36
“Plano Juncker” 315 mil milhões em 3 anos. Para quê? // PÁG. 26 1 EURO . 18 Março 2015 Ano 2 . Número 110 www.observador.pt Director: Rudolf Gruner // PÁG. 02 Demissão do Diretor-Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira Grécia, Alemanha Uma guerra complicada // PÁG. 16 Torre Eiffel engolida pela poluição atmosférica Eles estão na faculdade. E podem ser expulsos a qualquer momento. // PÁG. 20 // PÁG. 08

Obs analuz 65427

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trabalho desenvolvido por Ana Luz, no âmbito da disciplina de Semiologia Tipográfica do mestrado em design da Universidade de Aveiro –2014/15, de redesenho para suporte papel do jornal Observador.

Citation preview

Page 1: Obs analuz 65427

“Plano Juncker” 315 mil milhões em 3 anos. Para quê?// PÁG. 26

1 EURO . 18 Março 2015

Ano 2 . Número 110

www.observador.pt

Director: Rudolf Gruner

// PÁG. 02

Demissão do Diretor-Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira

Grécia, Alemanha Uma guerracomplicada// PÁG. 16

Torre Eiffelengolida pela poluição atmosférica

Eles estão na faculdade. E podem ser expulsos a qualquer momento.

// PÁG. 20

// PÁG. 08

Page 2: Obs analuz 65427

18 Março 2015

António Brigas Afonso, diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), apresentou a de-missão esta quarta-feira, na sequên-cia da controvérsia com a “Lista VIP” de contribuintes, confirmou o Observador. O pedido foi acei-te pelo Ministério das Finanças, confirma o Ministério em comu-nicado, sem adiantar para já qual-quer informação adicional. Nada indica, para já, que o lugar de Paulo Núncio esteja em risco, apesar de a auditoria que foi determinada já ter indícios que a polémica lista, sempre categoricamente desmenti-da pelo Governo, poder existir. No cargo há nove meses, António Bri-gas Afonso, substituiu em julho o antigo chefe do fisco, José Azevedo Pereira. Antes disso, Brigas Afon-so era subdiretor-geral da AT na área dos impostos especiais sobre o consumo. Em declarações aos jornalistas esta quarta-feira, trans-mitidas pela SIC Notícias, Paulo Núncio diz que “esta não é o mo-mento para clarificar” a situação. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais garante estar “totalmente disponível” para ir ao Parlamento, “porque entendo que o Parlamen-to é o local certo para que sejam prestados mais esclarecimentos sobre esta matéria”. Paulo Núncio acrescentou que “o governo rece-beu da AT a confirmação de que não existia essa lista mas, por outro lado, existem rumores e notícias em sentido contrário”.

clima de medo, insegurançae intranquilidade

“ “

Diretor-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira demite-seBrigas Afonso apresentou demissão, na sequência da controvérsia com a “Lista VIP” de contribuintes. Pedido foi aceite pela ministra das Finanças. Paulo Núncio admite ir ao Parlamento dar explicações

Ouvido pela TSF, Paulo Ralha, presidente do Sindicato dos Traba-lhadores dos Impostos, diz que re-cebeu a notícia “com um misto de surpresa e de fatalidade”. “O Dr. Brigas Afonso não pode ser res-ponsabilizado pelo que se passou com a Lista VIP, mas é responsá-vel máximo da casa”, acrescentou Paulo Ralha, elogiando a “franque-za” do agora ex-diretor-geral da AT. Paulo Ralha diz que António Brigas Afonso terá sido “apanhado desprevenido” pela existência des-ta lista quando assumiu o cargo.A existência de uma lista de con-tribuintes VIP, personalidades me-diáticas de várias áreas, terá sido divulgada numa formação para inspetores tributários estagiários realizada a 20 de janeiro. A notícia, avançada pela revista Visão, tem por base o testemunho de partici-pantes na sessão que decorreu na Torre do Tombo, que contrariam a versão oficial do governo segundo a qual a tal lista não existe. Tam-bém o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, veio a afirmar que existe uma bolsa de contribuintes VIP no Fisco. Depois de ter repeti-do que “nunca foram dadas instru-ções à Autoridade Tributária para elaborar qualquer tipo de listas de contribuintes”, o secretário de Es-tado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, garantiu que a sua respos-ta não implica que esteja afastada a realização de uma auditoria ao caso

POLÍTICA // LISTA VIP02

Page 3: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Mário Gaspar

A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a re-colher informação sobre a existência de uma eventual lista de contribuintes VIP na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), com o objetivo de avaliar se vai dar início a algum procedimento, informou fonte da PGR.“A PGR encontra-se a coligir informação sobre essa matéria, com vista a avaliar da necessidade de iniciar procedimentos que mostrem pertinentes, no âmbito das atribuições do Ministério Público”, refere a PGR numa resposta à Lusa. Na segunda-feira, o Ministério das Finanças anunciou ter solicitado à Inspeção-Geral de Finanças (IGF) a abertura de um inquérito sobre a existência desta lista na Autoridade Tributária e Adua-neira (AT), explicando que este inquérito surgiu “tendo em conta notícias vindas recentemente a público”. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impos-tos (STI), Paulo Ralha, afirma que existe a referida lista de contribuintes VIP e que foi o chefe de divisão dos serviços de auditoria da Autoridade Tributária e Adua-neira, que informou os trabalhadores da sua existência numa ação de formação para 300 inspetores tributá-rios. O sindicalista relaciona esta lista de contribuintes com os 140 processos disciplinares que foram abertos a trabalhadores que, alegadamente, acederam a informa-ção de contribuintes dessa lista VIP. O STI acrescenta que os processos disciplinares aos trabalhadores dos impostos começaram a ser aplicados desde dezembro, depois de ter sido noticiado que os funcionários da AT estavam a ser investigados por alegadamente terem consultado os dados fiscais do primeiro-ministro, Pe-dro Passos Coelho. Mas o diretor-geral da AT, António Brigas Afonso, “desmente que tenha recebido qual-quer tipo de lista da parte do secretário de Estado dos Assuntos Fiscais”, Paulo Núncio, tal como noticiou a revista Visão. Num debate no parlamento, também o primeiro-ministro negou que exista na Autoridade Tri-butária uma qualquer ‘bolsa VIP’ destinada a contri-buintes considerados especiais.

Agência Lusa

PGR recolhe informação sobre lista de contribuintes VIP

A Procuradoria-Geral da República quer analisar a necessidade de iniciar procedimentos que se mostrem pertinentes para enfrentar a questão da existência de uma lista VIP de contribuintes.

da lista VIP de contribuintes, que foi sugerida por um vice-presiden-te do PSD e defendida pelo PCP e Bloco de Esquerda. Paulo Núncio insistiu nunca ter “elaborado ou entregado” qualquer lista de con-tribuintes à Autoridade Tributária (AT), assim como nunca ter dado “instruções” para a AT o fazer. Na segunda-feira, inspetores da Au-toridade Tributária denunciaram um “clima de medo, insegurança e intranquilidade” na sequência do aviso de que haveria uma lista VIP de contribuintes, que ao ser consultada faria disparar um alar-me informático. Nesse mesmo dia, o Ministério das Finanças mandou abrir uma auditoria à alegada lista VIP de contribuintes da Autori-dade Tributária. “Tendo em con-ta notícias vindas recentemente a público, o Ministério das Finanças comunica que solicitou hoje à Ins-peção-Geral de Finanças (IGF) a abertura de um inquérito sobre a alegada existência de uma lista de contribuintes na Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), cujo acesso seria alegadamente restrito. Este inquérito, a realizar pela IGF, enquanto entidade externa da AT, destina-se a realizar o apuramento de todos os factos relativos a este assunto”, informou o gabinete de Maria Luís Albuquerque no dia 16.

David DinisEdgar Caetano

Page 4: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Ausência de renovação ou substituição das medidas temporárias em vigor, como o corte dos salários e da sobretaxa, fariam a economia crescer mais mas o défice seria superior a 3% a partir de 2016.

Portugal até conseguiria reduzir o défice orçamental para menos de 3% do PIB este ano, mas, caso não sejam tomadas medidas para man-ter alguns dos cortes ou compen-sá-los, o défice voltará a superar os 3% em 2016 e nos anos seguintes até 2019, estima o Conselho das Finanças Públicas. Num relatório publicado sobre a situação e as condicionantes orçamentais no pe-ríodo 2015 a 2019, o Conselho das Finanças Públicas alerta para um crescimento do valor do défice nos anos posteriores a 2015. “Embora pareça viável a obtenção em 2015 de um défice inferior a 3% do PIB,

que exigem legislação anual para serem repostas. Entre estas medi-das, e com grande impacto tanto no défice como na previsão de crescimento da economia, estão, por exemplo, os cortes salariais na Função Pública que devem desapa-recer no próximo ano se não forem aprovados novos cortes (no segui-mento de uma decisão do Tribunal Constitucional) e da sobretaxa de 3,5% em sede de IRS, que também precisa de renovação anual no Or-çamento do Estado. Neste sentido, o CFP calcula que o défice este ano seria reduzido para 2,8%, mas este cresceria novamente para 3,3% em

2016 e 3,2% do PIB nos anos se-guintes até 2019. Isto aconteceria, caso não avancem mais medidas, o PIB até cresceria mais que o pre-visto, superior a 2% de 2016 até 2019 (chegando mesmo aos 2,4% em 2017), mas mesmo com esse nível de crescimento, o problema das finanças públicas não seria re-solvido e o défice mantinha-se nos valores referidos acima de 3%.

Nuno André Martins

Portugal teria défice excessivo a partir de 2016 sem renovação de medidas temporárias

permitindo encerrar o Procedi-mento por Défices Excessivos, na ausência de políticas adicionais e não obstante a convergência da economia para o seu crescimento potencial, o défice voltará a superar essa marca a partir de 2016”, diz a instituição liderada pela ex-admi-nistradora do Banco de Portugal Teodora Cardoso. Este cenário, no entanto, é explicado pela forma como o CFP faz as suas estimati-vas, que é através da utilização de um cenário de políticas invarian-tes, ou seja, o CFP não conta com as medidas que ainda não estão aprovadas e com aquelas medidas

“O simples facto de a ausência de medidas em 2016 levar a um crescimento maior da economia não resolve o problema do orçamento”

Teodora Cardoso

ECONOMIA // FINANÇAS PÚBLICAS04

MaNUEL DE aLMEiDa/LUsa

Page 5: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Negociações técnicas com a Grécia “não estão a correr bem”

Responsáveis da Grécia e da zona euro estão a atirar as culpas uns para os outros. Alexis Tsipras diz no parlamento que a quinta avaliação foi cancelada e que não será “intimidado por ameaças”.

