22
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil. 146 OBSERVATÓRIO DE LEITURA – LITERATURA E ENSINO Dinéa Maria Sobral MUNIZ 1 Lícia Maria Freire BELTRÃO 2 RESUMO: Esta comunicação parte de resultados de pesquisas já realizadas pelas proponentes e de discussões teóricas que se inserem no campo dos estudos sobre o uso e tratamento do texto literário na escola, desde as séries iniciais de ensino até o curso superior de formação do professor. A ideia é propor uma reflexão crítica sobre a práxis pedagógica que toma para si o tratamento da leitura literária, vendo esse tipo de leitura como permanecendo ainda insatisfatório na escola. O objetivo geral do estudo é identificar onde e como podem estar sendo engendradas algumas das dificuldades escolares de tratamento do texto literário e experimentar algumas sugestões de enfrentamento de tais dificuldades. Isso a partir de concepções correntes, no campo das teorias, sobre texto, como a discutida por I. Koch; sobre língua, por W. Geraldi e A. Marcuschi; sobre leitura, por M. Lajolo; sobre literatura, por N. Coelho; sobre dialogismo, aprendizagem e interacionismo, por M. Bakhtin e L. Vigotsky e sobre complexidade, por E. Morin, entre outros conceitos e autores importantes para esse tipo de estudo. Com o objetivo específico de apresentar algumas propostas de operacionalização de práticas pedagógicas, a investigação vem se dando em duas direções. A primeira, com o projeto Salvador lê- Observatório de leitura do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Linguagem – GELING-, que tem como objetivo preliminar o levantamento do acervo de obras literárias de uma amostra de escolas da rede municipal de Salvador-Ba. A segunda direção da investigação, com um caso exemplar de projeto, como o intitulado de Fernando Pessoa para crianças, tem como objetivo estudar como são recebidas as práticas pedagógicas que têm como base o uso de corpus de textos literários. Isso tanto entre docentes quanto discentes da escola básica e superior. Esse projeto consiste no desenvolvimento de um conjunto de atividades com textos do acervo das escolas do estudo, no caso particular com um primeiro conjunto dos textos disponíveis, os do poeta Fernando Pessoa. Os procedimentos metodológicos da pesquisa incluem, desde a etapa preliminar, a possibilidade de um estudo de natureza qualitativa, com procedimentos de amostragem e com uso de formulários como instrumentos para registro de dados. Considera-se importante utilizar as contribuições da Análise de Discurso Francesa (ADF), teoria que permitirá a interpretação dos eventos discursivos resultantes das investigações. Acreditamos que os resultados poderão subsidiar a prática pedagógica de professores, considerando como envolvidos no processo pedagógico de formação do leitor, desde os alunos da escola básica até os professores dessa escola, passando pelos graduandos, na condição de futuros docentes. A pesquisa poderá resultar, como ganho secundário para reflexão e discussão crítica, na sugestão de um método de investigação que poderá instaurar um discurso pedagógico compatível com o objeto estudado. PALAVRAS-CHAVE: leitura; literatura e ensino; formação do leitor Docente da 1 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Faculdade de Educação (FACED), Departamento de Educação II. Endereço: Rua Tamoios, nº 312, aptº. 504, Rio Vermelho, CEP 41 940-040, Salvador-Ba, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Faculdade de Educação (FACED), Departamento de Educação II. Endereço: Av. Cardeal da Silva, nº158, aptº 802, Federação. CEP 40 231-250, Salvador-Ba, Brasil. E-mail: [email protected]

observatório de leitura: literatura e ensin0

  • Upload
    vodieu

  • View
    223

  • Download
    4

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

146

OBSERVATÓRIO DE LEITURA – LITERATURA E ENSINO

Dinéa Maria Sobral MUNIZ1

Lícia Maria Freire BELTRÃO2

RESUMO: Esta comunicação parte de resultados de pesquisas já realizadas pelas proponentes e de discussões teóricas que se inserem no campo dos estudos sobre o uso e tratamento do texto literário na escola, desde as séries iniciais de ensino até o curso superior de formação do professor. A ideia é propor uma reflexão crítica sobre a práxis pedagógica que toma para si o tratamento da leitura literária, vendo esse tipo de leitura como permanecendo ainda insatisfatório na escola. O objetivo geral do estudo é identificar onde e como podem estar sendo engendradas algumas das dificuldades escolares de tratamento do texto literário e experimentar algumas sugestões de enfrentamento de tais dificuldades. Isso a partir de concepções correntes, no campo das teorias, sobre texto, como a discutida por I. Koch; sobre língua, por W. Geraldi e A. Marcuschi; sobre leitura, por M. Lajolo; sobre literatura, por N. Coelho; sobre dialogismo, aprendizagem e interacionismo, por M. Bakhtin e L. Vigotsky e sobre complexidade, por E. Morin, entre outros conceitos e autores importantes para esse tipo de estudo. Com o objetivo específico de apresentar algumas propostas de operacionalização de práticas pedagógicas, a investigação vem se dando em duas direções. A primeira, com o projeto Salvador lê-Observatório de leitura do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Linguagem – GELING-, que tem como objetivo preliminar o levantamento do acervo de obras literárias de uma amostra de escolas da rede municipal de Salvador-Ba. A segunda direção da investigação, com um caso exemplar de projeto, como o intitulado de Fernando Pessoa para crianças, tem como objetivo estudar como são recebidas as práticas pedagógicas que têm como base o uso de corpus de textos literários. Isso tanto entre docentes quanto discentes da escola básica e superior. Esse projeto consiste no desenvolvimento de um conjunto de atividades com textos do acervo das escolas do estudo, no caso particular com um primeiro conjunto dos textos disponíveis, os do poeta Fernando Pessoa. Os procedimentos metodológicos da pesquisa incluem, desde a etapa preliminar, a possibilidade de um estudo de natureza qualitativa, com procedimentos de amostragem e com uso de formulários como instrumentos para registro de dados. Considera-se importante utilizar as contribuições da Análise de Discurso Francesa (ADF), teoria que permitirá a interpretação dos eventos discursivos resultantes das investigações. Acreditamos que os resultados poderão subsidiar a prática pedagógica de professores, considerando como envolvidos no processo pedagógico de formação do leitor, desde os alunos da escola básica até os professores dessa escola, passando pelos graduandos, na condição de futuros docentes. A pesquisa poderá resultar, como ganho secundário para reflexão e discussão crítica, na sugestão de um método de investigação que poderá instaurar um discurso pedagógico compatível com o objeto estudado. PALAVRAS-CHAVE: leitura; literatura e ensino; formação do leitor

