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O Texto Visual em sala de Aula O professor, ao utilizar em sala de aula o texto configurado por imagens, poderá organizar oficinas em que o aluno possa manusear o material com freqüência e fazer descobertas. Para isso, um roteiro precisa ser seguido. Primeiro os livros devem ficar disponíveis para que os alunos tenham a oportunidade de manuseá-los. As crianças, se quiserem, podem ler mais de um livro. Depois de terem escolhido aqueles de sua preferência, elegem um e recontam-no através de uma história oral ou escrita, reinventada por elas. Nessas oficinas de sensibilização, o professor incentiva os alunos a escolherem uma personagem da história. O desafio é, mais tarde, fazer, por exemplo, com que as crianças se coloquem no lugar de uma das personagens. Essa é uma forma de o leitor perceber intenções e sentimentos não percebidos anteriormente, num primeiro contato com o livro. Nesse processo de leitura, o adulto não deverá impor suas interpretações à criança, mas dar a ela estímulos para que busque criar a partir de suas experiências, percebendo que a leitura não é uma só, mas várias, múltiplas. Já no que se refere à alfabetização, ela também exige um comportamento democrático por parte do alfabetizador. Assim sendo, o livro de imagem, ao permitir a invenção e a construção de diferentes textos, a partir da narrativa visual, estimula a diferença e o respeito pela diferença, sem o qual não há democracia (Camargo,1995, p. 87). O conteúdo das imagens nos livros infantis, se trabalhado na escola, oferece estímulos para que a criança desenvolva a sua inteligência. Henri Wallon (1879-1962), médico francês que desenvolveu estudos na área de neurologia, acreditava que o desenvolvimento da inteligência se ligava intrinsecamente às experiências oferecidas pelo meio ao sujeito, e dependia do grau de apropriação que ele fazia delas. Vygotsky (1896-1934), ao tecer sua teoria sobre o desenvolvimento infantil, afirmou que os sistemas simbólicos servem para mediar as relações do indivíduo com o mundo, e que a linguagem é o mecanismo pelo qual os indivíduos se intercomunicam, abstraem e generalizam o pensamento. No entanto, apesar de usarmos as imagens para nos comunicarmos no nosso dia-a-dia, estamos acostumados a pensar que só o texto escrito é um meio de comunicação sério. O professor, ao utilizar as histórias sem palavras, o texto não verbal, em sala de aula, poderá intervir no processo de desenvolvimento potencial ou proximal dos alunos, pois, pelas imagens, pelo divertimento, a criança irá elaborar sua fala, seu pensamento, compreenderá as relações sociais, vivenciará e reviverá importantes mudanças em seu psiquismo. O papel do brinquedo, do faz-de-conta, segundo Vygotsky (Craidy e Kaercher, 2001) é de extrema importância para o desenvolvimento infantil. Assim sendo, a utilização do livro/brinquedo, livro/imagens se justifica na Educação Infantil, na medida em que estimula a imaginação da criança, aguça a criatividade e o gosto pela leitura, pois a imagem, como um elemento de abstração e sedução do leitor, constitui-se como meio de elaboração do pensamento. O texto escrito ou o texto imagético que tem como destinatário a criança, deve ser coerente e verossímil, e não pueril e simplório. Dessa forma, tanto o ilustrador, como o escritor precisam ter o cuidado de não imporem, através da imagem ou do texto escrito, estereótipos, preconceitos e padrões de comportamento. Deve ficar claro que as obras intituladas como literatura infantil não podem servir apenas como instrumento de formação e informação para a criança, tendo em vista que o leitor não é um ente passivo, mas, acima de tudo, um questionador. Assim, a literatura infantil, sendo considerada como arte, precisa romper com

O Texto Visual Em Sala de Aula

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Literatura infanto-juvenil.

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O Texto Visual em sala de Aula

O professor, ao utilizar em sala de aula o texto configurado por imagens, poderá organizar oficinas em que o aluno possa manusear o material com freqüência e fazer descobertas.

