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O VERBAL E O PICTÓRICO EM ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS DA NATURA EKOS
DUARTE , Leopoldo e MASSON, Sarah1
Resumo: O estudo tem como objetivo analisar a relação entre o plano pictórico e o lingüístico no discurso publicitário. A metodologia empregada foi a pesquisa bibliográfica com o levantamento de conceitos teóricos sobre a construção de signos relacionados ao conceito de ancoragem da interpretação da imagem para o embasamento do mesmo e a pesquisa documental com a coleta de anúncios publicitários da linha Ekos da empresa de cosméticos Natura, publicados na mídia impressa, no período de 2000 a Junho de 2009. Além da aplicação da teoria na prática publicitária, o estudo contribuiu para reforçar, de como a marca utiliza em seu texto publicitário o envolvimento da empresa com as questões, muito debatidas atualmente, de sustentabilidade ecológica e preservação da fauna e flora do país.
Palavras-chave: sustentabilidade; ancoragem; semiótica, semiologia; publicidade.
É bastante comum nos dias atuais as pessoas estabelecerem algum
tipo de relação com imagens produzidas pela propaganda e divulgadas nas mais
diversas mídias. Tais relações podem ser de admiração estética; de projeção
pessoal (o espectador se identifica com a imagem e quer se associar a ela através
do produto/serviço apresentado); e entre outras a relação de valorização ética (onde
o espectador acredita nos valores “morais” agregados ao produto e adquire o
produto por acreditar que além de atender uma necessidade ele estaria contribuindo
para fazer um mundo melhor).
Com a crescente preocupação da sociedade mundial acerca do futuro
dos recursos naturais e do meio ambiente, várias empresas tem se esforçado em
construir uma imagem de respeitabilidade sócio-ambiental com o intuito de agregar
valores éticos aos seus produtos que atenderiam as necessidades atendidas pelo
produto, assim como as necessidades geradas pelas suas preocupações sócio-
ambientais. Podemos citar como exemplo a linha Ekos da empresa de cosméticos
Natura que em suas campanhas publicitárias focam em imagens que poderiam ser
publicados na “National Geographic”. Imagens que valorizam a natureza nacional e
1 Alunos regularmente matriculados no terceiro período do curso de Publicidade e Propaganda da
Universidade Federal Fluminense sob a orientação da Profª. Drª. Arlete Eni Granero.
que se estivessem sozinhas (sem a assinatura da campanha) poderiam ser lidas
como, entre outras coisas, uma imagem de valorização da flora brasileira.
O presente artigo tem como objetivo analisar a relação entre o plano
pictórico e o lingüístico no discurso publicitário. A metodologia empregada foi a
revisão bibliográfica acompanhada da análise documental de anúncios impressos. A
partir do levantamento de conceitos teóricos sobre a construção de significados nas
linguagens verbal e pictórica falaremos sobre o conceito de ancoragem, que
estabelece um vínculo entre as duas. Para o embasamento deste conceito e da
pesquisa documental serão analisados anúncios publicitários da linha Ekos da
empresa de cosméticos Natura, publicados em mídia impressa, no período de 2000
a Junho de 2009. Além de observar a aplicação dos conceitos teóricos na prática
publicitária, o estudo contribuiu para reforçar, de como a marca utiliza em seu texto
publicitário o envolvimento da empresa com as questões, muito debatidas
atualmente, de sustentabilidade ecológica e preservação da fauna e flora do país.
Para entender a relação entre imagem e texto é necessário, primeiramente, observar
o que já foi teorizado sobre a produção de significados através das linguagens
verbais, já que o discurso publicitário tem uma linguagem própria que se utiliza, com
propriedade, do uso social da língua para estabelecer uma relação persuasiva com o
seu interlocutor (o espectador/futuro consumidor). A semioticista Teresinha Oenning
Michels diz que “o anúncio é, por excelência, totalidade semiológica de que a
linguagem humana é apenas parte onde existe uma relação de interdependência
entre os planos lingüístico e pictórico que compõe o discurso publicitário” (MICHELS,
1980, p. 2).
1 Lingüística e os signos verbais
Ferdinand de Saussure (2000, p. 24), fundador da ciência que estuda
as manifestações da linguagem humana (lingüística), define a semiologia como
“uma ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social” e que a lingüística
é “senão uma parte dessa ciência geral”. Sendo a tarefa do lingüista “definir o que
faz da língua um sistema especial no conjunto dos fatos semiológicos”. Para ele
língua “é um sistema de signos que exprimem idéias” constituídas socialmente. Para
o lingüista José Luiz Fiorin a “atividade lingüística seria uma atividade simbólica, o
que significa que as palavras criam conceitos e esses conceitos ordenam a
realidade”. Fiorin, então, retoma o conceito saussuriano de signo ao dizer que “o
signo lingüístico não une um nome a uma coisa, mas um conceito (significado) a
uma imagem acústica (significante) (FIORIN, 2006, p. 55-56)”.
