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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ MARIANA ROSSI DE SOUZA OBTENÇÃO E ESTABILIDADE ELETROQUÍMICA DE NANOTUBOS AUTO- ORGANIZADOS DE TiO 2 SOBRE OS BIOMATERIAIS: Ti-GRAU 2 E A LIGA ORTOPÉDICA Ti6Al4V PARA AVALIAÇÃO DA BIOATIVIDADE SUPERFICIAL CURITIBA 2014

Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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Page 1: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MARIANA ROSSI DE SOUZA

OBTENÇÃO E ESTABILIDADE ELETROQUÍMICA DE NANOTUBOS AUTO-

ORGANIZADOS DE TiO2 SOBRE OS BIOMATERIAIS: Ti-GRAU 2 E A LIGA

ORTOPÉDICA Ti6Al4V PARA AVALIAÇÃO DA BIOATIVIDADE SUPERFICIAL

CURITIBA

2014

Page 2: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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MARIANA ROSSI DE SOUZA

OBTENÇÃO E ESTABILIDADE ELETROQUÍMICA DE NANOTUBOS AUTO-

ORGANIZADOS DE TiO2 SOBRE OS BIOMATERIAIS: Ti-GRAU 2 E A LIGA

ORTOPÉDICA Ti6Al4V PARA AVALIAÇÃO DA BIOATIVIDADE SUPERFICIAL

Dissertação apresentada como requisito parcial à

obtenção do grau de Mestre ao Programa

Interdisciplinar de Pós-Graduação em Engenharia

(PIPE), Área de Concentração de Engenharia e

Ciência dos Materiais, Setor de Tecnologia,

Universidade Federal do Paraná.

Orientadora: Prof.ª Dra. Cláudia E. B. Marino

CURITIBA

2014

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S729o

Souza, Mariana Rossi de

Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto-organizados de

TiO2 sobre os biomateriais: Ti-grau 2 e liga ortopédica Ti6A14V para avaliação

da bioatividade superficial. / Mariana Rossi de Souza – Curitiba, 2014.

121 f.: il. [algumas color.]; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de

Tecnologia, Programa de Pós-graduação em Engenharia e Ciências dos

Materiais - PIBE, 2014.

Orientador: Cláudia E. B. Marino

Bibliografia: p. 111-121.

1. Biotecnologia. 2. Materiais biomédicos. 3. Tecnologia química. I. Marino,

Cláudia E. B. II. Universidade Federal do Paraná. III. Título.

CDD: 660.6

Page 4: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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Page 5: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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Dedicatória:

Dedico este trabalho a toda a minha família,

especialmente ao meu marido Luiz Henrique e

aos meus filhos Ana Carolina e Vítor Henrique.

À minha mãe e ao meu pai que, de algum lugar,

sei que está vibrando por mais esta conquista e

aos meus queridos irmãos, que tanto se orgulham

deste feito.

Page 6: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por tudo que me permitiu realizar.

Agradeço ao meu marido Luiz Henrique pelo extremo companheirismo, possibilitando

que eu me dedicasse a este projeto quase que integralmente. Aos meus filhos, agradeço

pela paciência que tiveram comigo nos momentos mais críticos, sempre me apoiando e

me incentivando. Meus amores, vocês são maravilhosos!

Agradeço à minha mãe, que sugeriu que eu voltasse ao ambiente acadêmico e que

sempre me incentivou e me deu força para que eu fosse até o fim neste projeto.

Obrigada querida mamãe, amo você!

Ao meu saudoso pai, que sempre me incentivou aos estudos. Sei que deve estar muito

orgulhoso por mais este feito. Pai, obrigada por tudo, amo você!

Agradeço aos meus irmãos, Marcelo e Márcio, pelo apoio e orgulho que têm por mim e

por confiarem na minha capacidade de realizar este projeto, muito obrigada!

A todos os amigos que de uma maneira ou de outra influenciaram positivamente na

realização deste sonho. Aos colegas da Engenharia de Materiais de São Carlos que

apoiaram a realização deste trabalho e torceram por mim, vocês são muito especiais!

Aos meus colegas de laboratório, Letícia Taminato, Vanessa Brustolin, Kayam Haidar,

Ricardo Namur, Luciane Santos, Fabiano Thomazi, Mariana Portella, Karla Reyes e

Lucas Mello, obrigada por todo o apoio, pelos momentos de descontração, pelas

discussões teóricas, pela ajuda em todos os sentidos, vocês são especiais! Que Deus os

abençoe!

À minha orientadora, Prof.ª Cláudia, um agradecimento especial por tudo que fez por

mim, por toda a paciência, dedicação, orientação, discussões, conselhos e ainda mais

pelos momentos de descontração e amizade. Professora você é nota dez, obrigada por

tornar nossas conversas tão especiais!

Professora Neide, muito obrigada pelo apoio em todos os sentidos, principalmente

deixando-me a vontade para frequentar seu laboratório e demonstrado tanto carinho por

mim.

Agradeço ao pesquisador Nilson T. C Oliveira pelo apoio e pelas discussões tão

proveitosas, por ter me recebido tão cordialmente em São Carlos, muito obrigada!

Ao professor Dr. Wido Schreiner, pelas medidas de XPS realizadas no laboratório de

Superfícies e Interfaces/UFPR.

Aos professores Dr. Patrício Zamora e Dr. Marco T. Grassi pelas discussões a respeito

das análises qualitativas na solução utilizada para avaliação da bioatividade in vitro.

Page 7: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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RESUMO

A resistência mecânica, resistência à corrosão, biocompatibilidade e a resposta bioativa

da superfície de um implante são alguns dos fatores mais importantes na escolha de

implantes endósseos no que diz respeito à funcionalidade e a capacidade

osseointegrativa. O titânio e suas ligas apresentam o melhor desempenho dentre os

biomateriais metálicos para implante, pois possuem excelentes propriedades mecânicas

e de resistência à corrosão, entretanto a condição superficial do implante é o que

determina o grau de interação osso/implante e a bioatividade. Assim, a superfície do

metal modificada pelo recobrimento com nanotubos auto-organizados de TiO2,

proporciona aumento da área superficial específica do implante, aumentando sua

energia de superfície, podendo torná-lo mais bioativo. Tal modificação de superfície,

pode levar a maiores taxas de osseointegração, com provável redução do tempo de

formação e crescimento de osso neo formado. Desta forma, um dos objetivos deste

estudo foi determinar parâmetros de anodização potenciostática para a obtenção de

nanoestruturas de dióxido de titânio (TiO2) sobre Ti grau 2, utilizado em implantes

dentários, e sobre a liga ortopédica Ti6Al4V. A seguir, avaliar a estabilidade

termodinâmica e o processo de dissolução espontânea das camadas nanoestruturadas,

através da técnica de potencial de circuito aberto (ECA). Finalmente, a análise da

bioatividade dos materiais recobertos por nanoestruturas em solução SBF (simulated

body fluid). Por meio da otimização de parâmetros de potencial e tempo, 15 V e 20 V

por 1h, foi possível obter uma camada uniforme e homogênea de nanotubos auto-

organizados com diâmetros médios entre 80 nm e 100 nm que, de acordo com estudos

recentes, tendem a melhorar a bioatividade superficial do implante. A análise de ECA

dos biomateriais estudados, recobertos com óxido nanotubular, apresentaram-se mais

nobres que os óxidos compactos, com resultados de potencial mais positivos quanto a

estabilidade termodinamicamente do óxido de TiO2. Além disso, há o selamento dos

nanotubos e da presença de íons Ca e P adsorvidos, após imersão em sangue artificial a

37 ºC por diferentes períodos de tempo. A análise e caracterização morfológica das

amostras foram feitas através de imagens de microscopia eletrônica de varredura (MEV)

e o programa ImageJ foi utilizado para medir os nanodiâmetros. A caracterização

química semi-quantitativa dos elementos superficiais e a determinação dos óxidos

superficiais presentes foram feitas através de espectroscopia EDS e XPS,

respectivamente. A investigação da bioatividade foi realizada por meio de teste de

imersão in vitro em solução de SBF das amostras de Ti6Al4V com filme de nanotubos

Page 8: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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que apresentaram selamento/precipitação de íons Ca e P adsorvidos em sua superfície

comparada com a bioatividade de amostras com óxido nanotubular sem o

selamento/precipitação. As amostras sem o selamento apresentaram morfologia globular

referente à presença de hidroxiapatita após 15 dias de imersão em SBF o que indica um

comportamento favorável na osseointegração se utilizado em implantes médicos in vivo.

Palavras-chave: biomateriais, nanotubos auto-organizados de TiO2, estabilidade

eletroquímica, bioatividade.

Page 9: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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ABSTRACT

The bioactive response of an implant surface and its human body interaction is an

important factor in an implant choosing. Titanium and its alloys have the best

performance of orthopedic implants; have excellent mechanical properties, corrosion

resistance and biocompatibility. However, the implant surface conditions leads to a

better bone/implant interface and the TiO2 self-organized nanotubes layers, as surface

modification, increases the specific surface implant area, improving osseointegration

and can reduce the training time of neo formed bone. One of the purposes of this study

was determine potentiostatic anodization parameters to obtain titanium dioxide (TiO2)

self-organized nanotubes layers on Ti 2 grade, used in dental implants, and on the

orthopedic Ti6Al4V alloy. By open circuit potential (OCP), obtain electrochemical

stability data of self-organized TiO2 nanotubes layers after different immersion periods

in artificial blood fluid. Finally, study the bioactivity improvement of nanostructured

materials, by means of immersion in SBF (simulated body fluid). Through the ideal

specific parameter it was possible to obtain a uniform and homogeneous self-organized

nanotubes layer with an average diameter (80 nm to 100 nm) which, according to

literature, tend to improve the bioactivity of the implant surface. The OCP (open circuit

potential) nanotubes oxid analysis showed noblest potential and thermodinamic stability

results to TiO2 when compared to compact oxid besides sealing of nanopores by Ca and

P ions adsorbed on their surface after different times in artificial blood at 37 °C. The

samples analysis and characterization were made using images from scanning electron

microscopy (SEM) and the nanodiameters were obtained by ImageJ software. The

surface elements characterization was made by EDS and the chemical characterization

by XPS spectroscopy. Furthermore, the Ti6Al4V with nanotubes layer sealed by Ca e P

ions, adsorbed on their surface, and non-sealed samples, were submitted to in vitro

immersion tests during 15 days in simulated body fluid (SBF), wherein scanning

electron microscopy confirmed the ability of the non-sealed nanotubes layer in

nucleating hydroxyapatite, possibly indicating a favorable osseointegration when used

in medical implants in vivo.

Keywords: biomaterials; self-organized Nanotubes of TiO2; electrochemical stability;

bioactivity.

Page 10: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Propriedades mecânicas para o Ti cp (F67) e Ti6Al4V (F136) Tabela 2: Dimensionamento dos diâmetros dos nanotubos obtidos sobre o Ti grau 2 e sobre a liga Ti6Al4V.

Tabela 3: Porcentagem atômica dos elementos presentes na camada de HAP

(hidroxiapatita) obtida sobre o óxido nanotubular crescido a 15 V e 20 V por 1h em

TI6Al4V.

Page 11: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AFM – Atomic Force Microscope (Microscopia de Força Atômica)

ASTM - American Society for Testing and Materials (Sociedade Americana para Testes

e materiais)

ºC – Celsius

CE – Contra-eletrodo

ECA – Potencial de Circuito Aberto

ECS – Eletrodo de Calomelano Saturado

EDS - Espectrofotometria de Energia Dispersiva

Ef – Potencial Final

Ei – Potencial Inicial

ELI – Extra Low Interstitial (Ultra baixo elementos intersticiais)

ER- Eletrodo de Referência

ET – Eletrodo de Trabalho

GPa – Gigapascal (109 Pa)

HFM – High Field Model (Modelo de Alto Campo)

HAP – Hidroxiapatita

ISO – International Organization for Standardization (Organização Internacional para

Padronização)

mA – Miliampère (10-3

A)

MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura

mL - Mililitro

mm – Milímetros

mol – Molaridade

MPa – Megapascal (106 Pa)

mV- Milivolt (10-3

V)

mV/s – Milivolts por segundo

nm – Nanômetros (10-9

m)

PBS – Phosphate Buffer Solution (Solução de fosfato tamponada)

pH – Potencial Hidrogeniônico

PMMA - Polimetilmetacrilato

SBF – Simulated Body Fluid (Solução que simula fluidos corpóreos)

SUS - Sistema Único de Saúde

V – Volt

Page 12: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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XPS – Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por Raios X

μm – Micrômetro (10-6

m)

Page 13: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Válvula cardíaca de aço inox e carbono.

Figura 2 – Parafuso de Ti grau 2 para implante odontológico.

Figura 3 – Haste de liga de titânio para implante femoral.

Figura 4 – Artroplastia do quadril, vista anterior.

Figura 5 – Implante total de quadril.

Figura 6 – Articulação femoral.

Figura 7 – Implante odontológico.

Figura 8– Módulo de elasticidade de alguns metais e ligas utilizados em aplicações

biomédicas.

Figura 9 – Diagrama de Pourbaix para o Ti em meio aquoso: representação dos

potenciais de equilíbrio (E) em relação ao pH.

Figura 10 – (a) Curva típica de anodização eletroquímica (J x t); (b) Voltamograma (J x

U).

Figura 11 - Célula eletroquímica usinada em PP (polipropileno) com rosca inferior e

contra rosca de fechamento; (A) imagem esquemática do posicionamento da amostra,

(B) imagem esquemática do posicionamento do pino de contato.

Figura 12 – Foto das amostras de Ti grau 2.

Figura 13 – Foto das amostras de Ti6Al4V.

Figura 14 – Eletrodo de calomelano saturado utilizado como referência (ECS).

Figura 15 – Multímetro, fonte de tensão, polo positivo (vermelho) ligado ao pino de

contato no eletrodo de trabalho e polo negativo (preto) ligado ao contra eletrodo de

Titânio.

Figura 16 – Diagrama esquemático de um perfil cronoamperométrico típico de uma

anodização potenciostática em eletrólito livre de íons fluoreto.

Page 14: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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Figura 17 - Perfil cronoamperométrico da anodização potenciostática do Ti grau 2, em

20 V/1h, em eletrólito de 1mol.L-1

H3PO4 + 0,3% wt HF.

Figura 18 - Perfis cronoamperométricos da anodização potenciostática do Ti grau 2 a 20

V nos períodos de 0,5h, 1h e 1,5h em eletrólito de 1mol.L-1

H3PO4 + 0,3% wt HF.

Figura 19 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre Ti

grau 2 em anodização potenciostática por 0,5h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V (100.000 x).

Figura 20 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre Ti

grau 2 em anodização potenciostática por 1 h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V (100.000x).

Figura 21 – Perfil cronoamperométrico da anodização potenciostática do Ti grau 2 (25

V/1h) em 1mol.L-1

H3PO4 + 0,3% wt HF.

Figura 22 - Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre Ti

grau 2 em anodização potenciostática por 1,5h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V (100.000x).

Figura 23 – (a) Foto do corpo de prova antes da anodização (lixado); (b) Foto do corpo

de prova de Ti grau 2 após anodização em 20 V por 1h, com óxido nanoestruturado, (c)

Corpo de prova com a região azulada que representa a formação da camada de óxido

compacto.

Figura 24 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre

Ti6Al4V em anodização potenciostática por 0,5h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V

(100.000x).

Figura 25 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre a liga

Ti6Al4V em anodização potenciostática: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V por 1h (100.000x).

Figura 26 – Micrografias obtidas por MEV sobre Ti6Al4V em anodização

potenciostática: a) 15 V b) 20 V e c) 25 V por 1,5h (100.000x).

Figura 27 – (a) Foto da amostra lixada; (b) Foto da amostra de Ti6Al4V após

anodização em 15 V por 1h; (c) foto da amostra de Ti6Al4V após anodização em 20 V

por 1h.d) amostra recoberta com óxido compacto obtido a 20 V por 1h.

Page 15: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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Figura 28 – Curvas de potencial de circuito aberto, para o Ti grau 2 e a ligado Ti6Al4V,

recobertos com camadas de óxido compacto, obtidas a 15 V e 20 V em 1h de

polarização, em solução de PBS.

Figura 29 – Curvas de potencial de circuito aberto para o Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V

recobertos com camada de nanotubos de TiO2 obtidas a 15 V e 20 V em 1 hora de

polarização, em solução PBS.

Figura 30 – Comparação entre o potencial de circuito aberto do Ti grau 2 recoberto por

nanotubos e com óxido compacto em solução PBS, crescidos em 15 V e 20 V durante

1h de polarização.

Figura 31 – Comparação entre o potencial de circuito aberto da liga Ti6Al4V recoberto

por nanotubos e com óxido compacto em solução PBS, crescidos em 15 V e 20 V

durante 1h de polarização.

Figura 32 - Potenciais de circuito aberto do Ti grau2 e da liga Ti6Al4V recobertos com

camada de óxido não nanoestruturado antes da imersão em sangue artificial e após 15 ,

30 e 60 dias em sangue artificial.

Figura 33 – Potenciais de circuito aberto do Ti grau 2 recoberto com nanotubos antes da

imersão em sangue artificial e após 15 , 30 e 60 dias em sangue artificial a 37 ºC.

Figura 34 – Potenciais de circuito aberto da liga Ti6Al4V recoberta com nanotubos

antes da imersão em sangue artificial e após 15 , 30 e 60 dias em sangue artificial a

37ºC.

Figura 35 - Potenciais do Ti grau2 e da liga Ti6Al4V recobertos com nanotubos antes

da imersão em sangue artificial e após 15, 30 e 60 dias em sangue artificial.

Figura 36 – Micrografia obtida por MEV de nanotubos obtidos a 15 V sobre Ti grau 2

imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c) (100.000x).

Figura 37 - Micrografia obtida por MEV de nanotubos obtidos a 20 V sobre Ti grau 2

imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c) (100.000x).

Figura 38 – Micrografia obtida por MEV de nanotubos obtidos a 15 V sobre Ti6Al4V

imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c) (100.000x).

Page 16: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

16

Figura 39 – Micrografia obtida por MEV de nanotubos obtidos a 20 V sobre Ti6Al4V

imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c) (100.000x).

Figura 40 – Micrografas de MEV: Ti grau 2 (a) e Ti6Al4V (b) com camada de óxido

compacto não nanoestruturada, obtida via anodização potenciostática a 20 V/1h em

solução de 1 mol.L-1

de H3PO4. (100.00x).

Figura 41 – Micrografias de MEV: Ti grau 2 (a) e Ti6Al4V (b) com camada de óxido

compacto não nanoestruturada, obtida via anodização potenciostática a 20 V/1h em

solução de 1 mol.L-1

de H3PO4, após imersão em sangue artificial por 60 dias

(100.000x).

Figura 42 – Espectro de EDS (a) da amostra de Ti grau 2 recoberta por camada auto-

organizada de nanotubos obtida em anodização a 20 V/1h, após imersão de 15 dias em

sangue artificial a 37 ºC; (b) a letra A, identifica a região de precipitado, onde foi feita a

análise de elementos, na superfície de Ti grau 2 com nanotubos.

Figura 43 – Espectro de EDS (a) da amostra de Ti6Al4V recoberta por camadas auto-

organizada de nanotubos obtida em anodização a 20 V/1h, após imersão de 60 dias em

sangue artificial a 37 ºC; (b) a letra A identifica a região de precipitado, onde foi feita a

análise de elementos, na superfície de Ti6Al4V com nanotubos.

Figura 44 – Espectro de XPS de Ti 2p obtido para filmes de óxido nanotubular obtidos

via potenciostática a 20 V por 1h, na superfície dos biomateriais.

Figura 45 – Espectro de XPS de O 1s obtido para filmes de óxido nanotubular obtidos via

potenciostática a 20 V por 1h, na superfície dos biomateriais.

Figura 46 – Desenho esquemático das etapas da formação de hidroxiapatita, por meio

das modificações na superfície de implantes de titânio imersos em fluido corpóreo

(SBF).

Figura 47 - Micrografias de MEV após 15 dias de imersão em SBF: Ti6Al4V (a)

superfície com nanotubos obtidos a 15 V (b) nanotubos obtidos a 20 V, ambos com

selamento/precipitação de poros de íons Ca e P após imersão em sangue artificial a

37°C por 30 dias (1000x).

Page 17: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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Figura 48 - Micrografias de MEV após 15 dias de imersão em SBF: Ti6Al4V (a)

superfície com nanotubos obtidos a 15 V (b) com nanotubos obtidos a 20 V, ambos

livres de íons Ca e P adsorvidos em sua superfície (1000x).

Figura 49 – Aspecto da solução de SBF após 1 dia de imersão de Ti6Al4V com óxido

nanotubular na superfície, obtido em eletrólito contendo íons fluoreto (F-).

Figura 50 – Aspecto da solução de SBF após adição de CaCl2.

Page 18: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

1.1 Biomateriais...............................................................................................................16

1.2 Materiais biocompatíveis: metais e ligas...................................................................21

1.3 Tipos de corrosão em implantes................................................................................25

1.4 Processamentos termomecânicos, microestrutura e propriedades do titânio e suas

ligas..................................................................................................................................25

CAPÍTULO II - TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE

2.1 Modificações superficiais: mecânicas, físicas e químicas.........................................27

2.2 Tratamento eletroquímico..........................................................................................29

2.3 Obtenção de óxidos de titânio...................................................................................31

CAPÍTULO III – NANOTECNOLOGIA

3.1 Nanotubos auto-organizados.....................................................................................34

3.2 Nanotubos obtidos via eletroquímica........................................................................36

CAPÍTULO IV – BIOATIVIDADE

4.1 Bioatividade superficial & osseointegração..............................................................42

4.2 Superfície de implante nanomodificada....................................................................44

4.3 Testes in vitro: método biomimético.........................................................................45

CAPÍTULO V – OBJETIVOS.......................................................................................47

CAPÍTULO VI – METODOLOGIA

6.1 Materiais utilizados...................................................................................................48

6.1.1 Célula eletroquímica.............................................................................................48

6.1.2 Eletrodos...............................................................................................................48

6.1.3 Eletrólitos..............................................................................................................50

6.1.4 Equipamentos.......................................................................................................51

6.2 Técnicas eletroquímicas............................................................................................53

6.2.1 Anodização potenciostática..................................................................................53

Page 19: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

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6.2.2 Potencial de circuito aberto..................................................................................53

6.3 Método Biomimético para formação de Hidroxiapatita............................................54

6.4 Metodologia experimental.........................................................................................55

CAPÍTULO VII – RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.1 Obtenção das camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2..............................57

7.1.1 Implante odontológico – Ti grau 2.......................................................................57

7.1.2 Implante ortopédico – Ti6Al4V...........................................................................69

7.1.3 Análise dimensional dos nanotubos de TiO2.......................................................76

7.2 Estudo da estabilidade termodinâmica.....................................................................79

7.2.1 Estabilidade das películas de nanotubos e de óxido compacto de TiO2.............79

7.2.2 Estudo do processo de dissolução espontânea das películas de nanotubos e de

óxido compacto de TiO2 ............................................................................................88

7.3 Caracterizações superficiais....................................................................................105

7.3.1 Análise de elementos - EDS (Espectrofotometria de Energia Dispersiva)........105

7.3.2 Identificação da composição química dos óxidos nanotubulares superficiais -

XPS (Espectrosocopia de Fotoelétrons Excitados por Raios – X)................................108

7.4 Avaliação do crescimento de HAP (hidroxiapatita) sobre a liga ortopédica Ti6Al4V

com óxido nanotubular..................................................................................................111

CAPÍTULO VIII – CONCLUSÕES ...........................................................................118

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................119

APÊNDICE...................................................................................................................129

Page 20: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

20

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

1.1 – Biomateriais

Os biomateriais são por definição: “toda substância ou combinação de

substâncias, exceto fármacos, de origem natural ou sintética, que podem ser usadas

durante qualquer período de tempo, como parte ou como sistemas que tratam,

aumentam ou substituem quaisquer tecidos, órgãos ou funções do corpo” (Willians,

1987). Estes biomateriais foram desenvolvidos para melhorar a vida do ser humano,

seja na substituição articular do conjunto fêmur / quadril com artrose disfuncional,

artérias com aterosclerose ou implantes odontológicos e até para substituição da derme

(Hench et.al., 2002; Williams et. al., 2009).

Um dos primeiros indícios do uso de materiais substitutos no corpo humano

surgiu no século I (D.C) quando romanos chineses e astecas usaram ouro para reparação

dentária. Existem relatos do uso de olhos de vidro e dentes de madeira em substituição

no corpo humano que pertencem à mesma época (Ratner et al., 2004).

O uso de polímero, mais precisamente o polimetilmetacrilato (PMMA), foi

introduzido na odontologia em 1937 e na II Guerra Mundial, na ocasião estilhaços de

PMMA atingiram não intencionalmente os olhos de aviadores e lá permaneceram

ocasionando apenas uma leve reação, sugerindo que alguns materiais poderiam estar em

contato com o corpo humano não apresentando qualquer dano momentâneo.

Em 1960, o cirurgião americano Dr. Charnley usou na substituição total de

quadril o polímero PMMA (polimetilmetacrilato), o polietileno de ultra-alto peso

molecular e o aço inoxidável, conhecido como implante híbrido. A partir desta década

até o início de 1970, a denominação biomaterial foi reconhecida num simpósio

realizado na Universidade de Clemson – EUA (Ratner et al., 2004).

Desde então, com o aumento da expectativa de vida da população a partir da

década de 50, surgiu o crescimento da necessidade da reposição e do reparo de tecidos

moles e duros do ser humano, tais como: os ossos, cartilagens, paredes arteriais,

reposição dentária ou até substituição de órgãos inteiros (Hench et al., 2002; Williams

et al., 2009).

Quando se trata de implantes articulares, o aumento constante do número de

cirurgias para colocação de próteses totais de quadril vem despertando um grande

interesse na comunidade científica e se tornando um problema de saúde pública. Este

fato está relacionado com o aumento da expectativa de vida da população, o número

Page 21: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

21

crescente de acidentes de trânsito, o crescimento demográfico e as doenças congênitas e

degenerativas (Ratner et al., 2004).

Dados da década de 1990 apontaram cerca de 1,7 milhões de fraturas de fêmur

por ano no mundo, com previsões para 2050 de 6,3 milhões/ano (Farias et al., 2005).

A indústria dos biomateriais fatura em média 28 bilhões de dólares por ano com

um crescimento anual estimado em 15% e o faturamento esperado até 2014 é de

aproximadamente 58,1 bilhões de dólares. Os metais, polímeros e cerâmicas são os

protagonistas do mercado de biomateriais sendo que os implantes ortopédicos detém o

maior volume de venda. Aproximadamente 1,5 milhões de implantes ortopédicos são

utilizados em todo o mundo a cada ano, a um custo de 10 bilhões de dólares (Holzapfel

et al., 2012).

