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O USO DA REENGENHARIA DE
PROCESSOS ALIADA À TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO EM LABORATÓRIOS
UNIVERSITÁRIOS
Nelio Garbellini de Carvalho (UFSCar)
Fabio Molina da Silva (UFSCar)
Roberto F Tavares Neto (UFSCar)
Este artigo apresenta resultados obtidos com a implantação de
melhorias no fluxo de informações do processo de gestão de reagentes
estabelecido em laboratórios da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). Para isso, realizou-se o mapeameento das atividades
internas e, a partir deste, desenvolveu-se um modelo informatizado que
atendesse às necessidades de trabalho dos laboratórios. Assim, a partir
desse cenário, verificou-se como a reengenharia de processo, quando
aliada à tecnologia da informação, pode contribuir efetivamente para
a otimização dos processos organizacionais.
Palavras-chaves: reengenharia de processo, tecnologia da informação,
melhorias organizacionais
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1. Introdução
Atualmente, com as constantes alterações que vêm ocorrendo nos mercados mundiais,
principalmente em virtude da crescente competitividade oriunda da globalização (processo de
integração econômica, política, social e cultural), torna-se cada vez mais relevante a obtenção
de vantagens competitivas para que as organizações possam sobreviver no mercado e se
destacar em relação a seus concorrentes.
Diante desse cenário, o sucesso das organizações depende fundamentalmente da capacidade
de reagir a essas pressões do ambiente. Para tal, é necessário que as empresas se adaptem aos
novos padrões de gestão e, além disso, estejam atualizadas com as novas tecnologias, para que
surjam oportunidades de melhorias em seus processos. Isso vai ao encontro do explanado por
Senge (2000), o qual explica que o sucesso de uma organização depende do grau em que ela
consegue sustentar seus processos de mudança e transformação.
Kanter (2007) apud Gonçalves (2000) enfatiza também a necessidade das inovações em
processos, afirmando que essas atividades incrementam as capacidades organizacionais,
permitindo que novos produtos sejam desenvolvidos mais rapidamente.
Para o suporte das inovações nos processos, surge como grande destaque o uso da tecnologia
de informação (TI), visto que pode ser utilizada para aperfeiçoar o desempenho das atividades
realizadas. Gonçalves e Gomes (1993) observam que a TI influencia desde as atividades
individuais até a maneira de se integrar processos interorganizacionais, permitindo uma
redefinição das formas de trabalhar.
Observando o cenário apresentado, estuda o processo de gestão dos reagentes em laboratórios
da UFSCar e a implantação de um sistema informatizado para controle dos mesmos. Além
disso, mostra que é fundamental que se analise o impacto da TI na aplicação desses conceitos,
visto sua contribuição substancial para a otimização de processos e para a geração de valor.
Para atender a esses objetivos, esse artigo está dividido da seguinte forma: na seção 2, são
apresentados os fundamentos metodológicos utilizados neste trabalho; na seção 3 é realizada a
revisão da literatura sobre reengenharia de processo e o papel da TI neste contexto; a seção 4,
através dos conceitos apresentados nas seções anteriores, descreve a proposta implementada
na pesquisa-ação e a seção 5 apresenta os resultados obtidos. Por fim, a seção 6 apresenta os
comentários finais deste trabalho.
2. Metodologia e caracterização da pesquisa
Esta pesquisa foi realizada ao longo dos anos de 2009 e 2010, em laboratórios da UFSCar, por
meio do método Pesquisa-ação. Este método foi adotado por dois motivos: primeiro tendo em
vista que haveria maior agregação de valor, tanto para o aspecto acadêmico quanto para os
laboratórios envolvidos, com a implantação da melhoria proposta, e segundo por já existir
interesse dos laboratórios envolvidos em colocar em prática determinada melhoria no
processo de gestão de reagentes, o que favorecia a pesquisa-ação pelo envolvimento do
pesquisador com a equipe de clientes.
