O Sistema de Reabilitação e as Trajectórias de Vida das Pessoas com Deficiências e Incapacidades em Portugal
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1. Ficha Tcnica Ttulo O Sistema de Reabilitao e as Trajectrias
de Vida das Pessoas com Decincias e Incapacidades em Portugal
Realizado no mbito do Estudo Modelizao das Polticas e das Prticas
de Incluso Social das Pessoas com Decincias em Portugal, decorrido
entre Outubro de 2005 e Dezembro de 2007, com o apoio do Programa
Operacional de Assistncia Tcnica ao QCA III eixo FSE. Entidade
Promotora: CRPG Centro de Reabilitao Prossional de Gaia Parceria:
ISCTE Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa
Autoria CRPG Centro de Reabilitao Prossional de Gaia ISCTE
Instituto Superior de Cincias do Trabalho e da Empresa Equipa
Tcnica Jernimo Sousa (coordenador geral) Jos Lus Casanova
(coordenador) Paulo Pedroso (coordenador) Andreia Mota Antnio
Teixeira Gomes Filipa Seiceira Srgio Fabela Tatiana Alves
Consultoria Donal McAnaney Jan Spooren Lus Capucha Patrcia vila
Outras Colaboraes Madalena Moura Maria Arajo Pedro Estvo Srgio
Estevinha Edio CRPG Centro de Reabilitao Prossional de Gaia Local e
Data Vila Nova de Gaia 2007 Design Godesign, Lda ISBN
978-972-98266-8-9 CRPG Centro de Reabilitao Prossional de Gaia,
2007 Av. Joo Paulo II 4410-406 Arcozelo VNG www.crpg.pt
[email protected] T. 227 537 700 F. 227 629 065 Reservados todos os
direitos. Reproduo autorizada.
2. ndice Introduo 13 1. Apoios e servios do sistema de
reabilitao 19 Apoios e servios na educao 28 Apoios e servios no
acesso ao mercado de trabalho 28 Reabilitao mdico-funcional 30
Ajudas tcnicas 34 Outros tipos de apoios e servios do sistema de
reabilitao 36 Prestaes sociais 37 Satisfao com os apoios e servios
do sistema de reabilitao 40 2. Qualidade de vida 45 Autodeterminao
e desenvolvimento pessoal 47 Educao e formao ao longo da vida 47
Acessibilidades comunicacional e programtica 54 Desenvolvimento
psicolgico e de capacidades sociais 63 Autonomia e resilincia 65
Bem-estar fsico e material 67 Trabalho e emprego 67 Rendimento e
prestaes sociais 76 Cuidados de sade 82 Habitao 88 Mobilidade 90
Direitos e incluso social 93 Desempenho de papis e funes na vida
pblica 93 Integrao em redes sociais 101 Turismo e lazer 103
Discriminao 108 Avaliao global 112 Sntese nal 123 Bibliograa
135
3. Anexos 141 Metodologia 143 Produtos desenvolvidos no mbito
do Estudo Modelizao das Polticas e das Prticas de Incluso Social
das Pessoas com Decincias e Incapacida- des em Portugal 153
Modelizao: um percurso partilhado 155
4. ndice de quadros Quadro 1.1. Apoios e servios do sistema de
reabilitao e sexo 21 Quadro 1.2. Apoios e servios do sistema de
reabilitao e grupos etrios 22 Quadro 1.3. Apoios e servios do
sistema de reabilitao por nvel de ensino 23 Quadro 1.4. Apoios e
servios do sistema de reabilitao e grupo prossional 25 Quadro 1.5.
Apoios e servios do sistema de reabilitao e tipos de limitaes da
actividade 26 Quadro 1.6. Apoios e servios do sistema de reabilitao
e tipos de alteraes nas funes 27 Quadro 1.7. Apoios e servios do
sistema de reabilitao e idade de desenvolvimento/aquisio da
primeira alterao nas funes 29 Quadro 1.2.1. Tipos de apoios e
servios no acesso ao mercado de trabalho 29 Quadro 1.3.1. Aces de
reabilitao mdico-funcional e sexo 30 Quadro 1.3.2. Aces de
reabilitao mdico-funcional e grupos etrios 31 Quadro 1.3.3. Aces de
reabilitao mdico-funcional e tipos de alteraes nas funes 32 Quadro
1.3.4. Nmero de aces de reabilitao mdico-funcional frequentadas 32
Quadro 1.3.5. Tipos de aces de reabilitao mdico-funcional
frequentadas 33 Quadro 1.3.6. Necessidade de receber algum ou mais
algum apoio 33 Quadro 1.3.7. Tipos de apoios identicados como
necessrios 34 Quadro 1.4.1. Tipos de ajudas tcnicas utilizadas 35
Quadro 1.5.1. Tipos de servios/benefcios usufrudos 36 Quadro 1.5.2.
Principal motivo para no usufruir de nenhum tipo de servio/benefcio
ao nvel dos transportes 37 Quadro 1.6.1. Prestaes sociais 38 Quadro
1.7.1. Satisfao com as aces de reabilitao mdico-funcional 40 Quadro
1.7.2. Satisfao com as ajudas tcnicas 41 Quadro 1.7.3. Satisfao com
os Centros de Actividades Ocupacionais 42
5. Quadro 1.7.4. Satisfao com as prestaes sociais 43 Quadro
2.1.1. Saber ler e escrever e idade 48 Quadro 2.1.2. Saber ler e
escrever e limitaes da actividade 48 Quadro 2.1.3. Saber ler e
escrever e alteraes nas funes 49 Quadro 2.1.4. Frequncia de um
estabelecimento de ensino 50 Quadro 2.1.5. Motivo para o abandono
escolar 50 Quadro 2.1.6. Motivo para o abandono escolar e idade 51
Quadro 2.1.7. Motivo para no continuar os estudos aps o 3 ciclo do
ensino bsico 52 Quadro 2.1.8. Motivo para no continuar os estudos
aps o ensino secundrio 53 Quadro 2.1.9. Percepo da necessidade de
aumentar o grau de certicao escolar e idade 53 Quadro 2.1.10.
Percepo da necessidade de certicao escolar nvel de ensino desejado
54 Quadro 2.1.11. Utilizao de computadores por idade (%) 55 Quadro
2.1.12. Utilizao de computadores e alteraes nas funes 57 Quadro
2.1.13. Principal motivo para no utilizar computadores 57 Quadro
2.1.14. Objectivos de utilizao da Internet 58 Quadro 2.1.15.
Frequncia de leitura 59 Quadro 2.1.16. Principal forma de acesso a
informao relacionada com as decincias e incapacidades 59 Quadro
2.1.17. Forma de acesso aos servios e apoios do sistema de
reabilitao 60 Quadro 2.1.18. Forma de acesso ou de conhecimento dos
apoios da proteco social 61 Quadro 2.1.19. Medidas legislativas
para pessoas com decincias e incapacidades (%) 62 Quadro 2.1.20.
Bem-estar fsico e emocional 64 Quadro 2.1.21. Satisfao com a vida
material e nanceira 65 Quadro 2.1.22. Tipos de apoio domicilirio
recebido 66 Quadro 2.1.23. Principal motivo para no ter recebido
apoios no alojamento 66 Quadro 2.1.24. Tipos de apoios no
alojamento 67 Quadro 2.2.1. Taxas de actividade e desemprego (18
aos 64 anos) e tipo de alteraes nas funes 69
6. Quadro 2.2.2. Populao activa e nveis de limitaes da
actividade 69 Quadro 2.2.3. Tipos de contrato de trabalho 70 Quadro
2.2.4. Tipos de horrio de trabalho 70 Quadro 2.2.5. Motivo para no
trabalhar a tempo inteiro 71 Quadro 2.2.6. Local de trabalho 71
Quadro 2.2.7. Tempo de permanncia na actividade prossional 72
Quadro 2.2.8. Promoo nos ltimos 5 anos de trabalho 72 Quadro 2.2.9.
Sada do emprego 73 Quadro 2.2.10. Motivo de sada involuntria do
emprego 73 Quadro 2.2.11. Tempo que se encontra no desemprego 74
Quadro 2.2.12. Principal causa para a permanncia no desemprego 74
Quadro 2.2.13. Diligncias, nos ltimos 30 dias, para encontrar
emprego 76 Quadro 2.2.14. Nmero de situaes de desemprego 77 Quadro
2.2.15. Rendimentos no monetrios obtidos no ltimo ms 77 Quadro
2.2.16. Principal fonte de rendimento 78 Quadro 2.2.17. Prestaes
sociais e tipos de alteraes nas funes 78 Quadro 2.2.18. Rendimento
mdio mensal lquido do agregado domstico 78 Quadro 2.2.19. Nmero de
pessoas que contribuem para o rendimento do agregado domstico 79
Quadro 2.2.20. Rendimento mdio mensal lquido do agregado domstico e
nmero de pessoas que residem no agregado domstico 79 Quadro 2.2.21.
