20
123 O valor da informação contabilística na óptica do produtor e do utilizador da informação – estudo empírico Maria do Céu Gaspar Alves Professora Auxiliar do Depar tamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior [email protected] ou [email protected] Ana Maria Ussman Professora Associada do Depar tamento de Gestão e Economia da Universidade da Beira Interior [email protected] Resumo Este artigo sintetiza os resultados de um trabalho de investigação sobre as características do sistema de contabilidade de gestão das grandes em- presas da indústria transformadora portuguesa. Pretende-se identificar os objectivos e limitações do sistema implementado e averiguar qual é a impor- tância atribuída à informação contabilística pelos dirigentes das várias áreas funcionais da empresa. Os dados foram recolhidos por meio de um levantamento efectuado por in- quérito postal junto de 365 empresas. Os resultados indicam que o sistema contabilístico implementado nas grandes empresas industriais portuguesas representa uma peça fundamental do sistema de informação interno, porém nem todos os dirigentes possuem a mesma opinião quanto aos objectivos, limitações e importância do sistema implementado. Palavras-chave: “Contabilidade de Gestão”; “Sistema de Informação de Gestão”; “Indústria transformadora”; “Informação contabilística de gestão”. Contabilidade e Gestão, n.º 2, 123-###

O Valor Da Informacao Contabilistica

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O Valor Da Informacao Contabilistica

123

O valor da informação contabilística na óptica do produtor e do utilizador da informação

– estudo empírico

Maria do Céu Gaspar AlvesProfessora Auxiliar do Departamento

de Gestão e Economia da Universidade da Beira [email protected] ou [email protected]

Ana Maria Ussman Professora Associada do Departamento

de Gestão e Economia da Universidade da Beira [email protected]

Resumo

Este artigo sintetiza os resultados de um trabalho de investigação sobre as características do sistema de contabilidade de gestão das grandes em-presas da indústria transformadora portuguesa. Pretende-se identificar os objectivos e limitações do sistema implementado e averiguar qual é a impor-tância atribuída à informação contabilística pelos dirigentes das várias áreas funcionais da empresa.

Os dados foram recolhidos por meio de um levantamento efectuado por in-quérito postal junto de 365 empresas. Os resultados indicam que o sistema contabilístico implementado nas grandes empresas industriais portuguesas representa uma peça fundamental do sistema de informação interno, porém nem todos os dirigentes possuem a mesma opinião quanto aos objectivos, limitações e importância do sistema implementado.

Palavras-chave: “Contabilidade de Gestão”; “Sistema de Informação de Gestão”; “Indústria transformadora”; “Informação contabilística de gestão”.

Contabilidade e Gestão, n.º 2, 123-###

Page 2: O Valor Da Informacao Contabilistica

124

Introdução

No desempenho das suas tarefas, os gestores têm que tomar decisões; para isso, procuram sistemas de informação que estejam desenhados para as suas necessidades e que sejam suficientemente flexíveis para, num ambiente em constante mutação, lhe permitirem tomar decisões fundamentadas.

Tradicionalmente, é à contabilidade que pertence o papel de fornecer in-formação. No entanto, alguns gestores mostram cada vez mais relutância em confiar, exclusivamente, nos relatórios contabilísticos. Consideram que a informação contabilística possui algumas limitações, sobretudo devido ao desfasamento temporal entre o registo dos factos e a sua divulgação.

Para ultrapassar estas limitações é necessário centrar mais recursos da área contabilística no apoio à gestão, de modo a que seja elaborada informa-ção, sob a forma de mapas, quadros, etc., mais adequada às necessidades dos gestores operacionais, tendo presente que os dados contabilísticos po-dem ter diferentes utilizações e apresentar diversas facetas com interesse para diversos executivos, isto é, aos mesmos dados nem todos vão buscar a mesma informação.

Este artigo tem por objectivo estudar o sistema contabilístico implemen-tado nas grandes empresas da industria transformadora portuguesa. A in-vestigação foi orientada por duas questões: 1) saber quais os objectivos e limitações do sistema de contabilidade de gestão implementado nestas em-presas? e 2) saber qual a importância atribuída à informação contabilística pelos dirigentes de várias áreas funcionais da empresa? O método utilizado foi o inquérito postal.

O artigo estrutura-se em quatro partes. Na primeira parte é feita uma revisão da literatura que conduz a duas questões de investigação. Segue-se, na segunda parte, a descrição da metodologia usada. Na parte três são apresentados os resultados obtidos e é feita a sua discussão. Finalmente são tecidas algumas conclusões da investigação desenvolvida.

1. A CONTABILIDADE DE GESTÃO NO SISTEMA DE INFORMAÇÃO EMPRESARIAL

Em termos históricos constata-se que a procura de informação sobre tran-sacções com o exterior é uma realidade que existe há muitos anos (John-son e Kaplan, 1987). No entanto, a procura de informação contabilística de

Page 3: O Valor Da Informacao Contabilistica

125

gestão, informação relativa às transferências internas da organização, é um fenómeno muito mais recente que surgiu em consequência da Revolução In-dustrial (Johnson e Kaplan, 1987; IMACC - GV e Gago, 2000; Atkinson et al., 2004). O aumento na dimensão e complexidade das empresas, verificado neste período, conduziu a uma estrutura organizacional mais hierarquizada e com maior necessidade de informação contabilística (Johnson e Kaplan, 1987; IMACC - GV e Gago, 2000). Associadas a esta nova procura surgiram as primeiras medidas da Contabilidade de Gestão. Tratava-se de medidas simples, centradas na determinação dos custos e na produção de informa-ção de síntese como por exemplo, o custo por hora, por processo ou, ainda, por trabalhador.

Com o movimento da Gestão Científica, associado a Frederick Taylor e Henry Fayol, foram dados mais alguns passos no desenvolvimento do Sis-tema de Contabilidade de Gestão. O estudo científico das operações de transformação permitiu que fossem criados custos padrão para os custos directos, as matérias e a mão-de-obra (Fleischman e Parker, 1991). Por sua vez, os custos indirectos passaram a ser imputados aos produtos através de coeficientes simples tendo por base, geralmente, o valor ou as horas da mão-de-obra directa. Por último, a eficiência passou a ser medida através da análise dos desvios entre custo real e custo padrão.