Docente da 1 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Faculdade de Educação (FACED), Departamento de Educação II. Endereço: Rua Tamoios, nº 312, aptº. 504, Rio Vermelho, CEP 41 940-040, Salvador-Ba, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Faculdade de Educação (FACED), Departamento de Educação II. Endereço: Av. Cardeal da Silva, nº158, aptº 802, Federação. CEP 40 231-250, Salvador-Ba, Brasil. E-mail: [email protected]

Page 2: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

147

SALVADOR LÊ – OBSERVATÓRIO DE LEITURA

1. Observatório de leitura: história preliminar

O Observatório de Leitura, pesquisa vinculada ao Projeto Salvador Lê, e espaço

concreto de planejamento e operacionalização de ações relativas ao debate sobre

leitura na Educação Básica, está alocado no GELING - Grupo de Estudo e Pesquisa em

Educação e Linguagem - da Linha Filosofia, Linguagem e Práxis Pedagógica, vinculado

ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação. Seu objetivo preliminar foi

levantar e, posteriormente, movimentar o acervo de obras literárias, constante nas

bibliotecas e ou salas de leitura de escolas da rede municipal de ensino, considerando

uma amostra da qual fazem parte escolas municipais de bairros urbanos e periféricos,

tais como: Escola Mirante de Periperi, Epaminondas Berbert de Castro, Darcy Ribeiro,

Osvaldo Cruz, Instituto dos Cegos da Bahia, Senhor do Bonfim, Municipal do Pau

Miúdo, nas quais se encontrem docentes Licenciados em Pedagogia- Projeto Salvador,

diplomados pela FACED-UFBA, através de convênio firmado, entre a UFBA e a

SECULT , do ano de 2004 ao ano de 2009.

Na constituição da pesquisa, foram considerados procedimentos que dizem

respeito à apresentação do Observatório de Leitura à comunidade envolvida e

interessada pelo assunto; à construção da memória das atividades do Observatório; à

realização de pesquisa de campo, visando ao levantamento do acervo; ao estudo do

acervo levantado; produção de projetos de leitura concernentes ao acervo e produção de

Page 3: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

148

oficinas que viabilizem a implementação dos projetos, cujo princípio deva ser a

mobilização do acervo e a formação do leitor.

Entre os percursos metodológicos definidos na perspectiva de alcançar os

objetivos propostos, principalmente o objetivo que diz respeito ao conhecimento do

acervo constante nas Escolas, foram escolhidos três procedimentos que se interligam:

visitar intencionalmente as Escolas incluídas no Projeto de Formação de Professores

com esse fim, aproveitar visitas ocasionais para cumprir esse mesmo fim, solicitar o

levantamento de dados a professores participantes do Programa de Formação.

Para fins de efeito desta comunicação, prossegue-se, fazendo-se o recorte

necessário na narrativa das experiências, para se dar destaque ao que os nossos olhos

viram e os nossos corações sentiram, quando, indo ocasionalmente à Escola Municipal

do Pau Miúdo contar certas histórias do Ziraldo, o filho de Dona Zizinha e do Senhor

Geraldo, encontramos Atrás da porta3.

2. Atrás da porta

Tomar o livro de Ruth Rocha (1997) - Atrás da Porta - a pretexto de atribuir

título ao que passamos a discorrer sobre a nossa experiência, certamente pode afetar

seus muitos e experientes leitores.

Acionando conhecimentos prévios, alguns decerto dirão: “atrás da porta, havia,

minimamente, livros!” Outros, revelando uma compreensão literal, dirão: “atrás da

porta havia uma biblioteca”. Nós que na escola tivemos, garantimos: Atrás da porta

3 Foi feita apropriação dos títulos dos livros infantis Atrás da porta de Ruth Rocha; História meio ao contrário de Ana Maria Machado e Liberta que serás também de José Bento Teixeira de Sales para nomear os tópicos 2; 3 e 4 da comunicação em questão.

