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O TRABALHO COLABORATIVO NA FORMAÇAO DE PROFESSORES: O AVA COMO ESPAÇO DE MEDIAÇÃO E PRÁXIS Ana Cristina Castro do Lago 1 Lílian Correia Oliveira 2 Yale Cunha Avelino 3 Eixo 08 – Tecnologia, Mídias e Educação. RESUMO O texto apresenta experiência desenvolvida em um subprojeto do PIBID, vinculado ao curso de Pedagogia de uma universidade estadual baiana. Explicita o papel e importância de um AVA como espaço mobilizador com a construção de um ‘banco de aulas’ que integra processos educativos na Formação de Professores. Contextualiza o estudo a partir da reflexão acerca da trajetória deste subprojeto, cuja iniciativa propõe o reconhecimento da viabilidade e alcance do AVA, no formato de uma plataforma livre, enquanto agregador das propostas de atividades de ensino. Tem por objetivo investigar as possibilidades deste AVA como intermediador dos processos da tríade colaboração/mediação/práxis apontando para o sentido de gerar saberes desenvolvido coletivamente no delineamento de formas de compreensão da prática docente, desenvolvendo uma cultura de intervenção com o uso do AVA. Palavras-chave: Colaboração. Mediação. Práxis. RESUMEN El texto presenta la experiencia desarrollada en un sub proyecto del PIBID, vinculado al curso de Pedagogía de una Universidad estatal de la Bahía. Explica la función y importancia de un AVA como espacio de movilización con la construcción de un 'Banco de lecciones' que integra los procesos educativos en la Formación del Profesorado. Contextualiza el estudio de la reflexión sobre la trayectoria de este sub proyecto, cuya iniciativa propone el reconocimiento de la viabilidad y el alcance de AVA, en forma de una plataforma libre, mientras congregador de las actividades de enseñanza. Pretende investigar las posibilidades de este AVA como intermediario del procesos de la tríada colaboración /mediación / praxis apuntando hacia el sentido de generar conocimiento desarrollado colectivamente para la comprensión de la enseñanza, desarrollando una cultura de intervención con el uso de AVA. Palabras-clave: Colaboración. Mediación. Praxis.

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O TRABALHO COLABORATIVO NA FORMAÇAO DE PROFESSORES: O AVA

COMO ESPAÇO DE MEDIAÇÃO E PRÁXIS

Ana Cristina Castro do Lago1 Lílian Correia Oliveira2 Yale Cunha Avelino3 Eixo 08 – Tecnologia, Mídias e Educação. RESUMO O texto apresenta experiência desenvolvida em um subprojeto do PIBID, vinculado ao curso de Pedagogia de uma universidade estadual baiana. Explicita o papel e importância de um AVA como espaço mobilizador com a construção de um ‘banco de aulas’ que integra processos educativos na Formação de Professores. Contextualiza o estudo a partir da reflexão acerca da trajetória deste subprojeto, cuja iniciativa propõe o reconhecimento da viabilidade e alcance do AVA, no formato de uma plataforma livre, enquanto agregador das propostas de atividades de ensino. Tem por objetivo investigar as possibilidades deste AVA como intermediador dos processos da tríade colaboração/mediação/práxis apontando para o sentido de gerar saberes desenvolvido coletivamente no delineamento de formas de compreensão da prática docente, desenvolvendo uma cultura de intervenção com o uso do AVA. Palavras-chave: Colaboração. Mediação. Práxis.

RESUMEN El texto presenta la experiencia desarrollada en un sub proyecto del PIBID, vinculado al curso de Pedagogía de una Universidad estatal de la Bahía. Explica la función y importancia de un AVA como espacio de movilización con la construcción de un 'Banco de lecciones' que integra los procesos educativos en la Formación del Profesorado. Contextualiza el estudio de la reflexión sobre la trayectoria de este sub proyecto, cuya iniciativa propone el reconocimiento de la viabilidad y el alcance de AVA, en forma de una plataforma libre, mientras congregador de las actividades de enseñanza. Pretende investigar las posibilidades de este AVA como intermediario del procesos de la tríada colaboración /mediación / praxis apuntando hacia el sentido de generar conocimiento desarrollado colectivamente para la comprensión de la enseñanza, desarrollando una cultura de intervención con el uso de AVA. Palabras-clave: Colaboración. Mediación. Praxis.