A evolução e as mudanças sofridas pela contabilidade de gestão com o decorrer do tempo podem ser representadas por quatro fases diferentes (IFAC, 1998):

1. Anterior a 1950, em que a ênfase era colocada na determinação dos cus-tos e no controlo financeiro;

2. Por volta de 1965, a ênfase deslocou-se para o fornecimento de informa-ção para o planeamento e controlo de gestão;

3. Em meados da década de 80, a atenção dirigiu-se para a redução dos desperdícios, ou seja, para uma utilização mais eficiente dos recursos;

4. Finalmente, em meados da década de 90, a atenção centrou-se na cria-ção de valor através de uma utilização eficaz dos recursos.

De salientar que, embora estas quatro fases sejam facilmente identificáveis, a passagem de uma fase para outra deu-se através de um processo evolutivo; cada fase representa uma necessidade de adaptação a novas condições, per-manecendo, contudo, a satisfação das necessidades das fases anteriores (IFAC,

Page 4: O Valor Da Informacao Contabilistica

126

1998). Deste modo, a ênfase no fornecimento de informação que surgiu na se-gunda fase, não desapareceu na terceira. Pelo contrário, este fornecimento de informação foi reajustado às novas necessidades, de tal forma que a informação passou nas fases 3 e 4 a ser vista como um recurso organizacional, e como tal procura-se reduzir as perdas e os desperdícios deste recurso. O próprio papel da contabilidade foi mudando neste processo. Com efeito, enquanto que na primeira fase, a contabilidade era vista como uma actividade técnica necessária para o prosseguimento dos objectivos organizacionais, na segunda fase ela passou a ser vista como uma actividade de gestão, embora numa função de assessoria, ou seja, fora da linha de comando. Nas fases 3 e 4 a contabilidade passa a fazer parte integrante do processo de gestão, sendo vista como um interveniente indis-pensável no processo de mudança organizacional (Ezzamel et al., 1994).

Assim, foi a partir da década de sessenta que se deu uma revolução no tratamento da informação no contexto empresarial. “Nas escolas a contabi-lidade passa a ser tratada como sistema de informação e nos documentos saídos de organizações profissionais aponta-se como objectivo em destaque da contabilidade: informar” (Carqueja, 2002:341). Esta opinião é partilhada por Túa (1997) que acrescenta que foi na década de sessenta que se deram as grandes mudanças na contabilidade com o surgimento do “paradigma da utilidade”, que orienta o conteúdo dos documentos para as necessidades dos usuários e transforma o fornecimento de informação para o apoio à to-mada de decisão na principal função da contabilidade.

Neste contexto, ao contabilista são exigidos novos conhecimentos (Le-bas, 1995), nomeadamente a habilidade de saber comunicar e trabalhar em equipa, de possuir sólidos conhecimentos analíticos de contabilidade e um conhecimento profundo do funcionamento do negócio. Alguns contabilistas de gestão acreditam mesmo que, no futuro, o seu papel será mais valorizado indo muito além do de parceiro de negócio (Burns e Yazdifar, 2001). Numa perspectiva mais estratégica e pró-activa, o contabilista chegará a partilhar com a gestão de topo a tomada de decisão (IFAC, 2001; 2004).

Contudo, antes de tentar saber qual vai ser o papel do contabilista no futuro, pretende-se com este trabalho averiguar qual o seu papel actual nas empresas portuguesas para o que se parte de duas questões básicas:

– Quais os objectivos e limitações do sistema de contabilidade de gestão implementado nestas empresas?

– Qual a importância atribuída à informação contabilística pelos dirigentes de várias áreas funcionais da empresa?

Page 5: O Valor Da Informacao Contabilistica

127

Na resposta a estas perguntas procurar-se-á, ao longo de todo o trabalho, distinguir as duas perspectivas do ciclo: a do produtor da informação con-tabilística, contabilista ou gestor financeiro, e a de potenciais utilizadores, gestores da produção, comerciais ou de marketing.

2. METODOLOGIA

Depois de formulados os objectivos da investigação foi definida a popula-ção alvo, tendo em conta que “aquele que procede por inquérito escolherá o seu terreno ou a sua população de forma a poder efectuar as análises necessárias para atingir os seus fins” (Ghiglione e Mathalon, 1992: 9).

Neste estudo, a população alvo é composta pelos dirigentes - responsá-veis pelas áreas contabilística e financeira, produção e comercial ou marke-ting - de empresas da indústria transformadora portuguesa, seleccionadas a partir de duas bases de dados:

• uma listagem de empresas adquirida no DETEFP - Departamento de Estatística do Trabalho, Emprego e Formação Profissional do Ministério do Trabalho e da Solidariedade1;

• uma listagem das maiores empresas portuguesas, publicada com o Jornal Expresso2.

Da análise destas duas listagens resultou uma amostra de 365 empresas que cumpriam os seguintes requisitos:

1 – pertencer à Indústria Transformadora (CAE D);

2 – ter mais de 100 trabalhadores ao serviço;

3 – fazer parte das 1000 maiores empresas portuguesas.

Estes requisitos levaram à construção da amostra inicial, apresentada em anexo3.

Para a recolha de dados primários sobre a realidade portuguesa optou-se pelo inquérito por questionário, o qual, apesar de apresentar algumas limita-ções, nomeadamente o facto de estar dependente da linguagem, apresenta algumas vantagens significativas (Marconi e Lakatos, 1996). Trata-se de um instrumento relativamente simples de aplicar, representa economias de

Page 6: O Valor Da Informacao Contabilistica

128

tempo e de recursos, permite evitar distorções provocadas pela intervenção directa do investigador e facilita a análise e interpretação dos dados. Tam-bém para o inquirido este instrumento apresenta vantagens pelo facto de permitir manter o anonimato e, deste modo, possibilitar uma maior veracida-de nas respostas.

