18
O TRATAMENTO DA NEOLOGIA LEXICAL EM TEXTOS AUTÊNTICOS: UMA AMOSTRA DE ATIVIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEXICAL Priscila de RESENDE Universidade Federal de Minas Gerais [email protected] Resumo: Tendo em vista que o léxico, um componente essencial da língua, está marginalizado em sala de aula, este texto tem como objetivo principal propor atividades que envolvam os processos de criação de novas palavras, os neologimos, na língua portuguesa. Para isso, descrevemos brevemente como tem sido o ensino de português nos últimos tempos, assim como compreendemos alguns aspectos relativos ao léxico, ao desenvolvimento da competência lexical e ao tratamento dispensado à neologia no âmbito escolar. Palavras-chave: Léxico; neologia; ensino-aprendizagem de língua portuguesa. 1- Introdução O ensino de língua portuguesa passou por muitas mudanças nos últimos tempos. Da concepção de língua como sistema, passou-se à concepção de língua como instrumento e, atualmente, deve ser tratada como enunciação. Nesse percurso, muitos problemas, no que tange à leitura e escrita dos alunos, foram detectados. Contudo, estamos em tempo de mudanças, as quais devem ser atribuídas, especialmente, a alguns instrumentos de orientação pedagógica como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), dentre outros. Nesse aspecto, então, devemos compreender que a língua é um sistema composto por dois elementos: a gramática e o léxico. Entretanto, por muito tempo, o ensino de língua foi considerado como sinônimo de ensino de gramática. O léxico, um componente essencial da língua, ficou (e está) à margem do ensino de língua materna. Assim, seguindo a mesma trajetória do que se passa com as línguas de civilização em geral, no que diz respeito às variações e mudanças, o léxico do português do Brasil tende a se modificar a cada dia acompanhando a evolução cultural da sociedade brasileira. Por causa dessa dinâmica do léxico, algumas palavras deixam de ser usadas e outras são criadas de acordo com as necessidades dos usuários da língua. A neologia lexical, caracterizada como um processo de criação de novas palavras e reutilização, com novos significados, de palavras já existentes, é responsável pela expansão do léxico de uma língua. Pelo que se observa ainda hoje, em diversos trabalhos, o estudo dos neologismos, assim como o ensino do léxico, de modo geral, relacionado à língua materna, salvo raras exceções, permanece marginalizado na sala de aula. Neste trabalho, portanto, constitui nosso objetivo principal valorizar o ensino do léxico, por meio do estudo da neologia lexical. Para isso, elaboramos uma amostra de atividades que envolvem a criação de novas palavras para o desenvolvimento da competência lexical. Anais do SILEL. Volume 3, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2013.

o tratamento da neologia lexical em textos autênticos

  • Upload
    hahuong

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • O TRATAMENTO DA NEOLOGIA LEXICAL EM TEXTOS AUTNTICOS: UMA AMOSTRA DE ATIVIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DA

    COMPETNCIA LEXICAL

    Priscila de RESENDE Universidade Federal de Minas Gerais

    [email protected] Resumo: Tendo em vista que o lxico, um componente essencial da lngua, est marginalizado em sala de aula, este texto tem como objetivo principal propor atividades que envolvam os processos de criao de novas palavras, os neologimos, na lngua portuguesa. Para isso, descrevemos brevemente como tem sido o ensino de portugus nos ltimos tempos, assim como compreendemos alguns aspectos relativos ao lxico, ao desenvolvimento da competncia lexical e ao tratamento dispensado neologia no mbito escolar. Palavras-chave: Lxico; neologia; ensino-aprendizagem de lngua portuguesa. 1- Introduo

    O ensino de lngua portuguesa passou por muitas mudanas nos ltimos tempos. Da concepo de lngua como sistema, passou-se concepo de lngua como instrumento e, atualmente, deve ser tratada como enunciao. Nesse percurso, muitos problemas, no que tange leitura e escrita dos alunos, foram detectados. Contudo, estamos em tempo de mudanas, as quais devem ser atribudas, especialmente, a alguns instrumentos de orientao pedaggica como os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN), o Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD), o Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), dentre outros.

    Nesse aspecto, ento, devemos compreender que a lngua um sistema composto por dois elementos: a gramtica e o lxico. Entretanto, por muito tempo, o ensino de lngua foi considerado como sinnimo de ensino de gramtica. O lxico, um componente essencial da lngua, ficou (e est) margem do ensino de lngua materna.

    Assim, seguindo a mesma trajetria do que se passa com as lnguas de civilizao em geral, no que diz respeito s variaes e mudanas, o lxico do portugus do Brasil tende a se modificar a cada dia acompanhando a evoluo cultural da sociedade brasileira. Por causa dessa dinmica do lxico, algumas palavras deixam de ser usadas e outras so criadas de acordo com as necessidades dos usurios da lngua.

    A neologia lexical, caracterizada como um processo de criao de novas palavras e reutilizao, com novos significados, de palavras j existentes, responsvel pela expanso do lxico de uma lngua. Pelo que se observa ainda hoje, em diversos trabalhos, o estudo dos neologismos, assim como o ensino do lxico, de modo geral, relacionado lngua materna, salvo raras excees, permanece marginalizado na sala de aula.

    Neste trabalho, portanto, constitui nosso objetivo principal valorizar o ensino do lxico, por meio do estudo da neologia lexical. Para isso, elaboramos uma amostra de atividades que envolvem a criao de novas palavras para o desenvolvimento da competncia lexical.

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

    mailto:[email protected]

  • 2

    2- O ensino de lngua portuguesa atravs dos tempos

    O ensino da lngua portuguesa passou por muitas transformaes no ltimo sculo. De acordo com Soares (1998), at a dcada de 50, do sculo passado, tal ensino era destinado apenas a uma camada privilegiada da sociedade brasileira que, por sua vez, j chegava escola com certo domnio no que diz respeito ao dialeto de prestgio. Ento, o papel da escola era reforar as normas desse dialeto atravs do ensino de gramtica e da leitura de textos literrios, a fim de desenvolver as habilidades de leitura e escrita. At esse momento, ento, a concepo de lngua que predominava era a de lngua como um sistema: o objetivo era conhecer ou reconhecer o sistema lingustico por meio de exerccios gramaticais, buscando, mais tarde, em textos as estruturas lingusticas para anlise gramatical.

