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1 Universidade Federal do Rio de Janeiro O uso das ferramentas geotecnológicas no campo da epidemiologia: Dois exemplos, duas técnicas, duas escalas. JULIANA JORGE TEIXEIRA Rio de Janeiro 2011

O uso das ferramentas geotecnológicas no campo da ... · Eddie Vedder – Long Nights . 8 RESUMO Teixeira, Juliana Jorge. O uso das ferramentas geotecnológicas no campo da epidemiologia:

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1

Universidade Federal do Rio de Janeiro

O uso das ferramentas geotecnológicas no campo

da epidemiologia: Dois exemplos, duas técnicas,

duas escalas.

JULIANA JORGE TEIXEIRA

Rio de Janeiro

2011

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Ciências da Saúde

Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva

Departamento de Medicina Preventiva

Mestrado em Saúde Coletiva

Área de Concentração: Desenvolvimento de Métodos Estatísticos, Epidemiológicos e

Computacionais em Saúde.

O uso das ferramentas geotecnológicas no campo

da epidemiologia: Dois exemplos, duas técnicas,

duas escalas.

JULIANA JORGE TEIXEIRA

Dissertação apresentada a Coordenação de

Pós-Graduação do Instituto de Estudos de

Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos para a

obtenção do Grau de Mestre em Saúde

Coletiva.

Orientador:

Prof. Dr. Roberto Medronho

Rio de Janeiro

2011

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Teixeira, Juliana Jorge.

O uso das ferramentas geotecnológicas no campo da epidemiologia:

Dois exemplos, duas técnicas, duas escalas./ Juliana Jorge Teixeira,

Rio de Janeiro, 2011.

Orientador: Dr. Roberto de Andrade Medronho.

Dissertação apresentada a Coordenação de Pós-Graduação do

Instituto de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos para a obtenção do Grau de

Mestre em Saúde Coletiva.

1. Geotecnologias. 2. Geoprocessamento. 3. Rio de Janeiro. 4.

Dengue. 5. Tuberculose. 6. Geografia da Saúde.

I. Medronho, Roberto de Andrade (Orient.). II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro. Instituto de Estudos de Saúde Coletiva. III. O uso

das ferramentas geotecnológicas no campo da epidemiologia: Dois

exemplos, duas técnicas, duas escalas./ Juliana Jorge Teixeira, Rio

de Janeiro, 2011.

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O uso das ferramentas geotecnológicas no campo

da epidemiologia: Dois exemplos, duas técnicas,

duas escalas.

JULIANA JORGE TEIXEIRA

Dissertação apresentada a Coordenação de Pós-Graduação do Instituto de

Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos para a obtenção do Grau de Mestre em Saúde Coletiva.

Aprovada por:

Prof. Dr. Roberto de Andrade Medronho (orientador)

Professor Titular da Faculdade de Medicina da UFRJ

Professor Titular do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ

Prof. Dr. Guilherme Loureiro Werneck

Professor Adjunto do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ

Chefe do Serviço de Ensino do Departamento de Endemias Samuel Pessoa.

Professor Adjunto do Núcleo de Medicina Social da UERJ

Prof. Dr. Christovam Barcellos

Pesquisador Titular da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)

Rio de Janeiro

2011

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Este trabalho é dedicado aos meus pais Antonio Abilio

e Maria das Graças, a minha “segunda mãe” Julia e aos

meus irmãos Raphael e Thiago que trilharam junto

comigo o meu caminho até aqui.

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Esse trabalho só pôde ser realizado devido à colaboração de algumas pessoas. Em primeiro

lugar, devo agradecer ao meu querido orientador, Professor Roberto Medronho. Não somente

por todas as horas dedicadas nas leituras e avaliações e aos comentários que auxiliaram a

realização do trabalho, mas também por ter me aberto a porta para um mundo novo, o mundo

da epidemiologia geográfica.

Gostaria de agradecer também a meu pai, fonte de inspiração diária e o meu maior fã.

Obrigada pelos incentivos e por ter sempre acreditado em mim.

Agradeço a minha mãe e a “Iu”, por toda a confiança e palavras de afeto quando as forças

para seguir em frente pareciam terminar.

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“Have no fear

For when I'm alone

I'll be better off than I was before

I've got this light

I'll be around to grow

Who I was before

I cannot recall”

Eddie Vedder – Long Nights

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RESUMO

Teixeira, Juliana Jorge. O uso das ferramentas geotecnológicas no campo da epidemiologia:

Dois exemplos, duas técnicas, duas escalas. Dissertação (Mestre em Saúde Coletiva) -

Instituto de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2011.

O propósito desta Dissertação foi demonstrar, com o uso de exemplos díspares, como as

ferramentas geotecnológicas podem auxiliar nos estudos no campo da epidemiologia. O

embasamento teórico do estudo proposto, assim como os detalhamentos da metodologia

utilizada e dos resultados encontrados são descritos no decorrer do texto e são

complementados pelos dois artigos científicos que compõem esta Dissertação. O primeiro

estudo desta pesquisa utilizou técnicas de análise espacial para identificar áreas com maior

risco de ocorrência de dengue em função do volume de pupas encontrado em recipientes de

armazenamento de água, em dois bairros do município de Nova Iguaçu no Estado do Rio de

Janeiro. Os resultados mostram que o tipo de recipiente, variando tanto em escala de tempo,

formato e capacidade de armazenamento de água, pode ser fator diferencial na ocorrência

dessa doença. O segundo estudo teve como objetivo identificar fatores socioeconômicos que

tenham relação com a ocorrência de tuberculose no município do Rio de Janeiro. Após as

análises realizadas, a variável proporção de área urbana foi a única que permaneceu como

relevante. Isso pode ser explicado pela geografia da cidade do Rio de Janeiro que reúne em

áreas muito próximas, até mesmo vizinhas, realidades socioeconômicas bastante distintas e

contrastantes. No mais, essa dissertação traz um breve histórico da ciência geográfica e

descreve algumas das principais ferramentas geotecnológicas utilizadas pela epidemiologia

em seus estudos.

Palavras chaves: 1. Geotecnologias. 2. Geoprocessamento. 3. Rio de Janeiro. 4. Dengue. 5.

Tuberculose. 6. Geografia da Saúde.

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ABSTRACT

Teixeira, Juliana Jorge. O uso das ferramentas geotecnológicas no campo da epidemiologia:

Dois exemplos, duas técnicas, duas escalas. Dissertação (Mestre em Saúde Coletiva) -

Instituto de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2011.

The purpose of this dissertation was to demonstrate, with the use of diverse examples, how

geotechnologic tools can assist in epidemiology studies.

The theoretical basis of the proposed study, as well as the methodology and results are

described throughout the text and are complemented by two papers that comprise this

dissertation. The first study of this research used spatial analysis techniques to identify areas

of greatest risk of dengue using the volume of pupae found in water storage containers. It was

realized in two districts of the municipality of Nova Iguacu in the State of Rio de Janeiro. The

results show that the type of container, ranging in scale of time, format and storage capacity

of water, can be a differential factor in the occurrence of this disease. The second study aimed

to identify socioeconomic factors that are related to the occurrence of tuberculosis in the

municipality of Rio de Janeiro. After the analysis performed, the variable proportion of urban

area was the only one that remained relevant. This can be explained by the geography of Rio

de Janeiro cit where socioeconomic realities quite distinct and contrasting are found in areas

very close, even neighbors. All in all, this paper presents a brief history of geographical

science and describes some of the main geotechnologic tools used by epidemiologic studies.

Keywords: 1. Geotechnology. 2. GIS. 3. Rio de Janeiro. 4. Dengue. 5. Tuberculosis.

6.Geography of Health

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E TABELAS

EMBASAMENTO TEÓRICO

Figura 1: Diagrama de contexto de um SIG..................................................................22

Figura 2: Estrutura de Dados Vetorial............................................................................24

Figura 3: Estrutura de Dados Matricial...........................................................................25

Figura 4: Estrutura Vetorial x Estrutura Matricial..........................................................26

Figura 5: Espectro eletromagnético.................................................................................28

DENGUE

Figura 6: Países sob o risco de dengue em 2008.............................................................39

Figura 7: Evolução da presença do Aedes aegypti nos municípios brasileiros...............42

Gráfico 1: Casos Notificados de Dengue no Estado do Rio de Janeiro

1986-2009........................................................................................................................44

Gráfico 2: Percentual de Internação por Dengue segundo Faixa Etária

2001-2009........................................................................................................................45

TUBERCULOSE

Figura 8: Incidência de tuberculose no mundo por 100.000 habitantes...............,,,,,......48

Gráfico 3: Evolução da Taxa de Incidência de tuberculose, tuberculose associada a HIV e

notificações entre os anos de 1990 e 2008, no Brasil, para 100.000 habitantes...........50

Gráfico 4: Evolução da Prevalência de Tuberculose entre os anos de 1990

e 2008, no Brasil, para 100.000 habitantes ....................................................................50

Gráfico 5: Casos Novos de Tuberculose e Taxa de Incidência por 100.000 habitantes nos

residentes do estado do rio de Janeiro 2001 – 2009..................................................52

Gráfico 6: Taxa de Mortalidade por Tuberculose por Sexo para residentes do Estado do Rio

de Janeiro 2001-2009................................................................................................53

METODOLOGIA

Figura 9: “Puçá” curto de malha fina de nylon resistente com diâmetro de 16cm e cabo de

PVC com 60cm e encaixe para vara de extensão com 1,30m....................................59

ARTIGO 1

Tabela 1: Recipientes inspecionados nos dois quarteirões..............................................65

Figura1: Resultado do Kernel Cerâmica 1ª quinzena......................................................66

Figura2: Resultado do Kernel Cerâmica 2ª quinzena......................................................66

Figura3: Resultado do Kernel Cerâmica 3ª quinzena......................................................66

Figura 4: Resultados do Kernel Cerâmica 4ª quinzena...................................................67

Figura 5: Resultados do Kernel Cerâmica 5ª quinzena.................................................. 67

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Figura 6: Resultados do Kernel Cerâmica 6ª quinzena...................................................67

Figura 7: Resultados do Kernel Cerâmica 7ª quinzena.................................................67

Figura 8: Resultados do Kernel Cerâmica 8ª quinzena...................................................67

Figura 9: Resultados do Kernel Cerâmica 9ª quinzena...................................................67

Figura 10: Resultado do Kernel Nova América 1ª quinzena..........................................68

Figura 11: Resultado do Kernel Nova América 2ª quinzena..........................................68

Figura 12: Resultado do Kernel Nova América 3ª quinzena..........................................68

Figura 13: Resultado do Kernel Nova América 4ª quinzena..........................................68

Figura 14: Resultado do Kernel Nova América 5ª quinzena..........................................69

Figura 15: Resultado do Kernel Nova América 6ª quinzena..........................................69

Figura 16: Resultado do Kernel Nova América 7ª quinzena..........................................69

Figura 17: Resultado do Kernel Nova América 8ª quinzena..........................................69

Figura 18: Resultado do Kernel Nova América 9ª quinzena..........................................70

ARTIGO 2

Figura 1: Taxa de incidência de tuberculose, Estado do Rio de Janeiro,

Brasil, 2000......................................................................................................................77

Tabela 1: Coeficiente de correlação de Spearman entre a incidência de tuberculose e variáveis

socioeconômicas e de assistência à saúde........................................................77

Tabela 2: Índice de Moran das variáveis em estudo........................................................78

Tabela 3: Modelo de regressão múltipla da incidência de tuberculose, ano 2000, Estado do

Rio de Janeiro............................................................................................................78

Figura 2: Mapa relativo a variável proporção de população com água

canalizada........................................................................................................................78

Figura 3: Mapa relativo a variável proporção de área urbana.........................................79

Tabela 4: Modelo de regressão CAR da incidência de tuberculose, ano 2000, Estado do Rio de

Janeiro..................................................................................................................79

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SUMÀRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 1

2 EMBASAMENTO TEÓRICO ..................................................................................... ........................................4

2.1 A Ciência Geográfica...................................................................................................... 4

2.1.1 Uma breve evolução ................................................................................................ 6

2.2 Geotecnologias ............................................................................................................ ....8

2.2.1 Base teórica das geotecnologias ............................................................................ 11

2.3 Geoprocessamento ........................................................................................................ 15

2.3.1 Geoprocessamento aplicado à saúde .................................................................... 18

2.4 Sistemas de Informação Geográfica (SIG) ................................................................. 18

2.4.1 Sistemas de Informação Geográfica (SIG) aplicados a saúde ........................... 22

2.5 Bases de Dados Georreferenciados ............................................................................. 23

2.5.1 Estrutura de Dados ................................................................................................ 23

2.5.1.1 Estrutura de Dados Espaciais ................................................................................................................. 24

2.5.1.2 Estrutura de Dados Descritivos .............................................................................................................. 26

2.5.1.3 Georreferenciamento de dados espaciais .............................................................................................. 27

2.6 Sensoriamento remoto .................................................................................................. 27

2.7 Cartografia .................................................................................................................... 29

2.7.1 Cartografia Digital ................................................................................................ 30

2.7.2 Cartografia Temática ............................................................................................ 31

2.8 Análise Espacial ............................................................................................................ 32

2.8.1 Análise Espacial em Saúde ................................................................................... 34

2.9 A Geografia e a Epidemiologia .................................................................................... 34

3 DENGUE .......................................................................................................................................................39

3.1 Dengue no mundo ......................................................................................................... 40

3.2 Dengue no Brasil ........................................................................................................... 41

3.3 Dengue no Rio de Janeiro ............................................................................................ 43

4 TUBERCULOSE ..............................................................................................................................................47

4.1 Tuberculose no mundo ................................................................................................. 48

4.2 Tuberculose no Brasil ................................................................................................... 49

4.3 Tuberculose no Rio de Janeiro. ................................................................................... 51

5 OBJETIVOS ...................................................................................................................................................54

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5.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 54

5.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 54

6 METODOLOGIA ............................................................................................................................................55

6.1 Tipo de estudo ............................................................................................................... 55

6.2 Área de estudo ............................................................................................................... 55

6.2.1 Área de estudo para o artigo sobre o Aedes aegypti .......................................... 55

6.2.2 Área de estudo para o artigo de tuberculose ....................................................... 56

6.3 População de estudo ..................................................................................................... 57

6.3.1 População de estudo para o artigo sobre o Aedes aegypti ................................. 57

6.3.2 População de estudo para o artigo de tuberculose ............................................. 57

6.4 Coleta e Fonte de dados ............................................................................................... 58

6.4.1 Coleta e Fonte de dados para o artigo sobre o Aedes aegypti ........................... 58

6.4.2 Coleta e Fonte de dados para o artigo de tuberculose ....................................... 59

6.5 Análise e processamento dos dados ............................................................................. 59

6.5.1 Análise e processamento dos dados para o artigo sobre o Aedes aegypti ........ 59

6.5.2 Análise e processamento dos dados para o artigo de tuberculose...........60

7 ARTIGO 1: ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DAS PUPAS DE AEDES AEGYPTI EM LOCALIDADE DE NOVA IGUAÇU,

RIO, BRASIL. ....................................................................................................................................................62

7.1 Resumo .......................................................................................................................... 62

7.2 Introdução ..................................................................................................................... 63

7.3 Metodologia ................................................................................................................... 64

7.4 Resultados ..................................................................................................................... 65

7.5 Discussão ....................................................................................................................... 70

7.6 Referências Bibliográficas ........................................................................................... 71

8 ARTIGO 2: DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA INCIDÊNCIA DA TUBERCULOSE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EM

2000 ................................................................................................................................................................73

8.1 Resumo .......................................................................................................................... 73

8.2 Introdução ..................................................................................................................... 74

8.3 Metodologia ................................................................................................................... 75

8.4 Resultados ..................................................................................................................... 76

8.5 Discussão ....................................................................................................................... 79

8.6 Referências Bibliográficas ........................................................................................... 81

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9 CONCLUSÃO .................................................................................................................................................84

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................................85

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UFRJ

V. I

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1 Introdução

A evolução tecnológica pela qual passou a sociedade moderna a partir da revolução técnico-

científica e mais fortemente, nas últimas décadas do século XX, foi capaz de provocar

transformações nos mais diversos meios científicos, sobretudo, por conta da aplicabilidade de

seus produtos (FITZ, 2008). Assim, a realidade que vivemos hoje é fortemente marcada pelo

desenvolvimento tecnológico, produto, principalmente, da evolução da informática, nos mais

diversos ramos de atuação. Mas apesar das vantagens proporcionadas, tal uso vem trazendo

também fortes impactos causados, especialmente, pela velocidade com que essa evolução se

instala. Vem, também, propiciando novas ferramentas para a solução de problemas antigos e

atuais sem que, contudo, haja treinamento adequado para o uso de tais ferramentas

(CÂMARA; DAVIS, 1996).

Nos últimos anos vem crescendo vigorosamente, em diversas áreas, o número de trabalhos

científicos que utilizam as ferramentas geotecnológicas. Sucintamente, podemos conceituá-las

como novas ferramentas tecnológicas ligadas à ciência geográfica e a informática e que

servem de apoio para pesquisas multidisciplinares, auxiliando em ações de planejamento,

processos de gestão, manejo, análise, tratamento, etc. de informações e dados (FITZ, 2008).

Desde que os progressos no meio da informática popularizaram os computadores e os

tornaram cada vez mais rápidos e eficientes, foi possível também, a disseminação e

modernização do geoprocessamento e suas ferramentas tais como os Sistemas de Informação

geográfica (SIG), o sensoriamento remoto, a cartografia digital, etc. Estas ferramentas, antes

restritas, popularizaram-se e, hoje, estão presentes nos mais diversos meios científicos.

Segundo Cruz (1994), quando as questões base de um estudo referem-se ao que existe em

certo local, onde está localizado certo dado e, ainda, qual o relacionamento entre as

informações que se tem, a abordagem geográfica deve ser considerada e para tal, as

ferramentas geotecnológicas são importantíssimas.

Isso porque, o mundo real consiste de inúmeras características geográficas como dados

físicos, sociais e econômicos, cujo resultado estará relacionado a um determinado local e que

devem ser considerados nos estudos que desejam apreender o ambiente, uma vez que, esse

tipo de dado permite efetivar inúmeras tarefas temáticas e auxiliam na obtenção de respostas

para questões como; Onde está? Quais as características? Como se relacionam? O que

contém?, etc. (CRUZ, 1994).

Dessa forma, a utilização de uma abordagem geográfica, utilizando-se das ferramentas

geotecnológicas, tornou-se, principalmente nas últimas décadas, imprescindível para os

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estudos de saúde pública, sobretudo aqueles que buscam relacionar as questões de saúde ao

espaço geográfico.

Nesse sentido, as pesquisas epidemiológicas que, antes, já eram favorecidas pela utilização de

diferentes ferramentais, entre elas, as técnicas estatísticas, passam, também, a se beneficiar do

desenvolvimento da tecnologia computacional, que permitiu que bases de dados cada vez

maiores e mais complexas fossem trabalhadas e imprimiu, ainda, maior velocidade e precisão

às análises e permitiu que dados de bases diferentes pudessem ser acessados conjuntamente de

forma mais eficaz. Além disso, pode-se ainda citar o enriquecimento nas bases de dados

espaço-temporais, graças aos produtos do sensoriamento remoto e da cartografia digital.

Por isso, acreditamos na importância de uma pequena revisão bibliográfica sobre algumas das

mais populares dessas ferramentas geotecnológicas e no seu cada vez mais corrente uso pela

saúde pública.

Nesse sentido, é válido lembrar que tais ferramentas podem ser utilizadas em diferentes níveis

escalares, em diversas perspectivas e para inúmeras abordagens. No caso específico desta

dissertação, escolhemos trabalhar com duas doenças de extrema importância para o cenário da

saúde pública brasileira. A tuberculose, doença infecciosa que afeta milhões de pessoas em

todo mundo, apesar de todos os avanços já alcançados e de ter tratamento e cura bastante

difundidos. Trabalhamos também com o Aedes aegypti, transmissor da dengue, doença que

nos últimos anos tem ganhado cada vez mais importância no cenário nacional, tanto pelo

crescimento de sua letalidade, pelo espraiamento crescente nos municípios brasileiros e ainda

pela mudança ocorrida em relação à faixa etária mais atingida, tornando-a além de um

problema de saúde pública nacional também um problema de saúde pública infantil.

É importante ressaltar ainda a escolha efetuada em relação às escalas de estudo. No caso do

trabalho de tuberculose, a macroescala foi escolhida, sendo o estado do Rio de Janeiro

dividido em municípios a área de estudo. Essa escolha foi motivada pelo desejo de demonstrar

a disseminação dessa doença no Rio de Janeiro bem como de deixar clara a necessidade de,

em estudos nesse nível escalar, conhecer a geografia da área estudada, visto que essa pode

influenciar no resultado final do trabalho. Já em relação ao trabalho com a dengue,

escolhemos a microescala. Isso aconteceu em função de querermos demonstrar que em uma

área reduzida, com estudos apropriados, pode-se chegar a conclusões esclarecedoras que

venham a auxiliar na elaboração de propostas ativas para resolução do problema em foco.

Com isso, pretendemos demonstrar, ainda que de maneira superficial, a importância que as

geotecnologias adquirem no mundo atual e como podem fazer a diferença na epidemiologia e

em diversas outras áreas de estudo.

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2 Embasamento Teórico

2.1 A Ciência Geográfica

Apesar de no senso comum ser bastante claro o significado e objetivo da geografia, quando

referido a termos científicos o debate em relação a seu objeto de estudo é bastante enérgico.

Isto fica claro, na indefinição do objeto geográfico, ou melhor, nas múltiplas definições

atribuídas a esse (MORAES, 1983).

A geografia surgiu, organizada como saber científico, no decorrer do século XIX (MORAES,

1983; CHRISTOFOLETTI, 1997; GOMES, 2003). No entanto, antes mesmo de ser

sistematizada, diferentes profissionais tais como; viajantes, mapeadores ou conhecedores de

lugares, estrategistas ou estudiosos (ou seja, filósofos, físicos, astrônomos, historiadores,

geógrafos, etc.) faziam geografia.

Essa diversidade fez com que, ao longo da história, a identidade geográfica fosse buscada ora

através da definição de seu objeto científico, ora por meio da metodologia utilizada ou ainda

através do que era chamado de “espírito geográfico”. Com isso, percebemos que a

individualidade da ciência geográfica, foi frequentemente, buscada internamente e, não, de

um ponto de vista externo, de forma a defini-la em relação às outras ciências (GOMES,

2003). Isso provocou certo atraso em sua sistematização, e também certa falta de

continuidade, de unicidade. Deixando a geografia à margem do saber considerado científico

(MORAES, 1983; GOMES, 2003).