Sob a ótica de Thiollent (2007), pesquisa-ação é uma pesquisa com base experimental que é
concebida e realizada envolvendo uma ação ou uma solução de problema coletivo e na qual os
pesquisadores e participantes da situação estão inseridos de modo cooperativo e participativo.
Nesse sentido, a pesquisa-ação gera conhecimento que guia a prática e a transformação de
uma realidade. Ou seja, nesse método de pesquisa, simultaneamente produz-se conhecimento
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e modifica-se a realidade, cada um ocorrendo em virtude do outro (TURRIONI; MELLO,
2010).
Segundo Thiollent (2007), como a pesquisa-ção vira gerar conhecimento e resolver um
problema prático, existem dois objetivos que devem estar relacionados de maneira
equilibrada, os quais podem ser definidos como:
a) Objetivo prático: contribuir para o melhor equacionamento do problema pesquisado a
partir do levantamento de soluções e propostas de ações na atividade transformadora da
realidade. É importante ter consciência de que existem problemas que não têm soluções
em curto prazo;
b) Objetivo científico: coletar informações consideradas de difícil acesso para aumentar a
gama de conhecimento e para servir de subsídio às reivindicações, mobilizações e
tomadas de decisão.
Além das características já citadas sobre o conceito de pesquisa-ação, outros aspectos
merecem destaque (THIOLLENT, 2007):
Há uma explícita integração entre pesquisadores e indivíduos implicados na situação
investigada;
Desta integração resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem explorados e das
soluções a serem propostas;
O objetivo da investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação real e pelos
problemas de diferentes naturezas que se passam na situação;
Há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade
dos envolvidos na situação;
A pesquisa não se limita a uma forma de ação, mas se pretende ampliar o conhecimento
do(s) pesquisador(es) e o nível de consciência das pessoas consideradas.
Ademais, Thiollent (2007) afirma que a pesquisa-ação pode ser dividida em quatro principais
etapas: fase exploratória, fase de planejamento, fase de ação e fase de avaliação.
Baseado nisso, pôde-se enquadrar cada atividade que foi realizada neste trabalho, conforme as
fases do projeto de pesquisa. Com isso, montou-se o Quadro 01, no qual existem os
relacionamentos entre as ações tomadas e planejadas em cada fase do trabalho:
Fases do estudo Atividades
Fase Exploratória: diagnóstico fiel da realidade e
definição clara do objetivo do trabalho.
- Visita aos laboratórios;
- Entrevistas com os responsáveis;
- Observações das atividades diárias;
- Análises de fichas.
Fase de Planejamento: exposição dos resultados
obtidos com a primeira fase.
- Visitas aos laboratórios;
- Reuniões e seminários com os responsáveis.
Fase de Ação: apresentação de propostas de melhorias
e possíveis implantações.
- Visitas aos laboratórios;
- Reuniões e seminários com os responsáveis e
usuários das implantações.
Fase de Avaliação: verificação dos resultados das
melhorias e possíveis ajustes.
- Visitas aos laboratórios;
- Observações das melhorias;
- Reuniões com usuários das implantações.
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Quadro 01 - Fases e atividades do projeto de pesquisa
Com relação aos atores da pesquisa, estes podem ser definidos como os responsáveis pelas
atividades de 12 laboratórios pertencentes à UFSCar, sendo um vinculado ao Departamento
de Biologia (DB) e os outros 11 vinculados ao Departamento de Química (DQ).
3. Reengenharia de processos
Hammer e Champy (1994) definem reengenharia de processo como a atividade de repensar
fundamentalmente e reestruturar radicalmente os processos empresariais para alcançar
melhorias drásticas em indicadores críticos e contemporâneos de desempenho, tais como
custos, qualidade, atendimento e velocidade.
Baseado nisso, Hammer (1990) afirma que não só esses processos já estabelecidos, como
também regras de trabalho, pessoas e metas desatualizadas, têm potencial para levar uma
empresa a passar por grandes dificuldades. Fato que já era de se esperar, pois as estruturas de
trabalho e processo não vêm acompanhando o ritmo das mudanças tecnológicas,
demográficas e dos objetivos dos negócios.
