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1- Discente do programa de Pós-graduação em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia e Docente da rede básica de ensino Estadual de Minas Gerais [email protected] O USO DE MAPAS MENTAIS NO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA A UNIVERSIDADE ABERTA A TERCEIRA IDADE UFTM. Marllon Henrique Leandro 1 Universidade Federal de Uberlândia (UFU) INTRODUÇÃO O presente trabalho trata-se de um relato de experiência vivenciado na Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), na cidade de Uberaba MG. Esse relato traz uma descrição de atividades ligadas ao Trabalho de Conclusão de Curso em que foi desenvolvido uma pesquisa envolvendo o uso dos mapas mentais como recurso para uma análise do espaço urbano da cidade de Uberaba, pois como afirma Oliveira (2010, p.1): [...] o mapa, sobretudo o mapa mental em nosso caso, é observado enquanto construção histórico-social, apreendendo características do vetor tempo/espaço e representando aquilo que adquire importância espacial durante o tempo socialmente construído. O trabalho em questão teve como objetivo resgatar memórias da cidade de Uberaba através dos desenhos dos mapas, como também observar a percepção espacial dos idosos sobre o espaço urbano atual da cidade de Uberaba, essa percepção espacial pode ser entendida através da contribuição de De Paula (2010, p.3), dizendo que: A percepção, portanto, geralmente é interpretada como a ‘chave’ para entender a relação que indivíduos têm com os espaços de seu cotidiano, sendo capaz de ligar todos os processos interiorizados da mente aos fatores do ambiente. Portanto será descrito nesse relato tópicos que remontam as atividades realizadas para o Trabalho de Conclusão de Curso fazendo com que a descrição dessas atividades forneça informações para a realização e outras pesquisas envolvendo essa temática. Participar da UATI UFTM se torna importante na medida em que o estudo da Geografia possibilita ao idoso a inserção do mesmo em atividades que valorizam o trabalho da memória, observação e da análise crítica da sociedade. Por isso, a utilização dos mapas mentais contribui para esses aspectos já que é possível descrever nos mapas a visão de mundo do sujeito que está desenhando. É importante ressaltar que será pontuado a inserção do idoso em atividades que envolvam o trabalho da mente, do corpo e da saúde como formas de se obter uma melhor qualidade de vida, que é o objetivo do Programa Universidade Aberta à Terceira Idade ou

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1- Discente do programa de Pós-graduação em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia e Docente da

rede básica de ensino Estadual de Minas Gerais

[email protected]

O USO DE MAPAS MENTAIS NO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA A

UNIVERSIDADE ABERTA A TERCEIRA IDADE – UFTM.

Marllon Henrique Leandro1

Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho trata-se de um relato de experiência vivenciado na Universidade

Aberta à Terceira Idade (UATI) na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), na

cidade de Uberaba –MG.

Esse relato traz uma descrição de atividades ligadas ao Trabalho de Conclusão de Curso

em que foi desenvolvido uma pesquisa envolvendo o uso dos mapas mentais como recurso para

uma análise do espaço urbano da cidade de Uberaba, pois como afirma Oliveira (2010, p.1):

[...] o mapa, sobretudo o mapa mental em nosso caso, é observado

enquanto construção histórico-social, apreendendo características do

vetor tempo/espaço e representando aquilo que adquire importância

espacial durante o tempo socialmente construído.

O trabalho em questão teve como objetivo resgatar memórias da cidade de Uberaba

através dos desenhos dos mapas, como também observar a percepção espacial dos idosos sobre

o espaço urbano atual da cidade de Uberaba, essa percepção espacial pode ser entendida através

da contribuição de De Paula (2010, p.3), dizendo que:

A percepção, portanto, geralmente é interpretada como a ‘chave’ para

entender a relação que indivíduos têm com os espaços de seu cotidiano,

sendo capaz de ligar todos os processos interiorizados da mente aos

fatores do ambiente.

Portanto será descrito nesse relato tópicos que remontam as atividades realizadas para o

Trabalho de Conclusão de Curso fazendo com que a descrição dessas atividades forneça

informações para a realização e outras pesquisas envolvendo essa temática.