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INTRODUÇÃO

O texto “O trabalho colaborativo na formação de professores: o AVA como espaço de

mediação e práxis” aqui apresentado, traz a proposta de estudar a aproximação entre

Universidade e Educação Básica, e as suas interconexões com a formação docente. Neste

estudo articula-se o entendimento sobre o que é necessário para garantir qualidade à formação

de educadores nos cursos de Licenciatura em Pedagogia. E esta tarefa será delineada a partir

da investigação do potencial do Ambiente Virtual de Aprendizagem (doravante será nomeado

pela sua inicial AVA) para mediação entre os participantes e delineamento de formas de

desenvolver a prática docente.

É importante ressaltar que esta reflexão advém das experiências fruto da execução do PIBID

vinculado ao curso de Pedagogia de uma Universidade Pública Estadual, cujo subprojeto

prevê a intervenção didática em um AVA, onde está situado um ‘banco de aulas’, como

potencializador da mediação e práxis pedagógica, no contexto da Formação de Professores.

Entende-se que o trabalho colaborativo atravessa a preocupação deste projeto, na medida em

que se busca discutir o reconhecimento da viabilidade, do alcance e da abrangência deste

AVA enquanto integrador das propostas de atividades integradas de ensino e o seu impacto na

formação dos licenciandos e regentes da educação básica que estão envolvidos nesse projeto.

A iniciativa de discutir acerca dos processos colaborativos envolvidos no citado projeto, tem o

intuito de apontar as possibilidades da mediação e práxis pedagógica construída a partir de

uma cultura de mediação e acompanhamento da aprendizagem dos licenciados em Pedagogia

com o uso dos dispositivos do AVA, por meio da interatividade e da aprendizagem

colaborativa na rede. Esse investimento revela total convergência com investigações acerca

das possibilidades contemporâneas para o trabalho docente, seus processos, atores e desenhos

emergentes.

RECONHECIMENTO DO CONTEXTO DO ESTUDO

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Como já foi mencionado, este estudo parte da experiência de execução do subprojeto do

PIBID que funciona no Departamento de Educação no qual está instalado. A idéia do projeto

é a de construir projetos didáticos, além de propostas de atividades integradas de ensino e

retroalimentá-las no AVA que está disponível para os estudantes do curso de Pedagogia e

para os professores da Escola Parceira. A proposta trazida no projeto apresenta a seguinte

configuração:

• Composição de projetos didáticos e das propostas de atividades integradas de

ensino;

• Postagem dos projetos didáticos e das propostas de atividades integradas de

ensino no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA);

• Discussão no fórum do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA);

• Aplicação dos projetos didáticos e das propostas de atividades integradas de

ensino;

• Postagem da versão definitiva dos projetos didáticos e das propostas de

atividades integradas de ensino.

Mais especificamente, é necessário dizer que os projetos didáticos e as atividades integradas

de ensino que compõe o AVA são gestados por estudantes de pedagogia (bolsistas PIBID) e

em conjunto com a professora da Escola Parceira. Refletindo sobre essa vigorosa tendência

quanto à utilização da TIC em todos os setores e espaços da sociedade, é que este texto

apresenta aqui este subprojeto do PIBID, cuja iniciativa é à adoção de estratégias e

dispositivos propostos pelo AVA, propiciando a partilha, sistematização, socialização e

ampliação das formas de intervenção didática produzidas para/na relação

Universidade/Escola.

