Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal – Tomo III: O Rumo à Vitória

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Publicado na revista O Militante, Nº 310 - Jan/Fev 2011

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Obras Escolhidas de lvaro Cunhal Tomo III: O Rumo Vitria FRANCISCO MELO Publicam-se neste tomo III das Obras Escolhidas de lvaro Cunhal trs textos fundame ntais para a compreenso do processo revolucionrio que levaria ao derrube da ditadu ra fascista: Rumo Vitria, de Abril de 1964; Relatrio da Actividade do Comit Central ao VI Congresso, de Setembro de 1965; e Contribuio para o Estudo da Questo Agrria, de Fevereiro de 1966. A importncia matricial de Rumo Vitria em relao aos textos reunidos neste tomo III e as limitaes de espao levam-nos a que centremos nele a nossa ateno. Rumo Vitria, apresentado na reunio do Comit Central do PCP de Abril de 1964, de lei tura obrigatria para todos quantos queiram compreender no apenas os objectivos, as formas de luta, a estruturao orgnica, a via que o PCP indicava para a revoluo portug uesa, mas o prprio processo histrico da Revoluo de Abril. Por outro lado, Rumo Vitria exemplo da fecundidade do marxismo-leninismo como mtod o de anlise cientificamente fundado: ele permitiu a lvaro Cunhal apreender a reali dade objectiva no seu devir contraditrio especfico, definir objectivos, discernir perspectivas de aco, apontar formas e orientaes de luta apropriadas situao concreta, combater ideias e concepes errneas, desviantes de uma prtica verdadeiramente revolu cionria.Desmentindo com dados e factos a demaggica lamria fascista sobre a natural pobreza do pas, lvaro Cunhal mostra que a pobreza e o atraso se deviam explorao pelos monopli s, pelos latifundirios e pelo imperialismo estrangeiro das riquezas nacionais. Ex plorao essa que fazia com que as proclamaes dos fascistas de estarmos a apanhar os pa mais desenvolvidos ainda h pouco nos repetiam essa conversa apenas encobrissem um distanciamento real cada vez maior, colocando Portugal no ltimo lugar da Europa. E como se no bastasse, as classes trabalhadoras e as camadas mdias tinham ainda q ue suportar o fardo tributrio que sustentava a mquina militar e burocrtica do Estad o fascista, o que contudo no impedia o recurso crescente a emprstimos, tornando-se a dvida pblica, como acentua lvaro Cunhal, um permanente sorvedoiro de recursos. Sor vedoiro que, com determinantes mudadas, continua hoje. Analisando o desenvolvimento do capitalismo em Portugal, lvaro Cunhal mostra a pa rticularidade de os monoplios terem resultado no da livre concorrncia capitalista, com a consequente centralizao e concentrao de capitais, mas da utilizao do poder coerc ivo do Estado para, ao servio das foras reaccionrias do grande capital e dos grande s agrrios, esmagar a pequena e mdia burguesias e reprimir o movimento operrio. A mis so histrica da ditadura fascista, instaurada com o golpe militar de 1926, consistiu precisamente em fazer com que os grandes grupos monopolistas, de brao dado com o imperialismo estrangeiro, se tornassem os senhores omnipotentes da vida portugue sa. Neste processo, papel de relevo teve o desenvolvimento das sociedades annimas, demagogicamente apresentadas como uma forma de democratizao do capital, criando no pequeno accionista a iluso de que participa na orientao da sua empresa e numa diviso e quitativa dos lucros. O que na verdade acontecia, observa lvaro Cunhal, que os gra ndes capitalistas instalam-se nos corpos gerentes das sociedades annimas, no para tr abalharem, mas para receberem desde logo uma parte substancial dos lucros. Assim, um punhado de grandes capitalistas aos vencimentos juntam gratificaes que a si prprio atribuem. E, acrescenta lvaro Cunhal, esse reduzido nmero de capitalistas ainda co nsidera isso pouco, recebendo por isso verbas complementares sob a forma de ajudas de custo, emolumentos, despesas de representao, etc. Os gestores de hoje aprenderam b a lio dos seus homlogos do tempo do fascismo! Porm, para alm destes e de outros mecanismos econmicos, os monoplios beneficiavam ai nda do apoio e auxlio financeiro directo do Estado fascista. Este, refere lvaro Cu nhal, entregava aristocracia financeira os recursos do pas mediante a comparticipao do Estado no capital das grandes empresas, dispensando os lucros resultantes e tornando possvel que os grandes capitalistas, arriscando muito pouco, se assenhoreass em de gigantescos empreendimentos. E