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Brennan Healing Science Academic Programs CELIA MORGADO VAZ OBSESSÃO NOSSA SOMBRA EM AÇÃO Brasília, 11 Junho 1999.

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Brennan Healing Science Academic Programs

CELIA MORGADO VAZ

OBSESSÃO

NOSSA SOMBRA EM AÇÃO

Brasília, 11 Junho 1999.

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CELIA MORGADO VAZ

OBSESSÃO

NOSSA SOMBRA EM AÇÃO

Trabalho de conclusão apresentado como

requisito para a obtenção do título de Brennan

Healing Science Practitioners, pela BBSH -

Barbara Brennan School of Healing

Brasília, 11 Junho 1999.

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Versão traduzida e revisada do inglês para o português.

Meus agradecimentos a Jairo Tadeu Longhi pela

colaboração, que se ofereceu para realizar a presente

tradução.

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RESUMO

Esta obra é o resultado de uma pesquisa teórica-prática apresentada na

conclusão do curso que fiz na Barbara Brennan School of Healing, a escola de cura

de Barbara Brennan, autora do livro Mão de Luz, sediada nos Estados Unidos. Sua

obra é bastante conhecida nos meios espíritas brasileiros, pois ela se refere ao

campo de energia humana, também conhecido como aura, onde se dão os passes

espíritas. Para me graduar como healer, era preciso apresentar uma monografia

assim, escolhi um tema bastante afim com a nossa realidade Brasil. Parti então

para investigar o fenômeno da obsessão, tentando relacioná-la com “a sombra” da

psicologia junguiana.

A parte prática contou com uma investigação de campo, empreendida com

médiuns trabalhadores em centros espíritas de várias localidades e com os

freqüentadores do centro espírita Boa Árvore, localizado em uma cidade satélite de

Brasília, Distrito Federal. A sondagem inicial deu-se a partir de entrevistas e

aplicação de questionário, seguido da observação do processo vivido por clientes

ao longo do estudo. A parte teórica embasou-se no estudo da literatura espírita

pertinente, a partir do olhar da Psicologia. Dentro da Psicologia, elegeu-se a linha

teórica da psicanálise Junguiana; foram pesquisados vários autores que

desenvolveram estudos sobre sombras, dentro da orientação proposta. A obsessão

foi então observada a partir dos conteúdos recolhidos a partir dos sujeitos objeto

de estudo, cujos resultados cabidamente validaram o processo que acontece de

maneira ordinária na vida dos indivíduos, principalmente aqueles que acreditam no

espiritismo. Finalizando o trabalho, foram propostos meios alternativos para se lidar

com a obsessão na vida diária.

O fenômeno conhecido por obsessão ou possessão tem sido tratado no

espiritismo geralmente como algo decorrente da influência de “maus espíritos”

sobre suas vítimas. Essas influências podem ser leves, como é o caso da indução

de pensamentos, sensações ou emoções negativas, ou fortes, atingindo seu ponto

máximo quando a pessoa identificada como vítima fica completamente dominada

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pelo mal.

O conceito de sombra da Psicologia Junguiana compreende o mal como

partes não aceitas da própria pessoa, portanto, alienadas da sua consciência.

Essas partes, embora renegadas, exercem influências sobre a pessoa, sem que ela

se dê conta do processo. Sua ação pode ser tão intensa que chegue até mesmo a

assumir o controle da personalidade do indivíduo como um todo, de forma que ele

passa a agir como se fosse uma outra pessoa, no caso, o obsessor, segundo a

visão espírita. Tal coisa acontece por estar a pessoa fazendo uso do mecanismo de

defesa chamado de projeção, segundo a teoria psicanalítica. Nesse caso, a pessoa

coloca no outro algo que é seu mas que não consegue abarcar dentro de si

mesma. Dessa forma, se livra de um fardo insuportável, enquanto

inconscientemente projeta o mal no outro, que em contrapartida passa a persegui-

lo, agora detentor do bem.

Na medida que vemos a obsessão como sombras, dentro deste olhar da

psicologia, consequentemente mudamos o foco pelo qual vemos o processo,

assim, os meios propostos para se encontrar “a cura do mal” são diversos daqueles

propostos pelo espiritismo. Dentro dessa visão, a responsabilidade pela

recuperação do indivíduo está a cargo dele mesmo e não do outro, o médium,

como prevê o espiritismo, que tem a tarefa de possa limpar o obsediado da carga

pesada do obsessor, ajudando-o a se recuperar.

A psicologia, por seu lado, entende que a pessoa que se sente

comprometida na relação com o outro, de forma a atribuir a esse outro a

responsabilidade pelo que sente, pelo que pensa e pela forma como se comporta,

deve, ela mesma, empreender uma auto-análise no sentido de entender que

partes suas está projetando no outro. Dessa forma, a pessoa pode assumir o

encargo pelos processos pelos quais passa, na medida que incorpora em sua

consciência partes suas antes rejeitadas, negadas, alienadas daquilo que acredita

ser ela mesma. “A cura” ocorre quando a pessoa, alargando a visão que tem de si,

identifica e toma posse das projeções que fez tanto para entidades espirituais,

como também para outras pessoas. A pessoa, quando toma posse de suas partes

perdidas, se liberta do mal que a oprime e se restabelece, tornando-se mais inteira.

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INTRODUÇÃO

O que é a Obsessão?

Poderíamos dizer, da forma como é dito pela maioria das pessoas, que é um

processo onde um espírito maligno põe sob sua influência uma pessoa identificada

como vítima?

Qual é a colaboração dessa vítima para o processo da obsessão?

É ela de fato uma vítima ou ela colabora para que o processo ocorra?

A que fatores se deve o processo obsessivo?

São essas e muitas outras questões que nos motivaram a buscar respostas

através da pesquisa que aqui relatamos.

Vemos que aqui no Brasil os centros espíritas funcionam como lugares de

apoio e suporte para as pessoas resolverem seus problemas espirituais, mas não

só esses, também os centros são buscados para se resolver dificuldades nos

negócios, questões materiais em geral, problemas emocionais e de

relacionamento, doenças físicas, etc.; na verdade toda sorte de dificuldades e

problemas que acometem ao ser humano.

Estamos aqui colocando sob a grande denominação de espiritismo todas as

religiões e seitas resultantes da mistura do Cristianismo com as tradições africanas

e ou com as várias tradições dos indígenas brasileiros ou mesmo com o

Hinduísmo. O que define esse grande grupo espírita é a crença na reencarnação,

nos espíritos bons, que podem ajudar e apoiar as pessoas, atendendo a seus

pedidos e preces, e nos espíritos não tão bons, que ficam vagando e podem

atormentar as pessoas ou ainda, os maus espíritos, que têm mesmo prazer em

inculcar sofrimento no outro. Pensando em termos de grupos maiores e mais

conhecidos, existe o Espiritismo de Mesa1, o Candomblé e a Umbanda, só para

citar algumas denominações, pois é grande a variedade de seitas advindas da 1 Espiritismo de mesa é o descrito por Allan Kardec (1804-1869) no qual os médiuns geralmente fazem o seu trabalho sentados em volta de uma mesa, sem envolver danças, toques de tambores ou ingestão de bebidas.

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fusão de crenças e tradições no Brasil. Fato é que os espíritas quase sempre

mantêm um local de prestação de serviços e ajuda ao outro, os conhecidos centros

espíritas. Tais centros recebem pessoas com desequilíbrios vários, identificados

como sendo de ordem espiritual, que os procura em busca de tratamento. Lá são

ouvidas e atendidas: em conseqüências apaziguam suas dores e sofrimentos.

