Observação Participante e o que Fazer do Psicólogo Escolar: Subsídios para o Estágio em PEPA - Psicologia Escolar

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  • 8/7/2019 Observao Participante e o que Fazer do Psiclogo Escolar: Subsdios para o Estgio em PEPA - Psicologia Escolar

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    Observao Participante e o que Fazer do Psiclogo Escolar:

    Subsdios para o Estgio em PEPA

    A observao participante permite ao psiclogo escolar, inserido neste contexto, olhar para o

    processo de apropriao de conhecimento dos vrios segmentos inseridos no ambiente escolar, o

    que significa analisar a existncia cotidiana da escola como histria acumulada, buscar, em seu

    presente, os elementos estatais e civis com os quais a escola se construiu. Ou seja, na observao daescola ele poder averiguar o que convergente e o que divergente, ou contraditrio, nas diversas

    formas do existir da escola.

    Assim, o cotidiano escolar passa a ser o espao privilegiado para a pesquisa e para a interveno do

    psiclogo escolar, pois a que ocorre o encontro dos diversos segmentos envolvidos com o dia-a-

    dia da escola, o que circunscreve o campo para a emergncia das contradies que esto implcitas

    na relaes sociais que ali se desenvolvem.

    O cotidiano escolar, enfim, caracteriza-se como um campo de interseo entre sujeitos individuais

    que levam seus saberes especficos para a construo da escola. Nesses espaos incorporam-se e

    tornam-se significativos numerosos elementos no previstos na realidade, nas categorias

    tradicionais da realidade escolar. A realidade escolar aparece sempre mediada pela atividade

    cotidiana, pela apropriao, elaborao, refuncionalizao ou repulsa que os sujeitos levam a cabo.

    A partir do cotidiano escolar e pela observao participante, o psiclogo escolar ter acesso s

    representaes sociais que medeiam as relaes que se travam intra e extra-instituio escolar. Asrepresentaes sociais (...) so as explicaes e as afirmaes que os indivduos do sobre suarealidade, como assimilam a estrutura social na qual integram suas experincias, valores, ouseja, a relao que se estabelece entre o homem e o meio. (Salles, 1990/1991, p. 15).

    Representao social , portanto, o conjunto de significados que os indivduos estabelecem parasua realidade, significados estes expressos pela linguagem. Tal perspectiva nos sugere que o

    psiquismo humano produto da sociedade e, concomitantemente, as representaes sociais so

    engendradas coletivamente pela sociedade. Nesse sentido, a partir de uma abordagem scio-

    cultural. Do psiquismo humano, entendemos que os significados so produzidos socialmente, se

    transformam por intermdio da atividade e do pensamento dos indivduos e, assim, se

    individualizam, se subjetivam.

    Tendo em vista essas consideraes, podemos dizer que, ao tomar o cotidiano escolar como espao

    social de pesquisa/interveno, o psiclogo escolar ter acesso s mediaes que os indivduos

    estabelecem para compreender sua realidade as representaes sociais e, assim, poder desvelar

    os mecanismos utilizados (individual e coletivamente) na construo de sentidos para a realidadeescolar. Dito de outra forma, o psiclogo escolar poder desvelar os significados (convergentes ou

    contraditrios) que s agentes sociais envolvidos no processo educacional pais, alunos,

    professores, direo, etc. atribuem para a relao professor-aluno, par o conhecimento, para o

    processo ensino/aprendizagem, para o processo de avaliao, etc., alm dos significados atribudos

    ao prprio trabalho do psiclogo escolar.

    Essas consideraes nos levam a indicar a observao participante como a metodologia mais

    adequada para o psiclogo escolar apreender, compreender e intervir no contexto escolar. Por um

    lado, essa metodologia lhe proporciona aproximao do cotidiano escolar e suas representaes

    sociais, resgatando sua dimenso histrica, scio-cultural e seus processos. Por outro lado, permite-

    lhe intervir nesses cotidiano, e nele trabalhar no nvel das representaes sociais e propiciar aemergncia de novas necessidades para os agentes que ali se movimentam.

