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     H   e   n   r    i   q   u   e    S   c    h    ü    t   z   e   r    D   e    l    N   e   r   o     S    Í    T    I    O    D    A    M    E    N    T    E  c  a  p 1  9   e r  c  e  p  ç  a  õ  e  a  ç  ã  o   p  á  g   3 4 1 collegium cognitio natureza selecionou, ao longo de milhões de anos, um determinado tipo de estrutura capaz de controlar uma série de funções internas e ex- ternas do organismo: o sistema nervoso. Muitos organismos possuem esse sistema espe- cializado na recepção de informação, integração e exe- cução motora, fruto de uma bem-sucedida estratégia natural. Seu grau de complexidade, no entanto, vai aumentando de acordo com a esc ala animal. Assim, o sistema nervoso de um mamífero é mais sofisticado que o de um molusco, e, entre os mamíferos, o siste- ma nervoso humano é de longe o mais complexo. Quando se faz a clássica comparação do homem com outros animais, um dos números mais gritantes é o de encefalização - medida de crescimento do cérebro em relação ao corpo. O ser humano apresen-ta uma proporção bastante maior de massa ence-fálica (cé- rebro) do que qualquer outro animal. Isto mostra que, algumas vezes, “quantidade é qualidade”. O cérebro humano é, basicamente, formado por dois conjuntos de células - um manipula e processa in- formação, tal qual fosse um computado r; o outro dá suporte físico e sustento. Há na porção responsável pelo processamento, formada pelos neurônios, uma parte 4 A mente organizada capítulo 19 Percepção e ação

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collegium cognitio

natureza selecionou, ao longo de milhões deanos, um determinad o t ipo de estrutu ra capazde controlar u ma série de fun ções intern as e ex-

tern as do organismo: o sistema n ervoso.

M u i t o s o r g a n i s m o s p o s s u e m e s s e s i s t e m a e s p e -cializad o na recepção de informa ção, integração e exe-cução m otora, fru to de um a bem -sucedida estratégiana tu ral . Seu grau de complexidade, n o entan to, vaiau men tan do de acordo com a escala an imal. Assim, osis tema nervoso de um ma mífero é mais s ofis t icadoque o de u m molusco, e , entre os m am íferos, o s is te-

ma nervoso humano é de longe o mais complexo.Qua ndo se faz a clássica compar ação do homem comout ros an ima is , um dos nú meros ma is g r itan tes é ode encefalização - medida de cres ciment o do cérebroem re lação ao corpo . O ser hu ma no apresen- ta u maproporção bas tan te ma ior de ma ss a ence-fál ica (cé-rebro) do que qua lqu er outro an imal. Isto mostra que,algu ma s vezes, “qua ntidad e é qu al idad e”.

O cérebro hu ma no é, basicamen te, forma do por doisconju n tos de cé lu las - u m m an ipu la e p rocessa in -formação , t a l qua l fosse u m computa dor ; o ou t ro d ásu por te fís ico e su s ten to . Há n a p orção respons ávelpe lo processam ento , fo rmad a pe los n eurônios , u ma

parte 4

A mente organizada

capítulo 19

Percepção e ação

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PERCEPÇÃO E AÇÃO

atividad e motora e a sens orial são, ao contrár iodo que possa p arecer , fun damen tais pa ra o en-

tendimento da mente e de su a a parição no cére-bro hu man o. A mente nã o é apenas u m intermediár ioentre a p ercepção e a a ção. As três confun dem-se detal maneira que há mu ito da m ente na geração de ex-pectativas sens oriais e de planos m otores.

Ima gine, por u m ins tan te, o que significa m otricidad e epercepção. Nossa em presa p recisa d e portas de en-trada p ara todo e qua lqu er docu men to e de portas de

saída p ara su as deliberações. A empresa-cérebro com-portaria, assim, as vias de chegada, de decisão e deação. Sensa ção e motricidade ou percepção e ação sãoas vias de ch egada e de saída, as n ossas conexões re-ais com o mu ndo. Sem elas a m ente faz parte do ima -giná rio, do devaneio, do sonh o e da elabora ção do fu-tur o, prestidigitação engan osa ou ciência do ama nh ã.

O problema da ação é fu nda men tal . Uma pess oa ja-mais tem acesso a qua lquer coisa qu e se cha me men -te , senão à su a própr ia . E ass im m esmo, somente setem acess o à porção consciente da m ente (ou pa ssívelde torna r-se cons ciente). Será que o que n ão pode-mos a cessar conscientemente n os bast idores da com-plexa operação cerebral é tam bém m ente? Não, por-

que não se ganh a na da ao a firmar qu e a mente é umaoperaçã o complexa levada a cab o pelo cérebro; se a

operação é inacessível à intr ospecção, tanto faz cha má -la d e men tal ou de cerebral .

Grande par te do problema da comu nicação hum anaadvém de uma assimetr ia entre os falantes: eu souum a m ente que procura expressar em pa lavras e ematos m inhas motivações (ou d iss imu lá-las) enqu an toque o outro é um aparato receptor , um corpo, que,su -ponh o, decodifica m inh as palavras e gestos, crian -

do um a imagem intern a do significado da comu nica-ç ã o . H á u m p o t e n c i a l d e e q u í v o c o n e s t e c a n a lass imétrico de comu nicação. (Há qu em defend a qu e ama is d ifícil dua lidade d a condição hu ma na nã o é aqu elada relação da m ente com o cérebro, ma s sim a quela darelação do eu -mente com o outro-corpo.)1

Na ou tra p essoa, n osso inter locutor, só podemos vera a ção ou a motr icidad e; sua fala é motora, o gesto émotor , a m u sical idade e a ênfase d a voz são m otoras ,o olhar é motor (o que lhe confere expressividade éum a determinada gama de m ovimentos n ão perceptí-veis), a expres sã o corporal é motora , a r igidez está ti-ca é m otora (por au sência de a t ividade e h ipertoniamu scu lar), o semblan te é motor , bem como o sorr iso

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e o choro; o grito é motor; o delito é motor. Tudo, nofinal das conta s, é ato advind o dos mú scu los corporais.A men te é um a em inên cia p arda que s e infere esteja pordetrás dess es atos. Poucos su põem existir mente, pelomen os complexa, por trás dos atos m otores do gato oudo cão. Muito poucos aceitam h aver mente por trás d as

ações de u m robô.

A ún ica coisa objetiva n este mu nd o é a a ção, linguagempú blica verbal ou corporal, que pretende expressar nos-so mu ndo m ental intern o. Essa lingua gem p ú blica é omeio de se testarem e refu tarem opiniões e teorias. Ima -gine que u ma pessoa diz ter um gato com três patas noquinta l. Respondo que n ão acredito, e a pessoa m e con-vida a ir até o quint al observar o gato. Pronto, a dú vida

está dirimida. “Ver com meus próprios olhos” é umaexpressã o popular qu e retrata este estatu to intersu bjetivode comu nicação, teste e objetividade.