APORTES TEÓRICOS

Os aportes teóricos que dão suporte à concepção e ao desenvolvimento deste estudo

compreendem trabalho colaborativo, referenciais de Educação e Tecnologias e contribuições

das pesquisas sobre mediação e práxis pedagógica. As idéias que subsidiam este estudo

apóiam-se nas pesquisas de autores contemporâneos, tais como: Damiani (2008), Masetto

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(2001), Ramal (2002), Silva (2000), Levy (1999), Alves (2000), Souza e Santos (2008),

Franco (2008), Freitas (2005), Fusari (2011), Vázquez (2011), Freire (1977) dentre outros.

Referente ao trabalho colaborativo tem-se como aporte as idéias de Damiani (2008) que

discute a importância do desenvolvimento de atividades colaborativas nas escolas e como esse

processo podem gerar resultados diferenciados nas atividades que envolvem professores e

estudantes.

Quanto aos referenciais de educação e tecnologias, o presente texto deriva da compreensão

dos referenciais teóricos de:

• Ramal (2002), que investiga o potencial e eficácia do uso das TIC para a construção

do conhecimento. Para ela a internet descortina novas perspectivas para a educação, a

partir da utilização da TIC, para o desenvolvimento de um processo educacional

interativo, que propicia a produção de conhecimento, via processos colaborativos;

• Silva (2000), pois em seus estudos sobre interatividade, sustenta a idéia da construção

enquanto em conjunto, baseada numa relação de reciprocidade e de interação. O

processo de ensino/aprendizagem baseado na interatividade pode ser bastante

participativo e permitir experiências muito enriquecedoras. A partir das suas idéias,

pode-se perceber que esse processo não é natural, exige intencionalidade, a exemplo

de engajamento em projetos estabelecidos no ponto de vista do diálogo e da interação,

e inclusive na a inserção das novas tecnologias e com a inserção destas;

• Levy (1999) com os aportes propostos que conclama a uma reflexão sobre os sistemas

de educação e formação na cybercultura, observada desde a ponto de vista da dialética.

Os conceitos de Inteligência Coletiva, Virtualidade e Ciberespaço se sustentam na

profunda análise da transformação da sociedade contemporânea em relação ao

conhecimento, além de ajudar a pensar o que são inteligências coletivas, ciberespaço e

realidade virtual; e,

• Alves (2000), pois ela afirma que existem vários modelos e potenciais para EAD,

destacando a possibilidade de atuação intencional e crítica dos educandos na

construção e dinamização de AVA e redes sociais. Ao entrar em contato com as idéias

da autora, pode-se perceber que a prática pedagógica incrementada pelos recursos das

TIC gera valores de sociabilidade, diálogo, entendimento e coparticipação; além de

propiciar o desenvolvimento de atitudes favorecedoras da integração entre diferentes

áreas do conhecimento. O texto aqui apresentado tem essa tônica: promover a

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integração professor/estudante, escola/universidade, teoria/prática, mediadas na

plataforma AVA.

Alusivo a mediação didática, apresentam-se os seguintes autores: Masetto (2001) cita a

mediação pedagógica como a atitude, o comportamento do professor que se coloca como

facilitador / incentivador ou motivador da aprendizagem. A analogia da ponte, proposta pelo

autor, é bastante elucidativa, pois apresenta o professor como ponte ‘rolante’ entre o aprendiz

e sua aprendizagem já que colabora ativamente para que o aprendiz chegue aos seus objetivos.

No que diz respeito à Práxis, pode-se ressaltar a afirmação dos autores Souza e Santos (2008)

que revelam o desconforto dos professores em formação na integração entre teoria e prática

no seu trabalho. No entanto, busca-se compreender o sentido filosófico da práxis na atividade

docente, cujo objetivo encontra sentido na transformação do objeto e do autor da práxis, dessa

forma há que expor a análise da filosofia da práxis proposta por Vásquez (2011).

