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O Sistema de inovação do setor de papel e celulose brasileiro: O caso da Aracruz Celulose e o Projeto GENOLYPTUS Sérgio Antonio Ribeiro Campos Dissertação de Mestrado em Economia (Teoria Econômica) Mestrado em Economia (Teoria Econômica) Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, Junho de 2010

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O Sistema de inovação do setor de papel e celulose brasileiro: O caso da Aracruz Celulose e o Projeto GENOLYPTUS

Sérgio Antonio Ribeiro Campos

Dissertação de Mestrado em Economia (Teoria Econômica)

Mestrado em Economia (Teoria Econômica)

Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, Junho de 2010

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O Sistema de inovação do setor de papel e celulose

brasileiro: O caso da Aracruz Celulose e o Projeto

GENOLYPTUS

Sérgio Antonio Ribeiro Campos

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia – Teoria Econômica. Orientador: Prof. Dr. Arlindo Villaschi Filho

Universidade Federal do Espírito Santo

Vitória, Junho de 2010

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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)

(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Campos, Sérgio Antonio Ribeiro, 1983- C198s Sistema de inovação do setor de celulose e papel brasileiro :

o caso da Aracruz Celulose e o projeto Genolyptus / Sérgio Antonio Ribeiro Campos. – 2010.

75 p. : il. Orientador: Arlindo Villaschi Filho. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito

Santo, Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas. 1. Aracruz Celulose. 2. Desenvolvimento organizacional. 3.

Inovações tecnológicas. 4. Florestas. 5. Tecnologia. 6. Celulose. 7. Papel. 8. Projeto Genolyptus. I. Villaschi Filho, Arlindo, 1947-. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas. III. Título.

CDU: 330

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O Sistema de inovação do setor de papel e celulose

brasileiro: O caso da Aracruz Celulose e o Projeto

GENOLYPTUS

Sérgio Antonio Ribeiro Campos

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia – Teoria Econômica.

Aprovada em 28/06/2010:

_____________________________________________

Prof. Dr. Arlindo Villaschi Filho - Orientador, UFES

__________________________________________

Profª. Drª. Miriam Magdala Pinto, UFES

__________________________________________

Prof. Dr. Odair Lopes Garcia, UFRN

Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, Junho de 2010

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AGRADECIMENTOS

A realização de qualquer objetivo nunca é alcançada sem o apoio de várias pessoas.

Terminado com sucesso o curso de Mestrado, não poderia deixar de dividir os louros desta

vitória com tão importantes atores.

Agradeço aos grandes amigos Lúcio e Luciane que serviram de inspiração e deram-me

a motivação necessária para começar esta jornada.

Aos meus pais e minha esposa, que se sacrificaram para que eu pudesse me afastar de

casa durante o período do curso.

A Luiz Carlos, Lúcia, Gustavo, Lilian, Leonardo e Heldo pela hospitalidade e

generosidade com a qual várias vezes me receberam.

Ao professor Dr. Arlindo Villaschi Filho, que com muita paciência me orientou e

auxiliou na elaboração de minha dissertação.

A todos os professores do Programa de Mestrado em Economia, por terem, nas

disciplinas, discussões, seminários e bate-papos, enriquecido os conhecimentos deste iniciante

pesquisador.

À Lucinéia, a sempre tão prestativa secretária do Mestrado.

Aos colegas de curso, pela ajuda sempre pronta e pelas horas de descontração tão

necessárias.

Aos membros da banca examinadora, pela participação e pelas contribuições.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES), pela bolsa de estudos,

sem a qual a realização deste curso não seria possível.

Ao Dr. Alexandre Missiaggia, pelas informações a respeito da Aracruz Celulose; à

própria Aracruz Celulose, pela liberação das informações; à Rosiléia Milagres, pelo pronto

envio de sua tese para consulta; ao Dr. Dário Grattapaglia, pelo material disponibilizado a

respeito do projeto GENOLYPTUS; aos professores Dr. Acelino Couto Alfenas e Dr.

Georgios Pappas, pelas informações complementares.

Por fim, agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente, fizeram parte desta

conquista e, por motivos de espaço, não estão especificados nesta lista.

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RESUMO

O presente trabalho dedica-se à avaliação de como um projeto de cooperação para a

produção de conhecimentos (o projeto Genolyptus) representa uma articulação entre os

elementos do sistema de inovação do setor de papel e celulose brasileiro. Buscou-se o

entendimento do projeto sob a perspectiva de um de seus participantes, a Aracruz Celulose,

analisando como a empresa se insere no sistema setorial e verificando o impacto gerado pela

inserção da empresa no SSI na evolução da Aracruz. Para isso, estabeleceu-se um

entendimento dos principais determinantes da inovação, segundo a tradição Freeman-Aalborg

da abordagem dos sistemas de inovação.

Tal tradição fundamenta-se em três pilares básicos: o conhecimento, os processos de

aprendizado e as interações entre os diversos atores dos SI. O foco principal de análise desta

tradição refere-se ao âmbito espacial, mais especificamente ao nível nacional, com interesse

no confronto de estratégias de política econômica e padrões econômicos. Porém, outros níveis

de análise derivam da referida tradição a exemplo do caso aqui analisado.

A abordagem dos SI utilizada neste trabalho é aquela que se dedica especificamente ao

nível setorial. Nessa, o interesse está em entender como tecnologias e produtos se

desenvolvem em setores específicos, quais são seus elementos básicos e qual a influência de

cada um dos elementos na evolução destas tecnologias e produtos.

Esta dissertação ressalta que a articulação dos elementos dos sistemas setoriais de

inovação, tanto no projeto Genolyptus quanto na evolução da Aracruz, tem grande impacto no

desenvolvimento de inovações. Ressalta-se, também, o importante papel desempenhado pelo

Estado e a importância da base de conhecimento acumulada, dos processos de aprendizado e

dos relacionamentos e interações entre diferentes atores do sistema no desenvolvimento de

inovações.

PALAVRAS-CHAVE : Sistemas setoriais de inovação, Aracruz Celulose, Projeto

Genolyptus.

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ABSTRACT

This thesis assesses as a project of cooperation for the production of knowledge (the

Genolyptus project) represents a linkage among the innovation system elements of the pulp

and paper sector in Brazil. It search understand the project from a member’s perspective (the

Aracruz Celulose) analyzing how the company operates in the sectoral system and measuring

the impact generated by its insertion in the SSI on its evolution. To do this it established an

understanding on the key determinants of innovation in the Freeman-Aalborg tradition of the

systems innovation approach.

This tradition is based on three basic pillars: knowledge, learning processes and

interactions between different actors of the SI. Its main focus of analysis refers to the spatial

ambit more specifically to national level with interest in the comparison of strategies for

economic policy and economic standards among several countries. However, other levels of

analysis derived from this tradition as in the case here examined.

The SI's approach here used is that dedicated specifically to the sectoral level whose

the interest is in understanding how technologies and products develops in specific sectors,

which are its basic elements and what influence of each factor in technologies and products

evolution.

This thesis highlight that articulation of SIS's elements had great impact on

innovations development in building of Genolyptus Project as well as in Aracruz Celulose

evolution. Moreover stresses the important role played by the State, the importance of

accumulated knowledge base, learning processes, relations and interactions among different

agents in the system to the innovations development.

KEYWORDS : Sectoral systems of innovation, Aracruz Celulose, Genolyptus project.

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LISTA DE SIGLAS

APL – Arranjo Produtivo Local

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

FDC – Fundação Dom Cabral

FGV – Fundação Getúlio Vargas

FUNARBE – Fundação Artur Bernardes

PIB – Produto Interno Bruto

PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

PNPC – Plano Nacional de Papel e Celulose

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PTE – Paradigma Técnico-Econômico

SI – Sistema de Inovação

SSI – Sistema Setorial de Inovação

TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação

UCB – Universidade Católica de Brasília

UFG – Universidade Federal de Goiás

UFLA – Universidade Federal de Lavras

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFV – Universidade Federal de Viçosa

VCP – Votorantim Celulose e Papel

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Organizações integrantes da Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de

Eucalipto ................................................................................................................................ 55

Figura 2. Organização administrativa do projeto ............................................................... 56

Figura 3. Principais interações da Aracruz no projeto Genolyptus .................................. 59

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Evolução da capacidade de produção da Aracruz Celulose (em mil toneladas)

................................................................................................................................................. 45

Gráfico 2 – Evolução da produtividade da Aracruz Celulose (tsa/ha/ano) – 1970’s -

2000’s ..................................................................................................................................... 48

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 10

1.1. Objetivo .......................................................................................................................... 10

1.2. Justificativa .................................................................................................................... 10

1.3. Metodologia .................................................................................................................... 12

1.4. Referencial Teórico ........................................................................................................ 13

1.5. Trabalhos Relacionados ................................................................................................ 15

1.5. Estrutura da Dissertação .............................................................................................. 17

2. FUNDAMENTOS DOS SISTEMAS SETORIAIS DE INOVAÇÃO ........................... 19

3. O SI DO SETOR DE CELULOSE E PAPEL BRASILEIRO : A experiência da Aracruz

Celulose e o Projeto GENOLYPTUS ..................................................................................... 37

3.1. O setor de papel e celulose brasileiro ............................................................................ 37

3.1.1. A instalação do setor...................................................................................................... 37

3.1.2. Características do setor .................................................................................................. 39

3.1.3. Principais atores do sistema de inovação do setor de papel e celulose ......................... 42

3.2. A Aracruz Celulose ......................................................................................................... 43

3.2.1. Evolução Cronológica ................................................................................................... 43

3.2.2. Características da empresa............................................................................................. 44

3.2.3. Conhecimento e aprendizado......................................................................................... 46

3.3. A Rede Genolyptus ......................................................................................................... 52

3.3.1. Objetivos ........................................................................................................................ 53

3.3.2. Criação da Rede ............................................................................................................. 54

3.3.3. Estrutura e organização ................................................................................................. 55

3.3.4. Resultados ...................................................................................................................... 60

4. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES .................................................................................... 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 69

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Objetivos

O objetivo do presente trabalho é a avaliação de como um projeto de cooperação para

a produção de conhecimentos (o projeto Genolyptus) representa uma articulação entre os

elementos do sistema de inovação do setor de papel e celulose brasileiro. Busca-se o

entendimento do projeto sob a perspectiva de um de seus participantes, a Aracruz Celulose,

analisar como a empresa se insere no sistema setorial e verificar o impacto gerado pela

inserção da empresa no SSI na evolução da Aracruz.

Para se ter uma visão clara do objetivo almejado, deve-se buscar o entendimento dos

sistemas setoriais de inovação. A intenção é a compreensão de como a abordagem dos

sistemas de inovação é entendida, seus principais atores, fundamentos e particularidades que

são encontradas quando o nível de análise refere-se ao setor.

Por último, identificam-se evidências empíricas que ilustram a articulação dos

elementos do sistema de inovação do setor de papel e celulose e a importância deles na

dinâmica das atividades de produção e inovação no setor, na evolução da Aracruz Celulose e

na participação dessa na Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalyptus – (Projeto

Genolyptus).

1.2. Justificativa

A mola que impulsiona esta dissertação é o entendimento de que a inovação é um

processo central nas relações econômicas, no desenvolvimento econômico e no alcance de

vantagens competitivas. Por tomar a inovação como central, este trabalho se insere em uma

tradição teórica schumpeteriana, a qual rompe com a visão da ortodoxia econômica e coloca a

inovação no centro da dinâmica econômica.

Opta-se, então, por uma aproximação à abordagem heterodoxa dos sistemas de

inovação pelo entendimento de que as interações entre os agentes econômicos,

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exclusivamente por meio do mecanismo de mercado, não oferecem adequado entendimento

das particularidades e dos tipos de interação envolvidos no processo de inovação.

O impulso inspirador dado por Schumpeter (1961) é o reconhecimento do capitalismo

como um processo evolutivo que “revoluciona incessantemente a estrutura econômica a partir

de dentro, destruindo incessantemente o antigo e criando elementos novos” (ibid, p.110), cujo

funcionamento é mantido pela constante inserção de novos bens de consumo, adoção de

novos métodos de produção e transporte, desenvolvimento de e entrada em novos mercados e

pelas novas formas de organização das indústrias.

Se a inovação é importante, como proposto por Schumpeter (1961), então, a

aceleração da inserção de inovações é elemento fundamental para que agentes econômicos

alcancem/ampliem vantagens competitivas ou consigam se recuperar de atrasos. Inovações

bem sucedidas possibilitam a obtenção de lucros maiores na medida em que o inovador insere

no mercado produtos, serviços e conhecimentos que melhor atendem às expectativas dos

consumidores.

Para que a inovação se apresente a taxas maiores, a articulação de vários setores da

sociedade deve ser propiciada, assim como um estreitamento dos relacionamentos entre

indivíduos e organizações. É neste contexto que se evidencia a importância da abordagem dos

sistemas de inovação. “Sistemas de inovação representam todos os importantes fatores

econômicos, sociais, políticos, organizacionais, institucionais e outros que influenciam o

desenvolvimento, difusão e uso de inovações” (EDQUIST, 2006, p. 182, minha tradução).

A abordagem dos SI é relevante porque representa um instrumental analítico que pode

subsidiar a adoção de medidas que estimulem a capacidade de inovação dos atores

econômicos, sociais e políticos antes de representar uma teoria formal. As referidas medidas

devem preparar um quadro institucional que permita e estimule a interação entre os agentes,

bem como incentive o desenvolvimento de capacidades por firmas e indivíduos para a

alavancagem das atividades de inovação.

Interação é o elemento central da abordagem dos sistemas de inovação. A suposição

central é que a inovação não surge por ação isolada de algum agente, "a inovação surge de um

processo cumulativo de aprendizado interativo e busca", sendo os relacionamentos os

processos pelos quais o conhecimento é produzido e difundido (LUNDVALL, 2005b, p.8).

Numa perspectiva setorial, a abordagem dos sistemas de inovação é relevante no

sentido do entendimento das relações entre os diversos atores – sociais, políticos, econômicos,

e institucionais – compondo o setor e o papel de cada um na evolução setorial. Auxilia,

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também, na análise dos principais determinantes da atividade de inovação e da dinâmica da

evolução tecnológica dentro do setor.

Seja no nível setorial ou qualquer outro nível de análise, a abordagem de sistemas de

inovação permite aos agentes econômicos uma melhor avaliação dos fatores que influenciam

o desenvolvimento econômico e fornece um quadro de análise mais amplo para a formulação

de estratégias de desenvolvimento.

1.3. Metodologia

A presente pesquisa foi feita, predominantemente, utilizando-se uma revisão

bibliográfica quanto aos temas propostos. Para complementar as informações, foram

levantados questionamentos junto à Aracruz Celulose e universidades que participaram do

projeto GENOLYPTUS. Importante destacar que todo o corpo de informações presentes no

texto foi coletado por meio da revisão, as entrevistas somente tiveram o papel de validadoras

das informações coletadas.

Buscou-se fundamentação teórica na literatura sobre sistemas de inovação em termos

mais gerais e sobre os sistemas setoriais de inovação em específico. Primeiramente,

estabeleceu-se um entendimento do que representam os sistemas de inovação e como têm sido

tratados em diferentes unidades de análise. Para isso, procedendo-se ao estudo da forma como

os sistemas nacionais, sub-nacionais e setoriais de inovação têm sido implementados e quais

seus principais elementos.

Tendo alcançado um quadro geral de análise, apontando as principais diferenças no

tratamento dos sistemas de inovação, partiu-se para um estudo sobre os aspectos específicos

da abordagem dos sistemas setoriais (principais elementos, processos, etc.).

Por último, conhecidos os elementos e processos centrais dos sistemas setoriais de

inovação, foi feita uma contextualização, apresentando-se as características da Aracruz

Celulose e do setor de papel e celulose no Brasil e, em seguida, uma descrição do caso da

participação da empresa no projeto de seqüenciamento do genoma do eucalipto (Rede

Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalyptus - Projeto Genolyptus) em cooperação com

diversas outras organizações públicas e privadas como meio de colher evidências empíricas

para esta dissertação.

As questões referentes ao Projeto GENOLYPTUS foram tratadas com base em

documentos específicos do projeto, em publicações da própria Aracruz Celulose, em trabalhos

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de outros autores sobre a empresa, sobre o projeto GENOLYPTUS e informações coletadas

em entrevista com o Dr. Alexandre Missiaggia1 e em contatos via correio eletrônico com

membros das universidades que interagiram com a Aracruz no projeto2. Buscou-se,

principalmente, identificar a estrutura da rede envolvida no Projeto Genolyptus, as principais

formas de interação e os resultados gerados pelo projeto.

1.4. Referencial Teórico

Para o estudo dos sistemas de inovação, de que trata o segundo capítulo, foram

consideradas as características de algumas das suas principais unidades de análise (nacional,

regional, local, setorial), seja no âmbito espacial\territorial ou referente a setores. Cabe

destacar que atenção especial foi dada aos sistemas setoriais, visto que estão na base para a

análise da evolução da Aracruz Celulose e de sua participação no Projeto Genolyptus.

A abordagem dos sistemas de inovação utilizada aqui é aquela da tradição Freeman-

Aalborg na qual os sistemas de inovação são entendidos como um conjunto de relações

sociais que envolvem a interação entre os diversos elementos econômicos, sociais, políticos,

etc. e a inovação é entendida como um processo altamente cumulativo envolvendo inovações

radicais e incrementais, além da difusão, absorção e uso de inovações (LUNDVALL, 2005).