    A partir dos anos 60 do sculo XX, como ainda esclarece Soares (1998), com a democratizao do ensino escolar, as camadas populares conquistaram seu direito escolarizao e trouxeram para a sala de aula variedades lingusticas diferentes daquela a que a escola estava acostumada. Nesse contexto, a concepo de lngua passou a ter nova configurao: de sistema, como vista no incio do sculo passado, passa a ser tida como um instrumento de comunicao.

    J em meados dos anos 80, do ltimo sculo, a concepo de lngua como instrumento de comunicao, vigente at ento, tambm se viu abalar por motivos diversos, dentre eles, problemas relacionados leitura e escrita dos alunos que muitos, inclusive professores, acreditavam ser derivados da ineficincia do ensino. Nessa poca, tambm, comearam a borbulhar novas teorias sobre a relao do ensino de lngua com a sociedade. Surge, ento, uma nova concepo de lngua como:

    enunciao, discurso, no apenas como comunicao, que, portanto, inclui as relaes da lngua com aqueles que a utilizam, com o contexto em que utilizada, com as condies sociais e histricas de sua utilizao. (SOARES, 1998, p.59)

    Nesse contexto, importante termos em mente que a lngua se atualiza a servio

    da comunidade, por meio da interao, em situaes de atuao social e atravs de prticas discursivas, materializadas em textos orais e escritos. 3- Em tempos de mudana

    A preocupao com o insucesso escolar dos alunos no foi um fato isolado e esquecido no passado quando a concepo de lngua se baseava na lngua como instrumento de comunicao, conforme j explicitado anteriormente. Ainda hoje persiste um quadro nada animador, que se manifesta de diversas maneiras.

    De acordo com Antunes (2003), entretanto, algumas aes j foram feitas para a melhoria desse quadro. Haja vista a proposta de ensino veiculada pelos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN), os quais privilegiam a dimenso interacional e discursiva da lngua. O Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD), que analisa os livros

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 3

    didticos/dicionrios que sero adotados pela escola pblica, corresponde a outro fator de mudana, uma vez que embasado pelas recentes teorias lingusticas, como Anlise do Discurso, Sociolingustica, Lingustica Textual, Pragmtica, contribui para a produo dos manuais de ensino. Alm disso, outro fator que devemos considerar o Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM) e os vestibulares de algumas universidades que tm trazido a dimenso da textualidade para o dia a dia, tirando o foco da anlise puramente metalingustica at ento vigente. Esses e outros instrumentos de orientao pedaggica trazem uma viso de lngua como interao.

    Nesse mbito, ento, muito se tem discutido sobre o que ensinar e de que forma ensinar, uma vez que, por muito tempo, ensinar lngua foi sinnimo de ensinar gramtica. Acreditamos como Antunes (2003) que o professor deve refletir sobre as regras gramaticais que sejam teis e aplicveis compreenso e aos usos sociais da lngua.

    O conceito de lngua no deve ser confundido com o de gramtica, como se fossem equivalentes. A lngua se realiza por meio de uma atividade interativa, direcionada para a comunicao social, composta por um conjunto de subsistemas que se integram e interrelacionam. Uma lngua, portanto, constituda por dois componentes: a gramtica e o lxico, este que, por vez, constitui o interesse principal de nosso trabalho. 4- O lxico e gramtica no ensino de lngua portuguesa

    Na prtica, nos esquecemos de que uma lngua, alm de uma gramtica, composta tambm por um conjunto de palavras (o lxico) que do base para a construo de nossos enunciados. Quando interagimos verbalmente, o fazemos por meio de textos e usamos as palavras, como unidades de sentido, ou seja, por meio delas que o que expressamos (oralmente ou por escrito) passa a ter sentido. Enfim, as palavras vo se materializando e mediando as intenes do nosso dizer.

    Assim, podemos perceber que o ensino de lngua materna deve contemplar o lxico como um componente da lngua e no apenas a gramtica, uma vez que de acordo com Antunes (2007, p. 43) Na verdade, o conjunto lxico e gramtica , materializado em textos, que permite a atividade significativa de nossas atuaes verbais.

    O lxico de uma lngua, genericamente, o conjunto de palavras, tambm chamadas de lexias, e das regras de formao delas. Ferraz (2008, p. 146) nos confirma isso dizendo que o lxico o conjunto aberto, organizado por regras produtivas, das unidades lexicais que compem a lngua de uma comunidade lingustica.

    perceptvel, portanto, que quando se trata do ensino, o lxico tem ocupado um lugar marginal nas salas de aula, haja vista que os livros didticos do uma nfase maior para atividades que envolvam o campo gramatical da lngua.

    Na maioria dos livros didticos, sobretudo os do ensino fundamental, o estudo do lxico fica reduzido a um captulo em que so abordados os processos de formao de palavras, com a especificao de cada um desses processos, acrescida de exemplos e de exerccios finais de anlises de palavras. O destino que tero as palavras criadas silenciado. O significado que tem a possibilidade de se criar novas palavras pouco importa. Tambm pouco importa a vinculao de tais

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 4

    criaes com as demandas culturais de cada lugar e de cada poca. Importa reconhecer o componente gramatical implicado nesses processos. Tanto assim que a questo da formao de palavras consta no bloco do compndio destinado sistematizao da morfologia. (ANTUNES, 2012, p.21)

    4.1 Ensino do lxico ou de vocabulrio?

    Importa salientar, tambm, que o lxico no deve ser confundido com vocabulrio e tratado com se fossem equivalentes. Correia (2011, p. 227) esclarece:

    O lxico de uma lngua o conjunto virtual de todas as palavras de uma lngua, isto , o conjunto de todas as palavras da lngua, as neolgicas e as que caram em desuso, as atestadas e aquelas que so possveis tendo em conta as regras e os processos de construo de palavras. O lxico inclui ainda os elementos que usamos para construir novas palavras: prefixos, sufixos, radicais simples ou complexos. Por seu turno, o vocabulrio um conjunto factual, entre muitos possveis, de todos os vocbulos atestados num determinado registro lingstico, isto , um conjunto fechado de todas as palavras que ocorreram de facto nesse registro.