Há um conflito por parte dos professores em formação quanto à função da teoria estudada e

suas atividades práticas, mas os docentes demonstram que a teoria adquire significado no

confronto com os problemas da prática. Franco (2008) sinaliza a necessidade de mudança nas

práticas de formação de professores de forma a promover significado e identidade ao trabalho

docente, gerando, dessa forma, a criatividade, a autonomia e a percepção do docente em

formação para as exigências de cada situação educacional concreta, avançando da reprodução

à atitude de autoria e apropriação da própria ação. Fusari (2011) elucida sobre a importância

da reflexão sobre a ação no trabalho docente ao afirmar que a reflexão filosófica deve

preencher três requisitos básicos que apresenta como: radical, rigorosa e de conjunto.

Portanto, a reflexão da prática requer a busca da raiz do problema, o embasamento teórico e a

visão de um contexto em que ocorrem os fatos. Freitas (2005) compreende a práxis docente

de forma abrangente, compreendendo o contexto social e institucional, não apenas centrado

em práticas individuais. A autora revela que não basta que o docente reflita sobre a sua ação

na sala de aula, ele precisa compreender os elementos que condicionam a prática profissional.

Portanto, a práxis pedagógica avança como prática politizada em oposição à práxis alienada.

DESENVOVIMENTO

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Assim, neste texto, busca-se repassar os processos colaborativos possíveis de se constituir na

formação de professores, atravessado pelo dispositivo do AVA, com o seu ‘banco de aulas’

enquanto espaço de mediação didática e de práxis pedagógica. Vale ressaltar o entendimento

de que esta constituição se dá na sala de aula e para além dela, no processo circular de

desenvolvimento / reconstrução de aulas e que esse trabalho pressupõe um processo

interativo, no qual para ser desenvolvido torna-se necessária trocas de qualidade entre os

participantes de tal processo. A riqueza deste processo se dá no exercício de pesquisa,

transformação e busca de inovação, propiciando subsídios para intensas reflexões sobre a

formação profissional do educador e, ressignificando o processo de tornar-se docente.

O TRABALHO COLABORATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Discutir o trabalho colaborativo na formação de Professores é de fundamental importância,

pois pressupõe uma nova concepção de educação, cuja marca é produzir e desenvolver

atividades coletivamente. Esta concepção é responsável por um novo sujeito - em formação -

que estabelece relações horizontais, compartilha objetivos, se corresponsabiliza pela condução

das ações, está envolvido em clima de apoio e confiança mútua. Segundo Damiani, “na

colaboração, [...], ao trabalharem juntos, os membros de um grupo se apóiam, visando atingir

objetivo comum negociados pelo coletivo, estabelecendo relações que tendem a não-

hierarquização, liderança compartilhada, confiança mútua e co-responsabilidade pela

condução das ações (2008: p. 215). Os valores envolvidos neste processo são formativos e,

por conseguinte, necessitam serem incrementados na Formação de Professores.

Para explicitar que o processo vivido pelos sujeitos na contruçao do hábito do trabalho

colaborativo, via o ‘banco de aulas’ do AVA. É certo que o trabalho colaborativo na

Formação de Professores só beneficia os participantes envolvidos nessa dinâmica, pois estes

internalizam normas, hábitos, expectativas, habilidades e entendimentos, que se caracterizam

como um conjunto de saberes importantes para apreender a realidade partilhada ente a

universidade e a escola.

Damiani afirma que é pelo engajamento em atividades cotidianas, desenvolvidas em seu

grupo de trabalho, que ocorre a produção, transformação e mudança na identidade das

pessoas, em seu conhecimento e em suas habilidades práticas (2002: p. 217). Ao compartilhar

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estes conhecimentos, se está construindo uma memória coletiva, resultado do trabalho em

conjunto, onde são tecidos significados e representações complexas e elaboradas.

Para se chegar a esta concepção de trabalho colaborativo na Formação de Professores, não

basta terem computadores ligados à internet, antes se torna necessário reflexão coletiva sobre

essa mídia no cotidiano e na vida do professor e estudante; alem de garantir que eles sejam

utilizados efetivamente na prática formativa. Daniels (2000) argumenta que as culturas de

trabalho colaborativo são importantes ambientes para a promoção de trocas de experiência e,

conseqüentemente, de aprendizagens, promovendo incremento nesses parâmetros

(DAMIANI, 2002: p. 218), daí a importância de pensar a efetividade desse excelente espaço

de compartilhamento e aprendizagem.