As negociações técnicas entre a Grécia e os representantes das instituições credoras “não estão a correr bem”, disseram ao The Wall Street Journal fontes próximas do processo. No Parlamento de Ate-nas, o primeiro-ministro Alexis Tsipras defendeu esta quarta-feira que a quinta avaliação do segundo resgate foi “cancelada” e que o que vale é o acordo obtido a 20 de fe-vereiro, um acordo que estendeu por quatro meses o acordo com a Grécia mas que fez depender a entrega de mais fundos do suces-so das negociações técnicas com Atenas. Tsipras garante que não se deixará “intimidar por ameaças”. “Responsáveis eleitos vão negociar com responsáveis eleitos e os tec-nocratas lidarão com tecnocratas”, afirmou esta quarta-feira Alexis Tsipras no Parlamento, consubs-tanciando a notícia desta manhã do The Wall Street Journal que citava fontes próximas da negociação técnica que diziam que “os gregos não estão a cooperar” e que os téc-nicos do BCE, FMI e Comissão Europeia não estão a conseguir ter acesso a dados importantes sobre as finanças do país. No Parlamen-to, Tsipras garante está “aberto ao diálogo e a sugestões”, mas a asse-gura que “não irá deitar burocratas ditarem medidas”. Tsipras pediu uma reunião com Angela Merkel, François Hollande, Jean-Claude Juncker e Mario Draghi para, à margem do Conselho Europeu de amanhã e sexta-feira, negociar com estes responsáveis uma solução para o impasse que subsiste.

A falta de progressos nestas ne-gociações está a gerar grandes dúvidas sobre a forma como a Grécia irá conseguir superar a cri-se de financiamento que enfrenta, algo que que Tsipras chama uma “pressão ao nível da liquidez”. O primeiro-ministro diz que não quer tratamento “especial”, apenas “tratamento igual” quando pede que o BCE aumente os limites ao financiamento da banca grega e aos montantes de dívida de curto prazo que aceita como garantia.

O Ministro das Finanças da Gré-cia disse em Itália que, a bem da “construção da confiança com os parceiros europeus”, o governo poderia adiar promessas eleitorais.

Edgar Caetano

não quero tratamento “especial”, apenas “tratamento igual”

ECONOMIA // FUTURO DA GRÉCIA05

“ “

O Estado grego conseguiu esta quarta-feira obter 1.300 milhões de euros num leilão de dívida a três meses, com uma taxa a rondar os 2,7%, o que ilustra as dificuldades de tesouraria de um país que já está a recorrer aos fundos de pensões públicos para financiar o Estado. Contrariando o que disse Yanis Va-roufakis, ministro das Finanças, na sexta-feira, Alexis Tsipras garante que o seu governo está “determi-nado a cumprir os compromissos assumidos durante a campanha”.

rEUTErs

Page 6: Obs analuz 65427

18 Março 2015

A retórica do crescimento

O crescimento na União Europeia é um objectivo ultrapassado pela realidade, contraditório com outros importantes desideratos colectivos e contrariado por características sociais determinantes.

Há qualquer coisa de obsessivo na ideia de crescimento económico em Portugal como no resto do mundo. Lê-se e ouve-se por todo o lado, sobretudo no terreno dos «slogans» po-líticos para uso imediato, e até se percebe por-quê em contexto de crise. Contudo, a verdade é que se trata, em especial na União Europeia, de um objectivo ultrapassado pela realidade, con-traditório com outros importantes desideratos colectivos e contrariado por características so-ciais tão determinantes como o envelhecimen-to populacional.Com efeito, as sociedades maduras são dema-siado complexas para obedecer automatica-mente ao estímulo económico decretado pelo Estado, daí que o recente «quantitative easing» do BCE esteja condenado a esgotar os seus efeitos rapidamente. Em sociedades como as integradas na UE, em particular no euro-gru-po, há sempre forças a operar em simultâneo a favor e contra o crescimento económico, sen-do o resultado final tudo menos automático.Vejamos. Numa recente lista do FMI – uma instituição especializada em oferecer receitas milagrosas para o crescimento económico -, eram apontados os países com menor cresci-mento desde 1999 até ao esperado em 2019.Ora, oito dos nove países mais relevantes dessa lista pertencem à UE (sete dos quais ao euro) e o outro é o Japão. Todos estes países, onde a Itália, o Japão e Portugal são os três com me-nor crescimento ao longo daquelas duas déca-das (menos de 1% ao ano e os outros cinco países entre 1% e 1,5%), todos eles se caracteri-zam – uns mais, outros menos – por possuírem rendimentos per capita acima e, na maioria dos casos, muito acima da média mundial.Não se trata, portanto, de pobreza; compa-rativamente, são países ricos ou, pelo menos, remediados como Portugal. Em suma, estamos a falar de sociedades que, tendo atingido um determinado patamar de prosperidade superior a 20.000 dólares por habitante, encontram di-

que as empresas estatais de transportes como a TAP são o exemplo mais flagrante, os mer-cados de trabalho são condicionados, uma vez mais, pela demografia e pelo conflito entre as velhas e as novas gerações, que afectam a com-posição da população activa e daí as crescentes migrações internacionais.Se e quando a Europa minimizasse os efeitos destes 3 + 1 problemas estruturais – demo-grafia, «estado social» e ambientalismo, mais o mercado do trabalho – poder-se-ia falar sem demagogia de crescimento e da criação de em-prego. Mas nessa altura restaria o último factor anti-desenvolvimentista, a saber, a adesão sub-jectiva de grande parte da população europeia à austeridade, não no sentido meramente fiscal mas sim cultural do termo, e é isto que ainda não foi entendido pelos economistas da era keynesiana… Há pois fortes indícios de que não é a falta de crescimento que condiciona os valores sociais e políticos. São, sim, a demogra-fia, a defesa do «estado social» e do ambiente, assim como o fosso inter-geracional, que con-dicionam as opções economicistas ultrapassa-das dos partidos que apenas sabem angariar vo-tos prometendo mais gastos e mais empregos públicos. Prometer o crescimento é uma frase feita mas, além de falsa, já não corresponde àquilo que ambiciona porventura a maioria dos europeus, para quem não seriam necessários mais do que 2% de crescimento anual para 2% de inflação, segundo a fórmula mágica alemã. Em todo o caso, na minha opinião, o problema da sociedade portuguesa é muito menos uma questão de crescimento do que uma profunda questão de desigualdade interna; não é tanto um problema de competição externa como de redistribuição interna. Era disto que devíamos estar a falar para as próximas eleições.

ficuldades estruturais para crescer economica-mente (na China são $7.000 e na Índia $1.500). As razões variam e certos países, como Portu-gal e a Grécia tipicamente, começaram a dei-xar de crescer mais cedo do que outros, como (por ordem da lista em questão) a Dinamarca, a Alemanha, a França, a Bélgica, a Holanda e até a Croácia (que ainda não entrou para o euro), todos abaixo de 1,5%. Independentemente das diferenças de riqueza e de cultura, há contudo semelhanças decisivas entre os países de mais lento crescimento, incluindo o Japão. São três os traços comuns mais importantes: a demo-grafia (elevada longevidade e baixa fecundi-dade); o consequente peso das reformas e das despesas de saúde, seja qual for o sistema de segurança social; e a melhor protecção ambien-tal do mundo (Portugal é, segundo o Eurostat, o 6º país da UE com maior peso das energias renováveis). É isto que se pretende trocar pelo crescimento do antigo «terceiro mundo»?

Ou é por isto que a Europa tem os custos acrescidos e as dificuldades de crescimento que conhecemos? Para além desses três facto-res maciços, que não há partido político algum que os mude significativamente, em especial o demográfico, há há ainda o factor do mercado de trabalho. As comparações são mais compli-cadas mas é evidente que os mercados de tra-balho europeus se ressentem, do ponto de vista do crescimento, dos corporativismos sindicais que os USA e o Reino Unido já desmantelaram em parte, enquanto o «terceiro mundo» nunca os chegou a ter. Além desses corporativismos,

“Prometer o crescimento é uma frase feita”

// CRESCIMENTO ECONÓMICO06

O que diz Manuel Villaverde Cabralsobre...

