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O TOQUE DE MIDAS — Alguém viu por aí aquele bêbado do Sileno? — pergunou !a"o# $em re"eber re$po$a% Sileno#pre"epor de !a"o# n&o pa$$ava um dia $em apronar alguma% Sempre embriagado e monado no $eu burri"o# vagava o dia ineiro# $em rumo "ero# $er en"onrado dia$ depoi$# "aído pelo$ "amin'o$# a dormir o pe$ado $ono do$ bêbado$% De$a ve( n&o )oi di)erene%Tono pela bebida# Sileno enveredara por uma e$rada di)erene# e$)al)ando$eu burri"o#aé "'egar ao reino do podero$o Mida$% Inernando*$e num bo$que# en"onrara logo uma +rvore e a,eiara*$e $ob a $ua $ombra# par $ono em dia% Algun$ "ampone$e$ que pa$$avam por ali logo o re"on'e"eram% — .e,am# aquele n&o é Sileno# pai adoivo de !a"o? — di$$e um dele$% O$ ouro$# parando em )rene ao dormin'o"o# logo o re"on'e"eram "omo al% O$ "ampone$e$ "olo"aram*no ainda adorme"ido $ob a$ an"a$ do $eu burro e levaram*no o pal+"io de Mida$% — Ora# $e n&o é Sileno# pai de meu grande amigo !a"o/ — e0"lamou Mida$# ao ver enrar em $eu $al&o o vel'o bêbado# que ,+ andava por $ua$ pr1pria$ perna$% Mida$ go$ava do alarido diverido que o vel'o gordu"'o promovia durane $ua$ bebedeira$2 por i$ re$olveu )a(er dele $eu '1$pede por algum empo% Durane de( dia$ o vel'o bêbado alegrou a "ore do rei# que no dé"imo primeiro dia Mida$ levou*o de vola ao $eu )il'o adoivo% !a"o# ap1$ dar uma de$"ompo$ura no vel'o# agrade"eu a Mid pelo grande )avor que l'e pre$ara% — 3ode e$"ol'er# "aro amigo# a re"ompen$a que qui$er — di$$e*l'e !a"o# num ímpeo de genero$idade% — Qualquer "oi$a?%%% pergunou Mida$# $urpre$o% Qualquer "oi$a me$mo?— Sim# "laro#vamo$ l+# diga o que quer/ — e0"lamou !a"o# di$po$o a udo% Mida$ parou um pou"o par pen$ar% Mil'are$ de "oi$a$ valio$a$ pa$$avam por $ua "abe4a — 1

o Toque de Midas

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o Toque de Midas

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O TOQUE DE MIDAS

Algum viu por a aquele bbado do Sileno? perguntou Baco, sem receber resposta.Sileno, preceptor de Baco, no passava um dia sem aprontar alguma. Sempre embriagado e montado no seu burrico, vagava o dia inteiro, sem rumo certo, at ser encontrado dias depois, cado pelos caminhos, a dormir o pesado sono dos bbados.Desta vez no foi diferente. Tonto pela bebida, Sileno enveredara por uma estrada diferente, esfalfando seu burrico, at chegar ao reino do poderoso Midas. Internando-se num bosque, encontrara logo uma rvore e ajeitara-se sob a sua sombra, para pr o sono em dia. Alguns camponeses que passavam por ali logo o reconheceram. Vejam, aquele no Sileno, pai adotivo de Baco? disse um deles.

Os outros, parando em frente ao dorminhoco, logo o reconheceram como tal. Os camponeses colocaram-no ainda adormecido sob as ancas do seu burro e levaram-no at o palcio de Midas. Ora, se no Sileno, pai de meu grande amigo Baco! exclamou Midas, ao ver entrar em seu salo o velho bbado, que j andava por suas prprias pernas. Midas gostava do alarido divertido que o velho gorducho promovia durante suas bebedeiras; por isto, resolveu fazer dele seu hspede por algum tempo. Durante dez dias o velho bbado alegrou a corte do rei, at que no dcimo primeiro dia Midas levou-o de volta ao seu filho adotivo.Baco, aps dar uma descompostura no velho, agradeceu a Midas pelo grande favor que lhe prestara. Pode escolher, caro amigo, a recompensa que quiser disse-lhe Baco, num mpeto de generosidade. Qualquer coisa?... perguntou Midas, surpreso. Qualquer coisa mesmo? Sim, claro, vamos l, diga o que quer! exclamou Baco, disposto a tudo. Midas parou um pouco para pensar. Milhares de coisas valiosas passavam por sua cabea coroas, trofus, esttuas, jias -, sempre douradas e resplandecentes. De repente, teve uma brilhante idia. Ou antes, uma dourada idia: Quero que tudo o que eu toque vire ouro.

