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O Um Anel - Crônicas Da Terceira Era - Taverna Do Elfo e Do Arcanios

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RPG- Baseado no Hobbit

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Crônicas da Terceira Era

Diogo Nogueira

pontosdeexperiencia.blogspot.com.br

Essas história foram criada em uma mesa de The

One Ring - Adventures over the Edge of the Wild.

Cada sessão corresponde a uma parte da

história, que se cria e modifica conforme todos os

envolvidos decidem o que seus personagens

fazem e como eles reagem.

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Índice Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte I ......................................................................................................................... 5

Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte II ........................................................................................................................ 7

Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte III ..................................................................................................................... 10

Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte IV ..................................................................................................................... 14

Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte V ...................................................................................................................... 20

Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte I ....................................................................................................................... 26

Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte II ...................................................................................................................... 31

Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte III ..................................................................................................................... 35

Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte IV ..................................................................................................................... 39

Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte V ...................................................................................................................... 44

Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte VI ..................................................................................................................... 49

Crônicas da Terceira Era: Linhagens - Parte I .................................................................................................................................. 55

Crônicas da Terceira Era: Linhagens - Parte II ................................................................................................................................. 59

Crônicas da Terceira Era: Linhagens - Parte III ................................................................................................................................ 64

Crônicas da Terceira Era: Anoitecer - Parte I .................................................................................................................................. 68

Crônicas da Terceira Era: Anoitecer - Parte II ................................................................................................................................. 71

Crônicas da Terceira Era: Anoitecer - Parte III ................................................................................................................................ 75

Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte I ....................................................................................................................... 80

Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte II ...................................................................................................................... 83

Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte III ..................................................................................................................... 86

Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte IV ..................................................................................................................... 89

Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte V ...................................................................................................................... 93

Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte VI ..................................................................................................................... 97

Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte VII ................................................................................................................. 104

Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte I...................................................................................................................... 109

Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte II..................................................................................................................... 112

Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte III.................................................................................................................... 116

Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte IV ................................................................................................................... 119

Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte V .................................................................................................................... 124

Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte VI ................................................................................................................... 129

Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte I ................................................................................................................................ 134

Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte II ............................................................................................................................... 138

Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte III .............................................................................................................................. 141

Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte IV .............................................................................................................................. 145

Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte V ............................................................................................................................... 148

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Crônicas da Terceira Era

A Pedra de Fogo

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Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte I Nossa história começa cinco anos depois da morte de Smaug, o Dragão da Montanha Solitária

e da libertação da Floresta de Mirkwood do Necromante de Dol Guldur. Os povos livres do

norte voltaram a desfrutar de paz e prosperidade após cerca de mil anos. Homens, Elfos e

Anões, que viveram isolados durante centenas de anos reatam relações e antigas alianças

renascem. As trevas que cobriam quase toda a Floresta de Mirkwood ficam mais fracas e a luz

e levada a lugares que a muito tempo não alcançava. Tesouros, lugares e trilhas considerados

perdidos voltam a serem procurados.

Os orcs, goblins e outras criaturas terríveis que assolavam a região das Terras Êrmas tiveram

suas forças muito reduzidas após a Guerra dos Cinco Exércitos. Estas ameaças ainda podem

ser encontradas nos cantos mais sombrios e escondidos, mas o maior mal que pode

desequilibrar a paz que a região desfruta é a escuridão dentro do coração de Homens, Elfos e

Anões.

Nas Montanhas Azuis, no de 2946 da Terceira Era, Drarin e Klandrin, dois anões que viviam

nestas montanhas, foram encarregados de localizar e, se necessário, resgatar a Pedra de

Fogo e seus portadores que partiram para Erebor no início do verão. O objetivo era entregar a

Pedra de Fogo para Daín Ironfoot, o Rei Sobre a Montanha. Mas há alguns dias, os Barbas-

de-Fogo das Montanhas Azuis receberam mensagens de que os anões portadores

desapareceram na parte norte da Floresta de Mirkwood. Drarin e Kladrin, eram mercadores e

já tinham percorrido o caminho que os primeiros anões tomaram, e por isso foram procurados

para ajudar.

Partindo das montanhas os dois passaram pelo Condado, uma comunidade pacata, habitada

por seres muito pacatos, e, enquanto permaneciam lá por uns dias descansando para

prosseguir viajem, conheceram dois Hobbits que os convenceram a deixá-los ir juntos na

viajem. Seus nomes eram Grimble e Robin, dois amigos que sempre sonharam e ver o que há

além dos limites do Condado, ver Elfos e Montanhas longínquas, mas nunca tiveram coragem.

Porém, depois da volta de Bilbo Baggins de uma aventura no leste, tudo isso mudou. A viajem

a partir do condado foi um tanto tranquila até chegar às Montanhas da Névoa. Já era início do

outono mas as fortes chuvas do verão ainda não tinham terminado. A passagem pelas

montanhas não foi fácil, e caso não fosse pela resistência e o vigor dos anões, combinadas

com a capacidade dos Hobbits de manterem o espírito sempre elevado e de escapar de

situações inesperadas, nenhum deles teria chegado vivo ao Vale do Anduin.

Quando chegaram do outro lado das Montanhas da Névoa, o grupo foi interceptado por

Beornings, os guardiões do Vale Norte do Anduin. Estes Homens do Norte não possuíam uma

boa impressão sobre Anões e não compreendiam sua paixão por tesouros e gemas, mas

graças à simpatia e boas maneiras dos Hobbits, os companheiros conseguiram acalmar os

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ânimos dos Beornings e até permanecer em um de seus acampamentos enquanto se

preparavam para adentrar as sombras da Floresta de Mirkwood. Foi no acampamento que

conheceram Aerandir, um Elfo da Floresta, amigo dos Beornings e conhecedor das trilhas e

caminhos das matas. Aerandir se prontificou a ajudar os anões em sua busca e ele mesmo já

estava investigando alguns acontecimentos estranhos no noroeste da floresta.

E assim se formou a companhia, Anões, Hobbits e um Elfo em busca da Pedra de Fogo e de

seus portadores sobre as sombras das árvores da Floresta de Mirkwood. O que será que eles

encontrarão na escuridão?

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Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte II Na manhã do terceiro dia desde que chegaram ao acampamento dos Beornings ao norte da

Passagem Entre as Montanhas, o grupo de aventureiros foi informado que Ingmund, o líder do

pequeno grupo desses homens, e dois companheiros, iria acompanhá-los até os limites do

Floresta de Mirkwood.

A jornada até o noroeste da floresta duraria três dias. Na manhã de partida o Vale do Anduin

estava tão belo como na primavera, apesar do vento gelado que soprava do norte. Depois de

algumas horas andando pelo vale, sobre gigantesco campo gramado, quebrado em alguns

lugares por árvores, pedras e pequenas colinas, a companhia chegou até as margens do Rio

Anduin. Para a sorte de todos, Ingmund os tinha levado até um ponto em que a travessia para

o outro lado era muito mais fácil do que na maior parte da extensão do rio. Mas mesmo assim

não seria uma tarefa tão fácil para os hobbits e anões do grupo.

Após alguns escorregões, cortes nas pedras, e depois de molhar quase todo o equipamento

que carregavam, Drarin pediu para que os Beornings, que conseguiam passar pela correnteza

com facilidade que amarrassem uma corda nas pedras do outro lado do rio, o que assegurou

uma travessia muito mais segura para todos, apesar de ter estragado a ração dos hobbits e

de Kladrin.

Chegando à noite, o céu, que estava limpo e claro, começou a ser coberto com poucas nuvens

e o frio apertou sobre os corpos dos homens, anões, elfos e hobbits. Um abrigo foi improvisado

em um vale escondido entre duas colinas altas e os viajantes desfrutaram de uma noite

tranquila sobre o olhar das estrelas do norte.

O dia seguinte já não foi tão generoso para os aventureiros. O céu, já envolto em nuvens

cinzas e anunciando um dia mais sombrio, não provia de muita luz à visão. Pássaros negros,

vindo do sul, passaram por cima do grupo rumando ao norte. O frio se apertou ainda mais,

fazendo com o equipamento que carregavam parecesse mais pesado. Ração foi dividida para

manter todos bem preparados, mas ela não iria durar muito mais. Ao final do dia, a companhia

chegou a um antigo posto de observação em ruínas que parecia muito antigo. Drarin, antes de

escolher um lugar para dormir encontrou o que parecia ser restos de uma fogueira, feita a

pouco mais de um mês. Parecia que alguém passara por ali a algum tempo. Talvez eles

estivessem no caminho certo. Ingmund disse ao grupo que eles podiam descansar, e que ele

o os outros Beornings ficariam acordados vigiando o local, eles já estavam quase fora do

território que guardavam e ocasionalmente criaturas das trevas e bandidos rondavam por essa

área. Como o caminho de volta para casa para os Beornings era muito mais curto do que a do

resto do grupo eles acharam justo que ficassem acordados.

A madrugada, porém, guardava surpresas. Em meio ao sono, Robin Roper, um dos hobitts da

companhia, ouviu a voz de Igmund ao longe, ele gritava "Goblins!". O hobbit rapidamente

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acordou seus companheiros para que decidissem o que fazer. As pessoas mais sensatas

teriam fugido ou se escondido, mas não é de sensatez que se fazem heróis por essas terras.

Os irmãos anões foram os primeiros a pegar seus machados. Aerandir, o elfo da floresta,

procurou um lugar alto para que pudesse observar o que acontecia, seu olhar afiado revelando

o que os olhos de um homem comum jamais veriam. Um pequeno grupo de goblins se

aproximava do sul, e os Beornings iam ao seu encontro, e dois goblins viam do leste em

direção ao posto de observação em ruínas que estavam. Aerandir puxou seu arco e um flecha

certeira atingiu um dos goblins que subia a colina, quase o derrubando. Agora eles sabiam que

havia pessoas lá, carne de pessoas. Um dos goblins gritou em sua língua macabra algo no

meio da escuridão, e então se ouviu outros gritos ao longe, tão horrendos quanto o primeiro,

havia mais goblins no escuro da noite.

A batalha nas ruínas começou. Enquanto os Beornings foram ao encontro de um grupo que

eles achavam que era pequeno, Drarin, Kladrin, Aerandir, Robin e Grimble ficaram na colina

se preparando para o ataque. Assim que os primeiros dois Orcs chegaram ao topo da colina,

flechas certeiras e uma machadada devastadora os jogaram rolando pelas pedras abaixo. Mas

não demorou muito para outros goblins chegarem. Drarin e Kladrin se posicionaram a frente

para defender seus novos companheiros, balançando seus machados e derrubando os goblins

que vinham com espadas curvas e machados dentados. Aerandir e Robin ficaram se

protegendo entre os pilares em ruínas e acertando flechas nos goblins que chegavam.

Depois de alguns minutos de luta, a batalha no alto da colina estava terminada, os aventureiros

tinham apenas algumas feridas superficiais, mas ao longe escutaram Ingmund gritar "Não!

Criaturas das trevas!". Algo de errado estava acontecendo abaixo. Ao olharem para baixo, os

heróis viram Igmund, um companheiro de pé e outro Beorning caído no chão, cercados de oito

goblins. Não demorou muito para o grupo descer para ajudá-los. Os anões foram em carga

para cima dos goblins que atacavam os dois homens em pé, Aerandir e Robin miravam seus

arcos sobre os arqueiros goblins de trás. Igmund conseguiu derrubar mais um inimigo, mas

fora acertado por outro no flanco, seu irmão de pé não teve tanta sorte, foi ferido, mas também

feriu seu oponente. O grupo conseguiu derrotar as criaturas depois de uns minutos mas foram

feridos também. Flechas negras perfuram armaduras, mas por sorte o veneno que elas

carregavam já não estava tão forte.

Ao final da batalha, com um irmão morto, o grupo parou para recuperar o fôlego e lamentar a

perda de um bravo guerreiro. Ingmund agradeceu a ajuda dos aventureiros e os cumprimentou

pela bravura e heroísmo de lutar ao lado delas contra servos da escuridão. Drarin foi

presenteado com a capa de pele de urso do Beorning morto como forma de agradecimento e

o grupo descansou o resto da noite.

O dia seguinte começou mais cedo, os Beornings acordaram todos um pouco antes do sol

nascer. Ingmund seguiria com o grupo até a borda da floresta enquanto o outro Beorning

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levaria o corpo do irmão abatido para um ritual apropriado. Os goblins foram queimados no

topo do colina, como um aviso. A viajem foi puxada, quanto mais ao norte iam, mais inclinado

ficava o terreno e mais pesadas ficavam as mochilas. No começo da tarde uma chuva rala

começou a cair, como que querendo enfraquecer os espíritos dos viajantes e fazê-los voltar

para casa. Quando chegaram à floresta, o céu já estava escuro e encoberto de nuvens, mas

a floresta parecia conseguir ficar mais escura do que o céu negro. Ingmund não prosseguiria

com eles e desejou-lhes boa sorte, voltaria para seu povo, queria saber porque aqueles goblins

estavam tão longe das Montanhas das Névoas.

A companhia, então, adentrou as sombras da Floresta de Mirkwood. Estranhamente a chuva

que caia conseguia passar pelas folhas das árvores, mas o pouco de luminosidade lá de fora

não conseguia penetrar seus altos ramos, tochas foram acesas. O ar da floresta, ainda que

totalmente parado e estranhamente pesado, parecia mais gelado que o do Vale do Anduin. O

silêncio, a escuridão, e o frio fez com que os aventureiros duvidassem de seus motivos para

estarem ali, e nascer a vontade de voltar para casa. Mas eles não desistiriam agora. Logo

acharam a trilha élfica que cortava essa parte norte da floresta, era essa que os anões

portadores da Pedra de Fogo teriam usado.

Seguiram por poucas horas até o cansaço os alcançar, para então procurarem um abrigo. Ao

longe, mais adentro do emaranhado de árvores, raízes e pedras avistaram uma grande árvore-

casa élfica que parecia abandonada, talvez fosse um bom lugar para descansar por uma noite,

pelo menos não havia sinal de goblins por ali. Será que o abrigo é seguro? O que será que

encontrarão ali dentro? A Floresta de Mirkwood esconde muitos segredos sobre a sobra de

suas árvores.

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Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte III A construção que encontraram na escuridão da floresta era de uma beleza incomparável, com

grandes arcos e janelas, típico de artes élficas. Havia uma grande escada em espiral que dava

voltas ao redor do enorme tronco onde a casa se fixava. Chegando no topo eles finalmente

puderam avistar todo o esplendor das casas dos elfos construídas ao redor de seis árvores.

Uma das edificações ficava ao centro, de tamanho e elaboração superior às demais. A lua,

que sobre os ramos das árvores, muitos metros abaixo, não conseguia brilhar, lá em cima os

banhava com uma luz prateada. A imagem que viam os envolvia de um sentimento de paz e

tranquilidade, ao mesmo tempo que instigava uma sensação de solidão e melancolia.

O grupo, então, começou a explorar o local onde provavelmente passariam a noite. Aerandir,

relembrando antigas canções que as ruínas o fizeram recordar, começou a cantar para as

estrelas acima. Mas para sua surpresa ouviu uma voz, bem baixa, que vinha da grande

construção central. Olhando atentamente naquela direção, ele viu um vulto azulado como de

uma pequena chama, que logo desapareceu, assim que parou de cantar. O elfo, então, foi em

direção da voz que ouvira, sem pensar muito e tomar os cuidados devidos quando se entra

em ruínas tão antigas quanto aquelas. Ao andar apressadamente sobre as passarelas que se

estendiam de uma árvore a outra, ele não percebeu que algumas estavam tão velhas e

danificadas que cederam no momento em que passava sobre elas, caindo para sua morte

sobre as raízes das grandes árvores. Isso se não fosse pelos rápidos reflexos que os elfos

possuem, o que o fez segurar na passarela a frente, evitando uma queda dolorosa. Após o

susto, todos passaram a andar com mais atenção e cautela, até mesmo os hobbits, famosos

por sua imprudência e curiosidade.

Enquanto Aerandir continuava a explorar a árvore central, Drarin e Klandrin examinavam

melhor a construção que encontraram primeiro. Esta, aparentemente era utilizada para fins

militares. Assim que entraram por uma porta em arco com inscrições élficas ao redor, viram

um aposento em desordem com várias estantes e hastes onde ficavam lanças, espadas e

arcos, todos destruídos ou não mais presentes. Pelo chão havia restos de móveis e paliçadas,

sinais de batalha e marcas de sangue muito antigas, algo ruim e sombrio aconteceu ali há

muito tempo atrás. Entre os destroços os anões avistaram uma escada, em mal estado, que

levava ao andar superior. Drarin, procurando por sinais de passagem recente foi o primeiro a

subir, foi quando ouviu o grito de socorro de Aerandir vindo da construção central.

O elfo adentrara a construção em busca do vulto que vira mementos atrás. A arquitetura desta

parte era mais elaborada e runas gravadas contavam a história deste povoado de elfos. O

lugar era chamado de Faeldarin, e seus líderes eram Denith e Miriel, dois elfos da floresta de

linhagem nobre. No aposento principal, que parecia ser usado para ocasiões sociais, Aerandir

encontrou vestígios de móveis e utensílios domésticos danificados. Ao que parecia, o local

também teria sido palco de conflitos, mas ao contrário do aposento onde os anões estavam,

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ali acontecera uma batalha recente, sangue ainda podia ser visto em alguns lugares e os restos

de uma criatura não identificada jazia debaixo de uma mesa quebrada. Além disso, ele viu uma

escada que dava acesso ao piso superior, onde o vulto tinha sido avistado. O elfo não hesitou

em subi-la, porém, para sua surpresa, depois de uns lances de escada se viu preso a algo

quase invisível, pegajoso, e quanto mais tentava se soltar mais preso ficava. Aerandir só

entendeu o que estava ocorrendo quando viu saindo de trás das sombras do segundo andar

uma criatura, do tamanho de um pônei, com oito patas e vários olhos vermelhos da cor de

sangue. Uma aranha gigante da Floresta de Mirkwood se aproximava avidamente do

aventureiro, pronta para evolver-lhe em sua teia e devorá-lo. Aerandir logo alertou seus

companheiros, "Aranha gigante! Aranha gigante!".

Em um instante, Drarin e Klandrin que estavam explorando a construção sacaram seus

machados e correram em direção aos gritos. Robin que estava do lado de fora, na passagem

para a árvore central, puxou seu arco e preparou uma flecha ao entrar na antiga sala de

reuniões. Enquanto corriam para o socorro de seus amigos, os anões viram que acima deles

cerca de seis grandes aracnídeos se dirigiam para a parte central. Aerandir tentava se soltar

quando a aranha que o atacava quase o perfurou com seu ferrão envenenado. Por sorte ele

conseguiu livrar-se e ferir a aranha que o atacava com sua espada, descendo uns degraus

para ficar próximo dos outros. Drarin e Klandrin, ao entrarem na sala, foram atacados cada um

por uma aranha que entrou pelas grandes janelas. Elas eram rápidas e quase conseguiram

envolver os anões em suas teias, mas seus machados afiados foram suficientes para se

soltarem e, ao mesmo tempo, abater as duas aranhas sem grandes complicações. O pequeno

Robin já não teve tanto sorte. Apesar de ter acertado a aranha que atacava Aerandir,

derrubando-a da escada, uma outra vinda de uma passagem no tento pulou sobre ele e o

envolveu completamente em suas teias, pronta para enfiar ferrão no hobbit. O elfo, agora livre

desceu as escadas para ajudar seus companheiros mas foi abordado por outro aracnídeo que

chegou pela janela ao sul da sala. Os anões que tinham abatido seus adversários foram então

ajudar quem podiam. As duas aranhas que sobraram foram derrotadas com a combinação dos

esforços de Aerandir, Robin e Drarin, porém Kladrin foi pego de surpresa por uma aranha e foi

envenenado, ficando paralisado e quase caindo no chão.

Assim que a batalha terminou os aventureiros pararam para retomar seu fôlego e então viram

que um de seus companheiros estava sofrendo com o veneno. Aerandir, relembrando-se das

palavras de um sábio elfo, procurou em suas bolsas a erva capaz de aliviar os efeitos do

veneno, e ele estava com sorte. Em pouco tempo Klandrin conseguia andar novamente,

mancando, mas ainda assim, era melhor do que continuar paralisado como estava. Era noite,

estavam feridos e cansados, eles precisavam arranjar um lugar para descansar e recuperar

as forças. O segundo andar da primeira árvore parecia um lugar seguro, o acesso era

resguardado por um alçapão que podia ser fechado com um grande fecho de madeira

reforçada. Aparentemente, aquele espaço era usado como ponto de observação e torre de

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guarda, como indicava os buracos para flechas e a grande vista que tinham dali. Não tinham

como procurar um lugar mais resguardado, então ali ficaram, revezando uma guarda para que

não fossem surpreendidos.

A noite passou sem mais problemas, apesar da sensação de que estavam sendo observados

e de que a escuridão ficava cada vez mais pesada. Por sorte, a manhã veio rápido, e a visão

daquela paisagem e arquitetura nobre élfica, sendo banhada pelos raios do sol nascente,

refletindo cada brilho, encheu o coração dos heróis de uma renovada esperança. A companhia

continuaria sua viagem sabendo que ainda havia luz e beleza naquela floresta sombria e

cinzenta. Klandrin recuperou-se bem do veneno das aranhas e, antes de partir, pela manhã, o

grupo resolveu explorar o resto do local. Aerandir junto com Drarin começaram pelas casas a

oeste, enquanto Klandrin, Robin e Grimble foram para as construções ao norte. O elfo e o anão

acharam mais destroços e sinais de batalha, e além disso, sinal da passagem dos anões por

lá. Restos de comida, e um pedaço de uma túnica típica das Montanhas Azuis foi encontrada

ao lado de uma aranha gigante morta. A busca dele rendeu outros frutos também. Na grande

árvore central eles encontraram diversos livros e mapas antigos, escritos na língua do elfos da

floresta, a maioria contando a história daquele povo através dos tempo, mas alguns se

tratavam dos diários de Denith, o lorde local. Sua amada Miriel durante os primeiros conflitos

com a sombra que se apoderou de Mirkwood quase dois mil anos antes teve que partir em

uma busca, enquanto ele permaneceria para comandar as forças de batalha. Infelizmente ela

nunca voltou e Denith nunca deixou de esperar por ela. Nas outras construções foram

encontrados também um colar com o símbolo da Casa de Faeldarin, e na torre de observação

norte, uma espada partida encravada no torso de uma aranha gigante cinco vezes o tamanho

das outras, era a Lâmina de Fearel, uma espada finamente feita por antigos artesões elfos.

Mas, talvez, com mais sorte foram Grimble, Robin e Klandrin, logo na primeira construção ao

norte encontraram os restos de uma cozinha e, o melhor de tudo, uma dispensa. A magia dos

elfos era surpreendente e, apesar de a muito tempo abandonados, ainda se encontravam em

bom estado pães élficos, frutas secas, vinho, e outros pequenos alimentos. Como a maior

parte da comida que levavam se estragou quando eles caíram no Anduin, esse era um grande

achado. Os hobbits trataram de arrumar uma mesa e preparar um desjejum para todos antes

de partirem. Todos comeram bem, e recuperaram suas forças. Sabiam que estavam ainda no

início de sua busca. Precisariam ser fortes e determinados, pois a floresta tentaria fazer com

que desistissem.

O grupo achou melhor deixar a maior parte dos livros e mapas guardadas aonde passaram a

noite, no andar de cima da primeira torre de observação. Levariam com si apenas a Lâmina

de Faerel e o Colar da Casa de Faeldarin. Seguiram viagem pelo antigo caminho dos elfos e,

depois de quatro noites na floresta de Mirkwood, a companhia encontrou alguns sinais da

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passagem dos anões portadores da Pedra de Fogo, runas do idioma dos anões marcavam a

passagem dos anões por ali, aparentemente deviam estar perdidos.

A noite, a trilha que antes, mais próximas da borda da floresta, era um caminho claro, e largo

o suficiente para três pessoas andarem lado a lado e que permitia certa luminosidade adentrar

a mata, se tornou estreita e escura, com diversos trechos quase retomados pelas raízes das

árvores. A escuridão, cada vez mais, pesando em seus ombros e corações. Aerandir, porém,

percebeu que estavam sendo seguidos há um bom tempo, seu olhar penetrando a penumbra

que os envolvia. Eram elfos, vestindo armaduras de couro e capas escuras. Os viajantes

decidiram não abordar seus perseguidores, relutantes em começar um conflito. Mais tarde, ao

encontrarem um abrigo para passar a noite, enquanto os companheiros descansavam,

Aerandir decidiu se esconder enquanto vigiava o acampamento que fizeram em uma clareira

escondida entre grandes árvores.

Não demorou muito para os elfos que os seguiam aparecessem. Eles cercaram o

acampamento, cinco deles com arcos esticados a mão se aproximando cautelosamente do

grupo, e um sexto, com uma lança nas costas e com uma armadura que sugeria um posto de

chefia com mão levantada sinalizando para seus companheiros. Aerandir não hesitou e

ordenou que parassem, gritando no idioma dos elfos. O líder, apesar do eco que a voz do elfo

criou, encontrou os olhos do patrulheiro entre a vegetação. Ele o reconheceu, e disse que se

estivesse sendo feito como prisioneiro por aqueles ladrões que agora ele estava livre. O grupo

acordou com os dois discutindo em élfico, e quando Klandrin tentou falar com os "visitantes",

o Elfo o chamou de ladrão e invasor de suas terras. Aparentemente, as ruínas élficas nas quais

passaram a primeira noite na floresta era sagrada para esses elfos, e os itens que trouxeram

de lá, considerados deles de direito. Perguntados sobre os anões que passaram por lá antes,

eles disseram que logo a companhia descobriria seu destino. A intenção dos Eflos era a de

levar o grupo como prisioneiros para serem punidos. Robin que desaparecera de seu leito, sai

de seu esconderijo e tenta convencê-los de que as intenções do grupo são boas, mas Farendil,

o elfo que comandava o grupo não tem tanta certeza. E agora, o que será que vai acontecer

com o grupo? E qual terá sido o destino do grupo que carregava a Pedra de Fogo?

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Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte IV Lá estavam Aerandir, Drarin, Klandrin e Robin, cercados por sete elfos da florestas. Grimble

tinha desaparecido, seu equipamento e saco de dormir ainda no chão da floresta. A madrugada

era gelada e uma fina camada de neblina ofuscava a visão depois de alguns metros. As flechas

dos arcos apontando para o grupo de aventureiros deixava claro que agora estariam sob a

custódia deles.

Embora Robin tivesse conseguido apaziguar os ânimos, que anteriormente estavam

inflamados, os elfos ainda pretendiam levá-los para serem questionados pelo Lorde de seu

grupo. Deviam explicações do porquê invadiram suas ruínas sagradas, como saíram de lá

ilesos das aranhas e por que carregavam com si relíquias de seu povo. Antes de escoltarem

o grupo até o local onde teriam seu destino decidido, armas foram recolhidas e capuzes

escuros foram postos sobre as cabeças sobre os companheiros para que não soubessem para

onde estariam sendo levados.

Dois sentinelas iam a frente, com os viajantes no meio sendo guiados pelos elfos ao fundo. O

caminho foi demorado, passaram algumas horas andando, as vezes sobre terreno duro, outras

vezes sobre terra molhada, córregos e emaranhado de raízes. Os anões e o hobbit não faziam

ideia para onde estavam indo, podiam estar andando em círculos desde a hora em que

deixaram de enxergar a floresta, mas Aerendir conhecia aquela mata a centenas de anos e,

apesar de não estar vendo para onde ia, seus ouvidos, pés e nariz diziam exatamente para

onde estava sendo levado. E era para a margem oeste do Rio da Floresta, que descia das

Montanhas Cinzentas, que estavam indo. Enquanto isso, o hobbit que desaparecera os seguia

entre as sombras das árvores, totalmente em silêncio, como os hobbits fazem.

Quando chegaram, seus capuzes foram retirados e puderam ver uma fortaleza, construída de

árvores, pedras e magia élfica. Uma grande colina, dentro de um vale estreito de onde corria

um pequeno riacho que desembocava no Rio da Floresta, fora escavada e transformada em

uma fortaleza vivia de pedras e árvores. Era difícil saber aonde começava o trabalhos dos

artesões élficos e onde aquilo era apenas natureza, pura e simples. No entanto, os

aventureiros não tiveram muito tempo para apreciar aquela paisagem. O capitão que os

encontrou ordenou que dois guardas os levassem para uma sala de retenção até poderem ser

questionados por Faedel, o lorde dali. E com um empurrão da lança dos sentinelas lá foram

eles, descendo escadas e mais escadas, para o interior daquela colina.

O grupo foi levado por um corredor estreito até uma pequena sala, sem janelas e nenhum

móvel, onde teriam que aguardar até serem chamados. Apesar de estarem em uma construção

subterrânea, a fortaleza dos elfos era estranhamente arejada e acolhedora, e isso porque

estavam sendo tratados como prisioneiros. A espera naquele aposento levou horas ou dias ou

apenas alguns minutos. Ninguém sabia ao certo porque estavam debaixo da terra em um lugar

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mágico, sobre a luz constante de tochas. Em certo momento Drarin e Klandrin começaram a

entoar uma canção antiga dos anões das Montanhas Azuis que falava sobre a vida de uma

anão debaixo da terra. Não demorou muito e eles ouviram a voz de outros anões cantando

também e um deles perguntando: "Quem está aí? Há mais anões aqui?". Eram os portadores

da Pedra de Fogo.

Logo os dois grupos começaram a gritar um para o outro tentando se comunicar naquele

corredor cumprido, mas os anfitriões não permitiriam tal baderna em sua fortaleza. Guardas

que andavam pelo subterrâneo bateram com as lanças nas portas e ordenaram que parassem.

Ao menos agora sabiam onde estavam aqueles que procuravam.

Depois de alguns minutos, ou horas, ou quem sabe até alguns dias, dois sentinelas vieram até

a porta da sala onde a companhia estava e falaram no idioma Westron carregado com um

sotaque élfico "Venham, Lorde Faedel verá vocês agora". Então eles abriram a porta e

começaram a guiar os aventureiros pelos túneis e escadas de pedra, madeira e terra que

levava cada vez mais para cima, até que chegaram do lado de fora da colina. O céu estava

escuro, com várias nuvens negras encobrindo as estrelas. A caminho era sobre uma trilha de

pedras lisas sobre um gramado verde escuro, várias árvores estavam espalhadas ao redor, do

lado esquerdo estava a colina e ao direito a elevação do vale onde estavam. Passaram por

uma entrada onde puderam ver dois elfos fazendo guarda de seus equipamentos e armas,

assim como de outros pertences, que puderam concluir, seriam dos outros anões. Quando se

aproximavam de uma escada externa, que subiria para o alto da colina, um dos sentinelas a

frente deles, quando passava entre dois grandes pinheiros, se viu preso em uma teia pegajosa,

gigante, e antes que pudesse dizer alguma coisa, diversas aranhas gigantes saltaram sobre

eles. Estavam sobre ataque.

Aerandir, Drarin, Klandrin e Robin foram pegos de surpresa. A frente deles, os sentinelas que

os conduziam estavam sobre ataque de quatro aranhas gigantes. Atrás, três mais estavam

vindo. Precisavam de suas armas, que viram a alguns metros atrás, mas tinham que passar

por aquelas criaturas antes. Robin, aproveitando suas habilidades natas logo desapareceu,

Aerandir, com a agilidade que é natural ao seu povo, conseguiu passar facilmente pelos

aracnídeos e chegar até onde seus pertences estavam. Os guardas que tomavam conta do

local agora estavam ocupados lutando contra uma aranha com o dobro do tamanho deles.

Chegou, então, a hora dos anões. Drarin, com sorte, conseguiu passar por cima das grandes

raízes e ir se esquivando através das árvores, porém Klandrin tropeçou em um troco e caiu

bem ao lado de uma das aranhas, que saltou sobre o corpo dele. Em pouco tempo ele estava

envolto em grossas teias, prestes a ser perfurado pelo ferrão de sua inimiga.

Enquanto isso, os outros pegavam suas armas e saiam para enfrentar aqueles monstros das

sombras. Para todo lado que olhavam viam mais e mais aranhas chegando, e elfos lutando

contra elas. Flechas voavam para todos os lados, aranhas caiam do alto da colina e das

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árvores, gritos no idioma dos habitantes das florestas eram ouvidos a todo momento, e alguns

guardas jaziam abatidos pelo chão. Aquilo não era só um ataque, era uma invasão. Aqueles

monstros vieram para tomar a fortaleza dos elfos. Aerandir ficou para trás para ajudar os

guardas a derrotar a grande aranha que atacou o local onde estavam as armas. Drarin correu

para socorrer seu irmão anão, que acabara de ser ferroado pela aranha que estava em cima

dele, seu urro de dor ouvido por todo o vale. Seu machado acertou as costas da aranha que

atacava seu companheiro, tirando-a de cima dele, gravemente ferida.

O barulho de batalha, gritos de dor, vitória e socorro se misturavam com grunhidos das

criaturas. Enquanto seu companheiro batalhava com a aranha que o atacara, Klandrin se livra

das teias e correu para pegar seu machado e voltar para luta. Aerandir, que ainda estava na

sala das armas, acertou uma flecha certeira na aranha que ataca os guardas a sua frente,

salvando a vida daqueles que até poucos momentos os mantinham como prisioneiros. Lá fora

os elfos continuavam a lutar. Drarin abateu uma aranha decepando sua cabeça, mas logo foi

atacado por outra. Haviam muitas delas. Foram momentos duros e tensos, mas o grupo

conseguira se reunir novamente e tinham derrotado todas aranhas ao seu redor. Então, Robin

e Grimble apareceu das sombras das árvores, com suas armas na mão e ofegante. "Acho que

seria uma boa ideia libertarmos os outros anões agora, não é?".

E lá foram eles, correndo, desviando de flechas que voavam para todos os lados. Drarin,

porém, antes de conseguir chegar às escadas, teve seu caminho obstruído por uma aranha

gigante que saltou das árvores acima bem a sua frete. Teria que passar por ela antes de salvar

os outros anões. O anão gritou para que o resto do grupo continuasse a busca, ele ficaria ali

e guardaria a entrada. O resto da companhia foi descendo escadas e mais escadas, e voando

por corredores compridos sustentados por grandes arcos de madeira decorados e envolvidos

de raízes e plantas. Pelo caminho eles viram sinais de que algumas aranhas passaram por ali.

Guardas jaziam no chão com partes de seus corpos faltando, como se devorados. Depois de

vários corredores, escadas e aposentos o grupo chegou ao corredor onde estavam antes. A

voz dos anões podiam ser ouvidas. "O que está acontecendo? Pelas montanhas! Nos

ajudem!".

Aerandir, Klandrin e Robin foram correndo em direção aos gritos. Na porta da sala de onde os

anões gritavam uma aranha gigantes forçava a entrada com suas enormes patas negras. O

elfo e o anão rapidamente dominaram e derrotaram aquela criatura. O machado que usou para

desferir o golpe mortal serviu também para arrebentar o fecho da porta e libertar os

prisioneiros.

Agora estavam todos ali. Os recém libertados se apressaram logo, "Vamos embora daqui e

pegar a Pedra-de-Fogo. Nós a escondemos um pouco antes de nos trazerem para cá.

Deixemos que os elfos lidem com essas criaturas sozinhos". No entanto, o grupo não deixariam

aquele povo nobre se defender por si só. Eles eram heróis, e provariam isso mais uma vez,

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lutando ao lado daqueles que a pouco tempo duvidavam de sua nobreza. As aranhas da

Floresta de Mirkwood iriam ser derrotadas e expulsas daquele vale. Aos portadores foi dada a

escolha, podiam ir sozinhos tentar achar uma saída daquele vale ou lutar ao lado de valorosos

heróis contra as forças da escuridão. Klandrin, relembrando-se das palavras de grandes

guerreiros do povo de Durin inspirou coragem em seus irmãos, convencendo todos da

importância daquela batalha e dando-lhes força para lutar.

O que se seguiu foram algumas horas de luta, sofrimento, terror, pequenas vitórias e derrotas.

Em certo momento já no ápice da noite, Aerandir, Drarin e Klandrin se viram juntos do capitão

da guarda e o lorde Faedel, frente a frente com uma aranha cinco vezes o tamanha de todas

as outras. Era uma criatura medonha, de causar pesadelos até nos mais corajosos guerreiros

daquela terra. Seu corpo era como o das outras aranhas, negros, com grossos pelos e

espinhos, porém sua cabeça tinha uma aparência quase humana, com um rosto que lembrava

a de uma bruxa, com uma pele cinzenta, uma boca cheia de presas e olhos esbugalhados e

todos brancos. Todos sentiam que daquela criatura emanava uma aura de maldade e

escuridão. A luta contra ela seria terrível.

E foi. Suas patas mais pareciam grandes lâminas que tentavam cortar todos ao meio cada vez

que se mexiam. Uma sombra envolvia aquele monstro, obscurecendo a visão de qualquer um

que se aproximasse e espalhando terror ao seu redor. O capitão fora ferido ao salvar seu lorde

de um golpe que poderia ser fatal. Uma ferroada envenenada penetrou seu ombro esquerdo

fazendo-o soltar o escudo que segurava para se apoiar no chão. Golpes de lanças, machados

e espadas golpearam a dura carapaça daquele grande aracnídeo, mas foi graças aos esforços

combinados de Drarin, Klandrin, Aerandir e o Lorde Faedel que aquele monstro foi abatido,

para a alegria de todos os combatentes. Mas ao contrário do que todos pensavam as aranhas

não se intimidaram com a morte daquela que parecia ser sua líder, havia uma criatura ainda

mais nefasta por trás daquele ataque.

Foi então que tal ataque se intensificou, mais e mais aranhas, cada vez maiores chegavam de

todos os lados, apesar dos esforços de todos, os elfos iam perdendo cada vez mais espaço e

depois de um certo tempo não restou outra opção a Faedel se não ordenar que recuassem

para o interior da fortaleza e que fechassem todas as passagens. Estavam sitiados debaixo da

colina. Naquele momento, o lorde se dirigiu à companhia e disse que eles podiam fugir se

desejassem. Havia uma passagem subterrânea na fortaleza que os levaria para o outro lado

do Rio da Floresta. Os elfos, porém, ficariam ali para defender com suas vidas aquele local.

Se fosse pela vontade dos portadores da pedra, o grupo teria saído daquela armadilha o mais

rápido que conseguissem, entretanto, mais uma vez, o coração heroico do grupo fez com que

ficassem ali, e lutassem contra as sombras que avançavam sobre o povo livre das florestas. A

opção dos aventureiros fez com que Faedel sentisse alegria e orgulho por ter em sua fortaleza

pessoas tão valorosas. Pedindo desculpas pela forma com que foram tratados anteriormente,

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agradeceu por toda a ajuda que estavam lhe dando. Chegava a hora de se prepararem para

um contra-ataque. Aerandir, um rastreador nato, analisou a área e sugeriu lugares onde

podiam ser posicionados arqueiros para combaterem as aranhas sem serem vistos. Drarin e

Klandrin passaram um pouco das estratégias que os anões usam em cercos para que os elfos

surpreendessem seus inimigos. Ajudaram também a preparar armadilhas com poços, estacas,

óleos e fogo. Aquelas criaturas malignas iriam ser pegas de surpresa. O contra-ataque

aconteceria assim que o sol nascesse e a luz atrapalhasse os monstros.

Os preparativos foram muitos. Paliçadas foram armadas, poços escavados, armadilhas

preparadas, óleos preparados para cercas as aranhas em uma barreira de fogo. Horas e horas

passaram, e o amanhecer finalmente chegou, jorrando seus raios brilhantes entre as pequenas

passagens de luz, sinalizando que o memento chegara. Os portões se abriram, aranhas

gigantes adentraram os corredores apenas para serem destroçadas pelas lâminas cortantes

das lanças dos elfos. Ao redor da fortaleza o óleo foi aceso e centenas de aranhas começaram

a queimar no fogo das armadilhas. Flechas cortavam todo o espaço, voando certeiras nos

olhos e tronco das criaturas, que não sabiam de onde os projeteis vinham. A batalha estava

sendo vencida com certa facilidade pelos elfos.

Isso até aparecer a criatura que ordenou o ataque. A sua presença espalhava uma sobra que

tapava toda a claridade ao seu redor. O coração da maioria presente foi envolvido em medo,

dúvida e desespero. O monstro, uma aranha maior de que qualquer uma que já tinham visto,

o corpo negro com lâminas saindo de suas patas e no lugar da cabeça tinha o tronco de um

grande humanoide com chifres. Nunca antes o elfos tinham visto aquele ser. Mas seu poder

já tinha sido sentido em tempos passados. O ódio era mútuo e palpável entre o Lorde Faedel

e a grande aranha. Ele pegou sua grande lança e foi ao encontro de seu inimigo, a luta era

ferrenha e terrível. O desfecho daquela batalha se definiria entre os golpes de ambos. A luta

era de igual para igual e não se sabia ao certo quem ganharia. Porém, o tempo começou a

cansar o lorde élfico. Um pequeno deslize foi o suficiente para ele ser acertado pelo ferrão do

aracnídeo e cair no campo de batalha. Aerandir, Drarin e Klandrin correram em sua direção,

mas o elfo já estava desacordado e paralisado com o veneno. Agora eram eles que deveriam

terminar a luta.

Os anões seguraram firme seus machados e partiram para cima da criatura, desviando como

podiam de seus ataques. Aerandir, ao longe conseguiu acertar flechas na criatura, o que a

deixou irritada, porém distraída, o que permitiu que os machados a acertassem mais

facilmente. O monstro, achando que tinha vencido o seu principal oponente subestimou os

heróis e por isso foi derrotado em um ataque em conjunto. Sua queda simbolizou a quebra das

sombras que protegiam as aranhas menores. Esse momento foi decisivo para a batalha. Os

elfos, apesar de terem perdido o Lorde que os liderava, viram uma criatura terrível ser vencida

e a luz voltar a brilhar no vale. Em poucas horas, o resto das forças inimigas foram expulsas

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do vale. A vitória fora conquistada, porém, a grande custo. Grimble fora ferido gravemente, e

agora jazia morto ao lado de grandes guerreiros élficos.

O vale estava finalmente livre das aranhas sombrias, mas o rastro de destruição e mortes que

elas deixaram era evidente. Haviam mais elfos pelo chão do que em pé. Mais da metade dos

que viviam ali jaziam mortos e muitos outros estavam feridos. A fortaleza fora muito danificada,

não só pelas aranhas, que fizeram a maior parte do estrago, mas também pelo fogo utilizado

para combatê-las. Demorariam meses para recuperar tudo, ainda mais com menos pessoas

agora. O capitão Faeranil, que agora assumira o posto de seu falecido irmão, Lorde Faedel,

agradeceu muito aos aventureiros, e pediu para que aceitassem como presentes o Colar da

Casa de Faeldarin e a Lâmina Faerel. A companhia perguntou se eles tinham como ajudá-los

a passar pela floresta de forma mais rápida e segura e ele se comprometeu a levá-los até o

outro lado do rio, onde rapidamente chegariam aos Aposentos do Elfo-Rei Thraundil. Mas

primeiro teria que deixar os preparativos acertados e dar uma cerimônia apropriada aos mortos

e ao seu irmão. O grupo concordou com tudo aquilo, e eles mesmos precisavam descansar

um pouco antes de partir. Ficaram e ajudaram no que puderam e rapidamente dois dias se

passaram.

Antes de partir, a companhia, junto com os anões que sobreviveram à batalha, foram até o

esconderijo da Pedra-de-Fogo para resgatá-la. Mesmo sabendo onde a havia escondido foi

difícil saber exatamente sua localização. A magia dos anões para manter coisas em segredo

é incrível e apenas com o brilho das primeiras estrelas foi possível enxergar a runa secreta

onde fora marcado o local onde a gema fora escondida. Assim que abriu o compartimento,

Drarin e os outros viram uma grande gema de cor alaranjada que emitia um brilho intenso

como de uma grande chama. A sensação que tiveram era a de que estavam de volta debaixo

das Montanhas Azuis em frente a uma grande forja. Isso foi o suficiente para os encher de

esperança novamente. Aquela visão de calor, luz e conforto dentro daquela floresta fria, escura

e amedrontadora fez com que se lembrassem de casa e do amor que tinham pelas suas vidas.

Faeranil os guiou, então, pelos caminhos que aqueles elfos conheciam, até a margem do Rio

da Floresta, ali haviam uma ponte de madeira clara, muito bem feita, porém sem muitos

adornos. Ali eles se despediram. A poucas horas de viajem estava o Reino da Floresta, que

Aerandir conhecia bem. A viagem, por enquanto, seria tranquila. Assim a companhia chegou

ao Reino de Thranduil, dos elfos da floresta. Como será que serão recebidos naquela corte?

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Crônicas da Terceira Era: A Pedra de Fogo - Parte V Depois de dois dias de caminhada tranquilos na parte da floresta dentro dos limites do Reino

de Thranduil, os aventureiros avistaram a morada do povo da floresta. Essa era composta de

diversas edificações no alto de grande carvalhos e uma fortaleza grandiosa, escavada em uma

colina.

A medida que a companhia se aproximava, via a presença dos elfos mais claramente. Diversos

sentinelas mantinham vigília em pontos estratégicos ao redor das construções e,

provavelmente, já os tinham avistados a centenas de metros de distância, pois quando

passavam por aqueles que conseguiam ver, esses os cumprimentavam com um aceno de

cabeça. Depois, ao se aproximarem mais do Palácio de Thranduil, um elfo alto, de longos

cabelos prateados e olhar altivo se aproximou deles e se apresentou. Seu nome era Legolas

Folhas-Verdes, e ele era o príncipe daquele povo, filho do Rei-Elfo.

Ele queria saber quem eram aqueles visitantes inesperados e o que os traziam para o Reino

da Floresta. O grupo logo se explicou e contou um pouco de sua história, deixando de fora a

Pedra de Fogo. Contaram que encontraram os elfos da Casa de Faeldarin, e como lutaram ao

lado deles contra uma força gigante de aranhas da floresta. Drarin tentou convencer o príncipe

da necessidade de se ajudar aquela casa. Embora Legolas respondera que infelizmente não

podiam mandar forças para ajudá-los, pois estavam enfrentando suas próprias batalhas

naquela parte da floresta, os aventureiros sentiram que ele gostaria de ajudá-los, mas algo o

impedia.

Em seguida, o filho de Thranduil os levou para conhecerem os Salões do Reino da Floresta.

O grupo passou por diversos locais, e viram muitos elfos e alguns poucos homens interagindo

entre si. O Palácio do Rei era uma grande coletânea de salões, corredores e aposentos

subterrâneos. Embora fosse uma construção debaixo da terra, era um lugar muito bem arejado

e iluminado, a temperatura em seu interior era branda e parecia que uma fraca brisa soprava

pelos corredores. Era um lugar agradável e belo, mas que ao mesmo tempo lembrava um povo

muito antigo, que aos poucos estava desaparecendo, deixando um ar de melancolia. Após um

tempo, eles chegaram em um grande salão, perfurado com vários corredores e escadas. Deles

se estendiam diversos aposentos e moradas de elfos e alguns poucos homens que ali se

instalaram. Ao sul se estendia outro grande salão, onde se concentravam os artesões élficos

e comerciantes que agora chegavam para trocar mercadorias com o povo da floresta. Legolas

levou os anões, o hobbit e o elfo para seus quartos. Falou que os mesmos eram deles por

quanto tempo precisassem, e que iria avisar seu pai da chegada do grupo. Drarin, o anão,

insistiu em ir falar com Thandruil junto com o príncipe e foi junto com Legolas. Aerandir, já

tendo permanecido naquela Palácio antes, disse que precisa resolver algumas coisas e se

separou do grupo. Assim, ficaram Klandrin e Robin para explorar sozinhos o ambiente.

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Klandrin, ansioso por uma boa refeição, vai à procura de algum comerciante que vendesse

carnes, algo que não comia a muito tempo. Ele andou por muito tempo entre os artesões, viu

peças memoráveis de vestuário e utensílios, assim como arcos e lanças, até que encontrou

um comerciante vindo de Dale, Baramil, que veio trocar comida dos vales, carnes, grãos e lã

por utensílios élficos e quem sabe armas. O anão colocou sua mão no bolso e trocou um

punhado de moedas dourados por carnes, linguiça, erva de fumo e tudo que ele tinha vontade

de comer. Com sorte, Baramil tinha até mesmo um pequeno barril de cerveja de Erebor. Isso

tudo, enquanto o anão anotava e fazia esboços do que via no livro que carregava. Enquanto

isso, Robin decidiu conhecer mais a cultura daquele povo tão extraordinário. Pegou seu violino,

se apoiou em um tronco de árvore e começou a cantar velhas canções do Condado. Aos

poucos, elfos que passavam pelo local começaram a se reunir em volta do pequenino para

ouvir suas canções. Depois de algumas horas eles já trocavam melodias entre si, ensinando

uns aos outros canções e versos. Os elfos ficaram surpresos de ver que o povo de Robin tinha

uma tradição musical e de palavras muito rica.