Segundo Claval (1982), a história do pensamento geográfico pode ser dividida em três

principais recortes. O primeiro período seria caracterizado por uma sistematização da

explicação e por uma descrição metódica na geografia e diz respeito a transformação trazida

pelo espírito naturalista no final do século XVIII. Já o segundo recorte, seria condizente com

o final do século XIX, período marcado pela institucionalização da geografia e pela divisão do

conhecimento geográfico em geografia física e geografia regional. Já o terceiro recorte, data

de meados do século XX e seria marcado pela transformação da geografia em ciência social.

Assim, é possível perceber que ao longo da história diferentes geografias foram criadas e

recriadas e com isso, diversas definições acerca de seu objeto de estudo foram discutidas.

Nesse sentido, podemos dividir as concepções geográficas em perspectivas diferentes

baseadas em algum pressuposto geral. Assim, temos aquela geografia baseada na perspectiva

da geografia como o estudo da superfície terrestre. Essa definição deriva do próprio

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significado etimológico da palavra geografia que significa descrição da Terra. A geografia é

aqui entendida como uma espécie de síntese de todas as outras ciências, uma vez que,

considerada a superfície terrestre como teatro privilegiado de toda a reflexão científica, e

sendo a geografia o estudo da superfície terrestre, caberia a ela então sintetizar todo o

conhecimento científico. Essa é a perspectiva mais difundida e a que alimenta a corrente

majoritária do pensamento geográfico (MORAES, 1983; CHRISTOFOLETTI, 1997;

GOMES, 2003).

Em outra perspectiva, a geografia será definida como o estudo da paisagem. Assim, o estudo

geográfico estaria restrito ao estudo dos aspectos visíveis do real. Essa perspectiva mantém a

idéia da geografia como ciência de síntese.

Uma terceira perspectiva entende a geografia como estudo da individualidade dos lugares.

Assim, o objetivo da geografia estaria em compreender o caráter singular de cada porção do

planeta, devendo então a descrição ser seu método de análise.

Na quarta, a geografia é entendida como o estudo da diferenciação de áreas. Nessa

perspectiva a descrição é usada na busca pela individualização e singularização das áreas para

posterior comparação entre elas.

A quinta perspectiva define-se na crença da geografia como o estudo da relação entre a

sociedade e a natureza. Aqui cabem algumas subdivisões. Essa relação pode ser concebida

como influência da natureza sobre o desenvolvimento humano, cabendo então a geografia

compreender as formas e mecanismos de manifestação dessa ação. Ressalta-se que nessa

visão o homem é tido como elemento passivo. A relação pode também ser vista como

influência da ação humana na transformação da natureza. Nessa concepção a ação humana

ganha peso, opondo, assim, a anterior. Aqui a geografia deveria entender como o homem se

apropria desse meio e age sobre ele. Na terceira e última a relação sociedade natureza é

entendida como proporcional, ou seja, tanto o homem como o meio influenciam e são

influenciados mutuamente. Assim, caberia a geografia estudar a relação em si, buscando

compreender as nuances de tal relacionamento (MORAES, 1983; CHRISTOFOLETTI, 1997;

GOMES, 2003).

A sexta e última perspectiva vê a geografia como estudo do espaço sendo esse passível de

uma abordagem específica que qualificaria os estudos geográficos. Aqui, uma das maiores

dificuldades é a de se definir o espaço, não havendo consenso nessa questão. Cabe, no

entanto, algumas possibilidades de concepção do espaço. Para este trabalho, a concepção que

importa é aquela onde o espaço é concebido como um ser específico do real, possuindo

características e dinâmica própria. Sob essa perspectiva, a geografia deveria buscar a lógica da

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distribuição e localização dos fenômenos no espaço, o arranjo geométrico de padrões

produzidos por esses fenômenos (MORAES, 1983; VITTE, 2007). Nessa geografia, a

quantificação por meio de métodos matemáticos e estatísticos é utilizada para alcance de seus

objetivos. Assim, é dessa perspectiva que saem as teorias que vão fundar a chamada geografia

Teorético-Quantitativa. Essa será, portanto, a base teórica das ferramentas geotecnológicas

dentro da ciência geográfica (MORAES, 1983; VITTE, 2007).

Com essa explanação, quisemos deixar claro que a indefinição ou múltipla definição acerca

do objeto da geografia vem de muito tempo e está longe de haver um consenso. Com isso, o

debate irá continuar o que é enriquecedor para a ciência, pois é através da discussão que o

conhecimento científico evolui. Assim, esperamos que as geotecnologias possam também

evoluir em torno do debate que as cercam e com isso sejam capazes de superar alguns

obstáculos em que ainda esbarram, principalmente na geografia crítica brasileira.

2.1.1 Uma breve evolução

Como em todo conhecimento científico, é possível, também, no conhecimento geográfico,

observar uma constante evolução. Com isso, é esperado que novas perspectivas surjam e com

isso surjam também novos paradigmas.

Até o final do século XVIII, não era possível identificar um padrão nos estudos considerados

geográficos, isso muda, já a partir do início do século XIX, quando acontece a sistematização

do conhecimento geográfico (MORAES, 1983; GOMES, 2003). A partir de então e ao longo

da história da geografia como ciência sistematizada diversas correntes de conhecimento

influenciaram os estudos geográficos e deixaram cada uma delas, suas contribuições.

Apresentaremos aqui alguns dos principais autores que influenciaram, de forma marcante,

determinadas linhas de pensamento. Iniciando-se pela época da sistematização da geografia,

passando pelas principais correntes dentro da geografia tradicional e finalmente chegando ao

horizonte de renovação da ciência geográfica.

Assim, logo no início do século XIX, destacam-se Alexander Von Humbolt e Carl Ritter,

autores que foram essências para a sistematização da geografia. Humboldt entendia que a

preocupação da geografia deveria estar na conexão entre os elementos e na busca, por meio

dessas conexões, da causalidade existente na natureza. Segundo ele, o método para tal seria o

empirismo raciocinado, ou seja, a intuição a partir da observação. Já Ritter defendia uma

geografia que estudasse os arranjos individuais de cada lugar para depois compará-los. A

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metodologia de Ritter não é diferente da de Humboldt. Ele também acreditava na observação

para o conhecimento (MORAES, 1983; GOMES, 2003).

Já no final do século XIX, surge Friedrich Ratzel e seus pressupostos deterministas,

exercendo grande influência, principalmente na Alemanha, berço da geografia sistematizada.

Para Ratzel, o objeto geográfico seria o estudo da influência que o meio impões sobre o

homem de forma que essas irão determinar as condições econômicas e sociais de

desenvolvimento de um povo. Sendo, portanto, a relação homem-território algo durável uma

vez que é desse território que o homem retirará os recursos necessários a sua liberdade e

desenvolvimento. Baseado nessa teoria o autor concebe o conceito de “espaço vital” que,

segundo Ratzel, representaria uma proporção de equilíbrio entre a população de uma dada

sociedade e os recursos disponíveis para suprir tais necessidades. Ratzel inovou colocando o

homem como parte da abordagem geográfica apesar de ter mantido a visão naturalista. No

entanto, em relação a método sua obra não teve grandes inovações. A observação e descrição

continuaram como meios de análise da ciência geográfica (MORAES, 1983; GOMES, 2003).

Contemporâneo de Ratzel, Vidal de La Blache elabora uma proposta onde o objeto da

geografia está na relação homem-natureza. No entanto, ao contrário de Ratzel, defende a idéia

do homem como um ser ativo e que, portanto, tem influência sobre o meio. Concebe o

conceito de “gênero de vida”, sendo esse o conjunto de técnicas e costumes desenvolvidos por

uma sociedade para utilizar-se dos recursos oferecidos pela natureza. Metodologicamente

Vidal, assim como Ratzel, não traz novidades mantendo a perspectiva positivista empirista

(MORAES, 1983; GOMES, 2003).

Já no século XX, mais especificamente entre as décadas de 40 e 60, o geógrafo Richard

Hartshorne buscou firmar uma base teórica para os estudos geográficos baseada no conceito

da unicidade. Na sua visão, as ciências se definiriam não pela singularidade de seus objetos de

estudo, mas sim pela utilização de uma metodologia própria. Nesse sentido, segundo o autor,

o método geográfico caracterizar-se-ia por trabalhar a complexidade do mundo real

abordando, com isso, diferentes fenômenos, estudados por diferentes ciências. Para

Hartshorne a geografia era um estudo de variação de áreas e, a partir dessa idéia, formulou o

conceito de “unidade de área” definido como uma parcela da superfície terrestre diferenciada

pelo observados e delimitada por seu caráter diferencial. Assim, seria pesquisador o

responsável por delimitar a área a ser estudada, a partir dos fenômenos que fossem de

interesse ao seu estudo, não sendo, portanto algo estático e definitivo. Para Hartshorne uma

área possuía inesgotáveis inter-relações passíveis de análise e por isso, compreende-la em

toda sua complexidade real seria algo impossível, daí a necessidade de selecionar os

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fenômenos de interesse. Hartshorne fez ainda outras grandes contribuições como as idéias de

ciência idiográfica e ciência nomotética, tendo sido ele responsável por uma das últimas

tentativa de continuidade do pensamento geográfico tradicional. (HARTSHORNE, 1936;

MORAES, 1983; GOMES, 2003).

Em meados do século XX, já temos a ascensão do movimento de renovação da geografia com

o aparecimento e duas principais vertentes. Uma denominada geografia Teorético-

Quantitativa e outra chamada Geografia Crítica.

A corrente conhecida como geografia Teorético-Quantitativa, vai ser marcada pelo desejo de

construção de teorias geográficas. Com isso, não é mais caracterizada pela singularidade e

unicidade do fenômeno geográfico, pelo contrário, defende a generalização do conhecimento.

Para tal, vai se basear no positivismo lógico e adotar modelos matemáticos, estatísticos e

sistêmicos para chegar a seu objetivo que é o de uma ciência prospectiva e não mais

retrospectiva, como era considerada a geografia tradicional. Buscava então, uma geografia

capaz de ser operacionalizada, que fosse capaz de criar “diagnósticos” sobre determinada

área, através do levantamento de dados interessantes para o fim proposto pelo pesquisador.

Para tal, utilizava-se de modelos sistêmicos e matemáticos, além do uso do computador

(novidade tecnológica naquela época), para obtenção de resultados que, em termos gerais,

poderiam ser considerados para outras áreas que apresentassem características semelhantes. É,

portanto, a geografia base para o desenvolvimento das geotecnologias (MORAES, 1983;

GOMES, 2003).

Por fim, a geografia crítica surge para com uma nova proposta, onde a ciência geográfica

deveria, antes e tudo, preocupar-se com as questões sociais. Assim, existe bastante

diversidade entre as possibilidades apresentadas por essa escola, sendo sua maior unicidade a

questão da luta pela busca de uma sociedade mais justa. Segundo seus autores, a geografia

Teorético-Quantitativa, foi capaz de romper com as classes sociais dominantes, e seus estudos

baseados em modelos matemáticos não seriam capazes de abarcar toda a complexidade do

real. Sua base metodológica é bastante diversificada passando pelo estruturalismo,

existencialismo, analistas marxistas, etc. (MORAES, 1983; GOMES, 2003).

Talvez, tenha sido a proposta mais repercutida no Brasil, por ter entre seus principais autores

Milton Santos, maior geógrafo da história brasileira.

2.2 Geotecnologias

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Nas últimas décadas, o avanço tecnológico que mais provocou mudanças nas pesquisas

geográficas relaciona-se as chamadas geotecnologias, principalmente o geoprocessamento, os

Sistemas de Informação Geográfica (SIG), o sensoriamento remoto e a cartografia digital.

A crescente disponibilidade de dados e a necessidade de se chegar a resultados mais

detalhados e confiáveis, levam o pesquisador a trabalhar com bases de dados cada vez

maiores. Com isso, cresce a dificuldade para a manipulação desses dados utilizando-se

somente as técnicas convencionais. Dessa forma, fica ainda mais evidente a importância das

geotecnologias e do desenvolvimento de novos hardwares e softwares para se trabalhá-las

através do meio computacional.

Considerando-se, o campo da ciência geográfica, bastante amplo e inter-relacionado com

outras ciências e disciplinas, é possível, então, afirmar que a geografia é uma ciência onde o

campo de atuação interdisciplinar é bastante extenso (DIAS & BATISTA, 2008). E mais, com

os avanços tecnológicos e das ferramentas relacionadas, principalmente, ao campo da

computação e da informática em possível exercer com facilidade o (re) conhecimento do

espaço geográfico. Dessa forma, verifica-se uma ampliação ainda maior do campo de

interação da geografia com outras ciências.

De forma mais geral, as geotecnologias podem ser definidas como novas ferramentas

tecnológicas relacionadas à ciência geográfica e que são utilizadas em pesquisas

multidisciplinares, auxiliando em ações de planejamento, processos de gestão, manejo,

análise, tratamento, de informações e dados (FITZ, 2008), ou ainda, como todas as

tecnologias ligadas a geoinformação que compreendem a aquisição, processamento, análise

de dados ou informações que sejam espacialmente referenciadas. Ou seja, referem-se a um

grupo de tecnologias de informação geograficamente referenciada, tais como o GPS (Global

Position System – Sistema de Posicionamento Global), SIG (Sistemas de Informação

Geográfica), fotogrametria, levantamentos aéreos ou orbitais, topologia, cartografia, etc.

(DIAS & BATISTA, 2008).

Na geografia, por vezes, tem-se considerado as geotecnologias como uma nova proposta

paradigmática, e por outras, como um novo campo que talvez venha a se transformar em uma

ciência da geoinformação (DOBSON, 2004). Essa nomenclatura que, inclusive, já é

atualmente utilizada por alguns autores é, também, discutida, existindo outras propostas

(CÂMARA et al, 2001; DOBSON, 2004; FITZ, 2008).

Esse debate traz a tona a constante e ainda presente dicotomia que acompanha a geografia

desde seu início como ciência. Assim como o velho racha entre geografia física e geografia

humana, agora surge o debate acerca das geotecnologias. De um lado a visão de um novo

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paradigma, defendida por aqueles que acreditam nas diferentes concepções a respeito das

direções epistemológicas tomadas pela ciência geográfica e, de outro, a visão das

geotecnologias como novo membro, ainda atrelado a ciência geográfica, mas, que um dia

poderá cisalhar e tornar-se uma nova ciência (CASTIGLIONE, 2003; DOBSON, 2004; FITZ,

2008).

Quanto aos que acreditam na independência dessa ciência surge, principalmente, o termo

Ciência da Informação Geográfica (CIG), fazendo referência ao termo Sistemas de

Informação Geográfica (SIG). Segundo Clarke (1999), essa nova ciência utiliza os sistemas

de informação geográfica como ferramenta para entender o mundo.

No entanto, a corrente que acredita nas geotecnologias como apenas um novo direcionamento

paradigmático da ciência geográfica, acredita-se que, acompanhando o rumo histórico da

ciência geográfica, as geotecnologias continuarão apenas como uma nova proposta

paradigmática. E, dentro dessa corrente, surgem distintas opiniões acerca do posicionamento e

do caminho a ser tomado por essa nova proposta. Assim, pela falta de consenso, diferentes

nomes como “Geografia automatizada” ou “Geografia tecnológica” já foram sugeridos (FITZ,

2008).

Destaca-se que as geotecnologias não são unanimidade dentro da geografia. Muitos autores,

principalmente afiliados da geografia crítica, não acreditam na eficácia de alguns dos métodos

utilizados por essas ferramentas para entendimento do espaço geográfico e sua complexidade.

É também, importante ressaltar que a inserção das geotecnologias em diferentes áreas de

atuação tem sido responsável por importantes alterações nos procedimentos operacionais,

exigindo que haja mudança na forma de pensar e trabalhar um problema. Isso ocorre, pois,

uma vez que, a utilização de tais tecnologias auxilia para a obtenção de resultados mais

confiáveis e detalhados, além de permitir que se trabalhe com bases de dados cada vez

maiores e mais complexas do que se podia quando se utilizavam as técnicas tradicionais,

mudanças na dinâmica de trabalho se fazem necessárias (CÂMARA; DAVIS, 1996; FITZ,

2008).

No entanto, não se pode deixar de lado, as limitações funcionais intrínsecas a essas

ferramentas, com destaque para o sensoriamento remoto, o geoprocessamento e SIG. Além

disso, há, ainda, a limitação imposta pelo próprio conjunto de dados que as constitui, uma vez

que as características e a qualidade de tais dados determinarão o tipo de aplicação possível de

ser implementada (DIAS & BATISTA, 2008).

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Para esse trabalho, no intuito de facilitar o entendimento, usaremos então o termo

geotecnologias, para nos referir a essa nova proposta paradigmática que surge na ciência

geografia através das novas tecnologias que o mundo informacional nos proporciona.

2.2.1 Base teórica das geotecnologias

Como dito anteriormente, as geotecnologias são consideradas por alguns autores como ciência

da geoinformação, ou pelo menos, como base estrutural para essa futura ciência. Mas, de

qualquer forma, consideradas como ciência ou novo paradigma, é importante que se relacione

as geotecnologias a seu fundamento teórico na ciência geográfica. E mais, que se faça um

resumo das contribuições das principais correntes geográficas para o embasamento teórico das

geotecnologias, principalmente no que se refere ao geoprocessamento.

Nesse contexto, as geotecnologias são fruto da multidisciplinaridade, ou seja, é ponto de

convergência entre áreas como a informática, a geografia, a engenharia, a estatística, etc. No

entanto, apesar de sua origem e caráter interdisciplinar, pode-se considerar a construção de

representações computacionais do espaço como seu fundamento básico (CÂMARA, 1995;

CÂMARA et al, 2001; FITZ, 2008). Câmara et al (2001), utilizou o conceito geográfico de

espaço como instrumento chave no estabelecimento de um fundamento teórico para as

geotecnologias, consideradas por esse autor como futura ciência da geoinformação. Faremos

então, uma abordagem parecida. Utilizaremos também, o conceito de espaço como conceito

chave. Entretanto, outras referências importantes devem também ser citadas. Com isso,

partiremos em ordem cronológica, tendo a visão de diferentes concepções acerca da noção de

espaço como principal meio de ligação, mas estabeleceremos, também, relação com alguns

pressupostos já debatidos na geografia e que são sem dúvida relevantes para a noção e

geoprocessamento que temos hoje.

Nesse contexto, vale ressaltar que, como visto anteriormente, as geotecnologias tem sua base

teórica dentro de uma geografia onde o espaço, tal como ser específico do real, é tido como

objeto principal de estudo (MORAES, 1983).

Assim, inicialmente, cabe citarmos a noção de “unidade de área” proposta por Hartshorne.

Para esse autor, a “unidade de área” caracterizava-se por ser um “pedaço” do espaço

geográfico, sendo esse “pedaço” definido a partir do objeto de estudo e da escala escolhida

para a realização do trabalho, tendo assim, características individuais peculiares. Nesse

sentido, o caráter de cada área estaria relacionado à integração das diferentes variáveis

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geográficas presentes. Por conseguinte, a partir dessas “unidades de área”, o pesquisador

poderia montar um sistema de classificação e organização do espaço (HARTSHORNE, 1936).

A contribuição de Hartshorne está na utilização da noção de “unidade de área” como base

metodológica para o geoprocessamento. A representação gráfica computacional de um

polígono fechado, delimitando uma área caracterizada por um conjunto de variáveis ali

presentes, condiz com o conceito de “unidade de área” de Hartshorne (GOODCHILD, 1998;

CÂMARA, 2001).

Dando continuidade cronológica, em seguida temos a ascensão da geografia Teorético-

Quantitativa. Os geógrafos pertencentes a essa corrente, criticavam a falta de teorias mais

concretas da geografia idiográfica proposta por Hartshorne e com isso, passam a utilizar

teorias de outras ciências como, por exemplo, matemática e física. Nesse sentido, um dos

pressupostos básicos da geografia Teorético-Quantitativa, era a construção de modelos

teóricos que poderiam ser validados por meio de técnicas estatísticas e generalizados para

áreas de característica semelhante (CHRISTOFOLETTI, 1982; MORAES, 1983; GOMES,

2003; CASTRO et al, 2008). Assim, a análise de padrões de distribuição espacial de

fenômenos passa a ser uma base para estudos da geografia e conceitos da estatística espacial

passam a figurar no vocabulário geográfico (GOODCHILD, 1988; CÂMARA et al, 2001). É,

ainda, nessa época, que o uso do computador passa a incorporar intrinsecamente os trabalhos

geográficos. Com isso, o aparecimento dos primeiros softwares de SIG (Sistema de

Informações Geográficas) na década de 1960, impulsiona bastante essa corrente

(GOODCHILD, 1988; CÂMARA et al, 2001).

Outra característica dessa escola que tem destaque no geoprocessamento é a idéia de um

conhecimento analítico aplicável prospectivamente. Com isso, tem-se a idéia de análises

prévias para obtenção de resultados práticos (MORAES, 1983; GOMES, 2003).

Ainda no contexto dessa linha de pensamento, podemos citar as propostas Schaefer. Segundo

esse autor, a importância do estudo geográfico estaria relacionada ao arranjo espacial dos

fenômenos e não a especificidade do fenômeno em si. Com isso, revela-se a necessidade do

entendimento do arranjo geométrico dos fenômenos para entendimento do espaço e, a essa

noção, associam-se as noções atualmente utilizadas em geoprocessamento, e vizinhança,

buffer, anisotropia, difusão, etc. (SCHAEFER, 1953).

Outra contribuição dessa escola refere-se à idéia de que a semelhança entre os fenômenos

característicos de uma área diminuem na medida em que aumenta a distância em relação a

essa. Nesse sentido, nascem as técnicas de interpolação de dados, superfície de tendências e

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também, alguns modelos geoestatísticos presentes na rotina do geoprocessamento (VITTE,

2007).

Veremos depois que alguns autores pertencentes à escola crítica irão criticar essa idéia,

defendendo que a globalização homogeneíza os espaços de tal forma que tal pressuposto não

pode ser validado.