    4.2 O lxico e o desenvolvimento da competncia lexical

    O objetivo principal de estudar o lxico em sala deve ser o de levar o aluno a compreender como se formam as palavras, seus significados, usos, entrada na lngua. Isso significa desenvolver a competncia lexical. Sobre isso Sandmann (1991, p. 23) explicita seu conceito de competncia lexical, dizendo que:

    a competncia lexical do usurio de uma lngua se compe de dois momentos: o da anlise e interpretao das unidades estabelecidas no lxico, isto , j formadas, e o da formao ou entendimento de novas palavras de acordo com modelos ou regras que a gramtica da lngua pe disposio.

    De acordo com Ferraz (2008), devemos compreender alguns pressupostos

    relativos competncia lexical do falante e dentre eles destacamos os seguintes: a capacidade de expanso do repertrio lexical do falante ao longo da vida; o reconhecimento de associao de uma unidade com outras e quais as limitaes lhe so impostas; conhecimento das possibilidades de derivao ou composio das palavras; a relao de uma unidade lxica com outras; conhecimento do valor semntico de uma palavra assim como as restries no seu uso. 5- A viso dos Parmetros Curriculares Nacionais e do Contedo Bsico Comum, de Minas Gerais, sobre o ensino do lxico 5.1 Os Parmetros Curriculares Nacionais

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 5

    De acordo com os PCN, o lxico deve constar nas prticas de anlise lingustica de modo a permitir que o aluno faa a escolha de palavras mais apropriadas para o que se quer dizer, modalidade (falada ou escrita) e ao nvel de formalidade e finalidade social. Alm disso, o lxico ainda deve ser trabalhado em sala de aula com o intuito de projetar, a partir do elemento lexical, a estrutura complexa associada a seu sentido.

    Os PCN destacam que trabalhar com o lxico no deve se reduzir apenas a dar sinnimos ou antnimos de uma palavra, por meio de uma lista de palavras isoladas, fora de um contexto.

    O trabalho com o lxico no se reduz a apresentar sinnimos de um conjunto de palavras desconhecidas pelo aluno. Isolando a palavra e associando-a a outra apresentada como idntica, acaba-se por tratar a palavra como portadora de significado absoluto, e no como ndice para a construo do sentido, j que as propriedades semnticas das palavras projetam restries selecionais. (BRASIL, 1998, p. 83)

    Nesse contexto, ento, torna-se importante criar situaes para que o aluno aprenda novas palavras e saiba us-las adequadamente. salutar que o aluno aprenda novas palavras, mas o ensino do lxico no deve centrar apenas no estudo de palavras difceis e desconhecidas pelos alunos. Deve ser levado em conta que uma palavra composta por unidades menores (radicais, afixos, desinncias) que concorrem para a constituio do sentido. importante salientar tambm que, se isolarmos uma palavra, dificilmente podemos dizer o que ela significa, uma vez que seu sentido decorre da articulao com outras e, por vezes, na relao com o exterior lingustico, em funo do contexto situacional. 5.2 O Contedo Bsico Comum

    Escolhemos citar, a ttulo de exemplo, o que a proposta curricular para o ensino de portugus, do estado de Minas Gerais, intitulada Contedo Bsico Comum (doravante CBC), destinada ao ensino fundamental II, diz a respeito do ensino do lxico. Assim como os PCN, o CBC traz uma reflexo sobre o que deve ser ensinado em se tratando de lngua materna. A proposta curricular em questo refora que o estudo de palavras e frases isoladas, baseado na gramtica tradicional, como foi feito durante muito tempo, no eficiente quando se trata do desenvolvimento da capacidade comunicativa do usurio de uma lngua.

    O CBC, assim como os PCN, trata o lxico como um contedo bsico a ser estudado em sala de aula. Os dois documentos primam pelo ensino da seleo lexical (combinar palavras e sintagmas do texto em tpicos de informao), uma vez que ela contribui para a compreenso do tema de um texto, ou seja, do seu assunto ou tpico discursivo, conforme est explicitado nos tpicos de contedo e habilidades do CBC a seguir:

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 6

    Figura 1 Tpicos e subtpicos de contedo CBC

    Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAO DE MINAS GERAIS, 2007, p. 37.

    O lxico apresentado nesses documentos como um contedo necessrio para

    construir e aprimorar os conhecimentos lingusticos dos alunos que, como falantes do portugus, j vo para a escola com conhecimentos suficientes para uma comunicao bsica. Cabe escola, ento, estimular no aluno o que ele ainda no domina, como por exemplo, selecionar adequadamente as palavras a serem usadas de acordo com a situao comunicativa a que se expuserem.

    6- Neologia e neologimos

    Por que formamos novas palavras? Essa uma questo pertinente para este trabalho e que deve ser inserida na sala de aula. Para respond-la, mesmo que parea bvio, devemos ter em mente que nos comunicamos atravs de palavras, ento, se criamos novas para atingir nossos objetivos comunicativos. Baslio (1987, p. 4) esclarece que:

    Quase sempre fazemos uso automtico das palavras, sem parar muito para pensar nelas. E no nos damos conta de que muitas vezes estas unidades com que formamos enunciados no estavam disponveis para uso e foram formadas por ns mesmos, exatamente na hora em que a necessidade apareceu.

    A lngua um sistema em constante expanso e renovao, especialmente considerando-se o seu lxico. De um modo geral, ela tende a se modificar a cada dia, acompanhando a evoluo cultural da comunidade lingustica. Assim, novas palavras surgem e outras deixam de ser usadas. Ento, Ao processo de criao de novas palavras, d-se o nome de neologia. O elemento resultante, a nova palavra, denominado neologismo. (ALVES, 1990, p. 5)

    Guilbert (1975) apud Ferraz (2006) define neologia como os fenmenos lingusticos que surgem em determinados momentos numa dada lngua. Esses fenmenos podem ser de ordem fontica, morfolgica, sinttica, semntica ou lexical. Interessa-nos, neste trabalho, especialmente, a neologia lexical, uma vez que trataremos

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 7

    da formao de novas palavras no portugus do Brasil. Assim designaremos os processos de criao de novas palavras incorporadas ao lxico de uma lngua apenas como neologia.

