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2 O Soldado Perfeito A Descoberta do Poder Thiago Pereira Pinheiro

O Soldado Perfeito - perse.com.br · prazo. Nem em longo prazo, pensando bem. ... viver em uma nova ditadura militar, ... Não quero viver esse pesadelo, e não quero que ninguém

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O Soldado

Perfeito

A Descoberta do Poder

Thiago Pereira Pinheiro

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Para

Iara, minha esposa Meus pais

Meus irmãos E para todos os que ajudaram

a tornar esse sonho uma realidade.

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Índice

Capítulo 01 – O Começo de Tudo 06 Capítulo 02 – Uma Nova Vida 17 Capítulo 03 – A Proposta 28 Capítulo 04 – Surge um Herói 41 Capítulo 05 – A Morte do General? 52 Capítulo 06 – Um Novo Poder 61 Capítulo 07 – Ação e Diversão 74 Capítulo 08 – Um Dia Difícil 85 Capítulo 09 – A Opinião de Arthur 98 Capítulo 10 – O Mistério de Gisele 110 Capítulo 11 – Desentendimentos 122 Capítulo 12 – O Meteoro 134 Capítulo 13 – O Soldado Fora de Combate 148 Capítulo 14 – A Heroína 156 Capítulo 15 – O Retorno do Soldado 171 Capítulo 16 – Consumação 182

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Capítulo 01 O Começo de Tudo

Júlio Mendes estava sentado em sua confortável cadeira,

com os olhos fechados. Ele pensava nos últimos quatro anos que haviam se passado. Ele e seu companheiro geneticista, César Coimbra, eram os líderes de um projeto ultrassecreto do governo brasileiro desde 1988, um projeto que revolucionaria a ciência mundial. Naquela época, comparada com as anteriores, já se conhecia muito mais sobre a constituição das células humanas. Os americanos pensavam, com sua altivez de costume, que sabiam muito sobre o assunto. Mas era o Brasil, um país considerado atrasado, que brincava com a modificação genética em um laboratório secreto no coração da Amazônia. Era da maior floresta tropical do mundo que saíam os principais componentes da fórmula que visava criar seres humanos mais fortes, mais inteligentes e mais resistentes. Na verdade, era uma tentativa do exército brasileiro de criar soldados perfeitos, o que revolucionaria o país.

O plano era muito ousado. Não era apenas uma questão de primeiro passo na modificação de genes humanos. Era o primeiro passo para os militares retomarem o poder no país, e depois o tornarem uma potência militar e econômica.

Era nisso que Júlio tanto pensava. Ele havia estudado tanto visando ajudar as pessoas com as suas descobertas, e agora ajudava o exército a criar soldados geneticamente modificados. O que sua esposa iria achar disso? O que sua filha iria pensar sobre seu pai? Seria ele o doutor Frankenstein? Isso o assustava muito.

No começo do projeto, os militares mentiram para o governo. Disseram que seria um projeto responsável pela descoberta da cura das piores doenças que afligiam o mundo,

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e que a Amazônia seria uma fonte abundante de materiais para pesquisa e desenvolvimento dos “remédios”. Foi criada até uma cidade no meio da floresta para quase duas mil pessoas que trabalhariam na fórmula, direta ou indiretamente. Dessas pessoas, metade eram soldados responsáveis por cuidar da cidade e do projeto. As outras pessoas eram: cientistas experientes; estagiários que tinham uma grande oportunidade de carreira com a fórmula; prestadores de serviços que mantinham a cidade funcionando, como distribuição de água e energia, tratamento de esgoto, e até uma pequena área comercial, onde havia pequenas lojas de roupas, calçados, brinquedos e até um supermercado. Não havia concorrentes para cada tipo de comércio, mas para evitar os abusos de preços, o governo controlava os valores dos produtos.

Também viviam na pequena cidade-modelo as famílias das pessoas que trabalhavam ali. Podia se deixar as crianças brincarem livremente nas ruas, pois a criminalidade não existia. A única coisa que existia e que era prejudicial era a corrupção. Para cada três centavos gastos pelo governo para o projeto, dois centavos eram desviados, tanto para políticos quanto para militares. Era um verdadeiro rombo nos cofres públicos, por um projeto que não traria benefícios em curto prazo. Nem em longo prazo, pensando bem.

