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site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 Contra o aumento das passagens página 2 Paralisação da educação no RJ página 3 “2011 será um ano de luta pela reforma urbana” página 4 28 de abril, dia de luta pela saúde do trabalhador página 5 O PSOL que queremos página 6 Obama e a América Latina: De igual para igual? página 7 Lei Rouanet e as oligarquias da cultura página 9 Quem paga pelos megaeventos? página 12 N° 06 abril/maio 2011 Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Algo não anda bem no Brasil “grande” de Lula e Dilma, o país do PIBão de 7,5% em 2010, do ‘bolsa família’ e da ascensão social da ‘classe C’. Os preços sobem, afetan- do principalmente os traba- lhadores. O governo puxa o freio de mão, aumenta juros, enxuga o crédito, desestimu- la o consumo. O crescimento de 2011 será metade do de 2010. O facão corre solto. São 50 bilhões de reais de cortes já anunciados. Investimentos e gastos sociais incluídos. Nem o ‘Minha Casa Minha Vida’ ficou de fora. No Congresso avança a proposta do governo de con- gelamento dos salários do funcionalismo federal por dez anos. Uma nova contra- reforma da previdência já é discutida abertamente nos ministérios de Dilma. Pra completar, na menina dos olhos de Dilma e símbo- lo do “Brasil grande”, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais de cem mil ope- rários da construção civil de diferentes estados entram em greve, muitas delas radi- calizadas, verdadeiras rebe- liões, contra as péssimas condições e a super-explora- ção do governo e das em- preiteiras. A hidrelétrica de Jirau em Rondônia é o verdadeiro sím- bolo do “novo Brasil” que o lulismo tenta nos vender. Destruição do meio ambien- te, super-exploração dos tra- balhadores, caos social e lu- cros enormes para as em- preiteiras. Os megaeventos dos próxi- mos anos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, vão deixar os ricos ainda mais ri- cos e os pobres ainda pior. Desalojados, sem onde cair mortos, vítimas da especula- ção imobiliária e da ganân- cia das elites, milhões de brasileiros serão tratados co- mo lixo que precisa ser reti- rado antes da festa. O Brasil não é um novo país, cheio de realizações e alegrias como tentam nos vender. O Brasil ainda é um país doente socialmente. Um retrato fiel dessa realidade é o massacre de Realengo no Rio. 12 vítimas inocentes, crianças, caíram diante de mais uma manifestação de uma sociedade com sérios e profundos problemas. Não foram os únicos nem os primeiros. Inocentes caem todos os dias sob as balas de uma polícia racista e criminosa. Ou então sub- metidos a condições de tra- balho desumanas. Como a imprensa noticiou, foram 40 mortos nos canteiros de obras do PAC desde 2008. Ao todo são cerca de 7 mor- tes por dia no Brasil como re- sultado de acidentes de tra- balho (quase 2,5 mil só em 2009), sem contar os feri- mentos e doenças profissio- nais que arruínam muitas vi- das todos os dias. Mas, a peãozada das obras do PAC deu o exemplo. Só a luta coletiva consegue vitórias efetivas. Agora che- gou a vez dos servidores fe- derais. O movimento popular também ensaia levantar-se em várias cidades. Generalizar as lutas, unifi- car os movimentos, organi- zar pela base e passar por cima das direções pelegas. Esse é o caminho. Tendência do PSOL PAC: lucros para grandes empresas, condições sub-humanas e perda de lares para trabalhadores, pobres e indígenas.

Ofensiva Socialista n°06 - abril/maio 2011

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Jornal da Liberadade, Socialismo e Revolução, corrente do PSOL e seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores

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Page 1: Ofensiva Socialista n°06 - abril/maio 2011

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

Contra oaumento daspassagens

página 2

Paralisação daeducação no RJ

página 3

“2011 será umano de lutapela reformaurbana”

página 4

28 de abril, diade luta pelasaúde dotrabalhador

página 5

O PSOL quequeremos

página 6

Obama e aAmérica Latina:De igual paraigual?

página 7

Lei Rouanet eas oligarquiasda cultura

página 9

Quem pagapelosmegaeventos?

página 12

N° 06 abril/maio 2011

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Algo não anda bem noBrasil “grande” de Lulae Dilma, o país doPIBão de 7,5% em2010, do ‘bolsa família’e da ascensão social da‘classe C’.

Os preços sobem, afetan-do principalmente os traba-lhadores. O governo puxa ofreio de mão, aumenta juros,enxuga o crédito, desestimu-la o consumo. O crescimentode 2011 será metade do de2010.

O facão corre solto. São50 bilhões de reais de cortesjá anunciados. Investimentose gastos sociais incluídos.Nem o ‘Minha Casa MinhaVida’ ficou de fora.

No Congresso avança aproposta do governo de con-gelamento dos salários dofuncionalismo federal pordez anos. Uma nova contra-reforma da previdência já édiscutida abertamente nosministérios de Dilma.