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    A observao participante se insere no conjunto das metodologias denominadas, no campo

    educacional, de qualitativas e, freqentemente, de etnogrficas. Andr (1992) avaliando a

    produo cientfica que se desenvolveu sob essa abordagem nos ltimos dez anos, conclui:

    O que se verifica, no entanto, que a grande maioria envolve dados de campo, sistematizados em forma dedescries que acrescentam muito pouco ao que se sabe e conhece ao nvel do senso comum. a empiria

    pela empiria. O autor parece satisfazer-se com o fato de coletar uma grande quantidade de dados e pareceesperar que esses dados por si produzam alguma teoria. Mas evidente que sem um e referencial deapoio que oriente o processo de reconstruo desses dados no h avano terico fica-se na constataodo bvio, na mesmice, na reproduo do senso comum (Andr, 1992, p.31-32)

    A proposta que se coloca aqui busca superar tais limitaes; ir alm do senso comum. Trata-se da

    tradio etnogrfica cuja essncia identificada como documentar a realidade no documentada

    (Ezpeleta & Rockwell, 1986, p. 15, n.3). Ela se circunscreve, por um lado, pela utilizao das

    categorias empregadas pelas cincias sociais para a compreenso da realidade (como classe social,

    ideologia, poder, etc.) e, por outro, pela criao de novas categorias que so

    construdas/reconstrudas na relao pesquisador x escola, pois

    (...) a heterogeneidade e a individualidade do cotidiano exigem outras dimensesordenadoras. Impem forosamente o reconhecimento de sujeitos que incorporam e objetivam, aseu modo, prticas e saberes dos quais se apropriaram em diferentes momentos e contextos devida, depositrios que so de uma histria acumulada durante sculos (Ezpeleta & Rockwell,1986, p. 28).

    Por intermdio da observao participante, portanto, o psiclogo escolar poder reconstruir os

    processos que ocorrem na vida diria da escola. Essa metodologia lhe permitir integrar os vrios

    momentos da escola e interpretar sua realidade cotidiana. Como tais processos se expressam por

    meio de elementos e situaes diferentes que perpassam todos os mbitos, com a metodologia

    acima indicada sero desveladas as tramas reais que se efetivam neste contexto e que se estruturama partir de pequenas histrias: espaos sociais nos quais se negociam e se reordenam a continuidade

    das experincias e a atividade escolar. As contradies e incongruncias aparentes que se

    encontram nos mais diversos espaos escolares (salas de aula, reunies, estrutura fsica da escola,

    etc.) adquirem sentido como resultado de mecanismos diferenciveis de reproduo e de

    apropriao, entre outros, e mostram as diversas formas que a histria social e individual est

    presente na vida cotidiana da escola.

    A metodologia da observao participante, enfim, possibilita ao psiclogo escolar, inserido no

    contexto da escola, olhar para as apropriaes reais e potenciais que acontecem de baixo para

    cima: partir dos sujeitos individuais que vivenciam diariamente a instituio. Alm disso, ela cria a

    possibilidade de construir um conhecimento que permite o estabelecimento de relaes mais reaiscom os processos que se do no interior das escolas.

    (...) Trabalhar com as pessoas, considerando-as sujeitos histricos de seus prprios processos ante e

    os desafios do cotidiano escolar, permite-nos constatar que no existe uma nica verdade acerca da

    realidade escolar, mas diferentes aproximaes. Tais aproximaes, possibilitadas por esse

    processo interativo (que no fixo pela prpria natureza da histria) e pelas condies objetivas

    que a realidade social nos apresenta, deixa-nos por legado a idia de que viver e desenvolver-seimplica transformaes contnuas que se realizam atravs da interao dos indivduos entre si eentre os indivduos e o meio no qual se inserem (Lima, 1990, p.19).