Materiais para aplicação biomédica podem ser agrupados em três grandes

classes, conforme a resposta tecidual ao estímulo, ou seja, de acordo com o nível de

interação tecido / implante se observa ou não reação do organismo.

O biomaterial pode ser inerte, ou seja, aquele que provoca resposta mínima ou

quase nula de estímulo tecidual. Bioativo, que estimula a interação entre o tecido

hospedeiro e o biomaterial, melhorando a integração e estimulando o crescimento do

tecido regenerado novo. E, por fim, o biomaterial biodegradável ou biorreabsorvível,

que é inicialmente incorporado ao tecido que será reparado, com o objetivo de dissolver

completamente em um determinado espaço de tempo (Holzapfel et al., 2012).

Em implantes ortopédicos é necessário empregar aqueles materiais bioativos

para que se tenha uma adequada interação osso / implante e consequente

osseointegração (Ratner et al., 2004).

O uso do aço inoxidável em aplicações cirúrgicas teve início em 1926 quando

Strauss patenteou o aço inoxidável 18% Cr - 8% Ni contendo 2 - 4% de molibdênio e

uma pequena porcentagem de carbono, tendo resistência à corrosão suficiente para

implantação no corpo humano. O responsável pela resistência à corrosão é o elemento

cromo que adicionado ao aço em uma proporção acima de 11% em peso permite a

produção de uma fina camada aderente de óxidos na superfície do aço inoxidável que

efetivamente o protege ou o passiva em muitos meios corrosivos (Krauss, 1995).

Entretanto, a destruição da película protetora numa determinada região do implante,

pode conduzir à rápida corrosão do material, propagando-se pelos processos corrosivos,

pites, frestas, corrosão intergranular ou corrosão sob tensão (Tebecherani, 2003). O aço

austenítico ASTM F 138 (classe especial do aço AISI 316L para aplicações médicas) é

um dos metais mais utilizados para implante ortopédico, por conciliar as propriedades

Page 22: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

22

que um biomaterial deve ter: biofuncionalidade e biocompatibilidade, além de ter um

baixo custo em relação a outros materiais metálicos utilizados para implantes, cerca da

metade do valor da tonelada. No entanto, apesar das boas características citadas acima,

esse aço possui suscetibilidade à corrosão localizada, o que limita o tempo de

permanência no interior do corpo humano. A liberação de íons metálicos de Cr e Ni,

dentro dos fluidos e tecidos humanos devem ser consideradas como fonte de problemas

causados ao longo do tempo devido aos conhecidos efeitos tóxicos destes elementos.

(Nonato, 2011).

O titânio e suas ligas têm sido bastante pesquisados e testados em numerosas

situações. Muitos tipos de ligas de titânio são utilizadas em aplicações na área médica,

entretanto o titânio puro e a liga Ti6Al4V são os mais empregados. O sucesso clínico

das ligas de Ti se dá devido às suas propriedades mecânicas, resistência à corrosão e

excelente biocompatibilidade e deste modo, estão sendo empregadas com sucesso no

campo dos implantes ortopédicos, cardiovasculares e dentários (Willians, 1990; Wang,

1996).

As ligas de titânio foram originalmente desenvolvidas, na década de 50, para

aplicações aeroespaciais devido à sua característica peculiar de apresentar uma alta

razão resistência mecânica/massa específica. Apresentam também boa resistência à

corrosão em ambientes de alta agressividade, principalmente os de natureza oxidante ou

contendo cloretos, o campo de aplicação destas ligas então foi ampliado, possibilitando

que ocorressem progressos rápidos e significativos nas áreas de instrumentação médica

e de implantes cirúrgicos (Williams, 1990; Metals Handbook, 1987).

As figuras 1, 2 e 3 são exemplos de biomateriais empregados na substituição de

válvula cardiovascular, implante odontológico e implante ortopédico, respectivamente.

Fig. 1 – Válvula cardíaca de aço inoxidável e carbono; Fig. 2 – Parafuso de Ti grau 2

para implante odontológico; Fig. 3 – Haste de liga de titânio para implante femoral.

(Ratner, 2004)

1 2 3

Page 23: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

23

A artroplastia total de quadril consiste na substituição da articulação

coxofemoral por uma prótese representada pela figura 4. Objetiva-se com isto alcançar

o restabelecimento dos movimentos e o alívio da dor nos pacientes com enfermidades

graves ou acidentes nesta articulação, conservando a estabilidade e restabelecendo a

mobilidade (Turek, 1991).

Fig.4 – Artroplastia do quadril, vista anterior (Findlaw , 2008)

A estrutura do quadril humano, por ser uma região sensível sujeita a elevados

esforços mecânicos repetitivos ao longo dos anos, pode apresentar alguns danos na

cartilagem da superfície articular, e o tecido cartilaginosos não se recompõe

naturalmente, podendo surgir a necessidade da substituição da superfície danificada por

implantes cirúrgicos por meio do procedimento chamado artroplastia total do quadril.

Tal procedimento visa a substituição das partes que compõem a articulação do quadril

formada pela cabeça femoral e o acetábulo pélvico. A substituição de tecidos por

componentes artificiais implantados no corpo humano tem a função primordial de

aliviar dores locais, restabelecendo as funções fisiológicas a fim de melhorar a

qualidade de vida do paciente. Portanto, os componentes artificiais devem ser

biocompatíveis, resistentes e duradouros (Charnley, J. 1979; Saikko, V. 1998; e Zum-

Gahr, K. H. 1987).

O uso de implantes ortopédicos é crescente em todo o mundo, dados históricos

apontam que entre os anos de 1940 até 1975, cerca de 100 milhões de próteses metálicas

Page 24: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

24

foram implantadas em seres humanos (Zum-Gahr, K. H. 1987). Diversos fatores estão

associados a este crescimento de cirurgias de quadril dentre eles destacam-se o aumento

da média de vida para a maioria das populações do mundo, elevado número de casos de

osteoporose e crescente número de acidentes automobilísticos (Alves, H. L. R. 2004;

CGEE, 2005). A grande incidência desta modalidade cirúrgica impulsionou a indústria e

o comércio mundial de produtos ortopédicos articulares, fator que movimentou, no ano

de 2002, cerca de 2,5 bilhões de dólares (CGEE , 2005).

Em 2004, um levantamento com base nos dados do Dep. de Informática do

SUS (DATASUS) apontou a ocorrência de quase 10 mil internações para realização da

cirurgia de artroplastia total de quadril, nas quais foram gastos cerca de 30 milhões de

reais, valor correspondente a 38% das despesas do SUS naquele ano somente para

compra de componentes protéticos articulares. No mesmo ano foram realizados cerca de

1500 procedimentos para revisão e/ou substituição de implantes por falhas prematuras,

representando um gasto extra de quase 7 milhões de reais (CGEE, 2005).

Um estudo do Sistema Integrado Privado de Saúde Nacional (SIS)

considerando o período entre julho de 2003 a julho de 2004 constatou que o custo

médio para o tratamento completo por paciente era em torno de 24 mil reais, valor que

correspondia a um gasto na ordem de 12 bilhões de reais em apenas um ano para o SIS

(Araújo D.V., 2005). Este estudo também constatou que o custo do tratamento no Brasil

tem o valor equivalente ao dos países mais desenvolvidos como os EUA, a Inglaterra e

a Bélgica que gastaram cerca de 9,5 mil dólares por caso tratado em 2001 (Haentjens P.,

2001).

Estatísticas revelam que os principais motivos das chamadas falhas prematuras,

que levam a substituição precoce dos implantes de quadril, ocorrem em função de danos

mecânicos como fadiga ou desgaste nas interfaces de contato entre o componente

femoral e o acetabular, que gera micropartículas (debris) responsáveis pela osteólise

(stress shielding), e consequentemente soltura do implante. Também fatores como

corrosão por pitting e metalose, erros de design, de seleção de materiais, falhas no

processo produtivo dos implantes e, segundo pesquisadores da Sociedade Brasileira de

Quadril técnicas cirúrgicas inadequadas são muito comuns além do posicionamento

e/ou má escolha do modelo de implante (Callister W. D. 2000).

A qualidade da matriz óssea, fatores biológicos e condições clínicas do

paciente para suportar as adaptações necessárias ao bom desempenho dos implantes

também acarretam em substituição precoce de implantes femorais (Fonseca, K. B.,

2005; Dumblenton, J. H. 1986). Acrescentam-se às possíveis causas das falhas

Page 25: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

25

prematuras citadas, a complexidade da artroplastia de quadril e a questão da

osseointegração para as próteses não cimentadas, que também contribuem para a baixa

sobrevida do implante em cirurgias de substituição articular (Ravaglioli A.;1992).

Substituir implantes osseointegrados implica na remoção de tecidos ósseos que

sustentam e aderem às próteses, reduzindo a estrutura hospedeira. Considerando a

invasividade da artroplastia, cirurgias de revisão geram além de um novo processo de

recuperação um segundo trauma pós-operatório (Fonseca K. B.; 2006).

A figura 5 mostra um conjunto completo de implante utilizado em substituição

total de fêmur/quadril.

Fig. 5 – Implante total de quadril (Gheeta M., 2009).

1.2 – Materiais biocompatíveis: metais e ligas

Atualmente são utilizados em implantes metálicos, o aço inoxidável 316L (F-

138), a liga à base de Co-Cr, Ti cp - grau 2 e a liga Ti6Al4V. A aplicação se dá em

válvulas e dispositivos artificias para uso cardiovascular, cirurgia reparadora femoral

(artroplastia total de quadril), pinos e placas em cirurgias na coluna vertebral e

parafusos em implantes odontológicos, entre outros (Niinomi, 2007).

As figuras 6 e 7 mostram, esquematicamente, um conjunto haste/acetábulo

implantado na reconstrução total de quadril e um pino de titânio utilizado em implante

odontológico, respectivamente.

Concha acetabular

Polietileno linear

Cabeça femoral

Pescoço

Haste

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26

Fig. 6 - Articulação Femoral (SBQ, 2014) Fig. 7 - Implante Odontológico (SOBI, 2014)

No entanto, alguns materiais apresentam certas limitações no uso. O aço inox

316L e a liga Co-Cr, por exemplo, sofrem corrosão no meio corpóreo podendo

desprender níquel, cromo e cobalto, gerando reação de hipersensibilidade, doenças

relacionadas com a derme e, até mesmo, carcinogênese localizada (Mc Gregor, 2000;

Wapner, 1991).

Apesar de apresentarem elevada resistência mecânica, o aço inox 316L e a liga

Co-Cr, demonstram grande divergência entre seus módulos de elasticidade e o módulo

de elasticidade ósseo, o que leva em geral à reabsorção óssea provocada pelo implante,

um fenômeno chamado stress-shielding ou osteopenia (início da perda de massa óssea)

(Bobyn, 1990, 1992; Sychterz, 2001). O Stress shielding é a transferência não uniforme

da tensão entre o osso e o implante. A tensão é predominantemente transferida através

do implante porque o módulo elástico do metal pelo qual o implante é fabricado é

geralmente muito maior que o módulo de elasticidade do osso. Isto leva à reabsorção

óssea, que resulta na perda do implante e numa nova fratura óssea após a remoção do

implante (Niinomi et al; 2012). O baixo módulo elástico do metal do implante favorece

a transferência homogênea de tensão entre o implante e o osso (Niinomi M., 2007).

No gráfico da figura 8 encontra-se em destaque o módulo de elasticidade dos

principais materiais utilizados em implantes e a magnitude desta propriedade para

diversas ligas de titânio.

Page 27: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

27

Fig. 8 – Módulo de elasticidade de alguns metais e ligas utilizados em aplicações

biomédicas (Gheeta M, et al,2009)

Comparando-se os valores do módulo elástico dos materiais em destaque,

observa-se que o valor do módulo do Ti cp e da liga Ti6Al4V é aproximadamente a

metade do valor do módulo do aço inox 316L e da liga Co-Cr. Desta forma, apresentam

qualidade superior no que se refere à ductilidade, ou seja, a relação tensão vs.

deformação dada pela fórmula simplificada nº1. Isso demonstra que, quanto maior a

deformação apresentada por um material sob uma dada tensão, menor será o módulo de

elasticidade (Ratner, 2004).

[1] onde, E: módulo de elasticidade; Ɛ: deformação; δ: tensão aplicada

(Ratner, 2004).

Esta característica torna a liga Ti6Al4V um dos melhores materiais empregados

em implantes ortopédicos. Além do módulo de elasticidade destaca-se ainda a baixa

densidade do material, portanto, alta resistência mecânica com baixo peso específico;

alta imunidade à corrosão; quase completa inatividade em meio corpóreo; adequada

biocompatibilidade e alta capacidade de interação com o tecido ósseo e outros tecidos

(Niinomi et al., 2002). Além disso, apesar da presença de alumínio e vanádio acarretar

um ligeiro aumento no módulo de elasticidade, da ordem de 10%, quando comparado

com o módulo elástico do Ti cp (comercialmente puro), tais elementos de liga

Módulo Elástico (GPa)

L

iga

s B

iom

éd

icas

Page 28: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

28

melhoram a resistência à fadiga, propriedade bastante solicitada na aplicação

ortopédica.

Fadiga é definida como um termo que se aplica às mudanças nas propriedades

que podem ocorrer em um material metálico devido à aplicação repetida de forças (ou

tensões), embora este termo também seja aplicado para aquelas mudanças que

conduzem à fissura ou falha. A fadiga é uma redução gradual da capacidade de carga do

componente, pela ruptura lenta do material, consequência do avanço quase infinitesimal

das fissuras que se formam no seu interior. As cargas variáveis, sejam cíclicas ou não,

fazem com que, ao menos em alguns pontos, ocorram deformações plásticas também

variáveis com o tempo. Estas deformações levam o material a uma deterioração

progressiva, dando origem à trinca, a qual cresce até atingir um tamanho crítico,

suficiente para a ruptura final, em geral brusca, apresentando características

macroscópicas de uma fratura frágil (Norton, 1993).

Comparando-se o Ti cp (comercialmente puro) e a liga Ti6Al4V, no que se

refere à resistência à fadiga, observa-se por meio da tabela 1 que o Ti cp apresenta a

metade do valor da resistência à fadiga quando comparado com o valor de resistência à

fadiga da liga Ti6Al4V. Isso indica que o uso mais adequado para o Ti cp se dá na

aplicação em implantes odontológicos, onde a propriedade de resistência à fadiga não é

uma necessidade.

Tabela 1 – Propriedades mecânicas para o Ti cp (F67) e Ti6Al4V (F136)

Material ASTM Condições Módulo Elástico

(GPa)

Tensão de

Escoamento

(MPa)

Tensão

de

Ruptura

(MPa)

Limite de

resistência

à fadiga

(107 ciclos)

Ti F67 30% Trabalhado

a frio – grau 4

110

485 760 300

Ti6Al4V F136

Forjado recozido

116 896 965 620

(Ratner, 2004)

Sabe-se que um biomaterial deve apresentar um alto grau de atoxicidade e este é

o caso do Ti cp e suas ligas que apresentam uma boa resistência à corrosão devido

também à presença de um filme passivo de óxido estável que se forma em sua superfície

de forma espontânea, sendo basicamente o dióxido de titânio (TiO2), o mais comum e

mais estável (Gugelmin, 2009).

Page 29: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

29

Na década de 80, foram observados níveis de alumínio e vanádio nos tecidos

próximos ao implante da liga Ti6Al4V. Contudo, não foi detectado nenhum efeito

tóxico ao corpo humano e vários tratamentos superficiais, e também a presença do

óxido espontâneo na superfície da liga, estavam sendo estudados e utilizados para

impedir a migração destes íons (Gugelmin, 2009).

1.3 – Tipos de corrosão em implantes

Os tipos de corrosão que são pertinentes às ligas utilizadas em implantes são:

pites, frestas, fadiga sob tensão e galvânica, entre outros menos importantes. A corrosão

por pites e por frestas ocorre por ataque localizado resultando em danos ao implante

com liberação de íons metálicos no organismo. O aparecimento do pites ocorre devido à

ruptura do filme de óxido protetor, por defeitos no material ou no filme e a ruptura ou a

presença de frestas na superfície do biometal permite sua exposição aos ataques de íons

cloreto advindos dos fluidos corpóreos (Metals Handbook, 1987; Williams 1990). A

corrosão sob fadiga é o resultado da combinação de um meio eletroquímico e esforços

mecânicos cíclicos que ocasionam a fratura do material. A corrosão pode ser

influenciada pelo tipo de pH do meio, presença de oxigênio e temperatura do sistema. O

efeito do processo de corrosão depende da frequência cíclica da tensão, onde este

processo de corrosão acelera a degradação do material. A corrosão sob tensão é uma

forma de corrosão localizada que ocorre quando um material é simultaneamente

submetido à uma tensão num meio corrosivo. A corrosão sob tensão difere da corrosão

sob fadiga no aspecto das trincas: frequentemente ramificadas (sob tensão) ou seguem

uma direção preferencial e principal de propagação (sob fadiga) e também no modo de

aplicação da tensão uma vez que a carga na corrosão sob tensão é estática equanto

aquela sob fadiga é cíclica (Metals Handbook, 1987; Williams 1990).

1.4 - Processamento termomecânico, microestrutura e propriedades do

titânio e suas ligas.

As propriedades mecânicas, resistência ao desgaste e à corrosão estão

intimamente ligadas à microestrutura do material do implante. As ligas de titânio são

privilegiadas neste sentido já que podem ser obtidas num grande espectro de diferentes

microestruturas dependendo da composição química da liga e do processo

Page 30: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

30

termomecânico de conformação. Esta característica torna as ligas de titânio altamente

passíveis de adequação para requisitos de aplicação e propriedade bastante específicos.

O titânio existe em duas formas alotrópicas, a baixas temperaturas apresenta a

estrutura cristalina hexagonal compacta (HC), comumente chamada de fase ;

acima de 883ºC se forma a estrutura cúbica de corpo centrado (CCC) denominada fase ß

(beta).

A temperatura de transformação da fase para fase ß do titânio puro pode

aumentar ou diminuir dependendo dos elementos que compõem a liga. Os elementos da

liga tais como Al, O, N, etc. que tendem a estabilizar a fase são chamados alfa

estabilizadores e a adição destes elementos aumenta a temperatura de transição da fase

beta. Enquanto que elementos que estabilizam a fase ß são conhecidos como beta

estabilizadores e são eles V, Mo, Nb, Fe, Cr, etc. A adição destes elementos diminui a

temperatura de transição da fase beta (Geetha M., et al, 2009).

As fases e ß formam a base da classificação normalmente aceita das ligas de

titânio. Ligas que contêm apenas estabilizadores e que consistem inteiramente de fase

são chamadas: ligas . Ligas que contém de 1 a 2% de estabilizadores ß e por volta

de 5-10% de fase ß são denominadas como próximas da fase . Ligas contendo altas

quantidades de estabilizadores ß que resultam em ligas compostas por 10 a 30% de fase

ß na microestrutura são conhecidas como: ligas + ß. Ligas com alta concentração de

estabilizadores ß onde a fase ß pode ser contida por resfriamento rápido são conhecidas

como ligas metaestáveis ß. Estas ligas se decompõem para a fase + ß com o passar do

tempo (Geetha M., et al, 2009).

A maioria das ligas de titânio utilizadas em biomateriais pertence à liga com

fases + ß ou a classe metaestável ß. As ligas tratadas termicamente e processadas a

temperaturas abaixo da temperatura de transição ß resultam em estrutura acicular ou

lamelar. Quando estas ligas são mecanicamente processadas abaixo da temperatura de

transição ß (região + ß) e tratadas termicamente nesta região, a microestrutura

encontrada é uma mistura de fases e ß equiaxiais. Dependendo da composição

química da liga, da temperatura de tratamento térmico e da taxa de resfriamento, uma

fração do volume equiaxial e a natureza da fase ß pode mudar. A liga Ti6Al4V é

ainda a liga biomédica α + β mais comumente usada e é normalmente utilizada após

recozimento (Geetha M., et al, 2009).

As ligas α mais comumente utilizadas são as de titânio comercialmente puro em

diversos graus diferentes. São na realidade ligas de titânio e oxigênio, titânio e cobre, e

Page 31: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

31

com a composição ternária Ti-Al-Sn. Grande parte das ligas α-β contém elementos

estabilizadores de fase e que atuam como reforços da fase α, conjuntamente a presença

de 4-6% de elementos estabilizadores β, que permitem que uma quantidade substancial

desta fase se mantenha estável após a têmpera da fase β ou α + β. Estas ligas podem

conter entre 10 a 50% de fase β a temperatura ambiente. As ligas α-β são as de maior

importância comercial se destacando a liga Ti6Al4V (IMI 318), como responsável pela

metade das vendas das ligas de titânio na Europa e nos Estados Unidos (Metals

Handbook, 2004).

A adição de alumínio estabiliza a fase α (hexagonal compacta), enquanto que a

adição de vanádio estabiliza a fase β. A maioria das ligas de titânio é constituída de

cristais da fase α ou contém pequenas quantidades da fase β (cúbica de corpo centrado)

na matriz α. Assim, a propriedade mais importante derivada dessa combinação é a

resistência às cargas cíclicas, as quais um implante ortopédico está sujeito a receber

(Jesuíno et al, 2001).

Murr e equipe de cientistas em 2009 pesquisaram a influência da estrutura

cristalina nas propriedades mecânicas da liga Ti6Al4V e determinaram que a fase α

(HC), apresenta uma densidade de deslocamento da rede atômica no plano basal (0001)

de aproximadamente 4x109.cm

-2 enquanto a fase β mostrou um deslocamento maior no

seu plano de maior empacotamento atômico (111) chegando a 1010

. cm

-2. Concluíram

que a densidade de deslocamento é muitas vezes a maior contribuição microestrutural

para a resistência mecânica e a dureza de uma liga de titânio (Murr et al.2009).

CAPÍTULO II

TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE

2.1 – Modificações superficiais: mecânicas, físicas e químicas.

O maior desafio quando se trata de modificações superficiais de biomateriais é

manter as propriedades mecânicas do material, alcançando as modificações apenas

superficialmente, atingindo assim, o objetivo de influenciar tão somente a biointeração

osso/implante. Se tal tratamento for eficiente, as propriedades mecânicas e a

funcionalidade do dispositivo não serão afetadas e a relação de biocompatibilidade entre

a interface osso/implante tende a ser melhorada (Ratner, 2004). Existem vários

tratamentos superficiais descritos na literatura e, de uma forma geral, são classificados

como modificações mecânicas, físicas, químicas ou eletroquímicas.

Page 32: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

32

As modificações mecânicas de superfície mais comuns são: a usinagem, a

retificação, o polimento e o jateamento (Buser et al.,1999). O objetivo das modificações

mecânicas é obter uma superfície com topografia e rugosidades ideais para biointeração,

remover contaminações superficiais e/ou aumentar a aderência dos tratamentos que

poderão ser feitos posteriormente (Lausmaa et al., 2001). Estas técnicas produzem

modificações físico-químicas e morfológicas nas superfícies dos metais e podem ser

classificadas como de subtração ou adição (Sykaras et al., 2000).

Os processos de subtração são aqueles que retiram uma camada da superfície do

metal, fazem parte destes processos o jateamento de partículas, o ataque químico e mais

recentemente a modificação a laser. Tanto o processo de jateamento quanto o de ataque

químico, necessitam de neutralizadores para remover e neutralizar os ácidos e os óxidos

formados durante o processo, para que se possa utilizar a superfície modificada em um

meio orgânico. A maioria dos implantes comercializados e classificados como híbridos,

implante de articulação fêmur/quadril, por exemplo, têm suas superfícies tratadas pelos

dois processos, o jateamento e o ataque químico (Silva et al., 2006).

O processo de adição por sua vez, é caracterizado pela deposição de uma

camada extra sobre a superfície do metal, produzindo superfícies porosas ou rugosas.

Nestes casos um dos processos mais usados tem sido a aspersão térmica, através do

processo de plasma spray, que é empregado para revestir implantes com titânio ou

hidroxiapatita (Lanchetta et al., 2001).

Apesar de existirem ainda hoje opiniões contrárias quanto à necessidade de um

determinado grau de rugosidade para uma boa osseointegração existem evidências

estatísticas que demonstram uma correlação positiva entre contato osso/implante e grau

de rugosidade (Gugelmin, 2009). Já foi observado que rugosidade entre 0,2 - 5 µm já

são suficientes para ancoragem óssea ao implante (Granato, 2008). Além disso, há

pesquisas atuais que demonstram o desenvolvimento de implantes com bioatividade

comprovada que, através de diversos tipos de tratamentos superficiais como, plasma

spray, deposição por eletroforese e anodização eletroquímica, apresentam uma melhor

interação osso/implante e mais efetiva osseointegração conferindo assim vida útil maior

ao implante (Holzapfel et al. 2012).

Além de usinagem e polimento, outras modificações mecânicas podem ser

realizadas, como o processo chamado sand-blasting ou grit-blasting. Este processo

consiste em jatear a superfície metálica com partículas projetadas em alta velocidade

por ar comprimido. O material utilizado no jateamento é em geral cerâmico (alumina

Al2O3), que possui diversas granulometrias o que altera a rugosidade e outras

Page 33: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

33

características do implante. A desvantagem do processo de jateamento é que partículas

jateadas podem ficar impregnadas na superfície do implante podendo modificar as

propriedades físico-químicas do biomaterial, espessura, morfologia, composição

química, grau de cristalinidade. (Amarante, 2001).

Há vários estudos sobre o jateamento com dióxido de titânio (TiO2) que

indicam boa eficácia quando comparado aos usinados mecanicamente. Um estudo

comparativo entre Ronold e Ellingsen em 2002 mostrou, por testes mecânicos, que a

adesão máxima osso/implante foi obtida com jateamento de partículas de TiO2 com

granulometria entre 180-220

Já os tratamentos superficiais por métodos químicos são em maior número e são

empregados tratamentos ácidos, alcalinos, bioquímicos e o método sol-gel, como

exemplos.

No caso do tratamento com ácidos, são usados ácidos fortes como o HCl,

H2SO4, HNO3, e HF. No tratamento chamado de dual acid-etching é usada uma mistura

de dois ácidos (HCl e H2SO4) concentrados por alguns minutos, a uma temperatura

100°C, onde o implante de Ti é imerso (Park & Davies, 2000; Trisi et al., 2002).

Outro processo também bastante utilizado é o tratamento em solução alcalina

com a presença de NaOH ou KOH a uma concentração de 5 a 10 mol.L-1

com posterior

tratamento térmico a 600°C por uma hora (Kim et al., 1996).

