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O surgimento da questão social
brasileira.
Caros alunos! Vocês já me conhecem?
Sou Adarly, o docente responsável em apresentar o conteúdo da
disciplina de Fundamentos II do Bacharelado em Serviço Social.
Estão preparados para entrar na aventura de conhecer fatos que
foram determinantes no curso da história para legitimar a nossa
profissão e construíram a imagem dos assistentes sociais como
profissionais críticos e interventivos nas expressões da questão
social? Então é para já! Vamos iniciar a primeira web aula relacionada
à disciplina de Fundamentos II.
Como início deste estudo, precisamos decifrar a categoria questão
social, pois é nela que se enraíza a nossa prática cotidiana que
consequentemente relaciona com os fundamentos históricos,
metodológicos e teóricos da profissão.
QUESTÃO SOCIAL ?
A concepção de questão social se insere no contexto do
empobrecimento da classe trabalhadora e tem sua origem atrelada
ao nascimento do Capitalismo. Em outros termos, tratam-se das
expressões decorrentes das contradições entre as categorias capital e
trabalho, próprias do sistema capitalista de produção.
No Serviço Social, a concepção de questão social mais difundida é a
de CARVALHO e IAMAMOTO, (2007, p.77):
"A questão social não é senão as expressões do processo de
formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no
cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como
classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no
cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais
além da caridade e repressão".
Como vocês puderam observar na charge, as demissões em massa ou
mesmo o desemprego são expressões inerentes à questão social,
porque evidenciam claramente a contradição entre o capital e o
trabalho. Além do que o desemprego é um enorme problema que
vem retratando a realidade do trabalhador brasileiro ao longo dos
anos.
VAMOS EM FRENTE...
Além dessa ideia inicial acerca da questão
social, o nosso curso busca formar profissionais de Serviço Social
com conhecimento e aprofundamento teórico para fundamentar
ações interventivas e transformadoras na realidade social.
Para a professora Maria Benevides (2009), a primeira constatação
histórica que precisamos ter em mente quando pensamos a questão
social, está centrada no fato de que até o século XIX, os
trabalhadores ligados à terra não podiam ser expulsos. Tinham,
apesar da pobreza, um mínimo de segurança. O capitalismo, segundo
suas palavras ("tudo que é sólido desmancha no ar") destruiu essa
proteção social e provocou as hordas de excluídos de toda sorte.
Nas sociedades pré-industriais, a pobreza era considerada um fato
natural e necessário para por em ação, ou motivar os pobres a
tornarem-se laboriosos e uteis à acumulação de riquezas das nações
em formação. Já na fase industrial, ela deveria ser enfrentada e
resolvida em benefício, inclusive, do progresso material que emergia.
Isso não quer dizer que antes da sociedade industrial, o "social" não
existisse ou que estivessem ausentes formas institucionalizadas de
atendimento a pobreza. Segundo Pereira (1999, p.48):
A história da proteção social informa que, desde o século XIV,
existiam intervenções públicas que iam da assitência aos indigentes
até a repressão à vagabundagem, passando pela regulação estatal da
organização do trabalho e da mobilidade espacial dos trabalhadores.
Mas, isso acontecia porque nas sociedades pré-industriais já existiam
questões sociais que, assim como as posteriores, constituiam ameaça
à ordem instituida, dada a pressão exercida por aqueles que não se
encontravam nessa ordem o seu lugar a partir da organização do
trabalho.
Em nosso país, no entanto, a partir do final do século XIX, até 1920, ainda segundo a referida autora, se inicia a atenção à questão social de forma mais sistematizada, por parte do Estado. Caracterizada como problemas advindos da crescente desigualdade social. Período que pode ser considerado como a época da inovação da legisladora e regulamentadora no campo da política social.
MAS E A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL?
Vamos acessar o site http://nusocial.wordpress.com que faz
referência à interpretação da questão social no Brasil, no início do
século XX, bem como as formas iniciais de concepção e de
enfrentamento da questão social, conteúdo relacionado à nossa
especial disciplina de Fundamentos II.
Não percam a oportunidade de identificar no texto a evolução
histórica da profissão.
Conforme vocês puderam perceber o texto foca o nascimento da
nossa profissão, que está, como já afirmei aqui, enraizado na
questão social.