Baco, que havia prometido atender ao pedido, qualquer que fosse, tentou, no entanto, tirar essa idia da cabea de Midas:

1 Meu amigo, acho que esta no uma boa escolha disse o deus, pousando amigavelmente a mo sobre o ombro do visitante.Este, no entanto, surdo a qualquer razo, queria a todo custo que seu amigo cumprisse a

promessa.

Voc disse qualquer coisa.

Quer isto mesmo?

Sim, claro, vamos! disse Midas, impacientando-se.

Baco cedeu finalmente e, por meio de um passe mgico de mos, conferiu ao angustiado Midas o poder de transformar tudo o que tocasse em purssimo ouro. Obrigado mesmo! exclamou Midas, aproximando-se para dar um abrao em Baco. O deus, no entanto, esquivou-se num movimento rpido e afastou-se dando-lhe adeus.Para testar o seu novo poder, Midas estendeu uma das mos para um galho seco que pendia de uma velha rvore. Vamos ver... murmurou, numa expectativa ansiosa.

Nem bem tocou no galho, no entanto, a casca comeou a se esfarelar, surgindo por baixo uma cor dourada. Funciona! funciona! gritava pelas veredas do bosque o rei, sapateando de euforia.

Serei o rei mais rico do mundo!

Seguiu assim, saltitando e tocando em tudo o que via: tocou numa pedra e ela virou uma grande pepita de ouro; arrancou uma ma de uma rvore e ela ganhou a cor dourada e pesou na suas mos; achou uma velha fivela de metal e viu-a logo resplandecer diante de seus olhos.Midas chegou em casa com os bolsos abarrotados de insetos, galhinhos. folhas e pedras de ouro pois no quis deix-las espalhadas pelo caminho, incerto ainda da durao do seu novo e maravilhoso poder. A rainha j chegou? perguntou, assim que entrou no palcio. Os criados responderam que no, ela ainda no havia chegado."Onde andar essa mulher?", pensou, impaciente para lhe contar a novidade.

Midas sentou-se mesa, para almoar. J passava de meio-dia, e a caminhada havia aberto seu apetite. Logo as baixelas de prata foram surgindo nos braos dos escravos. Um criado destapou a primeira, da qual se levantou uma nuvem branca e cheirosa. Os olhos do faminto Midas lutavam por devassar a nuvem e descobrir o que o aguardava. Pernil de carneiro com amndoas e tmaras! exclamou, deliciado. Parecia at que o cozinheiro havia adivinhado que aquela era uma data especial. Outros pratos foram sendo colocados na mesa, cada qual mais apetitoso que o outro. Midas pegou o garfo um magnfico

talher de prata que se converteu imediatamente em purssimo ouro. To logo levou a primeira poro boca, percebeu que mastigava as mais duras amndoas da sua vida.Levou a mo boca, dela retirou alguns pedacinhos e viu que tinha entre os dedos trs ou

quatro pecinhas de ouro, minsculas como pingentes.

Midas colocou o ouro de lado e decidiu atacar o assado. Como fosse guloso, arrancou um pedao do pernil com as prprias mos e meteu-lhe os dentes com todo o gosto. No mesmo instante, sentiu na boca a mesma sensao de haver mordido uma chapa de ferro. O seu canino estalou e Midas esfregou-o com o dedo, gemendo de dor. No mesmo instante, no s este dente como todos os demais transformaram-se em luzentes dentes dourados.Lanando longe o pernil, Midas avistou um pssego numa bandeja. Agoniado, agarrou-o num mpeto voraz, apenas para perceber que tinha agora um pssego de ouro macio entre os dedos, lindo de ver, mas impossvel de comer.Neste instante a bela rainha entrou pela porta do salo. Estava linda como sempre, os cabelos molhados cados de modo displicente sobre os ombros. Querida, tenho uma grande notcia! disse Midas, lanando-se feliz em direo

esposa. Voc est diante do rei mais rico e poderoso da Terra! -exclamou, vermelho de satisfao. O que houve com os seus dentes? perguntou a rainha, ofuscada pelo nono sorriso

do rei.