OPINIÃO

Page 7: Obs analuz 65427

18 Março 2015

SECRETARIADOEstrela Mandillo

CONTACTOSRua Luz Soriano, n.º 67, 2º Esq.1200-246 LisboaTel: 210 419 569ASSINATURAS [email protected]ÇO DE APOIO AO LEITOR [email protected]

IMPRESSÃO SogapalDISTRIBUIÇÃO VaspTIRAGEM MÉDIA 10.000 exemplaresDEP. LEGAL 283 894/06 REGISTO ERC 127 874

DIRETOR CRIATIVODiogo Queiroz de Andrade

DESIGN GRáFICOAna Luz

DIRETOR TÉCNICO - AUDIOVISUALAntónio Rocha Lopes

DIRETOR TÉCNICO - WEBLeo Xavier

INFOGRáFICAAndreia Reisinho Costa

GESTORES DE COMUNIDADES E ANALISTAS DIGITAISBruno Valinhas; Luís Pereira

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃOAntónio Carrapatoso (Presidente); Duarte Schmidt Lino; Rui RamosJosé Manuel Fernandes

DIREÇÃO GERALRudolf Gruner

DIREÇÃO COMERCIALIsabel Marques; Gonçalo SaraivaMafalda Campos Forte;

DIREÇÃO EDITORIALPublisher José Manuel Fernandes

DIRETORDavid Dinis

EDITORES AUDIOVISUALFábio Pinto; Hugo Amaral; Miguel Soares

EqUIPA WEBAndré Guedes; Alexandre Santos; Eduardo Domingos; Joana PereiraPedro Nunes

JORNALISTASAna Cristina Marques; Ana Pimentel; Ana SupiroCatarina Falcão; Catarina Marques Rodrigues; David Almas; Diogo Pombo; Edgar Caetano; Liliana Valente; Hugo Tavares da Silva; Vera Novais; João de Almeida Dias; João Pedro Pincha; Marlene Carriço; Miguel Santos; Milton Cappelletti; Nuno Martins; Pedro Esteves; Rita Cipriano; Rita Dinis; Sara Otto Coelho; Sónia Simões; Tiago Pais

Page 8: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Eles estão na faculdade. E podem ser expulsos a qualquer momento.A guerra está nos tribunaisPedro tem 23 anos e está no ter-ceiro ano de medicina, na Univer-sidade de Lisboa. Em 2012, foi um dos 183 alunos provenientes do ensino recorrente que acedeu ao ensino superior sem fazer exames nacionais, poucos meses depois de o ministro Nuno Crato ter mudado as regras de acesso e ter imposto a realização de exames. O Ministério recorreu da decisão dos tribunais e, no ano passado, Pedro recebeu um cartão vermelho, que é como quem diz uma carta da Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) com or-dem de expulsão da universidade. Não obedeceu. “Lembro-me de ter visto no Facebook, no início do ano passado, que o Ministério da Educação estava a notificar os alunos que tinham vindo do ensino recorrente, mas como eu não tinha recebido carta nenhuma fiquei des-cansado. Até que em abril lá che-gou a carta da DGES a dizer que a minha média tinha sido recalcu-lada com base nas notas do ensino regular e como eu não tinha posto mais nenhuma opção de ingresso depois da Universidade de Lisboa, perdia a colocação”, recorda Pe-dro, que prefere manter o anoni-mato, por saber que “o recorrente é muito mal visto”.

“Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar embora”

Pedro (nome fictício)

Pedro não abandonou a universi-dade porque o seu advogado vol-tou a recorrer para os tribunais, mas está longe de estar tranquilo. “Não sei o que é que hei de esperar do amanhã. Estou a estudar hoje e não sei se amanhã me podem mandar embora, nem posso fazer projetos. Os meus colegas vão to-dos de Erasmus no próximo ano e eu nem posso sequer pensar em concorrer”, lamenta, com o olhar caído sobre as mãos.

Recuemos um pouco no tempo. Estamos em 2010 e Pedro termina o ensino secundário regular com uma média interna de 18,6 valo-res. Uma média elevada, mas não suficientemente alta para conseguir entrar num curso de medicina. De-cide ficar mais um ano a fazer me-lhoria de notas. Matricula-se no en-sino recorrente – uma vertente de educação para adultos que permite fazer o ensino secundário num só ano e até sem assistir a aulas e pre-para-se para os exames de ingres-so ao curso de medicina (biologia, matemática e física e química).

De 18,6 para 19,5 valores e entrada direta para medicina

ESPECIAL // EDUCAÇÃO08

Mar

LENE

Car

riço

Page 9: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Entraram na universidade e estão a tirar cursos superiores. Mas o Ministério entende que devem voltar a fazer exames e quer mandá-los embora. A guerra (e o percurso deles) está na mão dos tribunais.

Page 10: Obs analuz 65427

18 Março 2015

MiGUEL LopEs

Em 2011 Pedro termina o recorrente com uma média interna de 19,5 valores e consegue melhores notas nos exames das cadeiras es-pecíficas. Feitas as contas: 18,1 valores. Uma média que lhe valeu o ingresso nesse ano em medicina, embora na última opção. A adap-tação não correu da forma desejada e o es-tudante meteu imediatamente na cabeça que no ano seguinte iria pedir transferência para outra universidade, com os exames, ainda vá-lidos, que tinha feito em 2011 e aproveitando a nota interna do recorrente. Acontece que em 2012, já na primavera, Pedro apercebeu-se que o ministro Nuno Crato tinha alterado as regras de acesso ao ensino superior para os alunos do ensino recorrente e, a conselho de um amigo do pai, procurou a ajuda do ad-vogado Jorge Braga, que já estava a defender um grupo de alunos nesta mesma causa. “Só sei contar que ganhámos em tribunal, que entrei na Universidade de Lisboa e não mais pensei no assunto, até a carta da DGES ter aparecido, no ano passado. Dizia que a minha matrícula seria anulada pois a minha média, recalculada, baixava e eu não tinha colocado mais nenhuma hipótese, naquele ano, a seguir a Lisboa. O meu pai está mais por dentro destas questões jurídicas do que eu. Na ver-dade não percebo muito bem a terminologia que o Dr. Jorge usa. Eu limito-me a estudar e desde que recebi a carta ainda tenho tira-do melhores notas”, conta o estudante. As alterações introduzidas vieram, sublinha o Ministério da Educação ao Observador, “res-taurar a matriz do ensino recorrente”. “O seu propósito foi pois o de pôr termo à prática, que se veio a revelar abundante, de utilizar o ensino recorrente como via rápida e acessível para o ingresso no ensino superior, frustran-do as expectativas de todos os que seguiram o percurso normal”, acrescentou fonte oficial do Ministério de Nuno Crato. Os casos mais flagrantes e polémicos prendiam-se com alu-nos que tiravam notas baixas no regular e iam subir notas para o recorrente para conseguir entrar em cursos de médias elevadas. Mas este diploma acabou por ser objeto de litígio. Isto porque o ministro Nuno Crato entendia que as novas regras se deveriam aplicar a todos os alunos vindos do recorrente que acedessem ao ensino superior naquele mesmo ano e os alunos entenderam que não.

Alunos venceram em tribunal. Ministério não baixou armas e a “guerra” continua

A mudança das regras de acesso ao ensino superior para os alunos vindos do recorrente ocorreu a meio do ano letivo. Em fevereiro de 2012 foi publicado o diploma que aproxima as condições de can-didatura ao ensino superior por parte dos alunos dos cursos cientí-fico-humanísticos do ensino recor-rente, daquelas a que estão sujeitos os alunos do ensino regular. Na prática, os alunos do recorrente que se querem candidatar ao ensi-no superior passaram a ter de fazer

“O propósito [das alterações às regras de acesso] foi pois o de pôr termo à prática, que se veio a revelar abundante, de utilizar o ensino recorrente como via rápida e acessível para o ingresso no ensino superior, frustrando as expectativas de todos os que seguiram o percurso normal”.

O que mudou com Nuno Crato?

fazer os exames finais nacionais como os alunos do ensino regu-lar, sem prejuízo de ser suficiente a avaliação interna para os alunos que apenas queiram obter a certi-ficação da conclusão desses cur-sos. Além disso impediu-se que os alunos que tivessem completado o ensino secundário regular se ma-triculassem em curso idêntico no recorrente para subir nota.

ESPECIAL // EDUCAÇÃO10

Page 11: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Alunos venceram em tribunal. Ministério não baixou armas e a “guerra” continua

O advogado Jorge Braga tem sido um dos rostos desta luta que opõe os alunos do recorrente ao Minis-tério da Educação. Em 2012 apre-sentou dois processos no Tribunal Administrativo do Circulo de Lis-boa, representando um total de 285 alunos, e venceu os dois. O advo-gado considerava que o diploma de fevereiro de 2012 devia conter uma regra de transição para estes alunos “que não tinham sido formatados para fazer exames naquele ano”, explicou ao Observador. Os alunos acabaram por poder candidatar-se e 183 conseguiram colocação. O Ministério, que recorreu das de-cisões, criou na altura 163 vagas adicionais para que os alunos do regular não fossem prejudicados. Um dos processos acabou por su-bir para o Tribunal Central Admi-nistrativo Sul e como este tribunal decidiu que “a própria norma era inconstitucional porque violava o princípio da confiança jurídica, o Ministério Público (MP) teve obri-gatoriamente que recorrer para o Tribunal Constitucional”, conta Jorge Braga, lembrando que o re-curso do MP dava razão aos alu-nos. O outro processo, que entrou mais tarde, seguiu para o Supremo Tribunal Administrativo (STA) do Sul. Segundo o advogado, o Cons-titucional decidiu que a norma não era inconstitucional para “todos os alunos matriculados no ensino secundário recorrente” e o STA seguiu a mesma linha. Jorge Braga recorreu do acórdão do TC para o Plenário e do STA para o Consti-tucional. A resposta do Constitu-cional foi idêntica à primeira. A partir desse momento, Jorge Braga

GLoBaL iMaGENs/arQUiVo

percebeu que só teria como salva-guardar os direitos dos alunos que tinham estado matriculados no re-corrente antes de 2011/2012. Res-tavam-lhe 11 dos 183 que tinham entrado no ensino superior. E é por esses que se tem batido. “O TC claramente excluiu da decisão os alunos que já haviam termina-do o ensino recorrente naquele ano, portanto esses alunos que eram detentores de um certifi-cado de habilitações académicas podiam, deviam e teriam sempre que se candidatar”, argumenta o advogado. Acontece que perante a decisão do Constitucional e do

STA, a Direção-Geral do Ensino Superior não perdeu tempo e co-meçou a notificar os alunos, numa carta em que decidia o seu futuro. Foi o pretexto para Jorge Braga contra-atacar: “eles aplicaram um ato administrativo antes do tem-po, antes do trânsito em julgado das decisões, portanto violaram uma decisão judicial. Eu recorri e suspendi a decisão dos tribunais”, relatou. O advogado apresentou providências cautelares individuais, uma por cada um dos 11 alunos, às quais ficou acoplada uma ação principal. Só a providência de Pe-dro não foi ganha.