Page 4: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

149

havia uma Sala de Leitura. A Sala de Leitura Professora Maria Helena Nunes Ferreira,

recentemente inaugurada. E na Sala de Leitura, livros, muitos livros, evidentemente... A

Bolsa Amarela, A casa da Madrinha - Lygia Bojunga Nunes; Do Outro Mundo , Hoje

tem espetáculo: No país dos perequetés - Ana Maria Machado; Varal de Poesia- Cecília

Meireles e outros poetas; Quatro Mitos Brasileiros- Mônica Stahel; O fantástico

mistério do Feiurinha - Pedro Bandeira; Uma história de Futebol - José Roberto

Torero; Histórias que o povo conta, Bazar do Folclore - Ricardo Azevedo; Canções do

Brasil - Álvares de Azevedo, Olavo Bilac e outros poetas; O Pequeno Príncipe -

Antoine de Saint-Exupéry; O Santinho -Luis Fernando Veríssimo; Chapeuzinho

Vermelho - João de Barros (adaptado); Ludi vai à praia - Luciana Sandroni; História de

Lenços e Ventos - Ilo Krugli; Poesia das Crianças - Casimiro de Abreu, João Cabral de

Melo Neto e outros poetas; Os contadores de histórias - Leo Cunha, Marina Colasanti e

outros contistas, Os meninos da Rua da Praia - Sérgio Caparelli; Os Três Mosqueteiros

- Alexandre Dumas; Meninos eu conto - Rachel de Queiroz, Antônio Torres, Zélia

Gattai e outros contistas, Histórias Daqui e Dali': Texto de Tradição Popular - Roger

Mello, Rogério Andrade Barbosa, Terezinha Éboli, entre outros títulos que contabilizam

um total de cinquenta e cinco títulos que se multiplicam em pelo menos dez exemplares,

cada um deles.

Ali, Atrás da porta, estava, pois, um acervo. Um acervo que, segundo os

propósitos do Observatório de Leitura, precisava ser conhecido como ainda ser

movimentado. Essa compreensão foi imediatamente ratificada pela Diretora da

Page 5: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

150

Instituição Escolar que solicitou o nosso auxílio, justificando não contar com “pessoas

especializadas” no tratamento do acervo.

Recolhidos os cinquenta e cinco títulos, para fins de conhecimento e estudo,

produzimos leituras e fizemos algumas constatações preliminares que merecem ser

consideradas:

O acervo, em quase sua totalidade, pertence à ação empreendida pelo PNBE

“Literatura em minha casa” - 4ª série (para uso pessoal e propriedade do aluno).

“Literatura em minha casa” abarca diferentes coleções que abrangem

significativa diversidade de gêneros literários, como a que escolhemos para

ilustrar: Volume 1- Poesia: Nossos poetas clássicos (Casimiro de Abreu,

Fagundes Varela, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho,e

Machado de Assis; Volume 2- Conto: Contos de Hoje e de Ontem(Lima Barreto,

Lygia Bojunga, Leo Cunha); Volume 3- Novela: Ludi vai à praia (Luciana

Sandroni); Volume 4- Clássico Universal : O Pequeno Príncipe (Antoine de

Saint-Exupéry); Volume 5- Texto de Tradição Popular: Histórias Daqui e Dali

(Roger Mello, Rogério Andrade Barbosa,e Terezinha Éboli).

Há outras coleções que também abrangem significativa diversidade de gêneros

literários: poesia, conto, texto de tradição popular. Não existe referência,

contudo, à seriação dos estudantes para quem as coleções são destinadas.

Há, na primeira capa de todos os livros, informação sobre sua gratuidade, assim

destacada: “distribuição gratuita” e “venda proibida”.

Page 6: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

151

Há, pelo menos, dois títulos de livros que pertencem à ação “Palavra da Gente” -

Educação de jovens e adultos (para uso pessoal e propriedade do aluno):

Canções do Brasil - Poesia e Uma pátria que eu tenho - Peça Teatral.

Para conhecimento e apreciação do leitor, seguem três histórias contadas nos

livros, sob forma de resenha.

MEUS PRIMEIROS CONTOS4

A obra abarca seis contos de contistas brasileiros, compondo uma antologia.

Cada conto se mantém integral, na sua singularidade, estabelecendo relação com o

outro exclusivamente pela natureza do gênero, trazendo marcas de estilo.

O sabiá e a girafa, de Leo Cunha, é a história do sabiá, também da girafa, bem como do encontro do sabiá com a girafa. Cada um tinha desejos e limitações: o sabiá da história não sabia voar, mas cantava e acreditava que um dia, conseguiria voar. A girafa era diferente: sonhava poder cantar e tentava imitar o azulão, o rouxinol, a cotovia, “mas a voz não derramava” .Ela, no entanto,jurava que um dia conseguiria cantar. Por acaso, girafa e sabiá se encontraram. Ambos lamentaram suas fragilidades. Do encontro resultou uma união que levou o sabiá às alturas e a girafa ao canto que desejava.

Num pacato vilarejo, de Hebe Coimbra, conto escrito sob forma de versos rimados, narra a história de um vilarejo. Ali tudo se mostrava estável, “na uniformidade dos dias”, a vida transcorria sem surpresas. Até que, uma noite, Manuel, habitante do vilarejo, dono do armazém, fica acordado e vê algo muito estranho. Ninguém sabe o que ele viu, mas desde então a cidadezinha nunca mais foi a mesma. E de tão perturbado, começou a atender os seus diferentes fregueses, errando. Mas foi o erro cometido frente ao que lhe pediu Belinda que contribuiu para renovar esperanças e dinamizar aquele que deixou de ser um pacato vilarejo.

Fita verde no cabelo, de Guimarães Rosa, é um conto no qual se reconhece Chapeuzinho Vermelho de Charles Perrault. Sob forma de paráfrase criativa, marcada pelos neologismos roseanos, o conto, metaforicamente, trata dos movimentos contrários das crianças, velhos e adultos no seu curso de vida, movimentos se fazem diferentes para as crianças que nascem, crescem e, um dia, se defrontam com a morte, como é o caso da menina que usava uma fita verde, símbolo da esperança.