Categorias de despesa em que o agregado gastou mais dinheiro 80
Quadro 2.2.22. Avaliao da capacidade do agregado para fazer face s
despesas 80 Quadro 2.2.23. Transferncias sociais recebidas no
agregado domstico 81 Quadro 2.2.24. Previso da situao material e
nanceira daqui a 2 anos 82 Quadro 2.2.25. Tipos de servio de sade
83 Quadro 2.2.26. Consultas com um mdico especialista 84 Quadro
2.2.27. Frequncia de consulta do mdico especialista 84 Quadro
2.2.28. Principal motivo pelo qual no consulta mdico especialista
84 Quadro 2.2.29. Gastos mensais com medicamentos 85
7. Quadro 2.2.30. Abdicao de bens e servios por no poder
comportar 86 os custos Quadro 2.2.31. Abdicao de bens e servios por
no poder comportar 87 os custos e gasto mensal em medicamentos
Quadro 2.2.32. Abdicao de bens e servios por no poder comportar 87
os custos comparao com a populao total (%) 88 Quadro 2.2.33.
Propriedade da habitao Quadro 2.2.34. Propriedade do alojamento e
tipos de alteraes 89 nas funes (%) 89 Quadro 2.2.35. Acessibilidade
habitao 90 Quadro 2.2.36. Acessibilidade no interior da habitao 91
Quadro 2.2.37. Utilizao de transportes pblicos Quadro 2.2.38.
Utilizao de transportes pblicos e relao com o 91 sistema de
reabilitao 91 Quadro 2.2.39. Tipos de transportes pblicos
utilizados 92 Quadro 2.2.40. Frequncias de utilizao dos transportes
pblicos 93 Quadro 2.2.41. Principal motivo para no utilizar os
transportes pblicos 94 Quadro 2.3.1. Voto nas eleies legislativas
de 2005 Quadro 2.3.2. Voto nas eleies legislativas de 2005 e relao
com o 94 sistema de reabilitao 96 Quadro 2.3.3. Participao em
associaes ou colectividades (%) Quadro 2.3.4. Participao em
associaes ou colectividades 97 e relao com o sistema de reabilitao
(%) 98 Quadro 2.3.5. Tipos de participao (% em coluna) 99 Quadro
2.3.6. Abertura das instituies (% em coluna) Quadro 2.3.7. Abertura
das instituies e relao com o sistema 100 de reabilitao (% em
coluna) 102 Quadro 2.3.8. Redes sociais 102 Quadro 2.3.9. Redes
sociais e relao com o sistema de reabilitao 103 Quadro 2.3.10.
Frequncia das prticas de lazer (% em linha) Quadro 2.3.11. Prtica
de actividade desportiva 105 (mais do que uma vez por ms) Quadro
2.3.12. Principal motivo para no praticar nenhum desporto 106
Quadro 2.3.13. Frias fora da residncia habitual (excluindo
ns-de-semana e pontes) 106
8. Quadro 2.3.14. Tipo de alojamento utilizado quando passa
frias fora da sua residncia habitual 107 Quadro 2.3.15. Nmero de
noites no alojamento de frias 107 Quadro 2.3.16. Percepo de situaes
de discriminao (%) 109 Quadro 2.3.17. Percepo de discriminao no
local de trabalho (%) 110 Quadro 2.3.18. Percepo sobre
oportunidades e apoios no dia-a-dia (%) 111 Quadro 2.4.1. Avaliao
do ltimo estabelecimento de ensino frequentado 113 Quadro 2.4.2.
Avaliao do ltimo estabelecimento de ensino frequentado (cont.) 113
Quadro 2.4.3. Avaliao da actividade que desempenha/desempenhava 114
Quadro 2.4.4. Avaliao da actividade que desempenha/desempenhava
(cont.) 115 Quadro 2.4.5. Opinio sobre a ltima consulta com o mdico
de clnica geral 116 Quadro 2.4.6. Opinio sobre a ltima consulta com
o mdico especialista 117 Quadro 2.4.7. Avaliao das condies fsicas
da habitao e do acesso ao arrendamento 118 Quadro 2.4.8. Opinio
sobre questes relativas aquisio de habitao 118 Quadro 2.4.9.
Avaliao dos apoios recebidos no alojamento 119 Quadro 2.4.10.
Avaliao dos apoios recebidos no alojamento (cont.) 120 Quadro
2.4.11. Avaliao dos locais onde se realizam as actividades de
tempos livres 120 Quadro 2.4.12. Avaliao sobre transportes pblicos
121 Quadro 2.4.13. Avaliao sobre transportes pblicos (cont.)
121
9. Introduo
10. Nas ltimas dcadas, Portugal registou progressos
extraordinrios ao n- vel das polticas e das prticas no mbito das
pessoas com decincias e incapacidades (PCDI). Em particular, a
adeso Unio Europeia trouxe novos recursos e um novo impulso que
constituram uma oportunidade que o pas aproveitou, quer ao nvel das
polticas pblicas, quer ao dos dinamismos da sociedade civil. Apesar
dos progressos e da experincia desenvolvida, h ainda necessi- dade
de investir em reas de fragilidade e de desenvolver o potencial das
restantes, numa perspectiva de adequao s necessidades dos cidados,
resoluo dos seus problemas e num esforo de optimizao dos recur- sos
envolvidos. Esto agora reunidas as condies para que um novo im-
pulso e uma viso sistmica renovada possam conduzir o pas a um novo
ciclo neste campo de aco. Esse novo ciclo pode beneciar, por outro
lado, de renovados modelos de abordagem e anlise da questo das
decincias e incapacidades, de novos referenciais conceptuais e de
poltica, com impactos signicativos ao nvel dos conceitos e das
semnticas, bem como das perspectivas e atitudes sociais face ao
fenmeno. Em contrapartida, o conhecimento produzido no pas acerca
das de- cincias e incapacidades permanece manifestamente lacunar,
de origem fundamentalmente experiencial, no sistemtico, nem
estruturado e in- tegrado, e de difcil acesso. Importa, pois,
desenvolv-lo e torn-lo mais acessvel, dado que o conhecimento e a
caracterizao dos fenmenos constituem uma das pedras basilares do
desenho de polticas e programas de interveno, sendo uma condio
fundamental para o seu sucesso. No quadro destas preocupaes
estratgicas, e procurando contribuir para o desenvolvimento das
polticas em favor das pessoas com decin- cias e incapacidades em
Portugal, o Estudo Modelizao das Polticas e das Prticas de Incluso
Social das Pessoas com Decincias em Portu- gal, no quadro do qual
foi produzido o presente relatrio, prosseguiu cinco objectivos
fundamentais: Usar o conhecimento produzido em estudos de natureza
avaliativa realizados em Portugal nos ltimos anos, atravs da sua
sistemati- zao, produzindo linhas de orientao para a tomada de
deciso no curto prazo. Recolher, organizar e analisar dados
relativos caracterizao da po- pulao com decincias e incapacidades,
atravs de um inqurito, identicando incidncias, correlaes e
impactos, de modo a promover o conhecimento e apoiar a tomada de
deciso. O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 17
11. Analisar as trajectrias biogrcas de pessoas com decincias e
inca- pacidades, identicando possveis correlaes com as polticas e
pro- gramas existentes. Modelizar as polticas, as prticas e a
respectiva gesto, apoiando a optimizao dos resultados e dos
recursos, atravs da inventariao comparada de modelos conceptuais,
de interveno, de nanciamento e de gesto. Promover um aprofundamento
e sistematizao da reexo estratgi- ca sobre a problemtica da incluso
social das pessoas com decincias e incapacidades, mobilizando e
dinamizando investigadores, dirigentes e quadros. No mbito deste
Estudo, realizou-se o Inqurito aos Impactos do Sis- tema de
Reabilitao nas Trajectrias Biogrcas das Pessoas com De- cincias e
Incapacidades, com os objectivos de apurar elementos de
caracterizao desta populao e analisar as respectivas trajectrias
bio- grcas, sendo que prossecuo de cada um dos objectivos
correspon- deu uma determinada fase de inquirio. Enquanto produto
do Estudo, o presente relatrio O Sistema de Reabilitao e as
Trajectrias de Vida das Pessoas com Decincias e Incapacidades em
Portugal apresenta os resultados referentes ao segundo objectivo
enunciado(01). O inqurito que lhe est subjacente foi construdo com
base num en- quadramento terico e metodolgico especco. No plano
terico, toma- ram-se como referncia as preocupaes e tendncias
internacionais ac- tuais em torno do conceito de decincia, que a
advogam no como um atributo inerente pessoa, mas como um resultado
da interaco entre o contexto social da pessoa e o ambiente,
incluindo as estruturas fsicas (o design dos edifcios, sistemas de
transporte, etc.) e as construes sociais e crenas, que esto na base
dos processos de discriminao. Deste modo, o presente relatrio
baseia-se na identicao de alteraes nas funes e de limitaes da
actividade num conjunto vasto de domnios (trabalho, educao,
cuidados de sade, direitos de cidadania, etc.). A categorizao das
decincias e incapacidades assim formulada ao nvel de cada um destes
domnios e no como uma categoria geral de atributo pessoal. A opo
por esta perspectiva das decincias e incapacidades est em
consonncia com a abordagem universal proposta pela Classicao In-
ternacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF),
permitindo (01) Os resultados relativos ao primeiro objectivo
enunciado encontram-se apresentados no relatrio Elementos de
Caracterizao das Pessoas com Decincias e Incapacidades em Portugal.