Nu m certo momen to da história recente (início do sécu -lo XX) tentou -se − atra vés do ch am ad o positivism o ló-gico ou Círculo de Viena − eliminar todo o apelo a en ti-dad es n ão-observáveis (não pa ssíveis de t este sen soriale objetivo e de uso de u ma lingu agem pú blica de con-fronto). A men te deixou de existir, pass an do a ser a pe-na s o comporta men to (vertente positivista n a ps icologiachamada behaviorismo). Comportamento observávelna da m ais é qu e motricidad e, ação final do sistema qu erealiza algu ma tar efa, qu er falan do, quer gesticuland o,quer produ zind o sinais físicos.

Foi em vão essa tenta tiva. Há m ais entre o estímu losens orial e a resposta m otora do que se ima gina . Há océrebro e a men te, que mais do que m eros inter mediá-rios da inform ação que vem do m un do e para ele volta,são na verdade os maestros de qualquer operação.Porém, não h á dú vida de qu e a m ente é , de uma certa

form a, ina cessível. Pass ível de inferências, d e h ipóteses,acaba por ter no produ to fina l motor su a expressão. Nãohá como testá-la senã o observan do a ação-comporta-men to. Qua ndo afirm o que u ma d eterminada d roga ageem ta l fu nção m ental, testo e compr ovo minh a a firm a-ção, exibindo em s egu ida a m elhora motora: na lingua -gem que fala a gora d e outra ma neira, no corpo que agede outra form a, no sem blan te que contrai de modo suavedezenas d e mú sculos, e ass im su cessivam ente.

Cada u m de nós, a seu m odo, tem acesso direto à suamen te, na s olidão de su a introspecção e sem a interfe-rência dos ou tros. Cu rioso par ad oxo: o que é pú blico,fundamental e objetivo é justamente aquela porçãomotora e comportam ental de nossas m entes. A men teisolada em cad a u m de n ós seria, assim, pou co confiávelno qu e diz respeito ao contat o pú blico e ao us o de lin-guagens precisas de comun icação. Esse para doxo temdois encam inham entos. Primeiro, não h á s entido emesper ar qu e somen te o que é observável seja confiável,porque sab emos que a m aior parte dos discurs os rele-van tes d iz respeito a fatos nã o diretamente observáveis.Segun do, na verdade o que pensa mos ser esse acessoprivilegiado de cada u m à s ua própria m ente nã o passa

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de um a ilu são criada à cu sta do ap rendizado e da lin-guagem. Lembre-se do exemplo: supor que a mente éfeita apenas da tela do computador e que não tenhacircuitos por trás .

Seríamos, n esse sen tido, seres pú blicos que se fingem

privados e n ão privados qu e tentam , na esfera pú blica,comu nicar o que h á dentro de cada u m. Somos só cére-bro ao nas cer, adquirindo m ente graças às fôrmas pré-vias; porém, ela é m oldada nos s eus conteú dos à ima-gem e sem elha nça d o mu ndo circun dan te. No caso daaceitação da patologia m enta l, fica pa tente o qu an to in-corporamos o discurso da cultura e não a percepção donosso corpo: apesar de percebermos o choro fácil, asnoites ins ones e a falta de concentra ção, não querem os

aceitar que o cérebro adoeceu. Por isso, a mente quepercebemos em nós, su pondo privada , é extensão damédia de opiniões do pú blico a que n os su bmetemos.

A esfera d a a ção (e portan to a es fera d a m otricidade) émenta l. Uma mesm a sentença dita em tons de voz va-riados tem diferentes conotações. Um modo de olharmu da o sentido e a confiabilidade d e um a frase e deu ma atitu de. Tu do isso é coordena do pelo cérebro e fazparte do imen so arsen al de fatos qu e sub jazem à comu -nicação hum an a. Tu do isso é mente, consciente ou n ão.Embora não se tenha a menor idéia de uma série deatos e p ercepções, pois ocorrem a baixo da cons ciência,eles sã o comu nicativos, a d espeito de nã o-inten cionais.O sorriso que n ega e o tap a qu e confessa a p aixão são

contra dições pequena s d entro da complexidade da co-mu nicação interpess oal.

Somos ao m esmo tempo u ma men te rica, cheia de idéi-as, emoções e vonta des e u m p roduto fina l que é s uaexpressã o motora púb lica. Se por um lado nã o se con-

segue reduzir a mente ao comportamento, também amen te sem esse comportamen to não tem razão de ser.A ação m otora é a via fina l de todas as operações men -tais. Não há mente s em obras motoras, concepção in-versa à que diz ha ver pecado por atos e pensa men tos. Amen te não é s enão prefiguração da ação e da p ercep-ção, nã o cabendo impu tar -lhe culpa por pensar ou de-sejar, tal tivess e controle abs olu to sobre s i.

Está aí circunscrita a separação entre pensamento eato m otor. Porém, como já vimos, o sistema precisa ve-rificar todas as hipóteses p ara escolher u ma para agir.O ato, en qua nt o esfera objetiva e pú blica, é o ú nico ele-men to confiável da cad eia, emb ora nã o se desgarre damen te que o sus tenta e esta não possa ser totalmen teexplicada por ele. Se pudéssemos explicar o todo damen te pelos atos e comportamen tos o behaviorismo te -ria vingado como t eoria ps icológica definitiva. Nem tod oato é consciente, porém a ma ioria deles é m enta l. Pode-mos comun icar, a través dos atos , conjun tos d e fatosinterpretáveis à luz da lingu agem sem qu e tenha mosconsciência desses fat os.

Grande pa rte do poder de alguma s pessoas d e se sair

 

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bem nu ma s érie de relacionam entos repou sa n a capa-cidade de perceber os a tos motores do outro qu e ates-tam, de u ma ma neira bastan te confiável, para onde sedeve encam inhar o discurs o; essa percepção pode sercons ciente ou n ão, certa ou errada. Imagine du as pes-soas conversan do. Há u ma s érie de fatos m otores entr e

elas. Cada u ma produz palavras, gestos e entonaçõesno discurso, etc. Temos acesso apen as a u ma parcelada comu nicação, aquela qu e se dá no plano da inte-ligibilidade. Por ou tro lado, cad a u ma delas tem acess oapena s à parcela consciente da comu nicação, que nã oé exatam ente expressa . Dois sujeitos são capa zes de:a) produ zir fatos m enta is cons cientes e nã o-conscien-tes; b) agir a través de su a m otricidade veiculand o par -te dos fatos conscientes (modu lan do o que se tran sm i-te ou n ão) e tam bém veiculan do parte dos fatos não-conscientes ; c) perceber e ju lgar cons cient emen te por-ções da a ção alheia; d) perceber e ju lgar n ão-conscien-temen te porções da ação alheia. Um observador é ca-pa z de: a) perceb er cons cientem ent e os atos int eligíveisque ocorrem en tre os dois su jeitos conversan do; b) per -ceber, embora sem consciência, ou tros atos entre a m-bos. Pense em todas as com binações possíveis dess aintera ção e em todos os poten ciais acert os e equívocosque podem gerar.