Participar da UATI – UFTM se torna importante na medida em que o estudo da

Geografia possibilita ao idoso a inserção do mesmo em atividades que valorizam o trabalho da

memória, observação e da análise crítica da sociedade. Por isso, a utilização dos mapas mentais

contribui para esses aspectos já que é possível descrever nos mapas a visão de mundo do sujeito

que está desenhando.

É importante ressaltar que será pontuado a inserção do idoso em atividades que

envolvam o trabalho da mente, do corpo e da saúde como formas de se obter uma melhor

qualidade de vida, que é o objetivo do Programa Universidade Aberta à Terceira Idade ou

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Universidade da Terceira Idade como é conhecido esse projeto em outras universidades pelo

mundo.

Deste modo estaremos contribuindo para a prática do Tripé universitário ensino,

pesquisa e extensão, pois, o conhecimento adquirido no meio acadêmico deve ser transmitido

de alguma forma para a sociedade, e a experiência na UATI – UFTM possibilita tal ação como

foi o trabalho dos mapas mentais no ensino de Geografia.

HISTÓRICO DO PROGRAMA UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE.

A Universidade Aberta à Terceira Idade é um programa que visa promover atividades

que reforçam o papel do idoso na sociedade em que para isso são desenvolvidas nesse programa

atividades que envolvem a saúde física e mental dos idosos.

Segundo GOMES; LOURES e ALENCAR (2004, p. 84), a Universidade Aberta à

Terceira Idade, é um termo universal, e seu surgimento direcionada a esse público se deu na

cidade de Toulouse, França, no ano de 1972. Como afirma GOMES; LOURES e ALENCAR

(2004, p. 84) foi criado um projeto de extensão universitária, com a participação de vários

cursos com propostas interdisciplinares visando a inserção da população idosa no mundo do

saber.

Para essas autoras, a Universidade da Terceira Idade ocorre no ambiente universitário

tendo em vista que a universidade é um espaço para “investigação, sistematização e transmissão

do conhecimento” (GOMES; LOURES; ALENCAR, 2004, p. 84).

Na década de 1970, a ideia da Universidade da Terceira Idade tornou-se realidade na

França e nos Estados Unidos da América e posteriormente se difundiu pelo mundo.

Dentre os programas abertos em universidades nesses países, e em outros, algumas

instituições aceitavam alunos com idades a partir de 45 anos, enquanto outras com alunos a

partir de 60 anos:

Estas instituições objetivaram oferecer aos idosos, e aos que preparam

para ser idosos, oportunidades para estimular ou desenvolver atividades

de participação na vida social, econômica, política e cultural. (GOMES;

LOURES e ALENCAR, 2004, p. 87).

No Brasil, a primeira atividade que envolvia o público idoso aconteceu no ano de 1963

pela iniciativa do Serviço Social do Comércio (SESC), que visava introduzir atividades de lazer

nos tempos livres dessa faixa etária. Posteriormente, a partir de experiências de escolas

francesas, são criadas as primeiras “Escolas Abertas para a Terceira Idade”, proporcionando

atividades culturais, além de auxilio sobre serviços públicos como aposentadorias.

A primeira universidade a criar o programa no país foi a Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC), em 1982, através do “Núcleo de Estudos da Terceira Idade” (NETI),

oferecendo cursos de preparação para a população idosa, e para os profissionais ligados a essa

área, seguindo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1988, que tinha como propósito

combater o combate os “estereótipos e preconceitos relacionados a velhice”. (SÁ, 1999, p. 90,

apud, Gomes; Loures e Alencar, 2004, p. 90), dentre várias outras universidades que seguem

realizando trabalhos com a terceira idade.

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É importante ressaltar que a aprovação da Lei N°10.741, de 1° de outubro de 2003, que

“dispõe do Estatuto do idoso e dá outras providências” proporciona a essa faixa etária da

população brasileira a garantia de importantes direitos de acordo com a Constituição Brasileira

de 1988.