Ao mesmo tempo, Drarin e Legolas chegavam ao salão onde ficava o Rei Thranduil, cercado

de seus conselheiros, servos, e enviados de outros reinos. Pareciam discutir um assunto não

muito sério quando o elfo e o anão chegaram. O príncipe anunciou sua presença e que trazia

um viajante anão que portava notícias do oeste da floresta. Este, então, se apresentou como

um ex-comerciante que fora encarregado pelos anões das Montanhas Azuis em resgatar irmão

do povo de Durin que se perderam na Floresta de Mirkwood. A partir daí, ele recontou toda a

história, omitindo, é claro, a existência da Pedra de Fogo, como fizera com Legolas. Relatou o

encontro com os Orcs na madrugada, e como lutaram ao lado dos Beornings. Contou que

entraram nas ruínas de Faeldarin, e se abrigaram nas construções. Falou sobre o encontro

deles com as aranhas nas sombras das árvores e a luta que tiveram ao lado dos elfos da Casa

de Faeldarin contra uma grande força delas. Contou sobre o sacrifício dos elfos e do amigo

hobbit, Grimble. O conto foi tão heroico e dramático que fez Drarin derramar lagrimas. As

palavras comoveram Thranduil e seus asseclas. Ele disse que tomaria providências, mas que

a vitória sobre as sombras e a vinda deles ali para contar essa história deveria ser

comemorada, no dia seguinte teriam um grande jantar.

Drarin ao sair dos salões, lembrou-se da espada élfica que recuperaram nas ruínas e quis

procurar um artesão para reforjar a arma. Ele passou por Klandirn e Robin em sua busca, e

essa busca demorou algumas horas, mas a única resposta que obteve foi a de que não

conseguiriam reforjar aquela lâmina, não ali. Uma técnica muito antiga e mágica fora utilizada

na época em que fora feita e que, hoje em dia, existem poucas pessoas no mundo que se

lembram de como reproduzi-la.

O dia seguinte foi um dia para descansar e recuperar as forças para o grupo. Todos dormiram

até tarde, já que há muito tempo que não dormiam em uma cama, com travesseiros e lençóis.

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Quando acordaram encontraram suas roupas, armas e armaduras, limpas e reparadas.

Legolas os avisou sobre o banquete e festa em homenagem ao grupo que aconteceria à noite.

Servos do Rei prepararam vestes especiais e, depois de muito tempo, eles passaram um dia

inteiro sem suas armaduras e armas. A noite chegou logo, e com ela a música dos elfos. Mas

dessa vez não eram músicas melancólicas e tristes, mas músicas alegres e contando grandes

vitórias daquele povo contra as forças do Inimigo. Quando chegaram ao salão principal, as

vozes élficas, doces e sábias, entoaram versos que contavam a história do grupo e de como

eles enfrentaram Orcs e Aranhas até chegarem ali. A festa foi magnífica, com muita comida

de bebida. Drarin, em nome da companhia entregou ao Rei o Colar da Casa de Faeldarin e a

Lâmina de Faerel. Thranduil agradeceu muito pela recuperação daqueles artefatos e o anão

perguntou se haveria um jeito de reforjar a espada e se Robin poderia ficar com ela caso

houvesse. Embora, um objeto de passado élfico, o nobre concordou em presenteá-la ao

pequenino, assim que conseguisse reforjá-la, o que ele assegurou que conseguiria, mas que

demoraria um mês, quando, então, os reencontraria no Encontro dos Cinco Exércitos. A

comemoração durou horas e muitas risadas e brindes foram dados em honra de Aerandir,

Drarin, Klandrin e Robin.

Na manhã do dia seguinte, o grupo decidiu que era hora de partir. Apesar dos salões dos elfos

serem um lugar muito confortável e agradável para o corpo e para o espírito, tinham que

completar a missão que começaram. O outono estava quase no fim, e o inverno se aproximava,

eles deveriam partir logo. O caminho até Erebor e Dale não tomaria mais que quatro dias. Dois

dias para saírem da floresta passando pelo Pântano Cumprido e mais dois andando pelo

grande Vale do Rio Corrente, subindo em direção à Montanha Solitária.

O primeiro dia de viajem foi bastante tranquilo e leve, pelo menos até avistarem o Pântano

Cumprido. A parte do trajeto que passaram por esse local, o que fora basicamente todo o

segundo dia, foi uma das piores de toda a viajem. Apesar da floresta ser muito escura e

sombria, o pântano era além de escuro e sombrio, macabro. Entras as sombras, o grupo as

vezes vislumbrava vultos e olhos os observando. Vozes e sussurros pareciam chamá-los para

que deixassem a trilha e se embrenhassem pelas árvores retorcidas e que mergulhassem nas

enormes poças alagadas. Todos sentiam a presença de uma vontade maligna e traiçoeira

naquele lugar e, por isso, prosseguiam o mais rápido que podiam. Ao anoitecer, o grupo parou

para descansar em uma pequena colina elevada. O local estava seco e era o melhor opção

que tinham no momento para sentar e comer algo.

Enquanto os anões e o elfo comiam algo, Robin ficou encarregado de observar o local para

não serem surpreendidos por nenhuma criatura nojenta que ali habitasse. O hobbit contrariado

e com fome teve que ficar no topo de uma árvore observando um pântano fedorento enquanto

sentia o cheiro de comida sendo preparada abaixo. Sorte a dele, e de todos, aliás. Lá de cima

os olhos de Robin conseguiram ver um monstro gigante, que parecia ter sentido o cheiro das

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linguiças sendo fritas, saia debaixo de uma caverna à beira do rio. Ele vinham se esgueirando

abaixado, coberto de plantas e sujeira. Era um troll com certeza. Robin desceu o mais rápido

que pode e jogou terra sobre o fogo para apagá-lo rápido, não tinha tempo de explicar tudo

que estava acontecendo, só disse uma palavra, "Troll!".

Os anões que carregavam a Pedra de Fogo antes começaram a pegar suas coisas e se

preparar para correr, mas Drarin e Klandrin os seguraram. Não correriam, iriam preparar uma

emboscada para o troll. Essa, provavelmente, fora a decisão mais tola que os anões podiam

tomar. Eles deixaram as salsichas contra o vento e se esconderam. Robin em cima de uma

árvore com seu arco, Drarin e Klandrin entre os troncos de uma árvore, e Aerandir, entre os

arbustos.

Quando o troll chegou mais próximo saindo debaixo da água do rio que passava próximo o

grupo viu seu tamanho. Era um criatura gigante, de mais de três metros de altura e dois de

largura, carregando um tronco de madeira. Sua pele era cinzenta, áspera e cheia de verrugas

e bolhas. Era uma das criaturas mais horrendas que haviam visto. Assim que se aproximou,

Robin disparou uma flecha que apesar de ter sido certeira foi detida pela pele duríssima do

troll. O monstro então, percebeu de onde tinha vindo o dispara e correu em direção da árvore.

Nesse instante os anões saíram de seu esconderijo e atacaram o monstro com seus

machados, o ferindo nas pernas. Aerandir, atirou na criatura, mas sua flecha passou por cima

dele quando o troll se abaixou para tentar acertar os anões.

A criatura estava cercada por oponentes e confusa, mas extremamente irritada também.

Balançou seus braços e o troco que segurava furiosamente e acertou em cheio Klandrin, que

a segundos atrás o ferira gravemente. O anão saltou quase três metros para trás, até bater no

tronco de uma árvore. Um simples golpe do troll quase o fez desmaiar. Começaram a duvidar

se tinham feito a escolha certa em enfrentá-lo.

A luta continuou, com os anões e o hobbit enfrentando o troll de perto enquanto Aerandir ficou

atrás, mirando seu arco para abater a criatura de uma vez. Mas parecia que o monstro não

cairia, vários ferimentos ele já havia sofrido, e o sangue negro jorrava desses cortes e de sua

boca. Porém o monstro acertou outro golpe fortíssimo em Klandrin que dessa vez foi salvo da

morte por seu elmo. Cuspindo sangue o anão voltou para a luta, outra decisão que quase o

matou. Momentos antes de bater no anão com o tronco quando ele estava caído, matando-o

de vez, Aerandir acertou uma flecha dentro da boca da criatura, que, então, deu um urro

sinistro antes de cambalear e cair, morta, de cara na lama do pântano.

Todos sobreviveram, mas Klandrin estava muito ferido. A companhia decidiu que era melhor

continuar a viajem pela noite. Não era segura ficar naquele pântano, principalmente depois do

barulho que fizeram lutando com o troll. Faltava pouco, em breve estariam no Vale do Rio

Corrente, no domínio dos bardings.

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A viajem depois desse incidente, foi calma e leve, deixando as sombras da floresta e do

pântano para trás, o grupo viu os campos do vale a sua frente, alaranjados pelo outono, com

uma leve neblina no horizonte. Em pouco tempo chegaram a Dale, e foram recebidos de forma

calorosa pelos anões da cidade. Pediam notícias das terra ao longe, mas eles não puderam

dizer muita coisa, tinham pressa, queria ver Dáin Ironfoot, o Rei Sobre a Montanha. E assim,

no final do quarto dia de viajem desde que saíram do Reino da Floresta chegaram a Erebor.

Os anões de lá, quando viram irmãos feridos, sujos, e que obviamente estavam na estrada a

muitos meses, logo vieram ajudar e perguntar o que acontecera. Quando o grupo informou

que traziam a Pedra de Fogo, eles rapidamente foram levados a presença do Rei Dáin, que

os recebeu como heróis. Ele sabia da missão deles, os corvos amigos do anões tinham lhe

avisado. Mas, mesmo assim, fez questão de ouvir todo o relato do grupo sobre sua jornada.

Dáin ofereceu aos heróis, pois era assim que os chamava, ouro como recompensa e uma

estadia na morada dos anões por quanto tempo precisassem. "Finalmente a Pedra de Fogo

chegou a Erebor. Ela trará luz para os filhos de Dúrin e aos homens de Dale!". No dia seguinte

os anões da Montanha Solitária fizeram uma grande celebração junto aos homens de Dale, e

a Pedra de Fogo fora colocada na entrada do Reino Sobre a Montanha, para que iluminasse

o coração de todos que passassem por ali.

O Encontro dos Cinco Exércitos aconteceria em poucas semanas. Enviados de todos os povos

livres daquelas terras se reuniriam para uma grande celebração e para discutir assuntos

importantes a todos eles. A história de como a Pedra de Fogo chegou a Erebor como presente

ao Rei Sobre a Montanha terminou aqui, mas muitas outras ainda serão contadas.

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Crônicas da Terceira Era

Ruinas Sombrias

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Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte I Já era inverno nas Terras Ermas. A neve caia levemente em Dale, e a festa do Encontro dos

Cinco Exércitos começaria em apenas alguns dias. Muitos preparativos foram feitos, e a cidade

estava pronta para receber visitantes de todos os Povos Livres do Norte. Balões, Placas, e

diversos adereços estavam para todos os lados mostrando imagens da vitória dos homens,

elfos e anões contra os goblins, orcs e wargs.

Enquanto descansavam, Aerandir, Robin, Drarin e Klandrin, aproveitaram para se inteirar mais

sobre os acontecimentos daquela região. Devido ao grande feito, a entrega da Pedra de Fogo

a Dáin, a companhia caiu nas graças do povo de Dúrin e principalmente de Balin, um dos

anões da companhia de Thorin, que tinha gosto por aventuras e sabia reconhecer a bravura

do grupo. Além disso, Robin conheceu uma mulher humana, que parecia conhecer muitas

coisas sobre a região, ervas e outras habilidades úteis para aventureiros. O nome dela era

Elmara, uma Barding um tanto curiosa e misteriosa. Em pouco tempo ela fez amizade com o

hobbit e aos poucos tornou-se uma presença constante entre o grupo.

O dia da festa chegou logo. A neve deu uma trégua a Dale e a temperatura estava agradável

para o inverno. As ruas estavam cheias de visitantes. Elfos de Mirkwood, que não costumam

deixar seu reino podiam ser vistos em todos os lugares. Homens do Norte, sejam Bardings,

Beornings, Woodmen eram maioria sem dúvida, mas até poucos hobbits compareceram à

festa. Os vizinhos anões também estavam presentes é claro, em grande número. Dáin, o Rei

Sobre a Montanha, comparecera com uma grande comitiva, e o amigo Balin estava junto.

Além da festa, aconteceria também um grande conselho com os líderes dos Povos Livres do

Norte para que discutissem questões importantes para todos eles. Smaug tinha sido morto, os

orcs e goblins derrotados e os wargs tiveram seus números reduzidos, mas todos deviam

manter a atenção para que nada perturbasse a paz que conseguiram a cinco anos. Boatos

ainda diziam que um mago também iria participar do conselho, e, é claro, o boato sobre a vinda

de magos deixa qualquer cidade muito agitada. O grupo, quando ficou sabendo disso tudo,

logo procuraram Balin para saber se podiam comparecer ou se ele contaria o que ocorrera por

lá.

O anão estava em uma das tavernas de Dale, chamada "A Flecha Negra" em homenagem ao

Rei Bard, bebendo uma grande caneca de cerveja de Erebor em uma mão e com uma enorme

coxa de peru na outra. Robin, que era o melhor com as palavras e em conseguir convencer as

pessoas, graças a grande empatia dos hobbits, foi o escolhido para ir falar com Balin. O anão,

apesar de cauteloso, acabou prometendo que revelaria o que pudesse ao grupo, mesmo os

assuntos sendo secretos, ele sabia que a companhia era de heróis e que poderia ser grande

ajuda mantê-la informada do que acontece. Pouco tempo depois da conversa, um outro anão,

de barba ruiva, entrou pela porta da taverna e falou algo perto dos ouvidos de Balin, que se

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levantou e pediu licença para todos, compromisso o aguardava. O grupo entendeu logo do que

se tratava.

Drarin e Klandrin decidiram que esperariam notícias de Balin e permaneceram por ali se

divertindo, bebendo e comendo, pelo menos por enquanto. Aerandir soube que haviam

competições de arco e flecha e resolveu observas as competições, principalmente porque

soube que um elfo de Mirkwood e um arqueiro de Dale estavam em uma disputa particular.

Porém, Robin e Elmara, não conseguiram conter a curiosidade e foram conferir de perto a

reunião, quer dizer, o mais perto que conseguissem.

O conselho aconteceria nos Salões do Rei Bard, uma grande construção no centro de Dale,

onde em frente fora feita uma estátua mostrando o memento em que Bard atirou a flecha negra

certeira no peito de Smaug. Ao chegarem lá, apesar de separados, o hobbit e a barding viram

os líderes chegando e sendo anunciados um a um. Primeiro Dáin de Erebor; depois Thranduil

do Reino da Floresta; depois Beondor, representando os Beornings; e Denilith, uma mulher

dos homens da floresta. Bard, é claro, já se encontravam em seu palácio. Mas a chegada de

mais dois convidados foi a que gerou mais falatório e agitação. Sim, dois. Dois magos, homens

idosos mas vigorosos, um vestindo um manto cinza e batido, com um grande chapéu pontudo

azul e outro com uma rica túnica branca, ambos com barbas cumprida. Eram Gandalf, o cinza,

e Saruman, o branco. Eles iriam participar da reunião e ajudar os líderes daquele local no que

quer que precisassem.

Elmara rapidamente procurou um lugar para que pudesse se esconder e ao mesmo tempo

observar a reunião. Não conseguiria entrar nos Salões do Rei, mas encontrou uma janela, no

fundo da construção, de onde podia ver o que acontecia. Ela subiu em uma árvore alta e atrás

das folhas conseguiu ficar sem ser vista. Enquanto isso, Robin, o hobbit sorrateiro como só os

hobbits conseguem ser quando curiosos, encontrou a mesma janela, e atrás de uns barris e

entre as sombras assistiu tudo o que ocorreu naquela noite. E que noite foi aquela.

Tudo começou calmo, com cada um dos participantes se apresentando formalmente, como é

de costume com pessoas tão importantes. Não estavam presentes apenas os líderes de cada

povo e os dois magos. Cada povo tinha, além do líder, uma pequena comitiva. Os assuntos

começaram calmos, com cada uma descrevendo o que fizerem nos cinco anos desde a morte

do Dragão e como prosperaram. Porém, aos poucos, os líderes começaram a expor os

problemas que afetavam seus reinos. E como também é de costume entre pessoas

importantes, cada um achava que seu problema era mais grave que o dos outros e precisava

ser resolvido antes. Isso gerou discussões calorosas entre os participantes, principalmente

entre os anões e os elfos da floresta. Se não fossem por Gandalf e Saruman, talvez eles

acabassem se lembrando das razões que os fizeram ficar separados por tantos anos antes da

aliança contra Smaug e antigas mágoas seriam relembradas. Isso tudo demorou horas e

horas, a festa na cidade ia acabando, as fogueira se apagando, a música diminuindo, mas a

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reunião continuava. Era quase de manhã quando ela terminou e os líderes dos Povos Livres

do Norte começaram a sair. Mas antes disso, todos assinaram um documento que dizia que

os povos daquela região se comprometiam a ajudar uns aos outros sempre que precisassem,

não importasse o que acontecesse.

Os primeiros as saírem foram os Beornings, tinham vindo de muito longe, e o caminho de volta

no inverno seria pior ainda. Além disso, não gostaram das discussões inúteis, tinham vindo

esperando resolver problemas importantes. Em seguida foram os homens da floresta junto

com os elfos, ambos habitantes de Mirkwood e com problemas semelhantes. Os anões de

Erebor saíram por último, pois passaram alguns minutos discutindo assuntos em comum com

o Rei Bard e os magos, mas logo foram embora também. Quando Thranduil, o Rei Elfo, saiu

dos salões, Robin foi a seu encontro perguntar como estava e o que aconteceu. O nobre

lembrou logo que ele era e falou que estava mesmo o procurando, queria entregar a Lâmina

de Faerel para o hobbit, como prometera há um mês atrás. Além disso, disse que não havia

motivo para que o pequenino se preocupasse pois as Terras Ermas estavam mais seguras do

que estiveram em muitos e muitos anos. Elmara, diferentemente, quis esperar a saída de

Gandalf, o cinza, para lhe perguntar algumas coisas. O sábio foi o último a se retirar dos

aposentos de Bard, quando as ruas já estavam vazias e ele ia em direção ao lugar que marcara

de encontrar Saruman, a misteriosa Barding saiu das sombras e abordou o mago. Este logo

percebeu algo estranho na moça, ela não era uma Barding, e sim uma Dúnedain, descendente

dos grandes homens do oeste. Questionado sobre o que ela deveria fazer para encontrar o

que procurava, os artefatos negros de Angmar, Gandalf apenas respondeu: "Às vezes, apenas

encontramos o que queremos quando paramos de procurar". Disse ainda que o que procurava

ere muito perigoso e sombrio, e que não deveria revelar sua missão para qualquer um, pois o

Inimigo tem olhos e ouvidos que alcançam grandes distâncias. Ele sabia que Elmara buscava

aqueles artefatos para destruí-los e não para utilizá-los. Por fim, questionado sobre se ela

deveria seguir em companhia de Drarin, Klandrin, Robin e Aerandir, o mago sorriu e apenas

disse: "Amigos podem ser armas poderosas contra a escuridão, e o caminho deles pode ser

aquele que tenta chegar". Essas foram as últimas palavras do andarilho cinza antes de pedir

licença e partir, ele tinha outros compromisso e estava atrasado para eles.

Era o fim de uma das mais grandiosas festas que se tem registro até hoje naquela região.

Todos voltaram para suas casas ou procuraram abrigo para passar noite. A companhia voltou

para Erebor para descansar de uma noite agitada, embora Klandrin já estivesse dormindo na

mesa do bar há algumas horas. Mais algumas semanas era ano novo, Yule como era chamado

naquela época. Uma outra festa se aproximava para alegrar os corações no inverno frio e

escuro.

As semanas foram passando, cada vez mais frias e escuras. O céu, quase sempre encoberto

de nuvens, parecia indicar algo sombrio no ar. A festa de Yule aconteceu sem muitos

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acontecimentos, um festa com bastante comida e bebida como de costume, mas sem grandes

aparições como o Encontro dos Cinco Exércitos. O grupo aproveitou a ocasião para conversar

com Balin sobre o que aconteceu no encontro e quais são os planos de Erebor para esse ano

que começava. Balin, já um pouco embriagado de tantos barris de cerveja falou sobre o plano

de expandir as fronteiras dos reinos de Erebor e Dale. Os dois reis combinaram que se

ajudariam na busca e retomada de antigos vilarejos e postos avançados que há muito tempo

faziam parte de seus domínios e que ele, Balin, fazia parte de um grupo que estava

coordenando as atividades. Os heróis se prontificaram a ajudar e fazer o possível para

investigar os locais escolhidos e o anão agradeceu, disse que já pensava no grupo e em

maneiras que eles podiam ajudar, mas pediu para que esperassem e não ficassem ansiosos,

o inverno era duro demais para se viajar, mas que assim que pudesse daria mais informações

a eles. Ninguém conseguiu arrancar mais informações dele durante aquela noite e assim, mais

um ano começava.

Era, então, o ano de 2947 da Terceira Era, o inverno estava rigoroso, mas a vontade e

ansiedade da companhia crescia a cada dia. Após algumas semanas tentando conseguir falar

com Balin, que agora estava cada vez mais ocupado com reuniões em Erebor e Dale, os

aventureiros decidiram investigar uma região que antes existiam cidades de anões por conta

própria, iriam para o norte, para as Montanhas Cinzentas. Seria uma viajem dura, longa e,

certamente, perigosa. Balin falou que essa viajem era muito perigosa, e que talvez fosse

melhor esperar um pouco mais, até a primavera chegar, mas a companhia estava avida por

aventuras, e partiu mesmo assim, na metade do primeiro mês do ano.

Mochilas preparadas e recheadas com mantimentos que Robin conseguiu comprar com um

grande desconto de Furbin, um anão açougueiro; capas, agasalhos e armaduras vestidas para

se protegerem do frio e flechas; armas afiadas e ao alcance das mãos para qualquer imprevisto

e lá foram eles, partindo do portão da frente da Montanha solitário, rumo a oeste, em direção

à Floresta de Mirkwood, para, em seguida, seguir sempre para o norte, em direção à grande

cadeia de montanhas.

A travessia até a margem da Floresta de Mirkwood demorou três dias muito cansativos, pois

apenas parou de nevar no terceiro dia de manhã. Andar sobre a neve não é fácil, ainda mais

com mochilas cheias, roupas pesadas de inverno e um vento que parecia cortar a pele exposta

como adagas afiadas. Elmara aproveitou a oportunidade para revelar ao resto do grupo sua

verdadeira identidade, a de uma Dúnedain que foi encarregada de procurar artefatos que

pertenciam ao Rei-Bruxo de Angmar e destruí-los. Quando, finalmente, se encontravam sobre

as grandes árvores já estavam cansados e abatidos, precisavam encontrar um lugar para

passar a noite e se aquecer. Elmara, que agora fazia parte do grupo, com ajuda de Robin,

encontrou uma caverna perto do leito de um pequeno riacho. Plantas cobriam a entrada da

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caverna, que se abria como uma boca bocejando debaixo de uma árvore gigantesca com

raízes grossas como o tronco de um cervo.

Se aproximando, os heróis encontraram vestígios que indicavam a passagem de alguma

criatura por ali há alguns dias, mas, no momento, aquele era o único lugar que os protegiam

suficientemente do frio e do vento. Adentrariam aquele local para passar a noite, mas o que

será que encontrariam? Que criatura fora aquela que passou por ali?

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Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte II Lá estavam Aerandir, o elfo da floresta; Drarin e Klandrin, anões da Erebor, Robin, um hobbit

do Condado, e Elmara, uma Dúnedain, em frente a boca daquela caverna sombria. A escuridão

dentro dela era quase palpável e o grupo tratou logo de acender umas lanternas para que

pudessem enxergar por onde andavam. Não queriam tropeçar nas pedras e cair nas águas do

pequeno riacho que corria por ali enquanto adentravam aquele lugar.

Assim que a luz iluminou a caverna e o caminho a frente deles, eles viram que um corredor

longo se esticava para dentre da escuridão. A caverna parecia de rocha natural e o chão era

irregular com um fio de água que descia até o riacho na entrada. A companhia foi seguindo o

caminho e procurando por sinais da criatura que passara por ali. Não demorou muito até que

Elmara encontrasse pistas no local.

Em alguns pontos, pelo chão e pelas paredes de pedras, gotas de sangue podiam ser vistas.

Sangue seco e já escurecido, isso até Drarin viu. Mas outros detalhes apenas a Dúnedain

percebera. Atrás de algumas pedras ela achou resto de carne de elfos mastigada e cortada

junto a uma faca dentada de lâmina negra, uma arma típica de goblins e orcs. Seguindo mais

ao fundo da caverna, a passagem começou a tomar uma inclinação para baixo, até se abrir

em um pequeno aposento largo onde o teto chegava a ter quatro metros. Rastros indicavam a

passagem de orcs por ali a quatro dias atrás. No cão, restos de fogueira e objetos espalhados.

Objetos esses muito antigos e de fabricação que definitivamente não era de orcs.

Eram cálices, caixas ornamentadas, braceletes com runas e diversos outros objetos. A maioria

Aerandir conseguiu afirmas que eram de fabricação dos elfos, muito antigos, de quando uma

grande quantidade de Sindarins viviam naquela floresta, alguns outros provavelmente eram de

ruínas do antigo Reino de Dale, o que Smaug, o dragão, destruiu. Ao examinar mais

profundamente o fundo da caverna Elmara viu escondido atrás de pedras na parece sul

algumas joias élficas que brilhavam como a luz da lua. Por que será que orcs e goblins estavam

guardando aqueles itens? A dúnedain tinha algumas suspeitas.

A noite já estava avançada, e o cansaço do grupo voltou a incomodá-los. A caverna os protegia

do frio da floresta, mas as paredes de pedra eram tão geladas como uma prisão de gelo. Uma

fogueira seria muito bem-vinda, mas precisavam de um pouco de lenha e gravetos. Robin e

Drarin decidiram que iriam procurar um pouco para que pudessem ter uma noite mais

confortável. Por sorte o anão encontrou uma pequena colina ali perto onde encontraram muitos

gravetos secos e pedaços de madeira que podia utilizar como lenha.

Foi nesse momento, enquanto coletavam lenha, que ouviram o barulho de um grupo de

criaturas se aproximando, seus passos ecoando entre as pedras e folhagem pelo chão, alguns

grunhiam como animais. Entre as árvores e a névoa que permeava Mirkwood, Drarin e Robin

viram que aquelas criaturas eram Orcs. Ouviram elas falando enquanto se aproximavam: "Não

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conseguimos encontrar nada! Ele não ficará nada satisfeito...", "Temos que continuar

procurando, não podemos voltar de mãos vazias". Então um deles parou, fungou um pouco se

estivesse farejando algo e disse: "Cheiro de carne fresca, anões, humanos e elfos eu acho".

Nesse momento o anão e o hobbit perceberam que precisariam correr dali. Robin foi o primeiro

a partir, sorrateiramente até a caverna. Drarin foi atrás, mas deixou cair um pouco da lenha

que carregava fazendo barulho que chamou a atenção das criaturas. "Ali, ali! Um anão! Vamos

comê-lo!". E logo vieram os orcs atrás deles.

Robin foi o primeiro a chegar no interior da caverna e alertar ao resto do grupo que orcs

estavam vindo. Todos levantaram, surpresos, e pegaram suas armas. Em seguida chegou

Drarin, correndo ofegante, pegou seu machado e seu escudo e se preparou. Em pouco tempo

ouviram o barulho dos monstros chegando, gritando, berrando e grunhindo. "Ah, a comida hoje

será a melhor desde que chegamos, estava cansado de comer só elfos" o maior deles disse.

Ele vestia uma armadura de placas de metal negro com espinhos e usava pinturas sobre a

face e o peito. Os orcs pararam por um momento no início da caverna, mas logo vieram para

cima do grupo, empunhando machados e espadas curvadas de lâmina negra, grunhindo e

gritando, loucos para provar a carne dos heróis.

O líder vinha a frente, empunhando uma grande espada dentada e um escudo de metal negro.

Atrás vinham mais quatro goblins, correndo, curvados, alguns carregando machados de duas

mãos, outros espadas e escudos. Atrás, três orcs arqueiros preparavam suas armas para

atacar o grupo. Aerandir atirou uma flecha contra os inimigos que vinham em carga para cima

deles, mas o líder conseguiu se defender com seu grande escudo. Logo o combate começou,

com as criaturas atacando como selvagens e os heróis se defendendo e aproveitando os erros

que aquele selvageria fazia os inimigos cometerem.

Drarin e Klandrin estavam acostumados a enfrentar esses monstros e logo derrotaram seus

oponentes, indo ajudar os companheiros. Robin, fora atingido duas vezes, o goblin que o

atacava estava voraz e com um fome terrível. Seu machado atingiu o hobbit e quase o fez cair.

Klandrin conseguiu aparar um outro golpe contra Robin e revidar o ataque, derrubando o goblin

que já fora ferido na perna pelo hobbit. Enquanto isso, Elmara lutava contra o líder dos Orcs e

outro goblin. A luta estava dura, e parecia que o monstro não desistiria nunca, mesmo com os

outros sendo derrotados. Os arqueiros, após trocarem disparos contra o grupo, viram que

metade de suas força já tinha sido derrotada e resolveram que era hora de partir.

Enquanto Drarin, Klandrin e Elmara ficavam para terminar de lutar contra o grande orc e o

goblin que ficaram, Robin e Aerandir foram atrás daqueles que fugiram. Eles começaram a

correr atrás dos goblins quando viram que eles se separaram. Um fora em na direção sudoeste,

outro para oeste e outro para o norte. Robin, correndo para alcançá-los com suas pernas curtas

de hobbits escorregou e uma pedra coberta de gelo e caiu nas águas geladas do pequeno

riacho que corria na frente da caverna. O elfo seguiu aquele que fora para oeste e o avistou

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correndo entre as árvores. Parou, puxou seu arco, mirou e uma flecha certeira acertou a nuca

da criatura que caiu no chão com um baque. Olhando ao redor, não via mais nenhum sinal dos

outros dois.

Quando voltaram para a caverna, os dois encontraram os dois anões e a dúnedain examinando

os corpos daquelas criaturas. Pareciam orcs comuns, mas estavam muito distantes das

regiões que normalmente habitam. Estavam no nordeste da floresta de Mirkwood, território do

Reino da Floresta, do Rei Thranduil. O líder, chamou a atenção dos heróis, quando foram

examiná-lo, viram que ele ainda estava respirando. Elmara perguntou o que estavam fazendo

lá e o que procuravam, ele apenas respondeu "procurávamos carne fresca e encontramos

vocês. Vocês em breve virarão comida de orcs". Então Drarin, pegou seu machado e deu um

último golpe no peito do monstro, ele não queria conversar com aquelas criaturas das trevas.

O face e o escudo daquele orc estavam pintados com símbolos antigos, que Aerandir

conseguiu identificar como de feitiçaria negra, que não era igual à que os elfos praticavam, era

uma magia antiga e sombria, maléfica. Foi então que as suspeitas de Elmara se intensificaram.

Era hora de falar.

Ela começou, então, a contar um pouco mais de sua história. Sobre a guerra que seu povo

teve a quase mil e quinhentos anos atrás como o Reino de Angmar e como eles sobreviveram

defendendo as terras do leste das trevas mesmo tendo perdido os Reinos de Arnor. Contou

ainda que nessa guerra, um feiticeiro de Angmar, um Númenoriano Negro, criou com ajuda do

Rei Bruxo, três artefatos mágicos com feitiçaria das trevas, capazes de grande mal. Porém, no

final do conflito, quando o Reino de Angmar foi destruído, esse feiticeiro fugiu com essas

relíquias e mandou seus servos escondê-las. Seu povo, então, caçou os remanescentes

daquele reino onde quer que eles fossem, mas jamais acharam os artefatos. A busca

continuava até aqueles dias, e ela, Elmara, estava em Dale porque os dúnedain acreditavam

que um dos itens estaria naquela região. Agora, com aqueles grupo de orcs tão longe de seus

esconderijos procurando objetos antigos, ela achava que estava perto de descobrir algo.

Queria achar o rastro daqueles que fugiram. Ela acreditava que eles podiam levá-la ao

encontro de algo.

Mas naquela escuridão, com o cansaço que estavam e com Robin ferido, sair atrás deles,

naquele momento, não parecia muito sensato e optaram por descansar até que o sol nascesse

e tivessem recuperado um pouco de suas forças. Eles acenderam a fogueira para se manter

aquecidos no frio da noite e para que Robin se secasse. O grupo fez um revezamento de vigília

para que todos pudessem dormir um pouco, mas Elmara passou a noite cuidando do hobbit

na tentativa que ele se recuperasse mais rápido.

O dia seguinte chegou rápido. Do fundo da caverna, podiam ver o brilho pálido do sol entre a

neblina que começa a adentrar a entrada do local. O frio da manhã era um pouco aliviado pela

sensação que a luz trazia para o coração do grupo. Ao saírem da caverna e se acostumarem

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com a claridade do lado de fora, eles viram um pássaro no alto de um galho de árvore. Ele era

grande, de plumagem marrom escura e com um bico comprido. A sensação que tiveram era

que ele os estava observando. Elmara não gostou nada da sensação e sacou se arco de forma

ameaçadora. A ave, então, levantou voo e sumiu entre as árvores e a neblina na floresta.

Talvez veriam a ave novamente no futuro, talvez não.

Procuraram, então, sinais da trilha que as criaturas deixaram. Não era uma coisa fácil de se

achar, já que voltara a nevar levemente. Depois de quase uma hora, eles acharam o rastro de

uma das criaturas, a que seguiu para o sul da floresta. Percorreram então o caminho que o orc

tomou, cada vez mais ao sul e durante meio dia andaram quase sem parar, até que chegaram

às margens do rio da floresta. Enquanto procuravam por um lugar onde pudessem atravessar

o rio e procuravam sinais da passagem da criatura por ele, eles pararam para comer um pouco.

A neblina parecia não se dissipar por nada, como se uma magia a mantivesse em todos os

lugares. O outro lado da floresta era mais escuro e com árvores mais escuras e de aparência

quase assustadora.

Um tempo depois eles encontraram sinais da passagem de alguma criatura do outro lado e

uma passagem do rio em que podia pular entre as pedras para chegar ao outro lado. Já era

metade da tarde quando chegaram ao outro lado do rio, na parta da floresta que o brilho pálido

do sol, que em pouco tempo desapareceria atrás das montanhas do oeste, mal penetrava. A

trilha que acharam continuava para o sul, cada vez mais para o interior da floresta. Depois de

algum tempo não conseguiam mais enxergar sem o auxílio de tochas ou lanternas, isso os fez

parar por um momento para acendê-las e continuar a busca.

Andaram por pouco mais de duas horas até que a luz da lanterna possibilitou que eles vissem

a sombra de uma criatura humanoide que parecia ser um dos goblins que procuravam. Robin

e Elmara falaram para que os outros esperassem, eles iriam observar o que a criatura estava

fazendo e chamariam por eles se precisassem.

Os dois avançaram sorrateiramente em direção à sombra, em um silêncio quase absoluto.

Passaram pela última árvore que bloqueava a visão deles e viram a criatura. Lá estava ela,

um goblin de pela acinzentada, nariz comprido e presas na boca, preso em uma enorme teia

grossa de aranha, inchado com o veneno paralisante daqueles aracnídeos. O hobbit a mulher

viram iriam embora dali o mais rápido que conseguissem, mas viram que caíram em uma

armadilha. As teias das aranhas de Mirkwood são quase transparentes e muito difíceis de

enxergar. Eles não perceberam, mas quanto mais adentraram aquela parte da floresta, mais

foram se envolvendo nelas. Agora que queria embora, sentiram que algo os prendiam ali e que

estavam no meio de uma grande armadilha. O que fariam agora?

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Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte III Algo pegajoso, resistente e quase invisível os prendia. Eram as teias tecidas pelas aranhas

gigantes de Mirkwood. Elmara, a dúnedan, e Robin, o hobbit, estavam envolvidos por elas. A

sua frente, o pouco que conseguiam ver não era muito animador. A direita, pendurando em

uma árvore estava o goblin que seguiam, preso, inchado e com os olhos virados. Um ferimento

em seu torço indicava que ele, provavelmente, fora ferido pelo ferrão de uma aranha. A sua

frente eles podiam ver o início de uma clareira, as árvores ao redor dela eram muito altas e

estavam todas cobertas com o que pareciam ser um emaranhado de teias. No chão, uma

aranha jazia imóvel, com as patas para cima, parecia morta. Ao seu redor, pelo chão, marcas

de uma luta que ocorrera a pouco tempo. O sangue da aranha podia ser visto ao seu redor e

em alguns pontos um sangue negro, como o dos goblins dava a entender que uma batalha

ocorreu ali. Esse sangue formava um rastro que atravessava a clareira até o seu outro extremo.

Não sabiam quantas aranhas estariam por ali, sabiam apenas que precisavam sair de lá o

mais rápido que conseguissem.

Robin esticou o braço e pegou logo sua espada. Elmara quis acender uma tocha para queimar

as teias ao seu redor e procurou sua pederneira. A patrulheira aproveitou para usar as faíscas

que gerava como uma tentativa de sinal para o resto do grupo que aguardava os dois, mais

atrás. Os dois só perceberam, tarde demais, que quanto mais se moviam, mais a prisão ao

seu redor vibrava. Se alguma aranha estivesse por ali, já sabia que tinha visitas. E estava, ou

melhor, estavam. Em pouco tempo, diversos aglomerados de olhos brilhantes podiam ser

vistos na copa das árvores.

Nesse momento, a tensão aumentou entre os heróis. Elmara chamou por seus companheiros

enquanto tentava se soltar. Robin já estava cortando os fios que o prendiam, não queria ficar

ali esperando que aqueles monstro chegassem até eles. Enquanto isso, as criaturas se

aproximavam cada vez mais, sentiam, agora, o cheiro de carne fresca. Drarin, Klandrin e

Aerandir foram ao encontro da dúnedan e do hobbit, tentando libertá-los o mais rápido que

conseguissem.

Das sombras, então, veio uma voz aguda e maligna: "Ah, temos visitas para o jantar. Não

vamos ter que comer apenas carne de goblins!". Duas aranhas saltaram do alto e atacaram

Elmara e Robin quando eles tinham acabado de se soltar. Por sorte os aracnídeos não

conseguiram prendê-los nas teias novamente. Ao mesmo tempo, mais quatro dessas criaturas

chegaram e avançaram sobre o resto do grupo pelos flancos. Os monstros tentavam envolver

os aventureiros em teias para depois atacá-los com seus ferrões envenenados. Aerandir tinha

ficado para trás para flechá-los mas foi surpreendido por uma aranha que saltou por cima de

seus companheiros para atacá-lo. O elfo, pego de surpresa foi preso pelas teias.

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Enquanto isso, o resto do grupo lutava ferozmente com aquelas criaturas. Klandrin, conseguiu

se esquivar do ataque daquela que o atacava e com apenas um golpe decapitou-a. Agora, iria

ajudar o companheiro elfo. Elmara se defendia com o escudo enquanto queimava todo o

emaranhando de teias ao seu redor para não correr riscos. Drarin lutava com duas aranhas ao

mesmo tempo, as criaturas se movimentavam ao seu redor tentando pegá-lo desprevenido,

mas o anão estava atento e conseguiu ferir gravemente uma das aranhas. O barulho de metal

se chocando contra a carapaça dura daquelas criaturas ecoava pela clareira.

A batalha não durou muito, mas Aerandir foi perfurado pelo ferrão envenenado de uma das

aranhas, que logo depois foi morta com uma machadada no tronco. Em pouco tempo o elfo já

se sentia tonto e incapaz de se mover. Os outros membros da companhia lutaram bravamente

contra seus oponentes, lado a lado e juntos derrubaram aquelas criatura, com exceção de

uma, que fugiu pulando para a copa de uma árvore próxima. Podiam ouvi-la gritando com uma

voz estridente "Irmãs! Irmãs! Elfos, anões, homens e uma criatura nojenta invadiu nossa

morada! Venham, venham rápido!".

Os heróis se recompuseram como podiam, decidindo se tentavam atravessar a clareira ou

voltavam pelo caminho que vieram. Quando, depois de hesitarem por algum tempo, ouviram

o barulho de muitas criaturas se movimentando a frente deles, viram centenas de olhos

brilhantes e avermelhados começando a aparecer entre o emaranhado de teias e árvores, e

ouviram uma voz suave, sedutora e ao mesmo tempo terrível, que fazia suas espinhas

tremerem, sussurrando em seus ouvidos: "Quem são vocês que se atreveram a perturbar

nosso morada? Agora ficaram aqui para sempre.". Nesse momento, só pensaram em correr.

Klandrin botou sobre seus ombros o elfo caído e se afastava o mais rápido que conseguia. Os

anões são famosos por sua força e resistência, mas carregar um elfo nos ombros não era fácil.

Robin, correu logo e em pouco tempo já estava distante dos outros, hobbits quando em perigo

são muito rápidos. Elmara ia logo atrás, junto com Drarin. Foi então que duas aranhas gigantes

desceram a frente deles. Estavam, agora, separados do resto do grupo.

Os dois trocaram golpes com as aranhas, mas estavam ficando para trás, em breve outras

chegariam. Klandrin pediu para que Robin cuidasse de Aerandir e foi socorrê-los. O esforço

conjunto dos três parecia ser suficiente para matar aquelas criaturas. A luta foi rápida e logo

eles estavam em fuga novamente. Mas a sorte não estava do lado dos heróis, e Klandrin,

correndo desesperado, no escuro, escorregou em uma pedra congelada, e caiu. Ele rolou

colina abaixo, pois o lugar onde estavam era elevado e um colina se formava ao lado do leito

de um riacho.

Era praticamente impossível enxergar naquela escuridão, mas todos escutaram o barulho de

algo caindo e rolando ladeira abaixo, combinado com os gemidos e grunhidos do anão. Então,

Drarin parou, tinha que achar seu companheiro, não podia deixá-lo para trás. Klandrin

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chamava por socorro e mediante o som da sua voz, eles os encontraram, e jogaram uma corda

para puxá-lo. Assim que conseguiram trazê-lo para cima novamente, porém, ouviram

novamente aquela voz sinistra: "Vocês são meus, e é comigo que lutarão para sobreviver".

Entre a escuridão e a neblina gelada que permeava toda a floresta surgiu uma aranha

gigantesca, de carapaça escura, cheia de espinhos e a cabeça de aparência quase humana,

porém deformada, com símbolos de magia proibida escritos sobre a pele. Os olhos da criatura

eram grandes, redondos e negros. Uma fumaça escura como escuridão envolvia o monstro.

Era uma criatura antiga e poderosa, a presença dela instigava o medo no coração deles.

Klandrin e Elmara logo se prepararam para correr, não pretendiam ficar ali testando a sorte

contra o monstro, porém Drarin segurou firme seu machado, preparou seu escudo e ficou

preparado para a investida da grande aranha. Os outros dois heróis, que já estavam se

afastando, decidiram voltar, não deixariam o companheiro se sacrificar por eles, estavam

naquela viajem juntos.

Embora com o coração apertado e angustiado pela influência daquela criatura sombria, os três

se posicionaram para combatê-la. Drarin, porém, foi enfeitiçado pelo olhar escuro da grande

aranha, ele não conseguia atacá-la, como se estivesse confuso e enamorado pelo monstro. A

dúnedan investiu contra ela com sua espada, ferindo-a em uma das patas, mas não conseguiu

impedir que Klandrin fosse envenenado pelo ferrão da criatura enquanto tentava atacá-la pelo

lado. O anão cambaleou um pouco e logo caiu no chão. Enquanto isso, Drarin se defendia

com seu escudo sem conseguir empunhar seu machado contra a aranha, o feitiço da criatura

dominava parte de seu corpo e ele a amaldiçoava por isso. A luta era difícil, cada golpe era

rebatido com um contra golpe do outro lado. Em volta, muitas aranhas observavam aquela

luta, interessadas no resultado.

Depois de alguns minutos, com um dos anões caído, Elmara e Drarin decidiram que talvez

fosse mais sensato fugir daquele monstro. Enquanto a dúnedan distraía a grande aranha, o

anão pegou seu companheiro e correu o mais rápido que conseguia. Elmara logo veio atrás,

gritando para que não parassem. Aquela criatura urrou de raiva, chamando-os de covardes.

Todas as outras, que estavam observando a luta de longe, se agitaram e saíram em busca do

grupo. Agora eles corriam para sobreviver.

Já estavam ficando cansados quando avistaram, colina abaixo uma caverna entre a luz que o

pequeno riacho refletia. Elmara rapidamente falou para que se escondessem lá, e Robin, já

exausto por estar puxando Aerandir, que ainda estava paralisado, foi direto para lá. Drarin, no

entanto, não seguiu o conselho e continuou a correr. Os anões, quando determinados e sobre

pressão são capazes de grandes feitos, e ele conseguiu, mesmo sendo perseguido por

centenas de aranhas chegar até a passagem pelo Rio da Floresta.

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Quando chegou àquele lugar, percebeu que seus perseguidores hesitaram, não chegavam

perto do rio. Ele começou então a atravessá-lo da melhor maneira que conseguia e apenas

ouvia as aranhas amaldiçoando-o e rodeando angustiadas a margem sul. Estava a salvo do

outro lado, podiam descansar. Não conseguindo avistar nenhum lugar evidentemente

protegido, apenas encostou o companheiro em uma árvore, cobriu-o com uma pele e cai

exausto ao seu lado, despertando apenas no dia seguinte.

Na caverna, Elmara, Robin e Aerandir se mantiveram imóveis e silenciosos. Podiam ouvir uma

grande movimentação das aranhas ao redor deles, e foi muito difícil dormir. Sempre

acordavam qual o menor dos barulho, com medo de que fossem descobertos. A dúnedan

passou a noite cuidando do elfo enquanto o hobbit dormiu, exausto.

A manhã seguinte chegou fria, e com uma forte neblina combinada com uma neve vigorosa.

Graças a Elmara, Aerandir já estava se sentindo um pouco melhor, e conseguia falar e mexer

um pouco seus braços, mas ainda precisava de ajudo para andar. Eles e Robin decidiram que

voltariam para o norte, atravessariam o rio e procurariam ajuda. Não tinham certeza de que os

anões haviam sobrevivido e esperavam pelo pior.

Depois de duas horas, eles chegaram às margens do Rio da Floresta. Nenhuma aranha podia

ser vista no local, elas não costumavam sair durante o dia. Porém um som os deixou

esperançosos novamente, a voz de Drarin chamando seus nomes. Eles haviam sobrevivido.

Conversaram rápido sobre o que ocorrera no dia anterior e o anão os levou até Klandrin, que

ainda estava muito mal. Elmara cuidaria dele durante aquele dia, mas precisavam procurar um

lugar para se abrigar do frio. Foi então que viram o pássaro marrom novamente, olhando-os

fixamente.

Elmara, então, falou com a ave usando o idioma dos elfos, o Sindarin, e a ave respondeu. Ela

queria saber quem eram, e o que fazia naquela floresta. Perguntou também o que acontecera,

mas Elmara não respondeu nenhuma pergunta, ela desconfiava da ave. Ela disse, no entanto,

que eram inimigos das sombras, mas o pássaro não parecia muito convencido e voou para

longe, como se houvesse sido chamado por alguém.

Já estava no começo da tarde e não tinham nenhum abrigo do frio. A nevasca se intensificava

e o céu estava encoberto de nuvens escuras. Pouquíssima luz passava entre os galhos das

árvores. Eles precisavam encontrar um local para se abrigar ou a vida de Klandrin correria

risco. Será que conseguiriam achar a caverna que ficaram antes, ou, pelo menos, algum lugar

onde pudessem acender uma fogueira e se esquentarem?

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Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte IV A companhia estava a salvo, do outro lado do Rio da Floresta, longe das criaturas que os

atacaram na noite passada. Aerandir e Klandrin estavam feridos e foram envenenados pelas

aranhas, porém o caso do anão era mais grave, pois o veneno que corria em suas veias era

da Grande Aranha.

Elmara, que tratou de Aerandir na noite anterior, quando estavam na caverna, examinou o

ferimento do anão e percebeu que esse não era igual ao anterior. No lugar onde o ferrão

penetrara, uma grande macha negra se formara. Algo não estava certo. Durante todo o dia,

enquanto andavam em busca de abrigo contra o frio e a neve que caia, a dúnedan utilizou todo

seu conhecimento de ervas e técnicas de cura. Klandrin aos poucos mostrava sinais de

melhora, mas mancha negra parecia estar crescendo como se tentáculos escuros se

estendessem do ferimento em todas as direções.

A jornada era lenta, pois precisavam ajudar Aerandir e Klandrin a andar. A noite chegava e

com ela o frio e a escuridão. Entre a penumbra da floresta os aventureiros viram o contorno

de uma construção em ruínas, parecia um local em que podiam se abrigar do frio e da neve.

Ao se aproximarem, eles puderam ver que não eram os primeiros a chegar ao local. A ave

marrom que encontraram anteriormente estava lá, no alto de uma pilastra em ruínas, como se

os esperasse.

Logo, o pássaro se dirigiu ao grupo, em sindarin, e disse que o anão ferido não sobreviveria

por muito tempo, e que as ervas que aliavam os sintomas do veneno não eram suficientemente

fortes para neutralizá-lo completamente. Disse, ainda, que ele conhecia uma pessoa que podia

curá-lo e que ele os levaria até ela, desde que prometessem ajudá-lo depois. Segundo ele, no

sudoeste da floresta uma antiga linhagem de nobres lobos, amigos dos homens da floresta,

estava sendo atacada por wargs. O senhor desses lobos, Lupus, está sendo caçado e

aparentemente está preso em um vale por forças inimigas.

