeiro: Imago.

69

69

FRANCH, N. J. P. (2001). O Suporte da Comunicação no Brincar da Criança In A Atualidade da Psicanálise de Crianças Org. Grana e Piva. São Paulo: Casa do Psicólogo.

FREUD, S. (1908/09). Teorias sexuales infantiles. In Obras Completas, Vol. IX. Buenos Aires: Amorrortu editores.

FREUD, S. (1911). Los dos principios del funcionamiento mental. In Obras Completas, Vol. XII. Buenos Aires: Amorrortu editores.

FREUD, S. (1913). Tótem y tabu. In Obras Completas, Vol. XIII. Buenos Aires:Amorrotu editores.

FREUD, S. (1916-17). Ordenamiento, comentarios y notas de James Strachey, com la colaboración de Anna Freud. Conferencias de introduccion al psicoanálisis. In Obras Completas, Vol. XVI. Buenos Aires: Amorrortu Editores.

FREUD, S. (1919). Lo ominoso. In Obras Completas, Vol. XVII. Buenos Aires: Amorrotu editores.

FREUD, S. (1920). Mas alla del principio del placer. In Obras Completas Vol. XVIII. Buenos Aires: Amorrortu editores.,

FREUD, S.(1923). El yo y el ello. In Obras completas, Vol. XIX. Buenos Aires: Amorrortu editores, pp. 15, 17, 31, 49, 58.

FREUD, S. (1926). Inhibición, síntoma y angustia. In Obras Completas, Vol. XX. Buenos Aires: Amorrotu editores.

FREUD, S. (1938). Conclusiones, ideas, problemas. In Obras Completas, Vol. XXIII. Buenos Aires: Amorrortu editores.

GARMA, E. G. et al. (1985). Acerca de la identificación y la adoptión. Revista de Psicoanálisis, 42 (5) p. 1057-64.

GEFFRAY, C. (1990). Ni Père, Ni Mère . Paris: Éditions du Seuil.

GEISSMANN, C. e P. (1993). A criança e sua psicose. São Paulo: Casa do Psicólogo.

GRAÑA, R.B. e PIVA, A.B.S. (2001). A atualidade da psicanálise de crianças: Perspectiva para um novo século. São Paulo: Casa do Psicólogo.

GRAVES, R. (1955). The Greek Myths. Londres: Penguin; trad. fr., Les mythes grecs, París: Fayard, 1967.

GREEN, A. (1980). A mãe morta. In Sobre a Loucura Pessoal. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1988.

GREEN, A. (1988). Narcisismo de Vida, Narcisismo de Morte. São Paulo: Editora Escuta Ltda. p. 248 e 249.

GREEN, A. (1994). Édipo, Freud e nós. In O Desligamento - Psicanálise, Antropologia e Literatura. Rio de Janeiro: Imago. Cap. III, pp. 57-115.

GREEN, A. (2002). La diacronía em psicoanálisis. Buenos Aires: Amorrortu editores.

GUEDENEY, A. e LEBOVICI, S. (1997). Intervenções psicoterápicas pais/bebês. Porto Alegre: ArtMed.

GUIGNARD, F. (1997). O infantil ao vivo. Reflexões sobre a situação analítica. Rio de Janeiro: Imago.

70

70

HAAG, G. (1991). Contribución a la comprensión de las identificaciones en juego en el yo corporal. 37º Congreso de la Api, Buenos Aires.

HOUZEL, D. (1991). Identification Introjective, Reparation, Formation of Simbole. In J. Psychanalyse lÉnfant, 10 p. 46-66.

HOUZEL, D. Aspectos psicoanaliticos de la prevención y del tratamiento del autismo en el niño. “La ayuda a los padres en los cuidados a domicilio en psiquiatria del lactante.

HOUZEL, D. Pensar los bebés. Reflexiones sobre la observación de lactantes.

HOUZEL, D. y BASTARD. Tratamientos a domicilio en psiquiatria del lactante.

HUIZINGA, J. (2000). Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: editora Perspectiva.

KAËS, R; FAIMBERG, H.; ENRIQUEZ, M y BARANES, J.J. (1996). Transmisión de la vida psíquica entre generaciones. Buenos Aires: Amorrortu editores.

KAHN, M. (1963). The concept of cumulative trauma.The Psychoanalytic Study of the child, p. 286-298.

KANCYPER, L. (1997). La confrontación generacional. Estudio psicoanalitico. Buenos Aires: Paidós.. Cap. III, pp.59-76.

KERNBERG, P. (1997). Reflexo no espelho e interação mãe-criança, In Tendências - org. Marisa P. Mélega. São Paulo: Unimarco, p. 67-73.