acrescenta: No domnio das finanas pblicas, o escn alo vai ao ponto de poupar dos impostos os grandes lucros, ao mesmo tempo que se agravam enormemente os impostos que atingem directamente as classes trabalhador as e mdias. A este propsito basta pensar no que se passa hoje com os lucros, por ex emplo, da banca, para vermos que, se o traje com que o capitalismo se apresenta em pblico muda, no muda contudo a sua natureza. Da anlise do capitalismo monopolista em Portugal no poderia ser extrada seno a concl uso de que s a libertao do poder dos monoplios poder permitir o aproveitamento das riq ezas nacionais, o amplo desenvolvimento da economia, a criao de uma base industria l que assegure a independncia do pas, a eliminao da principal base social da reaco e d o fascismo. Ao colocar como seu objectivo central a liquidao do poder dos monoplios, a revoluo democrtica preconizada revelava o seu claro contedo de classe. Um outro pilar do regime fascista era constitudo pelos grandes proprietrios fundiri os. A concentrao da propriedade atingida, no conjunto de Portugal continental, rev elava-se bem no facto de que, como anota lvaro Cunhal, os 500 maiores proprietrios tm mais terra que os 500 000 mais pequenos! Tal situao determinava a necessidade urge nte de uma reforma agrria que entregasse a terra aos assalariados rurais e aos cam poneses pobres. A expropriao das muito grandes propriedades constituiria, por si s, um benefcio imediato para centenas de milhares de trabalhadores da terra em prej uzo de um reduzido nmero de grandes proprietrios. Com a Reforma Agrria, adverte lvaro Cunhal, eliminava-se uma das principais bases sociais da reaco e do fascismo. A centralizao e a concentrao da riqueza nas mos dos monopolistas e dos latifundirios t inham como contraponto dialctico a acumulao da misria na classe trabalhadora. A ideo logia da classe dominante procurava encobrir com o manto da religio to gritante co ntradio. Conta lvaro Cunhal que o padre Santos Carreto, deputado fascista na Assemb leia Nacional, chamou a essa contradio uma diversidade maravilhosa criada por Deus! Po rm, descendo do Cu Terra, o marxismo mostrou, lembra lvaro Cunhal, que a jornada de trabalho se divide em duas partes: uma em que o operrio produz o valor correspond ente ao seu salrio (chamado tempo de trabalho necessrio), outra em que produz para o capitalista (tempo de trabalho suplementar ou mais-valia). A relao entre a mais -valia e o salrio a chamada taxa de mais-valia, que traduz o grau de explorao existen te. A diversidade maravilhosa nada tinha de criao divina; era simplesmente resultado da muito terrena explorao capitalista do trabalho assalariado. E tambm nessa explor ao a fora do Estado fascista intervinha ao servio do grande capital na sua nsia de al ongar a jornada de trabalho e dentro dela aumentar o trabalho suplementar, de di minuir os salrios reais, de incrementar a intensidade e a produtividade do trabal ho. Essa desenfreada explorao capitalista exigia, como conclui lvaro Cunhal, o melho ramento urgente das condies de vida das classes trabalhadoras, tornado assim um dos objectivos fundamentais da revoluo democrtica e constituindo uma outra clara determi nao de classe desta. Outro ponto que em seguida lvaro Cunhal aborda a libertao de Portugal do domnio impe rialista. O quadro da dependncia era impressionante: Ao estrangeiro se paga a luz e a lmpada que nos ilumina, o petrleo que consumimos, o sabo e o sabonete com que n os lavamos, a margarina que comemos, o leite condensado ou o refrigerante que be bemos, muitas portuguesssimas sardinhas que petiscamos, a loua de que nos servimos , o fsforo que acendemos, o cigarro que fumamos, o bilhete de elctrico em que nos transportamos, o telefonema que fazemos. Ora, a guerra colonial, a partir de 1961, veio agravar ainda mais a submisso de P ortugal ao imperialismo. Na verdade, diz lvaro Cunhal, se, at recentemente o govern o aceitava, permitia e facilitava a penetrao imperialista, agora apela desesperada mente para ela. O atraso, o baixo preo das matrias-primas e da fora de trabalho eram , como hoje, os apregoados atractivos para o investimento estrangeiro, a quem o governo alm disso garantia chorudos lucros com a estabilidade do regime, a represso do Partido Comunista e do movimento operrio, a inexistncia de liberdade sindical, e a dominao do capital financeiro sobre toda a economia. Os grupos monopolistas, por seu turno, procuravam cada vez mais associar-se