4 CUNHA, Leo; COIMBRA, Hebe; ROSA, Guimarães et al. Meus primeiros contos. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 2001. Resenha produzida por Lícia Beltrão.

Page 7: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

152

Chifre em cabeça de cavalo, de Luiz Raul Machado, título curioso do conto, é um dito popular, que provoca, à primeira vista, a curiosidade do leitor. O autor, lembrando das histórias contadas por seu tio Pequenino, narra uma série de fatos, sob forma de narrativa ficcional, que se relaciona com histórias já contadas, até chegar ao fato em que introduz a personagem que o intriga, desde as primeiras histórias do tio Pequenino- o unicórnio -, animal fabuloso representado por um cavalo com um chifre na testa, até chegar à produção de Ana Maria Machado, a quem ele chama de fada5.

Um apólogo, de Machado de Assis, é uma alegoria, que aborda a vaidade. Agulha e Linha, personagens, participam de uma acalorada discussão. Cada uma procura mostrar sua superioridade em relação à outra, na função que estão juntas exercendo: costurando um vestido de festa para uma bela dama da nobreza que deverá ir a um baile. Participam, na história, como figurantes, um alfinete e a costureira. O autor conclui com um ensinamento, ou seria uma lição de moral ? "Contei esta história a um professor de melancolia, que então me disse, abanando a cabeça: Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!"

Zoiúdo: o monstrinho que bebia colírio, de Sylvia Orthof, conta a história fantástica de uma personagem que é um olho – Zoiúdo- que se oferece para morar com a escritora e lhe pede para transformá-lo em uma personagem de livros para crianças, adolescentes e adultos.A partir daí , outras personagens se agregam à família, como o Furtacor, um colibri, Igor, mais tarde Guigui, um pastor alemão,

todos, envolvidos com a dinâmica da família vivem diferentes aventuras, até com a vinda da escritora Sylvia Orthof a Salvador, BA. Onde transfigurada em Bruxa UXA, fala de produções literárias em Colégios.

LUDI VAI À PRAIA de Luciana Sandroni6

Ludi, também conhecida como Marquesa dos Bigodes de Nescau, é uma menina de oito anos que mora com seu pai, sua mãe e seus dois irmãos, quase de frente à Praia do Flamengo, que fica na Baía de Guanabara. Apesar disso, seus pais não querem que ela vá à Praia do Flamengo de jeito nenhum porque, como era de conhecimento público, a Baía de Guanabara estava poluída. Ludi adora ir à praia e passar o dia todo fazendo buracos na areia, mas está cada vez mais raro sua família ir à praia porque vira e mexe aparecem notícias nos jornais sobre praias interditadas, poluídas.

Mesmo contra a vontade de seus pais, Ludi vai escondida à Praia do Flamengo ver se o que ouvia dizer era verdade e constata que sim. A praia estava realmente muito suja. Um outro dia, ela volta para ver se as coisas tinham melhorado e resolve fazer um buraco na areia, quando de repente, vem uma onda e a empurra para dentro do buraco, que já estava bem fundo. Ludi vai parar em um

5 Ana Maria Machado escreveu o livro Praga de Unicórnio, publicação da Ed. Nova Fronteira, 1983. 6 SANDRONI, Luciana. Ludi vai à praia. Rio de Janeiro: Agir, 2003. Resenha produzida por Juliana Martins.

Page 8: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

153

lugar desconhecido... Encontra um Tatuí que fala como se a conhecesse e já esperasse por sua chegada. E muitos “habitantes” a esperavam mesmo. Os habitantes do fundo do mar a esperavam para que ela os ajudasse a resolver a questão da poluição. De início, Ludi toma um susto, mas depois envolve-se na luta e tenta de tudo para ajudá-los. Mandam carta ao governador, ao prefeito, à Iemanjá, ao Lobo do Mar. E só esse acredita que ainda é possível fazer alguma coisa e, por isso, pede ajuda à Baleia Azul para dar um espirro, quando estivesse passando pela entrada da Baía de Guanabara. Assim aconteceu: todo o lixo e Ludi, também, foram jogados para fora das águas.

Ninguém entende o acontecido, só se sabe da despoluição da Baía de Guanabara. A partir de então, Ludi pode ir à praia todos os dias.

O GATO MALHADO E A ANDORINHA SINHÁ de Jorge Amado7

O gato era feio, carrancudo e temido pelos animais do parque. A ele eram atribuídos diversos crimes que ninguém jamais vira, mas não duvidavam porque a sua cara feia não deixava dúvidas. No entanto, uma jovem andorinha destemida, jovem demais, resolve dirigir-lhe a palavra; em verdade, insulta-o chamando-o de feio. Ele se surpreende e, a partir daí, começa um encantamento que põe todo o parque em alvoroço. Ninguém se conforma com o relacionamento de um gato com uma andorinha; uma união que contraria as normas, as leis naturais. Daí em diante o gato passa a ser mais gentil, sociável e menos temido.

Prosseguindo, agora, na expectativa de comentar algumas das constatações feitas

na escola, na perspectiva de responder: o que os achados nos contam, ao gosto de Ana

Maria Machado, perguntamos: seria uma História meio ao contrário?

3. História meio ao contrário

A leitura do acervo, considerando, principalmente, o achado com o qual

relacionamos a sua função predominante - “Literatura em minha casa”, motiva reflexões

que vão apoiadas, inicialmente, no texto “Uma coleção para você”, contido no livro A

Casa da Madrinha de Lygia Bojunga Nunes (2002). Diz o texto: 7 AMADO, Jorge. O gato malhado e a andorinha sinhá. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. Resenha produzida por Regina Gramacho.