    A expanso do lxico de uma lngua, ento, pode acontecer por meio de processos oriundos da prpria lngua ou por itens provenientes de outros sistemas lingusticos. A inovao lexical pode ocorrer por meio de trs mecanismos lingusticos:

    a) Neologia formal: as palavras criadas so provenientes de processos prprios da lngua, a partir da combinao de morfemas, sejam estes bases ou afixos. b) Neologia semntica: reutilizao de unidades lxicas j existentes com novos significados. c) Neologia por emprstimo: importao de unidades lxicas de outros sistemas lingusticos, que podem ser adaptadas, ou no necessariamente, nova lngua.

    De acordo com Alves (1990), os meios de comunicao de massa e as obras literrias so importantes para reconhecimento das palavras criadas pelos membros de uma comunidade. A partir do reconhecimento, os neologismos passam a ser difundidos, usados e, muitos, chegam a ser dicionarizados.

    A neologia, ento, apresenta trs fases, de acordo com Ferraz (2008): a primeira quando o neologismo criado, depois ele passa pela recepo e aceitao pela comunidade lingustica, posteriormente, ocorre a desneologizao e nessa fase que o novo termo entra para o dicionrio. 7- Breve descrio dos processos de formao de palavras

    As palavras na lngua portuguesa podem ser criadas pelos seguintes processos: derivao, composio, formao sintagmtica, siglas, acrnimos, converso, truncamento, cruzamento vocabular, reduplicao, derivao regressiva e hibridismo.

    A derivao se divide em dois processos: a prefixao (acrscimo de um prefixo a uma base) e a sufixao (acrscimo de um sufixo a uma base). J a composio consiste na juno de bases autnomas, ou no, e se dividem em: composio por subordinao (o sentido no pode ser depreendido pela soma das partes, por exemplo, cita-se poltico-gal) e coordenao (o sentido pode ser depreendido pela soma do significado de cada base, como por exemplo, cita-se scio-torcedor). Alves (1990) esclarece que a composio por meio de bases no-autnomas ocorre, geralmente, por meio de bases dependentes com origem erudita (grega ou latina) e compe itens de vocabulrios especializados, como por exemplo, cita-se o termo: onicomicose (em que onico-, em grego, significa unha).

    J a formao sintagmtica pode ser compreendida como um sequncia lexical, com certo grau de fixidez, que se constitui como uma unidade lexical. Tem como caracterstica e diferena entre a composio a posio dos itens que sempre determinado seguido de determinante. Outra diferena se trata de sua insero nos dicionrios: enquanto o item resultante de uma composio tem entrada prpria, a formao sintagmtica aparece como uma subentrada, por estar ainda em via de lexicalizao. Um exemplo de formao sintagmtica vidro eltrico. (FERRAZ, 2008).

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 8

    A siglagem e a acronmia tm processo semelhante. So formaes que acontecem a partir da juno das letras ou slabas iniciais, respectivamente, de um conjunto sintagmtico, que por si s constituem uma denominao. As siglas so o resultado da juno das letras iniciais, enquanto que o acrnimo formado pela juno das slabas iniciais do conjunto sintagmtico e se pronncia de acordo com a estrutura silbica da lngua em causa. Assim temos que CPF (Cadastro Pessoa Fsica) uma sigla e ABRALIN (Associao Brasileira de Lingustica) um acrnimo.

    A converso o processo pelo qual uma palavra muda sua classe gramatical, conhecido tambm como derivao imprpria. Esse o caso de genrico, que pode funcionar como um adjetivo, mas quando se trata de um medicamento que no ostenta marca comercial, torna-se um substantivo.

    O truncamento ocorre quando uma parte da sequncia lexical, em geral a final, eliminada. Um exemplo seria Euro, forma reduzida de Europeu. (Cf. ALVES, 1990) Outro processo de formao de palavras o que se denomina palavra-valise, tambm conhecido como cruzamento vocabular ou lexical. Esse processo ocorre quando duas bases se juntam e perdem parte de seus elementos para formarem uma nova palavra. Esse o caso de brasiguaio (brasileiro e paraguaio). A reduplicao um processo pelo qual h a repetio de uma mesma base, formando uma nova unidade lexical, como por exemplo, troca-troca. J a derivao regressiva o processo que consiste na criao de uma nova unidade lxica por meio da supresso de um elemento, considerado de carter sufixal. o caso de amasso, que um substantivo e teve origem no verbo amassar. Por fim, tem-se o hibridismo. Por esse processo h a juno de elementos lexicais de lnguas diferentes. Como exemplo desse tipo de processo, tem-se, de acordo com Ferraz (2012), as formaes: televiso, automvel, samba-rock, entre outras.

    8- Critrios de identificao de um neologismo De acordo Alves (1990, p. 84-85):

    No basta a criao de um neologismo para que ele se torne membro integrante do acervo lexical de uma lngua. na verdade, a comunidade lingustica, pelo uso do elemento neolgico ou pela sua no-difuso, que decide sobre a integrao dessa nova formao no idioma. (...) Se bastante frequente, o neologismo inserido em obras lexicogrficas e considerado parte integrante do sistema lingustico. Sabemos, entretanto, que os lexicgrafos agem muitas vezes arbitrariamente, ou seja, unidades lxicas muito usadas so esquecidas e outras, pouco difundidas, chegam a fazer parte dos dicionrios. (...) No entanto, apesar das arbitrariedades manifestadas pelos dicionrios, eles simbolizam o parmetro, o meio pelo qual decidimos se um item lxico pertence ou no ao acervo lexical de uma lngua.