Pra completar, na meninados olhos de Dilma e símbo-lo do “Brasil grande”, asobras do Programa deAceleração do Crescimento(PAC), mais de cem mil ope-rários da construção civil dediferentes estados entramem greve, muitas delas radi-calizadas, verdadeiras rebe-liões, contra as péssimascondições e a super-explora-ção do governo e das em-preiteiras.

A hidrelétrica de Jirau emRondônia é o verdadeiro sím-bolo do “novo Brasil” que olulismo tenta nos vender.

Destruição do meio ambien-te, super-exploração dos tra-balhadores, caos social e lu-cros enormes para as em-preiteiras.

Os megaeventos dos próxi-mos anos, como a Copa doMundo e as Olimpíadas, vãodeixar os ricos ainda mais ri-cos e os pobres ainda pior.Desalojados, sem onde cairmortos, vítimas da especula-ção imobiliária e da ganân-cia das elites, milhões debrasileiros serão tratados co-mo lixo que precisa ser reti-rado antes da festa.

O Brasil não é um novopaís, cheio de realizações ealegrias como tentam nos

vender. O Brasil ainda é umpaís doente socialmente. Umretrato fiel dessa realidade éo massacre de Realengo noRio. 12 vítimas inocentes,crianças, caíram diante demais uma manifestação deuma sociedade com sérios eprofundos problemas.

Não foram os únicos nemos primeiros. Inocentescaem todos os dias sob asbalas de uma polícia racistae criminosa. Ou então sub-metidos a condições de tra-balho desumanas. Como aimprensa noticiou, foram 40mortos nos canteiros deobras do PAC desde 2008.Ao todo são cerca de 7 mor-

tes por dia no Brasil como re-sultado de acidentes de tra-balho (quase 2,5 mil só em2009), sem contar os feri-mentos e doenças profissio-nais que arruínam muitas vi-das todos os dias.

Mas, a peãozada dasobras do PAC deu o exemplo.Só a luta coletiva conseguevitórias efetivas. Agora che-gou a vez dos servidores fe-derais. O movimento populartambém ensaia levantar-seem várias cidades.

Generalizar as lutas, unifi-car os movimentos, organi-zar pela base e passar porcima das direções pelegas.Esse é o caminho.

Tendênciado PSOL

PAC: lucros para grandes empresas, condições sub-humanas e perda de lares para trabalhadores, pobres e indígenas.

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2 • juventude Ofensiva Socialista n°06 abril/maio - 2011

Colaboraram nessa edição:André Ferrari, Bruno Mattos, Bryan Felix da S. de Moraes, Caiza CarlaHerbella, Carla Queiroz, Edemilson A. P. Clementino, Fabio AntonioArruda, Guilherme Camilo, Jane Barros Almeida, Joaquim Aristeu,Jonathan Mendonça, José Afonso Silva, Kátia Sales, Kezia Bastos Fi-gueiredo, Luciano da Silva Barboza, Marcus Kollbrunner, MarianaCristina Moraes da Cunha, Pete Dickinson, Raquel Guzzo, Raylane Rai-mundo Walker, Reginaldo Costa, Rita Aguiar e Zelito Ferreira da Silva.

é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01031970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais

(Envie cheque nominal p/Marcus William Ronny Kollbrunner à caixa postal)

Nem bem começou o ano e apopulação de São Paulo se de-parou com mais um aumentona tarifa de ônibus. Trata-se deum aumento de mais de 10%,sendo que o aumento do salá-rio mínimo foi de apenas 6,7%.

Guilherme Camilo e Carla QueirozMembros do Centro AcadêmicoIara Iavelberg (psicologia-USP)

Isso significa que o transporte,que deveria ser um direito de todos,fica cada vez mais pesado nos bolsosdo trabalhador e do estudante. Esseaumento não traz para a populaçãoum serviço de melhor qualidade.Nem sequer os salários dos traba-lhadores das empresas de transporteaumentam significativamente.

A frase que aparece escrita do ladoexterno dos ônibus da cidade (“Trans-porte público: um direito do cidadão,um dever do Estado”) se mostracada vez mais como uma farsa.

O dinheiro que pagamos cotidia-namente pelo transporte tem comofunção principal garantir o lucro dasempresas. Não apenas a passagemsofreu um aumento, mas também osubsídio dado pela prefeitura au-mentou de 660 milhões para 743milhões de reais.

A população foi contra o aumento

Um movimento por trabalhadorese estudantes começou a se formarpara tentar reverter a situação. Houvemais de dez grandes manifestações,desde 17/01. Esse movimento contou

com grande apoio de toda a população.Por onde passavam, os manifestanteseram recebidos com entusiasmo pelosusuários de transporte público, quemuitas vezes se incorporavam às ma-nifestações. Um grande exemplodisso aconteceu no dia 24/03, quandocerca de mil pessoas aderiram à ma-nifestação enquanto ela caminhavapela Rua Brigadeiro Luís Antonio.

