Objeto e método da Análise Institucional Lourau

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  • 7/22/2019 Objeto e mtodo da Anlise Institucional Lourau

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    OBJETOEMTODODAANLISEINSTITUCIONAL

    Ren Lourau

    Um novo esprito cientfico

    Flix Guattari escrevia recentemente, apresentando um nmero deRecherches(revista

    do movimento institucionalista):

    A anlise institucional implica um descentramento radical da enunciaocient!"ica# $as, para conse%ui&lo, no 'asta dar a palavra aos sueitos envolvidos *s ve+es uma uesto "ormal, inclusive esu!tica# Alm disso, necessrio criar ascondi-es de um exerc!cio total, parox!stico mesmo, desta enunciao# A ci.ncianada tem a ver com medidas ustas e compromissos de 'om tom# Romper, de "ato,as 'arreiras do sa'er vi%ente, do poder dominante, no "cil### / todo um novo

    esp!rito cient!"ico0 ue precisa ser re"eito1#

    2ste texto, so' a "orma de um mani"esto, indica o ue est por construir e o ue se

    precisa reali+ar: um descentramento radical0# 3este cap!tulo, trataremos de apontar como se

    e"etuar tal descentramento e uais so os centros0 deslocados pelo movimento#

    A ANLISE

    Anlise 4nstitucional: trata&se, em princ!pio, de de"inir cada um dos termos e de

    esta'elecer em ue se modi"icou seu contedo#

    Antes de mais nada, ue si%ni"ica o termo anlise5 6omearemos pela de"inio de

    7ves 8arel#

    2m ue consiste o mtodo anal!tico5 8aseia&se, essencialmente, na9iptese de ue poss!vel explicar e compreender uma realidade complexadecompondo&a em elementos simples, analisando cada elemento e somando, ou

    pondo uma depois da outra, essas anlises# ; mtodo anal!tico no rec9aa asrela-es nem a interao entre os elementos# $as se 'aseia na idia de ue taisrela-es so mais 'em explicadas atravs da ao dos elementos, pois auelasno explicam esta ao#

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    demais variam# esta "orma, procedendo elemento por elemento ou relao porrelao, podemos c9e%ar a uma compreenso do conunto#0

    2is a de"inio clssica0 de anlise# Ao "alar de anlise nas ci.ncias 9umanas

    (psicanlise, anlise institucional, socioanlise) tam'm se tem por alvo a decomposio de

    um todo em seus elementos# A isto se acrescenta a idia de interpretao: interpretar um

    son9o ou uma "ala de %rupo passar do descon9ecido ao con9ecido= uma operao de

    deci"ramento# Freud compara o desco'rimento do inconsciente ao deci"ramento de

    9ier%li"os# Aui, a anlise se trans"orma em 9ermen.uticaE# rocede&se tra+endo * lu+ o ue

    est escondido e s se revela pela operao ue consiste em esta'elecer rela-es entre

    elementos aparentemente disuntos# Brata&se de reconstruir uma totalidade ue se 9avia

    rompido#

    $arx utili+a muitas ve+es o mesmo termo a anlise em O $a%ital# 2speci"ica ser

    ela necessria somente uando as rela-es sociais no so imediatamente vis!veis e,

    so'retudo, na relao de explorao# 6om e"eito, a explorao vis!vel no sistema "eudal# ;

    discurso anal!tico no necessrio, no caso# orm a explorao se ac9a dissimulada no

    sistema capitalista e, para ue ven9a * lu+, para ue se revele, uma anlise torna&se ento

    necessria#

    O ESCONDIDO, O INCONSCIENTE, O INIBIDO

    As institui-es "ormam a trama social ue une e atravessa os indiv!duos, os uais, por

    meio de sua prxis, mant.m ditas institui-es e criam outras novas (instituintes)#

    As institui-es no so somente os o'etos ou as re%ras vis!veis na super"!cie das

    rela-es sociais# B.m uma "ace escondida# 2sta "ace, ue a anlise institucional se prop-e a

    desco'rir, revela&se no n&o dito# ; ocultamento produto de uma represso# oder!amos