Significado e significante seriam duas faces de uma mesma entidade, o
signo (lingüístico). Onde uma face acompanha a outra, e apesar de ser possível
distingui-las elas são inseparáveis. Fiorin define o significado como sendo “não a
realidade que designa, mas a sua representação; o que quem emprega o signo
entende por ele” e distingue o significante como sendo o “veículo do significado; o
que se entende quando se usa o signo, sua parte inteligível; uma impressão
psíquica gerada a partir dos fonemas, perceptível quando pensamos numa palavra,
mas não a pensamos” (FIORIN, 2006, p. 58).
O autor brasileiro também fala que a linguagem – expressão individual
do uso da língua (conjunto de regras sociais fixas sobre o uso da fala e,
principalmente, da escrita) que lhe atribui heterogeneidade, possibilitando novas
produções de sentido seja verbal, pictórica ou gestual (SAUSSURE, 2000, p. 15-23)
- “autoriza toda sorte de alterações de significado, de violações semânticas”. Fiorin
destaca o fenômeno da conotação como exemplo de alterações possíveis de
significados dos signos de uma língua através da linguagem. O lingüista afirma que
“para criar um signo conotado é preciso que haja uma relação entre o significado
que se acrescenta e o significado já presente no signo” e ressalta a metáfora e a
metonímia “como mecanismos principais de conotação” (FIORIN, 2006, p. 65-66). A
Metáfora é descrita, por Fiorin, como “o acréscimo de um significado a outro, quando
entre eles existe uma relação de semelhança, de intersecção” e metonímia
estabelecida quando “uma propriedade do ser designa o ser, uma vez que entre os
dois significados há uma relação de coexistência, dado que o ser coexiste com suas
propriedades”.
José Luiz, ao fim do texto, declara a superioridade da denotação, pois
embora a ciência seja denotativa por seu caráter descritivo da realidade em suas
propriedades e funções ela não admite contradição. O que faria da análise científica
parcial, por não levar em conta a contrariedade da existência humana. Algo que não
aconteceria na criação literária que permite análises mais “ricas” capazes de
descrever até os fatos expressos pela ciência (FIORIN. Ibidem. p. 69-71).
2 Conotação da imagem
A comunicóloga Estrella (2006, p. 72-73) define signo como unidade de
significação (cultura e socialmente inscrita) essencial à comunicação. A autora
retoma o estudo do semiólogo Roland Barthes sobre o discurso fotográfico para
analisar o uso da imagem, no caso fotográfica, no jornalismo e na publicidade e diz
que o autor francês lista alguns procedimentos (técnicos e culturais) de conotação
capaz de influenciar na significação, de formas diversas, por meio da “associação de
idéias de caráter metafórico”. Entre os procedimentos técnicos pode ser destacado o
enquadramento; o tempo de exposição do filme; a seleção do que foi registrado; o
tratamento da cor; a diagramação na página; entre outros. Os outros procedimentos
observados por Barthes dependem do “repertório do leitor-espectador da imagem
para ganhar significação” dentre eles pode-se citar: as poses dos objetos retratados;
a escolha dos objetos destacados na composição; o tratamento posterior feito à
imagem; o estetismo que poderia remeter a outras imagens existentes na produção
artística; entre outros. Procedimentos estes que requerem tanto habilidade técnica
quanto sensibilidade do produtor da imagem. Segundo Estrella (2006, p. 83) a
conotação pode ser “política e ideológica no jornalismo e, mais freqüentemente,
moral e estética, na publicidade” e conclui que “quando se trata de comunicação,
não se pode escolher entre imagem ou palavras, pois combinadas é que elas podem
transmitir as mensagens de maneira precisa e clara”.
3 Os signos na mensagem publicitária
Existe uma clara distinção entre a fotografia publicitária da jornalística.
A jornalística, por estar relacionada com o registro “casual” e “por mais que tenham
sido incluídos procedimentos de conotação, foi produzida sem um planejamento
completo” enquanto que a foto publicitária “é inteiramente planejada e preparada.