O movimento conseguiu forçar aprefeitura a marcar reuniões de ne-gociação sobre o valor da tarifa.Mas isso foi apenas uma tentativado prefeito de diminuir a força domovimento, pois não compareceu anenhuma das reuniões. Além disso,também usou de força policial para

reprimir e dispersar os manifestantesem vários momentos. A repressão,porém, não amedrontou as pessoasque estavam indignadas com o au-mento abusivo, mas fez com quevoltassem às ruas, lutando não apenascontra o aumento, mas pela liberdadede se expressarem.

Algumas passeatas chegaram ater seis mil pessoas e ainda assim amídia tinha como foco apenas even-tuais confrontos com a polícia, ten-tando criminalizar a luta e distanciara população do movimento.

Muitas cidades no Brasil tiveramgrandes aumentos nas tarifas, comoocorreu em São Paulo. Movimentosde trabalhadores e estudantes con-

seguiram reverter essa si-tuação em alguns lugares.Um exemplo foi a cidadede Belém, no Pará. Comunião e mobilização da po-pulação, é possível venceressa luta.

A mobilização temque continuar

Mesmo conseguindo bai-xar a tarifa, a populaçãonão pode se desmobilizar.Outros aumentos podemvir no futuro, já que umserviço privado não temcomo objetivo atender àsdemandas da população,mas sim elevar cada vezmais seu lucro. Para mudarde vez essa situação quedeixa os usuários como re-féns dos interesses de gran-des empresários, é preciso

que, para além de reverter o aumento,a população lute para que o transporteseja um serviço de fato público eoferecido pelo Estado.

Muitas entidades estudantis e sin-dicais, como o Sindicato dos Me-troviários, aderiram à luta. Mas elasomente terá sucesso se os traba-lhadores e toda a população tambémse mobilizarem e forem às ruas.

3 Pela redução das tarifas!3 Por um transporte

público garantido peloEstado e controladopelos usuários doserviço!

Baixada santista:contra o aumentoe pelo passe livre

Após o último aumento da pas-sagem de ônibus, entre 6% e 25%na região da Baixada Santista, noinicio do ano, estudantes e traba-lhadores começaram a se organizar,realizando atos, reuniões e vídeos-debate no município de Santos ede São Vicente e criando o Comitêde Luta pelo Transporte Públicoda Baixada Santista – CLTP-BS.

Os principais pontos de reivin-dicação são passe livre pros estu-dantes, redução das tarifas, bilheteúnico para todos e pela volta doscobradores, sem redução salarialdos motoristas.

Além das tarifas abusivas e baixaqualidade, os motoristas sofrem coma precarização e péssimas condiçõesde trabalho. É a categoria que maisse afasta por problemas de saúde.

É o motorista que faz tudo sozinho,já que tiraram os cobradores. Emsituação de assalto, a empresa detransporte só reembolsa R$30. Casohaja um roubo maior que esse, é omotorista que custeia, pois ele deveriater colocado o dinheiro no cofreque fica ao lado de seu banco.

Além disso, eles tem uma jornadade 10 horas por dia, que chegamuitas vezes à 14 horas, com pa-radas só de 10 a 15 minutos.

Todo apoio a luta dos trabalha-dores e estudantes da baixada san-tista pela redução da tarifa já!

Joana Squillaci

A política de permanência estu-dantil na Unicamp(Universidade Estadual deCampinas) passa hoje por umprofundo debate. A necessida-de de desenvolver políticas efe-tivas que proporcionem condi-ções básicas para o andamen-to das atividades acadêmicassempre foi pauta importante denosso movimento. Parece,pois, que neste ano ela assu-miu relevo.

Bryan Felix da S. de MoraesColetivo Construção

No último dia 03 de março, apósentrada da polícia dentro do PME(Programa de Moradia Estudantil)para cumprimento de reintegraçãode posse de um estudante que jánão era “morador oficial” os estu-dantes decidiram ocupar o espaçoda Administração do PME.

Nesta ocupação os estudantes re-finaram as reivindicações históricaspor permanência estudantil para osestudantes mais pobres e montaram

um centro de debate político, agitaçãoe propaganda.

A moradia estudantil da Unicampé fruto de uma ocupação realizadano chamado “Ciclo Básico” da Uni-versidade em 1987. A Reitoria deentão se comprometeu a construiras 1,5 mil vagas (o que correspondiaa 10% do contingente de estudantesda universidade) até o final de 1989.

Contudo, passados 24 anos doacordo, a promessa não foi cumprida,delegando aos estudantes uma mo-radia estudantil lotada com cerca de950 vagas oficiais. Naquele tempoeram cerca de 15 mil estudantes emnossa universidade; hoje são maisde 33,6 mil, por isso o movimentohoje exige um aumento de vagas damoradia para cerca de 3,3 mil.

Junto a isso, há também a exigênciada saída do coordenador executivoda Administração da Moradia, LuizAntônio Viotto, que há muito nãorespeita os espaços de deliberaçãodemocrática do conselho deliberativoe também a garantia da não entradada força policial no campus da Uni-camp.

Na ocupação feita pela ação dosestudantes – esta que durou mais de20 dias – foram feitos debates, pan-fletagens e aguda resistência frenteà política intransigente da reitoriaem não negociar as pautas dos estu-dantes. Além disso, no último dia25/03, pela terceira vez em menosde um ano, tivemos a Polícia Militar,com a permissão da reitoria da Uni-camp, reprimindo a reivindicaçãomais do que básica para a vida estu-dantil: o direito mínimo e democráticode permanecer na universidade.