O grupo ponderou muito as palavras do pássaro, pensando se não deveriam ir até os Salões

do Rei Elfo para que um curandeiro de lá examinasse o anão. Mas será que teriam tempo para

isso? E se ninguém lá soubesse o que fazer para curá-lo? A ave permaneceu lá, enquanto

discutiam o que fazer. Esperava uma resposta.

Por fim, a companhia resolveu que iria com o pássaro até a pessoa que podia curar Klandrin,

mas Aerandir, que já se sentia melhor, iria para o Reino dos Elfos, até se recuperar

completamente, para depois ir encontrar o grupo antes deles partirem para ajudar Lupus.

Perguntado sobre quem era essa pessoa que sabia como curar o ferimento que afligia o anão,

a ave respondeu quer o nome dela era Lenareth, um antigo espírito guardião da floresta.

Aerandir, que ainda não partira, reconheceu o nome como o de uma entidade muito antiga de

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Mirkwood que os elfos acreditavam já ter partido da Terra-Média a muito tempo. Isso deixou a

companhia um tanto abalada e desconfiada, mas não tinham muitas alternativas, a vida de um

deles estava em perigo e talvez apenas Lenareth pudesse ajudá-los. Partiriam pela manhã,

com os primeiros raios de sol.

A noite que passaram nas ruínas foi conturbada, não conseguiam dormir bem e parecia que

quando fechavam os olhos a mancha sobre o ferimento de Klandrin se espalhava cada vez

mais. Mas a manhã não tardou a chegar e com ela a hora de se separarem. Aerandir iria

sozinho para o nordeste da floreste, em direção aos Salões do Rei Elfo, enquanto o resto d

grupo seguiria para oeste, onde, em cinco dias, encontrariam o local em que Lenareth passava

seus dias.

O caminho do elfo era relativamente tranquilo. O inverno não estava sendo generoso, mas a

parte da floresta perto do Reino dos Elfos era mais arejada e o sol parecia brilhar mais forte

por ali. Em um dia e meio de viajem ele já começara a ver moradas do seu povo entre as

árvores. Sentinelas estavam em seus postos e o cumprimentaram quando ele passou. Quando

chegou aos Salões do Rei, uma amiga o viu, e percebeu que ele estava ferido. Ela veio rápido

ao seu encontro e perguntou o que ocorrera, mas ele estava interessado em falar com

Thranduil primeiro, tinha notícias do que acontecia na floresta e logo foi encontrá-lo em seu

aposento.

O Rei recebeu as notícias sobre a atividade das aranhas no sul de seu Reino e sobre a busca

dos orcs por objetos antigos em ruínas com certo espanto e preocupação. Disse que iria

consultar alguns sábios e procurar pelos magos do conselho branco. Algo estrava estranho,

aquelas criaturas não tem utilidade para joias e objetos. Algo ou alguém as estava

comandando, ele tinha medo que pudesse se tratar do retorno do Necromante.

Enquanto isso, Drarin, Klandrin, Robin e Elmara seguiam viajem em busca de Lenareth. O

pássaro marrom ia na frente, guiando-os pelos caminhos no interior da floresta. Quanto mais

se distanciavam do nordeste de Mirkwood mais fechada a floresta se tornava e mais densa a

escuridão podia ser sentida. O caminho deles os levaria por três dias às margens do Rio da

Floresta e mais dois pelo interior do sudoeste da mata. A cada dia a neve se intensificava e o

caminha ia se tornando mais difícil e traiçoeiro. Pedra cobertas de gelo eram escorregadias e

a neve encobria buracos que podiam levá-los para as profundezas da terra.

Durante o segundo dia de viajem, a noite, o grupo acabou se distanciando um pouco da ave

que os guiava e se distanciou um pouco da margem do rio. Eles prosseguiram por um tempo

até que chegaram a uma pequena clareira onde uma grande árvore poda ser vista. Suas raízes

acima da neve, com uma passagem debaixo delas que parecia um pequeno túnel. Robin, que

procurava por sinais do pássaro, estava distraído e esbarrou em uma pequena pedra que

acabou descendo pelo buraco, o barulho da pedra ecoou pela clareira através do túnel. Todos

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ficaram imóveis, parecia que esperavam que algo acontecesse, mas a floresta estava

silenciosa, como sempre. Voltaram então ao seu caminho, mas assim que deram os primeiros

passos puderam ouvir um baralho vindo do fundo daquele buraco. Cliques e Claques, barulho

de centenas de patas que corriam freneticamente. Algo estava subindo pelo túnel, mas eles

não quiseram esperar para ver o que era. Drarin e Klandrin começaram a correr, apenas para

ver que Elmara e Robin já tinham desaparecido entre as árvores.

Debaixo das raízes saiu uma criatura grotesca, com mandíbulas gigantes, um corpo alongado

coberto por um carapaça de cor vermelho escura e centenas de patas. Parecia uma centopeia

gigante distorcida pelas trevas. De sua boca jorrava uma gosma esverdeada e duas antenas

saiam de sua cabeça que não paravam de se movimentar, ela estava procurando por uma

presa. A dúnedan e o hobbit, muito bem escondidos puderam observar a criatura sair de sua

toca e se embrenhar na mata na direção em que os anões tinham corrido. Enquanto isso,

Drarin e Klandrin corriam o mais rápido que conseguiam, o que não era muito já que

carregavam uma pesada mochila, eram anões e havia neve por toda a parte. Ouviram então

o barulho da criatura se aproximando atrás deles. Ou lutavam ou se escondiam, era simples

assim. Klandrin viu um antigo carvalho muito alto que já estava velho e possuía uma grande

concavidade em sua base, ele puxou seu companheiro para dentro da cavidade e arrastou

uma pedra que estava próxima para que ela os cobrisse.

Então, a criatura chegou. Eles podiam vê-la através de uma peque brecha entre a pedra e a

árvore onde se escondiam. Ela parecia que estava sentindo a presença deles, mas não

conseguia saber exatamente onde estavam. Cada segundo que passava, porém, ela parecia

mais próxima de descobrir o esconderijo, foi então que um barulho chamou a atenção do

monstro. Robin tentara sair a procura deles, silenciosamente, mas escorregou em um tronco

de árvore coberto de limo e fez um grande baque ao cair no chão.

A centopeia gigante se virou imediatamente na direção do hobbit. Sua patas se moviam com

uma rapidez impressionante, ela se movia mais rápido do que qualquer um podia acompanhar,

subindo árvores, passando por buracos, quase não conseguiam acompanhar para onde ela

ia. Robin se levantou o mais rápido que pode e viu que a criatura o perseguia, tinha que correr,

e muito.

Hobbits, como sabem, não são muito bons em corrida, mas compensam isso com a grande

sorte que possuem e a habilidade de desaparecer quando realmente querem. E foi graças a

essas qualidades que Robin conseguiu escapar. Quando corria pela sua vida, vendo a cada

segundo a criatura mais e mais próxima, ele viu uma oportunidade. Enquanto corria ela agarrou

uma pedra pelo chão, pulou um velho tronco caído no chão, jogou a pedra mais afrente de

modo a fazer barulho quando se chocasse contra as árvores, mergulhou para dentro do tronco

oco e pediu para sua estrela protetora que o protegesse.

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Qual não foi seu alívio quando viu a centopeia passar direto pelo seu esconderijo e seguir na

direção em que a pedra fora jogada, sem olhar para trás. Ele ainda ficou ali, imóvel, com medo,

por algum tempo, até que seu companheiros começaram a procurar por ele. Quando todos se

reencontraram novamente, viram o pássaro marrom no alto da árvore ao lado deles. Ele então

disse: "Vamos logo, ela voltará em breve, e com raiva".

E eles prosseguiram a viajem até amanhecer, não tiveram coragem de parar. Percorrem, por

toda a noite, um caminho árduo e cansativo, em breve estariam no ponto onde cruzariam o

Rio da Floresta em direção ao sul, a parte mais escura e fechada de Mirkwood. A manhã

estava tão fria como sempre e uma neblina cobria tudo o que viam. A companhia seguia com

cuidado o trajeto ao longo do rio, qualquer paço em falso e mergulhariam em águas geladas

capazes de matar alguém despreparado. Ao norte, porém avistaram a sombra de três

humanoides caminhando lentamente na direção contrária para onde estavam indo.

Robin, sempre curioso, propôs ao grupo que ele fosse lá ver quem eram aqueles. Esperavam

que não fossem mais goblins, mas queriam saber quem eram para, depois, decidir, o que

fariam. O hobbit, então, se esgueirou até eles, silencioso como os hobbits conseguem ser, e

viu que se tratava de três elfos da floresta, vestindo capas verde escuras, portando armas, e

o emblema do Reino da Floresta e discutiam algo em seu idioma, que o aventureiro apenas

entendeu poucas palavras, como lobos e problema. Robin respirou fundo e chamou por eles,

tentando não assustá-los e ser o mais cordial que conseguisse. Para sua surpresa, um dos

elfos o reconheceu. Quinay era seu nome, uma elfa de longos cabelos negros e olhos verdes.

Ele perguntou o que o pequenino estava fazendo naquela região tão inóspita e porque não

estava em Erebor, para onde fora desde a última vez que o viu, nos Salões do Rei Elfo. Robin,

então contou tudo o que ocorreu desde que Klandrin fora ferido. Os elfos disseram que era

perigoso acreditar nas palavras de qualquer ave, pois algumas não tinham tão boas intenções

e podiam servir a outros interesses. Sobre Lenareth eles pouco sabia, disseram apenas que

se tratava de um espírito muito antigo, que provavelmente não mais habitava aquela região.

Levados até o resto da companhia, eles contaram um pouco do que acontecia no oeste. Um

grande grupo de wargs estava atacando vilarejos de homens e colônia de lobos da floresta.

Lupus, o senhor de uma nobre linhagem de lobos tinha desaparecido e eles estavam indo

avisar Thranduil de tudo. Eles tentaram, também, convencer o grupo a retornarem com eles,

disseram que talvez alguém no Reino dos Elfos pudesse ajudar Klandrin com o veneno, mas

a companhia achou melhor continuar o caminho em busca de Lenareth. Quinay antes de partir,

deu ao grupo uma gema redonda, branca com um brilho forte que emanava de seu interior.

Ela disse que se Lenareth, realmente, continuasse a viver naquela região, talvez isso ajudasse

eles a conseguir ajuda dela.

O brilho do sol podia ser visto entre a neblina e a copa das árvores, já estavam quase na

metade do dia, tinham que prosseguir, não tinham muito tempo. Despedidas foram feitas, e os

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patrulheiros da floresta lhes desejaram boa sorte. "Que a estrela de norte ilumine o caminho

de vocês" foram suas palavras. E o caminho deles era realmente escuro. Mais dois dias de

viajem tinham pela frente, cada vez mais penetrando o interior sombrio daquela floresta. Será

que encontrariam Lenareth? Será que conseguiriam salvar seu companheiro?

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Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte V Aerandir já se sentia bem melhor. Alguns poucos dias sobre o cuidado de sua amiga nos

Salões do Rei Elfo foram o suficientes para que ele recobrasse o espírito e o corpo. Em breve

sairia ao encontro dos seus companheiros novamente. Mas antes, alguém veio ao seu

encontro. O príncipe Legolas tinha uma mensagem para ele, seu pai, Thranduil queria vê-lo e

pedir seu conselho sobre assuntos importantes.

O elfo, então, foi rapidamente ao encontro do líder de seu povo, pois parecia que assuntos

importantes estavam sendo tratados. Chegando a seus aposentes ele viu o Rei em pé

discutindo estratégias e ações com uma série de outros elfos, em sua maioria nobres das

Casas da Floresta. Um deles, um elfo alto, de cabelos escuros como a noite e olhos claros

como a lua, nariz e rosto angular estava determinado a convencer Thranduil a não se envolver

com conflitos longe das fronteiras atuais do Reino da Floresta. O rei, quando viu a presença

do herói, pediu para que todos se silenciassem, ele queria ouviu a opinião de Aerandir sobre

o que fazer em relação às Aranhas de Mirkwood e as expedições dos orcs pelo norte da

floresta.

O aventureiro então relatou seus experiências e disse que casa os Elfos de Mirkwood não

tomem iniciativa e tentem expulsar, de uma vez por todas, as forças da Escuridão da Floresta,

pode ser que, em pouco tempo, não tenham mais floresta fara ficar. Além disso, que o povo

de Mirkwood deve buscar aliados entre os Povos Livres do Norte. O que quer que aconteça

na floresta afetará a todos e o problema de um deles é problema de toda a região.

Talvez tenha sido algo do momento, ou as palavras certas usadas por Aerandir, mas Thranduil

se convenceu totalmente do dever de seu povo e pediu para que cada um dos nobres

preparasse uma pequena força de seus melhores homens para uma missão. Pediu também

para que o herói, depois de reencontrar seus amigos o ajudasse em uma tarefa importante.

Ele precisa saber o que está acontecendo com as Aranhas. Elas viviam na floresta por muito

tempo, mas nunca agiram de forma tão agressiva e organizada assim, algo, ou alguém, as

estava controlando. Aerandir aceitou a missão e disse que assim que encontrasse seus amigos

tentaria descobrir o que estava acontecendo.

Enquanto isso, Drarin, Klandrin, Robin e Elmara continuavam a caminhar em direção ao local

onde Lenareth estaria. Já estavam no terceiro dia de viajem e em breve alcançariam à

passagem pelo Rio da Floresta onde deveriam se dirigir ao sul. O céu estava mais claro, sem

tantas nuvens, mas um brisa gelada corria pelo leito do rio, na direção contrária para onde

seguiam.

Chegaram na passagem pelo rio no início da noite. A correnteza estava mais forte neste local

do que no leste e uma neblina cobria o leito do rio, o que dificultava a visão do caminho entre

as pedras. O grupo achou melhor esperar pela claridade da manhã e improvisou um abrigo

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perto dali. Antes de dormir, porém, Elmara viu rastros de um grande número de aranhas que

passaram por ali em direção ao norte. Parecia que as criaturas estiveram lá há cerca de três

dias. Era bom acharem um lugar reservado para passar a noite.

A manhã chegou logo, o brilho do sol se dissipava na névoa que os envolvia. Podiam ouvir o

barulho do rio à esquerda deles e, para lá, foram. O pássaro marrom não estava com eles.

Provavelmente ele teve que fazer alguma coisa durante a noite e ainda não voltara. Mas a

companhia não podia esperar, cada minuto de atraso era menos um minute de vida de Klandrin

e eles foram se preparar para cruzar o rio.

O caminho não parecia muito difícil, mas, com certeza, a neblina, as mochilas cheias e a

correnteza forte não iriam facilitar. Drarin foi o primeiro a tentar atravessar mas uma forte

correnteza, que veio de repente, o derrubou. Lá estava o anão, afundando nas águas do rio,

que era mais profundo do parecia. Seus companheiros se assustaram com o barulho dele

caindo na água e os pedidos de socorro. Elmara e Klandrin pegaram as cordas em suas

mochilas e as arremessaram para que o aventureiro se segurasse e depois de alguns minutos

ele estava de volta à margem norte todo ensopado.

Na segunda tentativa, uma corda foi amarrada ao redor da cintura do anão e qualquer

escorregão era facilmente contornado. Em pouco mais de vinte minutos eles começaram a

chegar do outro lado do rio. Tinham que ir com calma, pedras estavam soltas, e musgo cobria

a maioria delas. Qualquer erro os levaria para às profundezas das águas gélidas do Rio da

Floresta.

Chegando ao outro lado, depois de descansar alguns minutos e se secarem, o grupo viu a ave

marrom se aproximando do oeste. Ela disse que fora averiguar a situação do Lorde Lupus e

dos lobos do floresta. Parecia que eles estavam conseguindo evitar o ataque dos wargs por

enquanto, mas estavam ficando sem opções para onde ir. Era claro que a ajuda da companhia

era necessária. Agora faltava pouco até encontrarem Lenareth.

Nos Salões do Rei Elfo, Aerandir se preparava para partir. Ele pedira ao Rei o auxílio de alguns

guerreiros e o mesmo foi capaz de colocar dois sentinelas ao seu lado, uma elfa alta de longos

cabelos castanhos claros avermelhados, preso com uma trança, e um elfo forte de cabelos

curtos escuros e olhos pequenos. Eles iriam com o herói até o local onde encontrariam o resto

do grupo. Para chegar o mais rápido possível, o grupo iria tomar o caminho pelo sul, onde

teriam que cruzar o Rio Encantado pela Ponte do Ancião, que dizia as lendas era vigiada por

um espírito velho e imprevisível. Era o caminho mais rápido até o local onde Lenareth vivia,

mas era também o mais perigoso, pois passava pelo território das Aranhas de Mirkwood.

O primeiro dia de viajem foi tranquilo. Após poucos preparativos para partida o trio começou

sua jornada para o sul da floresta em direção à ponte. A mata no sul era muito mais escura e

sombria do que no reino élfico. Os troncos das árvores eram todos contorcidos como se elas

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estivessem com um dor profunda ou tentando alcançar algo. Pouca luz chegava até o chão

entre os galhos retorcidos e um silêncio estranho envolvia o lugar. O grupo procurou uma

clareira para passar a noite, queriam pelo menos enxergar se alguma criatura estava se

aproximando deles.

Tiveram sorte naquela noite, pois não viram nem ouviram nada. Partiram logo cedo, um pouco

antes do sol nascer e na metade da tarde avistaram a ponte. Ao se aproximarem viram um

senhor vestindo trapos e peles de animais se apoiando numa bengala de carvalho sobre ela.

Os patrulheiros que estavam acompanhando Aerandir falaram que era melhor não se

aproximarem que deviam procurar um caminho em que não precisassem falar com o espírito,

mas o aventureiro não tinha tempo a perder e foi em direção à ponte.

Quando chegou próximo pode ver melhor a figura do ancião. Este levantou um pouco a

cabeça, um capuz cobria metade de seu rosto e Aerandir apenas viu sua grande barba marrom

se tornando cinza, um nariz largo e olhos que brilhavam como estrelas. Ele perguntou ao elfo:

"Quem são vocês e para onde vão?". O herói hesitou por alguns segundos mas pensou logo

nos seus companheiro de aventura, não podia desistir naquele momento. "Sou Aerandir, a

Sombra da Floresta, e esses são guerreiros do Rei Thranduil, senhor do povo da floresta.

Estamos percorrendo este caminho para mais rápido encontrar meus companheiros que se

encontram no lado oeste de Mirkwood."

O senhor então questionou o elfo do porquê desta busca. A floresta era perigosa, a escuridão

a envolvia e muita criaturas malignas podiam encontrá-los antes que chegassem ao seu

destino. Mas o aventureiro não hesitou. Ele sabia porque estava fazendo o que fazia. Seus

amigos salvaram sua vida antes, eles lutavam contra a mesma sombra que seu povo e agora

podiam estar precisando de ajuda. Ele não voltaria atrás.

Sentindo a determinação do elfo, o espírito guardião disse que os deixaria passar, desde que

Aerandir prometesse que a próxima vez que ele visse o ancião, ele deveria fazer um favor à

ele. Sem muitas opções, ele aceitou, com a sensação que ainda se arrependeria daquilo. E

então prosseguiram, o mais rápido que conseguissem. Tinham que ser rápidos, qualquer

demora e talvez eles não chegassem a tempo de encontrar os companheiros que procuravam

Lenareth.

Já no oeste, Drarin, Klandrin, Robin e Elmara estavam cada vez mais próximos das ruínas

onde estaria a salvação de seu amigo. Este, aliás, estava começando a ter pesadelos a noite

e falava coisa estranhas enquanto dormia, algo como "o encontrar da sombras" e "a aliança

negra". A mancha sobre o ferimento onde teve o veneno injetado já cobria quase todo o seu

tronco. Ele não tinha mais muito tempo.

Faltavam apenas um dia e meio de viajem até chegarem. Aquela parte da floresta, como quase

todo o sul, era sinistra, escura e repleta de sinais da passagem de aranhas. Teias podiam ser

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vistas, mesmo que poucos, em quase qualquer lugar que iam. Apesar de tudo, eles não viram

sinais de nenhum aracnídeo maior do que a mão de um hobbit.

Depois de uma noite conturbada pelos sonhos sinistros de Klandrin, que chegaram a acordar

o resto do grupo algumas vezes com seus gritos repentinos, a companhia chegou às ruínas.

A ave marrom disse, então, que a partir dali eles estavam sozinhos. Lenareth estaria em algum

lugar por ali, mas que agora ele deveria partir e voltaria em dois dias. A dúnedan não gostou

nem um pouco de terem sido deixados ali. Suspeitava que o pássaro estivesse planejando

algo contra eles. Mas, agora, era tarde demais para se discutir essa possibilidade. Se a cura

para o veneno estivesse por ali, teriam que achá-la, e rápido.

O grupo se dividiu a procura de qualquer sinal de passagem ou entrada em alguma das ruínas.

Depois de algumas horas, Drarin encontrou o que parecia ser um alçapão. Algumas pedras

impediam o acesso à passagem mas com a ajudo do resto do grupo foram rapidamente

retiradas. Quando abrirão a passagem sentiram um cheiro de podridão, mofo e morte vindo do

fundo. Aquele local estava fechado a muito tempo.

Uma escada parecia descer até o fundo da passagem, mas não conseguiam enxergar muito.

Com lanternas acesas eles começaram a descer. O local parecia muito antigo, a arquitetura

era, com certeza, de construção de homens do norte, feita há muito tempo. Rachaduras, teias

de aranha, insetos e pequenos lagartos se espalhavam pelas paredes e degraus. Depois de

alguns minutos, eles chegaram até um ponto em que parte da passagem havia desmoronado.

Apontando a luz da lanterna viram que o chão ficava a cerca de cinco metros dali, não era um

queda moral, mas poderiam se machucar seriamente, ainda mais sem saber direito o que havia

no chão.

Elmara teve a ideia de passar uma corda através de um buraco que os anões fariam na parte

de baixo dos degraus acima deles. Isso daria um local seguro onde amarrar a corda e podiam

simplesmente balançar nela para o outro lado. E durante algumas horas eles ficaram lá,

martelando e perfurando a parede de pedra para passar a corda. O barulho era quase

ensurdecedor naquela pequena passagem, e se houvesse alguma criatura lá, com certeza ela

estaria acordada agora.

Depois de devidamente segura, a corda estava pronta para ser usada. Robin foi na frente, se

segurou e saltou o mais longe que conseguia. Botou os pés do outro lado, achando que já

estava seguro largou a corda, só para então se desequilibrar e cair. Um baque seco ecoou

pelas paredes e uma dor nas costas ecoou pelo corpo do hobbit. Tinha se machucado, mas

ainda conseguia andar normalmente, podia ter sido muito pior.

O pequenino se levantou, tirou a sujeira de suas roupas e gritou para seus amigos que estava

bem. Pelo menos era o que ele pensava. Quando se abaixou para pegar suas coisas que

estavam espalhadas pelo chão lamacento sentiu algo agarrando seu calcanhar. Quando se

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virou, viu a mão de um esqueleto tentando agarrá-lo e corpos moribundos se levantando pelo

aposento.

"Os mortos estão se levantando!" Gritou Robin e todos lá de cima podiam ver o brilho vermelho

e fantasmagórico de seus olhos. As criaturas eram do tamanho de homens e vestiam armas e

armaduras antigas e enferrujadas. Eles diziam que eram guardiões do local e que ninguém

podia entrar ali. Qualquer tentativa de diálogo com eles era em vão e eles começaram a atacar

o grupo.

A luta estava brutal e dolorosa. Os esqueletos eram criaturas que não sentiam dor, então

apenas um golpe que os destruísse completamente podia pará-los, enquanto qualquer corte

fazia os heróis sangrarem. No meio da batalha, no desespero por ajuda e salvação, Elmara

lembrou-se das palavras da elfa que lhe deu a Pedra das Estrelas. Ela retirou a pedra de sua

mochila, enquanto esquivava-se de golpes de antigas espadas, e a ergueu no ar, gritando para

que parassem. A gema, então, começou a emitir uma luz muito forte. Os mortos se encolheram

e gritavam algo em uma língua sombria e sinistra, quando, de repente, viraram pó e seus

espíritos retornaram para onde nunca deveriam ter saído.

Eles venceram mais um desafio. Estavam cansados, feridos e em uma caverna sinistra, mas

estavam vivos. Então ouviram o barulho de alguém descendo as escadas acima deles. Quem

seria? Como os encontraram ali? Seriam mais mortos que se levantaram ao redor da ruína?

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Crônicas da Terceira Era: Ruínas Sombrias - Parte VI Do alto da escada vinha o barulho de passos. Aparentemente três criaturas desciam a escada

carregando uma fonte de luz fraca, provavelmente uma tocha. Klandrin, Drarin, Robin e Elmara

sacaram suas armas e se prepararam para o combate iminente. As criaturas desciam

lentamente, e quando chegaram ao ponto onde a escada estava partida, Elmara estava pronta

para disparar uma flecha sobre elas, mas a visão de um rosto familiar trouxe tranquilidade para

os corações dos heróis. Era Aerandir e seus dois companheiros elfos que o acompanhavam.

Novamente reunidos, a companhia, agora, tinha que encontrar aquela que salvaria Klandrin

da morte. A frente deles se abria uma passagem que dava a uma grande caverna. Podiam

ouvir o barulho constante de água corrente a frente deles e sentir um cheiro esquisito, uma

mistura de podridão e mofo.

O grupo, então, seguiu em frente, iluminando o caminho com tochas e a lanterna que Klandrin

carregava. Ao passarem pelo portão do aposento onde estavam, eles se viram em uma grande

caverna, com um pequeno riacho que corria do sudoeste ao norte entre pedras e estalagmites.

À direita outras construções em ruínas se acumulavam, umas totalmente destruídas e outras

apenas parcialmente, como se a terra as tivesse engolido a centenas de anos. Esqueletos

podiam ser vistos em alguns lugares, entre as pedras, debaixo delas e perto das construções.

Drarin e Robin ao começarem a andar pelo local, ouviram sussurros vindo do norte, na direção

do rio. Parecia ser um voz feminina entoando um cântico em uma língua muito antiga e

desconhecida. Eles perguntaram aos demais companheiros mas ninguém parecia ter ouvido

aquelas voz. O hobbit, curioso, como sempre, disse a todos para que esperassem por ali

enquanto ele iria a frente tentar descobrir de onde vinha aqueles sussurros. Ele pegou um

tocha e foi em direção ao norte andando silenciosamente e se escondendo por onde

conseguia, entre as pedras e ruínas.

Enquanto isso, os resto do grupo decidiu que não haveria problemas em esperar o

companheiro pequenino investigando as construções perto deles. Todas elas se pareciam

muito com aquela por onde desceram as escadas. Construções de pedra trabalhada, mas não

da maneira que os anões trabalham, eram construções de homens antigos, provavelmente da

época anterior a vindo do Necromante para a Floresta de Mirkwood. Aerandir encontrou

debaixo de umas pedras o que parecia ser um escudo de metal com inscrições estranhas.

Pedindo ajuda para seus companheiros para retirar as pedras por cima para olharem melhor

o objeto, eles perceberam que o objeto pertencia a um esqueleto que não era de um homem,

mas de um orc, e então viram que muitos a volta deles eram de orcs também. Ali, acontecera

uma batalha, e aquele escudo tinha sido gravado rudemente com símbolos parecidos com

aquele que os orcs ao norte de Mirkwood usavam.

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A frente, Robin se aproximava cada vez mais da voz que escutava. Quando mais se dirigia ao

norte, mais clara e audível a voz ficava. Parecia uma voz élfica e feminina, melancólica porém

esperançosa. Depois de algum tempo, o hobbit chegou o que parecia ser um pequeno lago de

águas escuras e calmas, quase um espelho d'água. No centro havia um ilhota onde havia uma

ruína de uma construção circular. De lá, o pequenino viu uma luz azulada e fraca emanar e

ouviu a voz que cantava. Já tendo descoberto o que queria, Robin voltou para contar o que viu

para seus companheiros.

Quando encontrou o resto da companhia e contou o que tinha descoberto, todos tinham

certeza que só podia se tratar de Lenareth. No entanto, estavam em dúvida de como abordar

o espírito, com certeza ele estava ali há muitos séculos sem receber a visita de nenhuma alma

viva e não sabia as reais intensões da entidade. Decidiram, então, que Aerandir e Robin iriam

na frente, se esgueirando, para ter certeza de que estavam sozinhos ali e o resto do grupo iria

atrás.

O elfo e o hobbit, caminharam na frente, tentando encontrar qualquer sinal da passagem de

alguma criatura por ali, mas nada viram além de morcegos escondidos entre as estalactites e

pilares das ruínas. O lugar parecia deserto e muito silencioso. Quando estavam quase

chegando ao pequeno lago, ouviram uma voz que ecoava por toda a caverna.

- Quem são aqueles que interrompem meu descanso? - Uma voz feminina. Leve, porém

ameaçadora ressoou ao redor deles. Todo puderam ouvir, inclusive os que vinham mais atrás.

- Somos viajantes em busca de ajuda para nosso amigo. - Disse Aerandir, de forma ríspida e

rápida, sem contudo dizer realmente quem eram.

- Viajantes? Não recebo viajantes e andarilhos sem propósito. Vão embora e deixem-me em

paz. - Respondeu a mesma voz, parecendo um pouco irritada.

- Desculpe incomodá-la nobre senhora - Robin, então, disse - Mas me chamo Robin Roper, do

Condado, no oeste, e este é Aerandir, do Reino da Floresta. Somos amigos dos elfos de

Mirkwood e viemos lhe entregar um presente que esse povo deseja que seja seu, se a senhora

quiser, é claro.

Os hobbits são criaturas cativantes, mas, além disso, são muito educados e cordeais também.

As palavras do pequenino, combinada com a oferta de um presente vinda do belo povo da

floresta fez com que Lenareth (pois se tratava da própria) reconsiderasse a presença deles ali.

- Um presente dos elfos, você diz? Há muito tempo que não tenho contato com aquele povo,

deixe-me ver melhor esta oferenda - E das ruínas da ilhota surgiu a figura espectral de uma

mulher, que muito parecia com uma elfa. Vestia um vestido esvoaçante e tinha longos cabelos.

Sua forma era translúcida e emitia uma fraca luz azulada, que trazia um pouco de calor àqueles

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ao seu redor. Ela vinha em direção a Robin e Aerandir, andando por sobre a superfície do lago.

A gema, no entanto, estava com Elmara.

Robin, por isso, correu rapidamente uns metros atrás e pediu para que a dúnedan lhe desse a

Pedra das Estrelas. Assim que conseguiu a gema, ele voltou para perto de Aerandir e espero

até que Lenareth ficasse a sua frente e estendesse o braço, como se esperando receber o

presente. O hobbit pegou a pedra e colocou-a sobre a palma da mão do espírito e sentiu um

leve formigamento ao tocá-lo. A mulher olhou a gema e esta começou a emitir uma luz forte,

que iluminou todo o lago ao redor deles. Um sorriso se formou em seu rosto e seu semblante

se tornou mais calmo e agradável.

- E vocês vieram aqui, apenas para me entregar isso? Parece improvável que apenas vocês

dois conseguissem chegar até aqui apenas para me entregar um presente dos elfos - disse

Lenareth, percebendo que havia mais sobre os dois do que eles diziam.

- A senhora é muito sábia, sem dúvida. Na verdade, como meu caro amigo lhe falou, buscamos

ajuda para um de nosso companheiros, que foi ferido gravemente por uma grande aranha da

floresta. Uma nobre ave marrom nos disse que só você poderia nos ajudar e cá estamos nós.

O nome do nosso amigo é Klandrin e ele é um anão de Erebor, do povo de Durin - e novamente

o mestre hobbit demonstrou como deve se falar e portar com espíritos tão antigos.

- Pois bem, ajudarei vocês. Há centenas de anos que não vejo ninguém e uma companhia é

bom de vez em quando. Tragam seu amigo para que eu possa vê-lo - e Lenareth se virou para

a direção por onde viriam o resto da companhia.

Assim, veio Klandrin, Drarin, Elmara e os outros dois elfos que acompanharam Aerandir no

caminho até ali. Novas apresentações foram feitas por Robin, pois ele sabia melhor como

proceder nessas ocasiões. O espírito examinou o ferimento de Klandrin, que já cobria todo o

seu tronco.

- Não temos muito tempo. Por favor, me acompanhem e façam um círculo ao redor de nós dois

- Ela disse se dirigindo para a beirada do lago e fazendo um gesto para que eles a seguissem.

Assim, todos se posicionaram nas águas rasas. Lenareth e Klandrin no centro de um círculo

formado pelo resto do grupo. Ela pediu para que todos prestassem muito atenção e estivessem

preparados para o que quer que acontecesse. Em seguida, ela fechou os olhos e começou a

entoar uma canção antiga, numa língua quase esquecida. Ninguém a compreendeu, mas

todos sentiram que uma forte magia estava operando naquele lugar e então algo aconteceu.

Klandrin imediatamente ficou inconsciente, como em um transe. Do ferimento em seu lado

esquerdo começou a sair um liquido estranho, negro, que parecia uma névoa escura. Quanto

mais a mancha em seu tronco diminuía, mas se espalhava aquele líquido e fumaça. Até que

essa coisa começou a tomar uma forma. A de uma criatura, com tentáculos, bocarra e olhos

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que tinham um brilho vermelho e maligno. Quando finalmente a mancha havia desaparecido

do seu corpo, Klandrin caiu inconsciente nas águas do lago. Ao mesmo tempo, Lenareth

desapareceu deixando para trás apenas a gema e a criatura que agora parecia pronta para

atacar os heróis.

O grito do monstro colocou pavor no coração da companhia. O poder das trevas era forte

naquela coisa. Nos primeiros momentos, ainda hesitantes, os aventureiros sacaram suas

armas e tentaram atacar a criatura, que se esquivava com um agilidade surpreendente, e

mesmo quando conseguiam golpeá-la, seu corpo, quase etéreo, não parecia ser ferido.

Aerandir tive a ideia de tentar usar a pedra contra a criatura, pois foi por meio dela que ela foi

retirada do corpo do anão, mas tinham que achar a gema antes.

Robin e Drarin, então, deixaram de tentar atacar aquele monstro e passaram a procurar por

ela, mergulhando naquelas águas. Depois de alguns minutos e alguns ferimentos causados

pela criatura no grupo, o anão encontrou a pedra. Ele a segurou e a apontou na direção da

criatura, que naquele momento estava por cima de Elmara, mas nada aconteceu.

- Temos que entoar uma canção - lembrou-se o elfo. Então ele começou a cantar. Mas, ainda

assim, nenhum efeito surgiu e o monstro apenas continuava com toda sua fúria a investir contra

eles. Foi quando Aerandir pediu para que jogassem a pedra para ele e começou a cantar uma

canção élfica muita antiga, sobre estrelas a luz guia que elas jogavam para o nobre povo. A

Pedra da Estrelas emitiu uma luz fortíssima que fez com que a criatura urrasse de dor. Seu

corpo parece se tornar mais sólido e frágil. E, então, Elmara aproveitou o momento e acertou

sua espada no peito do monstro, que começou a se despedaçar e se tornar novamente líquido

e vapor, sendo sugado para dentro da gema que o elfo segurava. Quando terminado, a pedra

antes brilhosa estava opaca e escura.

Logo após, um tremor foi sentido, e este se tornou muito intenso em poucos segundos. A

caverna estava desmoronando e rochas caiam para todos os lados. A companhia devia sair

de lá rápido se não quisesse ficar presa, ou pior, morrer esmagada debaixo de toneladas de

pedras. Elmara colocou Klandrin nos ombros e correu o mais rápido que pode, assim como

todos. Mas, na fuga desesperada, um dos elfos companheiros de Aerandir foi atingido por uma

grande estalactite que caiu e ficou com a perna presa. Gritando de dor ele pediu por ajuda,

para que não o deixasse ali.

Robin e Drarin voltaram para ajudá-lo, mas o resto do grupo prosseguiu. O anão utilizou o cabo

de seu machado como uma alavanca para levantar a rocha enquanto o hobbit puxou o elfo

para que ele pudesse levantar. Agora os três iam juntos em direção às escadas por onde

entraram e, esperavam, podia sair. Quando estavam quase chegando, entretanto, uma pedra

caiu e acertou Robin na cabeça, deixando-o desacordado.

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Drarin deixou o elfo seguro na torre por onde entraram e voltou para ajudar seu amigo.

Colocou-o nos ombros e, obstinado, correu como nunca tinha feito antes, até o encontro de

todos. Lá estavam eles, são e salvos, embora um tanto feridos, mas vivos.

O tremor ainda continuou por algum tempo. A passagem pela escada parecia ter sido tampada

com tudo aquilo e outra parte da escada desmoronou. Eles tinham que sair de lá, mas, por

enquanto estavam descansando e recuperando as forças. Lidariam com isso em breve.

Algumas horas depois, enquanto eles decidiam o que iriam fazer para sair dali, uma voz grave

foi ouvida acima. Ela chamava pelo nome dos anões e parecia familiar. O grupo respondeu e,

de repente, um faixo de luz foi visto. Estavam abrindo a passagem acima deles. Anões de

Erebor estavam no alto e entre eles estava um amigo do grupo.

Balin fora a procura deles depois de saber que estavam com problemas. Um corvo amigo dos

anões recebeu a informação por meio de uma ave marrom, provavelmente a mesma que

ajudou o grupo a encontrar Lenareth. O anão lhes disse que ficou preocupado com a viajem

do grupo durante o inverno onde o poder das trevas é mais forte. Além disso, falou que, em

breve, expedições sairiam de Erebor em direção às antigas cidadelas do seu povo no norte,

sul e sudeste e que a presença deles em Erebor era esperada o mais rápido que pudessem.

Mas ele também sabia que a companhia tinha assuntos a resolver por ali.

O grupo confirmou e disse que deviam esperar o pássaro marrom para que o seguissem. Para

a surpresa deles, o mesmo já os esperava, sobre o gralho de uma árvore. Ele disse que

poderiam partir a qualquer momento, mas que antes encontrariam seu mestre, Radagast, o

marrom, em Rhosgobel. Assim, despedidas foram feitas entre o grupo e os anões de Erebor.

Assim, foram eles em direção ao sul, saindo da floresta e percorrendo o Vale do Anduin em

direção à vila dos homens da floresta sobre a tutela de um dos cinco magos. O inverno se

aproximava de seu fim, e com ele vinha a primavera, trazendo de volta o calor e chuvas, que

chegaram cedo. Foram duas semanas, e quase não se passou um dia sem uma forte pancada

de chuva. Ficaram encharcados e cansados. Mas, enfim, chegaram. Radagast não estava lá,

mas isso não importava naquele momento, eles tinham que descansar e se recuperar dos

ferimentos para o que quer que fossem enfrentar depois.

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Crônicas da Terceira Era

Linhagens

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Crônicas da Terceira Era: Linhagens - Parte I A primavera do ano de 2947 da Terceira Era chegara e, com ela, as chuvas. O frio do inverno

cedeu seu domínio para o sol e o calor. A companhia, formada pelos anões Drarin e Klandrin,

o elfo Aerandir, a dúnedan Elmara e o hobbit Robin, passara uma semana no povoado dos

homens da floresta, em Rhosgobel.

Lá, eles recuperaram suas forças enquanto esperavam pelo mago Radagast, com quem

precisavam conversar antes de partirem. Durante esse tempo, porém, eles aprenderam

diversas coisas que poderiam lhes ajudar futuramente. Robin passou boa parte do seu tempo

conversando com um dos anciões da vila e, assim, aprendeu algumas coisas sobre a cultura

daquele povo, entre rimas, enigmas e histórias. Os dois anões passaram boa parte do tempo

em companhia dos homens das florestas que caçavam com grandes machados, e admiravam

a arte dos povo de Durin. Elmara e Aerandir passaram alguns dias na companhia de

rastreadores do povoado, aprendendo os segredos daquela região e como andar sobre as

sombras da floresta tão próximas de Dol Guldur.

No sexto dia de sua estadia, o grupo, que já estava recuperado e pronto para partir em busca

de Lupus e seu povo, se reuniu para decidir o que iriam fazer. Estavam esperando pelo mago

há dias, e tinham receio de que, se demorassem demais, poderia ser tarde demais para os

nobres lobos da floresta, que precisam de sua ajuda. Decidiram que partiriam na manhã do

sétimo dia, vinte de Súlimë, em busca dos lobos.

Mas, quando se preparavam para deixar Rhosgobel, um senhor alto, de longa barba marrom,

quase ruiva, com uma faixa de pelos brancos no meio, e usando um manto marrom, velho e

remendando, adentrou o aposento em que estavam.

- Não vão tão rápido! Tenho coisas a dizer a vocês e, com certeza, vocês tem algo a me dizer

também. - Era Radagast, o marrom. Ele andava apoiado em um cajado de carvalho e em seu

ombro estava o pássaro marrom que acompanhou os heróis em sua última jornada.

Então, a companhia e o sábio discutiram os rumos a serem tomados. Radagast era um tanto

ríspido e direto. Ele não estava acostumado a interações sociais formais e tratava todos de

uma forma quase grosseira, mas não ofensiva. Os anos que passou ao lado de animais talvez

o tivessem deixado um tanto bruto. Radagast informou que Lupus e sua linhagem estavam

escondidos em um vale secreto ao sul do Lago Verde, ao leste de Rhosgobel, entre duas

colinas. Disse, ainda, que a parte sul da floresta está quase toda tomada pelos wargs e lobos

malignos. As chances do grupo, provavelmente, seriam maiores se eles optassem por uma

abordagem mais discreta e sutil, sem chamar a atenção de todas as matilhas da região.

Elmara e o grupo contou tudo o que viram pela floresta nos últimos meses, desde as aranhas

que se espalham cada vez mais até os orcs que parecem estar aliados a algum feiticeiro negro.

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A dúnedan falou que podia se tratar de Herumor, um servo de Melkor, o que deixou o mago

assustado e preocupado. Ele disse que sabia das atividades das aranhas e inclusive estava

estudando um jeito de lidar com elas. Mas, sobre o feiticeiro negro, ele iria procurar o Conselho

Branco imediatamente. O grupo perguntou, ainda, se caso encontrassem novamente a grande

aranha que ferira Klandrin, se haveria uma outra maneira de curar quem fosse envenenado,

mas Radagast respondeu que a única maneira que conhecia era levar a vítima até Lenareth.

O mago, em seguida, pediu licença e se retirou. As informações que o grupo lhe dera fez com

que ele decidisse partir imediatamente para Isengard. Ao mesmo tempo, a companhia iria para

o leste, para o estreito de Mirkwood, onde tentariam salvar o lorde dos lobos dos seus inimigos.

A viajem iria demorar seis dias. Apesar do lago ficar a pouco mais de quarenta milhas do

povoado, a floresta era muito fechada na região e as chuvas faziam com que o terreno ficasse

extremamente traiçoeiro. Graças aos conhecimentos adquiridos com os rastreadores locais,

Aerandir conseguiu planejar um caminho que talvez reduzisse o tempo de viajem.

Os primeiros três dias de viajem foram calmos. Quando chegaram à beira da floresta, logo no

primeiro dia, parecia que eles estavam entre a fronteira do dia e da noite. Mirkwood naquela

região era muito sombria e praticamente nenhuma luz penetrava a copa de suas árvores, que

eram escuras, gigantescas, com troncos de cor acinzentada e contorcidos. Chovia todo dia de

tarde e, apesar da luz do sol não penetrar a floresta, a água da chuva não tinha esse

impedimento. Andavam por caminhos alagados e enlameados, cada passo drenando aos

poucos suas energias.

Na terceira noite desde que partiram, com uma chuva fraca caindo sobre suas cabeças

enquanto começavam a contornar a margem oeste do Lago Verde, Drarin e Robin ouviram os

passos de uma criatura correndo na direção deles. O som, pelo que o anão percebeu, vinha

do nordeste de onde estavam. Rapidamente todos se prepararam. Robin desapareceu entre

as sombras, como só um hobbit sabe fazer, Klandrin, Elmara e Aerandir se esconderam entre

as árvores próximas, mas mantendo um olho aberto no que acontecia. Drarin, com uma

bravura típica dos anões de Erebor, pegou uma tocha e colocou-se na frente do caminho,

esperando encontrar a criatura.

E ele a encontrou. Em sua direção veio correndo um jovem, ferido e com andar trêmulo, que,

ao vê-lo, se assustou e caiu para trás. Seu rosto revelava uma expressão de terror. O anão

tentou acalmá-lo e perguntar o que estava acontecendo, mas a voz o jovem era trêmula e suas

palavras confusas. Foi preciso alguns minutos para ele se acalmar. Nisso, Robin e os outros

saíram de seus esconderijos para conversar com o rapaz.

Seu nome era Akunel, um jovem homem da floresta, e parecia ter apenas quinze anos. Suas

roupas eram feitas com peles de animais e tecidos rústicos. Portava um machado de uma mão

e uma aljava, porém estava sem seu arco. Elmara tratou os ferimentos do garoto com algumas

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ervas que tinha coletado enquanto permaneceu em Rhosgobel e improvisou uma tala para o

braço dele, que parecia ter sido quebrado. Ele contou que ele e um amigo foram atacados por

trolls e que esse amigo foi capturado por eles. Eles estavam na floresta há alguns dias caçando

e explorando, até que encontraram uma velha torre e resolveram passar a noite nela. Akunel,

pensando em pregar uma peça em seu companheiro Davolar, disse iria procurar algumas

frutas para que tivessem comida para o dia seguinte, mas planejava se esconder em algum

lugar por perto e fazer sons de monstros. Qual não foi sua surpresa quando ele próprio ouviu

a voz de duas criaturas horrendas se aproximando, dois trolls sentiram cheiro de comida.

Davolar ouviu a voz das criaturas, mas acostumado com as brincadeiras de seu amigo, pensou

que era mais uma delas. Ele foi pego de surpresa pelos monstros, que o colocaram dentro de

um enorme saco. Akunel tentou avisar o amigo, mas já era tarde. Ele tentou, então, atirar

flechas sobre os trolls, mas elas rebateram na pele dura das criaturas e apenas chamou a

atenção delas para sua presença. Eles quase o pegaram, mas ele fugiu, e estava fugindo até

encontrar a companhia. Ele implorou por ajuda.

Os heróis ponderaram a situação. Por um lado, ela claro que ele precisava de ajuda, e o

paradeiro dos trolls não podia ser muito longe, o garoto não conseguiria correr muito tempo

com aqueles ferimentos. Drarin era a favor de ajudar o garoto. Porém, eles já estavam com

uma missão urgente, ajudar os lobos da floresta a escapar de seu cerco pelo wargs. Se

desviassem seu caminho poderiam perder muito tempo e gastar recursos que precisariam

mais à frente. Elmara hesitou muito, mas a companhia decidiu que ajudaria o jovem do povo

dos homens da floresta.

Aerandir e Robin iriam na frente, em direção ao norte, para averiguar a segurança do caminha

e ver se os trolls seguiram o rapaz. Os dois andaram por algum tempo, carregando uma

pequena tocha, para não chamar muita atenção. O elfo, com seus olhos afiados, percebeu que

o caminho que seguiam passaria pela trilha de caça de um grupo de aranhas de Mirkwood.

Antes que pudesse avisar seu companheiro, no entanto, este acabou encontrado uma delas,

e tinha caído direto em sua armadilha, andara diretamente ao encontro de uma teia esticada

entre duas grandes árvores.

Cinco aranhas que estavam próximas perceberam que a armadilha que deixaram tinha pego

uma presa e emitiram ruídos amedrontadores. "Pegamos comida, finalmente, já estava

faminta!" uma delas disse, vendo o pequeno aventureiro preso. Aerandir sacou sua espada e

correu para soltar o hobbit e, quando viu as cinco aranhas se aproximando, chamou por

socorro: "Drarin, Klandrin, Elmara! Ajuda! Rápido!".

Seus companheiros ouviram o pedido de ajuda, ainda que abafado e ao longe, entre as

árvores, e começaram a correr na sua direção. A dúnedan procurou ir escondia entre a

vegetação, enquanto os dois anões correram, sem tomar maiores cuidados, ao encontro dos

amigos. Porém eles não foram os únicos a ouvir os gritos de Aerandir.

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Mais aranhas foram atraídas para o local. Quando a companhia se viu reunida novamente,

podia contar quinze monstros ao seu redor, e eles estavam com fome. Algumas flechas foram

lançadas no início da batalha, mas logo as aranhas estavam por cima de todos os heróis e

eles tiveram que sacar desembainhar suas armas de corpo-a-corpo.

Klandrin, ao ver seu companheiros em perigo, entrou em uma frenesi de destruição, a cada

balanço de seu machado caia um aracnídeo. Porém, eles eram muitos. Apesar do esforço do

grupo, que tentava a todo custo defender uns aos outros, as aranhas derrubaram um deles.

Robin. O hobbit, fora envenenado e caiu paralisado, mesmo com Aerandir tentando defendê-

lo. As aranhas, aproveitando a confusão que seu grande número causou envolveram o

pequenino e começaram a carregá-lo para cima das árvores.

O grupo, em desespero, redobrou seus esforços para se livrarem das aranhas que os cercava,

eliminando quase a metade delas. Agora corriam para tentar alcançar aquelas que levavam

seu amigo. Será que as alcançariam? Ou será que as outras os impediriam de perseguir suas

irmãs?

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Crônicas da Terceira Era: Linhagens - Parte II A companhia estava em uma situação nada agradável. Robin fora ferido, envenenado e

capturado pelas aranhas que surgiram entre a escuridão da floresta. Isso sem contar os outros

problemas que estavam tentando resolver, como o rapto de um jovem dos homens da floresta

por dois trolls e a missão que receberam de Radagast, ajudar a linhagem de Lupus, que estaria

sendo caçada por wargs. Mas, no momento, o que tinham que fazer era salvar o seu

companheiro.