KLEIN, M. (1930). A importância da Formação de Símbolos no Desenvolvimento do Ego, In Amor, Culpa e Reparação. Rio de Janeiro: Imago.

KLEIN, M. (1930). Personificação no Brincar das Crianças, In Amor, Culpa e Reparação. Rio de Janeiro: Imago.

KLEIN, M (1935). Amor ,Culpa e Reparação. Rio de Janeiro: Imago.

KLEIN, M. (1953-55). A Técnica Psicanalítica Através do Brincar: sua História e Significado, In Inveja e Gratidão, Rio de Janeiro: Imago.

LACAN, J. (1949). O estádio do espelho como formador da função do eu, In Escritos. Rio de Janeiro: Zahar – 1998.

LEBOVICI, S. (1983). El lactante, su madre y el psicoanalista. Las interacciones precoces. Buenos Aires: Amorrortu editores.

LIBERMAN, D. et al. (1982). Del Cuerpo al Simbolo. Buenos Aires.

LIBERMAN, D.; de Podetti, R.F.B.; MIRAMENT, I. y WAASERMAN, M.. (1984). Semiótica y psicoanálisis de niños. Buenos Aires: Amorrortu editores

LISONDO, A.B.D. (1984). Quando a adoção leva a marca da esterilidade dos pais. Jornal de Psicanálise, Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Ano 17, n.3.

LISONDO, A.B.D. (1992). Drama e esperança na adoção: na transferência, a luz no impasse. Anais do XIX Congresso Latinoamericano de Psicoanálisis, Montevidéu.

71

71

LISONDO, A.B.D. (1992). A Reinterpretação da Tragédia de Édipo à luz da Adoção e dos Estados Primitivos do Desenvolvimento do Psiquismo Humano. Revista Brasileira de Psicanálise, SBPSP, 26 (4).

LISONDO, A.B.D. (1993) Drama and Hope in adoption: in transference, light on the dilemma. Psychoanalysis in Latina America. Edited by Moises Lemlij. FEPAL, IPA. Peru, Biblioteca Peruana de Psicoanalisis.

LISONDO, A.B.D. (1996). Psicanálise de crianças: um terreno minado? Revista Brasileira de Psicanálise. Vol.30, n.1.

LISONDO, A.B.D. (1996) Teorias Sexuais Infantis. Revista Brasileira de Psicanálise. Vol.30, n º4, p. 873-890pp.

LISONDO, A.B.D. (1997) Supervisão com David Maldavsky A moça que enlouqueceu quando soube da adoção. Revista Brasileira de Psicanálise. Vol XXXI (1)p. 215-228.

LISONDO, A.B.D. (2000). A observação de bebês: O compromisso da psicanálise quando os maus-tratos são psíquicos. Psicanálise em Revista. Orgão Oficial da sociedade Brasileira de Psicanálise do Recife. Recife, Vol I, n º 1, p.81-87

LISONDO, A.B.D. (2002) Sentido de um abrigo psíquico para a vida mental.. Trabalho apresentado no 2º seminário de Aids, criança e adolescente promovido pelo Centro Corsini de Campinas no dia 21 de novembro de 2002.

LISONDO, A.B.D. (2002). Na Simbiose Patológica, Uma Concha Autistica a para Dois, Na Psicanálise Nasce o Ser e a Linguagem. In A Atualidade da Psicanálise de Crianças – org. Grana e Piva. São Paulo: Casa do Psicólogo.

LISONDO, A.B.D. Um olhar psicanalitico sobre o filme “Tudo sobre minha mãe” de Pedro Almodóvar. IDE Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, n º 35. Junho de 2002. P. 124

LUTENBERG, J. M. (1999). La ilusión vaciada: Reflexiones acerca de las experiências reales y virtuales. Buenos Aires. Colección Infinito, Grupo Editorial Lassús.

LUZURIAGA, I. (1970). La inteligencia contra si misma: el niño que no aprende. Buenos Aires: Editorial Psique.

MALDAVSKY, D (1993). Metapsicologia das Neuroses. Revista de Psicanálise – SPPA, Buenos Aires vol. I Nº 1, Outubro de 1993.

McDOUGALL, J. (1982). Théatres du Je. Gallimard.

MCDOUGALL, J. (1987). Um corpo para dois. In Conferências Brasileiras. Rio de Janeiro: Xenon.

MCDOUGALL, J. (1990). Théatres du corps. Gallimard

MELTZER, D. & WILLIAMS, M. H. (1994). A apreensão do Belo - o papel do conflito estético na violência e na arte. Rio de Janeiro: Imago.