A constituição deste espaço, para docentes e licenciandos, é potente. Os trabalhos de Zanata

(2004) e Loiola (2005) indicam que o trabalho colaborativo entre docentes [...] permite a

identificação de suas forças, fraquezas, dúvidas e necessidades de reconstrução, a socialização

de conhecimentos, a formação de identidade grupal e a transformação de suas práticas

pedagógicas. (DAMIANI, 2002: p. 220). Ou seja, participar de experiência colaborativa

favorece a análise, a crítica e a decisão face aos problemas apresentados na realidade. Entre os

licenciandos podem-se ressaltar valores diversos como aponta Damiani:

[...] Os benefícios das atividades colaborativas entre estudantes têm sido ressaltados, da mesma forma que entre docentes, por diversos autores. Os trabalhos de Coll Salvador (1994) e Colaço (2004) são exemplos dos que realizam uma análise ampla dos efeitos desse tipo de atividade entre estudantes. Esses autores apontam ganhos em termos de: 1) socialização (o que inclui aprendizagem de modalidades comunicacionais e de convivência), controle dos impulsos agressivos, adaptação às normas estabelecidas (incluindo a aprendizagem relativa ao desempenho de papéis sociais) e superação do egocentrismo (por meio da relativização progressiva do ponto de vista próprio); 2) aquisição de aptidões e habilidades (incluindo melhoras no rendimento escolar); e 3) aumento do nível de aspiração escolar [...]. (2002: p.222)

Tanto para docentes e licenciandos, o trabalho colaborativo possibilita o resgate de valores

tais como: o compartilhamento e a solidariedade, que são fundamentais para as relações que

as estabelecidas entre os diversos envolvidos na ação educativa / formativa.

O AVA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: ESPAÇO DE MEDIAÇÃO

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Parte-se aqui do pressuposto de que é preciso entender que a sociedade atual exige o uso

dessas tecnologias e que esse uso traz avanços e possibilidades. Esses avanços dão margem a

possibilidades como: desenvolvimento da criticidade, da curiosidade de sempre buscar coisas

novas e a criatividade de expressão e reflexão. Assim como a possibilidade da aprendizagem à

distância por meio da facilidade de troca de informações em frações de segundos, rompendo

as barreiras do espaço geográfico. Neste sentido, intervir a partir de um AVA, cujo ‘banco de

aulas’ potencializa uma mediação didática na proposta de atividades integradas de ensino,

interligando a universidade e a escola, visando uma melhor qualidade à formação de

professores, se constitui o diferencial desse texto

As tecnologias ao longo dos anos foram popularizando-se e essa é uma das causas para que os

profissionais da educação precisem se apropriar delas. É sabido que o uso dessas tecnologias

na educação tem o poder de transformar as aulas em mais atrativas, prazerosas e desenvolver

significativamente a criatividade, a criticidade e a aprendizagem dos estudantes. Entretanto

para que isso aconteça, é necessário que o professor saiba utilizar tais recursos - além de

planejar as suas aulas - para que o educando alcance as habilidades imprescindíveis a sua

formação.

Partindo desta perspectiva, pode-se focalizar na ação docente a responsabilidade tornar as

suas aulas mais significativas. Observa-se que é no planejamento das aulas, na ponderação

acerca de utilização de diversos dispositivos que as aulas podem se constituir mais prazerosas

e significativas. Essa definição trazida por Masetto (2001) carrega consigo reflexões a

cerca de como planejar e encaminhar as aulas. Afinal mediação pedagógica vai além do

planejar, e perpassa pelo ato de ensinar, de forma que os conteúdos levados pelo professor

sejam significativos e que a partir da mediação entre professor e educandos, construa

conhecimentos.