Com isso, o grande trunfo da reengenharia é a capacidade de libertar as empresas dos
processos de negócios ultrapassados, isto é, aqueles passíveis de reengenharia (HAMMER,
1990).
Essa avaliação dos processos que devem sofrer transformações é de extrema importância pois,
de acordo com Hall et al (1993), a experiência tem mostrado que o aperfeiçoamento de
processos errados pode levar ao paradoxo dos processos, ou seja, as empresas podem ter um
desempenho péssimo e até falir ao mesmo tempo em que esforços de melhoria estão sendo
feitos nos processos.
De acordo com Hammer (1990), a partir de experiências de empresas que já efetuaram a
reengenharia em algum de seus processos, alguns princípios podem ser enumerados:
Organizar em torno de resultados e não de tarefas: parte do princípio de que somente uma
pessoa deve executar as etapas de um processo, a fim de evitar erros e mal-entendidos;
Colocar as pessoas que usam o resultado do processo para executá-lo: parte da premissa
de que quando as pessoas mais próximas ao processo o executam, menor a chance de
incorrer em despesas relacionadas ao seu gerenciamento;
Colocar a responsabilidade pelo processamento das informações nas mãos de quem as
produz: propõe que as informações devem ser geradas e analisadas pelas mesmas pessoas
e não por departamentos distintos;
Tratar recursos geograficamente dispersos como se fossem centralizados: este princípio
prega que as empresas podem usar banco de dados e redes de comunicação para manter os
benefícios de se ter recursos centralizados (ao menos virtualmente), permanecendo,
simultaneamente, com os benefícios inerentes à descentralização;
Vincular as atividades paralelas em vez de integrar seus resultados: este princípio sugere a
criação de vínculos entre atividades paralelas ao invés de fazê-las depois de terminadas,
de forma a ganhar tempo em projetos;
Colocar a tomada de decisões nas mãos de quem executa o trabalho e faça com que o
controle do processo seja automático: conforme este princípio, as pessoas que fazem o
trabalho devem tomar a decisão relativa a ele, além de tornar o controle do processo
automático;
Captar as informações de uma só vez e na origem: demonstra que deve-se coletar as
informações somente uma vez e armazená-las em um banco de dados online para que
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todos possam ter acesso.
Ao avaliar estes princípios, verifica-se a importância da coleta e tratamento adequado das
informações, do envolvimento das pessoas e da atribuição de responsabilidades às mesmas,
como forma de incentivá-las e motivá-las em direção à reengenharia.
Dentro desse contexto, vale ressaltar que as iniciativas de melhoria de qualidade e de melhoria
contínua e gradual dos processos, embora sejam essenciais, já não bastam. Hoje as empresas
devem buscar níveis de melhoria acima de 50%, por exemplo, através da reengenharia de
processos, a qual necessita de instrumentos novos e poderosos para facilitar a reconfiguração
do trabalho, como a tecnologia de informação (DAVENPORT, 1994).
Dessa forma, a reengenharia pode conduzir mudanças de vários tipos, não somente de
negócios em si, mas também em estruturas organizacionais, sistemas gerenciais ou qualquer
elemento que esteja relacionado ao processo. Nesse sentido, a reengenharia é um grande
esforço, visto que promove transformações em muitas áreas da organização, as quais devem
ser redefinidas de forma integrada (HAMMER, 1990).
3.1 Papel da tecnologia da informação (TI) na reengenharia de processo
Atualmente, os processos dentro das empresas são de rápida mutação, ou seja, diversas
informações precisam ser tratadas e transmitidas de maneira quase imediata. Nesse sentido é
que a TI exerce papel fundamental, sendo responsável por colocar em prática a integração e
comunicação dos processos (DAYAL et al., 2001).
Nesse contexto, como exposto por Battaglia (1999), surge o desafio de como se monitorar as
diversas fontes de informação e utilizá-las de forma rápida e eficaz a serviço da empresa, de
forma a gerar conclusões e resultados práticos em tempo hábil para se extrair vantagens
competitivas.