Grande parte da vida m ental se dá n os seguintes pla-nos: a) fatos m enta is intern os, cons cientes ou nã o; b)ações cons cientes; c) ações n ão-cons cientes; d ) percep-ções conscientes; e) percepções não-conscientes. De

ma neira geral, as ações sã o parte da consciência, por-que são um a expressão do que pensa mos, sentimos oudesejam os; são também pa rte da n ão-consciência por-que, atra vés de ações, comu nicamos u ma s érie de in-formações que não percebemos e sobre as quais nãotemos controle consciente. Assim s e dá tam bém com o

outro. O su jeito que observa de fora n ão tem a cesso aqua lquer estad o menta l dos su jeitos que estão conver-san do, mas a pena s às porções inteligíveis de seus com-portamentos, mesmo que não-conscientes. Cuidado,porqu e a inteligibilidade pode confun dir-s e com a cons -ciência, mas n ão são sinônimos.2

Por definição, int eligibilidade seria a qu alida de d aqu i-lo que é p as sível de ser compr eendido ou explicado.

Ass im, todos os a tos ser iam inteligíveis , a inda qu emu itos deles ainda nã o t ivessem explicação ou com-preensão. O fato, a inda, de que devemos conheceras vontades do sujeito é relativo. Alguém, como vi-mos a t rás , pode d izer ou p ensa r te r vonta de de a lgoe agir como se n ão tivesse, e vice-vers a. 3

Percepção, ação e consciênciaUma t eoria da men te deve explicar os s eguintes fatos:a) apa rentem ente, a men te surge como u ma inibiçãoà a ção e u ma seleção-amplificação da percepção; b)

 

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embora nossa ação e nossa percepção se jam mu itoam plas, ap ena s pa rte delas é cons ciente; c) a inteligi-bi lidade das ações pode ser mu ito ma ior do que ima-gina mos, desde que tenh am os o devido ins tru men topara qua lificar a s a ções cons cientes , a s n ão-cons ci-en tes e aque las qu e , a inda que se mos t rem de um a

forma na consciência, têm outro as pecto na porçãonão-consciente.

Vamos explicar estas três afirmações. Podemos, dema neira geral, dizer que h á t rês gran des porções noscérebros: uma l igada aos est ímulos sensoriais (domu ndo exter ior e do corpo), u ma l igada à s a ções m o-toras e, entre as du as, a porção de integração e proces-sam ento. Qua nto ma is triviais as operações, mais po-demos designa r circuitos tais que, dado u m determ ina-do estímu lo, tenha mos u ma certa resposta. Para issoprecisar íam os de mu ito pou ca integração inter median doo estímu lo e a resposta e, portan to, precisaríamos pou -co da mente. Porém, quanto mais complexo o meio,ma is tem os que d ecidir entre est ímu los que a dmitemvariadas respostas . Mais ainda: não só o ambientemodela o comportam ento, ma s o próprio cérebro pas -sa a ter um a função at iva sobre o meio.

Nes tes do is casos prec isam os de a para tos capazesde int egrar e balan cear as inform ações sens oriais e ,cotejan do-as com es tados prévios (com expectat ivasprévias) do cérebr o, gerar (ou inibir) ações. Iss o ex-plica a lenta forma ção da m ente como processo inter -

mediár io. Mas o s u jeito da ação tem consciência deapenas u ma pa rce la dessa m ente . Não só há pensa-men tos, vontad es e emoções qu e podem escapar aocamp o da cons ciência, como tamb ém há atos moto-res qu e, embora ch eios de s ignificado, nã o são per -cept íveis ou exp licáveis por ela.

Entã o , qua l se r ia a fun ção desses a tos motores naexplicação da m ente e por que escapa m à consc iên-cia? À medida que adquir imos mente, l inguagem ecomu nicação, podemos a mp lificar , pelo t reina men -to, o ap rend izado, o conh ecimen to e nosso poder decapta r s ina is amb ient ais (lemb re-se do exemp lo doma es t ro que , compa rado ao noviço em m ú s ica , per -cebe melhor as nu an ças dos ins t rum entos ).

Do ponto de vis ta d a açã o motora, também podemosadestra r um a sér ie de fun ções. Assim, embora nã o-conscientes , podemos treinar m ovimentos até qu e setornem tremen dam ente perfeitos . Um ba ilar ino nã opensa em n enhu m dos movimentos que va i executa rem de ta lhe , mas apena s nu m todo . Também u m es -por t is ta n ão pensa em cada mú sculo que deve sercontraído para que haja perfeição ao arremessar abola. Ao contrário, apenas deseja fazer a cesta oupas sa r a bola. Na verdade, a a ção motora é s i lencio-sa n a men te. Um indivídu o de excelente performa ncemotora pouco faz em te rmos m enta i s para que h a jagraça e p rec isão em seus a tos ; ou , pe lo menos , pou -co faz do ponto de vis ta consciente. Gran des esp or-

 

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t is tas e bai lar inos conta m qu e, se pensa rem nu m atomotor (pelo men os du ran te su a execução), não con-segu irão quase na da na prá t ica .

Pois b em, o qu e es tá em jogo aqu i é a poss ib il idad ede que a m ente seja u ma espécie de fu nção que ap a-

rece quando temos de abortar, inibir, selecionar emodu lar as ações m otoras . Nesses casos s ub st i tui-sea a ção motora pela açã o ment al. Isso seria compa tívelcom um a an t iga observação de qu e exis tem a lguma scrian ças m ais motoras e outras m ais cerebrinas. Po-rém, tam bém n o adu lto, a despei to de um a primeiraoposição entre ação m otora e ação menta l, temos a in-da u ma variada gam a de a ções n ão-perceptíveis e n ão-volun tár ias , que comu nicam m u ito.

Conh ecer as n ua nças dessas ações pode fazer de u mapessoa u m trem endo negociador, um conten dor, bemcomo um grand e trapa ceiro. Por ora, pouco se conh e-ce a esse respeito, embora h aja grande m ass a de infor-ma ções dispersa s sobre o tema . O que falta é o esboçode um a teoria qu e explique por que temos u ma parce-la tão gran de de ações motoras nã o-conscientes.

O cerebelo, an tes t ido apena s como controlador mo-tor, é h oje considerado atu an te na s funções men tais .4

Poderíamos ci tar a lgu ma s h ipóteses pa ra explicar afu nçã o da m otricidad e na vida m enta l: a) a m otricidad eé o oposto da m ente; b) a m otr icidade é u ma porçãonã o elaborad a da men te; c) a m otr icidade é a porção

primitiva da men te (nã o form ata da p ela cu ltura ); d) amotricidad e é u m a ná logo de men te primitiva, enqu an -to o pens am ento é sua faceta m ais nova.

Todas as hipóteses poderiam s er defendidas. Creio,no entanto, que o papel da motr icidade (e de uma

certa forma também da percepção) numa teoria damen te seria descrita de forma a distinguir três orden sde ações: reflexas, comp lexas e conscientes .

As ações motoras s er iam descri tas , assim, em:

a) ações reflexas: já seleciona das an tes do na scimen -to e dura nte os pr imeiros dias de vida, represen tammecan ismos ráp idos e u niversais de proteção;

b) ações motoras não-conscientes: grande parte docontrole da ação m otora ser ia nã o-consciente e im-possível de se tornar consciente, como no caso decontroles f inos de m ú scu los, a celeração, tensã o, e tc;

c) ações motoras conscientes: na verdade seriam a ná -logos m otores , isto é, nã o seriam movimen to, ma s idéiade movimen to e assim por diant e.