2.2 – Tratamento eletroquímico

O método eletroquímico consiste na oxidação anódica numa célula eletrolítica

que é um dispositivo onde ocorrem reações de oxirredução, permitindo a interconversão

de energia elétrica e química. Na célula eletrolítica o processo não é espontâneo, é

utilizada energia elétrica para produzir uma reação química. As propriedades estruturais

e químicas dos óxidos anódicos que se obtém podem ser variadas dependendo dos

parâmetros do processo como, potencial anódico, composição e concentração do

eletrólito, corrente, tempo e temperatura. Recentemente, o processo de anodização

eletroquímica tem atraído grande atenção devido às modificações de superfície e de

propriedades que proporciona ao biomaterial (Yun K., et al., 2010). Com este tipo de

modificação superficial, obtêm-se óxidos estáveis que promovem melhor resistência à

corrosão e um aumento da bioatividade do material (Chiang, 2009).

Existem três tipos diferentes de controle para realização da oxidação numa

célula eletrolítica: o controle galvanostático, o potenciostático e o potenciodinâmico. O

Page 34: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

34

galvanostático é aquele no qual se aplica uma densidade de corrente constante através

do circuito por um determinado de tempo. No controle potenciostático, o potencial

aplicado entre os eletrodos da célula é mantido constante. De um modo geral, o

emprego de tais métodos como o galvanostático (corrente constante) e o potenciostático

(potencial constante) que utilizam altos potenciais para o crescimento dos óxidos na

superfície são menos favoráveis para o controle dos parâmetros de crescimento dos

óxidos (potencial aplicado, corrente e tempo) (Tossato, 2009). Já, o método

potenciodinâmico, consiste na aplicação de uma varredura linear de potenciais, entre o

potencial inicial (Ei) e o potencial final (Ef), mantendo-se então, o sistema polarizado

em Ef. Quando a varredura é realizada no sentido anódico há a obtenção de óxidos

superfíciais.

Com a aplicação da varredura de potenciais, analisa-se a variação da corrente

em função do tempo, e entre o Ei e o Ef são utilizados potenciais de baixa voltagem (da

ordem de -1,0 V a 5 V) (Kissinger e Heineman, 1983).

Kawashita e colaboradores, em 2009, compararam o crescimento e

desenvolvimento celular na superfície de Ti cp anodizado a 100, 150 e 180 V, por um

minuto (método potenciostático), à temperatura ambiente, utilizando o eletrólito H2SO4.

Observaram que, a camada de óxido formada consistiu numa estrutura tridimensional

apresentando inúmeros poros e o aumento da rugosidade foi diretamente proporcional

ao aumento do potencial de 100 V para 180 V. A porosidade e o tamanho dos poros

aumentaram com o aumento do potencial de 100 para 150 V, enquanto que a estrutura

da camada porosa não se modificou quando o potencial foi aumentado de 150 V, para

180 V. Após sete dias em SBF (solução que simula fluidos corpóreos), as superfícies de

óxido anodizadas a 150 V e 180 V estavam completamente recobertas por uma densa

camada de HAP (hidroxiapatita) enquanto que na amostra de óxido formado a 100 V,

somente algumas poucas formações de apatita foram observadas. Ressaltando que HAP

é uma molécula bioativa que compõe cerca de 65% da porção inorgânica do osso, sendo

aplicada nos estudos biomiméticos indicando a melhoria da bioatividade dos implantes

metálicos.

Souza e colaboradores em 2011 obtiveram camada de óxido sobre Ti cp através

do método galvanostático, em eletrólito a base de cálcio e fósforo empregando duas

diferentes densidades de corrente, 150 mA.cm-2

e 300 mA.cm-2

, por 100 segundos. O

objetivo do experimento foi obter maior rugosidade e porosidade sobre o Ti cp através

de camada porosa de óxido de titânio melhorando a sua capacidade de osseointegração.

Observaram que o tamanho dos poros aumentou com o aumento da densidade de

Page 35: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

35

corrente de 0,9 µm (150 mA.cm-2

) para 3 µm (300 mA.cm-2

). Após a obtenção da

camada de óxido as amostras foram imersas em solução SBF por 14 dias, observaram

formação de camada de HAP em ambas as amostras, no entanto as diferentes

densidades de correntes não causaram nenhuma diferença na morfologia da camada de

apatita formada.

Em 2001, Marino e pesquisadores estudaram a estabilidade da camada de óxido

sobre Ti cp em meio contendo ácido fosfórico. A obtenção da camada de óxido se deu

através do controle potenciodinâmico, onde o eletrodo de trabalho utilizado foi o de Ti

cp, o eletrólito utilizado foi o ácido fosfórico em meio de sais de sódio, num pH entre 1-

5 a uma concentração de 0.5 mol.L-1

. O potencial inicial aplicado (Ei) e final (Ef), para

o método potenciodinâmico de crescimento óxido a 50 mV.s-1

, foi Ei = -1,0 V e Ef =

1,0; 2,0; 3,0; 4,0 e 5,0 V. Inicialmente, a voltametria cíclica foi utilizada para

caracterizar o sistema, variando o potencial final (Ef) entre -1.0 e 5.0 V. Após a

varredura de potenciais puderam observar que a razão de crescimento dos filmes óxidos

ocorre a 2.5 nm.V-1

, independentemente do pH do eletrólito.

Para os biomateriais Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V, a modificação eletroquímica

consiste na oxidação anódica da superfície do implante com consequente formação de

filme óxido, no qual dependendo do eletrólito e dos parâmetros do processo (potencial

anódico, composição e concentração do eletrólito) obtém-se uma variedade de óxidos

anódicos com diferentes propriedades estruturais e químicas (Schmuki, et al., 2011).

Os tratamentos superficiais visam, portanto, modificar a superfície dos metais

implantáveis influenciando positivamente na biointeração osso/implante, podendo

torná-los mais bioativos por meio da modificação morfológica de sua superfície, sem

alteração das propriedades mecânicas e físico-químicas do material.

2.3 – Obtenção de óxidos de titânio

A formação da camada de óxido na superfície do Ti e de suas ligas ocorre

espontaneamente quando o metal está em contato com o ar atmosférico ou com a água,

podendo apresentar os seguintes filmes óxidos, TiO, Ti2O3, e/ou TiO2. O dióxido de

titânio (TiO2) é o mais comum e mais estável sob várias condições (Metals Handbook,

1987). Segundo o diagrama de Pourbaix – E versus pH (figura 9) que indica as espécies

estáveis termodinamicamente, pode-se observar uma extensa faixa de potencial e pH

onde o TiO2 se mantém estável.

Page 36: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

36

O TiO é a camada mais interna em contato com o metal, Ti2O3 é a camada

intermediária e o TiO2 é a que se forma mais externamente. Quando o titânio é imerso

em uma solução oxidante, como na anodização eletroquímica em meio ácido, uma série

de reações ocorre formando nanoestruturas na sua superfície (Liu et al., 2010).

pH

Fig. 9 – Diagrama de Pourbaix para o Ti em meio aquoso: representação dos potenciais

de equilíbrio (E) em relação ao pH (Pourbaix, 1963).

Dentre os óxidos de metais de transição o dióxido de titânio (TiO2) é um dos

compostos mais estudados em ciência de materiais, com mais de 40.000 publicações

nos últimos 10 anos. O interesse das pesquisas está diretamente relacionado a sua

notável atoxicidade quando submetido ao contato com o ser humano e a alta resistência

à corrosão que apresenta (Schmuki, et al., 2011).

O dióxido de titânio (TiO2) pode ser obtido anodicamente segundo a reação 2:

Ti+2H2OTiO2+4H++4e- [2]

Este óxido forma uma película contínua e aderente ao substrato de titânio de

aproximadamente 2 a 10 nm de espessura. A excepcional biocompatibilidade se dá pela

interação desta fina camada com os fluídos corpóreos (Chiang et al., 2009). Tanto a

espessura quanto a composição química da camada de óxido de titânio exibem

importante função na adsorção de proteínas, provenientes dos fluídos biológicos bem

como na atração de células em sua superfície (Yun et al., 2010; Liu et al., 2004).

Page 37: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

37

Assim, a natureza, a composição e a espessura dos óxidos que se formam sobre a

superfície dependem das condições do meio.

As teorias desenvolvidas para explicar a ocorrência de filmes de óxidos sobre

diferentes substratos metálicos existem há mais de 5 décadas, contudo ainda hoje são

estudadas a fim de esclarecer os mecanismos de formação e crescimento destes filmes

sob diferentes meios. O crescimento anódico de filmes de óxidos em meios aquosos

pode ser explicado pelo modelo de alto campo (High Field Model – HFM).

O Modelo de Alto Campo (ou também chamado a Campo Constante) pressupõe

que a força do campo elétrico através do filme óxido diminua com o aumento da

espessura da camada de óxido que se forma. Este modelo é representada pela expressão

3:

j= A exp (Bε) ε = V/L [3] onde, j= densidade de corrente, responsável pela formação do filme óxido; ε= campo

elétrico; V= potencial aplicado; L= espessura do filme; A, B = constantes (parâmetros

dependentes da temperatura) (Marino, 2001).

O titânio pertence a uma classe de metais chamada “Metais Válvula” que é

composta por outros metais, tais como, Nb, Ta, Zr, Hf, Al, V, Mo; estes metais possuem

a característica comum de formação de camada de óxido passiva de difícil redução. Os

óxidos dos metais válvula apresentam grande tendência à formação de óxidos

espontâneos e estáveis em diferentes meios e condições. Com isso, o filme de óxido de

titânio obedece à lei cinética do Modelo de Alto Campo, ou seja, a espessura da película

possui um crescimento linear com o aumento do potencial aplicado. Os filmes de óxidos

crescidos anodicamente sobre o titânio podem se comportar como semicondutores e sua

taxa de crescimento, é de aproximadamente 2.5 nm.V-1

(Marino, 2001). Além disso, em

2004, Marino e colaboradores determinaram, por meio de caracterização XPS (X-ray

photoelectron spectroscopy), que o óxido obtido sobre titânio em solução tampão PBS

(phosphate buffer solution) é o TiO2 (dióxido de titânio).

Yang e equipe de pesquisadores, em 2004, observaram que a oxidação anódica

em solução de 1 mol.L-1

de H2SO4 com um potencial aplicado de 155 V combinada com

tratamento térmico após obtenção da camada de óxido, é um método efetivo para tornar

a superfície do titânio bioativa. Após oxidação anódica, a superfície foi observada e

estava recoberta com camada porosa de óxido de titânio, sendo então submetida a

tratamento térmico a 600°C para cristalização das fases do óxido formado. O titânio

anodicamente modificado foi imerso em solução que simula os fluidos corpóreos (SBF)

Page 38: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

38

por 6 dias e a partir daí ocorreu formação de hidroxiapatita (HAP), caracterizando uma

superfície bioativa.

Em pesquisas dos anos de 2001 e 2002, Zhu e colaboradores utilizaram um

eletrólito de glicerolfosfato de cálcio e acetato de cálcio para formação de camada de

óxido contendo Ca e P em implantes de titânio. Utilizando este eletrólito observaram

que a camada de óxido obtida era porosa, de alta cristalinidade e rica em Ca e P,

elementos que estimulam a osseointegração. A camada de filme óxido obtida

apresentou-se sem microfissuras, aderida ao substrato metálico e com razão Ca/P

próxima de 1,67, que é a razão de proporcionalidade presente num tecido ósseo cortical

normal. Por fim, apresentou propriedades superficiais com resposta biológica positiva.

A anodização eletroquímica é um método simples e eficiente para se modificar a

superfície do titânio e suas ligas, obtendo películas de óxidos que podem melhorar a

biocompatibilidade e a bioatividade dos implantes. A camada de óxido anódico pode

apresentar diversas propriedades que dependem da composição e da microestrutura do

material anodizado e dos parâmetros do processo (potencial de anodização, composição

do eletrólito, temperatura e corrente) (Liu et al., 2004).

CAPÍTULO III

NANOTECNOLOGIA

3.1- Nanotubos auto-organizados

Nanociência pode ser definida como a “área do conhecimento que estuda os

princípios fundamentais de moléculas e estruturas, nas quais pelo menos uma das

dimensões está compreendida entre cerca de 1 e 100 nanômetros”. Estas estrututras são

conhecidas como nanoestruturas, portanto, nanotecnologia “seria a aplicação destas

nanoestruturas em dispositivos nanoescalares utilizáveis”. Há a definição que

“nanoescala não implica apenas uma questão de ser pequeno, trata-se sim, de um tipo

especial de ser pequeno”; é a aplicação de nanoestruturas em dispositivos nanoescalares,

com propriedades fundamentais e específica aplicação. Aliadas a nanoescala estão as

propriedades fundamentais, químicas e físicas dos materiais, que dependem do tamanho

ou, que mantém uma correlação direta com as dimensões, a qual constitui o ponto

principal de toda a nanociência (Ratner, 2004).

Uma definição que demonstra e enfatiza os dois aspectos abordados, tamanho e

sua relação com a propriedade, foi dada por Roco, em 2001, na National Science

Foundation, “o nanômetro é um ponto mágico na escala dimensional. As nanoestruturas

Page 39: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

39

são a confluência do menor dispositivo feito pelo homem e a maior molécula das coisas

vivas. A ciência e a engenharia da nanoescala referem-se aqui ao entendimento básico e

aos resultados dos avanços tecnológicos, oriundos da exploração das novas

propriedades físicas, químicas e biológicas dos sistemas que apresentam tamanho

intermediário entre os átomos isolados, moléculas e materiais estendidos, no qual as

propriedades de transição entre estes dois limites podem ser controladas” (Roco, 2001).

O “tipo especial de ser pequeno” é, portanto, no contexto da nanotecnologia, um

paradigma da maior importância, na medida em que nem tudo que tem dimensões

nanométricas é, necessariamente, nanotecnológico.

A obtenção destas estruturas nanoescalares se dá através de métodos químicos,

nanotecnologia molecular, criação de estruturas orgânicas, inorgânicas e mesmo

híbridas, átomo por átomo, molécula por molécula. É o conhecido, fenômeno de auto-

organização e automontagem. O domínio e a aplicação destes fundamentos têm

permitido a síntese de novos materiais, com as mais diferentes morfologias: são as

nanopartículas, nanotubos, nanofios, nanofitas, nanobastões, nanoesponjas e outras

estruturas (Alves, 2004).

Existem várias maneiras de se obter nanoestruturas, a primeira intitulada por

método assistido foi desenvolvida por Hoyer que utilizou o método de deposição

eletroquímica num modelo já recoberto com alumina porosa (Hoyer et al., 1996). Mais

tarde, outros modelos de recobrimento foram desenvolvidos, como técnicas de sol-gel, e

método hidrotermal com ou sem modelo poroso e, por fim, deposição atômica. Muitos

dos processos são reações de hidrólise ácida catalisadas com Ti precursor alcóxido,

seguidas de uma reação de condensação, isto é, uma espécie de cadeia polimérica

gelatinosa de Ti-O-Ti se desenvolve e depois é hidrolisada resultando num precipitado

de TiO2.

A síntese hidrotermal, que foi primeiramente desenvolvida por Kasuga et al. em

1998; onde um volume de TiO2 em pó é tratado numa solução de NaOH em autoclave

de 100 a 150°C por algumas horas seguido de um tratamento ácido em HCl.

Na deposição atômica, as superfícies de modelos recobertas, por exemplo, com

alumina porosa podem ser recobertas com uma camada atômica após vários ciclos de

exposição a titânio precursor TiCl4 seguida de posterior hidrólise para purificação. Os

métodos apresentados foram desenvolvidos para aplicações bem específicas como na

área de fotocatálise, óptica, elétrica e dispositivos mecânicos e sensores.

Camadas de óxidos de nanotubos auto-organizados ou camadas porosas podem

ser obtidas através da anodização eletroquímica do metal adequado. Este método é o

Page 40: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

40

que se aplica na modificação superficial de implantes metálicos para odontologia e

ortopedia com o objetivo de aumentar a área superficial dos implantes e assim alcançar

uma melhor interação osso/implante melhorando a bioatividade e a osseintegração

(Schmuki, et al., 2011).

Em 2010, Webster e demais pesquisadores desenvolveram um estudo sobre a

relação entre as nanoestruturas de TiO2 e o ataque bacteriano sobre a superfície de

implantes. Para a obtenção dos nanotubos auto-organizados foi utilizado eletrólito à

base de HF (ácido fluorídrico) a 1,5% em massa, aplicando potencial constante de 20 V

por 10 minutos. A estrutura nanotubular obtida apresentou diâmetro de 60 a 70 nm. O

objetivo do experimento foi demonstrar que, com as nanoestruturas (nanorugosidade,

nanotextura e nanotubos), ocorre a redução da adesão bacteriana sobre a superfície de

implantes metálicos à base de Ti e, por meio de testes in vitro, também constataram

aumento da formação de tecido ósseo.

3.2 - Nanotubos obtidos via eletroquímica

A primeira geração de nanotubos auto-organizados de TiO2 foi obtida em 1999

por Zwilling e colaboradores, por meio de anodização em eletrólito de ácido crômico

contendo ácido fluorídrico. Neste experimento, os nanotubos atingiram uma espessura

máxima de 500 nm, não se mostraram altamente organizados e suas paredes

apresentaram certa heterogeneidade. A partir deste experimento padronizou-se que uma

pequena adição de íons fluoreto no eletrólito desencadeia a formação dos nanotubos

(Zwilling et al., 1999).

Este primeiro trabalho indicou que a estrutura nanotubular formada apresentava-

se com microestrutura de fase amorfa podendo conter pequenas porções cristalinas, a

parede heterogênea foi associada à flutuação de corrente no processo e o limitante da

espessura da camada dos nanotubos associado à relação de equilíbrio entre o

crescimento da camada de nanotubos e a dissolução química do eletrólito e eletrodo de

trabalho (Schmuki et al, 2011).

Já a segunda geração de nanotubos de TiO2 foi obtida em 2005 por Macak e sua

equipe. Neste estudo foi observado que o pH influencia diretamente na espessura da

camada de nanotubos, mostrando que condições de neutralidade viabilizam a obtenção

de nanotubos mais alongados. Na presença de eletrólitos não aquosos, a parede dos

nanotubos se mostra mais lisa e pode crescer com mais alta razão de aspecto, ou seja, a

proporção de crescimento é maior na direção longitudinal que radial, além de apresentar

nanotubos mais bem organizados.

Page 41: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

41

Diversos fatores influenciam na morfologia e microestrutura dos nanotubos,

como pH e composição do eletrólito, concentração de F- (íons fluoreto), características

da superfície do metal a ser anodizado , temperatura de anodização, potencial aplicado

(no caso de anodização a potencial constante), teor de água no eletrólito, temperatura,

tempo e atmosfera de tratamento térmico após a síntese eletroquímica. (Macak et al.,

2005).

Utilizando um sistema de eletrólito orgânico, por exemplo, o de etileno glicol,

Albu em parceria com Schmuki em 2007 obteve uma camada de nanotubos quase ideal,

hexagonalmente arranjada com espessura de 250 µm, surgindo então a terceira geração

de nanotubos (Albu et al., 2007).

Formas nanoparticuladas de TiO2 são largamente utilizadas para se alcançar a

melhora de propriedades em função da área superficial. A máxima área de superfície

específica, por exemplo, para qualquer reação catalítica, é necessária para se atingir a

máxima eficiência do processo.

No caso da aplicação em implantes metálicos, o aumento da área superficial

proporciona o aumento da interação osso/implante podendo acarretar um melhor

desempenho da bioatividade do conjunto (Schmuki, et al., 2011).

Na anodização eletroquímica, os nanotubos do óxido de titânio se alinham

perpendicularmente à superfície do substrato e com tamanho bem definido e controlável

vão se formando à medida que ocorre a oxidação do substrato (metal base), e é o que

comumente é chamada de auto-organização dos nanotubos (Schmuki, et al., 2011). O

uso da anodização eletroquímica permite que qualquer superfície de Ti ou outro metal

seja recoberto com uma densa e definida camada de nanotubos e assim, observa-se a

característica de extrema versatilidade no processo de estruturação dos nanotubos.

Quando os metais são expostos a uma diferença de potencial anódica (potencial

a campo constante) em uma configuração eletroquímica, uma reação de oxidação se

inicia.

M M n+

+ ne- [4]

Dependendo principalmente do eletrólito e dos parâmetros particulares da

anodização, existem essencialmente três possibilidades de reação.

Os íons do metal são solvatados no eletrólito, o metal é continuamente

dissolvido (a corrosão ou eletropolimento do metal é observada) ou os íons do metal

reagem com o do eletrólito e formam uma camada de óxido compacto

MO , se o óxido não for solúvel no eletrólito. Sob condições eletroquímicas específicas

Page 42: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

42

ocorre a competição/concorrência entre a solvatação do íon metálico e a formação do

óxido metálico nanométrico tubular, ou seja, a estrutura auto-organizada de nanotubos.

As condições específicas da reação eletroquímica é que estabelecem exatamente

qual morfologia nanotubular será encontrada no final da anodização, tendo-se como

principais parâmetros o eletrólito ácido escolhido, o pH da solução, o potencial

aplicado, o tempo de anodização e o metal ou liga metálica que sofrerá a oxidação

(Schmuki, et al., 2011).

Quando se aplica um determinado potencial à célula eletroquímica contendo

íons fluoreto ocorre, com o passar do tempo, a formação de óxido poroso/tubular. A

concentração de íons fluoreto (F-) interfere diretamente na formação dos nanotubos.

Quando a concentração do fluoreto é baixa (≤ 0,05%), a característica da solução é de

íons fluoreto livres que, após a anodização do material, formam uma camada estável e

compacta de óxido. Desta forma, não há o surgimento dos nanotubos e sim, os poucos

íons fluoreto combinam-se com o Ti do substrato anodizado resultando na molécula da

reação ref.5 que é solúvel no eletrólito.

Ti4+ + 6F- [TiF6]

2- [5]

Com a concentração por volta de 1%, considerada alta, não se observa a

formação de camada de óxido. Todo o Ti4+

formado reage imediatamente com o

fluoreto abundante formando [TiF6]2-

solúvel no eletrólito e se inicia um processo de

corrosão efetivo (mostrada na ref.6).

TiO2 + 6F- [TiF6]2- + 2H2O [6]

Assim, com uma concentração intermediária, entre 0,3% a 0,5% do íon fluoreto

no eletrólito, ocorre a competição entre a formação do óxido de titânio e a solvatação de

Ti4+

da superfície metálica, ocorrendo formação de óxido poroso ou formação

nanotubular (Schmuki, et al., 2011).

Quando se aplica um potencial constante numa anodização eletroquímica obtém-

se o gráfico de corrente versus tempo apresentado na figura 10 (a). A linha pontilhada

representa a anodização sem íons fluoreto obtendo-se apenas uma camada de óxido

compacto. A linha cheia representa o pico de corrente que ocorre quando se inicia a

formação nanotubular. A partir deste ponto ocorre a diferenciação morfológica da

estrutura de nanotubos auto-organizada em diferentes estágios.

H+

Page 43: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

43

Fig. 10 – a) Curva típica de anodização eletroquímica (J x t)

b) Voltamograma (J x U) (Schmuk ; et al., 2011)

A figura 10 (b) representa um voltamograma de varredura de potencial para

diferentes concentrações de íons fluoreto (F-). Com alta concentração de F

- obtém-se o

metal eletropolido, camada de óxido compacto para quantidade insuficiente de F- e

formação de nanotubos auto-organizados para uma concentração intermediária de íons

fluoreto.

Schmuki e colaboradores, em 2007, afirmaram que tentativas têm sido realizadas

para a obtenção de nanotubos em substratos como a liga Ti6Al4V e outras ligas

ortopédicas de titânio. No entanto, dois desafios intrigam os pesquisadores: a dissolução

seletiva dos elementos menos estáveis da liga e as diferentes razões de reação nas

diferentes fases cristalográficas das ligas. Assim, presume-se que, ligas ideais para

formação de nanotubos sugerem uma única fase microestrutural e os elementos da liga

deverão fazer parte preferencialmente da classe dos metais válvula. Ainda, Arenas e

colaboradores em 2011 investigaram a possibilidade de obtenção de nanotubos de óxido

de titânio sobre a liga de Ti6Al4V usando o eletrólito a base de fosfato de amônio

(NH4H2PO4) com a adição de diferentes concentrações de fluoreto de amônio (NH4F).

Algumas morfologias de nanotubos de alta razão de aspecto, ou seja, com proporção de

crescimento maior longitudinal que radial, foram obtidas pelo controle da composição

do eletrólito, mantendo-se uma relação direta com o pH e a concentração de íons

fluoreto.

óxido poroso (OP)

(OP)

OC

OP

Metal eletropolido

b)

óxido compacto (OC)

b)

Page 44: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

44

Sabe-se que a eficiência na formação de nanotubos em eletrólito contendo íons

fluoreto depende de sua concentração. A alta concentração de íons fluoreto no eletrólito

reduz a eficiência de formação do nanotubo, portanto, novamente necessita-se de uma

concentração intermediária de NH4F, ou seja, entre 0.15 mol.L-1

e 0.45 mol.L-1

(Arenas

et al., 2011).

Por fim, permanece o desafio da obtenção de estruturas de nanotubos auto-

organizados de óxido de Ti sobre a liga Ti6Al4V, que é também um dos objetivos deste

trabalho, bem como a reprodutibilidade deste processo de obtenção de nanoestruturas

para fins biomédicos.

Atualmente, 40% dos implantes são confeccionados com peças de titânio e suas

ligas. Mesmo superfícies complexas podem ser revestidas com nanotubos, como roscas

em implantes dentários e implantes completos de quadril, por exemplo.

Alguns estudos têm mostrado que as camadas auto-organizadas de nanotubos de

TiO2 sobre o metal do implante melhora a cinética de crescimento da hidroxiapatita

(HAP) quando comparada com superfícies que contenham apenas a camada de óxido,

atuando positivamente na osseointegração e consequentemente, diminuindo o tempo

total de formação óssea (Schmuki, et al., 2011). Como já descrito, a hidroxiapatita

(HAP) é uma molécula bioativa, que compõe cerca de 65% da parte inorgânica do osso,

sendo um bom indicativo da melhora na bioatividade os estudos biomiméticos

utilizando o crescimento de HAP sobre os implantes metálicos.