Sabendo disso, Broadbent, Weill e Clair (1999) destacam a importância de um investimento
em TI que possibilite a integração dos processos. Porém, também enfatizam que a quantidade
de capital investido não garante o sucesso, devendo-se preocupar em atender às peculiaridades
de cada empresa de forma equilibrada.
Entretanto, como afirma Davenport (1994), qualquer inovação em determinado processo deve
ser planejada antes de se definir sobre a utilização da TI. Ou seja, é preciso pensar no
processo para depois pensar no sistema, a fim de que não incorra no erro de automatizar um
processo já defasado.
Feita a análise acima citada, a TI surge como uma ferramenta que oferece suporte para a
reengenharia de processos em pelo menos nove categorias diferentes, conforme quadro 02
(DAVENPORT, 1994):
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Impacto Explicação
Automacional Elimina trabalho humano no processo (ex: robótica).
Informacional Coleta informações sobre o desempenho de um processo para serem analisadas
pelos funcionários.
Seqüencial Altera as etapas de um processo, passando de seqüenciais para paralelas,
obtendo redução no tempo total.
Acompanhamento Monitora a situação em que se encontra determinado processo (ex: empresas
de transporte e logística)
Analítico Melhora a análise de informações e a tomada de decisão, visto que permite
englobar maior quantidade de dados.
Geográfico Permite a execução e desenvolvimento de processos ininterruptamente e
coerentemente em todo o mundo.
Integrativo Capacidade da TI em centralizar os dados e permitir que as tarefas sejam
menos segmentadas.
Intelectual Capacidade de distribuir os conhecimentos de maneira simples e coerente
entre as disposições da empresa.
Desintermediação Elimina intermediários em um processo, tornando mais eficiente a
comunicação entre as partes interessadas.
Fonte: Baseado em Davenport (1994, p.60).
Quadro 02 – Impacto da TI sobre a reengenharia de processos
Assim, nota-se que a tecnologia de informação pode propiciar várias oportunidades para a
reengenharia de processos. Entretanto, é necessário ter consciência de que podem surgir
consideráveis limitações, principalmente quando os processos se estendem através das
fronteiras das organizações dos clientes até os fornecedores (DAVENPORT, 1994).
4. A reengenharia no processo de gestão de reagentes dos laboratórios
Seguindo a estrutura de método proposta para este trabalho (pesquisa-ação), neste tópico
foram relatados os resultados obtidos. Toda a parte prática da pesquisa foi realizada com a
presença do pesquisador no ambiente dos laboratórios, com forte interação com os
envolvidos.
Assim, na Fase Exploratória foi feito um mapeamento do contexto e dos principais processos
envolvidos na compra e manuseio dos reagentes. No decorrer, na Fase de Planejamento, foi
proposto um modelo informatizado de gestão dos reagentes, o qual foi desenvolvido baseado
nas necessidades coletadas em entrevistas e observadas nas visitas aos laboratórios. Com base
na etapa de Planejamento, realizou-se a Fase de Ação, na qual o protótipo anteriormente
proposto foi colocado em prática e também ajustado conforme algumas melhorias sugeridas
durante a sua utilização. Por fim, na Fase de Avaliação efetuou-se uma comparação entre a
situação inicial e a final (após a reengenharia), como também se relatou a experiência obtida
durante a pesquisa através da observação do uso de tal modelo.
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5. Resultados obtidos
5.1 Resultados da fase exploratória
Para realização do mapeamento da realidade de trabalho dos laboratórios, foram realizadas
entrevistas com os responsáveis, nas quais aplicou-se um questionário aos 12 laboratórios
pesquisados da UFSCar, cujos dados estão apresentados na Tabela 01. É importante ressaltar
que cada fator mostrado na Tabela 01 representa uma pergunta do questionário.