Existe um ditado popular que diz ser o centro espírita a psicanálise do pobre, que é

alimentado pela evidente melhora apresentada pelos frequentadores dos centros

espíritas.

Fazemos aqui uma tentativa de entender como é o trabalho que realizam,

principalmente quanto à cura espiritual ou o trabalho desobsessivo.

Observamos que quando uma pessoa sente que sua vida não está correndo

de um modo tranqüilo, não importando em que área, e vai procurar ajuda em um

desses centros, lá dizem que ela necessita de passar por um processo de

desobsessão. O pressuposto básico é que algo externo, uma energia negativa ou

um espírito de pouca luz esteja influenciando a pessoa, de forma a lhe trazer a

doença ou desequilíbrio pelo qual a pessoa esteja passando. E é sobre esse

agente externo que eles trabalham.

Entendemos que uma vez que as pessoas enxergam seus males como

sendo causados por influências de espíritos malignos ou cargas negativas de

outras pessoas, elas não têm o poder de se libertar por si mesmas. Nosso intuito,

ao fazer essa incursão dentro desse universo de conhecimento, tentando entender

como ele funciona, vem do nosso desejo de ajudar essas pessoas, devolvendo-lhe

o poder de mudar suas próprias vidas.

HISTÓRICO

Nosso interesse sobre o assunto vem desde há muito tempo atrás. Ao

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longo da vida, tive algum contato com o espiritismo; freqüentei vários centros de

diferentes orientações, chegando a participar de alguns dos trabalhos oferecidos

por eles, como passes, desobsessões, cirurgias espirituais, etc. ou seja, tanto me

integrei ao corpo de médiuns que doavam energia em alguns casos, como me

submeti algumas vezes a atendimentos diversos, de forma que pude ter uma boa

idéia da dinâmica de funcionamento e da fundamentação teórica na qual se

assentam tais centros.

Fiquei bastante interessada com as explicações que davam e com a

compreensão que tinham sobre as mais variadas questões que ali se

apresentavam para serem tratadas. Me perguntava como aqueles problemas eram

vistos dentro de outros contextos, que naturalmente usavam outras linguagens

para se referir a eles. De certa forma, vendo as mesmas questão pelo avesso, no

atendimento psicológico que eu prestava, muitas vezes me perguntava qual seria a

visão e a explicação que teria o espiritismo acerca de determinados processos ou

sintomas pelos quais passavam alguns clientes. Tentava já naquele momento

estabelecer uma possível relação entre o que dizia o espiritismo e a visão da

psicologia acerca dos mesmos pontos.

A uma certa altura, comecei a ter as respostas que tanto buscava. Naquela

ocasião, eu atendia uma pessoa que se encontrava bem atrapalhada com as suas

emoções, estando bastante dissociada delas. Claramente ela não estava

consciente de muitos dos seus sentimentos e emoções e se tornara muito confusa

mentalmente. Eram evidentes as projeções que fazia, colocando fora de si, em

outras pessoas, as emoções e sentimentos que não conseguia comportar em sua

consciência. Em uma das sessões, ela disse que estava passando por um

processo de desobsessão em um centro espírita. Percebi que, dentro do

espiritismo, a compreensão acerca daqueles seus sintomas implicava exatamente

na questão da obsessão. Atribuíam os seus desequilíbrios a influências negativas

de agentes externos, o que demandava uma limpeza do seu campo de energia, ou

seja, ela precisaria passar por um processo desobsessivo. A partir daí cresceu o

meu interesse em tentar estabelecer paralelos entre a obsessão, como é colocada

pelo espiritismo, e os processos psicológicos de nossos clientes. Deu-se assim o

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início de uma busca por maior compreensão do processo. No ponto de partida

estava a questão de tentar estabelecer uma possível relação entre a confusão

mental e desordem emocional com a obsessão.

Após algum tempo de psicoterapia com aquele cliente percebemos que seu

mundo mental e emocional estava mais organizado e com mais clareza. Foi aí que

tivemos a segunda resposta confirmando nossa hipótese de que havia uma relação

entre o que era chamado de obsessão e aquele estado de confusão que

percebêramos antes. Naquele momento ele nos disse que o processo de

desobsessão ao qual estava se submetendo tinha se concluído.

Faltava explorar que conexão era aquela que existia entre o desequilíbrio

emocional e a obsessão. Para responder à nova questão, começamos a ler,

buscando nos livros a explicação que o espiritismo daria.

Nossa hipótese naquele momento era de que obsessão era a forma que o

espiritismo descrevia e lidava com o desequilíbrio emocional.

Pudemos encontrar em vários autores espíritas a confirmação do que

postulávamos; conforme Manoel P. de Miranda afirma bem no início de “Painéis da

Obsessão”: “Na raiz de todas as moléstias que importunam o homem nós

descobrimos que o desequilíbrio de si próprio é a causa preponderante”.

Em André Luiz, em sua obra “Nos Domínios da Mediunidade” temos “todos

os dramas obscuros de obsessão provêm da mente doentia”.

Suely Caldas coloca em “Obsessão-Desobsessão”: “Pensamentos e estados

emocionais negativos criam áreas mórbidas em nosso campo mental (…)

montando o processo obsessivo como conseqüência”. Ela também afirma que a

invigilância2 é a porta para a obsessão e aponta para alguns estados emocionais

típicos: ódio, idéias negativistas, depressão, tristeza, medo, inveja, ganância e os

excessos sexuais.

Suely Caldas afirma que “se não dermos atenção aos nossos estados

emocionais que mudam em demasia, nós descobriremos que nossas emoções se

tornaram desequilibradas, induzindo nós mesmos a um estado de perturbação

2 A autora entende por invigilância não guardar a si próprio, permitindo ser tomado por influências negativas.

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mental. Dependendo da intensidade desses estados, nós nos apresentaremos

como doentes de alma. Então teremos as condições necessárias para a obsessão

se estabelecer”.

O espiritismo enfatiza o sentimento de culpa como sendo a principal causa

do enfraquecimento do espírito, que permite que a obsessão se estabeleça,

conseqüentemente.

Manoel P. de Miranda afirma: “Problemas de graves mutilações e

deficiências ou doenças irreversíveis são conseqüências de culpas estocadas

dentro da consciência como remorso tardio de desastrosas ações do passado.” E

ainda: “O agente causal que origina a obsessão é a culpa. A culpa, consciente ou

inconscientemente estabelecida no campo mental envia ondas que sintonizam com

a inteligência doentia, tornando possível o intercâmbio mórbido…

Conseqüentemente, não existe obsessão causada por um dos litigantes, se não há

perfeita sintonia de um com o outro.”

Como podemos ver, o próprio espiritismo coloca juntos o desequilíbrio

emocional e a obsessão.

Obtendo resposta à nossa indagação sobre a relação entre emoções

desequilibradas e obsessão, estávamos já muito engajados, a curiosidade não cessava

e decidimos então formular uma pesquisa para aprofundarmos, abraçando o tema

como nosso objeto de estudo. Com os elementos que já tínhamos em mãos

formulamos nossa hipótese principal.

Hipótese: A pessoa que é obsediada não é uma vítima, ela é a autora do

processo, assim sendo, ela é a única que tem o poder de verdadeiramente

interrompê-lo.