18 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
12. caracterizar a experincia das decincias e incapacidades de
cada pes- soa a partir das suas consequncias efectivamente
vericadas e no de uma denio apriorstica, necessariamente
desadequada aos contextos reais da sua vivncia. Mais relevante
ainda, permite que as decises sobre a criao de categorias de
decincias e incapacidades possam ser feitas considerando diferentes
nveis de anlise e de acordo com o problema particular que se
pretende estudar (e.g., acesso ao mercado de trabalho, participao
poltica, etc.)(02). O inqurito, cujos dados so aqui apresentados,
foi realizado, em 2007, a uma amostra da populao residente em
Portugal Continental, com idades compreendidas entre os 18 e os 70
anos(03). Constitudo por trs captulos, no primeiro apoios e servios
do sis- tema de reabilitao realizada uma caracterizao das pessoas
com decincias e incapacidades que passaram pelo sistema de
reabilitao (independentemente do tipo de apoios e servios
recebidos) e a anli- se de alguns dos apoios e servios
considerados, como por exemplo, no mbito da educao, do acesso ao
mercado de trabalho, da reabilitao mdico-funcional, das ajudas
tcnicas e das prestaes sociais. O segundo Captulo qualidade de vida
apresenta as relaes apuradas entre a passagem pelo sistema e as
trajectrias de vida dos inquiridos, de acordo com os domnios
fundamentais do modelo de Qualidade de Vida. por m apresentada uma
sntese nal de todos os resultados. (02) O enquadramento terico e
conceptual das decincias e incapacidades em formato desenvolvido
encontra-se publicado no relatrio geral do Estudo Mais Qualidade de
Vida para as Pessoas com Deci- ncias e Incapacidades Uma Estratgia
para Portugal. Uma verso sinttica da conceptualizao das decincias e
incapacidades utilizada no inqurito est patente no Anexo A do
presente relatrio. (03) Os aspectos metodolgicos e tcnicos
relativos ao inqurito implementado podem ser consultados no Anexo
A. O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 19
13. Captulo 1. Apoios e servios do sistema de reabilitao
14. O sistema de reabilitao possui como objectivo proporcionar
s pessoas com decincias e incapacidades a maior participao na vida
social e econmica, e a maior autonomia possvel, independentemente
do tipo de decincias e incapacidades ou da sua origem. Para tal,
composto por um conjunto de apoios e servios gerais e especcos para
esta populao, nas diversas reas: educao, sade, emprego,
transportes, desporto, etc. Integra ainda um conjunto de medidas
compensatrias, que se traduzem em prestaes pecunirias de proteco
social. Neste captulo proceder-se- caracterizao das pessoas com de-
cincias e incapacidades que passaram por este sistema
(independente- mente do tipo de apoios e servios recebidos) e a
posterior anlise de alguns dos apoios e servios considerados. Do
total das pessoas com decincias e incapacidades residentes em
Portugal Continental, cerca de 32% experienciam (ou j
experienciaram) apoios e servios disponibilizados pelo sistema de
reabilitao(04). Na sua grande maioria so mulheres, reectindo o
facto de o sexo feminino ser maioritrio no total das pessoas com
decincias e incapacidades. No en- tanto, considerando o peso
percentual do sexo feminino, verica-se que dentro da categoria sexo
a percentagem de homens que j acedeu a este tipo de servios e
apoios superior percentagem de mulheres em 10%, o que permite dizer
que os homens so os que mais utilizam ou be- neciam dos servios e
apoios do sistema de reabilitao (percentagens em linha no Quadro
1.1). Quadro 1.1. Apoios e servios do sistema de reabilitao e sexo
PCDI com apoios e servios PCDI sem apoios e servios N % linha %
coluna N % linha % coluna Masculino 138 40,1 39,7 206 59,9 30,5
Feminino 210 30,9 60,3 469 69,1 69,5 nos sujeitos com idades
compreendidas entre os 18 e os 49 anos que se observam maiores
percentagens relativas de benecirios do sistema de reabilitao,
sendo o escalo dos 60 aos 70 anos o que apresenta uma (04)
Incluem-se aqui todos os inquiridos que referiram ter recebido,
pelo menos, um tipo de apoio ou servio deste sistema,
independentemente da natureza do apoio ou servio. O SISTEMA DE
REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 23
15. menor expresso neste mbito (percentagens em linha no Quadro
1.2). A juventude do prprio sistema de reabilitao explica este
contraste, uma vez que, se o sistema nasceu a partir de 1974, so as
geraes dos 20 aos 40 anos aquelas que desse poderiam beneciar
durante toda a sua vida. Para as geraes mais velhas, os apoios e
servios eram inexistentes. Acresce ainda que aquando da sua criao,
algumas destas medidas es- tavam mais direccionadas para as
primeiras etapas da vida, que os indiv- duos j haviam ultrapassado,
como acontece com a educao especial e a formao prossional. No
obstante, regista-se que 28,5% dos indivduos com idades
compreendidas entre os 60 e os 70 anos obtiveram algum apoio ou
servio dirigido a pessoas com decincias e incapacidades. Quadro
1.2. Apoios e servios do sistema de reabilitao e grupos etrios PCDI
com apoios e servios PCDI sem apoios e servios N % linha % coluna N
% linha % coluna 18 29 anos 23 44,2 6,6 29 55,8 4,3 30 39 anos 31
36,5 8,9 54 63,5 8,0 40 49 anos 58 45,3 16,7 70 54,7 10,4 50 59
anos 81 37,9 23,3 133 62,1 19,7 60 70 anos 155 28,5 44,5 389 71,5
57,6 As pessoas com decincias e incapacidades que receberam apoios
e ser- vios prestados pelo sistema de reabilitao, por comparao com
aqueles que no receberam, apresentam percentagens mais elevadas nos
nveis de escolaridade mais avanados. Na populao que acedeu a apoios
e servios, a percentagem de pessoas que no sabem ler nem escrever e
que no fre- quentou a escola de 18,1%. Nas pessoas que no
experienciaram este tipo de contacto com o sistema de reabilitao,
25,5% no sabe ler nem escrever ou, sabendo, no frequentou a escola
(percentagens em coluna no Quadro 1.3). Por outro lado, aqueles que
prosseguiram estudos alm do ensino bsico cor- respondem a 6,3% das
pessoas que receberam apoios. No caso das pessoas que no passaram
pelo sistema de reabilitao a percentagem de 4,4%. As taxas de
analfabetismo reectem igualmente estas diferenas: na populao que
passou pelo sistema de reabilitao, a taxa de analfabetis- mo de
14,1%, enquanto que no universo das pessoas que no passaram de
17,6%. 24 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
16. Quadro 1.3. Apoios e servios do sistema de reabilitao por
nvel de ensino PCDI PCDI com apoios e servios sem apoios e servios
N % linha % coluna N % linha % coluna No sei ler, nem escrever 49
29,2 14,1 119 70,8 17,6 Sei ler e escrever, mas no frequentei a
escola 14 20,9 4,0 53 79,1 7,9 Ensino bsico 1. ciclo 194 34,5 55,7
368 65,5 54,5 Ensino bsico 2. ciclo 41 38,3 11,8 66 61,7 9,8 Ensino
bsico 3. ciclo 28 41,8 8,0 39 58,2 5,8 Ensino secundrio 15 46,9 4,3
17 53,1 2,5 Ensino mdio/superior 7 35,0 2,0 13 65,0 1,9 No que diz
respeito relao com a esfera do trabalho, constatam-se diferenas
relevantes entre estes dois grupos. Os sujeitos que j receberam
apoios e servios do sistema de reabilitao apresentam uma menor taxa
de actividade (cerca de 26%) comparativamente aos indivduos que no
be- neciaram do sistema (cerca de 36%). Outro dado que importa
reter o da taxa de desemprego. Os inquiridos que, de alguma forma,
j passaram pelo sistema de reabilitao apresen- tam uma taxa de
desemprego de 31%. Por sua vez, os inquiridos que nun- ca receberam
nenhum tipo de apoio ou servio do sistema de reabilitao apresentam
uma taxa de 26%. Para a anlise destes dados necessrio ter em ateno
dois factores. Por um lado, os indivduos que acedem ao sistema de
reabilitao so es- sencialmente indivduos das faixas etrias mais
jovens, com a coexistn- cia de alteraes em multifunes sensoriais e
da fala, fsicas e mentais, que apresentam limitaes elevadas na
realizao de actividades, o que inuencia as diferenas apresentadas
entre estes dois grupos. Os indiv- duos que no usufruram de apoios
e servios do sistema de reabilitao no possuem um nvel de limitaes
da actividade to elevado, do que resulta uma maior facilidade de
integrao no mercado de trabalho. Si- multaneamente, por serem de
faixas etrias mais elevadas e por terem adquirido as alteraes nas
funes em idades mais avanadas, no s j se encontravam inseridos no
mercado de trabalho quando adquiriram estas alteraes, como o prprio
mercado encontrava-se numa situao de maior estabilidade. O SISTEMA
DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS
E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 25
17. Por outro lado, salienta-se o facto desta primeira anlise
do sistema de reabilitao contemplar os vrios tipos de apoios e
servios deste sistema, o que inuencia igualmente os dados
apresentados. Considera-se como passagem pelo sistema de reabilitao
todos os inquiridos que referiram ter recebido pelo menos um tipo
de apoio ou servio deste sistema, inde- pendentemente da sua
natureza, pelo que esto includos indivduos que receberam apoios na
educao, frequentaram aces de reabilitao mdi- co-funcional, etc., e
no apenas os que receberam apoios para o acesso ao mercado de
trabalho (que sero analisados posteriormente neste captulo). Assim,
e a ttulo exemplicativo, um indivduo pode ter passado pelo siste-
ma apenas porque frequentou sesses de sioterapia, e esse facto no
ser determinante para o seu acesso ao mercado de trabalho. Para a
anlise das prosses das pessoas com decincias e incapaci- dades,
necessrio ter estes factores explicativos novamente em ateno.