Como as ações motoras acontecem quase que total-men te fora do cam po de consciência, poderíamos d izerque todas a s ações apren didas, treina das e pa ssíveisde serem objeto de decisão sã o “men tais” no s entido denã o estarem pré-gravadas em t odos os ind ivídu os da

 

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espécie. Dependem , ass im, da h istória d e treina men to eaprendizado de cada u m, das circun stân cias, etc. Se umato m otor reflexo é algo que a contece semp re, em todosos indivídu os de u ma espécie, um ato n ão-conscientemotor é a lgo que varia de ind ivíduo pa ra indivíduo, tan -to na ad oção ou n ão de certo comportam ento, qu an to

tam bém n o modo de realização. A par cela cons ciente éapenas um a pequena idéia do m ovimento, de alguns deseu s tra ços gerais. É o desejo de encestar a bola, o dese-

 jo de iniciar a dança, o desejo de falar fino. O resto sepas sa n o autom ático. O que pa rece estar em jogo qu an -do se avalia qu anto os a tos motores comu nicam, a d es-peito de au sên cia de inten ção ou consciência, é:

a) somos, n o fina l das conta s, seres ligados à a ção e nã o àreflexão;

b) a m ente somen te teria função de intermediar a ação;

c) há um a su pervalorização da m ente à m edida qu e nosafas tam os do m eio na tu ral (e vamos pa ra as cidades, paranich os ar tificiais);

d) grande parte da m ente continu a a processar a informa -ção tal fosse em am biente n atu ral e, portanto, com me-nor qu an tidade d e consciência;

e) a açã o no ser hu ma no se torn a respon sável e pass ível deser cham ada a justificar -se (nã o há m acaco que seja cha -ma do pelos comp an heiros pa ra ju stificar ou explicar a l-

gum a açã o sua : se agir em desa cordo, será reprimido pormeio de alguma outra ação);

f) a p arcela d a a ção que é consciente é apen as aqu elaque é pas sível de ser cham ada a explicar -se quan to aosmotivos.

Parece que mantemos ligado o canal de comunicaçãonã o-consciente porqu e isso caracteriza a n ossa m ente eo noss o processam ento bá sico de inform ação conflitante.Não há necessidade de consciência para que s e proces-sem ações complexas. Toda vez qu e processam os açõescomplexas estam os inform an do, através de atos m oto-res, uma série de pistas da razão processante interna.Essa razão é um a regularidade e, portan to, não é descri-ta através de regras. É fruto de um balanceamento deap ren dizad o, de treinam ent o e de avaliaçã o de várias si-tu ações conflitan tes. Absolutam ente n ão há regra geralpara explicá-la. É uma rede neural que tem pesos deconexão e componen tes diferentes em cad a u m dos s ereshu ma nos. Porém, essas ações requerem um a justificati-va, u ma razão, um discurso qu e as explique. Assim, vailentam ente se sobrepondo à inter mediação neura l e es-tatística (regularidades ) u ma redescrição par cial atra vésde discu rsos de jus tificação, de valor e de m otivos.

Esse discurso é apena s u ma pa rcela das ações motoras,às vezes inconsistente com essas mesmas ações, e éform ado pela lingua gem e pelas s u as regras s u per ficiaise profun das. Es sa é a parcela consciente da ação, que se

 

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tran sm u ta em seu s diversos an álogos menta l-lingü ísticos:pensa men to, emoção, vontade, etc. Minh a h ipótese é queha ja o seguinte cortejo de acontecimen tos:

a ) cé rebros de ou t ros an imais tam bém a prendem edesenvolvem mecan ism os complexos de interm ediação

entre est ímu los sens oriais e ações m otoras;

b) a men te, definida como inter med iário comp lexoentre o est ímu lo e a resposta , es tá presen te em qua l-quer an ima l , em grau s crescentes de complexidade;

c) grande pa rte das ra zões inter na s e inter mediár iasaparecem sob a lgum a forma n a ação motora ;

d) com a progressiva cu ltu ralização do ser hu ma no, queenvolve valores, n orm as , ju stificações e respon sa bilida-de, é preciso tradu zir as regularidad es neu rais do planodas a ções aprendidas, t reinadas para u m discurso deregras lógicas pas sível de just ificar -se e d efend er -se;

e) esse plan o engloba, entã o, a forma ção de u m an álogoda ação, um discurs o sobre a ação e a percepção, que éa consciência;

f) esse discurs o capta, da ação e da p ercepção, um apa rte explicável (jus tificável, defens ável), inibind o aqu e-las ações que violem determinados valores e ratifi-cand o as a ceitáveis, som ente terá possibilidad e de serconsiderado ato mental (no sentido de consciência)

aqu ela pa rcela dos a tos que esteja su jeito à redescriçãoatr avés das r egras lógico-lingüísticas e que s eja pa s-sível de in ibição ou ra tificaçã o (Fig.49).

Fig.49 −   A mente é apresentada como

redescrição dos atos cerebrais complexos. Por serredescrição, não é cópia, mas alternativavalorada. Pode inibir ou ratificar as ações

motoras complexas cerebrais. Surge muito mais a reboque da justificaçãoda ação e da aposta em certos cenários que requeiram responsabilidade, doque propriamente como aparato de processamento complexo.

 

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Seríam os, assim, u ma espécie de du pla personal ida-de. Uma empresa cuida da ação, outra cria inventáriosda açã o, nã o cópias, pa ra qu e possa h aver defesa des-sa ação. A mente, enquanto aparato complexo, pro-cessa a relação entr e os símbolos a través de regulari-dad es. A consciência pr ocessa a relação en tre os sím-

bolos atra vés de regras. A relação entre a men te neu rale a cons ciência lógico-lingüíst ica se dá s ob a form a desincronização e memórias. Tudo se passa, então, daseguinte forma :

a) o cérebro vem a o mu nd o com u m estoque de refle-xos pré-gravados ;

b) diante do ambiente complexo, precisa aprendernovas ações, novas percepções, bem como ser cap azde inibir a ções e percepções reflexas. Es se a pren diza-do com bas e na experiência se utiliza do modo neu ralde relação en tre objetos (do tipo redes neu rais), forte-men te baseado em regu lar idades;

c) diante do surgimento de normas de contato, deconvívio, de obediência e de res pon sa bilidade, é pr e-ciso cr iar u ma redescrição em símbolos e regras daação e da percepção tal que se poss a d efendê-la ou

 justificá-la;

d) apa rece, então, u ma nova complexidade qu e nã o émais da ação ou da percepção , mas d o va lor da açãoe da percepçã o redescritas . Essa com plexida de exige

que se cr ie u ma nova forma de discurso sobre a açãoe a percepção, calcado nas regras de l igação entresímbolos (tam bém eles m u táveis e s u jei tos à influ-ência d o ap ren dizado, int eligência e valor). Es sa novaredescrição é consciente ou pa ss ível de se torna r cons-c ien te . Sua fun ção é c r ia r u m d iscu rso sobre a ação

e a percepção bas eado no va lor des tas .