A mediação pedagógica tem por objetivo estimular o estudante a aprender e desenvolver

conhecimentos significativos, vinculando-os ao seu mundo real, a fim de que o mesmo

compreenda o mundo em que vive e que possa contribuir, questionando, agregando, fazendo

inferências e relacionando-se. Segundo MASETTO:

[...] O diálogo permanente de acordo com que acontece no momento; troca de experiências; debater dúvidas, questões ou problemas; apresentar perguntas orientadoras; garantir a dinâmica do processo de aprendizagem; propor situações-problema e desafios; desencadear e incentivar reflexões. [...] (2001, p. 145).

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Em síntese, a mediação pedagógica é a forma como ensinar um determinado conteúdo,

sabendo coletar informações e fazendo com que surja o interesse entre os educandos de

pesquisar para que na próxima aula sejam encaminhadas outras discussões, sobre um mesmo

assunto e dessa forma, promovendo a interaprendizagem na sala de aula e construção de

novos conhecimentos coletivamente.

É de extrema importância chamar a atenção novamente aos planejamentos e a atuação do

professor, vinculado às novas tecnologias. É preciso que o professor tenha os seus objetivos

muito definidos ao utilizar os recursos tecnológicos como computador e internet, pois esta

dispõe de uma infinidade de possibilidade. O professor deve ter objetivos elucidados para não

se perder em sua aula e a mesma se tornar evasiva, sem sentido ao significado e essa aula

perderá o seu sentido real e político para acontecer.

A grande característica do uso da tecnologia na mediação pedagógica é, de acordo com

Masetto, “cooperar para que o aprendiz use e comande as novas tecnologias para suas

aprendizagens e não seja comandado por elas ou por quem as tenha programado” (2001, p.

145). A partir desta característica é possível perceber qual o papel do professor para fazer com

que o educando reflita sobre as novas tecnologias inseridas na sociedade de forma que saiba

utilizá-las, como um sujeito autônomo.

As tecnologias a serviço da educação é um grande avanço, afinal, as mesmas podem e devem

ser utilizadas para aprimorar, dinamizar as aulas. Igualmente importante é fazer com que o

aluno aprenda de forma autônoma, por meio da mediação, quer pela ação do professor, quer

no AVA. O uso das tecnologias na educação, segundo LEVY (1999), possibilita as mesmas

coisas que o ciberespaço, ou seja, possibilita o relacionamento independente do espaço

geográfico, a inteligência coletiva, as interconexões, favorecidos pelas criações coletivas e

redes sociais universais, assim como o AVA, a criação de comunidades virtuais, socialização

de conhecimentos. Possibilita ainda a interatividade e a interaprendizagem por meio das

interrelações. Esta é a proposta do uso do AVA, na construção do ‘banco de aulas’.

O AVA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: ESPAÇO DE PRÁXIS

Com o uso das novas tecnologias da informação e comunicação, os ambientes virtuais de

aprendizagem são utilizados na educação a fim de desenvolver a participação, interatividade e

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autonomia. Nesta perspectiva, um novo processo e dinâmica nas relações educacionais com a

interação que se estabelece no AVA enquanto espaço em que todos acessam e produzem

conhecimento com autonomia. Essas relações acontecem para além do ambiente escolar. E a

partir do momento em que professores e estudantes, em uma relação de sujeitos

socioculturais, que possuem visões de mundo, historicidade, objetivos, valores e emoções,

tornam-se participantes do processo de conhecimento na condução da aula dialogada e

problematizadora, possibilitando que os conteúdos escolares possuam significado e

estabeleçam afinidades com as suas vivências e objetivos.

A atitude crítica e reflexiva do professor contribui para a participação e autonomia do

educando. A prática pedagógica reflexiva do professor fruto da ação-reflexão-ação oportuniza

e promove a conscientização e autonomia, de si próprio e dos educandos.