    "alar, aui, de uma represso social ue produ+ o inconsciente social# Auilo ue se censura

    a palavra social, a expresso da alienao e a vontade de mudana# o mesmo modo ue 9

    um retorno do reprimido durante os son9os ou nos atos "al9os, 9 um retorno do reprimido

    social0 nas crises sociais#

    7H2< 8AR2L# A anlise dos sistemas' %roblemas e %ossibilidades , mimeo, 1?@E# o mesmo autor Areproduo social: sistemas viventes, invariIncia e mudana0, aris: Ant9ropos, 1?@E# 7# 8arel acrescenta:3en9uma investi%ao cient!"ica, incluindo a a'orda%em sist.mica, pode prescindir do mtodo anal!tico# Budoo ue di+em os %randes tericos do sistema ue o mtodo anal!tico, per"eitamente adaptado ao estudo dos

    sistemas simples (na prtica, al%uns sistemas "!sicos), torna&se inadeuado para o estudo dos sistemas maiscomplicados0#EDermen.utica: ci.ncia da interpretao do ue est oculto#

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    esco'rir o no&dito, o censurado, "oi a o'ra de $arx e Freud, os dois %randes

    desmascaradores#

    $arx, pondo em evid.ncia a luta de classes como si%ni"icado do movimento da

    9istria e a instituio da mais&valia capitalista (mascarada pela instituio do salrio)= Freud,desco'rindo o inconsciente, oculto so' uma ordem institucional criadora de racionali+a-es#

    Banto um como outro nos convidam a uma investi%ao acerca do ocultoatravs de um

    uestionamento das institui-es ocultantes, seam elas da ordem da racionali+ao ou da

    ideolo%ia# 2sta investi%ao uma 9ermen.utica ue implica o desvelamento da represso do

    sentido por meio da anlise dos "atores de descon9ecimento# 2ste ocultamento se completa

    atravs de media-es institucionais ue permeiam toda a sociedade#

    Assim, as leis, as re%ras, os preconceitos ue limitam a sexualidade a sua "uno0 deprocriao ocultaram a verdade so're o deseo sexual# A luta instituinte contra essas re%ras

    institu!das se mani"estou em comportamentos ou o'ras art!sticas condenados: destruiu&se

    Jr'ano Grandier, como se "e+ posteriormente com as o'ras de iderot ou

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    ento se mantin9a a dominao anal!tica# assa&se, portanto, da noo de anlise * de

    analisador#

    Bam'm nesta noo voltamos a encontrar a idia essencial da decomposio de uma

    totalidade nos elementos ue a comp-em# ; analisador u!mico auele ue decomp-e umcorpo em seus elementos, produ+indo, em certa medida, uma anlise# 3este caso,

    encontramo&nos nas ci.ncias "!sicas# 3o se trata de inter%retarneste primeiro n!vel, mas de

    decom%orum corpo# 3o se trata de construir um discurso explicativo, mas de tra+er * lu+ os

    elementos ue comp-em o conunto#

    uando avlov c9ama de analisadores0 o crtex, os r%os dos sentidos, uer

    su'lin9ar o "ato de o aparel9o neurol%ico produ+ir uma primeira anlise0 do mundo

    exterior# A partir desta primeira anlise, constru!ram&se as teorias# $as o sistema nervosoreali+a, antes, uma ordenao: e"etua&se, assim, uma primeira interpretao da realidade# Ao

    retomar o conceito de analisador nos tra'al9os de psicoterapia institucional, Borru'ia e

    Guattari se inspiram, sem "a+er re"er.ncia expl!cita a isso, nesta de"inio de analisador# 6om

    e"eito, c9ama&se analisador, em uma instituio de cura, aos lu%ares onde se exerce a palavra,

    'em como a certos dispositivos ue provocam a revelao dauilo ue estava escondido#

    A introduo do termo neste contexto marca, por conse%uinte, uma evoluo da

    prtica institucionalista#

    em um primeiro momento, as institui-es0 eram conce'idas como instrumentos

    terap.uticos#

    em um se%undo per!odo, sem eliminar totalmente a primeira orientao, estas

    institui-es (a %rade0 ou empre%o do tempo, as reuni-es, etc# ###) aparecem como

    reveladoras, catalisadoras do sentido: reali+am, elas mesmas, a anlise#

    $ais adiante veremos como a contra&sociolo%ia utili+a o mesmo termo# $as antes necessrio di+er al%umas palavras acerca das institui-es#

    ASINSTITUIES

    A exist.ncia de o'rasM dedicadas a examinar as di"erentes acep-es do termo

    instituio, a destruir e reconstruir o conceito, nos permitir recordar aui apenas o essencial#

    M R# L;JRAJ: #-Analyse Institutionnelle, 1?N? (A Anlise 4nstitucional, Ho+es, 1?@O)# G2;RG2