Constata-se que os grupos prossionais mais representativos dentro
desta populao so os operrios, seguidos dos trabalhadores no
qualicados e do pessoal administrativo e dos servios. Apesar desta
ordem ser comum aos sujeitos que passaram e aos que no passaram
pelo sistema de reabi- litao, constatam-se algumas diferenas entre
os dois grupos, existindo uma maior proporo de trabalhadores no
qualicados e operrios nos sujeitos que acederam aos apoios e
servios do sistema de reabilitao e, em contrapartida, um menor peso
no grupo prossional dos dirigentes e quadros, ainda que envolvendo
valores muito baixos. A grande diferena a registar remete para os
agricultores e trabalhadores qualicados da agri- cultura apenas
9,7% das pessoas com decincias e incapacidades que passaram pelo
sistema de reabilitao so agricultores, enquanto que nas pessoas que
no beneciaram do sistema este valor atinge os 17,5%. 26 O SISTEMA
DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS
E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
18. Quadro 1.4. Apoios e servios do sistema de reabilitao e
grupo profissional PCDI PCDI com apoios e servios sem apoios e
servios N % N % Dirigentes e quadros 11 4,1 26 5,1 Administrativos
e pessoal dos servios 60 22,3 105 20,2 Agricultores e trabalhadores
qualicados da agricultura e pesca 26 9,7 91 17,5 Operrios 7 36,8 15
34,5 Trabalhadores no qualicados 73 27,1 118 22,7 No sentido de
efectuar um compromisso entre as limitaes da actividade identicadas
na CIF e poten- ciar a interpretao dos dados obtidos, optou-se pela
discriminao das limitaes da actividade relativas viso, audio e
fala, conforme explicitado no relatrio global do Estudo.
Relativamente situao na prosso, verica-se que a quase totalidade
dos indivduos exercem ou exerciam a sua actividade prossional por
conta de outrem, independentemente de terem ou no passado pelo
sistema de reabilitao. No obstante, existem algumas pequenas
diferenas percen- tuais, vericando-se que os inquiridos que
passaram pelo sistema de rea- bilitao, comparativamente com aqueles
que no passaram, apresentam percentagens inferiores nas categorias
patro (2% e 3%, respectivamen- te) e trabalhador por conta prpria
(9% e 14%, respectivamente). nos inquiridos com situaes econmicas
mais frgeis que se verica uma maior taxa de cobertura do sistema de
reabilitao, constatando- -se que no intervalo dos 404 aos 1200
euros que a taxa de cobertura maior, diminuindo consideravelmente a
partir deste escalo. No que diz respeito s limitaes da actividade,
e tal como j foi refe- rido, verica-se que so os sujeitos com
limitaes elevadas os que mais beneciam dos apoios e servios do
sistema de reabilitao (41% contra 32% nas limitaes moderadas).
Estes tm igualmente um maior peso em indivduos com limitaes da
actividade referentes fala, aos autocuida- dos, s interaces e
relacionamentos interpessoais e vida domstica. Em contrapartida, so
os sujeitos com limitaes da actividade relativas audio, comunicao e
viso que menos tm acedido aos servios e apoios do sistema. O
SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 27
19. Quadro 1.5. Apoios e servios do sistema de reabilitao e
tipos de limitaes da actividade PCDI PCDI com apoios e servios sem
apoios e servios N % linha N % linha Autocuidados 75 56,4 58 43,6
Interaces e relacionamentos interpessoais 35 46,1 41 53,9 Vida
domstica 132 44,0 168 56,0 Mobilidade 218 42,9 290 57,1 Tarefas e
exigncias gerais 153 31,9 326 68,1 Aprendizagem e aplicao de
conhecimentos 181 29,7 429 70,3 Comunicao 105 28,6 262 71,4 Fala 16
61,5 10 38,5 Viso 20 28,6 50 71,4 Audio 6 24,0 19 76,0 Nas funes do
corpo, verica-se que, mesmo no tipo de alterao com maior acesso aos
apoios e servios do sistema de reabilitao, a percenta- gem de
indivduos no chega a atingir os 50%. Nas vrias categorias de al-
teraes nas funes estudadas, as percentagens so baixas e de alguma
forma desajustadas pois, nalguns dos grupos de alteraes nas funes
de maior incidncia encontram-se os valores percentuais mais baixos,
como o caso das alteraes nas funes fsicas. Tal como referido, no
caso das alteraes nas multifunes senso- riais e da fala, fsicas e
mentais, e das multifunes fsicas e sensoriais e da fala que se
registam as percentagens mais elevadas de experincia dos apoios e
servios do sistema de reabilitao. Em contrapartida, as alteraes nas
funes sensoriais e da fala so as que registam menor utilizao do
sistema. 28 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
20. Quadro 1.6. Apoios e servios do sistema de reabilitao e
tipos de alteraes nas funes PCDI PCDI com apoios e servios sem
apoios e servios N % linha N % linha Funes sensoriais e da fala 17
24,6% 52 75,4% Funes fsicas 194 33,9% 379 66,1% Funes mentais 14
33,3% 28 66,7% Multifunes sensoriais e da fala, fsicas e mentais 48
48,5% 51 51,5% Multifunes fsicas e sensoriais e da fala 63 37,5%
105 62,5% Sem tipologia de funo identicada 12 16,7% 60 83,3% Ao
analisar-se a idade de desenvolvimento/aquisio das alteraes nas
funes, constata-se que as pessoas que as desenvolveram/adquiri- ram
nascena ou nos primeiros anos de vida so as que mais recorrem aos
apoios e servios do sistema de reabilitao (Quadro 1.7). A partir do
momento em que as alteraes nas funes so adquiridas em perodos
etrios mais avanados, os indivduos tendem a recorrer a esses
servios e apoios em menor escala, registando-se um decrscimo
contnuo medida que as alteraes nas funes so adquiridas em idades
mais avanadas. Quadro 1.7. Apoios e servios do sistema de
reabilitao e idade de desenvolvimento/aquisio da primeira alterao
nas funes PCDI com apoios e servios PCDI sem apoios e servios N %
linha % coluna N % linha % coluna At 2 anos 48 45,3 16,5 58 54,7
11,4 3 24 anos 71 37,8 24,4 117 62,2 22,9 25 49 anos 91 35,8 31,3
163 64,2 31,9 50 70 anos 81 31,9 27,8 173 68,1 33,9 O SISTEMA DE
REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 29
21. Aps a anlise do perl social dos indivduos abrangidos pelas
medidas e apoios especcos dirigidos para as pessoas com decincias e
incapa- cidades, cabe agora proceder anlise de tipos especcos de
medidas e apoios que so utilizados, nomeadamente nas reas da
educao, traba- lho e emprego, cuidados de sade, ajudas tcnicas e
prestaes sociais. Apoios e servios na educao Os apoios e servios
direccionados para as pessoas com decincias e in- capacidades ao
nvel da educao tm como nalidade a promoo de um ensino ajustado s
necessidades especcas desta populao. Tal como foi referido
anteriormente, este tipo de apoios e servios, que conheceu o seu
grande desenvolvimento aps o 25 de Abril de 1974, direcciona-se
para uma etapa particular da vida dos indivduos. Desta for- ma,
considerou-se para esta anlise as pessoas nascidas aps 1968, isto ,
em idade escolar na altura do desenvolvimento dos apoios e servios
na educao, e que desenvolveram/adquiriram as suas decincias e
incapa- cidades antes dos 25 anos, enquanto possveis benecirios
deste tipo de apoios e servios. Dentro deste universo constata-se
que 5 indivduos em 43, isto , cerca de 12% de sujeitos, acederam a
algum tipo de apoio ou servios na edu- cao. Destes, 3 indivduos
frequentaram escolas de ensino especial e 2 obtiveram apoios
especializados at ao 12. ano aquando da frequncia de uma escola de
ensino regular. Ainda assim, apesar dos valores absolutos serem
muito baixos, no se podendo efectuar uma inferncia de resultados
para o universo, pode ser referido em traos gerais que os indivduos
que beneciaram destes apoios so mais do sexo masculino, com idades
entre os 18 e os 29 anos, apresen- tando limitaes elevadas na