Entre os principais expoentes da abordagem estão Chris Freeman, Bengt-Åke

Lundvall, Björn Johnson, Charles Edquist. Suas análises são caracterizadas pela concentração

em níveis espaciais de análise, como as regiões e os países. Por exemplo, a região é vista

como uma importante unidade de análise porque se beneficia dos fluxos da atividade

econômica e das ligações e sinergias existentes entre os atores econômicos (COOKE;

MEMEDOVIC, 2003). Região é um conceito intelectual definido sob critérios pré-

estabelecidos, tais como (i) um tamanho não determinado; (ii) homogeneidade de acordo com

critérios predefinidos; (iii) distinção das áreas vizinhas por tipos particulares de associação; e

(iv) algum tipo de coesão interna (ibid.).

Já as análises espaciais em nível nacional intentam verificar como distintos países se

diferenciam em termos de configuração institucional de auxílio à inovação e aprendizado

(LUNDVALL, 2005, p.8). A análise dos sistemas nacionais assume caráter estratégico para

1 Pesquisador da Aracruz Celulose. 2 Como dito anteriormente, as informações coletadas junto tanto a membros das universidades quanto da Aracruz serviram somente com forma de validação dos levantamentos bibliográficos realizados.

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cada país, já que suas primeiras preocupações diziam respeito ao confronto de estratégias de

política econômica, padrões econômicos e divergências nas taxas de crescimento verificadas

em diferentes países, como é o caso do avanço da economia americana na segunda metade do

século XIX e primeira metade no século XX (FREEMAN, 2002).

Franco Malerba, integrante da mesma tradição de análise, direciona suas pesquisas ao

nível setorial. O autor ressalta que análises setoriais têm a vantagem de fornecer um melhor

entendimento da estrutura, das fronteiras, dos agentes e suas interações, do aprendizado, da

inovação, dos processos de produção, da transformação dos setores e dos fatores na base das

diferenças de performance entre firmas e países em um setor (MALERBA, 1999).

Setores são entendidos de forma ampla, uma vez que não estão relacionados somente à

concentração ou ao grau de verticalização presente em determinada indústria. Como colocado

abaixo, setores reúnem outros atores além de firmas, atentam para bases de conhecimento e

para as fronteiras do setor e suas evoluções ao longo do tempo, para interações tanto via

mercado como não-mercado e para instituições governando as ações e interações entre os

agentes (MALERBA, 2001, p.6). Entre os principais elementos compondo os sistemas

setoriais estão:

(i) Atores: que podem ser indivíduos ou organizações;

(ii) Relacionamentos: ocorrendo através do mercado, constituindo assim uma relação

comercial, e/ou através de relações não mercado que se configuram como acordos de

cooperação/colaboração tanto formais quanto informais;

(iii) Conhecimento: características específicas reunidas pelo setor em termos de base de

conhecimento e tecnologias (MALERBA, 2001, p.6);

(iv) Instituições: regulando as atividades de, e os relacionamentos entre atores. Elas

incluem leis, normas, hábitos comuns, práticas estabelecidas, padrões, tradições, etc. que

moldam a forma como os agentes entendem, agem e se relacionam (BORRÁS, 2004, p.430);

(v) Aprendizado: acumulação de novas capacidades e conhecimentos e reciclagem

daqueles mais antigos;

(vi) Processos de Criação de Variedade e Seleção: O sistema setorial cria variedade à

medida que novidades vão sendo inseridas. Os processos de seleção reduzem a

heterogeneidade originada nos processos de criação de variedade com respeito a firmas,

produtos, tecnologias, instituições, conhecimentos, etc.

(vii) Evolução do sistema setorial de inovação: O sistema setorial evolui de forma não-

aleatória. A evolução se dá ao longo de trajetórias específicas de desenvolvimento de

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capacidades (MALERBA; NELSON, 2008, p.13). Trajetórias essas que caracterizam o ritmo e

a direção da mudança em uma dada tecnologia (PEREZ, 2009 p.3).

Setorial ou espacialmente, os sistemas de inovação fornecem uma excelente

ferramenta para o desenho de políticas e estratégias voltadas à inovação. Aqui, a análise

concentra-se sobre o nível setorial e está amplamente apoiada nos trabalhos de Franco

Malerba (2001, 2002, 2006a, 2006b).

Tendo o embasamento teórico a respeito dos sistemas setoriais de inovação sido

formado, partiu-se para a verificação de como a Aracruz Celulose se insere como um

elemento ativo no sistema de inovação do setor de celulose e papel brasileiro e como o projeto

Genolyptus representou uma forma de efetiva interação entre os elementos de tal sistema

setorial. O projeto consistiu na formação de uma rede de cooperação entre várias empresas –

nacionais e estrangeiras – universidades e institutos de pesquisa, destinada ao avanço nas

pesquisas referentes à biotecnologia genômica florestal relacionada ao eucalipto.

O objetivo central da rede foi o descobrimento, seqüenciamento, mapeamento e

determinação de função de genes de importância econômica e de espécies de Eucalyptus”,

para a posterior incorporação de tais tecnologias genéticas nos “programas de melhoramento e

produção florestal com ênfase no processo de formação da madeira” (anteprojeto da rede,

apud. MILAGRES; SILVEIRA, 2008a).

O projeto, analisado no capítulo três, tal como relatado nos documentos da própria

rede genolyptus e trabalhos de outros pesquisadores, fornece elementos para a verificação

empírica dos determinantes da evolução de conhecimentos e tecnologias dentro do setor de

celulose e papel, da incorporação de avanços científicos provocados pelo seqüenciamento do

genoma do eucalipto e da potencial geração de vantagens competitivas para as empresas

partícipes.

1.5. Trabalhos Relacionados

O tema de estudo aqui desenvolvido relaciona-se, principalmente, aos temas inovação

tecnológica, estratégia competitiva, desenvolvimento da Aracruz Celulose e formação do

projeto Genolyptus. Outros trabalhos têm discussões semelhantes, porém, não com o mesmo

objetivo. Por exemplo, Deborah Moraes Zouain e Edison de Oliveira Martins Filho (2003)

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desenvolvem um trabalho sobre competitividade, estratégia e inovação, por meio de um

estudo multicaso, buscando identificar a inserção da inovação tecnológica no interior da

estratégia competitiva das empresas em análise.

Outro exemplo é o trabalho de José Célio Silveira Andrade e Camila Carneiro Dias

(2001, grifo do autor), tomando o caso da consolidação do padrão eucalipto3 na Aracruz

Celulose. Os autores analisam as relações de influências recíprocas entre Estado e

empresas/agentes econômicos na construção de ambientes institucionais favoráveis ao

surgimento de novos paradigmas econômico-tecnológicos nas empresas argumentando que:

o processo de inovação tecnológica foi resultado histórico de interações das estratégias tecnológicas empresariais com o ambiente político-institucional, construído a partir de um duplo movimento de interação política das agências governamentais com a auto-organização de interesses privados (p.85).

Relacionado à Aracruz Celulose, o trabalho de Jaime Andrés Castro Frohard (2009)

analisa a trajetória de acumulação de capacidades inovadoras em gestão de projetos

complexos, os mecanismos de aprendizagem e fatores que influenciam tais mecanismos

tomando como base de análise os casos da Aracruz Celulose S.A. e da Metso Paper

Sulamericana (líder global em fornecimento de máquinas e equipamentos para fabricação de

celulose, papel, tissue e cartão).

Tratando do caso do Projeto Genolyptus, Rosiléia Milagres (2008) em sua tese de

doutorado analisa a formação da rede unindo empresas do setor de papel e celulose,

universidades e um instituto de pesquisa governamental. Enquanto o trabalho aqui

desenvolvido tem seu foco sobre a evolução e participação da Aracruz Celulose, Milagres

(ibid.) tem interesse na formação da rede – enquanto conjunto de interações e trocas de

conhecimentos e informações efetuadas pelas organizações e como lócus de relacionamentos

formais e/ou informais através das quais tais interações e trocas acontecem –, pelas relações

cooperativas que se incluem nas redes formadas por empresas, universidades e outras

organizações e por questão sobre quais são as características e papéis das rotinas que lidam

com o conhecimento e a organização das redes.

Outro trabalho pertinente aos temas aqui tratados foi conduzido por Anastácia R. D.

Rodrigues (2005)4 tratando de questões ligadas a gestão da tecnologia e do conhecimento

3 Utilização do eucalipto como matéria-prima para a fabricação de celulose de fibra cura. 4 Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia e Gestão de Tecnologia - Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior Técnico.

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buscando evidências num projeto específico da Aracruz Celulose. A autora, sob a co-

orientação da Doutora Miriam de Magdala Pinto e do Doutor Arlindo Villaschi Filho,

desenvolve um estudo das principais fontes, internas e externas, de conhecimento no projeto

MIPIS (Biodegradable Micro Bait-Trap) e de como este conhecimento contribuiu para o

crescimento da companhia. O projeto consistiu na produção de uma armadilha para capturar a

formiga cortadeira nas florestas da empresa, basicamente composta por dois componentes: a

armadilha (o produto) e o sistema de monitoramento, processo que permite uma eficiente

utilização desta armadilha no campo. Em adição, a autora verifica se a empresa formal e

conscientemente adotou algum modelo de gestão do conhecimento.

Apesar da grande semelhança com os dois últimos trabalhos, esta dissertação não

dedica maior atenção ao modelo de gestão de conhecimento adotado pela Aracruz, ao

funcionamento das redes e ao papel das rotinas no compartilhamento de conhecimento dentro

dessas. Dentre outras questões, ressalta a inserção da inovação tecnológica na estratégia da

Aracruz, a importância das interações com o Estado no desenvolvimento de inovações e o

papel da organização das atividades em forma de projetos cooperativos na acumulação de

capacidades e conhecimento. Como dito, o objetivo foi identificar, tanto na participação da

Aracruz, quanto na organização do projeto Genolyptus elementos determinantes da evolução

de tecnologias e conhecimentos dentro do sistema de inovação do setor de papel e celulose e

na empresa. Assim, buscou-se no projeto, evidências dos importantes elementos do SSI do

setor de celulose e papel gerando impactos sobre a acumulação e a evolução da base de

conhecimento das organizações participantes e sobre seus potenciais ganhos de

competitividade.

1.6. Estrutura da Dissertação

O segundo capítulo, após esta introdução, está direcionado à montagem de um painel

geral de análise dos sistemas de inovação, avaliando as principais abordagens presentes na

literatura pertinente. O capítulo dedica-se ao estudo de um nível específico de análise dos

sistemas de inovação. Foram avaliados os agentes, os processos e demais fatores

determinantes da atividade de inovação dentro dos setores para o alcance de um melhor

entendimento do funcionamento dos sistemas setoriais de inovação.

O capítulo três desenvolve um relato da trajetória de desenvolvimento percorrida pela

Aracruz Celulose e das principais características do esforço conjunto para a produção de

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conhecimento no projeto GENOLYPTUS. Para isso, descreve as principais características do

setor de papel e celulose no Brasil, a estrutura atual e o histórico de atuação da Aracruz

Celulose no setor e evidencia-se o papel dos relacionamentos cooperativos nos sistemas

setoriais por meio da descrição dos elementos principais, da organização e dos resultados do

projeto GENOLYPTUS.

Por último, foram expostas algumas considerações conclusivas. Identificou-se, dentre

outras questões, a importância da inserção da inovação tecnológica na estratégia da Aracruz,

das interações com o Estado no desenvolvimento de inovações e o papel da organização das

atividades em forma de projetos cooperativos na acumulação de capacidades e conhecimentos

no projeto GENOLYPTUS.

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2. FUNDAMENTOS DOS SISTEMAS SETORIAIS DE INOVAÇÃO

O objetivo deste capítulo é fazer uma aproximação ao tema dos sistemas setoriais de

inovação. Por meio de uma revisão de literatura, pretendeu-se identificar os principais

elementos dos SI, a forma como se articulam e apresentar suas particularidades quando

tratando da inovação nos setores. Para tanto se dedica, primeiramente, ao estabelecimento do

conceito de inovação e a verificação de como a inserção de inovações tem sido explicada por

diferentes abordagens dos sistemas de inovação. Posteriormente, direciona-se à compreensão

dos sistemas de inovação numa abordagem setorial.

Assim, olha-se para a inovação sob a perspectiva dos sistemas de inovação. E quando

se trata de sistemas de inovação, o interesse principal é a inserção de inovações. Essas,

segundo Villaschi e Campos, (2002, p.18): (i) são vistas como um processo social que resulta

em modificações graduais e cumulativas, em rupturas radicais com produtos, processos e

formas de organização vigentes, ou em combinações destas; (ii) têm, intrinsecamente, um

caráter incerto. Ao inovar, o agente econômico não tem a exata ciência de seus custos e

resultados, tampouco possíveis alternativas a elas e os resultados e custos destas últimas

(DOSI, 1988); (iii) há uma diversidade de fontes de inovação. Ao mesmo tempo em que

derivam de avanços científicos e tecnológicos, são geradas também por elementos de

conteúdo tácito.

Desta forma, vê-se que inovações são o resultado incerto da combinação de vários

fatores econômicos, sociais, tecnológicos científicos, etc., e da articulação de agentes diversos

(firmas, organizações não-firma, institutos de pesquisa, universidades, indivíduos). Nas

palavras de Edquist (2001, p.2-3), as inovações são baseadas em aprendizado que é interativo

entre organizações no sistema de inovação, sendo os SI compostos por todos os importantes

fatores econômicos, sociais, políticos, organizacionais, e outros fatores que influenciam o

desenvolvimento, a difusão e o uso de inovações.

De acordo com a taxonomia desenvolvida por Freeman e Perez (1988) as inovações

podem ser categorizadas como radicais, incrementais, alterações nos sistemas tecnológicos e

alterações no paradigma técnico-econômico5.

5 Segundo Villaschi e Campos (2002, p.19), (a) inovações incrementais são aquelas cujo impacto econômico se resume à expansão da demanda existente e ao aumento do valor agregado. Contribuem para a utilização mais

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Enquanto os sistemas tecnológicos representam caminhos pelos quais as inovações

podem surgir, ou seja, caracterizam os limites e as possibilidades de inserção de inovações, as

mudanças paradigmáticas, como a emergência do paradigma das TIC’s, representam um tipo

de inovação que combina mudanças em um conjunto de sistemas tecnológicos afetando a

economia como um todo e para cuja difusão são necessárias também mudanças institucionais.

Este tipo de inovação envolve tanto profundas alterações sociais e políticas, quanto a

substituição da principal força motriz do crescimento econômico em escala mundial (loc.cit.).

Mudanças do paradigma técnico-econômico (PTE) fornecem espaço ao aparecimento

de várias trajetórias tecnológicas e configurações institucionais e consigo trazem um grande

número de produtos e novas formas de se fazer coisas antigas (VILLASCHI FILHO, 2004

p.68).

Segundo Carlota Perez (2009, p.12):

um paradigma técnico-econômico é o resultado de complexos processos coletivos de aprendizado articulados em um modelo mental dinâmico de melhores práticas econômicas e organizacionais. Cada PTE combina percepções compartilhadas, práticas compartilhadas e direções compartilhadas de mudanças. Um paradigma é então uma lógica coletivamente compartilhada na convergência de potencial tecnológico, custos relativos, aceitação de mercado, coerência funcional e outros fatores. Deste modo a noção de trajetória ou paradigma ressalta a importância das inovações incrementais no caminho de crescimento seguindo cada inovação radical.

Desta forma, cada paradigma técnico-econômico, além de fornecer oportunidades de

inovação, guia o caminho que seguirão as inserções de inovações. Isso porque representa um

senso comum a respeito de melhores práticas e decisões de empresários, inovadores,

engenheiros, gestores e inventores (PEREZ, 2001, p.16).

No caso do paradigma das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s), sua

emergência permitiu a redução drástica de custos de armazenagem, processamento,

comunicação e disseminação de informação e tem exigido amplas reformas nas formas de

organização da produção, distribuição e consumo de bens e serviços (CASSIOLATO;

LASTRES, 2003, p.3).

eficiente dos fatores de produção, mas geralmente não refletem qualquer esforço deliberado de P&D. (b) inovações radicais compreendem novas linhas de produção e modificação da demanda existente. Caracterizam-se por mudanças substanciais na estrutura industrial e pela criação de novos tipos de demanda. (c) mudanças no sistema tecnológico referem-se às profundas alterações na demanda e à criação de novos seguimentos industriais. Vão além da combinação de inovações incrementais e radicais, pois incorporam também inovações organizacionais e gerenciais.

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Maior capacidade de processamento de informações significa acesso a maiores e mais

diversas fontes de conhecimento e compartilhamento de volumes muito mais amplos de

conhecimentos e informações. Isso amplia as possibilidades de produção de conhecimento e

de aprendizado enfrentadas pelos agentes econômicos, sociais, políticos, etc. Os menores

custos e a facilidade de transmissão permitem a interação de pessoas e organizações

localizadas em diferentes regiões do globo e a formação de grupos de trabalho organizados

sem a necessária presença física de seus membros, que implica na reformulação de antigas

formas de se fazer as coisas e que novas formas de organização das atividades de produção

sejam propostas para acompanhar a velocidade com que os conhecimentos circulam e

evoluem. Assim, no paradigma das TIC’s, ganham destaque os arranjos cooperativos (sem

que isso signifique a ausência de rivalidades comerciais entre compradores-vendedores-

competidores) de grandes, médias e pequenas empresas baseados em redes de computadores

(VILLASCHI FILHO, 2004, p.72).

São essas exigências impostas pelo paradigma das TIC’s e o significativo aumento de

capacidade de processamento de informações proporcionado pelas inovações características

deste paradigma que estão na base da formação da Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de

Eucalyptus – o Projeto GENOLYPTUS – que será analisada no capítulo três.