A VISÃO DO ESPIRITISMO

Durante a pesquisa na literatura espírita, notamos que todos os autores

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usavam a palavra vítima para se referir à pessoa que está sendo obsediada,

muito embora eles afirmem que a pessoa tem alguma colaboração com o processo.

A responsabilidade da pessoa hoje seria o estar lidando com questões

kármicas, onde sua alma está comprometida com situações de vidas passadas

entre ela e o seu algoz, sendo ela hoje vítima de alguém que foi sua vítima no

passado. Entende-se como sendo dois espíritos lidando com uma questão

inacabada entre eles, uma vida após a outra, onde os papeis de vítima e algoz vão

se alternando.

Até mesmo Suely Caldas, que tenta outorgar alguma responsabilidade ao

obsediado, usa a palavra vítima como se pode ver já no início do capítulo onde ela

explica sobre o processo obsessivo: “Descobrindo em sua vítima o

condicionamento, a predisposição e a baixa defesa, o obsessor acha uma situação

oportuna para instalar suas ondas, enviando através da mente da pessoa… A

vítima geralmente deixa se dominar ...”

Tentando saber se a prática de desobsessão nos centros corresponde ao

que é ensinado pela doutrina espírita, que dá alguma explicação sobre como a

obsessão é relacionada com nossos processos internos, formulamos um

questionário com dez questões para serem respondidas por dez médiuns, que

apresentamos no final da pesquisa.

Para a questão: “O que é obsessão para você?”, todas as respostas falavam

de alguém (encarnado ou desencarnado) tentando controlar ou já controlando o

obsediado. Nos centros onde trabalham os médiuns que responderam o

questionário, a desobsessão é feita afastando o obsessor de perto da pessoa.

Para a questão: “Como você identifica que alguém está obsediado?” Os

médiuns responderam que em geral observam o comportamento da pessoa, que se

mostra agressiva, apática, mente confusa ou com outros tipos de desequilíbrio.

Disseram que também podem usar sua intuição para “ver” o que está acontecendo.

Alguns disseram que podiam ver a aura da pessoa. Uma nos relatou que, com sua

clarividência, em geral percebe o obsessor como nuvens escuras na aura da

vítima, localizadas nos chakras e nos órgãos ou mesmo como algo cobrindo as

costas da pessoa, como um xale escuro. Ela disse que o obsessor utiliza a parte

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frágil da pessoa para penetrar. Se a pessoa tiver uma doença instalada ou

mesmo um órgão fraco o obsessor geralmente usa aquele local para se instalar,

sendo o seu veículo principal o sistema nervoso de sua vítima.

NOSSA VISÃO DO PROCESSO

Começamos com a questão: O que faz o indivíduo que o leva a se tornar “vítima”

desse processo?

Nossa questão central é que discordamos que seja o indivíduo uma

vítima, nesse caso. Entendemos que ser vítima é estar numa posição onde a

pessoa não tem nenhum poder sobre a situação, não sendo ela responsável pelo

que acontece e, portanto, não tendo como sair ou livrar-se da coisa. Quando a

pessoa é vítima, ela é totalmente passiva e incapaz.

De certa forma isso pode ser verdadeiro se você observar a pessoa apenas

de um nível superficial, vendo apenas a parte consciente dela. Porém nós sabemos

que o ser humano é muito mais que isso, seu inconsciente é a parte maior e é ele

que controla a pessoa.

Usando de uma imagem que nos ocorre nesse momento, podemos dizer que

se uma pessoa abre as portas de sua casa para receber um visitante indesejável,

ela também pode fechá-la, expulsando-o. É a pessoa que escolhe quem deseja

que entre em sua casa. Assim entendemos que acontece o mesmo em relação ao

seu copo físico e sistema energético.

Assim falava Pramahansa Yogananda, um grande mestre indiano em seus

ensinamentos: “Se um visitante indesejado quiser entrar em sua casa, o que você

deve fazer? Fechar as portas.” Ele dizia isso se referindo em como as pessoas

poderiam agir em relação às doenças, não aceitando passivamente, por exemplo, a

entrada de vírus e bactérias em seu corpo.

Assim entendendo que se o espírito maligno é indesejado, por que a pessoa

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não fecha as portas a ele? Por que lhe dá as boas vindas, deixa-o entrar em “sua

casa”, chegando mesmo a lhe conceder a posse da mesma e passando inclusive a

obedecer a suas ordens?

Alguma coisa “a pobre vítima” faz para atrair esses visitantes e mais, deixá-

los entrar e possuir seu lar sagrado — o seu corpo. Quais são as razões que levam

o indivíduo a delegar a responsabilidade da direção de sua vida a algo ou alguém

que chega e quer o seu lugar a fim de prejudicá-lo?

Em nosso entender, de acordo com a lei de que o semelhante atrai o

semelhante, a pessoa pode atrair espíritos malignos se seu sistema energético

estiver vibrando em faixas de energia similares à do espírito maligno.

Aqui o espiritismo diz algo parecido. Para o espiritismo, a prevenção da

obsessão é feita através da reforma interior. É muito enfatizada a necessidade de

uma mudança radical no comportamento do obsediado e também uma mudança

em sua atitude mental, porque é através dos seus pensamentos que ele cria o seu

padrão vibracional. O uso da vontade e a leitura da bíblia são também formas

cruciais para moralizar o obsediado.

Em nossa visão, temos duas maneiras principais de alterar a faixa de

vibração de nossos campos de energia, para aumentá-la até o nível onde a

conexão com o obsessor não seja mais possível. Em primeiro lugar podemos

trabalhar nossas sombras, integrando nossas emoções negligenciadas. Em

segundo lugar, vendo que as questões do passado se apresentam no momento

presente como energia estagnada no campo de energia da pessoa, podemos

trabalhar nessas partes escuras, clareando-as e mudando no presente as

conseqüências de nossos traumas do passado.

Nossa intenção no momento em tomarmos o fenômeno da obsessão como

tema do nosso trabalho é dar uma contribuição, aprofundando o conhecimento e

devolvendo ao obsediado o status daquele que escolhe as próprias experiências e

é o responsável pelo seu destino. Para fazer isso focaremos no conceito de

sombra, conforme colocado por Carl Gustav Jung, para explicar o processo

obsessivo.

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O CONCEITO DE SOMBRA

O que é a sombra?

É uma parte nossa que rejeitamos e que passa a não fazer parte de nós

mesmos (em nosso consciente) porque ela não se encaixa com a parte que

queremos exibir ao mundo, nosso ego, nosso ideal de quem somos.

Como seres humanos somos imperfeitos e possuímos impulsos tais como

agressividade e sexualidade talvez em proporções que não gostamos, gerando

vergonha, culpa e dor, daí nossa tendência em rejeitar essas partes que não

aceitamos.

A sombra é conhecida por muitos nomes familiares: o eu rejeitado, o eu

inferior, o gêmeo negro. Na bíblia é chamado de irmão e dentro da mitologia pode

ser visto como o duplo. Ou ainda pode ser chamada de eu reprimido, álter ego e id.

A sombra é a parte inconsciente da personalidade e contém o bom e o mau

de nós mesmos.

Para Jung, a sombra é uma personalidade inferior que possui seu conteúdo

próprio, tal como idéias, pensamento autônomo, imagens, julgamentos de valor,

algo que a pessoa não deseja ser.

A sombra, por ser oposta à nossa atitude escolhida pelo consciente, tem sua

expressão negada, se aglutina em uma facção relativamente separada da

personalidade no inconsciente, onde fica isolada e protegida contra a exposição e

descoberta.