realizao das actividades, com a coexistn- cia de alteraes nas
multifunes sensoriais e da fala, fsicas e mentais. Apoios e servios
no acesso ao mercado de trabalho Tendo em ateno as limitaes para a
realizao de uma actividade pros- sional que, as decincias e
incapacidades podem acarretar, torna-se funda- mental que, no mbito
das respostas especcas para esta populao, existam apoios e servios
destinados a promover o acesso ao mercado de trabalho. 30 O SISTEMA
DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS
E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
22. No sentido de analisar estes apoios e servios, e uma vez
que estes tive- ram o seu desenvolvimento a partir do incio da
dcada de 80, optou-se por seleccionar para anlise apenas inquiridos
que se encontrassem a iniciar a sua insero no mercado de trabalho
nesta poca. Assim, teve-se em aten- o os indivduos que
desenvolveram/adquiriram decincias e incapaci- dades antes dos 64
anos, ou seja, em idade activa, que exercem ou exerce- ram uma
actividade prossional e que no ano de 1983 tinham 16 anos (ano de
incio dos apoios de acesso ao emprego com a criao dos Centros de
Emprego Protegido). Desta forma, constata-se que dentro deste
grupo, 6 inquiridos em 58 usufruem ou usufruram de algum tipo de
apoio ou ser- vio no acesso ao mercado de trabalho, o que
corresponde a 10%. Destes, 2 tiveram formao prossional numa
instituio de apoio decincia e 2 obtiveram o emprego atravs de
Centros de Emprego. Houve ainda 1 inquirido que recebeu apoios
especcos para pessoas com decincias e incapacidades e 1 outro que
teve formao prossional no Instituto do Emprego e Formao Prossional.
Quadro 1.2.1. Tipos de apoios e servios no acesso ao mercado de
trabalho N % Apoios especcos para pessoas com decincias e
incapacidades 1 16,7 Obteno de trabalho atravs do Centro de Emprego
2 33,3 Formao prossional em instituio de apoio decincia 2 33,3
Formao prossional nos centros de formao do IEFP 1 16,7 Total 6
100,0 Apesar de no se poderem efectuar extrapolaes para o universo
devi- do natureza dos dados, a nvel geral denota-se que so os
indivduos do sexo masculino com idade entre os 30 e os 40 anos os
que mais acederam a apoios e servios no acesso ao mercado de
trabalho. Estes apoios tm igualmente uma maior expressividade no
grupo prossional do pessoal dos servios e vendedores, seguido pelo
dos trabalhadores no qualica- dos. Comparando os dois grupos,
denota-se uma maior taxa de actividade nos sujeitos que
usufruem/usufruram de apoios (72%), relativamente aos que no
tiveram acesso a estes (67%). Ao nvel das limitaes da actividade e
alteraes nas funes do cor- po, existe a predominncia de indivduos
com limitaes moderadas, centrando-se nos autocuidados, na realizao
de actividades da vida do- O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS
DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
31
23. mstica e na comunicao. Por outro lado, so os sujeitos com
alteraes nas funes mentais e com coexistncia de alteraes nas
multifunes sensoriais e da fala, fsicas e mentais os que apresentam
maiores valores na mobilizao destes apoios e servios, com as
menores percentagens a centrarem-se nos indivduos com a coexistncia
de alteraes nas mul- tifunes fsicas e sensoriais e da fala e nos
indivduos sem tipologia de funes identicada(05). Reabilitao
mdico-funcional No mbito dos servios de sade, proceder-se- anlise
das questes relacionadas com a reabilitao mdico-funcional, dimenso
de interven- o que assume um papel fundamental para a promoo do
bem-estar fsico e emocional das pessoas com decincias e
incapacidades. A percentagem de pessoas que tiveram algum tipo de
reabilitao m- dico-funcional, as diferenas nas caractersticas entre
estas e as que no passaram por processos dessa natureza, os tipos
de reabilitao mdico- -funcional recebidos e os motivos pelos quais
os inquiridos no tiveram este tipo de reabilitao so os principais
elementos de anlise. Dos inquiridos que referiram sentir
necessidade de frequentarem aces de reabilitao mdico-funcional, 36%
frequentou este tipo de aces, ao passo que 64% arma nunca o ter
feito. Os principais motivos apresentados foram a falta de condies
nanceiras e a falta de informao. Tendo em ateno o sexo, denota-se
que, ainda que com uma diferena pouco signicativa, foram os homens
que mais frequentaram aces de reabilitao mdico-funcional. Quadro
1.3.1. Aces de reabilitao mdico-funcional e sexo Sim No N % linha N
% linha Masculino 72 20,9 272 79,1 Feminino 122 18,0 557 82,0 (05)
Nos indivduos sem tipologia de funes identicada encontram-se os que
tm mltiplas limitaes da actividade e alteraes nas funes, mas que no
estabelecem uma relao explcita entre as limita- es e as alteraes
referidas. 32 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
24. No que se refere idade, so os indivduos mais novos
(sobretudo en- tre os 18 e os 29 anos) os que apresentam uma maior
frequncia destas aces. Com a menor percentagem encontram-se os
sujeitos com idades entre os 30 e os 39 anos. Quadro 1.3.2. Aces de
reabilitao mdico-funcional e grupos etrios Sim No N % linha N %
linha 18 29 anos 12 23,1 40 76,9 30 39 anos 12 14,1 73 85,9 40 49
anos 28 21,9 100 78,1 50 59 anos 45 21,0 169 79,0 60 70 anos 97
17,8 447 82,2 Ao ter-se em ateno o nvel de intensidade das limitaes
da activida- de, verica-se que so os indivduos com limitaes
elevadas os que regis- tam uma maior frequncia de aces de
reabilitao mdico-funcional. Em consequncia de ser a sioterapia o
tipo de reabilitao mdico- funcional mais frequentado, os inquiridos
que apresentam limitaes da actividade ao nvel dos autocuidados, da
mobilidade e da vida do- mstica evidenciam percentagens
signicativas de acesso a este tipo de servios. No entanto, so as
limitaes da actividade relativas fala as que apre- sentam maiores
percentagens de frequncia de aces de reabilitao mdico-funcional. A
elevada percentagem de pessoas que frequentam es- tas aces deve-se
em parte coexistncia frequente desta tipologia de limitaes com
outras. Tal facto igualmente patente se se considerar as alteraes
nas fun- es do corpo, pois entre os indivduos que manifestam a
coexistncia de alteraes nas funes sensoriais e da fala, fsicas e
mentais que se observam as maiores percentagens de frequncia de
aces de reabilita- o mdico-funcional. Este tipo de reabilitao
registou igualmente uma expresso elevada entre os indivduos com
alteraes nas funes fsicas, seguidos pelos que registam a
coexistncia de alteraes nas funes fsi- cas e nas funes sensoriais e
da fala. O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 33
25. Quadro 1.3.3. Aces de reabilitao mdico-funcional e tipos de
alteraes nas funes Sim No N % linha N % linha Sensoriais 6 8,7 63
91,3 Fsicas 120 20,9 453 79,1 Mentais 8 19,0 34 81,0 Multidecincias
mentais, sensoriais e fsicas 23 23,2 76 76,8 Multidecincias fsicas
e sensoriais 34 20,2 134 79,8 Sem tipologia de funes identicada 3
4,2 69 95,8 No conjunto dos indivduos que receberam reabilitao
mdico-fun- cional, a maioria frequentou uma ou duas aces de
reabilitao (61,9% e 15,6% respectivamente), sendo de referir que
11,9% dos indivduos com decincias e incapacidades armam ter
frequentado quatro ou mais ac- es deste tipo. Quadro 1.3.4. Nmero
de aces de reabilitao mdico-funcional frequentadas N % 1 aco 99
61,9 2 aces 25 15,6 3 aces 17 10,6 4 ou mais aces 19 11,9 Total 160
100,0 Os inquiridos que frequentaram mais de duas aces de
reabilitao mdico-funcional tm, essencialmente, alteraes nas funes
fsicas ou alteraes em multifunes fsicas e sensoriais e da fala.