Neste contexto, vê-se aumentada a importância da articulação de agentes econômicos,

sociais, políticos, etc. em sistemas direcionados à geração de inovações. Para o entendimento

dos determinantes da inovação e a articulação dos diferentes fatores e agentes no setor de

papel e celulose brasileiro, que serão analisados no capítulo seguinte, utiliza-se a abordagem

dos sistemas de inovação segundo a tradição Freeman-Aalborg6, uma vez que essa contempla

os aspectos sociais envolvidos nos processos de inovação e aprendizado.

Entre seus principais autores estão Chris Freeman (1998; 2002) e acadêmicos da

universidade de Aalborg como Bengt-Åke Lundvall e Björn Johnson (LUNDVALL;

JOHNSON; EDQUIST, 2003). Nesta tradição, considera-se que inovações são processos

cumulativos e que envolvem não somente inovações radicais, mas inovações incrementais e

sua difusão, absorção e uso. Além disso, as inovações são vistas como originando não

6 A versão Freeman-Aalborg da abordagem de sistemas de inovação não é a única. Richard Nelson (2007) desenvolve uma abordagem alternativa que restringe as instituições que influenciam a inovação a universidades, instituições financeiras, institutos de pesquisa, etc. atuando no suporte ao desenvolvimento, difusão e uso de conhecimentos e inovações. Há ainda o modelo de inovação “Triple Helix” propondo que o surgimento de inovações se dá através de múltiplos e recíprocos relacionamentos entre três esferas – universidade, governo e indústria – onde cada uma das esferas sobrepõe, colabora e coopera com as outras (ETZKOWITZ, 2002). O que não parece ser abordado pelo modelo são as relações interativas envolvidas nos processos inovativos.

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somente de ciência e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), mas também de processos

interativos nas atividades cotidianas (LUNDVALL, 2005a). Supõe-se que os sistemas de

inovação se diferenciam no que se refere à especialização, produção e comércio (Archibugi;

Pianta, 1992) e que as mudanças nas estruturas de conhecimento e de produção envolverão

tanto aprendizado quanto mudança estrutural (LUNDVALL, 2005b.). Outra suposição é que

elementos do conhecimento, que são importantes para a performance econômica,

permanecem localizados e são difíceis de transportar. Segundo Dosi (1999), eles estão

embutidos nas mentes dos agentes, nas rotinas das empresas e nos relacionamentos entre

pessoas e organizações.

Em resumo, o que fundamenta a abordagem dos sistemas de inovação, segundo a

tradição Freeman-Aalborg, é o apoio sobre três pilares, a saber, conhecimento, aprendizado e

interações/relacionamentos. Conhecimentos que podem ser tácitos ou codificados,

relacionamentos/interações que podem se dar por intermédio do mercado e/ou por meios

outros que não o mercado e aprendizados que, como se verá abaixo, podem ser alcançados por

fazer, utilizar ou interagir.

O conhecimento pode ser amplamente tácito ou expresso de forma codificada. Para o

entendimento do fator tácito do conhecimento, é preciso que se faça uma distinção entre o que

é conhecimento tácito e o que é conhecimento codificado. Codificação de conhecimento

implica que o conhecimento possa ser transformado em “informação”, que pode ser

facilmente transmitida (FORAY; LUNDVALL, 1998, p.117). Esse é um processo de redução

e conversão, que torna fácil a transmissão, verificação, armazenagem e reprodução de

conhecimento (ibid.). Conforme citado por Foray e Lundvall (loc.cit.), David (1993) afirma

que conhecimento codificado é tipicamente expresso em uma forma compacta e padronizada

que facilita e reduz os custos de tais operações.

De forma oposta, tácitos são aqueles conhecimentos que não podem ser facilmente

transferidos porque não são expressos de forma explícita (FORAY, LUNDVALL; 1998,

p.118). Segundo Polany (1958, p.212), como citado pelos autores (ibid.), conhecimento tácito

tem a ver com implícitas, mas compartilhadas crenças e modos de interpretação que fazem a

comunicação inteligente possível.

O segundo pilar da tradição é o aprendizado. Esse se relaciona à capacidade dos

agentes de aprender novas formas de se fazer as coisas e adquirir novas competências.

Aprendizado caracteriza-se por ser um processo interativo e dependente da habilidade de se

combinar e recombinar diferentes partes do conhecimento em algo novo (GREGERSEN;

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JOHNSON, 1996, p.480). Aprendizado contínuo permite a reciclagem ou mesmo a

substituição de velhos conhecimentos por aqueles potencialmente mais produtivos.

De acordo com Lundvall (2006, p.11), quanto ao aprendizado, importantes

contribuições foram dadas por abordagens como a de Arrow (1962) sobre o learning by

doing, mostrando que a eficiência de firmas produzindo estruturas de aeronaves cresceu com

o número de unidades produzidas, o que reflete um aprendizado baseado na experiência.

Outra contribuição, ainda de acordo com Lundavall (2006), foi a Rosenberg (1982)

introduzindo o learning by using para explicar a ampliação da eficiência no uso de sistemas

complexos com o passar do tempo. E Lundvall (1988, apud. 2006) insere o conceito de

learning by interacting para ressaltar os aumentos de competências gerados pela interação

entre usuários e produtores na inovação.

Tais contribuições fornecem uma taxonomia dos tipos de aprendizado. Learning by

doing relaciona-se com o aprendizado alcançado nas atividades produtivas cotidianas,

learning by using refere-se ao uso contínuo de determinados produtos, máquinas,

equipamentos e o aumento do domínio que se tem sobre eles, e learning by interacting tem a

ver com o aprendizado conjunto resultante do convívio social e da troca de informações e

conhecimentos.

Por último, os sistemas de inovação, como tratados na tradição Freeman-Aalborg, têm

o foco voltado para relacionamentos – entendidos como condutores de conhecimento – e

interações – que são vistas como processos onde novo conhecimento é produzido e aprendido

(LUNDVALL; JOHNSON; EDQUIST, 2003, p.5).

Em resumo, conhecimento, aprendizado e interações constituem-se nos elementos

centrais da abordagem dos sistemas de inovação7. Conhecimentos que podem ser tácitos ou

codificados, e aprendizado que, como vimos acima, pode ocorrer de diversos modos (learning

by doing; learning by using, learning by interacting).

Em adição, há ainda importantes contribuições de Charles Edquist (2001) que dizem

respeito ao que se quer dizer quando da utilização do termo sistema e ao importante papel que

cabe ao Estado no estímulo às atividades de desenvolvimento, difusão e uso de inovações.

No primeiro caso, o autor (ibid., p.4) tece críticas à abordagem dos sistemas de

inovação pela utilização intuitiva do termo sistema e pela falta de explicações mais rigorosas

das relações entre as variáveis do sistema. Além disso, apresenta uma resposta comum à

7 Segundo a abordagem Freeman-Aalborg

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linguagem cotidiana e ao contexto científico à questão “o que é um sistema”? Para Edquist

(loc.cit., minha tradução),

• Um sistema consiste em dois tipos de entidades: há primeiramente alguns tipos de componentes e há relações entre esses.

• Haveria razões porque certa ordem de componentes e relações tenha sido escolhida para constituir o sistema, elas formam um todo.

• Deve ser possível discriminar o sistema em relação ao resto do mundo; por exemplo, deve ser possível identificar as fronteiras do sistema. Porém, somente em casos excepcionais o sistema é fechado no sentido de não ter nada a ver com o resto do mundo.

No segundo, considera-se o Estado um importante determinante do processo de

inovação e que seu papel não pode ser negligenciado pela abordagem (Edquist, 2001, p. 17).

O Estado tem papel chave nos sistemas de inovação, uma vez que é o principal agente de

gestão institucional. Ao criar leis, políticas, planos, etc. o Estado exerce sua função de

controle do comportamento dos agentes e dá incentivos para, ou impede o desenvolvimento

de atividades específicas. Nesta linha de raciocínio, encontra-se no Estado a instância de

planejamento e controle da trajetória econômica de cada país. Assim, sua função é alinhar as

operações dos sistemas de inovação com os objetivos propostos nas políticas públicas.

Com a inserção do Estado, chega-se a um apanhado dos principais elementos da

abordagem dos sistemas de inovação segundo a tradição Freeman-Aalborg. Tem-se no

conhecimento, nos processos de aprendizado e nos relacionamentos os pilares da abordagem,

e que estes elementos integram uma estrutura sistêmica – um todo onde há componentes,

relações, limites/fronteiras – onde a ação do Estado é um importante determinante das

atividades de inovação.

Este quadro conceitual da abordagem representa uma ferramenta de análise que tem

sido aplicada ao estudo de diferentes níveis analíticos. Tais níveis de análise referem-se ou ao

nível espacial, ou ao de tecnologias ou setores. Originalmente, a tradição Freeman-Aalborg

direcionou seu olhar para questões de cunho espacial. Seus principais autores dedicam-se

principalmente à investigação de questões pautadas pelo nível nacional de agregação dos

sistemas de inovação. O foco sobre o nível nacional derivou do interesse na comparação da

performance de desenvolvimento econômico de diferentes países. Segundo Lundvall (2007,

p.11), “a intenção original foi o confronto de estratégias nacionais de política econômica e

padrões econômicos – focados sobre o nível nacional”.

Porém, outros autores se dedicam a outros níveis de análise e abordam os sistemas de

inovação de acordos com algumas especificidades. No nível regional, autores como Cooke,

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Roper e Wylie (2002, p.9) supõem que muitas das firmas que inovam, se não todas, operam

em redes regionais compostas por firmas, organizações de pesquisa e tecnologia, agências de

apoio à inovação, investidores e governos locais e regionais. A abordagem desenvolvida pelos

autores (loc.cit.) destaca a importância de se estudar os sistemas de inovação no âmbito das

regiões como forma de conhecer o impacto que as interações de firmas e instituições regionais

têm sobre a facilitação ou impedimento dos processos de inovação e aprendizado social. Eles

resumem o sistema regional de inovação como uma associação complexa entre fontes de

capital, indústrias, universidades e agências governamentais essenciais para transformar

conhecimento em vantagem econômica competitiva (COOKE; ROPER; Wylie, 2002, p.9).

Outra abordagem em que se aproveitam os conceitos dos sistemas de inovação é a dos

APL’s, desenvolvida no Brasil. Autores como Villaschi e Campos (2002) e Cassiolato e

Lastres, (2003) estão interessados na investigação da inovação como derivando da interação

de atores econômicos, sociais e políticos em espaços localizados. O interesse é a investigação

de (i) relações entre empresas e outros atores; (ii) fluxos de conhecimento, principalmente

aqueles de conteúdo tácito; (iii) processos de aprendizado; (iv) proximidade geográfica; (v)

identidade histórica, institucional, social e cultural; como fontes de diversidade e vantagem

competitiva (CASSIOLATO; LASTRES, 2003, p.5).

Diferentemente dos autores ligados às abordagens espaciais referidas acima, este

trabalho acompanha os estudos dos sistemas de inovação aplicados ao nível setorial. O

objetivo é obter bases conceituais para a análise do sistema de inovação do setor de papel e

celulose brasileiro, assunto que será tratado no capítulo seguinte. O presente estudo apóia-se

fundamentalmente nos trabalhos de Malerba (1999, 2001, 2002, 2006a, 2006b), Malerba e

Montobbio (2000) e Malerba e Nelson (2008) e incorpora importantes contribuições de

Carlota Perez (2001, 2008, 2009) ainda que a autora não especificamente tenha seu foco

voltado às questões setoriais.

Nesta perspectiva de análise, a discussão direciona-se a questões relacionadas a

produtos, tecnologias, demanda, produção e venda em setores específicos. O interesse está em

entender como tecnologias e produtos se desenvolvem em setores específicos, quais são seus

elementos básicos e qual a influência de cada um dos elementos na evolução de tecnologias e

produtos. De forma semelhante, o interesse aqui é pelo entendimento dos elementos básicos

do sistema de inovação do setor de celulose e papel brasileiro, de como esses estão articulados

e do papel que desempenham na evolução de produtos e tecnologias dentro do setor.

Porém, antes de uma avaliação do setor específico de celulose e papel, é preciso

entender como os setores funcionam, segundo a abordagem dos sistemas setoriais de

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inovação, e quais as particularidades que os diferenciam dos sistemas de inovação tratados

pela tradição Freeman-Aalborg.

O primeiro passo é a colocação de um conceito adicional. Expressos acima estão os

entendimentos presentes na tradição Freeman-Aalborg dos significados de inovação e de

sistemas. Para direcionar a análise para o nível setorial, precisa-se definir o significado de

setor. De acordo com Franco Malerba (2001, p.6), setores não estão somente relacionados ao

grau de verticalização ou concentração de firmas. Entende-se que setores reúnem outros

atores em adição às firmas, têm base de conhecimento e fronteiras determinadas, apresentam

modos particulares de interação entre os agentes e são governados por um ambiente

institucional específico.

A partir daí, define-se um sistema setorial de inovação, segundo Franco Malerba

(2002, p. 250), como referindo-se a produtos novos e estabelecidos direcionados a usos

específicos e um conjunto de agentes interagindo através do mercado ou de outras formas de

relacionamento para a criação, produção e venda destes produtos. Sua análise baseia-se na

natureza, na estrutura, na organização e na dinâmica da inovação e da produção dentro de

cada setor (MALERBA, 2006a, p.7) e entre seus principais elementos estão:

(i) Atores

Atores podem ser indivíduos ou organizações. Por organizações entende-se firmas e

demais organizações não-firma, tais como universidades, centros de pesquisa, instituições

financeiras, governo, assim como subunidades de tais organizações. E indivíduos podem ser

consumidores, cientistas, empresários, etc.

Entre os atores, papel central é dado às firmas. Elas são os principais agentes

conduzindo processos de aprendizado e produzindo inovação com base em suas competências

e sua base de conhecimentos adquiridos e acumulados ao longo do tempo.

Às organizações não-firma cabe a função de suporte à inovação, de acumulação de

competências e de evolução das bases de conhecimento. Dois fatores básicos caracterizam a

importância das universidades e centros de pesquisa públicos: primeiro, universidades e

instituições de ensino superior fornecem avançados treinamentos científico, tecnológico e

gerencial ao capital humano. Segundo, eles conduzem pesquisas em áreas científicas e

tecnológicas que são extremamente relevantes para as firmas (MAZZOLENI; NELSON,

2006, apud. MALERBA; NELSON, 2008, p.18).

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O setor público desempenha um papel chave no processo de inovação. Políticas e

programas governamentais direcionados ao desenvolvimento de inovações estimulam a

atividade dentro de determinados setores e conseqüentemente a produção de inovações.

Quanto às organizações financeiras, cabe a elas a importante função de canalização

dos recursos financeiros e a assunção dos riscos inerentes às atividades de inovação.

(ii) Relacionamentos

Na atividade econômica, o relacionamento entre os agentes é essencial para que as

trocas (de informações, tecnologias, conhecimentos) possam ocorrer. Em termos gerais, as

interações se dão através do mercado, constituindo assim uma relação comercial, e/ou através

de relações não mercado que se configuram como acordos de cooperação/colaboração tanto

formais quanto informais.

Na perspectiva dos sistemas setoriais de inovação, como tratado por Malerba (2001,

p.6), inovação e produção envolvem interações entre diversos atores para

geração/compartilhamento/troca de conhecimentos importantes para a inovação e sua

comercialização.

Para o autor (ibid., minha tradução),

Interações incluem relações dos tipos de mercado ou não-mercado que são mais amplas do que mercados para conhecimento e licenciamento tecnológico, alianças inter firmas e redes formais de firmas [...].

Sob a ótica do sistema setorial de inovação, as interações não-mercado assumem

caráter mais estratégico na medida em que possibilitam o compartilhamento de

competências/conhecimentos entre os agentes envolvidos e, como tratado pela tradição

Freeman-Aalborg acima, permitem a produção e aprendizado de novo conhecimento.

Não se quer afirmar que as interações via mercado não sejam importantes. Através do

mercado, consumidores, fornecedores e clientes traçam um caminho de evolução das

inovações dentro de determinado setor. As demandas dos clientes tendem a direcionar os

desenvolvimentos de inovação entre os produtores. Da mesma forma, inovações ocorridas

entre os fornecedores de insumos podem modificar amplamente a direção e as possibilidades

de inovação. Porém, as interações através do mercado não capturam as características sociais

da inovação descritas por Villaschi e Campos, anteriormente citados, tampouco permitem o

compartilhamento de elementos tácitos do conhecimento.

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As várias formas de colaboração/interação entre os atores do sistema setorial permitem

o compartilhamento de experiências, recursos e competências que permitem uma redução das

incertezas inerentes ao processo de inovação. A incerteza do ambiente faz das colaborações

tecnológicas, de empresa para empresa ou em redes, elementos importantes, não porque os

agentes são similares, mas porque são diferentes, o que possibilita a integração de

complementaridades em termos de conhecimento, capacidades e especialização (MALERBA;

MONTOBBIO, 2000, p.4-5).

Colaboração tecnológica refere-se à hipótese de que acordos cooperativos entre os

agentes econômicos têm papel fundamental na especialização e no desenvolvimento

tecnológico em determinado nível de análise (nacional, regional/local, setorial). Isso, porque a

colaboração tecnológica aumenta a difusão de conhecimento, fornece maior acesso a

complementaridades e reduz as incertezas que as firmas enfrentam em suas atividades de

inovação (MALERBA; MONTOBBIO, 2000, p.7).

Em alguns sistemas setoriais, como semicondutores e softwares, redes com integração

vertical com fornecedores proveram novos insumos, conhecimento complementar,

informação, e conduziram ao aprendizado e ao desenvolvimento de capacidades pelas firmas

domésticas (RASIAH et al., NIOSI et al.) conforme citado por Malerba e Nelson (2008, p.18).

Em outros sistemas, como telecomunicações e automóveis, o catching-up8 tem sido

caracterizado por acordos colaborativos para a produção, e pesquisa e desenvolvimento (ibid.,

p.18).

