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1 O XADREZ COMO MEIO DE SOCIABILIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL Wanda Lúcia de Freitas 1 , Dr. Luis Sérgio Peres 2 Resumo: Considerando que a Educação Física é parte integrante do projeto geral de escolarização do aluno, se faz necessário que a mesma esteja articulada ao projeto político pedagógico da escola, onde o professor de Educação Física busque atuar no sentido de ajudar o aluno na superação de suas dificuldades, progredindo satisfatoriamente nos seus estudos. Pensando nisto este projeto de xadrez foi desenvolvido com o objetivo de despertar nos alunos o gosto para a prática do xadrez e principalmente observar se as atividades desenvolvidas possibilitaram ao grupo uma maior sociabilização, diminuindo assim a agressividade e indisciplina, bem como melhorias na sua aprendizagem. Para isso foi feita uma pesquisa experimental, tendo como principal instrumento a observação. As atividades foram realizadas durante seis meses, com 75 alunos da 6ª série do Ensino Fundamental, do sexo feminino e masculino, na cidade de Foz do Iguaçu / PR. Os dados foram analisados descritivamente e apontaram para uma melhoria no ambiente escolar havendo mais harmonia entre os alunos, possibilitando assim maior criatividade por parte dos mesmos. Através da observação dos professores envolvidos no projeto, do depoimento dos pais e alunos, pôde se perceber que os alunos se mantiveram mais unidos, favorecendo as atividades em grupo, superando problemas de convívio e muitos alunos melhoraram quanto ao aspecto da concentração, organização de tarefas, participação nas atividades e posteriormente melhora nas notas. Sugere-se um aperfeiçoamento neste estudo por parte dos professores que se propõem a utilizar o jogo de xadrez como ferramenta pedagógica nas suas aulas. Palavras-chave: Xadrez, xadrez pedagógico, sociabilização, aprendizagem. THE CHESS AS MEANS OF SOCIABILITY AND INTELECTUAL DEVELOPMENT 1 Professora licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá-UEM, com especialização em Educação Física Escolar, pela mesma Instituição. Atua no Estado do Paraná como professora desde 1987. e-mail [email protected]. 2 Professor Dr. pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Marechal Cândido Rondon. Orientador [email protected].

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O XADREZ COMO MEIO DE SOCIABILIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

INTELECTUAL

Wanda Lúcia de Freitas1, Dr. Luis Sérgio Peres2

Resumo: Considerando que a Educação Física é parte integrante do projeto geral de escolarização do aluno, se faz necessário que a mesma esteja articulada ao projeto político pedagógico da escola, onde o professor de Educação Física busque atuar no sentido de ajudar o aluno na superação de suas dificuldades, progredindo satisfatoriamente nos seus estudos. Pensando nisto este projeto de xadrez foi desenvolvido com o objetivo de despertar nos alunos o gosto para a prática do xadrez e principalmente observar se as atividades desenvolvidas possibilitaram ao grupo uma maior sociabilização, diminuindo assim a agressividade e indisciplina, bem como melhorias na sua aprendizagem. Para isso foi feita uma pesquisa experimental, tendo como principal instrumento a observação. As atividades foram realizadas durante seis meses, com 75 alunos da 6ª série do Ensino Fundamental, do sexo feminino e masculino, na cidade de Foz do Iguaçu / PR. Os dados foram analisados descritivamente e apontaram para uma melhoria no ambiente escolar havendo mais harmonia entre os alunos, possibilitando assim maior criatividade por parte dos mesmos. Através da observação dos professores envolvidos no projeto, do depoimento dos pais e alunos, pôde se perceber que os alunos se mantiveram mais unidos, favorecendo as atividades em grupo, superando problemas de convívio e muitos alunos melhoraram quanto ao aspecto da concentração, organização de tarefas, participação nas atividades e posteriormente melhora nas notas. Sugere-se um aperfeiçoamento neste estudo por parte dos professores que se propõem a utilizar o jogo de xadrez como ferramenta pedagógica nas suas aulas.

Palavras-chave: Xadrez, xadrez pedagógico, sociabilização, aprendizagem.

THE CHESS AS MEANS OF SOCIABILITY AND INTELECTUAL DEVELOPMENT

1 Professora licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá-UEM, com especialização em Educação Física Escolar, pela mesma Instituição. Atua no Estado do Paraná como professora desde 1987. e-mail [email protected] Professor Dr. pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Marechal Cândido Rondon. Orientador [email protected].

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Wanda Lúcia de Freitas3, Dr. Luis Sérgio Peres4

Abstract: Considering that physical education is part of general project of scholar student its necessary that be articuled to the political pedagogic project of the school, whose physical education teacher works to help the student overcoming their difficulties,improving your studies. Thinking about it, this Project was developed with the goal to raise in the students the enjoyment to practice the chess and mainly to observe if the activities done are helping the group a sociability bigger, decreasing the lack of interest, aggression and disorder,as well to improve in learning. It was conducted a research experiment the main instrument was observation. The activities were done during six months, with 75 students 6º grade primary school , female sex and male sex in Foz do Iguacu Parana State.Pr.The data were analysed and pointed out improvement in classroom, from this moment there was more harmony among them.Through observation of the teachers that work in the project, testimony of the fathers, students, it was possible see that students are more united, improving activities in group, overcomig sociability problems, and many students improved in the aspect of concentration, organization of homeworks, participation in activities and got better grades.Suggest an improvement in this study of the teachers that want to use the chess as pedagogic tool in your classes.