Outra proposta interessante é a de Berry (1964). Esse autor concebe dois conceitos; sítio e

situação. Segundo ele, o conceito de sítio seria vertical, referindo-se, portanto as

características locais definida por atributos corológicos, sendo coerente ao conceito de

“unidade e área” inicialmente proposto por Hartshorne. Nesse sentido, caberia ao sítio

integrar todas as características definidoras de uma área (indústria, demografia, clima, relevo,

transporte, situação de saúde, etc.). Dessa forma, seria a unicidade de um sítio que o definiria

em relação a outro. Já o conceito de situação é horizontal e associa-se a idéia de

interdependência regional, conexão entre áreas e interação espacial. Com isso, é através do

conceito de situação que será permitido conhecer um sítio a partir de sua horizontalidade em

relação à sua vizinhança baseado em propriedades de distância e contiguidade. Tais conceitos

são importantes por trazerem em seus conteúdos as bases para a definição do campo de ação e

operação de análise e modelagem presentes em muitos dos Sistemas de Informação

Geográfica usados atualmente (BERRY, 1964).

Berry (1964) propõe ainda a idéia de matriz geográfica. Trata-se de um modelo analítico

concebido para o entendimento e leitura de um espaço geográfico multivariado e

multitemático. Assim, o fenômeno geográfico é identificado na interseção entre uma linha e

uma coluna da matriz geográfica, ou seja, a interseção entre a série de características de uma

mesma área (linha) e uma mesma característica de várias áreas (coluna). Dentre essas

características podem estar qualquer atributo referente a área de estudo (população, clima,

incidência de determinada doença, etc.).

Integrando esses três conceitos propostos por Berry têm-se então o sítio como lugar ou

unidade observacional da(s) característica(s) em questão, como por exemplo, o município, o

distrito, a unidade de saúde, etc. A dualidade existente entre as múltiplas características e as

múltiplas áreas é o ponto central da matriz geográfica e integra o sítio à sua situação

(BERRY, 1964).

Outras muitas contribuições da escola geográfica Teorético-Quantitativa poderiam ser citadas,

entretanto, o mais importante já foi ressaltado. A aceitação de modelos matemáticos,

estatísticos e sistêmicos para explicar os fenômenos geográficos foi sua maior contribuição

juntamente com a introdução da tecnologia computacional nas pesquisas geográficas. Assim,

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por mais que alguns autores critiquem esse método como simplista e por demais

generalizante, entende-se que a elaboração de propostas de interferência na realidade

elaboradas por meio das ferramentas geotecnológicas podem sim contribuir para mudanças e

intervenções benéficas, basta associar a utilização dessas ferramentas com conhecimento

prévio da área a ser estudada.

Por fim, entende-se que essa corrente do pensamento geográfico figure como a mais

fortemente relacionada ao que se entende por geoprocessamento atualmente, no entanto, foi

somente na década de 1990, e, portanto, alguns anos após o surgimento de muitos dos

pressupostos que a compõe que os SIG passam a possibilitar a representação adequada à plena

expressão de seus conceitos (CÂMARA et al, 2001). No mais, lembra-se que a tecnologia

está em constante desenvolvimento, assim as técnicas de geoestatística ainda estão em

processo de integração aos principais SIG e a forma estática como o espaço é representado no

computador ainda é um empecilho para a plena representação de alguns fenômenos espaciais

(aqueles que possuem natureza dinâmica) no ambiente dos SIG (CÂMARA et al, 2001). Essa

é inclusive uma das maiores críticas direcionadas as ferramentas geotecnológicas.

Por fim, enfatizaremos a noção de espaço sob a ótica dos geógrafos representantes da corrente

crítica. Essa corrente nasce com um caráter mais social, adotando alguns preceitos da teoria

marxista. Critica a corrente anterior (Teorético-Quantitativa) pela utilização de técnicas

matemáticas, pelo uso de grandezas mensuráveis para analisar o espaço geográfico, o que

segundo os críticos, não seria possível pela dinâmica socioeconômica de ações e interações

presentes nesse espaço, e, ainda, por sua visão associada à expansão do capitalismo (GOMES,

2003; CASTRO et al, 2008). Segundo os representantes dessa escola, apesar dos resultados

alcançados nos estudos de padrões espaciais, as técnicas utilizadas pela geografia teorética

não eram capazes de elucidar os processos socioeconômicos relacionados a estas

distribuições, nem apreender o relacionamento entre ações e intenções dos agentes sociais que

atuam no espaço (HARVEY, 1988).

Partiremos da noção de espaço, dentro da escola de geografia crítica, a fim de mostrar que,

apesar de todos os avanços feitos no campo dos modelos matemáticos e estatísticos e ainda,

no meio computacional, a tecnologia presente nos sistemas de Informação Geográfica de hoje

não são capazes de, de fato, compreender o espaço geográfico em toda a sua complexidade.

Assim, essa explanação demonstra as deficiências inerentes aos SIG atuais e ao mesmo tempo

como uma idéia evolução dos SIG no futuro.

Milton Santos, importante representante da corrente crítica, em seu livro “Espaço e Método”,

(SANTOS, 1985) descreve o espaço geográfico e as relações que definem a organização deste

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por meio dos conceitos de forma, função, estrutura e processo. Nesse sentido, a forma refere-

se ao objeto e sua distribuição no espaço de forma a constituir um padrão. A função diz

respeito ao papel a ser desempenhado por esse objeto em sua relação com o espaço. Já a

estrutura reporta a relação dos objetos uns com os outros, ou seja, a maneira como interagem

entre si. Por fim, o processo envolve a transformação da estrutura, de forma a captar os

resultados de transformações temporais. Assim, a importância desse conceito está diretamente

relacionada às limitações das técnicas atualmente utilizadas pelos SIG de conseguir, através

de representações geométricas e modelos matemáticos, modelar o espaço geográfico e a

distribuição dos objetos nele inseridos (CÂMARA, 2001). Ao longo dos anos, Milton Santos

utilizou-se, ainda, de outras conceituações de espaço, tais como o espaço visto pela ótica dos

fixos e fluxos (SANTOS 1978). Na qual, a representação dos fluxos seria o grande desafio do

ponto de vista dos SIG. Isso porque, uma grande parte das técnicas de análise espacial baseia-

se na noção de proximidade e vizinhança. Assim, visto que as mudanças provocadas pelo

desenvolvimento dos transportes de grande velocidade e das telecomunicações transformaram

o mundo de forma a tornar a intensidade dos fluxos cada vez maior e capaz de percorrer

distâncias antes imprensáveis, transforma a noção de que coisas mais próximas se parecem

mais do que coisas mais distantes (CÂMARA, 2001).

Nesse sentido, as atuais representações, não são capazes de absorver as constantes

transformações sofridas pelo espaço. Assim, o grande desafio dos SIG do futuro está, então,

na representação plena do espaço geográfico abarcando toda a dinâmica nele envolvida.

2.3 Geoprocessamento

Desde o início da humanidade o homem busca conhecer o espaço que o cerca e há muitos

séculos, essa constante busca pelo entendimento do espaço geográfico passou a ser auxiliada

por um dos mais antigos instrumentos que se pode associar a geografia, o mapa. No entanto,

com o avanço tecnológico, outras ferramentas vêm se juntando a utilização pura e simples dos

mapas. Essa conjunção de ferramentas vem transformando a maneira de se enxergar o espaço

geográfico e tem se tornado cada vez mais um poderoso instrumento de auxilio aos

pesquisadores interessados em considerar as dinâmicas espaciais (FITZ, 2008). De forma

mais geral, entende-se esse conjunto de ferramentas capazes de coletar, tratar e analisar

informações geográficas forma o geoprocessamento.

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Inicialmente, é importante destacar que o termo geoprocessamento é utilizado quase que

exclusivamente no Brasil (CÂMARA; DAVIS, 1996; DIAS & BATISTA, 2008). Segundo

Dias & Batista (2008), esse termo surgiu, muito provavelmente, de discussões entre as

correntes americana e européia, sendo, essas correntes, as mais influentes no Brasil. Ainda

segundo esses autores, essa terminologia nasce por volta da década de 1980, quando a

tecnologia conhecida nacionalmente como SIG (Sistemas de Informação geográfica), crescia

de forma rápida no exterior, estando assim estreitamente ligada a tal. No entanto, Dias &

Batista (2008), utilizam o termo geoprocessamento a se referirem ao conjunto de tecnologias

inter-relacionadas por meio das bases de dados e das análises geográficas, estando entre essas

tecnologias: a cartografia, o sensoriamente remoto, os sistemas de informação geográfica, o

GPS (Global Position System - Sistema de Posicionamento Global), etc.

Na tentativa de demonstrar um pouco mais sobre suas características, serão apresentadas aqui

algumas definições acerca dessa ferramenta que tem sido cada vez mais utilizada em

diferentes ramos de estudo.

De forma geral, pode-se dizer que o geoprocessamento está associado a um conjunto de

ferramentas que apresentam uma dimensão espacial ou geográfica. Destacam-se entre essas

ferramentas o GPS (Global Position System – Sistema de Posicionamento Global), os

sistemas CAD (Computer Aided Design - Desenho Assistido por Computados) e SIG

(Sistemas de Informação Geográfica), os BDG (Bancos de dados Geográficos), além da

cartografia digital e do sensoriamento remoto (CRUZ, 1994). Assim, a principal característica

do geoprocessamento quando atrelado a tecnologia computacional, está em sua capacidade de

integrar dados de diferentes fontes de forma a conceber uma base de dados única, sua

capacidade de trabalhar com grandes quantidades de dados, além da rapidez para consulta e

análise dos dados quando comparada aos meios analógicos (CÂMARA; DAVIS, 1996; DIAS

& BATISTA, 2008)

Acerca de definições mais objetivas, podemos citar Câmara & Davis (1996) e Câmara &

Medeiros (1998) que definem geoprocessamento como uma disciplina que utiliza técnicas

matemáticas e computacionais para o tratamento de informações geográficas. Thomé (1998)

que descreve geoprocessamento como o processamento de informações sobre a superfície

terrestre por meio de ferramentas que podem ser computacionais ou não. Rodrigues (1993)

que caracteriza geoprocessamento como o conjunto de tecnologias de coleta, tratamento,

manipulação e apresentação de informações espaciais. Xavier da Silva (2000) para quem o

geoprocessamento é um conjunto de técnicas de processamento de dados, destinado a extrair

informações a partir de uma base de dados georreferenciados.

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No entanto, independente da definição considerada ou da geotecnologia que se utilize para

trabalhar o geoprocessamento é importante ressaltar que existe um requisito fundamental

quando se fala em geoprocessamento: a existência de um banco de dados georreferenciados

(CRUZ, 1994; CÂMARA; DAVIS, 1996; BURROUGH & MCDONELL, 1998). Podendo-se

conceituar os dados georreferenciados como aqueles que possuem um endereço espacial, ou

seja, aqueles que estão referenciados a um sistema cartográfico (KRAAK & ORMELING,

1996).

Ressalta-se, portanto, que no que diz respeito à geoprocessamento, é importante que o dado

tratado possua três características básicas que lhe concederão a terminologia de dado

geográfico. Sendo essas características; a geometria, referente à forma, as informações

relacionadas às características temporais que se referem aos atributos e ainda, a característica

referente à sua localização no espaço, ou seja, seu posicionamento (ROSA, 1995; FITZ,

2008).

No que diz respeito à aplicação da ferramenta, Cruz (1994) afirma que o geoprocessamento é

um conjunto de técnicas que contem uma ampla aplicabilidade e que tal tecnologia aliada a

uma adequada modelagem torna-se hoje, uma ferramenta fundamental em diversos estudos

como, por exemplo, administração municipal, marketing, gestão ambiental, saúde pública, etc.

No mais, seja qual for o sistema de geoprocessamento utilizado, as informações ficam sempre

organizadas em diferentes níveis de informação, também chamadas camadas (layers).

Podendo essas ser sobrepostas umas as outras de acordo com o interesse do usuário (CRUZ,

1994).

Até agora, a maior eficácia já demonstrada pelo geoprocessamento refere-se a seu poder de

cooperação no processo cognitivo de (re) conhecimento do espaço geográfico e a sua

capacidade de unir em um mesmo banco, dados oriundos de fontes diversas. Mas ainda há

muito a ser feito. O geoprocessamento ainda tem muito a oferecer e um grande potencial a ser

explorado e, sua utilização cada vez mais freqüente, devido à maior acessibilidade em termos

financeiros e a amigabilidade dos softwares atualmente (DIAS & BATISTA, 2008). No

entanto, é válido lembrar que apesar do barateamento dos custos dos softwares e hardwares

necessários a aplicação do geoprocessamento em meio computacional, o custo ainda é um

empecilho em alguns casos.

Neste trabalho geoprocessamento será entendido como o conjunto amplo de técnicas e

ferramentas destinadas ao processamento – de forma genérica: aquisição, manipulação,

análise e saída – de quaisquer dados com características geográficas. Desta forma o uso de

quaisquer das tecnologias – ou geotecnologias – apresentadas se constitui em

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geoprocessamento. Assim entendido o geoprocessamento, compreende-se que a cartografia

digital e o sensoriamento remoto, além do SIG, se constituem em tecnologias inseridas no

geoprocessamento.

Para concluir, salienta-se que a introdução dessas tecnologias em inúmeras áreas de atuação

tem provocado importantes alterações nos procedimentos operacionais exigindo a

modificação da forma de pensar e trabalhar um problema. Isso porque, o geoprocessamento

inseriu também, um novo modo de se (re) conhecer o espaço geográfico, gerando modelos

que trazem novas formas de se proceder à análise espacial (CÂMARA; DAVIS, 1996).

Contudo, apesar de toda a euforia que o primeiro contato com o geoprocessamento pode

incitar, é preciso ter cuidado. Sabe-se que há dificuldades na absorção dos conceitos e práticas

necessárias para a correta utilização das ferramentas. Mas, ainda assim, o potencial de

aplicação dessa ferramenta exerce atração um grupo cada vez maior de usuários (ROSA,

1995; CÂMARA; DAVIS, 1996; DIAS & BATISTA, 2008).

2.3.1 Geoprocessamento aplicado à saúde

Foi, principalmente, a partir da década de 1990, devido ao desenvolvimento tecnológico, ao

crescente acesso aos softwares e hardwares necessários, a diminuição dos custos, a maior

disponibilidade de dados, etc., que o geoprocessamento volta a ser fortemente difundido na

área da saúde e a cada dia sua importância tem crescido. Isso porque, através dessa ferramenta

é possível mapear a relação entre o processo saúde-doença e os fatores sócio-ambientais com

mais facilidade, e, ainda, observá-los de forma mais eficaz. As técnicas de geoprocessamento

permitem também, a visualização de aglomerados de doença, ou seja, áreas onde a incidência

seja maior, a avaliação e a evolução da distribuição espacial e temporal de doenças, etc.

(MEDRONHO et al, 1996; SANTOS 2006). As técnicas de geoprocessamento permitem que

diferentes variáveis sejam mapeadas e observadas em conjunto através da sobreposição de

mapas, o que facilita a observação de possíveis relações entre essas variáveis e a distribuição

da doença.

2.4 Sistemas de Informação Geográfica (SIG)

A primeira observação a ser feita a respeito dos Sistemas de Informação Geográfica é a

respeito do próprio termo em si. Tal terminologia deriva do inglês Geographical Information

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Systems (GIS) ou, ainda, Geographic Information Systems (GIS) e é ora traduzido no

singular, como neste trabalho – Sistemas de Informação Geográfica - ora no plural como

Sistemas de Informações geográficas (FITZ, 2008). Podendo, também, ser encontrado o termo

Sistema Geográfico de Informações (SGI), defendida por Xavier da Silva (2001). O autor,

apesar da maior utilização do termo Sistemas de Informação Geográfica (SIG), defende o uso

da terminologia Sistema Geográfico de Informações (SGI) por se referir a um sistema que

possui características geográficas em virtude de sua estrutura e que apresenta a capacidade de

gerar ganho de conhecimento sobre a realidade estudada. No entanto, os defensores da sigla

SIG, argumentam que esta tecnologia faz uso de um sistema que compreende e manipula um

tipo de informação com uma natureza específica, as informações geográficas (CÂMARA;

DAVIS, 1996; DIAS & BATISTA, 2008). Nesse trabalho, adotaremos, como a maioria da

bibliografia nacional, a sigla SIG para nos referirmos aos Sistemas de Informação Geográfica.

Como já visto, as ferramentas geotecnológicas tiveram nas últimas décadas grande auxílio do

desenvolvimento e aprimoramento da computação. Assim, o desenvolvimento dos SIG deve-

se, sobretudo a evolução do computador, tanto se tratando dos softwares como dos hardwares.

A evolução dos computadores tornou-os cada vez mais acessíveis e compactos permitindo

assim, a popularização das ferramentas geotecnológicas e a criação de programas específicos

capazes de quantificar dados de maneira mais rápida e eficaz. Tais acontecimentos foram

fatores essenciais no aprimoramento dos SIG (FITZ, 2008).

Segundo Rosa (1995), o desenvolvimento dos SIG data da década de 1960, com intuito de

sobrepor e combinar diferentes dados. O primeiro sistema a reunir as características

necessárias para ser caracterizado como SIG chamava-se “Canadian Geographic Information

System” e foi implantado no Canadá no ano de 1964. Ainda na década de 1960 outros

programas foram desenvolvidos destacando-se os sistemas de New York Landuse and Natural

Resources Information Systems de 1967 e a Minnesota Land Management Information

System de 1969. No entanto, foi somente na década de 1970 que os primeiros softwares para

SIG foram disponibilizados comercialmente.

É importante destacar que o uso do meio computacional é só uma parte do conjunto

necessário para o funcionamento de um SIG. É preciso também que haja uma base de dados

georreferenciados, ou seja, uma base de dados onde os pontos reais no terreno estejam

vinculados a um sistema de coordenadas conhecido, em geral, sua latitude e longitude

(ROSA, 1995; DIAS & BATISTA, 2008; FITZ, 2008). Importante destacar aqui que,

também, a popularização do GPS (Global Positioning System - Sistema de Posicionamento

Global), também foi fator relevante para o desenvolvimento de tal ferramenta.

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Portanto, a construção e o uso dos Sistemas de Informação Geográfica deveriam partir da

visão integrada de profissionais de diferentes áreas do conhecimento como, por exemplo;

Geografia, Cartografia, Fotogrametria, Geodésia, Estatística, Computação, etc. Dessa forma, o

produto final reuniria um conjunto de diferentes pontos de vista de diferentes correntes

científicas favorecendo, assim, a utilização de tal ferramenta, nas mais diversas áreas de

forma mais consciente. Assim sendo, seu uso proporcionaria, de forma mais eficaz, aos

técnicos e cientistas, a possibilidade de simular problemas, criar projetos, planejar ações e

usar as informações adquiridas na busca por soluções para suas formulações (ROSA, 1995;

FITZ, 2008).

No que se refere à conceituação, de forma geral, o SIG pode ser definido como sistemas de

computador usados para capturar, armazenar, gerenciar, analisar e apresentar informações

geográficas (SANTOS 2007). Ou ainda, como um poderoso conjunto de ferramentas para

coleta, armazenamento, recuperação, transformação e visualização de dados espaciais do

mundo real para um conjunto de propósitos específicos (BURROUGHT, MCDONNELL,

1998). Outras definições podem, também, ser citadas como a de Câmara (1995) que define

SIG como sistemas de realizam o tratamento computacional de dados geográficos e a de

Cowen (1998) que conceitua SIG como sistemas de suporte a decisão que integram dados

referenciados espacialmente num ambiente de resposta a problemas.

Muitas vezes acaba-se confundindo os SIG com o geoprocessamento ou com outros sistemas.

Dessa forma, é importante ressaltar que o geoprocessamento é, basicamente, um conjunto de

técnicas de coleta, tratamento, manipulação e apresentação de dados espaciais, tendo como

técnicas mais utilizadas o sensoriamento remoto, a cartografia digital, a estatística espacial e

os Sistemas de Informação Geográfica. Além disso, a tecnologia ligada ao geoprocessamento

envolve hardwares e softwares e, também, o desenvolvimento de novos sistemas. Já o SIG

refere-se a uma base de dados digitais que possuem um intento específico e que estão ligados

a um sistema de coordenadas espaciais (ROSA, 1995; SANTOS 2007; FITZ, 2008).

No caso da confusão com outros sistemas como o CAD (Computer Aided Design – Desenho

assistido por Computador), ou ainda o CAM (Computer Aided Mapping), é importante

ressaltar que esses, como outros sistemas, possuem aplicabilidades específicas, sendo os SIG,

bem mais complexos.

Isso porque, de maneira geral, os objetivos dos SIG são a elaborar mapas, armazenar,

modelar, buscar e analisar uma grande quantidade de dados, com intuito de conseguir com

uma recriação virtual, solucionar problemas reais. (ROSA, 1995; FITZ, 2008).

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No que diz respeito às funções dos SIG, segundo Santos (2007), pode-se resumir em quatro

principais, descritas a seguir:

1• Aquisição de dados: Os dados podem ser adquiridos por importação de dados já existentes

em outros formatos ou, confecção especifica para introdução no sistema por meio de técnicas

como o sensoriamento remoto, a restituição aerofotogramétrica, a digitalização de

levantamentos topográficos, a digitação de dados em tabela, etc. No entanto, é preciso

cuidado, é necessário obedecer a uma série de condições em relação à estrutura dos dados

para que esses possam ser usados. Assim, faz-se necessário que esses dados sejam analisados

e possíveis incoerências e imperfeições sejam corrigidas.

2 • Gerenciamento de banco de dados: diz respeito ao armazenamento dos dados de forma

estruturada, com o objetivo de possibilitar e facilitar a realização de análises. A maneira como

os dados são estruturados é essencial para o sistema, uma vez que os tipos de análises que

poderão ser efetuadas dependerão da maneira como os dados estão estruturados. É sempre

possível associar novas informações de diferentes fontes aos mapas armazenados no SIG. Isso

permite que haja a incorporação de diferentes trabalhos de diferentes órgãos e instituições. O

SIG permite combinar vários tipos de informações, como, por exemplo, dados coletados em

campo por GPS ou por topografia convencional, tabelas, mapas, imagens, etc.

3 • Visualização e apresentação cartográfica: É preciso que um SIG seja bastante ágil para

conseguir utilizar as diversas camadas de dados e exibir este resultado através de mapas de

síntese com boa qualidade gráfica. Os mapas anteriormente feitos a mão, passam a ser agora

um produto de todas as operações desenvolvidas dentro do SIG, sendo possível haver

constantes atualizações.

4 • Consulta e análise: Essas podem ser consideradas as principais funções de um SIG

principalmente a função de análise uma vez que é essa função que torna possível operações de

extração e geração de novas informações sobre o espaço geográfico utilizando-se critérios

especificados pelo próprio usuário. As operações mais comuns são a pesquisa de dados, a

busca de informações de acordo com algum critério de seleção e a análise espacial que

envolve modelagem e análise de padrões espaciais.