MELTZER, D. (1974) Las bases introyetivas de las tendencia polimorfas en la sexualidad adulta. In Los estados sexuales de la mente. Buenos Aires: Kargieman, Cap.IX p.111-124.

MELTZER, D. et al. (1984). Exploracion del autismo. Buenos Aires: Ed. Paidós.

72

72

MELTZER, D. Y WILLIANS, M.H. (1994). A apreensão do belo: o papel do conflito estético no desenvolvimento, na violência e na arte. Rio de Janeiro: Imago.

MIRAMENT, I. y WASERMAN, M. (1984). Semiótica y psicoanálisis de niños. Buenos Aires: Amorrortu editores.

NUNBERG, H. y FEDERN, E. comps. (1974). Las Reuniones de los Miérculos: Actas de la Sociedad Psicoanalítica de Viena, Buenos Aires: Nueva Visión, 2 cols. 1979-80.

PARADA FRANCH, N. J. P. (2001). O Suporte da Comunicação no Brincar da Criança In A Atualidade da Psicanálise de Crianças Org. Grana e Piva. São Paulo: Casa do Psicólogo.

PEREIRA, M. E. C. (1997). Pânico. Uma Contribuição à Psicopatologia dos Ataques de Pânico. São Paulo: Lemos Editorial.

PIONTELLI, A (1992). De feto a criança: um estudo observacional e psicanalitico. Rio de Janeiro: Imago

POLLOCK, G. (1967). Discusión en el Kris Study Group de Nueva York.

PROTTI, A.M.Q.G. (2001). O efeito Transformador do Pensar: Uma Experiência Emocional de Conhecimento. In Sociedade Brasileira de Psicanálise (trabalho não publicado).

QUINODOZ, D. (1996). An Adopted Analysand’s Transference of a ‘Hole-Object’ . J. Psycho-Analysis, 77 p. 323.

R F Psychanalise 46 (6): 1187.1209. 1982

RASCOVSKY, A. (1977). El psiquismo fetal. Buenos Aires: Ed. Paidós.

REZENDE, A. M. (1999). A questão da verdade na investigação psicanalítica. Campinas: Papirus.

ROSENFELD, D. (1992) The Psychotic. Aspects of the Personality. London: Karnac Books.

SAPIENZA, A. & JUNQUEIRA Filho, L.C. (1996). Eros, Tecelão de Mitos. Trabalho apresentado no Fórum sobre Sexualidade e Pensamento. SBPSP

SEGAL H. (1981). A obra de Hanna Segal. Rio de Janieor: Imago.

SEGAL, H. (1992). Introdução. In O complexo de Édipo hoje. Porto Alegre: Artes Médicas,.

SHAKESPEARE, W. (1995). Medida por medida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

SILVA, I. M. (1991). O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Questão da Municipalização. In Cadernos Populares, 2ª edição, n º 5.

SOIFER, R. (1981). El niño y la televisión. Buenos Aires: Kapelusz.

SOR, D. & GAZZANO, M.R.S., (1993). Fanatismo. Chile: Editorial Ananké, p.102.

TUSTIN, F. (1984). Estados Autísticos em Crianças. Rio de Janeiro: Imago.

TUSTIN, F.(1984). Nascimento Psicológico e Catástrofe Psicológica. In. Estados Autísticos em Crianças. Rio de Janeiro: Imago. Parte II, Cap. VII, p. 104-125.

TUSTIN, F.(1987). Barreras autistas en pacientes neuróticos. Buenos Aires: Amorrortu editores.

VARELLA, Drauzio. (1999). Estação Carandiru. São Paulo Companhia das Letras.

73

73

WINNICOTT, D. (1986). Autistic Barriers. In Neurotic Patientes. London: Karnak Books, p.82, 114, 116.

WINNICOTT, D. W. (1963). O medo do Colapso, In Explorações Psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas,p. 74-76.

WINNICOTT, D. W. (1972). Realidad y Juego . Psicoteca Mayor. Buenos Aires: Gedisa.

WINNICOTT, D.W. (1975). O Papel do Espelho da Mãe e da Família no Desenvolvimento Infantil, In “O Brincar e a Realidade”. Rio de janeiro: Imago.

WINNICOTT, D.W. (2002). Privação e Delinqüência. São Paulo:. Martins Fontes.

WINNICOTT, D.W. (1971). O Brincar e a Realidade.. Rio de Janeiro: Imago.

ZIMERMAN, D. E. (1991). O Espelho na Teoria e Prática Psicanalítica, Revista Brasileira de Psicanálise, 25 (1).

ZUSMAN, W. (1994). A opção sígnica e o processo simbólico. In Revista Brasileira de psicanálise