Os chamados antogonismos de classes provenientes das características do sistema capitalista reforçam a condição de dominação nas relações sociais. Em outros termos, o capitalismo não é senão a produção e a reprodução contínua e cada vez mais forte e ampla da questão social. Tudo isto torna mais clara as afirmações do Assistente Social e teórico do Serviço Social, José Paulo Neto (1989), quanto se refere ao surgimento do serviço social como profissão vocacionada para subsidiar a administração da questão social nos moldes da sociedade burguesa.
Verificamos nesse vídeo a forma de enfrentamento da emergente
questão social decorrente da modificação nas relações sociais de
exploração, a partir o final da década de 1920, início da década de
1930.
Para Spozati (2007):
No caso brasileiro é possível afirmar, salvo execeções, que até 1930 a
conciência possível em nosso país não apreendia a pobreza enquanto
expressão da questão social. Quando esta se insinuava como questão
para o Estado, era de imediato enquadrada como "caso de polícia" e
tratada no interior de seus aparelhos repressivos. Os problemas
sociais eram mascarados e ocultados sob forma de fatos esporádicos
e excepcionais. A pobreza era tratada com disfunção pessoal dos
individuos ( p.41).
Podemos afirmar, também, que os modelos de sociedades que existiram e precederam, a sociedade capitalista e burguesa de nossos tempos está dividida em dois campos distintos, o proletariado (no sentido mais extenso da palavra) e a burguesia, diferenciados socialmente por suas respectivas situações e funções: A classe proletária tem sido destinada há séculos, a carregar o fardo do trabalho físico e penoso, cujos frutos são usufruídos por outra classe, a burguesia, que são os detentores da propriedade, a autoridade e os produtos da cultura (ciência, educação, arte, etc.).
Raichelis (1988) explica melhor...
"A existência e reprodução das classes dominadas funciona como
condição básica de existência do modo de produção capitalista. A
medida que a desigualdade e a exploração constituem a própria
essência da sociedade capitalista, esta se sustenta sobre um
permanente processo de luta entre as classes fundamentais: de um
lado as classes dominantes, interessadas em manter e ampliar a
acumulação do capital e do lucro; e de outro, as classes dominadas,
que lutam para reduzir esta exploração e melhorar suas condições de
vida e de trabalho.(p.28).
A exploração das massas trabalhadoras forma a base sobre a qual a
chamada sociedade moderna se apóia e sem a qual não poderia
existir, para tanto não se utiliza apenas dominação política através de
aparatos de violência, ou controle repressivo e legal. A ideologia, que
invade os hábitos, os costumes, o modo de viver e de pensar e as
formas representativas que as classes dominadas constroem na sua
subjetividade consentimento a respeito de sua própria dominação.
A referida autora acima citada enfatiza que:
Simultaneamente, a ação estatal, em qualquer de seus âmbitos, não
se restringe às instâncias específicas do aparato do Estado, mas se
efetiva e se estende às instituições privadas da sociedade (escola,
família, Igreja, etc.), interferindo em todas as esferas da vida social.
(RAICHELIS, 1989, P. 31).
Estamos fechando aqui nossa Web aula 01 com as primeiras reflexões
sobre a questão social! Vamos em frente na trajetória do
aprofundamento deste conteúdo importante para os futuros
profissionais de Serviço Social. Por isso espero vocês na Web 2 para
continuarmos nossa discussão.
Um abraço!
Web aula 02
Análise teórica da Questão Social
E aí, está ficando mais claro a relação Serviço Social e a questão
social?
Então vamos explorar um pouco mais os aspectos teóricos
relacionados a este tema, apontado pela Assistente Social Marilda
Iamamoto, renomada acadêmica do Serviço Social. Esta autora
enfatiza que para compor estes novos aparatos de dominação
exigidos pelo modo de produção em consolidação, o serviço social
emerge dentro do contexto das classes dominantes como um
movimento de cunho reformista-conservador.
Iamamoto (2000) esclarece que a fundamentação conservadora
capitalista se baseia num modo de vida do passado, que é resgatado
e proposto como nova maneira de interpretar o presente. Tudo isto
com uma roupagem de viabilidade inconteste para a sociedade
capitalista.
Fiquem atentos a contradição!
No momento histórico de consolidação do novo sistema econômico
da instituição de aparatos modernos, racionalistas em que a
mercadoria passa a ser a principal mediadora das relações sociais e o
lucro. Ressurge idéias conservadoras o que a autora Iamamoto(2000)
vai chamar de contramovimento de tendência.