Política estudantil erepressão

Tal fato acabou com a ocupação,reintegrou posse do espaço e ime-diatamente impôs ao movimentouma nova conjuntura de luta política:a repressão institucional realizadapor meio dos chamados “processosinternos”, que são comuns comoformas de combate contra os estu-dantes e trabalhadores que lutampor uma universidade pública e dequalidade e que atenda aos interesses

dos trabalhadores e do povo pobre.Em nenhum momento houve dis-

posição clara de negociação. Nestagestão, o diálogo para com os inte-resses dos estudantes é marcado pelamilitarização do debate político,transformando-o em espaço de ten-são, repressão e, portanto, ausênciade democracia.

Foram convocados 5 estudantespara o chamado “processo adminis-trativo interno” – no fundo um pre-lúdio ao processo de sindicância in-terna – que, sabemos nós, é umaforma de intimidação e punição aomovimento.

Tal repressão também lança seustentáculos contra 9 trabalhadoresque, ano passado, participaram ati-vamente do processo de greve e quecorrem o risco real de serem presos!

Construir a unidade na luta

A presente luta dos estudantes etrabalhadores possui três elementosfundamentais: a luta pela perma-nência estudantil, a isonomia salarial

e o combate contra a repressão ins-titucional contra os lutadores queencampam tais pautas. É preciso re-fletir politicamente sobre estas trêscondições.

Em primeiro lugar devemos terem mente que estas questões estãoprofundamente ligadas por um mo-delo comum de ensino superior, asaber, aquele voltado aos interessesdas elites burguesas. Isto significaque o gasto de dinheiro público compermanência estudantil e o bem estardo funcionalismo público não atendeaos interesses das elites e por issonão é prioridade.

Por isso, nós da LSR (Liberdade,Socialismo e Revolução) do PSOLreivindicamos ampla unidade entreos setores de esquerda de nossa uni-versidade em prol de uma luta con-junta realizada por trabalhadores eestudantes para barrar estes processosinternos e avançar na luta por con-dições dignas de permanência estu-dantil e de trabalho. É preciso agudoesforço dos ativistas que se opõema esta política repressiva contra nossomovimento.

Aumento da tarifa do transportepúblico: quem ganha com isso?

Unicamp: a luta por permanência

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sindical • 3Ofensiva Socialista n° 06 abril/maio - 2011

No início de 2010, o Coletivo‘O Estudante em Construção’começou a organizar um traba-lho no PURO (PóloUniversitário Rio das Ostras)por entender a necessidade deum Movimento Estudantil quese colocasse contrário à pre-carização da Universidade.

Kezia Bastos FigueiredoEstudante de Psicologia

Raylane Raimundo WalkerEstudante de Serviço Social

Fizemos diversas reuniões com osestudantes do Pólo para pautar polí-ticas diante da atual situação da uni-versidade. Promovemos um primeirodebate sobre a criminalização da po-breza: “ECO Social: A Voz da Favela”,com o Alexandre Dias (militante dafavela da Maré) e a professora Eblin,de Serviço Social do PURO.

Ainda no primeiro semestre par-ticipamos do 6º CO-NUFF defen-dendo uma interiorização de quali-dade. No segundo semestre de 2010fizemos um calourada com mesassobre Cultura, Universidade e Con-juntura Nacional.

Participamos da Construção deum ato de estudantes do PURO, noqual ocorreu uma aula na PraçaJosé Pereira Câmara. Após o ato fi-zemos uma caminhada até o PUROque culminou numa grande plenária.Depois disso, fomos com o conjuntode estudantes à prefeitura e conse-guimos marcar uma audiência pú-blica com o prefeito no Pólo paratratar da liberação do terreno paraconstrução de mais salas de aula.

Fizemos um debate sobre o ENA-DE para os alunos de Serviço Socialno qual a maioria dos estudantesoptou pelo boicote à prova. Cons-

truímos o Plebiscito pela gratuidadeda Universidade, contra os cursospagos na universidade pública, in-clusive promovendo um debate comprofessores do Pólo, já que o DCEnão os promoveu no PURO.

Além disso, participamos tambémdo Plebiscito pelo Limite da Terracolocando uma urna aqui no Pólo.Estivemos na Feira de MovimentosSociais da UFF, além de participardo último Conselho Nacional deEntidades de Base (CONEB). Tam-bém estamos construindo um Fórumcom os setores que defendem a uni-versidade pública. Entre eles há lu-

tadores independentes e os que com-põem a Oposição de Esquerda naUNE e também a ANEL.

Este ano estamos construindo emMacaé o movimento contra o au-mento das passagens, que foram deR$2,30 para R$2,50, um verdadeiroroubo. Além disso, construímos trêsdebates para a calourada 2011 sobreos seguintes temas: Universidade,Planejamento Urbano e Enchentese Movimento Estudantil, além deuma Oficina de Conto de Historias.