com os monoplios internacionai s, de quem procuravam obter comparticipaes de capital nas suas empresas, financiam entos e formao de empresas mistas. O capital financeiro, diz lvaro Cunhal, partilha hoje voluntariamente com o imperialismo a explorao do nosso povo, torna-se um inst rumento da dominao crescente de Portugal pelo imperialismo estrangeiro. Portugal en contrava-se reduzido, prossegue, trgica situao de pas semicolonial, em que as suas ri uezas eram rapinadas, o produto da explorao da classe operria portuguesa ia parar a os bolsos dos milionrios ingleses, americanos, alemes, belgas e franceses entre ou tros, e o pas era colocado no fim da escala dos pases europeus. E essa perda da in dependncia econmica, sublinha lvaro Cunhal, acarreta a perda da independncia poltica, isto que com aquela vm a interveno e a influncia na poltica nacional, as exigncias de arcter poltico, diplomtico e militar, e o auxlio ao governo fascista que serve os im perialistas. No quadro da dependncia do imperialismo, lvaro Cunhal evidencia as consequncias que teve para Portugal a adeso EFTA em 1960: liquidao da pequena e mdia empresa, e cada vez maior domnio da economia nacional por um reduzido nmero de grandes grupos monopolistas; agravamento da explorao da classe operria, com a intensificao do trabalho, com o aume nto do desemprego, com a diminuio dos salrios reais; invaso do mercado interno por mercadorias estrangeiras com as quais as nossas inds trias no esto em condies de competir, com a consequente dependncia de todo o nosso co mrcio externo; agravamento da crise da agricultura portuguesa, sujeita a medidas discriminatrias e de desfavor em relao aos produtos agrcolas, acentuando a dependncia do comrcio ext erno e piorando a situao econmica geral; invaso renovada de capitais estrangeiros, interligando-se cada vez mais com o cap ital financeiro portugus, reforando a dominao imperialista. Tudo isto, claro, como sempre, em nome da concorrncia e da competitividade! Por o utro lado lvaro Cunhal advertia sobre a eventual adeso ao Mercado Comum: no interes sa a Portugal passar do domnio do imperialismo ingls no seio da EFTA para o domnio dos monoplios alemes-ocidentais e franceses no seio do Mercado Comum. Ignorada a a dvertncia, a triste realidade veio dar-lhe razo, conferindo toda a actualidade exi gncia ento formulada de que fosse o povo portugus a beneficiar das riquezas naciona is e de que as relaes comerciais de Portugal com outros pases tivessem por base a i ndependncia, a igualdade e o respeito mtuo. A revoluo democrtica em Portugal exigia, assim, lutar contra o domnio imperialista, lutar patrioticamente pela verdadeira independncia da nossa Ptria. Tal exigncia tor nava possvel j ento afirmar inequivocamente que, se derrubado o fascismo, se deixass e intactas as posies dos imperialistas, no s no se poderia encaminhar Portugal para o progresso e bem-estar como o novo regime democrtico em qualquer momento poderia ser apunhalado pelas costas. A histria do ps-25 de Abril confirmou tragicamente est e lcido aviso! Intimamente ligada com a questo da dependncia do imperialismo estava a questo colon ial. Na verdade, tal como acontecia em Portugal, tambm nas colnias se verificava u ma associao dos imperialistas estrangeiros com os monoplios nacionais, que eram em muitos casos meros agentes daqueles. A explorao colonial, alm de factor de dependncia do imperialismo, fora tambm historicamente factor de atraso do Pas. A libertao do ju go do colonialismo portugus no era apenas um acto de justia para os povos vtimas del e, mas tambm uma exigncia da libertao do povo portugus. A natureza terrorista da ditadura fascista provinha de que os interesses de classe de que era instrumento afrontavam no s os interesses da classe operria e dos tra balhadores, mas tambm os dos pequenos e mdios agricultores, da pequena burguesia u rbana e de sectores da mdia burguesia e da intelectualidade. Derrubar a ditadura e destruir o aparelho de Estado fascista, conquistar a liberdade poltica surgia, pois, como um dos objectivos da revoluo democrtica e objectivo central comum do movime nto antifascista. Mas o PCP considerava tal conquista tambm como um passo necessrio pa ra alcanar outros objectivos da revoluo democrtica: a abolio dos monoplios, a Reforma grria, a elevao do nvel de vida material e cultural das classes laboriosas, a indepe ndncia nacional, a paz, o reconhecimento independncia dos povos coloniais. E integr