Keywords: chess, pedagogic chess, sociability, learning.

1- INTRODUÇÃO

3 Professora licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá-UEM, com especialização em Educação Física Escolar, pela mesma Instituição. Atua no Estado do Paraná como professora desde 1987. email [email protected] Professor Dr. pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Marechal Cândido Rondon. Orientador [email protected].

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Atualmente percebemos muitos problemas enfrentados pelos professores

dentro das escolas, onde existe uma inquietude e indisciplina por parte dos alunos

que em muito tem influenciado na sua aprendizagem. É de reconhecimento geral

que todo e qualquer processo educacional procura, em sua essência, atender

adequadamente as necessidades biológicas, psicológicas, sociais e culturais da

população a que se destina, buscando assim auxiliar o homem a edificar sua própria

personalidade e integrar-se de maneira ativa e criadora no mundo em que vive.

Neste sentido, a Educação Física, vem colaborar decisivamente na educação

do indivíduo. Entretanto, o corpo e a mente não podem ser educados

separadamente e em etapas diferentes.

“Corpo e mente, devem ser entendidos como componentes que integram um

único organismo. Ambos devem ter assento na escola, não um (a mente) para

aprender e o outro (o corpo) para transportar, mas ambos para emancipar”.

(FREIRE, 1991, p.91).

Há muito se tem ouvido por parte dos professores as dificuldades

encontradas pelos alunos para compreender os conteúdos que estão sendo

ministrados, bem como a dificuldade em memorizar, interpretar, usar o raciocínio

lógico e principalmente a agressividade e indisciplina, tão presentes no cotidiano

escolar.

Alguns educadores e administradores têm reagido com considerável

sensibilidade a esta situação, através da modificação de suas práticas, mostrando

que realmente, estão buscando mudanças. Devemos nos preocupar mais com o

aluno com dificuldades de aprendizagem e de convivência social. Aquele cujo

desempenho nos exames é fraco e muitas vezes é reprovado, com resultantes

efeitos negativos em seu conceito próprio, personalidade, motivação e nível de

aprendizagem. No sentido de transformarmos esta realidade, a educação pode

produzir ensinamentos significativos nos educandos, tendo em vista que toda

interação professor-aluno esta baseada na certeza implícita de ambos na viabilidade

e conveniência de certas mudanças.

Dentro da discussão em torno da integração de todos os domínios do

comportamento humano, ou seja, cognitivo, afetivo-social e motor, é que a Educação

Física se propõe a contribuir com o desenvolvimento de cidadãos ajustados física,

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mental, emocional e socialmente, utilizando o xadrez como ferramenta para atingir

este fim. O professor de Educação Física como mediador no processo ensino-

aprendizagem pode contribuir com o desenvolvimento das potencialidades dos

alunos, através de atividades lúdicas.

Assim, neste estudo buscou-se observar se após a prática de atividades

relacionadas ao xadrez houve alguma mudança na sociabilização dos alunos

possibilitando assim uma diminuição da agressividade e indisciplina, bem como uma

melhoria na aprendizagem. Este artigo mostra ainda, como trabalhar atividades

relacionadas ao xadrez e os benefícios que este jogo pode oferecer, servindo assim

de instrumento pedagógico na escola.

2- DESENVOLVIMENTO

2.1- INFLUÊNCIAS NO DESEMPENHO ESCOLAR

Muitos fatores influenciam o desempenho escolar de uma criança na escola,

desde a sua família imediata, até o que acontece em sala e as mensagens que

recebe da cultura mais ampla.

Embora as diferenças na capacidade cognitiva sejam importantes no êxito

escolar, fatores temperamentais e emocionais também afetam o ajustamento das

crianças à escola e sua capacidade de aplicação. Nem sempre crianças dóceis,

obedientes, conseguem notas mais altas em testes de desempenho.

Aparentemente, para se ter um progresso acadêmico ótimo, não é necessário que a

criança seja educada e prestativa, porém ela precisa estar envolvida com o que está

acontecendo em sala de aula (PAPALIA; OLDS, 2000, p. 269).

Ainda, segundo o autor, com relação ao estado emocional da criança

deprimida ou incomumente agressiva, a mesma pode ter problemas de

concentração, inversamente, os problemas com as tarefas escolares podem deixar a

criança deprimida e frustrada, e a frustração pode levar à agressão. A sensibilidade

aos sentimentos de outras pessoas pode ajudar a criar um ambiente social positivo

que contribui para a aprendizagem. Devemos considerar que a posição sócia -

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econômica por si mesma não determina o desempenho escolar, são seus efeitos na

vida familiar que podem fazer diferença. Pais mais motivados e que dão mais valor à

educação é um fator importante observado no êxito de crianças com desempenho

superior.

Observa-se, que professores que atuam com alunos de classes menos

favorecidas, às vezes de forma inconsciente, podem acreditar que tais alunos são

menos capazes em relação aos outros e de alguma forma transmitem suas

expectativas limitadas às crianças, obtendo assim o pouco que esperam delas.

