O valor de uma história

Uma vez contei a historinha do trenzinho para um garoto que iria se submeter a uma amigdalectomia. Seus pais ouviram atentamente a história.

Fiquei ao lado deles enquanto o filho operava, demonstrando atenção, cuidado, deixando bem claro de que todos nós, funcionários, médicos, estávamos nos dedicando para cuidar da melhor forma possível daquele que era o seu bem mais precioso: o filho.

Quando terminou a cirurgia, levei a criança de volta para o quarto, onde os pais mais aliviados agradeceram com carinho a atenção dispensada ao filho. Fiquei muito contente, pois tudo caminhava bem.

Alguns dias depois tocou o meu radinho e solicitaram que fosse buscar um paciente para levar ao quarto.

Para minha surpresa era o garotinho que havia operado dias antes e agora fraturou a perna em um terrível acidente de caminhonete, onde o Pai, a Mãe e a irmã

ficaram hospitalizados no CTI. Quando ele me viu disse:

- Oi Marcos, pela segunda vez, não me esqueci da sua historinha, pois lá na hora da operação eu só pensava no trenzinho, enfrentando aquela subida e dizendo: - vai dar certo, vai dar certo, vai dar certo...

Quando fui buscar sua Mãe no CTI, ela em tempo diferente, sem sequer ter encontrado o filho anteriormente, falou a mesma coisa:

- Oi Marcos, olha só o que estamos enfrentando, com certeza é uma terrível subida, mas vai dar certo, não vai? Eu nunca esqueci a sua história.

A filha desta senhora, com apenas oito anos, ficou gravemente ferida, com riscos sérios de tetraplegia e o esposo em estado gravíssimo no CTI.

Penso que, se em uma situação tão difícil como a vivenciada por esta família, a historia do trenzinho serviu para pelo menos confortar, já foi muito importante!!!

Encontrei uma senhora, depois de onze anos. Já não me lembrava dela, mas ela nunca se esquecera de mim.

Disse que á onze anos atrás ficara internada no Hospital do Coração, onde eu trabalhava, ficara três noites sem dormir. Disse que quando eu cheguei no plantão cumprimentei a todos desejando uma boa noite e ela me respondera:

-Como posso ter uma boa noite, se estou três noites sem dormir??? E eu respondi que naquela noite ela dormiria.

Esperou por algum remédio, ou algo parecido, mas disse que eu peguei uma cadeira, sentei ao seu lado e contei uma história.

Segundo ela, antes que eu terminasse a história já estava dormindo.

É impressionante como as pessoas não se

esquecem daquilo que lhes são importante, tão significativo. Para mim, era só mais uma noite de trabalho, contudo para ela era muito mais. Deus através da história ajudou para que ela tivesse paz, sentisse mais tranqüila e repousasse.

Enquanto alguns pensam que contar histórias é uma tolice, há os que reconhecem o seu valor.

Um dos Diretores do Hospital Unimed São Joaquim, exímio cirurgião, uma vez me disse: - continue contando as historinhas, pois elas produzem uma ação positiva nos pacientes. Uma de minhas pacientes disse que se sentiu muito bem ao ouví-las.

Muitas vezes, quando passo pelo posto de enfermagem e meus colegas de trabalho carinhosamente desejam aos pacientes que tenham uma boa cirurgia, com votos de boa sorte dizendo:

- Vá com Deus, estamos aqui te esperando, volta logo!! Uns respondem amém, outros agradecem com um sorriso... São poucas palavras, mas com efeito incalculável.

São palavras que acalmam, confortam, renovam as esperanças. Muitas vezes é tão natural que meus colegas nem percebem que Deus está usando-os no exercício de amor ao próximo.

Felizes todos aqueles que podem compartilhar do amor...