A DGES não perdeu tempo e começou a notificar os alunos, numa carta em que decidia o seu futuro

“LaUra HaaNpaa

Page 12: Obs analuz 65427

18 Março 2015

O Ministério voltou a recorrer e Jorge recorreu da decisão da pro-vidência do Pedro para o Supremo Tribunal Administrativo que, por sua vez, se recusou a revisitar o processo, obrigando o advogado a recorrer para o Pleno da Sec-ção. Em resposta ao Observador, o Ministério esclareceu que “está obrigado a executar todas as sen-tenças judiciais proferidas no âm-bito de processos em que é parte, independentemente de o conteúdo da sentença (acórdão) lhe ser favo-rável”. Assim, “foram retificadas as classificações de ensino secundário dos autores das ações que foram candidatos ao concurso de acesso e ingresso no ensino superior pú-blico para matrícula e inscrição no ano letivo 2012-2013. E daí resul-taram diferentes resoluções: aque-les que perderam a certificação de conclusão do secundário (por não terem feito exames nacionais) fo-ram “excluídos”; os que, após reti-ficação das notas (tendo em conta as do ensino regular que tinham frequentado anteriormente), não conseguiram média para entrar em nenhuma das hipóteses apre-sentadas em 2012/13 perderam colocação; outros foram notifica-dos para mudar de instituição de ensino. Sem adiantar números, o Ministério da Educação revela que “muitos dos alunos que moveram

as mencionadas ações não chega-ram a candidatar-se ao concurso nacional de acesso de 2012 e “dos que concorreram, uma parte sig-nificativa ou manteve a colocação ou foi colocada noutro par insti-tuição/ curso”. “Houve também alunos não colocados, por terem limitado as opções de candidatura, e só os alunos que não reuniam as condições de acesso ao ensino su-perior, por não terem realizado os exames finais nacionais, é que fica-ram na situação de excluído, sendo este número residual”, concluiu.

“Acho que temos uma boa pro-babilidade de ganhar a ação principal porque o ato do Minis-tério, de expulsar os alunos, é nula. Se assim for e se os alunos já tiverem abandonado os es-tudos, poderão vir a pedir uma indemnização ao Estado”.

Jorge Braga, advogado

pelo recorrente ou então terão de aceitar ficar com a média mais baixa que já tinham obtido no re-gular”. Além disso terão de fazer os exames de ingresso no ensino superior e voltar a candidatar-se, podendo pedir equivalência das ca-deiras já feitas. “Tento não pensar muito no assunto”, afirma Pedro, que, apesar de tudo, não deixa de reconhecer que o ensino recorren-te, como estava montado, era “in-justo”. E embora a situação em que se encontra não seja a ideal, Pedro espera que se prolongue. “Pelo menos devia demorar até setembro ou até às eleições para ver se nos deixam terminar o curso”, remata, com um sorriso nervoso.

Marlene Carriço

Desde que recebeu a carta da DGES que Pedro e a sua família têm vivido num “sobressalto”. E Pedro não é caso único. Há mais estudantes a viver idêntico dilema. Só Jorge Braga representa 11. E nem todos estão em medicina. Há alunos de engenharias, pilotagem e outros cursos. Pedro, com boa mé-dia e apenas uma cadeira em atra-so do primeiro ano, que vai fazer agora no segundo semestre, já só pede tempo para “acabar este ano letivo”. Concluindo o terceiro ano obtém o grau de licenciado o que lhe “daria oportunidade de con-

Pedro já só pede para concluir este ano letivo

correr a outras faculdades de medi-cina como licenciado”, explica.Se a decisão judicial chegar antes do final do ano letivo e tiver de sair da universidade, “apenas me ga-rantem as cadeiras que fiz” e “terei de repetir exames de ingresso para voltar a aceder ao ensino superior”. “Fico com a nota interna do regu-lar (186 valores) e teria de ficar um ano em casa para me preparar para os exames”, detalha. Mas o advo-gado Jorge Braga lembra que mes-mo que Pedro tente concorrer a outra faculdade de medicina como licenciado, “vai sempre estar de-pendente do número de vagas para transferências, que costuma ser in-ferior a 10% do total das vagas da instituição”. Neste momento, Jorge Braga só quer que as providências sejam todas decretadas. quanto à ação principal? “Acho que temos uma boa probabilidade de ganhar a ação porque o ato do Ministério, de expulsar os alunos, é nula”. E se os alunos entretanto já tiverem sido expulsos e vier a ser-lhes dada razão mais à frente, na ação princi-pal? “Os alunos podem exigir uma indemnização ao Estado, corres-pondente ao valor do salário que iriam auferir até ao fim da sua vida profissional”, exemplificou. “Se eles perderem a ação principal per-dem uma habilitação literária pois terão de fazer os exames nacionais

rEUTErs

“Tento não pensar muito no assunto”

ESPECIAL // EDUCAÇÃO12

Page 13: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Page 14: Obs analuz 65427

18 Março 2015

FOTOGRAFIA 14

Page 15: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Ciganos do Alentejo numa exposição em Nova Iorque

O artista francês Pierre Gonord fotografou os últimos ciganos nómadas do Alentejo e os respetivos animais ao estilo de retratos pictóricos do barroco. A exposição está agora em Nova Iorque.

Já não é a primeira vez que Pierre Gonnord, fotógrafo francês com residência em Madrid, se dedicaa fotografar comunidades margina-lizadas de forma quase pictórica, a fazer lembrar retratos em tela do século XVII ou XVIII. Fê-lo em vilas isoladas de França e Espanha, na América do Sul, com membros da yakuza, no Japão, com jovens sem-abrigo, cegos, agricultores ou mineiros um pouco por toda a Europa. Para este trabalho, con-tudo, Gonnard veio até território nacional. Inserido numa residência no âmbito da Trienal no Alente-jo, com quem colabora em vários projetos, o artista explorou a fronteira raiana junto a Porta-legre e encontrou nos ciganos nómadas do Alentejo as persona-gens perfeitas para The Dream Goes Over Time (originalmente intitulado Au-Delà du Tage). Mais uma vez, Gonnard assina uma coleção de retratos íntimos com um estilo pictórico muito acentuado, não só dos membros da comunidade da região mas também dos respetivos animais. O fotógrafo deparou-se com a família, pela primeira vez, quando estes se deslocavam a bordo de uma carroça a caminho do seu acampamento. Viajou e conviveu com eles durante sema-nas até ganhar confiança e afeto suficientes para os poder fotografar, sendo que muitos deles nunca sequer tinham visto uma câmara até aí. Depois de já ter sido mostrado em 2013, em Évora, no âmbito da Trienal e em 2014 no Centro Andaluz de Fotografia, o trabalho chega agora a Nova Ior-que: está patente na galeria Hasted Kraeutler até 25 de abril.

Tiago Pais

Page 16: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Grécia, Alemanha e as reparações. Uma guerra complicadaA luta da Grécia pelas reparações de guerra vai muito além do atual Governo, mas a jurisprudência não parece estar do seu lado. Vai Atenas abrir mesmo uma nova frente de batalha com a Alemanha?

“A nossa obrigação histórica é re-clamar o empréstimo forçado e as reparações”. As palavras de Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, na segunda-feira, são apenas mais um episódio daquela que ameaça ser uma longa saga em torno do tema das reparações de guerra. Esta quarta-feira, o ministro da Justiça, Nikos Paraskevopoulos, disse no Parlamento grego que es-tava pronto a assinar a lei a exigir reparações de guerra à Alemanha e a mandar apreender ativos alemães na Grécia.

Do lado da Alemanha, um rotundo “não”. O Governo alemão acredita que a questão das reparações ficou resolvida nas conversações entre as potências mundiais que levaram à reunião da Alemanha em 1990. “Acreditamos firmemente que a questão das reparações foi resolvi-da política e legalmente”, respon-deu o porta-voz da chanceler ale-mã, Angela Merkel, na quarta-feira, em resposta ao ministro grego.Apesar de ter ganhado uma nova vida desde a eleição do Syriza para

o Governo grego a 25 de janeiro, a questão das reparações alegada-mente devidas pela Alemanha por danos causados pelos nazis duran-te a Segunda Guerra Mundial à Grécia (e não só) é um imbróglio de longa data e que ainda há pouco mais de dois anos estava em dis-cussão no Tribunal de Justiça In-ternacional. Mas vamos por partes.

Os casos em causaA 10 de junho de 1944, o corpo pa-ramilitar do partido nazi conheci-do como SS (Schutzstaffel) matou 218 mulheres, crianças e idosos na vila de Distomo, perto da cidade de Delfos. O caso foi levado aos tribunais alemães pelos gregos até ter sido rejeitado pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que considerou que os países estão “imunes” a processos movidos por “cidadãos”. Sem sucesso na Alemanha, os queixosos levaram a questão para a justiça grega que condenou a Alemanha a pagar 28 milhões de euros em reparações de guerra, que os alemães se recusa-ram a pagar. A justiça grega deci-

diu, então, tentar confiscar e vender propriedades do Governo alemão na Grécia, algo que foi bloqueado pelo Go-verno grego que não queria entrar em guerra aberta com Berlim. Eis que, em 2008, uma decisão da jus-tiça italiana deu novo alento aos queixosos. O caso em mãos: a 29 de junho de 1944, as tropas alemãs mataram 250 civis na cidade de Civitella, na Toscânia. Mais de 40 anos após o massacre, os familia-res das vítimas processaram a Ale-manha na justiça italiana, exigindo reparações. Depois de muitos anos a lutar, um dos queixosos, um cida-dão italiano chamado Luigi Ferrini, viu o Supremo Tribunal de Justiça de Itália dar-lhe razão.