Na figura 1, é possível observar os caminhos percorridos pelo SIG e suas funções para

alcançar seus objetivos.

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Figura 1: Diagrama de contexto de um SIG (ROSA, 1995)

Esse foi apenas um resumo das funções que um SIG pode exercer, com o avanço tecnológico

e o desenvolvimento de novos softwares a tendência é que os SIG fiquem cada vez mais

robustos e sejam capazes de executar tarefas cada vez mais complexas.

2.4.1 Sistemas de Informação Geográfica (SIG) aplicados a saúde

No campo da saúde pública, as principais utilidades dos Sistemas de Informação geográfica

referem-se à descrição e análise espacial das doenças a partir de grandes bases de dados

georreferenciados sendo, também, de grande utilidade para avaliar a relação entre doença e

variáveis ambientais (MEDRONHO, 1995; SANTOS, 2006).

Utilizados de forma correta, os SIG podem auxiliar a avaliação detalhada da expressão

territorial de determinados agravos a saúde sendo capaz de estabelecer correlações espaço-

temporais de grande importância. A isso se une a capacidade dos SIG de trabalhar com dados

oriundos de fontes diversas, tornando-os uma única base dados.

Dessa forma, o uso dos SIG permitiu aos pesquisadores da área da saúde uma nova

abordagem para (re) trabalhar dados espaciais, permitindo a realização de tarefas que somente

o tratamento estatístico e os pacotes de mapeamento não permitiam, contribuindo, assim para

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uma melhor compreensão dos problemas de saúde atuais (MEDRONHO, 1995; SANTOS,

2006).

Por fim, resta deixar claro que a utilização dos SIG deve ser cautelosa uma vez que o uso da

ferramenta por si só nunca será capaz se inferir relações causais.

2.5 Bases de Dados Georreferenciados

O uso do geoprocessamento e dos SIG está associada a existência de uma base de dados

georreferenciados, ou seja, dados referenciados espacialmente. Por sua vez, uma base de

dados referenciada espacialmente, deve possuir dois tipos de informação essenciais; dados de

localização ou espaciais e dados descritivos. Os primeiros podem ser referenciados por

coordenadas de duas dimensões utilizando-se pontos, linhas e polígonos, já os dados

descritivos ou não-locacionais, referem-se aos atributos dos pontos, linhas e polígonos

(CÂMARA, 1995; ROSA, 1995; FITZ, 2008).

Além disso, ressalta-se que outro aspecto que deve ser considerado em relação aos dados que

serão modelados através da utilização das técnicas de geoprocessamento refere-se a sua

distribuição no espaço. A forma como determinado dado está distribuído no espaço ditará a

melhor maneira para se trabalhar com esse dado. Os tipos de classificação possíveis em

relação à distribuição espacial dos dados são: geo-campos e geo-objetos. Tratando-se

respectivamente de variáveis geográficas que apresentam comportamento contínuo no espaço

e variáveis geográficas discretas, ou seja, que possuem limite definido no espaço (CRUZ,

1994).

No ambiente dos SIG, a manipulação desses dados é feita a partir de um Sistema de

Gerenciamento de Banco de Dados (SGBD) e, é importante, que esse sistema de

gerenciamento torne possível o relacionamento entre os dados espaciais e os dados descritivos

(CÂMARA, 1995; ROSA, 1995).

2.5.1 Estrutura de Dados

Como já visto, dois tipos de dados são concebidos na estruturação de um banco de dados

georreferenciados. Sendo eles os dados espaciais e os dados descritivos.

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2.5.1.1 Estrutura de Dados Espaciais

Os dados espaciais são aqueles que descrevem atributos de um dado tais como sua posição e

suas relações de vizinhança. Constituem-se, principalmente, em imagens, mapas temáticos,

planos de informação, etc. (FITZ, 2008). Quanto a sua estrutura, dividem-se em vetorial e

matricial ou raster.

Uma estrutura de dados vetoriais é constituída por três principais primitivas gráficas; pontos,

linhas e polígonos, e são representados por um sistema de coordenadas. Os pontos são

definidos por uma única coordenada, já as linhas, constituídas por vários pontos que se

interligam, e os polígonos, que são áreas fechadas e compostas por linhas que começam e

terminam num mesmo ponto, são definidos por um conjunto de pares de coordenadas. É

importante ressaltar que a escala escolhida para a representação influenciará na caracterização

das entidades a serem representadas. Por exemplo, em uma escala pequena (1:1.000.000),

uma cidade inteira pode ser representada por um ponto, no entanto, em uma escala média

(1:250.000), essa cidade poderá ser representada por um polígono de acordo com sua feição

(CÂMARA, 1995; FITZ, 2008).

Para que haja o reconhecimento das feições representadas por pontos, linhas e polígonos pelo

SIG é necessária a existência de uma relação topológica. Nesse contexto, conceitua-se

topologia como um procedimento matemático capaz de definir relações espaciais, tais como

conectividade, adjacência e contiguidade (MEDRONHO, 1995).

Dados obtidos pelo uso do GPS (Global Position System – Sistema de Posicionamento

Global) e por aerofotogrametria são exemplos de uso dessa estrutura.

A Figura 2 mostra a aparência dos dados no “mundo real” e através da estrutura de dados

vetorial.

Figura 2: Estrutura de Dados Vetorial

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As principais vantagens do armazenamento em estrutura vetorial relacionam-se a sua estrutura

compacta, a eficiência na análise de relacionamentos espaciais, a suas feições precisamente

representadas por pontos, linhas, a maior rapidez no cálculo de distâncias, áreas, etc. No

entanto, pode-se citar a complexidade da execução de operações entre camadas (layers) de

mesma área e atributos distintos, demora na entrada de conjuntos numerosos de feições e a

necessidade da utilização de programas caros e complexos como desvantagens no uso desse

tipo de armazenamento (MEDRONHO, 1995; FITZ, 2008).

Em uma estrutura de dados matricial, os dados são representados por uma matriz com n linhas

e m colunas (m, n), na qual, cada célula ou pixel está numa posição (m x n) na matriz e poderá

estar associada a um atributo ou dado descritivo. A resolução da estrutura raster está

associada ao tamanho da célula de forma que quanto menor a célula melhor a resolução ou

qualidade da imagem. Produtos do sensoriamento remoto e mapas digitalizados são exemplos

de utilização dessa estrutura (CÂMARA, 1995; FITZ, 2008). A Figura 3 mostra a aparência

dos dados no “mundo real” e através da estrutura de dados matricial.

Figura 3: Estrutura de Dados Matricial

As principais vantagens desse tipo de estrutura são a facilidade de manipulação de

relacionamentos de vizinhança e conexão, facilidade, rapidez na execução de operações entre

camadas (layers) de mesma área e atributos distintos, possibilidade do uso de programas mais

baratos e simples, etc. Entre as desvantagens estão a dificuldade para associação com

atributos alfanuméricos, a geração de grande volume de dados o que requer grande uso de

memória e, também, a dificuldade de representação de relacionamentos topológicos

(MEDRONHO, 1995; FITZ, 2008).

Ressalta-se que é possível a vetorização dos dados de estrutura matricial, ou seja, a

transformação de um dado em forma raster para um dado vetorial. Essa transformação só

depende da qualidade do dado raster e da maneira como será feita essa transformação. Nesse

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sentido, pode ser realizada de três maneiras: manual, semi-automática e automática (FITZ,

2008). (Figura 4).

Figura 4: Estrutura Vetorial x Estrutura Matricial

2.5.1.2 Estrutura de Dados Descritivos

Os Bancos de Dados Descritivos são formados por dados alfanuméricos. Esses por sua vez,

segundo Fitz (2008), podem ser descritos como dados constituídos por caracteres (letras,

números, sinais gráficos, etc.), sendo geralmente armazenados na forma de tabelas. A função

desses dados é fornecer uma informação descritiva, qualitativa e/ou quantitativa, a respeito

dos dados espaciais, ou seja, a estrutura espacial do sistema. Assim, cada dado alfanumérico

no SIG está associado a uma entidade gráfica que, por sua vez, está vinculada a um sistema de

coordenadas. No que se refere a sua inserção no sistema, podem ser importados de outros

softwares ou ainda criados no próprio software que está sendo utilizado (CÂMARA, 1995;

ROSA, 1995).

Como dito, os bancos de dados descritivos armazenam os atributos das feições podendo, esses

atributos, serem classificados em nominais ou escalares. Como exemplos pode-se citar o tipo

de solo, floresta, etc. e altitudes, profundidades, índices, etc. respectivamente (FITZ, 2008).

É importante que o Banco de Dados reflita os objetivos pretendidos pelo usuário, mas

também, um banco de dados bem feito, poderá ter suas informações aproveitadas para outras

análises que se fizerem necessárias.

No mais, os Bancos de Dados podem estar vinculados aos dois tipos de estrutura espacial

(vetorial e matricial), no entanto, é preferível a utilização da estrutura vetorial para a conexão

dos dados (FITZ, 2008).

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2.5.1.3 Georreferenciamento de dados espaciais

O georreferenciamento, definido como o processo de associação de um endereço a um mapa

terrestre, pode ser realizado de três formas básicas: associação a um ponto, a uma linha ou a

uma área é, na área da saúde, uma ferramenta importante para a análise e avaliação de riscos à

saúde da população, principalmente nas questões relacionadas com o meio ambiente e com o

perfil socioeconômico da população (SKABA et al, 2004).

Para que o georreferenciamento de um evento seja realizado, é necessário que se tenha

disponível a localização geográfica dos eventos, associada as informações gráficas (mapas) a

bases de dados de saúde, alfanuméricas (FITZ, 2008).

2.6 Sensoriamento remoto

A história do sensoriamento remoto remete a invenção da fotografia ainda na primeira metade

do século XIX. Sua finalidade inicial estava associada, ao reconhecimento de terreno por

meio de fotografias aéreas, utilizadas já durante a Guerra Civil Americana (FLORENZANO,

2002). Quase um século depois, esse tipo de fotografia passou a oferecer extrema precisão

geométrica. Com isso, passou a ser a principal fonte de dados utilizada pela cartografia de

base nos mapas oficiais, sendo, até hoje, as fotografias aéreas, insubstituíveis, para

mapeamentos de grande escala, com destaque para os mapeamentos cadastrais (LILLESAND;

KIEFER, 2000; FLORENZANO, 2002).

Até as décadas de 1970 e 1980, as aplicações do sensoriamento remoto estavam restritas as

escalas médias e pequenas, em torno de 1:50.000 a 1:1.000.000, por conta da limitação em

relação a resolução dos sensores utilizados até então. No entanto, a partir de meados da

década de 1990, com a entrada de novos sensores com resoluções melhores, imagens mais

precisas e detalhadas são geradas. Assim, torna-se possível a obtenção de mapas com escalas

maiores, entre 1:10.000 e 1:25.000, aumentando significativamente, o campo de atuação do

sensoriamento remoto, uma vez análises mais detalhadas passam a ser possíveis

(FLORENZANO, 2002). Por isso, considera-se o sensoriamento remoto uma das

geotecnologias que mais cresce atualmente.

No que se refere à conceituação, o termo sensoriamento refere-se, segundo Fitz (2008) as

técnicas de utilização de sensores para captar e registrar a distância, portanto, sem que haja

contato direto entre as superfícies, da energia refletida ou absorvida pela superfície terrestre.

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Já Câmara et al. (2009), conceitua sensoriamento remoto como um conjunto de processos e

técnicas utilizados para medir propriedades eletromagnéticas de uma superfície ou objeto,

sem que haja contato entre o objeto e o equipamento sensor. Existem, também, autores como

Lillesand & Kiefer (2000), que acreditam ser o sensoriamento remoto mais do que uma

técnica. Segundo esses autores, o sensoriamento remoto seria uma ciência e seu objetivo

estaria na obtenção de informações sobre um objeto, área ou fenômeno através da análise dos

dados adquiridos pelos sensores, sem que haja contato entre eles.

Observa-se que todas as definições referem-se ao termo sensores. Nesse contexto, os sensores

podem ser entendidos como dispositivos que possuem a capacidade de captar a energia

refletida ou emitida por uma superfície qualquer e registrá-la em forma de dados digitais,

como imagens, gráficos, dados numéricos, etc. (CÂMARA et al, 2009). Dessa forma, fica

clara, a distinção, entre os termos sensoriamento remoto e imagens de satélite, às vezes

confundidos como sinônimos. O sensoriamento remoto abrange mais do que somente

imagens, podendo, seus dados resultantes, estarem sob a forma numérica, gráfica, etc. (FITZ,

2008, CÂMARA et al, 2009).Esses dados, são, atualmente, uma das principais fornecedores

de dados para os estudos espaciais. Os SIG, em sua maioria, já possuem, inclusive, pacotes

para o tratamento e manipulação desses dados (FITZ, 2008, CÂMARA et al, 2009).

Em relação à energia que será utilizada, tratando-se de sensoriamento remoto, a mais comum

é a radiação eletromagnética. Assim, é impossível falar sobre sensoriamento remoto sem fazer

referência ao espectro e radiação eletromagnética e a interação que há entre eles e a superfície

do objeto que será analisado. O espectro eletromagnético pode ser definido como o

agrupamento, de um continuum de comprimentos de onda, que segue determinados intervalos

com determinadas características e que recebem denominações distintas. Ressalta-se que o

comprimento dessas ondas pode variar entre nanômetro até quilômetros, sendo, portanto, bem

variável (CÂMARA et al, 2009). A figura 5 ilustra o espectro magnético mostrando as ondas

mais conhecidas e utilizadas.

Figura 5: Espectro eletromagnético (http://fisicasemmisterios.webnode.com.br)

Destaca-se, também, que a força do sinal que será registrado depende não somente das

propriedades dos alvos da superfície e da configuração do sensor usado como também do

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nível atmosférico em que foi realizada a aquisição, estando esse nível intimamente ligado a

altitude do sensor em relação à superfície que será imageada. No mais, visto que o sensor está

separado do alvo pela atmosfera, essa também poderá intervir na qualidade do produto gerado

(MORAES NOVO, 1992).

Ainda em relação aos sensores, esses podem ser classificados segundo diferentes critérios. No

que diz respeito à origem da fonte de energia, podem ser ativos ou passivos. Os sensores

ativos são aqueles que possuem fonte de energia própria, ou seja, são capazes de emitir

quantidade suficiente de energia na direção dos alvos de forma a captar sua reflexão. Já os

sensores passivos não possuem fonte de energia própria precisando, portanto, de fontes

externas, como por exemplo, a energia solar, para captar a reflexão se seus alvos

(FLORENZANO, 2002; FITZ, 2008, CÂMARA et al, 2009). Outro critério que pode ser

considerado para classificação dos sensores diz respeito ao produto gerado pelos sensores.

Nesse contexto, podem ser classificados como imageadores ou não-imageadores. Os sensores

que transformam a informação coletada na forma de imagens, semelhantes a uma fotografia,

são os chamados imageadores. Ao contrário, aqueles que transformam as informações

coletadas em forma de gráficos, dados numéricos, etc. são os não-imageadores

(FLORENZANO, 2002; FITZ, 2008, CÂMARA et al, 2009).

No mais, esses sensores podem ser transportados por satélites, sendo esses, também, divididos

em grupos classificatórios segundo seus tipos e objetivos. No caso do sensoriamento remoto,

os mais importantes são os satélites meteorológicos e os satélites de recursos terrestres

(MORAES NOVO, 1992). Ressalta-se que, atualmente, a tendência é que os satélites

transportem inúmeros sensores com características e objetivos distintos o que pode

impossibilitar classificações muito restritivas em relação aos satélites. Ou ainda, os sensores

podem ser transportados por aeronaves. Nesse caso, a altitude do vôo será determinada tanto

pelas características do avião como pela distância focal da câmera e da escala desejada para a

imagem a ser gerada (FITZ, 2008).

Para concluir, é importante lembrar que, apesar da melhoria na qualidade dos dados gerados

pelo sensoriamento remoto, ainda há a necessidade do trabalho de campo para estudos mais

detalhados visto que, ainda existem restrições quanto aos produtos gerados.

2.7 Cartografia

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As bases cartográficas são de vital importância para se trabalhar com geotecnologias, sendo a

principal ferramenta de auxilio a visualização gráfica e representação de informações

(MENEZES et al, 1996; MENEZES; CRUZ, 2011). Assim, é imprescindível que se faça um

breve resumo sobre a cartografia e que se tenha conhecimento de algumas regras que devem

ser seguidas para que a representação cartográfica seja considerada confiável e, portanto, não

haja risco de se perder todo um trabalho por uso inadequado das bases cartográficas.

A cartografia, tida como hoje como ciência cartográfica era, no entanto, até o século XIX tida

como parte integrante da ciência geográfica (MENEZES et al, 1996; MENEZES; CRUZ,

2011). Segundo Clarke (1995), a cartografia é uma disciplina tão antiga quanto a humanidade

e tão nova quanto um jornal do dia de hoje Isso porque, os mapas, instrumento básico da

cartografia, figuram entre as primeiras formas de comunicação humana e ao mesmo tempo,

tem sido transformados continuamente por meio das inovações tecnológicas (CLARKE,

1995; KRAAK; ORMELING, 1996; MENEZES et al, 1996). Com isso, assim como na

maioria das ciências, as definições acerca da cartografia foram se modificando, adequando-se

as mudanças proporcionadas pelas inovações ao longo do tempo.

A Associação Internacional de Cartografia (ICA – International Cartography Association)

define cartografia como a arte, ciência e tecnologia de construção de mapas, conjuntamente ao

seu estudo como documentos científicos e trabalhos de arte. Nesse contexto, os mapas dizem

respeito a todos os tipos de mapas, plantas, cartas e seções, modelos tridimensionais e globos

representando a Terra ou qualquer outro corpo celeste em qualquer escala.

Atualmente, a evolução tecnológica levou a cartografia para o mundo digital por meio da

utilização dos computadores (softwares e hardwares) para a criação de mapas, cartas, plantas,

etc. No entanto, os elementos básicos da cartografia não mudaram somente a forma de

trabalhá-los que sofreu mudanças. A principal delas relaciona-se a forma de visualização,

antes basicamente restrita ao papel, agora a visualização se apresenta nas mais diversas

mídias, sendo capaz de atingir um público cada vez maior por meio da internet (CLARKE,

1995; KRAAK; ORMELING, 1996).

2.7.1 Cartografia Digital

Como dito anteriormente, a ciência cartográfica tem acompanhado as evoluções tecnológicas

e, por conta disso, a maneira tradicional de se fazer cartográfica sofreu alterações,

principalmente a partir da década de 1960 (CLARKE, 1995).

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Durante essa evolução, dois períodos foram marcantes no que concerne a situação atual. O

primeiro refere-se ao aumento da precisão cartográfica graças ao desenvolvimento da aviação

e a utilização de fotografias aéreas no auxilio da elaboração de mapas. O segundo acontece

em meio ao avanço da informática. A partir daí, há, não somente, um significativo aumento da

precisão com a utilização do GPS (Global Position System - Sistema de Posicionamento

Global), como também melhora na qualidade de visualização e na velocidade de construção

(CLARKE, 1995; MENEZES; CRUZ, 2011).

Nesse contexto, define-se a cartografia digital como a tecnologia destinada à captação,

organização e desenho de mapas com auxilio do computador (softwares e harwares como, por

exemplo, o microstation, o maxicad, o AutoCAD, etc.) (CLARKE, 1995).

Como mencionado anteriormente, os principais conceitos da cartografia analógica não

sofreram mudanças no equivalente digital, estando as mudanças restritas a forma e

metodologia. Nesse sentido, não se deve esquecer a importância do conhecimento das bases

da ciência cartográfica na hora de elaborar um mapa digital, em especial a escala. Isso porque,

a escala define mais do que a proporção de redução, define também o detalhamento com que

será feita a representação e assim, a forma, como serão representados, os elementos que

compões a representação. E, como no meio digital a escala tem caráter dinâmico, isso pode

provocar confusões perigosas capazes de modificar o produto final de um trabalho. Outras

considerações referem-se à falta de informações como o sistema de projeção utilizado, Datum

Horizontal, ano do levantamento etc. nos mapas digitais. São informações essenciais e

encontradas normalmente na cartografia analógica, mas ainda não completamente difundidos

na cartografia digital (CLARKE, 1995; FITZ, 2008).

No mais, é importante destacar que em sua fase atual, a cartografia tem buscado também

ampliar a disponibilidade de dados anteriormente restritos. No entanto, cabe ressaltar que ao

mesmo tempo ser essa ampliação bastante positiva no sentido de uma maior disponibilidade

de bases cartográficas, é também, perigosa, pois, a confiabilidade dessas bases nem sempre é

garantida. Nesse contexto, como já dito anteriormente, é importante que se tenha

conhecimento acerca dos sistemas geodésicos de referência, dos sistemas de coordenadas, dos

sistemas de projeção e da escolha adequada da escala de trabalho para a produção de bases

cartográficas de confiança (FITZ, 2008).

2.7.2 Cartografia Temática

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Os produtos cartográficos tais como mapas, cartas, plantas, etc. podem ser classificados de

acordo com o propósito para que são criados. Assim, podem ser divididos em: gerais, como

por exemplo, mapas topográficos, cadastrais e geográficos, temáticos, como por exemplo,

mapas de vegetação, unidades de relevo, características socioeconômicas, etc., especiais,

como por exemplo, as cartas náuticas e aeronáuticas (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO

E ORÇAMENTO, 1998)

No que concerne ao geoprocessamento, os mais importantes referem-se aos classificados

como temáticos, uma vez que ainda que se utilizem mapas gerais para condução do trabalho,

no final, o produto certamente será um mapa temático (FITZ, 2008). Isso porque, o produto da

cartografia temática são as cartas, mapas ou plantas em qualquer escala, destinadas a um

conhecimento particular específico. Dessa forma, sendo o produto do geoprocessamento um

mapa, carta ou planta destinado a um fim específico, esse será considerado temático (FITZ,

2008).

O objetivo da cartografia temática é expressar da melhor maneira possível os fatos e

fenômenos relacionados ao tema estudado. Desse modo, a ciência referente ao tema cabe o

conhecimento dos fatos e fenômenos enquanto que à cartografia temática cabe demonstrá-los

graficamente, atuando dessa forma como meio auxiliar dessa ciência (MINISTÉRIO DO

PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO, 1998).