Nós fazemos uma identificação unilateral com o que é aceitável para nossa

mente consciente.

Jung classificava a sombra como um dos maiores arquétipos do inconsciente

pessoal.

Para Robert Bly, em seu artigo “The Long Bag We Drag Behind Us”, quanto

colocamos uma parte de nós mesmos dentro de um saco ela regride, ela como que

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evolui para trás, em direção à barbárie e se torna hostil à pessoa que abrir o

saco. Toda parte de nossa personalidade que nós não amamos se tornará hostil a

nós mesmos.

Assim, já que não podemos enfrentar nosso inimigo interior, o que fazemos?

Nós o projetamos no mundo exterior. “Nossas psiques são máquinas de projeção

natural, imagens que nós guardamos dentro de uma lata, podemos pôr para fora

enquanto ainda enroladas e as rodarmos para os outros, ou em cima de outros”, diz

Robert Bly.

Uma vez que negamos nossa maldade, nós percebemos os outros como

maus. Projetamos nossa própria maldade no mundo exterior. Dessa forma os

outros se tornam os maus e nós os bons; assim podemos lutar contra eles.

Mas é projetando que nós podemos acessar nosso inconsciente, na medida

que trazemos de volta nossas projeções e as assumimos.

“O problema é que a projeção invariavelmente borra a visão que temos da

outra pessoa. Mesmo quando as qualidades projetadas sejam as qualidades reais

da outra pessoa, o efeito resultante que marca as projeções se dirige para o

complexo que dá o tom da impressão em nós, que borra nossa visão e interfere

com nossa capacidade de ver objetivamente e se relacionar humanamente”, afirma

Edward Whitmont em “The Evolution of the Shadow”.

Assim, onde ocorre uma projeção de sombra em nós, somos incapazes de

diferenciar entre a realidade da outra pessoa e nossos próprios complexos. Não

podemos tirar realidade a partir da imaginação. Não conseguimos ver onde começa

e onde termina. Somos incapazes de ver o outro e nem podemos ver a nós

mesmos.

Para Edward, a sombra é a experiência arquetípica da outra pessoa, que em

sua estranheza é sempre suspeita. Ela é a necessidade arquetípica de um bode

expiatório, alguém para culpar e atacar a fim de se justificar e se mostrar certo. É a

experiência arquetípica do

inimigo, da justificativa do merecimento do castigo para ele, uma vez que nós

estamos sob a ilusão de conhecer a nós mesmos e da ilusão de já ter lidado

adequadamente com nossos problemas.

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Em outras palavras, na mesma medida que nós temos a idéia de que

somos os certos e bons, ele, ela, ou eles se tornam os portadores de todo o mal

naquilo que falhamos em nos auto-conhecer — em um mecanismo paranóico.

A maior função da mente paranóica é escapar da culpa e responsabilidade,

culpando alguém; tudo que nós desprezamos em nós mesmos colocamos em cima

do outro. Esse processo sempre acontece envolvendo duas partes, sejam nações

ou pessoas. Isso dá a chance de que ambas possam se garantir de que nenhuma

das partes tenha de enfrentar suas próprias sombras: o outro é o depósito para

suas toxinas psicológicas acumuladas e negadas.

A sombra se projeta de duas formas: individualmente, nas pessoas a quem

se atribui o mal; e coletivamente, em sua forma mais genérica, como o inimigo e a

personificação do mal.

Suas representações mitológicas são o demônio, o arquiinimigo, o tentador, o

duplo, ou a parte escura e má do par de dois irmãos ou irmãs, afirma Edward.

Para John Pierrakos em “Anatomy of Evil”, “o mal é uma distorção dos fatos

que por si mesmos são naturais. Por a pessoa doente não perceber suas próprias

distorções, ela acha que os males de sua vida provêm de fora. Quanto mais

doente, tanto mais ela acha que suas dificuldades são causadas por forças

externas. Uma pessoa que, por exemplo, esteja num estado de psicose, vê o

mundo como hostil; ela acha que tudo acontece para ela a partir do mundo externo,

abandona completamente sua responsabilidade pessoal por sua vida e suas

ações”.

A manifestação do mal não é algo intrinsecamente diferente da energia pura

e consciência; é apenas criação que mudou de característica. Em essência o mal

não existe, tão-somente existe na realidade da consciência humana.

Em termos energéticos, o mal significa um desaceleramento, uma

diminuição de freqüência, uma condensação. A pessoa se sente pesada, atada,

imobilizada. Em termos de consciência, quanto mais baixa a freqüência de

movimento, tanto maior a distorção da consciência — e vice-versa.

A consciência, de alguma forma é responsável pela energia que flui dentro

do organismo. Assim o mal é uma coisa muito mais profunda do que os códigos de

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moral o concebem. Ele é anti-vida. A vida é dinâmica, é força pulsante; é energia

e consciência, manifestada de muitas formas; e não há mal nisso a menos que haja

resistência à vida. A resistência é a manifestação do que se chama de mal. Energia

e consciência em distorção criam o mal, afirma Pierrakos.

A sombra tem sido matéria de grande preocupação nas religiões desde os

seus primórdios, e um dos propósitos primários da religião é definir a sombra, bem

como prescrever o comportamento moral humano adequado para se lidar com ela.

Toda religião tem sua própria maneira de dividir O Todo em bem e mal, assim

como as maneiras de se relacionar com essas forças antagônicas.

“No cristianismo nós podemos ver que tentamos atingir os padrões de um

Deus que é puramente luz e não conseguimos lidar com a escuridão dentro de nós.

Assim nós a suprimimos, mas quanto mais fazemos isso, tanto mais ela ganha vida

própria, porque ela não está integrada. Antes que saibamos, nós ficamos em uma

situação difícil” diz Brother David, em The Shadow in Christianity.

William Carl Eichman afirma em “Meeting the Dark Side in Spiritual Practice”

que o lado escuro aparece na meditação para atormentar e tentar o praticante, que

ele é o demônio pessoal, o inferno particular que deve ser enfrentado e

transformado. Quando estudados todos esses lados escuros parecem operar como

tendências impessoais, programações ou complexos neuróticos.

Para Eichman, não há evidência válida para a existência de um demônio. Ele

diz: “Estudando o lado escuro podemos observar que o mal não é um agente todo-

poderoso, conscientemente desgostoso, determinado a agir sobre nós — em

realidade é desequilíbrio, ignorância e coisas acidentais. Armados com esse

conhecimento o praticante pode ficar livre do jugo da superstição”.

“Historicamente os demônios serviram como bodes expiatórios e repositórios

de todo tipo de emoções e impulsos humanos ameaçadores ou inaceitáveis,

principalmente ao redor do fato inexorável da morte.” (Stephen A. Diamond, em

Redeeming Our Devils and Demons).

Jung diz que os demônios nada mais são que invasores vindos do

inconscientes, irrupções espontâneas de complexos inconscientes na continuidade

do processo consciente.

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As investigações de Jung durante toda sua vida de exploração das

poderosas forças arquetípicas do inconsciente levaram-no a concluir que elas

possuem uma energia específica que causam ou compelem a modos definidos de

comportamento ou impulsos; ou seja, elas podem sob certas condições possuir

uma força obsessiva ou possessiva.

May nos faz lembrar que “daimonic”3 é qualquer função natural que tenha o

poder de assumir a pessoa inteira. Sexo, eros, raiva e cólera, bem como a ânsia de

poder, são exemplos disso.