Em 2006, Tsuchiya, e demais pesquisadores, estudaram o crescimento de

hidroxiapatita sobre nanotubos de óxido de titânio. Os nanotubos auto-organizados de

TiO2 foram obtidos pelo método eletroquímico em dois diferentes eletrólitos, H2SO4/HF

e Na2SO4/NaF. As camadas de nanotubos auto-organizados tinham comprimento de 2

µm e diâmetro de 100 nm em eletrólito neutro de Na2SO4/NaF e, em eletrólito ácido,

obtiveram camadas de nanotubos com menor espessura, da ordem de 500 nm e o

mesmo diâmetro. Constataram que, as camadas de nanotubos melhoram o crescimento

da hidroxiapatita quando comparado com o crescimento de HAP em camada de óxido

não nanoestruturada, simples. As amostras com camada de óxido simples, que ficaram

imersas em SBF (solução que simula fluidos corpóreos) por 14 dias, não apresentaram

crescimento de HAP, no entanto, aquelas com estruturas nanotubulares apresentaram a

formação de uma fina camada de HAP, no mesmo período de tempo. O recobrimento e

a morfologia da camada de apatita dependem da espessura da camada de nanotubos e

seu diâmetro. A amostra com espessura de nanotubos de 2 µm (mais espessa),

apresentou um crescimento mais eficiente de apatita e, quando estas amostras foram

Page 45: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

45

submetidas a recozimento para cristalização, o tempo para formação de HAP baixou

para apenas 2 dias (Tsuchiya et al., 2006).

Com relação às condições superficiais, Lu e equipe de pesquisadores em 2011,

avaliaram o efeito da rugosidade da superfície na formação dos nanotubos de TiO2

durante a anodização. Compararam o mecanismo de formação dos nanotubos entre

amostras eletropolidas com amostras polidas mecanicamente, e por meio de análise de

materiais por microscopia de força atômica (AFM) observaram que é possível que a

superfície de Ti consista de grãos com diferentes orientações cristalográficas e que a

textura da superfície seja influenciada pela distribuição destes grãos. Ainda, a grande

variação da rugosidade da superfície é bastante significativa e pode implicar no ataque

químico irregular durante a anodização.

Concluíram também que, o que influencia no tamanho dos nanotubos e sua

distribuição é a espessura da camada barreira de óxido. Quanto maior a camada barreira

de óxido mais espessa será a parede do nanotubo, além disso, o pré-tratamento

superficial (lixamento/polimento ou eletropolimento) também influenciam no processo.

Para a amostra modificada mecanicamente, a formação da camada barreira de óxido

acredita-se que se forme mais rapidamente devido a superfície de Ti mais exposta,

propiciando maior oxidação sob a região que sofreu a tensão do lixamento e ligeiro

aumento da temperatura da região a ser anodizada. Por meio deste estudo foi possível

concluir que a modificação mecânica possibilita a obtenção de camadas de nanotubos

auto-organizados de TiO2 com camada barreira de óxido mais espessa, observou-se o

crescimento de um maior número de nanotubos por área anodizada e os diâmetros dos

nanotubos, em função da topografia do substrato, mostraram-se não homogêneos (Lu et

al., 2011).

Resta saber se as camadas de nanotubos são estáveis em meios que simulam

fluidos corpóreos. Para tanto, faz-se necessária a investigação sobre o mecanismo de

dissolução e o grau de estabilidade termodinâmica que possuem as camadas de

nanotubos. A presente pesquisa pretende esclarecer estes pontos por meio de um estudo

sistemático da estabilidade termodinâmica das camadas de nanotubos e da

suceptibilidade à dissolução quando imersas em sangue artificial por diferentes períodos

de tempo, o que faz deste estudo um modelo pioneiro de análise eletroquímica de

dissolução de camada de óxido, pois, não foi encontrado na literatura outro estudo que

fizesse uso da imersão de amostras com óxido nanotubular sobre sua superfície, imersas

em fluido corpóreo corrosivo por diferentes períodos de tempo.

Page 46: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

46

CAPÍTULO IV

BIOATIVIDADE

4.1 – Bioatividade superficial & Osseointegração

Bioatividade é definida como a propriedade de formar tecido sobre a superfície

de um biomaterial e estabelecer uma interface capaz de suportar cargas funcionais

(Ducheyne e Kohn, 1992). Esta propriedade é inerente a algumas substâncias ao

participarem em reações biológicas específicas. A hidroxiapatita (HAP) é uma dessas

substâncias e por isso é muito utilizada como recobrimento para implantes endósseos,

constituindo uma superfície bioativa para ancoramento de osso neo formado.

Quanto à resposta biológica, os biomateriais podem ser: bioinertes, bioreativos e

bioativos. Os bioreativos ficam no limite entre os materiais bioinertes e os bioativos e os

metais válvula, como, o Titânio, Nióbio e Tântalo, adquirem bioatividade após um

tratamento de ativação de sua superfície oxidada. Já os materiais inertes não estimulam

o crescimento tecidual, não provocam reação de diferenciação celular.

Os materiais bioativos classificam-se em: biovidros, vitrocerâmicas bioativas e

as cerâmicas de fosfato de cálcio, dentre as quais a hidroxiapatita é a mais pesquisada.

A desvantagem desses materiais consiste na baixa resistência à fadiga e à tração, o que

limita seu uso como implante ortopédico. Na ciência ainda não foi desenvolvido um

material cerâmico que se iguale às propriedades mecânicas das ligas metálicas

(Marques, 2007).

A hidroxiapatita é o principal componente da matriz óssea (65%) e, como

consequência dessa estrutura bioativa, as suas propriedades como biocompatibilidade e

atividade biológica são fundamentais (Vercik et al, 2003). Dentre as biocerâmicas, a

principal atribuição é a sua alta compatibilidade com o meio fisiológico (elementos

como cálcio, potássio, magnésio, sódio, entre outros) nos quais seus íons se equivalem.

A hidroxiapatita (Ca10(PO4)6(OH)2) e o ß–fosfato tri cálcico (ß–Ca3(PO4)2) são

os materiais mais comumente usados, por serem compatíveis com a fase mineral do

osso e por responderem melhor a aposição de osso no implante (Rosa, 1998).

Para o uso em biomateriais, como os metais válvula e suas ligas, a hidroxiapatita

é considerada osseocondutora, atuando como matriz física e permitindo deposição óssea

e formação de novo osso sobre o implante (Rosa, 1998; Guochao et al., 2008).

Superfícies contendo materiais bioativos têm como principal característica

acelerar mediadores celulares e promover a diferenciação e a proliferação de células

ósseas sobre o implante (Vasudev, 2004). A essa afinidade química entre o material

Page 47: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

47

bioativo e as células ósseas dá-se o nome de osseocondutividade, ou seja, os glóbulos de

hidroxiapatita aceleram a produção de osteoblastos e consequentemente a

osseointegração (Kokubo, 1998; Zhao Xuhui et al ,2005 ).

Diversos trabalhos vêm utilizando a HAP (hidroxiapatita) em testes in vitro para

avaliação de bioatividade de superfícies de materiais biomédicos simulando a provável

atividade osseointegrativa que o biomaterial apresentaria in vivo.

A osseointegração foi primeiramente definida como sendo um contato direto

entre o osso remanescente e a superfície de um implante introduzido na região de

substituição óssea com resposta bioquímica no nível histológico de multiplicação

celular (Brånemark, 1983). Em termos clínicos, trata-se de um fenômeno biomecânico

cuja resposta é assintomática com fixação rígida entre implante e osso mantendo a

atividade funcional óssea (Albrektsson & Johansson, 2001). Em geral, um implante é

considerado osseointegrado quando não há, sob condições normais, movimento entre o

implante e o osso sob carregamento contínuo durante o período de cicatrização. Este

estado clínico é o resultado do que se chama aposição óssea direta sem o aparecimento

de cápsulas de colágeno vascularizadas, conhecidas como encapsulamento fibroso.

O conceito de osseointegração foi primeiramente aplicado para definir a conexão

entre osso e titânio, atualmente tem sido demonstrado que a ancoragem óssea também

pode ser obtida com outros materiais que também não apresentem reações adversas do

tecido hospedeiro (Wenz et al, 2008). Assim, o termo osseointegração é correntemente

aceito como sendo um termo geral para se tratar a interface da superfície de contato

osso-implante. Entretanto, a qualidade da interface do osso hospedeiro e da superfície

do implante é afetada pelas características do material do implante.

Vários estudos têm mostrado que o titânio e suas ligas exibem a natureza mais

biocompatível dentre outros metais e ligas utilizados como biomateriais e a menor

reação a corpo estranho quando comparado aos materiais tradicionalmente utilizados em

implantes endósseos (Eisenbarth et al., 2004; Hallab et al., 2003). Tem-se afirmado que

a osseointegração do titânio não é devida apenas a uma reação positiva tecidual, ao

contrário, o que ocorre é a ausência de uma resposta negativa do tecido que circunda o

implante, característica biocompatível do titânio.

O mecanismo de cicatrização do osso que sofre a implantação é estudado há

mais de 20 anos e concluiu-se que o sucesso na osseointegração vem da

biocompatibilidade do titânio, paralelo a esta característica surgiram novas

considerações para a melhoria da formação óssea na superfície do implante. As

características da superfície do implante determinam uma mudança no processo de

Page 48: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

48

osseointegração e a nano e micro topografia e a composição físico-química têm a maior

influência no advento da osseointegração, especialmente ao nível histológico,

proporcionando compatibilidade biológica e morfológica (Mendonça et al., 2008).

Existem três requisitos de compatibilidade desejáveis para se obter biointeração

com formação de tecido duro e biofuncionalidade: biocompatibilidade, compatibilidade

mecânica e compatibilidade morfológica para receber tecido ósseo neo formado.

Modificações superficiais tendem a melhorar as características do implante tornando a

substituição óssea através de implantes cada vez mais vantajosa.

4.2 – Superfície de implante nanomodificada

As estruturas encontradas pelos osteoblastos (células responsáveis pela síntese

dos componentes orgânicos da matriz óssea, pela modificação celular óssea) no corpo

humano são de escala nanométrica, assim é necessário produzir materiais implantáveis

que possuam rugosidade nanométrica. Diversos estudos sugerem que materiais com

recobrimento nanométrico melhoram a atividade celular quando comparados com

materiais com microrugosidades tradicionais (Gutwein & Webster, 2004). Superfícies

nanoestruturadas apresentam um aumento percentual de átomos, aumento de área

superficial e consequentemente, alta energia superficial o que possibilita um aumento da

adsorção de proteínas, característica desejável para regular as interações celulares na

superfície do implante.

Webster e demais pesquisadores em 2001 mostraram que a adesão de

osteoblastos aumenta em materiais recobertos com nanoestruturas em comparação com

aqueles não recobertos, e inúmeros estudos têm mostrado que a cultura de osteoblastos

em materiais com a superfície nanomodificada exibe melhor comportamento de

osteogênese, incluindo adesão, produção de células mesenquimais e mineralização

quando comparados com os materiais convencionais (Elias et al.,2002; Price et al.,

2003).

Diversos estudos in vitro têm demonstrado que a cultura de células nas

superfícies nanoestruturadas apresentam maior adesão, proliferação e deposição de

matriz óssea (Oh et al., 2006; Popat et al., 2007). O aumento da atividade celular in

vitro observado em estruturas contendo recobrimento nanoestruturado também pode ser

considerado para a situação real in vivo de crescimento ósseo. As superfícies de Ti

grau2 e da liga Ti6Al4V recobertas com estruturas de nanotubos melhoram

significativamente a resistência da ligação osso/implante, apresentando cerca de nove

Page 49: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

49

vezes maior resistência que uma superfície lixada de titânio. Além disso, análises

histológicas revelaram que ocorre um melhor contato osso/implante e o aparecimento de

colágeno tipo I confirmou o melhor comportamento in vivo de nanotubos de titânio

(Bjursten et al., 2010; von Wilmowsky et al., 2009).

4.3 - Testes in vitro: método biomimético

Os testes in vitro têm como principal objetivo a análise da bioatividade dos

materiais que serão inseridos no organismo humano. Simulam os processos biológicos,

a fim de se obter parâmetros e evidências sobre a resposta biológica do tecido

hospedeiro (Ratner, 2004).

A aplicação de substâncias bioativas sobre biomateriais contribui para acelerar o

processo de adesão celular. O recobrimento com elementos como o cálcio (Ca) e o

fósforo (P) tem demonstrado melhor formação óssea devido à similaridade com a matriz

óssea. Assim, revestimentos biomiméticos são utilizados para induzir a

osseocondutividade e o crescimento mais uniforme de células ósseas por todo o

implante.

O método biomimético é uma das técnicas mais promissoras para a obtenção

de fosfato de cálcio, pois simula o processo de mineralização do osso. Este método

surgiu a partir de 1980, quando pesquisadores observaram que um substrato de biovidro,

rico em cálcio e fósforo, estabelecia uma forte ligação entre o substrato e o osso vivo.

Também apresentaram a simulação por meio de uma solução com tris-

hidroximetilaminometano e ácido clorídrico diluído mantendo o pH em 7,4.

Kokubo e colaboradores, em 2006, utilizaram o teste de imersão em solução que

simula o plasma sanguíneo como parâmetro de deposição óssea no implante. O implante

foi imerso em uma solução de SBF (simulated body fluid) e então houve precipitação de

moléculas à base de cálcio e fósforo na superfície do material, em uma razão atômica,

semelhante a do osso. O processo de formação de precipitados sólidos a partir do SBF

possui três etapas: interação química da superfície do implante com a solução, lenta

transformação dos núcleos em apatita cristalina e por fim o crescimento do cristal de

apatita (Attaia, 1988).

Gugelmin em 2009 estudou a bioatividade de superfícies de titânio grau 2 e da

liga Ti6Al4V, recobertas com fina camada de óxido de titânio obtidos via

eletroquímica. Os corpos de prova foram imersos em SBF por um período de 10 e 30

dias, com o objetivo de avaliar, in vitro, o processo de osseointegração. Foi observada a

formação de glóbulos de hidroxiapatita sobre os implantes de titânio, tanto Ti grau 2

Page 50: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

50

quanto da liga Ti6Al4V, em apenas 10 dias de imersão, sugerindo que a camada de

óxido de titânio, obtida potenciodinamicamente, sob baixos potenciais (em torno de 5,0

V), favorecia a osseointegração.

Em 2005, Jin e demais pesquisadores, estudaram o crescimento em nano escala

de hidroxiapatita sobre a estrutura auto-organizada de nanotubos de TiO2 utilizando um

tratamento químico sobre a camada de nanotubos que foi obtida através de anodização

eletroquímica e compararam com amostras sem a estrutura nanotubular. As camadas

alinhadas verticalmente de nanotubos de TiO2 sobre um substrato de Ti cp (99,5%)

foram tratadas quimicamente com solução básica de NaOH para se estudar a possível

melhoria da bioatividade da camada nanotubular. Este tratamento químico foi realizado

imergindo as amostras em solução básica a 60°C por 60 minutos. Os nanotubos, após

tratamento químico, foram tratados termicamente a 500 °C por 2 horas, para se obter

uma estrutura mais cristalina.

Para avaliação do crescimento ósseo na superfície bioativa, por meio da

formação de hidroxiapatita, as amostras foram imersas em SBF a 36°C por 1, 2, 3 e 5

dias. Foi observado que o tratamento químico a que os nanotubos foram submetidos

quando imersos em solução de NaOH incrementou a formação de HAP, melhorando sua

bioatividade. As superfícies sem tratamento químico levaram 7 dias para formação de

HAP enquanto que aquelas tratadas quimicamente levaram apenas 1 dia para nucleação

de HAP (Jin et al., 2005).

Seunghan Oh e colaboradores, em 2005, estudaram a melhora da taxa de

crescimento de células osteoblásticas sobre a superfície de Ti tratada

eletroquimicamente, contendo nanotubos auto-organizados de TiO2. Foi observado

crescimento vertical e lateral de células de osteoblastos em estrutura nanotubular sobre

Ti demonstrando que a adesão e propagação das células foram significativamente

melhoradas em função da topografia dos nanotubos e o mecanismo de crescimento das

células atuou por toda a estrutura nanotubular, produzindo um arranjo celular totalmente

interconectado. O número de células que aderiram à estrutura de nanotubos quando

comparado à adesão celular em superfície de camada de óxido, aumentou de 300 a

400%. Os responsáveis por este aumento significativo são a característica intrínseca à

topografia dos nanotubos, o aumento significativo da área superficial e possivelmente a

presença de caminhos alternativos de crescimento celular entre os nanotubos.

Concluíram que, a rede vertical de nanotubos de TiO2 sobre um implante de Ti cp

apresenta uma excelente bioatividade superficial em implantes dentários. O crescimento

e a adesão celular podem ser significativamente melhorados, e ainda, a configuração de

Page 51: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

51

nanotubos e seu alinhamento aceleram a proliferação celular de vários outros tipos de

célula (Seunghan Oh. et al., 2005).

CAPÍTULO V

OBJETIVOS GERAIS

Este trabalho teve como objetivos a otimização de parâmetros de anodização

eletroquímica para a obtenção de camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2,

sobre o Ti grau 2 e a liga ortopédica Ti6Al4V, o estudo da estabilidade eletroquímica

destes filmes óxidos nanoestruturados em meio fisiológico artificial e sua bioatividade

in vitro.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Utilizar o método de anodização potenciostática e otimizar parâmetros de

potencial e tempo para obter películas de óxido nanotubular de TiO2,

homogênea e uniformemente recobertas por nanotubos com diâmetros e

espessuras adequados para aplicação biomédica, com reprodutibilidade e

repetitividade a um baixo custo experimental.

Utilizando o método eletroquímico de potencial de circuito aberto, investigar a

estabilidade termodinâmica das películas de óxido nanotubulares em

comparação com a estabilidade termodinâmica das camadas de óxidos

compactos (não nanoestruturados); avaliar a dissolução espontânea das camadas

de nanotubos e de óxido compacto após imersão em sangue artificial por

diferentes períodos de tempo.

Por meio da técnica de MEV (microscopia eletrônica de varredura), caracterizar

morfologicamente as nanoestruturas obtidas bem como, o mapeamento dos

diâmetros dos nanotubos utilizando o software livre ImageJ.

Caracterizar os elementos presentes na superfície dos óxidos nanoestruturados,

após imersão em sangue artificial, por meio da análise de elementos qualitativa

MEV/EDS.

Identificação dos óxidos superficiais presentes nos biomateriais

nanoestruturados por espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X (XPS).

Page 52: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

52

Avaliação da bioatividade superficial do biomaterial a base de titânio, recoberto

por camadas de nanotubos, por meio do método biomimético de nucleação e

crescimento de hidroxiapatita, após imersão em SBF.

CAPÍTULO VI

METODOLOGIA

6.1 – Materiais utilizados

6.1.1 – Célula Eletroquímica

Os experimentos de anodização eletroquímica e obtenção de potenciais de

circuito aberto (ECA) dos filmes de óxidos obtidos foram realizados utilizando-se uma

célula eletroquímica especialmente confeccionada para este estudo, de acordo com a

figura 11. Esta célula consiste de um “cilindro” com aproximadamente 6,0 cm x 5,0 cm

(A x Ø) e volume útil de aproximadamente 230 mL, com um orifício rosqueável na

parte inferior no qual é acoplada uma contra rosca de 2,5 cm de diâmetro. Na contra

rosca fica encaixado o pino de contato elétrico e a amostra que será anodizada. Na

tampa da célula fica o orifício de abertura por onde são inseridos o eletrólito e o contra

eletrodo (CE).

Fig. 11 - Célula eletroquímica usinada em PP (polipropileno) com rosca inferior e

contra rosca de fechamento; (A) imagem esquemática do posicionamento da amostra,

(B) imagem esquemática do posicionamento do pino de contato.

6.1.2 – Eletrodos

Os eletrodos de trabalho utilizados dividem-se em dois tipos de materiais, Ti

grau 2 empregado em implantes odontológicos e a liga Ti6Al4V, utilizada em implantes

Amostra (A)

Pino de contato (B)

Copo

Rosca

Contra rosca

Abertura da

célula

Page 53: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

53

ortopédicos. O Ti grau 2 possui a composição química conforme a norma ASTM – F67

de 0,08% C, 0,03% N, 0,30% Fe, 0,25% O2, 0,015% H e 99,35% de Ti. O Ti grau 2,

procedente da empresa Titanium Industries, possui a espessura de 1 mm e as amostras

têm a dimensão retangular de 2,0 x 1,0 cm. A figura 12 mostra os corpos de prova de Ti

grau 2.

Fig. 12 – Foto das amostras de Ti grau 2.

O eletrodo de trabalho correspondente à liga de Ti6Al4V tem o formato

cilíndrico e apresenta composição química estabelecida pela norma ASTM – F136 de

0,010% C, 0,002% N, 0,004% H, 0,180% Fe, 0,102% O2, 5,960% Al, 4,000% V e

89,74% de Ti. A liga é proveniente da empresa Realum Ind. e Com. de Metais Puros e

Ligas Ltda com 2,0 cm e 0,5 cm de espessura. A figura 13 apresenta as amostras de

Ti6Al4V.

Fig. 13 – Foto das amostras de Ti6Al4V.

A área exposta ao eletrólito na anodização da amostra de Ti6Al4V é de

aproximadamente 1,76 cm² e a área exposta da amostra de Ti grau 2 é de

aproximadamente 0,28 cm², para esta última é necessário colocar-se um adaptador

Page 54: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

54

motivo que causa a redução da área exposta. O pino de contato elétrico utilizado é de

latão (Cu-Zn).

O contra eletrodo (CE) ou eletrodo auxiliar utilizado na anodização

eletroquímica para a obtenção dos filmes de óxidos foi uma haste de Titânio cp de

aproximadamente 20,0 cm de comprimento. O eletrodo de referência (ER) utilizado nas

medidas de potencial de circuito (ECA) foi o de calomelano saturado (ECS),

Hg/Hg2Cl2,KClsat, confeccionado no próprio laboratório, representado pela figura 14

abaixo.

Fig. 14 – Eletrodo de calomelano saturado utilizado como referência (ECS).

Este eletrodo constitui-se de um tubo de vidro de 4 mm de diâmetro interno,

onde em uma extremidade é colocado mercúrio em contato com um fio de platina já

soldado no vidro; sobre o mercúrio é colocada uma pasta de Hg2Cl2, a extremidade do

tubo então é vedada com papel de filtro devidamente enrolado. A conexão externa é

feita soldando-se um fio de cobre ao fio de platina, pela outra extremidade do tubo. Este

é encaixado com junta esmerilhada 14/20 em outro tubo, de diâmetro 8 mm, com uma

das extremidades acabada por uma placa de vidro porosa, a qual contém a solução de

KCl saturado. O ECS tem um valor nominal de potencial de + 0,242 V com relação ao

eletrodo normal de hidrogênio (Bard e Faulkner, 2001).

6.1.3 – Eletrólitos

A fim de se obter o filme de óxido anódico não nanoestruturado (compacto)

sobre ambas as amostras foi utilizado como eletrólito a solução de 1 mol.L-1

de H3PO4.

O eletrólito utilizado para obtenção de camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2

sobre o Ti grau 2 foi 1 mol.L-1

de H3PO4 + 0,3% wt HF.

Para a liga Ti6Al4V foi utilizado o eletrólito composto por 0,3 mol.L-1

de H3PO4

+ 0,14 mol.L-1

NH4F. Trata-se de uma combinação de elementos utilizada no trabalho

Page 55: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

55

de Luo B. e equipe de pesquisadores no ano de 2008 que mostrou ser suficientemente

eficaz na obtenção de camadas auto-organizadas de nanotubos na liga de titânio em

questão (Luo et al.,2008).

Para a avaliação da estabilidade eletroquímica das camadas de óxido tanto

compacto quanto com nanotubos auto-organizados em meios que simulam os fluidos

corpóreos, foi utilizada a solução de sangue artificial composta por NaCl 6,8 g L-1

, KCl

0,4 g L-1

, CaCl2.H2O 0,2 g L-1

, NaH2PO4.H2O 0,026 g L-1

, Na2HPO4.H2O 0,126 g L-1

,

MgSO4 0,1 g L-1

, NaHCO3 2,2 g L-1

, pH ~ 7.45 em acordo com a norma ASTM F-

2129, 2008. A avaliação do potencial de circuito aberto (ECA) das amostras antes e

após a imersão em sangue artificial foi feita em solução PBS (phosphate buffered

saline) composta por NaCl 8.0 g.L-1

, KCl 0.2 g.L-1

, Na2HPO4 1.15 g.L-1

e KH2PO4 0.2

g.L-1

pH ~ 7, em acordo com a norma ASTM F-2129, 2008.

Para avaliação da bioatividade das camadas de óxido nanotubular foi utilizada a

solução de SBF (simulated body fluid) preparada obedecendo à norma ISO 23317:2012

como segue: NaCl 8,035 g.L-1

, NaHCO3 0,355 g.L-1

, KCl 0,225 g.L-1

, K2HPO4.3H2O

0,231 g.L-1

, MgCl2.6H2O 0,311 g.L-1

, HCl (1,0 mol.L-1

) 39 mL, CaCl2 0,292 g.L-1

,

Na2SO4 0,072 g.L-1

, Tris-hidroximetil aminometano ((HOCH2)3CNH2(99%) 6,118 g.L-

1, HCl (1 mol.L

-1) ~ 1,5 mL, H2O super pura, pH 7,40.

6.1.4 - Equipamentos

A figura 15 mostra o aparato utilizado para a anodização potenciostática no

Laboratório de Biomateriais e Eletroquímica (Eng. Mecânica – UFPR).

Fig. 15 – Equipamentos: Multímetro, Fonte de tensão, polo positivo (vermelho) ligado

ao pino de contato no eletrodo de trabalho e polo negativo (preto) ligado ao contra

eletrodo de Ti cp.

Page 56: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

56

Utilizou-se uma fonte de tensão Minipa MPL- 1305M e um multímetro Minipa

ET – 2652. Este último permitiu acompanhar com mais exatidão a variação da corrente

durante o processo de anodização. Para a aquisição das curvas cronoamperométricas

utilizou-se uma fonte AGILENT E3632A com interface computacional.

As imagens de microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram obtidas no

Laboratório de Caracterização Estrutural – LCE/ DEMa/ UFSCar, utilizando-se os

microscópios FEI Inspect S 50 e FEI Magellan 400L ambos com feixe de elétrons

emitidos via FEG (field emission gun). Para a determinação e mapeamento dos

diâmetros utilizou-se o software livre ImageJ que possibilita medir, por meio do cursor,

diversos pontos escolhidos aleatoriamente e assim, calcular a média aritmética das

medidas e o seu desvio padrão.

A análise de elementos superficiais foi feita por meio de EDS (energy dispersive

spectroscopy) que permitiu a análise qualitativa e semiquantitativa dos elementos

presentes na superfície das amostras.

A identificação da composição química da camada de óxido nanotubular e do

estado químico do átomo emissor na superfície da amostra foi realizada por meio de

espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X (XPS), este método é utilizado para

caracterizar óxidos superificiais e espécies incorporadas. As medidas de XPS foram

realizadas no Laboratório de Superfícies e Interfaces do Dep. de Física da Universidade

Federal do Paraná, no equipamento ESCA3000 (VG Microtech), operando com pressão

de 3.10-8

Pa. Utilizou-se a radiação AlKα, energia de banda de 50 e 20 eV para o

espectro “survey” e para as medidas de alta resolução, respectivamente. A resolução

geral das medidas foi de 0,8 eV. A posição dos picos foi corrida tomando-se como base

o fotoelétron C1s como energia de ligação padrão de 284,5 eV. Os resultados foram

analisados pelos softwares Ftik (Unipress) e Spectral Data Processor. A base de dados

para a análise está disponível na internet, no site do National Institute of Standards and

Technology (NIST, 2014).