Entre eles e o hobbit, que estava sendo carregado por três aranhas gigantes, com carapaças

negras e babando uma gosma esverdeada de suas mandíbulas, haviam mais cinco

aracnídeos. Isso, antes do balançar do machado de duas mãos de Klandrin. O anão, vendo

um de seus amigos em perigo, estava em um estado de fúria incontrolada e rapidamente

dilacerou uma das criaturas que tentava impedir que ele passasse. Enquanto isso, Aerandir

tentou atirar flechas contra aquelas criaturas que levavam Robin mas foi impedido quando uma

teia foi atirada nele deixando seus movimentos limitados. Drarin, sabendo que não tinha tempo

a perder, tentou uma manobra arriscada. Ele esperou a criatura chegar bem próxima a ele,

prestes a atacar-lhe com suas mandíbulas, quando, de repente, ele correu, rolou por debaixo

dela, cortou duas de suas patas e a parte traseira de seu tronco. Ele estava do outro lado

agora e correu em direção ao hobbit.

Ao mesmo tempo, Elmara lutava contra uma enorme aranha escura, que a provocava com

insultos. A dúnedan estava cautelosa e tinha dificuldades em sobrepujar seu oponente.

Enquanto seus companheiros eventualmente conseguiram passar pelo bloqueio que as

aranhas tinham formado para resgatar o pequenino, a dúnedan fora pega de surpresa por uma

das criaturas que a atacou por trás enquanto outra a prendia em uma teia tecida rapidamente.

Desprepara, o ferrão do monstro penetrou fundo seu corpo, injetando o veneno maldito que a

deixaria indefesa e inerte em poucos minutos.

Mais à frente, Drarin alcançara os aracnídeos que carregavam seu companheiro. Ansioso,

porém, ele apenas conseguiu golpear um deles, que não deixou de continuar a empurrar a sua

comida para cima. Klandrin, após cortar uma aranha ao meio com seu machado, grita para

que Robin aguente firme e dispara em direção aos monstros, acertando um deles de forma

brutal. Agora, Robin só estava sendo carregado por duas aranhas.

Aerandir, que tinha acabado de perfurar a cabeça de seu oponente com sua espada, viu seus

amigos tentando soltar o hobbit de seus raptores. Ele puxou seu arco e mirou na aranha que

Drarin já tinha ferido anteriormente e soltou sua flecha. Ela foi certeira, derrubando mais uma

aranha. O pequeno Robin então despencou da árvore de onde estava sendo carregado,

fazendo um barulho seco ao cair nas raízes. Mas antes que pudessem comemorar, a

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companhia viu que Elmara também tinha sido derrubada e um dos aracnídeos restantes

tentava puxá-la para um local em que a pudesse devorar.

Mas agora eles eram maioria, e mesmo tentando ser rápida a aranha que capturara a dúnedan

não era páreo para dois anões e um elfo. Não demorou muito para que ela desistisse e fugisse

de volta para a escuridão de onde veio. Eles tinham sobrevivido, mas o custo foi alto. Aerandir

tentou logo neutralizar o veneno em Elmara, já que ela fora envenenada a poucos minutos e

com sorte conseguiu retirar boa parte do veneno que corria em sua corpo, ela poderia andar

sozinha, apesar de algumas dificuldades. Entretanto, o caso de Robin era mais complicado,

pois já tinha o veneno injetado em seu corpo a mais tempo. O elfo fez o que podia e esperava

que o pequenino voltaria a se sentir melhor no dia seguinte.

Drarin colocou Robin sobre seus ombros e o grupo fez o caminho de volta, para onde

encontraram o jovem Akunel. Demoraram um pouco para achar o caminho na escuridão de

Mirkwood e, quando passaram perto da margem do Rio Verde, ouviram uma voz suave e

feminina chamar pelo nome deles. Com medo de que se tratasse de alguma feitiçaria ou

espírito maligno, a companhia se afastou o mais rápido que fosse do local, já possuíam

problemas suficientes. Ao encontrarem o rapaz, esse estava desacordado apoiado na árvore

onde fora deixado. O grupo o acordou e a primeira coisa que ele perguntou foi se eles

conseguiram resgatar seu amigo. Com a resposta negativa, o garoto indagou o motivo e

implorou para que não desistissem, que ainda havia tempo, mas que se demorassem mais os

trolls o comeriam. Os aventureiros, infelizmente, disseram que não conseguiriam ajudar o outro

homem da floresta no estado que estavam. Voltariam para Rhosgobel para se recuperar e

após esse tempo voltariam para a floresta. Contrariado, Akunel foi com eles.

A jornada de volta a vila demoraria mais três dias. A chuva tinha diminuído, o ar estava parado

e uma lua crescente brilhava no céu. Eles passariam a primeira noite perto da borda da floresta,

debaixo de uma enorme árvore que possuía um tronco oco onde puderam se abrigar. Era

apertado, mas era mais seguro que descansar a céu aberto. A noite passara tranquila, alguns

pássaros passaram pelo local e o som deles podia ser ouvido vez ou outra. Mas quando a

manhã chegou, Aerandir percebeu que Akunel não estava mais entre eles, talvez tivesse

aproveitado o silêncio da noite para voltar e procurar seu amigo.

O grupo estava, agora, em outro dilema. Voltariam para Rhosgobel abandonando de vez os

dois rapazes a sorte naquela floresta escura ou arriscariam os poucos recursos que ainda

possuíam para tentar salvá-los? A decisão da companhia foi a de que Drarin, Klandrin e

Aerandir partiriam em busca deles, enquanto Robin e Elmara permaneceriam ali, recuperando

suas forças. Robin ainda nem acordara de seu torpor quando os três partiram de volta para o

interior de Mirkwood. Dessa vez, porém, eles decidiram tentar a sorte e iriam em direção às

ruínas em que os trolls estariam, seguindo o leito do rio.

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Não demorou muito para que ouvissem novamente aquela voz, mas dessa vez eles viram a

criatura que os chamava. Ela era uma mulher, com feições finas e alongadas, como de uma

elfa, porém ela estava completamente nua, com apenas parte do tronco fora d'água. Seus

cabelos eram negros, assim como seus olhos, uma sensação de tranquilidade de jovialidade

podia ser sentida na presença dela. Ela era uma dama do rio, e disse que queria ajudá-los a

encontrar aqueles que procuravam. Segunda a dama, um dos trolls que capturaram os garotos

estava ausente de se refúgio, permanecendo apenas um deles. Fazendo uma oferta aos

heróis, disse que poderia chamar a atenção do monstro enquanto eles entrariam na torre para

salvar os prisioneiros. Não tendo nenhuma outra opção em mente eles aceitaram, alguma

ajuda era melhor do que nada e assim seguiram caminho em direção ao norte, acompanhados

pela mulher que nadava pelo rio.

Chegaram lá em pouco mais de uma hora. Na antiga construção podia ver a luz de uma

fogueira e a sombra de uma enorme criatura. Certificando-se que todos estavam prontos, a

dama do rio começou a entoar uma canção jocosa em que chamava o troll para fora da torre,

insultando-o e o desafiando a pegá-la. Trolls não são criaturas muito inteligentes e isso foi

suficiente para atraí-lo de se covil. O monstro veio, enfurecido, com um enorme tacape de

madeira que mais parecia uma árvore em sua mão direita. Aerandir, furtivamente foi até a torra

e encontrou os dois garotos desacordados em um grande saco. Ao soltá-los ele exigiu que

fizessem silêncio e o seguissem, mas fracos como estavam acabaram não sendo tão furtivos

como deveriam ser. Um deles tropeçou em uma das pedras da ruína, que rolou colina abaixo.

O troll ouvira o barulho, e gritara de raiva por ver sua refeição fugindo com um elfo. Antes que

ele pudesse voltar para atacar os fugitivos, Drarin sai de trás de uma árvore xingando o

monstro, dizendo que matara o outro troll e arremessando uma pedra na cabeça da criatura.

Isso a deixou bastante irritada, o que ela deixou bastante claro ao proferir um grito horrendo

que faz pássaros levantarem voo de suas moradas há uma distância considerável. A mulher

do rio virou-se para eles e gritou: "Agora corram!".

E foi exatamente o que tentaram fazer. Entretanto, antes que suas pernas de anão

respondessem, Drarin foi atingido por um golpe brutal do monstro, que o fez cair há alguns

metros de distância. A força da criatura era formidável, e o ódio que ela tinha contra anões a

deixava ainda mais forte. Seu companheiro, Klandrin, aproveitou o momento e pulou sobre o

troll, acertando um a lâmina de seu machado nas costas da criatura, que urrou de raiva. Os

dois, então, correram em direções diversas, se distanciando da criatura que não sabia qual

perseguir primeiro. Ao mesmo tempo, Aerandir levava os jovens homens da floresta para um

esconderijo entre as árvores e pedras a oeste dali. Com eles, o elfo permaneceu até ter certeza

de que o monstro não estava por perto. E assim o grupo permaneceu por algum tempo,

escondidos e fugindo da criatura, só se reencontrando a alguns quilômetros dali, onde tinham

visto Akunel pela primeira vez.

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Tinham salvo os dois jovens mas, agora, Drarin também estava ferido. Voltaram para o local

onde Elmara e Robin descansavam e decidiram que seria melhor voltar para Rhosgobel.

Ficariam lá até estarem completamente recuperados e, então, iriam procurar os lobos da

floresta. Akunel, ouvindo a discussão, mencionou sobre uma trilha secrete, do outro lado do

Rio Verde que levava até o vale escondido onde a linhagem de Lupus vivia, e que poderiam

levá-los lá no dia seguinte, mas os heróis acharam que seria mais seguro se estivessem todos

recuperados e partiriam amanhã para a vila.

A viajem até a comunidade dos homens da floresta foi calma. As chuvas tinham diminuído e

uma brisa fresca soprava do oeste, onde viam as imponentes Montanhas Solitárias. Ao

chegarem lá, as pessoas se animaram, achando que eles tinham encontrado os nobres lobos

mas, ao contarem todo o ocorrido, um ar de melancolia abateu a todos. Não tinham mais

certeza se haveria tempo de salvar aqueles que estavam presos entre os wargs. A companhia

permaneceu em Rhosgobel por oito dias, tempo em que a maioria aproveitou para se recuperar

e aprender um pouco mais sobre o caminho secreto até o vale dos lobos. Parecia que tal trilha

era mais uma lenda do que algo demarcado mas, mesmo assim, Guriel, a líder dos caçadores,

indicou a suposta localização do caminho no mapa que o grupo carregava.

Elmara, em algumas de suas andanças pelos arredores, descobriu que um grupo de wargs

estava ativo na região, provavelmente vigiando e preparando um ataque ou emboscada

àqueles que se distanciassem muito da vila. A dúnedan avisou ao conselho de anciões do

vilarejo, e todos foram avisados, eles iriam se preparar para o possível confronto. Mensageiros

foram enviados para os outros povoados dos homens da floresta e para seus aliados do norte,

os Beornings. A companhia, porém, não iria ficar, deveria tentar encontrar o povo de Lupus,

ainda.

Mais uma vez, eles partiram em direção à floresta de Mirkwood. Alguns com a sensação de

que poderia ser a última vez que estariam vendo os rostos daqueles homens e mulheres.

Conhecendo melhor o caminho, a jornada foi um pouco mais fácil, e no início do terceiro dia

eles estavam atravessando o Rio Verde por uma árvore caída que ligava as duas margens.

Depois, andaram por algumas horas entre os caminhos tortuosos e passagens sem saída

daquela mata escura e sinistra, até que avistaram o local onde lhes disseram que o tal caminho

secrete podia ser encontrado, um pequeno desfiladeiro entre duas colinas de pedras escuras.

No entanto, outras criaturas tinham chegado lá antes. No alto, dezenas de lobos negros,

gigantes e deformados os olharam com olhos vermelhos, e um uivo sinistro ecoou entre as

árvores. Wargs estavam ali, e estavam com raiva

A companhia correu para o interior do desfiladeiro, Drarin e Robin conseguiram saltar entre as

pedras e chegar ao fundo mais rápido. Procuravam por algum sinal da passagem. Enquanto

isso, Klandrin, Elmara e Aerandir vinham atrás, impedindo que os wargs chegassem mais

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perto. Um flecha certeira da dúnedan colocou fogo na pelugem de uma das criaturas que se

desesperou derrubando outras que viam atrás. Eles sabiam que aqueles monstros odiavam

fogo e iriam usar isso contra eles.

Então Robin gritou: "Aqui! Aqui! A passagem é por aqui!" - sumindo entre as pedras na parte

inferior do desfiladeiro. Drarin foi logo atrás, mas os outros três estavam, ainda, a uma certa

distância. Eles foram para lá o mais rápido que podiam, com wargs vindo atrás, sedentos de

sangue. Quando estavam em frente a passagem uma das criaturas os alcançou. Kladrin

conseguiu feri-la com o cabo do machado e Aerandir acertou uma flecha no olho dela. Todos

entraram no buraco mas mais inimigos estavam vindo. O grupo juntou suas forças e

começaram a bloquear a passagem com pedras que estavam por ali. Graças ao conhecimento

dos anões sobre túneis, rochas e passagens, eles formaram uma barreira rapidamente.

Estavam salvos por enquanto.

Do outro lado podiam ouvir os uivos e grunhidos dos wargs. Um deles com uma força

descomunal, tentava forçar sua passagem e fazia as pedras balançarem. Tinham que sair dali,

tinham que seguir o caminho que agora estava à frente deles. Mas será que aquele era o

caminho certo?

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Crônicas da Terceira Era: Linhagens - Parte III Um túnel escuro e escavado de forma tosca se estendia a frente deles. O som das criaturas

tentando forças a passagem atrás deles era constante. Os corações batiam acelerados. Um

cheiro de umidade, um ar gelado e o som de gotas ecoava pela passagem. Só havia um

caminho a seguir, para baixo e para baixo eles foram.

Seus passos e sussurros ecoavam pelo corredor, que tinha a largura de dois homens,

enquanto discutiam o que iriam fazer e se aquele era mesmo o caminho até o vale secreto em

que a linhagem de Lupus se escondia. Estalactites e estalagmites ficavam cada vez maiores

quanto mais fundo desciam, até que a inclinação do túnel ficou nula e a umidade aumentou

consideravelmente. Provavelmente estavam passando por baixo do Rio Verde naquele

momento. Com suas botas e sandálias escorregando na lama, o grupo viu uma brecha na

parede sul da colina, bem quando o caminho voltava a apresentar uma inclinação, dessa vez,

para cima.

Ao se aproximarem da passagem, Elmara decidiu examinar melhor para onde ela levava. Um

sensação sinistra foi sentida por todos quando a dúnedan adentrou a brecha. Um cheiro de

morte e podridão exalava de lá e uma escada estreita, quebradiça e com runas estranhas

faziam um caminho para baixo. A aventureira teve certeza que aquele lugar tinha ligação com

as forças das Trevas mas ela não tinha tempo, não naquele momento, para investigar a

passagem. A companhia seguiu, então, pelo túnel, agora subindo e podiam ver um brilho fraco

de claridade acima.

Aos poucos, já podiam sentir uma leve brisa balançar seus cabelos e o cheiro de terra e plantas

molhadas os envolveram. O caminho os levou até a lateral norte de uma pequena colina de

pedras. Ao saírem pela passagem, se viram em um vale profundo com duas paredes de pedra

a leste e oeste. A vegetação ali, ao contrário do resto da floresta ao redor, parecia mais viva,

mais verde e menor distorcida. Animais podiam ser vistos sem que tentassem fugir e uma

sensação de vida e energia podia ser sentida por todos. No centro do vale havia o que parecia

ser uma ruína coberta de vegetação e limo. A companhia achou melhor investigar o local e

Drarin e Klandrin foram em direção à ruína. Elmara andou ao redor da construção a procura

de sinais da passagem dos lobos pelo local e viu que até pouco tempo haviam diversos lobos

por ali.

Os anões adentraram a construção, que parecia uma espécie de pequeno templo, e andaram

em direção a uma mesa central quando, de repente, um enorme lobo cinzento pulou por sobre

uma pilastra caída e ficou em cima da mesa, rosnando para os dois. Mais uma dezena de

lobos saíram de seus esconderijos e começaram a rondar o grupo.

Elmara tentou acalmar os animais e tentou falar com eles em Sindarin, a linguagem dos elfos

daquela região. O grande lobo cinzento ao ouvir as palavras da dúnedan mudou sua atitude e

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passou a analisá-los. Cheirou-os por algum tempo, um a um. Os lupinos estavam desconfiados

do grupo mas finalmente os aceitaram quando Elmara mencionou Radagast e o pássaro

marrom. Agora, eles tinham algo a pedir dos heróis.

Lupus, o grande lobo, fez um gesto com a cabeça para que os heróis lhe seguissem. Atrás do

mesa cerimonial nas ruínas havia uma pilha de pedras que, quando foram removidas,

revelaram um vão onde estavam escondidos uma loba branca e seis filhotes. Naquele

momento, Lupus se virou para a dúnedan, e grunhiu sons que pareciam com as palavras

"vocês, levar, fugir". Elmara, percebendo que o lobo queria que eles fossem embora com os

filhotes enquanto ficavam lá para lutar com os wargs, disse que que ficaria lá também e os

ajudaria a defender o vale.

No entanto, o lorde dos lobos não quis aceitar a oferta, e balançava a cabeça, negando. De

repente, a claridade que banhava aquele vale desapareceu. Uivos sinistros começaram a ser

ouvidos vindo de todos os lados. Olhos vermelhos eram vistos do alto das colinas a leste e

oeste. Os lobos se agitaram e começaram a se posicionar em volta da ruína, eram mais ou

menos vinte, rosnando. Lupus latiu para o grupo e grunhiu o que Elmara entendeu como "Vão,

agora!". Pressentindo um massacre, a companhia decidiu por fugir e levar os pequenos lobos

e a mãe.

No momento que pegavam os filhotes e colocavam em suas mochilas os wargs começaram a

chegar. Dezenas vieram do túnel por onde o grupo chegara. Muitos outros desciam como

podiam pela encosta sul. Aerandir e Elmara atiraram flechas contra eles mas, quando um caia,

outros tomavam seu lugar. Drarin e Klandrin iam na frente, abrindo o caminho com seus

machados. Não haviam muitos wargs vindo da parte norte do vale, por sorte da companhia.

Naquele momento, não podiam pensar em enfrentar dezenas e mais dezenas daquelas

criaturas malignas, precisavam encontrar uma forma de sair de lá, salvando a linhagem de

Lupus. A companhia se esgueirou por trás de rochedos, árvores e colinas, escapando do olhar

dos monstros. Chegaram ao topo do vale, de onde podiam ver o caminho que deveriam seguir

para chegar até Rhosgobel, só que haviam wargs lá, esperando por eles.

Talvez fosse o desespero da situação ou a benção das estrelas que brilhavam por sobre as

árvores no céu, mas a companhia estava mais focada do que nunca. Os monstros não tiveram

muitas chances contra os machados dos anões, a espada do hobbit e os arcos de Elmara e

Aerandir. Assim, eles seguiram seu caminho sem muitos problemas, procurando, sempre,

estarem escondidos e protegidos de alguma forma.

Quando achavam que já estavam longe o suficiente do vale e que nenhum warg estaria mais

atrás deles, tiveram uma surpresa. Um warg negro, enorme, saltou para cima da mãe loba,

que fora pega de surpresa. Mais três wargs se aproximaram vindo de trás de árvores, eles

estavam perseguindo o grupo há algum tempo e estavam esperando que eles se distraíssem.

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Porém, novamente, as estrelas abençoaram os bravos heróis, que defenderam os lupinos

daqueles monstros de uma maneira formidável. Golpes perfeitos e certeiros botaram as

criaturas no chão em pouco tempo. Depois disso, tiveram certeza de que não haviam mais

perseguidores em seu encalço.

A partir dali, prosseguiram viajem cautelosamente, procurando abrigos em locais escondidos,

sempre prestando atenção em possíveis rotas de fugas caso fossem encontrados. No segundo

dia de viajem de volta para Rhosgobel, viram uma coluna de fumaça subindo da direção onde

ficava o vale e uivos sinistros ecoando entre as árvores. Ao que tudo indicava, Os lobos da

floresta tinham encontrado seu fim, mas a linhagem não tinha sido quebrada. Graças à

companhia.

Chegaram na vila dos homens da floresta sobre uma chuva fina, porém persistente. Os

homens pressentiram o que tinha acontecido e um ar abatido podia ser percebido em seus

rostos. Quando o grupo mostrou que traziam com eles a mãe loba e seis filhotes, um lampejo

de esperança brilhou na face de todos. Radagas, o mago marrom, estava esperando por eles

e disse que aquilo, apesar de tudo fora uma vitória, a linhagem dos nobres lobos da floresta

estava salva, graças a Drarin, Klandrin, Robin, Elmara e Aerandir.

O Mago disse que ainda tinham muito o que conversar. Ele falara com Saruman, o mago

branco, líder do Conselho, e aprendera muito sobre o que estaria acontecendo nas Terras

Ermas. No entanto, ele disse, aquela não era a ocasião para isso. Tinham que comemorar

aquela vitória e fortalecer o espírito, pois tempos sombrios se aproximavam.

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Crônicas da Terceira Era

Anoitecer

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Crônicas da Terceira Era: Anoitecer - Parte I Alguns dias se passaram até que Radagast pôde receber a companhia. Elmara, Klandrin,

Drarin, Robin e Aerandir foram até a cabana de madeira onde o mago residia para conversar

sobre tudo o que estava ocorrendo.

Era uma construção simples, toda de madeira, com desenhos de animais esculpidos nos

troncos que sustentavam a estrutura. Diversos pássaros descansavam no local, sobre o

telhado e em árvores próxima. O mago estava sentado em uma velha cadeira de carvalho,

fumando um longo cachimbo. Quando os aventureiros se aproximaram o sábio disse: "É bom

sentarem-se, temos muito o que conversar. As sombras se alongam."

O que se seguiu foram horas e mais horas de discussão sobre o que ocorria pelas Terras

Ermas e sobre os sinais da escuridão que se aproximava. Os sinais que a dúnedan mostrara

para o mago realmente eram de feiticeiros negros e ao que parecia, um deles, estava agindo

naquela região. Ele estaria buscando quatro artefatos antigos do reino de Angmar que foram

espalhados pelo norte por servos do Rei Bruxo. Aparentemente, um deles estava na fenda que

encontraram quando iam para o vale secreto dos lobos mas, infelizmente, esse já teria sido

recuperado pelos servos de tal feiticeiro negro. Radagast diz, então, que pelo que conseguiram

descobrir por meio de registros antigos e informações dos animais da floresta, um outro

artefato pode estar no subterrâneo da fortaleza da Casa de Faerel, dos elfos de Mirkwood.

Quanto aos outros dois, o velho sábio disse que procuraria por eles enquanto os heróis

buscavam por mais informações e recuperavam aquele no norte da floresta.

A companhia decidiu se dividir temporariamente. Elmara e Robin iriam para o oeste, depois

das Montanhas das Névoas, para Rivendell encontrar o lorde Elrond. Pretendiam usar a

sabedoria daquele antigo elfo para ajudar-lhes no que quer que fossem enfrentar. Já Klandrin,

Drarin e Aerandir iriam para o norte de Mirkwood, para a Casa de Faerel, ver o que acontecia

por lá. Depois iriam para os Salões do Rei Elfo para deixar o lobo sobre os cuidados do povo

da floresta.

Era um dia bonito quando o grupo partiu de Rhosgobel. Pássaros de diversas cores e

tamanhos voavam por um céu azul cerúleo. Uma brisa fresca soprava do sul, o que deixava o

a viagem agradável. O grupo seguiu junto por cerca de dez dias, mas chegando próximo a

velha estrada da floresta eles se dividiram. A dúnedan e o hobbit foram para leste em direção

à Passagem Alta e os anões e o elfo foram para o norte, em direção ao caminho dos elfos.

A viagem de Elmara e Robin era mais demorada e difícil. Iriam passar pelas Montanhas das

Névoas, por seus vales e precipícios. Isso sem contar que as montanhas era conhecidas por

terem diversas cavernas ocupadas por orcs. Mas isso não desanimou o ânimo dos dois, que

prosseguiram viajem vencendo todos os desafios que encontravam, como terrenos alagados,

pedras para escalarem e criaturas selvagens. Quando estavam no topo de uma das

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montanhas avistaram algo que não parecia ser um bom sinal. No norte, próximo ao Ninho das

Águias, sinais de fumaça indicavam movimentação de orcs, as criaturas das trevas estavam

se movimentando. A dúnedan ficou preocupada com o que viu e apartou o passo para

Rivendell, lorde Elrond precisava saber daquilo.

O caminho de Drarin, Klandrin e Aerandir foi mais tranquilo, No vigésimo segundo dia de

viajem, chegaram ao forte da Casa de Faerel. Pelo que viram uma pequena batalha aconteceu

ali há alguns dias. Os elfos preparavam rituais para os mortos e queimavam carcaças de

aranhas gigantes em grande fogueiras. O lorde Faeranil os recebeu alegremente, lembrando-

se da ajuda que eles lhe deram a primeira vez que a fortaleza esteve sobre ataque. Agora,

eles contavam com a ajuda de dezenas de soldados elfos cedidos por outras casas nobres do

Reino da Floresta. No entanto, um dos lordes presentes pareceu não gostar da presença dos

heróis ali. O lorde Sindorfin, que já tinha entrado em conflito com Aerandir quando esse

convenceu o rei Thranduil a enviar tropas para ajudar a Casa de Faerel, estava lá com sua

tropa e, assim que viu o aventureiro, se retirou.

Drarin e Aerandir pediram para falar com Faeranil em particular, em um local onde ninguém

os pudesse ouvir. O lorde, não muito acostumado com aquilo, achou estranho mas aceitou o

pedido e os levou para a masmorra subterrânea, onde, anteriormente, tinha aprisionado a

companhia anteriormente. Certificando-se que ninguém os escutava, o grupo contou para o

elfo tudo que sabiam e sobre a possibilidade de ter um artefato negro escondido em algum

lugar na fortaleza. O lorde ficou preocupado, mas disse que faria de tudo para ajudá-los no

que quer que precisassem. O forte estava enfrentando alguns ataques recentemente, mas

graças aos reforços recebidos os inimigos não têm conseguido sucesso. Aerandir, depois,

mencionou a possibilidade de terem um traidor entre os elfos, mas Faeranil não conseguia

acreditar naquilo, o povo da floresta era inimigo antigo das forças do Inimigo.

Após conversarem, os heróis pediram para que o lorde os deixassem investigar o local em

busca de sinais do artefato ou de seu esconderijo, algo que foi prontamente aceito por ele. A

busca demorou alguns dias, já que o grupo não queria deixar claro para todas as pessoas o

que estavam fazendo. Mas, um dia, ao examinarem pela segundo vez uma das celas nas

masmorras, eles perceberam que algumas pedras da parede sul estavam soltas. Retiraram

uma a uma as pedras para então verem o que parecia ser uma porta de pedra, em arco, com

uma escrita em runas estranhas. Era alguma língua usada pelos feiticeiros negros de Angmar

e nenhum deles conseguia descobrir o que estava escrito ali.

A primeira coisa que fizeram, após descobrirem a passagem, foi avisar ao lorde Faeranil do

achado. Pediram para que ele os ajudasse a esconder a passagem enquanto não

descobrissem como abri-la. Entretanto, enquanto falavam com o líder da Casa de Faerel,

perceberam que estavam sendo observados por alguém. Sindorfin estava a poucos metros do

grupo, atrás de um pilar. Aerandir e Klandrin foram em sua direção, questionando o que ele

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fazia ali. O elfo respondeu de forma ríspida que não interessava, e que tinha informações

importantes para o lorde Faeranil. Os aventureiros não gostaram daquela intromissão e ficaram

ainda mais desconfiados do lorde élfico. Drarin convenceu o líder da Casa de Faerel de que o

comportamento de Sindorfin era suspeito e, apesar de relutante, ele concordou, dizendo que

cuidaria para que aquele lorde não se aproximasse do local da passagem.

Os três, então, decidiram que alguém deveria ir até o Rei Thranduil, levando os dois lobos que

carregavam, para pedir ajuda ou conselho. Aerandir foi o escolhido para essa missão, e

recebeu um dos cavalos mais velozes que a Casa de Faerel possuía. Drarin e Klandrin ficaram

lá para ter certeza de que ninguém iria se aproximar do portal que encontraram.

Enquanto isso, Elmara e Robin chegavam ao vale de Rivendell. A vista da cidade élfica era

encantadora e fez renovas as esperanças no coração dos dois. Ao adentrarem aquele local,

puderam ouvir uma música suave e apaziguadora ecoando pelas colinas, vozes de elfos se

misturavam com o som de harpas e flautas. Era um das músicas mais belas que o hobbit já

escutara.

A dúnedan foi recebida por um elfo de cabelos dourados que a cumprimentou como um velho

amigo. Ela logo perguntou se podia ver o lorde Elrond e o elfo lhe disse que o avisaria da

presença dela. Cerca de uma hora depois, o mesmo voltou avisando que o lorde local estava

pronto para recebê-los.

Elrond parecia já saber de muitas coisas que aconteciam pelas Terras Ermas e, mesmo com

tantas notícias sobre a movimentação das forças da Escuridão, ele se manteve calmo e

contemplativo. Avisado sobre a movimentação dos orcs nas montanhas próximas Elrond disse

que faria o possível para ajudar as águias e os Beornings da região enviando um grande grupo

de guerreiros para as montanhas e alguns batedores para visar as águias. Sobre os artefatos

dos feiticeiros negros Elrond não tinha muitos conselhos, apenas disse que aquele seria um

grande teste ao coração e o heroísmo deles e que a batalha por eles estava apenas

começando. Um tempo de escuridão se aproximava, mas a chance para o renascer da luzes

não estava perdida.

A conversa terminou sem muitas resposta para Elmara, mas o tempo era precioso para ela e

Robin. Precisavam partir rápido. O hobbit queria voltar ao condado, e algo no coração da

dúnedan a dizia que o amigo não retornaria com ela para as Terras Ermas.

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71

Crônicas da Terceira Era: Anoitecer - Parte II Aerandir cavalgava rapidamente em direção aos Salões do Rei Elfo. A viagem, a cavalo, da

fortaleza da Casa de Faerel até lá demoraria uma semana. Metade desse tempo seria

necessário apenas para se chegar até o Caminho dos Elfos por uma floresta que parecia cada

vez mais escura e fechada. Depois de quatro dias exaustivos, o elfo e o cavalo Nardin

chegaram à antiga trilha. A jornada, agora, seria mais tranquila, mas não menos cansativa.

No início da noite do sétimo dia, o aventureiro chegou ao seu destino. Soldados do Reino da

Floresta o receberam e perceberam que ele estava apressado e angustiado. Aerandir disse

que precisava falar com Thranduil, o Rei e rapidamente um encontro foi arranjada, pois esse

sabia que a visita do elfo não seria algo trivial.

Thranduil o recebeu em seu aposento real, sentado em seu trono de carvalho vivo. O Rei da

coroa de folhas perguntou, primeiramente, onde e como estavam os companheiros de

Aerandir, que já conhecia de visitas passadas. O herói, então, contou os acontecimentos desde

que passara por lá pela última vez. Como salvaram a vida de Drarin, o encontro com Lenareth,

a corrida para salvar a linhagem de lobos e a revelação de Radagast sobre os artefatos negros.

Contou ainda sobre a passagem que descobriram na masmorra do forte dos Faeral e os

símbolos estranhos marcados nela. Aquele, era o idioma negro, dos servos da Escuridão.

Aquelas notícias deixaram Thranduil desconfortado e seus olhos pareciam preocupados. Ele

prometeu enviar um estudioso daquele idioma para ajudar a companhia a desvendar o segredo

do portal e pediu para que o mantivessem informado. Coisas estranhas estavam acontecendo

na floresta e caso os elfos não permanecessem atentos poderiam perder, de uma vez por

todas, o seu lugar nela.

Enquanto isso, Elmara deixava o Condado, mas sem a companhia de Robin. O hobbit passara

quase um ano longe de sua terra e o retorno a ela o fez lembrar de tudo que sentia falta. Robin

pediu desculpas para a dúnedan, mas ele não iria voltar. Tudo que vira fez ele ver como a tudo

aquilo podia acabar e seu coração não aguentou. Talvez um dia ele voltasse para o leste, para

as Terras Ermas, mas por enquanto iria aproveitar a vida pacata do condado. Elmara estava

triste por ter que se despedir de sua amigo, mas também se sentiu aliviada em saber que ele

ficaria em segurança no Condado. A ranger passou apenas alguns dias naquela região até

decidir voltar. Tinha um longo caminho pela frente e algo lhe dizia que o resto da companhia

precisaria de sua ajuda em breve.

A viagem até Rivendell demorou quase vinte dias. O calor do verão tornou a travessia

cansativa, porém agradável de se ver. Os campos e jardins ao longo da estrada estavam belos.

Na metade do caminho a dúnedan encontrou um grupo de anões retornando do leste. Eles a

avisaram sobre um grupo de bandidos que atacavam viajantes mais à frente e roubando

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dinheiro e materiais valiosos. Elmara, então, prosseguiu com cuidado evitando o confronto com

os bandidos, haviam problemas mais urgentes para serem resolvidos.

A passagem por Rivendell foi ainda mais curta que a pelo Condado. Apenas uma noite. Havia

notícias de que os Beorning e as Águia Gigantes tiveram alguns problemas com orcs das

Montanhas das Névoas mas que tudo havia se resolvido, aparentemente. Ao menos a

Passagem Alta estaria segura. O caminho de Elmara, agora, a levaria através das montanhas

em direção ao nordeste para o Reino da Floresta, quase um mês de viajem.

Ao mesmo tempo, Aerandir voltava dos Salões do Rei Elfo na companhia de Fuilen, o sábio.

Os dois percorreram o mesmo caminho que, anteriormente, o aventureiro fizera sozinho, mas

ambos sentiram que algo sinistro estava para acontecer. A mata estava silenciosa, sinistra e

uma sensação estranha percorreu o corpo dos dois. A chegada deles no fortaleza dos Faerel

foi discreta, não queriam chamar atenção para a presença do estudioso ali.

Após encontrarem Drarin e Klandrin, eles foram para a masmorra, no subterrâneo do forte para

que Fuilen pudesse observar o portal. Quando o sábio viu as runas e as marcações, depois

do grupo ter retirado novamente as pedras que cobriam o local, todos puderam perceber o

quanto ele ficou perturbado. Depois de quase meia hora olhando e correndo os dedos pela

parede de pedra, o estudioso falou do que se tratava aquela escrita. Era um feitiço escrito no

Idioma Negro, usado pelos servos das Trevas. Aparentemente, para abrir o portal que

encontraram, era preciso realizar um ritual de magia antiga e sinistra. Pelo o que Fuilen

entendia dessa magia, eles poderiam reproduzi-la, mas isso levaria tempo, consumiria parte

do espírito e seria necessário a ajuda de mais duas pessoas.

A companhia se assustou com aquilo. Precisariam usar da arma do Inimigo para poder

combatê-lo. Infelizmente, se aquilo era necessário, eles estavam dispostos a sacrificar o que

fosse necessário para deter o avanço da Escuridão. Aerandir e Klandrin se comprometeram a

ajudar Fuilen na preparação do ritual assim que a pesquisa estivesse terminada, pesquisa

essa que demorou três semanas. Em uma noite, no final do verão, eles começaram o ritual.

Apenas alguns dias antes, Elmara ao sul do vale da Casa de Faerel, em direção ao Reino da

Floresta, onde esperava encontrar seus amigos. A dúnedan seguia viajem calmamente,

sempre tentando passar despercebida de qualquer criatura que estivesse na floresta mas algo

chamou sua atenção mais à frente. O ruído de centenas de criaturas se movimentando pela

mata, o barulho de árvores sendo entortadas. A ranger procurou um lugar seguro para que

pudesse observar o que acontecia. Subiu no alto de uma árvore, de onde podia ter uma boa

visão da área, mas o que viu a deixou assustada. Centenas de aranhas de Mirkwood se

dirigiam para o norte, na direção do que ela acreditava ficar o forte da Casa de Faerel que seu

companheiros visitaram anteriormente. Ela não pensou duas vezes, desceu da árvore, montou

em seu cavalo e cavalgou, sem parar para o norte, esperando encontrar o vale.

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Talvez fosse sorte, ou talvez o destino, ou então a benção dos Valar, mas Elmara conseguiu

encontrar o vale da Casa de Faerel e chegou a tempo de avisá-los do ataque iminente. Ao se

identificar como companheira dos aventureiros que já estavam lá, Faeranil disse que os

mesmos se encontravam lá, e que talvez precisassem da ajuda dele.

No interior do forte, palavras sinistras no Idioma Negro eram pronunciadas. As sombras

ficavam mais espessas, e um aperto no coração era sentido por Aerandir e Klandrin. As forças

da Escuridão eram poderosas e faziam-se presentes. Quando as últimas palavras foram

pronunciadas por Fuilen, a porta se abriu e o sábio caiu no chão, inconsciente. As sombras

que os cercavam pareciam que foram sugadas para o interior da passagem que se abriu e um

cheiro de morte, doce e enjoado os envolveu. Uma escada estreita, de pedras escuras, se

estendia a frente deles e eles não tinham outra opção senão descer.

Chegaram a um pequeno aposento sem adornos, de pedra escavada, com uma passagem na

parede norte. Com duas tochas acesas que pegaram do interior da fortaleza o grupo foi em

direção àquela abertura. Ela levava a um grande salão, com uma parte elevada no meio, um

altar com runas sinistras na parede oposta e quatro estátuas de grandes homens encapuzados

segurando espadas de duas mãos nos cantos. Havia duas aberturas nas paredes leste e oeste

de onde puderam ver um corredor. Aerandir, Klandrin e Drarin ficaram alguns minutos

examinando o local, quando então ouviram o barulho de alguma pessoa descendo as escadas.

Eles sacaram suas armas e se prepararam para o combate apenas para ver que se

reencontravam com Elmara. A tensão era palpável, assim com as sombras no local.

Aerandir, ao examinar o altar, percebeu que em seu centro havia uma abertura coberta por

uma placa. Ao move-la o elfo encontrou em seu interior uma adaga de lâmina fina, negra e

com runas em sua superfície similares àquelas no altar. Parecia ser uma espécie de arma

ritual que era utilizada ali. Os dois anões, juntos com Elmara examinaram o piso elevado no

centro do salão. Era uma grande circunferência de pedra que no seu centro parecia haver uma

outra, dividida em quatro. Em cada uma dessas partes eles viram concavidades do tamanho

de um punho fechado, com símbolos em seu fundo. Pensaram que talvez aquilo servisse a

algum proposito relacionado à adaga ritual, mas ainda não sabiam de que forma.

Decidiram, então, verificar a passagem a direita. Ela levava a um corredor trabalhado de pedra

lisa com imagens de criaturas estranhas e feiticeiros negros. Ao final do mesmo havia uma

porta dupla de pedra com arcos de bronze. A imagem de dois seres encapuzados com

espadas longas, um de cada lado fora esculpida nas mesmas. Eram portões pesados, e

fizeram um grande barulho ao serem arrastados. Ao abri-los Aerandir foi surpreendido por uma

lâmina negra que desceu do teto e fez um grande corte em seu braço esquerdo. Eles estavam,

agora, em uma tumba. Dois sarcófagos esculpidos com a imagem de elfos usando trajes

nobres estavam localizados no meio do aposento. Alinhado com cada um deles havia uma

estátua similar ao do grande salão.

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Klandrin começou a ficar preocupado com a presença dessas estátuas e quis examiná-las

mais de perto. Ao mesmo tempo, Elmara passou alguns minutos examinando um dos

sarcófagos a procura de outras armadilhas, mas nada encontrou. Pediu ajuda a Drarin para

levantar a tampa de uma da urnas e viu que debaixo delas havia o corpo de um elfo usando

armadura e trajes finos. Em seu peito havia uma pedra, do tamanho de um punho, com

inscrições similares àquelas no centro do salão. O elfo segurava uma grande espada em seu

peito. Sua pela estava esticada sobre seus ossos, dando uma aparência cadavérica a ele. A

dúnedain resolveu tentar retirar a pedra estranha equilibrando-a em sua espada, e com

sucesso a removeu do peito da criatura, mas logo deixou cair no chão.

Enquanto isso, Aerandir verificou a outra tumba e encontrou a mesma situação dentro dela.

Menos cuidadoso que sua companheira, porém, ele pegou a pedra no peito do elfo morto com

suas mãos e sentiu uma energia maligna percorrer seu corpo. Então, de repente, a mão da

criatura segurou seu braça e ela se levantou com um pulo, empunhando sua grande espada.

Seu companheiro de descanso também despertara e não parecia nada contente de ter perdido

sua pedra.

Em um instante aquela sala foi tomada pela escuridão. As tochas que a companhia

carregavam pareciam pequenas velas. Terror e desespero emanava dos monstros e o coração

dos heróis fraquejou. Uma luta desesperada começava. Elmara lembrou-se que Elrond tinha

purificado a Pedra da Estrela, que usaram contra os espectros no esconderijo de Lenareth e a

puxou de suas vestes. A pedra brilhara e combatia a escuridão com sua luz.

O barulho de metal batendo contra metal ecoava pelo lugar, e as vozes das criaturas entoavam

um cântico sinistro que deixavam o grupo angustiado. A resistência daquelas criaturas era

incrível, elas recebiam diversos golpes de espada e machado apenas para cair e se levantar

novamente. Um dos mortos, que era uma elfa, conseguiu atingir Elmara em um golpe certeiro

de sua espada negra, e um jato de sangue saiu de seu flanco. No entanto, no golpe seguinte

ela foi impiedosa e cortou o pescoço do monstro que caiu inerte, sem se levantar novamente.

De seus restos uma sombra se levantou, apenas para se dissolver sobre a luz da Pedra da

Estrela.

Os dois anões concentraram seus ataques no outro elfo, que logo caiu e teve sua cabeça

decepada pela lâmina afiadíssima do machado de duas mãos de Klandrin. Outro sombra,

então, surgiu e foi destruída pela pedra. Os inimigos estavam no chão e duas runas foram

recuperadas. Uma forte energia negra emanava delas. Ainda faltavam pelo menos mais duas

pedras, o que significava mais dois mortos-vivos para enfrentar. Enquanto isso, lá fora, uma

batalha gigantesca ocorria. Elfos contra as Aranhas Gigantes de Mirkwood.

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Crônicas da Terceira Era: Anoitecer - Parte III Metade do que devia fazer ali, já tinham feito. Duas das pedras que, provavelmente, os levaria

até o artefato negro tinham sido recuperadas pela companhia. Faltavam mais duas, sobre a

guarda de mais dois mortos que se levantariam com o poder da Inimigo.

Elmara fora ferida gravemente na batalha contra uma das criaturas. Uma perfuração no lado

esquerdo do seu tronco jorrava muito sangue e ela sentia que não conseguiria lutar com a

mesma força de antes. Por isso, ela sugeriu que ficasse no salão do altar vigiando a entrada

daquele complexo e as runas negras que fossem colocadas no centro da elevação. Achando

mais seguro, todos concordaram e Aerandir, Drarin e Klandrin acenderam uma tocha e

andaram em direção ao corredor oeste, que da mesma forma que o leste, levava até uma

grande porta dupla de pedra com a imagem de um elfo e uma elfa em trajes nobres.

Já preparados, devido ao incidente em que foram pegos de surpresa por uma armadilha ligada

ao portão do túmulo anterior, os aventureiros decidiram verificar se não haveria nenhuma

surpresa desagradável nas portas de pedra. Drarin, com seus olhos afiados, examinou o vão

entre as duas portas e viu um ganho que se abriria com a abertura da mesma, provavelmente

liberando a espada de pedra afiada que viria em direção àqueles que adentrassem o recinto.

O anão, então, conhecendo este tipo de mecanismo, frequentemente usado em fortalezas de

seu povo para proteger certos locais, conseguiu travar o gancho para que quando abrissem

os portões a espada não caísse.

Depois disso, os três entraram em um aposente muito parecido com a tumba anterior. Havia

dois túmulos, um no centro do lado esquerdo e outro no centro do lado direito. Uma grande

pilastra de pedras escuras dava sustentação ao local e tinha apoios para tochas e lanternas.

Atrás de cada um dos caixões, uma estátua em tamanho natural de um ser encapuzado

segurando uma espada parecia olhar para os invasores daquele lugar amaldiçoado. Todos

sabiam o que tinham que fazer, abrir as tumbas e pegar as runas negras.

Enquanto Klandrin olhava mais atentamente as estátuas sinistras, prestando atenção nos

detalhes e perfeição com que foram feitas, seu amigo, Drarin, decidiu abrir a tumba da

esquerda, que tinha a figura de um nobre elfo esculpida na tampa. A grande pedra deslizou

fazendo barulho e um sonoro baque ao ser apoiada no chão. O corpo de um elfo alto de

cabelos negros e cumpridos, vestindo uma cota de malha prateada, segurando uma grande

espada e com uma pedra negra apoiada em seu peito podia ser visto.

Nesse momento, Klandrin lembrou de tudo o que aconteceu do outro lado, da luta terrível com

aquelas criaturas do mal e decidiu dar o primeiro golpe. Empunhando seu grande machado de

duas mãos, o anão o levou até acima de sua cabeça e com um grito de raiva golpeou a criatura

que jazia deitada. A força do golpe quase fez com que a cabeça dela fosse arrancada. O

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impacto, ainda, serviu para desequilibrar a pedra que deu um salto, encostando no braço do

anão, antes de cair no chão.

O toque daquele artefato fez o aventureiro sentir um arrepio estranho em sua espinha. Ao

mesmo tempo, o elfo deitado na tumba levantou-se com um grito terrível, apenas para ser

jogado para fora do caixão com uma machada no seu peito por Drarin. Aerandir, aproveitando

o desequilíbrio da criatura, foi capaz de acertar uma flecha no crânio do monstro, e este ficou

caído, no cão. Mas apenas por alguns segundos. Um brilho vermelho no olho da criatura

parecia indicar que ela não podia ser vencida com simples golpes de machado e perfurações

de espadas. A luta continuou, com Klandrin usando todo a sua habilidade e força para manter

o monstro longe de seus amigos. Seu companheiro anão, vendo que a criatura das trevas não

parecia se render, decidiu por abrir a segunda tumba, onde uma elfa, com trajes nobres e pele

esticada sobre os ossos, estava deitada, para pegar a outra pedra.

Quando o morto-vivo viu que o anão estava equilibrando a runa negra sobre a lâmina larga de

seu escudo e se dirigia para fora do aposento, ele entoou palavras de poder no idioma negro

e saltou por cima de seu antigo lugar de descanso para atacar o aventureiro. A lâmina de sua

espada veio por cima, mas em um reflexo rápido Drarin se defendeu com seu escudo. No

entanto, isso fez com que ele derrubasse a pedra que equilibrava em sua arma.

A influência das trevas no local se tornava mais forte e sensível a cada segundo. A batalha a

cada troca de golpes, ferimentos e gritos de dor parecia mais perdida para os heróis, aquilo foi

deixando o coração de Klandrin cheio de dúvidas, angústias e sofrimento, até que ele não viu

outra alternativa senão sair dali, fugir da escuridão e buscar a claridade. O anão correu,

empurrou a criatura de sua frente e voou pelo corredor. Em sua pressa acabou chutando uma

das Pedras Negras no chão para fora da sala, em direção ao corredor escuro.

Elmara, que estava de guarda no salão principal, achou estranho a vinda do anão correndo e

tentou questioná-lo sobre o que estava acontecendo. Klandrin, entretanto, ignorou a presença

da dúnedan e quase a atropelou com seu peso. O anão seguiu seu caminho, subindo as

escadas que levariam para fora daquele lugar maldito, para as masmorras da fortaleza da

Casa de Faerel. Elmara, em desespero, foi atrás de seu amigo, mas ao sair da masmorra não

viu mais nenhum sinal dele, apenas podia ouvir o som da batalha que ocorria acima deles.

Gritos de desespero, dor e socorro.

Então ela se lembrou do porquê de estar ali. A missão que recebera de recuperar e destruir os

artefatos negros. Ela voltaria para o interior da catacumba para ajudar seus amigos. Aerandir

e Drarin, no entanto tinha se retirado da batalha também. O anão, quase que por sorte,

conseguiu recuperar uma das pedras negras no corredor e fugira para fora daquele lugar,

quando, então, encontrou a dúnedan.

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Aerandir e Drarin estavam amedrontados e queriam deixar o local para retornar depois mas

Elmara, consciente de que aquela podia ser a única chance que teriam disse que não sairia

de lá sem o artefato. O elfo e o anão não podiam deixá-la sozinha lá dentro, por isso voltaram

para lá, junto com ela.

O local estava em completo silêncio. Uma escuridão gelada cobria todos os cantos e a

sensação que tinham era que os espíritos malignos estavam prestes a saltar sobre eles.

Elmara e Aerandir foram a frente, ela segurando a Pedra de Varda que iluminava o caminho e

ele com uma tocha e sua espada élfica. Ao chegarem em frente à porta dupla de pedra que

dava para as tumbas do corredor oeste, onde enfrentaram o elfo morto-vivo, eles não viram

nenhum sinal da criatura e a sala estava silenciosa.