Essa preparação implicará numa seleção de signos capazes de produzir uma
mensagem enfática”. A autora decompõe os signos da mensagem publicitária em
três: signo icônico – própria figura que a foto captura; signo plástico – elemento
imagético, mas representado não por semelhança, mas por traços, grafismos, cor,
textura; e signo linguístico – as palavras e textos presentes na peça publicitária
(slogans, marcas, explicações). Em seguida a autora retoma a fala de Barthes sobre
as três “camadas” de mensagem das peças publicitárias: a mensagem icônica literal
que acontece no nível da pura conotação e reconhecimento dos elementos que
compõe a cena; a mensagem icônica simbólica que é construída a partir da
combinação dos signos icônicos escolhidos de acordo com o contexto em que está
inserida; e a mensagem lingüística que tem a função de orientar a compreensão da
imagem apresentada que, sozinha, poderia ter significados diversos (ESTRELLA,
2006, p. 81-82).
4 Contexto verbal e ancoragem
Os pesquisadores Santaella e Nöth (2005, p. 53) falam desse caráter
polissêmico (ou seja, com significados diversos) da imagem e citam Wittgenstein
para exemplificar como uma mesma imagem pode ter leituras diversas e pode ser
associada a um “radical frasal” que seria apenas a origem comum de significados
distintos.
Os autores ressaltam que “as frases da língua são também igualmente
mensagens abertas, já que elas, como Wittgenstein continua a explicar, podem ser
usadas para os mais variados atos lingüísticos, como afirmações ou declarações
imperativas ou interrogações”. Santaella e Nöth (2005, p. 53-4) definem a relação
entre imagem e seu contexto verbal como sendo “íntima e variada” embora na
maioria dos casos a imagem pareça não ser suficiente sem o texto e afirmam que o
contexto mais importante para a imagem “é a linguagem verbal” e embora citem
exemplos onde o contexto verbal prevalece sobre a imagem eles ressaltam o caráter
complementar entre texto e imagem.
Barthes diferencia duas formas de referência recíproca entre texto e
imagem, que ele denomina ancoragem e relais: no caso da ancoragem, o texto
dirige o leitor através dos significados da imagem e o leva a considerar alguns deles
e a deixar de lado outros. [...] Na “relação relais, o texto e a imagem se encontram
numa relação complementar’” (SANTAELLA; NÖTH, 2005, p. 55).
No discurso publicitário a ancoragem da leitura da imagem pelo texto
que a acompanha é fundamental porque como aponta Estrella (2006, p. 82) “se a
peça publicitária permitir interpretações abertas de seus signos (ela) corre o risco de
não cumprir a função de comunicação para a qual foi criada” responsável pela
captação de possíveis consumidores. Michels (1980, p. 42) vai além e diz que “como
signo semiológico, um anúncio deve, necessariamente, refletir variáveis
pertencentes ao lugar cultura em que é divulgado”.
5 A biodiversidade e o marketing de sustentabilidade
A biodiversidade, como o próprio nome diz, significa as diversas formas
de manifestações de vida. Os variados climas existentes no Brasil e a presença da
maior floresta tropical do mundo, a floresta Amazônica, contribuem para a variedade
de espécies animais e vegetais existentes no nosso país. A espécie humana
depende da biodiversidade para a sua sobrevivência. No entanto, a riqueza de vida
no Brasil vem sendo seriamente ameaçada e a crescente consciência ambiental
está relacionada à preocupação com a conservação dessa biodiversidade de que
tanto necessitamos.
A sustentabilidade tem sido muito valorizada por empresas que
desejam agregar valor a seus produtos. O conceito de sustentabilidade engloba
diversos aspectos: uso racional dos recursos naturais, preservação da
biodiversidade, reciclagem, redução da emissão de gases de efeito estufa, redução
do consumo de água, preferência pelo uso de materiais ecológicos, economia de
energia, entre outros. O marketing ecológico representa um importante papel no
sentido de aproximação da empresa com as questões ambientais. As campanhas
publicitárias devem ser realizadas procurando uma mudança fundamental e a longo
prazo já que existem pesquisas que comprovam a validade de campanhas de
Marketing Sustentável. Cada vez mais os consumidores buscam marcas que
ofereçam um benefício emocional e produtos relacionados com causas aprovadas
por eles próprios. Para atender tais consumidores, o marketing de sustentabilidade
valoriza o posicionamento ecológico da empresa inserindo-a no conceito de
sustentabilidade contribuindo para a divulgação de sua imagem como
ecologicamente correta e socialmente responsável.
6 A linha Natura Ekos com a biodiversidade e a sustentabilidade
A linha Ekos foi lançada em 2000 e foi inspirada diretamente pela
natureza, constituindo sinônimos de “nossa casa” e de “vida”. Ela ecoa toda uma
civilização da natureza que viveu antes de nós, produz uma miscigenação de
culturas e aflora o que há de mais belo na natureza e na biodiversidade brasileiras.