Foi utilizado equipamento banho-maria SOLAB SL 150/28 de oito bocas com

temperatura em 36,5°C, para manter as amostras sob temperatura corpórea e então

analisar a bioatividade in vitro, com o possível crescimento de hidroxiapatita, através da

imersão das amostras em solução SBF.

Page 57: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

57

6.2 – Técnicas eletroquímicas

6.2.1 – Anodização potenciostática

A técnica de obtenção do filme de óxido sobre o titânio e suas ligas via

anodização potenciostática consiste na aplicação de um potencial constante no substrato

metálico suficiente para causar a reação eletroquímica de oxidação. No regime

potenciostático, há o aumento da espessura da camada de óxido, o que causa a

diminuição da corrente em função do tempo até atingir um valor de estado estacionário.

Para se obter camadas de óxido nanoestruturadas via potenciostática utiliza-se

eletrólitos específicos capazes de dissolver o óxido controladamente e formar as

nanoestruturas. No caso do dióxido de titânio, a utilização de eletrólitos contendo íons

fluoreto possibilita a formação de estruturas altamente organizadas como as camadas

auto-organizadas de nanotubos.

A figura 10 apresentada anteriormente (item 4.2) mostra um perfil típico de

anodização potenciostática em eletrólito contendo íons fluoreto (F-), com “ombro”

característico da formação das estruturas nanotubulares.

Na figura 16 observa-se o esquema de um perfil cronoamperométrico

característico de uma anodização potenciostática em eletrólito que não contém íons

fluoreto. O perfil cronoamperométrico é comumente utilizado para se estudar

coeficientes de difusão, parâmetros cinéticos e mecanismos de reação/oxidação (Sikora,

2011).

Fig. 16 – Diagrama esquemático de um perfil cronoamperométrico típico de uma

anodização potenciostática em eletrólito livre de íons fluoreto (Schmuki, et al., 2011).

6.2.2 – Potencial de Circuito Aberto

Quando um metal é imerso em uma solução eletrolítica, estabelece-se uma

interface condutor metálico/condutor iônico, caracterizada por uma distribuição não

homogênea de cargas. Em consequência, existe uma diferença de potencial entre o

Page 58: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

58

metal e a solução, conhecida como potencial de eletrodo que, medido em relação a um

eletrodo de referência, recebe o nome de potencial de circuito aberto (ECA). Na

interface metal/solução além dos processos de transferência de carga, ocorrem

fenômenos de superfície, definidos pela adsorção de moléculas do solvente, íons do

eletrólito e de outras moléculas presentes no mesmo. A uma temperatura constante, o

ECA depende da natureza das reações de corrosão/dissolução envolvidas, e também da

natureza e composição do eletrólito (Agostinho S. L., et al.,2009).

Normalmente a corrosão/dissolução ocorre a uma taxa de acordo com o

equilíbrio das reações eletroquímicas opostas. A primeira é a reação anódica onde o

metal (eletrodo de trabalho) é oxidado, liberando elétrons no metal. A outra é a reação

catódica onde as espécies em solução (frequentemente O2 ou H+) são reduzidas

removendo elétrons do metal. Quando estas duas reações estão em equilíbrio o fluxo de

elétrons de cada reação é balanceado e não ocorre corrente elétrica.

O estudo do potencial do metal é um meio que se utiliza para demonstrar o

equilíbrio entre as reações anódica e catódica , ou seja, mostra a tendência a estabilidade

do metal ou do óxido que está depositado sobre ele. Se a reação anódica libera uma

grande quantidade de elétrons no metal, este excesso de elétrons desloca o potencial do

metal para mais negativo, que minimiza a reação anódica e acelera a reação catódica

(Bard & Falkner,2001).

A medida de potencial de circuito aberto é tradicional na avaliação da

estabilidade das camadas de óxidos em superfícies metálicas. Trata-se da medida do

potencial de eletrodo de trabalho em relação ao eletrodo de referência quando nem

potencial e nem corrente são aplicados. Este método se caracteriza pelo monitoramento

do potencial em relação ao tempo, até que uma variação nos perfis de potencial seja

observada espontaneamente. Este processo permite estudar o processo de dissolução

espontânea das camadas de óxido nos meios fisiológicos simulados mencionados

anteriormente e o tempo necessário para a sua estabilização (Marino, 2001).

Neste estudo foram realizadas medidas de potencial de circuito aberto durante 90

min em cada experimento, sendo observados o potencial de equilíbrio da camada de

óxido de titânio e o tempo necessário para que o estado de equilíbrio fosse atingido.

6.3 – Método Biomimético para formação de Hidroxiapatita

O método biomimético foi utilizado para a análise da bioatividade superficial

dos óxidos nanoestruturados, realizando a imersão das amostras em SBF (simulated

Page 59: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

59

body fluid), a fim de se detectar a presença ou não de hidroxiapatita (HAP). O SBF é

uma solução que simula o plasma sanguíneo, pois apresenta concentrações iônicas

similares às do plasma humano, esta solução foi normatizada e publicada na ISO

23317:2012 e se trata do resultado de pesquisas na área da avaliação da bioatividade da

superfície de biomateriais, orientadas pelo professor Tadashi Kokubo, pesquisador na

Chubu University, Japão.

Para a realização do teste in vitro, a amostra é inserida num tubo Falcon de 50

mL contendo a solução de SBF previamente preparada ao nível aproximado de 15 mL

de solução. O tubo Falcon então é fechado, identificado e colocado em banho-maria a

36,5°C durante o tempo de indução que se deseja avaliar a possível nucleação de HAP

(hidroxiapatita), renovando-se a solução a cada 3 dias.

O aparecimento da camada de HAP (hidroxiapatita) pode ser detectado

morfologicamente por imagens de MEV com aumentos de até 10.000x, capaz de

detectar a apatita formada numa fina camada na superfície do material analisado com

morfologia do tipo globular.

6.4 – Metodologia experimental

Preliminarmente, as amostras de Ti grau 2 e da liga Ti6Al4V foram lixadas com

lixas d’água marca 3M de granulometria 280, 400 e 600 (nesta sequencia), até se obter

uma superfície sem riscos aparentes, lisa e uniforme. Após o lixamento manual, as

amostras foram lavadas em acetona, álcool isopropílico e água em banho de ultrassom

por 15 minutos, obedecendo à ordem mencionada, utilizando-se sempre uma pinça para

manusear as amostras.

A obtenção das estruturas auto-organizadas de nanotubos de TiO2 via

potenciostática sobre o Ti grau 2 foi realizada nos potenciais de 15 V, 20 V e 25 V e os

tempos de polarização foram de 0,5h, 1h e 1,5h, realizando cada anodização nos 3

tempos. O eletrólito utilizado para a obtenção dos nanotubos auto-organizados foi a

solução de HF (0,3%) e H3PO4 (1 mol.L-1

) à temperatura ambiente. Para a liga Ti6Al4V

foram utilizados os mesmos parâmetros, porém o eletrólito utilizado para a obtenção

dos nanotubos auto-organizados foi a solução de (0,3 mol. L-1

) de H3PO4 e

(0,14 mol.L-1

) de NH4F, à temperatura ambiente.

Estabelecidas as melhores condições de anodização para obtenção de camadas

auto-organizadas de nanotubos, as mesmas condições (15 V e 20 V por 1h) foram

empregadas em amostras previamente lixadas e limpas que foram anodizadas em

eletrólito contendo 1 mol. L-1

de H3PO4. Nestas condições foi possível obter sobre os

Page 60: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

60

corpos de prova, um filme de óxido compacto simples de TiO2 que foi utilizado para

comparação com as nanoestruturas no estudo de estabilidade eletroquímica.

O estudo do processo de dissolução espontânea em solução de sangue artificial foi

feito em triplicata tanto para as amostras anodizadas com camada auto-organizada de

nanotubos de TiO2 quanto para as amostras que continham óxido compacto simples de

TiO2 (amostras para comparação). Os corpos de prova foram imersos em sangue

artificial por 15, 30 e 60 dias, em temperatura de aproximadamente 37 oC e pH 7,45 e

então, por meio de medidas de potencial de circuito aberto, pôde-se avaliar a

estabilidade das camadas de óxido em meio que simula fluidos corpóreos.

O potencial de circuito aberto foi medido antes e depois da imersão em sangue

artificial para ambos os biomaterais com medidas realizadas durante 90 min em solução

de PBS (phosphate buffered saline).

Para a aquisição destes dados foi utilizada a célula eletroquímica convencional,

onde as amostras previamente anodizadas foram ajustadas rigorosamente deixando à

mostra apenas a área anodizada em solução de PBS e o eletrodo de referência de

calomelano saturado.

A determinação da espécie e composição química do óxido presente na superfície

dos biomateriais anodizados foi realizada por meio de XPS (espectroscopia de

fotoelétrons excitados por raios-X).

Para a avaliação da bioatividade dos filmes de óxido nanotubular foram utilizadas

duplicatas das amostras de Ti6Al4V recobertas com nanotubos de TiO2 que

apresentaram selamento/precipitação com íons Ca e P adsorvidos em sua superfície,

após imersão em sangue artificial por 30 dias, e duplicatas das amostras de Ti6Al4V

sem selamento/precipitação. Os corpos de prova foram imersos em SBF (simulated

body fluid) por 15 dias para análise da hidroxiapatita. O teste de imersão em SBF é

padronizado pela ISO 23317:2012 e permite indicar a capacidade da superfície em

desenvolver a nucleação da hidroxiapatita, o principal componente do osso humano

(resposta bioativa).

A caracterização morfológica e de elementos das superfícies obtidas após

anodização potenciostática, imersão em sangue artificial e imersão em SBF (simulated

body fluid) foi realizada por MEV/EDS.

Page 61: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

61

CAPÍTULO VII

Resultados e Discussão

Os resultados apresentados a seguir obedecem a sequência proposta pela

pesquisa, que teve como objetivo a obtenção de estruturas auto-organizadas de

nanotubos de óxido de titânio (TiO2) sobre os biomateriais, Ti grau 2 e a liga de

Ti6Al4V, através da anodização potenciostática em eletrólitos contendo íons fluoreto.

Uma vez obtidas as nanoestruturas, por meio de parâmetros otimizados, com boa

repetitividade e reprodutibilidade, estas películas nanoestruturadas foram avaliadas com

relação a sua estabilidade eletroquímica. Para tal, foi realizada a análise de potencial de

circuito aberto (ECA) determinando o comportamento desses biomateriais, recobertos

por camadas nanoestruturadas, após imersão em solução de sangue artificial por

diferentes períodos de tempo. Por fim, após o conhecimento e controle dos parâmetros

de obtenção das películas auto-organizadas de nanotubos de TiO2 e de seus limites de

estabilidade em fluidos corpóreos agressivos, foi avaliada a bioatividade dessas

nanoestruturas de óxido de titânio. A análise da tendência à osseointegração das

amostras foi realizada através da imersão dos corpos de prova em SBF (simulated body

fluid), por meio do estudo analítico da nucleação e do crescimento de hidroxiapatita

(HAP) em 15 dias de imersão, comparando-se a resposta bioativa das amostras

recobertas pelas nanocamadas com selamento/precipitação dos íons Ca e P adsorvidos

na superfície do Ti6Al4V com aquelas que possuem apenas as camadas de óxido

nanotubular, visando com este experimento correlacionar o experimento in vitro com o

que ocorreria de fato se um implante recoberto com nanoestruturas fosse implantado in

vivo.

7.1 – Obtenção das camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2.

7.1.1 – Implante odontológico – Ti grau 2

A obtenção de nanotubos auto-organizados de TiO2 sobre os biomateriais de

titânio e suas ligas pode ser comprovada por meio da análise do perfil

cronoamperométrico que resulta da anodização potenciostática em eletrólito contendo

uma determinada concentração de íons fluoreto (F-). A concentração dos íons fluoreto

(F-) no eletrólito é a responsável pelas diferentes morfologias superficiais da camada de

óxido e um eletrólito sem íons F-, tende à formação de uma camada de óxido compacto.

Desta forma a presença dos íons fluoreto é que permite a iniciação e o crescimento das

camadas de óxido auto-organizadas de nanotubos de TiO2 (Schmuki, et al., 2011).

Page 62: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

62

Os eletrólitos utilizados, H3PO4/HF empregado na obtenção de camadas de

nanotubos sobre o Ti grau 2 e H3PO4/NH4F utilizado na obtenção dos nanotubos sobre a

liga Ti6Al4V, foram especialmente escolhidos pois permitem a modificação superficial

desejada e, ainda, na proporção em que estão em solução, estabelecem uma relação

direta com a geometria dos nanotubos obtida. Estas soluções foram escolhidas por

apresentarem a melhor relação entre a formação de óxido compacto vs. crescimento das

camadas de nanotubos, proporcionando um crescimento ordenado e controlado em

função da presença do H3PO4, que age como um regulador da acidez da solução

tornando-a menos agressiva na presença de 0,3% wt de HF (Bauer S., et al.,2006).

Além disso, o ácido fosfórico age como uma espécie tampão, controlando os sítios de

ataque ácido durante o crescimento dos poros, além de que um eletrólito menos ácido

pode permitir a formação de camadas de nanotubos mais espessas (Bauer, 2006; Macak

2008).

A curva cronoamperométrica resultante da anodização, a potencial constante,

mostra o comportamento da densidade se corrente vs. tempo de anodização. O perfil

típico de obtenção dos nanotubos, apresentado na figura 10 (a) pela linha cheia, mostra

claramente o mecanismo de formação dos nanoporos e crescimento dos nanotubos por

meio do “ombro” característico que aparece logo após a formação da camada barreira

de óxido e a densidade de corrente, que se mantém constante até o final do experimento,

indicando o crescimento vertical dos nanotubos sobre o substrato metálico. Este padrão

foi observado para ambos os materiais (Ti grau 2 e Ti6Al4V), comprovando a obtenção

da camada de nanotubos auto-organizados.

Como primeiro resultado que comprova a obtenção das camadas de nanotubos

de TiO2 desta pesquisa é apresentada a figura 17 que contém o perfil

cronoamperométrico obtido na anodização do Ti grau 2 a 20 V no período de 1h. Nota-

se o “ombro” característico da formação dos nanoporos, e logo em seguida a corrente

permanecendo constante até o final da polarização, neste estágio ocorre o crescimento

vertical dos nanotubos. Todos os demais perfis onde foi possível obter camadas auto-

organizadas de nanotubos de TiO2 apresentaram-se semelhantes a este para o mesmo

período de tempo de anodização.

A espessura da camada de nanotubos está relacionada aos parâmetros de

potencial e tempo de anodização; quanto maior o potencial aplicado maior a espessura

das camadas de nanotubos e quanto maior o tempo de polarização mais espessa a

camada final obtida, chegando a um limite de tempo máximo à medida que todos os

íons fluoreto (F-) sejam consumidos (Ghicov., et al., 2005). Em polarizações de 15 V no

Page 63: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

63

período de 1h pode-se obter espessuras entre 600 nm a 850 nm em eletrólito de

H3PO4/HF, e em 20 V por 1h possivelmente espessuras entre 800 nm a 1 µm (Bauer., et

al., 2006; Schmuki., et al., 2009).

O perfil cronoamperométrico da figura 17 comprova a obtenção das camadas

auto-organizadas de nanotubos de TiO2 sobre o Ti grau 2, com as seguintes

características: no ponto (1) um mínimo de corrente que representa a formação do óxido

compacto barreira, onde os íons Ti4+

e OH- em função do campo elétrico, se difundem

através da interface metal/eletrólito e formam uma camada de óxido barreira resultando

em TiO2 e H2O; em (2), por volta de 4 minutos, o pico de corrente de anodização que

determina a formação dos nanoporos (precursores dos nanotubos), ocorre por meio da

reação de dissolução do óxido de TiO2 pela reação dos íons fluoreto (F-), onde ocorre a

competição entre a formação do óxido de titânio (TiO2) e a solvatação dos íons Ti4+

da

superfície metálica formando o complexo [TiF6]2-

, e finalmente no ponto (3) a corrente

alcança um patamar estável até o final da anodização, no qual foi obtido o máximo da

espessura da camada de nanotubos para anodização de 1h.

Fig. 17 - Perfil cronoamperométrico da anodização potenciostática do Ti grau 2, em 20

V/1h, em eletrólito de 1mol.L-1

H3PO4 + 0,3% wt HF.

O potencial de anodização tem influencia direta na densidade de corrente

durante o processo de anodização. Potenciais mais altos determinam densidades de

corrente também mais elevadas o que possibilita a obtenção de camadas barreira de

óxido mais espessas (Lu., et al., 2011). Portanto, a anodização do Ti grau 2 a 20 V por

1) Camada

de óxido

compacto 2) Formação

de

nanoporos

3) Crescimento

de nanotubos –

estado estável.

Densid

ade d

e C

orr

ente

(m

A/c

m2)

Tempo (seg)

- [TiF6]2-

+ 2 H2O

Page 64: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

64

1h apresentou uma magnitude de densidade de corrente da ordem de ~ 32 mA/cm2, já a

anodização a 15 V alcançou cerca da metade do valor da densidade de corrente (~ 17

mA/cm2), provavelmente devido a camada barreira de óxido sobre o substrato metálico

na amostra anodizada a 15 V ser menor que aquele encontrado na amostra anodizada a

20 V.

Os perfis cronoamperométricos obtidos para três amostras distintas aplicando-se

um potencial de anodização fixo (20 V) e variando-se o tempo de anodização de 0,5h,

1h e 1,5h estão representados na figura 18. Comparando-se os perfis obtidos é possível

constatar grande semelhança entre as três curvas. Neste caso a variação do tempo

implica tão somente na espessura das camadas de nanotubos de TiO2 obtidas pois, para

um mesmo potencial, as características das camadas nanoestruturadas serão as mesmas

no que diz respeito à camada barreira de óxido, densidade de nanotubos por área e

diâmetro dos nanotubos.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 5000

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

24

26

28

30

Den

sid

ad

e d

e C

orr

en

te (

mA

/cm

2)

Tempo (seg)

20 V 0,5h

20 V 1,0h

20 V 1,5h

Fig. 18 - Perfis cronoamperométricos da anodização potenciostática do Ti grau 2

a 20 V nos períodos de 0,5h, 1h e 1,5h em eletrólito de 1mol.L-1

H3PO4 + 0,3% wt HF.

Analisando a morfologia das superfícies de Ti grau 2, anodizadas

potenciostaticamente, nas diferentes condições de potencial e tempo, pôde-se observar

que aplicando-se os potenciais de 15 V, 20 V e 25 V por 0,5 h, ocorreu apenas o

aparecimento de estruturas denominadas nanoesponjas (figura 19). A causa do

aparecimento deste tipo de morfologia pode ser devida ao curto período de tempo de

polarização (0,5h). Para que o ataque químico dos íons fluoreto (F-) sobre a camada de

Page 65: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

65

óxido de TiO2 seja eficiente e resulte no crescimento dos nanotubos, é necessário um

tempo entre 50 e 60 minutos de anodização (Jiang P., et al., 2013).

As imagens de MEV da figura 19 mostram a morfologia do tipo nanoesponja

com variações de tamanhos para os diferentes potenciais aplicados. O que determina

essas variações são as diferentes densidades de corrente em cada processo e

consequentemente, as camadas barreira de óxido e sítios de ataque dos íons fluoreto

diferenciados para cada potencial aplicado.

a) b)

c)

Fig. 19 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre Ti grau

2 em anodização potenciostática por 0,5h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V.

Aplicando-se os potenciais de 15 V e 20 V, via anodização potenciostática por

1h, sobre o Ti grau 2, em eletrólito contendo 1 mol.L- de H3PO4 + 0,3% de HF, foi

possível obter películas de estruturas nanotubulares típicas, com excelente

reprodutibilidade, repetitividade, e distribuídas ordenada e uniformemente por toda a

superfície da amostra anodizada. As imagens da figura 20 apresentam e comprovam a

obtenção das camadas de nanotubos auto-organizadas de TiO2, obtidas via anodização

potenciostática em potenciais de 15 V e 20 V por 1h sobre o Ti grau 2, confirmando o

que se pôde observar por meio da análise dos perfis cronoamperométricos.

Page 66: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

66

A imagem (a) da figura 20 apresenta a estrutura nanotubular obtida aplicando-se

15 V por 1h sobre os corpos de prova de Ti grau 2, onde pode-se observar que a

formação nanoestruturada distribui-se por toda a área anodizada e os tubos apresentam

suas paredes independentes umas das outras e não são perfeitamente arredondados. Há a

ocorrência de uma região esbranquiçada o que se chama “mancha” de óxido, contudo,

abaixo desta região possivelmente encontram-se as nanoestruturas (Lu , et al., 2011).

Percebe-se que o interior das estruturas é escuro se comparado á borda dos nanotubos

(mais clara) isto demonstra a existência de profundidade nos nanotubos, tornando-os

tridimensionais, com comprimento aproximado entre 650 nm e 800 nm. Esta estrutura,

com alta razão de aspecto (proporção entre diâmetro e comprimento do nanotubo), pode

levar a um aumento de área superficial de até 46 vezes, aumentando a energia de

superfície o que proporciona maior atividade reacional na superfície recoberta por

camada de nanotubos, sendo extremamente vantajoso num processo de multiplicação

celular, adesão de osteoblastos e osseointegração (An , et al., 2012).

As camada de nanotubos obtidas por meio da anodização do Ti grau 2,

aplicando-se potencial de 20 V pelo período de 1h, estão apresentadas na imagem (b).

Esta imagem mostra a morfologia de nanotubos distribuídos uniformemente por toda a

área anodizada e distanciados uns dos outros. A imagem (b) da figura 20 apresenta a

película de nanotubos com estruturas ainda mais “independentes” umas das outras e,

comparando-se as imagens (a) e (b) da figura 20, pode-se observar que os diâmetros dos

nanotubos crescidos a 20 V são maiores que os diâmetros daqueles crescidos a 15 V e a

densidade de nanotubos por área é menor em 20 V (b) que a densidade de nanotubos por

área em 15 V e então, espera-se que esta estrutura possua nanotubos com comprimento

aproximado de 800 nm a 1µm.

Por fim, a imagem (c) da figura 20, que corresponde à polarização em 25 V por

1 h, exibe nanotubos colapsados com alguns poucos poros e uma camada de óxido

irregular. Estes resultados podem indicar que há um limite para a magnitude do

potencial aplicado na anodização potenciostática e que altos potenciais, acima de 25 V,

podem determinar o colapso das nanoestruturas em função da alta densidade de corrente

envolvida no processo. Na competição entre o crescimento das camadas de nanotubos e

a solvatação da camada de óxido, a cinética de reação tende à solvatação, não

possibilitando o crescimento estável dos nanotubos (Zhou, et al., 2010).

Page 67: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

67

a) b)

c)

Fig. 20 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre Ti grau

2 em anodização potenciostática por 1 h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V.

O perfil cronoamperométrico que mostra eletroquimicamente a ocorrência do

colapso da estrutura de nanotubos na anodização potenciostática em 25 V por 1h está

apresentado na figura 21. Esta curva caracteriza-se pelo o aumento da densidade de

corrente que está diretamente relacionado à dissolução dos nanotubos previamente

formados. Comparando-se a densidade de corrente envolvida, nos processos de

obtenção dos nanotubos em anodização a 15 V e 20 V por 1h, apresentados pela figura

20 (a) e (b), observou-se que a magnitude das densidades envolvidas foi de ~ 17

mA/cm2 e ~ 32 mA/cm

2 respectivamente, enquanto que na anodização a 25 V a

corrente de dissolução chegou a ~ 74 mA/cm2, claramente superior àquela apresentada

nos processos onde a nanoestrutura permaneceu intacta.

Page 68: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

68

Fig. 21 – Perfil cronoamperométrico da anodização potenciostática do Ti grau 2 (25

V/1h) em 1mol.L-1

H3PO4 + 0,3% wt HF.

A anodização nos três potenciais propostos (15 V, 20 V e 25 V), pelo período de

1,5h, apresentou resultados semelhantes às polarizações realizadas pelo período de 1h.

Pôde-se observar a formação das camadas de nanotubos, uniformes e bem distribuídas

por toda a área anodizada, com boa densidade de nanotubos por área e algumas áreas

esbranquiçadas, conhecidas como “manchas” de óxido, novamente foram observadas.

Foi possível também observar a diferença entre os diâmetros dos nanotubos obtidos em

15 V e 20 V, concluindo que, quanto maior o potencial aplicado maior o diâmetro dos

nanotubos obtidos; confirmando as análises nos processos realizados em 1h de

anodização. O maior tempo de anodização provavelmente determinou a obtenção de

nanotubos mais alongados, com altura superior àquelas anteriormente relatadas para

anodização por período de 1h ( 15 V ~ 800 nm e 20 V ~ 1µm).

Na figura 22, são apresentadas as imagens com nanotubos de TiO2, obtidos nos

diferentes potenciais de anodização em polarização de 1,5 h sobre Ti grau 2.

Novamente, foi verificado o colapso dos nanotubos a 25 V, comprovando a existência

de um potencial limite de anodização para o Ti grau 2 em eletrólito de 1 mol.L-1

H3PO4

+ 0,3%wt HF. A densidade de corrente presente na polarização em 25 V foi superior

àquelas encontradas nas polarizações de 15 V e 20 V por 1,5 h. Em 25 V a densidade de

corrente alcançou o patamar de ~ 109 mA/cm2 enquanto nos processos em 15 V e 20 V

a densidade de corrente foi de ~ 19 mA/cm2 e ~ 30 mA/cm

2, respectivamente. Essa

diferença de corrente nos processos acarreta a instabilidade no estágio do crescimento

Tempo (seg)

Densid

ade d

e C

orr

ente

(m

A/c

m2)

Região de

dissolução

Page 69: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

69

dos nanotubos, ocorrendo ao mesmo tempo os processos concorrentes de crescimento

do nanotubos e sua dissolução (Zhou., et al., 2010).

a) b)

c)

Fig. 22 - Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre Ti grau 2

em anodização potenciostática por 1,5h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V.

A obtenção das camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2, sobre o

biomaterial utilizado em implantes odontológicos (Ti grau 2), foi possível em eletrólito

contendo 0,3%wt de HF, tratando-se de um procedimento que exige precisão no preparo

das amostras e do eletrólito, no entanto é simples e eficiente. Utilizando um aparato

experimental acessível em ambiente laboratorial.