Barbosa, (2007) coloca que ao falarmos sobre dificuldade de aprendizagem,

estamos falando, principalmente, do ato de aprender. Aprender é uma ação que

supõe dificuldade; quando não se sabe, sendo o não-saber condição necessária

para aprender, é esperado que as dificuldades apareçam. Temos, portanto,

dificuldades que nos desequilibram e na busca do equilíbrio, aprendemos.

O mesmo autor coloca que o fato de estarmos mergulhados num mundo de

consumo, que apregoa a perfeição, de termos pressa para tudo, de acreditarmos

que as pessoas devem ser regidas pelos prazeres, de acharmos que tudo que não

acontece como esperamos é doença, de termos sempre um remédio para os males

existentes faz com que acreditemos que ter dificuldades para aprender é algo

inconcebível. Queremos chegar a tal grau de perfeição que pensamos que ter

dificuldade é ruim, que nos faz diferentes dos outros, que nos afasta dos normais e

que nos faz acreditar que somos menos, esquecendo que é a dificuldade que nos

faz crescer, que nos obriga a pensar, que nos estimula a buscar alternativas e a

encontrar soluções para os problemas que a vida nos impõe.

Embora haja muitas concepções de dificuldade de aprendizagem, SMITH e

STRICK (2001) ressaltam que algumas crianças podem apresentar os seguintes

comportamentos:

- Fraco alcance de atenção: onde o sujeito distrai-se facilmente, deixando tarefas inacabadas.- Dificuldades para seguir instruções: problemas para assimilar o que esta sendo proposto; as atividades não são compreendidas em sua totalidade. - Imaturidade social: idade mental diferente da idade cronológica. - Dificuldade com a conversação: a criança não consegue encaixar as palavras para então formar um diálogo. - Inflexibilidade: Resiste a soluções, pois prefere continuar fazendo as coisas a sua maneira ao invés de seguir o caminho mais fácil.

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- Fraco planejamento e habilidades organizacionais: a criança não apresenta sensações de tempo; não consegue iniciar uma atividade; apresenta dificuldades para dividir o trabalho em seguimentos a fim de facilitar o manejo.- Distração: Perca de lições; esquecimento de objetos, pertences, tarefas e trabalhos. - Falta de destreza: falta de coordenação motora; péssima caligrafia; inaptidão aos esportes e jogos.

As dificuldades não se manifestam de uma só vez, podendo o indivíduo

apresentar maior habilidade em realizar determinada tarefa ou solucionar uma

situação, em outra área a qual seja mais ‘apto’, ou propício a realizar.

Torna-se importante que o professor ao fazer uma caracterização de

dificuldade de aprendizagem no aluno possa fazê-lo de forma minuciosa, procurando

identificar suas dificuldades e não seus limites. Conhecendo os seus alunos e

refletindo sobre as práticas educacionais e as relações interpessoais que ocorrem

em sala de aula, o professor terá uma grande influência sobre os mesmos, podendo

assim ofertar o máximo de possibilidades para o seu desenvolvimento.

Os comportamentos geralmente são colocados convenientemente em uma

das três categorias (psicomotora, afetiva e cognitiva), parece que uma quarta

categoria seria necessária para englobar comportamentos sociais. (SINGER; DICK,

1980, p.97).

O autor ainda coloca que a Educação Física é uma das poucas áreas

educacionais que pretendem afetar positivamente comportamentos sociais tais como

conduta, relações interpessoais, ajustamento pessoal, controle e estabilidades

emocionais. Com isso percebe-se que os alunos aprendem a colaborar dentro de

um grupo para atingir metas, a competir efetivamente, mas com controle, a

demonstrar esportividade e a desenvolver qualidades pessoais que encorajarão

relações interpessoais favoráveis.

2.2- ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Papalia; Olds (2000) colocam que na fase intermediária da infância dos 6 aos

12 anos as crianças desenvolvem mais competência em todos os aspectos: físico,

cognitivo e psicossocial. Elas aprendem novas habilidades físicas necessárias para

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participar de jogos e esportes organizados. Cognitivamente, as crianças fazem

maiores avanços no pensamento lógico e criativo, nos juízos morais, na memória, na

leitura e escrita.

As competências também afetam a auto-estima e podem afetar o êxito na

escola. É no contato com outros jovens que a criança se desenvolve física, cognitiva

e emocionalmente. Neste período as crianças podem pensar mais logicamente

sobre as coisas que já conhecem um pouco. O processamento de informações de

forma mais eficiente aumenta a capacidade da mente de armazenar e lidar com a

informação, tornando possível uma melhor recordação, bem como um raciocínio

mais complexo (FLAVELLl et al. 1993 apud PAPALIA; OLDS, 2000).

Ainda, segundo o autor, com relação à memória, ela se aperfeiçoa muito na

terceira infância. Elas podem se concentrar por mais tempo e podem focalizar a

informação que precisam e desejam deixando de lado as informações irrelevantes. À

medida que elas aprendem como sua própria memória funcionam, elas criam

estratégias ou planos deliberados, para ajudá-las a lembrar o que necessitam.