No entanto, o que se observa é o descompasso entre teorias educacionais e as praticadas

evidenciadas pelos professores (SOUZA e SANTOS, 2008), mesmo aqueles que estão em

formação. As autoras elucidam que a causa para esse desconforto é resultado da prática

educacional do Brasil, que valoriza o quantitativo em detrimento de qualidade. Há que

possibilitar aos licenciandos a análise e compreensão dos contextos históricos, sociais e

culturais em que estão inseridos, pois compreender a escola, com suas especificidades, auxilia

na reflexão do professor em formação para o desenvolvimento de ações que gerem a

autonomia e a aprendizagem significativa, e, atribuição de sentido aos processos formativos

desenvolvidos, na apropriação da criticidade e criação.

A práxis, como exercício pedagógico, permite ao sujeito, histórico e coletivo, acessar os

caminhos de sua autonomia. Vásquez (2011) afirma que Marx concebe a práxis como uma

atitude humana transformadora e ao mesmo tempo formadora de si, que por sua vez,

transforma e forma, também, a sociedade. Neste sentido, Freire (1977) propõe que a práxis

pedagógica se firma no processo de reflexão e ação dos indivíduos sobre o mundo,

transformando-o.

O autor ainda afirma que a práxis é fundamental para a superação da opressão (FREIRE,

1977). Assim, pode-se perceber que a consciência reflexiva representa elemento muito

importante para a práxis. Alguns podem conformar-se com as situações, mas há os que se

preocupam com um fazer significativo. Esses, interessados na qualidade da educação,

direcionam o seu trabalho para uma nova prática com possibilidades de diálogos entre os

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saberes da prática e os saberes da formação. Enquanto síntese, Franco (2008) sinaliza que a

práxis transforma as condições formativas a que são submetidos os professores.

A reflexão de Saviani (FUSARI, 2011) elucida sobre a importância da reflexão sobre a ação

no trabalho docente. O autor afirma que a reflexão filosófica deve preencher três requisitos

básicos que apresenta como: radical, rigorosa e de conjunto. Portanto, a reflexão da prática

requer a busca da raiz do problema, o embasamento teórico e a visão de um contexto em que

ocorrem os fatos. Freitas (2005), citando Alarcão, abaliza sobre a integração de pessoas e

processos abordando o seu conceito de professor reflexivo, que pensa a sua prática, como

espaço de formação coletiva da profissionalidade docente. O AVA, com o seu ‘banco de

aulas’, tem o caráter de espaço reflexivo de formação coletiva, e se configura na construção

de saberes desenvolvidos coletivamente neste ambiente.

CONSIDERAÇOES PARCIAIS

Para Finalizar, considera-se que a proposta gerada pela tríade colaboração/mediação/práxis,

que são transversalizadas no AVA, pelo ‘banco de aulas’ proporciona aprendizagens mais

contextualizadas na Formação de Professores. Estas se dão como conseqüência da construção

de relações, originada por uma atitude investigativa, nas práticas realizadas na Universidade,

seja do professor, seja do estudante, e nas práticas realizadas na escola, enquanto parceira

desta proposta. O AVA, com o seu ‘banco de aulas’, se configura na construção de saberes

desenvolvidos coletivamente. Espera-se que esta experiência reforce o papel e importância do

AVA, e conseqüentemente, do ‘banco de aulas’, como espaço mobilizador e integrador de

docentes que se envolvem nos processos educativos, como sujeitos coletivos.

Assim, o texto “O trabalho colaborativo na formação de professores: a AVA como espaço de

mediação e práxis”, ora apresentado, corrobora como possível evidência de práticas

pedagógicas enriquecidas pelas discussões no AVA que, conseqüentemente propõe a

ressignificação de processos envolvidos melhoria da qualidade da Formação de

Professores.123

1 Doutoranda em Educação UB – Professora do DEDC I / UNEB – Coord. de subprojeto PIBID/UNEB

2 Licencianda do DEDC I / UNEB - Bolsista PIBID/UNEB

3 Licencianda do DEDC I / UNEB - Bolsista PIBID/UNEB

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REFERÊNCIAS:

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