Em regime estável de anodização potenciostática foi possível obter a formação

de homogêneas camadas de nanotubos, ordenadamente distribuídas sobre toda a área

anodizada dos corpos de prova. O procedimento de obtenção das nanoestruturas foi

realizado repetidas vezes comprovando ser um processo de boa repetitividade e

reprodutibilidade, especialmente utilizando-se os parâmetros de anodização

potenciostática de 15 V e 20 V pelo período de 1h.

Um dado experimental relevante e ilustrativo na anodização das amostras de Ti

grau 2 em eletrólito contendo íons fluoreto, foi o aspecto dos corpos de prova após a

anodização. Nos três potenciais (15 V, 20 V e 25 V), os corpos de prova apresentaram

Page 70: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

70

uma coloração acinzentada fosca, na região anodizada, com a presença de nanotubos,

independente do período de tempo de anodização utilizado. A figura 23 apresenta um

exemplo da mudança de coloração da amostra quando anodizada em 20 V por 1h. Em

(a) a amostra de Ti grau 2 lixada, (b) a cor acinzentada característica da amostra

recoberta pela película de nanotubos, a foto (c), com a região central azulada, é da

amostra recoberta com camada de óxido compacto, anodizada em eletrólito livre de íons

fluoreto.

a) b) c)

Fig. 23 – a) Foto do corpo de prova antes da anodização (lixado); b) Foto do corpo de

prova de Ti grau 2 após anodização em 20 V por 1h, com óxido nanoestruturado, c)

Corpo de prova com a região azulada que representa a formação da camada de óxido

compacto.

7.1.2 – Implante ortopédico – Ti6Al4V

O método de obtenção das camadas auto-organizadas de nanotubos sobre a liga

ortopédica Ti6Al4V, foi realizado utilizando-se o eletrólito composto por 0,3 mol.L-1

de

H3PO4 + 0,14 mol.L-1

de NH4F. Pôde-se observar que, com a variação do potencial de

anodização em 15 V, 20 V e 25 V durante 0,5h de polarização, ocorreu a formação

morfológica que corresponde ao crescimento de camadas homogeneamente bem

distribuídas, ordenadas e uniformes de nanotubos por toda a superfície anodizada.

A figura 24 apresenta as micrografias obtidas por MEV referentes às

morfologias obtidas para os diferentes potenciais no tempo de anodização de 0,5h.

a) b)

Page 71: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

71

c)

Fig. 24 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre

Ti6Al4V em anodização potenciostática por 0,5h: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V.

Comparando-se estas imagens com aquelas obtidas para o Ti grau 2, utilizando-

se os mesmos parâmetros de anodização (15 V, 20 V e 25 V em 0,5h de polarização),

percebeu-se que o processo de obtenção dos nanotubos sobre a liga ortopédica foi mais

eficiente. Ao contrário do Ti grau 2, que apresentou a formação das chamadas

nanoesponjas, a liga Ti6Al4V em 0,5h de polarização possibilitou a obtenção de

películas de nanotubos altamente organizados sobre sua superfície, com paredes dos

nanotubos independentes umas das outras e formato não rigorosamente arredondado.

Esta diferença de comportamento, na obtenção dos nanotubos sobre a liga

ortopédica, pode ser explicada observando-se a diferente composição dos substratos

metálicos anodizados e também em função do eletrólito empregado, que oferece uma

combinação ideal de concentração de íons fluoreto (F-) e pH balanceado (Arenas, et al.,

2011). Na liga de Ti6Al4V, a presença do alumínio (Al), que enriquece a fase α (alfa)

do titânio, favorece a formação dos nanoporos e consequentemente o crescimento

ordenado dos nanotubos, pois, este, trata-se do precursor na construção de estruturas

porosas organizadas e que permite boa precisão na formação de camadas de óxido de

alumínio (Al2O3) (Masuda, et al., 1997). Ainda, os sulcos, que aparecem na figura 24

(a), películas crescidas a 15 V, podem ser decorrentes da presença de vanádio na fase ß

do titânio e de sua respectiva dissolução, pois pode ocorrer solubilização do óxido de

vanádio (V2O5) quando submetido à anodização na presença de íons fluoreto. Em

contrapartida, a fase α (alfa) enriquecida de alumínio, não apresenta nenhuma

dissolução detectável de seu óxido (Al2O3), além de proporcionar o aparecimento de

nanoporos extremamente bem ordenados e distribuídos uniformemente, potencializando

e mantendo estável o crescimento dos nanotubos de TiO2 (Luo, et al., 2008).

Por meio destas imagens de MEV da figura 24 foi possível observar que os

diâmetros obtidos obedeceram a uma ordem crescente de tamanho com o aumento do

Page 72: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

72

potencial aplicado, confirmando o que já se havia observado nos experimentos

relacionados à obtenção de camadas auto-organizadas de TiO2 sobre o Ti grau 2.

O aumento gradual dos diâmetros pôde também ser observado nas imagens de

MEV da figura 25, que mostram micrografias da superfície oxidada da liga de Ti6Al4V

após polarização em 15 V (a), 20 V (b) e 25 V (c) por 1h. As micrografias da figura 25

apresentam superfícies completamente recobertas pelos nanotubos, exceto na amostra

anodizada em 15 V por 1h, onde aparecem os sulcos provavelmente decorrentes do

processo de dissolução do óxido de vanádio (V2O5).

Analisando as micrografias (b) e (c) da figura 25 das amostras anodizadas a 20

V e 25 V por 1h, detectou-se a obtenção de uma superfície com estrutura de nanotubos

crescidos ordenadamente e bem distribuídos, que podem alcançar a espessura de ~ 400

nm a ~1 µm (Luo, et al., 2008).

a) b)

c) Fig. 25 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre a liga

Ti6Al4V em anodização potenciostática: a) 15 V, b) 20 V e c) 25 V por 1h.

Por fim, as micrografias obtidas por MEV e apresentadas na figura 26 mostram

o resultado da oxidação do Ti6Al4V via anodização potenciostática nos diferentes

potenciais no período de 1,5h. A morfologia das estruturas é de nanotubos crescidos

uniformemente sobre toda a área anodizada, bem distribuídos sobre toda a superfície e

com paredes independentes umas das outras. Os diâmetros apresentaram-se

visivelmente maiores de acordo com o aumento do potencial de anodização, fato que foi

observado durante toda a avaliação das amostras para ambos os materiais estudados. A

figura 26 (a) mostra a imagem resultante da anodização da liga de titânio em 15 V por

Page 73: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

73

1,5h, onde estão visíveis os sulcos decorrentes da provável dissolução do óxido de

vanádio formado na fase ß da liga de titânio.

a) b)

c)

Fig. 26 – Micrografias obtidas por MEV das películas de óxido crescidas sobre a liga

Ti6Al4V, em anodização potenciostática: a) 15 V b) 20 V e c) 25 V por 1,5h.

A obtenção das camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2, sobre a liga

biomédica utilizada em implante ortopédico (Ti6Al4V), foi possível em eletrólito

contendo 0,14 mol.L-1

de NH4F, devido ao alto grau de dissolução deste sal de flúor,

podendo ser considerado um procedimento eficiente e prático.

Utilizando-se anodização eletroquímica via potenciostática, foi possível o total

controle dos parâmetros eletroquímicos e obter a formação de homogêneas camadas de

nanotubos ordenadamente distribuídas sobre toda a área anodizada das amostras da liga

de Ti6Al4V, já a partir de 0,5h de polarização sob todos os potenciais. O procedimento

de obtenção das nanoestruturas foi realizado várias vezes, tratando-se de um método

que permite boa repetitividade e reprodutibilidade na obtenção das camadas auto-

organizadas de nanotubos de TiO2, sobre a liga de Ti6Al4V, inclusive a 25 V em todos

os tempos de polarização. Foi possível constatar que a obtenção das camadas de

nanotubos sobre a liga ortopédica foi eficiente e eficaz sobre todos os parâmetros e

tempos, fato que não se confirmou na obtenção das camadas de nanotubos sobre o Ti

grau 2, portanto, a liga Ti6Al4V mostrou melhores resultados de obtenção, com um

Page 74: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

74

amplo espectro de parâmetros de anodização possíveis, que permitem a obtenção das

mais diferentes morfologias de camadas de nanotubos.

O aspecto dos corpos de prova após anodização em eletrólito contendo íons

fluoreto foi registrado por meio de fotografia. Foi possível observar que, as amostras

recobertas pela película de nanotubos apresentaram coloração das áreas anodizadas em

tons de lilás, nas peças anodizadas em 15 V e cinza-fosco, nas peças anodizadas em 20

V. Já as amostra anodizadas em eletrólito livre de íons fluoreto apresentaram coloração

azul, semelhante à amostra de Ti grau 2.

a) b)

c) d)

Fig. 27 – a) Foto da amostra lixada; b) Foto da amostra de Ti6Al4V após anodização em

15 V por 1h; c) foto da amostra de Ti6Al4V após anodização em 20 V por 1h; d)

amostra recoberta com óxido compacto obtido a 20 V por 1h.

7.1.3 – Análise dimensional dos nanotubos de TiO2

O dimensionamento dos nanotubos obtidos sobre os materiais implantáveis

biocompatíveis, Ti grau 2 e Ti6Al4V, é necessário pois está relacionado com a

aplicação a que se destina um biomaterial recoberto por estrutura de nanotubos. Na

pesquisa em questão, a aplicação em implantes endósseos requer uma película de

nanotubos com dimensões específicas que favoreçam a adesão celular e multiplicação

celular que possibilite a melhoria do processo de osseointegração. Os nanotubos de

TiO2 permitem considerável aceleração na adesão de osteoblastos e exibem forte

ligação com a formação óssea melhorando a bioatividade dos implantes (Brammer, et

al., 2009). A presença dos nanotubos aumenta significativamente a área de contato

osso/implante, podendo acelerar o processo de formação óssea ao redor do implante,

mas isso não é suficiente para que se garanta uma boa adesão dos osteoblastos, e

Page 75: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

75

consequente multiplicação celular. Nanotubos com dimensões específicas vêm sendo

estudados para que se alcance melhora efetiva no processo de osseointegração e, os

diâmetros entre ~ 70 nm e ~ 100 nm, têm apresentado bons resultados com mais

eficiência na formação de osso neo formado e aceleração da nucleação e crescimento de

HAP (hidroxiapatita) (Brammer, et al., 2009; Kunze, et al., 2008). Além disso, camadas

de nanotubos com diâmetros maiores que ~ 100 nm não apresentam bons resultados de

adesão celular, pois não possibilitam a ocorrência de filopodia das células de

osteoblastos, fundamental para o processo de adesão celular. Ainda, os nanotubos com

as dimensões entre ~ 70 nm e ~ 100 nm podem induzir a uma aceleração significativa

na taxa de crescimento das células de osteoblastos, da ordem de 300% a 400% (Oh S.,

et al., 2006). Também, em nanotubos com as dimensões descritas acima, a deposição de

Ca (cálcio) e P (fósforo), no estágio inicial de nucleação da hidroxiapatita (HAP), é

maior provavelmente devido às camadas de nanotubos, com diâmetro em torno de ~ 100

nm, apresentarem espaços e intervalos entre os nanotubos facilitando a circulação de

fluidos (Kunze, et al., 2008; Oh S., et al., 2006).

Neste estudo, os valores dos diâmetros dos nanotubos obtidos sobre os materiais

biocompatíveis Ti grau 2 e sobre a liga Ti6Al4V, nos diferentes potenciais de

anodização e tempos de polarização, estão descritos na tabela 2. O mapeamento e

determinação dos diâmetros das estruturas de óxido nanotubulares foi realizada pelo uso

do software ImageJ em 30 pontos distintos e equidistantes em cada superfície dos

corpos de prova. O dimensionamento dos diâmetros foi realizado em triplicata e então

foi registrado o valor médio e o respectivo desvio padrão.

Analisando os dados da magnitude dos diâmetros apresentados na tabela 2 foi

possível verificar que há uma relação direta entre o potencial aplicado e o diâmetro dos

nanotubos obtidos, tanto para Ti grau 2 quanto para a liga Ti6Al4V. Quanto mais alto o

potencial aplicado no processo de anodização potenciostática para obtenção de

nanotubos, maiores os diâmetros dos nanotubos crescidos sobre o substrato metálico

(Bauer, et al., 2006; Macak, et al., 2008).

Observou-se que as amostras de Ti grau 2 anodizadas sob potencial de 15 V no

período de 1h apresentaram diâmetros de ~ 81 nm±14 e, com o aumento do potencial

para 20 V, os diâmetros foram de ~ 100 nm±18 e para 25 V ~ 129 nm±20. Já as

camadas de nanotubos presentes nos corpos de prova da liga ortopédica Ti6Al4V

apresentaram diâmetros a 15 V no período de 1h de anodização de ~ 89 nm±13, em 20

V as medidas foram de ~ 113 nm±20 e em 25 V ~ 149 nm±20. Comparando-se as

dimensões dos nanotubos obtidos sobre a liga ortopédica e sobre o Ti grau 2, verificou-

Page 76: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

76

se que os diâmetros dos nanotubos obtidos sobre a liga são maiores que aqueles obtidos,

sob as mesmas condições de anodização, sobre o Ti grau 2. Este dado ocorre devido a

presença do alumínio e vanádio como elementos de liga, que possibilitam um modelo

de crescimento dos nanotubos de TiO2 diferenciado daquele que se observa sobre o Ti

grau 2 comercialmente puro, a presença de duas fases distintas na liga Ti6Al4V (α e ß) e

os tamanhos e contornos de grão existentes na liga ternária, diferentes daqueles

observados no Ti grau 2 comercialmente puro.

Os valores dos diâmetros marcados em azul na tabela 2 (Ti grau 2 e Ti6Al4V

anodizados em 15 V e 20 V por 1h) correspondem às dimensões ideais para aplicação

em implantes endósseos, ou seja, os diâmetros entre a magnitude de ~ 80 nm a ~ 100

nm. Segundo a literatura, estima-se que as espessuras das camadas de nanotubos nestas

condições aqui estudadas sejam da ordem de 800 nm a 1µm para o Ti grau 2 e de 400

nm a 1 µm para a liga ortopédica de Ti6Al4V (Luo, et al., 2008). A espessura da

camada de nanotubos é um fator que também deve ser considerado na otimização de

parâmetros para a obtenção de nanotubos, pois, quanto mais espessa a camada de

nanotubos mais prematura a nucleação e o crescimento in vitro de partículas de HAP

(hidroxiapatita) (Tsuchiya, et al., 2006).

Tabela 2: Dimensionamento dos diâmetros dos nanotubos obtidos sobre o Ti grau 2 e sobre a liga Ti6Al4V.

Diâmetros (nm)

Potencial (V) Tempo (h) Ti grau 2 Ti6Al4V

0,5 ____________ 73±10

15 1,0 81±14 89±13

1,5 82±19 113±20

0,5 ____________ 109±18

20 1,0 100±18 113±17

1,5 143±20 121±22

0,5 ____________ 127±22

25 1,0 129±20 149±24

1,5 124±27 140±20

Page 77: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

77

Desta forma, foi possível obter os diâmetros de ~ 80 nm e ~ 100 nm em

anodização potenciostática, aplicando-se os potenciais de 15 V e 20 V por 1h, nos

materiais para implantes biocompatíves de Ti grau 2 e de Ti6Al4V tornando-se a

condição de anodização escolhida, dentre todas as outras, para ser aplicada no restante

dos experimentos que fazem parte deste estudo. Além disso, o método utilizado para

obtenção das camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2 foi de boa

reprodutividade e repetibilidade para ambos os materiais estudados.

Ainda, observou-se que as amostras submetidas ao mesmo potencial de

anodização nos crescentes tempos de polarização, em ambos os materiais anodizados

em 15 V e 20 V, apresentaram diâmetros cada vez maiores. Isto em função da reação no

contorno do nanotubo que ocorre pelo ataque preferencial dos íons fluoreto (F-) durante

todo o tempo, tornando a borda dos nanotubos cada vez mais fina (Schmuki, et al.,

2011). O mesmo não ocorreu nos nanotubos formados em 25 V por 1,5h, pois neste

caso observou-se uma diminuição dos diâmetros ou o colapso das estruturas

nanotubulares, especialmente em amostras de Ti grau 2. Provavelmente devido ao alto

potencial aplicado que gera uma alta densidade de corrente não suportada pela estrutura

de nanotubos, que entra em regime de reações concorrentes de formação e dissolução de

nanotubos no estágio de crescimento das nanoestruturas (Zhou, et al., 2010; Schmuki, et

al., 2011).

7.2 - Estudo da estabilidade termodinâmica

7.2.1 – Estabilidade das películas de óxido compacto e óxido nanotubular

de TiO2

Considerando as características dimensionais dos nanotubos, que tendem a

melhorar a bioatividade dos metais para aplicação em implantes, com diâmetros entre

80 nm e 100 nm, e a obtenção das camadas de nanotubos com boa repetitividade para

ambos os materiais, foi possível otimizar os parâmetros de anodização potenciostática

desta pesquisa.

Otimizados os parâmetros de anodização, 15 V por um período de 1h, para

obtenção de nanotubos com diâmetros aproximados de 80 nm e 20 V por um período de

1h, para obtenção de nanotubos com diâmetros aproximados de 100 nm, para ambos os

biomateriais, foi realizado o estudo da estabilidade termodinâmica das camadas de

nanotubos de TiO2 com o intuito de avaliar a estabilidade destas películas em meio de

fluidos corpóreos agressivos.

Page 78: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

78

Para se comparar a estabilidade termodinâmica da película de óxido

nanoestruturada com a não nanoestruturada (compacta), foram preparados corpos de

prova de Ti grau 2 e de Ti6Al4V com os mesmos parâmetros de anodização dos

nanotubos, mas em eletrólito contendo 1 mol.L-1

de H3PO4 livre de íons F-. Esta solução

possui um caráter menos corrosivo que outros eletrólitos ácidos (e até básicos),

possibilita o crescimento de camada de óxido não nanoestruturada (compacta) sobre os

metais biocompatíveis. Além disso, os íons fosfato (PO4)3-

podem ser incorporados à

camada de óxido anódico, tanto do Ti grau 2 quanto da liga Ti6Al4V, o que tende a

estimular a formação de camada biocompatível e bioativa. O menor ataque corrosivo

deste eletrólito sobre o titânio e a liga, quando comparado com outro meio ácido

(H2SO4, por exemplo), está relacionado à forte adsorção de íons fosfato (PO4)3-

na

superfície do óxido, o que o torna um eletrólito bastante adequado para modificação

superficial de metais para aplicação biomédica (Krasicka-Cydzik E., 2012).

A anodização potenciostática das amostras de Ti grau 2 e de Ti6Al4V, em 15 V

e 20 V por 1h, em eletrólito sem a presença de íons F-, resultou na obtenção de

superfícies recobertas com camada de óxido compacta.

Estas amostras apresentaram diferentes colorações: púrpura (Ti grau 2 anodizado

a 15 V/1h) e azul (Ti grau 2 anodizado a 20 V/1h), dourada (Ti6Al4V anodizado a 15

V/1h) e roxa (Ti6Al4V anodizado a 20 V/1h), diferentes daquelas visualizados nas

amostras com óxidos nanotubulares, onde na sua grande maioria são cinzas-fosco.

As diferentes colorações ocorrem em função das diferentes espessuras de filmes

de óxido que crescem sobre os substratos metálicos, Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V e, as

diferentes espessuras são obtidas por meio de parâmetros de anodização específicos

(eletrólito, potencial aplicado, tempo, etc). Este é um fenômeno de interferência entre o

feixe de luz refletida na interface metal/óxido e o feixe refletido na superfície do óxido

(Moon, et al., 2013).

A espessura de óxido obtida está diretamente relacionada à magnitude do

potencial aplicado na anodização, quanto maior o potencial de anodização utilizado

mais espessa será a camada de óxido crescida (Ciucciu R., et al., 2012) .

Os corpos de prova com filme de óxido de TiO2 não nanoestruturado, crescidos

a 15 V e 20 V por 1h podem apresentar espessuras aproximadamente entre 30 nm e 40

nm, respectivamente (Krasicka, 2012).

Para se estudar a estabilidade termodinâmica dos filmes de óxidos compactos,

crescidos em 15 V e 20 V por 1h, sobre os corpos de prova de Ti grau 2 e sobre a liga

Page 79: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

79

Ti6Al4V, foi utilizado o método eletroquímico de medida do potencial de circuito

aberto.

A medida do potencial de circuito aberto (ECA) é um experimento tradicional

para o estudo da estabilidade termodinâmica dos óxidos crescidos em superfícies de

metais. Este método consiste no monitoramento do potencial em relação ao tempo, por

meio do qual é possível se determinar o potencial de repouso ou potencial de

estabilidade do óxido, sua susceptibilidade aos processos de dissolução e o tempo

necessário para que o óxido alcance a estabilidade eletroquímica. Esse processo

espontâneo permite estudar a tendência à dissolução espontânea dos óxidos em meios

que simulam fluídos corpóreos. Para a medida de potencial de circuito aberto é comum

se utilizar solução PBS (phosphate buffered simulated) por se tratar de uma solução

fisiológica salina, não agressiva, com pH ~ 7. E para o estudo da dissolução, o meio

agressivo utilizado foi o sangue artificial a 37 ºC.

O comportamento de estabilidade termodinâmica, das amostras contendo filme

de óxido não estruturado (compacto) foi medido em eletrólito neutro de PBS durante 90

minutos (figura 28). Os dados de potencial de circuito aberto que possibilitaram

construir as curvas apresentadas foram obtidos a partir do cálculo da média aritmética

da triplicata. Observou-se o decréscimo do potencial para valores menos positivos, até

se atingir um valor praticamente constante. O perfil das curvas comprova a estabilidade

eletroquímica da película do óxido compacto crescida sobre os biometais, uma vez que

não foi verificada nenhuma transição no perfil dos potenciais que poderia levar ao

breakdown do filme anódico (Marino., et al., 2001). Ainda, os valores mais positivos,

mais nobres, para o Ti grau 2 anodizado em 20 V/1h (~ +16,5 mV) e em 15 V/1h (~

+10,8 mV), em comparação com os valores obtidos para a liga ortopédica Ti6Al4V

anodizada em 20 V/1h (~ + 1,5 mV) e em 15 V/1h (~ -70 m\V), determinam que o

óxido crescido sobre o Ti grau 2 é mais estável e menos susceptível à dissolução

independente do potencial de anodização.

O comportamento mais nobre e menos susceptível à dissolução do Ti grau 2

pode ser devido à presença na sua superfície do TiO2 mais uniforme e homogêneo e

portanto mais estável termodinamicamente (Marino , et al., 2001). Já na liga Ti6Al4V

há a formação de óxidos secundários, principalmente o Al2O3, que podem conferir

instabilidade à camada de óxido superficial (Marino, et al., 2006; Xie J, et al., 2008).

Page 80: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

80

Fig. 28 – Curvas de potencial de circuito aberto para o Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V

recobertos com camada de óxido compacto obtidas a 15 V e 20 V em 1 hora de

polarização, em solução PBS.

Os valores de potenciais de circuito aberto medidos nas amostras dos materiais

biocompatíveis Ti grau 2 e Ti6Al4V, recobertos com camada de óxido compacta, estão

na região de estabilidade eletroquímica do óxido de titânio (TiO2) de acordo com o

diagrama de Pourbaix, contudo, mostraram-se consideravelmente mais negativos que os

valores obtidos das amostras recobertas com camadas de nanotubos obtidas a 15 V e 20

V por 1h de anodização.

O comportamento de estabilidade eletroquímica das amostras de Ti grau 2 e as

da liga Ti6Al4V recobertas com óxidos nanotubulares crescidos via anodização

potenciostática, em 15 V e 20 V por 1h, foi estudado através do método de ECA

(potencial de circuito aberto), as amostras foram colocadas na célula eletroquímica,

ficando exposta à solução PBS (phosphate buffered simulated) apenas a área anodizada.

Durante 90 minutos foi realizada a medida do potencial de circuito aberto do sistema

metal (ou liga) recobertos com películas de óxido nanotubular. A seguir foi calculada a

média aritmética dos resultados da triplicata, o que possibilitou construir o gráfico

apresentado na figura 29. Cabe ressaltar que este experimento foi realizado antes do

processo de dissolução em sangue artificial (37 ºC), a fim de se avaliar o

comportamento prévio/inicial destas camadas de óxido nanotubular.

Page 81: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

81

As curvas de ECA vs. tempo obtidas demonstram a estabilidade eletroquímica

das camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2, sobre os materiais biomédicos, Ti

grau 2 e a liga de Ti6Al4V, uma vez que nenhuma variação no seu perfil foi observada,

ou seja, nenhum pico nenhum vale foi detectado durante toda a medida de potencial de

circuito aberto, o que poderia indicar a ruptura da camada do óxido nanotubular. Além

disso, o comportamento das curvas de potencial de circuito aberto, para ambos os

biomateriais, oxidados via potenciostática em 15 V e 20 V por 1h, apresentou tendência

a valores mais positivos após os primeiros dez minutos de leitura de potencial,

indicando que a superfície do metal apresenta camada protetiva e porosa de óxido, que

se mantém estável na superfície dos biomateriais estudados.

Fig. 29 – Curvas de potencial de circuito aberto, para o Ti grau 2 e a ligado Ti6Al4V,

recobertos com camadas de nanotubos de TiO2, obtidas a 15 V e 20 V em 1h de

polarização, em solução de PBS.

Foi possível constatar que, ambos os biomateriais com película de óxido

nanotubular obtida em 20 V por 1h, apresentaram potencial ainda mais nobre, podendo

indicar a presença de um óxido mais barreira, mais protetivo (Ti6Al4V ECA ~ +112

mV e Ti grau 2 ECA ~ +97 mV), que aqueles recobertos por película de óxido

nanotubular obtida em 15 V por 1h de anodização. Estes últimos apresentaram um

potencial menos nobre, provavelmente mais susceptíveis à dissolução quando

submetidos a meios agressivos (Ti grau 2 ~ +94 mV e Ti6Al4V ~ +61 mV) devido a

120

100

80

60

40

20

0

20 V

15 V

Page 82: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

82

camada barreira de óxido menos espessa e espessura da camada de nanotubos também

menor, tornando esta cobertura menos protetiva.

Os nanotubos obtidos sobre a liga ortopédica Ti6Al4V apresentam uma maior

dependência com o potencial de anodização potenciostática, pois passam de uma

condição de maior instabilidade do potencial de circuito aberto (menos nobres) quando

anodizados em 15 V, ao extremo do potencial mais nobre, quando os nanotubos são

obtidos via anodização potenciostática, em 20 V por 1h, indicando uma condição mais

adequada a aplicações biomédicas.