Fatores Especificação Quantidade %
Existência de um modelo de gestão de
reagentes
Sim, manualmente 8 66,67
Não 4 33,33
Freqüência de aquisição de reagentes Conforme demanda 12 100,00
Outras 0 0,00
Local de armazenagem de reagentes Sim, condições adequadas 6 50,00
Sim, condições inadequadas 6 50,00
Não há local de armazenagem 0 0,00
Controle de vencimento de reagentes Sim 3 25,00
Não 9 75,00
Destinação de reagentes vencidos Unidade de Gestão de Resíduos 12 100,00
Outras 0 0,00
Compartilhamento de reagentes entre
laboratórios
Sim 7 58,33
Não 5 41,67
Destino de reagentes não mais necessários Estocado 12 100,00
Descartado 0 0,00
Dificuldades na gestão de reagentes Falta de comprometimento 9 75,00
Falta de um responsável 2 16,67
Independência do pesquisador 1 8,33
Preocupação ambiental Sim 11 91,67
Não 1 8,33
Utilizaria software de controle de reagentes Sim, maior eficiência 9 75,00
Não, jeito manual satisfatório 3 25,00
Software de controle de reagentes facilitaria
as atividades
Sim 12 100,00
Não 0 0,00
Tabela 01 – Diagnóstico da gestão de reagentes nos laboratórios
A partir desse diagnóstico, pôde-se compreender a realidade dos laboratórios e observar que
uma etapa fundamental para uma gestão de reagentes eficaz, que é a compra dos mesmos, não
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era feita de forma planejada, ou seja, muitas vezes pesquisas eram comprometidas por falta de
material.
Outra dificuldade notada foi o fato de não haver controle da quantidade estocada dos
reagentes, ou, quando havia, não existir confiabilidade nos dados. Fato que conseqüentemente
impossibilita aquisições de reagentes com antecedência.
Ademais, verificou-se que não havia nenhum controle em relação à data de validade do
reagente comprado, o que, eventualmente, poderia vir a prejudicar a qualidade das pesquisas
realizadas, como também aumentar a geração de resíduos e os gastos com seu tratamento.
Outra característica discutida durante as entrevistas foi a ausência de comunicação entre os
laboratórios do mesmo Departamento, o que acontecia não só no Departamento de Biologia,
como também no de Química. A partir desse cenário concluiu-se que não havia intercâmbio
de reagentes, ou seja, estes não eram compartilhados com os demais laboratórios de maneira a
auxiliar nas atividades dos mesmos.
Dessa forma, pôde-se concluir, diante do cenário observado, que existia uma falta de
comunicação entre os laboratórios e entre os atores da pesquisa, além de uma descentralização
das informações referentes ao controle de reagentes, o que comprometia o desenvolvimento
dos trabalhos e revelou a necessidade de requisitos informacionais como atributo de
reengenharia de processos.
5.2 Resultados da fase de planejamento
Baseado na etapa exploratória, a primeira medida tomada na Fase de Planejamento foi a de
sugerir um modelo informatizado que oferecesse uma listagem dos reagentes alocados no
laboratório, assim como suas características, como fabricante, data de validade, quantidade,
localização no laboratório, dentre outras.
Em seguida, foram definidas algumas diretrizes gerais para o desenvolvimento e
funcionamento do sistema, as quais independem de qualquer particularidade dos laboratórios:
Multiplataforma: a linguagem de programação utilizada permite que o sistema possa ser
utilizado em diversos sistemas operacionais, como Windows, Linux, dentre outros, o que
ajuda a reduzir o custo com equipamentos e licenças;
Internet: o sistema funciona virtualmente, podendo ser acessado a partir de qualquer
computador com Internet, o que facilita o acesso pelos responsáveis dos laboratórios.
Também foram propostas algumas funções de modo a aperfeiçoar o controle de reagentes:
Adição, exclusão, edição e disponibilização de reagentes: permite o cadastro dos reagentes
e também, caso haja interesse, que o laboratório compartilhe seus reagentes com os
demais, de maneira a mitigar a ausência de comunicação entre os responsáveis;
Controle da validade dos reagentes: objetiva reduzir a geração de resíduos e os seus gastos
com destinação e tratamentos, através da sinalização do sistema quando o reagente está
próximo da data de validade ou já está vencido;
Registro das atividades: elaboração de relatórios (inserção, exclusão e edição de
reagentes) com a finalidade de possuir um histórico das alterações efetuadas pelos
usuários.