Para isso, um roteiro precisa ser seguido. Primeiro os livros devem ficar disponíveis para que os alunos tenham a oportunidade de manuseá-los. As crianças, se quiserem, podem ler mais de um livro. Depois de terem escolhido aqueles de sua preferência, elegem um e recontam-no através de uma história oral ou escrita, reinventada por elas. Nessas oficinas de sensibilização, o professor incentiva os alunos a escolherem uma personagem da história. O desafio é, mais tarde, fazer, por exemplo, com que as crianças se coloquem no lugar de uma das personagens. Essa é uma forma de o leitor perceber intenções e sentimentos não percebidos anteriormente, num primeiro contato com o livro. Nesse processo de leitura, o adulto não deverá impor suas interpretações à criança, mas dar a ela estímulos para que busque criar a partir de suas experiências, percebendo que a leitura não é uma só, mas várias, múltiplas.

Já no que se refere à alfabetização, ela também exige um comportamento democrático por parte do alfabetizador. Assim sendo, o livro de imagem, ao permitir a invenção e a construção de diferentes textos, a partir da narrativa visual, estimula a diferença e o respeito pela diferença, sem o qual não há democracia (Camargo,1995, p. 87).

O conteúdo das imagens nos livros infantis, se trabalhado na escola, oferece estímulos para que a criança desenvolva a sua inteligência. Henri Wallon (1879-1962), médico francês que desenvolveu estudos na área de neurologia, acreditava que o desenvolvimento da inteligência se ligava intrinsecamente às experiências oferecidas pelo meio ao sujeito, e dependia do grau de apropriação que ele fazia delas. Vygotsky (1896-1934), ao tecer sua teoria sobre o desenvolvimento infantil, afirmou que os sistemas simbólicos servem para mediar as relações do indivíduo com o mundo, e que a linguagem é o mecanismo pelo qual os indivíduos se intercomunicam, abstraem e generalizam o pensamento.

No entanto, apesar de usarmos as imagens para nos comunicarmos no nosso dia-a-dia, estamos acostumados a pensar que só o texto escrito é um meio de comunicação sério. O professor, ao utilizar as histórias sem palavras, o texto não verbal, em sala de aula, poderá intervir no processo de desenvolvimento potencial ou proximal dos alunos, pois, pelas imagens, pelo divertimento, a criança irá elaborar sua fala, seu pensamento, compreenderá as relações sociais, vivenciará e reviverá importantes mudanças em seu psiquismo.

O papel do brinquedo, do faz-de-conta, segundo Vygotsky (Craidy e Kaercher, 2001) é de extrema importância para o desenvolvimento infantil. Assim sendo, a utilização do livro/brinquedo, livro/imagens se justifica na Educação Infantil, na medida em que estimula a imaginação da criança, aguça a criatividade e o gosto pela leitura, pois a imagem, como um elemento de abstração e sedução do leitor, constitui-se como meio de elaboração do pensamento.

O texto escrito ou o texto imagético que tem como destinatário a criança, deve ser coerente e verossímil, e não pueril e simplório. Dessa forma, tanto o ilustrador, como o escritor precisam ter o cuidado de não imporem, através da imagem ou do texto escrito, estereótipos, preconceitos e padrões de comportamento. Deve ficar claro que as obras intituladas como literatura infantil não podem servir apenas como instrumento de formação e informação para a criança, tendo em vista que o leitor não é um ente passivo, mas, acima de tudo, um questionador. Assim, a literatura infantil, sendo considerada como arte, precisa romper com a tradição pedagógica, com a lei dominante do adultocentrismo e fazer da criança um leitor participativo.

Para concluir, os álbuns de figuras têm buscado conquistar uma qualidade estética necessária à leitura crítica da criança e, por isso, adotá-los na escola é uma necessidade. Além disso, as imagens podem se tornar o ponto de partida para muitas leituras, possibilitando ao leitor o alcance para entender seu meio, sua cultura, e, sobretudo, a si mesmo.

(TERRA, Ana Flávia Rodrigues. In. O livro de imagem na educação infantil. Revista Pedagógica, maio junho/2003)