Gregos exigem devolução de empréstimo que os nazis obrigaram o Banco Central da Grécia a dar à Alemanha

ESPECIAL 16

Page 17: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Page 18: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Heinrich Himmler, líder das SS que durante a Segunda Guerra Mundial foram responsáveis por grande parte dos crimes contra a Humanidade do lado nazi

A justiça italiana abriu a porta a pedidos de indemnização de toda a Europa e a Alemanha decidiu rapi-damente colocar a Itália em Tribu-nal. Em dezembro de 2008, a Ale-manha entrou com um pedido no Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, alegando que, ao permi-tir que civis exigissem reparações num processo cível contra um país, a Itália violou as suas obrigações perante a lei internacional, que dão imunidade à Alemanha. No centro da disputa, e que acabou por ser fulcral na decisão, está o Tratado de Paz entre a Itália e os aliados – no qual a Alemanha nem sequer foi uma parte –, no qual a Itália aceita uma cláusula que abdica de pedir reparações de guerra. A Alemanha argumentava que esta ainda era vá-lida, enquanto a Itália defendia que os acordos subsequentes (como o acordo de 1961 onde a Alemanha assume, voluntariamente, novas responsabilidades) criavam novas exigências. A Alemanha argumen-

Na quarta-feira, o Parlamento grego aprovou a criação de uma comissão especial formada para todos os partidos para calcular o valor que a Alemanha alegadamen-te deve à Grécia em reparações e em relação ao empréstimo forçado.No entanto, este trabalho não é pioneiro. Em 2013, o Ministério das Finanças da Grécia terá pedido um relatório a um grupo de espe-cialistas para avaliar quanto seria o o valor em causa. “quanto nos deve a Alemanha” será o título do relatório secreto, de acordo com a revista alemã Der Spiegel. Após meses de trabalho, o relatório de 80 páginas terá chegado à conclusão que a Grécia “nunca recebeu qual-quer compensação, seja pelos em-préstimos que foi forçada a dar à Alemanha ou pelos danos sofridos durante a guerra”. O valor calcula-do pelos peritos não foi conhecido, tal como o relatório que não foi tornado público, mas o jornal gre-go To Vima, que diz ter tido acesso ao relatório, afirma que este valor atinge os 162 mil milhões de euros

tava que esta ainda era válida, en-quanto a Itália defendia que os acordos subsequentes (como o acordo de 1961 onde a Alemanha assume novas responsabilidades) criavam novas exigências. A Ale-manha argumentou que não se tratavam de novas exigências, mas de exigências antigas. Finalmente, em 2012, os governantes alemães respiravam de alívio. Depois de quatro anos de de intensa disputa, o Tribunal Internacional de Justiça decidiu a favor da Alemanha. Se-gundo Haia, o caso italiano violava a imunidade da Alemanha de ser processada por tribunais nacionais, um princípio reconhecido pela lei internacional. Alguns especialis-tas argumentavam que negar este princípio iria abrir um precedente que levaria à inundação dos tribu-nais. Mas outros, como a Amnistia Internacional, consideravam que a decisão era um “grande passo atrás em matéria de direitos humanos” e que violava o princípio consagrado na Convenção de Haia, de acordo com o qual “as vítimas de crimes de guerra podem processar o Estado responsável para obter reparações”.

Alemanha ganhaem Tribunal

Grécia não desistiu

O Supremo considerou que os in-divíduos que viram os seus direitos humanos violados podiam, de fac-to, processar um país e exigir repa-rações de guerra. Ferrini foi preso pelos soldados alemães e enviado para um campo de concentração, onde foi obrigado a trabalhos for-çados na produção de armamento para o Exército alemão. Mas os tri-bunais italianos foram ainda mais longe e decidiram que as decisões dos tribunais gregos podiam ser aplicadas em solo italiano. Ou seja, os gregos que viram a Alemanha condenada a pagar-lhes reparações de guerra, podiam exigir a apreen-são e venda de ativos alemães em Itália para fazer este pagamento. Para isso, foi ordenada a apreensão e venda de uma propriedade alemã perto do lago Como, que servia de centro cultural italo-germânico.Os gregos exigem, ainda, a devo-lução de um empréstimo que os nazis obrigaram (prática comum) o Banco Central da Grécia a dar à Alemanha, de 476 milhões de mar-cos. Sem contar com juros, este valor podia ultrapassar os 13 mil milhões de euros atualmente.

Page 19: Obs analuz 65427

18 Março 2015

NãO DEVEMOS DINHEIRO AOS ALEMãES, ELES é qUE NOS DEVEM

Manolis Glezos do Syriza, ficou conhecido por em Maio de 1941 ter subido à Acrópole e retirado a bandeira nazi colocada pelos ocupantes.

A Alemanha deve reparações à Grécia?

Esta questão, a avançar o processo pela Gré-cia contra a Alemanha, terá muitas nuances com base nas interpretações diferentes de alguns tratados. Mas não só. A Alemanha pagou, em 1960, cerca de 115 milhões de marcos alemães (cerca de 59 milhões de eu-ros a valores da altura) de compensação às vítimas gregas dos crimes nazis. As vítimas dos campos de trabalhos forçados recebe-ram compensações individuais. Alexis Tsi-pras alega que estas reparações não cobrem a destruição causada durante a ocupação nazi da Grécia, entre 1941 e 1944. Outra questão é a do valor das indemnizações que foi acordado. A certa altura, nas negociações de paz da conferência de Paris, a Grécia terá exigido 7,1 mil milhões de dólares de repa-rações de guerra à Alemanha. No entanto, este valor foi rejeitado e reduzido na altu-ra para 45 milhões de dólares, que já terão sido pagos entre 1950 e 1990. Os emprés-timos entram noutro pântano legal. Se for considerado uma espécie de dano de guerra, poderia ser objeto de reparação. Mas, de acordo com o tratado de 1990, a Alemanha não teria de pagar. Se for considerado ape-nas um empréstimo sem juros, o valor será muito reduzido. Sem juros, o empréstimo valeria cerca de 14 mil milhões de dólares a preços atuais. Com juros de 3% durante 66 anos, o valor em dívida subiria para 95 mil milhões de dólares. Mas mesmo o valor total é discutível. Segundo Albrecht Ritschl, um historiador de economia da London School

of Economics, em vez de mais de 160 mil milhões, o valor das reparações não ultra-passaria os 13 mil milhões de euros.

No final do dia, mesmo que o valor seja reduzido, a Alemanha garante que pagou o que tinha a pagar e que não vai ceder nesta questão. Legalmente, um pagamento à Gré-cia podia criar o precedente legal necessário para que outros países, alguns de maior di-mensão (como a França), exijam reparações à Alemanha. Outra das questões apontadas pela Grécia é o incumprimento da Alemanha de parte das dívidas da primeira guerra. Em 1953, no âmbito dos acordos de Londres, a Alemanha beneficiou de uma reestruturação de grande dimensão, com um perdão parcial e uma boa parte dos prazos de pagamento da dívida pública alemã a serem também es-tendidos para prazos mais longos o muito longo prazo. Com esse acordo, a Alemanha acabou por demorar 92 anos a pagar por completo essa dívida, desde o final da pri-meira guerra, até ao pagamento da última tranche em 2010. A Grécia pode seguir nos próximos meses para os tribunais interna-cionais, mas as decisões mais recentes não inspiram grande confiança para os lados das pretensões gregas.

Nuno André Martins

Uma questão política

a soma exigida, agora, por Alexis Tsipras, que corresponde a cerca de metade da dívida púbica grega. Segundo a revista alemã Der Spie-gel, este relatório foi entregue pelo Ministério das Finanças ao minis-tro dos Negócios Estrangeiros grego e ao primeiro-ministro. A decisão teria de ser tomada ao mais alto nível, mas o relatório ficou na gaveta numa altura muito sensível do resgate. A Grécia tinha acabado a segunda fase da sua reestrutura-ção de dívida e tinha a promessa, feita em novembro de 2012, do Eurogrupo de que iria discutir a sustentabilidade da sua dívida as-sim que conseguisse um saldo pri-mário nas finanças públicas. Agora, o ministro da Justiça, ameaça fazer cumprir a decisão de 2000 da jus-tiça grega, relativa ao massacre de Distomo, e de apreender ativos alemães. Só o Governo pode tomar essa decisão, algo que o Executivo grego em 2000 não quis fazer.

GLoBaL iMaGENs

GLoBaL iMaGENs

Page 20: Obs analuz 65427

18 Março 2015

MUNDO // POLUIÇÃO20

aFp/GETTy iMaGEs

Page 21: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Torre Eiffelengolida pela poluição atmosférica

Paris perdeu a Torre Eiffel entre as partículas da polui-ção, que formaram uma nuvem baça sobre a capital francesa durante esta quarta-feira. A notícia é publi-cada pelo ABC. A Airparif, a companhia responsável por controlar a qualidade do ar parisiense, afirmou que os níveis de contaminação são consistentes e que “se não tivermos ultrapassado os níveis máximos, não estaremos muito longe”. A poluição que está a sufocar Paris é criada pelos gases libertados pelos automóveis e pelas indústrias, que têm lançado para o ar as partí-culas mais nocivas para a saúde humana. Chamam-se PM10 e são capazes de penetrar nos pulmões e no sis-tema circulatório. A fraca visibilidade criada pelo smog que se abateu na cidade europeia obrigou as autorida-des a diminuir os limites de velocidade nas estradas. A polícia pode ainda proibir a entrada de carros na capital, obrigando a população a viajar em transportes públicos. Esta foi uma medida adotada o ano passado, depois de uma crise ambiental de grandes dimensões.

Observador

A capital pariense está debaixo de uma nuvem de poluição que obrigou as autoridades a diminuir os limites de velocidade em 20 quilómetros.

Page 22: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Galp: Petrobras sairá do escândalo “mais forte, competitiva e capacitada”

A Petrobras vai sair do escândalo de corrupção em que está envolvi-da “mais forte, mais competitiva e mais capacitada”, afirmou Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Energia, à margem de uma intervenção em Lisboa. Consi-derando que o problema que se vive na petrolífera estatal brasilei-ra “foi ali implantado” e “quanto mais depressa se resolver melhor”, Ferreira de Oliveira afirmou que a empresa “vai sair deste processo mais forte, mais competitiva e mais capacitada”. O presidente da Galp Energia falou à agência Lusa antes do início da palestra “Oportunida-des de negócios decorrentes das descobertas de O&G [sigla inglesa para petróleo e gás] na CPLP”, or-ganizada no auditório da Auditório da SRS Advogados pelo Fórum de Administradores de Empresas no âmbito da iniciativa “Encontros de Gestores”. Defendendo que a Petrobras “é, indiscutivelmente, a empresa petrolífera do mundo com mais saber e mais experiência na exploração e produção de pe-tróleo e gás no ‘ultra deep offshore’ [exploração em águas muito pro-fundas] “, o responsável da Galp sublinhou que “o conhecimento está lá, os profissionais estão lá, e são do melhor do melhor que há no mundo”. Apesar de considerar que o escândalo de corrupção em torno da Petrobras é “um processo

Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Energia, declarou que a Petrobras será “mais forte, competitiva e capacitada” após o escândalo.

difícil para todos os que estão a vivê-lo no dia-a-dia” e perante o qual a empresa brasileira “tem pela frente um trabalho gigantesco”, Ferreira de Oliveira disse acreditar que “o resultado vai ser positivo”.