Para May o daimonic pode tanto ser criativo como destrutivo, sendo

normalmente ambos. “Quando, por alguma razão, esse poder acontece de uma

forma que não foi planejada e um elemento usurpa o controle sobre a

personalidade total, nós temos a daimon possessão, o nome tradicional da psicose

através da história”.

O daimonic obviamente não é uma entidade, porém se refere a uma função

arquetípica fundamental da experiência humana — uma realidade existencial, para

May.

TENTANDO ENCONTRAR UMA RESPOSTA

Relatamos agora o estudo de caso do trabalho que desenvolvemos com

uma senhora, a quem daremos o nome de Jane.

Jane nos procurou dizendo estar sofrendo muito, que sua vida estava muito

difícil, principalmente quanto aos seus relacionamentos e não sabia o que fazer

para melhorar. Suas

dificuldades de relacionamento eram tanto com seus colegas de trabalho quanto

com seus entes familiares.

Jane tinha duas filhas, frutos de relacionamentos distintos, estando sem um

companheiro na época em que a conhecemos.

3 daimonic – preferimos manter o termo usado por May no original por não encontrar uma tradução adequada.

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Relata que geralmente é muito impaciente com a filha mais velha, com

quem se identifica mais. Entretanto seus conflitos maiores são em relação ao pai

da filha mais nova e sua atual companheira. Jane costuma brigar com o ex-

companheiro todos os dias. Reclama da atual esposa dele, dizendo que ela é má,

forte, poderosa e manipuladora, fazendo qualquer coisa para ter seus próprios

desejos satisfeitos. Jane não quer que sua filha se relacione com aquela mulher,

mas quer que o pai dê atenção e fique próximo da filha. Ela o proíbe de levar a filha

para sua casa, mas quer que ele a pegue na escola todos os dias.

Em relação à sua figura, no começo ela parecia muito fraca fisicamente e

frágil emocionalmente, mostrando-se desenergizada, nervosa e excitada.

Geralmente chegava à sessão muito “fora de si”, fazendo uma nuvem cor de rosa

ao redor de seu campo energético e se mostrando muito doce, gentil e amável.

Entretanto a percebemos como sendo uma pessoa muito confusa. Impressão essa

que foi se confirmando à medida que sua terapia progredia, principalmente quando

falava sobre “aquela mulher má”, seu ex-marido e suas dificuldades no local de

trabalho. Naquelas ocasiões também percebíamos uma nuvem preta ao redor e

atrás dela. Foi aí que ela nos informou que estava comparecendo a um trabalho de

desobsessão.

A partir do progresso terapêutico, pouco a pouco começou a perceber o

quanto ela própria tinha daquela mulher má, aumentando sua consciência a

respeito de sua sombra que projetava sobre sua oponente. Assim trabalhamos para

que integrasse aquela parte dela que renegava. Como conseqüência observamos

que ela começou a ganhar mais força vital, mostrando-se gradualmente mais forte.

Também trabalhamos seu complexo de culpa. Falando sobre sua obsessão,

ela nos disse que tinha feito um aborto poucos anos atrás e que o bebê era seu

atual obsessor. Além do trabalho de desenvolvimento de consciência, fizemos

algumas sessões de cura energética, principalmente trabalhando os problemas em

seu segundo chakra, que fica na região do seu útero. Fizemos também a

reconexão dos cordões de ligação com seu bebê indesejado, trazendo cura para a

sua relação com o feto abortado. Depois disso pudemos perceber que “o bebê

abortado” perdoou sua mãe, o que permitiu que ela perdoasse a si mesma.

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Depois de algumas semanas percebemos mais clareza em sua mente e

em seu campo vibracional. Foi então que ela nos informou que a desobsessão que

vinha fazendo havia terminado.

Nosso entendimento foi que havia de fato um paralelo entre o processo de

obsessão do qual vinha se tratando no centro espírita e o que percebemos no início

da terapia tanto em seu campo energético como a nuvem escura quanto através do

seu comportamento, caracterizado por confusão mental, nervosismo e

instabilidade. Conforme o tratamento progredia ela integrava mais aspectos de sua

sombra, seu campo de energia se tornava mais claro e sua mente mais coerente e

de novo o paralelo com a finalização do trabalho de desobsessão que vinha

recebendo no centro.

Continuamos trabalhando para integrar outras partes de seu self renegado.

A cada dia que passava ela se aproximava mais e mais de si mesma, já não

precisava fazer aquela nuvem cor de rosa para parecer amável, podendo ser cada

vez mais real com sua raiva, tristeza e mágoa. Até nossa última sessão ela não

voltou a falar em obsessão, talvez tenha conquistado novas freqüências em seu

campo energético que tornaram impossível a conexão com os obsessores.

Jane esteve sob nossos cuidados entre 13 de Janeiro de 1998 e 21 de

novembro do mesmo ano.

Embora não tenha voltado a relatar que estivesse obsediada novamente,

não podemos dizer que ela não volte a ter que lidar com a obsessão de novo,

porque assim que surgir uma nova questão de seu íntimo para ser trabalhada, ela

pode escolher o caminho de aumentar sua consciência a respeito de si mesma e

assumir a responsabilidade por ela ou Jane pode simplesmente ir ao centro espírita

e pedir aos médiuns para a libertá-la de seu mal.

Esse processo não tem fim; nós, seres humanos, sempre teremos nossa

parte inconsciente, temos a nossa escuridão, a nossa sombra e é nossa a escolha

de como lidar com ela.

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A CURA

Podemos dizer que nossa questão a respeito da obsessão não é exatamente

sobre o fenômeno em si; onde o espiritsmo diz “obsessão” nós dizemos sombra

renegada, e aí tudo bem. Vemos que a grande diferença recai sobre o que

podemos chamar de cura desse mal.

Não podemos ainda esquecer que o espiritismo também usa a palavra

“sombra” relacionada à obsessão, mas quando eles dizem “sombra” se referem ao

espírito maligno que provém da escuridão. Alguma coisa como maus espíritos que

vivem no inferno, em oposição aos bons que provêm da luz.

Hermínio C. Miranda, em “Diálogos com as Sombras”, fala a respeito das

sombras que trazemos no íntimo, enfatizando a importância de que não nos

deixemos dominar por elas, ao afirmar que devemos domá-las. Contudo ele está se

referindo ao fato de como o espírito se esquece do seu passado onde teve um

papel de torturador e se entrega a viver as paixões no momento presente, em vez

de se trabalhar para reparar os erros do passado e se congelando para o seu

passado sombrio. Assim é que esse espírito cria para si mesmo as condições para

se tornar um obsessor e escolhe a via de cobrar do outro em vez de continuar seu

caminho de evolução; pensa que estaria assim se vingando de injustiças sofridas.

Hermínio traz aqui o papel do doutrinador4 que tem a função de mostrar ao

espírito obsessor o encadeamento do passado com o presente, de forma que

possa recordar do seu passado sombrio que sutilmente enterrou no esquecimento,

para assim resgatar sua capacidade de sentimento, que o leva a concordar em ser

levado para as casas de recuperação no mundo espiritual, deixando de torturar

aquele sobre o qual busca se vingar.

Já as sombras, de acordo com o ponto de vista jungiano, que expusemos

acima, se referem aos processos internos vividos pela pessoa que se sente

4 Doutrinador é o médium que convencer o mau espírito a deixar a pessoa através de um trabalho de evangelização.

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obsediada, e não a uma outra entidade que estaria a atormentá-la. Mas de

alguma forma as duas visões tratam da mesma coisa.