Contudo, entre as principais limitações destes instrumentos destacam-se o facto de não se poderem avaliar os problemas em profundidade e as baixas taxas de resposta (Marconi e Lakatos, 1996). Procurando minimizar os riscos foram implementados alguns procedimentos:

• Preparação cuidada do envio do questionário - todas as empresas foram previamente contactadas por correio postal ou electrónico e informadas da realização do estudo e dos seus objectivos.

• O envio dos questionários foi cuidadosamente escalonado de modo a evi-tar potenciais enviesamentos provocados por trocas de opinião entre os inquiridos das diversas áreas funcionais da mesma empresa. Para isso, os três questionários foram enviados com cerca de quatro semanas de intervalo uns dos outros.

• Todos os questionários foram acompanhados de uma carta na qual se explicavam os objectivos da investigação.

• Foi disponibilizado um número de telefone e um endereço electrónico que pode-riam ser utilizados pelos inquiridos para qualquer esclarecimento adicional.

• Foram ainda feitos dois apelos à participação, por correio postal, e forneci-dos esclarecimentos sempre que foram detectadas situações irregulares.

Assim, o estudo empírico efectuado consistiu num inquérito, operaciona-lizado através de 3 questionários fechados enviados por correio postal aos responsáveis de três áreas funcionais de um conjunto de mais de 300 gran-des empresas da indústria transformadora, durante a Primavera de 2001.

Com estes questionários procurou-se analisar as perspectivas do produ-tor da informação e a do seu utilizador, de modo a evitar as limitações e os enviesamentos provocados pela análise de um único ponto de vista (Clarke, 1997; Pierce e O´Dea, 1998).

A preocupação com o facto de o questionário poder levar os dirigen-tes a darem as respostas consideradas mais correctas dominou o de-

Page 7: O Valor Da Informacao Contabilistica

129

senvolvimento deste instrumento. Por essa razão, nem o questionário, nem a carta de introdução revelaram mais informação do que a que pareceu essencial para o preenchimento do mesmo. Na organização das questões alternaram-se enunciados favoráveis e desfavoráveis de modo a evitar os “enviesamentos de positividade” (Ghiglione e Matha-lon, 1992).

Segundo diversos autores (Javeau, 1988; Ghiglione e Matalon, 1992), depois de redigido, o questionário deve ser testado enviando-se o for-mulário a uma pequena amostra da população. Nesta perspectiva, o questionário foi previamente testado com um grupo de pessoas dos meios académico e empresarial, de modo a aperfeiçoar o seu conteúdo e vocabulário.

Nenhum dos inquiridos considerou o questionário difícil de preencher. Nestas circunstâncias, e depois de corrigido o questionário inicial, deu-se início ao inquérito postal.

Os dados coligidos a partir dos questionários foram analisados através da aplicação de estatísticas descritivas. Para isso, foi utilizado o programa estatístico SPSS (Statistics Packages for Social Sciences).

Grande parte dos resultados são apresentados sob a forma de tabelas de frequência ou de contingência, quando se procura analisar as relações entre variáveis. Em termos gerais são analisados três tipos de relações (Ghiglione e Matalon, 1992):

• as correlações;

• as associações;

• as diferenças entre grupos.

Neste último caso, para analisar o significado das diferenças detecta-das nos comportamentos dos dirigentes inquiridos nas três áreas funcio-nais estudadas, são utilizados sobretudo testes não paramétricos. Este tipo de testes é geralmente utilizado em experiências cujos resultados exprimam uma ordem, ou seja, quando se trabalha com variáveis ordi-nais. A base dos testes não paramétricos está na ordenação dos dados e não no seu valor intrínseco. Deste modo, embora, se perca em precisão ganha-se em eficiência e na facilidade de interpretação dos resultados (Pontes, 2000).

Page 8: O Valor Da Informacao Contabilistica

130

3. RESULTADOS OBTIDOS

3.1. Caracterização da amostra

Ao caracterizar a amostra4 procurar-se-á salientar alguns dos aspectos que melhor descrevem as empresas inquiridas, nomeadamente: a (1) lo-calização, a (2) idade, o (3) sector de actividade, a (4) forma jurídica, a (5) dimensão, a (6) actividade produtiva e a (7) evolução económico-financeira recente. Esta caracterização encontra-se sistematizada no quadro 01.

Quadro 1 - Caracterização da amostraCritérios

de caracterização das empresas

Questionários aplicados a dirigentes das áreas financeiras (N=65)

Questionários aplicados a dirigentes das áreas não financeiras (Comercial /

marketing e Produção) (N=76)Taxa

de resposta 19% 13%

Localização(proveniência

dos questioná-rios recebidos)

10 distritos do continente. Sendo Lisboa e Aveiro os distritos mais representativos, respectivamente com 30% e 23% dos questionários recebidos.

13 distritos do país.Sendo Lisboa e Aveiro os distritos mais representativos, respectivamente com 34% e 17% dos questionários recebidos.

Idade

Claro predomínio das empresas criadas nos últimos 40 anos, uma vez que re-presentam mais de 70% da amostra.Em termos médios a idade das empre-sas é de 33 anos.

Claro predomínio das empresas criadas desde 1960. Em termos médios a idade das empresas é de 39 anos.

Sector de actividade

Entre os sectores mais representativos destaca-se o sector da indústria alimentar e das bebidas, a fabricação de têxteis, a fabricação de produtos químicos e ainda a fabricação de produtos metálicos.

Os mais representativos são o sector da indústria alimentar e das bebidas, a fabri-cação de têxteis, a indústria do vestuário, a fabricação de produtos químicos, a fa-bricação de máquinas e equipamentos e ainda a fabricação de equipamentos e aparelhos de rádio e televisão.

Forma jurídica Sociedades anónimas (60%) e socieda-des por quotas (40%).

Sociedades anónimas (cerca de 70%) e sociedades por quotas (cerca de 30%).