(iii) Conhecimento

Cada setor específico reúne características próprias em termos de base de

conhecimento e tecnologias (MALERBA, 2001, p.6). Conhecimento tem características que

estão estreitamente relacionadas às particularidades de cada firma e não podem ser difundidas

e utilizadas livremente por outras firmas e/ou indivíduos.

De acordo com Malerba e Nelson (2008, p.8), diferentes setores são caracterizados por

diferentes bases de conhecimento e fontes de oportunidades tecnológicas. As características e

8 Há significantes diferenças entre os setores econômicos em algumas das variáveis chave envolvidas nos processos de catching-up (MALERBA; NELSON, 2008, p.6). Os sistemas setoriais se diferenciam, entre outras coisas, em termos de especialização, performance e em seus elementos básicos. Em suas análises Malerba (2006a; Malerba e Nelson, 2008) busca também o entendimento das diferenças dos caminhos seguidos por diferentes setores para a recuperação de atraso (catching-up) ou de avanço rápido (forging ahead).

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fontes de conhecimento, em um sistema setorial, afetam os processos de aprendizado e as

capacidades relevantes das firmas, a taxa e a direção da mudança tecnológica, a organização

das atividades de produção e inovação e os fatores na base do sucesso das firmas no setor

(MALERBA; NELSON, 2008, p.8).

Assim sendo, a base de conhecimento de cada setor, ao mesmo tempo em que apresenta

particularidades de cada firma, é abastecida por fontes externas de conhecimento. Em outros

termos, os conhecimentos podem ser desenvolvidos no interior das firmas ou podem ser

incorporados através de fontes externas. Tanto para o desenvolvimento interno quanto para a

incorporação de conhecimento externo, capacidades internas à firma devem ser desenvolvidas.

Tais capacidades estão relacionadas com a incorporação, por parte das firmas, dos conhecimentos

referentes a tecnologias específicas, além da adaptação e melhoria dessas tecnologias.

O desenvolvimento de, ou acesso a, conhecimentos e tecnologias levam em

consideração dois importantes fatores: primeiro deles são os diferentes graus de

acessibilidade9. À medida que se tem acesso a um maior volume de conhecimento ou onde as

condições de acesso a tal conhecimento são mais fáceis, podem-se esperar mais intensos

processos de aprendizado, produção de conhecimento e inovação (MALERBA, 2001, p.9).

O segundo versa sobre a cumulatividade do conhecimento. De acordo com Franco

Malerba (loc.cit.), conhecimento pode ser mais ou menos cumulativo, ou seja, o

desenvolvimento de conhecimento pode estar mais ou menos relacionado ou tirando proveito

de base corrente de conhecimento. O autor (loc.cit.) identifica diferentes fontes de

cumulatividade. A primeira relaciona-se com as capacidades organizacionais que sofrem

melhorias somente graduais ao longo do tempo. As capacidades das organizações evoluem

gradualmente com o correr das interações cotidianas nas atividades de produção e inovação e

com a incorporação, também gradual, de novos conhecimentos externos influenciando aquilo

que as firmas aprendem e podem esperar realizar no futuro. E a segunda são os retornos de

informação vindas do mercado. À medida que as atividades de inovação têm sucesso no

mercado tendem a gerar mais lucros e concentrar os investimentos em inovações adicionais.

Cumulatividade de conhecimento está relacionada às experiências anteriores dos

sistemas setoriais. A forma como as coisas formam feitas, os problemas enfrentados no

passado e as soluções encontradas abastecem o reservatório de conhecimento de cada setor.

9 O tratamento tanto de questões referentes à acessibilidade quanto à cumulatividade do conhecimento não são particularidades da abordagem dos sistemas setoriais de inovação como entendida por Malerba. Porém, o autor incorpora os termos para ressaltar a importância das ligações com fontes de conhecimento e a característica path- dependence da evolução desse.

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Esse conhecimento possibilita a melhoria gradual de produtos, processos, tecnologias, formas

de organização, etc.

Conhecimento tem papel central para a inovação, porque está na base do

desenvolvimento de capacidades das firmas e afeta ritmo, direção e intensidade dos processos

de aprendizado. Em geral, as características e fontes de conhecimento afetam a taxa e a

direção da mudança tecnológica, a organização das atividades de produção e inovação, e os

fatores na base da performance de sucesso das firmas (MALERBA, 2006a, p.13).

(iv) Instituições

As instituições regulam as atividades e os relacionamentos entre atores. Elas incluem

leis, normas, hábitos comuns, práticas estabelecidas, padrões, tradições, etc. que moldam a

forma como os agentes entendem, agem e se relacionam (BORRÁS, 2004, p.430).

Instituições podem caracterizar-se por serem impostas aos agentes econômicos. Desta

forma, configurando-se em uma norma deliberadamente planejada – como leis de patentes ou

regulações específicas de cada setor – ou serem resultado das atividades cotidianas à medida

que emergem das relações/interações entre indivíduos nas atividades de cada dia – a exemplo

de tradições e convenções (MALERBA, 2001, p.6-7; 2006a, p.10).

Cada instituição, em cada parte do mundo, apresenta características distintas daquelas

encontradas em outros lugares. Assim, instituições similares podem ter papeis distintos de

acordo com o ambiente onde estão inseridas. Nos sistemas setoriais, instituições afetam a taxa

da mudança tecnológica, a organização da atividade de inovação e a performance dos

sistemas setoriais, sejam elas formalmente planejadas ou emergindo das interações cotidianas

(MALERBA, 2006a, p.10).

Cada tipo de instituição tem um papel característico no incentivo ou na colocação de

limites aos sistemas de inovação. De acordo com Franco Malerba e Richard Nelson (2008,

p.19, minha tradução):

• Instituições financeiras têm papel importante naqueles setores mais carentes de recursos para financiar novos investimentos, ex: software e farmacêuticos. • Políticas governamentais são instituições chave no estímulo ao surgimento/desenvolvimento de sistemas setoriais. Elas podem estar relacionadas a suporte às atividades de P&D, estímulo à competição, proteção das firmas domésticas, criação de institutos de pesquisa governamentais, auxílio ao empreendedorismo, etc. Por exemplo, Coréia do Sul e China tiveram sucesso na coordenação dos esforços das firmas

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domésticas em direção à nova geração de produtos e tecnologias de telecomunicações por meio de auxílio às atividades de P&D. • Padrões de normas e regulações também têm tido importante impacto no estímulo ou bloqueio da inovação em vários setores.

Sob uma perspectiva setorial, as instituições vão influenciar a especialização e a

evolução de cada setor (e em que direção), assim como gerarão impacto sobre a performance

de cada um e sobre a definição de quais setores serão mais incentivados ou reprimidos.

Como se verá no capítulo seguinte, as instituições desempenharam papel determinante,

tanto no desenvolvimento e na evolução do sistema de inovação do setor de papel e celulose,

quanto na formação da Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma do Eucalipto. Por exemplo,

políticas de estímulo e proteção ao setor celulose permitiram que o setor se desenvolvesse em

seus primeiros estágios e o fornecimento de recursos financeiros não possuídos pelas

empresas integrantes do GENOLYPTUS possibilitou a formação de um importante arranjo

cooperativo para geração de conhecimento acerca do eucalipto.

(v) Aprendizado

“O principal fator na base da recuperação de atraso parece ser o aprendizado e as

capacidades das firmas” (MALERBA; NELSON, 2008, p.12). Entre os elementos que dão

dinâmica aos sistemas setoriais, ao aprendizado é dado o papel de processo central. Isso,

porque via aprendizado, conhecimentos, tecnologias e capacidades evoluem. Aprendizado de

novo conhecimento pode ser traduzido como acumulação de novas capacidades e

conhecimentos e reciclagem daqueles mais antigos. Capacidades essas que não se referem

somente a questões de produção e pesquisa, referem-se também a capacidades de organização

e coordenação e permitem a recuperação de atraso e assunção de vantagens competitivas por

empresas, regiões, nações, etc.

Assim, para o sucesso de um sistema setorial, seja para catching-up seja para forging

ahead, exige-se que se alcance novas competências/capacidades para ter acesso a ativos

complementares, absorver novo conhecimento e novas tecnologias e inovar. Isso significa

desenvolver capacidades de adotar, adaptar e modificar tecnologias externas; introduzir

modificações e inovações incrementais; e, eventualmente, desenvolver produtos e processos

que sejam totalmente novos (MALERBA; NELSON,2008, p.4).

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(vi) Processos de Criação de Variedade e Seleção

O sistema setorial cria variedade, à medida que novidades vão sendo inseridas. Essas

novidades estão relacionadas a novos produtos, novas tecnologias, entrada de novas firmas

alteração de estratégias e comportamentos. Como exemplo disso, pode-se citar a ascensão de

novas instituições e organizações como novos departamentos dentro de universidades, novos

campos científicos, tecnológicos e educacionais (MALERBA, 2002, p.258), especialização e

conhecimento em inovação e processos de produção por parte das firmas (id., 2001, p.14).

O incremento na variedade dentro do sistema setorial de inovação está associado à

emergência de novas tecnologias e novos conhecimentos e à constância dos processos de

aprendizado e construção de capacidades. Este incremento contribui para as mais importantes

mudanças na população de agentes e na transformação de tecnologias e produtos dentro de

um setor (Loc.cit.).

À medida que os setores evoluem, algumas tecnologias se sobressaem, enquanto

outras são superadas. Dito de outra forma, à medida que o setor evolui no interior de um

paradigma técnico-econômico, as possibilidades de inovação vão sendo reduzidas devido à

escolha de determinados caminhos ou trajetórias tecnológicas (conforme discussão posterior).

O seguimento de determinadas trajetórias faz com que determinados tipos de inovação sejam

selecionados em detrimento de outros. Os processos de seleção reduzem a heterogeneidade

originada nos processos de criação de variedade com respeito a firmas, produtos, tecnologias,

instituições, conhecimentos, etc. As formas mais adequadas, ou aquelas que se sobressaem

sobre as outras, são selecionadas através de mecanismos institucionais – ocasionado por

mudanças nas regras vigentes, nos hábitos e costumes dos agentes, entre outras – ou por meio

do mecanismo de mercado.

Aqui, há um aumento de importância do papel desempenhado pela demanda na

seleção dos produtos, tecnologias, formas de organização, etc. A dinâmica da demanda,

composta por consumidores individuais e por firmas, coloca-se no centro da análise da

evolução da indústria. Interações entre produtores e usuários, upstream e downstream, mudam

preferências e capacidades de ambos e fazem com que se inicie e se mantenha em movimento

um processo de co-evolução de tecnologias, conhecimentos, estruturas de mercado e inovação

(MALERBA, 2006b, p.12).

A demanda nacional ou internacional, em vez de compradores similares agregados, é

vista na abordagem de sistemas setoriais como agentes heterogêneos, interagindo de várias

formas com os produtores (MALERBA, 2006a, p.9). De fato, em alguns setores, as

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necessidades dos consumidores podem guiar o desenvolvimento de inovações, uma vez que,

por intermédio das interações com os produtores, as necessidades dos consumidores são

compartilhadas e ditam a direção das inovações.

Em resumo, os processos de seleção afetam o crescimento e o declínio de vários tipos

de agentes ou grupos de agentes, e o alcance de comportamentos e organizações viáveis em

um sistema setorial de inovação (id., 2001, p.14)

(vii) Evolução do sistema setorial de inovação

Como dito anteriormente, as análises sobre os sistemas setoriais levam em

consideração questões relacionadas a produtos, tecnologias, demanda, produção e venda em

setores específicos, questões que estão relacionadas com a estrutura dominante em cada setor

e com as formas e possibilidades de evolução do mesmo. Esta estrutura é caracterizada por

específicas tecnologias, bases de conhecimento, padrões de relacionamento determinados e

arranjos institucionais particulares. Ela se desenvolve ao longo do tempo e a cada período

caracteriza-se por um conjunto de possibilidades e desafios a serem enfrentados.

O setor evolui e modifica sua estrutura dominante, à medida que os processos de

aprendizado, criação de variedade e seleção possibilitam ampliações ou rupturas nas

tecnologias e bases de conhecimento acumuladas fazendo necessárias adaptações/evoluções

nos relacionamentos e na configuração institucional que as novas ações e interações exigem.

À medida que evolui, o setor sofre transformações em relação a conhecimentos, tecnologias,

processos de aprendizado, competências dos atores, tipos de produtos e processos e

instituições (MALERBA, 2006b, p.7-8). Porém, esta evolução não se dá de forma aleatória.

Os setores evoluem ao longo de trajetórias específicas de desenvolvimento de capacidades,

(MALERBA; NELSON, 2008, p.13), que caracterizam o ritmo e a direção da mudança em uma

dada tecnologia (PEREZ, 2009 p.3).

Exemplo de diferentes trajetórias seguidas em um setor pode ser extraído do estudo de

Malerba e Nelson (2008 p. 13-14). Os autores descrevem o caso do setor de softwares que

apresentou diferentes caminhos seguidos em diferentes partes do mundo no que diz respeito à

terceirização e à participação na cadeia de suprimentos global de aplicações de software.

Enquanto a Índia se especializou em serviços de software, Israel se dedicou à produção de

softwares de alta tecnologia e a Irlanda estabeleceu seu foco sobre produtos para o mercado

Europeu (ibid.).

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Outro exemplo é o que será tratado no capítulo seguinte, a respeito da trajetória

seguida pelo setor de celulose e papel brasileiro a partir da opção ela fabricação de celulose de

fibra curta e a especialização na utilização de plantações de espécies de eucalipto.

As trajetórias, seguidas por diferentes setores em diferentes partes do mundo, retratam

os resultados de decisões de investimento tomadas anteriormente pelos empresários. São estas

decisões de investimento, baseadas na demanda potencial esperada, que determinam a gradual

evolução das tecnologias em um setor.

Segundo Carlota Perez (2009, p.2) as decisões de investimento em inovações por parte

dos empresários direcionam os esforços de pesquisa. Estas decisões não constituem um

processo aleatório, ao contrário, elas são moldadas pelo contexto em que estão inseridas,

incluindo-se aí preços relativos, fatores institucionais e regulatórios e o mercado potencial

percebido pelos empresários. O mercado potencial frequentemente depende do que já foi aceito

pelo mercado anteriormente, da base de conhecimentos adquiridos e de várias fontes de

experiências práticas (PEREZ, 2009 p.3). Ou seja, a evolução da tecnologia do setor é altamente

cumulativa, dependente e derivada de todas as capacidades reunidas na execução das atividades

passadas.

Além disso, a evolução dos setores gera impactos por toda a atividade econômica. Sua

evolução promove alterações nos sistemas setoriais e na estrutura institucional corrente, uma

vez que a evolução da tecnologia é um processo complexo em que tecnologias são

interconectadas em sistemas e esses por sua vez são entrelaçados e interdependentes uns com

os outros e com os ambientes físico, social e institucional (PEREZ, 2001, p.113).

Sendo assim, verifica-se que há um relacionamento de mão dupla entre a evolução das

tecnologias e o ambiente que as cerca. Ao mesmo tempo em que as decisões de investimento

por parte dos empresários são moldadas pelas estrutura física, ligações e configuração

institucional vigentes, elas as modificam e as fazem evoluir.

Como bem expressado por Malerba (2006b, p.7-8, minha tradução), resume-se

inovação e evolução da indústria como:

- Resultado de processos de aprendizado por firmas e indivíduos; - Fundamentado em uma base de conhecimento específica que caracteriza a indústria; - Resultado de interações competitivas e cooperativas, de mercado ou não-mercado, formal e informal de vários atores com diferentes competências e conhecimentos; - Ocorrendo em específicas configurações institucionais, que às vezes são nacionais, outras são específicas para o setor; - Trazendo mudança e transformação não somente para produtos e processos, mas também para atores, ligações, instituições e conhecimento.

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Assim, a abordagem dos sistemas setoriais de inovação, como tratada por Franco

Malerba, faz jus à tradição a que se vincula. A abordagem apóia-se sobre os pilares de

conhecimento, aprendizado e interações e tem, entre seus principais elementos, atores,

instituições, relacionamentos e processos de evolução. Além disso, atribui ao setor público

importante papel no desenvolvimento dos sistemas setoriais. O que é particular aos sistemas

setoriais de inovação é a especialização em determinados produtos e tecnologias, a atenção

especial à demanda como importante determinante da evolução de tais produtos e tecnologias,

e os caminhos pelos quais esses evoluem.

O entendimento dos sistemas setoriais de inovação foi buscado ao longo das linhas

anteriores, primeiramente, pela identificação de quais os principais determinantes da

inovação, segundo a abordagem dos sistemas de inovação desenvolvida pela tradição

Freeman-Aalborg. Conhecidos os elementos principais, buscou-se um entendimento de como

a referida tradição desdobra-se para uma abordagem setorialmente apoiada e como os

elementos dos sistemas de inovação estão dispostos e se relacionam dentro dos setores.

O conhecimento dos elementos e de sua articulação nos sistemas setoriais permitirá a

compreensão do sistema de inovação do setor de celulose e papel brasileiro e da participação

da Aracruz Celulose neste sistema evidenciada em sua inserção no projeto GENOLYPTUS,

que será alvo da análise do capítulo seguinte.

A avaliação do setor de celulose é de extrema importância. Trata-se de um setor

especializado em uma commodity, a celulose, com produção dependente de recursos naturais.

A importância dos setores especializados em produtos baseados em recursos naturais é

ressaltada por Carlota Perez (2008), quando defende a adoção, por países da América Latina,

de uma estratégia apoiada na especialização da produção de commodities.