    Pelo trecho exposto acima, possvel perceber um dos critrios de identificao

    de um neologismo: o critrio lexicogrfico. Por ele, ser neolgica a criao que ainda no estiver dicionarizada. Para isso, consultado um corpus de excluso composto por dicionrios gerais e representativos de uma lngua. Temos a noo de que esse critrio prescinde de maior preciso, pelo fato de os dicionrios no se atualizarem constantemente e, alm disso, no abarcam todas as palavras de uma lngua. Entretanto,

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 9

    como j citado por Alves (1990) e confirmado por Ferraz (2008), o critrio lexicogrfico, por ser o menos subjetivo, o mais usual entre os estudiosos da neologia.

    Alm desse critrio, outros podem ser usados para a identificao de um neologismo, como por exemplo, o sentimento de novidade e a instabilidade formal das unidades. O sentimento de novidade a caracterstica principal dos critrios diacrnico e psicolgico. O primeiro se baseia na comprovao da data de surgimento de uma unidade lxica num dicionrio ou num corpus textual. J o critrio psicolgico considera neolgica uma palavra que percebida pelos falantes como nova. A instabilidade formal pode ser observada pelas variaes fonticas, fonolgicas ou grficas que uma palavra possa apresentar. (FERRAZ, 2010)

    9- Neologia e ensino 9.1 A viso dos Parmetros Curriculares Nacionais

    Na seo destinada ao lxico, os Parmetros Curriculares Nacionais do sugestes que podem orientar o trabalho do professor para que o aluno possa ampliar seu repertrio lexical e, dessa forma, contribuir com a produo textual. Nessa seo, entretanto, no se faz nenhuma meno explcita ao trabalho com os neologismos.

    A neologia citada apenas uma vez ao longo do documento, tratada apenas na seo de Prtica de Anlise Lingustica e da seguinte forma:

    Ampliao do repertrio lexical pelo ensino-aprendizagem de novas palavras, de modo a permitir: (...) o emprego adequado de palavras limitadas a certas condies histrico-sociais (regionalismos, estrangeirismos, arcasmos, neologismos, jarges, gria); (BRASIL, 1998, p. 62-63, grifo nosso.)

    Dizer que os neologismos so palavras limitadas a certas condies constitui um equvoco, uma vez que desconsidera uma das razes, j citadas, para a criao de novas palavras, que a de nomear as realidades novas (objetos, conceitos...).

    Assim, conforme j demonstrado por Maroneze e Bazarim (2008), os PCN desconsideram que os neologismos podem ter um papel importante na potencializao das estratgias de leitura, pois as mesmas estratgias que os alunos usam para construir o significado de um neologismo algumas vezes nem percebido pelos alunos como tal podem ser utilizadas na compreenso de uma unidade lexical que apesar de no ser considerada neologismo pelos critrios aqui adotados oferea dificuldade para os alunos. Alm da sua importncia no processo de leitura, como vocabulrio passivo, os neologismos tambm podem enriquecer o vocabulrio ativo, se incorporados s produes textuais dos alunos. 9.2 A viso do Contedo Bsico Comum, do estado Minas Gerais

    Diferentemente dos PCN, o Contedo Bsico Comum, destinado ao ensino fundamental II, do estado de Minas Gerais, explora a neologia como um contedo a ser trabalhado em sala de aula.

    No eixo temtico do documento destinado produo e compreenso de texto, a neologia tratada como um recurso lexical e semntico de expresso ao lado da

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 10

    sinonmia, antonmia, hiperonmia, hiponmia, e tambm das figuras de linguagem como a comparao, a metfora, a metonmia. Esses recursos tm como propsito a produo de sentido na compreenso e produo de textos. (SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAO DE MINAS GERAIS, 2007, p. 37)

    Alm desse trecho que trata da neologia na produo de sentidos, ao lado de outros itens lxicos, h ainda outro trecho do Contedo Bsico Comum, que diz respeito ao eixo temtico lngua e linguagem e que trata a neologia como um fenmeno inerente lngua.

    Figura 2 - Lista de tpicos de contedo e habilidades Neologia (CBC MG)

    Fonte: SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAO DE MINAS GERAIS, 2007, p. 56

    O trecho acima, entretanto, apresenta um equvoco em relao aos conceitos

    usados. Ele denomina a neologia formal como lexical. J explicitamos neste trabalho que a neologia lexical compreende trs processos: a formal, a semntica e neologia por emprstimo. Ento no lugar do termo lexical, em neologia lexical, deveria constar neologia formal.

    Mesmo com essa lacuna, o documento constitui uma importante orientao para o ensino da neologia. Alm de apresentar e caracterizar os processos neolgicos para ampliao do lxico, o trecho citado ainda explicita quais as habilidades devem ser exploradas em sala de aula no que diz respeito ao estudo da criao de novas palavras, como, por exemplo, identificar o processo de formao de neologismos em circulao no portugus brasileiro. 10- Amostra de atividades para o desenvolvimento da competncia lexical

    Alm de ampliar a competncia lxica do aluno, as atividades seguintes tm como propsito tratar os itens lexicais como construtores do sentido de um texto. Para isso, selecionamos alguns textos autnticos, que no sofreram adaptao para fins didticos, a fim de contextualizar os neologismos encontrados.

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 11

    Para confirmar se as palavras so neolgicas, usamos o critrio lexicogrfico. As unidades lexicais selecionadas foram consideradas neolgicas porque no constaram em nenhuma das obras lexicogrficas que compem nosso corpus de excluso:

    a) Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa (2010), 5 ed. (verso eletrnica); b) Dicionrio Eletrnico Houaiss da Lngua Portuguesa (2009), (verso eletrnica); c) Dicionrio Caldas Aulete (2013), verso on-line.

    Alm de explorar o contedo lexical e seu significado, trabalhamos algumas questes de interpretao do texto, as quais podem facilitar a compreenso do processo de formao das novas palavras e o sentido que imprimem na armao dos textos.

    Por se tratar de uma amostra de atividades e devido extenso deste trabalho no nosso objetivo esgotar todos os processos de formao de palavras. Esta amostra funciona como uma orientao para que o professor possa trabalhar com o lxico em sala de aula, em especial no que tange aos processos de formao/criao de palavras novas.