“Esta situação entristece-nos a todos, entristece e muito a esma-gadora maioria dos colaboradores da Petrobras, porque, às vezes, ao falar dos problemas que estão hoje nas páginas dos jornais, esquece-mos que 99,99% dos trabalhadores da empresa são pessoas tão dignas, competentes e profissionais como todos nós”, sublinhou à Lusa, de-sejando que, “passada esta onda de preocupação, se regresse à norma-lidade necessária para a Petrobras poder cumprir o seu dever”. No início de fevereiro, o presidente da Galp Energia havia declarado não estar a sentir “implicações mate-riais” nos projetos em que estava envolvido com a Petrobras”. A situação na petrolífera brasileira le-vou a presidente brasileira, Dilma Rousseff, a anunciar um conjun-to de medidas, que submeterá ao Congresso, para reforçar o comba-te à corrupção.

Entre as medidas propostas consta uma que regulamenta uma lei con-tra a corrupção já aprovada sobre as práticas ilícitas no setor priva-do, endurecendo as penas para os empregadores que se envolvam em crimes contra o erário público. Essa medida pode afetar direta-mente 18 empresas privadas con-tra as quais a procuradoria-geral instaurou dois processos adminis-trativos por alegado envolvimento na rede de corrupção na Petrobras. No âmbito deste escândalo, estão também sob investigação 50 po-líticos, na sua maioria da base de apoio a Dilma Rousseff, e entre os quais o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari, por supostas manobras para con-seguir dinheiro da Petrobras para as campanhas do partido no poder.

Agência Lusa

“estão também sob investigação 50 políticos, na sua maioria da base de apoio a Dilma Rousseff”

MUNDO // CASO PETROBRAS22

Page 23: Obs analuz 65427

18 Março 2015

A Operação Lava Jato da Polícia Federal brasileira, que investiga irregularidades na empresa petrolífera Petrobras, agora apura também supostos desvios no segundo maior banco público do país, a Caixa Económica Federal, e no Ministério da Saúde. A 11ª fase da operação, lançada hoje pela polícia, tem o objetivo de investigar os contratos de publicidade do banco e do ministério, dos quais eram desviados 10% dos valores para empresas de fachada, afirmaram os agentes em conferência de imprensa. Seis pessoas ligadas à política brasileira foram presas hoje por suspeita de envolvimento, entre elas os ex-deputados federais André Vargas e Luiz Argôlo. Outro ex-deputado, Pedro Corrêa, também teve uma ordem de prisão emitida, mas ele já está detido pela condenação no Mensalão, um esquema de compra de vo-tos de parlamentares. Essa fase da operação, denominada “A Origem”, toca no chamado núcleo político das irregularidades e, se-gundo o Ministério Público Federal, outras instituições serão investigadas. A ação foi feita em Brasília, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Baía. Há a suspeita de que o dinheiro usado para pagar subornos tenha origem irregular e que os en-volvidos tenham também branqueado capi-tais. Mencionada pela Folha de São Paulo, a Caixa Económica Federal informou que irá averiguar os fatos e colaborar com as inves-tigações. A operação Lava Jato iniciou-se em março de 2014 e investiga os crimes de bran-queamento de capitais, desvio de dinheiro e má administração pública na Petrobras, e envolveu políticos, executivos e servidores.

Agência Lusa

Operação contra irregularidades na

Petrobras apura desvios em banco

público e ministério

Em causa supostos desvios no segundo maior banco público do país, a Caixa Económica Federal,

e no Ministério da Saúde.

aNToNio LaCErDa/Epa

Page 24: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Portugal goleia Geórgia na estreia na qualificação para o Euro 2016 de futsal

A seleção portuguesa de futsal goleou a Geórgia por 7-0, no primeiro jogo do Grupo 7 de qualificação para o Campeonato da Europa de 2016, a disputar na Sérvia.

A seleção portuguesa de futsal goleou hoje a Geórgia por 7-0, na cidade romena de Calarasi, no primeiro jogo do Grupo 7 de qualificação para o Campeonato da Europa de 2016, a disputar na Sérvia. Cardinal, aos 10, Bruno Coelho, aos 16, Ricardinho, aos 18 e 20, Djo, aos 20, Pedro Cary, aos 35, e Paulinho, aos 40, marca-ram os golos da equipa das ‘quinas’ no jogo inaugural do agrupamento, que vai contar ainda hoje com o em-bate entre a anfitriã Roménia e o Cazaquistão. Portu-gal, quarto classificado no Euro2014, volta a jogar na quinta-feira, a partir das 13:45 (hora de Lisboa), frente à seleção cazaque.

Agência Lusa

MUNDO // DESPORTO 24

Page 25: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Mónaco, treinado pelo português Leonardo Jardim, qualificou-se ape-sar de ter perdido em casa com o Arsenal, por 2-0.

O Mónaco, treinado pelo português Leonardo Jardim, qualificou-se na ter-ça-feira para os quartos de final da Liga dos Campeões de futebol, apesar de ter perdido em casa com o Arsenal, por 2-0.Na segunda mão dos oitavos de final, o francês Olivier Giroud (36 minutos) e o galês Aaron Ramsey (79) deram o triunfo ao Arsenal, insuficiente contudo para o conjunto inglês dar a volta ao 3-1 na pri-meira mão, permitindo aos monegascos, que tiveram João Moutinho e Bernardo Silva em campo, chegar pela primeira vez aos ‘quartos’ desde 2003/04. No outro encontro da noite, o Atlético de Madrid, finalista em lista em 2013/14, e o Bayer Leverkusen vão disputar o prolonga-mento, depois de Mario Suarez ter em-patado a eliminatória.

Agência Lusa

Mário CrUz

O jogador de rugby mais rápido do mundo tem 15 anosGosta de rubgy? Memorize o nome deste britâ-nico de 15 anos: Tyrese Johnson-Fisher. Com apenas 15 anos, está a ser apontado com uma das grandes esperanças do rubgy britânico. O jovem tomou de assalto as redes sociais esta semana com a prestação num jogo das camadas jovens em que marcou quatro ensaios e fez os adversários sen-tirem-se completamente incapazes de o travar. Tyrese é aluno da Oakham School e foi decisivo para que esta escola tenha conquistado o primeiro lugar do campeonato NatWest Schools Cup pela primeira vez em 10 anos. Segundo o Daily Mail, a

velocidade do jovem Tyrese tornou-o, também, um campeão de atletismo, tendo percorrido, há cerca de um ano, 100 metros em 10,91 segundos. A imprensa britânica já lhe “reservou” um lugar na seleção britânica de râguebi, acreditando que o jovem será a próxima estrela do rugby mundial. E um pesadelo para os adversários que lhe aparece-rem pela frente.

Edgar Caetano

Com apenas 15 anos, está a ser apontado como um talento único para a modalidade.

TALENTO

Mónaco, de Leonardo Jardim, apura-se para os quartos de final da Liga dos Campeões

yoaN

VaL

aT/E

pa

Page 26: Obs analuz 65427

18 Março 2015

EXPLICADOR26

Page 27: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Desde que a crise económica e financeira atingiu a Europa que os níveis de investimento caíram, e em alguns Estados-membros desceram mesmo de forma drástica. Assim, no segundo semestre do ano passado o investimento na UE foi 15% inferior ao de 2007, antes do início da crise. Ou seja, comparativamen-te ao pico registado naquele ano, os investimentos diminuíram 430 mil milhões de euros, segundo a Comissão Europeia (CE) e o Banco Europeu de In-vestimento (BEI). Portugal (-36%) está no grupo de países onde a queda de investimento foi mais acen-tuada nos últimos anos juntamente com Itália (-25%), Espanha (38%), Irlanda (-39%), Grécia (-64%). A cri-se produziu uma queda de investimento que, conse-quentemente, está a atrasar a recuperação económica na União Europeia, retoma essa que é ainda mais débil na zona euro. Por exemplo, para acompanhar o ritmo de investimento nos Estados Unidos, a UE deveria ter investido mais 540 mil milhões de euros,

de acordo com as estimativas do executivo comunitá-rio e do BEI. A principal razão avançada para explicar a debilidade persistente dos níveis de investimento está no baixo nível de confiança dos investidores que, fatalmente, resulta na incapacidade de assunção de riscos. Trata-se portanto de quebrar o ciclo vicioso de falta de confiança e subinvestimento. Para voltar a colocar a UE na senda do crescimento e da criação de emprego, o atual executivo comunitário propôs no início do mandato, em novembro, um Plano de Investimento de 315 mil milhões de euros, também conhecido por “Plano Juncker”. “A minha primeira prioridade como presidente da Comissão será refor-çar a competitividade da Europa e estimular o in-vestimento para a criação de emprego”, afirmou o presidente Jean-Claude Juncker ao apresentar as suas orientações políticas no Parlamento Europeu, em ju-lho do ano passado.

“Plano Juncker” 315 mil milhões em 3 anos.

quais os objetivos?

O Plano de Investimento assenta em três eixos: mo-bilizar financiamento, melhorar o ambiente para o investimento e fazer com que esse dinheiro chegue à economia real com o objetivo principal de estimular o crescimento económico e a criação de emprego na UE. Trata-se de mobilizar energias, inverter a que-da de investimento, corresponder às necessidades da economia europeia, de promover a competitividade em setores estratégicos da UE, de reforçar o capital

humano, a capacidade produtiva, as infraestruturas e as interconexões (energéticas) vitais para o mercado único comunitário. Segundo as previsões do execu-tivo comunitário, o Plano de Investimento tem po-tencial para acrescentar entre 330 mil milhões a 410 mil milhões de euros ao PIB da União Europeia, e criar de 1 a 1,3 milhões de novos postos de trabalho até 2017.

Um Plano de Investimento para a UE. Porquê?