Todos esses conceitos são traduzidos pelos produtos desta linha, os quais são
extraídos da natureza, com consciência, com o auxílio das populações tradicionais
da região Amazônica. As matérias-primas vegetais e os óleos naturais são extraídos
sem que haja a degradação do meio e, dessa forma, contribuí-se para que as
regiões de origem tenham uma vida com mais recursos, com o trabalhador
recompensado economicamente e o ecossistema vivo. Além disso, as embalagens
são recicláveis e busca-se vender refis para que não seja necessária uma produção
maior das mesmas, aumentando a competitividade da empresa e oferecendo
economia através deste aproveitamento de embalagens, fazendo jus à proteção ao
meio ambiente. A linha ekos procura despertar a consciência de que todos vivemos
em uma grande cadeia da vida e que todos estes conceitos culturais e naturais
encontram-se no momento em que se inicia os cuidados diários com o corpo. Os
produtos e sua eficácia foram clinicamente testados e para tal, a linha utiliza-se das
propriedades naturais e tradicionais das plantas como o cacau, o capim limão, a
andiroba, o maracujá, o guaraná, a castanha, a pitanga entre outras mais,
desenvolvendo ingredientes naturais e de uma maneira sustentável para que as
gerações futuras não sejam prejudicadas. Além de estes vários ativos virem de
reservas extrativistas e áreas naturais demarcadas e protegidas pelo CNPT/IBAMA
(Centro Nacional das Populações Tradicionais/Instituto Brasileiro de Apoio ao Meio
Ambiente) e por seus moradores, os produtos oriundos das reservas extrativistas
também recebem o certificado de origem do IBAMA. As fórmulas são
comprovadamente biodegradáveis, ou seja, se decompõem na natureza em até 28
dias. É composta por cerca de 80 itens de produtos, entre eles encontram-se óleos
de banho, perfumes, cremes hidratantes, shampoos, condicionadores, sabonetes e
águas de banho. "Natura Ekos, Viva sua Natureza" (SITE NATURA, 2009).
7 Análise de anúncios Ekos
+ Primeiro Anúncio – Ekos Maracujá
Em um anúncio de página dupla publicado em abril desse ano (2009)
encontramos as imagens divididas entre as duas páginas. Na página da esquerda
vemos o close (em foto em preto e branco) de um membro da Cooperativa
(paraense, mas com traços orientais) CAMTA sorrindo e com os efeitos e marcas do
tempo em sua face; e na página direita vemos (em foto colorida) uma jovem
(paulista) de meia idade, também sorrindo. No centro inferior que une as duas
páginas vemos uma foto (colorida) retangular detalhando a polpa do maracujá
interferindo sobre o preto e branco da foto do membro da cooperativa e à sua direita
uma foto (também colorida), do mesmo tamanho, mostrando os produtos da linha
Ekos Maracujá. Atravessando as duas páginas pela diagonal vemos uma
representação topográfica do rio Capim (que nasce no Pará) que se une com o rio
Embu-Mirim (que nasce no estado de São Paulo). Não fosse a foto da linha de
produtos Ekos Maracujá, os dois retratos, o detalhe da polpa da fruta e o desenho
do rio, uma análise somente das imagens poderiam ser interpretadas somente com
base na experiência pessoal do leitor. Talvez sabendo as origens dos rios pudesse
se criar uma relação entre o Pará – simples representado por um senhor de idade
que parece trabalhar no campo – e a cidade de São Paulo – moderna, representada
pela senhora de meia idade que parece cuidar de sua pele e está de bem com a
vida. E o maracujá, talvez, pudesse ser interpretado como uma fruta presente e
adorada por habitantes da região do país entre esses dois estados – algo sugerido
pela conexão dos rios.
Somente a partir da leitura dos textos que acompanham pode-se
afirmar, com maior propriedade, o que as imagens utilizadas pretendem significar.
No canto superior esquerdo, sobre a testa do senhor paraense lê-se: “Noriaki Arai
sabe o valor da terra. É o membro da Cooperativa CAMTA, que planta o maracujá e
ajuda a fazer os produtos da linha Natura Ekos. Tome-Açu - PA”. O que permite o
leitor a compreender quem aquele senhor realmente é e o qual é o papel dele nesse
anúncio. No canto inferior direito, sobre a foto da jovem senhora, lê-se: “Tapisa
Hirsch usa produtos para banho da linha Ekos Maracujá e, com isso, ajuda a
sustentar a Cooperativa CAMTA. São Paulo - SP”. Texto que também reafirma a
interpreção sugerida somente pelo uso das imagens. Este seria, então, um uso
ilustrativo das imagens.