No entanto, ao adentrarem o recinto, distraídos pela aparente segurança do local, foram

surpreendidos por dois elfos carniças que os atacaram com suas espadas negras. Elmara

conseguira ser rápida e se defendeu com seu escudo, mas o Aerandir não foi tão rápido e foi

ferido por uma elfa cadavérica usando armadura prateada.

Vendo seus amigos sendo atacados impiedosamente por aquelas criaturas, Drarin observou

o local e viu que a pedra que precisavam recuperar estava dentro de uma das tumbas e correu

para pegá-la. Ao mesmo tempo, a dúnedan era perfurada pela lâmina escura da espada do

elfo carniçal e caia inconsciente no chão gélido da catacumba. Aerandir, vendo que seu

companheiro conseguira segurar e pedra gritou: "Corra, vá embora e pegue o que viemos

buscar, tentarei segurá-los aqui".

O anão correu o máximo que pode. As criaturas, percebendo que ele agora possuía a última

pedra negra tentaram alcançá-lo mas não foram rápidas o suficientes, estavam feridas e sendo

atacadas por Aerandir. Drarin colocou a última pedra que faltava no centro do salão, em seu

devido lugar. Pegou a adaga negra que achara no altar atrás dele e fez um corte em sua mão

para que sangue escorresse nas runas. De repente toda a masmorra começa a tremer e o

círculo no meio do aposento começa a se abrir. Dentro dele, em um pedestal estava apoiado

o que parecia ser um cetro feito de metal escuro, com uma pedra obsidiana na ponta. Sem ter

tempo para ponderar suas ações o anão agarrou o artefato e fugiu para fora daquele local. Ao

tocá-lo ele sentiu uma voz, ecoando em sua mente, lhe prometendo riquezas e glória, em troca

de lealdade. Mas ele resistiu, ela sabia o que aquilo era e a quem servia.

Ao subir as escadas o anão se deparou com uma situação terrível, ao que parecia, as aranhas

da floresta estavam vencendo a batalha. Corpos dos guerreiros elfos podiam ser vistos em

diversos lugares e uns poucos sobreviventes corriam para onde podiam. Quatro elfos usando

cotas de malha, e túnicas nas cores preto e preta ofereceram ajuda ao anão para saírem dali,

eles tinham cavalos e podiam levá-lo para longe dali por um caminho secreto que corria pelo

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leito do Rio da Floresta, para o norte. Drarin, desesperado, aceitou a ajuda imediatamente e

foi com eles, para fora do vale, para longe de seus amigos com o Artefato Negro nas mãos.

Nas catacumbas, Aerandir, depois de se livrar dos mortos, colocou Elmara nos ombros e a

levou para longe dali, em um lugar escondido onde pode tratar de seus ferimentos por algumas

horas. Após ter certa segurança de que a companheira sobreviveria, ele decidiu que era hora

de sair dali, de forma que ninguém os visse. Foi uma manobra difícil, havia aranhas para todos

os lados. Mas ele conhecia a floresta como ninguém, ele viveu centenas de anos naquela

região e, depois de quase serem surpreendidos por uma gigantesca aranha de cor de sangue,

eles estavam seguros. Agora, ele precisa apenas procurar um abrigo e esperar que sua amiga

acordasse.

Ao norte, cavalgando rapidamente, Drarin e os quatro elfos chegavam ao ponto onde deviam

cruzar o rio quando pararam. De repente, detrás das árvores ao redor deles saíram treze elfos

e um homem de manto negro e armadura. Eram doze arqueiros, com os arcos apontados para

o anão, o lorde Sindorfin e ao que parecia um feiticeiro negro. Este estendendo a mão em

direção ao anão disse em uma voz gutural: "Entregue o artefato, anão, e sairá daqui vivo". Foi

aí que o herói percebeu na armadilha que tinha entrado. As cores das túnicas dos elfos que o

ajudaram eram as mesmas da Casa Sindorfin, do elfo que estavam com suspeitas de traição,

que os seguiram e tentou escutar a conversa que tiveram com Faeranil. Mas agora era tarde.

Ele tinha que fazer algo para evitar que o artefato negro caísse em mãos inimigas. Ele jogou

sua mochila na direção de Sindorfin e disse: "Aqui está". O feiticeiro negro, enfurecido gritou

"Eu quero o cetro, na minha mão!", mas já era tarde. O anão correu em direção ao rio,

caudaloso e violento, para se jogar. Antes, porém os doze arqueiros o alvejaram cruelmente.

Ao cair nas águas geladas do Rio da Floresta, Drarin já estava mortalmente ferido, mas sua

força de vontade era tamanha que ele não soltou o cetro, mesmo sendo jogado contra diversas

pedras pela correnteza. O herói do povo de Durin sacrificara sua vida para ter certeza de que

as forças da Escuridão não se apoderassem daquele item.

Longe dali, dentro de uma caverna úmida, Klandrin acordava. Ele sentiu uma sensação

esquisita de que acabara de perder algo muito importante. O cheiro de uma sopa estranha

chamou sua atenção. Quando se deu por si, lembrou-se do que tinha acontecido, que tinha

abandonado seus companheiros, que se perdera na floresta fugindo da escuridão e que

desmaiara de cansaço na floresta. Agora ele estava ali, em uma caverna, onde podia ver um

ancião com uma grande barba cinzenta, vestindo trapos e peles amarronzados cozinhando

algo em um caldeirão.

- Eu posso levá-lo até seus amigos, Klandrin. Mas você deverá fazer uma favor para mim -

disse o estranho homem.

Que outra opção ele tinha?

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Crônicas da Terceira Era

Em Busca da Luz

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Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte I Demorou alguns dias para que a luz do sol tocasse as folhas das árvores de Mirkwood

novamente. Era como se uma imensa mão negra estivesse cobrindo a floresta. Era claro de

que o Inimigo estava agindo naquela região.

Klandrin estava a uns dez dias de distância dos Salões do Rei Elfo, ao sul, sem saber

exatamente como chegara ali. Um ancião vestido em trapos e peles de animais, com uma

longa barba cinza e marrom, o abrigara em sua caverna. Aquele senhor parecia saber alguma

coisa sobre eles e seus amigos e disse que o ajudaria a reencontrá-los caso o anão se

comprometesse a fazer-lhe um favor. Sem saber o que fazer e com um grande desejo de rever

seus companheiros o guerreiro aceitou e após dois dias eles partiram em direção ao Reino da

Floresta. A viajem foi demorada, pois tinham que andar com cuidado, evitando criaturas

estranhas que agora andavam por aquela região.

Uma certa noite, enquanto descansavam sobre um grande carvalho com raízes que quase

formavam uma pequena cabana. Eles ouviram a aproximação de um ser humanoide estranho.

Era uma criatura quase esquelética, careca, com uma pele cinzenta quase sem roupa

nenhuma e grandes olhos brilhantes. Apesar de uma forma humanoide o ser andava apoiando-

se com a mãos no chão e parecia ter um comportamento primitivo. Quando a criatura ficou

bem próxima do esconderijo, Klandrin conseguiu ouvir alguns sussurros da criatura, que

parecia falar sozinha. Eram palavras desconexas que se repetiam muito como "Pressciossso...

Onde essstá?", "Bolssseirosss", "Maldisssção". O velho que acompanhava o anão disse que

aquela criatura tinha enlouquecido e seu coração fora tomado pelas trevas, e que não seria

bom confrontá-la, pois ele sentia que algo mais poderoso a procurava.

Demoraram dez dias para chegar até o reino dos elfos e ali o ancião deixou Klandrin. Disse

para o anão que o procurasse assim que inverno acabasse nas margens norte do Lago Verde,

no oeste da Floresta de Mirkwood, e desapareceu entre as árvores sem deixar sinais de sua

passagem. Ao chegar aos Salões do Rei Elfo o herói percebeu que nenhum de seus amigos

chegara, apesar de alguns sobreviventes do ataque das aranhas à Casa de Faerel já estarem

lá. Nenhum deles vira seus amigos desde o ataque e um pesar cresceu no coração do anão.

Depois de conversar com o Rei Thranduil sobre o que acontecera, Klandrin se viu tomado por

uma melancolia que demoraria dias para passar.

Enquanto isso, Aerandir e Elmara se recuperavam dos gravas ferimentos que sofreram na luta

contra os espectros que dominavam o corpo daqueles elfos nas catacumbas. Eles precisaram

de sete dias até se sentirem seguros o suficientes para partir em direção ao Reino da Floreste,

ainda não totalmente recuperados. A viajem demorou um pouco mais de duas semanas. O

calor do verão passava e o outono se aproximava rapidamente, seco, escuro e com um vento

gelado. A floresta parecia mais escura e silenciosa aqueles dias. Nenhum sinal de animais foi

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visto por todo o trajeto, com exceção de insetos escuros como mariposas e pequenas aranhas.

Uma sensação de que algo ou alguém os observava a cada momento deixava os dois muito

incomodados e os fez não querer descansar por muito tempo.

Assim que chegaram ao Reino da Floresta e encontraram Klandrin, descobriram que Drarin

jamais chegara ali e tiveram certeza de que algo acontecera com o companheiro. A primeira

reação de Elmara foi sair dali, imediatamente, e retornar para a floresta a sua procura. Mas

alguém estava esperando por ela nos Salões do Rei Elfo. Ballared era seu nome. Um

imponente Beorning de barba ruiva e cabelo desgrenhado. Não usava armadura apenas a pele

de um grande urso sobre seus ombros um gigantesco escudo e um machado. Em seu rosto

um ferimento que deixara um cicatriz.

Ele e Elmara já se conheciam. Ballared era um Beorning que, por acidentes do destino,

passara alguns anos vivendo no oeste, com ajuda dos Dúnedain. Enviado por Elrond, veio

para entregar uma mensagem e uma espada para a aventureira e para se oferecer para ajudá-

la. Desconfiada, como sempre, a dúnedan só aceitou a ajuda do imponente beorning depois

de ler a carta de Elrond. Se o Lorde dos elfos de Rivendell confiava nela, ela também confiaria.

Rapidamente, Elmara explicou o que acontecera na Casa de Faerel a o situação de Drarin.

Com ele estava um dos Artefatos Negros de Angmar e, por isso, precisavam ter certeza sobre

o que acontecera com o amigo. Todos arrumaram suas coisas e partiram de volta para aquela

floresta escura. Antes, no entanto, viram que o lorde Sindorfin, também retornara da Casa de

Faerel e não fez uma cara muito satisfeita ao vê-los ali.

O novo grupo, então, viajou por dez dias debaixo da escuridão da floresta. A mata estava

estranha e sombras pareciam acompanhar o grupo em sus trajetória. Ventos gelados vindo do

norte os pegavam de surpresa e dificultavam o progresso pelo leito do Rio da Floresta. Na

última noite de viajem, um pouco antes de chegarem aos arredores de onde ficava a fortaleza,

ouviram vozes graves vindo de trás de uma pequena colina às margens do Rio. Eram orcs, e

eles tinham encontrado algo, um anão.

Imediatamente o grupo empunhou suas armas e se lançaram para cima das criaturas. Eram

sete delas. Três goblins com arcos curtos e armaduras de couro, três lanceiros orcs usando

escudos de metal tosco, e um grande orc, empunhando um machado e um grande escudo

negro. Pegos de surpresa os inimigos estiveram em desvantagem. Isso sem falar que orcs não

estão acostumados a lutar em florestas. Bellared provou ser um grande novo aliado, era forte

e resistente.

O combate não demorou muito. Embora orc gigante fosse um oponente poderoso, os seus

subordinados não eram um grande desafio para os heróis. E em pouco mais de cinco minutos

a maioria deles jazia caído no chão. Um arqueiro goblin conseguira fugir, auxiliado pela

escuridão da floresta. Agora poderiam ver o quem era o anão que aquelas criaturas acharam.

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Quando viraram o corpo do podre coitado, viram o rosto de um amigo. Drarin estava morto.

Estava sem sua mochila, mas segurando um cetro negro entre seus dedos já endurecidos. Em

seu corpo flechas, que não eram de orcs e goblins. O que será que acontecerá com ele?

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Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte II O coração de todos eles estava apertado e doendo. Seu companheiro estava ali, morto. Em

seu último esforço ele conseguiu impedir que o cetro caísse em mãos inimigas, mas isso

custara sua vida. Ficaram lá, alguns minutos, perplexos tentando entender como aquilo

acontecera. Mas não tinha muito tempo. Aquela região, agora, estava sendo vigiada pelas

sombras.

Já era noite, nenhuma luz, nem da lua, nem das estrelas penetrava a floresta. O ar estava

pesado e gelado, deixando qualquer viajem na região mais cansativa. A companhia decidiu

que seria mais seguro procurar um abrigo para seguir viajem pela manhã. Colocaram o corpo

de Drarin sobre seu escudo e o carregaram para uma pequena caverna que encontraram em

uma colina um pouco distante da margem norte do Rio da Floresta.

Ali, sobre o abrigo das pedras e protegidos do frio e do olhar de outras criaturas, os

aventureiros pensavam no que fazer em seguida. Se prosseguiriam caminhando até o Reino

dos Elfos, por mais doze dias de viajem ou tomariam outra rota. Klandrin, então, teve a ideia

de se construir uma pequena embarcação e, assim, viajarem mais rapidamente e por uma via

mais segura e aberta. Começariam a construção da barca no dia seguinte.

A manhã chegou com uma neblina que cobria toda a floresta ao redor deles. Enquanto Elmara,

Balared e Klabdrin procuravam por madeira e outros materiais para construir o barco, Aerandir

ficou de vigia e explorou a área ao redor para ter certeza que estavam seguros. O dia passou

devagar, e a todo momento, apesar de não virem nenhuma outra criatura, tinham a sensação

de estarem sendo observados. Quando a noite chegou, infelizmente, tinham feito pouco

progresso na construção da embarcação. Era difícil achar madeira utilizável naquela parte, a

maioria estava úmida demais ou quebradiça. Ao anoitecer, o grupo voltou para o mesmo abrigo

que passaram a noite anterior.

Mirkwood estava silenciosa e nuvens escuras se espalhavam pelo céu. Nem os costumeiros

insetos negros que eram atraídos pela luz da fogueira foram vistos durante a madrugada. No

dia seguinte, a companhia resolver procurar material para o barco em outra parte da floresta e

teve mais sorte. Com os esforços conjuntos de Elmara, Balared e Klandrin, no final da tarde

eles terminaram de construir a pequena barca que os levaria rio abaixo, em direção aos Salões

do Rei Elfo. No entanto, preocupado com uma viajem pela noite, mais uma vez eles decidiram

passar a noite no abrigo que encontraram há dois dias. Mas, dessa vez, a noite não foi tão

tranquila.

Enquanto conversavam sobre a viajem de volta e os preparativos para um funeral a altura do

herói e companheiro Drarin, Klandrin ouviu o barulho de gravetos sendo quebrados do lado de

fora da caverna. Imediatamente todos pensaram que podia ser mais orcs, retornando com a

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ajuda do arqueiro goblin que escapara dias atrás. Logo descobriram que se tratava de outra

ameaça, uma que eles já conheciam.

De repente, uma aranha saltou por sobre o teto da caverno e começou a descer sobre Galared,

ela tentou aprisioná-lo em suas teias, mas o Beorning se defendeu com seu enorme escudo.

Em seguida outras duas aranhas entravam pelas frestas da caverna, surpreendendo todos.

Mas eles já sabiam lidar com aquelas criaturas, já enfrentaram dezenas delas, três míseras

aranhas não eram páreo para aqueles heróis.

Em pouco tempo, aquelas criaturas jaziam mortas no chão e a companhia tinha sofrido apenas

alguns arranhões. Mas agora aquele lugar fedia a sangue de aranha, o que não é nada

agradável se você quer saber. Entretanto, enquanto tomavam folego e limpavam suas armas,

tiveram mais visitas de oito patas. Aquele trio que enfrentaram antes eram apenas batedoras.

Agora, dezenas delas se aproximavam, e pareciam famintas.

O combate se estendia por muitos minutos e, apesar da grande habilidade do grupo, o número

de aranhas parecia quase infinito. Em pouco tempo eles se viram sobrecarregados de inimigos.

Klandrin, em um momento desesperado, decidiu pegar a embarcação que construíram e levá-

la para o rio. Seu companheiros perceberam que aquela podia ser a única saída deles também.

Aerandir, Balered e Elmara conseguiram se livrar de algumas aranhas que os atacavam,

pegaram o corpo do Drarin e correram na direção do anão.

Balared, no entanto, fora ferido na fuga e já sentia alguns efeitos do veneno paralisante da

aranha, por pouco não conseguira entrar na barca antes que seus perseguidores o alcançasse.

Eles já estavam no centro do curso d'água quando dezenas de aracnídeos chegaram às

margens, amaldiçoando-os por terem escapado. A companhia não queria viajar a noite mas,

naquele momento, não tiveram opção.

Já no barco, Balared sentiu os efeitos do veneno mas Elmara logo o tratou com ervas que

tinhas recolhido da floresta anteriormente. A viajem até o Reino da Floreste demoraria seis

dias por aquele caminho e eles evitariam ao máximo descer para as margens, pois sabiam

que elas estariam sendo vigiadas.

Foram quase uma semana de provações. O frio, a escassez de comida, as corredeiras entre

as colinas e a sensação constante de estarem sendo seguidos os acompanharam até

chegarem aos limites do reino dos elfos. Lá, foram recebidos por sentinelas e perceberam

como a floresta mudou desde que entraram no refúgio do povo da floresta. Ela não era tão

escura, úmida e sinistra ali. Adquiria uma ar mais solene e pacífico.

Elmara, sabiamente, decidiu esconder o artefato. Para todos os efeitos eles não o encontraram

com Drarin. A verdade seria contada apenas para o Rei Thranduil, assim como o estranho fato

do corpo do companheiro ter sido encontrado alvejado de diversas flechas de fabricação élfica.

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A companhia tratou logo de levantar suspeitas contra a Casa de Sindorfin, mas sem nenhuma

comprovação Thranduil não tinha certeza no que acreditar. Aquela casa já o ajudara

anteriormente e se comprometera a ajudar a defender a Casa de Faerel, inclusive retornando

da batalha trazendo diversos sobreviventes. Pediram, no final, que avisassem os magos que

eles tinham o artefato em poder e que alguém deveria buscá-lo.

Depois de apenas poucos dias de descanso, os aventureiros decidiram que seria hora de partir

para Erebor, antes que inverno chegasse. A jornada até a Montanha Solitária era tranquila e

sem muitos obstáculos, fora as colinas que devia ser superadas. A chegada deles, trazendo

um filho de Dúrin abatido em combate de forma heroica, trouxe muito pesar ao amigo Balin.

Uma grande cerimônia seria feita em homenagem a Drarin, o Portador da Pedra de Fogo.

Diversas pessoas que conheciam o anão foram avisadas e compareceram à cremação de seu

corpo, Anões das Montanhas azuis entre eles. Após, a companhia permaneceu em Erebor por

um pouco mais de um mês, onde Klandrin pode se reencontrar com seu povo e aliviar uma

angústia crescente em seus coração. Mais tarde, ao conversarem com o Rei Dáin Ironfoot,

pediram para que ele espalhasse a notícia que tinham perdido o cetro que encontraram na

masmorra da Casa de Faerel. Tinham a esperança que com isso conseguissem despistar a

atenção do inimigo e o fizesse procurar pelo artefato em outro lugar.

Após um mês no reino dos anões, o inverno se aproximava e o grupo sentiam que a Escuridão

se espalhava, cada vez mais espessa pelas Terras Ermas. Será que haveria tempo de esperar

que um dos magos viesse ao encontro deles?

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Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte III Elmara, Klandrin, Balared e Aerandir iriam partir de Erebor e retornar ao Reino da Floresta,

mas, antes, Dáin Ironfoot, o Rei Sobre a Montanha, requisitou uma audiência com o grupo. Ele

queria saber mais informações sobre a morte de Drarin, pois a achava muito suspeita. Foi

então que a dúnedan revelou ao Rei dos anões a sua suspeite de que uma casa nobre dos

elfos estaria envolvida. Aquilo deixou Dáin tremendamente irritado e se sentindo traído pelos

elfos da floreste. Ele queria justiça, nem que tivesse que buscá-la ele mesmo. Em alguns dias

ele enviaria uma comissão para os Salões do Rei Elfo e exigiria a cabeça do lorde Sindorfin.

Após tal audiência com o Rei Sobre a Montanha, os aventureiros se dirigem para o Reino da

Floresta. Era final de outono e o inverno estava apenas a uma semana de distância. O caminho

até a floresta era um dos mais fáceis que eles percorreram nos últimos meses. Apesar de um

vento gelado que soprava do norte, vindo das Montanhas Cinzentas, e cansaço causado por

ele, a companhia chegou no reino dos elfos em pouco mais de cinco dias.

Mas, quando chegaram lá, viram que algo havia mudado. Os Salões do Rei Elfo era um lugar

onde se podia encontrar um alívio para a viajem, uma música para animar os corações, uma

esperança de luz dentre de uma floresta enevoada pelas sombras. No entanto, algo

acontecera que fez com que o reino do elfos perdesse um pouco do seu brilho. Poucas

pessoas eram vista foram de seus aposentos e um ar de melancolia podia ser sentido

ocupando os salões. Até as famosas chamas que mantinham todo o lugar sobre uma luz

acolhedora e quente pareciam ter se tornado mais fracas.

Ali, os aventureiros permaneceram por mais ou menos um mês, quando então uma comitiva

de Erebor chegou e requisitou uma reunião imediata com o Rei Thranduil. Balin, Glóin e Óin

vieram a pedido do Rei Sobre a Montanha falar com o rei do Reino da Floresta sobre a morte

de Drarin, o Portador da Pedra de Fogo. Não demorou muito para que os três entrassem no

aposento de Thranduil para, sob portas fechadas, discutir o problema que os anões vieram

resolver.

As grandes portas de carvalho do salão de Thranduil permaneceram fechadas por horas e

nada se ouvia do lado de fora. No final da tarde de um dia frio e escuro, Balin, Óin e Glóin

saíram de lá com uma expressão pouco satisfeita. Klandrin, preocupado, quis saber o que

havia sido decidido e o emissário do Rei Sobre a Montanha lhe falou que nada. Segundo o

anão, Thranduil possui a arrogância esperada dos elfos e não admitia que podiam haver

traidores entre eles, duvidou das palavras de Dáin e por isso os reinos cortariam relações.

Pressentindo o clima pesado e sombrio que começava a se formar naquela região Elmara

propôs ao grupo que partissem dali para Rivendell, pois tinha certeza que Elrond saberia

melhor o que fazer com o artefato que agora estava na mão deles. Sendo assim, para não

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chamar muita atenção, o grupo saiu do Reino da Floresta separado para se encontrar apenas

depois de alguma distância, queriam ter certeza de que não seriam seguidos por ninguém.

O caminho que fariam até o abrigo do Lorde Elrond os levaria através do Caminho dos Elfos

no Norte de Mirkwood, para depois se dirigirem ao sul, na direção da Casa de Beorn, onde

descansariam alguns dias antes de prosseguirem para a passagem entre as Montanhas das

Névoas. Toda a viajem demoraria quase quarenta dias, o que significava que passariam o ano

novo na estrada, debaixo do frio do inverno.

Se há alguns meses a floresta a oeste dos Salões do Rei Elfo era sombria e estranha, durante

aquele inverno ela era quase assustadora. As árvores pareciam mais escuras e suas raízes

mais largas quase tomando todo o espaço entre elas. A neve começara a cair e com ela o

caminho se tornava menos visível e mais cansativo. Teias de aranha eram visíveis em algumas

partes graças a neve, no entanto, já que ela se acumulava na parte em que as teias se

tornavam mais espessas. Isso ajudou a companhia a evitar certas armadilhas.

O tempo que passaram na floresta foi mais da metade do jornada. O caminho era difícil e

traiçoeiro e algumas vezes eles ouviam barulho de criaturas se movimentando a frente, o que

fazia com que eles procurassem se esconder. A comida também era escassa e o grupo teve

que parar um dia em cada quatro ou cinco para procurar mais mantimentos e caçar alguma

presa. O que não era nada fácil devido a desolação da floresta. Em uma de suas parada, a

companhia quase fora atacada por dois ursos cinzentos quando tentavam se abrigar na

caverna escolhida pela dupla.

Poucas horas antes de passarem pelos Portões da Floresta, que os levava para fora de

Mirkwood, Aerandir avistou uma coisa entre as árvores ao norte do caminho que seguiam. Não

conseguia enxergar muito bem devido a escuridão que rapidamente tomava a floresta depois

do caminho, mas ele conseguiu identificar cinco casulos, que pareciam ser criaturas envolvidas

nas teias de aranha, presos no alto de algumas árvores. Temendo algum tipo de armadilha, e

sem saber que criaturas eram aquelas presas, a companhia achou mais seguro não se

aproximar, afinal, estavam de posse de algo que não podia cair na mão de ninguém, nem

mesmo de aranhas.

Ao saírem da floresta, o Vale do Anduin estava coberto com uma boa camada de neve de uma

neblina que os impedia de ver muito além de algumas centenas de metros. O caminho, agora,

era colina abaixo, em direção a Casa de Beorn, o líder do povo de Balared. Mas, após algumas

poucas horas de caminhada, a companhia avistou uma cena terrível.

Ao descerem entra duas colinas, em direção a uma pequena vila de Beornings onde

pretendiam passar a noite, o grupo encontrou o local devastado. Corpos de diversos homens,

mulheres e crianças jaziam pelo chão, casas de madeira estavam queimadas, em cinzas e

com boa parte de sua estrutura posta abaixo. Haviam, também, estacas fincadas no chão com

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cabeças de alguns beornings na ponta. Ao que tudo indicava, orcs da Montanhas das Névoas

estiveram ali, e há poucos dias. Balared reconheceu a cabeça de um dos anciões locais

fincada em uma estaca.

Foi então que perceberam que era bem possível que as criaturas que viram presas em grossas

teias de aranha, próximas ao limite da floresta, fossem fugitivos e sobreviventes do ataque ao

vilarejo. Mas, agora, já era tarde. Era noite e o caminho a frente deles não seria dos mais

tranquilos, pois a região era formada por diversas colinas. Achando que não teriam problema

em se abrigar naquele lugar, a companhia montou acampamento nas ruínas do antigo salão

principal.

Klandrin, sendo um dos companheiros que estava menos cansado da viajem, graças a forte

constituição dos filhos de Durin, ficou encarregado de ficar de vigia aquela noite. Mas em seu

habito de fumar cachimbo e apreciar as formas que a fumaça formava contra a luz da fogueira

o deixou distraído para a aproximação de um grupo de orcs e goblins que voltaram para ver

se encontravam mais alguns beornings sobreviventes.

De repente, flechas zuniam pelo vale e o anão gritou: "Estamos sendo atacados! Acordem!

Acordem!". O grupo se refugiou em uma casa em ruínas e flechas eram fincadas na madeira

ao redor deles. Um urro de guerra vindo de um grande orc de armadura e escudos negros foi

ouvido e quatro dessas criaturas brandindo lanças avançavam em direção à companhia.

Os aventureiros, pegos de surpresa, tentaram se defender como podiam, mas com os

arqueiros goblins escondidos entre as sombras e estando cansados, eles estavam em grande

desvantagem. Apesar de terem ferido gravemente alguns dos monstros, eles estavam mais

feridos do que gostariam quando perceberam que a melhor alternativa era fugir. O som da

gargalhada do grande orc ao verem aqueles aventureiros fugindo ecoava pelo vale e isso criou

um pesar muito grande entre a companhia.

Já era a segunda batalha com servos das trevas que se viram obrigados a fugir. Será que o

artefato que carregavam atraia essas criaturas e as deixava mais fortes?

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Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte IV Viajando o mais rápido que conseguiam e viajando seus arredores contra a presença de

qualquer goblin ou orc, a companhia chegou na Casa de Beorn em uma fria tarde de inverno.

Ao se aproximarem do comunidade de beornings que vivem ao redor do local, um homem alto

com físico avantajado e uma espessa barba negra sinalizou para que os companheiros

parassem. Ele se identificou como Halfstat, o líder dos guerreiros dali, amigo de Beorn e quis

saber quem eram aqueles estranhos viajantes e o que queria com eles.

Elmara se apresentou de forma um tanto ríspida e sem a devida formalidade que geralmente

se espera de viajantes entrando na casa de um grande guerreiro, o que deixou o beorning um

tanto insatisfeito. Por sorte, Balared, um beorning dos vilarejos do norte, conseguiu apresentar

o grupo de uma forma mais cordial e pediu para que pudessem adentrar a vila para descansar

e repassar as notícias que trazia dos limites norte da região. Percebendo que lidava com um

de seus irmãos beornings o líder deixou-os adentrar a comunidade e os levou até o salão

principal, onde descansariam e conversariam.

Depois de servidos com pão, carne e bebidas os heróis deram um relato sobre o que viram

desde que saíram das terras dos elfos. Contaram como encontraram o vilarejo destruído com

dezenas de pessoas mortas por orcs e como tiveram um encontro, na madrugada, com um

grupo dessas criaturas. Relataram, ainda, a visão que tiveram na floresta dos casulos de teias

que possivelmente seria de fugitivos do ataque a vila. Halfstat pareceu consternado, mas não

pareceu tão surpreso. Aparentemente estavam tendo problemas com os goblins das

montanhas há alguns meses, mas nada tão grande, até aquela data.

O líder local, então, disse que a companhia podia ficar à vontade para se recuperar dos

ferimentos e do cansaço da viajem. Ele iria enviar um grupo de guerreiros para o norte na

esperança de encontrar alguns sobreviventes e averiguar o que os orcs estariam tramando.

Mas disse que voltaria a falar com eles em breve. No dia seguinte um grupo de vinte beornings,

armados com lanças e machados seguiu para o norte.

A companhia permaneceu na Casa de Beorn por um pouco mais de uma semana, até estar

totalmente recuperada. No terceiro dia, depois que o grupo de vinte beornings foi para o norte,

cinco deles retornou com a informação que um pequeno exército de goblins e orcs se formava

ao pés das Montanhas das névoas no noroeste, na margem oeste do Anduin. O resto deles

estavam na floresta, procurando por sobreviventes. Caso aquele exército atacasse em breve

boa parte das terras dos beornings estaria perdida, eles precisavam de mais tempo para juntar

suas forças e convocar os guerreiros de todas as comunidades. Sabendo do conhecimento de

Balared sobre a parte norte de suas fronteiras e da experiência do grupo de aventureiros,

Halfstat os invocou para dar-lhes a missão de atrasar os orcs o máximo que conseguissem,

até que os beornings reunissem um exército suficiente para enfrentar as criaturas.

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No entanto, nem todos do grupo aceitaram a tarefa, apesar de Halfstat considerar uma

obrigação que aqueles que trouxeram as más notícias devam ser aqueles que ajam contra ela.

Elmara e Aerandir não iriam para o norte enfrentar os orcs, eles estavam determinados a seguir

viajem para Rivendell, para falar com Lorde Elrond. Balared e Klandrin iriam, junto com quantos

beornings conseguissem encontrar no caminho, marchariam para o norte para enfrentar o

exército das criaturas da montanha. A dúnedan tentou conseguir cavalos para a viajem que

faria, mas os beornings não tinham nenhum que pudessem se desfazer naquela hora de

necessidade.

Assim, depois de dez dias, desde que chegaram, os companheiros se separaram. Elmara e

Aerandir seguiram para oeste, em direção à Passagem Alta e Balared e Klandrin foram para o

norte, junto com um pouco mais de trinta beornings, na esperança de conseguir mais

guerreiros e impedir o ataque das forças das trevas sobre as terras do Vale do Andruin. Ao

analisarem o mapa da região, perceberam que a provável rota da força inimiga, que não quer

ser percebida até estar dentro da região guardada pelos beornings, seria através de um vale

entre a margem leste do Anduin e a planície povoado pelo povo guerreiro. Por isso, seria lá

que eles fariam um ataque para retardá-los de impedir que entrassem com toda a força no

Vale do Anduin.

Pelo caminho até o vale, Balared e Klandrin passaram por pequenos povoados de beornings,

onde conseguiram o apoio de cerca de mais vinte guerreiros. Se tudo desse certo, aquilo seria

o suficiente para segurar um grande ataque dos goblins das montanhas, já que tinham a

vantagem de conhecer o terreno e estarem se preparando para lutar nele. A maioria dos

beornings vestia uma armadura de couro leve, vigorosas peles de animais para se abrigar do

frio e portava um grande machado. Alguns usavam escudos e levavam lanças também.

Ao chegarem ao vale entre as colinas, o qual os orcs provavelmente passariam, preparativos

começaram a ser feitos. Klandrin, veterano de algumas batalhas, entre elas a Guerra dos Cinco

Exércitos e o cerco a Casa de Faerel, foi um dos encarregados de montar a estratégia para o

confronto com auxílio de Balared. Juntos, eles decidiram posicionar cerca de vinte homens nas

colinas para atacarem com lanças pedras e outros projeteis contra as tropas inimigas abaixo.

Três grandes pedregulhos foram preparados para serem lançados abaixo a fim de

desestabilizar os goblins que ali entrariam em pouco tempo. Klandrin, Balared e mais vinte e

poucos guerreiros ficariam na base do vale, prontos para segurar, o quanto puderem as tropas

do Inimigo. Graças ao estreito corredor formado pelas colinas, um pequeno número de

valorosos guerreiros poderia segurar centenas de inimigos por um longo tempo. Além disso,

graças ao pequeno número de cavalos, um outro grupo de beornings atacaria o força inimiga

por trás depois que eles tivessem adentrado o vale, pegando-os por trás e de surpresa.

E foi durante a madrugada da noite seguinte que as primeiras tropa de orcs e goblins

chegaram. A frente deles vinha um grande orc, de pele escura, ereto usando uma armadura

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de metal cheia de espinhos e um grande olho vermelho pintado em seu peito. Sons de chifres

graves sendo tocados pelos orcs para comandarem os goblins indisciplinados podiam ser

ouvidos misturados aos grunhidos dos orcs e vozes agudas de seu companheiros menores.

Quando estavam já na metade do vale o ataque começou. Os pedregulhos gigantes foram

rolados e muitos inimigos foram esmagados por eles, as tropas ficaram desestabilizadas e o

inimigo demorou para se adaptar no campo de batalha. À frente, Klandrin e Balared lideraram

um grupo de ferozes homens e mulheres contra as criaturas, que iam sendo mortos aos

montes. Mas isso não durou muito tempo. Logo os orcs botaram as tropas em linha novamente

e uma segunda onda de ataques começou.

Alguns beornings iam sendo abatidos mas, comparando com o número de servos das trevas

que caiam, eram poucos. Todos acreditavam que conseguiriam segurar o exército dos orcs

até que reforço chegasse, até que algo mudou e fez com que dúvida se instalasse no coração

deles. Uma nuvem negra, auspiciosa cobriu todo o vale e de trás do mar de goblins das

montanhas vinha um troll, gigantesco, sendo arrastado em correntes. Logo que foi liberada a

criatura urrou tão alto que fez as colinas ao redor tremerem. Pegou um goblin arqueiro que

atirava contra os beornings no alto e o arremessou contra os mesmos.

Os orcs vibravam com a fúria da criatura. Foi então que os aventureiros deram a ordem para

que os lanceiros concentrassem seus ataques contra as criaturas. Uma das beornings,

Beranwyn, saltou do alto da colina e encravou sua grande lança no peito do monstro que quase

tombou de uma vez. O troll ficou alguns segundos andando desequilibrado até cair por cima

de um grupo de goblins.

Mas Klandrin e Balared sabiam que trolls não eram mortos tão facilmente e decidiram partir

para cima da criatura antes que ela levantasse novamente. No caminho, entretanto, foram

interceptados por um grupo de soldados de elite orcs junto com o líder deles, o grande orc com

o olho vermelho pintando no peito. E ali ocorreu um luta devastadora, outros goblins e orcs

não chegavam perto, pois quando o grande Ghur'dar escolhia seu inimigo, este era só dele.

Naquela noite, porém, ele escolhera errado.

Apesar da dificuldade e dos ferimentos, Klandrin e Galared saíram vitoriosos e com a morte

daquele líder, as tropas inimigas ficaram desmoralizadas. Só faltaria derrubar de vez o troll

para que os goblins abandonassem seus postos. Mesmo ferido o troll ainda era um oponente

formidável. Balared e Klandrin precisaram trabalhar juntos para conseguir vencê-lo. No final, o

anão saiu ferido gravemente, devido a um ataque poderoso da gigante criatura com uma

pedra, mas seu companheiro fincou seu machado nas costas do monstro.

Vendo seus líderes e armas mais poderosas os goblins das montanhas bateram em retirada.

Os orcs tentaram impedi-los e isso gerou uma luta entre as criaturas, o que os beornings

aproveitaram para eliminar aqueles que ainda não tinham fugido. Os guerreiros a cavalo

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aproveitaram esse momento para atacar os fugitivos, que foram pegos de surpresa. Aquela

batalha tinha sido vencida, mas era provável que mais orcs e goblins voltariam depois.

Enquanto isso, Elmara e Aerandir começavam a subir as Montanhas das Névoas. Seria uma

jornada cansativa mas a dúnedan escolhera uma trilha mais amena para seguir. Passaram por

ruínas de antigas vilas de homens do norte nos primeiros dias, onde puderam se abrigar do

frio e da neve. No terceiro dia da travessia pelo Passe Alto eles encontraram uma pequena

caravana de homens e anões vindo o oeste. Os aventureiros alertaram os viajantes quanto a

presença de goblins no Vale do Anduin e dos problemas enfrentados pelos Povos Livres do

Norte. Tudo aquilo deixou todos preocupados, mas não iriam voltar agora, seguiriam até o

território dos Beornings para depois decidir o que fariam. Os dois grupos passaram aquela

noite juntos em uma torre de vigília abandonada. Na manhã seguinte se despediram e foram

em direções opostas pelas trilhas.

Na noite do quarto dia, o penúltimo antes de chegarem do outro lado das Montanhas da

Névoas a dupla foi atacada. Tudo aconteceu enquanto descansavam em um platô. Quatro

homens encapuzados escalaram silenciosamente a lateral da elevação mas foram vistos por

Elmara. No entanto, isso não a ajudou a evitar os ataques que eles desferiram com tanta

agilidade. Elmara fora ferida gravemente e envenenada por aqueles atacantes e, se não fosse

por Aerandir, o pior teria acontecido à dúnedan. O elfo de Mirkwood lutou bravamente e matou

os assassinos em pouco tempo, mas viu sua companheira cair no chão gelado da montanha,

tendo convulsões. Quem seriam aqueles? Porque atacaram Elmara e Aerandir?

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Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte V Ao acordar no dia seguinte, Elmara se viu no interior de uma pequena construção entre duas

grandes colinas. Seu corpo coberto pela capa dada pelos elfos de Mirkwood, que apesar de

fina, a mantinha aquecida. A brasa de uma fogueira jazia a sua frente. Demorou alguns minutos

até que Aerandir aparecesse trazendo algumas frutas silvestres que conseguiu encontrar por

ali.

Vendo que seu companheiro já tinha acordado, o elfo lhe explicou o que tinha ocorrido na noite

anterior, pois naquele momento Elmara estava confusa. Aparentemente, os homens que os

atacaram na ruína eram homens do oriente, de um povo selvagem e que tinha velhas alianças

com o Inimigo. Suas armas e vestimentas denunciavam sua origem mas não o propósito de

estarem ali, tão longe de sua região. Algo estava errado, mas não tinham muito tempo para

contemplar as possíveis razões do ataque. Rivendell estava a apenas dois dias dali e, como o

tempo tinha aberto, aquele era o melhor momento para prosseguirem na viajem.

Os dois dias seguintes de viajem foram bastante pacatos e no final da tarde do segundo dia

avistaram as casas dos elfos de Rivendell escondidas no vale secreto. Podiam sentir a magia

dos elfos no local, a serenidade daquele povo e a melancolia de uma raça que está

desaparecendo daquele mundo. Quanto mais se aproximavam, mais claramente podiam ouvir

vozes élficas entoando uma canção que ao mesmo tempo lhes trazia conforto e tristeza.

Quando cruzaram a antiga ponte que passa pelo córrego que corta o vale, foram recebidos

por Haldir, um antigo e sábio elfo, amigo de Elrond. Ele cumprimenta Elmara e pergunta o que

a trouxe de volta a última casa amiga do oeste e ela responde que eles vieram falar com

Elrond. O elfo, então, informou que Elrond estava ocupado naquela noite, mas que com certeza

falaria com os aventureiros no dia seguinte e que eles estavam livres para se acomodar onde

desejassem.

Elmara e Aerandir procuraram uma edificação para passar a noite e descansar da cansativa

viajem que tinham feito. À luz das estrelas e ao som de canções dos elfos eles adormeceram

e acordaram revigorados no dia seguinte, como se algum tipo de magia os tivesse deixado

mais fortes e com esperança renovada. Uma bela mesa de desjejum fora preparada, com

frutas, cereais e pães servidas com sucos e vinhos. Ao lado de suas camas, vestes limpas

foram deixadas para que ficassem mais à vontade.

Após a metade do dia, Haldir os chamou para que fossem ao encontro do Lorde Elrond que

os aguardava no pátio central de sua morada. Ao adentrarem o recinto, o elfo se encontrava

de costas para ele, observando as águas do córrego que caiam em um cachoeira na ravina

abaixo. Sem se virar, o lorde disse aos aventureiros que eles traziam com si um poder maligno.

- Percebo, então, que encontraram um dos artefatos dos bruxos da Angmar. Faltam, ainda,

dois para que sua missão seja cumprida.

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O lorde élfico já sabia para que eles tinham vindo até ali. Eles queriam deixar o artefato em

Rivendell, como logo pediram para Elrond, mas este não permitiu que fizessem isso. Aquela

não era o papel dos elfos, mas sim os dos homens. Era eles que deveriam enfrentar as forças

de seus inimigos de Angmar.

- Esta missão é sua, Elmara, e você deve levar os artefatos de Angmar até Isengard para que

o mago branco posso descobrir como destruí-los. Nós, elfos, temos outros afazeres e muitos

de nós estão deixando esta terra para nos juntarmos aos nossos irmãos no oeste.

A dúnedan, no entanto, estava cansada e sobrecarregada com o peso de ter em sua posse

aquele objeto maléfico e queria de toda forma se livrar dele. Ela pediu para que Elrond entrasse

em contato com os magos para que esses fossem até lá para pegar o artefato. Mas o lorde

élfico explicou que aquele não era o dever dos Istaris. Eles estavam lá para ajudar os povos

livres da Terra-Média, para guiá-los e lhes dar esperança, mas ainda eram esses povos que

deveriam lutar contra as sombras não os magos. Em resumo, era o dever dela ir até Isengard

e entregar-lhe o artefato e ela sabia disso, sempre soube, mas o peso de tanta

responsabilidade a fazia querer se livrar daquele item maldito.

De repente, uma criatura saiu de trás das sombras das pilastras que cercavam o local. Era um

jovem hobbit, de cabelos escuros, olhos amendoados e um sorriso maroto no rosto. Ele queria

acompanhar o grupo naquela missão até Isengard e pediu permissão ao Lorde Elrond para

isso.

- Bem, parece que não vou precisar apresentar vocês ao amigo de Robin Roper que chegara

aqui há alguns dias. Essas criaturas são mais curiosas à medida que ficam menores. Este é

Pêpe Língua-Afiada

Elmara sentiu um pesar grande no coração ao ver que outro hobbit do condado partiria para

uma aventura que poderia não ter mais volta. Entretanto, Elrond parecia não se opor a ida do

pequenino com eles. De fato, a ajuda que Pêpe daria a companhia ficaria clara em pouco

tempo.

O lorde élfico estava hesitante em ajudar o grupo naquela jornada. Mas os apelos e as palavras

bem escolhidas no discurso do mestre hobbit foram decisivas para que o líder de Rivendell se

comprometesse a fornecer cavalos, pôneis e mantimentos para o grupo. No entanto, Elrond

os alertou que viajar portando cavalos dos elfos e magia desse povo alertaria as forças da

Escuridão de que eles eram aliados da Casa de Rivendell e da luz e isso, com certeza, atrairia

mais oposição ao grupo.

Mas a companhia não se importava. Para eles, nada chamaria mais atenção do Inimigo do

que o artefato que estavam portando. Eles partiriam em breve para o sul, contornando as

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Montanhas das Névoa em direção a morada do mago branco. Saruman, com certeza, saberia

o que fazer com aquele item e talvez lhes ajudassem a encontrar aqueles que ainda faltavam.

Enquanto isso, do outro lado das montanhas, Klandrin e Balared se recuperavam da grande

batalha junto com os bravos beornings que derrotaram um contingente de goblins e orcs muito

maior que eles. Um batedor avisara que as forças do Inimigo estavam recuando para as

montanhas onde, provavelmente, tentariam reunir mais combatentes para atacar, mas que

isso ainda demoraria algumas semanas. Halfstat, então, decidiu que era hora de voltarem para

o sul e buscarem ajuda entre os irmãos homens das florestas. Alguns homens tinham sido

enviados para falar com Radagast, mas nenhuma notícia voltara até aquele momento.

A descida pelas colinas até a planície do Vale do Anduin foi sem incidentes, mas uma novem

escura parecia acompanhar os guerreiros por todo o caminho. A jornada foi lenta, pois havia

muitos feridos no grupo e, a cada vilarejo que passavam, Halfstat convocava mais homens

para se juntar ao grupo. Precisariam de todas as pessoas capazes de empunhar uma arma se

forem tentar impedir que os orcs e goblins dominem aquela região. Assim, depois de quase

dez dias, chegaram à Casa de Beorn. Lá, muitas pessoas já haviam chegado de comunidades

mais distantes. Uma ar de grande tensão pairava sobre o local, todos sabiam que em breve o

destino daquele povo seria decidido no campo de batalha.

Os aventureiros precisavam de alguns dias de descanso, Kladrin fora gravemente ferido pelo

troll na batalha entre as colinas. Halfstat os procurara depois de alguns dias. Ele disse que

Beorn estava fora, em busca de aliados entre os habitantes das montanhas e espionando o

que os inimigos estavam fazendo. Disse ainda que os guerreiros enviados para o sul não foram

mais avistados e que precisavam que alguém fosse falar com Radagast e os homens da

florestas para pedir ajuda, e era por isso que ele os procurara.

Os heróis não hesitaram um momento em ajudar aquele povo, Balared sabia de suas

obrigações como um Beorning e Klandrin pensou que talvez Radagast teria alguma informação

sobre o que fazer agora. Assim, depois de alguns dias, os dois partiram para o sul. O inverno

se aproximava do fim, e uma chuva fraca de primavera chegara mais cedo. Após três dias de

viajem seguindo o curso do Grande Rio os dois avistaram um pequeno acampamento perto da

ponte que cruzava o Anduin em sua margem leste.

Uma neblina os impedia de visualizar quem eram os ocupantes daquele local, então Balared

foi furtivamente se aproximando até que pudesse ver que criaturas estavam ali. Quanto estava

chegando perto, no entanto, pisou em falso sobre um pedra que rolou fazendo um barulho que

chamou a atenção de todos por ali. O aventureiro pode ver dois homens vestindo armaduras

de couro e capa de viajem sacarem espadas e se virar para trás. Um anão de barba negra e

gorro azul deu um passo para trás para pegar sua picareta de guerra, antes de perguntar quem

se aproximava.

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- Acalmem-se amigos. Sou Balared das terras norte. Venho em paz com meu amigo Klandrin

de Erebor. - E nesse momento o anão se aproxima com as mãos levantadas para mostrar que

não vieram em conflito.

A partir daquele momento, todos se apresentaram e trocaram informação de onde vieram e

para onde estavam indo. O anão era Odir, das Montanhas Azuis, e viera acompanhado de dois

primos para aquela região para comercializar itens de fabricação do povo de Durin. Ele disse,

ainda, que pretendia ir até Erebor para se reunir e ver o grande rei Dáin Ironfoot e a pedra de

Arkenstone sobre o túmulo de Thorin, mas não sabia como chegar lá, já que, aparentemente,

o caminho que seguiriam está em uma região sobre conflito.

Foi então que Kladrin e Balared disseram que o melhor caminho que Odir poderia tomar

naquele momento era ir para o sul e cruzar a Floresta de Mirkwood em sua região mais estreita,

no Estreito da Floresta. Disseram, ainda, que poderiam ajudar o comerciante a chegar até lá,

já que estavam indo para Rhosgobel. Os dois homens se revelaram como caçadores, homens

das florestas, e que poderiam ajudar o grupo a chegar até Rhosgobel, já que conheciam bem

o caminho. E assim, um novo grupo de viajantes se formara para ir em direção à morada do

mago marrom. Será que conseguiriam o apoio daquele povo que até pouco tempo estava

sendo atacado pelos terríveis wargs?

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Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte VI Elmara, Aerandir e o novo companheiro, o pequeno Pêpe, partiram do Vale de Rinvedell em

uma manhã pálida de final de inverno. A umidade da primavera já se fazia presente, e o branco

e cinza do inverno ia, aos poucos, cedendo aos tons de amarelo e verde da primavera, com

as primeiras flores abrotando. Era uma visão muito bonita, que quase os fazia esquecer que

estavam em uma luta contra algo que poderia destruir toda a beleza da Terra-Média.