Essa é a luta do coletivo ‘O Es-tudante em Construção’ em Rio dasOstras. Junte-se a nós!

‘O Estudante em Construção’ na UFF Rio das Ostras

No último dia 31 de marçoaconteceu no Rio de Janeiro,em uma de suas principais ave-nidas – Rio Branco, um dosmaiores atos em defesa daeducação publica. Contou coma participação de cerca de 5mil pessoas, entre estes pro-fessores, profissionais da edu-cação e um numero bem signi-ficativo de estudantes, sobre-tudo secundaristas.

Jane Barros AlmeidaProfessora da Rede Estadual RJ

Jonathan MendonçaProfessor da Rede Municipal

de Rio das Ostras

Este ato foi chamado pelo Fórumem Defesa da Educação Pública -RJ, que vem dando exemplos decomo é possível recuperar a luta uni-tária e combativa em defesa da edu-cação. O SEPE-RJ (Sindicato dosprofissionais da Educação – Rio deJaneiro) é uma das entidades quecompõe o Fórum e que antes mesmojá havia chamado uma paralisaçãopara o dia 31 de março, como formade iniciar a campanha salarial. Paraalém do SEPE compõe o fórum oANDES-SN e outras entidades e mo-vimentos que estiveram presentescomo os coletivos estudantis e mo-vimentos sociais, a exemplo do MST.No dia 31 deixamos claro que nãoestamos de brincadeira e que nãonos renderemos aos ataques de Dilma,Cabral e Eduardo Paes e aos demaisprefeitos.

Para além do início da campanhasalarial que pede reajuste de 26%,professoras, professores e profissionaisda educação lutamos pela incorpo-ração imediata do ‘Nova Escola’ (quesegundo o plano do governo só seráincorporado em 2015) e contra oPlano de Metas, que visa a privatiza-ção da educação. O Plano de Metasapresentado para os profissionais doEstado, não visa aumento salarial emelhoria nas condições de trabalho,apenas premia os que cumprirem ameta de aprovação dos alunos, reti-rando a autonomia pedagógica, pa-dronizando o currículo e avaliação.Os profissionais do município conti-nuam em luta contra a reforma daprevidência do Eduardo Paes, assimcomo os estudantes saem às ruas emdefesa do passe livre, que hoje sofresérias ameaças.

O argumento é um só – enxugaros gastos do Estado. No caso dos sa-lários dos profissionais da educação,a situação é mais escandalosa. Dadosdo DIEESE revelam que o estadocarioca tem o menor gasto com afolha de pagamento do país, mesmodentro dos padrões da Lei de Res-ponsabilidade Fiscal, que já é absur-damente limitada, o RJ gasta apenas25,55% da receita, quando o limite éde 46,55%.

A mobilização do dia 31 é apenasuma amostra do que somos capazesna brigar por uma educação públicade qualidade. A tarefa é garantir efortalecer o trabalho de base do sin-dicato de modo que sejamos capazesde mobilizar mais educador@s e pro-fissionais da educação para esta luta.É necessário que o SEPE-RJ estejano interior de cada escola, na salados professores, nos portões de entradae nos refeitórios.

O Fórum em defesa da EducaçãoPública tem se mostrado um instru-mento importante para aglutinar di-versos setores combativos e de es-querda que lutam por uma educaçãopública de qualidade. Ampliar ferra-mentas como esta em âmbito nacional,de modo a fortalecer as articulaçõesnos estados, pode ser uma tarefa im-portante para superar a luta coorpo-rativa e ampliar a organização e mo-bilização contra os ataques neoliberaisna educação brasileira.

No entanto, isso coloca uma dupla

tarefa para o nosso sindicato: participardestas lutas mais amplas e, ao mesmotempo, fortalecer a mobilização nointerior das categorias organizandonossas demandas específicas de ma-neira a fortalecer nosso inserção nestaluta em defesa da educação pública.

Um novo coletivo no SEPE-RJ: O Campo Luta

Educadora

O Campo Luta Educadora (LE) éformado por um grupo de profissionaisda Educação, da rede estadual e dasredes municipais do Rio de Janeiroque entendem a necessidade da nossaorganização para fortalecer os ins-trumentos capazes de potencializar anossa luta. Compreendemos que afalta de climatização nas escolas e osuperfaturamento dos aparelhos dear condicionado, os baixos salários,as terceirizações, a ausência de ma-terial didático, ou ainda a falta decanetas para os novos quadros sãoreflexo da mesma política neoliberalde Dilma, Cabral, Paes e demais pre-feituras. O objetivo é colocar empauta os problemas do cotidiano danossa categoria de modo a relacio-ná-los com os problemas estruturaisda sociedade.

As reclamações e angústias quediscutimos e ouvimos na sala dosprofessores, na secretaria escolar, nacozinha e corredores tem que tomaras ruas. Sabemos que o clima de

pessimismo, de que não adianta fazernada, de que não tem mais jeito mes-mo, é muito forte ainda. O que ocorreé que nossas vitórias só são garantidasquando a gente se une para lutar.