A ausência de nanotubos na região onde supostamente deveria haver o óxido de

vanádio (V2O5) foi possível ser observada em todas as micrografias das amostras de

Ti6Al4V, anodizadas em 15 V por 1h, apresentando os sulcos característicos da

provável dissolução do óxido de vanádio e consequentemente, a não formação da

estrutura nanotubular. Já para as amostras anodizadas em 20 V por 1h, houve a ausência

dos sulcos de dissolução. Este dado pode ser determinante na diferença de

comportamento de estabilidade eletroquímica das camadas de nanotubos obtidas sobre a

liga ortopédica Ti6Al4V.

Os resultados indicativos da boa estabilidade termodinâmica das camadas de

nanotubos presentes sobre o Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V refletem os benefícios que a

morfologia dos nanotubos podem conferir aos implantes metálicos. A película que

recobre a área anodizada é densamente recoberta por nanotubos e, além disso, existe

ainda a presença de uma camada de óxido de TiO2 na base dos nanotubos (camada

barreira de óxido), que faz parte da morfologia da película que recobre os metais

anodizados. Este conjunto: nanotubos + camada barreira de óxido aumenta a área

superficial específica exposta em solução, o que corrobora para que se alcance os

resultados de estabilidade aqui obtidos (Zhang F., et al., 2009; Karpagavalli., et al.,

2007).

As superfícies das amostras recobertas com camadas de nanotubos atingem um

estado relativamente estável logo que são imersas em solução PBS. Este fato pode estar

relacionado diretamente com a morfologia das camadas de nanotubos que recobrem os

materiais em estudo. As camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2 possuem uma

conformação tridimensional, composta por uma camada barreira de óxido sobreposta

pelos nanotubos, que crescem verticalmente sobre a mesma (Yu W., et al., 2009). Este

conjunto estruturado, nas condições de anodização aqui empregadas, pode ter alcançado

valores entre 600 nm e 1 µm de espessura (Bauer., et al., 2006; Schmuki., et al., 2009).

Page 83: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

83

Comparando-se as morfologias destas duas estruturas, percebe-se que o filme de

nanotubos pode alcançar uma espessura até 20 vezes maior que a da camada de óxido

compacta, que estima-se alcançar de 30 nm a 40 nm, nas condições de anodização deste

trabalho (Krasicka, 2012). Em decorrência desta grande variação na espessura, as

amostras recobertas com camadas auto-organizadas de nanotubos de TiO2, sobre o Ti

grau 2 e sobre a liga Ti6Al4V, apresentaram potenciais mais positivos, que aqueles

encontrados nas amostras recobertas com óxido não nanoestruturado.

Comparando-se o comportamento das amostras de Ti grau 2 recobertas com

nanotubos (figura 29) e aquelas com óxido compacto (figura 28) foi observada uma

diferença significativa nos potenciais finais de equilíbrio em torno de 86%. O Ti grau 2

recoberto com nanotubos apresentou potencial médio ~ +95,5 mV (mais nobre)

enquanto o recoberto com camada de óxido compacto, o potencial médio foi de ~ +13,6

mV (menos nobre). Este dado reflete novamente a influência da morfologia da camada

de nanotubos, sobre a estabilidade termodinâmica do óxido de Ti grau 2, que consiste

numa camada barreira de óxido sobreposta por uma densa e ordenada camada de

nanotubos, que independente do seu diâmetro, torna a superfície do metal mais estável

termodinamicamente que o metal recoberto com camada de óxido compacto (Zhang F.,

et al., 2009). A estrutura da camada de nanotubos possui uma camada de óxido barreira

que estima-se alcançar o valor do diâmetro do nanotubo obtido sobre ela, assim, se o

diâmetro do nanotubo crescido for de ~ 80 nm, provavelmente abaixo da camada de

nanatubo existirá uma camada de óxido barreira de aproximadamente 80 nm (Mor G.

K., 2006). Em síntese, os óxidos nanotubulares possuem potencial termodinâmico mais

positivo que as películas de óxido compacto, independente do potencial de anodização

em que foram crescidos. Estes resultados estão apresentados no gráfico de colunas na

figura 30, onde observa-se claramente a definição dos comportamentos mais nobres na

presença de nanoestruturas tubulares.

Page 84: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

84

0 20 40 60 80

0

20m

40m

60m

80m

100m

E (

mV

)

Tempo (min)

Nt 15 V

Nt 20 V

Compacto 15 V

Compacto 20 V

Ti grau 2

Fig. 30 – Comparação entre o potencial de circuito aberto do Ti grau 2 recoberto por

nanotubos e com óxido compacto em solução PBS, crescidos em 15 V e 20 V durante

1h de polarização.

Comparando-se o comportamento das amostras de Ti6Al4V recobertas com

nanotubos e aquelas com óxido compacto foi observada uma diferença significativa nos

potenciais finais de equilíbrio, semelhante ao que se observou no estudo do Ti grau 2.

As amostras recobertas com película nanoestruturada apresentaram potencial mais

positivo, mais nobre que o potencial das amostras recobertas somente com óxido

compacto. Apresentando potenciais da ordem de ~ +61 mV e ~ +112 mV, nas amostras

anodizadas a 15 V e 20 V por 1 h, enquanto que as amostras de óxido compacto

apresentaram potencial de circuito aberto em torno de ~ -70 mV (15V/1h) e ~ + 1,5 mV

(20 V/1h).

Todavia, este comportamento eletroquímico parece ser dependente do potencial

de polarização potenciostática quando o biomaterial em questão é a liga Ti6Al4V.

Concordantemente às curvas cronoamperométricas e às análises morfológicas já

apresentadas, a presença do óxido de vanádio (V2O5) pode inferir instabilidade

termodinâmica em óxidos auto-organizados obtidos a 15 V. Desta forma, as camadas de

óxido crescidas sobre a liga ortopédica provaram ser mais estáveis e protetoras na forma

de nanotubos quando obtidas a 20 V/1h. Estes resultados estão apresentados nos

gráficos de colunas da figura 31, onde se detecta a nobreza dos potenciais quando os

óxidos são nanotubulares e a variação da estabilidade termodinâmica com o potencial de

anodização para a liga Ti6Al4V, tanto em óxidos compactos quanto em nanotubulares.

Eca

(m

V)

vs.

EC

S

Page 85: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

85

0 20 40 60 80

-60m

-40m

-20m

0

20m

40m

60m

80m

100m

120m

E (

mV

)

Tempo (min)

Nt 15V

Nt 20V

Compacto 15 V

Compacto 20 V

Ti6Al4V

Fig. 31 – Comparação entre o potencial de circuito aberto da liga Ti6Al4V recoberto

por nanotubos e com óxido compacto em solução PBS, crescidos em 15 V e 20 V

durante 1h de polarização.

Finalmente, comparado-se os potenciais finais de estabilidade termodinâmica

das amostras de Ti grau 2 e da liga de Ti6Al4V, foi possível concluir que os óxidos

crescidos via anodização potenciostática aplicando-se potencial de polarização de 20 V

por 1h, apresentam potencial de circuito aberto em solução neutra de PBS, mais

positivo, mais nobre e menos susceptível à dissolução em sua forma nanotubular auto-

organizada. Além disso, o potencial de anodização de 20 V proporciona a formação de

camada de óxido mais espessa, tanto para a camada de óxido compacta quanto para a

nanoestruturada, tornando os biomateriais estudados mais protegidos e estáveis

termodinamicamente.

De uma forma geral, analisando os resultados, pôde-se observar que as amostras

recobertas pela película de nanotubos apresentaram os valores de potencial de circuito

aberto mais positivos quando comparadas com as amostras recobertas por filme de

óxido compacto. Este dado reflete a excelente propriedade dos filmes nanoestruturados

de TiO2: de proteção e estabilidade termodinâmica, devido à espessa camada, uniforme,

estável e aderente aos substratos metálicos à base de titânio.

Foi possível concluir ainda que, a liga ortopédica Ti6Al4V anodizada em 20 V

por 1h, recoberta com película nanoestruturada, apresentou o melhor resultado de

potencial de equilíbro (~ +112 mV), isto é, ainda mais nobre que o Ti grau 2 (~ +97,6

mV), sugerindo que a liga apresenta filme óxido nanoestruturado mais estável, mais

Eca

(m

V)

vs.

EC

S

Page 86: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

86

protetor e portanto menos susceptível à dissolução. Quando se trata de óxidos

nanotubulares auto-organizados, os elementos de liga conferem estabilidade ao óxido,

contrariamente quando o óxido é compacto.

7.2.2 - Estudo do processo de dissolução espontânea das películas de óxido

compacto e de óxidos nanoestruturados

Óxidos Compactos não nanoestruturados:

O estudo do processo de dissolução espontânea é um método eletroquímico

analítico, que avalia a tendência à dissolução ou corrosão de uma superfície metálica,

recoberta ou não por camada de óxido, após ter sido imersa por um determinado período

de tempo em eletrólito corrosivo. Uma forma de se avaliar a estabilidade termodinâmica

da camada de óxido, após imersão em fluídos corrosivos, é a medida de potencial de

circuito aberto. Realizando-se as medidas de potencial antes (já descrito no item 7.2.1) e

depois da imersão em solução corrosiva, fez-se o estudo comparativo dos resultados de

potencial de estabilidade termodinâmica e do potencial estacionário, obtidos após

imersão em solução corrosiva. Conhecendo-se os valores de potencial de circuito

aberto, pode-se verificar, pela diferença entre os potenciais, a suceptibilidade à

dissolução/corrosão da superfície analisada no meio empregado.

Trata-se de um estudo de extrema relevância quando os materiais que se

pretende investigar são biomateriais implantáveis, que devem permanecer no organismo

humano por longo período de tempo, pois os implantes endósseos estarão em contato

com sangue, que é tão corrosivo quanto a água do mar. O que pode levar ao

desprendimento, por parte do implante, de elementos nocivos ao organismo humano

(Zavaglia C., 2008). Além disso, o tratamento superficial, como a obtenção de

nanotubos auto-organizados, só pode melhorar a interação osso-implante se realmente

esta película se mantiver estável na superfície do biomaterial em condições de fluído e

temperatura corpóreos. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a suceptibilidade à

dissolução/corrosão dos óxidos nanoestruturados e compactos obtidos através de

anodização potenciostática a 15 V e 20 V por 1h, sobre os biomateriais utilizados em

implantes, Ti grau 2 e a liga ortopédica Ti6Al4V, após imersão por 15, 30 e 60 dias em

sangue artificial na temperatura de 37ºC. Para o experimento foram preparadas

triplicatas dos corpos de prova recobertos por nanotubos e por óxido compacto não

nanoestruturado.

Page 87: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

87

Para os óxidos compactos, os resultados de potencial de estabilidade

termodinâmica e potencial estacionário após imersão em sangue artificial a 37 ºC

durante 15, 30 e 60 dias, crescidos nas mesmas condições de anodização potenciostática

sobre o Ti grau 2 e sobre a liga Ti6Al4V, estão apresentados pelo gráfico de linhas e

colunas apresentado na figura 32. Os valores das medidas de potencial são referentes à

média aritmética dos valores obtidos da triplicata das amostras de Ti grau 2 e do

Ti6Al4V, anodizados a 15 V/1h e 20 V/1h, e o desvio padrão das medidas de potencial

de estabilidade termodinâmica e de potencial estacionário após imersão em sangue

artificial, foi milesimal, indicando a boa estabilidade dos óxidos não nanotubulares

formados e a confiabilidade das medidas.

O gráfico de linhas e colunas da figura 32 mostra a diferença entre o potencial de

estabilidade termodinâmica e o potencial de circuto aberto após dissolução em solução

corrosiva, das amostras de Ti grau 2 e Ti6Al4V anodizadas a 15 V e 20 V/1h.

Fig. 32 - Potenciais de circuito aberto do Ti grau2 e da liga Ti6Al4V recobertos com

camada de óxido não nanoestruturado antes da imersão em sangue artificial e após 15,

30 e 60 dias em sangue artificial a 37 ºC.

Analisando as diferenças dos potenciais de circuito aberto obtidos foi possível

concluir que a liga ortopédica recoberta por óxido compacto a 20 V/1h apresenta menor

ECA antes da

imersão em

sangue

artificialca

15 30

15

60

30

15

Page 88: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

88

tendência à dissolução quando imersa em solução corrosiva de sangue artificial a 37 ºC,

por diferentes períodos de tempo.

Apesar do Ti grau 2 apresentar potenciais bastante positivos, seja em óxidos

obtidos a 15 V ou 20 V, após o teste de imersão, este apresentou susceptibilidade à

dissolução espontânea.

Nanotubos auto-organizados:

O gráfico de linhas e colunas apresentado na figura 33, mostra os resultados

comparativos de potencial de estabilidade termodinâmica do Ti grau 2 recoberto por

óxidos nanotubulares, obtidos a 15 V e 20 V por 1h, antes da imersão em sangue

artificial, e a medida de potencial estacionário, após o processo de dissolução

espontânea em solução corrosiva de sangue artificial a 37 ºC.

Fig. 33 – Potenciais de circuito aberto do Ti grau 2 com óxido nanotubular antes da

imersão em sangue artificial e após 15 , 30 e 60 dias em sangue artificial a 37 ºC.

O Ti grau 2 anodizado em 20 V/1h apresentou potencial de estabilidade

termodinâmica, antes da imersão das amostras em solução de sangue artificial, de ~ +97

mV, enquanto que a amostra de Ti grau 2 anodizada em 15 V/1h apresentou potencial

termodinâmico de ~ +94 mV, indicando a sua independência com o potencial de

anodização, como já descrito anteriormente (item 7.2.1). Após 15 dias de imersão em

sangue artificial a 37 ºC, a amostra de Ti grau 2 com nanotubos obtidos em anodização

potenciostática a 20 V/1h, exibiu o comportamento mais nobre, ou seja, menos negativo

15 30 60

ECA antes da

imersão em

sangue artificialca

Page 89: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

89

e portanto, menos susceptível à dissolução, com potencial estacionário da ordem de

-142 mV enquanto o Ti grau 2, anodizado a 15 V/1 h, apresentou potencial estacionário

mais negativo após 15 dias de imersão em sangue artificial, de ~ -161 mV. A diferença

entre o potencial de estabilidade termodinâmica e o potencial estacionário, após

dissolução em solução corrosiva em sangue artificial a 37 ºC, foi da ordem de 6% mais

positivo para o Ti grau 2 anodizado em 20 V/1h, indicando assim que o sistema Ti grau

2/óxido nanotubular obtido em 20 V/1h manteve-se mais estável que as películas

obtidas em 15 V/1h em solução e temperatura corpóreas, independentemente do tempo

de imersão.

Observando-se o gráfico de linhas e colunas da figura 34, é possível avaliar os

potenciais de estabilidade termodinâmica, antes da imersão em sangue artificial, da liga

ortopédica Ti6Al4V recoberta com película de nanotubos e comparar com a medida de

potencial estacionário, após o processo de dissolução espontânea em solução corrosiva

de sangue artificial a 37 ºC.

Fig. 34 – Potenciais de circuito aberto da liga Ti6Al4V recoberta com óxido

nanotubular antes da imersão em sangue artificial e após 15 , 30 e 60 dias em sangue

artificial a 37 ºC.

A liga ortopédica Ti6Al4V, anodizada via potenciostática em 20 V/1h,

apresentou potencial de estabilidade termodinâmica, antes da imersão das amostras em

solução de sangue artificial, por volta de ~ +112 mV, enquanto que a amostra de

Ti6Al4V, anodizada em 15 V/1h, apresentou potencial de estabilidade termodinâmica

15 30 60

ECA antes da

imersão em

sangue artificialca

Page 90: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

90

em torno de ~ +61 mV, indicando a dependência do potencial de circuito aberto com o

potencial de anodização da liga, como descrito no item 7.2.1. Após 15 dias de imersão

em sangue artificial, a amostra de Ti6Al4V com nanotubos obtidos em anodização

potenciostática a 15 V/1h, exibiu o comportamento mais nobre, ou seja, menos negativo

e, portanto, menos susceptível à dissolução. O potencial estacionário foi de ~ -151 mV

enquanto que a liga Ti6Al4V anodizada a 20 V/1 h, apresentou potencial estacionário

mais negativo, em torno de ~ -183 mV. A diferença entre o potencial de estabilidade

termodinâmica e o potencial estacionário, após dissolução em solução corrosiva de

sangue artificial a 37 ºC foi da ordem de 28% mais positivo para o Ti6Al4V anodizado

em 15 V/1h, indicando assim que o sistema Ti6Al4V/camada de nanotubos obtidos em

15 V/1h manteve-se mais estável que as películas obtidas em 20V/1h imersas em

solução e temperatura corpóreas, independente do tempo de imersão.

O desvio padrão das medidas de potencial de estabilidade termodinâmica e de

potencial estacionário após imersão em sangue artificial foi milesimal, indicando a

estabilidade dos óxidos nanotubulares formados e a confiabilidade das medidas.

Finalmente, foi possível concluir que a liga ortopédica Ti6Al4V/óxido

nanotubular (15 V/1h), após 15 dias de imersão em sangue artificial, apresentou uma

diferença entre o potencial de estabilidade termodinâmica e o potencial estacionário

cerca de 11% menor que o Ti grau 2/óxido nanotubular (20 V/1h), evidenciando a

menor tendência à dissolução em solução corrosiva do sistema eletroquímico: camada

barreira de óxido + nanotubos auto-organizados sobre a liga Ti6Al4V anodizada em 15

v/1h.

Esperava-se que a liga Ti6Al4V, com nanotubos crescidos a 20 V/1h em

anodização potenciostática, apresentasse maior estabilidade e, portanto, menor

tendência à dissolução em 15 dias de imersão em sangue artificial. Isso porque o

potencial de estabilidade termodinâmica foi mais nobre (~ +112 mV) que aquele obtido

para a liga anodizada em 15 V/1h (~ +61 mV). No entanto, a diferença entre os

potenciais de estabilidade termodinâmica e o potencial estacionário, após imersão em

sangue artificial, foi cerca de 14% menor para a liga anodizada em 15 V/1h. Este dado

pode ser justificado pelo tamanho dos diâmetros dos nanotubos na liga anodizada a 20

V/1h, que são da ordem de 113±17 nm, enquanto os diâmetros da liga anodizada a 15

V/1h apresentam-sem da ordem de 89±13 nm. Quanto maiores os diâmetros dos

nanotubos obtidos maior contato do eletrólito com a camada barreira de óxido,

possibilitando maior ataque da solução corrosiva. O tamanho dos diâmetros dos

nanotubos possibilita uma maior reação interfacial em função da área exposta entre a

Page 91: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

91

superfície e o eletrólito e proporciona mais canais de acesso à camada barreira de óxido,

potencializando o contato eletrólito/óxido barreira e consequentemente possível maior

dissolução (Yang H., et al.,2009; Kim W., et al., 2009).

Já, com o aumento do tempo de imersão, os sistemas eletroquímicos liga

Ti6Al4V e o Ti grau 2 recobertos com óxidos nanotubulares apresentaram potenciais

cada vez menos negativos, independente do potencial de anodização onde, estes dados

podem ser observados por meio do gráfico de linhas e colunas da figura 35. O Ti grau

2/óxido nanotubular (15 V/1h) apresentou potencial de estabilidade termodinâmica da

ordem de ~ +94 mV e os potenciais estacionários verificados após dissolução em

solução de sangue artificial após 30 e 60 dias a 37 ºC foram da ordem de ~ -158 mV e ~

-136 mV, respectivamente. Já a amostra de Ti grau 2/óxido nanotubular (20 V/1h),

apresentou o valor de potencial de estabilidade termodinâmica da ordem de ~ +97 mV e

o potencial estacionário, após 30 dias de imersão em solução corrosiva, foi de ~ -132

mV e após 60 dias de imersão da ordem de ~ -128 mV. Considerando os dados

apresentados, conclui-se que o Ti grau 2/óxido nanotubular (20 V/1h) apresenta a menor

tendência à dissolução se comparado ao Ti grau 2/óxido nanotubular (15 V/1h),

independente do tempo de imersão em sangue artificial.

A análise da liga Ti6Al4V/óxido nanotubular (15 V/1h) apresentou um potencial

de estabilidade termodinâmica da ordem de ~ +61 mV e o potencial estacionário, após

30 dias de imersão em solução de sangue artificial, de ~ -124 mV e, após 60 dias de

imersão potencial da ordem de ~ -110 mV. Enquanto que o sistema: liga Ti6Al4V/óxido

nanotubular (20 V/1h) apresentou potencial de estabilidade termodinâmica de ~ +112

mV e o potencial estacionário, após 30 e 60 dias de imersão em sangue artificial a 37 ºC

de ~ -135 mV e ~ -126 mV, respectivamente. Conclui-se, observando o gráfico da

figura 35, que o potencial estacionário obtido após dissolução espontânea em sangue

artificial a 37 ºC, para a liga Ti6Al4V/óxido nanotubular (15 V/1h) foi o menos

negativo em 30 e 60 dias de imersão se comparado ao potencial resultante da dissolução

da camada de óxido nanotubular da amostra de Ti6Al4V (20 V/1h). Ainda, a liga

ortopédica recoberta com nanotubos obtidos a 15 V/1h, apresentou a menor diferença

entre o potencial de estabilidade termodinâmica e o potencial estacionário, se

comparado com os valores obtidos de potencial de circuito aberto das amostras de Ti

grau 2/óxido nanotubular (15 V e 20 V/1h) e da liga ortopédica anodizada em 20 V/1h,

que pode indicar a menor dissolução de camada de óxido nanotubular para a liga

ortopédica Ti6Al4V/óxido nanotubular (15 V/1h), independente do tempo de imersão

em sangue artificial.

Page 92: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

92

Estes resultados despertaram o interesse por uma investigação mais profunda a

respeito da estabilidade das camadas de óxido nanotubular, quando imersos em sangue

artificial por diferentes períodos de tempo. O fato dos potenciais estacionários tornarem-

se cada vez mais positivos à medida que as amostras permanecessem mais tempo em

solução corrosiva demonstrou que, provavelmente, algum fator paralelo ao processo de

dissolução estaria inibindo a resposta do potencial à dissolução/corrosão.

Os nanotubos, se “bloqueados” pela adsorção de íons da solução de sangue

artificial, podem apresentar o potencial estacionário menos negativo, entretanto, não é

um resultado que confirme a efetiva interrupção da dissolução/corrosão do óxido que

recobre o substrato metálico.

Fig. 35 – Potenciais de circuito aberto do Ti grau2 e da liga Ti6Al4V recobertos com

óxido nanotubular antes da imersão em sangue artificial e após 15, 30 e 60 dias em

sangue artificial a 37 ºC.

Desta forma, há uma tendência de que o óxido nanotubular que recobre o metal

base continue a ser dissolvido pela solução de fluidos corpóreos, no entanto, não se

observa este nível de dissolução por meio da análise de potencial de circuito aberto.

Este é um indicativo de que o filme de óxido atinge uma taxa de dissolução

aproximadamente constante quando imerso em soluções que contém íons cloreto (Cl-) e

15 30

5

60

30

15

Eca antes da

imersão em

sangue

artificialca

Page 93: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

93

o efeito dos precipitados adsorvidos sobre a camada de óxido bloqueiam parcialmente a

condutividade iônica nas aberturas dos nanotubos (Souto et al., 2003; Simka et al.,

2011).

Comparando-se os gráficos das figuras 32 (Eca inicial e Eca após dissolução em

sangue artificial dos óxidos compactos) e 35 (Eca inicial e Eca após dissolução em

sangue artificial dos óxidos nanotubulares) pode-se concluir que, as amostras de Ti grau

2 e da liga ortopédica Ti6Al4V recobertas com nanotubos em 15 V e 20 V/1h

apresentam claramente menor dissolução/corrosão que aquelas recobertas por camada

de óxido compacto de TiO2 obtidos sob as mesmas condições de anodização. Este dado

reflete o caráter mais protetivo, mais barreira, da camada de nanotubos quando presente

sobre o substrato metálico. A maior espessura dos sistemas de camadas de nanotubos

auto-organizados possibilita, portanto, a melhor estabilidade termodinâmica das

camadas de óxido de TiO2 nanotubulares. Esta característica pôde ser observado na

análise dos gráficos 30 e 31, que mostra as grandes regiões de potencial mais positivo

no estudo dos materiais recobertos com nanotubos em comparação com aqueles

recobertos com óxido compacto.

Assim, as amostras foram submetidas à análise por microscopia eletrônica de

varredura (MEV), para se verificar qual a condição superficial das camadas de óxido

nanotubular após imersão em solução corrosiva por 15, 30 e 60 dias a 37 ºC, pois os

resultados obtidos de potenciais menos negativos com a imersão em sangue artificial em

períodos de tempo crescentes, talvez fossem provenientes do selamento dos nanotubos,

por íons advindos da solução de sangue artificial, na superfície dos óxidos

nanotubulares.

Para comprovar a presença dos precipitados Ca e P sobre o filme de óxido

nanotubular foram obtidas imagens de MEV das amostras de Ti grau 2 (figuras 36 e 37)

e da liga Ti6Al4V (figuras 38 e 39), após imersão em sangue artificial a 37 ºC por 15,

30 e 60 dias.

As superfícies de Ti grau 2 (figura 36 ), recobertas com nanotubos obtidos em 15

V/1h, revelam que a partir de 15 dias de imersão em sangue artificial iniciou-se o

selamento da camada de óxido nanotubular. Já em 30 dias o selamento/precipitação foi

progredindo até que, em 60 dias, a obstrução dos poros foi quase completa, sendo

possível visualizar a presença dos nanotubos quase que inteiramente recobertos pelos

precipitados. Este fenômeno ocorre muitas vezes porque, tanto a espessura quanto a

composição química da camada de óxido de titânio, exibem importante papel na

adsorção de proteínas, provenientes dos fluidos biológicos, bem como a atração de

Page 94: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

94

células em sua superfície (Yang., et al., 2010; Liu ., et al., 2004). Na composição do

sangue artificial, os íons que geralmente são atraídos pela camada TiO2 estão presentes,

onde este óxido tem demonstrado grande afinidade físico-química aos íons Ca2+

, P5+

,

(PO4)3-

, e esta propriedade vem sendo estudada em experimentos que envolvem testes in

vitro de bioatividade. Os testes biomiméticos que se realizam por meio do crescimento

de HAP (hidroxiapatita) sobre óxido de TiO2 imerso em SBF (simulated body fluid) são

um exemplo desta prática (Tsuchiya H., et al., 2006).

Resultado semelhante foi observado nas micrografias apresentadas na figura 37;

onde foi possível observar que o selamento de poros do Ti grau 2 anodizado em 20 V/

1h, teve início a partir de 15 dias de imersão em solução de sangue artificial a 37 ºC e,

progressivamente a precipitação de espécies foi ocorrendo até recobrir totalmente a área

analisada. Foi observado que em 15 dias, as regiões de selamento são bem localizadas

deixando à mostra grande parte dos nanotubos presentes sobre o substrato metálico.

a) b)

c)

Fig. 36 – Micrografias obtidas por MEV de nanotubos crescidos a 15 V/1h sobre Ti

grau 2 imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c).