Concentram-se nos escales etrios mais elevados, vericando-se que
18% dos indivduos com idades compreendidas entre os 60 e os 70 anos
j usufruram de 4 ou mais aces de reabilitao mdico-funcional. Dentro
dos vrios servios de reabilitao mdico-funcional existentes, a
sioterapia ocupa uma posio de grande destaque: 95,6% das pessoas
com decincias e incapacidades que frequentaram aces de reabilita- o
mdio-funcional recorreu a este tipo de servio. 34 O SISTEMA DE
REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL
26. Quadro 1.3.5. Tipos de aces de reabilitao mdico-funcional
frequentadas N % Fisioterapia 153 95,6 Terapia da fala 2 1,3
Terapia ocupacional 3 1,9 Ns/Nr 2 1,3 Total 160 100,0 Com
percentagens que variam entre 1% e 2%, o nmero de inquiridos que
frequentaram aces de terapia da fala ou de terapia ocupacional ,
portanto, residual. Quadro 1.3.6. Necessidade de receber algum ou
mais algum apoio N % Sim 194 21,8 No 695 78,2 Total 889 100,0
Atravs da leitura do Quadro 1.3.6, pode constatar-se que 21,8%
desta populao sente necessidade de receber algum ou mais algum
servio de apoio, o que corresponde a mais de um quinto do total de
inquiridos. Os inquiridos que responderam armativamente questo
anterior, quando confrontados com os vrios tipos de apoio que
possam sentir necessidade de utilizar, deram as respostas
sistematizadas no Quadro 1.3.7. A sioterapia a aco de reabilitao
cuja necessidade expressa por um nmero mais alargado de pessoas. De
facto, 74,2% dos inquiridos revelaram sentir necessidade de receber
servios de sioterapia. A assis- tncia mdica e de enfermagem
especializada surge como o segundo ser- vio de apoio cuja
necessidade mais referida (19,6%), mas por um valor muito aqum do
que se refere s necessidades de sioterapia. O apoio psicolgico de
adaptao s decincias (13,4%) e o desenvol- vimento das capacidades
necessrias para uma vida autnoma (12,9%) so outros servios
identicados pelos inquiridos. Com valores mais baixos mas, ainda
assim, a ter em conta, foram refe- ridos o apoio psicolgico famlia
(8,2%), a terapia ocupacional (7,2%) e a terapia da fala (4,6%). O
SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 35
27. Quadro 1.3.7. Tipos de apoios identificados como necessrios
Sim No Total N % N % N % Fisioterapia 144 74,2 50 25,8 194 100,0
Terapia da fala 9 4,6 185 95,4 194 100,0 Terapia ocupacional 14 7,2
180 92,8 194 100,0 Assistncia mdica e de enfermagem especializada
38 19,6 156 80,4 194 100,0 Apoio psicolgico de adaptao s decincias
26 13,4 168 86,6 194 100,0 Apoio psicolgico famlia 16 8,2 178 91,8
194 100,0 Desenvolvimento das capacidades necessrias para uma vida
autnoma 25 12,9 169 87,1 194 100,0 Aprendizagem de Braille ou de
Lngua Gestual Portuguesa 2 1,0 192 99,0 194 100,0 Ajudas tcnicas
Entre os apoios do sistema de reabilitao surgem como um dos
principais elementos as ajudas tcnicas, que tm como objectivo
prevenir, compensar, atenuar ou neutralizar as decincias e
incapacidades, no sentido de permi- tir a participao plena dos
indivduos em todas as actividades quotidianas. Cerca de 19% dos
inquiridos necessitou ou necessita, em funo das limitaes da
actividade que apresenta, de uma ajuda tcnica. Destes, cerca de 77%
referiram estar a utiliz-la ou t-la utilizado nos ltimos anos. Ou
seja, 23% da populao com decincias e incapacidades, apesar de
necessitar de uma ajuda tcnica, no a utilizou. Os principais
motivos apresentados pelos inquiridos para que esta necessidade no
se encontre satisfeita so as condies nanceiras (21% assinalou a opo
a ajuda tcnica que necessitava era demasiado cara e 15% a opo
solici- tei apoio nanceiro para a aquisio, mas no o obtive) e a
inexistncia de ajudas tcnicas adequadas (18% dos inquiridos
assinalaram a opo no existem ajudas tcnicas para a minha decincia).
Do conjunto dos inquiridos que referiram ter necessitado de ajudas
tcnicas e delas terem usufrudo, verica-se que so as ajudas tcnicas/
tecnologias de apoio para mobilidade pessoal (onde se incluem as
cadeiras de rodas, bengalas de marcha, andarilhos, etc.) as mais
utilizadas (70,8%), s quais se seguem as ortteses e prteses (33,1%)
e as ajudas tcnicas/ tecnologias de apoio para cuidados pessoais e
de proteco (15,4%). 36 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE
VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
28. Quadro 1.4.1. Tipos de ajudas tcnicas utilizadas Sim No
Total N % N % N % Ajudas tcnicas/tecnologias de apoio para
tratamento mdico individual 13 10,0 117 90,0 130 100,0 Ajudas
tcnicas/tecnologias de apoio para treino 6 4,6 124 95,4 130 100,0
Ortteses e prteses 43 33,1 87 66,9 130 100,0 Ajudas
tcnicas/tecnologias de apoio para cuidados pessoais e de proteco 20
15,4 110 84,6 130 100,0 Ajudas tcnicas/tecnologias de apoio para
mobilidade pessoal 92 70,8 38 29,2 130 100,0 Ajudas
tcnicas/tecnologias de apoio para cuidados domsticos 5 3,8 125 96,2
130 100,0 Mobilirio e adaptaes para habitao e outros edifcios 9 6,9
121 93,1 130 100,0 Ajudas tcnicas/tecnologias de apoio para
comunicao, informao e sinalizao 130 100,0 130 100,0 Ajudas
tcnicas/tecnologias de apoio para manuseamento de produtos e
equipamentos 4 3,1 126 96,9 130 100,0 Ajudas tcnicas/tecnologias de
apoio para melhorar o ambiente, ferramentas e mquinas industriais 1
0,8 129 99,2 130 100,0 Ajudas tcnicas/tecnologias de apoio para
recreao 1 0,8 129 99,2 130 100,0 As ajudas tcnicas/tecnologias de
apoio para comunicao, informao e sinalizao no registaram nenhum
utilizador, vericando-se percenta- gens residuais nas ajudas
tcnicas/tecnologias de apoio para melhorar o ambiente, ferramentas
e mquinas industriais (0,8%) e nas ajudas tcni- cas/tecnologias de
apoio para recreao (0,8%). So os homens que em maior percentagem
utilizam as ajudas tcni- cas comparativamente com as mulheres. No
que respeita idade, so os inquiridos com idades entre os 40 e os 59
anos que apresentam maiores percentagens de utilizao destes
equipamentos. No extremo oposto, en- contram-se os inquiridos entre
os 30 e os 39 anos, ainda que com uma percentagem de utilizao
elevada. O grau de diculdade na realizao de actividades manifestado
pelos inquiridos no aparenta ser um factor relevante quanto
utilizao de O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 37
29. uma ajuda tcnica. De facto, quer os inquiridos com
diculdades mode- radas, quer os que registam diculdades elevadas
apresentam percenta- gens de utilizao altas e prximas entre si.