Para quê?

rEUTErs

Page 28: Obs analuz 65427

18 Março 2015

O “Plano Juncker” pretende mobi-lizar pelo menos 315 mil milhões de euros durante os próximos 3 anos. Uma mobilização de fontes de financiamento público e priva-do, em que cada euro será utilizado para gerar investimento privado suplementar e, ponto importante, sem aumentar a dívida. O objetivo é colocar a circular o dinheiro que está parado nas contas bancárias das empresas e cidadãos e canalizá-lo para investimentos produtivos. A base de todo o Plano é o novo Fundo Europeu para Investimen-tos Estratégicos (FEIE), criado em conjunto com o Banco Europeu de Investimento, com o objetivo de apoiar investimentos de longo prazo e facilitar o acesso das PME e empresas de média capitalização ao financiamento de risco. O FEIE funcionará como uma garantia que tem por base 16 mil milhões de eu-ros do orçamento da UE, aos quais se juntam 5 mil milhões de euros do BEI. No total, 21 mil milhões que servem como amortecedor de riscos, de garantia que absorverá o risco mais elevado em investi-mentos estratégicos. A Comissão e o BEI acreditam que o Fundo terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o total de 315 mil milhões). Ou seja, cada euro mobi-lizado através do Fundo vai trazer 15 euros de investimento total. As duas instituições consideram que este investimento também será potenciado pelo efeito de alavanca dos fundos estruturais. Os vinte e oito Estados-membros foram con-vidados a contribuir para o Fundo, diretamente ou através dos bancos de fomentos nacionais, bem como os investidores privados. O FEIE deverá ser aprovado pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu para estar operacional em junho.

De onde vem o dinheiro?

O Fundo Europeu de Investimentos Estra-tégicos (FEIE) deverá ter gestão e sede no Banco Europeu de Investimento. É cofinan-ciado pelo BEI (5 mil milhões de euros) e pelo orçamento da UE (16 mil milhões). O FEIE é um amortecedor de riscos, como uma garantia, serve de proteção parcial con-tra riscos, de proteção contra riscos iniciais. O objetivo é conseguir atrair projetos de ris-co mais elevado mas de alto valor estratégico para a União Europeia, e que de outra forma não encontrariam financiamento. Com esta assunção de riscos em relação a projetos decisivos e complexos, a UE vai mais longe do que os atuais programas comunitários e do BEI. Esta “rede” contra riscos permitirá ao BEI oferecer produtos que cobrem mais riscos do que os seus produtos habituais. As-sim, deverá ser possível investir em projetos

de elevado valor acrescentado mas que por comportarem mais riscos não conseguem financiamento. O executivo comunitário es-tima que o Fundo (21 mil milhões) terá um efeito multiplicador até 15 vezes (daí o valor de 315 mil milhões). O efeito multiplicador é o quociente entre o volume financeiro total dos projetos gerados em resultado da inter-venção do Fundo e o capital público inicial mobilizado para lançar o Fundo. A lógica subjacente ao efeito multiplicador do FEIE é que uma pequena proporção de capital pú-blico utilizada como capacidade de assunção de riscos permitirá atingir uma quota muito maior de capital privado para investir nos projetos. O FEIE vai financiar projetos es-tratégicos e de longo prazo em toda a UE e uma parte servirá para apoiar as PME e em-presas de média capitalização.

Que projetos serão escolhidos?

“Estes investimentos suplementares devem centrar-se nas infraestruturas, nomeadamen-te nas redes de banda larga e redes de energia, bem como nas infraestruturas de transporte em centros industriais; na educação, investi-gação e inovação; nas energias renováveis e na eficiência energética. É conveniente afetar recursos significativos a projetos suscetíveis de ajudar os jovens a voltarem a encontrar empregos”, anunciou Jean-Claude Juncker no Parlamento Europeu, em julho. Assim, a Comissão Europeia propôs que o novo Fun-do apoie os investimentos nas infraestrutu-ras estratégicas (investimentos no digital e em energia, em consonância com as políticas da União), nas infraestruturas de transportes em centros industriais, educação, investiga-ção e inovação, os investimentos criadores de emprego, designadamente através do fi-nanciamento de PME e de medidas a favor do emprego dos jovens e nos projetos sus-tentáveis e “amigos” do ambiente. Para ser selecionado cada projeto deve obedecer a

vários critérios: ter valor acrescentado euro-peu (e apoiar os objetivos da UE), ser viável e representar valor económico, e ter início, o mais tardar, nos próximos três anos, ou seja, que represente uma expectativa razoá-vel de investimento no período de 2015-17. Vai ser constituída uma reserva de projetos europeia. Esta lista dinâmica e atualizada facultará informações aos investidores so-bre os projetos disponíveis existentes e os futuros. Os investidores podem assim tomar decisões com base em informação fiável e transparente. Uma task force conjunta entre a Comissão e os BEI já identificou cerca de 2000 projetos potenciais apresentados pelos Estados-membros, num montante de 1,3 biliões de euros. Em Portugal, por exemplo, o aumento das interconexões elétricas com Espanha (e França) é um dos projetos que encaixa nos critérios de seleção. O facto de um projeto ser inscrito na reserva não signi-fica necessariamente que vai ser financiado pelo Fundo.

““

é conveniente afetar recursos significativos a projetos suscetíveis de ajudar os jovens a voltarem a encontrar empregos

Como funciona?

EXPLICADOR28

oJE/LUsa

Page 29: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Quem seleccionaos projetos?O FEIE será “governado” por dois órgãos. O Conselho de Dire-ção (CD) determina a orientação geral e em matéria de investimento, o perfil de risco, as políticas estra-tégicas e a repartição dos ativos do Fundo, em conformidade com as orientações políticas da CE. O Comité de Investimento é respon-sável perante o CD, examinará os projetos específicos e selecionará aqueles que vão beneficiar de apoio (não haverá quotas geográficas ou setoriais). Este órgão é composto por um grupo de peritos indepen-dentes e um diretor executivo que assumirá a gestão corrente do Fun-do. Por outro lado, será aberto uma espécie de balcão único à escala da UE, uma plataforma europeia de aconselhamento ao investimento para assessorar, identificar e elabo-rar projetos, e facultar assistência técnica para os tornar mais atrati-vos para os investidores.

Os vinte e oito Estados-membros da EU foram convidados a con-tribuir para o Fundo, diretamente ou através dos bancos de fomento nacionais ou de organismos pú-blicos que sejam propriedade dos Estados-membros ou por eles con-trolados. Até agora só a Alemanha (8 mil milhões de euros), Espanha (1,5 mil milhões), França (8 mil milhões) e Itália (8 mil milhões) anunciaram contribuições para o Fundo. Estas contribuições nacio-nais não são tidas em conta para o cálculo do défice. Numa comuni-cação relativa ao recurso à flexibili-dade prevista pelas regras atuais do Pacto de Estabilidade e de Cresci-mento, o executivo comunitário traçou em Janeiro as suas orienta-ções sobre esta matéria. Por forma a estimular os Estados-membros a abrirem os cordões à bolsa, as con-tribuições nacionais para o FEIE não são tidas em consideração no quadro da avaliação do ajustamen-to orçamental.

Vasco Gandra

Quais os países quejá contribuíram?

Os vinte e oito Estados-membros da UE apresentaram cerca de 2000 potenciais proje-tos, num total de 1,3 biliões de euros. Destes, mais de 500 mil milhões de euros em proje-tos que podem ser realizados nos próximos 3 anos, segundo dados da Comissão e o BEI.Mas o facto de os projetos se encontrarem nesta lista preliminar não significa que vão ser financiados pelo “Plano Juncker“. Ape-nas uma parte será escolhida. A constituição daquela lista é um primeiro passo. O objetivo é criar uma reserva de projetos transparen-te e viável que restabeleça a confiança dos investidores e permita desbloquear o finan-ciamento do setor privado. Portugal apre-sentou até agora 113 projetos que atingem um valor global de 31,8 mil milhões de euros, dos quais 16,1 mil milhões euros no perío-do 2015-2017. As áreas dos transportes e da energia são as que mais projetos incluem. De acordo com fontes do executivo português, a atual distribuição dos projetos nacionais can-didatos ao Plano de Investimento é a seguin-te: transportes 31%, energia 30%, infraestru-tura social 24%, recursos e ambiente 9%, e

conhecimento, inovação e economia digital 6%. Alguns dos projetos mais emblemáticos na área dos transportes e da energia apos-tam no reforço das ligações entre Portugal e Espanha. Assim, por exemplo, a construção de uma ligação ferroviária para transporte de mercadorias entre os portos de Lisboa e Sines e Madrid, o reforço da linha ferroviá-ria entre Portugal e Vigo, ou novas ligações rodoviárias entre os dois países. Na área da energia, vários projetos inserem-se no espíri-to da futura União Energética que pretende atingir 10% nas interconexões entre os Es-tados-membros. Estas interligações deverão permitir a Portugal e Espanha exportar ener-gia elétrica para o resto do espaço comuni-tário. A escolha dos projetos enviados pelos Estados-membros não obedece a quotas geográficas nem setoriais. Certo é que nem todos os projetos que Portugal e restantes países apresentaram serão escolhidos. As propostas nacionais devem passar pelo cri-vo de um comité de peritos independentes e obedecer a uma série de critérios.

Há o risco de os contribuintes europeus perderem dinheiro?

Segundo a Comissão e o BEI, a garantia do orçamento da UE permite ao BEI oferecer produ-tos com maior valor acrescentado, mas também intrinsecamente com maior risco. Mas os riscos deve-rão ser atenuados por uma gestão que beneficia da experiência e das competências do BEI. Por outro lado, o comité de investimento que junta peritos independentes vai su-pervisionar as atividades do FEIE. Haverá uma remuneração ade-quada do risco, que será mantida no Fundo para compensar perdas e é criada um Fundo de Garantia da UE que assegurará uma reser-va de liquidez para o orçamento da União em relação a eventuais perdas incorridas pelo FEIE no quadro do apoio prestado aos pro-jetos. É também garantida uma monitorização profissional do ris-co e a possibilidade de reajustar as orientações relativas aos riscos na eventualidade de uma evolução ad-versa no início da carteira.