Page 9: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

154

“A literatura é um dos mais valiosos tesouros da humanidade, que vem passando de pais para filhos pelos séculos afora. Em tempos mais recentes, quando os jovens têm mais oportunidades de estudo do que os mais velhos tiveram, essa herança preciosa pode também inverter a mão e passar de filhos para pais. E como quem lê gosta de sair comentando as leituras com a família e os amigos, muitas vezes o livro da biblioteca serve de assunto para muita conversa com as pessoas de quem a gente gosta.

Esta coleção dá chance para mais do que isso, porque já é um presente. Pode se levar para casa e deixar lá, sem precisar devolver nunca. Dá para reler quantas vezes a gente quiser. E está cheia de textos ótimos de grandes autores. Reúne Lygia Bojunga Nunes e Ana Maria Machado, as duas únicas latino-americanas que já ganharam a Medalha Andersen, o mais importante reconhecimento internacional da literatura infanto-juvenil, considerado o Prêmio Nobel dessa área. E tem também outros autores consagradíssimos nesse gênero como: Ziraldo e Sylvia Orthof, ou os irmãos Grimm, alemães que são clássicos universais absolutos. Ao lado deles estão alguns dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos, em prosa (como João Guimarães Rosa e Clarice Lispector) e verso (Gonçalves Dias, Castro Alves , Olavo Bilac, Manuel Bandeira[...] . Esses e outros autores brilhantes (como Artur Azevedo, Evaristo da Veiga e Marina Martinez) vão agora fazer parte de seu tesouro pessoal de literatura. Em sua casa, para sempre.” (Coleção Literatura em minha casa.Uma coleção para você. 2002, p.3 s/ assinatura).

Tal como se lê, o texto ratifica duas das ideias que se constituíram pressupostos

para este estudo: a primeira diz respeito à função da maior parte das coleções, segundo

informações que colhemos do PNBE sobre as ações específicas, empreendidas e a

segunda diz respeito à informação contida na 1ª capa, garantindo o acesso ao livro sem

investimento de capital.

Em vista disso, perguntamos o que motiva a contenção dos livros na escola,

constituindo o acervo de uma sala de leitura que demanda movimento?

Muito embora saibamos o quanto é tenso e complexo propor respostas ao que

perguntamos, no espaço-tempo desta comunicação, faremos, a partir daqui, algumas

anotações que nos parecem justas, para superar os entraves constatados, ao contrário de

acentuá-los.

Page 10: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

155

Lembremos, em primeira instância, que a história tem nos mostrado que, tanto

nas escolas, quanto nas bibliotecas e salas de leitura, há maior número de estratégias

sugestivas de proteção, de guarda do livro do que de sua divulgação, de sua

disseminação, como se esses espaços ainda conservassem princípios de uma antigo

regime de controle sobre a produção livresca.

Nesse sentido, vale a pena considerar preocupações contemporâneas como as

que nos são mostradas por Chartier (1998, p. 126-127), quanto à superprodução de

materiais impressos e seu aproveitamento, em dissonância com a visão escolar sobre a

estocagem de livros destinados aos estudantes, principalmente quando a produção de

leitura poderia se fazer também, em uma outra instância discursiva, no caso, no seu

ambiente familiar, com possibilidades de contagiar outros leitores, com diversidade de

leituras, constituindo rodas de inclusão, redes de amizades seladas pelos fios das

palavras doces, serenas, brincantes, tensivas , literárias.

Vale a pena ainda considerar dois movimentos que se contradizem no ambiente

escolar: aquele dirigido pelo Plano Nacional do Livro Didático que prevê a franquia dos

livros aos estudantes pelo período de um ano, a cada série cursada, e políticas que

demandam a posse do livro, para sempre, como se a motivação se configurasse como o

gesto de alegria provocado pelos contos de fada, ao anunciarem finais felizes,

duradouros, para sempre.

Esses movimentos tão díspares, mas que ocorrem em um mesmo ambiente

escolar, podem afetar as ações de gestores que leem textos diferentes como se fossem

Page 11: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

156

iguais e, desprezando orientações, agem conforme uma concepção que parece afetar o

coletivo.

Nesse sentido, corre-se o risco de se assistir, na escola, a escrita de uma história

meio ao contrário, cuja transgressão sugere mais uma traição ao leitor - estudante e

menos uma cumplicidade baseada numa outra lógica, numa outra dinâmica

exemplarmente educativa. Vale, como forma de abonar essa concepção, a exposição de

palavras colhidas daquele com quem aprendemos sobre o valor da literatura nas práticas

educativas:

“[...] A literatura é, certamente, um código narrativo metafórico, mas também um local onde se encontra comprometido, por exemplo, um imenso saber político. É por isso que afirmo, paradoxalmente, que só é preciso ensinar a literatura, porque dela se poderiam aproximar todos os saberes. É também preciso responder a um preconceito muito perigoso, ideológico, que consiste em acreditar que a literatura mente e que o saber seria partilhado entre as disciplinas que dizem a verdade e outras que mentem e que são, então, consideradas como disciplinas de ficção, do recreio, da vaidade. A literatura não diz a verdade, mas a verdade não está apenas aí onde não se mente [...]: o contrário de mentir não é forçosamente, dizer a verdade. É preciso deslocar a questão: o importante não é elaborar, difundir um saber sobre a literatura [...] é manifestar a literatura como uma mediadora do saber. [...]” ( BARTHES ,1981, p. 232-233).