Por fim, é possível dividir os produtos da cartografia temática em três classes: - Denotação,

estatística e síntese. O primeiro grupo expressa os fenômenos de acordo com sua distribuição

espacial e os mostra sob a forma de cores e sinais gráficos. Como exemplo pode-se citar os

mapas geológicos, pedológicos, de uso da terra, etc.. No segundo, os elementos primários do

tema a ser representado originam-se de técnicas estatísticas. São exemplos os mapas de

densidade, os de distribuição por pontos, os de fluxo, os pluviométricos, etc.. Por fim, o

último grupo registra o conjunto dos elementos de diferentes fatos ou fenômenos. Possuem

finalidade explicativa, sendo exemplos, os mapas econômicos complexos, os de áreas

homogêneas, os morfoestruturais, os geomorfológicos, os históricos etc. (MINISTÉRIO DO

PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO, 1998).

2.8 Análise Espacial

O conhecimento do espaço assim como a compreensão da distribuição espacial dos

fenômenos sempre tem sido, cada vez mais, de interesse da humanidade. No entanto, pode-se

dizer que, nas últimas décadas, grandes avanços têm sido realizados nessa área. Isso se deve,

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sobretudo, aos avanços alcançados com a informática e, mais especificamente, nos Sistemas

de Informação Geográfica (CÂMARA, CARVALHO, 2004).

Uma das mais importantes características dos Sistemas de Informação Geográfica refere-se a

sua capacidade de efetuar funções de análise espacial. O objetivo principal das técnicas de

análise espacial é por meio de uma base de dados espaciais e atributos armazenados no banco

de dados, incorporar o espaço a análise que se deseja fazer de forma a ser possível observar a

distribuição do fenômeno em estudo no espaço, identificar observações atípicas (outliers),

tanto no que concerne a distribuição como em sua relação de vizinhança, e, também, buscar

padrões de distribuição (CÂMARA, CARVALHO, 2004; MEDRONHO et al, 2006).

Nesse sentido, diferentes métodos podem ser utilizados para a execução da análise espacial,

podendo, esses métodos, dividirem-se em três grupos de acordo com seu objetivo principal.

Assim, pode-se falar no grupo de métodos de visualização, onde o objetivo primordial é o

mapeamento dos fenômenos, no entanto, podendo variar desde mapas simples, de distribuição

pontual até mapas mais complexos envolvendo outras variáveis mais. Tem-se também o

grupo da análise exploratória de dados que consiste, basicamente, me técnicas de sumarização

e descrição de padrões de distribuição e por fim o grupo referente às modelagens, esse

agregando as análises que pretendem relacionar fenômenos ou testar hipóteses (GATRELL,

BAILEY, 1996).

No que se refere aos tipos de dados em análise espacial, pode-se, também, dividi-los em três

grupos: geoestatísticos (esses se subdividem em contínuos ou discretos), dados em treliça e

dados de padrões pontuais. Os primeiros referem-se a dados que apesar de poderem ser

mensurados em qualquer lugar do espaço são amostrados em locais específicos, são

exemplos, concentração de poluentes atmosféricos medidos em estações de monitoramento

(contínuo) e número de algas em diferentes locais ao longo da costa (discreto). Já os dados em

treliça são estimados a partir de um conjunto de amostras que podem estar regular ou

irregularmente distribuídas no espaço. Nesse caso, os dados não são amostrados em qualquer

lugar do espaço, mas são agregados visando fins estatísticos ou administrativos. Como

exemplo pode-se citar o número de casos de uma doença por setor censitário. Por fim, o

grupo dos dados de padrões pontuais engloba os dados em que a localização do evento por si

só é a variável de interesse do estudo. A localização exata da ocorrência de um determinado

tipo de crime em uma cidade é um exemplo desse tipo de dado (CÂMARA, CARVALHO,

2004; MEDRONHO et al, 2006).

Nesse contexto, ressalta-se que os métodos de análise de dados espaciais foram

especificamente desenvolvidos para certo tipo de dado. No entanto, pode haver intercâmbio,

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de modo a métodos referentes a uma categoria de dados serem utilizados para analisar dados

de outra categoria (MEDRONHO et al, 2006). Desse modo, pode-se afirmar que não existe a

escolha certa de um modelo a se adotar, é importante que o pesquisador, consciente e

conhecedor das possibilidades, avalie a situação de forma a encontrar a melhor maneira de

prosseguir com a análise.

No mais, cabe fazer referência a alguns conceitos básicos em análise espacial a fim de fazer

alguns esclarecimentos. Primeiramente, deve-se falar em dependência espacial. Esse conceito

é de suma importância para o entendimento e análise dos fenômenos espaciais e é baseado no

princípio de proximidade e vizinhança. Dessa forma, é preciso ter cuidado uma vez que

algumas técnicas estatísticas assumem que os fenômenos são independentes, o que pode

comprometer o resultado final. Além, o conceito de autocorrelação espacial é também

importante e diz respeito à correlação do evento com sua localização no espaço. Com isso,

torna-se necessário que se faça a verificação da dependência espacial do fenômeno a fim de

evitar inferências falsas (CÂMARA, CARVALHO, 2004).

2.8.1 Análise Espacial em Saúde

A epidemiologia é tida como a ciência os determinantes e condições de ocorrência das

doenças e agravos a saúde nas populações humanas. Assim, para os epidemiologistas, a

ocorrência das doenças não é por mero acaso, mas está vinculada a uma gama de outros

eventos que podem ser estudados e analisados (MEDRONHO et al, 2006). Com isso, sempre

foi de interesse da epidemiologia identificar a analisar a ocorrência espacial das doenças, no

entanto, somente há algumas décadas, em virtude, sobretudo, do desenvolvimento das

técnicas de geoprocessamento, mas também devido a avanços metodológicos no campo da

estatística, essa prática tornou-se mais comum, rápida e eficaz (CARVALHO, SANTOS,

2005; MEDRONHO et al, 2006).

Dessa forma, analise espacial em saúde corresponde à utilização de métodos estatísticos na

busca por padrões de distribuição espacial e/ou temporal de morbidades ou mortalidades e

fatores associados, descrição de processos de propagação de doenças, análise de situação de

serviços de saúde, etc. (CARVALHO, SANTOS, 2005; MEDRONHO et al, 2006).

2.9 A Geografia e a Epidemiologia

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Como visto, a geografia possui múltiplas definições, e entre elas está a noção de a geografia

caberia estudar as relações entre o homem e o meio. Foi visto também que, desde a

antiguidade clássica, muitos pensadores já trabalhavam com a idéia de geografia, sendo essa,

no entanto, nem sempre próxima a geografia científica que conhecemos hoje. Entretanto, se

tomarmos estas obras como geográficas, então poderíamos definir Dos ares, dos mares e dos

lugares, de Hipócrates, como a primeira obra conhecida a tratar de geografia médica visto

que, nessa obra, Hipócrates já salientava a relação entre os fatores ambientais e o

aparecimento das doenças (FERREIRA, 1991). No entanto, uma vez que não podemos

associar a geografia daquela época ao que entendemos hoje como a ciência geográfica, essa

relação seria no mínimo imprecisa (FERREIRA, 1991).

Os primeiros contatos entre a geografia científica e a epidemiologia, acontecem numa época

em que ambas ainda encontravam-se sob a influência predominante da tradição positivista do

século XIX. Com isso, os primeiros trabalhos sistemáticos abrangendo a chamada geografia

médica descreviam detalhadamente a distribuição regional das doenças, por meio de

ferramentas cartográficas. Trabalhavam assim, dentro da perspectiva da Geografia Regional

de Vidal de La Blache (MORAES, 1983; FERREIRA, 1991) e ocupavam-se em estudar

padrões de distribuição regional das doenças. Nesse sentido, A obra Introdução à geografia

médica do Brasil ilustra bem esta tendência (LACAZ, 1972). Os atlas de geografia médica da

segunda metade do século XIX, que tinham como objetivo a orientação de obras de

saneamento ambiental e, principalmente, fundamentavam medidas preventivas a serem

tomadas no insalubre mundo tropical também são resultantes desse primeiro período

(FERREIRA, 1991; SANTOS et al, 2010).

Assim, percebemos que, os primeiros contatos entre a geografia e a epidemiologia não foram

capazes de desenvolver conceitos que articulassem essas duas ciências e caracteriza-se uma

relação interdisciplinar. Seus resultados se limitaram ao intercâmbio metodológico

(FERREIRA, 1991; SANTOS et al, 2010).

Nesse sentido, sabendo que o processo saúde-doença possui estreita relação com os fatores

sócio-ambientais, conhecer as características dos locais onde determinadas doenças ocorrem é

primordial para a pesquisa epidemiológica. Pode-se dizer então, que a geografia é importante

no processo saúde-doença, uma vez que ela colabora para a compreensão da distribuição

espacial das doenças e dos fatores que influenciam para tal. Assim, o conhecimento da

distribuição espacial e temporal da incidência das doenças e sua relação com os fatores sócio-

ambientais locais é importante para o planejamento de ações preventivas e de controle.

Verifica-se que a importância da ciência geográfica encontra-se no fato de ser essa uma

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disciplina que torna possível a avaliação da ação humana na formação e na dinâmica das

doenças, visto que o estudo geográfico das doenças irá se desenvolver com base na teoria

ecológica das enfermidades, na qual é fundamental a idéia de interação entre “agentes” e

“hospedeiros”, que ocorre em um dado espaço constituído de elementos físicos, biológicos e

sociais (CASTRO, 2001).

Sendo a epidemiologia a ciência voltada aos estudos dos determinantes e condições de

ocorrência das doenças e dos agravos a saúde, em populações humanas. Para os

epidemiologistas as doenças e agravos à saúde, não são eventos que ocorrem ao acaso, são

eventos relacionados a uma rede de outros eventos que podem ser identificados e estudados

(MEDRONHO, 2006). Temos então a chamada geografia médica que pode ser definida como

a disciplina que estuda a geografia das doenças, isto é, a patologia à luz dos conhecimentos

geográficos. Sendo, também, conhecida como Patologia Geográfica, Geopatologia ou

Medicina Geográfica, ela se constitui em um ramo da Geografia humana (Antropogeografia)

ou, ainda, da Biogeografia (LACAZ, 1972). Portanto, a geografia médica engloba o estudo

das variações geográficas na distribuição espacial das doenças e, também, no fornecimento de

cuidados à saúde (MEDRONHO, 1995).

A geografia foi responsável por emergir diferentes formas para se entender as problemáticas

de saúde. Dentre suas principais contribuições nesse sentido estão a do geógrafo Max Sorre

(SORRE, 1951) que se apoiou na sua Teoria dos Complexos Patogênicos na metade do século

XX e influenciado pela literatura médica, produzida no século XIX, foi quem estabeleceu as

bases para a Geografia Médica moderna. E as do parasitologista Pavlovsky. O primeiro, como

dito, definiu a Teoria dos Complexos Patogênicos, segundo a qual, na complexidade das

relações em que estão interessados,

ao mesmo tempo, o biólogo e o médico, procura-se uma noção sintética capaz, de orientar as

pesquisas do geógrafo. A interdependência dos organismos postos em

jogo na produção de uma mesma doença infecciosa permite inferir uma unidade biológica de

ordem superior: o complexo patogênico (SORRE, 1951). Já Pavlovky concebeu a teoria dos

focos naturais das doenças humanas, que durante mais de três décadas orientou as

investigações a cerca do impacto epidemiológico decorrente da ocupação pelo homem de

extensas porções da terra. Pavlovsky recolheu elementos de abordagens ecológicas da

epidemiologia, No entanto, seu diferencial se deu, especialmente, na divulgação de um

conjunto coerente de idéias aplicáveis a estudos de campo. Sua concepção de nicho ecológico

foi muito divulgada no Brasil (FERREIRA, 1991).

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Apesar da clara importância assumida pela abordagem geográfica nos estudos relativos ao

processo saúde-doença, a partir das últimas décadas do século XIX, a Geografia Médica

sofreu um declínio. Isso ocorreu em conseqüência das pesquisas de Louis Pasteur sobre a

etiologia das moléstias infecciosas, atribuindo às doenças exclusivamente à penetração e

multiplicação de uma bactéria e nada mais do que isto. Deixou-se de lado o conjunto das

causas que atuam sobre o ser humano sadio e enfermo, bem como o meio ambiente deixou de

apresentar tanta importância no processo saúde-doença. A tradição da escola hipocrática foi

renunciada, e à influência do meio físico sobre o ser humano e sobre as doenças que o afligem

foi colocada em segundo plano, sendo considerada apenas como mais um simples capítulo da

história da medicina (PESSÔA, 1960).

Foi esse período, conhecido como era bacteriológica ou pasteuriana, que marcou o apogeu da

teoria da unicausalidade. Essa teoria reconhece uma origem única e fundamental, que é

sempre colocada fora do organismo doente, como fator para a produção do efeito doença

(BARROS, 2006).

Foi somente entre as décadas de 1930 e 1950 que a teoria unicausal entrou em crise e o

conceito de multicausalidade passou a predominar. Segundo essa teoria a doença é um

processo que ocorre por múltiplas causas, estando essas relacionadas aos agentes ou

determinantes de doenças de caráter físicos, químicos, biológicos, sociais, culturais,

ambientais, econômicos, psicológicos, cuja influência sobre um hospedeiro susceptível seja

capaz de instigar o início, ou perpetuar, um processo de doença, alterando assim a freqüência

com que uma determinada doença ocorre uma determinada população (COSTA; TEIXEIRA,

1999).

Como na teoria da multicausalidade, na Geografia Médica, o estudo do doente não pode se

realizar de forma isolada do ambiente onde esse indivíduo atua, onde se desenvolvem os

fenômenos associada com a comunidade a que ele pertence. No estudo de uma doença,

devemos considerar juntamente com o agente etiológico, o vetor, o reservatório e o indivíduo

susceptível, os fatores geográficos. Tanto aqueles de cunho físico (clima, relevo, solos,

hidrografia, etc.) como aqueles de cunho humano ou social (distribuição e densidade da

população, padrão de vida, costumes religiosos e superstições, meios de comunicação, etc.) e,

também os de cunho biológico, (vidas vegetal e animal, parasitismo humano e animal,

doenças predominantes, grupo sangüíneo da população, etc.) (LACAZ, 1972).

Atualmente, sabe-se que para um melhor entendimento do processo saúde-doença em

qualquer comunidade, é necessário entender o ser humano no seu espaço físico, biológico,

social e econômico, sendo esses considerados fatores determinantes e condicionantes deste

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processo. Assim, o agente infeccioso é, na verdade, apenas uma das causas para a ocorrência

das doenças.

Com isso, nos últimos anos, a geografia médica tem ganhado destaque no cenário global,

principalmente devido à crescente preocupação com a prevenção das doenças e à, cada vez

mais clara, relação entre os fatores sócio-ambientais e o processo saúde-doença. Questões

emergentes como o aquecimento global e a urbanização têm colaborado para esse cenário.

A Geografia Médica pode, então, ser considerada como de necessidade básica em um país

como o Brasil, com grandes contrastes socioeconômicos, culturais e com carência de

informações para tomada de decisões sobre problemas urbanos, rurais e ambientais. Isso

inclui questões relacionadas com a saúde da população.

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3 Dengue

O vírus causador da dengue pertence à família dos Flavivitidaes, gênero Flavivirus e possui

quatro sorotipos distintos (DEN 1, DEN 2, DEN 3 e DEN 4). A infecção por esse vírus pode

se manifestar de diferentes formas, desde a assintomática, passando pela forma clássica

(caracterizada por febre, dor de cabeça, dor retro orbital e mialgia), até as formas mais graves

como febre hemorrágica de dengue (FHD) e síndrome de choque por dengue (SCD)

(NOGUEIRA et al, 1999; MIAGOSTOVICH et al, 2002). Seu principal vetor de transmissão

é o mosquito Aedes aegypti (TAUIL, 2002).

Após a infecção por um dos sorotipos desse vírus, o indivíduo adquire imunidade permanente

para esse mesmo sorotipo e imunidade temporária para os outros três, ficando vulnerável a

infecções seqüenciais. Evidências apontam que as infecções seqüenciais aumentam o risco de

se desenvolver as formas mais graves da doença, mas outros fatores como virulência da cepa,

comorbidades, estado nutricional, bem como fatores genéticos, etc., também são apontados

como relacionados à ocorrência das manifestações hemorrágicas da dengue (TAUIL, 2002;

BARRETO; TEIXEIRA, 2008; TEIXEIRA et al, 2009).

A dengue é considerada uma doença de países tropicais e subtropicais, ocorrendo

majoritariamente na faixa que se estende ente o Equador 35º S e 35º N, como pode ser

observado na Figura 6 (MIAGOSTOVICH et al, 2002; BARRETO; TEIXEIRA, 2008). A

temperatura e a umidade desses locais favorecem a proliferação do vetor Aedes aegypti

(TAUIL, 2002). No entanto, a capacidade de adaptação dessa espécie está se ampliando, e

locais onde antes esse mosquito não era encontrado já identificam sua presença. Outra

característica importante dessa espécie é sua predileção por ambientes domésticos.

Figura 6: Países sob o risco de dengue em 2008

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A urbanização desordenada também tem contribuído para o aumento da proliferação do Aedes

aegypti. O vetor transmissor da dengue costuma depositar seus ovos em reservatórios

artificiais, de grande ou pequeno porte, que contenham água limpa, com pouca matéria

orgânica e sais (MAZINE et al,1996 ; BARATA et al, 2001), no entanto, larvas já foram

encontradas também em água poluída (TAUIL, 2002). Garrafas, pneus, vasos de planta,

caixas d’agua, latinhas, etc. podem se tornar ambientes propícios para a procriação do Aedes

aegypti. Dessa forma, o saneamento precário, a coleta de lixo falha e até mesmo inexistente, o

não acesso a água encanada, etc. características da urbanização desordenada, favorecem a

formação de ambientes propícios para a reprodução do mosquito (MAZINE et al, 1996).

Além disso, o crescimento urbano propicia o aumento do número de pessoas susceptíveis

concentradas em uma área restrita (COSTA; NATAL, 1998), facilitando assim a

disseminação das epidemias.

A junção da inexistência de uma vacina eficaz e segura, da força de morbidade que o vírus

apresenta e da dificuldade no combate ao Aedes aegypti, tornam a prevenção e o controle da

doença uma tarefa árdua. Por isso a importância de estudos que busquem entender a dinâmica

espacial das epidemias, e, assim, colaborem para a elaboração de programas de prevenção e

controle mais eficazes.

3.1 Dengue no mundo

Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), nos dias de hoje, a mais importante

doença de transmissão vetorial provocada por um vírus no mundo, a dengue, nos últimos 50

anos teve sua incidência aumentada.

Atualmente, cerca de 2,5 bilhões de pessoas vivem em mais de 100 países onde a dengue é

considerada endêmica. Com mais de 50 milhões infecções por ano, 500.000 casos de dengue

hemorrágica e 22.000 óbitos (OMS, 2009), a dengue é considerada um problema de saúde

pública em escala global.

Até meados da década de 1990, o Sudeste Asiático era a região do globo mais afetada por

essa doença. Desde então, a incidência têm crescido acentuadamente nos países das Américas

Central e Sul. Tendo essas últimas, sido responsáveis por mais da metade dos casos

notificados de dengue em todo o mundo (TEIXEIRA et al, 2009).

Algumas diferenças entre a epidemiologia da dengue no Sudeste Asiático e nas Américas

Central e Sul podem ser apontadas. Entre elas uma menor proporção de casos de FHD e SCD

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nas Américas em comparação ao Sudeste Asiático. Outra diferença está na faixa etária

atingida, no Sudeste Asiático a incidência de dengue e de suas formas mais graves é mais

elevada em crianças, já nas Américas a incidência concentra-se nas faixas etárias mais

elevadas (TEIXEIRA et al, 2009). Entretanto, nos últimos processos epidêmicos no Brasil,

tem-se observado um deslocamento da FHD e SCD para as faizas etárias mais jovens.

3.2 Dengue no Brasil

Nativo da África, o Aedes aegypti foi, provavelmente, introduzido no Brasil ainda no início do

século XIX. Tendo encontrado aqui ambiente propício a sua sobrevivência e reprodução,

disseminou-se por todo o território nacional (GIBBONS; VAUGHN, 2002; PENNA, 2003).

Os primeiros relatos de epidemias de dengue no país se referem ao período de 1846 a 1853,

em São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, as primeiras citações na literatura científica são de

Meira no ano de 1916 na cidade de São Paulo e de Antônio Pedro no ano de 1923 na cidade

de Niterói (BARRETO; TEIXEIRA, 2008).

Em 1957, o Aedes aegypti foi considerado erradicado do país, tendo sido reintroduzido em

1967 e mais uma vez erradicado em 1973 (PENNA, 2003). Em 1976, o vetor foi novamente

reintroduzido no país, dessa vez a partir do Estado da Bahia (PENNA, 2003; TEIXEIRA;

MEDRONHO, 2008; TAUIL, 2002), mas dessa vez o vetor se proliferou para outros Estados

como Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. A partir daí, o Aedes aegypti infestou todo o

país, já tendo sido reportada sua presença em mais de quatro mil municípios (TAUIL, 2002).

No entanto, somente em 1981, na cidade de Boa Vista localizada em Roraima, ocorreu a

primeira notificação de epidemia de dengue com isolamento viral. Durante essa epidemia

foram isolados os sorotipos DEN 1 e DEN 4 (TEIXEIRA et al, 2005; NOGUEIRA;

MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002) e, segundo inquérito sorológico, efetuado após o

término da epidemia, aproximadamente 11 mil pessoas foram infectadas (OSANAI, 1984).

Essa epidemia foi rapidamente combatida e o vírus não se espalhou para o restante do

território nacional (NOGUEIRA; MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002; BARRETO;

TEIXEIRA, 2008). A presença do vírus no país só foi novamente notificada no ano de 1986,

quando o sorotipo DEN 1 foi isolado, durante um surto de doença exantemática, na cidade de

Nova Iguaçu no Estado do Rio de Janeiro (TEIXEIRA et al, 2005; NOGUEIRA;

MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002; NOGUEIRA et al, 1999).

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A partir desse ano, o vírus começou a se disseminar por todo o território brasileiro. O

ambiente propício para a sobrevivência e reprodução do vetor transmissor, clima favorável,

grande quantidade de cidades que propiciam elevada densidade populacional em áreas

restritas, a desordem urbana característica das grandes cidades de nosso país (sobretudo em

relação à coleta de lixo e abastecimento de água), entre outros fatores, contribuíram para que a

disseminação ocorresse de forma rápida e com enorme força de transmissão (TEIXEIRA et

al, 2009).