A rota que escolheram fazer era a que parecia mais segura, pelas velhas estradas que seguiam

para o sul, em direção ao estreito de Rohan, por onde os antigos reinos de Arnor existiam. Os

quatro primeiros dias de viajem foram calmos, com encontros ocasionais com alguns

patrulheiros locais e residentes daquelas terras que ainda eram respeitadas devido à presença

dos elfos de Rivendell. A partir dali, a paisagem ficou mais deserta. Colinas e campos se

estendendo à distância, com os picos nublados das Montanhas das Névoas ao leste.

Raramente viam qualquer sinal de passagem de algum homem, elfo ou anão por lá. A velha

estrada, que agora era um pouco mais do que uma trilha de terra batida estava enlameada, e

uma chuva que caia toda tarde apenas contribuía para deixar os cavalos mais cansados e a

viajem mais lenta.

Seis luas haviam se passado desde que partiram da morada do Lorde Elrond e Elmara estava

procurando um local para que o grupo pudesse descansar e abrigar os cavalos. Enquanto

percorria um caminho em direção a uma velha casa que perecia abandonada ao lado de uma

colina, ouviu passos que não eram de seus companheiros se aproximando. Quando virou-se

para olhar para trás, ouviu o som de um arco sendo tensionado e a frase "você deveria tomar

mais cuidado nessa região, ranger". Por um momento a dúnedan ficou preocupada, mas logo

reconheceu a voz daquele que a tinha surpreendido. Ormighor era um ranger do norte também,

outro dúnedan, que passava boa parte de seu tempo na região próxima às Montanhas

Brancas, com um grupo que se auto intitulava Flechas Partidas. Eles eram caçadores de orcs

e goblins, e buscavam eliminar aqueles que poderiam se tornar líderes daquelas criaturas.

Elmara lembrava de Ormighor, mas não por causa de seu grupo, mas pelo passado que

tiveram juntos. Eles foram próximos, talvez até próximos demais, mas aquilo era passada,

apenas a missão importava, agora, para a ranger.

Depois de quebrada a tensão, Aerandir e Pêpe se juntaram aos dúnedain para trocarem

informações. Os companheiros contaram o problema que o norte estava tendo com o aumento

do número de orcs e goblins nas montanhas cinzentas, os ataques de wargs no Vale do Anduin

e a expansão das aranhas na Floresta de Mirkwood. Não mencionaram o artefato de Angmar

e a suspeita de que alguém ou alguma coisa pudesse estar coordenando as ações dessas

criaturas, por receio de que a informação pudesse cair em mão inimigas. Ormighor lhes contou

sobre suas andanças pelo sul e os grande orcs guerreiros que conseguiu eliminar. A notícia

de que essas criaturas se multiplicaram no norte e estão mais ativas o deixou ao mesmo tempo

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aflito e excitado. Ele reuniria membros de sua ordem para caçadas contra os monstros e isso,

com certeza, iria ajudar os Beornings das Terras Ermas. Já era tarde quando os quatro

terminaram a conversa, as estrelas que conseguiam brilhar entre as nuvens jogavam uma luz

azulada por toda a região, passando uma sensação de calma e tranquilidade.

Todos os quatro se abrigaram em uma velha casa de pedra e dormiram ao redor de uma

fogueira acesa em uma declividade, suas chamas vermelhas contrastando com a imensa

escuridão azulada. Ormighor ficou de vigia a maior parte da noite. Pare ele o caminha até um

lugar seguro era mais curto e os três teriam ainda mais doze dias de viajem em uma região

inóspita até chegar ao seu destino. A manhã veio devagar, trazendo com ela a luz e o conforto

do calor. Notaram que ao redor da ruína havia um grande campo de flores alaranjadas, e o

perfume que elas emanavam era doce. Se despediram ali mesmo. A companhia em direção

ao sudoeste, seguindo o caminho para Isengar pela Velha Estrada do Sul, e o patrulheiro da

Flecha Quebrada para o norte, rumo a Rivendell.

Do outro lado das Montanhas das Névoas, Klandrin, Balared, Odir e sua comitiva,

acompanhados de dois homens da floresta seguiam caminho para Rhosgobel. Estavam a

poucos dias de distância de lá, a cada vilarejo daquela região por onde passavam, viam que a

movimentação estava muito pequena, como se quase metade dos habitantes não estivessem

lá. Questionando uma caçadora que retornava com um cervo abatido, ficaram sabendo que a

maioria dos guerreiros foi para Rhosgobel, estava acontecendo uma guerra contra os terríveis

lobos da floresta, os wargs. Isso serviu apenas para reforçar ainda mais o sentimento de

urgência que já possuíam.

O grupo, então, acelerou o marcha pelo vale, que ainda estava coberto por uma fina camada

de neve. O Rio Anduin estava caudaloso e o ruído de suas águas descendo pelas colinas era

o som que mais ouviam durante todos os dias. Ao final da tarde, no quarto dia desde que

encontraram Odir na velha estrada, eles avistaram as casas de madeira de Rhosgobel. Uma

grande movimentação de pessoas revelava que algo realmente estava acontecendo ali. Ao se

aproximarem foram abordados por uma mulher de cabelos cor de cobre e armadura de couro

perguntando quem eram e o que queriam ali. Seu nome era Nilthea e ela estava encarregada

de proteger os moradores e os guerreiros feridos.

Como Klandrin já tinha visitado o local, e como Balared era de um povo irmão, os Beornings,

eles não tiveram muito trabalho para explicar a presença deles ali, ainda mais acompanhados

de dois homens da floresta que falaram em seu favor. Balared logo se ofereceu para ajudar a

tratar os feridos e Klandrin reencontrou um dos líderes guerreiros do povoado, Dalak. Ele

contou que vieram ali para falar com Radagast e pedir ajuda para lutar contra os orcs das

montanhas, mas o guerreiro disse que Radagast não estava recebendo ninguém há alguns

dias. Disse ainda que eles adorariam ajudar seus irmãos do norte, mas estavam ocupados

com a luta que travavam com o wargs da floresta, que se apossaram do antigo vale da

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linhagem de Lupus. Foi então que o anão se lembrou da passagem escondida pelo túnel e a

trilha que usaram para fugir daquele lugar, quando ele foi invadido. Klandrin falou para Dalak

que se seus guerreiros usassem esses caminhos para surpreender os monstros, ele teriam

uma chance muito maior de vencê-los. Havia apenas um problema, ninguém conhecia esses

caminhos, a não ser o próprio anão.

O guerreiro homem da floresta ficou muito satisfeito com essas informações e pediu para que

eles o ajudassem a liderar um ataque contra os wargs para expulsá-los de uma vez por todas

da região. Klandrin e Balared se prontificaram a ajudar, mas disseram que precisavam

recuperar suas forças, pois a viajem fora cansativa. Dalak não fez nenhuma objeção e disse

que assim que eles estivessem prontos, ele convocaria um grande número de guerreiros para

o ataque.

No dia seguinte, depois de uma noite de descanso sobre o fogo amigo de uma lareira, os

companheiros viram que Radagast ainda mantinha os portões de sua casa na colina fechados.

Decidiram, então, que iriam ajudar aquele povo na luta contra seus inimigos, iriam levá-los

pelos caminhos escondidos para uma batalhe no vale da linhagem de Lupus. Procuraram por

Dalak e pediram a ele que enviasse um pássara com uma mensagem para Rivendell, avisando

Elmara e Aerandir que estavam em Rhosgobel ajudando os homens da floresta em uma guerra

com os wargs. Em seguida, começaram a planejar como seria o ataque. Dalak disse que

conseguira reunir duzentos e cinquenta homens em ótimas condições para a batalha e, assim,

decidiram que cem deles iriam atacar pela passagem à frente do vale, a qual os wargs com

certeza estariam preparados, cinquenta iriam pelo túnel, chegando no meio do vale e os outros

cem iriam pela trilha escondida que levava ao sul do vale. Dessa forma os lobos teriam que

dividir sua atenção em três frentes, sendo que só esperariam o ataque de uma. O ataque

começaria ao som da trombeta que Kladrin carregava. Antes de partirem, pediram para que

Odir ficasse ali e aguardasse o retorno deles em dez dias, e caso isso não acontecesse para

que ele fosse embora, para o sul, em busca de ajuda ou abrigo.

No início da tarde o grande grupo partiu de Rhosgobel. Seguiriam juntos por três dias, até que

chegassem às margens do Lago Verde, onde seguiriam caminhos distintos, cem homens indo

em direção à entrada norte do vale, e os outros cento e cinquenta contornando as colinas para

chegar ao túnel e ao caminho escondido pelo sul. A floresta, agora com a primavera, estava

úmida e quente. O cheiro de terra molhada e algo podre entre as poças d'água deixava alguns

enjoados e a ausência da luz, que não conseguia penetrar a espessa cobertura das árvores

acinzentadas, parecia pesar no coração dos guerreiros.

Era a noite do terceiro dia, quando chegaram à margem sul do Lago Verde, onde descansariam

aquela noite, antes de se separarem pela manhã. No entanto, a noite não foi tão calma para

permitir que os homens descansassem. Algumas horas após montarem acampamento,

Balared ouviu um sussurro, de uma voz feminina, que parecia entoar uma canção. Quando

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olhou ao seu redor, percebeu que outros também ouviam aquilo, e pareciam encantados com

o som. Aos poucos diversos homens andavam em direção ao lago. O Beorning avisou Klandrin

do que estava acontecendo e o anão tentou, imediatamente, alertar a todos para que não

entrassem no lago, mas poucos pareciam ouvir. De repente, aqueles que já haviam entrado

nas águas geladas do lago foram puxados para seu fundo com uma velocidade e força

impressionantes. Gritos ecoaram pela mata, e manchas de sangue apareciam entre as águas

escuras. Aqueles que não estavam sobre o domínio daquele feitiço tentavam acordar seus

companheiros e tirá-los de lá. Da água surgiram três mulheres, nuas, com cabelos e olhos

negros como a noite, extremamente belas, mas exarando um aura maligna. Foi difícil retirar

todos os homens dali, e mais de uma dúzia encontraram seu fim naquela noite, mas uma

tragédia maior foi evitada quando decidiram partir dali. Se separaram, então, os agora

duzentos e trinta e três homens.

Com Klandrin e Balared vieram cento e quarenta e três guerreiros. Eles, agora, tinham que

percorrer um caminho estreito, acidentado e em silêncio, para não chamar atenção dos wargs

que podiam estar por perto. Com alguma horas de caminhada, avistaram a ravina onde ficava

a entrada do túnel. No entanto, dois wargs vigiavam aquela passagem de uma colina próxima.

Balared pediu para que um grupo de seis caçadores se separassem e subissem a colina de

forma a pegar os lobos de surpresa e não deixar que eles escapassem. Por sorte, as criaturas

não estavam esperando um ataque por aquela região e os caçadores conseguiram abatê-las

sem qualquer barulho. Assim, o grupo conseguiu alcançar a passagem subterrânea sem

problemas. Cinquenta homens da floresta adentraram o túnel e foram orientados para não

desviar o caminho em hipótese nenhuma. Klandrin tinha medo do que podia acontecer caso

aquele grupo se desviasse e acabasse por entrar na passagem escura que seu grupo evitou

há meses, mas tinha que confiar neles, não havia outra alternativa, pois só ele conseguiria

levar o restante dos homens para a trilha ao sul do vale.

Foi no meio da madrugada do quarto dia que chegaram até o caminho que os levaria para o

sul do vale da linhagem de Lupus. Do alto da passagem conseguiam enxergar centenas de

lobos pelo vale, brigando entre si, devorando carniça, correndo e dormindo. Não tinham

certeza se os dois outros grupos já haviam chegado, mas não tinham como arriscar ficar

esperando que as criaturas os descobrissem. Klandrin pegou sua trombeta a assoprou. O

barulho, que parecia um grande rugido, ecoou por todo a vale, pegando de surpresa as

criaturas. Do norte vieram gritos de batalha. Os guerreiros de lá já haviam chegado. Cem

homens vieram do norte e mais cem vieram do sul, flanqueado os mais de trezentos wargs

que ali estavam.

Machados encontravam o couro rígido dos wargs, presas cortavam a pele de guerreiros. O

sangue de ambos os lados era derramado ao som de gritos de ódio, dor e grunhidos. A batalha

era dura, mas a liderança de Dalak, Klandrin e Balared estava fazendo a diferença. Quando

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os cinquenta que foram pelo túnel romperam o vale no centro, os wargs ficaram divididos e

começaram a perder muitos lutadores. A vitória parecia certa para os homens da floresta, até

que se ouviu um grunhido terrível, e um grande warg, de quase três metros de altura, saiu de

seus covil.

A presença daquela criatura fez com que muitos guerreiros corajosos fraquejassem. Os wargs,

em compensação pareciam motivados a lutar com mais voracidade. Dalak, percebeu que, caso

aquele monstro não fosse colocado abaixo, aquela guerra terminaria em favor das Sombras.

Ele pegou sua lança de confiança, desviou de diversos wargs e encravou-a no peito da grande

criatura, que rugiu de dor e ódio, para logo depois desferir um golpe com seu corpo e derrubar

o guerreiro, jogando-o a metros de distância. Vendo aquela cena, vendo um de seus mais

valorosos guerreiros ser derrotado por aquele monstros, o coração de muitos que ali lutavam

duvidou da vitória. Algo precisava ser feito, e rápido, ou tudo se perderia.

Klandrin correu em direção a criatura, que logo percebeu sua presença, e lembrou-se do dia

em que aquele anão escapou dela. O filho de Durin sabia que a criatura o reconhecera e agora

era uma luta quase que particular entre os dois. Saltando de uma grande pedra o anão atacou

o warg com seu machado, fazendo um grande ferimento no flanco do monstro, mas a criatura

parecia quase não sentir dor. Ela se virou para o anão e, com um movimento rápido,

abocanhou o braço dele, rasgando a sua pele. O sangue do ferimento jorrava pelo chão. Para

o mestre anão estava claro que aquela seria a batalha mais difícil que jamais teve, que sua

chance de vencer dependeria de um momento único, e que a probabilidade que não saísse

daquela batalha vivo era grande. A cada golpe e investida que dava, a criatura o atava com

mais força e ferocidade. Klandrin pediu, então, para que os arqueiros focassem fogo na

criatura. Embora as flechas mal conseguissem feri-la, elas serviam para distraí-la, e isso foi

essencial para que eles conseguissem derrotá-la. Aproveitando que o monstro estava

incomodado com a nuvem de flechas que caia sobre ela, o anão fingiu estar caído e quando o

warg tentou abocanhá-lo ele usou sua cabeça como degrau e saltou, encravando o machado

de duas mãos no pescoço do monstro, que caiu, morto, com um urro de dor.

Aquela imagem era tudo que faltava para que os homens da floresta redobrassem sua força e

vencessem os wargs que ainda estavam ali. Em pouco tempo, todos os wargs que não

conseguiram escapar estavam mortos e o vale estava livre daquelas criaturas das trevas. Fora

uma batalha dura, e muitos morreram, mas Rhosgobel estava livre, por um bom tempo, de

seus inimigos. Agora era hora de retornar e dar um enterro digno para os corajosos que

pereceram naquele lugar.

Há centenas de quilômetros a oeste dali, Elmara, Aerandir e Pêpe seguiam seu caminho. Há

um dia de viajem da ponte que cruzava o Rio Cinzento, Elmara encontrou sinais da passagem

de lobos pela região e na noite daquele dia Aerandir viu uma alcateia se aproximando da

companhia. Tenho que pensar rápido no que fazer, a dúnedan levou o grupo por um caminho

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que dava uma volta por um bosque próximo e cruzava um riacho pequeno, na esperança que

os lobos perdessem o rastro deles, o que de fato aconteceu. Não sabia ao certo se aqueles

lobos eram wargs ou não, mas não estavam dispostos a descobrir.

A partir dali, foram descendo a Velha Estrada do Sul. Um caminho, então, pouquíssimo

utilizado, já que não havia mais um grande reino de homens que mantivesse a estrada e a

segurança na região. Campos verdes, pequenos bosques riachos se espalhavam até onde a

visão alcançava, mas raramente viam qualquer sinal de presença humana, a não ser por velha

ruínas de vilarejos antigos e postos de vigília abandonados. No entanto, após treze dias de

viajem, viram o brilho de uma fogueira no que parecia um forte em ruínas. Aerandir, graças a

sua visão élfica viu que se tratava de um grupo de cinco homens usando roupas de viajem

surradas e sujas, portando armas e armaduras de couro e duas pessoas amarradas que

pareciam ser seus prisioneiros. Um homem e uma mulher, com roupas humildes, de

camponeses.

Ajudar aquelas pessoas não estava no plano de Elmara, que só conseguia pensar em terminar

sua missão, em ir para Isengard e entregar o artefato negro para Saruman. Aerandir,

entretanto, queria saber o que estava acontecendo e quando viu que um dos homens esmurrou

o prisioneiro homem para em seguida bater na mulher a arrancar-lhe a blusa, provocando

risada dos outros, pegou seu arco e flecha para atacá-los. A dúnedan, vendo que aquilo não

poderia ser ignorado gritou ordenando que eles parassem e correu em direção às ruínas. Pêpe,

o hobbit, vendo que aquilo logo se tornaria uma batalha com espadas achou mais sensato se

esgueirar para tentar soltar os prisioneiros, e quando Aerandir virou para o lado, não era mais

possível ver o pequenino.

Os bandidos estavam armados, mas não eram pareis para Elmara e Aerandir, que contava

com a proteção da escuridão. Após algumas trocas de golpes de espada e flechas zunindo

entre as paredes das velhas construções restaram apenas dois dos bandidos. Até Pêpe

conseguiu derrotar um deles quando tentava soltar os prisioneiros. Eles tentaram fugir,

largando suas armas mas os dois aventureiros não permitiram que escapassem. O elfo acertou

uma flecha na cabeça de um deles, pelas costas, demostrando que o ódio tinha se apossado

de seu melhor juízo. A dúnedan, mais contida, alcançou o outro e o golpeou com seu escudo,

deixando-o desacordado. Ela tinha uma ideia melhor para o seu futuro.

Quando retornaram ao local onde as vítimas estavam, encontraram o hobbit cuidando delas.

O homem e a mulher eram agricultores de uma pequena vila há alguns dias de viajem dali.

Estavam retornando de uma viajem ao norte onde tinham vendido sua produção e a de outros

fazendeiros para comprar utensílios e outros artigos que necessitavam quando foram atacados

por aqueles bandidos. Inclusive, havia outros viajantes com eles, mas foram todos mortos.

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A companhia decidiu que iram acompanhar os dois até a comunidade que vivam, mesmo que

isso os atrasasse por alguns dias. Estavam próximos e em após duas luas chegaram na vila,

onde foram recebidos como heróis. Alguns sobreviventes do ataque haviam chegado lá e

contado do que ocorrera. O homem e a mulher que salvaram tinham sido dados como mortos,

mas quando o grupo chegou lá com eles, houve muita comemoração, apesar de lamentarem

o que ocorreu com aqueles que morreram. Os pertences que foram encontrados com os

bandidos foram dados aos habitantes locais, que agradeceram muito pela ajuda e bondade,

sem saber o que oferecer para tão valorosos heróis. Elmara, Aerandir e Pêpe apenas pediram

uma coisa em troca, abrigo, comida e uma boa cama para descansar. O bandido capturado foi

entregue à população, para que decidissem o que fazer com ele, algo que nem eles sabiam.

Isengard, agora, ficava há mais nove dias de distância. Klandrin e Balared estavam feridos,

cansados mas aliviados por terem conseguido uma vitória importante para os Povos Livres do

Norte. Tudo parecia estar indo bem no início daquela primavera.

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Crônicas da Terceira Era: Em Busca da Luz - Parte VII O sol nascera e a sua luz trouxe o fim do conflito no Vale de Lupus. Klandrin e Balared levaram

duzentos e cinquenta bravos guerreiros para uma ataque definitivo ao wargs. A vitória era

deles, aquelas criaturas não mais incomodariam aquele povo por longos anos, mas pagaram

um preço alto. Pouco mais de cem homens e mulheres estavam de pé agora e um pouco

menos da metade estava ferida. Dalak, o líder guerreiro dos homens da floresta, que encravou

a Lança de Dak no peito do monstro, o grande warg conhecido pela alcunha de Devorador,

fora ferido gravemente em combate e lutava contra a morte. Balared, foi ao seu auxílio, e

procurando em suas coisas, encontrou uma erva que ajudaria a estancar o sangramento no

torso do guerreiro.

Eles, agora, tinham que decidir o que fazer. Levar os corpos dos Beornings até Rhosgobel

seria quase impossível. A floresta acima deles era muito fechado e não tinham homens

suficientes para tanto. Dalak disse para que os enterrassem ali, e que daquele dia em diante,

eles chamariam aquele vale de Vale do Sacrifício, em homenagem aos corajosos homens que

deram suas vidas para que muitos outros vivessem. Quantos aos wargs, uma grande pira

funerária foi feita, e o cheiro daquelas criaturas queimando deixou muitos enjoados, mas era

única maneiro de se livrar dos corpos deles e purificar o local. Tudo isso levou o dia inteiro,

com todos ajudando como podiam.

A maioria dos homens da floresta não estava em condições de retornar a Rhosgobel naquele

momento. Assim, no dia seguinte, Balared e Klandrin conduziram vinte e cinco homens pela

floresta em direção a vila dos Beornings. Seriam quatro dias de andança por uma floresta

escura e sombria. Logo que saíram do vale a adentraram aquela mata escura, viram que quase

nenhuma luz penetrava as copas daquelas arvores cinzentas, era como se aquele lugar fosse

tomado por uma noite eterna. A luz das tochas que acendiam para poder andar por ali atraiam

insetos de diversos tamanhos, todos negros, que incomodavam bastante durante a travessia.

Barulhos estranhos, como se a floresta estivesse rangendo e as raízes se movendo deixavam

os viajantes assustados e desconfiados. Os dois heróis tentavam manter o espírito dos

guerreiros levantado, mas a escuridão ao redor deles era pesada.

No final do segundo dia de viajem, alguns homens já estavam bastante afetados pela incerteza

e medo que começaram a querer volta, em desistir. Eles não viam a luz fazia dois dias, achar

comida estava difícil, e barulhos na floresta faziam com que eles pensassem que uma alcateia

de mais wargs os seguiam. Klandrin, então, lembrou-se da história de Kandir, um de seus

ancestrais, na luta que ele teve com um grande orc, e o sacrifício que ele fez para salvar a

todos os anões de um grande exército dos servos do Inimigo. Aquela estória pareceu inspirar

os guerreiros e a maioria deles redobrou sua coragem. Faltava pouco agora, eles conseguiriam

sair de lá vivos.

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105

E, no final do quarto dia, ele viram a luz do sol novamente. No início, tamanha claridade que

os deixou cegos, mas, aos poucos, eles enxergaram os campos verdes do Vale do Anduin,

com as flores da primavera enfeitando suas colinas e vales. Pássaros, coelhos, esquilos e

outros animais podiam ser vistos. Era como se estivessem voltando a vida depois de passar

quatro dias mortos. Aquilo preencheu o coração de todos com alegria e esperança. Rhosgobel

estava próximo, e seus habitantes já viam ao encontro do grupo. Nilthea, a mesma caçadora

que os abordou quando chegaram ali há alguns dias, perguntou o que acontecera e porque

apenas aqueles homens retornaram. Uma multidão de pessoas os observava de longe,

esperando boas notícias.

Klandrin falou sobre o jornada até lá, o ataque ao vale, a luta contra os wargs e a derrota do

Devorador. Contou que eles haviam conseguido a vitória, e que aquela guerra terminara, mas

contou que mais da metade dos guerreiros que partiram para lá não voltariam. A caçadora

perguntou de Dalak, e eles a informaram que ele estava bem, ferido, mas vivo. Disse ainda

que eles precisariam de ajuda para voltar e que era por isso que estavam ali. Aquelas notícias

deram ao povo do Rhosgobel uma sensação mista de alívio, alegria e tristeza. Eles

conseguiram vencer seus inimigos, mas perderam muitos membros valiosos da comunidade.

Depois disso, aqueles que chegaram ali foram recebidos por seus familiares, as pessoas

choravam sabendo daqueles que não retornariam e abraçavam aqueles que ainda estavam

lá. Os dois aventureiros, ao olharem para a colina onde ficava a casa de Radagast, viram que

o mago se encontrava na varanda, com um pássaro marrom em seu ombro e com os dois

lobos da linhagem de Lupus aos seus pés. O portão para sua cabana estava aberto e eles

tiveram a sensação de que o velho sábio os estava observando. Era hora de conversarem.

Muito distante dali, Aerandir, Elmara e Pêpe chegavam a Isengard, a morada do mago branco.

O local era um grande vale entre os pés das Montanhas das Névoas, adornado com um grande

jardim com flores, árvores e animais. Um caminho de pedras brancas levava até a grande torre

escura que parecia ter sido feita de um gigantesca pedra de uma só vez, pois não era possível

ver traças de sua construção. Quando se aproximaram, montados nos cavalos que Elrond os

tinha entregue, um homem idoso, porém de aparência vigorosa, vestindo um manto branco

adornado com costuras douradas descia as escadas da torre. Era Saruman, o líder do

Conselho Branco.

- Vocês trazem algo sombrio para Isengard, e querem que eu me livre disso. Elrond os mandou

aqui. - Parecia que o mago já sabia de tudo. - Eu sou Saruman, o Branco, líder do Conselho

Branco. Quem são vocês que chegam a minha morada trazendo as Sombras em seu encalço?

Então, os três se apresentaram. Pêpe, cordialmente, se apresentou como um emissário de

Rivendell, um hobbit, e disse que Aerandir era um emissário do povo do Reino da Floresta.

Elmara, no entanto, achou que não tinham tempo para essas formalidades, apenas disse seu

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nome e falou que tinham assuntos urgentes a tratar. Aquilo não agradou ao senhor de

Isengard. Saruman era uma pessoa importante, e tinha um orgulho do tamanho de sua

importância.

Os quatro foram, então, paro o interior da torre do mago, subiram dezenas de lances de

escada. A torre era muito do que ela aparentava ser por fora, dezenas de aposentos podiam

ser vistos por onde passava, alguns com diversas estantes de livros, outros com estátuas,

outros com mapas e armas penduradas nas paredes. O hobbit ficava fascinado a cada cena e

a cada artefato estranho que via, e se não fosse os chamados de Elmara para que ele

continuasse o caminho com todos, ele com certeza se perderia pela torre.

Ao chegarem a uma grande aposento com uma grande mesa de pedra branca e largas

cadeiras acolchoadas, eles pararam e Saruman fez um gestos para que se sentassem. O

mago, então, pediu para que eles explicassem o que queriam dele e o que mais estava

acontecendo, porque viu nos olhos dos aventureiro que aquilo não era tudo. A dúnedan,

ansiosa e aflita, contou de sua busca pelos artefatos negros dos bruxos de angmar e dos

acontecimentos recentes nas Terras Ermas. Dos goblins e orcs das montanhas que atacam o

Vale do Anduin, das aranhas negras da floresta de Mirkwood e da destruição da Casa de

Faerel, e da traição da casa de Sindorfin.

O mago branco ouviu atento, sem falar muito, durante toda a narração. Ao final, Saruman se

comprometeu a destruir o artefato que carregavam, o Cetro do Rei Negro. O mago branco

também disse aos heróis que recentemente obtivera acesso a registros antigos, que falavam

sobre um forte antigo ocupado por homens de Angmar e servos do Inimigo. O local, chamado

de Olho de Alghuir, fora construído a séculos atrás, provavelmente na tentativa das Sombras

de reencontrar algo muito precioso nos Campos de Lis. Isildor, aquele que venceu Sauron na

última grande guerra contra o Inimigo fora morto naquele local e o Um Anel, o artefato mais

poderoso das sombras, se perdera lá. O mago branco suspeitava que nesse forte poderia estar

escondido outro artefato de Angmar. No entanto, ele não sabia qual era a atual situação do

local, se o Inimigo ainda o dominava ou se, quando o Reino do Rei Bruxo caiu, os homens de

lá abandonaram o local.

Elmara pediu, ainda, que Saruman tentasse interferir nos conflitos que foram criados nas

Terras Ermas, para tentar recuperar o relacionamento entre os Elfos de Mirkwood e os Anões

de Erebor. O mago falou que faria o possível e que enviaria Gandalf, o cinzento, que tinha

melhor relacionamento com os dois povos para tentar encontrar um termo de aliança que

agradasse a todos. O sábio pediu para que caso encontrassem qualquer coisa estranha nos

Campos de Lis, que trouxessem imediatamente para ele, pois o destino de toda a Terra-Média

podia ser definido naquele local.

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Ao sair daquele encontro, não mais carregando o cetro que já estava em sua posse há quase

um ano, Elmara sentiu um grande alívio, como se um peso gigantesco tivesse sido retirado de

seus ombros. Mas ela sabia que aquilo era apenas o começo. No dia seguinte partiriam dali

para reencontrar seus companheiros e sair, mais uma vez, em busca de seus objetivos. Ao

acordarem e começarem a preparar suas coisas para partir, Saruman os procurou, portando

uma pequena mensagem trazida por um pássaro de Radagast. O texto apenas dizia que

Klandrin e Balared foram atrás daquilo que esqueceram. A dúnedan logo lembrou-se da

caverna escura no Vale de Lupus, seus amigos estavam perto de Rhosgobel, e para lá ela

seguiria.

Ao norte dali, Radagast aguardava os dois companheiros para uma conversa. Ao se

aproximarem, os dois viram o velho homem de barba ruiva fumando um longo cachimbo de

madeira, sorrindo ao olhar para eles. Antes de mais nada, o mago cumprimentou Klandrin e

pediu para que o beorning se apresentasse. Ele agradeceu a ajuda dos heróis, disse que

aquele fora um grande feito e que o destino dos Povos Livres do Norte encontrara uma luz

dentre a escuridão que o cercava. Mas que agora, eles tinham outra missão. Um outro artefato

estava próximo, nos Campos de Lis, em uma ruína antiga, pelo menos era aquilo que o mago

marrom sentia. Questionado sobre o artefato que estaria no, agora, Vale do Sacrifício,

Radagast disse que o Inimigo já o possuía

Com o fim do inverno, a primavera veio trazendo esperança e luz para o norte. Uma batalha

fora vencida, mas a guerra continuaria. Outros desafios se poriam na frente da companhia e

que eles receberiam o apoio dos povos do norte, assim como o grupo estava apoiando os

homens da floresta e os beornings.

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Crônicas da Terceira Era

O Olho de Alghuir

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Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte I Ao sul das Montanhas das Névoas, Elmara, Aerandir e Pêpe começavam sua jornada até

Rhosgobel, para reencontrar seus companheiros. O caminho era longe e demoraria pelo

menos dois meses para que chegasse lá, isso sem contar a passagem que pretendiam ter em

Edoras, a principal cidade e a sede do trono de Rohan, um reino de cavaleiros ao sul do Vale

do Anduin. O povo daquele reino se autodenominada eorlings e eram fortes, altos de pele clara

e cabelos claros, parecidos com o homens de Dale.

Ao chegarem na região, depois de algumas horas cavalgando pelos campos, foram abordados

por um grupo de cavaleiros armados que disseram ser uma patrulha do reino. O grupo, depois

de explicar que vieram de Isengard e que estavam em uma missão orientada pelos magos, foi

aceito rapidamente. Eles pediram para serem levados a Edoras, pois gostariam de conversar

com o Rei assuntos importantes. E assim eles foram para lá, acompanhados dos cavaleiros

de Rohan.

No caminho até a cidade, todos trocaram informações do que estava acontecendo na região.

Perecia que orcs das montanhas estavam mais ativos ultimamente, depois de anos de

reclusão. Elmara, Aerandir e Pêpe falaram dos ataques dos goblins das montanhas no norte

e a incursão de orcs na Floresta de Mirkwood. Embora os ataques nas terras dos eorlings não

tenham sido tão intensos, parecia que eles tinham começado, aproximadamente, na mesma

época daqueles ao norte.

Em poucos dias eles chegaram a Edoras, uma cidade construída nos pés das Montanhas

Brancas. Era uma cidade com diversas casas de madeira e um grande muro cercando todo

seu entorno. No topo de uma colina, uma grande construção de pedra guardava o trono de

Rohan, ocupado pelo Rei Thengel. Recentemente de volta de Gondor, o rei estava aos poucos

ficando a par dos acontecimentos em seu reino.

Ao chegarem, eles foram levados até uma estalagem onde quartos foram arrumados para eles.

Apenas mais tarde foram levados até a presença de Thengel, na grande construção da colina.

O rei, um homem por volta dos trinta e cinco anos, de cabelos dourados e olhos cinza, vestia

uma túnica marrom e uma coroa de prata em sua cabeça. Ele cumprimentou os viajantes e

perguntou quem eles eram.

A partir daí, seguiu-se uma apresentação breve e um relato da viajem dele até aquelas terras.

Contaram dos problemas que o norte estava tendo e se propuseram a ajudar o povo de Rohan

na luta contra os orcs das Montanhas das Névoa e Montanhas Brancas. E assim fizerem, por

quase um mês, Elmara, Aerandir e Pêpe, lutaram ao lado dos cavaleiros de Rohan. Os eorlings

eram bravos guerreiros, fortes, ágeis e corajosos, mas tinham algumas coisas a aprender com

táticas menos diretas com os três heróis. Ao poucos, os três aventureiros foram ganhando

fama e a amizade dos eorlings, até que chegara a hora de partir para o norte. Antes de partir,

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Elmara e Pêpe pediram a ajuda de Thelgen para que seu povo tentasse convencer os

habitantes da Vila de Wyne, por onde passaram, a virem viver sobre a proteção de Rohan. O

rei disse que enviaria alguns homens e ofereceria abrigo a quem quisesse vir com eles, mas

não forçaria ninguém a segui-los. Os dois, então, se retiraram e foram com Aerandir para o

norte, rumo a Rhosgobel.

Enquanto isso, em Rhosgobel, Klandrin e Balared combinam com Odir a viajem que fariam

pelo estreito da floresta, para levar o anão mercador até o lado leste das Terras Ermas. Nesse

meio tempo, Dalak se comprometeu a juntar uma grande grupo de guerreiros que pudessem

ir para o norte ajudar os beornings na vindoura batalha contra os orcs das montanhas. Em uma

manhã de sol, partiram os aventureiros com Odir e um grupo de cinco homens da floresta para

fazer um caminho pela floresta.

A viajem até o outro lado de Mirkwood durou doze dias. A floresta era escura, sombria e

emaranhada naquele lugar, mas a derrota dos wargs pareceu deixar o lugar um pouco mais

tranquilo. Os viajantes tentaram não permanecer por muito tempo em nenhum lugar, pois

sempre tinham a impressão que alguém ou algo os estava observando entre a escuridão entre

as árvores. Cansados, eles alcançaram a divisa leste da floresta depois de longos doze dias.

Ao norte estava o Rio Corrente, Dale e a Montanha Solitária.

Ali, Klandrin e Balared permaneceram por alguns dias, descansando e aproveitando a luz do

sol antes de retornarem para o Vale do Anduin. A volta, no entanto, não foram tão agradável.

Ruídos e grunhidos pareciam perseguir os dois enquanto andavam pela floresta. O caminho

que tinham aberto pela mata há poucos dias parecia ter desaparecido completamente. Insetos

escuros foram os únicos animais que viram por todo o trajeto, apesar de ouvirem o barulho de

seres andando pelas árvores. Ao chegarem próximo ao Vale do Sacrifício a situação melhorou

um pouco. Os homens da florestas ergueram um altar em homenagem aos guerreiros mortos

ali e de tempos em tempo eles retornavam lá para deixar uma chama acesa em sua

homenagem. Em Rhosgobel, Dalak preparava um grande grupo de guerreiros para partir em

breve para o norte. Ainda faltavam preparativos, mas até a metade do verão estariam prontos

para se juntar aos beornings.

O caminho de Aerandir, Elmara e Pêpe até seus amigos era cansativo. Não haviam estradas

até o norte vindas de Rohan. Depois de quase um mês subindo, alcançaram o Rio Anduin.

Próximo ao sul da floresta eles avistaram um acampamento de homens estranhos, pareciam

ser homens do oriente. Decididos a verificar o que eles fazia por ali, os três se aproximaram.

Aqueles homens não estavam ali sozinhos. Havia orcs entre eles, mas via-se que a

convivência entre os dois grupos não era tão amistosa. Aproveitando-se disso, os três tiveram

a ideia de causar um confronto entre eles. Furtivamente, eles se infiltraram a noite no

acampamento e mataram alguns orcs e homens do oriente plantando armas de um nos outros.

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No dia seguinte, aquilo causou uma grande briga, que seguiu com insultos e confronto armado

entre os dois grupos. Satisfeitos, os três continuaram o caminho para Rhosgobel.

Era o início do verão quando chegaram lá. Reencontraram seus velhos companheiros e

trocaram histórias de todo aquele tempo que passaram separados. Eles sabiam para onde

teriam que ir agora, para os Campos de Lis, um dos lugares mais sombrios daquela terra. O

grupo de guerreiros de Dalak estava praticamente pronto para partir. Assim, em breve, todos

eles seguiriam para o norte, se separando quando chegassem ao Rio do Anduin.

Ao partirem, uma grande fogueira foi acesa para iluminar o caminho que teriam a frente.

Apenas poucos dias separava Rhosgobel dos Campos de Lis, onde buscariam por mais um

artefato de Angmar. Ao chegarem à beira do rio, viram o terreno alagado conhecido como

Campos de Lis. Um cheiro doce e enjoado de matéria em decomposição invadiu os sentidos

de todos que ali estavam. Naquele momento, os guerreiros dos homens da floresta se

despediram do grupo e rumaram para as terras dos beornings, enquanto o grupo se preparava

para adentrar aquele lugar amaldiçoado.

O que será que encontrariam ali? Que tipo de criaturas habitavam aquele local?

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Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte II Lá estavam eles, na beira do Grande Rio das Terras Ermas, frente aos amaldiçoados Campos

de Lis. O rio estava caudaloso e feroz naquele ponto e dificilmente conseguiriam cruzá-lo a

nado. No entanto, Balared sabia que, muito tempo atrás, haviam comunidades vivendo a beira

do rio nessa região. Era possível que em alguma delas uma ponte tivesse sido construída e,

com sorte, ela ainda estaria de pé.

A companhia rumou para o sul, descendo, junto como rio, colinas verdes e vales floridos, até

que avistaram uma vila em ruínas. Mas não era uma vila qualquer, aquelas construções não

tinham sido feitas por homens, mas por um povo que vivera ali há dois mil anos, hobbits. As

casas eram pequenas e algumas delas construídas como tocas dentro das colinas ao redor. A

vila ocupada as duas margens do Anduin e uma ponte de madeira e pedra se estendia, ainda

inteira sobre o rio. Aquela visão deixou Pêpe bastante intrigado e ansioso por explorar o local,

mas Elmara achou que seria mais sábio que averiguassem primeiro se não havia inimigos por

ali. Pelo que puderam observar da pequena vila, o melhor lugar para um sentinela ficar seria

em um velho silo de grãos, quase à beira da corrente d'água. Pêpe e Aerandir, os dois

aventureiros mais rápido e silenciosos, contornariam as colinas para se aproximarem do silo

pelo sul e Balared, Klandrin e Elmara desceriam um a colina ali para adentrar a comunidade

pelo que parecia ser a rua central.

Aquela excitação por estar vendo o local onde possivelmente seus ancestrais viveram deixou

Pêpe muito animado e confiante. Em alguns momentos nem mesmo Aerandir conseguiu

enxergar onde o hobbit estava, o tão furtivamente ele andava por aquele lugar. Por onde

andaram viram pequenas casas e lojas destruídas há muito tempo, alguma parecia ter sido

saqueadas ou abandonadas. Ao que parecia aqueles hobbits eram diferentes do que os do

condado, haviam barcos, e outros utensílios que indicavam que eles era bem acostumado a

rios e às águas. Alguns lugares podiam ser vistos restos de botas, algo que os habitantes do

condado não usam. Mas, ao redor disso tudo, o que ele via era destruição e abandono, até

que ele chegou à beira do rio. Ali ele enxergou algo que o deixou perturbado, marcas de uma

batalha antiga. Cabeças de flechas estranhas, parecida com as dos orcs das montanhas,

armas, esqueletos de criaturas que não eram hobbits e nem humanos. Os hobbits não

simplesmente abandonaram aquele lugar, eles foram expulsos.

Do outro lado, Elmara, Klandrin e Balared desciam um caminho de pedras até a base da vila.

A cena que viram ali não era muito diferente. Algumas coisas jaziam completamente

arruinadas enquanto outras pareciam milagrosamente se manter de pé. O caminho parecia

seguir diretamente até a ponte do outro lado, mas algo chamou a atenção dos companheiros

enquanto adentravam a vila cautelosamente. Um corvo negro, no alto de uma grande

construção, talvez um antigo salão comunitário, parecia os observar atentamente. Aquilo

deixou os companheiros bastante incomodados, mas algo os distraiu logo em seguida.

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Pegadas. Pegadas de algum grande felino, e parecia ser mais de um. Balared logo identificou

o rastro como de leões das montanhas. Esses animais as vezes habitam as colinas próximas

quando a comida está escassa em seu habitat. Sabendo o quão ferozes essas criaturas podem

ser quando se sentem ameaçadas, o beorning aconselhou que eles mantivessem distância

das criaturas.

Pêpe foi o primeiro a alcançar o velho silo e logo subiu uma velha escada de madeira até

alcançar uma portinhola que dava para seu interior. Ao abrir a porta viu apenas um grande

espaço vazio, com cheiro de mofo, e os restos mortais de dois hobbits abraçados, como se

estivessem se escondendo de algo terrível. Aquela cena, mórbida, fez com que o coração do

pequeno herói se apertasse, e ele sentisse uma saudade do condado como não sentia há

alguns meses. Seus amigos logo chegaram, e ele os informou que nada havia ali dentro.

Restava averiguar a integridade da ponte.

O grupo, então, reuniu-se a frente da larga ponte, feita de pedra em sua base, mas de madeira

na sua extensão pelo rio, que naquela área específica era de cinquenta metros. Klandrin tinha

um certo conhecimento de construções, algo que seu povo muito apreciava, e viu que a ponde

não estava em sua melhor forma. Musgo e área apodrecidas podiam ser vistos em alguns

pontos, mas talvez ela aguentasse alguns viajantes ainda. Todos decidiram que o primeiro a

testar a resistência da passagem seria o pequeno Pêpe, afinal ele era o mais leve de todos.

Cada passo que Pêpe dava parecia fazer a ponte gemer de dor. Os ruídos de madeira

rangendo naquele lugar inóspito e sombrio, ecoando no silêncio, deixou uma atmosfera sinistra

entre os presentes. Ao chegar do outro lado, Pêpe amarrou uma corda na base de pedra e

arremessou a corda para o outro lado para que seus companheiros tivessem uma maior

segurança ao passar.

Assim, um a um, eles foram atravessando a ponte, e ela foi rangendo como se estivesse

sofrendo a cada passo. Quando chegou a vez de Klandrin, o mais pesado do grupo, por ser

anão e portas um equipamento bastante sólido, a ponte começou a apresentar sinais de que

não aguentaria mais muitos viajantes. Para deixar as coisas piores, zunidos anunciaram uma

saraivada de flechas escuras que voaram em direção aos companheiros, que estavam

distraídos. Goblins os atacavam naquela margem, escondidos nas ruínas e na névoa que

encobria aquele local. Do interior das casas destruídas, urrou um rugido gutural de um orc

ordenando que seus subalternos atacassem: "Acabem com todos seus vermes!".

Kladrin acelerou o passo, enquanto rachaduras se formavam na madeira da ponte, para

encontrar de frente seus inimigos. Goblins armados com lanças e espadas saiam de becos

enevoados e ruínas para encontrar a companhia, enquanto flechas zuniam pelo alto. Aerandir,

com seus olhos atentos, encontrou o lugar onde os arqueiros estavam e começou a disparar

suas certeiras flechas que derrubavam os goblins a cada ataque. O dono do urru gutural logo

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se junto a batalha, um grande orc de armadura de placas escuras e um enorme machado de

duas mãos, forjado com um metal escurecido.

Balared foi ao seu encontro e sentiu a força do monstro em seu escudo, quando bloqueou um

de seus ataques. Aquele orc era um oponente poderoso, mas o beorning não tinha medo, seu

povo enfrentava aquelas criaturas desde que moravam nas montanhas. Klandrin, do outro

lado, abria caminho entre os goblins que os atacavam com seu machado, indo em direção à

construção onde os arqueiros se escondiam. Elmara e Pêpe ficaram ao lado de Aerandir,

dando-lhe cobertura contra os goblins lanceiros que vinham em sua direção.

O combate estava equilibrado entre a habilidade e força dos heróis e os números de goblins

que parecia interminável, até que Balared aproveitou uma falha na defesa do líder orc para

acertar um golpe certeiro de seu machado na jugular do monstro, que caiu, cuspindo seu

sangue escuro. Naquele momento, a bravura dos goblins cedeu a sua covardia natural. Não

demorou muito para que a maioria deles fugisse e se embrenhassem entre as névoas e as

ruínas, deixando a companhia sozinha.

As construções daquele lado não eram como as anteriores. Os sinais de confronto eram bem

mais claros. Aquela parte da vila tinha sido alvo de um grande ataque de goblins e orcs há

anos atrás. Esqueletos dessas criaturas e de hobbits jaziam pelo chão e dentro das

construções. Restos de armas e outros objetos abandonados podiam ser vistos nas ruínas e

pelas ruelas. Aquela vila, destruída, com restos de mortos e sinais de uma batalha covarde

fazia com que as sombras que espreitavam o coração dos aventureiros se fortalecessem.

Agora eles estavam nos Campos de Lis, precisavam encontrar o tal forte das forças inimigas

onde o artefato negro estaria escondido.

Acontece que aquela região não era pequena e explorá-lo não seria fácil. O terreno é

acidentado, alagado e traiçoeiro. Uma neblina sinistra parecia nunca deixar a região e rumores

diziam que nada permanece no mesmo lugar por muito tempo lá. Mas a companhia não tinha

outra escolha, precisavam começar de algum lugar e explorar os Campos de Lis até que

encontrassem aquilo que buscavam, nem que tivessem que vasculhar cada canto daquele

lugar maldito. Os primeiros dois dias de busca, após deixarem o vilarejo dos antigos hobbits,

não rendeu muitas descobertas. Muitas vezes eles pareciam estar andando em círculos e

muitas trilhas que encontravam levava a algum lugar por onde não podiam prosseguir. No

segundo dia, encontraram o que parecia ser um antigo moinho abandonado e fizeram o lugar

de abrigo. Aparentemente ninguém adentrara o local em anos, mas ele seria um bom local

para os abrigar da chuva fina que caia naquela noite.

Os dias que seguiriam seriam alguns dos mais difíceis na vida de Elmara, Klandrin, Aerandir,

Pêpe e Balared. Nenhum deles sabia o que esperar daquele local e o que poderiam encontrar

no interior daquela região sinistra. O sono dos aventureiros não era tranquilo e barulhos

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estranhos os acordavam durante a noite. O próprio ambiente parecia ser inimigo dos heróis.

Será que conseguiriam encontrar o que procuravam?

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Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte III Com o passar dos dias, as noites naquela região pareciam se tornar cada vez mais longas, e

as horas de claridade cada vez menores. Os companheiros já estavam a dias vagando quase

sem rumo pelos Campos de Lis e a influência sinistra do local era sentida por cada um. Eles

andavam silenciosos, cabisbaixos e quando paravam ficavam olhando para as névoas ao redor

deles, procurando algo que não estava ali.

Depois de cinco dias penetrando os interiores daquele lugar, eles chegaram até uma colina

onde havia uma gigantesca árvore escura. Ali parecia ser um bom lugar para se passar a noite

e, talvez, conseguissem uma visão melhor do terreno lá de cima. A árvore era uma das maiores

que viram naqueles campos, quase do tamanho das árvores da Floresta de Mirkwood. Suas

folhas eram de um verde escuro e seu tronco um marrom acinzentado. Os aventureiros não

sabia por que, mas se sentiram atraídos por ela.

Lá de cima, a noite, eles não podia ver muito além de seus arredores. A lua estava minguante

e sua luz não conseguia atingir a região entre as brumas. Assim, eles passaram a noite debaixo

da copa, abrigados da chuva fina que começou a cair assim que chegaram no topo na colina.

O sono deles, porém, não foi calmo, já que a feitiçaria do inimigo interferia em seus sonhos.

Cada um dos companheiros se viu de volta ao Vale do Anduin, perto da Casa de Beorn, onde

uma gigantesca força de orcs e goblins marchava sobre corpos de homens. Na frente deles,

um homem alto, de cabelos negros, pele pálida e uma boa cheia de dentes afiados, usando

um elmo que cobria seus olhos. Para todos os lados, só se via destruição.

Ao acordarem de manhã, nem parecia que eles tinham descansado a noite. Ao menos a

neblina parecia menos espessa àquela hora. Pêpe achou que seria uma ótima oportunidade

para subir no topo da árvore e tentar enxergar algum sinal de alguma construção ou local para

onde poderiam seguir. A escalada não foi fácil e o pequenino quase caiu do alto de um galha.

Kladrin, o anão, tentou ajudá-lo oferecendo seu ombro para que ele alcançasse um galho mais

alto mas, assim que o hobbit se segurou, o guerreiro escorregou nas raízes cheias de musgo

e caiu da cara na lama. Foi graças a Elmara que conseguiu arremessar certeiramente sua

corda por sobre a árvore que o pequenino chegou ao topo da copa. Lá e cima ele conseguiu

enxergar uma grande colina ao norte, onde parecia haver ruínas de um antigo forte. Algo em

seu coração lhe dizia que era para aquele o lugar que buscavam mas, ao mesmo tempo, que

era melhor não ir para lá.