Desta forma, os conservadores identificados como "profetas do passado" reeditam formas de vida que já foram historicamente dominantes, porém superadas, tornando-as válidas para atual organização da sociedade. Através deste mecanismo, "noções reinterpretadas no seu significado original e propostas como validas para compreeender e agir em um contexto hitórico diferenciado daquele no qual emergiram" (Iamamoto, 2000, pg. 23).
Estas ideias reinterpretadas que abarcam o racionalismo e o
conservadorismo se condensam em projetos de ação favoráveis à
manutenção da ordem capitalista. Em outras palavras, o racionalismo
e o conservadorismo são duas maneiras de viver e ver a sociedade,
portanto dois pensamentos integrados se fundem um único estilo de
pensamento focado no objetivo consolidar um único projeto de classe
para a sociedade, a dominação, que se resume no modo de vida da
sociedade capitalista.
Reforçando o conteúdo...
Vamos apronfundar um pouco mais teoricamente o racionalismo
associado a consolidação do capitalismo? Para isso, vamos assistir a
uma video-aula com o Prof. Tiago Menta. É só acessar:
O CAPITALISMO PARTE 3 - O RACIONALISMO OCIDENTAL
WEBERIANO
Conforme o reforço dos conhecimentos do Prof, Tiago torna-se
compreensível a tendência teórica predominante acerca do
surgimento da profissão consolidada pela acadêmia de serviço social,
que nas palavras de Iamamoto (2000):
O conservadorismo (...) idéias reinterpretadas, transmutam-se em uma ótica de explicação e em projetos de ação favoráveis a manutenção da ordem capitalista. Isso aproxima os pensamentos conservador e racional, apesar de suas diferenças, como portadores de um mesmo projeto de sociedade. (p. 23).
Desta forma a autora quer deixar claro que o Serviço Social "nasce e
se desenvolve embebido de ideias conservadoras, incorporando as
ambiguidades do reformismo conservador." (p. 23).
E nos tempos mais recentes, na virada do século XXI, a modificações
nos processos econômicos e sociais, com a hegemonia do mercado, e
com a globalização, as expressões da questão social se apresentam
em multiplas manifestações e num patamar de complexidade
decorrente da imposição de novas formas de dominação. Este
aspecto é concreto, pois do ponto de vista do funcionamento do
capitalismo mundial, questão social se materializa mediante os ricos
ficam mais ricos e os pobres ficam mais pobres.
Sendo mais objetiva ainda, podemos enumerar como questão social
o aumento da pobreza, o desemprego estrutural, crise fiscal e
aumento dos oligopólios, aspecto problematizado por Pereira (1999):
(...) se no passado, quem tomava as grandes decisões econômicas eram os agentes governantais, regulando inclusive o mercado, no presente, são as empresas privadas gigantes que decidem e controlam o Estado, bem como definem o uso e a direção do avanço tecnológico. Tais empresas que geralmente operam fora do seu país de origem, em busca de mão-de-obra mais barata, automatizam-se velozmente, ercerizam parte do trabalho e exigem a quebra da proteção social ao trabalhador. Disso decorrem sérias implicações que conferem no configuração à questão social. (p.43).
Desta forma quero lembrar-los que o foco da nossa disciplina é
discutir e aprofundar os aspectos históricos da profissão. Esta
abordagem mais recente será objeto de trabalho das disciplinas
posteriores. Acredito, porém, que se faz importante a analogia e
discussão das características da questão social industrial e a
contemporânea pela complexidade dos desafios, bem como, o
surgimento de novos protagonistas e novas bases de regulação
social, em o cidadão é portador de direitos e o Estado se compõem
como provedor.
Amarrando as idéias...
O surgimento da "questão social", conjunto de problemas
econômicos, sociais, políticos, culturais, ideológicos que circunda a
surgimento da classe operária, entendida neste contexto de conflitos
de classes que se aflora com a consolidação do sistema capitalista
origina a profissão de serviço social e a transforma em parte desse
projeto de exploração!
Porém vocês devem estar se perguntando e o papel do Estado como
articulador das ações iniciais de enfrentamento às questões sociais,
que não ainda foram mencionadas?