Umas dessas vitórias, e que particularmente se faz presente neste trabalho, é o Direito

que consta no Artigo 21, Capítulo V, da Constituição Brasileira, o qual diz: “O Poder Público

criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e

material didático aos programas educacionais a ele destinados”. Esse Direito institucional se

tornou válido pelo Decreto N° 6.214, de 2007.

Na UFTM em Uberaba, o projeto de extensão UATI conta com a participação de

diversos cursos da área da saúde (Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Enfermagem, Serviço

Social, Terapia Ocupacional), além de cursos de licenciatura como Letras e Geografia,

reforçando o tripé universitário.

Esse projeto conta com a participação de aproximadamente 80 alunos da comunidade

externa que são inscritas atividades propostas pelos cursos participantes, sendo que estes são

divididos em duas turmas de 40 alunos cada. A cada ano são abertas novas inscrições para que

mais pessoas possam participar, em que um dos critérios da continuidade dos alunos que já

estão matriculados no projeto, é a presença semanal nas atividades que são ofertadas todas as

quintas feiras durante quatro horas.

O curso de Geografia da UFTM, participa da UATI por meio do projeto de extensão

“Fundamentos da Geografia para a Terceira Idade – UATI”, contando com alunos da graduação

que desenvolvem atividades voltadas para o cotidiano do idoso com temas diversos de acordo

com as disciplinas cursadas pelos alunos na graduação.

Assim as atividades desses cursos reforçam o papel da universidade de oferecer a

comunidade externa representada pela terceira idade, a possibilidade de estar vivenciando o

ambiente universitário.

DESCRIÇÃO DO USO DE MAPAS MENTAIS NA REPRESENTAÇÃO DE

UBERABA – MG: A MEMÓRIA E A PERCEPÇÃO ESPACIAL DO IDOSO.

A pesquisa desenvolvida nesse trabalho requer, como toda prática, uma organização que

permita ao pesquisador, durante o processo, extrair o máximo de informações para que o

trabalho seja concluído com êxito.

Para tanto, é necessário que mencionamos um recorte para a função que os mapas

mentais vieram exercer durante essas atividades que fizeram parte do trabalho de conclusão de

curso do pesquisador, em que, umas das funções é de destacar o espaço vivido como forma de

representar espacialmente o espaço urbano de Uberaba.

O espaço vivido é um local recoberto de significados, de espaços que possuem funções

concretas e simbólicas, haja visto que, uma igreja pode ser observada através da sua arquitetura

marcante, ou também por meio de sua simbologia, de um espaço religioso, sagrado, pois como

afirma Corrêa (2012, p.137) “O espaço vivido é, nesse sentido, a base sobre a qual se

estabelecem ‘mapas de significados', uma expressão que denota a diferenciação simbólica do

espaço”

Essa junção entre o espaço vivido e o espaço simbólico possibilita o resgate histórico

que vão contar uma parte da história de Uberaba, em que, os idosos se tornam atores

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fundamentais por meio das memórias urbanas construídas ao longo de suas vidas na cidade.

Então, a pesquisa buscou através de algumas etapas detalhar os processos que envolveram o

andamento da pesquisa, e que serão descritos em etapas que servirão de suporte para outras

metodologias, e o desenvolvimento de outros trabalhos.

Faz-se necessário destacar que com a finalidade de preservar a identidade das pessoas

envolvidas na pesquisa, os nomes utilizados para nomear os mapas mentais são fictícios.

DESENHOS DOS MAPAS MENTAIS.

A primeira etapa foi a descrição do espaço urbano da cidade de Uberaba por meio dos

desenhos dos mapas mentais remonta maneiras de como as pessoas observam e representam

espacialidade que marcam ou ficam registradas em suas memórias.

Portanto, esse trabalho buscou fazer com que os idosos participantes da UATI – UFTM

representassem no mapa o que para eles representa a região central de Uberaba, deixando para

eles a autonomia de representar qualquer espaço que traz algum significado seja atualmente, ou

que já representou durantes suas vidas, pois os idosos que participaram da pesquisa vivem há

mais de dez anos pelo menos na cidade.