Page 95: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

95

a) b)

c)

Fig. 37 - Micrografias obtidas por MEV de nanotubos crescidos a 20 V/1h sobre Ti grau

2 imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c).

A figura 38 (a), (b) e (c) apresenta a progressão do selamento dos nanotubos que

recobrem a liga Ti6Al4V anodizada a 15 V/1h. As amostras imersas em sangue artificial

apresentaram selamento de poros também a partir de 15 dias de imersão, progredindo

até quase a totalidade do recobrimento da superfície em 60 dias de imersão. A figura 39

(c) mostra que, mesmo após 60 dias de imersão em sangue artificial a 37 °C, o óxido

nanotubular permanece presente sobre o substrato metálico.

a) b)

Page 96: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

96

c)

Fig. 38 - Micrografias obtidas por MEV de nanotubos crescidos a 15 V/1h sobre

Ti6Al4V imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c).

A liga ortopédica anodizada em 20 V/1h, apresentou como resultado as

micrografias (a), (b) e (c) da figura 39. Pode-se observar que em 15 dias de imersão em

sangue artificial a 37 ºC há um sutil início do prcesso de selamento nos nanoporos que

está indicado pela seta (figura 39 (a)). Em 30 dias de imersão em sangue artificial, o

selamento/precipitação mostrou-se ainda bastante superficial e após 60 dias de imersão,

a superfície apresentou-se completamente recoberta pelos precipitados do eletrólito, já

não sendo visível nenhuma estrutura de nanotubos.

a) b)

c)

Fig. 39 - Micrografias obtidas por MEV de nanotubos crescidos a 20 V/1h sobre

Ti6Al4V imerso em sangue artificial a 37 ºC por 15 dias (a) 30 dias (b) e 60 dias (c).

A diferença no selamento/precipitação que se observa, comparando as

micrografias das amostras de Ti grau 2 e da liga ortopédica, pode ser devido à presença

Page 97: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

97

do óxido de TiO2, e nenhuma outra espécie de óxido, sobre o Ti grau 2, enquanto

obtém-se óxidos secundários (Al2O3 e V2O5) na anodização da liga que, provavelmente,

interferem na afinidade físico-química aos íons presentes na solução de sangue artificial.

Nas estruturas com película de nanotubos pôde-se observar que, os poros dos

nanotubos são o que efetivamente potencializam o selamento/precipitação e adsorção de

íons do eletrólito corrosivo. Esta morfologia permite que as espécies presentes na

solução sejam adsorvidas em seus vazios e ali permaneçam, formando uma densa

camada de precipitado sobre toda a película de nanotubos. Esta característica pode ser

benéfica na aplicação biomédica, pois os nanotubos de TiO2 podem ser dopados e/ou

tratados com íons que tendem a melhorar a interação osso/implante (como Ca, P e

HAP), bem como conferirem atividade anti-bacteriana às superfícies, dependendo dos

dopantes utilizados (Yang S., et al., 2006). O selamento dos poros dos nanotubos ocorre

em função da grande afinidade físico-química dos íons cálcio, fósforo ao óxido de TiO2.

No entanto, quando a nanoestrutura é “bloqueada”, suas funções ou propriedades de

aumento de área superficial específica podem ser afetadas e prejudicadas.

Foi observado também, que as amostras recobertas por filme de óxido compacto,

sobre Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V, quanto mais tempo permaneceram em sangue

artificial, mais negativo se tornou o potencial, mostrando a tendência à dissolução do

filme óxido sem que houvesse o selamento/precipitação superficial. Este fato foi

observado por meio das figuras 40 e 41 que mostram as imagens de MEV para os

óxidos compactos (não nanoestruturado) obtidos a 20 V/1h, antes e após o teste de

imersão, as camadas de óxido antes do teste de imersão, estão uniformemente

distribuídas pelas superfícies dos metais, não possuem morfologia definida e são livres

de poros (figura 40 a) e b)).

As amostras de Ti grau 2/óxido compacto e da liga ortopédica/óxido compacto,

após terem sido imersas em sangue artificial a 37 ºC por 60 dias (figura 41)

apresentaram a morfologia similar aos óxidos antes do teste de imersão. Foi possível

observar que não ocorreram alterações na morfologia e na distribuição superficial do

filme de óxido, independentemente do biomaterial ou tempo de imersão. Este dado pode

ser atribuído ao processo de dissolução ser mínimo, com cargas envolvidas no processo

de dissolução da ordem de 1,25 mC.cm-2

, podendo não ser , evidenciado por imagens de

MEV (Marino., et al., 2001).

Page 98: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

98

a) b)

Fig. 40 – Micrografas de MEV: Ti grau 2 (a) e Ti6Al4V (b) com camada de óxido

compacto não nanoestruturada, obtida via anodização potenciostática a 20 V/1h em

solução de 1 mol.L-1

de H3PO4.

a) b)

Fig. 41 – Micrografias de MEV: Ti grau 2 (a) e Ti6Al4V (b) com camada de óxido

compacto não nanoestruturada, obtida via anodização potenciostática a 20 V/1 h em

solução de 1 mol.L-1

de H3PO4, após imersão em sangue artificial a 37 ºC por 60 dias.

Ainda nas imagens apresentadas da figura 41, não foi possível detectar nenhum

indício de selamento/precipitação ou adsorção de espécies do eletrólito corrosivo de

sangue artificial sobre a estrutura de óxido compacto não nanoestruturado. Isso pode ser

devido à morfologia não definida e ausência de poros desta estrutura. Este dado pode

ser de grande importância quando se trata da afinidade que a camada de óxido de TiO2

apresenta sobre os íons Ca e P, pois ficou evidente nas imagens por MEV das amostras

recobertas por nanotubos, que a adsorção das espécies advindas da solução ocorre na

estrutura com nanotubos através do selamento de poros. Nesta etapa, é importante

identificar quais íons estão presentes nos precipitados e se esta alteração superficial será

benéfica para a bioatividade dos biomateriais implantáveis aqui estudados.

Page 99: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

99

7.3 – Caracterizações superficiais

7.3.1 – Análise de elementos – EDS (Espectrofotometria de Energia

Dispersiva).

Constatado o selamento/precipitação das camadas de óxido nanotubular sobre o

Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V, anodizados via potenciostática em 15 V e 20 V por 1h, em

eletrólito contendo íons fluoreto, fez-se necessária a investigação sobre quais íons

estariam adsorvidos nos poros dos nanotubos. Para esta investigação foi escolhido o

EDS (energy dispersive x-ray detector, EDX ou EDS) que é um acessório essencial no

estudo de caracterização microscópica de materiais.

Um detector instalado na câmara de vácuo do MEV (microscópio eletrônico de

varredura) mede a energia associada aos elétrons correspondentes a cada elemento

químico(s) da tabela periódica. Como os elétrons de um determinado átomo possuem

energias distintas, é possível, no ponto de incidência do feixe, determinar quais os

elementos químico estão presentes naquele ponto e assim identificar o(s) elemento(s)

químico(s) presente(s). Enquanto o MEV proporciona nítidas imagens (ainda que

virtuais, pois o que se vê no monitor do computador é a transcodificação da energia

emitida pelas partículas, ao invés da radiação emitida pela luz, ao qual estamos

habitualmente acostumados), o EDX ou EDS permite sua imediata identificação. A

análise por EDS é uma ferramenta científica largamente utilizada aliada ao MEV para a

caracterização de materiais metálicos e semicondutores, pois permite identificar os

elementos presentes em uma amostra, mesmo que qualitativamente, em pontos

específicos da imagem (CRUZ et al., 2006).

As quantidades relativas de porcentagem em massa (wt %) ou porcentagem

atômica (at %) dos elementos químicos presentes na superfície analisada estão indicadas

nas tabelas de microanálise por EDS aqui apresentada, e são apenas semiquantitativas,

servindo como um indicador fiel da presença de cada elemento químico não podendo

ser consideradas como análises quantitativas.

Nesta etapa da pesquisa, utilizou-se esta técnica para se identificar os elementos

presentes na camada de precipitado sobre as amostras recobertas por nanotubos.

É possível observar na figura 42, o espectro de EDS do Ti grau 2 com camada de

nanotubos, anodizado a 20 V/1h, após imersão em sangue artificial por 15 dias a 37 ºC.

Constatou-se a presença dos elementos Ca, P, Cl e Na no precipitado sobre a estruturas

auto-organizadas de nanotubos de TiO2. Estes elementos são advindos da solução de

sangue artificial.

Page 100: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

100

(a)

Fig. 42 – Espectro de EDS (a) da amostra de Ti grau 2 recoberta por camada auto-

organizada de nanotubos obtida em anodização a 20 V/1h, após imersão de 15 dias em

sangue artificial a 37 ºC; (b) a letra A, identifica a região de precipitado, onde foi feita a

análise de elementos, na superfície Ti grau 2 com nanotubos.

Já na figura 43, onde é apresentado o espectro EDS para a liga Ti6Al4V

recoberta com camada de nanotubos obtidos a 20 V/1h após imersão em sangue

artificial por 60 dias, a 37 ºC, detectou-se igualmente a presença dos elementos Ca, P,

Cl e Na, no precipitado sobre a estrutura auto-organizada de nanotubos de TiO2.

b)

Page 101: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

101

(a)

Fig. 43 – Espectro de EDS (a) da amostra de Ti6Al4V recoberta por camadas auto-

organizada de nanotubos obtida em anodização a 20 V/1h, após imersão de 60 dias em

sangue artificial a 37 ºC; (b) a letra A identifica a região de precipitado, onde foi feita a

análise de elementos, na superfície da liga Ti6Al4V com nanotubos.

7.3.2 – Identificação da composição química da superfície dos óxidos

anódicos nanotubulares – XPS (Espectroscopia de Fotoelétrons Excitados por

raios-X)

Por meio do uso da técnica de espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios

– X (XPS) pode-se determinar a natureza das ligações químicas dos átomos situados nas

primeiras vinte camadas atômicas da superfície (~15 Å). O conceito básico do XPS está

no efeito fotoelétrico: fótons com energia suficiente são absorvidos e ionizam os átomos

b)

Page 102: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

102

da superfície do material, ejetando elétrons tanto das camadas mais internas (ligações

fortes) quanto das camadas de valência (ligações fracas). Um detector mede a energia

cinética K dos fotoelétrons que chegam até ele e, a partir dela, a energia de ligação EB

do átomo, pela relação:

K= hv - ϕ - EB [7]

onde hv = energia do fóton; ϕ = função trabalho. A rigor, a função trabalho possui duas

componentes uma referente ao espectrômetro e outra à amostra, esta última sendo a

energia necessária para o elétron superar os campos atrativos dos átomos na superfície e

as perdas de energia cinética por colisões. Uma vez que as energias de ligação dos

elétrons das camadas internas são sensíveis ao estado químico do átomo, EB apresenta

valores específicos para cada ligação química (Nascente, 1998). A identificação dos

elementos presentes na superfície é feita diretamente pela determinação das energias de

ligação dos picos fotoelétricos. A intensidade dos picos fornece informação quantitativa

sobre a composição da superfície, enquanto que a posição exata de cada pico indica o

estado químico do átomo emissor. São estes dois motivos que lhe conferiram a

designação ESCA (electron spectroscopy for chemical analysis) (Marino, 2001).

Uma vez escolhidas as condições ótimas para o diâmetro dos nanotubos,

amostras de Ti grau 2 e de Ti6Al4V, com óxidos nanotubulares obtidos em anodização

potenciostática a 20 V por 1h, foram submetidas à análise XPS para se identificar a

composição do filme de óxido presente. As figuras 44 e 45 apresentam os espectros de

XPS relativos aos fotoelétrons oriundos das camadas Ti 2p e O 1s do Ti6Al4V e do Ti

grau 2 com camada de nanotubos obtida a 20 V por 1h. O espectro do dubleto Ti2p (Ti

2p1/2 e Ti 2p3/2) é determinado pelo pico em ~ 460 eV (Ti 2p3/2) que caracteriza o Ti4+

que corresponde essencialmente às energias na faixa das ligações Ti-O em TiO2, da

camada de óxidos anódicos (Marino, 2004). No espectro de O1s (figura 45), observa-se

o singleto referente à ligação TiO2 em ~ 532 eV (Souza, 2010).

Page 103: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

103

Fig. 44 – Espectro de XPS de Ti 2p obtido para filmes de óxido nanotubular obtidos via

potenciostática a 20 V por 1h, na superfície dos biomateriais.

Fig. 45 – Espectro de XPS de O 1s obtido para filmes de óxido nanotubular obtidos via

potenciostática a 20 V por 1h, na superfície dos biomateriais.

Considerando-se estes resultados, determinou-se que o óxido nanotubular

presente sobre as amostras de Ti grau 2 e Ti6Al4V trata-se da forma mais estável, o

dióxido de titânio TiO2.

Page 104: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

104

7.4 – Avaliação da resposta bioativa da liga ortopédica Ti6Al4V recoberta

com óxido de titânio nanotubular

Observando-se os resultados de estabilidade termodinâmica após dissolução em

solução de sangue artificial a 37 °C, por diferentes períodos de tempo, foi possível concluir

que as camadas de nanotubos na superfície dos materiais em estudo apresentaram

selamento/precipitação de íons Ca e P adsorvidos em sua superfície. A liga Ti6Al4V com

óxido nanotubular obtido a 20 V, no entanto, apresentou selamento mais tardio que as

amostras de Ti grau 2 recobertas com óxido nanotubular obtidos a 15 V e 20 V por 1h.

Desta forma, os óxidos nanotubulares permaneceram mais intactos na liga ortopédica.

Assim, a análise da resposta bioativa foi realizada na superfície da liga ortopédica,

comparando-se os sistemas das amostras com a superfície recoberta por nanotubos obtidos a

15 V e 20 V, com selamento de poros após imersão de 30 dias em sangue artificial a 37°C, e

sistemas com nanotubos obtidos nas mesmas condições, que não foram imersos em sangue

artificial, ou seja, sem o selamento de poros.

Para a análise da bioatividade superficial do Ti6Al4V/óxido nanotubular foi

utilizada a solução SBF (simulated body fluid) conforme descrita na seção 6.1.3. Segundo

diversos autores, a solução de SBF permite correlacionar qualitativamente a possível

osseointegração de implantes, pois o grau de formação de HAP no SBF indicará o grau

de formação óssea in vivo. Dessa forma, a velocidade que se obtém formação de HAP

em um determinado biomaterial poderá ser similar no SBF e no local de implante ósseo.

Pode-se considerar que o osso humano é formado da interação do mineral hidroxiapatita

e fibras de colágeno, de tal forma que a nucleação de hidroxiapatita na superfície da liga

ortopédica Ti6Al4V nanomodificada seria uma indicação positiva da capacidade

osseointegrativa da superfície. Na introdução do texto da norma ISO 23317:2012 é

citado que os biomateriais implantáveis apresentam interação óssea através de camada

de hidroxiapatita e que a camada de hidroxiapatita pode ser reproduzida nas superfícies

dos materiais implantáveis por meio do uso de uma solução desproteinada e acelular

que simula fluidos corpóreos com concentração iônica próxima, quase idêntica, a do

plasma sanguíneo humano e que o composto que se forma é muito similar à parte

mineral do osso, na sua composição e estrutura. Ainda, a melhoria da bioatividade da

superfície de um material que se pretende implantar, pode ser avaliada pelo tempo

necessário para a formação da HAP, quanto menor o tempo de formação da HAP

melhor a resposta de bioatividade do material avaliado. Este método e condições foram

utilizadas por terem seus parâmetros já otimizados em sistema in vitro por Gugelmin (2009)

Page 105: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

105

neste grupo de pesquisa, além de ser padronizado pela ISO 23317:2012. Para Gugelmin

(2009), em apenas 10 dias de imersão houve crescimento de glóbulos de hidroxiapatita na

superfície dos biomateriais a base de titânio, tratados anodicamente, via potenciodinâmica,

demonstrando uma resposta positiva à bioatividade com a presença de íons de cálcio e

fósforo na proporção de 1,67, que é a razão molar ideal para um osso cortical normal.

Assim, estabeleceu-se a análise das superfícies após imersão em SBF por 15 dias para a liga

ortopédica com o selamento de poros e para amostras da liga ortopédica com filme de óxido

nanotubular sem o selamento de poros.

As etapas de formação de HAP na superfície de implantes de titânio imersos em

SBF podem ser representadas segundo Liu e pesquisadores (2004), pela figura 46.

Fig. 46 – Desenho esquemático das etapas da formação de hidroxiapatita, por meio das

modificações na superfície de implantes de titânio imersos em fluido corpóreo (SBF)

(Liu, et al., 2004).

A figura 46 ilustra as modificações na superfície do titânio quando submetido ao

tratamento alcalino (NaOH) e consequente formação da camada de titanato de sódio,

com carga iônica negativa e, após imersão em SBF ocorre a formação de titanato com

grupo hidroxila, decorrente da atração eletrostática entre o grupo funcional –OH e os

íons do fluido de SBF. O Ti-OH formado na superfície do titanato de sódio após

imersão em SBF são negativamente carregados e então se combinam com íons de carga

positiva como Ca2+

formando o titanato de cálcio. O acúmulo destes íons de cálcio

Page 106: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

106

carregados positivamente permite a combinação com os íons fosfato carregados

negativamente, formando o fosfato de cálcio que se transforma espontaneamente em

hidroxiapatita por se tratar da fase estável em meio fisiológico (Liu et al., 2004).

Obedecendo ao que determina a norma para o teste in vitro utilizado, foram

realizadas análises de MEV para se detectar a presença de glóbulos de hidroxiapatita e EDS,

para a caracterização dos elementos presentes na superfície analisada.

Observando-se as imagens e o espectro da caracterização dos elementos presentes

(EDS) da figura 47 (a) e (b) pode-se verificar a ausência dos glóbulos de hidroxiapatita

sobre a superfície de óxido nanotubular obtido a 15 V e 20 V, que apresentavam selamento

de poros e precipitação de íons Ca e P adsorvidos em sua superfície, no período curto de 15

dias de imersão em SBF. Possivelmente seja necessário um tempo maior de imersão em

solução corpórea de SBF para nucleação de HAP. As imagens das superfícies mostram que

as camadas de óxido nanotubulares presentes cresceram obedecendo aos sulcos da lixa.

a)

b)

Fig. 47 - Micrografias de MEV após 15 dias de imersão em SBF: Ti6Al4V (a)

superfície com nanotubos obtidos a 15 V (b) com nanotubos obtidos a 20 V, ambos com

selamento de poros e precipitação de íons Ca e P após imersão em sangue artificial a

37°C por 30 dias.

Page 107: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

107

Já, as amostras de Ti6Al4V com camada de nanotubos obtidos a 15 V e 20 V

livres de íons adsorvidos Ca e P (sem selamento de poros), imersas em SBF por 15 dias,

apresentaram as fotomicrografias e os espectros da caracterização de elementos

superficiais da figura 48 (a) e (b).

a)

b)

Fig. 48 - Micrografias de MEV após 15 dias de imersão em SBF: Ti6Al4V (a)

superfície com nanotubos obtidos a 15 V (b) com nanotubos obtidos a 20 V, ambos

livres de íons Ca e P adsorvidos em sua superfície.

Observando-se as imagens da figura 48 (a) e (b) das amostras da liga ortopédica

recoberta com nanotubos em sua superfície, pôde-se confirmar a presença de uma

camada globular de HAP obtida após 15 dias de imersão em SBF (simulated body fluid)

a 36,5°C, pH 7,4. Esta imagem corrobora ao que foi observado por Tsuchyia e

pesquisadores em 2006, o que definiram como “coalescência de moléculas de

hidroxiapatita...”. Por meio da caracterização superficial por EDS (espectrofotometria

Page 108: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

108

de energia dispersiva) foi possível estimar o percentual atômico dos elementos presentes

na superfície da amostra, onde estes valores estão descritos na tabela 3.

De uma forma geral, a ativação de superfícies com íons Ca e P podem acelerar a

nucleação e crescimento de HAP (hidroxiapatita) (Pisarek M., 2012), no entanto, neste

estudo foi observado que a maorfologia do óxido nanotubular de TiO2 é determinante

para a resposta bioativa num processo de osseointegração.

Tabela 3 – Porcentagem atômica dos elementos presentes na camada de HAP

(hidroxiapatita) obtida sobre o óxido nanotubular crescido a 15 V e 20 V por 1h em

TI6Al4V.

% Atômica Ca P Razão Ca/P

Ti6Al4V 15 V/1h

óxido nanotubular

23,6 13,8 1,71

Ti6Al4V 20 V/1h

óxido nanotubular

24,3 14,1 1,72

Observando-se os valores da razão Ca/P da tabela 3, foi possível verificar que os

valores obtidos nesta pesquisa encontram-se muito próximos do valor referência ~1,67

(Xie J., et al., 2008), o que sugere a presença da molécula de HAP na superfície

analisada.

Ainda, a imersão das amostras em sangue artificial resultou no

selamento/precipitação parcial dos nanotubos obtidos a 15 V/1h enquanto que os

nanotubos obtidos a 20 V/1h não apresentaram precipitação de íons Ca e P. Este dado

pode indicar que uma resposta mais efetiva de nucleação e crescimento de HAP em

superfícies de óxido nanotubular obtido a 20 V por 1h sobre a liga ortopédica Ti6Al4V

possa ocorrer também in vivo, em 15 dias de implantação. A mesma resposta não seria

esperada para a camada de óxido nanotubular obtida a 15 V/1h sobre a liga ortopédica,

pois em 15 dias de imersão em sangue artificial a 37 °C ocorreu o selamento de poros

com adsorção de íons Ca e P, numa razão molar de 0,68, indicando a presença de outras

moléculas de apatita.

O estudo da bioatividade in vitro apresentou, no decorrer dos 15 dias de

experimento, a alteração da coloração da solução de SBF. A solução de simulação dos

fluidos corpóreos (SBF) é transparente (fig. 49 (a)), no entanto, após o início dos

experimentos a 37°C, a solução tornou-se esverdeada (fig. 49 (b)). Esta coloração

esverdeada pode ser decorrente da presença de moléculas de fluorapatita (Ca5(PO4)3F),

Page 109: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

109

já que a obtenção dos óxidos de titânio na forma nanotubular foi feita em meio contendo

íons flúor (seção 7.1).

a) b)

Fig. 49 – Aspecto da solução de SBF após 1 dia de imersão de Ti6Al4V com óxido

nanotubular na superfície, obtido em eletrólito contendo íons fluoreto (F-).

A identificação da presença dos íons fluoreto foi possível por meio da análise

qualitativa utilizando-se o reagente CaCl2 (cloreto de cálcio) num procedimento típico

para testes qualitativos (Vogel A., 1981).

Preparou-se uma solução de 0,1 mol.L-1

de CaCl2 e adicionou-se em torno de 2

mL desta solução ao tubo de Falcon contendo aproximadamente 15 mL de solução

esverdeada de SBF. Instantaneamente a solução base tornou-se esbranquiçada como

mostrado na figura 50 indicando assim, a possível presença da molécula de CaF2 em

forma de precipitado, segundo a reação [8]:

2(Ca5(PO4)3F) + CaCl2 2(Ca5(PO4)3Cl) + CaF2 [8]

Page 110: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

110

Fig. 50 – Aspecto da solução de SBF após adição de CaCl2.

Desta forma, supõe-se que há a presença de fluorapatita em solução em testes de

bioatividade in vitro, quando há a presença de nanotubos de dióxido de titânio obtidos

eletroquimicamente em meios contendo íons fluoreto.

Cabe ressaltar que a presença da fluorapatita em solução não interferiu nos testes

de bioatividade superficial.

CAPÍTULO VIII

CONCLUSÕES

Vários tratamentos superficiais têm sido desenvolvidos para melhorar a resposta

biaotiva das superfícies em implantes ortopédicos. Nesta pesquisa foram desenvolvidos

estudos com películas de óxidos anódicos de titânio auto-organizados sobre Ti e

Ti6Al4V. Desta forma, foi possível obter nanotubos, via potenciostática, sobre o Ti grau

2 e a liga Ti6Al4V com características dimensionais desejáveis para aplicação

biomédica, entre 80 nm e 100 nm. Os limites ótimos de potencial foram 15 V e 20 V e

tempo de anodização de 1 hora. Os filmes de óxido de titânio do tipo nanotubular

mostraram-se mais estáveis termodinamicamente, com potenciais mais nobres que os

filmes de óxido compacto e menos susceptíveis à dissolução/corrosão para ambos os

biomateriais. Após 15 dias de imersão em sangue artificial, estas películas superficiais

apresentaram o fenômeno de selamento de poros com precipitação de íons Ca e P, com

exceção da liga ortopédica Ti6Al4V com nanotubos obtidos em 20 V / 1h. A

bioatividade das superfícies de Ti6Al4V com nanotubos selados por íons Ca e P

mostrou resposta negativa quanto à bioatividade, enquanto àquelas sem selamento de

poros mostraram resposta positiva, com o aparecimento de glóbulos de HAP após 15

dias de imersão em SBF. As características morfológicas e de composição química dos

óxidos nanotubulares são fatores determinantes na resposta bioativa de um implante

ortopédico como a liga Ti6Al4V, portanto nanotubos de TiO2 em implantes podem

melhorar a osseointegração e resistência à corrosão em meio de fluidos corpóreos.

Page 111: Obtenção e estabilidade eletroquímica de nanotubos auto

111

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APÊNDICE

Tabela 1 – Potenciais finais de circuito aberto das amostras em estabilidade

termodinãmica.

ECA final Nanotubos Óxido compacto Nanotubos Óxido compacto

15 V 15 V 20 V 20 V

Ti grau 2 Ti6Al4V Ti grau 2 Ti6Al4V Ti grau 2 Ti6Al4V Ti grau 2 Ti6Al4V

E (mV) 94,05 61,18 14,1 -70 97 112 16,5 1,5

Tabela 2 - Potencial estacionário obtido após processo de dissolução espontânea

do óxido de TiO2 sobre o Ti grau 2 e a liga Ti6Al4V.

Potencial Estacionário (mV)

Dissolução espontânea em sangue artificial

15 dias 30 dias 60 dias

Nanotubos Óxido

compacto

Nanotubos Óxido

compacto

Nanotubos Óxido

compacto

Ti -2 15 V - 161 - 129 - 158 - 131 - 136 - 166

Ti -2 20 V - 142 - 128 - 132 - 140 - 128 - 157

Liga 15 V - 151 - 138 - 124 - 179 - 110 - 183

Liga 20 V - 183 - 70 - 135 - 129 - 126 - 154