Por isso não deixe de acompanhar e participar das Web aulas, pois
este será o foco da Unidade II das próximas Web aulas.
Web-aula 01: Estado burguês
Caros alunos! Estamos aqui novamente em busca de subsídios que os
auxiliem na reflexão e aprendizado dos Fundamentos do Serviço
Social.
Já sabemos que os aspectos se constituíram no terreno fértil no qual a
profissão de Serviço Social foi gestada e desenvolvida no Brasil está
atrelado à questão social. Conforme abordamos na Unidade 01, no
decurso do séc XIX, o aumento da complexidade das relações de
produção decorrente do desenvolvimento político-econômico e social,
bem como a industrialização e urbanização crescente do inicio do
século XX, originou e reproduziu de forma ampliada, conflitos da
relação capital-trabalho, ou de luta de classes antagônicas.
www.dhnet.org.br
Vamos em frente...
A realidade brasileira nos primeiros anos do século XX trouxe à tona a
contradição do modelo econômico, criando condições para as
primeiras lutas das classes trabalhadoras, como as primeiras greves
operárias de 1917 e 1918 e a organização do PC do B em 1922.
Diante a essa multiplicação de problemas sociais originários da
pobreza, pressões populares e do aumento da desigualdade social, o
Estado enquanto núcleo do poder burguês assume a função de
administrar ou reduzir as mazelas impostas às classes subalternas
pela alternativa de desenvolvimento econômico perverso e
excludente.
Em nome do Sistema de Reprodução do Capital, houve tempos que utilizaram a força policial e de atos repressivos. Depois prometeram melhoria das condições de vida no futuro. E, em certas ocasiões,
pregaram a harmonia entre burguesia e proletariado, no progressivo crescimento industrial.
É importante deixar evidente que as ações governamentais que se
implementavam neste período estavam focalizadas muito mais em
reduzir e comprimir as manifestações não solidárias ao novo padrão
de dominação, do que propriamente de administração, do sofrimento
desumano da classe proletária. A esta administração do subproduto
do capitalismo (questão social) chamamos política social
compreendida como estratégia do Estado de intervenção nas relações
sociais.
De acordo com Raichelis (1988, p. 8):
O perfil da intervenção estatal no tratamento da questão social vem
sendo historicamente marcado pela ideologia paternalista/autoritária,
onde a benevolência da ajuda e o clientelismo visam ocultar sua
subordinação, de um lado ao processo de reprodução do capital e, de
outro, contraditoriamente, as pressões da sociedade.
Mas afinal qual é o papel do Estado neste cenário de modernização
que se insinua contraditório a partir do desenvolvimento econômico e
aumento da pobreza entre os trabalhadores.
Aos desavisados, esse papel pode caracterizar o Estado árbitro neutro de conflitos entre as classes sociais ou identificá-lo com agente fundamentado em valores ético-morais, criterioso na operacionalidade de ações equilibradas pautando-se na verdade e na razão!
Esta concepção de Estado faz sentido para muitos, porque foi
transformada a partir da década de 1930, na noção ideologizada do
Estado perante a sociedade brasileira como encarnação dos
interesses gerais e voltada para o bem de todos. Nesta perspectiva, o
Estado se tornaria responsável pela busca da harmonia e do consenso
ideal entre os cidadãos.
Vejamos as palavras de Raichelis (1989, p. 29) sobre esta
interpretação tão importante:
O atendimento a estas demandas constitui, também, uma forma de o
Estado legitimar-se frente a estas classes, aparecendo sob a capa da
neutralidade e defesa do bem-estar social de todos os membros da
sociedade.
Para ilustrar este aspecto de controle ideológico que estamos nos
referindo, indico inicialmente que vocês acessem o site abaixo e se
apropriem do discurso Estado burguês formulado a partir da década
de 1930, com o governo de Getúlio Vargas. Chamo a atenção,
prioritariamente para o último parágrafo quando Vargas se refere à
harmonia, a cooperação e o congraçamento entre todas as classes
sociais.
Retomando...
Desta forma, voltando à realidade dos anos 30 fica claro compreender
que a dominação das classes subalternas ultrapassou utilização da
violência ou do controle repressivo e legal. O Estado teve também um
papel político e fundamental na organização da ideologia que legitima
a violência e contribui para organizar um consenso entre as classes
tendo em vista a adequação do poder às necessidades da
acumulação, de modo a fortalecer a grande unidade de produção.