Se a mente é um a represen tação do mu ndo, p roces -sando a percepção e a ação em si tuação complexacom a finalidade biológica da ad ap taçã o, a cons ciên-cia é um a represen tação da m ente com a final idadesociológica da ad equ açã o e da obediência. Pode, as -sim, inibir ou ra tificar toda a ção ou p ercepção inferi-ores . Quan do não pode, é apena s u ma p seud o-repre-senta ção l ingü íst ica, nã o cara cter izando fato cere-bral , mas a pena s proposição falsa . 5

Uma vontade ou um pensam ento conscientes que n ãosã o capazes de inibir ou ra tificar a ação e a p ercepçãosão proposições (porque bem constru ídas ), mas sãofalsas. Não são, assim, imputáveis. As proposiçõesconscientes verdadeiras s ão aqu elas qu e descrevem acapacidade d a consciência de inibir ou rat i ficar u mdeterm ina do curs o da ação motora e da percepção

sen sorial. A consciência seria, ass im, um a esp écie derepresenta ção dis torcida d a a ção e da p ercepção. In-fiel porqu e nã o é sím ile, ma s versão; distorcida por -que s ub metida ao imperat ivo do valor e da adequ a-ção, nem semp re compatíveis com u ma biologia que

 

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reclama deliberações imediatas. A consciência civilpode inibir a fome em ato de p rotesto, assim como aconvicção d o pa pel religioso p ode inibir o imp erat ivoda reprodu ção e perpetuação gênica pela cast idade.

Um su icídio por u ma cau sa civi l ou p or um a idéia é

um fato a paren temente contrabiológico. A represen-tação cons ciente é cap az, pelo exam e do valor da a çãoredescrita , de se an tepor à razão an ima l , que clamapela sobrevivência, inibindo circuitos de au todefesa .Dessa form a, percebe-se qu e a mente (enqu an to com-plexidade cerebral aprend ida e m oldável) é u m conju n-t o d e o p e r a ç õ e s c o m p l e x a s q u e i n t e g r a m a s e n -sorial idade e a ação. Essa integração se d á s ob a for-ma de regularidades fortemen te dependen tes de treina -men to e circu ns tân cia. Não ha veria necessidade deconsciência se não fosse o estilo de interação que alinguagem e a sociedade requ erem. Nelas nã o é ape-nas o conjunto das ações individuais visando à so-brevivência que é objetivado, mas o conjunto coesodo grup o que se su põe mais adapta do. Nesse sent ido,a form ação de u ma sociedad e exige que os indivíduospassem a s e r cons t i tu in tes de um novo organismoqu e deve sob reviver. A lógica da sobr evivência d o gru -po social exige agora qu e se inibam e regulem algun s

comport am entos ind ividua is. Iss o se faz pela lingu a-gem e pelas norm as. À medida que ap arecem as n or-ma s e o valor, é preciso que ca da indivíduo crie uman álogo da a ção e da percepção capa zes de, ap ós re-descrição, serem valorados. E sse an álogo é a consci-

ência , ou a m ente, propriamen te di ta . Somente é efi-caz qua nd o capa z de inibir ou r atificar o nível inferi-or, isto é, o nível das operações complexas qu e podempor s u a vez inibir o n ível das ações r eflexas . A Figu ra50 mos t ra os pa tamares h ie ra rqu izados dos qua issomos const i tuídos.

Fig.50 −   Hierarquia de surgimento deprocessamento complexo, por oposição aoprocessamento reflexo, e a partir de en-

 tão dois níveis plenamente mentais: o daconsciência individual e o da mente cole-  tiva. A mente, enquanto código einteligibilidade, se realiza na consciênciae é passível de ocorrer em outros meios:máquinas e sociedade.

 

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O esquem a da Figura 50 explicar ia:

a) o fato de, n a s ituação de p erigo imediato, as h ierar -qu ias res pon derem de ba ixo para cima (o reflexo falaan tes do men tal, o men tal fala an tes do cons ciente, ocons cient e individu al fala a n tes do coletivo);

b) o fato de qu e cada pas sa gem de n ível implica n u mainterpreta ção e , portanto, n u ma l igeira d is torção: omen tal (complexo) pode cr iar var iações des conh eci-das dos l imites norm ais para a espécie; o cons cientepode cr iar interpretações valorada s d e fatos par ciaise l igeiram ente d is torcidos d o men tal nã o-consciente(e isso se deve ao fato de qu e essa via precisa se a de-quar a cer tas coações da l inguagem), o conscientecoletivo distorce, de algum a forma , os mod os indivi-du ais de con sciência (e isso se d eve a imp erat ivos depoder, ordem , etc.);

c) como o men tal cons ciente é u ma reinterpreta ção,a t ravés da lingua gem, d e fa tos m enta i s qu e operamcom regular idades, h á u m est rei tamen to de s ignifi -cação para se ada pta r a os s ímbolos e regras da l in -guagem (semâ nticas e s intát icas) e aos impera t ivosmora is , é t icos e jur ídicos d aqu ele grup o;

d) qua nto m ais progredimos d e baixo para cima , maisse perdem os e los de cau sa l idade e m ais se acen tu -am os elos de significado;

e) qua nto ma is ascendemos, ma is o ser na tu ral se tornadever social;

f) qua nto m ais caminh am os de baixo para cima, m aisan alógico se torna o pr ocessam ento (como vimos, paradesempenhar o papel de catalizador de relações em

cená rios comp lexos); porém, par adoxalmen te, pelo con-curs o da lingu agem, ma is se en carcera o domínio dodiscur so n a rigidez das sentenças, dos argum entos e dosvalores digitais de verd ad e;

g) par a comp ens ar isso, o discu rso se desinveste deseu caráter de conhecimen to e se torn a opinião: qu an -to mais a l to na h ie ra rqu ia , ma is o d i scurso do co-nh ec imento se to rn a d i scurs o de poder ;

h) como o ápice da h irarqu ia é n ão-cerebra l (cons ciên-cia coletiva) e como a ba se é cerebra l, pres u me-s e quea m ente (que está na interface entre o individu al e ocoletivo) nã o é cerebral. Isso confun de em lugar d e es-clarecer. É cerebral porque ali está s u a gênese e su s-tentação. Porém, n u m ou tro plan o, é u m código e umainterpretação, abs tração de s eu meio físico de su portee ênfase na su a car acterística de inteligibilidade. Su bs-tân cia ú nica, não é nem a ma téria cerebral nem a errô-

nea na tureza espiritua l; é a n atu reza dos códigos e su adecodificação poss ível. A isso cha mo d e mon ismo doscódigos ou de m onism o criptográfico.