Isso possibilita a construção de desenhos que representam os espaços vividos pelos

idosos, já que como discutimos nesse trabalho “As representações espaciais mentais podem ser

do espaço vivido no cotidiano, como por exemplo, os lugares construídos do presente ou do

passado” (ARCHELA; GRATÃO; TROSTDORF, 2004, p. 127).

O mapa desenhado pela senhora Erli, aluna da UATI, apresenta uma visão ampla de

parte do espaço urbano da cidade, destacando alguns locais específicos que para a aluna são

elementos representativos do espaço urbano de Uberaba.

Figura 1 - Mapa mental da senhora Erli

Fonte: Erli, 2014.

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Essa possibilidade de representar espacialmente qualquer área ou local que o aluno (a)

considere como centro e que possua algum significado para ele (a), possibilita uma liberdade e

espontaneidade no desenho do mapa mental, sem a preocupação de estar fazendo algo errado

representando uma visão de mundo, de espaço e de paisagem de cada indivíduo, o que faz desse

desenho uma visão única, nesse caso, da senhora Erli.

O mapa mental desenhado pela senhora Erli mostra não só áreas centrais da cidade de

Uberaba, mas também é referenciado no desenho pontos e ruas importantes do município, como

a localização do aeroporto, da fábrica de tecidos, da Catedral, do centro da cidade, dos correios,

do cemitério (indicados pelas setas) e das principais ruas e avenidas que liga esses locais citados

acima.

Esse mapa apresenta espaços que estão presentes em nosso cotidiano, seja a igreja e o

cemitério como espaços religiosos, sagrados, ou os correios, a fábrica como locais de trabalho,

ou frequentados todo mês para exercer alguma função, além do aeroporto, muitas vezes

representa o crescimento das cidades, o desenvolvimento. Então, o espaço desenhado pela

senhora Erli representa a região central de Uberaba para ela, somente dela, seja porque ela

frequenta ou frequentou mais esses lugares, ou por outros motivos que faz desse recorte espacial

um espaço de significados.

Outro exemplo que retrata bem as inúmeras possibilidades de representações do espaço

urbano por meio dos mapas mentais, é o desenho da senhora Maria, em que ela desenho sua

memória urbana da década de 1960 sobre o “Cine Metrópole”, importante lugar de encontros e

de lazer da época.

Figura 2 - Mapa mental desenhado pela senhora Maria.

Fonte: Maria, 2014.

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O mapa acima, desenhado pela senhora Maria, aluna da UATI, mostra o “Cine

Metrópole” no ano de 1968, onde percebe-se que o córrego das lajes ainda corre a céu aberto.

Contudo, como podemos observar a Avenida Leopoldino de Oliveira já possui uma paisagem

diferente, com a rua já pavimentada por paralelepípedos, descritos pela senhora Maria, e com

uma calçada em frente o “Grande Hotel”, importante local da cidade na década de 1960 em

diante, onde estava localizado o “Cine Metrópole” e o restaurante “Galo de Ouro”,

estabelecimentos frequentados pela classe alta da cidade de Uberaba, como relatado pela aluna

através das atividades anteriores da pesquisa.

Esse mapa é importante para que compreendermos as transformações espaciais ao longo

dos anos, já que a Avenida Leopoldina de Oliveira, importante via de acesso a muitos bairros

da cidade de Uberaba, atualmente encontra recoberta por concreto, não possuindo mais o

córrego das Lajes a céu aberto.

Deste modo que percebemos a capacidade de representação espacial dos mapas mentais

seja qual época a ser especializada, e materializada no papel através nesse trabalho da

participação dos alunos da UATI – UFTM.

MEMÓRIA URBANA DE UBERABA – MG POR MEIO DE FOTOGRAFIAS.

A segunda etapa proposta teve como intenção o resgate da memória urbana de Uberaba

por meio da exposição de fotos de diferentes momentos do espaço urbano da cidade, buscando

assim uma comparação do passado e do presente de um mesmo lugar.