Dimensão da empresa

(caracterizada pelo volume de vendas e

pelo número de trabalhadores)

Todas as empresas com mais de 500 trabalhadores possuem um volume de vendas superior a 12.000.000 euros. Nenhuma das empresas apresenta um volu-me de vendas inferior a 2.500.000 euros Mais de 78% apresentam um volume de vendas superior a 12.000.000 euros.

Só foram encontradas empresas com mais de 500 trabalhadores para volumes de venda superior a 25.000.000 euros.Até esse escalão a maioria das empresas possuíam entre 100 e 250 trabalhadores.

Actividade produtiva

(foram consi-deradas duas variáveis, o

mercado de des-tino do produto final e o proces-so de produção

utilizado)

Quanto ao mercado de destino do pro-duto final constata-se que 90% das empresas trabalham para o mercado externo, embora uma grande parte das empresas (40%) destine menos de 25% da sua produção à exportação. Por ou-tro lado, foram detectados 6 casos nos quais a produção se destina, na totali-dade, ao mercado interno.O processo de produção mais frequente é a produção por encomenda, citado por 39 inquiridos (61%). Em segundo lugar surge o processo de produção contínua e por último a produção por lotes.

A maioria das empresas trabalham para o mercado externo. Contudo, apenas 3 tra-balham exclusivamente para exportação e uma parte significativa das empresas (30%) destinam menos de um quarto da sua produção à exportação. O processo de produção mais frequente é a produção por encomenda, citado por cerca de 60% dos inquiridos. Em segundo lugar, surge o processo de produção contí-nua e, por último, a produção por lotes. Nenhuma das empresas apresentou outro tipo de processo de produção.

Evolução eco-nómico finan-ceira recente (nos últimos 3

anos)

Apenas 20% das empresas tiveram difi-culdades de diversa ordem. Das restan-tes, 30% mantiveram-se estáveis e quase 50 % tiveram uma evolução favorável.

Aqui 14% das empresas tiveram dificuldades de diversa ordem, 41% tiveram uma evolu-ção estável e 45% uma evolução favorável.

Page 9: O Valor Da Informacao Contabilistica

131

3.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma das finalidades do questionário aplicado foi conhecer a opinião dos inquiridos relativamente aos objectivos, às limitações e ao próprio funciona-mento do sistema contabilístico.

Para isso, procurou-se identificar o tipo de sistema existente na empresa e os objectivos e limitações que lhe eram inerentes.

A primeira questão colocada é relativa aos objectivos do sistema de con-tabilidade financeira. Os resultados obtidos encontram-se sintetizados no quadro 02.

Quadro 2 - Objectivos do sistema de contabilidade financeira, por área funcional

Objectivos Desvio

Permite o cumprimento das obrigações fiscais

Contabilidade 65 3,89 10,6

Comercial 36 4,00 1,01

Produção 40 4,08 1,23

Total 141 3,97 1,10

Fornece informação para a tomada de decisão*

Contabilidade 65 4,06 1,10

Comercial 36 3,78 1,27

Produção 40 3,55 1,24

Total 141 3,84 1,20

Fornece informação para o processo de controlo

Contabilidade 65 3,85 1,06

Comercial 36 3,83 1,13

Produção 40 3,45 1,18

Total 141 3,73 1,12

Fornece informação para o processo de planeamento

Contabilidade 65 3,26 1,03

Comercial 36 3,36 1,29

Produção 40 2,98 1,10

Total 141 3,21 1,12

Resultados dos testes de Kruskal Wallis * = nível de significância de 0,1 ** = nível de significância de 0,05 *** = nível de significância de 0,01

Os inquiridos apontam como principal objectivo do sistema de contabilida-de financeira o cumprimento das obrigações fiscais, contudo, a opinião não é unânime destacando-se algumas diferenças de opinião entre os vários gru-pos de decisores. Assim, na área contabilística, é apontado como principal objectivo o fornecimento de informação para a tomada de decisão (quadro 02). Em contrapartida, para os decisores das restantes áreas, é o cumpri-mento das obrigações fiscais que surge em primeiro lugar. Estes últimos, ainda encaram a contabilidade tal como ela era vista na primeira metade do

Page 10: O Valor Da Informacao Contabilistica

132

século passado. Enquanto os contabilistas consideram que o seu trabalho é importante para a tomada de decisões, os profissionais da área comercial e produtiva crêem que se trata sobretudo do cumprimento de uma mera formalidade fiscal.

A aplicação do teste de Kruskall-Wallis, para reforçar a robustez das conclusões, permite detectar diferenças estatisticamente significativas na avaliação dos vários grupos de decisores, ao nível do fornecimento de informação para a tomada de decisão. Assim, a importância atribuída a este objectivo pelos dirigentes da área financeira é significativamente maior do que a que lhe é atribuída pelos restantes dirigentes, o que pode indiciar uma visão distinta da contabilidade por parte destes dois grupos de dirigentes.

A segunda questão colocada é relativa à existência ou não de conta-bilidade analítica5 na empresa. Globalmente, constata-se que apenas em 10% das empresas inquiridas esta não existe (Fig. 01), o que pode parecer animador. Contudo, sendo a amostra constituída por grandes empresas e, representando a contabilidade analítica um importante instrumento de ges-tão, não deixa de ser motivo de preocupação o facto de algumas empresas ainda funcionarem sem tal instrumento.

Figura 1Existência de contabilidade analítica

Sim90%

Não10%

A terceira questão colocada no questionário é relativa aos objectivos do sistema de contabilidade analítica.