Se pensarm os na nossa emp resa , poderemos te r a l -

 

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guma s idéias a p ar t i r do processo descrito no diagra-ma an ter ior. Ima gine qu e inicialmente a empresa selimite a repassa r o que entra par a a s aída de acordocom uma regra prévia. A empresa não transformana da, apen as real iza a operação de ligar a um a dad aentrad a outra dada saída. Com o tempo, percebe-se

que há a n ecessidade de processa r um pouco a infor-m a ç ã o q u e e n t r a p o r q u e a s s a í d a s p o d e m s e r m u i-tas . Tre ina m-se , en tã o , fu nc ionár ios e depar tamen-tos par a fazê-lo. À medida qu e a em presa começa aoperar dessa ma neira , inicia-se u m lento processo deadesã o às regras do mercad o. Nele há u ma determ i-na da resp onsa bilidad e pelo produto diante dos con-su midores. A men te, assim, é apena s o processo com-plexo de bu scar , via departam entos concretos ou vir-tu ais , soluções cada vez mais cr iat ivas e inovadoras .Porém, com o progressivo engajamento n o mercad oapa rece a n ecessidad e de fazer relatór ios de todos osprocessos de den t ro da empresa para qu e e la possase defender de alguma acu sação. Esses relatórios sã o,então, e laborados enquanto se executam as tarefasmentais. São, no entanto, outros funcionários e co-missões qu e os elaboram, como interpretações do pro-cesso m ental em curs o em outra s comissões.

As deliberações da p residên cia, no que diz respeito àrespons abilidade da empresa , se bas eiam n estes re-latór ios . Tanto os cená rios fut ur os, qua nto a just i fi -cat iva dos atos pas sad os us am es ses relatór ios , quede um a certa man eira espelha m grande parte do pro-

cesso real , ma s ta mbém têm l imitações inerent es àl inguagem que usam. Esses relatór ios é que forne-cem m aterial para a cons ciência. A decisão conscien-te pode, as sim, inibir ou rat i ficar processos n os n í-veis inferiores. Além disso, a p residên cia é direciona da ,de um a cer ta fo rma, por um a pesquisa de mercado

em qu e se avaliam a ima gem da empresa , os novosru mos do pú blico cons u midor, novas legislações, etc.Tanto esse nível do mercado pode moldar, por coa-ções m ais ou m enos explícitas , a tarefa d a pres idên-cia e dessa s comissões de consciência, como tam béma cons ciência pode inter ferir n os processos d e produ -ção real.

Uma out ra imagem qu e pode se r usa da é a de que , seo cérebro é um a fábrica capaz de produ zir u m fan tás-tico produto cham ado comportam ento (men te no sen-t ido de opera ção cerebra l complexa), a consciência(mente propriamente di ta) é at ividade burocrát ica,es tand o todo o tempo m oni toran do o produ to , mu-dan do-lhe algu ma s especificações, e sofrend o deter-minada s coações do m eio consu midor.

Atençã o: essa atividade bu rocrática é cheia de depa r -tam entos e a fábrica é cheia de m áqu ina s. Não con-

fu nda o est ilo de divisão em departa men tos concre-tos da pa rte bur ocrát ica da empresa com a divisão defun ções n a p arte indu str ial (ou n a p lan ta) da fábrica.Gross o modo , a par te bu rocrát ica é a men te comple-xa, a pa r te indu str ial é o cérebro e a par te cons ciente

 

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− m e n t e p r o p r i a m e n t e d i t a − é o c o n j u n t o d edeterminantes macro e microeconômicos da gestão(bem como da s influ ências pess oais, sociais, etc).

Nessa perspec t iva , a men te e a consc iênc ia s ão , deum a certa form a, u m est ilo de gerenciam ento da p ro-

du ção de ações e de percepções. Modulam e coorde-na m es tes dois . Mais ainda , pode-se, a través disso,entend er que por vezes há at ividad es desa coplada sou l igeiramente esta nqu es: um a festa de an iversár iono departamento de compras mobil iza um sér ie defatos n a estru tu ra gerencial e não tem relação com apar te ind u strial. Às vezes h á u ma greve dos operáriose se interrompe a p rodução de fatos m otores e sen so-r iais ; porém, continu am as at ividades gerenciais , eass im s ucess ivam ente. Mu itos fenômen os são inde-pendentes , ou qu ase . Quando pensam os em h ie ra r -quias , é preciso que se en tenda que cada nível temalgu ma s dinâ micas próprias . Por isso, nã o tente ex-plicar todo comportamento social em termos indivi-duais , nem todo comportamento individual em ter-mos n eurona is , nem todo compor tamento neurona lem term os de h eran ça biológica.

Porém, se h á u ma certa independên cia dos níveis, n em

por iss o deixa de existir um a ra zão qu e interp enetra ahierar qu ia. Em bora seja difícil perceber qu al razão éessa , ce r tamente não s e deve pensar que , porque n olim ite a m en te é código, (e port an to é poss ível fazê-laaparecer nas m áquinas e em out ros fenômenos cu l -

turais), ela deixa de ter relação com o cérebro. Em-presa só com escri tór io e sem produ to e fábrica nã ocapta a r eal idade da interação cérebro-men te-socie-dade.

A ú nica fonte de discurs o de conh ecimen to, e não de

d iscurso de op in ião e de poder , para en tender acodificação genérica de qua lqu er fato men tal consisteno enten dimen to de como cérebros codificam m entese mentes codificam consciência. Até o momento so-mente conhecemos um aparato f ís ico − o cérebro −

que m an ipu la um código especial − a m e n t e.

Convém avisar aqueles que hoje se encantam com oestudo de técnicas gerenciais válidas para qualquerproduto, de que, para entender o gerenciamento daempr esa men te, é preciso conh ecer a fun do as etapasdo processo de man u fatu ra do produto cérebro.

Visto isso, poderíamos dizer que toda afecção, oudesregulagem, tem como resul tado final um a a l tera-ção no produ to: is to é , na a ção ou n a percepção. Po-rém, qua nd o esta afecção se resu me aos n íveis ap e-na s de ref lexo ou de p rocessam ento n ão-cons ciente(mental porque complexo e passível de ser moldado

pelo apren dizad o), seu enfoque é n eu rológico. Todavez que h á u ma migração para as vias d e redescriçãovalorada dos fenômenos (atra vés d a linguagem) nocamp o da consciência, a afecção é psiquiátr ica.

 

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Se concorrem fortemente elementos ess encialmen teda alça que vai do m ental-complexo para o cons cien-te , o dis tú rbio tende a ser endógeno, ou tende a sertratad o através de drogas. Se o dis túrb io at inge pr in-cipalmen te a via qu e segue do cons ciente pa ra o men -tal-complexo, o distú rbio precisa , para lelam ent e, deabordagens através d a l ingu agem (psicoterapias). Seo distú rbio afeta a alça dirigida da consciência indivi-du al à cons ciência coletiva, recomend am -se terapiasde adequ ação comportamen tal e reedu cação. Se o dis-tú rbio ocorre n a a lça qu e vai da con sciência coletivapar a a ind ividua l, o problema ten de a requerer “tera-pias” políticas, ideológicas e até mesmo desestabi-lização de certa s orden s esta belecida s.

Anomalias da percepçãoe da motricidade

Como toda redescrição ou interpretação, os dis túrbi-os mentais são, de uma certa forma, dis túrbios da

consciência e d a lingu agem (porqu e seriam, a primei-ra a sede do menta l , e a segunda o cana l de t raduçãodo fato n eu ral complexo em propos ições).