Entretanto, a grande diferença é encontrada no processo de cura. Para curar

a pessoa que sofre de obsessão o espiritismo faz o trabalho denominado

desobsessão. Este é o processo onde os médiuns tentam convencer o mau espírito

a deixar a pessoa, perdoá-la pelas questões

do passado entre eles, a fim de libertar a si mesma para continuar seu

desenvolvimento no nível espiritual, que é onde se encontra, e ao mesmo tempo

libertar sua vítima.

Todo esse trabalho é feito com o obsessor e não com a pessoa obsediada.

Algumas vezes a pessoa que está passando pela desobsessão nem toma

conhecimento de todo o processo que é feito; ela pode até estar dormindo ou

inconsciente, mas mesmo estando de alguma forma consciente do trabalho não

significa que ela participe, muitas vezes a desobsessão é realizada em outro

compartimento do centro e não em sua presença.

A ela muitas vezes é dito apenas que está obsediada e que precisa receber

passes5. O verdadeiro trabalho é realizado fora da vista do paciente, para não o

impressionar ou chocar. Isso ocorre porque a desobsessão pode ser uma

experiência traumática para ser observada. O obsessor pode entrar e incorporar

em um médium exibindo toda sua feiúra através do corpo do médium, expressando

deformidades, movimentos agressivos e gestos, falar palavrões,

gritos e gemidos. O Doutrinador vai aos poucos conversando e usando de muita

tática tentando convencer o espírito das trevas através de ensinamentos sobre

bons princípios e demonstrando como ele está tendo desvantagem ao manter seu

jogo de vingança.

O mau espírito pode estar irascível, de forma que os médiuns podem

precisar de um longo tempo para o convencer a deixar “sua vítima” e ir para as

casas de recuperação nos planos espirituais. Ele pode possuir um bocado de ódio

e não estar acessível para mudar sua visão e intenção naquele momento, assim

5 Passe é um trabalho energético feito para limpar e harmonizar a aura.

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pode ser necessário repetir o processo uma porção de vezes.

A pessoa que é vítima da obsessão recebe, além dos passes, água

fluidificada6 e a orientação para cultivar bons hábitos e se autodesenvolver.

Os médiuns recomendam a ela ler os evangelhos todas as noites e realizar

algum trabalho caritativo. Muitas vezes essas pessoas acabam sendo orientadas e

convencidas a irem trabalhar como médiuns no mesmo centro onde recebem

ajuda.

No espiritismo é através da fé, da oração e do cultivo de bons princípios,

tentando ser uma boa pessoa, que ela será capaz de se desenvolver moralmente,

como dizem, vindo a se livrar da influência dos maus espíritos. É pela força da

vontade, que precisa ser fortalecida, tentando ser melhor e pedindo a ajuda de

Deus que ela se desenvolverá.

O fato é que a pessoa que se tornou vítima das obsessões, encontra-se sem

nenhum poder sobre si mesma e se torna dependente do centro para libertar-se de

suas mazelas. Um médium amigo nos contou que conhece pessoas que são

verdadeiras adictas em passes, pois na medida em que vão ao centro e se sentem

aliviadas de suas dores e aumenta seu bem estar, acabam se viciando em receber

o tratamento energético que nada lhes custa, em vez de tentar adentrar às raízes

de seus males, num processo de auto conhecimento.

O inimigo ou oponente, segundo a visão do espiritismo, é visto como sendo

uma outra personalidade que não o indivíduo, é o mau espírito, o vizinho ou alguém

que o atormenta, conceito esse que tem raízes profundas na doutrina espírita. Isso

pode ser observado na forma que o espiritismo interpreta algumas passagens da

bíblia, por exemplo, nas frases “perdoe seu inimigo” e “ame seu inimigo”, bem

como de sua própria doutrina em “reconcilie com seu oponente”.

O espiritismo usa o conceito de karma para explicar o fenômeno da obsessão, de

forma tal que sendo a pessoa uma vítima do seu passado ela não só tem um papel

passivo na

desobsessão, como ainda não tem como evitar uma futura obsessão. Assim sendo,

6 Água fluidificada é água carregada de energia positiva.

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nada mais lhe resta a fazer senão rezar e pedir a Deus para libertá-la de seu

pecado, do qual muitas vezes nem está ciente, por estar muito dissociada de sua

própria escuridão.

De fato, ela não tem como verdadeiramente se libertar do mal que a

aborrece e nem tem o poder sobre si mesma.

Entendemos que ao tentarmos sermos melhores, nós nos dividimos em uma

parte boa, que desejamos melhorar e uma ruim, que negamos e escondemos

jogando todo o nosso lixo para debaixo do tapete. Assim tem muito sentido a

importância de ser vigilante no espiritismo, porque é preciso estar em guarda o

tempo todo a fim de evitar que a parte escura escondida saia e dê sua cara.

Como ajudar o obsediado a se curar, em vez de tornar maior o abismo da

divisão interior?

Pelo conceito de sombra, o inimigo está dentro de nós mesmos, é uma parte

de nós que desgostamos. Assim entendemos que precisamos aprender a amar o

inimigo que reside dentro de nós, nossa parte que odiamos, rejeitamos e acabando

projetando no mundo exterior. Necessitamos reconhecer nossa paixão animal,

nosso ódio, nosso instinto assassino, nossas cobiças, nossa libertinagem sexual e

levar a paz ao nosso interior.

Precisamos perdoar a nós mesmos porque somos seres imperfeitos; somos

humanos e não totalmente luz como gostaríamos de ser.

Conforme diz Andrew Bard Schmookler: “Aquilo que não conseguimos

enfrentar nos pegará por trás. Quando nós ganhamos a verdadeira força para

reconhecer e aceitar nossa condição moral imperfeita, não somos mais possuídos

por demônios.”

Quando nós tomamos posse da luz e da sombra interiores — os nossos dois

opostos —, somos capazes de curar a divisão interior.

Se desejarmos paz nós precisamos tomar posse de nossas sombras,

fazendo um intricado estudo da miríade de jeitos pelos quais nós deserdamos,

renegamos e projetamos nosso egoísmo, crueldade, ganância e assim por diante

sobre os outros. Talvez depois disso, não mais faremos a guerra, seja interior, seja

exterior.

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A paz vem quando humildemente aceitamos nossa condição de

pecadores. A paz significa tornar-se um todo, não se identificando apenas com a

parte boa, é parar de lutar contra o mal.

Como diz Adolf Guggenbuhl-Craig: “O caminho da alma é torto, para dentro

e perturbador. A estrada da alma é a estrada da iniciação para a humanidade

também. Nosso propósito não é ser “bonzinho”, mas ser verdadeiro, conhecer

nosso lado negro, a via negativa, não ser ingênuo e inocente. A iniciação significa

conhecer aquilo de que somos capazes, nossos limites, nossos apetites e desejos.

E isso normalmente é doloroso. Contudo só somos capazes de escolher com

responsabilidade e sabedoria quando estamos conscientes desses fatores.”

Jung disse “não se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas por fazer

da escuridão consciência”— isso significa um trabalho ativo.

Todavia se nós não devemos negar nossa sombra não significa que temos

de nos deixar dominar por ela. Conforme diz John A. Sanford, sobre “Dr. Jekyll e

Mr. Hyde”: “…viver os impulsos mais escuros não pode ser uma solução para o

problema da sombra, porque nós podemos facilmente nos tornar possuídos ou

absorvidos pelo mal, se nós tentarmos fazer isso. Ambos: viver a sombra ou a

repressão dela levam à divisão da personalidade em duas.”