ada nessa dinmica a conquista da liberdade poltica constitua tambm uma condio para o d senvolvimento da luta da classe operria pelo socialismo. Nessa caminhada, a unidade das foras democrticas e patriticas apresentava-se como u m imperativo da situao nacional e tarefa central do Partido. A base fundamental de ssa unidade residia na unidade da classe operria e da sua aliana com o campesinato e a pequena burguesia urbana. E, com o desenvolvimento da luta nacional-liberta dora nas colnias portuguesas, adquiriu uma importncia decisiva a aliana com os resp ectivos povos. Mas no que se refere ao sistema de alianas, a situao em Portugal tam bm apresentava particularidades. Nomeadamente a inexistncia de outros partidos ope rrios e de outros sindicatos alm dos fascistas. Sendo o Partido Comunista o nico pa rtido operrio, a unidade da classe operria, espinha dorsal da unidade antimonopoli sta e antifascista, existia no fundamental sob a direco superior do Partido, traduzi ndo-se nas lutas econmicas e polticas e nos diversos organismos unitrios. E por isso, acentua lvaro Cunhal, na aco de massas que se forja e se consolida a unidade e que se pode conseguir concretiz-la em formas correctas de organizao. O Partido, sem pret enses sectrias hegemnicas, que levariam ao seu isolamento, devia prosseguir contudo , dentro do movimento unitrio abarcando diversas foras sociais e polticas, a sua aco i ndependente como Partido marxista-leninista, sem nunca dela abdicar.E qual a perspectiva revolucionria que ento se impunha ao movimento antifascista p ara derrubar a ditadura fascista e instaurar a democracia? Tal como no IV Congre sso em 1946, lvaro Cunhal indica a necessidade do recurso fora, que resultava do f acto de que a ditadura era um Estado fortemente centralizado, dispondo de um aparel ho militar, policial e judicial cuidadosamente organizado e depurado, em que no e xistiam quaisquer liberdades e as mais modestas reclamaes tinham como resposta o des encadear da violncia, e em que os crculos governantes se mostravam firmemente dispos tos a resistir pelas armas at ao fim. Era o governo fascista que cortava a possibil idade de qualquer soluo pacfica. Porm, de que acto de fora se tratava? O Partido Comu nista, diz lvaro Cunhal, responde que o levantamento nacional, a insurreio popular, a luta armada do povo e dos militares revolucionrios, vencendo e destruindo o apa relho militar e repressivo fascista.Se a insurreio popular era o acto de fora necessrio, ele no poderia ser confundido com uma ou vrias manifestaes de massas por muito grandiosas que sejam, precisa lvaro Cun hal. A insurreio o culminar de uma movimentao revolucionria das massas em que as orga nizaes revolucionrias se multiplicam e forjam os seus quadros, capazes de orientar no momento oportuno as massas na procura das armas, de desencadear aces populares violentas e, sublinha lvaro Cunhal, na base de uma forte organizao ligada s massas po pulares e com fundas razes nas foras armadas, decidir o momento do assalto final. Contra concepes radicalistas e aventureiras pequeno-burguesas, lembrava lvaro Cunha l, com todo o sentido de responsabilidade revolucionria, que s numa situao revolucionr ia e com elevado grau de conscincia poltica e de organizao se pode lanar uma insurreio popular vitoriosa. E para esta o ser requer-se ainda que esteja em condies de derro tar o aparelho militar de que o fascismo dispe, o que s poder ser conseguido se hou ver a participao nela e a neutralizao de parte considervel das foras armadas.Preparar o levantamento nacional requeria, pois, no frases de exaltao pseudo-revolu cionria, mas inserir a vertente militar do movimento revolucionrio num trabalho qu otidiano de desenvolvimento da luta popular que criasse as condies subjectivas em correspondncia com a evoluo das condies objectivas. Como escreve lvaro Cunhal, o nico minho para o levantamento nacional a luta popular de massas. nela que se ganham para a aco as vrias classes, que da luta econmica se passa para a luta poltica, que de reclamaes e reivindicaes se desencadeiam greves, que s manifestaes se sucedem os conf ontos com as foras repressivas, num processo no linear, mas com uma direco nica: o de rrube da ditadura. Eis o que escapava aos teorizadores pequeno-burgueses desliga dos das massas e que s o Partido Comunista, sublinha lvaro Cunhal, que vive enraiza do nas massas, que acompanha o processo revolucionrio no seu conjunto e tem nele um papel