    As atividades so voltadas para alunos do ensino fundamental II, do 6. ao 9. anos. Optamos por no especificar em que etapa deve ser trabalhada cada atividade. Caber ao professor escolher a atividade de acordo com os conhecimentos dos alunos.

    Proposta 1

    Objetivo geral: compreender o sentido do elemento de composio logo. Objetivos especficos: depreender o sentido de uma palavra pelo contexto; inferir o sentido de palavras que apresentam o mesmo elemento de formao. Leia o texto a seguir:

    Figura 3- Tirinha da Mafalda - Invejlogo

    Fonte: http://www.fotolog.com.br/mafalda_tiras/41265862/, acesso em 15 out. 2013

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

    http://www.fotolog.com.br/mafalda_tiras/41265862/

  • 12

    Agora faa o que se pede a seguir: 1- Responda: por que as pessoas tero inveja de Susanita? Porque, para ela, seu filho ser mdico. 2- De acordo com o ltimo quadrinho qual seria, para Susanita, a especialidade mdica de seu filho? Por qu? Invejlogo. Porque quando as pessoas soubessem que o filho dela mdico, ficariam doentes de inveja. 3- A palavra invejlogo formada da seguinte maneira: inveja + -logo. De acordo com a tira podemos inferir seu significado. Qual ? Aquele que trata da inveja. 4- Invejlogo uma palavra criada por Susanita e por isso se constitui um neologismo, que significa palavra nova. Para criar novas palavras, os neologismos, podemos aproveitar palavras ou partes de palavras j existentes. Observe as palavras: psiclogo, fonoaudilogo, bilogo, astrlogo. Qual a parte que elas tm em comum com a palavra invejlogo? Logo. 5- Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira e descubra o significado de cada uma das palavras do exerccio anterior. (1) Astro ( 3 ) Alma (2) Fonoaudio ( 2 ) Fala/audio (3) Psico ( 4 ) Vida (4) Bio ( 1 ) Astros 6- A partir do conhecimento do significado das palavras dadas anteriormente, podemos concluir que o elemento de composio logo significa: ( x ) estudo ( ) ensino ( ) do povo ( ) da sade

    Proposta 2 Objetivo geral: compreender o valor de um prefixo na formao de novas palavras. Objetivos especficos: compreender o significado dos prefixos des- e en- (m); estimular o uso do dicionrio. Leia o texto a seguir:

    Desenrock-se (Tom Z)

    Eu j sei que essa panormica a 2 Lei da Termodinmica

    Para desintoxicar de tanto rock nem Nem um choque, nem um choque Para desintoxicar de tanto rock s

    S um xote chameg

    Eu digo desenrock-se Meu nego desenrock-se

    Desintoxique-se desse apocalipse Para evitar complicao com a intoxicao

    E o buraco das meninas no aparecer com cera Paraguai e Argentina querem fechar a fronteira.

    Fonte: www.vagalume.com.br/tom-ze/desenrock-se.html, acesso em 15 out. 2013

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 13

    Responda as questes a seguir: 1- A letra de msica fala de dois estilos musicais: quais? Rock e Xote. 2- Qual a dica que o eu-lrico d para desintoxicar de tanto rock? Danar (chameg) um Xote, ou seja, observar outros estilos musicais. 3- Observe o ttulo da letra de msica: Desenrock-se. A criao dessa palavra ocorreu pelo processo de prefixao, ou seja, acrescenta-se um prefixo (afixo que vem antes de uma base) a uma base. Nesta palavra, porm, h dois prefixos: des- e en (m)-. Procure em um dicionrio o significado desses prefixos e escolha o significado adequado palavra densenrock. Em seguida d o significado dela. Des- negao En(m)- transformao Desenrock: negar a transformao causada pelo rock. 4- H no texto outra palavra formada pelo prefixo des-: desintoxicar. Essa palavra formada da seguinte maneira: DES- + IN- + TOXICO- + -AR DES- = negao IN- = movimento para dentro, transformao; TOXIC(O) = veneno, substncia nociva ao organismo; -AR= terminao do infinitivo dos verbos de 1. conjugao. Conhecendo o significado dos elementos acima, explique o que desintoxicar. Desintoxicar tirar a intoxicao (efeito da ingesto de substncia nociva, ou de veneno, ao organismo). 5- A partir do significado de desenrock e de outras palavras como desintoxicar, infira: o rock para o eu-lrico algo positivo ou no? Comprove sua reposta com versos da letra de msica. O eu-lrico no v o rock como algo positivo. Isso pode ser depreendido pelos versos: Para desintoxicar de tanto rock nem / Nem um choque, nem um choque / Para desintoxicar de tanto rock s / S um xote chameg.

    Proposta 3 Objetivo geral: compreender a neologia semntica. Objetivos especficos: compreender o sentido que determinadas palavras imprimem ao texto

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 14

    Leia o texto a seguir: Havana-me

    Joyce

    Havana-me

    No esqueo teu povo em momento algum Cubana-me

    Me convida a danar, quebra o meu jejum Serena-me

    Me lambuza de cana, tabaco e rum, havana-me

    Havana-me Bota uma cubalibre, limo e sal

    Cubana-me Me carrega em teu ritmo sensual

    Irmana-me Nossa msica tem sangue tropical, havana-me

    Tira-me pra bailar,

    Quero ouvir teu som caribenho Por ti, mestio, eu tenho amor

    Me pega pelo quadril Teu par ainda o Brasil, havana-me

    Fonte: http://letras.mus.br/joyce/590876, acesso em 16 out. 2013. Agora, faa o que se pede: 1- O texto faz referncia a um pas e sua capital. Quais? Cuba e Havana. 2- A referncia a esses lugares positiva ou negativa? Comprove sua resposta com um verso da msica. Positiva. No esqueo teu povo em momento algum. 3- Havana um substantivo, porque d nome a uma cidade. No texto apresenta outro sentido pela mudana da classe gramatical. A que classe gramatical pertence a palavra Havana como aparece no texto. No texto, a palavra Havana tornou-se um verbo. 4- A neologia semntica caracterizada pela criao de novas palavras imprimindo significados novos a palavras j existentes. Esse processo que ocorre com Havana. No texto ainda h outra palavra que passou pelo mesmo processo. Identifique-a. A qual classe gramatical ela pertence no texto? Cubana.