Neste sentido, quando se analisam as vrias limitaes da actividade
denota-se igualmente que em todas elas existem percentagens
elevadas de utilizao de ajudas tcnicas. Ao nvel das alteraes nas
funes do corpo, so os indivduos com a coexistncia de alteraes em
multifunes fsicas e sensoriais e da fala e com alteraes nas funes
fsicas os que em maior percentagem utili- zam este tipo de
equipamentos. Outros tipos de apoios e servios do sistema de
reabilitao Para alm dos apoios e servios do sistema de reabilitao j
analisados, existem ainda servios que visam apoiar a autonomia
pessoal e social das pessoas com decincias e incapacidades, entre
os quais se destacam os servios e benefcios ao nvel dos transportes
e a frequncia de Centros de Actividade Ocupacional (CAOs) e
instituies colectivas. O usufruto des- te tipo de servios , no
entanto, muito reduzido no seio desta populao. Apenas 2% usufrui de
servios ao nvel dos transportes, 1% frequenta os CAOs e somente
0,3% reside numa instituio colectiva. No que diz respeito aos
servios/benefcios na rea dos transportes, ve- rica-se que entre os
18 indivduos que usufruram desses, 11 referiram ter tido redues no
preo dos bilhetes/passes de comboio, e 5 beneciaram da utilizao de
transportes pblicos adaptados. Quadro 1.5.1. Tipos de
servios/benefcios usufrudos Sim No Total N % N % N % Carro adaptado
1 5,6 17 94,4 18 100,0 Carto de estacionamento para pessoas com
decincias 2 11,1 16 88,9 18 100,0 Utilizao de transportes pblicos
adaptados 5 27,8 13 72,2 18 100,0 Iseno/abatimento do imposto
automvel na aquisio do carro 3 16,7 15 83,3 18 100,0 Redues no preo
dos bilhetes/passes de comboio 11 61,1 7 38,9 18 100,0 38 O SISTEMA
DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS
E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
30. O principal motivo identicado pelos indivduos para no
utilizarem estes benefcios foi a ausncia de necessidade (60,2%),
seguido pelo des- conhecimento da existncia desses servios e
benefcios especcos para pessoas com decincias (26,5%). Constata-se,
assim, que o acesso de to- dos os indivduos informao no se encontra
assegurado, sendo, por- tanto, necessrio um maior investimento
neste domnio. Quadro 1.5.2. Principal motivo para no usufruir de
nenhum tipo de servio/benefcio ao nvel dos transportes N % No sabia
que existiam servios ou benefcios especcos para pessoas com
decincias 231 26,5 No tenho necessidade de recorrer a servios ou
benefcios especcos 524 60,2 Esses servios no esto disponveis no meu
local de residncia 28 3,2 No consegui aceder a esses servios ou
benefcios porque no esto previstos para a minha decincia 18 2,1
Ns/Nr 70 8,0 Total 871 100,0 No que se refere frequncia dos CAOs e
das instituies colectivas, necessrio relativizar os dados, uma vez
que o processo de identicao e seleco dos sujeitos a inquirir no
contemplava a priori os indivduos que se encontravam, no momento de
inquirio, a residir em instituies colectivas, incidindo apenas
naqueles que residiam em agregados doms- ticos. No obstante,
considerou-se pertinente averiguar se os inquiridos j haviam
passado por este tipo de experincias. Como referido, a percentagem
de indivduos que arma ter frequenta- do uma destas instituies muito
reduzida, no sendo portanto possvel executar uma anlise exaustiva
desta realidade. Salientam-se, no entanto, alguns traos comuns
identicados neste grupo de indivduos: so princi- palmente sujeitos
com alteraes em vrias funes sensoriais e da fala, fsicas e mentais,
e que desenvolveram/adquiriram estas alteraes nas- cena ou nos
primeiros anos de vida. Prestaes sociais Dentro do sistema de
reabilitao, para alm dos apoios e servios j referidos, existe um
conjunto de prestaes pecunirias de proteco O SISTEMA DE REABILITAO
E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E
INCAPACIDADES EM PORTUGAL 39
31. social que so consideradas como partes integrantes desse
sistema, en- quadrando-se nas polticas passivas de natureza
compensatria. Con- sistem em prestaes atribudas pela Segurana
Social, tendo como objectivo geral a proteco dos cidados em situaes
de diminuio de meios de subsistncia ou de capacidade para o
trabalho, tendo por objectivo a promoo da sua autonomia pessoal. A
lista deste tipo de prestaes pecunirias engloba um conjunto
diversicado de situaes, nalguns casos acumulveis. Ao analisar os
dados obtidos, constata-se que cerca de 19% da popula- o com
decincias e incapacidades recebe pelo menos uma prestao social
integrada no sistema de reabilitao. Do conjunto de prestaes
sociais, a que possui uma maior expressividade entre as pessoas com
de- cincias e incapacidades a Penso por Invalidez, seguida da Penso
Social de Invalidez. Quadro 1.6.1. Prestaes sociais Sim No N %
linha N % linha Penso por Invalidez 123 21,9 439 78,1 Penso Social
de Invalidez 38 6,8 524 93,2 Subsdio por Assistncia de 3. Pessoa 5
0,9 557 99,1 Subsdio Especial para Arrendatrios Decientes 2 0,4 560
99,6 Subsdio para Assistncia a Decientes Profundos e a Doentes
Crnicos 1 0,2 561 99,8 Subsdio Mensal Vitalcio 1 0,2 561 99,8
Complemento por Dependncia 1 0,2 561 99,8 Complemento de Penso por
Cnjuge a Cargo - - 562 100,0 Complemento Extraordinrio de
Solidariedade - - 562 100,0 Bonicao por Decincia no Abono Familiar
a Crianas e Jovens - - 562 100,0 Subsdio de Doena Prossional - -
562 100,0 40 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
32. Como se pode constatar no quadro anterior, existe um
conjunto de prestaes sociais com um mbito mais especco e dirigido a
situaes mais concretas que possuem frequncias residuais. Por outro
lado, pres- taes como o Complemento de Penso por Cnjuge a Cargo, o
Comple- mento Extraordinrio de Solidariedade, a Bonicao por
Decincia no Abono Familiar de Crianas e Jovens e o Subsdio por
Doena Prossional no registaram nenhum caso. So as pessoas com
decincias e incapacidades do sexo masculino as que mais beneciam
das prestaes sociais. Simultaneamente, nos es- cales etrios mais
jovens (com idades entre os 18 e os 29 anos) que se denota uma
maior incidncia das prestaes sociais. Por sua vez, apre- sentando o
valor percentual mais baixo, encontram-se as pessoas com decincias
e incapacidades com idades compreendidas entre os 60 e os 70 anos,
que beneciam de outros tipos de prestaes. Ao nvel da caracterizao
das limitaes da actividade e da sua inten- sidade, em termos
genricos, as prestaes sociais incidem em indivduos com limitaes da
actividade elevadas na realizao das actividades do dia-a-dia e nas
interaces sociais. Por outro lado, so as pessoas com decincias e
incapacidades com limitaes da actividade da fala as que apresentam
uma maior percentagem de benefcio de prestaes sociais, seguidas
pelas que apresentam limitaes da actividade nos autocuida- dos.
Simultaneamente, as interaces e relacionamentos pessoais e a re-
alizao de actividades referentes vida domstica possuem valores per-
centuais signicativos. No extremo oposto, encontram-se as pessoas
com decincias e incapacidades que experienciam limitaes das
actividades da audio e da comunicao, que apresentam as menores
percentagens de benefcio de prestaes sociais. Por sua vez, nas
alteraes nas funes do corpo, notrio o peso das prestaes sociais nos
indivduos que experienciam a coexistncia de alte- raes nas funes
sensoriais e da fala, funes fsicas e funes mentais. Com um valor
idntico encontram-se as pessoas com decincias e inca- pacidades
decorrentes de alteraes ao nvel das funes mentais. Estes dados
encontram-se em consonncia com a caracterizao efectuada nas
limitaes da actividade, pois so os inquiridos com alteraes nas fun-
es mentais ou conjuntamente nas funes sensoriais e da fala, fsicas
e mentais os que apresentam mais limitaes nas actividades do
dia-a-dia e nas interaces e relacionamentos interpessoais, sendo
sobre estes que recaem predominantemente as prestaes sociais.
Relativamente idade de desenvolvimento/aquisio da primeira alte- O
SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 41
33. rao nas funes do corpo, denota-se que so as pessoas que
identica- ram estas alteraes como tendo ocorrido at aos dois anos
de idade as que possuem maiores percentagens de benefcio de
prestaes sociais, percentagens essas que vo diminuindo medida que a
idade de desen- volvimento/aquisio das alteraes vai aumentando. Ou
seja, as presta- es sociais parecem incidir predominantemente sobre
os indivduos com alteraes nas funes do corpo
desenvolvidas/adquiridas precocemente, constituindo-se, muitas
vezes, essas prestaes como a sua principal fon- te de rendimento.