Page 11: O Valor Da Informacao Contabilistica

133

Quadro 3 – objectivos do sistema de contabilidade Analítica, por área funcional

Objectivos Desvio

Fornece informação para a determinação dos custoa

Contabilidade 55 4,55 0,63

Comercial 33 4,58 0,71

Produção 39 4,41 0,72

Total 127 4,51 0,68

Fornece informação para a definição dos preços de venda

Contabilidade 55 3,71 1,13

Comercial 33 3,45 1,33

Produção 39 3,54 1,07

Total 127 3,59 1,16

Permite alcançar reduções ao nível dos custos

Contabilidade 55 3,73 0,97

Comercial 33 4,06 0,83

Produção 39 3,72 0,97

Total 127 3,81 0,94

Permite a avaliação do desempenho do trabalhador***

Contabilidade 55 2,29 1,18

Comercial 32 3,16 1,05

Produção 39 2,64 1,22

Total 126 2,62 1,21

Permite efectuar comparações com outras empresas

Contabilidade 55 2,67 1,38

Comercial 32 3,16 1,08

Produção 39 2,79 1,13

Total 126 2,83 1,24

Permite elaborar instrumentos de controlo interno

Contabilidade 55 3,95 0,91

Comercial 33 4,21 0,74

Produção 39 3,95 0,72

Total 127 4,02 0,82

Permite a elaboração de orçamentos

Contabilidade 55 4,11 0,96

Comercial 33 3,97 1,24

Produção 39 3,97 0,93

Total 127 4,03 1,02

Permite avaliar o desempenho das secções

Contabilidade 55 3,75 1,04

Comercial 33 3,85 0,97

Produção 39 3,62 0,99

Total 127 3,73 1,00

Fornece informação para o planeamento

Contabilidade 55 3,55 1,23

Comercial 33 3,64 1,22

Produção 39 3,44 1,14

Total 127 3,54 1,19

Permite a avaliação das existências finais

Contabilidade 55 3,96 1,09

Comercial 32 3,84 1,11

Produção 39 4,08 0,93

Total 126 3,97 1,04

Resultados dos testes de Kruskal Wallis * = nível de significância de 0,1 ** = nível de significância de 0,05 *** = nível de significância de 0,01

Page 12: O Valor Da Informacao Contabilistica

134

Procurando contemplar, entre outros, os objectivos apresentados na definição de Pereira e Franco (1987:25) “a contabilidade analítica tem por objectivo forne-cer informação de natureza económica para planeamento e controlo de gestão, tomada de decisões e, no caso de empresas produtoras, para avaliação das existências finais com vista ao apuramento dos resultados no fim dos períodos contabilísticos”, constata-se que os principais objectivos da contabilidade ana-lítica, segundo os inquiridos, são a determinação dos custos, a elaboração de orçamentos e a elaboração de instrumentos de controlo interno (quadro 03).

Apesar dos profissionais de contabilidade assumirem uma atitude pró-activa relativamente ao papel da contabilidade na gestão considerando-a um importante instrumento de tomada de decisão (quadro 02), não deixam de apresentar aqui uma visão de curto prazo - atribuindo muita importância (4,55) ao fornecimento de informação para a determinação dos custos e valorizando relativamente pouco (3,55) a importância deste instrumento para efeitos de planeamento.

Por seu lado, as questões relacionadas com a avaliação do desempenho dos tra-balhadores ou com a comparação com outras empresas são as menos valorizados, provavelmente porque a incapacidade para medir o desempenho do trabalhador é um dos pontos fracos dos sistemas de contabilidade analítica tradicionais (Kaplan, 1985). Contudo, é precisamente a este nível que o teste de Kruskall-Wallis detecta diferenças estatisticamente significativas entre os três grupos de decisores, sendo os dirigentes da área comercial os que maior contribuição vêem na contabilidade de gestão para a avaliação do desempenho do trabalhador.

A quarta questão colocada é relativa às limitações do sistema de conta-bilidade analítica, e foi elaborada a partir de críticas tradicionalmente feitas a este sistema (Bromwich e Bhimani, 1989; Drury, 1985,1992; Cooper e Kaplan, 1987; Dixon e Smith, 1993; Clarke, 1994). Os resultados obtidos encontram-se sintetizados nos quadros 04 e 05.

Quadro 4 – principais limitações do sistema de contabilidade implementadoLIMITAÇÕES

(Escala:1 =Discordo totalmente, 2=Discordo, 3=Não concordo nem discordo, 4= Concordo,

5=Concordo totalmente)

Média (n=128)

Proporção escalão

1/2

Proporção escalão

4/5– Carece de informação para a avaliação do desempenho dos

trabalhadores 2,72 52% 29%

– Cria insatisfação na operacionalização das medidas de de-sempenho 2,04 79% 9%

– Carece de informação para a tomada de decisão 2,02 70% 10%– Conduz a medidas de desempenho inconsistentes com a

estratégia da empresa 1,76 84% 2%

– Providencia informação inadequada para a definição dos preços dos produtos 1,66 87% 4%

– Produz informações que não justificam os seus custos 1,54 92% 1%– Providencia informação inadequada para a definição dos custos 1,46 91% 5%

Page 13: O Valor Da Informacao Contabilistica

135

Relativamente às afirmações apresentadas constata-se que a maioria dos inquiridos as rejeitam. Se a contabilidade analítica tem limitações, segundo os inquiridos, não são com certeza as que tradicionalmente lhe são apon-tadas. Estes resultados sugerem a necessidade de reforçar a investigação nesta área.

Chama-se, ainda, a atenção para o facto de quase um terço dos inquiri-dos concordarem com o facto de a contabilidade não fornecer informação suficiente para a avaliação do desempenho dos trabalhadores. Os valores médios apresentados pelos inquiridos não apresentam diferenças significa-tivas entre áreas funcionais (ver quadro 05).

Relativamente aos custos de obtenção da informação contabilística obti-veram-se resultados compatíveis com os de outros estudos. Por exemplo, no estudo desenvolvido por Johansson e Samuelson (1998) 72% dos in-quiridos consideraram que a informação contabilística produzida justificava plenamente os seus custos. No presente questionário 92% dos inquiridos manifestaram o seu desacordo perante a afirmação de que “a contabilida-de produz informações que não justificam os seus custos”. Contudo, esta situação pode significar duas coisas diferentes, que existe satisfação com a qualidade da informação produzida ou que os recursos despendidos são muito baixos.

Quando se procede a uma análise por área funcional (quadro 05) cons-tatam-se algumas diferenças de opinião. Contudo, essas diferenças só são estatisticamente significativas ao nível do fornecimento de informação para a tomada de decisão, onde os dirigentes da área produtiva não são tão ca-tegóricos quanto os restantes, a manifestar o seu desacordo.