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

    http://letras.mus.br/joyce/

  • 15

    Proposta 4 Objetivo geral: compreender o sentido e a origem dos prefixos super- e hiper-. Objetivos especficos: localizar informaes explcitas no texto; compreender os implcitos a partir da intertextualidade; inferir a regra de uso do hfen na formao de palavras; formar novas palavras usando o prefixo super. Observe o texto a seguir:

    Figura 4 Propaganda da Hortifruti Superpoderes

    Fonte: http://www.hortifruti.com.br/campanhas/hollywood.html, acesso 15 out. 2013. Agora, responda: 1- Qual a finalidade do anncio? Mostrar a qualidade dos produtos da Hortifruti. 2- Explique a intertextualidade que h no anncio? A expresso A incrvel rcula retoma o ttulo do filme: O incrvel Hulk. A retomada percebida pela semelhana sonora e tambm pela associao da cor verde da hortalia e do personagem principal do filme. 3- Na frase NA HORTIFRUTI ELA GANHOU SUPERPODERES, observe a formao da palavra superpoderes: SUPER + PODERES. Ela formada pelo mesmo processo de supermercado, super-heri, super-homem, super-humano. a) Tente prever qual o significado do prefixo super-. Muito, excesso de. b) Em superpoderes e supermercado no h o uso do hfen, mas em super-heri, super-humano, super-homem as palavras so separadas por hfen. Explique por que isso acontece? Porque o segundo elemento se inicia por h. 4- Acrescente o prefixo super- s palavras seguintes e crie novas. Atente para o uso do hfen, quando necesrio. a) Fone superfone b) Celular supercelular c) Livro superlivro d) Aluno superaluno e) Histria super-histria 5- Conhecendo o significado do prefixo super-, para que serve acrescent-lo s palavras? Para intensificar o sentido delas.

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

    http://www.hortifruti.com.br/campanhas/hollywood.html

  • 16

    6- Procure em um dicionrio o significado do prefixo hiper-. Conclua: qual a principal diferena entre ele e o prefixo super-? A origem. Super- de origem latina e hiper-, de origem grega. 7- Quanto ao sentido, haveria diferena entre superpoder e hiperpoder? Explique. No. Porque o que os diferencia apenas a origem.

    Proposta 5 Objetivo geral: trabalhar a neologia por emprstimo. Objetivos especficos: reconhecer um gnero textual, por suas caractersticas; compreender o jogo de sentido pelo uso de palavras com sonoridade semelhante; compreender o sentido de uma formao sintagmtica; comparar o efeito produzido por uma expresso estrangeira e uma expresso da lngua materna. Leia o texto a seguir:

    Figura 5 Propaganda da Hortifruti Fast Good

    Fonte: www.hortifruti.com.br/campanhas/mundo-dos-sabores.html, acesso 15 out. 2013 Agora, responda: 1- O texto acima pertence a qual gnero? Anncio publicitrio. 2- A expresso Fast Good um trocadilho com Fast Food. O que siginifica Fast

    Food? Comida rpida. 3- Explique a troca de Food por Good. Ambas as palavras tm uma sonoridade semelhante. Good significa bom e, implicitamente, se refere ao bem que a ingesto de verduras faz para sade. 4- O uso da expresso estrangeira dificultou a compreenso do texto? Resposta provvel: no. 5- H expresses usadas na lngua portuguesa que formam uma unidade lexical, ou seja, duas ou mais palavras que se juntam e apresentam uma unidade de sentido. Pensando nisso, responda: a) Pensando no contexto em que aparece a expresso Fast Good, ela pode constituir uma unidade lexical? Explique. Se necessrio consulte um dicionrio bilngue (ingls-portugus).

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

    http://Fonte:%20www.hortifruti.com.br/campanhas/mundo-dos-sabores.html

  • 17

    Resposta esperada sim. Em oposio ao Fast Food, teramos a ideia daquilo que rpido e bom (saudvel). b) Em outros textos, se em vez do uso da expresso Fast Food, usssemos Comida rpida teria o mesmo efeito de sentido? A traduo de Fast Food (comida rpida) no tem o mesmo efeito de sentido. 6- Fast Good uma expresso estrangeira. Muitas palavras e expresses usadas no Brasil tm origem estrangeira. Algumas, com o tempo, so aportuguesadas (sofrem alteraes na grafia). Esse o caso de futebol, bife, toalete, xampu, entre outras. Outras palavras so escritas em sua forma original como jeans, shopping, notebook, entre outras (sofrendo variaes na fontica). Muitas palavras estrangeiras chegam a ser dicionarizadas em sua forma original, outras no. Certas palavras, ou unidades lexicais usadas na atualidade ainda no esto dicionarizadas e por isso constituem-se neologismos (palavras novas). Recorte de revistas ou jornais 10 palavras estrangeiras. Procure-as num dicionrio de portugus e complete o quadro a seguir o que encontrou. Se as palavras no estiverem no dicionrio, tentem descobrir o significado delas de acordo com o contexto. Troque suas respostas com os colegas.

    Palavra encontrada

    Est no

    dicionrio

    Significado

    A traduo para o portugus apresenta o mesmo efeito de sentido no texto em que

    aparece Respostas pessoais. 11- Consideraes finais

    O trabalho com o lxico de suma importncia, uma vez que quanto mais conhecimentos lexicais o aluno possuir mais facilidade ter para ler, compreender e produzir textos.

    Este texto, portanto, teve como finalidade principal estimular o ensino do lxico em especial no que tange ao processo de formao e criao de novas palavras. Para isso propusemos algumas atividades que tratam da criao de novas palavras.

    Acreditamos que o caminho para contribuir tanto terica, quanto metodologicamente para o ensino do lxico na escola fundamental deve-se passar tambm atravs de uma viso mais ampla de professores, estudiosos e pesquisadores do lxico.