A atividade foi conduzida deixando abertura para que os idosos contassem histórias

sobre os lugares apresentados nas imagens e expusessem também quais atividades são

realizadas nesses mesmos locais nos dias de hoje.

Essa atividade foi muita rica, já que as histórias orais trazem consigo detalhes e fatos

retidos na memória, que remetem a vários momentos vividos por eles ao longo de suas vidas,

nos lugares ilustrados pelas fotografias. Como mencionado anteriormente “A importância desse

resgate para a identidade de um lugar é inquestionável, e é por isso que as “histórias orais” e as

“memórias de velhos” vê hoje se difundindo bastante no Brasil”. (BOSI, 1987; COSTA, 1993;

MEIHY, 1996, apud ABREU, 1998, p. 83)

É importante ressaltar que a escolha das fotografias como as duas abaixo levaram em

conta regiões representadas pelos idosos na primeira etapa de desenho dos mapas mentais,

possibilitando um trabalho contínuo em que podemos extrair muitas informações e

interpretações desses espaços que já sofreram inúmeras transformações percebidas e

materializadas pelo tempo.

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Figura 3 - Avenida Leopoldino Figura 4 - Avenida Leopoldino

de Oliveira (1940). de Oliveira (1961)

Autor: Postal Colombo Autor: José Kalkbrenner

Restauração: Paulo Lemos Restauração: Paulo Lemos.

Fonte: Arquivo Público de Uberaba, 2012. Fonte: Arquivo Público de Uberaba, 2012.

Portanto, a realização da atividade não só trouxe muitas contribuições para esse trabalho

como proporcionou o desenvolvimento da próxima atividade que será descrita no item seguinte,

pois após a visualização de alguns pontos da cidade pelas fotografias, planejamos uma atividade

de campo com os idosos da UATI, buscando percorrer um trajeto que respondesse as histórias

contadas nessa atividade.

A ATIVIDADE DE CAMPO NA OBSERVAÇÃO DO ESPAÇO REAL.

O trabalho de campo é sem dúvida um recurso muito importante para a compreensão e

análise do que é discutido dentro de sala de aula. No caso específico dessa pesquisa, a terceira

etapa foi relevante para que pudéssemos relacionar a atividade anterior das fotografias com a

observação desses lugares no espaço urbano da cidade.

Desta forma, esse trabalho de campo foi realizado a partir de um trajeto construído de

forma que atendesse quase todos os lugares retratados pelas imagens, possibilitando assim a

visualização desses locais e também um novo resgate de histórias contadas pelos idosos.

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Então, fizemos um passeio pela cidade de Uberaba, e dentro do ônibus, fomos

conversando e escutando as histórias vividas pelos idosos. Esse passeio pela cidade trouxe

importantes reflexões dos idosos sobre espaços que não são mais utilizados por eles devido à

ocorrência de alguns crimes ou ao pouco acesso deles por conta da distância de onde moram,

já que a cidade cresceu significativamente ao longo dos últimos anos.

A atividade de campo seguiu o trajeto com paradas em locais escolhidos pelos idosos

como a praça “Comendador Quintino”, onde está localizado a “Escola Estadual Grupo Brasil”,

a primeira escola da cidade, na qual alguns dos alunos da UATI estudaram ao longo de suas

vidas, além da passagem pelo centro financeiro e econômico da cidade, tendo como retorno a

UFTM.

A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE UBERABA - MG E SUA

RELAÇÃO COM A MEMÓRIA INDIVIDUAL E COLETIVA DOS IDOSOS

A quarta e última etapa partiu do propósito de reunir todas as etapas anteriores da

pesquisa e finalizar as atividades da Geografia nos trabalhos com os mapas mentais construídos

pelos idosos. Logo, foi preciso que reuníssemos nessa atividade os mapas mentais, a memória

urbana, e o trabalho de campo.

Pensando nisso, foi desenhado no quadro branco o trajeto percorrido no trabalho de

campo, passando pelos principais locais retratados nos mapas mentais desenhados na primeira

etapa.