A autora (ibid., p.13) chama a atenção para uma janela de oportunidade, propiciada

pelas ricas fontes de recursos naturais e energia possuídas pelos países da América Latina,

para a especialização em indústrias de transformação. A sugestão é que países da região

deixassem o tradicional modelo de exclusiva exportação de matérias-primas para a adoção de

um modelo envolvendo e desenvolvimento de tecnologias relacionadas a estas commodities.

Nas palavras de Carlota Perez (2008, p.14, minha tradução):

Isto implica uma gradual transformação de toda a economia. A idéia é se engajar em um concentrado esforço, para controlar as indústrias de transformação, das indústrias de larga escala, como alumínio, papel, refino, cerveja, petroquímicas e alimentos, passando por indústrias de média escala como especializadas (química, biotecnológica, nanotecnológica), até indústrias de pequena escala como materiais customizados, produtos químicos especiais e outros produtos de nicho.

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O caso analisado neste trabalho corresponde exatamente às proposições de Perez. O

setor de papel e celulose brasileiro apropria-se de vantagens comparativas associadas à posse

de recursos naturais, à ampla disponibilidade de terras e clima propício ao plantio de espécies

aptas para a fabricação de celulose. Aliado a isso, o setor realiza um grande e contínuo

esforço para o desenvolvimento de tecnologias voltadas à ampliação de tais vantagens.

Esforço que é aplicado também pela Aracruz Celulose, como se verá no capítulo seguinte.

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3. O SI DO SETOR DE CELULOSE E PAPEL BRASILEIRO : A experiência da Aracruz

Celulose e o Projeto GENOLYPTUS

O presente capítulo dedica-se à compreensão do funcionamento do sistema setorial de

inovação de celulose e papel no Brasil sob a perspectiva da participação de um de seus

integrantes, a Aracruz Celulose. Identifica-se como os principais elementos dos sistemas

setoriais de inovação estão presentes no setor de celulose e papel e verifica-se como a Aracruz

participa e contribui para o desenvolvimento de inovações no setor.

Esta investigação está fundamentada na discussão conceitual elaborada no capítulo

anterior, sobre os determinantes da inovação nos setores. A abordagem dos sistemas setoriais

de inovação permitiu a identificação dos principais elementos dos sistemas setoriais presentes

no setor de celulose e papel brasileiro e a importância deles nos desenvolvimento e evolução

do setor no Brasil. Evidências da importância desses elementos são extraídas, tanto na

formação da Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma do Eucalipto, quanto na evolução do

setor e da Aracruz Celulose ao longo das últimas décadas. Portanto, as duas unidades de

análise para as quais este trabalho dedica maior atenção são a Aracruz Celulose e o Projeto

Genolyptus.

3.1. O setor de papel e celulose brasileiro

3.1.1. A instalação do setor

A formação da indústria de papel e celulose brasileira tem suas bases sobre as

atividades de imigrantes relacionadas à importação e comércio de papéis (HILGEMBERG;

BACHA, 2001). A maior parte da demanda de celulose nacional era suprida por produção

estrangeira. O cenário só começa a mostrar algumas oportunidades para o desenvolvimento do

setor de papel e celulose nacional à medida que surgem dificuldades no balanço de

pagamentos derivadas da desvalorização da moeda nacional, essa última provocada pelo

avanço da crise de 1929 (ibid.).

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O desenvolvimento do setor de papel e celulose foi amplamente influenciado por

políticas públicas intencionadas a dar maior competitividade internacional à indústria local.

Incentivos foram dados ao setor, como parte da estratégia do modelo de substituição de

importações, para responder às pressões sobre a balança comercial originadas na crise de

1929.,

Um passo marcante para o setor foi a instalação da primeira fábrica de papel imprensa

em 1946, a Indústria Klabin do Paraná, contando com produção de celulose a base de pinus e

produção de madeira próprias. O projeto resultou de concessões financeiras, taxas de câmbio

especiais para a importação de equipamentos e garantias de monopólio fornecidas pelo

Governo Vargas (RODRIGUES, 2005, p.40).

Nos anos 1950 e 1960, os apoios governamentais ao desenvolvimento do setor de

celulose e papel se intensificam. Os objetivos de auto-suficiência na produção de celulose

contidos no PLANO DE METAS (década de 1950), e medidas de estímulo à implantação de

maciços florestais (década de 1960) como incentivos fiscais ao reflorestamento e a

priorização de fomento financeiro ao setor por parte do BNDE, deram impulso adicional ao

desenvolvimento da indústria de celulose. (HILGEMBERG; BACHA, 2001, p.148-9).

A indústria começa a desenvolver sua tecnologia internamente por meio de pesquisas

sobre o uso do eucalipto como matéria-prima. Mesmo sem políticas tecnológicas direcionadas

ao setor de papel e celulose, pesquisas florestais sobre a utilização do eucalipto foram

empreendidas. As firmas conduzindo estas pesquisas concluíram que o uso do eucalipto era

tecnicamente e economicamente viável.

As bases fornecidas por essas pesquisas aliadas às reformas institucionais conduzidas

pelo governo no período de 1964/66 estimularam a difusão das plantações de eucalipto

(RODRIGUES, 2005, p.41).

Na década de 1970, o setor de celulose e papel começa a se voltar para o mercado

internacional. O II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) contempla o primeiro

programa de incentivos específico para o setor, o I Programa Nacional de Papel e Celulose

(IPNPC) (HILGEMBERG; BACHA, 2001, p.153). Nele aparece um conjunto de medidas

para alcançar a auto-suficiência em celulose e papel e a geração de excedentes de celulose

para exportação. A partir daí é que entra em operação a primeira unidade fabril dedicada à

produção de celulose de mercado. A Aracruz Celulose inicia suas operações em 1978 com

uma capacidade de produção que representava, naquela época, 25% da capacidade nacional

de produção de celulose de fibra curta. (ibid. p.153-4)

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Um segundo Programa Nacional de Papel e Celulose (II PNPC), lançado na década de

1980, prevê investimentos de ampliação da capacidade produtiva nacional para o setor que

viabilizaram a duplicação da capacidade produtiva da Aracruz.

3.1.2. Características do setor

O setor de papel e celulose é tradicional e possui tecnologia relativamente acessível e

globalizada. Sua cadeia produtiva é bastante complexa. Abrange as etapas de reflorestamento,

produção de madeira, fabricação de celulose, fabricação de papel, conversão de papel em

artefatos, produção gráfica, produção editorial e reciclagem do papel utilizado. Além disso,

inclui atividades de geração de energia, distribuição, comércio, exportação de produtos e

matérias-primas, transportes rodoviário, ferroviário e marítimo; e está ligado a outros setores

da economia como o de serviços, indústria química, mineração, bens de capital e engenharia

(LOPES; CONTADOR, 1998, p.3).

O setor enquadra-se entre os negócios de produtos florestais. Empresas do ramo, em

geral, inserem-se em pelo menos um dos setores de base florestal, quais sejam, o setor de

produtos de madeira, o setor de celulose de mercado e o setor de papel.

A principal matéria-prima desses setores é a madeira oriunda de florestas nativas ou de

florestas plantadas, sejam elas públicas ou privadas. De acordo com Das Dores et. al. (2007,

p.110), no Brasil, as florestas ocupam cerca de 544 milhões de hectares, dos quais 99% são de

florestas nativas e 1% de florestas plantadas. Das florestas nativas, 45% são de domínio

privado e o restante de florestas públicas (ibid. p.111).

O grau de verticalização das empresas dentro da indústria de base florestal é bem

diversificado. Enquanto empresas produtoras de madeira sólida, em sua maioria, não possuem

florestas, as principais fabricantes do setor de painéis de madeira são possuidoras de florestas

e as empresas de papel e celulose retiram sua matéria-prima exclusivamente de florestas

plantadas. Encontram-se desde empresas totalmente integradas até as que dedicam-se somente

à celulose de mercado. De acordo com Rodrigues (2005, p.35), as empresas do setor podem

ser caracterizadas como segue:

a) Firmas integradas: são aquelas que têm o papel como seu principal produto e em

suas operações englobam as produções de madeira e de celulose;

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b) Firmas não-integradas: são as que também apóiam-se sobre o papel como principal

produto, porém dependem de terceiros para suprir suas demandas por celulose;

c) Firmas de celulose de Mercado: são firmas das quais o principal produto é a

celulose de Mercado. Vendem seus produtos para empresas que se dedicam à

produção de papel.

No que se refere às estratégias adotadas pelas empresas do ramo, pode-se sintetizá-las

em duas principais áreas (JORGE, 1993, p.28-29):

a) Produtivas, que dizem respeito à base florestal e ao processo de fabricação de

celulose. O aumento da produtividade das florestas dá-se através da redução do

tempo de maturação das árvores, do melhoramento genético das espécies, da

ampliação das bases florestais e internacionalização das operações. No que diz

respeito aos processos produtivos, há constante busca pela diferenciação dos

produtos e sua adequação às especificidades de cada cliente.

b) De mercado, que estão relacionadas ao grau de integração com a produção de

papel e de dependência do mercado de celulose. Aqui, há a ocorrência de

diversificação, rumo aos vários segmentos de papel, integração vertical, rumo

tanto à produção de celulose quanto à distribuição de produtos finais e

orientação/reorientação dos negócios, para mercados específicos.

Dentre os vários tipos de empresas operando no setor, aquelas pelas quais interessa-se

este trabalho, são as produtoras de celulose de mercado. Isso, porque, aqui, busca-se

evidências na operação de uma empresa que atua nesta indústria, qual seja, a Aracruz

Celulose.

De acordo com Valor Econômico S.A. (2010), o Brasil é o sétimo produtor mundial de

celulose de mercado e o primeiro em celulose de mercado de fibra curta. A produção vem

crescendo 5,5% ao ano nos últimos anos e a celulose de fibra curta a base de eucalipto

participa com cerca de 80% do total.

A indústria de celulose de mercado caracteriza-se por: i) exploração de florestas

integralmente plantadas com espécimes de rápido crescimento (pinus, eucalipto e outros); (ii)

a produção concentrada em poucas empresas; e (iii) inexistência de um padrão patrimonial e

estratégico destas empresas (JORGE, 1993, p.28).

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No que diz respeito à concentração, segundo o estudo Valor Análise Setorial (2010,

p.9), em 2004 as quatro maiores produtoras celulose do país (Aracruz, Votorantim, Klabin e

Suzano Bahia Sul) controlavam 63,30% da produção total daquele ano, já as oito maiores (as

quatro primeiras mais Cenibra, Ripasa, Orsa-Jari e International Paper) somaram 87,07%.

Em relação aos fatores competitivos, de acordo com a análise traçada por Maurício

Mendonça Jorge (1993, p.29-30), nesta indústria, podem ser destacados alguns fatores

competitivos relacionados a fatores empresariais, estruturais e sistêmicos:

a) As escalas de produção serão cada vez maiores, em especial no caso dos

processos químicos, em função dos ganhos associados à redução dos custos fixos,

à recuperação de reagentes químicos e à eficiência energética.

b) A concorrência, cada vez mais globalizada, exigindo instrumentos sofisticados e

um rigoroso monitoramento do mercado internacional.

No que se refere às empresas brasileiras, cabe ressaltar que o Brasil possui fortes

vantagens comparativas e competitivas na produção da madeira. Segundo Dário Grattapaglia

(2009), as vantagens comparativas brasileiras são:

(i) Disponibilidade de áreas para expansão florestal;

(ii) Condições climáticas tropicais;

(iii) Alto índice de insolação;

(iv) Chuvas bem distribuídas ao longo do ano em várias áreas; e

(v) Menores custos de produção.

Ainda segundo Grattapaglia (ibid.), as vantagens competitivas são:

(i) Tecnologias silviculturais aprimoradas;

(ii) Melhoramento genético criativo e avançado;

(iii) Clonagem eficiente de árvores superiores;

(iv) Qualificação de profissionais e cientistas na área florestal; e

(v) Práticas de gerenciamento e integração floresta-indústria.

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Por outro lado, os principais obstáculos enfrentados pelo setor são a inadequação da

infra-estrutura logística, havendo a necessidade de uma infra-estrutura rodo-ferroviária

compatível com as necessidades do setor; a desvalorização do dólar (ou os juros altos) que

pressionaram para baixo o resultado das empresas do setor em 2005; e as invasões

intimidatórias no campo, como o caso da invasão de um laboratório e um viveiro florestal da

Aracruz em Barra do Ribeiro, no Rio Grande do Sul, por integrantes do Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento das Mulheres Camponesas e da Via

Campesina (VALOR ECONÔMICO S. A., 2010).

3.1.3. Principais atores do sistema de inovação do setor de papel e celulose

Antes da apresentação do sistema de inovação do setor de papel de celulose brasileiro,

uma consideração deve ser feita com relação ao sistema de inovação do setor. Embora a

referência seja constantemente o setor de celulose e papel brasileiro, nesta pesquisa não foram

encontrados registros que possam ser considerados uma ação sistêmica em prol da inovação

nas áreas de produção de celulose e papel. O que a pesquisa destaca é que tal sistema de

inovação é na realidade altamente especializado nas atividades florestais, enquanto as

tecnologias industriais são possuídas por fornecedores estrangeiros.

Assim, no Brasil, o sistema de inovação do setor de papel e celulose é formado por

atores que podem ser indivíduos ou organizações que, como se verá posteriormente, se

dedicam ao desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos na área florestal. Estas

organizações podem ser firmas e outros tipos de organizações, tais como universidades,

centros de pesquisa, instituições financeiras, governos e subunidades de tais organizações.

O setor de celulose e papel brasileiro reúne aproximadamente 220 companhias que

juntas são responsáveis por 1,4% do PIB e empregam mais de 110.000 pessoas. Estas

empresas dedicam-se a atividades de pesquisa em conjunto com universidades e institutos de

pesquisa. Ao todo, são mais de 10.000 hectares de áreas de pesquisa, 2.000 experimentos e

mais de 300 pesquisadores, tendo o Brasil um dos maiores bancos de genes de eucalipto e de

algumas espécies de Pinus (MILAGRES; SILVEIRA, 2008b, p.23).

De acordo com Milagres e Silveira (ibid., p.24) os institutos de pesquisa que compõem

o setor conferem escala aos processos de pesquisa das empresas e facilitam o acesso a

inovação e tecnologias que dificilmente seriam possíveis para as empresas alcançarem

individualmente. Entre os principais institutos estão o IPEF - Instituto de Pesquisas Florestais,

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fundado em 1968, e a SIF - Sociedade de Investigações Florestais, fundada em 1974, que

trabalham em conjunto com quase 200 empresas de setor. Há ainda a relevante participação

da EMBRAPA e de universidades que propiciam a integração dos conhecimentos científicos

gerados no meio acadêmico com a realidade enfrentada no ambiente de negócios.

Desta forma, destacam-se, entre os principais atores do sistema de inovação do setor

de papel e celulose brasileiro, as empresas, as universidades e os institutos de pesquisa.

Logicamente esses não são os únicos. Como se verá na sequência, quando da análise do

projeto Genolyptus, o governo foi um importante ator no estímulo à inovação no setor. Em

adição, fornecedores de produtos e serviços contribuem para os processos de aprendizado e

para a inserção de inovações incrementais dentro das organizações, bem como os mercados

consumidores, geram impacto sobre os caminhos de evolução das inovações dentro de

determinado setor. Todavia, a análise aqui proposta não dedicará maior atenção a estes

últimos, uma vez que essas relações não estão expressas na rede de cooperação para pesquisa

sobre o eucalipto – projeto Genolyptus. Isso porque o projeto tem caráter basicamente

científico, sem uma imediata e explícita participação dos mercados consumidores no projeto.

3.2. A Aracruz Celulose10

3.2.1. Evolução Cronológica

Na década de sessenta, é plantada a semente que mais tarde daria origem à fábrica da

Aracruz Celulose no Espírito Santo, com o início do plantio do eucalipto em terras adquiridas

nos municípios de Aracruz, São Mateus e Conceição da Barra nos idos de 1967.

Na década de setenta, a empresa é, em fim, constituída e é lançada a pedra

fundamental de sua primeira unidade fabril, a fábrica A, localizada no Espírito Santo. Após

quatro anos de construção, em 1978, a Fábrica A é inaugurada, com uma capacidade

operacional inicial de 400 mil toneladas anuais – posteriormente ampliada para 525 mil

toneladas ano.

Na década de oitenta, ocorre a criação do Portocel, porto especializado em operação

com celulose, numa iniciativa conjunta da Aracruz Celulose (51%) com a Cenibra (49%).

10 Informações disponíveis no sitio da Aracruz Celulose, <http://www.aracruz.com.br>. Acesso em: 25 de agosto de 2009.

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Os anos noventa são marcados pela inauguração da fábrica B e pelo início das

negociações de ações da Aracruz Celulose na Bolsa de Nova York. A instalação da fábrica B

elevou inicialmente a capacidade de produção da empresa para um milhão de toneladas anuais

em conjunto com a fábrica A., o que posteriormente foi ampliado para um milhão e trezentas

mil toneladas anuais, com a realização de um projeto de modernização.

Com o decorrer da atual década, anos 2000, a Aracruz se associa à Stora Enso no

controle acionário da Veracel Celulose (localizada na Bahia), que viria a ser inaugurada em

2005. Em 2002, o complexo fabril do Espírito Santo conta com mais uma fábrica (Fábrica C),

elevando a capacidade da unidade para dois milhões de toneladas anuais. O ano de 2003 é

marcado pela incorporação de uma unidade fabril (unidade Guaíba) no Rio Grande do Sul

com a aquisição da Riocell, até então pertencente à Klabin. Uma modernização da unidade de

Guaíba é realizada em 2006, elevando a capacidade da unidade para 430 mil toneladas anuais.

Em setembro a capacidade das fábricas do Espírito Santo é aumentada em 200 mil toneladas

anuais.