Em texto, sobre a foto da linha de produtos, está escrito o tema da
peça e da campanha da Natura Ekos: “A floresta está em você. Você é responsável
por suas escolhas. Siga sua sabedoria”. O que agrega mais informação as imagens
por sugerir que o uso do produto significaria, também, um ato de respeito (e
responsável com) a natureza, por ser uma escolha de pessoas sábias (do campo e
da cidade).
Figura 1 – A floresta está em você – Natura Ekos Maracujá
Fonte: Revista Época, 2009, p.122-123.
+ Segundo anúncio – Prêmio Super Ecologia 2003
Devido ao fato da empresa possuir uma linha que se encontra
diretamente relacionada à sustentabilidade no país e a sua biodiversidade, a linha
Natura Ekos desenvolveu o anúncio em questão por apoiar e patrocinar oficialmente
o Prêmio Super Ecologia 2003 que, com a iniciativa da revista Super Interessante,
receberá e selecionará os melhores projetos ambientais desenvolvidos por
empresas, governos e ONG’s em todo o Brasil.
O anúncio de página dupla, publicado em Julho de 2003, apresenta
nitidamente o conceito de ancoragem na publicidade, pois sendo somente a imagem
do produto natura ekos o anúncio não representaria de forma clara o seu conteúdo.
Por outro lado, se apenas houvesse a parte escrita, não haveria destaque para a
dimensão do projeto e também não poderia ser criado um link entre a Natura e o
mesmo. A frase que se encontra na página par – “Está chegando o dia em que a
consciência ecológica vai se espalhar pelo Brasil inteiro” – se encaixa perfeitamente
com o conceito, tanto da empresa quanto do projeto. O produto está situado em
cima do estado de São Paulo, estado onde foi criada a empresa Natura, e a sombra
verde que emana de sua embalagem aponta em direção ao resto do país. Esta
imagem fortifica ainda mais a causa que a Natura defende: espalhar a consciência
ambiental e a realização da mesma.
Figura 2 – Natura. Patrocinadora oficial do Prêmio Super Ecologia 2003.
Fonte: Revista Época, 2003, p. 52-53.
Considerações Finais
Segundo Roland Barthes, qualquer imagem polissêmica traz em si
incerteza de sentido. O papel da linguagem é substituir a imagem ou completar seu
sentido, elucidar em nível denotativo e conotativo e agir como orientadora da
significação. Possui o papel de identificar os elementos da percepção denotativa
icônica e evitar erros de identificação trazidos pelas várias leituras possíveis.
Levando em consideração a análise dos anúncios acima e todo o contexto do
artigo, pode-se concluir que a ancoragem é capaz de agregar significados que a
imagem sozinha não conseguiria transmitir. Além disso, mesmo em situações onde a
imagem é utilizada somente como uma ilustração, o impacto estético (devido a
beleza) causado pela imagem tem como principal propósito do anúncio atrair a
atenção do leitor/espectador. Este elo imagem-texto constitui-se em uma das
principais ferramentas utilizadas nos anúncios de revistas, pois além de
complementar o conceito dos mesmos proporciona uma melhor interpretação do que
está sendo anunciado para que não haja incertezas quanto ao sentido. O elo
também exerce sua importância nos filmes publicitários, porque mesmo a logomarca
da empresa acaba tornando-se um signo verbal por nos remeter diretamente ao
nome da empresa.
Referências ANÚNCIO PRÊMIO SUPER ECOLOGIA 2003. Revista Época. Editora Globo. 2003,
p. 52-53.
ANÚNCIO A FLORESTA ESTÁ EM VOCÊ. Revista Época. Editora Globo. 2009,
p.122-123.
ESTRELLA, Charbelly. Comunicação e imagem. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2006. FIORIN, José Luiz. Teoria dos signos. In: Introdução a lingüística I. São Paulo: Contexto, 2006. MICHELS, Teresinha Oenning. Sobre a Linguagem da Propaganda. In: Anais do Primeiro Colóquio de Semiótica. São Paulo: Loyola; Rio de Janeiro: PUC-RJ, 1980. SANTAELLA, Lúcia; NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 2005. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 2000. MATTELART, Michele e Armand. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 1998. PORTAL DO MARKETING. Disponível em: <http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Importancia_do_marketing_para_a_Incorporacao_da_sustentabilidade_da_marca_natura.htm >. Acesso em: 25 jun. 2009. SITE NATURA. Disponível em: <http://scf.natura.net/ekos>. Acesso em: 25 jun. 2009.