Quadro 5 - principais limitações do sistema de contabilidade, por área funcional

Limitações Desvio

Providencia informação inadequada para a definição dos custos

Contabilidade 55 1,36 0,75

Comercial 33 1,58 0,94

Produção 40 1,50 0,82

Total 128 1,46 0,82

Providencia informação inadequada para a definição dos preços dos produtos

Contabilidade 55 1,55 0,79

Comercial 33 1,58 0,90

Produção 40 1,90 0,98

Total 128 1,66 0,89

Carece de informação para a tomada de decisão**

Contabilidade 55 1,84 0,94

Comercial 33 1,85 0,91

Produção 40 2,40 1,13

Total 128 2,02 1,02

Page 14: O Valor Da Informacao Contabilistica

136

Limitações Desvio

Carece de informação para a avaliação do desempe-nho dos trabalhadores

Contabilidade 54 2,59 1,21

Comercial 33 2,91 1,26

Produção 40 2,75 1,30

Total 127 2,72 1,25

Cria insatisfação na operacionalização das medidas de desempenho

Contabilidade 55 2,02 1,05

Comercial 33 1,82 0,77

Produção 40 2,25 1,01

Total 128 2,04 0,98

Conduz a medidas de desempenho insconsistentes com a estratéfia da empresa

Contabilidade 54 1,80 0,92

Comercial 33 1,55 0,67

Produção 40 1,88 0,76

Total 127 1,76 0,81

Produz informações que não justificam os seus cus-tos

Contabilidade 54 1,41 0,60

Comercial 33 1,58 0,71

Produção 40 1,68 0,69

Total 127 1,54 0,66

Resultados dos testes de Kruskal Wallis * = nível de significância de 0,1 ** = nível de significância de 0,05 *** = nível de significância de 0,01

A informação, financeira e não financeira, representa um elemento crucial em qualquer sistema de controlo de gestão. Mais do que isso “a compreensão dos laços entre informações não financeiras e financeiras e a sua incorporação num sis-tema de informação coerente representa provavelmente um dos maiores desafios ao qual o contabilista de gestão vai ter de fazer frente nos próximos anos” (Lebas, 1995:44). Nesta perspectiva e procurando recolher evidência quanto às necessi-dades de informação e sua obtenção foi elaborado um conjunto de afirmações. Aos inquiridos foi solicitado que, numa escala de resposta de 5 níveis progressivos, se pronunciassem quanto à veracidade de cada afirmação no contexto da sua empre-sa. Os valores médios, desvio padrão e a proporção de resposta nos níveis discor-dantes e concordantes, respectivamente, são apresentados no quadro 06.

Quadro 6 – Importância da informação financeira e não financeira no controloLIMITAÇÕES

(Escala:1 =Discordo totalmente, 2=Discordo, 3=Não concordo nem discordo, 4= Concordo,

5=Concordo totalmente)

Média (n=128)

Desvio padrão

Proporção escalão

1/2

Proporção escalão

4/5A informação não financeira é muito importante para o controlo da empresa

4,16 0,78 3% 89%

A comunicação informal é importante para o con-trolo da empresa

3,49 0,96 16% 53%

A informação da contabilidade geral permite ape-nas um controlo de muito curto prazo

2,91 1,05 42% 38%

A informação da contabilidade geral é produzida sobretudo para satisfazer os requisitos legais

2,70 1,22 62% 31%

Page 15: O Valor Da Informacao Contabilistica

137

LIMITAÇÕES(Escala:1 =Discordo totalmente, 2=Discordo, 3=Não concordo nem discordo, 4= Concordo,

5=Concordo totalmente)

Média (n=128)

Desvio padrão

Proporção escalão

1/2

Proporção escalão

4/5As informações financeira e não financeira origi-nam frequentemente dados contraditórios

2,45 0,82 62% 11%

A informação da contabilidade geral é produzida mais para satisfazer as necessidades dos credo-res (externas) do que as necessidades da empre-sa (internas)

1,96 0,94 82% 8%

Resultados dos testes de Kruskal Wallis * = nível de significância de 0,1 ** = nível de significância de 0,05 *** = nível de significância de 0,01

Nota: Não são aqui apresentados os resultados por área funcional dado que não foram encontradas dife-renças estatisticamente significativas na opinião dos dirigentes das várias áreas funcionais inquiridas.

De salientar que, à semelhança de outros estudos (Mendoza e Bescos, 1998; Johansson e Samuelson, 1998), a informação não financeira e os métodos informais são referidos como muito importantes no controlo das empresas por 89% e 53% dos inquiridos, respectivamente. Estes dados coincidem com a visão tradicionalmente divulgada na literatura a qual con-sidera que as empresas de grande dimensão exploram de forma mais significativa a informação não financeira do que as pequenas empresas (Bergeron, 1998).

Destaca-se, de novo, o facto de ainda existirem muitos inquiridos (31%) a considerarem o cumprimento dos requisitos legais como o principal objec-tivo da informação oriunda da contabilidade geral. Porém, a maioria (62%) consideram que a informação financeira tem outras finalidades.

Quanto à incidência temporal da informação oriunda da contabilidade ge-ral, muitos autores (Dixon e Smith, 1993; Azofra e Prieto, 1996) consideram o impacto dessa informação limitado ao curto prazo. Contudo, nas empre-sas inquiridas as opiniões dividem-se.

A maioria dos inquiridos (82%) não concordam com a orientação essen-cialmente externa tradicionalmente atribuída à informação oriunda da con-tabilidade geral.

Por último, importa realçar a quantidade de indecisos (44 dirigentes) quan-do se questiona o impacto da comunicação informal ou ainda a incidência temporal da informação oriunda da contabilidade geral.

Embora existam diferenças no comportamento assumido pelos decisores das três áreas funcionais estudadas, a aplicação do teste de Kruskall-Wallis não revela diferenças estatisticamente significativas.