Não devemos sucumbir a coisa alguma, seja ela boa ou má. Manter a tensão

dos opostos é muito penoso, mas é o único modo de cair fora disso; suportar a dor

traz a possibilidade para a totalidade; nós nos abrimos para receber a mão de

Deus.

Sair da dualidade é uma questão de Graça.

Quando nós lutamos contra o mal, estamos fortalecendo os opostos; nos

mantemos presos dentro da sombra.

Nossa força de vontade não é capaz de mudar nossa sombra; nós não podemos

amar nosso inimigo por um ato de nossa vontade.

“Quanto mais puder manter a si próprio livre de princípios difíceis e prontos

para uso, tanto mais preparado se estará para sacrificar seu ego e melhores as

suas chances de ser emocionalmente agarrado por algo maior que si mesmo”,

afirma Liliane Frey-Rohn, em “How to Deal with Evil”.

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A sombra, quando compreendida, é força de renovação, o impulso novo e

produtivo não pode vir de valores estabelecidos do ego. Uma grande quantidade de

energia é liberada quando paramos de suprimir aquela parte de nós.

A sombra pode se tornar nossa amiga ou inimiga, dependendo de nós

mesmos. Trabalhando com ela, nós podemos transmutar a sombra em aliados

úteis, tais como fonte de criatividade, vitalidade e espiritualidade autêntica.

A sombra não pode ser eliminada. Ela está sempre presente e o período

mais perigoso é quando nós pensamos tê-la eliminado. E mais, quanto maior é a

nossa luz, tanto maior é a nossa escuridão. A nossa tarefa como seres humanos é

lidar com a nossa humanidade (ser sujeitado ao nosso inconsciente) nos tornando

mais e mais conscientes de nossa própria sombra, ao invés de projetá-la no

mundo, assumindo a responsabilidade por ela e assim nos expandir.

OBSESSÃO E DESOBSESSÃO NO DIA-A-DIA

Enquanto escrevia este trabalho, por duas vezes tivemos a oportunidade de

ver e experimentar o processo de obsessão acontecendo e encontrar formas de

lidar com ela no dia-a-dia.

Uma delas foi por ocasião da aplicação do questionário de pesquisa com os

médiuns. Acertamos o horário com uma antiga médium (ela vem trabalhando como

médium há mais de 20 anos), para fazer a entrevista e responder ao questionário.

Ela estava bem e disposta a colaborar com nosso trabalho. Chegando em sua casa

nós a encontramos doente, ela quase não podia falar e respirava com bastante

dificuldade.

Ela parecia estar muito mal, e chegamos a tentar não realizar o trabalho que

nos propúnhamos ali com ela, mas insistia para que continuássemos em nosso

intento dizendo que se tratava de uma crise asmática disparada poucos minutos

antes de nossa chegada em função de ter usado produtos de limpeza para

higienizar o banheiro de sua casa e que logo passaria.

Procedemos então à entrevista. Após algum tempo notamos que ela estava

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melhor, falando normalmente.

Observamos também que durante esse tempo em que conversávamos, por

um certo período sentimos um certo mal estar seguido por incontáveis bocejos,

como se estivesse com muito sono.

No final de nossa conversa e estando já mais íntimas, ela nos perguntou se

havíamos notado que ela estava melhor. Concordamos com sua auto avaliação e

ela resolveu nos contar o que verdadeiramente acontecera antes de nossa

chegada. Disse: “Eu comecei a me sentir daquele jeito (doente) assim que recebi o

telefonema me convidando para esta entrevista sobre obsessão, mas eu tive de dar

aquela desculpa sobre produtos de limpeza porque eu não sabia o que fazer ou

dizer a você. Agora eu sei o que estava acontecendo, o obsessor veio para lhe

mostrar o que é obsessão e como ele atua.”

E juntas tentamos também compreender a origem dos inúmeros bocejos e

acabamos por concluir que essa foi a forma de efetuarmos a limpeza energética do

ambiente em que nos encontrávamos, o que a ajudou a se libertar da energia

densa do obsessor.

Nosso segundo contato com a obsessão foi algo que aconteceu conosco. Já

havíamos lido todos os livros sobre o assunto, feito o levantamento com os

médiuns e iniciado a redação do artigo.

Em nossa vida pessoal lidávamos com sentimentos negativos relacionados a

dificuldades de relacionamento com um familiar. Muito embora estivéssemos de

alguma forma conscientes de nossos sentimentos, não conseguíamos nos libertar

deles e nem conseguíamos ver o ente familiar de forma objetiva. A raiva também

não estava muito clara sendo mais fácil ver o quanto a outra parte tornava o nosso

relacionamento complicado.

Naquela mesma época começamos a ter dificuldades com uma vizinha.

Vivendo nesse mesmo local por mais de 10 anos nunca tínhamos tido nenhum

problema com vizinhos. Mas na ocasião percebemos restos e odor de urina em

nossa janela da sala e tudo indicava que o material vinha do apartamento de cima

do nosso. Nele morava uma senhora idosa e portadora de deficiência física, com

quem nos dávamos bem até então.

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A partir do incidente começamos a investigar os motivos que ela teria para

estar jogando urina em nossa janela. Foi quando nos lembramos que havíamos

votado contra seu pedido para que o condomínio arcasse com as despesas de

reforma dos corredores da área comum, que gostaria que fossem feitas para

facilitar sua vida.

Concordamos que o condomínio deveria autorizar as reformas que pedia,

entretanto discordamos de que todos pagassem pelas reformas que seriam para

benefício pessoal. Em nossa opinião ela deveria arcar sozinha com os custos das

reformas que realizasse, mesmo porque sua situação financeira é boa e nada

justifica uma atitude paternalista dos moradores para com ela.

Fazendo uma retrospectiva, identificamos que começamos a sentir um odor

estranho em nossa sala desde o dia da votação, sem conseguir saber do que se

tratava. Finalmente um dia vimos os restos do líquido escorrendo pela janela,

corremos para ver do que se tratava e de onde vinha. Fizemo-nos acompanhar do

zelador do edifício e fomos ao seu apartamento conferir os sinais que a urina

deixava parede abaixo. Ela negava o que estava totalmente claro. Encerramos a

visita dizendo que esperávamos que aqueles fatos não voltassem a ocorrer, caso

contrário chamaríamos um perito e a polícia para nos ajudar a resolver a questão.

Era alto o nosso estado de indignação.

No dia seguinte sua filha veio até nossa porta muito brava, falava de forma

agressiva, ameaçava e fazia gestos de quem queria nos atacar. Em sua opinião

havíamos humilhado sua mãe e queria mais que uma retratação de nossa parte,

ameaçava fazer algo como uma emboscada para nos agredir em algum momento

nas escadas do edifício. Naquela época estávamos morando a sós enquanto eles

formavam uma grande família com cerca de dez pessoas.

A partir daquele momento ficamos com bastante temor de um ataque na

área comum do edifício, quando estivéssemos passando por ali, principalmente

durante a noite. Passamos a evitar sair de casa no período noturno e começamos a

fantasiar a respeito de comprar uma arma e atirar neles, se fosse preciso, pois

sendo uma e eles sendo muitos, apenas uma arma poderia nos proteger,

pensávamos.

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Quando percebemos a extensão de nossa fantasia, vimos que

algo sério estava acontecendo, pois sempre fomos contra o uso de armas.