Assim que Pêpe contou aos companheiros o que viu, uma determinação ardente voltou a ser

vista em seus olhos. Era para lá que deveriam seguir, para o norte. A caminhada começou

imediatamente, descendo a colina e seguido sempre na direção que o hobbit indicava. Nem

sempre conseguiam seguir reto, pois o lugar era muito acidentado, riachos, depressões e

pequenos lagos por onde não tinham como passar facilmente. Mesmo assim, eles seguiam o

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caminho da melhor maneira que conseguiam. Às vezes parecia que já tinham passado por

algum local e estivessem andando em círculos e outras tinham que voltar por alguns minutos

até encontrar outra trilha para seguir.

Depois de algumas horas, com lama até o joelho, ou na cintura no caso de Pêpe, a companhia

chegou até um caminho que parecia ter sido feito há centenas de anos. Algumas pedras ainda

podia ser vistas demarcando os limites da trilha. Porém, quando pararam para descansar um

pouco e beber o pouco de água limpa que ainda tinham em seus odres, Elmara, a dúnedan,

viu rastros recentes de orcs que pareciam ter desviado o caminho deles para rumarem na

direção de onde a companhia estava vindo. Aquilo, definitivamente, não era um bom sinal.

Foi então que Aerandir, o elfo do Reino da Floresta, viu sombras de grandes orcs entre as

brumas. Não demorou muito para que flechas começarem a voar pelo campo de batalha e a

companhia logo se posicionou com armas em punho para receber o ataque. Os orcs que

vieram para seu encontro, sob o comando de uma voz gutural horrenda, não eram como os

últimos que enfrentaram. Esses eram orcs de pele quase negra, postura ereta e fortes como

touros.

Quatro deles partiram para cima de Kladrin, Balared, Elmara e Aerandir, enquanto o pequeno

Pêpe se escondeu nas sombras. Cada um deles portava armas bem feitas para o padrão

daqueles monstros, mas nenhuma delas parecia ter sido feita por homens são. Eram negras,

dentadas e de aparência assustadora. A luta era dura e equilibra com cada um, e as flechas

negras dos arqueiros escondidos deixava cada movimento muito mais perigoso.

Enquanto a batalha acontecia, a voz do comandante orc ecoava pelos campos, uma voz

horrorosa e grava, que ria a cada golpe certeiro de seus soldados e amaldiçoava cada ataque

dos heróis. Ao mesmo tempo, Pêpe conseguiu se aproximar do dono da voz gutural e não

gostou nada do que viu. Era o maior orc que já vira, media quase três metros de altura e só

não achou quer era um troll pois ele não parecia tão burro quanto um. Ao seu lado um arqueiro

mirava um flecha na dúnedan, que acertou em cheio o peito da mesma. O hobbit sabia que

ainda tinha mais um orc escondido em algum lugar e iria achá-lo.

Kladrin e Balared, apesar da dificuldade, conseguiram derrotar seus inimigos sem graves

ferimentos, para a surpresa do líder, Dorhd, que urrou de raiva e partiu para cima deles com

seu gigantesco machado de duas mãos. Sua fúria fora direcionada a Balared, que defendeu

com seu gigantesco escudo, que quase rachou com a força da criatura. Klandrin, aproveitando

a oportunidade, usou a lâmina certeira de seu machado para partir a arma de Dorhd.

Aquilo, ao invés de desmotivar o grande orc, apenas o deixou mais furioso. Ele partiu para

cima do anão com toda a fúria de um grande guerreiro orc, e o derrubou longe, com sangue

voando ao chão. Ao mesmo tempo, Elmara derrotava um dos outros orcs, mas recebia uma

outra flecha certeira em seu peito, que a fez cair, desacordada, sangrando em direção à morte.

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Aerandir e Pêpe se concentravam em derrotar os arqueiros. O hobbit conseguiu encravar sua

espada nas costas de um deles que ao se virar foi morto por uma flecha do elfo.

Dorhd estava a ponto de desferir o golpe mortal em Klandrin, que jazia caído na lama quando

o pequeno hobbit saiu das bruma com seu pequeno arco e, com uma flecha certeira, atingiu a

criatura em uma fresta em seu elmo, fazendo-a tombar com um grande baque. O monstro

ainda estava de olhos abertos e grunhindo palavras incompreensíveis quando Klandrin fincou

seu machado no pescoço da criatura. Todos os orcs jaziam derrotados, e, ao que tudo indica,

aquele era um grupo de caça, pequeno, e provavelmente fora enviado para encontrá-los.

Alguém já sabia que eles estavam a caminho. Era melhor se prepararem para o que estivesse

a frente.

Elmara estava gravemente ferida, em um local hostil e que oferecia pouco abrigo para permitir

uma recuperação rápida. Eles tinham que socorre-la e leva-la para algum lugar para que a

dúnedan recuperasse um pouco de suas forças. Uma decisão estaria à frente da determinada

guerreira. Ela seguiria em frente com sua missão, apesar de correr sério risco de vida, ou

procuraria abrigo fora dos Campos de Lis enquanto o inimigo se apoderava do artefato negro.

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Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte IV A chuva fina caia sobre a companhia. Seus corpos, cansados e feridos com a luta contra o

grupo de orcs caçadores que encontraram na busca pela fortaleza nos Campos de Lis, agora

estavam encharcados com a água que caia. Elmara, a dúnedan, fora gravemente ferida pelo

grande orc Dohrd e pelo arqueiro uruk, e só não perdeu a vida graças ao bravo Balared que a

defendeu do monstro e ao anão Klandrin que lutou como um urso feroz. Mas agora, todos eles,

estavam perdidos em um região amaldiçoada, escura e molhada.

Naquele momento, a primeira coisa que devia fazer, era se certificar que a dúnedan

sobreviveria mais uma noite. Balared procurou na mochila da ranger e encontrou algumas que

poderiam ajudar a parar o sangramento. O grupo colocou Elmara sobre o grande escudo do

beorning e a carregou para um elevado próximo onde um grande árvore escura os protegia da

chuva que não parava de cair. Ali, eles cuidaram dela.

Mas eles ainda precisariam encontrar um lugar para se abrigarem aquela noite. O Campos de

Lis é um lugar estranho e a noite pode trazer um frio mortal, sem contar que não sabiam ao

certo que tipo de criaturas encontrariam a céu aberto. Klandrin e Pêpe decidiram que iriam

procurar por algum abrigo próximo e logo desapareceram entre a névoa fétida que cobria toda

a visão do grupo. Os dois aventureiros andaram bastante, com calma para não acabar caindo

em algum buraco imundo e molhado do pântano, de olho para não serem pegos por nenhuma

criatura vil que se escondia naquele lugar, até que, duas horas depois, encontraram o que

parecia ser uma grande árvore oca, com um buraco cavado na terra que levava até um porta

de madeira tosca. Nenhum barulho era ouvido, a não ser o coaxar dos sapos e o zumbido dos

insetos.

Pêpe foi o primeiro a tomar coragem, ou talvez não tenha resistido a curiosidade natural dos

hobbits, e testou a porta que estava à frente deles. Ela estava aberta, e o pequenino logo se

viu dentre de uma grande sala espaçosa e desarrumada. Tudo era feito de madeira lá dentro,

ainda que de forma bruta. Havia uma mesa na parede leste com um banquinho, onde um mapa

tosco da região fora desenhado em um pergaminho; na parede oeste um amontoado de peles

provavelmente servia como cama para quem vivia ali, no sul da sala havia uma estante onde

estava um machado muito parecido daqueles usados pelos homens da floresta e no norte, um

caldeirão descansava sobre os restos de uma fogueira. Estava claro que alguém vivia ali. As

cinzas do fogo ainda estavam quentes, o que significava que o morador não deveria estar

muito longe. De qualquer forma, aquele era o único lugar protegido que haviam encontrado.

Eles voltariam para avisar os outros da descoberta e torceriam para que quem vivesse ali

deixasse que eles descansassem aquela noite sobre seu teto.

Quando saíram daquele lugar, tiveram uma surpresa. Não reconheceram o local ao redor

deles, era como se a grande árvore oca tivesse mudado de localização com eles dentro. As

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Sombras eram traiçoeiras naquele lugar, mas Klandrin, determinado como todo anão das

Montanhas Solitárias, não se deixou vencer e, junto com Pêpe, desbravou aquele pântano

fedido em busca do caminho de volta aos seus amigos. O caminho parecia ainda mais difícil

do que na ida, como se a Escuridão estivesse testando a vontade dos dois. Por várias vezes

eles tiveram que voltar para buscar uma passagem mais fácil, pois lagos, pedras e outros

obstáculos bloqueavam o caminho deles. Por alguns trechos os dois tiveram que caminhar

com a água na altura do peito, carregando suas mochilas sobre a cabeça. Mas o coração dois

heróis fora mais forte do que a magia da Trevas e depois de uma longa jornada eles avistaram

a elevação onde aguardavam Elmara, Aerandir e Balared.

O elfo, aproveitando sua visão aguçada, tinha escalado a imensa árvore negra para vigiar os

arredores. Apesar da neblina sinistra que os cercava, seus olhos élficos permitiram que ele se

mantivesse atento para a aproximação de qualquer inimigo. Ele viu Klandrin e Pêpe chegando

antes que os dois tivesse noção que se aproximavam de seus amigos. Elmara ainda estava

desacordada quando chegaram e teriam que carrega-la até o local. O anão explicou

brevemente o caminho o que tinham encontrado e preparou todos para o possível encontro

com quem quer que vivesse naquele abrigo.

O grupo, então, partiu em direção ao local onde pretendiam descansar aquela noite.

Novamente o ambiente e o caminho que encontraram, não era aquele que esperavam. Parecia

que os rumores que diziam que nada permanece no mesmo lugar nos Campos de Lis eram

verdade. Já era madrugada quando avistaram novamente a grande árvore oca, mas dessa

vez, uma luz trêmula, como de uma vela, podia ser vista através da porta da madeira. Todos

ficaram parados, em silêncio, pensando no que fazer em seguida. Pêpe, então, pediu para que

todos permanecessem parados e ele iria tentar ver que criatura estava ali dentro. Os hobbits

são naturalmente um povo abençoado com a sorte dos Valar, mas as vezes nem eles escapam

do azar. O pequenino, quando se apoiava em uma raiz para chegar até um orifício de onde

pudesse olhar para o interior do abrigo, escorregou no musgo do tronco e desceu rolando,

escada abaixo, para dentro da árvore oca, caindo bem na frente daquele que estava lá dentro.

Era um homem alto, de cabelos quase grisalhos, com alguns fios castanhos claros, barba

cumprida e um olhar fanático. Ele devia ter quase cinquenta anos, pelas rugas em seu rosto e

sua barba grisalha. Vestia uma armadura de couro feita com pele de crocodilo. Ao ver o hobbit

entrando em seu lar sacou logo sua espada, que parecia ter dentes na lâmina, e gritou:

- Que vil criatura é esta que invade minha casa? Fale agora, ou prove o gosto da minha espada!

O hobbit tratou logo de se explicar, levantando ambas as mãos para mostrar que não estava

armado: "- Acalme-se, senhor. Sou apenas um hobbit procurando abrigo por uma noite, pra

mim e para meus companheiros. Não lhe queremos mal."

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Nesse momento, adentram o local Klandrin e Balared, carregando a dúnedan ferida. Os olhos

do homem se arregalam: "- Mais invasores? Quem são vocês? São servos da Escuridão? Se

forem, vocês terão que me enfrentar!"

- Não, meu senhor, esses são meus amigos. Sou Pêpe, Língua-Afiada, do Condado. Esses

são Klandrin, da Montanha Solitária; Balared, um beorning do norte; Elmara, um dúnedan de

Eriador; e lá fora está Aerandir, um elfo da Floresta de Mirkwood. Somos inimigos da

Escuridão, assim como você. Nossa amiga foi ferida por orcs, por isso precisamos de abrigo.

O olhos amendoados de Pêpe eram a mais pura expressão da verdade. O homem que

segurava sua espada com as duas mãos, abaixou a arma e observou o grupo por um tempo.

Por fim, deixou que todos entrassem e perguntou se não foram seguidos, já que se esconderijo

ainda não tinha sido achado por nenhum monstro que vivia naquele lugar amaldiçoado.

O que se seguiu foi um diálogo entre a companhia e o velho, que parecia um pouco perturbado.

Aparentemente ele já estava vivendo naquele lugar há alguns anos, quantos ele não sabia

mais dizer. Ele esquecera seu nome, e se referia a si como Espada Dentada, devido a sua

arma, que nunca abandonava. O senhor fora um homem da floresta um dia, mas veio aos

Campos de Lis com a missão de matar uma criatura terrível, Alguir, um besta antiga. Mas ele

não falou muito, e disse que ficaria de vigia enquanto o grupo descansava, para ter certeza

que nenhum monstro os seguira até ali.

O noite dos heróis, no entanto, não foi tranquilo, como nenhum até agora tinha sido naquela

região. Naquela noite eles sonharam estar em um lugar escuro, uma masmorra, úmida, cheia

de teias de aranha, com o barulho de gotas caindo sobre uma superfície alagada, e o roncar

de um monstro gigantesco. Um olho gigante pode ser visto na escuridão, um olho negro e

viscoso. Tentáculos, vários deles, ao redor do olho e uma bocarra redonda capaz de engolir

dois cavalos de uma vez. E os tentáculos se aproximam envolvendo cada um deles,

sufocando-os e os arrastando para aquela boca...

Era a manhã seguinte, o grupo acorda suado e cansado do pesadelo que tiveram, alguns

visivelmente mais abalados do que outros. Aerandir quase não falava nada e as vezes parecia

estar conversando com si mesmo. O Espada Dentada logo apareceu trazendo várias

pequenas rãs e as ofereceu para o grupo de desjejum, mas nenhum deles aceitou a oferta.

Perguntaram para o senhor que criatura ele viera caçar, e ela a descreveu para o grupo. Era

a mesma com a qual sonharam, era Alghuir, e ela se escondia na fortaleza que procuravam.

Não foi difícil, a partir disso, convencer o velho guerreiro a ir com ela a procura daquele local.

Ele próprio já o tinha visto uma vez, mas nunca mais o achou de novo, pois, como é sabido,

nada fica no mesmo local por muito tempo nos Campos de Lis. O novo grupo andou por muito

tempo, as vezes em círculos, as vez por sobre colinas, outras vezes por terrenos alagados e

traiçoeiros, onde um único paço em falso os colocaria a dezenas de metros abaixo do chão.

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Parecia que todo aquele lugar estava tentando fazer com que eles desistissem e fossem

embora. O chão parecia agarrar seus pés para que não andassem mais, os insetos tentavam

fazer com que se confundissem e caíssem em algum buraco, e a neblina, sempre ao redor,

pregava peças em suas cabeças, mostrando formas e visões estranhas entre as árvores

contorcidas ao redor.

Ao anoitecer do primeiro dia depois de terem saído do abrigo, eles viram o contorno da

fortaleza no alto da colina novamente, e uma sensação gelada percorreu a espinha deles.

Parecia que algo ou alguém os olhou de volta de lá, um olhar maligno e gelado. De qualquer

forma, aquilo indicava que eles estavam indo para o lugar certo. Eles andariam só mais um

pouco aquela noite, até que encontrassem um lugar seco e reservado para descansar.

Viram, então, em um elevado, uma formação rochosa que os protegeria do vento gelado da

noite, da chuva e do olhar das criaturas da Trevas. O caminho até lá, era através de um campo

alagado que deixava a água até a cintura da maioria, mas quase no pescoço do hobbit e do

anão. Mas algo pior do que isso acontecera. Na água, algo se movia, algo grande. Aerandir

avistou, do outro lado do lago a calda de uma grande serpente mergulhando na água. Por

entre aquele escuro líquido eles podiam ver o brilho esverdeado das escamas do monstro, se

aproximando. Então, todos começaram a correr, cada um o mais rápido que conseguiam, mas

o anão carregava mais peso do que todos e parecia que não conseguia sair do lugar. Quando

chegou na margem da colina, uma grande cabeça de serpente voou para fora d'água e quase

o abocanhou, foi por pouco.

Todos se esconderam entre as pedras aquela noite, mas ninguém conseguiu dormir mais do

que alguns minutos. Algo estava à espreita, eles podiam sentir. O pouco sono que tiveram era

perturbado com visões estranhas da criatura que se escondia na fortaleza e a sensação de

que algum mal se aproximava. A noite pareceu uma das mais longas que eles já tiveram, mas

o sol da manhã quase não veio. Era como se uma grande nuvem negra tapasse o céu.

A companhia levantou cedo, queriam chegar rápida à fortaleza que viram na noite anterior,

antes que ela mudasse de lugar novamente. A jornada foi longa, perigosa e cansativa. Por

vezes parecia que eles estavam andando em círculos e tiveram que retornar por onde tinham

vindo há pouco para contornar obstáculos. Até que ao anoitecer eles avistaram a fortaleza,

apenas a algumas centenas de metros deles.

Ela ficava no alto de uma grande colina de rocha verde escura. Uma escadaria velha e

deteriorada levava até o topo da elevação, onde os portões da fortaleza ficavam. Klandrin, que

conhecia a natureza das rochas e sua utilização em construções como todo anão, averiguou

as condições do caminho. Era um trajeto perigoso, com riscos de desabamento, mas, se

fossem com calma, conseguiriam chegar lá em cima em pouco menos de uma hora. Assim,

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eles foram subindo, devagar, verificando a resistência de cada degrau a frente deles. Nenhum

ruído chegava ao ouvido dos aventureiros, era como se não houvesse nada nem ninguém ali.

Ao chegarem aos portões do local, viram que este era feito de um metal escuro, agora

enferrujado, gravado com vários símbolos grotescos da linguagem negra de Mordor. Um corvo

negro estava pousado sobre a parede de pedra que sustentava os portões, observando a

chegada do grupo. Elmara, já angustiada, não hesitou nenhum segundo. Puxou seu arco e em

uma flecha certeira perfurou o peito da ave sinistra. O som do seu pequeno corpo caindo no

chão foi tudo que ouviram. Eles empurraram os portões, que rangeram como máquinas velhas,

e logo se viram no pátio daquele lugar sinistro.

Construções antigas e em ruínas os cercavam. Todas feitas da mesma pedra verde escura da

colina. Restos mortais de criaturas e homens podiam ser vistos pelo chão, como se os crânios

dos mortos os observassem. A única construção ainda inteira da fortaleza era aquela que

parecia um grande templo. Ao se aproximarem deste lugar, eles sentiram a presença de um

grande mal em seu interior, quase palpável. Elmara, já cansada de tanta espera, e ansiosa

para cumprir sua missão, abriu logo a grande porta de madeira velha que ainda estava de pé.

Um cheiro de morte e podridão logo atingiu seu rosto, um presságio do que estava por vir...

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Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte V No momento em que a grande porta de madeira rangeu ao abrir, uma voz soou das sombras

nas ruínas ao redor. Era uma voz doce, porém decidida. "Quem são vocês e o que fazem

aqui?". O som via de uma das construções destruídas ao leste da grande catedral que ainda

jazia de pé. Aerandir, de Mirkwood, com seus olhos afiados, viu que uma figura se escondia

nas sombras, figura essa que usava uma capa feita do mesmo tecido que a sua, uma capa

dos elfos da floresta.

Então, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, a doce voz se dirigiu a ele em seu idioma

nativo, o sindarin. "O que fazer aqui Aerandir, filho de Erandis, com esses homens, anão e

hobbit? Que missão os trouxera até essa terra amaldiçoada?". O elfo, reconheceu aquela voz,

e não hesitou em responder as perguntas que foram feitas. "Como sabe, sou Aerandir, da

Floresta de Mirkwood, esses são meus companheiros, Klandrin, das Montanhas Solitárias,

Elmara, dos nobres dúnedain, Balared, um valoroso beorning, Pêpe, um hobbit do Condado e

este é o Espada Dentada, um eremita que vive aqui e nos ajudará. Estamos aqui para

encontrar um objeto que devemos levar para o Mago Branco. Um artefato do Inimigo que

deverá ser destruído. Agora que sabe nossos nomes e nosso propósito acho justo que se

revele e fale em um idioma em que todos possam entender".

Então, das sombras da noite, é revelada a forma de uma bela elfa da Mirkwood, usando uma

capa de cor verde escura, e portando uma grande lança de madeira com a ponta brilhante em

forma de uma folha. Seus olhos eram negros assim como seus longos cabelos presos em

diversas tranças. "Meu nome é Mikayla Finduillas, e estou aqui em uma missão sobre as

ordens do Rei da Floresta, Thranduil. Estou há meses seguindo os passos de um traidor e

esse rastro me levou até aqui". E isso, a elfa falou no idioma em que todos pudessem

compreender, o Westron. Sabendo que ela estava sobre as ordens do Rei Thranduil, e vendo

que seu coração parecia verdadeiro, a companhia propôs que Mikayla se juntasse a eles, pelo

menos por enquanto. Já que ambos iriam adentrar aquela construção que parecia uma

catedral sinistra.

De repente, enquanto terminavam de discutir a nova aliança ouviram o barulho de alguma

coisa de metal caindo no chão, vindo de dentro da catedral. Alguém ou alguma coisa se movera

lá dentro, já que o vento estava parado, como dentro de uma cripta. Nenhum outro barulho

veio de lá depois disso, voltando a reinar o silêncio dos mortos. Com Klandrin segurando sua

lanterna acesa, o grupo adentrou aquele lugar. A luz fez com dezenas de morcegos que viviam

ali despertassem imediatamente, começassem a emitir aquele som agudo que fazem e

voassem para todos os lados, fugindo da claridade. Ao mesmo tempo, ratos corriam de volta

para seus buracos enquanto aquele grande grupo de pessoas adentrava o lar fétido deles. O

local parecia a nave de uma igreja, com bancos compridos de madeira podre alinhados em

cada um dos lados, estátuas de homens altos de armadura escura e olhar taciturno em

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intervalos regulares nas paredes e um grande altar ao fundo, flanqueado por duas passagens

escuras, onde havia um mural pintado. A imagem era a de uma grande torre negra, com um

olhos vermelho sem pálpebras.

Quando viram essa imagem, todos puderam sentir um arrepio percorrendo suas espinhas em

direção aos seus corações. Aquela era a imagem do Inimigo, de Sauron, o senhor da

Escuridão na Terra-Média. Como que por feitiçaria, perceberam que ao redor deles, sentados

nos bancos podres e escuros de madeira da catedral, haviam seis esqueletos de homens, de

armaduras e armas enferrujadas e podres. Seus olhos brilhavam com uma não vida sinistra e

olhavam fixamente para o grupo, eles se levantavam.

Para cima de cada um dos aventureiros um esqueleto avançou, com suas armas erguidas,

prontos para atacar. Aerandir, por alguma razão foi afetado profundamente por aquela visão

da morte e do poder do Inimigo. Ele murmurou algumas palavras, amaldiçoado aquele lugar,

aquela situação e o destino que os aguardava, olhou para trás e partiu, desaparecendo na

escuridão e na névoa que cercava aquele lugar. A cada golpe de suas armas, a cada defesa

que faziam, o grupo olhava para fora e chamava pelo companheiro, mas nenhuma resposta

obtinham. Os mortos que os atacavam, no entanto, foram vencidos com certa facilidade, e

quando seus ossos eram esmagados pelas armas do grupo, eles viravam pó, como se o tempo

tentasse retomar aquilo que perdera a centenas de anos. De seus corpos, espíritos

translúcidos de uma cor esverdeada partiam, se dirigindo ao interior da colina.

Em pouco tempo, estavam sozinhos novamente, só que, agora, sem um companheiro que os

acompanharam por muito tempo. Uma comoção foi feita para que voltassem para procurar

pelo elfo, mas Elmara os lembrou que se partissem dali, pode ser que não encontrassem mais

a colina e a missão estaria perdida. Infelizmente, não poderiam voltar atrás, não agora. O

artefato estava por perto. A única passagem que conseguiam ver eram as escadas que

flanqueavam o altar maldito. Pegadas no chão empoeirado, indicaram Mikayla que seu alvo

descera pela escada a esquerda do altar, e para lá a companhia foi.

A escada era estreita, gasta e com diversas rachaduras, eles desciam devagar, para evitar

qualquer problema. A cada passo, o cheiro de morte e podridão ficava mais forte, como se

estivessem penetrando em um mausoléu, infestado de cadáveres. Ao mesmo tempo, uma

névoa estranha e gelada ia os envolvendo, tornando a visão mais turva e difícil. Até que em

um momento, não conseguiam mais ver uns aos outros, apenas ouvir suas vozes escoado

pelo lugar, sem saber de onde elas vinham. Na névoa sinistra, começaram a se formar imagens

estranhas, de crânios, rostos de criaturas da sombras, homens encapuzados e de pessoas

conhecidas em expressão de sofrimento. A poder da feitiçaria das Trevas tentava afetar o

grupo naquela hora vulnerável.

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Mikayla estava tentando entender aquilo que estava acontecendo ao seu redor, quando viu

aquela pessoa que procurava. Sindorfin, o traidor dos elfos de Mirkwood, parado a sua frente,

com seu rosto fino e nariz talhado, olhando-a com um sorriso de deboche no canto da boca.

"Então você me achou, Mikayla. E agora? O que vai fazer? Você e seus amigos estão perdidos

nas Sombras!". Sem esperar, um segundo, com o coração tomado pelo ódio e o desespero, a

elfa segurou em sua lança e a fincou fundo no peito de Sindorfin, que arregalou os olhos de

dor e surpresa.

De repente, a névoa se dissipou e a lanterna do anão, voltou a iluminar o ambiente. Estavam

todos em um grande salão com dezenas de pilares quadrados feitos de mármore verde escuro.

Fincado na ponta da lança de Mikayla, no entanto, não estava o elfo Sindorfin, mas o eremita,

o Espada Dentada, com sangue jorrando de seu ferimento e sua boca, que murmurou uma

última palavra antes de se calar para sempre: Assassina. Nesse instante, quando todos viram

a cena, uma voz grave, porém graciosa, ecoou pelo lugar. "Na escuridão deste mundo, vocês

tem certeza em quem podem confiar? Prossigam e cada vez mais traidores serão revelados

entre vocês".

Um silêncio, então, tomou conta do local. A elfa que acabara de se juntar a eles, matara o

homem da floresta que os estava ajudando. Todos sabiam da magia negra que estava em

efeito sobre eles e sobre como o Inimigo pode fazer com que as mentes deles ficassem

enevoadas, mas ninguém podia se contes em desconfiar as intenções da Mikayla, até que

Elmara falou: "É justamente isso que o Inimigo quer de nós! Que nos viremos uns contra os

outros. A feitiçaria enganou nossa nova companheira. Que isso sirva de lição para todos. Não

confiem em seus olhos, pois as Trevas podem nos pregas peças. Continuemos irmãos!".

E assim, o grupo continuou sua jornada pela aquela masmorra sombria e labiríntica.

Corredores após corredores, salas, salões e becos sem saídas. Então, de repente, Balared

parou. A sua frente via aquela pessoa que jurara defender e proteger, ferida, quase morta,

com um olhar de ódio depositado sobre ele. Era Elmara, a dúnedan do norte, que o culpava

por ter falhado em sua missão. Aquilo encheu seu coração de dor e angústia. A dúnedan sacou

sua espada longa e o atacou, sem saber o que fazer, o beorning não se defendeu, e foi ferido

no ombro. Mas então, ele se lembrou de onde estava. Ainda não falhara, ainda haviam

chances de conseguirem sair de lá. Elmara ainda estava viva, e com um urro, como de um

urso, ele a empurrou para longe. Era apenas a magia dos Inimigo envolvendo sua mente e seu

coração. Ele viu o que pode acontecer caso falhe. Tomado pelo ódio e desespero, Balared

sacou seu machado e saiu correndo, gritando, para o interior da Escuridão. Seus

companheiros não sabiam o que fazer, e o seguiram, como puderam.

Correram por muito tempo, talvez horas, talvez dias, não tinham como saber naquela

escuridão, mas uma hora se cansaram. Não faziam ideia de onde estavam ou para onde

deveriam ir. Se encontravam em uma sala redonda com um fonte de água seca no meio.

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Sentado em seu parapeito, Elmara viu Robin Ropper, seu antigo companheiro de viajem. Em

seus olhos, uma expressão de desespero, de medo, de horror. "Você não me protegeu da

Escuridão, Elmara. Eu era um hobbit esperançoso e aventureiro, e você permitiu que as

sombras matassem esse meu espírito de aventuras. Eu te odeio por isso, te odeio"! E o

pequeno saltou com uma adaga em punho para finca-la no peito da dúnedan. Mas não foi dor

que ela sentiu com o ataque, mas o frio toque das Sombras e a lembrança de que já perdera

muitos companheiros em sua vida voltou a atormentá-la. Uma lagrima escorreu de seus olhos,

mas quando levantou o rosto novamente, não havia ninguém lá a não ser os seus atuais

companheiros. Quem quer que estivesse fazendo aquilo com eles, sabia exatamente os medos

e os receios de cada um.

Sem saber para onde ir, só restava vagar por aqueles corredores e escadarias e torcer para

que a luz das estrelas, de alguma forma os guiasse. Enquanto caminhavam, sem rumo,

passaram por um corredor que parecia ser um calabouço. Diversas celas, uma do lado da

outra. Por entre as barras de ferro, Klandrin viu um anão preso a duas grossas correntes. Ao

olhar mais atentamente, o anão levantou a cabeça e Klandrin viu quer era seu grande amigo,

Drarin. Klandrin, logo abriu a porta da prisão com seu machado e correu para acudir o amigo.

Mas esse não queria ajuda. A primeira coisa que fez foi acusá-lo, dizendo que foi por culpa de

Klandrin que ele morrera, por culpa de seu abandono do grupo na Batalha de Faerel. Embora

Klandrin, já tenha pensado nisso, e aquelas palavras lhe causassem um pesar tremendo, ele

sabia que seu amigo jamais o culparia por aquilo. Ele segurou firme em seu grande machado

e com um grito de ódio esmagou a imagem de Drarin, que se desfez em fumaça

imediatamente. Ninguém tinha visto exatamente o que acontecera, mas viram o olhar distante

de Klandrin e sabiam que a magia da Escuridão o envolvera também, ainda que por apenas

alguns minutos.

Talvez por sorte, ou por obra do destino, enquanto caminhavam por aquele emaranhado de

salas e corredores, avistaram, novamente, o rastro de algum homem ou criatura. Assim,

seguiram por um caminho sinuoso, e estreito, através de corredores, escadas e salas

estranhas, até que chegaram a um pequeno aposento com uma estátua de um homem

encapuzado vestindo uma armadura completa de batalha. A estátua estava deslocado para a

esquerda, e onde ela deveria estar havia uma escada para baixo. Subindo as escadas, Pêpe

Língua-Afiada viu seu irmão, aquele que arruinara a sua vida, que roubara seu amor e que lhe

humilhou na frente de toda a família. "É Pêpe, você está sempre fugindo, sempre se

escondendo, nunca enfrentando aquilo que está a sua frente não é? Mas dessa vez, você não

tem como fugir!". E o hobbit saca uma adaga e começa a se aproximar de Pêpe. Esse, por sua

vez, diz "Dessa vez não, irmão. Dessa vez não!" e salta para encontrar seu rival. Com aquele

ato de coragem e determinação, a imagem de seu irmão desapareceu, mas o ódio e a raiva,

no coração do hobbit, ficaram.

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128

A frente da companhia, a escada descia pela escuridão. Dela podiam ouvir o som de uma

criatura gigantesca, roncando. Ao fundo, a melodia terrível de uma música ou canção no

idioma negro de Mordor. Receosos do que poderiam encontrar lá embaixo, Pêpe e Mikayla

iriam descer na frente, silenciosamente, para averiguar quem, ou o quê, estava lá.

Eles foram descendo pelas escada, uma passagem estreita, de paredes lisas e depois de

alguns minutos, começaram a enxergar uma luz esverdeada vindo de baixo. Ao chegarem ao

fim das escadas eles se viram em um enorme salão redondo, com um poço enorme no meio

por onde se estendia uma ponte com um altar em seu centro. Nesse lugar estava Sindorfim,

usando um manto escuro com diversos símbolos estranhos costurados com um fio prateado.

Em suas mão erguidas, uma grossa corrente de um metal escuro lançava essa luz esverdeada

que tinham visto. Era o elfo que entoava a canção hedionda no idioma de Mordor,

provavelmente na execução de um ritual. Sem pensar muito, Pêpe sacou sua espada e foi se

esgueirando até ficar atrás do elfo traidor, e, aproveitando a oportunidade, encravou-a em suas

costas.

"Arrgh!" gritou Sindorfin, enquanto se virava para ver quem o atacara, o sangue nobre do elfo

escorrendo por suas costas. Ao ouvirem o grito, Balared, Klandrin e Elmara desceram correndo

as escadas. Ao chegarem no aposento, viram o elfo traidor sacando sua espada fina e curvada

para atacar o hobbit, Mikayla correndo com sua lança em mãos para saltar sobre Sindorfin e,

do grande poço escuro que os cercavam, grossos tentáculos espinhosos surgindo e se

contorcendo. Eram da criatura que ouviram o ronco.

O primeiro ao alcançar Sindorfin fora Kladrin que usou a fúria do seu ataque e o peso dos

anões para empurrar o elfo para o poço. Com um ferimento de machado em seu torço, ele caiu

e desapareceu nas sombras enquanto seu grito ia ficando cada vez mais baixo. Então, a besta

se agitou, e os tentáculos que estavam lá começaram a tentar agarrar a todos. Mikayla logo

pegou a corrente escura que o elfo segurava. Ela estava gelada e com um toque sentiu uma

poderosa força que residia nela, como se ela pudesse dominar a todos ali, pois,

imediatamente, conhecia os medos de cada um.

Elmara fora agarrada por um dos tentáculos e estava sendo arrastada para o poço. Ao seu

lado, Balared golpeava aquele membro que a segurava com seu machado, tentando soltá-la.

Um grunhido amedrontador foi ouvido, ecoando por toda aquele local e o chão começou a

tremer. O que quer que estivesse no fundo do poço estava querendo sair.

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Crônicas da Terceira Era: Olho de Alghuir - Parte VI No fundo da masmorra, na fortaleza escondida nos Campos de Lis, a companhia lutava contra

uma besta primordial. Eles tinham recuperado o artefato negro que vieram buscar, e o Lorde

Sindorfin, traidor do povo da floresta caíra no poço de onde a gigantesca criatura saía.

Elmara estava brigando com um dos tentáculos da criatura, gritando para que Klandrin,

Balared e Pêpe saíssem do altar, que ficava sobre o grande buraco. Com um golpe de sua

espada, penetrou a pele viscosa e dura da criatura. A dor foi suficiente para que o monstro se

distraísse, permitindo que a dúnedan escapasse em direção a Mikayla, que aguardava nas

escadas para o piso superior.

Ao mesmo tempo, o pequeno hobbit tentou correr dos vários membros do mostro que pareciam

estar cercando ele e seus amigos, mas não foi muito longe, quando um deles o golpeou na

barriga, fazendo o cair no chão. Balared, vendo o medo nos olhos de Pêpe, saltou por cima

dele para enfrentar o tentáculo que avançava. Ele salvou o pequenino, mas o monstro o

envolveu e começava a levantá-lo.

Klandrin segurou firme no seu machado e fez o que ele melhor sabia fazer, maltratou a criatura

com golpes poderosos e profundos. Seus esforços foram suficiente para que uma passagem

momentânea se abrisse e, assim, ele esticou a mão para Pêpe, e com um impulso o jogou

para longe, para fora do alcance do monstro, partindo em disparada atrás.

Estavam todos, menos Balared a uma distância relativamente segura do poço, embora ainda

tivessem que se defender de investidas da criatura que agora escalava as paredes do buraco,

enquanto o aposento parecia estar desmoronando. Pedras caiam por todos os lados e as

pilastras que sustentavam o teto começavam a rachar. Balared, preso entre os tentáculos do

monstro, gritava para que todos fugissem logo, ele ficaria ali, para distrair o monstro. Mas seus

companheiros não o deixariam ali, não sem lutar. A vida quase se esvaia do rosto do beorning

quando uma flecha certeira de Elmara perfurou profundamente o tentáculo do monstro. Um

grito agudo ressoou do poço, quase ensurdecendo todos. O aperto se afrouxou e Balared

escapara. Começava, agora, uma corrida desesperada para escapar da criatura.

Subiam as escadas o mais rápido que podiam, mas no desespero acabaram tropeçando. O

ronco do monstro os seguia e, volta e meia, tinham que se desvencilhar de um tentáculo que

agarrava o calcanhar deles. Ao chegaram no andar superior, não lembravam exatamente de

onde tinham cindo, estavam em uma pequena sala com três passagens, uma a direita, uma

na parede oposta e outra à esquerda. O grupo hesitou alguns segundos, o suficiente para um

grande tentáculo com espinhos perfurar o chão, assustando-os. Sem pensar, foram para a

passagem a esquerda. Assim, correram por corredores extensos, passaram por aposentos

gigantescos, pequenos e sombrios. Talvez por sorte ou por causa do conhecimento quase que

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natural dos anões quanto a construções subterrâneas, o grupo sempre conseguia achar

alguma passagem que os levasse cada vez mais próximos da superfície.

Depois de algumas horas, que pareciam mais semanas na visão dos aventureiros, eles

chegaram a um beco sem saída. Tinham que voltar, mas não sabiam exatamente para onde.

Todas as passagens que escolhiam acabava em um ponto intransponível. O barulho da

criatura ia ficando cada vez mais alto, indicando a sua proximidade. Estavam cansados, feridos

e angustiados. De repente, começaram a ouvir uma canção, suave, fluida e encantadora, como

as águas de um rio puro. Mikayla cantava uma música élfica, um lamento para as estrelas. A

música, por alguma razão acalmava o coração da companhia, por um momento eles podiam

pensar novamente, sem desespero tomando conta da mente deles. Em resposta à canção da

elfa, um camundongo apareceu e, ente uns ruídos e outros, Mikayla disse que ele os guiaria

para uma saída.

Assim, eles foram sendo guiados por um pequeno roedor por um bom tempo, indo cada vez

mais próximos da saída, até que chegaram a um salão, e em seu meio jazia o corpo de Espada

Dentada, o eremita, homem da floresta, que encontraram a dias atrás. Ele estava morto, no

lugar onde o deixaram. E o deixariam ali, novamente, se não fosse por Elmara, que disse que

iria levá-lo até seu povo, para que fosse feita uma cerimônia em sua homenagem. Assim, a

dúnedan, mesmo ferida, colocou o homem sobre seus ombros e se pôs em pé, pronta para

continuar, quando um urro de raiva do monstro ecoou pelo local.

O rato, que os guiava desapareceu, provavelmente se escondeu de medo. Estavam

novamente perdidos. E ali permaneceram por muito tempo, talvez dias, não sabiam, pois a

escuridão era a mesma o tempo todo. E o silêncio era apenas cortado, de vez em quando pelo

grunhido do monstro que os procurava por aquele labirinto de corredores, salas e passagens.

Até que, então, Klandrin sentiu algo. Talvez nenhuma outra pessoa fosse perceber o que ele

percebeu, mas os anões, acostumados a passar dezenas de anos sem nunca sair de suas

cavernas, conseguia perceber as menores alterações no ar ao redor deles em ambiente

subterrâneos. Naquele momento, Klandrin sentiu uma leve brisa, eles só podiam estar perto

da superfície.

Em poucos segundos todos estavam em movimento novamente. Agora, depois de algumas

escada e corredores, todos sentiam o cheiro podre do pântano, e, por incrível que pareça,

estavam felizes com isso. Ao subirem as últimas escadas da masmorra, si viram no longo salão

da catedral escura que entraram anteriormente. Do lado de fora, uma chuva torrencial caia,

goteiras caindo em todos os cantos. Por um momento, hesitaram em sair na tempestade, um

raio brilhou no escuro da noite e o barulho de trovão foi seguido por um rugido sinistro vindo

debaixo deles. A criatura não desistira de alcançá-los.

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Assim que ouviram o barulho terrível, correram para fora do local. Em poucos segundos

estavam encharcados, com frio e sem saber para onde ir. Foram, então, em direção à entrada

da fortaleza, por onde subiram uma escada deteriorada e inclinada. A descida não seria fácil

naquela chuva, mas era a melhor opção que possuíam, já que não queriam ficar nem mais um

minuto naquele lugar maldito. No entanto, ao começarem a descer os degraus escorregadios

da encosta, luzes trêmulas entre a neblina e chuva chamou a atenção do grupo. Mikayla, que

possuía um olhar preciso que só os elfos possuíam, conseguiu discernir entre as sombras um

gigantesco grupo de grandes figura usando armaduras escuras, de pele acinzentada, sendo

guiados por um homem de capa negra e joias douradas. Um grande mal podia ser pressentido.

Imediatamente, os companheiros deram meia volta, para se distanciar da força que avançava.

Até aquele momento, aparentemente, aquelas criaturas não tinham percebido a presença

deles ali. Entretanto, enquanto se viravam para fugir, Elmara escorregou em uma pedra, que

rolou colina abaixo, fazendo um grande barulho e, sem dúvida, anunciando a presença deles

ali. Na mesma hora, cornetas soaram vindas da escuridão, gritos de guerra ecoaram pelo

pântano. Os monstros avançavam com mais rapidez.

A companhia correu na direção oposta, aproveitariam a escuridão da noite e a chuva para se

manter escondidos. A encosta do outro lado era bastante acidentada e traiçoeira, mas Klandrin

sabia bem como descer encostas de montanhas, então aquilo não era algo tão diferente para

ele. Eles juntaram todas as suas cordas e o anão das Montanhas Solitárias fixou pitões aonde

podia para facilitar a decida de todos. Foi uma fuga desesperada. Elmara, carregando o corpo

de Espada Dentada se desequilibrou e despencou uma curta distância, ferindo-se ainda mais.

Apenas sua determinação a mantinha de pé naquele momento. Ao chegarem no chão, viram

que os orcs já contornavam a colina a procura deles, precisavam achar um lugar para se

esconder, longe dali.

Não tiveram tempo para saber em que direção seguiam, apenas corriam, o máximo que

podiam, olhando para trás para ter certeza de que nada nem ninguém os seguia. Continuaram

assim por horas, até a exaustão os alcançar. Foi quando viram que a poucos metros em meio

a duas colinas, havia uma grande árvore seca, morta, porém oca, que podia os abrigar da

chuva e era escondida a suficiente. Ali passaram a noite, desmaiados de cansaço.

A manhã, se é que era manhã, já que o sol não conseguia penetrar as nuvens negras que

cobriam os Campos de Lis, chegou como em um piscar de olhos. Ainda cansados, mas com

forças o suficiente para andar e se distanciar o quanto pudessem dali, o grupo começou sua

busca por um saída daquela terra amaldiçoada. Foram dias de caminhada difícil, cansativa e

perigosa. Às vezes parecia que não saiam do lugar a voltavam para a mesma colina, a mesma

árvore retorcida e o mesmo campo alagado. Sombras que mais pareciam criaturas das trevas

pareciam estar sempre acompanhando o grupo, onde quer que eles fossem. Depois de cinco

dias, pela conta dos aventureiros, eles avistaram o Anduin. Do outro lado estariam em seus

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Vales verdes e em alguns dias, chegariam a Rhosgobel, a morada dos homens da floresta e

de Radagast.

A neve branca já cobria boa parte dos campos por onde passavam. Deviam estar no início do

inverno, ou o frio viera mais cedo do que esperavam. Das casas de Rhosgobel, podiam ver

colunas de fumaça subindo, enquanto as lareiras mantinham os homens da floresta quentes.

A chegada deles foi recebida com grande alegria por aquele povo, Radagast apenas os

cumprimentou e disse que conversaria com ele depois, pois estava partindo para o norte

naquele momento. A luta dos beornings e homens da floresta contra os orcs terminara. Os

orcs voltavam para as montanhas, derrotados, mas tendo tirado muitas vidas.

Demoraria algumas semanas para que os membros da companhia se recuperassem

totalmente. Nesse tempo, uma cerimônia foi feita em homenagem ao Espada Dentada, embora

quase ninguém lembrasse quem ele era, ou porque ele estava lá nos Campos de Lis.

Mais um artefato de Angmar fora recuperado, restando apenas um. Onde será que este se

encontra? Será que os Inimigo já o encontrou? O que será que aguarda os Povos Livres do

Norte nesse ano que virá?

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Crônicas da Terceira Era

Herumor

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Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte I A companhia passou um mês em Rhosgobel, se recuperando da jornada pelos Campos de

Lis. O inverno estava mais gelado e escuro que nos últimos anos, como se uma grande sombra

fria pairasse sobre as Terras Ermas. Radagast os avisara que Gandalf estava visitando as

cortes dos Povos Livres do Norte a procura de mais um membro para formar o Conselho

Branco, já que estava preocupado com os acontecimentos naquela região. Apesar disso

mostrar uma preocupação dos Magos com o que estava acontecendo, os heróis não teriam

tempo para encontrar o peregrino cinzento, pois tinham que cavalgar até Isengard, para

entregar o terceiro artefato de Angmar.

Eles partiram para o sul em uma manhã enevoada de inverno. Toda o caminho levaria cerca

de um mês e meio e chegariam em Isengard quase no fim do inverno. A viagem era cansativa,

mas sem muitos imprevistos. Era como se todos os animais e criaturas estivessem hibernando.

Passavam-se horas sem que um barulho, além dos passos dos cavalos, pudessem ser

ouvidos. Foi quase um mês descendo pelo Vale do Anduin até começarem a avistar vilas e

pessoas.

Ao chegarem nas terras dos Eorlings de Rohan, abaixo da antiga floresta de Fangorn,

começaram a ouvir boatos que os deixaram preocupados. Aparentemente, Saruman expulsou

todos os habitantes de uma pequena vila aos pés das Montanhas Enevoadas, perto do Vale

de Isengard, de suas casas. Aquilo deixará muitas pessoas de Rohan revoltadas, pois aquele

era as terras deles, e o Mago é que tivera permissão de ficar por ali. Pêpe, o hobbit, ficou

especialmente perturbado com aquelas notícias, pois tinha achado o comportamento do Mago

Branco muito rude e estranho, na primeira vez que o encontrara. Elmara, no entanto, estava

confiante que haveria um boa explicação para aquilo.

Assim, seguiram por mais algumas semanas até chegarem aos pés das Montanhas das

Névoas, perto do Estreito de Rohan. Ali, viram o pequeno vilarejo de casas de madeira

totalmente abandonado, sem nenhuma pessoa. No caminho para ali, escutaram de alguns

cavaleiros que a expulsam não foi gratuita, mas que Sarumam temia por ataques de Orcs

naquela região, já que eles sabiam que ali era a morada de inimigos das forças das trevas.

Aquilo acalmou o coração de Elmara e outros da companhia, mas o hobbit ainda achava

estranho tudo aquilo, pois não via sinal de nenhum orc, assim como não vira nenhuma

movimentação de tropas no caminho de Rhosgobel até ali.

Seguiram viajem subindo as colinas até chegarem ao Vale do Rio Isen, onde se encontrava

Orthanc, a torre do Mago Branco. Uma camada grossa de neve cobria as colinas e os campos

ao redor deles. O Jardim, apesar de coberto de neve e quase sem flores, continuava lindo,

mas um silêncio estranho imperava. Ao se dirigirem à torre, notaram que nenhum som podia

ser ouvido vindo de lá, era como se não houvesse ninguém no local. E de fato, não havia

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ninguém em Orthanc. Elmara batera nos portões da torre, que ressoaram pelo vale, mas

nenhuma resposta veio de seu interior.

Eles ficaram ali, por algum tempo, tentando imaginar o que teria acontecido. Será que o Mago

branco viajara? Pêpe e Mikayla se propuseram a encontrar uma entrada alternativa para a

torre, apenar dos alertas de Elmara, Balared e Klandrin de que não deviam tentar entrar na

torre de um Mago sem serem convidados. Mas apesar de procurarem por todos os lados da

torre, não acharam sinal de nenhuma entrada além dos portões principais, que obviamente

estavam trancados. O resto da companhia, sem saber o que fazer o resto do dia, se recolheu

em eu pequeno estábulo ao lado da imensa torre para passar a noite, decidiriam o que fazer

na manhã seguinte.

O sol veio brilhante e uma fina neblina cobria os pés das Montanhas das Névoas. Ao

acordarem, o grupo decidiu que aguardaria por Saruman mais dois dias, antes de partirem

para o norte novamente. Depois do desjejum, Mikayla decidiu caminhar pelo Vale e ouvir um

pouco o que as árvores, as pedras e o rio do local. Até a natureza estava muito silenciosa,

mas, depois de um tempo, a elfa conseguiu ouvir um lamento do Rio Isen de que o Mago

branco não aparecia mais no vale, que estava muito ausente, trancado em sua torre, e que ele

viajara há meses, sem retornar. Aquilo confirmou que o sábio não se encontrava ali, mas

deixou todos preocupados, pois não sabiam quando e se ele retornaria.

O resto do dia passou sem mais eventos. Cada um recolhido em seus pensamentos, sem

saber o que lhes aguardava no futuro. Era possível que o Inimigo tivesse capturado Saruman?