O Campo é formado por professorese funcionários com maior e menorexperiência no exercício da docência,expressando o olhar curioso e des-contente dos novos e a experiência eresistência dos mais antigos. Essajunção, parte da necessidade e daconstatação de que é preciso retomaro trabalho de base no sindicato dia-logando com os profissionais da edu-cação de modo a colocar na agendao debate político dentro das escolas,ampliando a participação do conjuntoda categoria na construção das lutas.Reivindicamos a experiência da lutahistórica dos educadores do SEPE,assim como combatemos vícios eformas não saudáveis de construçãoda política coletiva.

Justamente por isso, nós educa-dor@s da LSR nos somamos a esteCampo, conjuntamente com outroseducador@s e profissionais da edu-cação que concordam e dividem amesma avaliação e objetivo. O campotem funcionado de modo bastantedemocrático de maneira a respeitaras diferentes trajetórias, experiênciase acumulo. Todavia se localiza nocampo da esquerda combativa, de-mocrática, autônoma e independenteem relação aos governos.

Vivemos hoje um período históricoem que o lema é Unidade. Unidadeda esquerda para enfrentar os ataquesdos governos neoliberais, seja ele deDilma, Sergio Cabral ou Eduardo

Paes. Todavia esta unidade não podese sobrepor aos princípios democrá-ticos e ao programa que defenda defato o interesses dos trabalhadores etrabalhadoras da educação.

31 de março - Rio de Janeiro:

5 mil param a Rio Branco emdefesa da Educação Publica!

Luta EducadoraSe os poderosos senhoresImpõe-nos à força brutaSilêncio pras nossas doresE dor pra nossa labutaNão calam os educadoresSó educa quem reluta!

Quanto mais a gente lutaMais a luta nos educa!

Aprendi em movimentoQue quem para se amputaE é vão o conhecimentoQue não espelha a condutaEduca-se o pensamentoSendo parte na disputa

Quanto mais a gente lutaMais a luta nos educa

Se a luta é educadoraEntão que ela repercutaContra a mão opressoraQue a educação refutaQue a classe trabalhadoraUna-se toda em luta

Quanto mais a gente lutaMais a luta nos educa

Jonathan Mendonça

3 O trabalho de base e os es-paços de formação classista comoinstrumentos para ampliar o en-gajamento e a participação doconjunto dos trabalhadores e tra-balhadoras nas lutas. O nível deconsciência de nossa classe se ele-va a partir do seu protagonismonas lutas!

3 Unidade de Ação com os di-versos setores que representamo movimento dos trabalhadorescom instituição de agenda de lutacomum para enfrentar os ataquesaos direitos dos trabalhadores.

3 Pela criação de um FórumNacional em Defesa da Escola

Pública e investir na ampliaçãodo Fórum Estadual em Defesada Escola Pública.

3Pela implementação do PlanoNacional de Educação (PNE) cons-truído pela sociedade brasileira,contra o PNE de Lula e Dilma.

3 Todo esforço no processo deunificação dos setores que com-põem a esquerda anticapitalistae antineoliberal – CSP-Conlutase Intersindical – pela construçãode uma Central Sindical e popularautônoma e independente dos go-vernos, que organize as lutas daclasse trabalhadora em nossopaís.

Por isso defendemos:

Professores e profissionais da educação no Rio de Janeiro exigemmais investimentos na educação e 26% de reajuste.

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4 • movimento Ofensiva Socialista n°06 abril/maio - 2011

O Ofensiva Socialista (OS) entre-vista o companheiro Guilherme Bou-los, da coordenação nacional doMTST, membro da Secretaria Exe-cutiva Nacional da CSP-Conlutas eum dos principais impulsionadoresda Resistência Urbana, frente quereúne movimentos sociais e popularesde todas as regiões do país.

OS: Já se tornou tradição a or-ganização das “jornadas de lutasdos movimentos populares” daqual o MTST participa. Neste anoqual será o tema da jornada e emquantos estados ocorrerão mani-festações?

GB: O mote principal da mobili-zação dos movimentos urbanos nospróximos anos será os despejos re-lacionados às obras da Copa, Olim-píadas e do PAC. O cenário é catas-trófico, são centenas de milhares defamílias que poderão ser despejadasnos grandes centros urbanos do país.Muitas sem qualquer alternativa demoradia, outras sendo jogadas nasperiferias mais distantes. Além disso,a preparação para os eventos espor-tivos vem acompanhada , como foina Copa da África, por exemplo, deuma brutal criminalização da pobrezae das lutas sociais, com tribunaisespeciais, leis de exceção e exter-mínio policial. Estes provavelmenteserão os eixos das próximas mobili-zações nacionais dos movimentos.

OS: Quais as perspectivas deconquistas com o governo de DilmaRousseff?