O projeto era um segredo absoluto. Nem a família dos cientistas sabia da verdade. No começo, um estagiário empolgado com as pesquisas acabou contando a verdade para a família. Os militares, não se sabe como, descobriram o vazamento das informações. Ele e a família sumiram sem deixar rastros. De vez em quando, essa história era lembrada pelos militares, para que os cientistas não esquecessem o risco que corriam se algo fosse revelado.

Cientificamente, o projeto era um fracasso absoluto. A fórmula era testada em soldados, que não reagiam conforme o esperado. A primeira cobaia, Ricardo Damiani, acabou ficando inconsciente, e pouco se soube sobre as modificações

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que ocorreram em seu corpo. O segundo soldado testado, Álvaro Kremin, faleceu depois que seus órgãos vitais cresceram desproporcionalmente, causando-lhe uma dor terrível antes da morte. Pedro Sales, o terceiro, se tornou perigoso. Ele começou a expelir bolas de fogo pela boca e seu corpo era quente como uma fornalha. Após muita luta e destruição, ele foi contido pelos militares, mas não antes de ferir e matar muitos deles. André Vargas foi o quarto a ser testado. Não representava perigo, mas quando derreteu as correntes que o amarravam com ácido saído de suas mãos, os cientistas decidiram deixá-lo inconsciente. Já o quinto soldado, Renan Cunha, teve um ataque de tremores depois de ter a fórmula injetada no corpo, e morreu em poucos instantes.

Roni Marques foi o sexto testado, e um dos mais destruidores. Não soltava fogo pela boca nem ácido pelas mãos, mas era extremamente forte e se tornara totalmente raivoso. Depois de matar muitas pessoas e causar mais destruição que Pedro Sales, ele finalmente foi contido e assassinado pelos militares. Depois desse incidente, o projeto ficou parado por dois meses, para o conserto da base e para a contratação de mais pessoas.

Era abril de 1992. Estava perto de sua filha nascer, e ele pensava no mundo que ela encontraria quando crescesse. Será que ele queria que ela vivesse rodeada de soldados humanamente superiores, sabendo que seu pai era diretamente responsável por eles? Será que ela gostaria de viver em uma nova ditadura militar, onde não podia dizer o que pensava, pois podia ser perseguida pelos militares? Claro que isso não era bom para ela, nem para sua esposa, e nem para o país. Depois de muito pensar, ele então decidiu tomar uma decisão que mudaria o rumo da história.

Era uma noite de domingo. Um campeonato de futebol

acontecia em um campo próximo aos prédios do projeto. Por esse motivo, a segurança da base estava menor do que nos

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dias normais. Júlio Mendes, que era zagueiro de um time de cientistas, não foi jogar. Sua desculpa era que sua esposa, Carla, estava prestes a dar a luz, e ele queria passar mais tempo perto dela. Mas seus planos eram outros.

Carla estava deitada em sua cama, assistindo televisão. Sua barriga estava enorme, pois eram as últimas semanas de gestação. Júlio sai do banheiro, secando o rosto e diz:

─ Eu vou sair, meu amor. Não vou demorar. ─ Aonde você vai? ─ indaga ela, passando a mão pelos

cabelos castanhos. ─ Vou fazer uma coisa que vai mudar o nosso futuro ─ diz

ele, sentando-se ao lado dela e beijando sua boca. ─ Não me deixe ansiosa, Júlio ─ diz ela impaciente. ─ O

que você está aprontando? Ele dá um profundo suspiro, fecha os olhos e depois diz: ─ Hoje de madrugada nós vamos fugir. Vamos embora, de

volta para Santa Catarina. Carla arregala os olhos, assustada. Ela só via os olhos de

seu marido daquele jeito em duas situações: quando ele conseguia algo bom no trabalho, ou quando estava para aprontar algo.

─ Como assim? Porque nós vamos nos mudar? Agora que estamos estabilizando as nossas vidas aqui, você quer mudar?

─ Você não entende, Carla ─ diz ele, se levantando da cama ─ Não é só uma questão de abandonarmos esse lugar. É algo muito maior e mais importante.

─ Me conte o que você está aprontando, Júlio Mendes, antes que eu dê um ataque!