3.2.2. Características da empresa

Líder mundial na produção de celulose branqueada de eucalipto, a Aracruz exporta a

grande maioria de sua produção (98%), que chega ao consumidor final na forma de papéis de

imprimir e escrever, papéis sanitários, lenços, guardanapos, fraldas, absorventes íntimos e

papéis especiais de alto valor agregado.

Suas florestas – aproximadamente 313 mil hectares de plantios, intercalados com cerca

de 198 mil hectares de reservas nativas – se espalham pelos estados do Espírito Santo, Bahia,

Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Somada às áreas próprias, o Programa Produtor Florestal

inclui mais 96 mil hectares de florestas contratadas nos estados onde possui florestas, além do

Rio de Janeiro.

Atualmente, a empresa possui capacidade instalada de cerca de 3,3 milhões de

toneladas anuais de celulose branqueada de fibra curta de eucalipto distribuídas entre suas três

unidades fabris. A unidade de Barra do Riacho, localizada no município de Aracruz – ES, é

um complexo industrial floresta–fábrica–porto, com capacidade de 2,3 milhões de toneladas,

que integra desde as áreas de plantio até o terminal portuário (Portocel). A Unidade Guaíba,

localizada no município de Guaíba (RS), opera uma fábrica com capacidade nominal de 450

mil toneladas anuais de celulose de alta tecnologia. O terceiro complexo fabril — a Veracel

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Celulose, é uma parceria da Aracruz com o grupo sueco-finlandês Stora Enso, com cada uma

das partes possuindo 50% de ambas, participação acionária e produção. A unidade está

situada no município de Eunápolis, no sul da Bahia e atualmente opera com capacidade para

1,1 milhões de toneladas de celulose anuais.

Além dos três complexos fabris, a Aracruz participa com um terço da Aracruz

Produtos de Madeira. Uma associação com o grupo Weyerhaeuser, dos EUA, para a

fabricação de produtos sólidos de madeira de eucalipto, com alta qualidade para atender aos

mercados interno e externo.

Até o final do exercício de 2008, o controle acionário da Aracruz era exercido pelos

grupos privados Safra, Lorentzen e Votorantim, cada um deles detendo 28% do capital; e pelo

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — BNDES – com 12,5% do

capital. Porém, no início de 2009 o grupo Votorantim elevou sua participação no controle da

Aracruz para 96,5% por meio da compra das participações dos grupos Lorentzen e Safra e

pela incorporação da parcela de posse do BNDESPar11.

Gráfico 1 – Evolução da capacidade de produção da Aracruz Celulose (em mil toneladas)

Fonte: Elaboração própria

Dados: www.aracruz.com.br; BRACELPA (2009)

11 Em setembro de 2009, após o grupo Votorantim assumir o controle da Aracruz Celulose, a Aracruz e a VCP passam a integrar uma única empresa, a Fibria. Porém, o presente trabalha não se dedica ao estudo desta última porque tem seu foco em períodos anteriores ao da unificação, o que faz da Aracruz Celulose uma unidade mais adequada de análise.

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3.2.3. Conhecimento e aprendizado

“Antes de se chegar à madeira, é necessário plantar a árvore. Na realidade, a cadeia

produtiva da Aracruz começa ainda na área de pesquisa, responsável pelo desenvolvimento de

novas espécies de plantas, mais adequadas à produção de papel” (FGV, 2006, p.9). Esta área

desempenha um importante papel no desenvolvimento de conhecimento dentro da Aracruz

Celulose.

Alinhada com as demandas mundiais e para fazer jus à liderança no setor de papel e

celulose, em seus quarenta anos, a empresa vem mantendo o foco no desenvolvimento interno

de conhecimentos, tecnologias e capacidades relacionadas aos processos industriais de

fabricação da celulose e àqueles referentes às tecnologias silviculturais, bem como de

conhecimentos relacionados a solos, climas, fauna, etc.

Este desenvolvimento de conhecimentos está amplamente relacionado aos processos

de aprendizado, como referidos no capítulo anterior, relacionados ao uso iterado de máquinas

e equipamentos, à realização cotidiana dos processos produtivos e às interações com outros

atores do sistema setorial de inovação.

a) Desenvolvimento de conhecimento

A empresa possui um centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) próprio,

direcionado a fazer com que a Aracruz esteja na vanguarda mundial do desenvolvimento

tecnológico em florestas de eucalipto.

Em 1994, o Centro de Pesquisa e Tecnologia (CPT) da empresa ganhou a sua

configuração atual, reunindo o Centro de Pesquisa da Aracruz (CEPAR) e o Centro de

Pesquisa Industrial (DIT). Porém, mesmo antes de se criar o CPT, a Aracruz já possuía um

laboratório de pesquisa, buscando sempre manter o foco na qualidade do produto

(ARACRUZ CELULOSE, 2008b).

A infra-estrutura do CPT conta com um centro de mil metros quadrados para a

realização de experimentos, dois laboratórios de pesquisa – um no Espírito Santo e um no Rio

Grande do Sul – e um laboratório ao ar livre (Microbacia) com aproximadamente 300

hectares, direcionado ao monitoramento de flora, fauna, solos e ecossistemas formados pelo

eucalipto e florestas nativas.

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No CPT, são 80 pessoas exclusivamente voltadas à realização de pesquisa e

desenvolvimento tecnológico nas áreas florestal e industrial; desses, 17 cientistas (mestres e

doutores) atuam em dedicação integral (ARACRUZ CELULOSE, 2008a).

Os esforços de pesquisa conferem à Aracruz maior produtividade e ampliação desta.

Por exemplo, o produto médio do trabalho na empresa chega a ser 40 vezes superior ao

verificado na economia brasileira como um todo12. Igualmente superiores são as taxas de

crescimento da produtividade, alcançando 1,06%13 ao ano frente aos 0,27% da economia

brasileira (FGV, 2006).

O foco das pesquisas segue duas linhas principais: tecnologia de melhoramento de

florestas e desenvolvimento de novos produtos e processos. Atualmente, estão relacionadas a

seis áreas do conhecimento, a saber: melhoramento genético tradicional, biotecnologia,

propagação de plantas, solos e nutrição vegetal, proteção florestal, biodiversidade e

ecofisiologia vegetal.

As mesmas englobam os diversos estágios do ciclo de produção da polpa, desde os

processos florestais até os industriais. Dentre esses estão: a seleção genética de clones

superiores, técnicas de silvicultura e administração, estudos de solo e clima, processos de

produção de polpa e desenvolvimento de produto (Aracruz News, 2006).

Constantemente, os cientistas estudam melhorias no manejo da floresta (preparo do

solo, adubação, controle de pragas etc.) e geram novos clones de eucalipto para garantir

resultados que adicionem ainda mais valor à celulose e ao produto dos clientes. (ARACRUZ

CELULOSE, 2008b)

No que tange a questão do melhoramento florestal, o CPT realizou o desenvolvimento

e aplicou técnicas inovadoras para a propagação de clones de eucalipto híbridos e melhorados;

controle de pestes e doenças com impacto mínimo sobre o ambiente, incluindo o controle

biológico do besouro do eucalipto e técnicas naturais de combate a formigas (leaf-cutting

ants); e pesquisas inovativas em nutrição do solo, eco-fisiologia, preservação ambiental e

biodiversidade (Aracruz News, 2006).

Em se tratando de desenvolvimento de produtos e processos, o CPT, de maneira

integrada com os departamentos industrial, vendas e marketing, estando atento às demandas e

preferências do mercado e dos consumidores, busca o desenvolvimento de novos produtos por

meio de um extenso processo de planejamento. Inicialmente são realizados estudos de

viabilidade, passando pelas análises de mercado e de custos, e pela produção de teste.

12 Dados de 2003 13 Taxa média ponderada

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Finalmente, são executados os testes de rendimento e qualidade de produto, incluindo uma

investigação de consumo de produtos químicos e estratégias de anulação de impactos

ambientais. (Aracruz News, 2006).

Os dados que seguem mostram a evolução das pesquisas conduzidas, o esforço para o

desenvolvimento tecnológico e alguns resultados já alcançados pela empresa ao longo dos

anos (ARACRUZ CELULOSE, 2008b):

• Investimentos de cerca de US$ 10 milhões por ano em pesquisa e tecnologia. Em 40

anos os investimentos ultrapassam os US$ 100 milhões;

• Duplicação da produtividade média de madeira 20 m³/ha/ano para mais de 40

m³/ha/ano;

• Em 40 anos, a idade média de corte das árvores foi reduzida de 7,5 anos para 6 anos;

• Redução do tempo de produção de clones aptos para o plantio de 23 anos na década de

90 para os atuais 10 anos;

• São 28 patentes concedidas envolvendo produtos e 17 em processo de análise no

Brasil e no exterior.

Entre os resultados alcançados pela equipe do CPT, merecem destaque a introdução e

o melhoramento contínuo dos materiais genéticos utilizados nos plantios; a evolução nos

métodos de clonagem; o conhecimento aprofundado do solo; a fertilização baseada em

balanços nutricionais completos; o controle biológico de pragas e o entendimento das relações

do eucalipto com o meio ambiente (ARACRUZ CELULOSE, 2008b).

A evolução da base de conhecimento gerado na Aracruz traduz-se em ganhos de

produtividade que fazem com que as vantagens naturais já possuídas pelo Brasil, em termos

de produtividade das árvores de eucalipto, sejam ampliadas pelas pesquisas e experimentos de

campo desenvolvidos. Desde os anos 70, a produtividade das fábricas da Aracruz cresceu

consideravelmente como mostra o gráfico 2, abaixo.

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Gráfico 2 – Evolução da produtividade da Aracruz Celulose (tsa14/ha/ano) – 1970’s - 2010’s15

Fonte: Elaboração própria Dados: www.aracruz.com.br; Fibria (2009)

b) Learning-by-using e learning-by-doing

O aprendizado, pilar da abordagem dos sistemas de inovação, está na base do

desenvolvimento de capacidades e conhecimentos internamente pela Aracruz Celulose, tanto

na área industrial, quanto na área florestal. Exemplo disso é que, desde os primeiros anos de

funcionamento, a empresa já se dedicava a estudos para entendimento, domínio e melhoria de

processos produtivos.

Na área industrial, na ocasião da implantação da fábrica A, uma equipe de projetos já

estava envolvida em pequenos estudos internos, relacionados à execução de controles e

aferições ao longo dos processos e às atividades de manutenção preventiva (FROHARD,

2009, p.111). Segundo Garcia (2006, p.165-6), os primeiros projetos relacionavam-se

principalmente com engenharia de suporte, como melhorias na infra-estrutura da fábrica,

manutenção de equipamentos, etc., ou seja, projetos voltados à modernização dos

equipamentos existentes e à ampliação da capacidade produtiva. Havia um grupo específico

de funcionários dedicados à cópia de componentes, partes e acessórios dos equipamentos para

14 Toneladas de celulose secas ao ar por hectare por ano 15 Para a década de 2010 a produtividade informada refere-se a valores esperados.

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a posterior fabricação desses no Brasil16 (FROHARD, 2009, p.112). Esta estratégia de

intensificação dos esforços de aprofundamento do entendimento do maquinário adquirido

permitiu a busca de um uso inovador destes conhecimentos na adaptação e nas melhorias

incrementais inseridas nos processos.

Na área florestal, para que a produção atendesse às especificações do mercado,

enquanto os primeiros plantios ainda amadureciam, a empresa iniciou seu processo de

absorção e acumulação de capacidades tecnológicas, por meio de continuas adaptações de

produto e de processos (GARCÍA, 2006, p.195). À época, o eucalipto já havia sido

considerado uma matéria-prima viável em pesquisas de outras empresas do setor. Ao iniciar

seu plantio, o desafio enfrentado era, de forma economicamente viável, criar uma base

florestal (produção de madeira) em uma região onde a maioria das terras encontrava-se

degradada ou eram locais onde o eucalipto nunca tinha sido cultivado (Aracruz News, 1995).

Tal desafio foi enfrentado com a criação, já na década de 1970, do banco genético da

empresa, reunindo sementes puras da Austrália e da Indonésia, países com semelhanças

climáticas com a região de Aracruz (Loc.cit.). Posteriormente, as pesquisas de seleção e

cruzamento de clones superiores permitiram que a Aracruz chegasse a uma floresta mais

produtiva, homogênea e resistente a doenças. Os conhecimentos gerados nas atividades

florestais cotidianas permitiram à Aracruz a melhoria incremental das árvores, através da

experiência obtida nos processos de plantio, análise das características do solo, clima, etc. e

da adaptação dos processos.

Sendo assim, desde sua concepção, a empresa já vem mantendo iterados processos de

aprendizado, tanto na área florestal, quanto na industrial. Na área industrial, o aprendizado dá-

se por meio de controles e melhorias de equipamentos e máquinas a pelo decorrente aumento

de domínio sobre esses. Trata-se de um aprendizado alcançado na operação das instalações

produtivas, ou seja, learning-by-using. Na área florestal, o aprendizado é alcançado através da

repetição dos processos de semeadura, adubação, corte, colheita, seleção de clones, etc.

fazendo com que a empresa consiga inserir melhorias de processos de plantio e seleção de

clones mais apropriados. Ou seja, o aprendizado é originado na experiência acumulada com a

realização das atividades florestais, ou seja, learning-by-doing.

16 Estimulada pelas políticas de substituição de importações, esta cópia de componentes visava desenvolver no país o fornecimento de peças para substituir aquelas importadas e atender às necessidades de manutenção e melhoria do maquinário da empresa.

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c) Learning-by-interacting

Mesmo possuindo seus próprios centro de pesquisa e quadro de pesquisadores, aspecto

chave para o sucesso em desenvolvimento tecnológico da Aracruz é a adoção de uma

estratégia cooperativa de trabalho. Esta estratégia é operacionalizada por meio de parcerias

com renomadas instituições nacionais e internacionais e por meio de financiamento de teses

de mestrado e doutorado.

Para sustentar a liderança tecnológica em matérias-primas, a Aracruz adota uma

estratégia agressiva apoiada em investimentos em biotecnologia (ZOUAIN; MARTINS

FILHO, 2003). Esta estratégia está fundamentada em constantes investimentos em Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D), parcerias em licenciamento, acordos com universidades e institutos

de pesquisa nacionais e estrangeiros.

Assim como no setor como um todo, as atividades de pesquisa desenvolvidas pela

Aracruz fundamentam-se fortemente em projetos cooperativos. Em suas principais linhas de

pesquisa – melhoramento florestal e desenvolvimento de produtos e processos – destaca-se a

forte contribuição de universidades e centros de pesquisa no desenvolvimento tecnológico da

empresa. No caso do desenvolvimento de produtos, existe uma estreita relação com empresas

clientes, com a finalidade de criar produtos cada vez mais adaptados às necessidades

particulares de cada cliente (MISSIAGGIA, 2009).

Entre os principais parceiros nacionais destacam-se Universidade Federal de Viçosa

(UFV); Escola Superior de Agricultura Luiz Queiroz (ESALQ) ligada à Universidade de São

Paulo (USP); Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária (EMBRAPA).

Os principais parceiros internacionais são: o Royal Institute of Technology e Swedish

Test Fibre Institute da Suécia; a University of Toronto no Canadá; a North Carolina State

University e o Empire State Paper Research Associates dos Estados Unidos e a

Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation da Austrália. (ARACRUZ

CELULOSE, 2008a).

Vários são os exemplos de esforços de desenvolvimento de conhecimento e

aprendizado interativos em conjunto com universidades, centros de pesquisa e empresas do

setor. Um deles é o projeto Brasil Eucalyptus Produtividade Potencial (BEPP), em parceria

com outras empresas do setor de papel e celulose, que buscou:

“conhecer as relações ecofisiológicas existentes entre a produção madeireira e o uso, e eficiência do uso dos recursos naturais: água, luz e nutrientes, a

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chamada ecologia de produção. Procura-se, assim, entender e quantificar os processos que controlam a produtividade do Eucalyptus e suas interações com o meio ambiente, abordando as questões de sustentabilidade dos sistemas de produção (manejo), o uso dos recursos naturais (água, nutrientes) e suas variações regionais, concomitantemente à produção florestal (madeira). (IPEF, 2010)

Outra evidência de tal comportamento cooperativo é a sua inserção em um projeto

pioneiro no Brasil, que reuniu várias empresas do setor de papel e celulose, assim como

universidades e institutos de pesquisa, em torno de uma pesquisa genômica de espécies de

eucalipto em caráter pré-competitivo.

O projeto Genolyptus (Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalyptus),

lançado oficialmente em 2002, baseia-se em uma parceria entre o governo federal, o setor

acadêmico e de pesquisa representado por sete Universidades e três centros da Embrapa e o

setor privado com 14 empresas florestais, sendo 13 brasileiras e uma empresa portuguesa. Seu

objetivo foi o de dar um enfoque mais agressivo às pesquisas no setor e fazer com que as

empresas do ramo, operando no Brasil, saíssem com vantagens em relação a seus

concorrentes. No que segue, o projeto Genolyptus será apresentado em maiores detalhes,

dando ênfase à participação, às intenções, aos resultados e às expectativas futuras da Aracruz

Celulose.

3.3. A Rede Genolyptus

O projeto Genolyptus consistiu na formação de uma rede de pesquisa pré-competitiva,

unindo os setores público e privado em torno da geração de informações genômicas de

alguma relevância econômica sobre o eucalipto. A rede uniu principalmente as mais

importantes empresas do setor de papel e celulose a universidades e centros de pesquisa com

reconhecidas competências na área, em caráter pré-competitivo. Pré-competitivo, na medida

em que visava o abastecimento das organizações envolvidas com uma ampla quantidade de

informações genômicas sobre o eucalipto, para embasar as posteriores pesquisas de

melhoramento desenvolvidas pelas próprias empresas.