2.3- A SIGNIFICAÇÃO DOS DOMÍNIOS DO COMPORTAMENTO

Segundo Singer; Dick (1980, p.97) algumas tentativas têm sido feitas para

analisar resultados educacionais propostos conforme seus componentes cognitivos,

afetivos e psicomotores. O objetivo educacional requerido é colocado em algum

destes domínios. O comportamento, por sua vez, pode ser analisado dentro da

estrutura da classificação e avaliado a cada nível. A compreensão de

comportamentos, que geralmente são associados com uma determinada categoria

pode ajudar ao professor a formular seus próprios objetivos de aula de forma mais

eficaz e planejar situações mais adequadas de testagem. O domínio psicomotor diz

respeito a movimentos corporais, controle ou ambos. Os comportamentos neste

domínio podem ser caracterizados pelo uso do verbo fazer. Este domínio inclui os

seguintes tipos de comportamentos, todos os quais poderiam ser inter-relacionados,

e cada um deles poderia ser independente:

- Contatar, manipular e/ou mover um objeto. - Controlar o corpo ou objetos, como no equilíbrio.

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- Mover e/ou controlar o corpo ou partes do corpo no espaço em um ato ou seqüência num curto período de tempo sob condições previsíveis e/ou imprevisíveis. - Fazer seqüências de movimentos controlados e adequados (não restritos por tempo) em situações previsíveis e/ou imprevisíveis.

O domínio cognitivo abrange as habilidades e capacidades intelectuais do

aluno,assim como seu conhecimento e sua capacidade de demonstrar esse

conhecimento,dependendo do objetivo específico do ensino. O verbo mais descritivo

associado à cognição é saber.

Conhecimentos de vários tipos representam comportamentos

cognitivos,assim como, também, habilidades que requerem compreensão, aplicação,

avaliação e outras coisas semelhantes. Este domínio possui:

- Evocação (lembrança de fatos, idéias, ou procedimentos) - Compreensão (interpretação, tradução, extrapolação)- Análise (padrões de organização, relações)- Solução (aplicação de idéias, avaliação)- Tomada de decisões (seleção, classificação)

Os comportamentos no domínio afetivo têm origem em um nível inferior de

consciência ou conhecimento do que outros tipos de comportamento. No centro dos

comportamentos afetivos está a emoção, ou sentimento. Interesses, atitudes e

valores, desenvolvimento do caráter e motivação são outros processos “internos”.

O domínio afetivo inclui os seguintes comportamentos:

- Valorização (seleção, cometimento, aceitação, preferência) - Apreciação (avaliação, seleção) - Motivação (interesse, persistência em)

Como muitos comportamentos cognitivos, os afetivos podem ser avaliados

como parte de uma atuação hábil ou independentemente disto. Certamente,

aquisição de habilidade e flutuações momentâneas no desempenho pode ser

atribuída, parcialmente, a interesse, motivação e atitude.

Comportamentos como apreciar uma atividade, estar interessado nela,

descobrir sua importância, perseverar nela, etc.talvez estejam entre os objetivos

mais relevantes para a aula de Educação Física.

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O domínio social está associado com ajustamento pessoal e social, ambos

estão relacionados ao processo de socialização. A Educação Física é uma das

poucas experiências educacionais na qual usualmente, os alunos participam de

forma ativa em situações que requerem interações sociais. Interações sociais são

efetivas se as atividades progridem satisfatoriamente e os estudantes,

individualmente, atingem satisfação pessoal, desenvolvimento e padrões de

comportamento socialmente aceitáveis. Como os comportamentos afetivos, os

sociais provavelmente evoluem de modo vagaroso. O domínio social diz respeito a:

- Conduta (espírito esportivo, honestidade, respeito à autoridade)- Estabilidade emocional (controle, maturidade)- Relações interpessoais (cooperação, competição)- Satisfação própria (segurança, realização própria, autoconceito)

2.4- O VALOR EDUCATIVO DO JOGO

Os primeiros jogos que a criança faz são os chamados jogos de exercício,

utilizando como principal objetivo o seu próprio corpo. Os bebês chupam as mãos,

emitem sons e repetem diversos movimentos sem finalidade utilitária. A transição

dos jogos e exercícios para os simbólicos marca o início de percepção de

representações exteriores e a reprodução de um esquema sensório-motor fora de

seu contexto. Podemos dizer que o jogo simbólico é um jogo de exercício sendo o

que exercita é a imaginação.

Ao chegar ao período das operações concretas (por volta dos 7 anos de

idade) a criança, pelas aquisições que se fez, pode jogar atendendo-se a normas.

Surgem então os jogos de regras e ela terá que abandonar a arbitrariedade que

governava seus jogos para adaptar-se a um código comum, podendo ser criado por

iniciativa própria ou por outras pessoas, mas que deverá acatar limites porque a

violação das regras trás consigo conseqüências. Isto ajudará a criança a aceitar o

ponto de vista dos demais, a limitar sua própria liberdade em favor dos outros, a

ceder, a discutir e a compreender. Quando se praticam jogos de grupo a experiência

se engrandece já que a sociabilidade é agregada à vida da criança, surgindo assim

os primeiros sentimentos morais e a consciência de grupo. É possível compreender

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o valor educativo que a prática lúdica possui. Muitos psicólogos afirmam que os

primeiros anos são os mais importantes na vida do homem, sendo que a atividade

central manifestada é o jogo. Muitas coisas se podem aprender construindo seus

próprios jogos, utilizando vários conceitos de plano inclinado, polias, velocidade, etc.

coisas que só serão ensinadas muito depois no período escolar. Por isso o xadrez

merece atenção, porque ensina as crianças o mais importante na solução de um

problema, que é olhar e entender a realidade que se apresenta. E, além disso,

aprender que as peças no xadrez não tem valores absolutos, que se deve controlar

a posição das demais peças, tanto as próprias como as do adversário, para armar

uma estratégia. Ter a percepção de flexibilidade e reversibilidade do pensamento

que ordena o jogo. Devemos conseguir que as crianças encontrem seu próprio

sistema de ação e para isso teremos que evitar, sempre que possível, as soluções

mecanizadas (PARANA 2001).