Ainda em 1986, os Estados do Ceará e de Alagoas reportaram epidemias. No ano seguinte

Pernambuco, São Paulo, Bahia e Minas Gerais também tiveram cidades acometidas por

epidemias (BARRETO; TEIXEIRA, 2008).

As condições para sobrevivência e reprodução do vetor se mantêm favoráveis e assim, desde

então o Brasil tem sofrido com sucessivas epidemias, cada vez mais espalhadas por todo o

território. Se em 1994, a circulação viral já era notada em mais de 600 municípios espalhados

por 18 Estados brasileiros, somente cinco anos depois, aproximadamente 50% dos 5.507

municípios brasileiros já haviam reportado casos de dengue e em 64% desses municípios já

havia sido confirmada a presença do Aedes aegypti. Em 2007, esse número já havia crescido

para 3.977, ou seja, em 72% dos municípios brasileiros já havia sido registrada a presença do

vetor (TEIXEIRA et al, 2009). No ano de 2010 esse número sobe para mais de 4.000

municípios o que demonstra o constante espraiamento do vetor no território brasileiro (Figura

7) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Figura 7: Evolução da presença do Aedes aegypti nos municípios brasileiros

Em 1990, quando foi introduzido no país o sorotipo DEN 2, através do Estado do Rio de

Janeiro (NOGUEIRA; MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002; NOGUEIRA et al, 1999;

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TEIXEIRA et al, 2005), uma onda epidêmica atingiu o país, e foram registrados os primeiros

casos de FHD (TEIXEIRA et al, 2009).

O sorotipo DEN 3, identificado inicialmente no Estado do Rio de Janeiro, em dezembro de

2000 (NOGUEIRA; MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002), foi responsável pela

epidemia que atingiu o país em 2002. Nesse período, mais de 800 mil casos foram

notificados, o que representou quase 80% dos casos de todo o continente Americano

(BARRETO; TEIXEIRA, 2008).

Depois de 28 anos sem notificações de casos referentes ao sorotipo DEN 4, no mês de julho

do ano de 2010, a cidade de Boa Vista no Estado de Roraima, registra a presença desse

sorotipo no território nacional (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

Entre 1981 e 2007, foram registrados no Brasil, mais de 4,5 milhões de casos de dengue.

Desse total, mais de 3 milhões ocorreram entre 2000 e 2007 (TEIXEIRA et al, 2009).

3.3 Dengue no Rio de Janeiro

Desde 1986, quando o vírus causador da dengue foi reintroduzido no Estado (NOGUEIRA;

MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002), o Rio de Janeiro vem sofrendo com sucessivas

epidemias de dengue. A Região Metropolitana do Estado concentra a maior parte dos casos,

sendo o município do Rio de Janeiro o mais afetado.

Até o momento três sorotipos já tiveram circulação confirmada no Estado do Rio de Janeiro.

Em 1986, durante um surto de doença exantemática na cidade de Nova Iguaçu, foi

identificado o sorotipo DEN 1 (NOGUEIRA; MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002).

Esse foi o sorotipo responsável pela epidemia no biênio 1986/1987, quando cerca de 95.000

casos foram notificados no Estado (NOGUEIRA et al, 1999). Os dois anos seguintes foram

marcados por baixa atividade viral.

Em abril de 1990, durante um período de alta atividade no DEN 1, o sorotipo DEN 2 foi

identificado na cidade de Niterói (NOGUEIRA; MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002;

NOGUEIRA et al, 1999). A epidemia 1990/1991 foi caracterizada pela co-circulação dos

sorotipos DEN 1 e DEN 2, com um total de 140.000 casos notificados no Estado e, também,

os primeiros casos das formais mais graves da doença (NOGUEIRA et al, 1999). Nos três

anos seguintes, 1992, 1993 e 1994, a atividade viral foi baixa.

Uma nova epidemia, não tão intensa como as anteriores, ocorreu em 1995. Durante esse

período foram isolados os sorotipos DEN 1 e DEN 2 , tendo sido notificados cerca de 50.000

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casos (NOGUEIRA; MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002; NOGUEIRA et al, 1999).

Novamente a epidemia foi seguida por dois anos de baixa atividade viral.

Em janeiro de 1998, novamente o Estado foi atingido por uma epidemia de dengue. Mais uma

vez, foram isolados os sorotipos DEN 1 e DEN 2. Segundo dados da Secretaria de Saúde e

Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, foram notificados, em 1998, 32.382 casos

(SESDEC-RJ, 2011).

Em dezembro de 2000, o sorotipo DEN 3 foi identificado no município de Nova Iguaçu

(NOGUEIRA; MIAGOSTOVICH; SCHATZMAYR, 2002; NOGUEIRA et al, 2001). Esse

sorotipo foi o responsável pela epidemia 2001/2002, a maior já registrada no Estado. Durante

essa epidemia, houve a co-circulação dos sorotipos DEN 2 e DEN 3, tendo sido notificados

368.460 casos (TEIXEIRA; MEDRONHO, 2008).

Uma nova epidemia atingiu o Estado no biênio 2007/2008, sendo essa a mais grave já

registrada no Estado. Foi confirmada a presença dos sorotipos DEN 2 e DEN 3 e somente em

2007 foram notificados 66.553 casos. Em 2008 foram 255.818 casos notificados, tendo

244.445 desses casos, ocorrido até o mês de maio desse mesmo ano (SESDEC-RJ, 2011).

Foram 2.014 casos confirmados de FHD, de SCD e de dengue com complicações, sendo 218

em 2007 e 1.796 em 2008. Desses 289 evoluíram para o óbito, 37 em 2007 e 252 em 2008

(SESDEC-RJ, 2011).

Novamente o Rio de Janeiro foi atingido por uma epidemia no biênio 2009/2010. Durante

essa epidemia foi identificado o DEN 2 como sorotipo circulante e os casos graves da doença

representaram 5,23% (266) do total de casos notificados durante a epidemia (5085), tendo

sido, ainda, registrados 21 óbitos em decorrência da dengue no ano de 2010 (SESDEC-RJ,

2011).

Gráfico 1: Casos Notificados de Dengue no Estado do Rio de Janeiro 1986-2009 (SESDEC-

RJ, 2011)

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O processo endêmico-epidêmico característico do Estado tem sido marcado, sobretudo pela

imunidade adquirida pela população e pela sazonalidade da dengue e não pelo adequado

controle do vetor transmissor.

As sucessivas epidemias fluminenses têm sido associadas a um aumento na gravidade da

doença e ao seu deslocamento para faixas etárias mais jovens, principalmente crianças

(Gráfico 2), e, ainda, o aumento da letalidade da doença. Assim, torna-se imprescindível que

se conheça os fatores que estão contribuindo para essa mudança no perfil epidemiológico da

dengue.

Gráfico 2: Percentual de Internação por Dengue segundo Faixa Etária 2001-2009 (SESDEC-

RJ, 2011)

Constata-se assim, a importância da vigilância epidemiológica, definida como um conjunto de

ações que propicia o conhecimento, detecção e prevenção de mudanças nos fatores que

determinam e condicionam a saúde, tanto individual como coletiva, com o intuito de

recomendar e adotar medidas preventivas e de controle de doenças ou agravos (MEDRONHO

et al, 2006).

Em locais onde a dengue é considerada endêmica os principais objetivos da vigilância

epidemiológica da dengue são; interromper a transmissão viral, por meio da diminuição da

infestação e/ou eliminação do Aedes aegypti, impedir o aparecimento da FHD, uma vez que

em áreas endêmicas a população já está, em sua maioria, já foi infectada por um ou mais

sorotipos do vírus. Em relação ao aparecimento de casos suspeitos, as medidas a serem

adotadas são; notificação todos os casos suspeitos as autoridades de saúde responsáveis,

exame do paciente, coleta de material para exames e envio desse ao laboratório de referência

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responsável, acompanhamento da curva endêmica para possíveis alertas de epidemias, análise

a distribuição espacial dos casos, acompanhamento as taxas de mortalidade e letalidade para

orientar as medidas de controle e medir a qualidade da assistência, realização continua da

vigilância virológica para detecção rápida caso ocorra a introdução de novos sorotipos do

vírus, investigação de todos os casos suspeitos de FHD, intensificação das medidas de

combate ao Aedes aegypti, busca do apoio da população, por meio de campanhas educativas

que introduzam na população práticas rotineiras simples de eliminação dos criadouros

existentes em seus domicílios (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

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4 Tuberculose

A tuberculose é uma doença infecciosa causada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis, que

se localiza, sobretudo nos pulmões, mas que pode também instalar-se em outros locais

(meninges, rins, ossos, órgãos genitais, intestinos etc.), por meio de disseminação sanguínea

(GOMES, 2000; LIMA, 2006). Sua transmissão é feita pelo ar por meio do contato com

aerossóis de pessoas infectadas. O quadro típico de tuberculose pulmonar é de febre com

suores e calafrios, dor no peito, tosse com expectoração, por vezes com sangue, perda de

apetite, prostração e emagrecimento (OMS, 2011).

Diagnosticada desde a antiguidade, a tuberculose apesar de possuir cura, permanece ainda

neste milênio como a doença infecciosa que mais mata no mundo. Em 2000, segundo a

Organização Mundial de Saúde (OMS), a tuberculose se encontrava na sétima colocação na

lista das doenças mais mortais no mundo. Segundo as expectativas dessa instituição, a doença

permanecerá nessa colocação até o ano de 2020 (MURRAY, 1996).

Considerada uma doença socialmente determinada, a tuberculose é constantemente associada

às condições sociais e econômicas de vida de uma população e ao processo histórico de

desenvolvimento dessa sociedade. Embora inúmeros estudos já tenham sido feitos nesse

sentido e hoje já exista consenso a respeito da relação entre as condições sócio-econômicas de

vida e o desenvolvimento da tuberculose há, ainda, controvérsia sobre o modo como os

componentes sócio-econômicos enlaçam-se com o substrato biológico da doença

(VINCENTIN et al, 2002; SOUZA, 2000; VAN HELDEN, 2003).

Apesar disso, a necessidade de se identificar indicadores sócio-econômicos que possam ser

associados à doença é crescente, uma vez que isso pode colaborar para a elaboração de

estratégias mais eficientes de prevenção e de controle da tuberculose.

Além de relacionar-se com as condições sócio-econômicas da população, a tuberculose, por

afetar na maior parte dos casos a população economicamente ativa, causa danos tanto sociais

como econômicos a um país que possua uma elevada taxa de incidência da doença (NORAIN,

2002; DYE, 1999).

A tuberculose pode estar relacionada com a pobreza de diversas maneiras. Primeiramente, o

risco de infecção é maior entre as classes menos favorecidas devido aos altos índices de

densidade intradomiciliar e também a maior densidade demográfica das localidades onde se

encontram essas classes. O risco de desenvolver a doença cresce também entre indivíduos

com baixa imunidade, o que pode ocorrer devido à desnutrição e as péssimas condições de

trabalho e finalmente, as possibilidades desses indivíduos estarem infectados e terem a doença

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diagnosticada e posteriormente receberem tratamento adequado é menor do que a de

indivíduos de classes mais abastadas (WAALER, 2002).

Outra preocupação crescente em relação à tuberculose é a associação dessa doença com o

vírus da imunodeficiência humana (Human Immunodeficiency Virus - HIV). A tuberculose é

a doença que mais comumente afeta pessoas infectadas pelo vírus HIV. Por já estar com o

sistema imunológico deficiente, o portador do vírus HIV, acaba estando mais suscetível ao

desenvolvimento da tuberculose. Estimativas mostram que a chance de uma pessoa

contaminada apenas pela tuberculose desenvolver a doença é de 10%, essa porcentagem

cresce para 50% entre os portadores do vírus HIV (CAUTHEN, 1988; TELZAK, 1997).

4.1 Tuberculose no mundo

Estimativas da OMS para o ano de 2009 apontavam aproximadamente 9,4 milhões de novos

casos de tuberculose, 14 milhões de casos prevalentes, 1,3 milhão e 0,38 milhão de mortes

por tuberculose respectivamente em pessoas não infectadas pelo vírus HIV e em pessoas

infectadas por esse vírus (OMS, 2011).

Figura 8: Incidência de tuberculose no mundo por 100.000 habitantes (OMS, 2011)

Esses números são alarmantes, e a cada ano cerca de 8,74 milhões de pessoas desenvolvem a

doença e aproximadamente dois milhões morrem (DYE, 1999; NORAIN, 2002; PELAQUIM,

2007). Como pode ser observado na Figura 8, a maioria dos casos, está concentrada nos

países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, sendo a África (30% dos casos) e a Ásia

(55% dos casos) os continentes mais afetados e Índia, China, África do Sul, Nigéria e

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Indonésia os cinco países que apresentaram maior incidência para o ano de 2009 (OMS,

2011).

4.2 Tuberculose no Brasil

O Brasil, juntamente com outros 21 países, constitui o grupo que abriga cerca de 80% dos

casos mundiais de tuberculose. Está na décima sexta posição nesse grupo e, por isso mesmo, a

tuberculose é considerada um problema de saúde prioritário no Brasil. Apesar da existência de

programas voltados especificamente voltados para o tratamento e controle dessa doença, sua

incidência continuou crescendo nos últimos 20 anos. Dados do Ministério da Saúde estimam

que atualmente cerca de 50 milhões de pessoas estejam infectadas com cerca de 96.000 casos

novos e 5.000 óbitos ocorrem anualmente (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).

No que se refere à distribuição da doença no espaço geográfico brasileiro, pode-se dizer que

se concentra nos grandes centros urbanos, podendo esse fato ser relacionado às aglomerações

urbanas, convívio com condições sanitárias precárias, falta de assistência de saúde adequada,

etc. (HIJJAR et al, 2007). No Brasil, no ano de 2008, a taxa de incidência de tuberculose te

todos os tipos foi de 35,59 por 100.000 habitantes. Dadas as desigualdades socioeconômicas

existentes, observa-se uma variação dessa taxa em diferentes regiões. No ano de 2008, por

exemplo, a taxa de incidência por todas as formas, variou de 67,13 e 64,58 por 100.000

habitantes no estado do Amazonas e Rio de Janeiro, respectivamente a 12,55 por 100.000

habitantes no estado de Goiás. No Brasil, a tuberculose é, ainda, mais comum no sexo

masculino, sendo esses acometidos pela doença duas vezes mais do que as mulheres

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011). O Gráfico 3 mostra a evolução da taxa de incidência de

tuberculose e das notificações, entre os anos de 1990 e 2008, e ainda da incidência de

tuberculose associada ao vírus HIV entre os anos de 2003 e 2008, todas por 100.000

habitantes. Já no Gráfico 4, pode-se observar a evolução da prevalência de tuberculose para os

mesmos anos, e também calculada para 100.000 habitantes.

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Gráfico 3: Evolução da Taxa de Incidência de tuberculose, tuberculose associada a HIV e

notificações entre os anos de 1990 e 2008, no Brasil, para 100.000 habitantes (OMS, 2010).

Gráfico 4: Evolução da Prevalência de Tuberculose entre os anos de 1990 e 2008, no Brasil,

para 100.000 habitantes (OMS, 2010).

No que se refere à história social da doença no Brasil, até o final do século XVIII início do

século XIX, a tuberculose era tida como doença romântica, alçadora da sensibilidade e

requinte dos que a portavam. Nessa época, a presença da tuberculose nos cortiços, espaço dos

pobres e operários, era ignorada. Isso passa a mudar a partir da descoberta do Mycobacterium

tuberculosis por Koch em 1882. A partir daí, a doença passa a ser vista em uma visão

bacteriologizante, e então, com a ascensão da exaltação ao corpo saudável, a tuberculose

passa a ser associada a classe pobre e operária. E então, já no início do século XX, a

tuberculose aparece como grave problema de saúde pública, destacando-se nas estatísticas e

estando atrás somente da varíola. Nesse período, a morte era quase certa quando feito o

diagnóstico da doença (FILHO, 2001).

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Quanto ao histórico das medidas de prevenção, controle e tratamento, já em 1899 foram

criadas as primeiras instituições voltadas especificamente para o problema da tuberculose no

país. Uma no Rio de Janeiro, denominada Liga Brasileira Contra a Tuberculose, e uma em

São Paulo chamada Liga Paulista Contra a Tuberculose. Essas ligas espalharam-se pelo país e

agiam em prol tanto to tratamento como da prevenção da doença. Entre os métodos utilizados

pelas ligas para alcance de seus objetivos estavam às campanhas de educação sanitária e

implantação de sanatórios, dispensários e preventórios, foco no atendimento aos pobres

(FILHO, 2001; HIJJAR et al, 2007).

No entanto, foi somente quando as epidemias de febre amarela, varíola e peste regrediram que

a tuberculose passou a ocupar espaço no discurso oficial. Nesse contexto, em 1902, a

Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP) proclamou a necessidade de a tuberculose tornar-se

uma doença de notificação compulsória. Já em 1920, foi criada a Inspetoria de Profilaxia da

Tuberculose com sede no Rio de Janeiro. Essa sim, marcando a criação do primeiro órgão

governamental de combate a tuberculose. Daí em diante outros mecanismos foram sendo

criados como o Serviço Nacional de Tuberculose em 1940, e a da Campanha Nacional Contra

a Tuberculose em 1946 (FILHO, 2001; HIJJAR et al, 2007).

Já na década de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS), decretou a tuberculose em

emergência mundial. Com isso, o Brasil elaborou o Plano Emergencial para Controle da

Tuberculose em 1994, ano seguinte a declaração da OMS, com priorização de 230 municípios

considerados de maior risco (HIJJAR et al, 2007).

No mais, O Plano Nacional de Controle da Tuberculose lançado no ano de 1999, pelo

Ministério da Saúde, define a tuberculose como prioridade entre as políticas públicas de saúde

(HIJJAR et al, 2007).

4.3 Tuberculose no Rio de Janeiro

No período entre o final do século XIX e início do século XX, a tuberculose era considerada a

maior causa de morte no Rio de Janeiro. Suas principais vítimas pertenciam a classe pobre e

trabalhadores que, em virtude da má condição de renda, não tinham acesso a moradia e

alimentação adequada (FILHO, 2001). E, como se sabe atualmente, a tuberculose possui

estreito relacionamento com as condições sociais econômicas e ambientais em que vive o

individuo.

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Ainda hoje, o Rio de Janeiro apresenta uma das maiores taxas de incidência da doença no

país. No ano de 2009, por exemplo, foram notificados 11.778 novos casos de todas as formas

da doença, caracterizando uma taxa de incidência de 73,6 casos por 100.000 habitantes, bem

maior do que a média de 35,59 casos por 100.000 habitantes, apresentada no Brasil no ano

anterior (SESDEC-RJ, 2011). A maior parte desses casos concentra-se na região

metropolitana do estado, evidenciando a tendência de concentração da tuberculose nas áreas

mais urbanizadas do país. E, também, a maior ocorrência no sexo masculino, está em

consonância com a situação do país como um todo.

No entanto, apesar dos números alarmantes, ao observamos a série histórica da doença, é

possível verificar uma tendência de queda tanto na taxa de incidência como na notificação de

casos novos nos últimos anos (Gráfico 5).

Gráfico 5: Casos Novos de Tuberculose e Taxa de Incidência por 100.000 habitantes nos

residentes do estado do rio de Janeiro 2001 – 2009 (SESDEC-RJ, 2011).

No que diz respeito à mortalidade, a série histórica do Rio de Janeiro variou de 7,1 em 2001

para 5,5 em 2008. Como esperado, a proporção de óbitos masculinos foi de três para um em

relação aos óbitos femininos. Em 2008 a taxa de mortalidade masculina foi de 8,8 óbitos por

100.000 habitantes e a taxa feminina foi de 2,5 óbitos por 100.000 habitantes (Gráfico 6).

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Gráfico 6: Taxa de Mortalidade por Tuberculose por Sexo para residentes do Estado do Rio

de Janeiro 2001-2009 (SESDEC-RJ, 2011).

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5 Objetivos

5.1 Objetivo Geral

Descrever as principais geotecnologias utilizadas na área da saúde e utilizar algumas dessas

técnicas para analisar a ocorrência de dois importantes problemas de saúde pública no Brasil:

o Aedes aegypti e a tuberculose.

5.2 Objetivos específicos

- Descrever as principais ferramentas geotecnológicas utilizadas no campo da saúde coletiva.

. Analisar a distribuição espacial da tuberculose e a relação entre a incidência da doença e as

variáveis socioeconômicas nos diferentes municípios do Estado do Rio de Janeiro, Brasil,

visando contribuir para estratégias mais eficientes de prevenção e controle da doença.

. Analisar a distribuição espaço-temporal de pupas do mosquito Aedes aegypti na localidade

de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, durante um período de nove quinzenas de monitoramento,

visando colaborar para meios mais eficazes de prevenção da dengue.

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6 Metodologia

6.1 Tipo de estudo

Ambos os estudos podem ser classificados como estudos ecológicos. O estudo ecológico tem

como unidade de análise uma população ou um grupo de pessoas que em geral pertence a uma

área geográfica definida. O objetivo principal desse tipo de estudo é avaliar como o contexto

sócio-ambiental pode afetar a saúde de grupos populacionais (MEDRONHO et al, 2006). O

primeiro estudo resultou em um artigo relacionado à distribuição espaço-temporal de pupas

do mosquito Aedes aegypti em localidade do município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro,

durante um período de nove quinzenas de monitoramento e, o segundo, um artigo relacionado

à incidência de tuberculose no Estado do Rio de Janeiro no ano de 2000.

6.2 Área de estudo

6.2.1 Área de estudo para o artigo sobre o Aedes aegypti

O estudo foi realizado em uma localidade do município de Nova Iguaçu, a área de estudo foi

então, o município de Nova Iguaçu, localizado na Baixada Fluminense, Estado do Rio de

Janeiro, Brasil, situado a 22º45’33’’ de Latitude Sul e 43º27’04’’ de Longitude Oeste, com

uma área total de 523.888m2, extensão Norte-Sul de 36 km e Leste-Oeste de 19km, estando

sua sede situada a 25m de altitude. No ano de 2000, contava com uma população de

aproximadamente 920.599.

A Cidade de Nova Iguaçu apresenta-se geograficamente limitada pelos seguintes

municípios: Rio de Janeiro, a sul, Mesquita, a sudeste, Belford Roxo, a leste, Duque de

Caxias, a nordeste, Miguel Pereira, a norte, Japeri, a noroeste, Queimados, a oeste,

e Seropédica, a sudoeste. Longitudinalmente, apresenta uma extensão máxima de 36,33 km e

31,28 km de extensão máxima transversal, perfazendo uma área de 524,5 km², que o torna o

maior município da Baixada Fluminense. Em termos de divisão administrativa, conta com

aproximadamente 68 bairros agrupados em nove unidades regionais de governo.