Para a Aracruz, a participação no projeto fazia parte de sua estratégia de aprendizado

através da interação com outros atores do setor, learning-by-interacting. Mesmo já

desenvolvendo pesquisas nas áreas de biotecnologia, melhoramento e transformação de genes,

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sua participação no projeto genolyptus foi extremamente importante. Além do acesso a

relevantes conhecimentos externos, o que também justifica a inserção da empresa no projeto,

é que seria pouco provável que a empresa pudesse sustentar uma iniciativa de pesquisa do

porte do projeto Genolyptus, sem que houvesse a participação ativa das universidades, centros

de pesquisa e o forte aporte de recursos por parte do Ministério de Ciência e Tecnologia. Isso,

porque muitas das tecnologias atualmente utilizadas no seqüenciamento de genes de eucalipto

– dadas as suas particularidades – foram sendo desenvolvidas à medida que o projeto ia

avançando (MISSIAGGIA, 2009).

Além disso, o projeto Genolyptus representou uma iniciativa pioneira na formação no

desenvolvimento de pesquisas em torno do eucalipto e sua amplitude permitiu às empresas

aumentos importantes em suas bases de conhecimento. O pioneirismo refere-se à estratégia

utilizada para a geração de informações genômicas para o eucalipto. Enquanto a maioria dos

projetos genoma da época valia-se basicamente do seqüenciamento em laboratório – forte

utilização de bioinformática – o Genolyptus partiu de uma base de dados de um amplo

experimento de campo espalhado por cinco regiões em todo o Brasil, possibilitando a

identificação dos resultados gerados nas interações entre a expressão de genes e o ambiente

em que estão inseridas (MISSIAGGIA, 2009), o que constitui outra evidência na necessidade

de um esforço conjunto na operacionalização da pesquisa e da importância do projeto para a

evolução do entendimento das interações entre as características do eucalipto com as

condições presentes nos ambientes que os cercam.

3.3.1. Objetivos17

O objetivo central da rede era descobrir, seqüenciar, mapear e determinar a função de

genes de importância econômica de espécies de eucalipto, para a posterior incorporação de

tais tecnologias genéticas nos programas de melhoramento e produção florestal com ênfase no

processo de formação da madeira.

Sob uma perspectiva operacional, o objetivo era proporcionar aos participantes acesso

a metodologias, conhecimentos e informações científicas com potencial de incorporação aos

seus respectivos programas de melhoramento, procedimentos de seleção de árvores para

características físico-químicas da madeira e de resistência a doenças específicas. Buscava

17 Informações contidas no anteprojeto da rede. Citadas por Milagres e Silveira (2008a,b)

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ainda instalar uma rede experimental de campo se estendendo por todo o território nacional,

para avaliação continuada de características da madeira em diferentes condições ambientais, e

a capacitação tecnológica dos participantes da rede.

Antes que um projeto de inovação, o Genolyptus foi marcado por seu caráter científico

e pela sua contribuição ao incremento da base de conhecimentos das empresas e para a

melhoria das técnicas e metodologias dessas. Para a Aracruz, o acesso a tais tecnologias,

conhecimentos, informações e metodologias era o objetivo principal. Como afirmado por

Alexandre Missiaggia, o que atraiu a empresa à participação no projeto foi a possibilidade de

acesso a um considerável volume de informações, que vem servindo de base para as pesquisas

desenvolvidas no CPT e como ferramentas para seleção de clones superiores e melhor

adaptados às características de solo, clima, etc. de cada região, de forma mais eficiente

(MISSIAGGIA, 2009).

3.3.2. Criação da Rede

A hipótese de instalação de uma rede de pesquisa em torno de genética genômica e

melhoramento florestal de eucalipto já vinha sendo discutida desde a década de 1990. Em

2000, a idéia foi novamente colocada em um fórum técnico do setor, e a partir de então se

estabeleceu o compromisso de elaborar um projeto para possível submissão ao Ministério de

Ciência e Tecnologia (MCT). Uma iniciativa de tais proporções se fazia necessária para dar à

indústria de papel de celulose brasileira um posicionamento estratégico mais agressivo que

fizesse frente às iniciativas crescentes em pesquisas genômicas de outras espécies florestais

(ex. Pinus e Populus) em outros países (XAVIER, 2002).

De acordo com Grattapaglia (2001, p.4), “todas as empresas florestais, operando no

Brasil, foram convidadas a participar deste esforço conjunto” sendo a configuração final do

projeto GENOLYPTUS fechada via adesão até a data limite de 22 de março de 2001 e o

projeto final da rede aprovado em outubro de 2001.

Os custos foram orçados em aproximadamente oito milhões de reais. Porém, ficaram

fora desta conta aqueles incorridos com a utilização da infra-estrutura das universidades e

centros de pesquisa, assim como os dispêndios relacionados à dedicação dos pesquisadores

das mesmas instituições. Se essas fossem incluídas no montante, o orçamento do projeto

superaria os 11 milhões de reais.

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Os aportes de recursos dos integrantes de projeto não foram simétricos, sendo que a

contribuição mais significativa ficou a cargo do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). A

cargo das empresas ficou o aporte de cerca de 1,5 milhões de reais, correspondendo a

aproximadamente 19% do montante. Além disso, coube a elas a execução, manutenção e

avaliação de uma ampla rede experimental de campo, com um custo estimado de 727 mil

reais, aproximadamente 9% do orçamento. No total, a participação das empresas no projeto

Genolyptus representou cerca de 30% de todo o orçamento.

O complemento dos recursos aportados pelas empresas foi integrado pelo setor

público. Os recursos incorporados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia chegaram a 5,8

milhões de reais. Adicionado a isso há a participação de 3,8 milhões, referentes aos gastos

com a utilização da infra-estrutura e quadro de pesquisadores das instituições de ensino e

pesquisa, complementando a participação pública no projeto.

Assim, característica marcante do projeto é a significante participação do Estado, cuja

importância foi ressaltada por Edquist (ver capítulo anterior), de universidades e centros de

pesquisa, sem o apoio dos quais o mesmo não poderia ser realizado. Através dos recursos

disponibilizados pelo MCT, o governo foi importante determinante da geração de

conhecimentos e da futura inserção de inovações dentro do sistema setorial de inovação de

papel e celulose, bem como foram as universidades e os institutos de pesquisa, através do

compartilhamento de suas infra-estrutura e base de conhecimento.

3.3.3. Estrutura e organização

Como dito anteriormente, todas as empresas do setor de papel e celulose operando no

Brasil foram convidadas a ingressar no projeto. Onze empresas, sete universidades e três

centros de pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além da

Fundação Artur Bernardes (FUNARBE), aderiram ao termo de compromisso assinado em 16

de abril de 2002. Posteriormente, a configuração inicial foi alterada com o ingresso de mais

duas empresas, a RAIZ – Portucel Soorcel em 2002 e a VALOUREC & MANNESMAN do

Brasil (V&M) em 2004, e com aquisição da Bahia Sul Celulose pela Suzano e a incorporação

da CELMAR pela CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), passando a primeira a fazer parte

da Ferro Gusa Carajás (ver Figura 1).

Em adição, o projeto contou com a participação de cerca de 20 pesquisadores

doutores, dos quais 8 coordenadores e 12 colaboradores, além de no mínimo 11 pesquisadores

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das empresas com tempo de dedicação ao projeto variando entre cinco e cinqüenta por cento

da jornada de trabalho e mais de 60 pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação

em todo o país (GRATTAPAGLIA, 2001, p.4).

Figura 1. Organizações integrantes da Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalipto

Fonte: Elaboração própria Dados: Termo de Compromisso do projeto Genolyptus; Grattapaglia (2001; 2008) Todas as organizações acima listadas fazem parte de uma estrutura organizacional

voltada especificamente para o gerenciamento das atividades do projeto Genolyptus. Em

adição a elas, a estrutura administrativa do projeto contou com um Conselho deliberativo, um

Comitê técnico e uma coordenação geral, além de uma coordenação para cada subprojeto e da

participação da FUNARBE, responsável pela gestão contábil-financeira do projeto.

Como discutido no capítulo anterior, além da aceleração da taxa de mudanças, do

aumento da capacidade e da velocidade de tratamento de informações, etc. o atual paradigma

das tecnologias de informação e comunicação exige que novas formas de organização sejam

elaboradas. O modelo de organização utilizado no projeto (ver Figura 2), com a adoção de

uma estrutura administrativa própria e sua realização em caráter pré-competitivo, permitiu

que conhecimentos e processos de aprendizado pudessem ser compartilhados de forma a

evitar possíveis conflitos e pode servir como inspiração para novas iniciativas de esforço

conjunto de empresas e articulação de sistemas de inovação.

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Figura 2. Organização administrativa do projeto

Fonte: Elaboração própria Dados: GRATTAPAGLIA (2001)

Em termos práticos/operacionais, o trabalho foi conduzido por empresas e executoras

(Universidades e Centros de Pesquisa) de forma independente. O projeto foi dividido em 9

(nove) diferentes subprojetos, cada um a cargo das respectivas executoras e empresas e

contando com um sub coordenador, sob a coordenação geral do Dr. Dário Grattapaglia. De

acordo com Grattapaglia (2001, p.9-11) o projeto foi dividido da seguinte forma:

1. Instalação e avaliação continuada de uma rede experimental de campo. Este foi o maior e mais completo experimento florestal conduzido no mundo para fins de investigação genômica. Nos moldes do que permitiu os grandes avanços na pesquisa genômica em humanos com as famílias referência do CEPH (Centre d’Etudes du Polymorphisme Humain), esta rede experimental constituiu um recurso de valor inestimável para o avanço científico e tecnológico na genética do Eucalyptus e representará a espinha dorsal do projeto de determinação de função dos genes seqüenciados e mapeados nas demais ações; 2. Internalização de tecnologias de alto desempenho para a avaliação de qualidade da madeira. Com um trabalho amplo de calibração envolvendo

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amostras de madeira de todas as empresas participantes, será internalizada no Brasil a tecnologia de mensuração de várias características físicas e químicas da madeira com base em espectroscopia do infra-vermelho próximo. Esta tecnologia permitirá acelerar enormemente as avaliações fenotípicas da madeira e com isso viabilizar a determinação funcional do genoma para as características chave nos processos industriais; 3. Base genética e identificação de genes que conferem resistência a doenças em “Eucalyptus”. Serão determinados os modelos de herança à ferrugem, ao cancro, à murcha-de-ceratocistis e à mancha foliar de origem bacteriana em “Eucalyptus”. Para estas doenças serão mapeadas regiões genômicas (QTLs) e/ou genes que conferem resistência a estas doenças. No âmbito deste subprojeto será iniciado o desenvolvimento de um protocolo de transformação genética e regeneração de “Eucalyptus” como uma ferramenta experimental para caracterização gênica. 4. Construção de mapas genéticos e mapeamento de QTLs (locos controladores de características quantitativas). Mapas de ligação serão construídos com marcadores microsatélites visando a identificação de regiões genômicas (QTLs Quantitative Trait Loci) controlando características físico-químicas da madeira, resistência a doenças e características de crescimento volumétrico em campo. Os QTLS localizados nos mapas serão as pistas (“leads”) para a identificação dos genes importantes na definição final dos fenótipos de interesse industrial; 5. Construção de mapas físicos localizados no genoma de Eucalyptus. Todo o genoma do eucalipto será clonado e mantido na forma de uma biblioteca genômica de fragmentos longos (BAC Bacterial Artificial Chromosomes). Inicialmente, para a geração de um “scaffold” preliminar os clones de BAC serão ancorados no mapa genético via PCR com os marcadores microsatélites. Em regiões genômicas relevantes e devidamente validadas, detectadas via mapeamento de QTLs, se buscará a ampliação dos contíguos de BACs pelo ordenamento via fingerprinting fluorescente e sequenciamento de pontas de BACs de forma a fechar contíguos que cubram o intervalo em centiMorgans no qual o QTL está posicionado. Mapas físicos completos poderão ser construídos para cromossomos específicos que contiverem uma forte concentração de genes de interesse. A técnica de FISH (Fluorescence in Situ Hybridization) com os BACs como sondas deverá ser utilizada. Pretende-se com isto iniciar o desenvolvimento de um mapa físico completo, o que representará um recurso genômico fundamental para investigações detalhadas de regulação gênica, identificação de promotores, clonagem de genes baseada em mapeamento e futuramente para o sequenciamento completo do genoma estrutural de Eucalyptus. Uma vez que o desenvolvimento de um mapa físico completo constitui uma tarefa de grande envergadura, e considerando que os poucos mapas físicos construídos no mundo foram feitos tipicamente em colaborações multilaterais entre países, colaborações com outras instituições fora do Brasil serão buscadas para este empreendimento. 6. Sequenciamento do transcriptoma de Eucalyptus. Um trabalho massivo e sistemático de sequenciamento de 200.000 leituras (“reads”) a partir de diversas bibliotecas de cDNA, algumas delas normalizadas, buscará a identificação de todos os estimados 25 a 30 mil genes do eucalipto com ênfase especial em genes envolvidos na formação da madeira e genes envolvidos em resistência a doenças fúngicas. Trata-se, portanto, de uma

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abordagem de sequenciamento do genoma funcional com base em sequenciamento de EST (expressed sequence tags). Com base nas informações derivadas das anotações dos ESTs e dos resultados dos experirnentos de expressão em microarrays, espera-se identificar um conjunto de 100 ou mais genes prioritários para investigações detalhadas. Estes 100 ou mais genes serão mapeados fisicamente nos BACs e por recombinação no mapa genético gerando assim informação transcricional que poderá ser integrada e comparada com a localização de QTLs validados. 7. Análise de expressão gênica em microarranjos (microarrays). Experimentos piloto serão conduzidos com hibridização em microarranjos de DNA para entender a expressão diferencial de genes candidatos a funções importantes para o melhoramento do eucalipto em diferentes tecidos e principalmente no mesmo tecido entre indivíduos fenotipicamente contrastantes como, por exemplo, árvores de alta/baixa densidade ou alto/baixo rendimento em celulose. Estratégias de microarranjos temáticos e cegos (blind arrays) serão utilizados e genes com perfis de expressão diferencial interessantes serão selecionados para investigações mais detalhadas. 8. Bioinformática para a análise, integração e disponibilização de dados genômicos. Serão desenvolvidos diversos componentes de software para gerenciamento e análise de dados de mapeamento genético, integração com mapas físicos, com o banco de dados de seqüências e com os dados dos experimentos de campo. Serão ainda desenvolvidos softwares inovadores para a implementação de seleção assistida por marcadores nos programas operacionais de melhoramento genético das empresas participantes. 9. Genética estatística e métodos quantitativos18

Dos nove subprojetos integrantes da rede, somente o subprojeto 1 (um) se deteve sob a

responsabilidade das 14 (quatorze) empresas participantes, que se revezaram em mandatos de

12 (doze) meses na condução do projeto. Os subprojetos restantes foram conduzidos pelas

universidades e centros de pesquisa, contando, a maioria deles, com uma coordenação

compartilhada visando a geração de um sistema de backup.

A cargo da Aracruz, ficou a referida cessão de material genético e a instalação e

avaliação continuada de uma rede experimental de campo com cruzamento e plantio de

clones. Segundo Missiaggia (2009), o trabalho de monitoramento e avaliação dos

experimentos seguiu basicamente de forma independente. Porém, em suas atividades, a

empresa manteve suas mais importantes interações com a Embrapa (CENARGEN), a

Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a

18 O subprojeto 9 (nove) não consta na relação de subprojetos contidos na proposta submetida ao Ministério de Ciência e Tecnologia, mas foi incluído na análise na tese de Doutorado da professora Rosiléia Milagres (2008) da Fundação Dom Cabral (FDC).

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), colocando problemas a serem atacados

pelas universidades e centros de pesquisa.

Em se tratando dos órgãos de coordenação, o principal contato foi com a FUNARBE –

responsável pela administração contábil-financeira do projeto – para solução de questões de

liberação de verba, solicitação de pagamentos aos pesquisadores e bolsistas, etc.

(MISSIAGGIA, 2009).

Figura 3. Principais interações da Aracruz no projeto Genolyptus.

Fonte: Elaboração Própria Informações: Alexandre Missiaggia (2009)

3.3.4. Resultados

O projeto produziu resultados de interesse, tanto para empresas, quanto para

universidades e institutos de pesquisa, além da qualificação de vários profissionais. De maior

relevância para a incorporação por parte das empresas foram aqueles resultados que

permitiram um maior entendimento das características das árvores e suas interações com o

meio ambiente, a saber, conforme exposto por Grattapaglia, (2009):

(i) Geração e implementação de tecnologias otimizadas de certificação de

identidade e parentesco de árvores elite com base na análise de DNA;

(ii) Geração e implementação de tecnologias para estudo de expressão gênica em

paralelo de milhares de genes em Eucalyptus; e

UFV

Aracruz

Celulose UFG

UFRGSG

CENARGEN

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(iii) Geração de bases de dados, mapas genéticos e demais ferramentas genômicas,

hoje em utilização por várias das empresas participantes do projeto.

Ainda foram gerados vários resultados em termos de publicação de artigos, capítulos

de livros e apresentações em congressos nacionais e internacionais; defesas de tese em nível

de mestrado e doutorado, publicação de resumos e treinamento de bolsistas em diferentes

níveis, dos quais vários foram incorporados por empresas, universidades ou pela Embrapa

(GRATTAPAGLIA, 2009). Em adição, segundo Alexandre Missiaggia (2009), o projeto

gerou maior aproximação entre os pesquisadores do setor e melhoria nos relacionamentos

entre os mesmos.