Enfim, tomando a iniciativa de ler diferente o que até aqui anotamos, podemos

dizer que, se por um lado a história meio ao contrário pode ser vista como uma traição

ao leitor, por outro, pode ser vista como a que decidimos querer para escrevê-la na

perspectiva da formação do leitor, formação que se faz em um espaço democrático de

encontro com gêneros diferenciados e escritores - poetas, contistas, teatrólogos,

novelistas - disponíveis a partilhar os seus variados cantos.

4. Liberta que Serás Também

Page 12: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

157

Na continuidade do estudo, constituímos intencionalmente uma amostra

quantitativa de livros - 35 livros -, orientada por um critério principal: a inclusão de

exemplares da coleção “Literatura em minha casa”. Os livros foram examinados,

objetivando à sua identificação geral bem como a identificação do gênero literário que o

especifica e do seu conteúdo. Visando à apropriação do conteúdo tratado e à produção

de cartas com as quais mediaremos os encontros com os professores de uma das escolas

da amostra, campo de pesquisa, todos os livros foram resenhados. Esses procedimentos

vêm dando suporte ao objetivo principal da pesquisa: libertar os livros, aproximá-los

dos leitores para os quais foram destinados, colaborar para que se movimentem. E,

assim, coerentes com essa concepção, retornamos à escola, para partilharmos, com os

professores, as experiências acumuladas, a partir das leituras que fizemos do acervo.

Rompendo com as formas de interação mais formais, construímos um sarau, e com a

diversidade da poética de vários participantes do nosso grupo (GELING), realizamos o

primeiro movimento do acervo em estudo, de maneira viva e efetiva.

Os colegas, professores, acolheram as nossas palavras, apontando para a

continuidade da pesquisa, na expectativa de que lhes apresentemos outras possibilidades

de leitura.

Enquanto isso, pensando nas outras possibilidades de leitura, produzimos cartas,

tomando como base as resenhas de cada livro, agora para lhes tocar mais intimamente...

Elas chegarão a cada um dos nossos colegas, em breve. A que chega para você, como

um exemplo, diz assim:

Page 13: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

158

Cara Professora,8

A única coisa que acho que sei a seu respeito é que, talvez, como eu, você sofra das mesmas dúvidas, das mesmas angústias e incertezas. Se for verdade, isso nos faz íntimas e me permite lhe confidenciar que aprendi muito com a poesia. Particularmente, com a poesia de Drummond, que, nesse livro sobre o qual quero lhe falar, escreveu o mais curioso poema sobre o professor. Sim, um poema sobre essa figura que cada uma de nós é. Essa persona que, às vezes, pensa que sabe tudo: o professor. O mesmo que, em alguns momentos, também, tem muita dúvida sobre o que sabe. Acho que Drummond, por conhecer um pouco da nossa natureza, recomenda-nos prudência. Veja lá, na página 25, o que diz a voz poética sobre a prática docente. Leia, pense, discuta com os colegas e, depois, de tirar suas dúvidas, chegue às suas próprias conclusões, que poderão ser, sempre, provisórias. Atente para o fato de que foi esse poeta, autor de tantos outros poemas que fazem parte desse livro da coleção Literatura em minha casa, Carlos Drummond de Andrade, que disse, contando um caso: que, diante da verdade, foi preciso optar. Um caso em que, conta ele, “cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia”. Mas isso foi no poema A verdade dividida. Esse livro em que Drummond nos oferece o poema Professor, as suas lições são outras. Veja lá! Você tem essa publicação em sua escola. Ah! O título desse livro de que falo é Simplesmente Drummond. Então, boa leitura!

Um abraço.

Dinéa

No mais, é aguardar. Com o segundo movimento do acervo, envio das cartas,

criamos expectativas de que os colegas, professores, acolham as sugestões, que retirem

os livros das estantes, que leiam as histórias, que leiam os poemas, que discutam suas

impressões com seus pares e conosco também. Nesse intervalo, iniciamos a

construção de oficinas sobre os livros, seus autores, suas obras. Com sua realização,

esperamos gerar leituras que apontarão os caminhos da continuidade da pesquisa.

8 Carta produzida por Dinéa Maria Sobral Muniz.

Page 14: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

159

Quaisquer que sejam eles, ratificamos, tomando as palavras do escritor mineiro José

Bento Teixeira de Salles: Liberta que Serás Também9.

SALVADOR LÊ – “FERNANDO PESSOA PARA CRIANÇAS”

1. “Fernando Pessoa para crianças”: a síntese de mais uma história

Com “Fernando Pessoa para crianças”, estudo vinculado ao projeto de pesquisa

“Salvador lê”, em uma de suas ações, “Observatório de leitura”, buscamos identificar

as possibilidades do uso do texto literário poético em classes de alunos das primeiras

séries do ensino fundamental em uma escola da rede pública municipal de Salvador –

BA.

A escola, campo de pesquisa, a mesma em que ações do Observatório de Leitura

se realizam, foi escolhida intencionalmente. Como intencionalmente foi escolhida a

turma do segundo ano do ensino fundamental (antiga primeira série), pelo fato de os

estudantes já interagirem com certa familiaridade com a escrita, no sentido da recepção

e da produção, ações importantes para realização das atividades previstas no projeto

pedagógico da pesquisa. O acervo literário do estudo, constituído também

intencionalmente, por inúmeros poemas disponíveis da obra pessoana, se deveu à

expectativa das pesquisadoras de levar a estudantes daquele seriado uma experiência

talvez inédita, já que, de acordo com os currículos oficias e vigentes, os estudos da 9 O título do livro revela a intenção bem-humorada do escritor mineiro, José Bento Teixeira Salles, de fundir textos e tempos de ontem e de hoje. Na sua constituição, o escritor resgata o verso que é atribuído a Virgílio: “Libertas quae sera tamen” (Primeira Écloga), que serviu de lema à Conjuração Mineira (com Tiradentes) e o verso do poema Pátria Minha, de Vinícius de Moraes: “Libertas que serás também!”. (COELHO, 2006, P. 381)

Page 15: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

160

obra do poeta Fernando Pessoa estão previstos para as séries do ensino médio,

segundo segmento da educação básica, no qual se encerra o ciclo de formação do

estudante. Isso quando não é intencionalmente excluído e ficando resumido aos estudos

do curso de Letras.