O relevo de Nova Iguaçu pode ser simplificadamente, definido pelos dois grandes maciços

rochosos encontrados nas porções norte e sul do município; o maciço de Tinguá e o maciço

do Gericinó-Mendanha, respectivamente. O primeiro possui altitude máxima de 1600 m, e o

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71

segundo, 974 m. E, entre esse dois maciços estende-se uma grande área de planície (baixada)

e de mares de morros com altitudes inferiores às dos maciços.

Em Nova Iguaçu cerca de 40% da área total da cidade encontra-se coberta por formações

vegetais significativas (vegetações primárias, secundárias ou pioneiras). Desse total, 32,88%

correspondem à cobertura original da Mata Atlântica, cerca de 30% está comprometido com o

uso urbano e o restante corresponde à atividade agrícola (2,94%) e as áreas de campo e

pastagem.

O clima da região caracteriza-se como tropical semi-úmido, com temperatura média anual de

21,8ºC e precipitação média anual equivalente a 2.105mm.

O estudo utilizou dois quarteirões dos bairros de Cerâmica e Nova América.

6.2.2 Área de estudo para o artigo de tuberculose

Para o estudo da incidência de tuberculose, a área de estudo foi o Estado do Rio de Janeiro

que é uma das 27 unidades federativas do Brasil e está localizado na Região Sudeste. Têm

como limites os estados de Minas Gerais (norte e noroeste), São Paulo (sudoeste) e Espírito

Santo (nordeste) e ainda o Oceano Atlântico (leste e sul). As coordenadas geográficas do

Estado são; latitude 22º55’ S e longitude 43º10’ O. Compreende uma área de

aproximadamente 43.696,054 km² e possui 92 municípios. A população para o ano de 2000,

segundo o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desse

mesmo ano era de 14.391.282 com densidade demográfica de aproximadamente 352,58

habitantes/km², a segunda maior do país. Desse total, 13.821.466 localizavam-se na área

urbana do estado, o que corresponde a 96,04% de toda a população.

Segundo informações desse mesmo censo, o índice de desenvolvimento humano (IDH) do

estado era 0, 832, sendo o quarto maior do país. A esperança média de vida ao nascer era de

73,1 anos e a mortalidade infantil de 19,5 por 1000 habitantes. O produto interno bruto (PIB)

do estado é o segundo maior do país, tendo, em 2005, chegado a R$246, 936 bilhões.

No entanto, a distribuição de renda é extremamente desigual dentro do Estado e também nos

municípios que o compõem. A pobreza está presente em todo o estado, tanto de forma relativa

como absoluta.

O relevo do estado é bastante variado, apresentando grandes desníveis e elevações

pronunciadas. Pode-se dizer que o relevo do estado é composto por três unidades principais; a

baixada fluminense, os maciços litorâneos e o planalto. Aproximadamente metade do

território do Rio de Janeiro se encontra abaixo de 200m de altitude. Cerca de 32% situa-se

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72

entre 200 e 600m e, somente 1% está acima de 1.500m. O ponto mais alto do estado é o Pico

das Agulhas Negras com 2.791,55m de altura.

O clima do Rio de Janeiro é, também, bastante variado. Na região serrana do estado,

prevalece o clima tropical de altitude, o tropical semi-úmido na região metropolitana e o

tropical marítimo na região dos lagos.

No que diz respeito à vegetação, atualmente, pouco se encontra da cobertura vegetal que

anteriormente ocupava cerca de 90% do território fluminense. A grande maioria dessa

cobertura localiza-se em áreas de difícil acesso e muito acidentados, áreas impróprias para a

agricultura e a pecuária. Além das florestas de Mata Atlântica, a vegetação nativa do estado

compreende ainda manguezais, restingas e campos.

É importante ressaltar o papel que as características do relevo e do clima do estado tiveram

em relação ao processo de urbanização, sobretudo quando falamos da cidade do Rio de

Janeiro.

A distribuição espacial das pessoas foi fortemente influenciada pelas questões físicas do

relevo. E, uma vez que, conhecer a dinâmica dessa distribuição é importante para o estudo do

processo saúde-doença, torna-se também relevante o conhecimento dos aspectos físicos da

qual é resultante.

Nesse estudo, utilizou-se o estado dividido em municípios.

6.3 População de estudo

6.3.1 População de estudo para o artigo sobre o Aedes aegypti

Foram selecionados os bairros de Califórnia, Centro, Moquetá, Nova América, Cerâmica e

Vila Operária, por apresentarem os maiores índices de Breteau, através do uso do LIRAa

(Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti) realizado em 2004

(Ministério da Saúde, 2004). No entanto, para a rezalição do estudo, somente seis quarteirões

pertencentes aos bairros de Cerâmica e Nova América foram utilizados por apresentarem os

maiores números de recipientes positivos no período das nove quinzenas de monitoramento.

6.3.2 População de estudo para o artigo de tuberculose

A população de estudo abrange todos os residentes do estado do Rio de Janeiro relatados ao

Censo demográfico do IBGE relativo ao ano de 2000.

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73

6.4 Coleta e Fonte de dados

6.4.1 Coleta e Fonte de dados para o artigo sobre o Aedes aegypti

Inicialmente é importante deixar claro o motivo a escolha das pupas como forma imatura do

vetor para essa análise. Sabe-se que o Aedes aegypti passa, antes de chegar a seu estágio

adulto, por três fases em seu ciclo de vida. Dentre essas fases a pupa é, exatamente, a terceira.

Quando o mosquito alcança essa fase, suas chances de chegar a vida adulta são bastante altas

e sua imunidade a larvicidas torna essas chances ainda maiores (WHO, 2006). Assim,

acreditamos que o uso da população de pupas constitui-se em uma ótima estimativa da

população de mosquitos adultos.

Nesse estudo a coleta de dados foi feita em campo. Os espécimes imaturos foram coletados

quinzenalmente durante todo o período de monitoramento (nove quinzenas entre dezembro de

2004 e abril de 2005). Entre as coletas os criadouros também eram monitorados com o

objetivo de verificar a presença prematura de pupas o que anteciparia o intervalo entre as

coletas de forma a evitar a proliferação do vetor. Em relação aos criadouros, esses foram

classificados seguindo os critérios; tipo, material de confecção, pH, localização (interna ou

externa) e volume.

No que diz respeito ao volume de água encontrado nos recipientes, esses foram verificados

com auxílio de provetas graduadas de 1.000 e de 100ml, quando recipientes com capacidade

de até um litro. Para os recipientes com capacidade acima desse volume, a verificação foi

realizada através da técnica de cubagem ou utilizando-se trenas e/ou fitas métricas. Para a

aferição do pH da água nos recipientes foram usados medidores de pH digitais, portáteis do

tipo “caneta”. Ressalta-se que esses medidores foram devidamente higienizados tendo seus

sensores lavados com água deionizada e condicionados com solução tampão de pH 7

semanalmente e entre cada aferição de recipiente com intuito de garantir a precisão das

informações coletadas (Lagrotta, 2006).

Em relação à maneira como foram coletados os espécimes, nos recipientes com capacidade

inferior a 10 litros, foi utilizado o método de aspiração com auxilio de “pêras” de borracha

e/ou com auxilio de “puçás” curtos de malha fina (0,3mm) com diâmetro de 16 centímetros e

suporte para cabo de 30 centímetros estendível até 1,30 metros. Para os recipientes com

capacidade acima de 10 litros, a coleta dos espécimes foi realizada pelo método de

“varredura” utilizando-se o mesmo tipo de puçá curto de malha, anteriormente descrito, no

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entanto, com cabo mais extenso, chegando a 1,90 metros (Lagrotta, 2006). A Figura 9 ilustra

os “puçás” utilizados.

Figura 9: “Puçá” curto de malha fina de nylon resistente com diâmetro de 16cm e cabo de

PVC com 60cm e encaixe para vara de extensão com 1,30m (LAGROTTA, 2006).

6.4.2 Coleta e Fonte de dados para o artigo de tuberculose

Os dados usados referentes à incidência de tuberculose no estado no Rio de Janeiro para o ano

de 2000 foram fornecidos pela SES-RJ e referem-se aos casos notificados ao Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN). As variáveis socioeconômicas utilizadas

foram retiradas do censo demográfico do IBGE referente ao ano de 2000 e, as variáveis de

assistência à saúde para o mesmo ano, do Departamento de Informática do Sistema Único de

Saúde do Ministério da Saúde (DATASUS). As variáveis utilizadas neste estudo

relacionavam-se à renda, escolaridade, saneamento básico e assistência à saúde.

6.5 Análise e processamento dos dados

6.5.1 Análise e processamento dos dados para o artigo sobre o Aedes aegypti

Nesse estudo, todos os recipientes dos seis quarteirões selecionados foram inspecionados ao

longo de nove quinzenas, entre dezembro de 2004 e abril de 2005. A equipe encarregada da

coleta visitou as residências e observou os possíveis reservatórios de água parada, desde caixa

d´agua até tampas de refrigerante jogadas no chão. Aqueles que apresentaram resultados

positivos para a presença de pupas tiveram suas coordenadas aferidas através de GPS (Global

Positioning System – Sistema de Posicionamento Global) e coletaram-se todas as formas

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imaturas existentes para identificação em microscópio binocular (Lagrotta, 2006). Para este

estudo, os quarteirões localizados nos bairros de Cerâmica e Nova América foram utilizados

por apresentarem os maiores números de recipientes positivos no período de monitoramento.

Os recipientes foram classificados de acordo com cinco categorias aqui explicadas:

Artificial descartável: Recipiente sem utilização, removido e exposto ao tempo.

Dependente da chuva para o preenchimento d'água. Englobam, principalmente, lixo.

Artificial em uso: Possuem utilização, seja prática ou decorativa. Não dependem da

chuva, pois são abastecidos de água pela população. Estão nesta categoria os vasos de

plantas aquáticas, barris, tonéis, tambores, bombonas, talhas etc.

Permanentes para abastecimento: Recipientes destinados ao armazenamento de água

para o consumo. Caixas d'água, cisternas, poços etc.

Permanentes correntes. Recipientes que servem para o escoamento de águas pluviais

ou servidas. São de caráter transitório, mas podem vir a acumular água em sua

estrutura, como o caso de calhas, poças, ralos etc.

O mapeamento dos dados foi feito através do software Terraview 3.1.4. Para a interpolação da

quantidade de pupas encontrada em cada recipiente ao longo das quinzenas de

monitoramento, utilizou-se a estimativa por Kernel. Este método é freqüentemente usado em

diversas áreas por sua eficiência e rápida identificação de conglomerados de um determinado

atributo, neste caso, o total de pupas. Através dele, é possível gerar um mapa contendo os

diferentes graus de risco em uma área sem ser afetado por suas divisões político-admistrativas

(MEDRONHO, 2006).

6.5.2 Análise e processamento dos dados para o artigo de tuberculose

No estudo sobre tuberculose, a correlação entre a incidência da tuberculose, variável

dependente, e as variáveis socioeconômicas, independentes, foi feita através do coeficiente de

Spearman. O coeficiente de Spearman é usado para distribuições não-paramétricas ou quando

variáveis com grandezas distintas são comparadas. Em seguida foi realizada a análise e a

modelagem por regressão linear múltipla.

Em relação à análise espacial, foram produzidos mapas para cada uma das variáveis

consideradas significativas e também para a incidência de tuberculose. Procedeu-se à análise

de autocorrelação espacial da incidência da doença e das variáveis socioeconômicas

utilizando-se o índice de Moran. Este varia de -1 a +1, sendo positivo para correlação direta e

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negativo para correlação inversa. Tendo sido encontrada autocorrelação espacial, as

estimativas do modelo de regressão devem incorporar essa estrutura espacial, já que a

dependência entre as observações altera o poder explicativo do modelo. Assim, utilizou-se o

modelo de autorregressão espacial condicional (Conditional Autoregressive – CAR). Esse

modelo é usado para captar a dependência espacial das variáveis. Verifica-se a qualidade do

ajuste do Modelo CAR através da análise de resíduos com base no Índice de Moran. Para

análise dos dados foram utilizados os programas S-Plus 2000 e o Arcview 3.2.

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7 Artigo 1: Análise espaço-temporal das pupas de Aedes aegypti em localidade de Nova

Iguaçu, Rio, Brasil.

7.1 Resumo

O Aedes aegypti, vetor responsável pela transmissão da dengue, é um mosquito urbano de

hábitos domésticos. Na década de 60, ele havia sido erradicado do Brasil, tendo, entretanto,

sido reintroduzido em 1976. A primeira epidemia de dengue no país, no entanto, só foi

constatada em 1981 e, desde então, o Brasil vem sofrendo com sucessivas epidemias de

dengue. Para isso, além da disseminação do vetor transmissor pelo território nacional, a

urbanização desordenada, as precárias condições de saneamento, o clima quente e úmido

foram fatores relevantes.

Através do uso do LIRAa (Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti)

realizado em 2004 no município de Nova Iguaçu, foram selecionados seis quarteirões por

apresentarem os maiores índices de Breteau. Nesses quarteirões foram inspecionados,

quinzenalmente, recipientes de armazenamento de água no período entre dezembro de 2004 a

abril de 2005. Os recipientes que demonstraram presença de formas imaturas do Aedes

aegypti tiveram suas coordenadas aferidas por meio do GPS (Global Positioning System –

Sistema de Posicionamento Global). Para este trabalho, foram selecionados dois quarteirões,

localizados nos bairros de Cerâmica e Nova América, por apresentarem o maior número de

recipientes positivos no período de monitoramento. O mapeamento dos dados foi feito através

do programa Terraview 3.0.3. Utilizou-se a estimativa por Kernel para a interpolação da

quantidade de pupas encontrada em cada recipiente ao longo das quinzenas de

monitoramento. Pretendemos com esse estudo contribuir para um melhor entendimento da

dinâmica da dengue e com isso contribuir para um mais efetivo controle.

Palavras Chave: Dengue, Aedes aegypti, pupas, Nova Iguaçu.

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7.2 Introdução

Ao longo dos últimos anos a dengue tornou-se foco de atenção global. Isso porque, a doença,

antes restrita as áreas tropicais tem se espalhado por todo o planeta. Fatores como a

urbanização desordenada e o aumento da adaptabilidade do vetor transmissor da doença,

contribuem para esse quadro (Costa; Natal, 1998; Gubler, 2002). Atualmente, cerca de 50

milhões de pessoas são infectadas e 22.000 morrem todos os anos (OMS, 2009). Para

complicar o quadro, diferentemente de outras doenças causadas por mosquitos, ainda não foi

desenvolvida nenhuma vacina comprovadamente eficaz na prevenção dessa doença.

Agente transmissor da dengue, o Aedes aegypti, pertence à família Culicidae, originária da

África, mas disseminado em escala global (Gibbons & Vaughn 2002). Bastante adaptado às

zonas urbanas, o Aedes aegypti costuma depositar seus ovos em reservatórios artificiais que

contenham água limpa, com pouca matéria orgânica e sais. Entretanto, cabe ressaltar que já

foram encontrados ovos do mosquito em ambientes de água poluída (Mazine et al.1996 ;

Barata et al. 2001; Tauil, 2002) .

Em 1957, o Aedes aegypti foi considerado erradicado do Brasil, tendo, no entanto, sido

reintroduzido em 1967 e mais uma vez erradicado em 1973, dessa vez, voltando a aparecer,

no ano de 1976 (Penna, 2003; Teixeira; Medronho, 2008; Tauil, 2002), A primeira notificação

de epidemia no Brasil acontece em 1981 na cidade de Boa Vista, com isolamento dos

sorotipos do vírus DEN1 e DEN4 (Teixeira et al, 2005). Deste período em diante, o país tem

sofrido com sucessivas epidemias, tendo os dois outros sorotipos conhecidos até então, o

DEN2 e o DEN3, já tido presença confirmada no território nacional. (Nogueira et al. 2002).

No que se refere ao Rio de Janeiro, é importante ressaltar que o processo endêmico-epidêmico

característico desse Estado tem sido marcado pela imunidade adquirida pela população e pela

sazonalidade da dengue e não pelo adequado controle do Aedes aegypti.

Além disso, as sucessivas epidemias que têm atingido esse Estado têm sido associadas a um

aumento na gravidade da doença e ao seu deslocamento para faixas etárias mais jovens,

principalmente crianças. Por isso é de suma importância que se desenvolvam estudos que

possam auxiliar no conhecimento dos fatores que estão contribuindo para essa mudança no

perfil epidemiológico da dengue.

No mais, ressalta-se que as regiões que costumam ser mais afetadas pela doença são aquelas

de urbanização desordenada e caótica e ainda, com precário acesso ao saneamento básico.

Isso porque, o abastecimento de água precário leva a população ao uso de reservatórios

artificiais para armazená-la em seus domicílios, gerando locais propícios à deposição dos ovos

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do mosquito. A coleta irregular ou precária de lixo também favorece a proliferação do vetor,

pois o material exposto à chuva pode tornar-se um reservatório em potencial para a

reprodução do Aedes aegypti (Mazine et al. 1996; Nogueira et al. 2002).

Este artigo estuda a distribuição espaço-temporal de pupas do mosquito Aedes aegypti na

localidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, durante um período de nove quinzenas de

monitoramento.

7.3 Metodologia

O Município de Nova Iguaçu, localizado na Baixada Fluminense, Estado do Rio de Janeiro,

Brasil, está situado a 22º45’33’’ de Latitude Sul e 43º27’04 de Longitude Oeste, possui uma

área total de 523.888m2, extensão Norte-Sul de 36 km e Leste-Oeste de 19km, estando sua

sede situada a 25m de altitude.

Seis quarteirões pertencentes aos bairros de Califórnia, Centro, Moquetá, Nova América,

Cerâmica e Vila Operária, foram selecionados por apresentarem os maiores índices de

Breteau, através do uso do LIRAa (Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes

aegypti) realizado em 2004 (Ministério da Saúde, 2004).

Todos os recipientes destes quarteirões foram inspecionados ao longo de nove quinzenas,

entre dezembro de 2004 e abril de 2005. A equipe encarregada da coleta visitou as residências

e observou os possíveis reservatórios de água parada, desde os de grande capacidade como

caixas d´agua até recipientes de pequeno porte como tampinhas de refrigerante. Os

reservatórios que apresentaram resultados positivos para a presença de pupas tiveram suas

coordenadas aferidas através do uso do GPS (Global Positioning System – Sistema de

Referenciamento Global) e todas as formas imaturas existentes foram coletadas para

identificação em microscópio binocular (Lagrotta, 2006).

Os recipientes foram classificados de acordo com cinco categorias explicadas abaixo:

Artificial descartável: Recipiente sem utilização, removido e exposto ao tempo. Dependente

da chuva para o preenchimento d'água. Englobam, principalmente, lixo.

Artificial em uso: Possuem utilização, seja prática ou decorativa. Não dependem da chuva,

pois são abastecidos de água pela população. Estão nesta categoria os vasos de plantas

aquáticas, barris, tonéis, tambores, bombonas, talhas etc.

Permanentes para abastecimento: Recipientes destinados ao armazenamento de água para o

consumo. Caixas d'água, cisternas, poços etc.

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Permanentes correntes. Recipientes que servem para o escoamento de águas pluviais ou

servidas. São de caráter transitório, mas podem vir a acumular água em sua estrutura, como o

caso de calhas, poças, ralos etc.

Para este estudo, os quarteirões localizados nos bairros de Cerâmica e Nova América foram

utilizados por apresentarem os maiores números de recipientes positivos no período de

monitoramento.

O mapeamento dos dados foi feito através do software Terraview 3.1.4. Para a interpolação da

quantidade de pupas encontrada em cada recipiente ao longo das quinzenas de

monitoramento, utilizou-se a estimativa de Kernel. Este método é freqüentemente usado em

diversas áreas por sua eficiência e rápida identificação de conglomerados de um determinado

atributo, neste caso, o total de pupas. Através dele, é possível gerar um mapa contendo os

diferentes graus de risco em uma área sem ser afetado por suas divisões político-

admistrativas.

7.4 Resultados

A Tabela 1 mostra os resultados obtidos através da inspeção de 2.366 reservatórios entre os

dois quarteirões. Pode-se perceber que no bairro de Nova América, a concentração de pupas

encontradas foi menor do que no bairro de Cerâmica. Isso indica maior dispersão e deve-se,

sobretudo, ao tipo de recipiente que foram identificados. Nesse bairro, a maioria dos

recipientes classificava-se como artificial. Em Cerâmica, por outro lado, as pupas estavam

mais concentradas, e encontravam-se principalmente em reservatórios permanentes destinados

ao armazenamento de água.

Tabela 1: Recipientes inspecionados nos dois quarteirões

Quarteirão Recipientes

inspecionados

Recipientes

positivos

% rec.

positivos

Total de

pupas

encontradas

Nova

América 1473 72 4,9 918

Cerâmica 893 122 13,7 2566

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Esta distinção entre os tipos de recipientes gerou uma dinâmica específica na distribuição das

formas imaturas do vetor em cada um dos quarteirões. Como se pode ver nas imagens abaixo,

geradas através da estimativa de kernel. Cerâmica apresentou uma distribuição caracterizada

pela presença de grandes focos que pouco alteram sua localização espacial de uma quinzena

para a outra, o que pode ser observado nas Figuras de 1 a 9, cada uma correspondendo a uma

quinzena de monitoramento. Neste quarteirão, os focos permaneceram em apenas duas ruas,

onde foi notada a contaminação de toda a vizinhança por uma residência-chave.

Em Nova América, o método de kernel mostrou vários pequenos focos que se alteram mais

significantemente pelo espaço, como demonstram as Figuras de 10 a 18, também, cada uma

referente a uma quinzena de monitoramento. Vale lembrar que este quarteirão é maior do que

o de Cerâmica, então uma sutil mudança de posição no primeiro pode ter maior significado do

que no segundo. Neste quarteirão, seis ruas apresentaram focos de pupas, o que indica maior

dispersão desses pequenos focos na área.