Conforme está descrito nas Diretrizes Curriculares de Educação Física-

Paraná (2008):

Os trabalhos com jogos e brincadeiras são de relevância para o desenvolvimento do ser humano, pois atuam como formas de representação do real. No caso do jogo, ao respeitarem seus combinados ,os alunos aprendem a se mover entre a liberdade e os limites,os próprios e os estabelecidos pelo grupo.

2.5- AS CARACTERÍSTICAS DO XADREZ E SUAS IMPLICAÇÕES EDUCATIVAS

Há aproximadamente dois mil anos, em algum país do oriente surgia o

chaturanga, que se transformou no atual jogo de xadrez.

Através de inúmeras guerras e novas rotas comerciais, o xadrez foi

introduzido em muitos países do ocidente, passando por novas metamorfoses.

A característica principal do xadrez praticado nessa época era a profunda

elitização que sofria sendo chamado “jogo dos reis e rei dos jogos”.

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Uma mudança importante se dá no século XV, Gutemberg cria o tipo móvel,

possibilitando a impressão de livros de xadrez ainda no século XV, como é o caso do

Arte breve y introduccion muy necessária para saber jugar el Ajedrez do espanhol

Lucena, publicado em 1497. Com a proliferação dos livros de xadrez ocorre a

primeira democratização significativa do jogo.

A URSS investiu massivamente no jogo de xadrez e resolveu adotá-lo como

um complemento à educação, experiência esta que foi utilizada com sucesso em

muitos países.

O jogo de xadrez chegou ao Brasil pela colonização portuguesa, durante o

período colonial, porém, manteve-se sem muita expressão, até despertar em

D.Pedro II um entusiasmo pela prática deste jogo.

O primeiro clube de xadrez foi fundado em 1877, também no Rio de Janeiro, e

sua primeira diretoria foi composta por Arthur Napoleão, célebre pianista, Caldas

Viana (o Visconde de Pirapetinga) e Machado de Assis, o mais famoso escritor

brasileiro do século passado.

Vários estudos apontam que a criança quando entra para a vida escolar,

aprende tanto aspectos de sua própria individualidade como destrezas básicas para

relacionar-se com o meio, e normalmente o faz por meio dos jogos. Portanto, propor

um jogo centrado no lúdico, não requer maiores justificativas. O xadrez é propício

para a fase escolar, pois além de servir de entretenimento, serve para ajudar nas

várias habilidades que a criança começa a desenvolver (PARANÁ 2001).

Podemos citar algumas características desenvolvidas pelo xadrez num

programa de educação escolar, segundo Perednik (2006):

-Análise. O xadrez fornece o desenvolvimento do pensamento e análise crítica. Há sempre novidades nas estratégias e a criança pode ir criando as próprias.-Temperamento. O jogo permite assegurar o caráter dos alunos, a confiança em si mesmos, à medida que percebem que podem organizar sua vida ,a controlar suas decisões-Revisão. A partir da análise dos próprios erros, o xadrez permite a revisão autocrítica na criança, já que no jogo é fundamental aprender com os equívocos.-Agilidade. Além de firmar um pensamento reflexivo, o xadrez desenvolve a agilidade mental. À medida que o nível do jogo aumenta e com a complexidade do jogo, as decisões das melhores jogadas devem ir tomando maior rapidez.-Concentração. A capacidade de concentração aumenta: a criança vai compreendendo que ao usar uma jogada mais oportuna, deve guardar em sua mente as jogadas que vão acontecendo e seus efeitos

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-Auto-regulação. De acordo com as condições do jogo, a criança vai traçando planos que se renovam constantemente.-Normas. O xadrez incorpora normas sociais de conduta, tais como o respeito ao próximo e a assimilação de responsabilidades pelas decisões que toma. Ainda acrescenta a colaboração com seus semelhantes e a participação democrática. É um jogo democrático onde a sua luta é puramente uma luta de idéias, onde todo o jogador tem oportunidades similares.-Administração. Cada movimento no tabuleiro vai ensinando a criança a administrar seu tempo.Se joga ou não com relógio,o tempo do xadrez é limitado,como na vida,e e por isso lhe impõe uma correta distribuição e a necessidade de decidir uma alternativa em um momento adequado.-Versatilidade. A prática do xadrez requer muita versatilidade, desde a abertura, meio e final de jogo.-Estudo. À medida que avança no jogo, a criança descobre a inestimável utilidade de conhecer a teoria. Há uma correlação entre estudo do xadrez e um acréscimo nos benefícios cognitivos, já que tanto o xadrez com a leitura requer os processos de decodificação, pensamento, compreensão e análise, sendo todas essas habilidades atividades de tomada de decisão.