Para a Aracruz, o principal resultado alcançado foi um aumento da capacidade de

pesquisa no CPT, atendendo às expectativas iniciais de geração de um amplo banco de dados

que vem servindo de base para as atuais iniciativas de pesquisa no melhoramento florestal

(MISSIAGGIA, 2009). Das informações geradas, aquelas que atualmente se incorporam aos

processos da empresa, são as referentes às interações entre as características dos genes das

árvores (genótipo) e as condições ambientais, das quais resultará a composição física das

árvores (fenótipo). Essas informações auxiliam os atuais processos de seleção e tratamento

das mudas (clones) (ibid.).

Além disso, as informações geradas apontam para possíveis incrementos de

rendimento e produtividade das florestas. Os resultados gerados já permitiram a realização de

testes com plantas geneticamente modificadas. Segundo Alexandre Missiaggia (2009) os

resultados dos experimentos se mostraram animadores. Potencialmente, os mesmos podem

gerar novos ganhos de produtividade, possibilitando futuros incrementos das vantagens já

possuídas pela Aracruz e demais empresas brasileiras do setor.

Todavia, a Aracruz Celulose não somente se aproveitou das informações geradas no

projeto Genolyptus, mas contribuiu ativamente para a produção de conhecimentos. Segundo

Acelino Couto Alfenas19 (2010), ela forneceu importante contribuição, tanto na forma de

liberação de recursos, quanto na geração de materiais genéticos empregados na pesquisa e na

avaliação da resistência a doenças e outras características da madeira. Ainda, para Georgios

Pappas20 (2010), o intercâmbio com a empresa foi fundamental principalmente pela a indução

19 Professor e Pesquisador da Universidade Federal de Viçosa 20 Pesquisador da EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN) e professor da Universidade Católica de Brasília

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de problemas que eram então atacados pela equipe de pesquisa. Segundo Pappas (id.), a

Aracruz definitivamente colaborou para a geração de conhecimentos e dentre todas as

participantes do projeto foi a que mostrou maior comprometimento, qualificação técnica e

percepção da importância da pesquisa para o desenvolvimento da empresa.

O professor (ibid.) destaca ainda a importância das interações empresa-academia. Para

ele, estas interações são relevantes na medida em que expõem os pesquisadores a uma

mentalidade diferente da corrente nas Universidades e permite que a visão da empresa balize

o trabalho de pesquisa, no caso da UCB, o desenvolvimento de softwares para o projeto.

Em resumo, o que se pretendeu até o presente capítulo foi fazer uma avaliação do

sistema de inovação do setor de papel e celulose brasileiro e verificar como se dá a inserção

da Aracruz Celulose neste sistema e como a empresa contribui para a evolução do mesmo. A

pretensão foi entender como os elementos da abordagem dos sistemas de inovação atuam no

setor de celulose e papel e fazem evoluir suas tecnologias. Evidência do impacto de tais

elementos foi perquirida na evolução do setor de celulose e papel, da Aracruz Celulose e na

participação dessa no projeto genolyptus.

Da presente avaliação, destaca-se a centralidade dos fundamentos dos sistemas de

inovação (conhecimento, aprendizado e interações) e a importante participação do Estado no

desenvolvimento industrial e da inovação no setor. Conhecimentos são as bases sobre as quais

as vantagens competitivas são construídas. Os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento

(P&D) permitem às empresas o alcance de conhecimentos e a incorporação desses nos

processos industriais e florestais.

De forma similar, há ênfase na constância dos processos de aprendizado e na inserção

de melhorias incrementais garantindo aumentos de produtividade às atividades industriais e

florestais. Em termos gerais, os processos de aprendizado são alcançados por meio da

experiência reunida na realização cotidiana da produção e da pesquisa, no uso repetido de

máquinas e equipamentos e nas interações com outros atores do sistema setorial. A este

respeito, há importantes ligações entre empresas, universidades e institutos de pesquisa que

permitem ao setor a permanência na vanguarda tecnológica em atividades florestais. Exemplo

disso é o caso do projeto genolyptus analisado no presente trabalho.

As evidências aqui encontradas apontam a grande importância dos sistemas de

inovação na evolução das empresas e do próprio setor, para o relevante papel da articulação

dos elementos dos sistemas setoriais de inovação no que diz respeito à manutenção da

competitividade das empresas e para a evolução de suas bases de conhecimento. Articulação e

evolução evidenciadas na união de empresas, universidades, institutos de pesquisa e o Estado

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em torno de um projeto de pesquisa básica para a geração de informações genômicas sobre o

eucalipto, o projeto genolyptus.

4. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

O caso da evolução das atividades da Aracruz Celulose, culminando com sua

participação no Projeto Genolyptus, apresenta importantes elementos dos sistemas setoriais de

inovação, que se acredita estarem na base do alcance de vantagens competitivas pela empresa.

Das discussões dos capítulos anteriores, a presente dissertação ressalta o importante papel

desempenhado pelo Estado e a importância da base de conhecimento acumulada, dos

processos de aprendizado e dos relacionamentos/interações entre diferentes atores do sistema

no desenvolvimento de inovações.

Pelo que foi colocado até aqui, verifica-se que a posição de liderança da Aracruz

Celulose no mercado mundial está fundamentada na iteração dos processos de aprendizado

que permitem a constante evolução de sua base de conhecimentos. O aprendizado contínuo e

a constante produção de conhecimentos fizeram com que a empresa alcançasse a vanguarda

tecnológica no que se refere a florestas de eucalipto. Dessa forma, conhecimento e

aprendizado são elementos dos sistemas setoriais de inovação que mostraram-se de grande

importância para o desenvolvimento da Aracruz.

Desde a implantação de suas primeiras unidades fabris, o foco em aprendizado e

produção de conhecimentos permitiu a gradual ampliação de suas bases de conhecimento e

competências. Na área industrial, um grupo específico de funcionários dedicados à cópia de

componentes, partes e acessórios de equipamentos propiciou à empresa um amplo

entendimento de máquinas e tecnologias adquiridas que permitiram a modernização das

fábricas e ampliações de capacidade produtiva.

Na área florestal, a inserção incremental de melhorias nas técnicas das operações

florestais, amplamente derivadas dos conhecimentos produzidos nas pesquisas de seleção e

cruzamento de clones superiores, permitiu a ampliação da base de conhecimento sob o

domínio da empresa e que a mesma chegasse a florestas mais produtivas, homogêneas e

resistentes a doenças.

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Em mais ou menos quarenta anos, as pesquisas florestais da Aracruz Celulose geraram

resultados que se unem às vantagens comparativas já possuídas pelas empresas brasileiras na

colocação da empresa como líder mundial em celulose de mercado. Por exemplo, a empresa

(i) duplicou a produtividade média da madeira de 20 para 40 m³/há/ano; (ii) reduziu a idade

média de corte das árvores de 7,5 para 6 anos; e (iii) reduziu o tempo de produção de clones

aptos para plantio de 23 para 10 anos.

Mais recentemente, a inserção no projeto Genolyptus representou um esforço em

desenvolvimento de conhecimento que permitirá à empresa ainda maiores ganhos de

competitividade. O projeto permitiu o abastecimento do centro de pesquisa da Aracruz com

uma ampla quantidade de informações genômicas sobre o eucalipto para embasar as

posteriores pesquisas de melhoramento desenvolvidas pela empresa.

De acordo com Alexandre Missiaggia (2009), o acesso a um amplo volume de

conhecimento vem fazendo com que a Aracruz incorpore a seus processos os conhecimentos

gerados no Genolyptus, principalmente aqueles relacionados à interação entre as

características dos genes das árvores (genótipo) e as condições ambientais, da qual resultará a

composição física das árvores (fenótipo). Ainda segundo o pesquisador (loc.cit.), para a

Aracruz o principal resultado alcançado no projeto foi um aumento da capacidade de pesquisa

no CPT, atendendo às expectativas iniciais de geração de um amplo banco de dados que vem

servido de base para as atuais iniciativas de pesquisa em melhoramento florestal.

Este aumento de capacidade de pesquisa significa uma ampliação da base de

conhecimento atualmente dominada pela empresa, e sobre a qual a Aracruz poderá construir

novos conhecimentos e inserir inovações. Exemplo disso são os testes já realizados com

plantas geneticamente modificadas, que mostraram potencial para gerar novos ganhos de

produtividade possibilitando futuros incrementos das vantagens já possuídas pela Aracruz e

demais empresas brasileiras do setor.

Em resumo, conhecimento e aprendizado significam maiores possibilidades de

inserção de inovações e alcance de vantagens competitivas. No caso da Aracruz Celulose, a

constância dos processos de aprendizado permite à empresa a construção de novo

conhecimento sobre aquele já dominado e a coloca em posição de liderança mundial na

produção de celulose de mercado.

O sucesso na evolução das bases de conhecimento da Aracruz Celulose está

amplamente relacionado ao modelo dos processos de aprendizado dominante na empresa.

Neste modelo, a empresa mantém constantes relacionamentos e interações formais e

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informais, com empresas, universidades e centros de pesquisa nacionais e internacionais,

públicos e privados, que lhe permite o acesso a bases de conhecimentos externas a ela.

Inicialmente, os relacionamentos/interações da empresa com fornecedores de

tecnologia permitiram o acesso e o domínio de um conjunto mais amplo de conhecimentos

sobre os processos de fabricação da celulose. Além da maior base de conhecimento sobre os

processos industriais, os relacionamentos com outros atores do sistema setorial, a exemplo de

universidades e centros de pesquisa, levaram a Aracruz também à ampliação dos

conhecimentos em tecnologias florestais, em específico às relacionadas a plantações de

eucalipto.

O caso do projeto genolyptus representa um esforço conjunto formal para o

desenvolvimento de pesquisas em torno do eucalipto, que fez com que as empresas,

universidades e institutos de pesquisa compartilhassem, além dos custos financeiros para a

realização do projeto, suas bases de conhecimento, no caso das empresas representadas por

seus bancos genéticos e pelas competências reunidas por seus departamentos de pesquisa.

Os esforços conjuntos de pesquisa representam para a Aracruz Celulose uma

ampliação de seu entendimento sobre suas plantações de eucalipto, na medida em que

conseguem identificar resultados das interações entre as características genéticas de espécies

de plantas diversas e os igualmente diversos ambientes que as cercam. Além disso, um mais

amplo entendimento das características da madeira e a constante interação com clientes

permitem uma maior adequação da celulose produzida às necessidades e particularidades de

cada cliente.

O acesso a conhecimento externo, propiciado por tais esforços conjuntos no

desenvolvimento de pesquisas, permite o alcance de vantagens competitivas traduzidas na

maior produtividade das florestas, maior qualidade da madeira e na redução do tempo de

maturação das árvores. Esses conferem à empresa significativas vantagens de custos

produtivos em relação a seus concorrentes.

Tem-se que a combinação destes importantes elementos dos sistemas setoriais de

inovação (conhecimento, aprendizado, interações e relacionamentos) amplia as possibilidades

de geração de inovações, quando coloca em contato importantes atores dos sistemas setoriais

de inovação como empresas, universidades, institutos de pesquisa e o Estado.

O projeto Genolyptus representa uma importante articulação entre os elementos dos

SSI, permitindo a ampliação das bases de conhecimento de empresas, universidades e

instituições de pesquisa integrantes e fornecendo fundamentos para que as futuras atividades

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internas de pesquisa das empresas possam ampliar suas vantagens possuídas e dar a elas

posição competitiva privilegiada.

No caso específico da Aracruz Celulose, a inserção no sistema de inovação do setor de

papel e celulose está na base de sua posição de liderança mundial na produção de celulose de

mercado. As constantes atividades conjuntas com universidades, institutos de pesquisa

nacionais e estrangeiros e com concorrentes garantem que a empresa tenha acesso ao

conhecimento gerado em outras organizações e disponibilize a base de conhecimento gerada

em suas atividades internas de pesquisa e produção às demais organizações. Isso implica que

a empresa se insere como um agente ativo no desenvolvimento de conhecimentos e inovações

no setor de celulose e papel, não somente absorvendo conhecimentos externos.

Além da produção de conhecimentos, da constância de seus processos de aprendizado

e das interações entre os diversos atores do SSI, outro elemento dos sistemas setoriais que é

amplamente responsável pelo desenvolvimento, tanto do setor de celulose e papel como um

todo, quanto da Aracruz Celulose, é o Estado como bem ressaltado por Charles Edquist.

A importância da participação do Estado no desenvolvimento dos sistemas de

inovação se vê aumentada quando o interesse está em uma análise que privilegie a criação de

sistema em vez de somente a verificação de seus autônomos desenvolvimento, funcionamento

e evolução. É interessante destacar que para países, setores, ou regiões empenhados em

estratégias de recuperação de atraso, a participação do Estado é primordial enquanto

articulador institucional. Nesse caso, cabe ao Estado a adequação de limites e incentivos que

privilegiem o desenvolvimento de determinado setor, região, indústria, etc.

Conforme visto, no caso do setor de papel e celulose brasileiro, as políticas públicas

tiveram forte impacto desde o início do processo de substituição de importações. Os

incentivos à implantação de maciços florestais e à auto-suficiência na produção de celulose

dados durante as décadas de cinqüenta e sessenta permitiram que o setor se desenvolvesse.

Posteriormente, na década de setenta, programas específicos de estímulo ao setor permitiram

alcance da auto-suficiência e a geração de excedentes exportáveis.

É neste contexto que o Estado exerce importante impacto nas instalação e ampliação

das atividades da Aracruz Celulose, sendo a primeira unidade produtiva dedicada à fabricação

de celulose de mercado. A empresa ainda se beneficia do segundo Programa Nacional de

Papel e Celulose (II PNPC), que contemplou incentivos que viabilizaram a duplicação de sua

capacidade produtiva.

A importância do Estado, mais especificamente no estímulo às atividades de inovação

e na articulação do sistema de inovação do setor de celulose e papel, é evidenciada na

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relativamente recente criação de um projeto de pesquisa genômica do eucalipto. Através do

Ministério de Ciência e Tecnologia, o Estado teve relevante participação no desenvolvimento

de conhecimentos dentro do setor de papel e celulose, fornecendo recursos financeiros à

realização das pesquisas que superaram os cinco milhões de reais.

O projeto Genolyptus permitiu a ampliação dos conhecimentos de empresas,

universidades e institutos de pesquisa atuando no setor, sendo que tais conhecimentos têm

grande potencial para propiciar posteriores incrementos de qualidade e produtividades às

empresas do setor de papel e celulose.

Assim, a evolução da Aracruz Celulose, bem como do setor como um todo, foi

amplamente alavancada pelas ações do Estado. Além dos incentivos à industrialização que

permitiram sua instalação, o Estado atua como um importante elemento do sistema setorial de

inovação, dando apoio ao desenvolvimento e à ampliação das bases de conhecimento

setoriais, permitindo que as empresas, universidade e institutos de pesquisa, atuando no setor,

consigam desenvolver novas tecnologias e inserir inovações. Desta forma, o setor público

exerceu papel preponderante no desenvolvimento dos conhecimentos, que fazem hoje da

Aracruz Celulose uma líder mundial na produção de celulose de mercado.

A contribuição desta dissertação vai justamente no sentido de ressaltar a importância

da articulação dos elementos dos sistemas setoriais de inovação para o desenvolvimento e

alcance de vantagens competitivas pelas empresas atuando no setor de papel e celulose. A

partir do objetivo inicial de verificar a forma com que os elementos dos sistemas de inovação

atuaram na formação e no funcionamento do projeto Genolyptus, como influenciaram a

evolução do setor e de que modo a Aracruz participa deste sistema, identificou-se o papel

chave desempenhado pelos seguintes elementos:

(i) O Estado enquanto incentivador e financiador dos sistemas de inovação;

(ii) Os processos de aprendizado e a produção de conhecimento como importantes

fontes do desenvolvimento de capacidades e do alcance de vantagens

competitivas;

(iii) As interações, vistas como processos através dos quais novo conhecimento é

produzido e aprendido, e relacionamentos entendidos como meios de

condução/compartilhamento de conhecimento.

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A conjugação destes importantes elementos permitiu que o projeto obtivesse êxito em

proporcionar aos participantes acesso a metodologias, conhecimentos e informações

científicas, com potencial de incorporação aos seus respectivos programas de melhoramento,

procedimentos de seleção de árvores. O compartilhamento dos conhecimentos de empresas,

universidades e institutos de pesquisa ampliaram as possibilidades de aprendizado e produção

de novo conhecimento, na medida em que forneceram um rico banco de dados com

informações de diferentes regiões, espécies e clones de eucalipto. Este banco de dados

possibilitou a realização do objetivo do projeto – descobrir, seqüenciar, mapear e determinar a

função de genes de importância econômica de espécies de eucalipto.

Da análise aqui realizada, decorre que a ampliação da base de conhecimento do setor

como um todo foi possibilitada pela interação entre diferentes atores e apoiada em

importantes fundamentos dos sistemas setoriais de inovação. Não foram abordadas aqui

questões referentes às relações dos sistemas setoriais com outras perspectivas de análise dos

SI. Segue-se que pesquisas adicionais são necessárias para o um maior entendimento da

interação entre diferentes níveis dos sistemas de inovação e seu impacto sobre o

desenvolvimento de empresas, locais, regiões, setores, nações, etc. Por exemplo, para que

sejam entendidos os determinantes da inovação nos setores, as relações dos sistemas setoriais

com sistemas nacionais, regionais, locais e empresariais de inovação devem ser

compreendidas.

Ou seja, as formas como conhecimentos são produzidos, processos de aprendizado são

conduzidos, interações são realizadas, quais as instituições que governam tais ações e relações

em diferentes níveis de análise e os inter-relacionamentos entre tais diferentes níveis são de

fundamental interesse para o entendimento mais abrangente dos determinantes da inovação

nos sistemas setoriais.

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