Vamos, me d logo um abrao! pediu o rei, eufrico.

A rainha, sem desconfiar de nada, deixou que o rei a envolvesse nos braos.

Ricos, ricos, eternamente ricos! gritava ele.

De repente, porm, sentiu que os membros da esposa enrijeciam-se. D rosto dela, colado

ao seu, tornara-se repentinamente gelado, enquanto seus ombros haviam ficado dourados.

No! gritou Midas, dando-se conta outra vez da sua horrvel situao. Rainha querida, o que houve com voc?Ali estava sua esposa, transformada numa esttua imvel e dourada. Durante alguns

minutos Midas esteve tambm paralisado, s que de espanto. Um rudo sibilino acordou-o de seu horrendo devaneio. Sobre a mesa, Mimeus, seu gato de estimao, o encarava, arregalando os grandes olhos de pupilas horizontais. Cercado de alimentos dourados, inteis para ele, o gato parecia cobrar com seu miado estridente uma soluo, o que encheu o corao de ouro do rei de um dio assassino. Gato maldito, desaparea j da minha frente! disse Midas, pulando na direo do gato, decidido a estrangul-lo.

Errou, no entanto, o alvo, conseguindo agarrar apenas a cauda de Mimeus, que se transformou instantaneamente em ouro. O gato voltou-se para trs e, ao perceber aquela surpreendente transformao no seu traseiro, arreganhou os dentes e sumiu porta afora.Mas a porta j se abria outra vez: era o cunhado do rei.

"Vem pedir dinheiro outra vez, o desgraado!", pensou Midas com fria. "No adiantou faz-lo ministro!" Quanto desta vez? rugiu, indo direto ao assunto.

O cunhado, aliviado por poder dispensar os prembulos, respondeu com um sorriso mais amarelo que o do dono da casa: Bem, quinhentas moedas est bom...

Venha c disse Midas. Antes, me d um abrao.

E agarrou o infeliz pelos ombros, enquanto aguardava o resultado.

Pronto, agora vai chegar para o resto da vida rugiu, ao ver o cunhado virado em

ouro.

O cunhado e ministro, encantado com a transformao, saiu correndo porta afora,

disposto a vender-se inteiro ao primeiro que passasse. Toda aquela agitao, entretanto, provocou uma sede terrvel em Midas, que agarrou uma jarra cheia de vinho e a emborcou. No mesmo instante, sentiu que um lquido espesso e ardente lhe descia pela traquia at cair no estmago como chumbo derretido. Aterrado, espiou para dentro da jarra e viu no fundo um restinho do ouro liquefeito que acabara de ingerir.Tomado definitivamente pelo pavor, Midas caiu de joelhos, levantando para o alto as suas douradas mos. Baco, salve-me! implorava. Tanto gritou o desgraado que o deus acabou

penalizado.

Eu no o avisei? perguntou Baco.

Me tire desta situao, pelo amor de Zeus!

Est bem, se acalme, vou ver o que posso fazer. Baco disse ento a Midas que fosse at o rio Pactolo e procurasse a sua nascente. Uma vez encontrando-a, deveria mergulhar a cabea nas guas, o que seria suficiente para faz-lo voltar normalidade. Midas, sem esperar mais, lanou-se porta afora. Aps atravessar os campos, encontrou a nascente do rio e nela mergulhou a cabea. No mesmo instante, as areias do rio ficaram douradas e os peixes tomaram a cor do sol, deixando-o livre para sempre da maldio.Depois dessa cruel experincia, Midas tomou-se de tal nojo pelo ouro e pelas riquezas que decidiu morar no mato, abandonando todas as suas riquezas e indo viver na companhia de P, o deus dos bosques