Posteriormente, foram distribuídas sobre a mesa cópias impressas de imagens de

Uberaba-MG, que fizeram parte da segunda atividade que envolveu a memória urbana da

cidade. Sobre a mesa, as cópias das imagens foram viradas para baixo, sem que os idosos

soubessem os locais da cidade que cada uma delas representava.

Logo, os alunos deveriam localizar no trajeto desenhado no quadro, os locais das

imagens, colando-as. Para tanto, eles poderiam dialogar com os colegas da turma para

descobrirem que ponto da cidade estava representado na imagem e qual sua localização no

mapa.

Acima de tudo, a atividade proposta buscou ser uma experiência educativa

enriquecedora para discutir e refletir sobre as atividades anteriores e promoverem as memórias

construídas durante a pesquisa.

Nas figuras 5, 6 e 7, são representadas as etapas descritas anteriormente fazendo com

que o leitor possa entender o passo a passo que foi realizado durante a pesquisar, e assim extrair

o máximo de informações possíveis para outros trabalhos.

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Figura 5 - Trajeto do trabalho de campo sobre o espaço urbano de Uberaba.

Fonte: Arquivo Pessoal, 2014.

Figura 6 - Disposição aleatória das figuras na mesa.

Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

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Figura 7 - Idosos da UATI – UFTM participando da atividade proposta.

Fonte: Arquivo pessoal, 2014.

Essa etapa trouxe importantes reflexões ao longo da pesquisa que resultou no Trabalho

de conclusão de curso do pesquisador, onde buscou resgatar a memória e história da cidade de

Uberaba – MG por meio das memórias dos idosos, que de alguma forma contribuíram para que

essa história fosse escrita e construída através das experiências vividas deles.

Além de propiciar a todos os alunos da UATI – UFTM, a oportunidade de estudar e

praticar a Geografia, já que essa ciência consiste em unir a teoria e a prática na descrição,

reflexão e representação do mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa detalhada nesse relato através das etapas descritas fez com que

compreendêssemos a importância dos mapas mentais na representação no papel de inúmeros

espaços, sendo que esses desenhos proporcionam uma ida ao passado no resgate da história

vivida e experiência pelos idosos, além de dialogar com fatos atuais.

Ao longo do trabalho percebemos que a representação espacial que o mapa mental

possibilita aos envolvidos na pesquisa, torna-se uma metodologia importante também no

fortalecimento e trabalho contínuo da memória, além de estabelecer uma socialização de

histórias e vivências até então restritas a cada um dos idosos.

Os mapas mentais destacaram-se por serem recursos metodológico capazes de

estabelecer funções de unir fatos e histórias que as pessoas vivenciam no cotidiano com

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significados marcados por algum acontecimento em especifico, visto que, durante nossas vidas

existem momentos que ficam registrados em nossas memórias, seja na rua onde moramos, no

bairro, na escola, no trabalho, e etc., esses lugares foram de alguma forma representados nos

mapas pelos idosos por fazer parte de experiências únicas em suas vidas.

Por isso, os mapas possibilitaram a percepção espacial dos idosos sobre o espaço urbano

na cidade de Uberaba aliado as memórias deles reforçando ainda mais o objetivo da

universidade aberta do exercício da mente e do corpo físico dos idosos

Contudo, essa pesquisa não busca somente contar a história da cidade de Uberaba, mas

também, reforçar o papel dos idosos como cidadãos atuantes e representativos na sociedade,

fazendo com que as autoridades representantes de todos os âmbitos municipais, estaduais e

federais destinem mais atenção na obtenção de atividades mais acessíveis para o fortalecimento

físico e mental da terceira idade, e como já mencionado em outro tópico desse trabalho, esse

programa visa combater estereótipos direcionados ao público da terceira idade.

Portanto, esse trabalho visa contribuir com futuros pesquisadores sobre o tema dos

mapas mentais, e da possibilidade de trabalhar esse recurso metodológico com qualquer faixa

etária, já que existem trabalhos envolvendo os mapas em escolas de ensino infantil; juvenil;

jovens e adolescentes; e no público da terceira idade.

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