Page 16: O Valor Da Informacao Contabilistica

138

4. CONCLUSÕES

As conclusões que se retiram deste estudo devem sempre ser vistas com algum cuidado já que as taxas de resposta aos questionários foram relativa-mente baixas (19% e 13%), quando comparadas com as taxas normalmente obtidas para este tipo de investigação (Marconi e Lakatos (1996) apontam taxas na ordem dos 25 %).

Para os dirigentes da área financeira o sistema de contabilidade financeira tem como principal objectivo o fornecimento de informação para a tomada de decisão. Esta opinião não é partilhada pela maioria dos dirigentes das outras áreas para quem o cumprimento das obrigações fiscais prevalece sobre o fornecimento de informação para a tomada de decisão.

Esta diferença de opinião indicia uma relação difícil entre produtor e utiliza-dor da informação contabilística. Na perspectiva dos dirigentes da área finan-ceira a visão apresentada, quanto ao papel da contabilidade na gestão empre-sarial, é estratégica e pró-activa enquanto na perspectiva das restantes áreas funcionais, abordadas neste estudo, a contabilidade é uma mera formalidade. Produtor e utilizador da informação contabilística estão de “costas voltadas”. Enquanto uns estão convencidos que estão a produzir uma informação impor-tante para a tomada de decisão, os outros não lhe reconhecem esse valor.

Na esfera da contabilidade de gestão as posições assumidas pelos inqui-ridos apresentam um maior consenso. Assim, o fornecimento de informação para a determinação dos custos surge como o principal objectivo da conta-bilidade analítica em todos os grupos de dirigentes.

O consenso, entre os diversos grupos de decisores, mantém-se quando se reconhece a importância quer da informação não financeira, quer do proces-so de comunicação informal no sistema de controlo interno da empresa.

O principal contributo desta investigação foi mostrar que a excessiva espe-cialização dos profissionais parece limitar a sua capacidade de assimilação do valor acrescentado pelos outros. Não faz sentido que os departamentos de contabilidade se mantenham de “costas viradas” para os dirigentes das restantes áreas funcionais da empresa. Está na altura de repensar o siste-ma de informação contabilística no seio da organização, quer na perspectiva do produtor, quer do utilizador.

Deste modo, constatou-se uma clara necessidade de verdadeiros “con-tabilistas de gestão”, com uma função mais descentralizada e uma maior

Page 17: O Valor Da Informacao Contabilistica

139

proximidade do decisor, capazes de verdadeiramente apoiarem o dirigente na sua tomada de decisão. Actualmente, ao contabilista são exigidos novos conhecimentos, nomeadamente a habilidade de saber comunicar e trabalhar em equipa, de possuir sólidos conhecimentos analíticos de contabilidade e um conhecimento profundo do funcionamento do negócio.

Na óptica do cliente, a contabilidade é produzida para fornecer a infor-mação necessária para a tomada de decisão do gestor, o que exige uma forte preparação do contabilista em matérias de gestão para ser capaz de entender as necessidades do seu cliente – o utilizador da informação. Por outro lado, também os potenciais utilizadores da contabilidade – decisores, devem “aprender” contabilidade para serem capazes de avaliar o tipo de informação que ela pode fornecer, e, dentro desta, serem capazes de exigir as informações que precisam.

Ao longo desta investigação, procurou-se abrir caminho para novos traba-lhos numa área com grandes carências e de elevado interesse estratégico para as empresas. Novas pistas foram surgindo dando origem a algumas sugestões para futuras investigações. Nesta perspectiva, considera-se que seria interessante complementar este estudo com:

– uma análise longitudinal, que permitisse corroborar ou contrariar os resul-tados obtidos neste trabalho;

– o recurso a uma investigação de natureza qualitativa uma vez que a pró-pria filosofia empresarial parece condicionar a utilização de informação contabilística na tomada de decisão. Neste sentido, seria interessante analisar o impacto da filosofia empresarial na utilização de informação contabilística.

Page 18: O Valor Da Informacao Contabilistica

140

Refêrencias

Atkinson, A., Kaplan, R. e Young S., (2004), Management Accounting, The Robert S. Kaplan Series in Management Accounting , 4ª Ed., Pearson Inter-national Edition.

Azofra P. V. e Prieto M. B. M. (1996) La Teoría Positiva de la Contabilidad en los Sistemas de Información Contable Internos, ICAC - Instituto de Conta-bilidad y Auditoria de Cuentas, Ministério de Economia y Hacienda, Madrid.

Bergeron H. (1998) Les tableaux de bord pour rendre compte de la per-formance : typologie e déterminants, Actes du XIXº Congrés de l’AFC, Maio, pp.555-568.

Burns, J. e Yazdifar, H., (2001) Tricks or treats?, Financial Management, March.

Bromwich M. e Bhimani A. (1989) Management Accounting: Evolution not Revolution, CIMA, London.

Carqueja H. O. (2002) Contabilidade e saber académico, Revista de Co-mércio e Contabilidade, Vol. LVIII, Nº230, pp. 321-353.

Clarke P. J. (1994) Accounting Information for Managers, Irish Studies in Management,OAK Tree Press, Dublin.

Clarke P. J. (1997) Management accounting practices in large Irish manu-facturing firms. IBAR - Irish Business and Administrative Research, Volume 18, pp. 136-152.

Cooper R. e Kaplan R. S. (1987) How cost accounting systematically dis-torts product costs. In Bruns and Kaplan (Eds), Accounting & Management Field Study Perspectives, Harvard Business School, pp. 204-228.

Dixon R. e Smith D. R. (1993) Strategic management accounting. Omega International Journal of Management Science, Vol. 21, Nº6, pp. 605-618.

Drury C. (1985) Management and Cost Accounting, 6th Edition Business, 2004, London, Thomson Learning.

Drury C. (1992) Management Accounting Handbook. Drury (eds), 2nd ed., 1996, London, CIMA - Chartered Institute of Management Accountants, pp. 1-13.

Expresso, (1999), Análise e listagem das maiores empresas portuguesas - edição de 1999, suplemento do Jornal Expresso Nº1408.

Ezzamel M., Lilley S. e Willmott H. (1994) A survey of management practi-ces. Management Accounting, Vol. 72, Nº7, pp.10-12. (Http://proquest.umi.com/).