A economia capitalista, de acordo com Iamamoto (2000), necessita
de laços extra econômicos e também de novas formas de controle
social que garantam e fortaleça o consenso social na direção da
manutenção do sistema. Segundo esta autora:
É indispensável um mínimo de unidade na aceitação da ordem do
capital pelos membros da sociedade, para que ela sobreviva e se
renove. Uma vez que não existe sociedade baseada na pura violência,
é necessário recorrer a mobilização de outros mecanismos
normativos e adaptadores que facilitem a integração social dos
cidadãos e a redução do nível de tensão que permeia as relações
antagônicas. (p.107)
Podemos então compreender que o reforço à ação estatal para difundir a noção de Estado acima dos interesses de classes se efetiva e se estende também às instituições privadas da sociedade como a escola, a família, a igreja, etc. as quais assume a direção político cultural.
Neste contexto ainda de difundir o modo capitalista de pensar que vai
além da produção concreta de bens, engloba a produção de ideias, a
produção de conhecimento e também o senso comum reforçando a
noção ideologizada de Estado como instituição que paira sobre os
interesses de classes, voltada a coesão da sociedade.
Encerrando nossa Web aula 03, destacamos os meios de
comunicação de massa como elementos fundamentais na difusão e
incorporação do modelo capitalista. E, convidamos a continuar nossa
caminhada na próxima Web aula! Até lá!
Dêem uma espiadinha na charge:
Você sabia?
O "pai do rádio brasileiro" foi Edgard Roquete Pinto. Ele e Henry
Morize fundaram em 20 de abril de 1923, a primeira estação de
rádio brasileira: Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Foi aí que
surgiu o conceito de "rádio sociedade" ou "rádio clube", no qual os
ouvintes eram associados e contribuíam com mensalidades para a
manutenção da emissora.
O conservadorismo histórico do Estado
brasileiro
Mas afinal o Estado capitalista é mero reflexo
dos
interesses das classes dominantes?
O Estado brasileiro, a partir dos anos 1930, denominado Estado
burguês, torna-se voltado amplamente aos interesses do capitalismo,
leiam burguesia, classes dominante, detentores do capital.
Porém, segundo (Raichelis 1989, p. 26) este não pode ser entendido
apenas por esta via:
(...) nem pode ser encarado direta e mecanicamente enquanto
'comitê executivo da burguesia'. A dominação de classe exercida pelo
Estado é constituída/atravessada pelas contradições que se
expressam na sua relação com as classes dominantes e com as
classes dominadas.
O Estado, em relação às classes dominantes, tem papel fundamental
de organizador dos seus interesses enquanto classe. Embora no
interior destas classes os interesses não sejam totalmente
homogêneos e se compõem, por vezes, em partes distintas, se
relacionam em prol do objetivo principal de manutenção das relações
capitalistas.
Assim, devemos estar atentos aos aspectos contraditórios da análise, pois, apesar de haver dentro do bloco dominante que compõem o Estado, lutas e oposições internas pela hegemonia e pela apropriação privada do excedente econômico, estas se unem quando se trata de defesa frente a organização das classes dominadas ante a ameaça de trazer risco aos aparatos de dominação e a reprodução do capital.
Diante dessas ameaças, apesar do Estado burguês, excluir as classes
dominadas em seu interior, entretanto de tempos em tempos, ante as
pressões dos movimentos das forças sociais subalternas, deve ser
capaz de responder algumas de suas reivindicações.
Esta argumentação teórica pode ser comprovada quando analisamos
parte do discurso de Getulio Vargas nas comemorações do Dia do
Trabalho em 1º de maio de 1940:
Os benefícios da política trabalhista, empreendida nestes últimos
anos, alcançam profundamente todos os grupos sociais, promovendo
o melhoramento das condições de vida nas várias regiões do país e
elevando o nível de saúde e de bem-estar geral. A ação tutelar e
providente do Estado patenteia-se, de modo constante, na
solicitude com que cria os serviços de proteção ao lar
operário, de assistência à infância, de alimentação saudável e
barata, de postos de saúde, de creches e maternidades,
instituído o ensino profissional junto às fábricas e,
ultimamente, voltando as suas vistas para a construção de
vilas operárias e casas populares. (GRIFOS NOSSOS)
A partir da segunda metade da década de 1930, período de ditadura
militar, quando também emerge a profissão do Serviço Social,
podemos afirmar que à medida que a desigualdade e exploração vão
tornando-se abusiva a ponto de afetar a capacidade reprodutiva da
classe operária, esta reage e torna-se uma ameaça ao projeto de
dominação da classe burguesa. Isto se deve ao aumento numérico do
proletariado, aos laços de solidariedade política que surgem na luta
defensiva pela sobrevivência, trazendo a tona possibilidade de
alternativa de superação ao sistema capitalista.