Dessa form a h á algo de perceptua l e motor nas pato-

logias m enta is quan do: a) ocorre u m es cape m otor ousen sorial sem a devida correção consciente; b) ocorreu m escape na interpr etação cons ciente de fenômen osmotores e perceptuais ; c) ocorre uma anomalia nagênes e e plan ificação de atos m otores pelo nível cons -ciente.

O cas o a) é exemplificado pelas a nom alias de cont roledo imp u lso, em qu e há explosividade e comp ortam en-tos imotivad os. Norm almen te agres sivos e explosivos,tendem a sofrer de um retardo da ação corret iva einibidora da consciência. O caso b) é exemplificadopelas alucinações de qua lqu er na tu reza (visua l, au di-tiva, etc). Nessa s situ ações interpreta -se como estan -do no campo perceptual um objeto que de fato nãoestá (pode ser até m esmo u m discurso completo, comovozes que d izem coisas ou qu e têm t om imp erat ivo).Ocorre uma falha no processo consciente, não se écapaz de rotular determ ina do fenômen o como fan ta-s ia ou engan o. De uma certa forma h á também m aufu nciona men to das partes m enta is complexas e da in-terpretação posterior. Os pa cientes costu ma m reagirbem a m edicam entos qu e comp etem com os recepto-res dopam inérgicos dos neu rônios de a lgun s circuitoscerebrais. O caso c) é mais difícil de retratar porque

envolve u ma série de plan ificações con scientes e gera-ção de metas . Muitos dos distú rbios do lobo frontalcostu mam estar relacionados com esta anoma lia d etipo c). De ma neira geral sã o eles a m arca fun dam enta lda desr egulagem men tal-psiquiátrica pura sem a fecção

 

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primária de regiões neu rais n ão-cons cientes.

Seria absoluta men te imp ossível invent ariar todos es-tes casos aqui . É interessa nte notar que, de um a cer-ta form a, o qu e ocorre n a interpreta ção consciente éum a perda d e inform ação. Então, se há, por um lado,ganh o pela valoração e pela pos sibilidade de inibiçãoou rat i ficação, há ta mbém perda de alguns elemen-tos . Assim, o que s ub jaz às nossa s d ecisões resu ltan -tes de processamento complexo pode passar diss i-mu lado nos a tos , sem que o su jeito tenha consciên-cia ou controle disso. De um a certa form a a s intu i-ções têm m u ito dos vestígios − que emergem na cons-ciência − de algo que se dá d e ma neira complexa noplan o neu ra l-comp lexo. Refazer o poss ível tra jeto deum obje to re la t ivam ente a nôma lo pode recons t ru ir -

lhe a razão embas an te; a í repous a a p ossibil idad e dea interação ps icoterapêu tica a cessar o reprimido-cen-su rado ou , s implesmente , porque complexo, a por -ção do discu rso nã o devidam ente captu rada pela l in-guagem intenciona l-cons ciente. Chegam os a um a pa-rente contra-sen so: se a lingu agem poderia ser insu -ficiente par a redescrever u m objeto complexo, comopoderia agora descort ina r- lhe a estru tu ra? Porque alingua gem nã o é apena s a coação iso lada da propo-

sição, mas o todo consis tent e e int er-relacionad o dodiscur so. Pelo exame do discu rso, como se foss e te-oria que busca plausibi l idade e coerência, a inter-pretação d o fato infra-consciente atra vés da interaçãolingü íst ica faz papel semelhan te à constr u ção de te-

orias científicas. A boa p sicoterapia é, a ss im, h ipóte-se , não tendo sen t ido agregar às su as a sserções orótu lo de verdad eiro, mas , como n a ciência , apen aso rótu lo de p lau sível, coerent e e válido. Por vezes édescons iderada por não te r compromisso com u maciência geral da vida ment al , mas com u ma hipótesegeral do fat o ind ividu al, par ticular e biográ fico.

O d i s c u r s o q u e t r a n s i t a n a c o n s c i ê n c i a é m a i slin güístico-lógico e calcado em regras , ficand o as re-gu la r idades qu e espe lha m o processa mento neu ra lcomplexo perdidas no n ível de baixo e apa recendoescondidas n os comportamen tos e nas ações m otoras− os enganos apa ren temen te sem in tenção , os lap-sos , e ou t ros fenômenos den omina dos para práx is .

A observação destes fenômenos intencionais masocultos (se é que se pode falar de u ma vont ade n ão-consciente) tende a explicar gran de pa rte das razõesou regular idades s i lenciosas à consciência ou quene la b ro tam a penas como in tu ições vagas .

O discurso cons ciente é excessivam ente contam ina -do de pensa men to (portan to de linguagem, de regrase de lógica). Vemos no campo da consciência, no en-

tan to, um a s érie de nu vens de sentimen tos (difíceis dedescrever), de intuições (difíceis de explicar), de im-pressões e de fanta sma s. São eles as parcelas que n ãoconseguem s er descr itas pela l ingua gem e pelas re-gras, mas ainda a ssim brotam , vítimas do estilo neur al

 

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de processa men to de regularidades experienciais e sig-nificativas nu ma ordem de r edescrição através da inter -pretaçã o. O ana lista é, as sim, um a consciência acess ó-ria que pode redescrever o redescrito (o que é trazidopelo pa cien te), possibilitan do o acess o às m otivações pr o-fundas.

A consciência, no seu dever de ju stificação, tend e a aba n-dona r, qua nd o excess ivamen te lógica, ou su pervalorizar,quan do excessivam ente d espreparad a, os vestígios doprocessa men to neu ral su bjacente. Por trás deles podehaver censu ra ou apenas pan e nos filtros que tran sfereminformação do módulo complexo para o consciente. Épreciso ter cuidado, portanto, com a interpretação dequa lquer ocorrência bizarra, s onh os inclusive. O pr eceitoda p laus ibilida de, coerência e um a certa d ose de ceticis-

mo devem estar todo o tempo n orteando esse processo.

Se no plan o da observação dos comportam entos vemosum a série de atos não-conscientes , qu e, na verdade, cha-mam a a tenção pela constân cia, devemos estar a tentosa du as coisas :

a) esses atos podem ser resídu os não encarcerados pelalinguagem de processamento neural de experiências,

tendo, portan to, mu ito a dizer desde qu e se ache a lin-guagem certa e o s istema adequad o de abordagem;

b) semp re há qu em qu eira, com um a lingu agem linear etípica d a con sciência, explicar es tes fenômenos atra vés

de u m a pelo má gico e irracional a entidad e ocultas.

Enqu an to a primeira atitude é sau dável e enriqu ecedora,a segunda é irracional. Escolher entre um a e outra étarefa da razão e da coerência. Tam bém o fato de quehá fenôm enos inexplicáveis em cada nível deve ser en -tendido como pr ocessam ento au tônomo, mu itas vezessem ma ior valor explicativo. Da mes ma forma que te-mos u ma festa de an iversário no departam ento de pes-soal e o sabor do bolo comido não tem na da que ver coma linh a de mon tagem, tam bém certas idéias e intu içõesnã o têm n ada qu e ver com o mu nd o ou com a rea lidade.São apena s peculiaridades de cada departamento, con-creto ou virtua l, que nada comu nicam acerca do pro-cesso mental como um todo.