    Esperamos que propostas como a apresentada aqui possam chegar sala de aula, podendo ser adaptada, ou no necessariamente, realidade dos alunos.

    12- Referncias bibliogrficas ALVES, Ieda Maria. Neologismo. Criao lexical. So Paulo: tica, 1990. ANTUNES, Irand. Aula de portugus encontro & interao. So Paulo: Parbola Editorial, 2003.

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

  • 18

    ANTUNES, Irand. O territrio das palavras: estudo do lxico na sala de aula. So Paulo: Parbola Editorial, 2012. AULETE, Caldas. Aulete Digital dicionrio contemporneo da lngua portuguesa. Dicionrio Caldas Aulete, verso on line, 2013. AURLIO, Buarque de Holanda Ferreira. Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, verso eletrnica, 2010. BASLIO, Margarida. Teoria lexical. So Paulo: tica, 1987. BRASIL. Ministrio da Educao e do Desporto. Parmetros Curriculares Nacionais: 3. e 4. Ciclos do ensino fundamental Lngua Portuguesa. Braslia: MEC/SEF, 1998. CORREIA, Margarita. Produtividade lexical e ensino da lngua. In: VALENTE, A. & PEREIRA, Maria Teresa (orgs.). Lngua Portuguesa: descrio e ensino, So Paulo, Parbola Editorial, 2011, p. 223-237. FERRAZ, Aderlande Pereira. A inovao lexical e a dimenso social da lngua. In: Maria Cndida T. C. de Seabra. (Org.). O lxico em estudo. Belo Horizonte: UFMG, 2006. p. 217-234. FERRAZ, Aderlande Pereira. Os neologismos no desenvolvimento da competncia lexical. In: HENRIQUES, Claudio Cezar; SIMES, Darcilia. Lngua portuguesa, educao e mudana. Rio de Janeiro: Europa, 2008, p. 146-162. FERRAZ, Aderlande Pereira. Publicidade: a linguagem da inovao lexical. In: ALVES, Ieda Maria (Org.). Neologia e neologismos em diferentes perspectivas. So Paulo: Paulistana, 2010. FERRAZ, Aderlande Pereira. Produtividade lexical no portugus brasileiro: o que pode nos informar um observatrio de neologismos. In: PERNAMBUCO, Juscelino. FIGUEIREDO, Maria Flvia. CMARA, Nai Sadi. Textos e Contextos. Franca: UNIFRAN, 2012, p. 13-37. HOUAISS, Antnio. Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, verso eletrnica, 2009. MARONEZE, Bruno Oliveira. BAZARIM, Milene. Uma proposta para o ensino de neologia no Ensino Mdio. 2008. Disponvel em: http://dlcv.fflch.usp.br/sites/dlcv.fflch.usp.br/files/03_14.pdf, acesso em 29/09/2013. SANDMANN, Antnio Jos. Competncia lexical. So Paulo: Editora da UFPR, 1991. SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAO DE MINAS GERAIS. Contedo Bsico Comum Portugus. Educao Bsica - Ensino Fundamental (6. ao 9. anos), 2007. SOARES, Magda. Concepes de linguagem e ensino da Lngua Portuguesa. In: BASTOS, Neusa Barbosa (org). Lngua Portuguesa: Histria, Perspectivas, Ensino. So Paulo: EDUC, 1998, p. 53-60. Sites: http://www.fotolog.com.br/mafalda_tiras/41265862/, acesso em 15 out. 2013 www.vagalume.com.br/tom-ze/desenrock-se.html, acesso em 15 out. 2013 http://letras.mus.br/joyce/590876, acesso em 16 out. 2013 http://www.hortifruti.com.br/campanhas/hollywood.html, acesso 15 out. 2013 www.hortifruti.com.br/campanhas/mundo-dos-sabores.html, acesso 15 out. 2013

    Anais do SILEL. Volume 3, Nmero 1. Uberlndia: EDUFU, 2013.

    http://dlcv.fflch.usp.br/sites/dlcv.fflch.usp.br/files/03_14.pdfhttp://www.fotolog.com.br/mafalda_tiras/41265862/http://www.hortifruti.com.br/campanhas/hollywood.htmlhttp://www.hortifruti.com.br/campanhas/mundo-dos-sabores.html

    Leia o texto a seguir:Figura 3- Tirinha da Mafalda - InvejlogoFonte: 15Thttp://www.fotolog.com.br/mafalda_tiras/41265862/15T, acesso em 15 out. 2013Agora faa o que se pede a seguir:Responda: por que as pessoas tero inveja de Susanita?Porque, para ela, seu filho ser mdico.De acordo com o ltimo quadrinho qual seria, para Susanita, a especialidade mdica de seu filho? Por qu?Invejlogo. Porque quando as pessoas soubessem que o filho dela mdico, ficariam doentes de inveja.A palavra invejlogo formada da seguinte maneira: inveja + -logo. De acordo com a tira podemos inferir seu significado. Qual ?Aquele que trata da inveja.Invejlogo uma palavra criada por Susanita e por isso se constitui um neologismo, que significa palavra nova. Para criar novas palavras, os neologismos, podemos aproveitar palavras ou partes de palavras j existentes. Observe as palavras: psiclogo,...Logo.Relacione a segunda coluna de acordo com a primeira e descubra o significado de cada uma das palavras do exerccio anterior.Astro ( 3 ) AlmaFonoaudio ( 2 ) Fala/audioPsico ( 4 ) VidaBio ( 1 ) AstrosA partir do conhecimento do significado das palavras dadas anteriormente, podemos concluir que o elemento de composio logo significa:( x ) estudo ( ) ensino ( ) do povo ( ) da sadeProposta 2Objetivo geral: compreender o valor de um prefixo na formao de novas palavras.Objetivos especficos: compreender o significado dos prefixos des- e en- (m);estimular o uso do dicionrio.Leia o texto a seguir:UDesenrock-seLeia o texto a seguir:Havana-meJoyce

    15Thttp://www.fotolog.com.br/mafalda_tiras/41265862/15T, acesso em 15 out. 2013http://letras.mus.br/joyce/590876, acesso em 16 out. 2013