Inicialmente, as bolsistas, pesquisadoras responsáveis pela implementação do

projeto pedagógico da pesquisa, receberam orientações, com a intenção de que se

aproximassem de Pessoa, conhecendo sua vida, conhecendo sua obra. Da aproximação,

resultaram conhecimentos importantes que subsidiaram o projeto pedagógico que

constou, entre outras atividades, de exposição de fotos do poeta, quando criança, e de

sua família; apresentação dos livros Fernando Pessoa para crianças, de Alexei Bueno

e Comboio,saudades, caracóis de João Alves das Neves; leitura dos poemas Eros e

Psique, À minha querida mamã, O monstrengo, O guardador de rebanhos (fragmento),

Onda que enroladas torna, Levava um jarrinho, Posso ter defeitos; recitação de

poemas; leitura de textos fílmicos de conteúdos diversos e de curta duração, como o

que mostra o poema Eros e Psique ,a performance da cantora de fado, Ana Moura;

representação de poemas em outras linguagens; produção escrita de poemas .

A realização das atividades se concentrou no mês de abril do ano em curso.

Acompanhando a reação dos estudantes, durante a implementação do projeto

pedagógico, considerando a particularidade de cada atividade, podemos dizer que a

recepção das crianças frente à fortuna literária de Fernando Pessoa foi bastante positiva.

Os fazeres e saberes foram vistos como novidade por todos, inclusive pelos adultos,

professores e funcionários da unidade escolar . Os estudantes revelavam curiosidade

Page 16: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

161

intelectual diante das narrativas sobre a vida e sobre a obra de Fernando Pessoa com que

os envolvíamos. As atividades que, a pretexto dos estudos, foram ilustradas com

textos imagéticos e ou com textos fílmicos, suscitaram significativo interesse,

resultaram mais produtivas. A atividade, recitação de poemas, foi realizada como

desinibição lingüística. Colaborou para com a experiência de ler o texto escrito .

A representação, ou retextualização do poema em outras linguagens revelou

traduções importantes, quer na perspectiva da leitura parafrástica, quer na perspectiva

da leitura polissêmica, relacionadas com o conteúdo apresentado no texto e o contexto

de vida das crianças.

A leitura do poema “Levava um Jarrinho”, que segue transcrito,

Leavava um Jarrinho Fernando Pessoa

Levava eu um jarrinho

P’ra ir buscar vinho Levava um tostão P’ra comprar pão; E levava uma fita

Para ir bonita. Correu atrás

De mim um rapaz: Foi o jarro p’ro chão,

Perdi o tostão, Rasgou-se-me a fita...

Vejam que desdita! Se eu não levasse um jarrinho,

Nem fosse buscar vinho, Nem trouxesse uma fita

P’ra ir bonita, Nem corresse atrás De mim um rapaz

Para ver o que eu fazia, Nada disto acontecia.

Page 17: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

162

suscitou em uma criança o que ela procurou expressar, através do desenho. Figura

humana representativa dela própria, como personagem; bala e revólver, identificados

pela bolsista - professora - pesquisadora. A despeito do vocabulário (tostão) e das

construções sintáticas diferentes de seu uso corrente (rasgou-se-me a fita...), a criança

atualiza a leitura do texto de acordo com sua realidade social. A experiência segue

reproduzida para conhecimento e apreciação.

Hoje, Fernando Pessoa não é só um poeta conhecido pelas crianças, estudantes

da escola, campo de pesquisa, mas também querido. A expectativa de que continue na

companhia de todos pode resultar positiva, já que a relação afetiva, além da cognitiva,

ocorreu. Por considerarmos que o objetivo da pesquisa foi alcançado bem como que a

Page 18: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

163

experiência poderá subsidiar propósitos similares, no sentido do estudo da poética de

outros escritores, concluímos, afirmando: “Valeu a pena...” e dizendo, com Cecília

Meireles: “ Um poeta é sempre irmão do vento e da água: deixa seu ritmo por onde passa.”

TRANÇANDO AS DUAS HISTÓRIAS

Na tessitura das narrativas com que reconstituímos aspetos das pesquisas por nós

desenvolvidas, motivação desta comunicação, acreditamos que se evidenciam, de

modo explícito ou não, os fios que as relacionam e as mantêm coesas: a literatura e o

ensino. Nesse sentido, se com a pesquisa, Observatório de Leitura, objetivamos

movimentar o acervo literário localizado na escola, campo de pesquisa, de modo que

seja cumprido o propósito do PNBE, e se, com a pesquisa “Fernando Pessoa para

crianças”, intencionamos identificar as possibilidades do uso do texto literário poético

em classes de alunos das primeiras séries do ensino fundamental, isso se deu, por

compreendermos que os sons, ruídos, cenários, fatos, gentes, enfim as texturas dos

textos literários são muito parecidas com aquelas com que vamos tecendo a nossa

relação com o mundo, logo com aquelas que os estudantes escolhem para ir tecendo a

sua relação com o mundo. Na relação com o mundo, acionamos, com maior freqüência,

a linguagem na função pessoal, na função interativa, na função emotiva, quando não, na