Saliente-se entã o que, quan do falamos d e ação e per-cepção, estam os faland o de u m organism o qu e, dota-do de m ente e de cons ciência, ainda a ssim é feito parainteragir. Sua ação visa à m anu tenção de su a l inh a-gem genética e à sua defesa; sua percepção visa aoreconhecimento do inimigo e à bu sca d e alimen to. Aação visa a o estabelecimen to de a lian ças com o gru popara que se possa defender de u ma sér ie de intem pé-r ies . A percepção visa à es colha de pa rceiros pa ra a

cópula ou para a form ação de gru pos.

O s e r h u m a n o t e m u m a m e n t e -c on s c iê n c ia q u e s e ju n ta à men te-complex idade . Em bora s e ja c r ia tu r afrági l em u ma sér ie de ques i tos (força, velocidad e,

 

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t empo de depend ênc ia da mã e) pode , pe la comu ni -cação, estab elecer gru pos coesos e solidários. Qu an doessa m ente se encanta consigo, geran do su cesso a qua l-quer pr eço, sitia-se a espécie e a labuta na tu ral que nosdotou d e um meio de form ação de elos sociais.

Síntese

Ação e percepção são as p ortas de comu nicação damente com o mun do. Presentes nos an imais , torn am-se complexas à m edida qu e nos aproxima mos do serhu ma no. Se mente for entendida como processa men tocomplexo e não previam ente pr ogram ado, entã o an i-

ma is têm graus progressivos de vida m ental . Porém,pelo concurs o da linguagem e d a form ação de socie-dad es, a açã o e a percepção, já complexas, tiveram decriar redescrições de si próprias. Não o fizeram pormeio de mera cópia, m as sim, at ravés do filtro da lin-guagem e da m emória, de tal sor te qu e à ação presu -mida ou à percepção presumida viesse a se juntarum discurso cons ciente.

A consciência seria, entã o, um a redes crição valoradado que o processam ento complexo gerou como açã oou p ercepçã o possíveis. Além de dirimir dú vida s, s o-lucionar (através da ret i rada de ambigüidades queimpeçam a soluçã o trivial ou a convergência da s olu -

ção para u m a t ra tor ) aqu i lo que não pu desse se r su-ficient emen te process ad o no nível comp lexo, a cons-ciência s e torn ou u ma versã o valorada e significativada ação e da percepção. Em vez de ser mera cópiadelas , interpreta-as , corr igindo-lhes a rota . Nessesen t ido , in ibe ou cor robora a versão qu e lhe ch egad o p r o c e s s a m e n t o c o m p l e xo . D a í s u a c a r a c t e r ís t i -ca de s e r “l iv re ”, nã o para gera r , ma s pa ra in ib ir ;n ã o p a r a p e r c e b e r, m a s p a r a a c e i t a r .

Os dis tú rbios da motr icidade e percepção podem s erinúm eros. Qu an do disfun cionan te em n íveis primári-os , a percepção tende, na a u sência de objeto externopróprio, a cr iar a s ensa ção de sua p resença. Pode-sealucinar com vozes, imagens, odores . Nesse casou sam -se remédios; porém, deve-se estar aten to à pos-

sibilidade de pens am entos a nôm alos utilizarem -se deobjetos perceptuais , cr iando com eles um discursodeliran te que s e parece com a alucinação. Nesses ca-sos , não é ma is an omal ia da percepção, mas s im do

 juízo e da coerên cia no discu rso, qu e envolvem con-ceitos perceptu ais.

A an omalia m otora p ode aparecer tan to nas para lis i-as d e fu nd o “emocional ”, como tam bém n as a nom a-

lias de contr ole do impu lso. A violência, qu an do n ãoinibida pela consciência, p ode representa r a l teraçãodo processam ento complexo ou da consciência valo-rat iva. Há, como de háb ito, tanto ma is se s obe rum oà cons ciência, um misto de fato cerebral e um a forte

 

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hera nça biográfica e cu ltural. Por isso, a m ente qu e jáera complexa torna -se cons ciência para ju stificar seusa tos e percepções , acabando por engendrar um a bu -rocracia au tônoma, n ão ma is diretamen te ligada a omundo dos sent idos e da motr icidade, mas vol tadapara s i a través da reflexão.

Notas

1. Gun derson, K. (1972) “Content an d Consciou sn essa n d M i n d - B o d y P r o b l e m " i n T h e J o u r n a l o f  

Philosophy vol.LXIX, n u m ber 18

2. A idéia d e que h aja u ma inteligibilidad e men tal nã oacess ível imediatam ente à cons ciência, ass ociadaà as simetr ia dos su jeitos da comu nicação é o quegaran te, ainda qu e dentr o de certos limites, eficá-c ia às chamadas ps ico te rap ias de base herme-nêu tica (interpreta ção/ decodificação + enriqueci-mento de conexões an alógicas n o encaminha mentoda com preen sã o de conceitos e solu ção de proble-

mas).

3. A diferen ça en tre com preen sã o e explicaçã o é fu n-dam enta l aqui. Comp reender s ignifica esta beleceruma relação de semelhança e empatia . Explicar

significa es tabelecer u ma rede conceitu al capaz deprever e refuta r certos desdobram entos do elemen-to explicado. Pode-se compreen der o relato de a l-guém qu e diz sent ir m edo de morrer , porque te-mos uma mente que também é capaz de sen t i ralgo semelhan te. Não se pode compreender a t ra-

 jetória de u m a ped ra qu e cai pela força d a gravi-da de; pode-se explicá-la. A diferen ça en tre com-preender e explicar está n a ba se de um a divisãoapa rentem ente i r reconci liável entre a m ente e océrebro, ou entre a cu ltura e a n atu reza. Cf. a res-p e i t o v o n W r i g h t , G . ( 1 9 8 0 )   Exp l icac ión y

Comprensión . Madr i: Alian za Ed itorial.

4. Cf. a respeito das fu nções cognitivas do cerebelo 1)B a r i n a g a , M . : " T h e C e r e b e l l u m : M o v e m e n t

Coordinator or m uch more?" in Science vol 272,1996, (pp. 482-483). 2) Ito, M.: "How Does theCerebellu m Facilitate Thou ght?" in Ono, T. et. al.(ed) (1993)   Brain Mechanisms of Perception and 

 Mem ory: from ne uron to beh av ior. Oxford UniversityPress (pp.65 1-658 ).

5. Ima gine o d iscurs o, proferido por um político men ti-roso: “Eu qu ero o seu bem.” É falso porqu e infringe

a ação. Da mesm a form a “Eu posso ou quero ir aMarte”. Gran de pa rte do discur so do poder e da reli-gião ( nã o no tocan te a u ma fé sem objeto, mas u masérie de promess as irrealizáveis) é pseu dodiscur so,porqu e cheio de proposições falsa s.