Doubeck (1982) classifica que o xadrez é mais que um simples jogo, mais do

que um mero passatempo. A capacidade de enxergar e de prever, de abranger uma

partida em sua totalidade, de escolher entre muitas possibilidades imaginárias qual é

a melhor, de pacientemente buscar soluções em circunstâncias adversas, é uma

característica exclusiva do xadrez.

Para Macedo (1997) a importância do jogo de regras inserido dentro do

contexto escolar, bem como, em outras situações adversas, decorre do fato de

permitir a ambos os jogadores uma mesma norma a cumprir, iniciando de uma

posição igualitária para seguir no contexto da partida, utilizando-se planos

estratégicos ou combinações para se conseguir êxito.

Quadro 01: Xadrez nas Escolas do Paraná

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Fonte: SILVA (1997)

Podemos perceber que muitas iniciativas estão sendo tomadas em vários

Estados no sentido de oportunizar aos alunos experiências relacionadas ao jogo de

xadrez.

O projeto Xadrez nas Escolas, uma parceria dos Ministérios do Esporte e da

Educação com as respectivas secretarias estaduais, tem demonstrado sucesso

desde que começou. Em 2003, o projeto-piloto iniciou em escolas do ensino médio e

fundamental de Recife (PE), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Teresina

(PI). Nessa fase, o mestre Jaime Sunye, que desde então, presta assessoria ao

projeto, habilitou 40 professores em cada capital. O material para a implantação do

projeto foi adquirido com recursos do Fundo de Fortalecimento da Escola

(Fundescola). Agora, os ministérios estão implantando o Xadrez nas Escolas no

país inteiro e comprando 40 mil Kits com tabuleiro, peças e um livro para serem

utilizados por 300 mil estudantes, orientados por 1250 professores capacitados nas

próprias escolas através de uma rede de educadores que receberam treinamento e

atuam como multiplicadores. O acompanhamento pedagógico é direcionado para o

uso do jogo de xadrez como recurso para professores e alunos, mas como atividade

extracurricular. Além dos alunos, a comunidade próxima às escolas públicas também

está envolvendo-se com o xadrez por meio do programa Escola Aberta. Algumas

Capacidade para o pensamento e execução lógicos, autoconsistência e fluidez de raciocínio.

Um movimento deve ser conseqüência lógica do anterior devendo apresentar o seguinte.

Capacidade para o processo de tomar decisões com autonomia

Entre várias possibilidades, escolher uma única, sem ajuda externa

Respeito à opinião do interlocutorO resultado indica quem tinha o melhor plano

Criatividade e imaginaçãoDe uma posição a princípio igual, direcionar a uma conclusão brilhante (combinação)

Empenho no progresso contínuoEncontrado um lance, a procura de outro melhor

Desenvolvimento da capacidade para pensamento abrangente e profundo

Movimentar peças após exaustiva análise de lances seguintes

Avaliação da hierarquia do problema e a locação do tempo disponível

Fornecer um número de movimentos num determinado tempo

Desenvolvimento do autocontrole psicofísicoConcentração enquanto imóvel na cadeira

Implicações nos aspectos educacionais e de formação do caráter

Características do xadrez

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instituições que participam do programa recebem material esportivo do Ministério do

Esporte para desenvolver suas atividades nos fins de semana. De fácil locomoção, o

tabuleiro de xadrez tem envolvido pessoas de várias idades. O xadrez também está

presente no programa Segundo Tempo, que promove atividades esportivas no contra

turno escolar e dirige-se a alunos em situação de vulnerabilidade social, portadores

de necessidades especiais e jovens que estão fora da escola, a fim de possibilitar a

inclusão no ensino formal. (OLIVEIRA; VARGAS; CHAVES, 2006).

3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo caracteriza-se como experimental, por manipular

diretamente as variáveis relacionadas com o objeto de estudo que segundo Cervo e

Bervian (1996) a manipulação de variáveis proporciona o estudo da relação entre

causas e efeitos de um determinado fenômeno. O objetivo era despertar nos alunos

o gosto e interesse pela prática do xadrez, bem como observar se após prática de

atividades relacionadas ao xadrez houve melhoras na sociabilização, contribuindo

assim para uma diminuição da agressividade e indisciplina e conseqüentemente

melhores resultados na aprendizagem. A população alvo do estudo contou com 75

alunos do sexo feminino e masculino numa escola estadual da cidade de Foz do

Iguaçu/ PR. Primeiramente foi explicado aos alunos como seriam as atividades do

Projeto de Xadrez, onde além das aulas curriculares eles teriam um encontro

semanal todas às 4ª feiras no contra turno com duração de duas horas, durante 6

meses, para aqueles que pudessem participar.