GB: O governo Dilma começoucom um recado claro aos movimentosque lutam por moradia e aos traba-lhadores sem-teto. Do ajuste fiscalde 2011, o maior corte foi das verbasdo programa MCMV (Minha Casa,Minha Vida). Sabemos dos limitesestruturais deste programa, que foiformulado para o capital imobiliárioe não prioriza as famílias que maisprecisam - a faixa de renda até 3 sa-lários mínimos tem somente 25%

do total de recursos. Mas o MCMVse tornou a única política habitacionaldo Governo Federal e este corte re-presenta praticamente a anulação doprograma neste ano. Isto reforçapara nós a necessidade de novasocupações de terra, como forma dedar resposta à demanda dos traba-lhadores sem-teto. Esperamos poder,com ocupações e lutas, pressionar ogoverno Dilma para atender a estademanda.

OS: Em maio acontecerá o En-contro Nacional da ResistênciaUrbana, quais serão os temas eobjetivos do encontro?

GB: Será o I Encontro Nacionalda Resistência Urbana, em Brasília,de 6 a 8 de maio. Reuniremos 150dirigentes de movimentos urbanoscom atuação em 13 estados do país.O objetivo principal do Encontroserá fortalecer a Resistência Urbanacomo ferramenta de mobilização eorganização dos trabalhadores ur-banos brasileiros, numa perspectivacombativa e socialista. Debateremosprincipalmente os avanços organi-zativos necessários a uma maior

consolidação da Frente, que é algoimprescindível para enfrentar os de-safios da conjuntura.

OS: A Resistência Urbana estáorganizada em quantos estados equais movimentos sociais e popu-lares que a compõem?

GB: A Resistência Urbana envolvemovimentos com características di-versas e com diferentes pautas demobilização. Estamos presentes emtodas as 5 regiões do país. Os mo-vimentos que tem construído a Frentesão: MCP (Ceará), Quilombo Urbano(Maranhão), Movimento das Famí-lias Sem-teto (Pernambuco), MLP(Pará), Terra Livre, Brigadas Popu-lares (Minas Gerais), MSTB (Bahia),MUST (São Paulo), Círculo Pal-marino (uma organização popularligada ao PSOL no Paraná) e oMTST (que está em SP, RJ, MG,DF, AM, PA, RR e PE).

OS: O MTST participou ativa-mente do processo de construçãoda CSP-Conlutas, como é feitoeste debate no interior da Resis-tência Urbana sobre participar ou

não da CSP-Conlu-tas.

GB: O MTST hojecompõe a CSP-Conlu-tas, participando de to-das as instâncias destacentral, por avaliarmosque é uma organizaçãoque representa um im-portante setor comba-tivo do movimento sin-dical brasileiro e porter uma proposta novade unificar no mesmoespaço de debate eação movimento po-pular e sindical. Noentanto, não é a centralunitária do conjunto daesquerda sindical e po-pular que gostaríamos.No caso da ResistênciaUrbana, a opção é de

não participar da CSP-Conlutas, nemde qualquer central enquanto orga-nização. Cada movimento que com-põe a Frente naturalmente pode de-finir suas alianças. Há companheirosna Resistência Urbana que tem pro-ximidade maior com a Intersindical,outros com a CSP-Conlutas e aindaoutros que não tem identidades maio-res nem com uma nem com outra.Isto é expressão do caráter amplo ediversificado da Frente e o MTSTavalia que deve ser assim.

OS: Quais são as perspectivasdo MTST para o ano de 2011?

GB: Faremos também em maio oEncontro Nacional do MTST, ondepretenderemos unificar de modomais consistente nossa intervençãonos estados onde temos atuação.Mas desde já é certo que jogaremospeso numa jornada nacional contraos despejos. Além disso deveremosfazer ocupações em pelo menos 6estados ao longo do ano, fortalecendoa luta por moradia e não ficando nadefensiva diante dos desmandos docapital imobiliário brasileiro. Seráum ano de muitas lutas.

Goiás: formado oComitê contra asprivatizaçõesGOIÁS O governo de Marconi

Perillo (PSDB/DEM) pretende pri-vatizar 19 empresas e órgãos pú-blicos do estado utilizando as PPPs(Parceria Público Privado) e OSCIP(Organização Social de InteressePúblico), além de instalar pedágiosem quatro rodovias estaduais.

Para justificar sua iniciativa, Mar-coni alega que as empresas do es-tado estão com muitas dívidas eque os recursos do orçamento sãoinsuficientes para resolver o pro-blema. Mas, afinal, quem quebrouo estado de Goiás? Marconi e seuex-vice, Alcides Rodrigues, gover-naram Goiás nos últimos 12 anos.

O projeto de Marconi é privatizaras empresas do estado sem que sefaçam leilões na bolsa de valores,apenas através de PPPs e criandoas tais OSCIPs. Com isso beneficiaas empreiteiras, grandes empresáriose banqueiros sem que seja precisofazer licitações ou tenha que fazerconcurso para contratar novos ser-vidores, repassando as funções doestado para a iniciativa privada.

A formação do “Comitê de combateàs privatizações e o estado criminoso”é um passo importante. Ele é formadopelos seguintes partidos e entidades:PSOL, PCB, PSTU, CSP-Conlutas,Intersindical, STIUEG, SINDQF-PA-GO, SINDCOLETIVO, DCE-UFG, ANDES-SN, Terra Livre, MTL,ANEL, Associação da Feira Hippie,NAJUB, Mandato deputado MauroRubem (PT), Mandato vereador EliasVaz (PSOL).