Estado interventor!
Nessa perspectiva, o Estado é chamado a intervir progressivamente na regulamentação do trabalho na tentativa de controle do proletariado, como medida de manutenção da hegemonia burguesa, mas, não mais baseada na coerção, mas em mecanismos de desarticulação social.
Leis sociais...
As leis trabalhistas e sindicais implementadas no governo Vargas
interpretadas como primeiras formas de atendimento as demandas
legítimas das classes trabalhadoras. Neste momento de pressão e
conflitos que ameaçam a ordem e a paz social, é necessário
contemplar a classe operária com o mínimo de condições para que
continuem produzindo, evitando-se os conflitos e garantindo a
continuidade e reprodução da ordem vigente.
Para Iamamoto (2007) as Leis Sociais se compuseram como
importantes instrumentos de regulação jurídica do mercado de
trabalho:
Através deste processo a burguesia industrial designa a centralização
do poder do Estado e a transformação de suas funções, no sentido de
realocar o comando das políticas econômicas e sociais nas mãos do
Estado Federal, tratando de desarticular a classes operárias em
formação e colocá-las sob sua tutela.
No entanto, a intervenção do Estado, naquele momento é analisada
por Mestriner (2005, p.84) como:
(...) o bem-estar é oferecido "paternalmente" (...) para categorias
selecionadas (como ferroviários e portuários) e esvaziado da idéia de
participação política. E mais é como se ocorresse uma politização do
privado, já que é apenas através do trabalho e do pertencimento as
corporações que o homem se transforma em cidadão do Estado.
(destaque da autora).
Ações sociais populistas...
O governo Vargas projetou sua imagem à nação de "pai dos pobres"
instaurando de cima para baixo uma legislação trabalhista que
acabou se tornando a geratriz do populismo. Esta prática se
referencia de ações paternalistas, clientelista e cartorial, na qual o
Estado exercia tutela sobre a sociedade civil, os sindicatos e demais
instituições, regulando as relações sociais de produção com vistas a
promoção do desenvolvimento interno.
As instituições estatais sob seu domínio além de proteger os direitos
das classes burguesas, passaram a garantir complementarmente os
direitos sociais dos não proprietários com isso puderam também
intervir e regular cada vez mais às relações entre capital e trabalho.
Novas leis e instituições são criadas voltadas para promoção de
serviços sociais, trazendo no bojo uma nova relação entre Estado,
empresariado e os trabalhadores.
Desta forma, podemos afirmar que o Brasil, provedor de
industrialização tardia e periférica, implementou estratégias
regulacionistas e desenvolvimentistas, pela elite conservadora
oriunda e descendente da oligarquia agrária. Ou seja, este processo
não contou com a articulação de pactos entre classes ou entre
partidos políticos, se constituindo numa política corporativista de
"cima para baixo".
Amarrando as ideias...
O agravamento progressivo da "questão social" o Estado passa a
intervir não apenas na regulamentação do mercado de trabalho, mas,
também no estabelecimento e controle de uma política assistencial,
de atendimento à pobreza que estivesse intimamente vinculada às
organizações representativas das classes produtoras, ou então,
fizesse parte do corporativismo estatal. Surgem na década de 1940,
neste processo o Conselho Nacional de Serviços Sociais, a LBA, o
Senai e o Sesc.
Neste momento histórico, o Serviço Social ainda engatinha nas obras
sociais do bloco católico, desenvolvendo ações implementadas pela
burguesia paulista e carioca, mas rapidamente o Estado passa ser
grande incentivador deste tipo de qualificação técnica, com as
Escolas de Serviço Social, ampliando o campo de trabalho com as
instituições assistenciais.
Convido vocês a realizarem as atividades que complementam o
estudo!
Um abraço e até uma nova oportunidade!