Procurou-se trabalhar nas aulas regulares de Educação Física a pesquisa

sobre a origem do xadrez, pesquisando lendas e históricos. A partir daí fez-se uma

discussão com os alunos sobre o que pesquisaram a fim de que cada um pudesse

dar sua contribuição. Em seguida, fez-se um estudo do tabuleiro, desenhando o

mesmo no caderno, usando para isso as noções matemáticas de quadrado, linhas

verticais, horizontais, diagonais e o desenho das peças onde cada um com sua

habilidade para desenhar foram dando forma a cada uma delas. Após o desenho

seguiu-se explicações sobre a movimentação das peças começando pelas laterais

do tabuleiro, ou seja: torre, cavalo, bispo, dama, rei. Incluíram-se explicações sobre

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a diferença entre xeque e xeque-mate. A cada encontro íamos sanando as dúvidas

existentes em relação às regras de movimento e captura. Em parceria com a

professora de Artes, os alunos confeccionaram peças gigantes para decoração das

paredes da sala e peças em miniatura, com imã de geladeira que foram entregues

como lembrançinha do Projeto, todas em material de EVA.

Nas aulas do projeto no contra turno, participaram em média 50 alunos. Os

mesmos permaneciam uma hora com o professor de Português, que se propôs a

trabalhar conosco. O mesmo trabalhou músicas e a partir daí as paródias. Os alunos

escreveram suas próprias paródias. Na segunda hora permaneciam jogando xadrez

com a professora de Educação Física, autora do projeto aprendendo as regras sobre

movimentação de peças e jogadas. No decorrer dos encontros, foi escolhida uma

das paródias, onde fizemos uma dramatização no tabuleiro gigante de xadrez,

utilizando-se da expressão oral e corporal. Ainda, foi feita pelos próprios alunos,

estimulando a criatividade, uma coreografia de dança com a música Jogo de Xadrez

de Paulinho Nogueira e um teatro em cima do livro a Guerra de Mentirinha de Carlos

da Cunha. E finalmente, o Jogo de Xadrez no tabuleiro gigante onde os alunos se

caracterizaram como peças de xadrez e jogaram uma partida de xadrez. Todas

essas atividades foram apresentadas na Semana Desportivo Cultural da escola do

dia 01 a 05/09/2008. Como última atividade os alunos ao longo do Projeto, tinham

como compromisso, ensinar alguém da sua família a jogar xadrez. Tivemos um

Torneio “Jogando em família”, onde as duplas de famílias enfrentaram outras duplas.

A participação foi muito boa e a motivação foi maior ainda.

Os pais foram entrevistados no dia do Torneio de Xadrez e muitos relataram

as melhoras ocorridas durante o período que o Projeto aconteceu, onde segundo

alguns pais a dedicação nas tarefas do dia a dia , nas tarefas escolares e notas na

escola melhoraram, trazendo maior responsabilidade aos filhos. Com relação às

amizades, também relataram que os filhos se mostraram mais amigáveis e menos

tímidos. Todos os pais entrevistados foram unânimes em dizer que consideram muito

importante que os filhos participem de projetos na escola, pois segundo eles esses

projetos contribuem positivamente na vida dos mesmos. Já os alunos entrevistados,

relataram que gostaram muito de participar das atividades de xadrez e que além de

se divertirem aprenderam muitas coisas sobre o xadrez. Disseram também que

gostaram de cantar, dançar e fazer teatro, pois perderam a timidez e passaram a

acreditar que eram capazes. Com relação aos colegas disseram que fizeram novos

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amigos e se aproximaram mais uns dos outros. No relatório dos professores ficou

evidente que os talentos escondidos foram revelados e a cada momento surgiam

líderes, que assumiam as tarefas e responsabilidades, ajudando seus colegas.

Também ficou claro que cada um aos assumir as responsabilidades individuais

contribuía para um resultado final positivo na coletividade. A criatividade aflorou e

assim a auto estima melhorou, pois começaram a se sentir capazes. Segundo eles

observou-se uma mudança de comportamento dos alunos participantes do projeto.

Estes se mostraram mais atentos às aulas e alguns melhoraram consideravelmente

seu rendimento escolar. Com relação à atenção e concentração passaram a estar

mais atentas e centradas tanto no jogo como em sala de aula e mais ágeis para

resolver tarefas.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando-se por base o objetivo proposto para este estudo, o xadrez como

meio de sociabilização e desenvolvimento intelectual, pôde-se perceber que o jogo

de xadrez, possibilita grandes realizações dentro do contexto escolar, já que uma

das preocupações do ensino moderno é proporcionar que cada aluno progrida no

seu próprio ritmo, valorizando assim a sua individualidade e motivação pessoal.

Muitos estudos já foram realizados em países de primeiro mundo com relação

ao xadrez em sala de aula, mostrando-se satisfatório.

Ferracini (1998) ressalta que a prática do xadrez oferece desenvolvimento do

raciocínio, criatividade, observação, imaginação, respeito... O jogo seguido de

informações saudáveis e confiáveis,prende a concentração dos que praticam,

auxiliando-o em suas mentes, enraizar os conhecimentos transmitidos, podendo

resgatá-los na prática da vida quando ela exigir.

Podemos perceber que qualquer que seja a idade de uma criança, o xadrez

pode contribuir para melhorar a sua concentração, a paciência e a perseverança,

bem como desenvolver a criatividade a intuição, a memória e ainda, a capacidade

de analisar e deduzir a partir de um conjunto de princípios gerais, a aprender a

tomar decisões e resolver problemas com flexibilidade.