Page 19: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

164

função poética, mais do que a linguagem na função referencial, função mais

valorizadas na escola. Aquelas funções, não essas, são as que constituem,

predominantemente, o texto literário, motivo por que admitimos que seja

pedagogicamente mais recomendado para quaisquer estudantes no sentido de sua

inclusão na ordem do discurso que se pretende interativo, representação viva de que a

verdadeira substância da língua é a interação verbal, Bakhtin (1999), estimulador da

recuperação de um modo mais adequado de se desenvolver estudos de leitura, objeto

dimensionado na perspectiva da criação e da liberdade, conforme conota a concepção de

Lajolo por nós acolhida e que segue citada:

[...] Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir de um texto, ser capaz de atribuir-lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista. [...] (LAJOLO, 1986, p. 59).

E, quando o texto é o de natureza literária, consideramos o que Morin, citado

por Coelho (2000, p.9), diz:

[...] A Literatura é um mundo aberto ao mesmo tempo às múltiplas reflexões sobre a história do mundo, sobre as ciências naturais, sobre as ciências sociológicas, sobre a antropologia cultural, sobre os princípios éticos, sobre política, economia, ecologia...Tudo depende de uma seleção inteligente das obras. [...]

Além disso, compreendemos que a escrita literária, quando cotejada com outras

naturezas de escritura, evidencia a sua condição multivocal, plurissignificativa,

polifônica e polissêmica, permitindo que a tomemos como um “ laboratório do

possível”, um lugar onde se pode experimentar, onde se pode alocar, descolar, simular,

Page 20: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

165

dissimular, fingir, criar. Fazer a mistura do velho com o novo, do urbano com o rural,

promover encontros da fantasia com o real do inimaginável com o imaginável.

Em “Fernando Pessoa para crianças” essas concepções não somente lhe deram

suporte como foram traduzidas pelas ações pedagógicas realizadas. O mesmo já começa

a acontecer com o Observatório de Leitura. Os demais procedimentos escolhidos para

movimentar o acervo sugerem a continuidade do processo. Inserir os livros de literatura,

os textos literários, nos projetos pedagógicos da escola, campo de pesquisa, nos parece

questão irreversível. Tomar a literatura como “laboratório do possível”, na perspectiva

pedagógica, o texto, considerado seu caráter verbal, social, cognitivo e sócio-cultural,

cujo sentido se vai construindo na relação texto-leitor, Koch (2002), continua sendo

nossa intenção. Assim como continua sendo intenção do GELING debater postulados

teóricos que estejam na rede das relações entre a língua e o ensino, na perspectiva

interacionista, Geraldi (1991 ), Vigotsky (1988), considerados os diferentes objetos -

leitura, escrita, texto, gêneros e tipos - os diferentes contextos, as condições de

produção e os sujeitos da educação. Tudo isso na perspectiva da emancipação daqueles

para quem continuamos sempre disponíveis: os estudantes.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1999.

BARTHES, Roland. O grão da voz: entrevistas 1962-1980. Tradução de Teresa Meneses e Alexandre Melo. Lisboa: Edições 70, 1981.

Page 21: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

166

CADEMARTORI, Lígia. O que é literatura infantil. São Paulo: Ed Brasiliense, 1987. CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Tradução de Reginaldo de Moraes. São Paulo: Editora UNESP, 1998. BOJUNGA, Lygia. A casa da madrinha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. (Literatura em minha casa; v.3. Novela) COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006. COELHO, Nelly Novaes. Literatura: arte, conhecimento e vida. São Paulo: PEIRÓPOLIS. 2000. (Série nova consciência) CLEMENTE, Elvo. Integração: língua, cultura e literatura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994. FREIRE, Paulo; SILVA, Ezequiel Theodoro. Da leitura do mundo à leitura da palavra. In: BARZOTTO, Valdir Heitor (Org.). Estado de leitura. São Paulo: Mercado de Letras, 1999. p 19-29. GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991. KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002. LAJOLO, Marisa. O texto não é pretexto. In: Zilberman, Regina. Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. p. 51-62.

MACHADO, Ana Maria. História Meio ao Contrário. São Paulo: Atual, 1987. MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Tradução de Pedro Maia Soares. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.

São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Coleção Literatura em Minha Casa. FNDE/PNBE, 2002. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Coleção Literatura em Minha Casa. FNDE/PNBE, 2003. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Coleção Palavra da Gente. FNDE/PNBE,2003.

Page 22: observatório de leitura: literatura e ensin0

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3

SLG 3 – Ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa no Brasil.

167

PESSOA, Fernando. Comboio, Saudades, Caracóis. Organizador João Alves das Neves. Ilustrações Marília Pirilllo. Ed. Renov. SãoPaulo: FTD, 2007. PESSOA, Fernando. O almirante louco. Organização e notas Carlos Felipe Moisés. Ilustrações Odilon Moraes. São Paulo: Comboio de Corda, 2007. PESSOA, Fernando. Poemas para crianças. Seleção e introdução Alexei Bueno. Ilustração Lu Martins. São Paulo: Martins, 2007. ROCHA, Ruth. Atrás da Porta. São Paulo: Salamandra, 1997. SALLES, José Bento Teixeira. Libertas que Serás Também. In: COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006. p. 381. VIGOTSKY, Lev . et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo:Ícone/EDUSP, 1988.

ZILBERMAN, Regina. Como e Por que ler a Literatura Infantil Brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.