Fleischman R. K. e Parker L. D. (1991) British entrepreneurs and pre-in-dustrial revolution evidence of cost management. The Accounting Review, Vol. 66, Nº2, pp. 361-375.

Ghiglione R. e Matalon B. (1992) O Inquérito - Teoria e Prática, tradução para a língua portuguesa de C. Lemos Pires, Celta Editora, Oeiras.

Page 19: O Valor Da Informacao Contabilistica

141

IFAC - International Federation of Accountants (1998) Internacional Manage-ment Accounting Practice Statement Nº 1 - Management Accounting Concepts, February (Http://www.ifac.org/StandardsandGuidance/FMAC/IMAP1.html).

IFAC - International Federation of Accountants (2001) A profession Transforming: From Accounting to management, Study 12, March. (Http://www.ifac.org).

IFAC - International Federation of Accountants (2004) The Diverse Roles of Professional Accountants in Business, Published by the Professional Accoun-tants in Business Committee, November.(Http://www.ifac.org).

IMACC - GV e Gago, S. (2000) Estudio sobre la evolución de la contabilidad de gestión bajo los fundamentos de las ciencias sociales. Revista de Conta-bilidade e Comércio, Nº224, Vol. LVI, pp. 789-814.

Javeau C. (1988) L enquête par questionnaires, manuel á l usage du prac-ticien. 3ª edição, Editions de L Université de Bruxelles, Bruxelas.

Johansson C. e Samuelson L. A. (1998) The design and use of manage-ment accounts in small and medium-sized companies. Working Paper Series in Business Administration Nº2, Stockholm School of Economics, Sweden.

Johnson H. T. e Kaplan R. S. (1987) The rise and fall of management ac-counting. Management Accounting, January, Vol. 68, Nº7, pp. 22-30. (Http://proquest.umi.com/).

Kaplan R. S., (1985), “Il faut modifier nos méthodes comptables!”, Har-vard L Expansion, Nº36, pp.53-60.

Lebas M. (1995) Comptabilité de gestion: les défis de la prochaine décen-nie. Revue Française de Comptabilité, Nº265, Mars, pp. 35-48.

Marconi M. A. e Lakatos E., (1996), Técnicas de Pesquisa, 3ª Edição, Editora Atlas, São Paulo.

Mendoza C. e Bescos P. L. (1998) Décision et pilotage des performan-ces: quels sont les documents utilisés par les managers? Congrès de L Association Française de Comptabilité - Performances et Comptabilité -14, 15 et 16 Mai, Nantes.

Pereira C. C. e Franco V. S. (1987) Contabilidade Analítica. 6ª Edição, 1994, Editora Rei dos Livros, Lisboa.

Pierce B. e O´Dea T. (1998) An empirical study of management accounting practices in Ireland. Irish Accounting Review, Vol. 5, Nº2, pp. 35-65.

Pontes A. C. F. (2000) Obtenção dos Níveis de Significância para os Tes-tes de Kruskall-Wallis, Friedman e Comparações Múltiplas Não-Paramétri-cas. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, Brasil.

Túa J. P. (1997) Lecturas de Teoria e Investigacion Contable. Centro Intera-mericano Jurídico-Financeira CIJUF, Medellin, Colombia.

1 Esta listagem contém dados relativos ao ano de 1997 e foi adquirida em finais de 1999.2 Publicada em 1999.

Page 20: O Valor Da Informacao Contabilistica

142

3 Caracterização da amostra inicial no quadro seguinte:

Número de trabalhadoresSector de actividade

100 a 250

250 a 500

+ de 500

Total

15 – Industrias alimentares e das bebidas 25 20 9 54

16 – Indústrias do tabaco 1 0 1 2

17 – Fabricação de têxteis 15 24 17 56

18 – Indústria do vestuário; tingimento e fabricação de artigos de peles com pêlo

4 9 4 17

19 – Curtimenta e acabamento de peles sem pêlo; fabricação de artigos de viagem etc.

2 3 2 7

20 – Indústrias da madeira e da cortiça e suas obras, excepto mobiliário.

7 3 3 13

21 – Fabricação de pasta, de papel e de cartão e seus artigos 9 4 5 18

22 – Edição, impressão e reprodução de suportes de informa-ção gravados

11 6 1 18

23 – Fabricação de coque , produtos petrolíferos refinados e tratamento de comb. nuclear

0 0 0 0

24 – Fabricação de produtos químicos 18 9 3 30

25 – Fabricação de artigos de borracha e de matérias plásticas 5 4 1 10

26 – Fabricação de outros produtos minerais não metálicos 15 12 11 38

27 – Indústrias metalúrgicas de base 5 2 0 7

28 – Fabricação de produtos metálicos, excepto máquinas Equipamentos

14 7 1 22

29 – Fabricação de máquinas equipamentos, ne. 9 7 3 19

30 – Fabricação de máquinas de escritório e de equipamento para o tratamento aut. da info.

0 1 0 1

31 – Fabricação de máquinas e aparelhos eléctricos, ne. 5 4 7 16

32 – Fabricação de equipamento e de aparelhos de rádio, tele-visão e comunicação

3 0 5 8

33 – Fabricação de aparelhos e instrumentos médico-cirúrgi-cos, ortopédicos, de precisão...

0 0 1 1

34 – Fabricação de veículos automóveis, reboques e semi-reboques

6 6 5 17

35 – Fabricação de outro material de transporte 0 0 2 2

36 – Fabricação de mobiliário; outras indústrias transforma-doras, N.E.

4 5 0 9

37 – Reciclagem 0 0 0 0

TOTAL 158 126 81 365

4 Entende-se por amostra a totalidade das empresas que responderam a este questionário.5 No estudo empírico foram utilizados os termos contabilidade financeira e contabilidade analítica por se ter constatado, no pré-teste ao questionário, que se tratava de dois conceitos que não suscitavam dúvidas de interpretação por parte dos inquiridos. Pelo contrário, o conceito de contabilidade de gestão não era interpretado por todos de igual modo.