determinante, estava em condies de discernir. Ora, no conjunto do processo revolucionrio tm um papel fundamental as lutas reivin dicativas da classe operria. na luta por melhorias salariais e outras reivindicaes imediatas, acentua lvaro Cunhal, que a classe operria sente diante de si o inimigo, tem conscincia de que no est a lutar apenas contra um patro, um indivduo, mas contra a classe exploradora e o Estado fascista.Por isso lvaro Cunhal vai insistir numa tarefa central e decisiva para o desenvolvi mento da luta popular de massas: a de organizar. Mas fazer trabalho de organizao no propagandear a sua necessidade, lev-lo a cabo efectivamente, no s nas organizaes do Partido, mas na organizao das lutas econmicas e polticas, na constituio de variados ismos de unidade para conduzirem tais lutas, na utilizao de organizaes legais para ref orar o contacto com as massas, alargar o movimento de massas e dirigi-lo no melho r sentido. E salienta: sem trabalho de organizao possvel fazer-se coisas, mas no des adear e dar continuidade a grandes lutas, elevando-as a um nvel superior, sobretu do na perspectiva da conduo do movimento popular ao levantamento nacional para der rubar a ditadura.Ora, se para lanar e mais ainda para dirigir uma grande aco poltica necessria uma org anizao prvia, para fazer confluir num mesmo caudal todas as foras revolucionrias, toda s as foras latentes no povo, reala lvaro Cunhal, necessrio criar toda uma ampla e for e organizao enraizada nas massas, no bastando que um pequeno ncleo de direco poltica ja organizado. Para o Partido estar altura das suas responsabilidades histricas, lvaro Cunhal enu mera as tarefas decisivas cujo cumprimento ento se impunha: O reforo da defesa, um su perior trabalho de direco e a sua continuidade, uma justa poltica de quadros, o des envolvimento da organizao, o melhoramento da agitao e propaganda, a intensificao do tr abalho ideolgico, a melhor aplicao dos princpios do centralismo democrtico, o estabel ecimento de uma firme unidade de pensamento e aco de todo o Partido. Focaremos a nossa anlise nas questes ideolgicas, pois, como lvaro Cunhal acentua, o partido tinha ento diante de si, como tarefa essencial, uma grande batalha ideolgic a, em defesa dos princpios do marxismo-leninismo, em defesa da sua justa orientao.Essa batalha tinha como direces fundamentais o combate ao esquerdismo e sectarismo, em relao linha poltica e tctica, e tendncia anarco-liberal em relao vida in o. Esta ltima tendncia foi j amplamente caracterizada no tomo II, pelo que apenas re feriremos porque se considerava necessrio continuar a lutar contra as manifestaes d o oportunismo de direita: que, como sintetiza lvaro Cunhal, este tende a reduzir o Partido passividade, a coloc-lo e classe operria a reboque da mdia burguesia entre do a esta a hegemonia no movimento democrtico, tende a refrear a aco das massas popula res, a roubar-lhes uma perspectiva revolucionria, a impedir a luta independente d o proletariado e do seu Partido.Mas as tendncias ento prevalecentes eram as tendncias sectrias e esquerdistas que se traduziam na negao de quaisquer possibilidades de actuao legal e de qualquer interess e do trabalho nos Sindicatos Nacionais e outras organizaes de massas; na afirmao de qu e a luta econmica est ultrapassada, que as manifestaes pacficas de rua deram j t nham a dar; ou condensavam as suas concepes na consigna da aco directa para a qual tod s os esforos deveriam ser dirigidos e encetando desde j a preparao tcnica da insurrei avia mesmo quem afirmasse existirem as condies para passar directamente do fascismo para o socialismo. A necessidade de lutar contra o esquerdismo, contra o revoluc ionarismo verbal, resultava de que ele tendia a reduzir o Partido actividade dumpequeno grupo ou seita separado da classe e das massas, tendia a refrear o desenvolv imento da luta popular, a lanar a vanguarda em aces precipitadas e aventureiristas, a transformar o Partido num agrupamento subsidirio do radicalismo pequeno-burgus. Por tudo isso, afirma lvaro Cunhal, o esquerdismo constitui hoje o perigo principa l no nosso Partido. Concluindo a sua obra, lvaro Cunhal lembra que a grande tarefa que se coloca ante o Partido a unio das largas massas populares, de todos os democratas e patriotas, para o derrubamento da ditadura fascista e a realizao da revoluo democrtica e nacion al, que s poder ser lavada at ao fim pelo proletariado, dirigido pelo seu Partido o Pa rtido Comunista Portugus!