Júlio fica com um semblante sério e diz: ─ Eu não busco a cura para as doenças no meu trabalho.

Meu trabalho não é necessariamente para o bem da humanidade, meu amor. Sabe o que eu e os outros cientistas fazemos? Lá, naquele maldito laboratório nós brincamos de Deus!

Ele faz uma breve pausa, respira e continua:

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─ Eu e o César Coimbra somos os líderes de um projeto responsável por criar soldados geneticamente modificados. O exército mentiu para o governo, e fez os cientistas mentirem para as suas famílias. O verdadeiro plano militar é retomar o poder no país, sem haver a possibilidade de resistência, e esses “soldados perfeitos”, como estão sendo chamados, vão garantir que eles concluam esse plano horrendo.

Carla fica com os olhos arregalados por cerca de dois minutos, tentando absorver as informações dadas por seu marido. Era algo assustador o que ele acabara de lhe contar. Se com soldados normais o exército causou medo e terror durante a ditadura, imagine então com esses “soldados perfeitos”. Algo precisava ser feito, e rápido.

─ Por que você não me contou isso antes? ─ indaga Carla. ─ Eu tive medo. Um estagiário e sua família sumiram

depois que ele revelou o segredo. Eu não queria o mesmo destino para nós.

─ Então, porque você está me contando agora? Qual é o seu plano, afinal?

Júlio senta-se novamente na cama, e começa a afagar os cabelos de sua esposa.

─ Hoje nós conseguimos chegar a uma nova fórmula, totalmente estável. Amanhã ela será testada, e se der certo, será produzida em larga escala, para todos os soldados. Mas eu não quero esse destino para o meu país. Não quero que a minha filha viva em um país onde não haja liberdade de expressão, onde o povo seja oprimido por um exército de monstros anabolizados. Não quero viver esse pesadelo, e não quero que ninguém passe por isso novamente. Hoje à noite, eu vou entrar no laboratório, vou roubar a fórmula e vou apagar todos os dados de todo o sistema de informática do laboratório. Se eles quiserem a fórmula novamente, vão ter que suar muito para consegui-la.

─ O que você vai fazer depois de roubar a fórmula? Para onde vamos fugir?

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─ Nosso avião sai às duas da manhã para Florianópolis. De lá, nós pegamos um ônibus e voltamos para Tubarão.

Carla abre um sorriso. Ela finalmente iria voltar para sua cidade natal, reencontraria sua família, que há muito tempo não via.

─ Mal posso esperar ─ diz ela, levantando da cama. ─ Só não fique muito ansiosa. Não quero que a Iara nasça

aqui, e sim em Tubarão. ─ Iara? Você já escolheu o nome? ─ indaga Carla, com os

olhos cheios de lágrimas. ─ Escolhi. Depois de muito pensar, decidi que não há

nome mais lindo que esse. ─ Ela também será linda, amor ─ diz ela, abraçando-o ─

será a garota mais linda desse mundo! Passava das onze da noite quando um carro importado

vermelho para em frente ao laboratório. Dois guardas conversavam na guarita frontal quando Júlio e outro homem descem do veículo. Esse homem era Marcelo Mello, um sujeito baixo, com cabelos loiros, pele clara e olhos azuis. Ele era designado pelo alto comando militar como o chefe da segurança do laboratório. Mas após saber de toda a verdade sobre os experimentos, ficou com uma tremenda raiva do exército e decidiu fazer algo para frustrar os planos militares. Ele não queria sentir-se, de certa forma, responsável pelas futuras atrocidades que aconteceriam no país. Por isso ele juntou-se a Júlio no plano de arruinar o projeto. Ao ver Marcelo, os homens da guarita batem continência e abrem o portão.

─ Boa noite, capitão Marcelo ─ diz um dos homens. ─ Boa noite, senhores. Nós vamos entrar no prédio porque

o senhor Júlio precisa pegar algumas coisas no laboratório. ─ Fiquem à vontade ─ diz o outro homem, dando

passagem a eles. Marcelo retira um molho de chaves do bolso da calça e abre a porta principal do laboratório. Os dois entram e acendem as luzes. Após caminharem por um extenso corredor, eles entram por uma porta de vidro com as