5.3 Resultados da fase de ação
Para dar seqüência à pesquisa-ação nos laboratórios foi necessário um trabalho conjunto com
os responsáveis e com os usuários, de forma a expor o funcionamento do sistema, já com as
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funções desenvolvidas anteriormente.
Além disso, todos os envolvidos com o trabalho discutiram sugestões de melhorias com a
finalidade de minimizar qualquer desconforto na adaptação ao novo sistema de controle de
reagentes.
A partir disso, novas funções foram desenvolvidas, como a funcionalidade que possibilitou a
atribuição de uma coloração a um determinado reagente quando este estivesse se esgotando.
Por exemplo, a quantidade inicial comprada de um reagente foi 100g. Se o usuário definiu nas
configurações que era para indicar quando restassem 10% da quantidade inicial, o sistema
sinalizaria na cor vermelha quando restassem 10g (10%) do respectivo reagente, conforme
mostrado na Figura 01:
Figura 01 – Tela com o reagente destacado pela quantidade restante
Essa função propiciou um grande auxílio no controle de reagentes, visto que indica quando
estes estão se esgotando. Dessa forma, a compra de reagentes passou a ser planejada, feita
com antecedência, promovendo um melhor andamento das atividades realizadas pelos
laboratórios.
Também é possível verificar através da figura 01 que a função referente ao controle de
validade estava ativada pelo laboratório, visto que existia um reagente (acetona) que havia
ultrapassado o vencimento e, assim, foi destacado com a coloração vermelha.
Por último, é importante frisar que as funcionalidades anteriormente desenvolvidas na Fase de
Planejamento foram mantidas, como a função de disponibilização de reagentes e a função de
registro das atividades através dos relatórios (inserção, edição e exclusão), sendo esta última
mostrada na Figura 02:
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Figura 02 – Tela do relatório de inserção de reagentes
5.4 Resultados da fase de avaliação
Ao realizar a avaliação do trabalho que foi implementado, fez-se necessário comparar os dois
momentos distintos da pesquisa-ação, isto é, a situação inicial e final, sendo esta última
caracterizada pelas melhorias e pela reengenharia no controle de reagentes.
Sendo assim, pôde-se verificar que, com as mudanças implantadas no sistema de gestão de
reagentes, houve um ganho de tempo nas pesquisas, além do aumento de sua confiabilidade e
qualidade.
Esses benefícios puderam ser obtidos em virtude, principalmente, da grande melhora na
organização das informações trazida pelo sistema informatizado e suas funcionalidades.
Dentre essas, destacam-se a função de controle de validade dos reagentes, a qual permitiu
fácil visualização dos produtos vencidos e garantiu maior qualidade das pesquisas, como
também a função de controle da quantidade restante dos reagentes, a qual permitiu que a
compra passasse a ser feita de forma planejada.
Assim, baseado nos benefícios que a tecnologia da informação pode trazer para a
reengenharia de processo, conforme revisão teórica apresentada neste trabalho (Davenport,
1994), tais melhorias provenientes da implantação do sistema de controle de reagentes
puderam ser categorizadas nos seguintes grupos:
Seqüencial: a compra do reagente passou a ser disparada antes de seu término, ou seja, as
pesquisas e a aquisição deixaram de ser seqüenciais e passaram a ser paralelas,
proporcionando ganho em tempo;
Acompanhamento: as atividades realizadas pelos usuários são acompanhadas através dos
relatórios gerados pelo sistema informatizado;
Integrativo: as informações tornaram-se centralizadas, isto é, todos os dados podem ser
obtidos acessando o novo sistema de controle de reagentes;
Desintermediação: as possíveis incertezas na transmissão de informações entre os usuários
foram eliminadas, já que essas são cadastradas no sistema de controle.