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Concordamos com Nascimento (2006) quando cita Palm (1990) que tendo

estudado, entre 1986 e 1990, o comportamento escolar de mais de 3 mil crianças,

de mais de100 escolas de Nova Iorque fez as seguintes afirmações em relação ao

xadrez:

- Melhora e muito a capacidade da criança em pensar racionalmente;- Aumenta as habilidades cognitivas;- Melhora as habilidades de comunicação das crianças e a aptidão em reconhecer padrões; portanto,- Resulta em aumento das notas, especialmente em matemática e na língua pátria;- Constrói um espírito de equipe, ao mesmo tempo em que enfatiza a capacidade individual;- Ensina o valor do trabalho, da concentração e do comprometimento;- Instila nos jovens um senso de autoconfiança e auto-estima;- Faz a criança conscientizar-se de que é responsável por suas ações e que deve aceitar as conseqüências;- Ensina a criança a fazer o melhor para vencer, mas também, a aceitar a derrota com tranqüilidade;- Provê um foro intelectual competitivo, através do qual as crianças podem defender-se contra hostilidades e liberar suas tensões de modo aceitável;- Pode-se tornar uma atividade escolar muito atrativa para a criança, a ponto de melhorar a freqüência às aulas em geral;- Permite às meninas competirem com os meninos sem qualquer problema para a socialização;- Auxilia as crianças a fazerem amizades mais facilmente porque provê uma situação fácil e segura para reuniões e troca de idéias;- Contribui para um relacionamento de maior simpatia entre alunos e professores;- Através da competição, dá à criança uma indicação concreta de suas conquistas;- Propicia à criança superar sensações de carência e dúvidas quanto a si próprias.

No que diz respeito à agressividade e indisciplina percebemos que durante as

atividades realizadas no projeto foram reduzidas significativamente, pois se criou um

espírito de equipe e companheirismo, com objetivos a serem alcançados

coletivamente, dando lugar mais a cooperação do que a competição e agressão.

Conforme Freire (1989, p.171) não podemos simplesmente camuflar as

manifestações agressivas da criança apenas com regras disciplinares em que a

punição em vários graus é a meta final de quem a transgride.

Assim, torna-se importante ajudar nossos alunos a distinguir a agressividade

própria e fazer diariamente um exercício em que busca dirigir a agressividade de

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forma positiva e construtiva, que consiste em transformar as tendências hostis em

atos que levam a conquistas justas, conseguindo colocar o bem acima do mal, a

vida acima da morte e não simplesmente sufocar a agressividade dentro de si.

Concluímos que a Educação Física faz parte da formação do caráter das

crianças e todo trabalho deve utilizar-se de estímulos de encorajamento,

estabelecendo através do jogo, dança, brincadeiras, lutas e seus movimentos um

certo controle no tratamento entre elas e a consciência de si mesmos.

Apesar de se afirmar constantemente tanto na imprensa quanto em projetos

que o xadrez desenvolve a inteligência e que existem inúmeros benefícios em sua

prática, é raro encontrar livros sobre o tema que trate do seu ensino de forma

pedagógica na escola.

Conclui-se que para ensinar xadrez de forma pedagógica é preciso buscar

muito conhecimento neste campo, devido às poucas obras que tratam deste tema.

Acredito que mais estudos e até mesmo uma especialização por parte dos

professores interessados em usufruir do xadrez na educação seria de extremo valor,

pois assim o educador que trabalha com o xadrez poderá direcionar a sua prática

para alcançar maiores objetivos e torná-la mais proveitosa possível.

5- REFERÊNCIAS

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DOUBECK, J. Xadrez para principiantes. Rio de Janeiro: Ediouro,s.d.

FERRACINI, L.G. Xadrez no currículo escolar. Londrina: Midiograf. 1998.

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FREIRE, J.B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1989 e 1991.

MACEDO, L. Quatro cores, senha e dominó: oficinas de jogos em uma perspectiva construtivista e psicopedagógica. 3. ed. São Paulo: casa do Psicólogo,1997.

NASCIMENTO, A.S. O jogo de xadrez como um recurso pedagógico, esportivo nas escolas. Trabalho ao CEAD, Universidade de Brasília. Ministério do Esporte. 2006.

OLIVEIRA, C.; VARGAS I. ; CHAVES R. Xeque-mate no mau desempenho. Re vista Pedagógica Pátio. Ano X, Fevereiro/Abril 2006. Ed. Positivo.

PAPALIA, D.E.; SALLY, O. Desenvolvimento Humano. Tradução de Daniel Bueno, 7ª ed. Porto Alegre, Artes Médicas Sul, 2000.

PARANÁ- Diretrizes Curriculares de Educação Física - Ensino Fundamental e Médio. SEED-Curitiba, 2008.

PARANÁ- Secretaria de Estado da Educação-Apostila do Curso Básico em Xadrez /`Projeto Xadrez nas Escolas. Curitiba 2001.

PEREDNIK, G. D. La edad ajedrecística/Teoria y prática de la enseñanza del ajedrez em la educación inicial.Periódico Conjectura /Jan/Jun/2006 nº01,v.11- Marechal Cândido Rondon.

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SMITH, C.; STRICH, L.. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z. Porto Alegre. Artmed, 2001.

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ANEXOS

Este trabalho contém fotos e filmagens das atividades realizadas durante a execução do projeto.