Resolvemos fazer uma análise interior e foi quando tomamos consciência de que,

além das dificuldades familiares que enfrentávamos, estávamos já envolvidos numa

grande confusão com os vizinhos.

Sem conseguir entender porque andávamos com aquela fantasia, decidimos

conversar sobre o que estava acontecendo com alguns amigos espíritas, um deles

inclusive trabalha como médium em um centro. Havíamos anteriormente

conversado com ela sobre o nosso projeto de pesquisa. Ela e os outros amigos nos

aconselharam a tomar cuidado porque estávamos adentrando num território muito

escuro e perigoso, disseram, explicando que os maus espíritos não gostam de

pessoas que invadem seu território e que uma grande legião deles poderia nos

atingir.

Ficou claro, a partir daquela conversa, que as forças sombrias estavam

tentando guiar nossos pensamentos e ações. Segundo o que havíamos lido sobre

obsessão, essa era a primeira fase do processo obsessivo.

Por um certo momento nos sentimos com medo, questionando se valia a

pena continuar pesquisando e escrevendo sobre o tema. Temíamos não ser

capazes de lidar com tudo que poderia sobrevir caso continuássemos. Quase

mudamos de tema. Resolvemos pensar melhor sobre o que estava ocorrendo para

daí tomar uma decisão. Vimos que tinha chegado o momento de praticar tudo o

que tínhamos aprendido a respeito de como abrimos brechas em nós mesmos para

receber as influências dos espíritos malignos.

Começamos nos perguntando como havíamos aberto as portas para

sintonizar com o obsessor. Tentando encontrar resposta para a questão, fomos ao

problema com o ente familiar. Após uma profunda e honesta análise de nosso

mundo interior, pudemos perceber uma série de coisas que justificavam a situação

criada. Em primeiro lugar, vínhamos nutrindo sentimentos negativos a respeito

daquela pessoa e que eram mantidos fora de nossa consciência. Além disso, não

estávamos sendo capazes de olhar objetivamente para nós mesmas. Logo, tinha aí

tudo o que era preciso para formar as brechas que dariam início ao processo.

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Então decidimos fazer três coisas diferentes, para nos libertar:

Em primeiro lugar despendemos bastante tempo fazendo um trabalhando

interno no sentido de aumentar nossa consciência sobre os pensamentos negativos

e tomar posse de nossa sombra.

Em segundo lugar oramos e acendemos velas pedindo por mais proteção

divina.

E por último decidimos que era hora de quebrar aquele tipo de conexão que

havia se estabelecido entre os vizinhos e nós.

Implementamos as três decisões tomadas e poucas semanas após sentimos

que tudo estava bem, logo decidimos continuar com o projeto que havíamos

interrompido e o colocar novamente em andamento, porém com mais atenção ao

nosso próprio lado escuro dessa vez.

Nas duas ou três semanas seguintes a filha da vizinha ainda continuava

dirigindo palavras agressivas contra nós sempre que passava por perto. Adotando

a posição de não engajar mais com as forças negativas, simplesmente

ignorávamos seus insultos, mantendo um ar de neutralidade e humildade. Depois

de algumas semanas sem dizer nada tivemos a oportunidade de dirigir-lhe um

gesto de gentileza, que foi prontamente aceito. A partir de então nosso

relacionamento voltou a ser o que era antes do incidente.

Aprendemos por experiência própria como nós podemos dar abrigo ao

obsessor e como podemos nos libertar dele, na medida que aumentamos nossa

consciência a respeito de nossos processos internos e tomamos posse de nossa

sombra.

CONCLUSÃO

Diante do trabalho desenvolvido por nós, podemos concluir que obsessão é

a sombra renegada em ação. Em relação à hipótese que formulamos no início, fica

bastante claro que a pessoa obsediada de fato não é uma vítima. Poderíamos até

mesmo dizer que a pessoa é obsediada por si mesma. Não estamos dizendo que

os maus espíritos não existem, não é essa a questão, o fato é que anterior a tudo

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isso, está o processo onde a pessoa tem uma espécie de auto-obsessão.

Suely Caldas diz que a obsessão pode ser de seis diferentes maneiras:

1. De uma pessoa encarnada para outra encarnada — Quando uma

pessoa usa sua habilidade para mentalmente dominar a outra, eleita como

vítima. Isso aparece mascarado com o nome de ciúme, inveja, paixão, ânsia

de poder, orgulho, ódio e geralmente é tão sutil que a pessoa dominada julga

a si mesmo como sendo amado por essa outra pessoa.

2. De um desencarnado para outro desencarnado — O mesmo drama

que temos aqui na face da Terra continua no nível espiritual inferior.

3. De um encarnado para um desencarnado — Ocorre quando a pessoa

mantém-se apegada a um ente querido morto.

4. De um desencarnado para um encarnado — É a ação maléfica de um

espírito sobre uma pessoa. É a forma mais comum de obsessão.

5. Obsessão mútua — Pode acontecer em todos os tipos de obsessão.

6. Auto-obsessão — A pessoa que fica vivendo no passado, o fantasma

de sua vítima ainda vive, mantido como memória inconsciente que a

atormenta.

Depois do estudo e experiência que tivemos com o tema, podemos concluir

que qualquer tipo de obsessão só acontece na medida que a pessoa se fragiliza e

não assume conscientemente tudo o que ela é, renegando partes suas que

acabam sendo projetadas nos outros.

A partir disso ela pode entrar em sintonia com outras pessoas ou entidades na

mesma faixa de vibração e então se tornar obsediada. Processo esse que pode ser

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revertido a qualquer momento, na medida que a pessoa seja capaz de tomar

posse de sua sombra. Feito isso ela não terá atenderá mais as condições

necessárias para ser influenciada pelos espíritos malignos, cessando

automaticamente o processo obsessivo.

BIBLIOGRAFIA

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Brasileira, 1990.

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ANEXO I No anexo I consta o questionário que usamos na entrevista com os médiuns.

ENTREVISTA COM MÉDIUNS

1. O que é obsessão para você?

2. Como é feita a desobsessão no centro onde você trabalha?

3. Como você identifica que um indivíduo está obsediado?

4. Você relaciona o processo de obsessão com algum outro processo vivido

pelo obsediado, de ordem física, mental ou emocional?

5. Como pode-se dizer que está completo o trabalho de desobsessão?

6. O que é feito para evitar reincidência?

7. Quanto comum e freqüente é a reincidência?

8. Conhecendo uma pessoa, você tem como dizer que ela poderá vir a ser ou

não obsediada?

9. Você acha que a doutrina espírita é plenamente entendida e praticada nos

trabalhos desenvolvidos nos diversos centros ditos kardecistas no Brasil?

10. O que você acha que poderia ser feito para melhorar o que é feito

atualmente?

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ANEXO II

No anexo II consta o roteiro da entrevista feita com os freqüentadores dos centros

pesquisados

1. Por que você procurou o centro?

2. Foi dito a você que se encontra obsediado(a)?

3. Que tipo de tratamento foi lhe sugerido fazer?

4. Você relaciona essa obsessão com algum outro problema que esteja

vivendo no momento? Qual?

5. Você se acha uma pessoa nervosa ou com dificuldades emocionais?

Explique.

6. Você faz terapia ou algum outro tipo de tratamento para ajudá-lo(a) a

resolver seus problemas?

7. Você acredita que seria possível relacionar a obsessão com suas

dificuldades emocionais? Como?

8. Por que você acha que se tornou vítima de obsessão?