No que diz respeito à adaptação dos usuários às melhorias implantadas, houve uma boa
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aceitação pelos professores e alunos dos laboratórios, sem maiores manifestações de
resistência às novas práticas de trabalho.
Também foram expressas opiniões favoráveis e positivas no que concerne às novidades
introduzidas. Em geral, a percepção foi a de que o novo sistema de controle de reagentes
agregou facilidade e agilidade às pesquisas, visto que pode ser consultado em qualquer
computador com acesso à Internet e também por apresentar todas as informações necessárias
em um único ambiente virtual.
6. Conclusão
Neste trabalho estudaram-se as práticas de controle de reagentes utilizadas nos laboratórios
pertencentes à Universidade Federal de São Carlos, de maneira a analisar o ambiente de
trabalho e poder por em prática essa pesquisa-ação.
Para isso, buscou-se trazer definições sobre a reengenharia de processo e a forma que este
conceito, quando aliado à tecnologia de informação, pode contribuir para diminuir a
resistência às transformações e aumentar o desempenho organizacional através da velocidade
de comunicação e transmissão de informações.
A partir desse ponto, todas as atividades relacionadas ao manejo de reagentes foram
observadas e catalogadas, e todas as informações obtidas através das entrevistas com os
alunos e professores foram analisadas.
Baseado nisso, puderam ser definidos os requisitos informacionais necessários para sanar ou,
ao menos, mitigar os problemas encontrados. Esses requisitos foram então desenvolvidos e
unidos para a criação do sistema informatizado para gestão dos reagentes.
Tal sistema foi implantado, primeiramente, em um laboratório pertencente ao Departamento
de Biologia da UFSCar. Deste ponto em diante, resultados satisfatórios puderam ser
observados, principalmente no que diz respeito ao ganho de tempo e na coordenação nas
atividades do laboratório.
Essas melhorias foram perceptíveis pois o trabalho passou a ser centralizado; a
responsabilidade pelo processamento de informações passou a ser de quem as produz, ou seja,
o aluno que utiliza o reagente deve atualizar o sistema; os recursos geograficamente dispersos
(neste caso os reagentes) passaram a ser tratados de maneira centralizada através do banco de
dados, o que não gera redundância de informações; as atividades passaram a ser paralelas ao
invés de seqüenciais, dentre outros fatores que se relacionam aos princípios da reengenharia
de processos.
Além disso, outros aspectos demonstram que os laboratórios estão satisfatoriamente
engajados com as novas atividades, como:
O comprometimento de um número significativo de membros e a capacidade dos mesmos em
continuar suportando essas transformações;
c) A qualidade do trabalho em grupo e a comunicação eficiente entre todos os envolvidos;
d) A divulgação a terceiros sobre o sistema de gestão de reagentes.
Dessa forma, o objetivo inicial deste trabalho foi alcançado, visto que se pôde comprovar,
através da prática nos laboratórios e da implantação de um sistema informatizado, que a
reengenharia de processos, juntamente com a tecnologia de informação, pode trazer ganhos
substanciais às organizações ao propor novas formas de trabalho.
O resultado final de pesquisa, conforme avaliação em conjunto com os usuários do laboratório
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que fazem uso das ferramentas, foi bastante positivo. Isso pode ser constatado pelo interesse
manifestado por outros laboratórios da UFSCar, pertencentes ao Departamento de Química,
de Engenharia Química e de Materiais, nos quais o processo de implantação está sendo
iniciado por outros pesquisadores vinculados à Unidade de Gestão de Resíduos / UFSCar.
Além disso, o interesse também demonstrado por outras Instituições de Ensino Superior,
como a Universidade de São Paulo e a Universidade Federal de Santa Catarina e o processo
de registro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) deste sistema informatizado
estar em sua fase de conclusão, corroboram os bons resultados deste trabalho.
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DAVENPORT, T. H. Reengenharia de processos: como inovar na empresa através da tecnologia da
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DAYAL, U.; HSU, M.; LADIN, R. Business Process Coordination: State of Art, Trends and Open Issues.
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