A quem eles recorreriam para destruir os artefatos? Será que Gandalf ou Radagast tinham

esse poder? Por sorte, não tiveram que pensar nisso por muito tempo. Ao anoitecer do terceiro

dia ali, viram se aproximar um homem montado em um cavalo branco. A neblina no vale os

impedia de ver exatamente quem era, por isso Elmara gritou para ele que se identificasse

imediatamente, o que o cavaleiro não fez. A dúnedan, então, sacou uma flecha e atirou contra

ele mas, como a visão estava prejudicada, errou seu alvo. Só então Balared e Mikayla

avistaram quem realmente era o homem que se aproximava, ninguém menos que o próprio

Saruman. Antes que Elmara atirasse mais uma flecha eles seguraram sua mão, e contaram o

erro que cometera.

O Mago Branco, quando se aproximou deles, falou: "O que pensa que estas fazendo, Elmara?

Atirando contra aquele que pode ajuda-la? Os olhos da dúnedan estão se fechando com a

escuridão que se aproxima?". Ela pediu perdão pelo ataque, dizendo que receou que fossem

inimigos vindos do sul. Imediatamente o Mago fora bombardeado de questionamentos quanto

diversos acontecimentos, a evacuação da vila ao sul, os artefatos, sua ausência e outras

coisas. Então, como um trovão, sua voz fez calar a todos: "Silêncio! Aqui fora não é lugar para

discutirmos esses assuntos. Entremos em Orthanc, onde o fogo aquecera nossos corpos e

corações e poderemos tratar de assuntos importantes como estes. Trago notícias para vocês".

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Assim, todos seguiram o Mago até Orthanc. As portas se abriram sozinhas com a aproximação

do mago. O seu interior era muito maior que a parte externa, como se a realidade ali dentro

fosse outra. Os aposentos e corredores de lá eram todos muito bem iluminados por cristais

presos as paredes. Detalhes na arquitetura eram feitos com um metal prateado dando um

brilhos fantástico ao lugar. Saruman levou o grupo a um grande salão, onde, sobre uma longa

mesa de prata, estava servido um vigoroso banquete. "Antes de discutirmos esses assuntos

sombrios que temos que discutir, festejemos um pouco com uma boa comida e vinho a

vontade. Sentem-se."

Mas nem todos estavam satisfeitos em ficar sentados, comendo e bebendo. O pequeno hobbit,

Pêpe, foi direto e questionou o mago sobre o porquê dele ter desalojado dezenas de famílias

de suas terras. Este, por sua vez, respondeu, calmamente, que apenas fez aquilo para o bem

deles, pois o Inimigo sabia que ele estava destruindo artefatos de Angmar e poderia atacar

aquele povoado próximo a Isengard. Mas mesmo assim, o hobbit achou aquilo tudo muito

estranho, sentimento que não era compartilhado por seus outros companheiros de viajem.

Dessa forma, o jantar terminou sem mais discussões.

Seguiram, então, para uma outra sala, onde haviam cadeiras acolchoadas ao redor de uma

mesa de carvalho redonda, sobre a qual havia um mapa das Terras Ermas, finamente

desenhado. Saruman explicou que viajara a Minas Tirith para pesquisar os registros antigos

sobre lugares onde as forças das trevas pudessem ter lavado o último artefato. Depois de

meses ele encontrou um livro que relatava a fuga de um grupo de bruxos para as Montanhas

Cinzentas, em direção ao Pico de Demunkir. É lá que ele acredita que possa estar o artefato

perdido. Os aventureiros escutam o relato com atenção e decidem que vão tentar encontrar o

tal pico para investigar a possibilidade. Ao mago, foi entregue a corrente que acharam nos

Campos de Lis. Saruman vê aquele artefato e o reconhece como a Corrente dos Medos e

promete destruí-la assim como fizera com o Cetro Negro.

Em seguida, os heróis são levados a seus quartos nos andares inferiores da torre, após uma

série de corredores e escadas. Ali passariam a noite, poderiam tomar banho nas águas

aquecidas do Rio Isen, para recuperarem suas forças. Saruman se recolheu em seus

aposentos e disse que não deveria ser perturbado, pois começaria, imediatamente, a trabalhar

na destruição da corrente.

O dia seguinte veio rápido, e mais rápido ainda os aventureiros juntaram suas coisas para

partirem ao norte. Elmara disse para o grupo seguir para a Casa de Beorn sem ela, pois queria

passar em Edoras antes, para falar com o Rei de Rohan sobre o que acontecera com a vila

aos pés das Montanhas das Névoas. Dessa forma, os caminhos deles se separaram depois

de uma semana de viajem. A companhia combinou que se encontrariam novamente na Casa

de Beorn, no Vale Norte do Anduin, de onde partiriam em sua busca pelo artefato.

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Elmara não demorou muito para alcançar a Cidade de Edoras e ser lavado a presença do Rei

Thengel no salão dos reis. Ela explicou o porquê da evacuação da Vila para o Rei, mas este,

orgulhoso, não ficou muito satisfeito com as explicações. Muitas famílias perderam tudo que

tinham ali, suas terras, plantações e o meio de vida, mas que, por hora, deixaria as coisas

como estão, e quando esse ameaça que pairava sobre todos nas Terras Ermas, ele retomaria

a vila para seu povo.

Enquanto isso, Klandrin, Balared, Mikayla e Pêpe, seguiam viajem ao norte, pelos campos e

colina do Grande Vale das Terras Ermas, agora encharcados pela neve que derretia. Com o

fim do inverno, diversos animais saiam de suas tocas a procura de comida e sol. Pelos

povoados que passavam, fazendeiros começavam o plantio e pastores levavam seus

rebanhos para pastar. O grupo, de dias em dias, procurava alguma dessas vilas para

descansar e trocar informações sobre o que acontecera nos últimos meses de inverno. Para a

surpresa deles, nenhuma vila vira nada estranho nesses meses passados. E assim, eles foram

prosseguindo, cada vez mais ao norte, passando pelo território dos homens da floresta, até

cruzar a Velha Estrada da Floresta e chegar as terras dos Beornings.

A dúnedan, ao sair de Edoras, voltou seu caminho para o norte. No entanto, ao invés de seguir

direto para as terras dos homens das florestas, decidiu que estava na hora de buscar ajuda

entre os elfos de Lórien, um povo muito antigo que se recolhera em seu santuário a milhares

de anos. A floresta de Lórien era diferente de qualquer outra que ela já entrara. Ela parecia

estar no outono e primavera ao mesmo tempo. As folhas das árvores pareciam muito vivas,

mas sempre em tons vermelhos, amarelos e bronzeados. Uma luz dourada brilhava entre as

gigantescas árvores anciãs.

Elmara passou alguns dias explorando aquele lugar maravilhoso, mas sem ver nenhum elfo

ou construção entre as árvores. Até que, no dia em que desistiria de sua busca, viu um brilho

pálido entre as árvores. Ao se aproximar, Elmara viu um elfo de longos cabelos durados

usando um manto branco com detalhes em prata, subindo uma fina escadaria ao redor do

tronco de uma grossa árvore. A patrulheira se identificou e pediu para que fosse levada ao seu

povo pois precisava de ajuda deles. O elfo, surpreso de ver um da raça dos homens ali, depois

de tanto tempo, e ainda um dizendo que viera de Rivendell, concordou em levá-lo, mas como

prisioneiro, já que entrara na Terra dos Elfos de Lórien sem permissão ou convite. Assim,

vendando-a Daloren guiou Elmara por várias horas entre as árvores da floresta dourada, até

que chegaram na morada dos Noldor.

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Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte II Estava anoitecendo quando Klandrin, Balared, Mikayla e Pêpe chegaram à Casa de Beorn.

Era o primeiro mês de primavera de ano dois mil novecentos e cinquenta da terceira era. A

comunidade daquele povo parecia tranquila. Halfstat, o líder dos patrulheiros locais os recebeu

de braços abertos. Eles trocaram algumas palavras e informações sobre o que estava

acontecendo na região. Aparentemente, depois da grande batalha que tiveram com aquelas

criaturas no norte, nenhum goblin das montanhas foi visto naquelas terras.

Ali, o grupo esperou por Elmara por duas semanas. Nesse tempo, andaram pelo Vale do

Anduin ao lado dos guerreiros Beornings e se recuperaram do cansaço. Os campos estavam

verdes e floridos, como se a vida estivesse com novas esperanças. Mas tudo aquilo, eles

sabiam, podia estar fadado a desaparecer, caso o Inimigo obtivesse o que queria. Quando a

primeira semana terminou sem que a companheira deles chegasse, Balared pediu para que

Halfstat avisasse-a que eles foram para o Reino da Florestas, caso a dúnedan o encontrasse.

O guerreiro Beorning fez com que os vigilantes das fronteiras do sul ficassem de olhos abertos

para a chegada da patrulheira. Assim, os quatro aventureiros partiram para o norte, subindo o

Vale do Anduin em direção aos Portões da Floresta.

Ao sul dali, alguns dias atrás, Elmara era colocada em um aposento, vendada e sozinha. O

elfo Daloren disse a ela que em breve falariam com ela e seu destino seria decidido. Ela ficou

esperando ali por horas, dias, ou apenas minutos, era difícil precisar. Um silêncio absoluto

pairava no ar. Apesar disso, uma paz, e leveza tomavam conta do coração da aventureira.

Até que, de repente, sua venda cai e, diante de si, ela vê um alto e elegante elfo, um Noldor

que emitia uma luz clara e confiante. "Meu nome é Celeborn, o lorde do Noldor na Terra-Média.

O que trazes uma patrulheira até as portas de nossa morada?", disse o elfo, com uma voz

clara, confiante e nobre. Elmara, que não era treinada na arte da etiqueta e maneiras de

nenhuma corte, foi direito ao ponto. Ela disse que fora enviada por Elrond para buscar ajuda

com os elfos dali. Disse ainda que as forças da Trevas estavam atrás de artefatos de Angmar

e que ela e seus amigos estavam buscando esses artefatos para destruí-los, com a ajuda de

Saruman, Gandalf e Radagast.

No entanto, Celeborn não pareceu se sensibilizar com os pedidos da dúnedan. O lorde disse

que os Noldor e os elfos já enfrentaram por duas eras o Inimigo e que agora estava na hora

de ir embora, para Valinor, de onde nunca deviam ter saído. Ele não acreditou também, que

seu povo estivesse em ameaça. Como Elmara disse que fora enviada por Elrond, Celeborn

achou muito estranho não ter sido avisado pelo Lorde de Rivendell. Por fim, Elmara pediu para

que ao menos purificasse a Pedra Estrela, que usaram diversas vezes contra as Sombras.

Mas Celeborn não respondeu a esse pedido, e a dúnedan começou a se sentir muito

sonolenta, até que desmaiou de sono.

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Quando abriu os olhos novamente, Elmara estava ao norte da floresta de Lórien, na margem

lesta do Grande Rio das Terras Ermas, sem lembrança de nada do que havia ocorrido depois

que adentrou a floresta. A pedra que carregava estava purificada e brilhante novamente e,

assim, assumiu que obtivera a ajuda que tinha ido procurar. Voltou-se para o norte, para as

terras dos homens da floresta e seguiu sua viajem, para encontrar seus companheiros

novamente.

Longe dali, Klandrin, Balared, Mikayla e Pêpe chegavam aos Portões da Floresta depois de

alguns dias de caminhada e escalada pelas colinas do Vale Norte do Anduin. O grande arco

élfico que marcava a entrada na floresta estava coberto de um era escura. As árvores pareciam

estar menos verdes e mais acinzentadas e praticamente não se ouvia o barulho de nenhum

animal, mesmo estando na primavera. O Caminho dos Elfos, que cortava a parte norte de

Mirkwood, até os Salões do Rei Elfo, foi transformado em um túnel escuro, já que as árvores

de contorceram uma sobre as outras, encobrindo todo o caminho em uma sombra pesada.

Não importava que estava de dia, o grupo precisou acender suas lanternas para enxergar o

trajeto. Lá dentro, era escuro como uma caverna, era como se fosse noite todos os dias, e era.

Era difícil saber por quanto tempo tinham andado e quanto tempo ainda devia percorrer até

chegar ao Reino da Floresta, já que não tinham nenhum referencial. Depois de algum tempo,

eles começaram a perceber que entre algumas árvores, grandes teias de aranha se estendiam,

brilhando contra a luz das lanternas que carregavam.

Entre as árvores um pouco distante do Caminho dos Elfos, Mikayla viu alguma coisa envolta

em teias, como seu um grande animal tivesse sido capturado e envolvido por grandes aranhas.

Embora a maioria não achasse prudente sair da trilha que seguiam para averiguar o que havia

ali, a curiosidade do hobbit o levou para o local. Sem que o pudessem impedir, o grupo foi

atrás do pequenino. No entanto, a corrida que fizeram fez despertar os habitantes locais que

logo apareceram, como centenas de olhos vermelhos e brilhantes nas sombras. Eram dezenas

de aranhas, que viam neles a oportunidade de um jantar variado.

Antes que pudessem sacar suas armas, as aranhas gigantes já desciam das árvores e

avançaram sobre eles. Eram pelo menos duas aranhas para cada um dos aventureiros e eles

podiam ouvir as vozes agudas de mais se aproximando. Se não fosse o grande número de

inimigos, a batalha teria sido muito mais fácil para a grupo, mas não paravam de chegar

aranhas e as teias delas iam envolvendo os heróis aos poucos. Mikayla e Pêpe foram aqueles

que mais tiveram problemas e foram rapidamente cercados pelas aranhas. A elfa foi

gravemente ferida por ferroadas dos monstros, mas antes que fosse levada pelas criaturas,

Klandrin e Balared conseguiram salvá-la. Quando se viram livres dos gigantescos aracnídeos

negros, o grupo fugiu, de volta para o Caminho dos Elfos. Correndo o mais rápido que podiam

para se distanciar do local.

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140

Nunca souberam por quanto tempo correram, já que não sabiam se era dia ou era noite. Mas

quando pararam, exaustos, não ouviam mais o som de nenhuma criatura ao redor deles. Ali,

no meio da trilha que seguiam, sentaram para descansar, torcendo para que nada, nem

ninguém, os encontrasse. Foram horas, ou dias, até que se levantaram novamente. Ainda sem

sinal de qualquer criatura viva. O coração de cada um pesava com um sensação de vazio e

angústia naquela escuridão infinita. E assim, seguiram o caminho, sempre sem direção a terra

dos elfos de Mirkwood.

Mais ao sul, Elmara cruzava a Velha Estrada da Floresta no Vale do Anduin, quando encontrou

dois jovens Beornings que a reconheceram da última passagem dela por lá. Os guerreiros logo

a avisaram sobre a passagem de seus amigos por aqueles terras e o destino que tomaram. A

dúnedan, então, cavalgou mais rápido para o norte, apenas passando a noite na Casa de

Beorn, para chegar à Floresta de Mirkwood o mais rápido que poderia. Não demorou muito

para que ela alcançasse o Portão da Floresta.

Ao mesmo tempo, os quatro companheiros chegavam as terras do Reino da Floresta.

Perceberam que os elfos estavam praticamente preparados para um conflito eminente, já que

as aranhas, cada vez mais, se aproximavam do território deles. Assim que Legolas, o filho do

Rei Elfo, viu Mikayla, pediu para que ela fosse se reportar a Thranduil sobre a missão.

Imediatamente, a elfa deixou o grupo para se dirigir até os Salões do Rei, acompanhada pelo

príncipe dos elfos de Mirkwood.

O aposento de Thranduil fica no interior de um grande complexo subterrâneo que misturava a

arquitetura delicada dos elfos com cavernas naturais. O Rei, sentado em seu grande trono de

carvalho vivo, recebeu a elfa e conversaram por quase duas horas. Ela contou sobre sua busca

pelo Lorde Sindorfin e como o encontrou nos Campos de Lis, envolvido com as forças da

Trevas. Contou sobre a aliança que fizera com a companhia de heróis e como Aerandir tinha

sumido de repente naquele lugar maldito. O rei ficou decepcionado em saber que realmente

um nobre elfo de Mirkwood havia cedido à Escuridão, mas agora admitia o erro que cometera.

Uma nova lança forjada de prata dos elfos foi entregue a Mikayla e, a mesma, pediu para que

fosse permitida a ela continuar com o grupo de aventureiros na missão de encontrar e destruir

os Artefatos de Angmar, o que Thranduil concordou imediatamente.

Passaram-se cerca de dez dias até que Elmara chegou ao Reino da Floresta. Sua viajem por

Mirkwood não foram tão agitada quanto a de seu companheiros, mas ele também sentiu as

sombras que envolviam as árvores. Algo terrível estava se espalhando pela floresta. Nesse

tempo, Mikayla visitou os antigos registros de seu povo a procura da localização do Pico

Demunkir nas Montanhas Cinzentas. Sua pesquisa no entanto, apenas revelou a região em

que o tal pico se encontra. Caso quisessem descobrir mais, provavelmente teriam que

consultar os arquivos de Erebor.

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Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte III Com a informação limitada que obtiveram nos antigos registros dos elfos de Mirkwood, a

companhia optou por ir até à Montanha Solitária e tentar ter acesso aos arquivos do povo de

Durin. Sem dúvida os anões teriam registros de suas fortalezas nas Montanhas Cinzentas. Por

isso, depois da chegada de Elmara, os aventureiros passaram poucos dias nas terras de

Thranduil e partiram para leste, rumo ao reino dos anões.

A viajem até lá durou apenas quatro dias, passando pelo nordeste da floresta. Essa região,

que outrora fora conhecida como a Desolação de Smaug, estava completamente recuperada.

Terras cinzas, sem árvores e com cheiro de cinzas agora eram belo campos verdes, com flores

e animais silvestres. Mas ao invés de pensarem o quanto os Povos Livres do Norte tinham

conquistado nesses quase dez anos após a morte do Dragão, os heróis só conseguiam

enxergar o que estava em risco de ser perdido, caso falhassem em sua missão de destruir os

artefatos de Angmar.

Ao chegarem no vale de Dale, o grupo se separou. Elmara desejava conversar com o Rei Bard

sobre o que estava acontecendo e avisá-lo para se preparar para um possível confronto com

forças do Inimigo. Ela se dirigiu para o palácio do rei, onde fora erguida uma grande estátua

de bronze de Bard e o Dragão, e não demorou muito para que ele a recebesse. Bard sempre

fora um homem atento para maus presságios e, por isso, prestou bastante atenção aos avisos

da dúnedan. O reino de Dale iria se preparar para uma possível batalha com inimigos, caso

fosse necessário. Na verdade, Bard já desconfiava que esses anos de paz não iriam durar

muito tempo.

Enquanto isso, Klandrin, Balared e Mikayla seguiram a estrada que contornava o Rio Corrente

até os portões de Erebor. A Pedra de Fogo, que Klandrin, junto com seus antigos

companheiros, trouxeram para a Montanha Solitária brilhava fortemente. O barulho de metal

batendo sobre metal ecoava do interior do reino dos anões. Klandrin foi recebido como um

filho que retornava a casa depois de muito tempo. Balin, que já ajudara a companhia diversas

vezes o cumprimentou com um forte abraço. No entanto, olhares não muito contentes eram

lançados em direção a Mikayla, já que a relação entre o povo de Durin e os elfos de Mirkwood

não estava em harmonia.

Rei Dáin Iroonfoot

Klandrin logo pediu para falar com o rei Dáin, mas deixou claro que queria levar Mikayla para

a presença do Rei Sobre a Montanha também, sugestão essa que Balin fez questão de dizer

não achar razoável. Mas isso não impediu que ele e a elfa entrassem nos aposentos de rei. A

conversa com Dáin foi rápida. Os heróis contaram que Thranduil admitira a culpa da Casa

Sindorfin pela traição e a morte de Drarin. Mas o Rei Sobre a Montanha não ficou satisfeito.

Ele queria receber uma visita do próprio Rei Thranduil para se desculpar. A notícia apenas

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servira para deixá-lo ainda mais irritado e certo de que os elfos os traíram. Por fim, Klandrin

pediu para ter acesso aos registros antigos, no Salão de Mazarbul, e com ajuda de Mikayla, já

que ela era uma estudiosa do povo da floresta, localizar a fortaleza onde possivelmente

encontrariam o quarto artefato. O rei, orgulhoso, disse que jamais permitiria a entrada de uma

elfa nos arquivos dos anões das montanhas, mas que se ele, Klandrin, quisesse procurar

sozinho ela tinha a permissão do Rei Sobre a Montanha.

Assim, pouco tempo depois, a anão se dirigiu para o Salão de Mazarbul, a fim de falar com o

sábio Murin, o ancião que cuidava dos antigos registros. Quando perguntado sobre algum

registro da localização do forte no Pico Demunkir, o velho sábio ficou espantado, paralisado

por alguns segundos, até que correu para pegar um velho livro grosso, com uma capa de couro

escura, reforçada com metal. Ele disse, que há algumas semanas, um mercador de Esgaroth

chegara a Erebor com uma antiga relíquia do povo de Durin, um escudo que pertencera a

Thrór, pai de Thráim, pai de Thorin. Dáin ofereceu ao mercador uma grande quantia de ouro e

joias em troca daquela peça, que era de extrema importância para a memória do povo de

Erebor. O mercador, entretanto, fez um pedido um tanto incomum: ele queria acesso aos

registros antigos, daquele salão. Disse ele que era um mercador de relíquias antigas e que

precisava localizar uma antiga ruína e que nossos registros podiam ajudar. Mas Dáin não

deixou, como não costuma deixar ninguém que não um filho de Durin ter acesso a esse

conhecimento. Acontece que, na noite em que o mercador deixou Erebor, Murin pensou ter

ouvido barulhos vindo do Salão de Mazarbul, mas quando chegou lá, já não havia ninguém,

apenas aquele livro, fora do lugar. Murin demorou diz para saber o que acontecera, mas então

descobriu que uma página havia sido arrancada do tomo, um mapa com a localização da

fortaleza. O sábio, porém, disse que era possível que encontrassem outras informações que

pudessem ajudar a precisar o local, mas que precisaria de um tempo para pesquisar.

Foi então que Klandrin contou sua história, e o encontro com Mikayla, para tentar convencer

Murin a deixá-la ajudar. Contou que fora justamente ela que matara o elfo traidor que matou

seu amigo Drarin. Como ela, junto com seus companheiros, está lutando para evitar que uma

nova escuridão paire sobre as Terras Ermas. E como, talvez apenas com a ajuda dela, eles

estão atrás de um artefato antigo e maléfico para destruí-lo. Aquilo foi o suficiente para

convencer o ancião, que deixou que chamasse a elfa para lá, mas apenas a noite, quando os

corredores de Erebor ficavam mais vazios. Ninguém poderia ficar sabendo daquilo.

A noite, então, Klandrin e Mikayla foram até os registros para ajudar Murin a encontrar alguma

informação sobre o local. O velho anão havia encontrado um outro tomo, com informações de

velhas estradas na região das Montanhas Cinzentas que, talvez, pudesse dizer onde ficava o

Pico de Demunkir. Horas e mais horas se passaram, até que Mikayla encontrou um registro

com um pequeno mapa mostrando uma estrada que, ao que tudo indicava, levava até a

fortaleza no pico que procuravam. Além disso, souberam, também, que essa fortaleza possuía

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um mecanismo de alerta, no seu último andar, composto de oito túneis com portas que podem

ser abertas e fechadas independentemente. Esses túneis, quando tiverem suas portas abertas

ou fechadas em configurações específicas, de acordo com o vento, é capaz de emitir um

grande barulho, semelhante ao de um apito gigante. No entanto, uma configuração específica,

quando apenas os túneis sul, norte e nordeste, estiverem abertos, o som produzido pode

causar um desmoronamento gigantesco. Além disso, como as Montanhas Cinzentas

abrigavam Dragões, nenhum fogo deveria ser aceso, e nenhum ouro carregado, pois essas

criaturas poderiam farejá-lo.

Talvez fosse possível obter mais informações dos registros, mas o dia estava chegando e a

companhia tinha pressa para partir, já que, possivelmente, seus inimigos partiram há algumas

semanas na frente. Klandrin, Balared e Mikayla recolheram suas coisas e foram encontrar

Elmara, que chegara a Erebor no início da tarde. Tinham um longo caminho pela frente, um

caminho longo e perigoso até as Montanhas Cinzentas. Ao contrário do que acontecera com

a região ao sul de Erebor, o norte nunca se recuperou e continuava uma região árida, gelada

e acidentada, conhecida por abrigar perigos pouco conhecidos.

Eles partiram logo que puderam e viram que em poucas horas já estavam no meio de um

grande deserto de pedras, poeira e cinzar. Pedras de tamanhos variados e formatos estranhos

estavam para todos os lados. Uma vento gelado que carregava uma areia cinza e mal cheirosa

impedia que eles vissem muita coisa a frente deles. A cada dia que seguiam para o norte

parecia que meses se passavam e que o inverno ia chegando. No terceiro dia, quando

acharam uma velha estrada que poderiam seguir até quase chegarem nas montanhas, mas

alguém os esperava nela. Depois de algumas horas, depois de contornarem uma grande colina

que tinha um formato que lembrava um grande crânio, viram um homem velho, vestindo trapos

e peles de animais, com uma grande barba cinza, corcunda, com unhas enormes e um sorriso

amarelado. Era o velho espírito da floresta que salvara Klandrin há alguns anos atrás.

O velho logo se levantou e se dirigiu a Klandrin, como se encontrasse um velho amigo. Disse

que era hora do anão lhe devolver o favor que fizera anos atrás. Ele precisava de algo que o

grupo possuía, a Pedra Estrela, que Elmara carregava. Mas nenhum dos aventureiros

concordou em entregá-la ao velho, que insistiu, dizendo que ela era muito importante para ele,

para a floresta. No entanto, o grupo não cedeu, e mandou o espírito ir embora. Não demorou

muito para perceberem que ela não ficou satisfeito com aquilo. Uma chuva torrencial e com

granizo começou a cair, fazendo com que eles ficasse com muito frio. Eles procuraram abrigo,

mas não encontrava, parecia que todos os locais que procuravam ou que parecia ver a

distância era apenas ilusões. Foram dias exaustivos, seguindo a velha estrada para o norte.

Até que chegaram ao ponto em que deveriam deixá-la e seguir para o norte. Mas por alguma

razão, não conseguiam, era como se algo os chamasse, os compelisse a seguir o caminho,

uma magia antiga e sinistra. Foi preciso muita concentração e força de vontade para que os

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aventureiros conseguissem deixar a estrada. Eles não sabiam o que acontecera, ou quem era

responsável por aquilo, mas não tinham tempo para averiguar, eles tinham que continuar em

direção à fortaleza. Em um dia chegariam nas Montanhas Cinzentas, que agora viam à

distância, como uma enorme barreira escura. O frio cada vez mais forte fazia com que eles se

cobrissem com capas e peles. Agora faltava pouco para encontrarem o último artefato.

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Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte IV A companhia de heróis chegava nos pés das gigantescas Montanhas Cinzentas sobre uma

chuva de granizo que congelava suas espinhas. Nem parecia que a poucos dias eles deixaram

os vales de Dale sobre um céu ensolarado. De acordo com o mapa que tinham feito ao

estudarem o livro nos salões de Mazarbul de Erebor, logo chegariam às ruínas de uma velha

estrada que os levariam até a fortaleza no pico Demunkir.

Grandes paredes de pedra escura os flanqueavam enquanto seguiam por aquele caminho

traiçoeiro, cheio de pedras soltas e escorregadio devido à chuva de granizo. O cansaço da

jornada começava a pesar sobre o ombro de Klandrin, Elmara, Balared e Mikayla, e eles

decidiram que era hora de encontrar um abrigo para noite. Depois de descerem por alguns

desfiladeiros, o grupo avistou uma enorme boa de caverna, como se um grande monstro

estivesse com a boca aberta, de onde um cheiro de umidade e mofo saiam.

A companhia estava prestes a adentrar o local, quando Elmara viu, no fundo da escuridão,

dois brilhos sinistros, olhos de uma criatura que os observava. Ela avisou o grupo e, no

momento em que eles hesitaram, um grunhido alto e grava ecoou pelo desfiladeiro.

Rapidamente, na direção deles, uma criatura alta e terrível se aproximava. Elmara, Klandrin e

Mikayla não esperaram para ver que monstro era aquele e fugiram dali o mais rápido que

puderam. Balared, no entanto, usou sua experiência para achar um esconderijo entre as

pedras e observar o que sairia da caverna. Um enorme ser, coberto de pelos brancos, forte,

vigoroso, com olhos negros e a face que lembrava um fera. Era um troll do gelo, e ele ferrejava

o cheiro de seus companheiros. A criatura logo partiu na direção para onde correram, uivando

e berrando. Ao longe o som de outros monstros como aquele podiam ser ouvidos em resposta.

O beorning, cuidadosamente, seguiu a besta, mantendo uma distância segura e se

assegurando que o vento não levasse seu cheiro até ela.

Então, durantes quase duas horas, uma perseguição entre as diversas ravinas entre as

Montanhas Cinzentas aconteceu. O grupo fugindo de uma dezena de criaturas sanguinolentas,

seus grunhidos ecoando pelas pedras, fazendo parecer que uma gigantesca horda os

perseguia. Até que, quando estavam quase congelando de frio, perceberam que não mais

escutavam os monstros os perseguindo. Estavam exaustos, com frio, fome e sem os pôneis

que carregavam parte de suas coisas. Sem abrigo naquele frio, podiam, muito bem, não resistir

àquela noite. Por isso, apesar dos alertas, decidiram por ascender uma fogueira. Seja lá o que

eles fossem atrair, seria melhor morrer lutando com o que quer que atraíssem do que de frio.

Mikayla, no entanto, não achou a ideia sensata e se afastou para longe das chamas da

fogueira.

O sono veio rápido para aqueles aventureiros cansados, mas com ele veio o pesadelo também.

No meio da madrugado eles acordaram, com um frio muito forte, mesmo com a fogueira ainda

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acesa. Uma sombra pairava sobre o acampamento improvisado que fizeram entre as pedras.

De repente, o vento que trazia a poeira e as cinzas do Urzal Seco, ao norte, parou, e uma

imagem fantasmagórica foi formada. Um homem alto, com trajes rasgados e aparência de um

louco. Elmara, que viveu durante anos entre os homens da Cidade do Lago, reconheceu

aquele fantasma como o antigo Senhor de Esgaroth, que fugira com o ouro dado pelos anões

de Erebor para reconstruir a cidade.

O espírito veio até eles portando uma mensagem, um relato e um aviso. Ele disse que o ouro

de Smaug era amaldiçoado e que o fez cego para a vida que tinha e o enlouqueceu. Mas que

roubaram o ouro que ele carregara e que agora preparavam uma armadilha para capturar o

saqueador rastejante do norte e liberá-lo sobre as Terras Ermas. Ele já não podia fazer nada,

mas o aviso estava dado. Com suas últimas palavras o fantasma se desfez com o vento. No

mesmo instante, os aventureiros ouviram um rugido distantes, vindo do Urzal Seco, e uma

nuvem de fumaça se movendo rapidamente. O que quer que fosse aquilo, era grande.

Imediatamente eles perceberam o que estava para acontecer. O Inimigo planejava usar o ouro

amaldiçoado para atrair o Dragão e usar o Artefato de Angmar para controlá-lo. Ao que tudo

indicava, o plano da Trevas estava funcionando, pois um grande ser estava vindo naquela

direção. Mikayla, que tinha se afastado, agora retornava, pois também vira a movimentação

da criatura. Depois de ter se inteirado dos acontecimentos, ela se lembrou que os Dragões

passaram milhares de anos sobre o controle das Sombras e, depois de conseguirem sua

independência, abominam a ideia de serem dominados novamente. Talvez, pensou era, possa

ser possível convencer o Dragão a não ir em direção ao ouro, afinal, já ouviram histórias de

um hobbit que conversara com Smaug.

Então, Elmara puxou a Pedra Estrela de sua mochila e pediu para Varda que ela brilhasse o

mais forte possível. Uma luz forte, branca e quente os envolveu. A grande nuvem que se movia

pareceu parar por um segundo e mudar seu curso, indo diretamente até eles. Em pouco tempo

já sentiam um cheiro terrível de podridão e de morte. Sem demorar muito, uma enorme lagarto

de escamas de cor prateada fosca surge, com uma espécie de coleira gigante de ferro, de

onde pendiam os restos de uma grande corrente. Seu bafo era horroroso, e ele parou por

alguns segundos examinando os aventureiros.

- Anões, elfos e homens nas Montanhas Cinzentas? O que fazem aqui e por que chamaram

minha atenção? Não querem morrer de frio e preferem ser devorados?

Elmara, sabendo que ao se tratar uma besta como aquela deveria ser cuidadosa e polida, se

apresentou cordialmente, enaltecendo o monstro. De repente, sem pensar muito, Klandrin se

aproximou da criatura com galanteios, mas foi brutalmente atacado e jogado para longe.

Dragões e anões sempre foram inimigos mortais e, provavelmente, aquele não queria

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conversar com um anão. Apesar do susto, o grupo tentou não se desesperar. Irritar aquela

besta, naquele momento, poderia ser fatal para todos.

Assim, Elmara, apesar de suas maneiras rústicas, passou a explicar o que acontecia. Contou

sobre o ouro amaldiçoado de Erebor, que agora estava sendo usado para atrair o Dragão até

ali. Falou sobre o artefato que seria utilizado para controlá-lo e, apesar de não querer acreditar,

o dragão sentia que uma magia estranha o atraía, e que talvez aquilo fosse verdade. No final,

o grupo fez um acordo com o monstro. Eles iriam até a fortaleza usada pelo Inimigo para retirar

o artefato e destruí-lo, deixando todo o ouro para o dragão que viria depois. E, assim, ainda

hesitante, o dragão voltou a descer as montanhas, de volta para o Urzal Seco, onde aguardaria

a hora de retornar.

Assim que a besta se foi, Balared, Elmara e Mikayla foram ver como estava Klandrin, que fora

jogado longe, contra as pedras das Montanhas Cinzentas. O anão estava desacordado e

ferido, mas ainda vivo. Elmara e Balared, que tinham conhecimentos herbalísticos e de cura,

usaram as poucas ervas que tinham em suas mochilas para ajudá-lo a se recuperar. Foi

preciso algumas horas de cuidado para que ele finalmente recobrasse consciência.

Já era dia quando eles se puseram de pé, novamente. Do outro lado de uma montanha viam

uma fumaça escura subindo, como se findo de uma enorme chaminé. Era para lá que,

provavelmente, ficava o forte que procuravam, e foi para lá que seguiram, alcançando o Pico

de Demunkir no final do dia. Nele fora construída uma fortificação com diversos andares e

entrada e saídas.

Dezenas de orcs estavam no local, guardando as entradas principais. Elmara lembrou que já

ouvira falar sobre essas fortalezas do povo de Durin e disse ser possível encontrar uma

passagem secreta. O leito de um pequeno riacho corria ao lado e abaixo da fortaleza, sem ser

vigiado. Por ali seguiram os aventureiros, a procura de alguma passagem.

Foi então, que por breves segundos, a lua refletiu sobre as aguas que mostravam o reflexo de

uma parede de pedra. Na imagem eles viram haver o desenho de um portal, com os dizeres

"um machado polido, três vezes". Klandrin parou para pensar um pouco e bateu com o lado

de seu machado, levemente, três vezes sobre a porta. Imediatamente a mesma começou a

deslizar para o lado, abrindo passagem para um corredor pequeno, de pedras quadradas e

lisas. No final dele, o grupo pode ver uma outra porta de pedra, e por trás dela ouviram o

barulho de passos. Eles tinham entrado na fortaleza em segredo, mas estavam cansados

demais para continuar naquela noite. Dormiriam na passagem secreta, em segurança, aquela

noite e agiriam pela manhã, quando os orcs estariam em desvantagem.

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Crônicas da Terceira Era: Herumor - Parte V A noite, naquele corredor estreito e escuro, não foi uma das melhores que os aventureiros

tiveram. Era um espaço escuro apertado e eles não conseguiam parar de pensar nas centenas

de Orcs que estavam do lado de fora. A espada de Elmara brilhava forte, emitindo uma chama

translucida, indicando a presença de feitiçaria negra, enquanto ouviam o barulho de centenas

de peças de metal sendo jogadas em uma grande forja.

Eles não souberam, ao certo, quanto tempo dormiram, já que dentro daquele túnel estava

sempre escuro. Poderia ter sido apenas algumas horas, ou mesmo um dia inteiro, já que

estavam exaustos quando chegaram lá. Nenhum ruído podia ser ouvido quando acordaram.

Quem quer que estivesse mexendo com os metais na noite quando chegaram lá já não estava

mais ali. Considerando os riscos que correriam, o grupo decidiu que apenas Elmara e Balared

sairiam de onde estavam para averiguar o aposento.

A porta secreta de pedra deslizou suavemente para o lado, revelando um cumprido aposento

a frente deles. Sobre o chão, centenas de moedas de ouro e prata, junto com cálices, escudos

e outros objetos feitos de metais nobres. Na parede oposta, uma grande forja exalava um calor

altíssimo, que naquele frio era quase reconfortante. O fogo não estava tão forte, como se

estivesse sem cuidado há algumas horas. O roncar, como de porcos dormindo podia ser

ouvindo de uma passagem a direita delas, e a sua esquerda um corredor se estendia na

escuridão.

Os dois se aproximaram da abertura a direita para olhar quem emitia o ronco e encontraram,

sobre peles escura, dois goblins dormindo, embriagados. Receosos que os mesmos pudessem

acordar, eles cortaram suas gargantas, tampando as bocas dos monstros e os segurando para

que não fizessem barulho. Elmara e Balared ainda tiveram o cuidado de colocar os corpos de

bruços, escondidos, para parecer, a um observador casual, que estavam dormindo de

bêbados.

Depois, se voltaram para o corredor inexplorado. A dúnedan, segurando a Pedra das Estrelas,

iluminava fracamente o caminho deles. A passagem, depois de uns oito metros, fazia uma

curva brusca para a direita, se estendendo por mais vinte metros. Na sua metade, um arco de

pedra, de onde uma iluminação fraca saia, podia ser visto, assim como uma curva no final do

caminho, a direita também. Ao passarem pela passagem no meio do corredor, viram que ela

dava em um pequeno aposento de pedra com uma escada esculpida com runas dos anões,

levando ao piso superior. Antes de subir, no entanto, os dois foram até o final do corredor e

viram que ele levava até uma sala com uma fonte de água, que agora saía suja e com lodo da

imagem de dois corvos. Nada mais havia no local e, assim, eles chamaram Klandrin e Mikayla,

pedindo para que eles aguardassem perto da escada, enquanto eles examinavam o piso

superior.

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Ao subirem os degraus, Elmara e Balared se viram em um salão com um arco que levava até

um pátio grande. À esquerda deles havia outra escada, levando ao andar de cima. No entanto,

o beorning ao pisar nos últimos degraus, escorregou em uma pedra solta, tropeçando e

fazendo a pedra rolar para o piso inferior. Por alguns segundos ficaram parados, imóveis, com

medo de terem chamado atenção de alguém. E, então, ouviram uma voz grave e rouca: "Ei, o

que está acontecendo aí? Vocês, vão lá ver o que aqueles vermes lá de baixo estão fazendo!".

Em seguida, passos de um pequeno grupo de criaturas foram ouvidos, se aproximando.

Balared e Elmara se esconderam nas sombras, atrás da escada que subia para o outro andar.

Em pouco tempo, três orcs altos, de pele escura e cheia de cicatrizes, cheirando a excremento,

entraram no aposento, sendo seguidos por um goblin corcunda, de nariz cumprido e olhos

arregalados. Esse pequeno monstro parecia farejar alguma coisa quando, de repente, disse:

"Sinto cheiro de homens, homens do norte!". Os orcs rugiram de ódio, e ordenaram que o

goblin descesse as escadas para o andar debaixo para averiguar onde estavam os dois outros

goblins que foram deixados lá. Mas, quando o farejador colocou seu pé no subterrâneo,

Klandrin não segurou seu ódio e desferiu um golpe mortal com seu machado contra a criatura.

"Anão Fedorento!" Gritou um dos orcs em cima e os três desceram correndo as escadas.

Mikayla e Balared saíram para o encontro com os monstros, e Elmara deixou as sombras para

atacá-los por trás.

Rapidamente eles trocavam golpes, empurrões e insultos. Mais três orcs chegaram, atraídos

pelo barulho, e, um deles, ao ver os heróis, soou sua corneta para avisar a presença de

inimigos. Foi então que ouviram um grunhido terrível, seguido de um berro ensurdecedor. O

chão tremeu com cada passo do enorme monstro que se aproximava, sendo trazido por

goblins, um troll das cavernas. A enorme criatura, tinha a pele cinza e rochosa, carregava uma

estátua em sua mão direita e a usava como clava. Kladrin, quando a viu, clamou pela fúria de

seu povo e correu para cima dela, com seu machado pronto para desferir um gole violento,

mas o monstro o golpeou primeiro, jogando-o para longe, desacordado.

A batalha seguia dura para os aventureiros. Não importava quantos orcs eles conseguiam

abater, mais deles sempre chegavam, e as feridas e o cansaço iam se acumulando. O troll,

mesmo sendo atacado e ferido por todos, continuava a lutar, com uma resistência de pedra.

Elmara não viu outra saída e, carregando o corpo desacordado de Klandrin subiu as escadas

para o andar de cima, chamando seus companheiros para segui-la.

Mas, ao chegar lá, a dúnedan viu algo que a deixou, ao mesmo tempo, temerosa e ansiosa.

Herumor, o feiticeiro negro de Angmar, jazia no centro de um grande salão cercado de pilares

antigos em formas hexagonais. Oito passagens saiam deste aposento, na direção dos pontos

cardinais. Além disso, uma grande gaiola feita de ouro estava pendurada por uma pesada

corrente, e dela, uma aura de magia antiga podia ser sentida. Esta era a sala que podia ser

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usada como um enorme aviso sonoro. Balared e Mikayla iam subindo aos poucos, se

defendendo dos orcs e do troll enfurecido.

O feiticeiro negro, ao ver Elmara, sorriu um sorriso sarcástico. "Que bom que pode aparecer,

Elmara. Estava mesmo esperando por você. Veio se juntar a mim? Para cobrir todo o norte

com a Sombra para receber no Senhor da Escuridão?". Elmara, enojada com o sorriso amarelo

do homem pálido, com cabelos negros e uma coroa de prata, apenas disse "Jamais!". Ela,

então, foi até a passagem norte e abriu o portão para que o vento do norte começasse a soprar,

lembrando-se da combinação que faria com que um desmoronamento acontecesse.

Herumor investiu contra a dúnedan, sacando sua espada de metal frio e negro. Ao mesmo

tempo, Balared e Mikayla subiram as escadas combatendo um orc furioso que foi derrubado

nos degraus. Balared pediu para que Mikayla guardasse a passagem enquanto ele ajudava

Elmara a combater o feiticeiro negro. A primeira ação do beorning foi abrir a passagem do sul,

o que fez com que uma corrente e vento passasse pelo local emitindo um barulho muito alto e

agudo, o que dificultava muito a comunicação entre todos ali.

Elmara percebeu, depois de alguns golpes de espada, que a magia de Herumor e o exército

de orcs que estava prestes a sobrepujar os aventureiros seriam difíceis de se derrotar, só

deixando uma alternativa para eles. Ela abrira a passagem nordeste e o vento começou a

soprar ainda mais forte, gerando um ruído extremamente alto e agudo, fazendo com que o

chão começasse a tremer. Os ouvidos deles começavam a sangrar. Os orcs que chegavam

não aguentavam o som e caiam de joelhos com as mãos nos ouvidos. Mikayla também se

curvou de dor, mas Balared e Elmara continuavam de pé, lutando.

A cada segundo que passava, Herumor golpeava a dúnedan fortemente, e o cansaço

começava a vencê-la. O chão e as colunas começavam a demonstrar rachaduras, com

pedaços do chão já desmoronando. Elmara pegou a Pedra das Estrela e invocou por Varda

para que ela brilhasse bem forte, na esperança de chamar a atenção do dragão, que, com

certeza, esperava nas sombras da noite.

Vendo que não teriam como escapar e que, talvez, Herumor conseguisse sobreviver ao

desmoronamento, Balared largou seu escudo e seu machado e voou sobre o feiticeiro, usando

toda a sua força para segurá-lo, imóvel. Antes disso, ordenou que Mikayla fosse embora,

carregando o corpo desmaiado de Klandrin, para fora da fortaleza, que estava prestes a ruir.

Elmara, percebeu o gesto de sacrifício de seu amigo e investiu com sua espada, com toda a

fúria que podia contra Herumor. Sua espada rachou a coroa e o crânio do servo da Escuridão

ao mesmo tempo em que o piso debaixo deles cedia e a fortaleza inteira vinha abaixo.

Herumor estava morto, seu espírito destruído graças a espada de Elmara, uma lâmina

numenoriana. No entanto, ela e Balared tiveram que se sacrificar para se certificarem que o

feiticeiro negro não conseguiria usar o artefato que controlaria os dragões do norte. Mikayla e

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Klandrin estavam feridos, cansados e perdidos nas Montanhas Cinzentas, em meio a centenas

de orcs, provavelmente sem chance de sobreviverem. Mas, mesmo assim, seus atos heroicos

seriam lembrados por aqueles que sabiam de suas missões e por todos aqueles que ouviram

o relato desses. As Terras Ermas estavam livres de uma ameaça terrível, ao menos por

enquanto.

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Resumo: Crônicas da Terceira Era

A Pedra de Fogo

Parte I - Onde tudo começou e como Aerandir, Klandrin, Drarin, Robin e Grumble se conheceram para levar a Pedra de Fogo a Erebor.

Parte II - O encontro com orcs no Vale do Anduin e a chegada a Mirkwood.

Parte III - As ruínas élficas e as aranhas de Mirkwood.

Parte IV - Os heróis são feitos prisioneiros por elfos mas acabam do lado deles contra um grande ataque de forças inimigas.

Parte V - Os heróis finalmente chegam a Erebor para entregar a Pedra de Fogo a Dáin, o Rei Sobre a Montanha, mas, antes, tomam

um susto no caminho.

Ruínas Sombrias

Parte I - O grupo conhece a Dúnedan Elmara e decidem explorar os arredores de Erebor durante o inverno. Ao chegarem à parte leste

de Mirkwood eles encontram uma caverna com sinal de ocupação recente.

Parte II - O grupo é surpreendido por um bando de goblins que retorna de sua andança pela floresta.

Parte III - Seguindo o rastro de um dos goblins fugitivos a companhia chega até o refúgio de uma grande quantidade de aranhas gigantes

e uma delas é uma criatura terrível.

Parte IV - O grupo recebe uma ajuda inesperada quando mais precisa. A vida de um deles corre grande perigo e eles devem confiar em

um desconhecido para salvá-la.

Parte V - A companhia chega ao local onde Lenareth pode curar o veneno da Aranha, mas algo sinistro também habita as ruínas.

Parte VI - Um ritual é feito para purificar o corpo de Klandrin, mas uma criatura das trevas tenta impedir que a companhia saia vitoriosa

da morada de Lenareth.

Linhagens

Parte I - Radagast encontra os heróis e lhes indica o paradeiro dos lobos nobres da floresta e os mesmo partem em busca deles.

Parte II - O grupo tenta resgatar um menino perdido na floresta e acaba encontrando o que não procuravam.

Parte III - Os heróis lutam contra forças imensuráveis para salvar a linhagem de Lupus.

Anoitecer

Parte I - O mago marrom revela o paradeiro de um dos artefatos de Angmar e a busca por ele começa.

Parte II - Descoberta a localização da masmorra onde o artefato está protegido por guardiões das trevas.

Parte III - Os heróis conseguem o artefato com muito sacrifício e uma terrível surpresa.

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Em Busca da Luz

Parte I - Após retornarem até o Reino da Floresta os heróis descobrem o fim trágico de um de seus amigos.

Parte II - A companhia retorna para Erebor onde passam o inverno e se despedem de Drarin.

Parte III - No caminho para Rivendell, uma vila fora atacada por servos do inimigo.

Parte IV - Uma grande batalha é travada no Vale do Anduin e assassinos atacam Elmara e Aerandir nas Montanhas das Névoas.

Parte V - Um encontro com Elrond revela um novo aliado enquanto Balared e Klandrin viajam ao sul para falar com Radagast.

Parte VI - Rhosgobel está em uma guerra contra os wargs de Mirkwood e apenas a companhia pode ajudá-los.

Parte VII - A companhia se encontra com Saruman e Radagast pare decidir o rumo que devem tomar.

Olho de Alghuir

Parte I - A companhia reunida ruma para os Campos de Lis depois de se reunir com Radagast e se despede dos Homens da Floresta

que vão ao norte ajudar os Beornings.

Parte II - A companhia chega aos Campos de Lis e são recepcionados por um grupo de goblins.

Parte III - Ao vagar por alguns dias, eles avistam a fortaleza entre as sombras.

Parte IV - A companhia conhece um eremita e chegam até a fortaleza do Inimigo.

Parte V - Os heróis encontram o artefato, mas ele é guardado por algo que nunca esperavam encontrar.

Parte VI - A companha luta para escapar com vida dos Campos de Lis

Herumor

Parte I - Saruman ajuda, novamente, os aventureiros em sua luta.

Parte II - A companhia volta para o Reino da Floresta em busca de informações.

Parte III - Os heróis vão a Erebor e descobrem o que precisam para sua jornada.

Parte IV - As Montanhas Cinzentas apresentam uma série de desafios aos aventureiros.

Parte V - O confronto final com Herumor, o Feiticeiro Negro, a quem Elmara procurava.