Figura 1:Resultado do Kernel Figura 2: Resultado do Kernel Figura 3: Resultado do Kernel

Cerâmica 1ª quinzena Cerâmica 2ª quinzena Cerâmica 3ª quinzena

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Figura 4:Resultado do Kernel Figura 5: Resultado do Kernel Figura 6: Resultado do Kernel

Cerâmica 4ª quinzena Cerâmica 5ª quinzena Cerâmica 6ª quinzena

Figura 7:Resultado do Kernel Figura 8: Resultado do Kernel Figura 9: Resultado do Kernel

Cerâmica 7ª quinzena Cerâmica 8ª quinzena Cerâmica 9ª quinzena

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Figura 10:Resultado do Kernel Figura 11: Resultado do Kernel

Nova América 1ª quinzena Nova América 2ª quinzena

Figura 12:Resultado do Kernel Figura 13: Resultado do Kernel

Nova América 3ª quinzena Nova América 4ª quinzena

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Figura 14: Resultado do Kernel Figura 15: Resultado do Kernel

Nova América 5ª quinzena Nova América 6ª quinzena

Figura 16: Resultado do Kernel Figura 17: Resultado do Kernel

Nova América 7ª quinzena Nova América 8ª quinzena

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Figura 18: Resultado de Kernel

Nova América 9ª semana

7.5 Discussão

Diferentes padrões na distribuição espaço-temporal das pupas que foram encontrados nos dois

bairros estudados. Isso se deveu, sobretudo, a dinâmica de distribuição de recipientes

positivos nesses quarteirões. No quarteirão de Cerâmica, foi visível a permanência de focos

próximos, que pouco variavam com o passar das quinzenas de monitoramento. Esse

fenômeno caracteriza a predominância de grandes reservatórios permanentes, tais como

caixas d´água. Já em Nova América, a distribuição não apresentou permanência tão forte de

um foco no decorrer do monitoramento. Neste quarteirão, a maioria dos recipientes foi

categorizada como artificiais descartáveis ou em uso.

Morrison et al (2004), através de seu estudo realizado entre janeiro de 1999 e agosto de 2002

na cidade de Iquitos, Peru, encontraram resultados bastante sólidos no que diz respeito a

analogia entre os reservatórios que abrigam as formas imaturas do vetor e a estratégia

governamental de combate à dengue. Através da identificação de “reservatórios chave”, termo

que define os reservatórios com mais de 500 pupas, foi possível direcionar as medidas de

prevenção da doença para pontos muito mais efetivos.

Koenraadt et al (2007), também, relata em seu estudo sobre o uso de inseticidas no combate

ao Aedes aegypti, como os diferentes padrões de recipiente utilizados pelo mosquito para sua

reprodução podem influenciar na disseminação, mas também no controle da dengue.

A observação dos diferentes fatores que contribuem para a disseminação da dengue, entre eles

o tipo de recipiente utilizado pelo vetor para sua reprodução, leva à conclusão que uma

política de combate ao vetor deve considerar as diferentes realidades das localizações

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atingidas pela doença para a elaboração de uma estratégia específica e mais eficiente. Nesse

sentido, trabalhos como esse, que utilizam a microescala como método de análise podem ser

bastante colaborativos.

7.6 Referências Bibliográficas

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Oswaldo Cruz. n. 99. p. 199-203, 2001.

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p. 232 – 236, 1998.

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88

8 Artigo 2: Distribuição espacial da incidência da tuberculose no estado do Rio de

Janeiro em 2000

8.1 Resumo

Nos últimos 20 anos, a incidência da tuberculose tem crescido no Brasil. Estima-se que

aproximadamente 50 milhões de brasileiros estejam, atualmente, infectados. O Estado do Rio

de Janeiro encontra-se entre os primeiros colocados no ranking brasileiro de incidência da

tuberculose, tendo apresentado no ano 2000 incidência de 91,9 para 100.000 habitantes. Esse

valor equivale a quase o dobro da incidência nacional. Diante desse quadro, faz-se necessária

à implementação de programas eficientes de prevenção e controle dessa doença e, para isso,

sendo a tuberculose considerada uma doença socialmente determinada, torna-se importante

conhecer sua associação com os indicadores socioeconômicos do estado e identificar áreas

com maior risco.

O objetivo desse trabalho foi analisar a distribuição espacial da tuberculose e a relação entre

a incidência da doença e as variáveis socioeconômicas nos diferentes municípios do Estado do

Rio de Janeiro, Brasil, visando contribuir para estratégias mais eficientes de prevenção e

controle da doença. Para isso, foi realizado um estudo ecológico de múltiplos grupos tendo

sido calculada a correlação entre a incidência da tuberculose, e as variáveis socioeconômicas

através do coeficiente de Spearman. Em seguida foi realizada à análise e modelagem por

regressão linear múltipla e também, calculada a autocorrelação espacial da incidência da

doença e das variáveis socioeconômicas utilizando-se o índice de Moran. Uma vez que foi

encontrada autocorrelação espacial, procedeu-se o modelo de autorregressão espacial

condicional.

Palavras chave: Tuberculose, análise espacial, Rio de Janeiro, vaiáveis socioeconômicas.

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89

8.2 Introdução

A Tuberculose é uma doença diagnosticada desde a antiguidade e mesmo já tendo tratamento

e cura difundidos, permanece ainda como a doença infecciosa que mais mata no mundo.

Estimativas da OMS para o ano de 2009 apontavam aproximadamente 9,4 milhões de novos

casos de tuberculose, 14 milhões de casos prevalentes, 1,3 milhão e 0,38 milhão de mortes

por tuberculose respectivamente em pessoas não infectadas pelo vírus HIV e em pessoas

infectadas por esse vírus (OMS, 2011).

No ano de 2001, mais próximo do ano dos dados utilizados nesse trabalho, estimativas

apontavam que 1,86 bilhões de pessoas infectadas pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis,

causador da tuberculose. Esse número equivalia a aproximadamente 32% da população

mundial (OMS, 2011). Os números são alarmantes, a cada ano cerca de 8,74 milhões de

pessoas desenvolvem a doença e aproximadamente dois milhões morrem (DYE et al, 1999;

NORAIN, 2002).

Considerada uma doença socialmente determinada, a tuberculose é constantemente associada

às condições sociais e econômicas de vida de uma população e ao processo histórico de

desenvolvimento dessa sociedade. Embora inúmeros estudos já tenham sido feitos nesse

sentido e já exista certo consenso a respeito da relação entre as condições socioeconômicas de

uma população e o desenvolvimento da tuberculose. É sabido, por exemplo, que a relação

entre a tuberculose e as condições socioeconômicas se de diversas formas. Primeiramente o

risco de infecção cresce entre as classes menos favorecidas pelos altos índices de densidade

intradomiciliar e também da densidade demográfica dos locais habitados. O risco de

desenvolver a doença é maior em indivíduos com baixa imunidade devido à desnutrição e as

péssimas condições de trabalho a que estão submetidos e finalmente, as possibilidades dessas

pessoas terem a doença diagnosticada e posteriormente receberem tratamento adequado é

menor do que a de populações mais favorecidas (WAALER, 2002). No entanto, ainda não há

consenso no que diz respeito ao modo como os componentes socioeconômicos se enlaçam

com o substrato biológico da doença (SOUZA et al, 2000; VICENTIN et al, 2002; VAN

HELDEN, 2003).

Assim, a necessidade de se identificar como e quais indicadores socioeconômicos podem estar

associados à doença é crescente, visto que pode colaborar para estratégias de prevenção e

controle desta doença (DYE et al, 1999; NORAIN, 2002).

Em relação ao Brasil, a incidência da doença tem crescido nos últimos 20 anos, chegando a

atuais 50 milhões de pessoas infectadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011) e, segundo dados

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do Ministério da Saúde (2011), ocupamos a 16ª colocação do grupo de 22 países que juntos

respondem por 80% dos casos de tuberculose em todo o mundo. Com isso, a tuberculose é

considerada uma preocupação nacional, sendo o caso do Estado do Rio de Janeiro um dos

mais preocupantes. No ano de 2009, por exemplo, foram notificados 11.778 novos casos de

todas as formas da doença, caracterizando uma taxa de incidência de 73,6 casos por 100.000

habitantes, bem maior do que a média de 35,59 casos por 100.000 habitantes, apresentada no

Brasil no ano anterior. No entanto, a taxa de incidência vem decrescendo visto que no ano

2000 ela ultrapassava os 90 casos por 100.000 habitantes (SESDEC-RJ, 2011).

O objetivo deste trabalho foi analisar a distribuição espacial da tuberculose e a relação entre a

incidência da doença e as variáveis socioeconômicas nos diferentes municípios do Estado do

Rio de Janeiro, Brasil, visando contribuir para estratégias mais eficientes de prevenção e

controle da doença.

8.3 Metodologia

Foi realizado um estudo ecológico cuja área de estudo foi o estado do Rio de Janeiro dividido

por municípios. O território do Estado do Rio de Janeiro está localizado no Brasil e

compreende uma área de aproximadamente 43.696,054 km², estando localizado a uma latitude

22º55’ S e longitude 42º10’ O. A população estimada para o ano de 2000, segundo o censo

demográfico (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE) desse mesmo ano, era de

14.391.282 habitantes com densidade demográfica de aproximadamente 352,05 hab/km², a

segunda maior do país.

Os dados utilizados referentes à incidência de tuberculose no estado no Rio de Janeiro no ano

de 2000 foram fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro – SES e

referem-se aos casos notificados ao SINAN (Sistema de Informação de Agravos a

Notificação). Já os dados relacionados às variáveis socioeconômicas foram retirados do censo

demográfico do IBGE referente ao ano de 2000 e as variáveis de assistência à saúde deste

mesmo ano foram conseguidas junto ao Departamento de Informática do Sistema Único de

Saúde do Ministério da Saúde – DATASUS. As variáveis utilizadas neste estudo

relacionavam-se à renda, escolaridade, saneamento básico e assistência à saúde. A utilização

do ano de 2000 fundamentou-se no fato de que o banco de dados da doença apresentava maior

consistência em função de eliminação da duplicidade de notificações e encerramento dos

casos mais preciso e também por tratar-se de um ano censitário.

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Em relação às análises realizadas, primeiramente foi utilizado o coeficiente de Spearman para

cálculo da correlação entre a incidência da tuberculose (variável dependente) e as variáveis

socioeconômicas (variáveis independentes). O coeficiente de Spearman foi escolhido por ser

utilizado para distribuições não-paramétricas ou comparação de variáveis com grandezas

distintas. Em seguida procedeu-se à análise e modelagem por regressão linear múltipla no

intuito de reduzir os resíduos estocásticos uma vez que reduzindo-se a variância residual

aumenta-se a força dos testes de significância e, também, para eliminar a tendenciosidade da

análise.

Foi realizada também a análise espacial das variáveis. Nesse caso, foram produzidos mapas

para cada uma das variáveis significativas e para a incidência de tuberculose. Procedeu-se

então à análise de autocorrelação espacial da incidência da doença e das variáveis

socioeconômicas utilizando-se o índice de Moran. Este varia de -1 a +1, sendo positivo para

correlação direta e negativo para correlação inversa. Uma vez que foi encontrada

autocorrelação espacial deve-se incorporar as estimativas do modelo de regressão linear

múltipla essa estrutura espacial. Isso porque, a dependência entre as observações altera o

poder explicativo daquele modelo. Para isso foi então usado o modelo de autorregressão

espacial condicional (Conditional Autoregressive – CAR), uma vez que este é capaz de captar

a dependência espacial das variáveis. Por fim, para verificar a qualidade do ajuste do modelo

CAR foi realizada a análise de resíduos com base no Índice de Moran.

Foram utilizados os programas S-Plus 2000 e Arcview 3.2 para as análises realizadas neste

trabalho.

8.4 Resultados

As maiores taxas de incidência de tuberculose foram encontradas na Região Metropolitana do

Estado do Rio de Janeiro como pode ser observado na Figura 1. Tendo os municípios de

Engenheiro Paulo de Frontin (148,0:100.000/hab), Belford Roxo (136,7:100.000/hab) e

Duque de Caxias (135,9:100.000/hab) apresentado as mais elevadas taxas de incidência. Já

nos municípios de Carmo, Italva, Macuco, Santo Antonio de Pádua e Silva Jardim não houve

nenhuma notificação dessa doença.

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Figura 1: Taxa de incidência de tuberculose, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, 2000.

Na Tabela 1, encontram-se as variáveis que obtiveram correlação significativa com a

incidência da tuberculose. Essa correlação foi calculada utilizando-se o coeficiente de

Spearman. Nota-se as variáveis relacionadas à urbanização e ao crescimento populacional

obtiveram correlação significativa e positiva com a incidência da tuberculose. Já as variáveis;

proporção de população com água canalizada, Índice de envelhecimento populacional e

Cobertura do programa Saúde da Família também apresentaram correlação significativa, no

entanto, esta foi negativa.

Tabela 1: Coeficiente de correlação de Spearman entre a incidência de tuberculose e variáveis

socioeconômicas e de assistência à saúde.

Variáveis Spearman p

Taxa de crescimento populacional 0,24 0,023

Densidade demográfica 0,48 0,000

Proporção de população urbana 0,37 0,000

Proporção de população urbana com água canalizada -0,24 0,022

Índice de envelhecimento populacional -0,22 0,037

Proporção de área urbana 0,47 0,000

Cobertura do programa Saúde da Família -0,31 0,003

A Tabela 2 mostra os resultados referentes ao Índice de Moran. Nela podemos observar que

foi encontrada autocorrelação espacial para as variáveis relacionadas à urbanização,

crescimento e envelhecimento populacional, Cobertura do Programa Saúde da Família e,

também, para a variável incidência de tuberculose.

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Tabela 2: Índice de Moran das variáveis em estudo.

Variáveis Índice de Moran p

Taxa de crescimento populacional 0,35 0,023

Densidade demográfica 0,47 0,000

Proporção de população urbana 0,25 0,000

Proporção de população urbana com água canalizada 0,33 0,000

Índice de envelhecimento populacional 0,37 0,000

Proporção de área urbana 0,58 0,000

Cobertura do Programa Saúde da Família 0,32 0,000

Incidência de Tuberculose 0,42 0,005

Após a realização do modelo de regressão linear múltipla, as variáveis que permaneceram no

modelo foram: proporção de área urbana e proporção de população com água canalizada

como pode ser observado na Tabela 3. As Figuras 2 e 3 apresentam a distribuição dessas

variáveis na área estudada.

Tabela 3: Modelo de regressão múltipla da incidência de tuberculose, ano 2000, Estado do

Rio de Janeiro.

Modelo Coeficientes Erro-padrão t p

Intercepto 66,184 12,848 5,151 0,000

Proporção de área urbana 0,872 0,180 4,837 0,000

Proporção de população com água canalizada -0,342 0,158 -2,166 0,033

R2=0,25

Figura 2: Mapas relativos s variável proporção de população com água canalizada.

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Figura 3: Mapas relativos s variável proporção de área urbana

Em função de ter sido encontrada dependência espacial nas variáveis sob estudo, optou-se por

realizar o modelo CAR. Neste caso, a única variável que permaneceu no modelo foi

proporção de área urbana, já que ao se levar em conta a dependência espacial no processo de

modelagem a proporção de população com água canalizada perdeu significância. Os

resultados do modelo CAR encontram-se na Tabela 4.

Tabela 4: Modelo de regressão CAR da incidência de tuberculose, ano 2000, Estado do Rio de

Janeiro.

Modelo Coeficientes Erro-padrão t p

Intercepto 39,820 6,554 6,075 0.000

Proporção de área urbana 0,563 0,218 2,572 0.012

Rho=0,15

Em relação ao modelo de Regressão Linear Múltipla, os resíduos encontrados apresentavam

distribuição próxima da normal, sendo a mediana para a Regressão Linear Múltipla igual a -

3.23. No que se refere à distribuição espacial dos resíduos desse modelo, os positivos mais

elevados concentraram-se na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro, já os resíduos

negativos mais elevados distribuíram-se de forma mais dispersa na área de estudo. O índice de

Moran desses resíduos foi de 0,15 (p<0,02).

Os resíduos do modelo CAR também apresentaram distribuição próxima da normal, e a

mediana para esse modelo foi igual a 2,8. Em relação aos resíduos do modelo CAR, tanto os

resíduos positivos quanto os negativos mais elevados estavam dispersos na área de estudo. O

índice de Moran foi igual a -0,21 (p<0,003).

8.5 Discussão

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Embora a infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, seja uma condição necessária para o

adoecimento, ela não é suficiente, uma vez que o desenvolvimento da tuberculose está

intimamente ligado às precárias condições de vida das populações (MURRAY; LOPEZ, 1996;

HIJAR et al, 2007).

O estado do Rio de Janeiro está entre os primeiros colocados no ranking da incidência da

tuberculose no Brasil (MUNCH et al, 2003) e essa situação é coerente com os indicadores

socioeconômicos do estado, principalmente quando analisados a nível municipal. Com isso,

deve-se aumentar a preocupação com a tuberculose e intensificar-se a busca por programas

eficientes de prevenção e controle da doença.

Diversos estudos já foram realizados no intuito de relacionar a incidência da tuberculose com

fatores socioeconômicos e correlações positivas são freqüentes, o que reforça a proposição de

que a tuberculose está relacionada às condições de vida da população. Munch et al,

encontraram correlação positiva entre a incidência da tuberculose e as variáveis; concentração

de shebeens por km², taxa de desemprego e número de pessoas por quarto em uma mesma

residência. Tendo, as áreas com maior densidade demográfica, apresentado as mais elevadas

taxas de incidência da doença.

Cantwell et al, encontraram relevância para: índice de pobreza, taxa de escolaridade e número

de pessoas por quarto em uma mesma residência.

Já Quijano et al, encontrou correlação significativa entre a taxa de incidência de tuberculose e

as variáveis taxa de desemprego (0,83), baixa escolaridade (0,74), pobreza extrema (0,72),

conflito social (0,81) e adensamento (0,52).

Vicentin et al, obtiveram correlação positiva entre as variáveis socioeconômicas e o

coeficiente de mortalidade por tuberculose para as variáveis; índice de Robin Hood, razão de

renda entre os 10%mais ricos e os 40% mais pobres, índice de pobreza, índice de Gini,

proporção de renda média dos chefes de família até ½ salário mínimo e entre ½ - 1 salário

mínimo. Correlação inversa relevante foi encontrada para as variáveis; taxa de escolaridade de

nível superior, área média por domicílio, renda média em salários mínimos e proporção de

chefes de família com renda entre dez e quinze salários mínimos, entre dezesseis e vinte

salários mínimos e mais de vinte salários mínimos.

Em Chan-Yeung et al, as cinco variáveis socioeconômicas que obtiveram correlação positiva

com a incidência de tuberculose foram; densidade demográfica, taxa de envelhecimento

populacional, taxa de chefes de família com baixa renda, baixa escolaridade e taxa de

desemprego. Tendo as variáveis taxa de envelhecimento populacional, taxa de chefes de

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família com baixa renda, baixa escolaridade permanecido no modelo após a realização da

Regressão Linear Múltipla.

Com isso, observa-se que a despeito da utilização de diferentes modelos estatísticos para o

cálculo da significância da correlação entre as variáveis socioeconômicas utilizadas nos

diversos estudos e a incidência de tuberculose, os resultados são em geral bastante

semelhantes. Tal resultado reforça a idéia de que a incidência da tuberculose está relacionada

à pobreza e as condições de vida da população.

Em nosso estudo, as variáveis ligadas às questões urbanas foram aquelas que melhor

explicaram a variabilidade da incidência da tuberculose sendo essencial que o ambiente

urbano tenha então destaque na elaboração dos programas de prevenção e controle da

tuberculose. Dessa forma a participação de profissionais de outras áreas que se apresentam

como relevantes à incidência da doença é de todo modo, fundamental. Uma estratégia

multiprofissional entre as áreas da Medicina, Biologia, Geografia, Sociologia, Planejamento

Urbano entre outras preencheria as lacunas deixadas por uma abordagem desarticulada.

No mais, duas observações devem ser feitas em relação a este estudo. A primeira diz respeito

a geografia do Estado do Rio de Janeiro, que é bastante peculiar. A distribuição da pobreza

em alguns municípios, sendo o maior exemplo, a cidade do Rio de Janeiro, não é concentrada,

estando muitas vezes ao lado de áreas nobres. O caso mais marcante pode ser observado na

distribuição das favelas cariocas, muitas delas encravadas em meio aos bairros mais nobres

dessa cidade. Esse mesmo padrão é também encontrado em outros municípios como Duque

de Caxias, Macaé, Teresópolis, entre outros. Talvez por isso, não tenhamos encontrado

correlação com algumas das variáveis relacionadas às condições socioeconômicas.

Uma segunda característica importante desse estudo é o uso da macroescala que, em

determinados casos, pode acabar por mascarar certos resultados em função de peculiaridades

da área estudada. Por isso a importância de se conhecer a área de estudo, assim, os resultados

podem ser sempre avaliados de forma mais precisa e consistente.

Com isso, ressalta-se que apesar de algumas variáveis socioeconômicas terem perdido sua

significância em nossas análises estatísticas, isso não substantiva que estas não possuam

correlação significativa com a tuberculose.

Tendo isso em vista, essas informações podem ser úteis para a elaboração de programas de

prevenção e controle da doença que ajam de forma mais eficaz.

8.6 Referências Bibliográficas

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9 Conclusão

O uso das geotecnológicas na área da Epidemiologia vem crescendo fortemente a cada ano. A

capacidade dessas ferramentas de unir dados provenientes de diferentes fontes, a facilidade na

construção de mapas temáticos relacionados às variáveis de interesse do estudo, e o

aparecimento de novos softwares mais baratos e mais amigáveis tem contribuído para isso.

No entanto, é importante ressaltar que a utilização dessas ferramentas deve ser cuidadosa. É

importante que profissionais qualificados estejam envolvidos nos projetos para que erros

banais não prejudiquem o resultado do trabalho.

Os avanços na área da informática mostram que a tendência é que as geotecnologias ocupem

cada vez mais espaço nos estudos epidemiológicos, bem como em trabalhos de outras áreas. E

que contribuam cada vez mais para melhores resultados, utilizando softwares e hardwares

cada vez mais precisos e amigáveis facilitando a vida dos usuários.

Espera-se também que as geotecnologias encontrem mais espaço dentro da ciência geográfica

e que sua importância seja cada vez mais reconhecida. Pois, apesar de entendermos que

análises matemáticas nem sempre serão capazes de abarcar toda a complexidade das relações

humanas e sociais que acontecem no espaço, elas podem sim contribuir para ações práticas

importantes relacionadas as mais diversas áreas.

Em relação a Saúde Coletiva, esperamos que os resultados obtidos por meio do uso das

ferramentas geotecnológicas contribuam cada vez mais para uma sociedade mais saudável e

que tenham sucesso em seus resultados práticos, e que, portanto, o uso de tais ferramentas

possam contribuir para elaboração de programas cada vez mais eficazes que sejam capazes de

diminuir o risco a saúde da população.

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