Satisfao com os apoios e servios do sistema de reabilitao Com o
objectivo de poder identicar algumas prticas bem sucedidas e reas
de melhoria, foi analisada a satisfao dos inquiridos com as aces de
reabilitao mdico-funcional, as ajudas tcnicas, os CAOs e as pres-
taes sociais. No que diz respeito satisfao com a aco de reabilitao
mdico- funcional usufruda, um dos aspectos avaliados foi a
regularidade das ses- ses de reabilitao. Face a esta questo, a
esmagadora maioria dos in- quiridos considerou que essa
regularidade satisfatria (65,8%), havendo mesmo uma elevada
percentagem que a considerou boa (29,7%). Quanto aos tempos de
espera, a tendncia semelhante, com 68,4% dos inquiridos a atribuir
uma avaliao satisfatria e 25,3% a consider-la boa. Resultados
idnticos obtm-se relativamente adequao do tratamento s decin- cias
e incapacidades, acessibilidade no interior dos edifcios, qualidade
dos equipamentos utilizados e s condies fsicas dos espaos. Quadro
1.7.1. Satisfao com as aces de reabilitao mdico-funcional M No
muito boa Satisfatria Boa Ns/Nr Total N % N % N % N % N % N % A
regularidade das sesses de reabilitao 2 1,3 4 2,5 104 65,8 47 29,7
1 0,6 158 100 A adequao do tratamento s decincias 1 0,6 11 7,0 89
56,3 56 35,4 1 0,6 158 100 Os tempos de espera de acesso reabilitao
3 1,9 6 3,8 108 68,4 40 25,3 1 0,6 158 100 O desempenho dos
tcnicos/mdicos e enfermeiros - - 3 1,9 76 48,1 78 49,4 1 0,6 158
100 42 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS
COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
34. Um item que avaliado de forma extremamente positiva o
desempe- nho dos tcnicos/mdicos e enfermeiros. De acordo com 49,4%
dos inqui- ridos, este desempenho bom, sendo satisfatrio para
48,1%. De salientar que nenhum inquirido atribuiu uma avaliao m
neste item. Com uma avaliao tambm positiva mas com resultados menos
ele- vados, encontram-se os custos da aco de reabilitao
(considerados sa- tisfatrios por 59,5% da populao e bons por
22,2%), a distncia do local de residncia relativamente instituio
onde recebe ou recebeu a aco de reabilitao, e os resultados da aco
de reabilitao. Nestes, 13,9%, 19% e 11,4% dos inquiridos classicam,
respectivamente, a avaliao da sua satisfao na categoria no muito
boa. Finalmente, foi pedido aos inquiridos que zessem uma avaliao
acer- ca do funcionamento geral da instituio. Essa avaliao global ,
inequi- vocamente, muito positiva: 57% do total de auscultados
considera que o funcionamento geral da instituio satisfatrio e
41,8% considera-o bom. De referir ainda que nenhum inquirido
considerou haver um mau funcio- namento. Apenas um o considerou
como sendo no muito bom. Relativamente s ajudas tcnicas,
constatou-se que os indivduos ava- liam de forma tendencialmente
positiva qualquer um dos itens em anli- se, apesar da avaliao no
ser to positiva quanto a efectuada relativa- mente s aces de
reabilitao mdico-funcional. Quadro 1.7.2. Satisfao com as ajudas
tcnicas M No muito boa Satisfatria Boa Ns/Nr Total N % N % N % N %
N % N % A adequao do equipamento s suas necessidades 5 3,8 13 10,0
77 59,2 23 17,7 12 9,2 130 100 O processo de manuteno do
equipamento 4 3,1 13 10,0 81 62,3 20 15,4 12 9,2 130 100 A forma de
obteno equipamento de ajuda ou do nanciamento para o efeito 13 10,0
20 15,4 62 47,7 20 15,4 15 11,5 130 100 O tempo de espera entre a
solicitao e a entrega 5 3,8 25 19,2 67 51,5 18 13,8 15 11,5 130 100
A qualidade do equipamento 1 0,8 15 11,5 77 59,2 23 17,7 14 10,8
130 100 A actualidade do equipamento /processo de renovao 3 2,3 18
13,8 74 56,9 19 14,6 16 12,3 130 100 Os custos de aquisio do
equipamento 14 10,8 27 20,8 60 46,2 14 10,8 15 11,5 130 100 O
SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS COM
DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 43
35. Dos aspectos analisados, aqueles que tm uma avaliao menos
posi- tiva so os custos de aquisio do equipamento (o que indicia,
uma vez mais, que o domnio nanceiro uma rea crtica junto de uma boa
par- te desta populao), a forma de obteno do equipamento de ajuda
ou de nanciamento para o efeito e o tempo de espera entre a
solicitao e a entrega. Quadro 1.7.3. Satisfao com os Centros de
Actividades Ocupacionais Muito Insucientes Sucientes Bons Ns/Nr
Total insucientes N % N % N % N % N % N % As capacidades que
desenvolveu no CAO - - - - 7 87,5 1 12,5 - - 8 100 Os transportes
de e para a instituio - - 1 12,5 5 62,5 2 25,0 - - 8 100 Do pequeno
grupo de inquiridos que frequentam ou frequentaram Centros de
Actividades Ocupacionais, a maioria considera que as capaci- dades
que a desenvolveram foram sucientes (7 casos em 8). Quanto aos
transportes de e para a instituio, a tendncia tambm para os consi-
derar sucientes, havendo 2 sujeitos que os classicam como bons.
Atravs da anlise de outros aspectos relativos a estes centros, pode
concluir-se acerca da percepo positiva dos inquiridos. Quatro dos 8
inquiridos consideram como bons o desempenho dos tcnicos e outros
prossionais e a acessibilidade no interior dos edifcios, sendo que
os res- tantes 4 os avaliaram como sucientes. Os horrios de
funcionamento da instituio so avaliados como sucientes por metade
dos inquiridos, ao passo que 3 os classicam como bons. J no que
respeita qualidade dos equipamentos utilizados e ao funcionamento
geral da instituio, 6 dos 8 inquiridos consideraram-nos como
sucientes. Constata-se uma ausncia quase plena de respostas que
conram um carcter negativo aos aspectos em questo. Apenas um
indivduo con- siderou os horrios de funcionamento da instituio como
sendo no muito bons. 44 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE
VIDA DAS PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL
36. Quadro 1.7.4. Satisfao com as prestaes sociais Mau No muito
bom Satisfatrio Bom Ns/Nr Total N % N % N % N % N % N % O
circuito/forma de obteno das transferncias sociais 36 6,4 130 23,0
312 55,2 18 3,2 69 12,2 565 100 O tempo de espera entre a solicitao
e a atribuio 56 9,9 187 33,1 238 42,1 21 3,7 63 11,2 565 100 A
adequao das remuneraes s necessidades 152 26,9 221 39,1 120 21,2 12
2,1 60 10,6 565 100 A informao disponvel sobre as prestaes 48 8,5
188 33,3 225 39,8 18 3,2 86 15,2 565 100 A articulao entre a
atribuio das transferncias sociais e a insero no mercado de
trabalho 50 8,8 187 33,1 188 33,3 9 1,6 131 23,2 565 100 As
prestaes sociais so, no conjunto dos apoios e servios prestados
pelo sistema de reabilitao, as que renem um maior grau de
insatisfa- o, encontrando-se os valores mais elevados nas avaliaes
de mau e no muito bom. Atravs da anlise do quadro, constata-se que
os inquiridos avaliam mais favoravelmente o circuito e a forma de
obteno das transferncias sociais (58%). A grande maioria desta
populao considera que este pro- cesso decorre de forma satisfatria
(55,2%). No obstante, 23% de indiv- duos consideraram-nos como no
muito bons e cerca de 6% cotaram-nos como maus. O grau de satisfao
decresce no que respeita ao tempo de espera entre a solicitao e a
atribuio das prestaes sociais, pois 43% fazem uma avaliao negativa
deste processo, considerando-o como mau ou no muito bom. A adequao
das remuneraes s necessidades avaliada de modo negativo, com 26,9%
da populao a atribuir-lhe a avaliao de mau e 39,1% a responder no
muito bom. Apenas 2% atribuem a classicao de bom a este aspecto.
Isto parece indicar que mais de 65% da popula- o com decincias e
incapacidades est descontente com os recursos nanceiros que lhes so
atribudos pelo Estado, considerando, portanto, que so estes
insucientes para fazer face s suas necessidades. Respos- tas de
carcter mais positivo so atribudas informao disponvel sobre as
prestaes, considerada como satisfatria em quase 40% dos casos,
ainda que cerca de 33% a percepcionem como no sendo muito boa. No
que respeita articulao entre a atribuio das transferncias so- ciais
e a insero no mercado, regista-se um nmero bastante superior de
no-respostas (23,2%) relativamente aos itens anteriores (cerca do
do- O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS PESSOAS
COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL 45
37. bro). Isto parece signicar que esta articulao desconhecida
por gran- de parte da populao. Os respondentes cotaram a articulao
referida predominantemente como satisfatria (33,3%) e no muito boa
(33,1%). De referir ainda que apenas 2% atribuiu a classicao de
bom. 46 O SISTEMA DE REABILITAO E AS TRAJECTRIAS DE VIDA DAS
PESSOAS COM DEFICINCIAS E INCAPACIDADES EM PORTUGAL