E Portugal?Vai beneficiar do Plano de Investimento da UE?

VassisLaVoVa

GLoBaL iMaGENs

Page 30: Obs analuz 65427

18 Março 2015

CULTURA // ESTREIA DA SEMANA30

‘Leviatã’: a longa tragédia da sociedade russado realizador Andrei Zyvagintsev

Page 31: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã” é uma história feia e bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo

Os media, com a televisão à cabe-ça, têm o mau hábito de reduzir uma obra de arte a um estereó-tipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para consumo colectivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a comple-xidade. A mais recente vítima des-ta tendência é “Leviatã”, a quarta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, que chega hoje a Portugal rotulado como “o filme anti-Putin”.Nada mais confrangedor e redu-cionista do que limitar a um libe-lo contra o actual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos culturais, políticos e sociais da Rús-sia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promis-cuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocracia e a força dos tiranetes locais, a impotência do ci-dadão comum perante a arbitrarie-dade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagint-sev ilustra através de história sobre a eterna impotência do cidadão russo perante a arbitrariedade es-tatal, perante o peso e a força de um monstro. Um leviatã que já se chamou czarismo e depois co-munismo, e que se mantém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns. Putin é apenas mais um, aquele que controla o monstro nesta al-tura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua família e amigos vão fazer um piquenique de aniversário na natu-reza, que consiste essencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lideraram o país quan-do ainda se chamava União Sovié-tica, e a seguir no pós-comunismo. O leviatã do sistema sobrevive aos seus líderes, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e impotência que os amarfanha.

Este filme de Andrei Zyvagint-sev é, no entanto, mais explicita-mente “contra” o regime do que a sua obra de estreia, o magnífico e enigmaticamente alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta vencendo o Festival de Veneza em 2003. Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na descrição das desigual-dades e injustiças da actual socieda-de russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíbli-ca de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recompensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavelmente martirizado).

Ironicamente, o realizador foi inspirar-se num facto real ocorri-do em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Municipal da ci-dade onde vivia na sequência de um contencioso sobre terrenos, um homem meteu-se num tanque, destruiu vários edifícios públicos e depois suicidou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Ar-gumento no Festival de Cannes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve candidato ao Óscar na mesma categoria.Kolia (estupendo Aleksei Sere-bryakov), um mecânico, vive e trabalha numa casa com vista para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presidente da câmara local cobiça o terreno e procura expro-priar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indemnização ridí-cula, para, suspeita este, construir

uma mansão luxuosa para si ou especular no mercado imobiliário com os seus capangas do meio da construção civil. Kolia recor-re a um velho amigo e camarada da tropa, Dimitri, advogado em Moscovo. Este recorre aos seus conhecimentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mu-lher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desesperados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da burocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos pode-rosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento.

Mais do que um filme pessimista, “Leviatã” é um filme fatalista. E é um fatalismo pesado, ancestral, enraizado, profundamente russo, sem solução nem redenção, muito embora o realizador tenha dito que queria que “Leviatã” fosse também entendido como “uma parábola universal” sobre a batalha do in-divíduo contra a omnipotência do Estado. Só que na Rússia essa bata-lha continua, século atrás de século, regime após regime, a ser trágica e repetidamente inglória.

Eurico Barros

EUriCo Barros

EUriCo Barros

Page 32: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Page 33: Obs analuz 65427

18 Março 2015

Imagens raras de Marilyn Monroe vão a leilão

Cópias de fotografias de “A Última Sessão” e de outras tiradas por um amigo da atriz vão ser leiloadas no próximo dia 10 de março. Uma oportunidade para quem é fã da loira mais famosa de Hollywood.

Bert Stern, que faleceu em 2013, não foi o primeiro homem a fo-tografar Marilyn Monroe, mas foi um dos últimos. Foi em junho de 1962 que o fotógrafo e a atriz norte-americanos se encontraram e se fecharam num quarto de ho-tel, em Los Angeles, durante três dias. O objetivo? Registar aquelas que seriam as últimas fotografias profissionais da estrela que nasceu Norma Jeane Baker — as imagens ficaram conhecidas, muito a pro-pósito, como “A Última Sessão”. Pouco tempo depois, Marilyn apa-recia morta. Recordada a lição de história/cultura, a notícia: um con-

junto de impressões, incluindo das referidas fotografias, vai ser leiloa-do no próximo dia 10 de março no Estado norte-americano do Texas, na Heritage Auctions Texas. Es-pera-se angariar, no total, cerca de 70 mil euros. Nas imagens de “A Última Sessão” – que fizeram uma pequena excursão a Portugal em 2011, numa exposição temporária a ocupar a Fundação D. Luís I, em Cascais — é possível encontrar uma Marilyn sedutora, à semelhan-ça do que sempre foi, mas também real. Rugas de expressão que a ida-de fez por vincar, poros da pele em evidência e até a cicatriz de uma

operação à vesícula fazem parte de um registo artístico invulgar permi-tido pela estrela de Hollywood. Há fotografias marcadas a caneta ver-melha, marcas dos negativos que a própria atriz rejeitou com um xis, na altura. Mas há também cópias de fotografias raras tiradas um mês depois de Stern, escreve o jornal britânico Telegraph. O fotografo de serviço foi, desta vez, o amigo próximo da atriz, George Barris, homem que Marilyn conheceu quando estava a trabalhar no filme de 1955, O Pecado Mora ao Lado. Neste caso, a loira posa sobre a areia de uma praia californiana e

mostra um lado mais brincalhão — entre outras fotografias a preto e branco registadas no interior de uma casa. As fotos de Barris desti-navam-se a um livro sobre a estrela de 36 anos que ficou em suspenso depois da sua trágica morte.

Ana Cristina Marques

LIFESTYLE // FOTOGRAFIA33

iMaGENs rETiraDas Do siTE HEriTaGE aUCTioNs TExas D.r

Page 34: Obs analuz 65427

18 Março 2015

1

Risotto de bacalhauNo Masterchef Austrália chamam ao risotto “o prato da morte”, mas Teresa Rebelo, do blogue Lume Brando, ajuda-o a sair vivo do desafio.

quando tinha aí uns três ou quatro anos, o meu filho mais velho cha-mava arroz maroto ao arroz malan-dro. Sempre que penso em risotto, lembro-me desta associação patus-ca, não só pela rima mas também porque o risotto pode revelar-se bem maroto na hora de o cozinhar. Não é à toa que no Masterchef Austrália o risotto é considerado o “prato da morte”: fazer e apre-sentar um risotto irreprovável, cre-moso, nem demasiado ensopado nem demasiado seco ou demasiado cozinhado, é um dos desafios que mais faz tremer os concorrentes.

Felizmente, a nossa cozinha não é o estúdio do Masterchef. Nela po-demos cozinhar sem cronómetro. Podemos ter amigos ao pé e um copo de vinho na mão. O risotto é o prato ideal para conviver en-quanto se cozinha: os braços vão-se revezando e temos a certeza de que estamos todos quando ficar no ponto. E se por algum motivo não sair perfeito, não há críticas do Matt Preston, nem desafio de eli-minação. Há é uma nova desculpa para nos juntarmos outra vez.

2

Para quatro pessoas

2 lombos de bacalhau8 fatias de bacon320 g de arroz para risotto1 cenoura2 cebolas5 dentes de alho1 folha de louro1 talo de alho francês1 ramo de salsa1 copo de vinho branco120 g de queijo da Ilha raladoAzeite qbSal qbPimenta preta qb

LIFESTYLE // RECEITA34

Page 35: Obs analuz 65427

18 Março 2015

1 Quase no final da cozedura, junte as lascas de bacalhau, a salsa pica-da e metade do queijo ralado.

Retifique o sal se necessário, e tempere com pimenta preta acaba-da de moer. Envolva bem e retire do lume. Sirva com mais queijo da Ilha ralado e o bacon tostado par-tido em pedacinhos.

Teresa Rebelo Autora do blogue Lume Brando

2

3 45

Num grelhador ou frigideira anti-a-derente, cozinhe 4 fatias de bacon até estarem bem tostadas e crocan-tes. Retire-as e reserve-as sobre pa-pel de cozinha.

Leve ao lume uma panela com água onde colocou os lombos de bacalhau, a cenoura descascada e partida às rodelas, o alho francês lavado e partido em pedaços, dois dentes de alho esmagados, uma ce-bola descascada partida ao meio, a folha de louro, metade do ramo de salsa e um fio de azeite. Deixe fer-ver e cozinhar até o bacalhau co-meçar a lascar, o que deve ser mui-to rápido, uns 5 minutos desde que começa a ferver. Retire o bacalhau para um prato e deixe arrefecer até conseguir lascá-lo. Reserve.

Coe a água onde cozeu o bacalhau, que deve perfazer cerca de 1,3 li-tros. Prove este caldo, retifique de sal se for necessário e mantenha-o quente. Entretanto leve a refogar num fundo de azeite a outra cebola e três dentes de alho, tudo picado, e ainda as restantes fatias de bacon partidas em pequenos pedaços. Deixe alourar e junte o arroz para risotto. Deixe fritar um pouco, me-xendo sempre. Adicione o vinho branco e mexa até evaporar. A partir daqui vá juntando aos pou-cos o caldo onde cozeu o bacalhau, mexendo sempre e juntando mais caldo sempre que já tiver evapora-do. Deve demorar cerca de 25 mi-nutos, em lume médio, até o grão do arroz ficar cozinhado al dente e pode ser que não precise de usar todo o caldo.

TErEsa rEBELo

Page 36: Obs analuz 65427

18 Março 2015

roBErT DEViaN

Quem é que diz que o fado não pode ser dançado? É claro que pode ser dançado…

www.observador.ptDescubra...artista damúsica portuguesa

Nasceu a 16 de dez. em 73em Maputo

2001 ano em que editou o seu primeiro álbum primeiro em Portugal e depois em 32 países

Prémio Fundação Amália Rodrigues Internacional

Em menos de doze anos, passou de um fenómeno local quase escondido, para uma das mais aplaudidas estrelas do circuito mundial da World Music.

“ “