Controle social ao invésde privatização

Propomos que sejam criados con-selhos formados pelos servidores,sindicatos, igrejas, OAB, MP, e or-ganização de usuários com o obje-tivo de fazer o controle social dasempresas públicas. Defendemostambém a realização de auditoriasindependentes em todas as empresasque estão com dividas. O objetivoé investigar o que ocorreu com aadministração destas empresas. Énecessário que todas as empresaspúblicas submetam-se ao controleda sociedade organizada, para aca-bar com o jogo de interesses polí-tico-partidários dos governantes.

Zelito Ferreira da Silva

Esta semana, o canteiro de obrasda hidrelétrica de Jirau, em Rondônia,virou um campo de batalhas; depoisum inferno em chamas; depois umdeserto de cinzas e aço retorcido.

Jirau concentra todos os problemaspossíveis: em ritmo descontrolado,trouxe à região o “desenvolvimento”da prostituição, do uso de drogasentre jovens pescadores e ribeirinhos,da especulação imobiliária, da ele-vação dos preços dos alimentos, dasdoenças sem atendimento, e de vio-lências de todos os tipos.

Em julho de 2010, as populaçõesatingidas pela obra já protestavamcontra o não cumprimento de con-dicionantes, desrespeito e irregula-ridades no processo de desapropria-ção/expulsão de suas áreas, fraudesnas indenizações, etc. Em outubro,mais de um ano após o início dasobras, os ministérios públicos Federale Estadual de Rondônia impetraramuma ação civil pública contra o Es-tado, o município de Porto Velho, a

União, o Ibama, a Agência Nacionalde Energia Elétrica (Aneel) e a Ener-gia Sustentável do Brasil (ESBR,empresa responsável pelas obras),por descumprimento de condicio-nantes nas áreas de saúde, educação,transporte e segurança. Até hoje,70% não saíram do papel.

Sobre as condições dos trabalha-dores no canteiro de obras, em 2009trinta e oito pessoas foram libertadasde trabalho análogo à escravidãoem uma prestadora de serviço dausina. Em 2010, uma nova fiscali-zação em Jirau produziu 330 autosde infração por crimes trabalhistas.Nos distúrbios ocorridos esta semana,pipocaram denúncias contra a cons-trutora Camargo Correia: maus tratos,irregularidades no pagamento, não-pagamento de horas extra, ameaças,etc. Foi o combustível que fez abomba explodir.

Depois, o que se viu foram milharesde trabalhadores vagando perdidos,esfomeados, desamparados e deses-

perados, sem dinheiro, roupas, semter pra onde ir ou onde dormir. Porque? Porque mais de 70% dos bar-rageiros de Jirau são de outros estados,de acordo com a Assembléia Legis-lativa de RO. Os empregos prometi-dos para a região viraram fumaça.

Este mesmo “desenvolvimento”imposto ao rio Madeira ameaçaagora as bacias do Xingu, do Tapajóse do Teles Pires no Pará e no MatoGrosso. O projeto de Belo Monte, omais avançado nestes rios, seguecom assustadora semelhança os pas-sos de Jirau: licença de instalaçãoparcial ilegal, autorizações de des-matamento, descumprimento acin-toso das condicionantes, ameaças aribeirinhos e pequenos agricultorespara que vendam suas terras, des-respeito absoluto aos direitos cons-titucionais das populações indígenas,e migração acelerada e desordenadade trabalhadores de fora.

Em fevereiro, representantes dasbacias do Madeira, Xingu, Tapajóse Teles Pires, que compõem a Aliançados Rios da Amazônia, se reuniramcom o governo, que prometeu abriro diálogo com os movimentos. Ne-nhuma sinalização de que este diá-logo realmente ocorrerá foi dada atéagora, mais de um mês depois.

Nos solidarizamos profundamentecom todos que sofreram e ainda so-frerão com as violências de Jirau.Nos solidarizamos com os trabalha-dores, com as populações atingidas,com as populações das comunidadese das cidades da região.

Mas Jirau é um sinal de alerta aogoverno – principal responsável, emúltima instância, por tudo que acon-tece nas obras do PAC – e seus em-presários: as violações sistemáticasde direitos das populações mais cedoou mais tarde levam à reação. Nãohá desmandos que ficam impunes,nem ameaças que permaneçam semrespostas.

Aliança dos Rios da Amazônia: Movimento Xingu Vivo para

SempreAliança Tapajós Vivo

Movimento Rio Madeiro VivoMovimento Teles Pires Vivo

Jirau de hoje pode ser Belo Monte, Tapajós e Teles Pires de amanhã

Entrevista com Guilherme Boulos do MTST

“2011 será um ano de lutapela reforma urbana”

Ônibus incendiados em protestonas obras do Jirau.

Page 5: Ofensiva Socialista n°06 - abril/maio 2011

Nesse começo de 2011, com opretexto de “controle da infla-ção”, Dilma anuncia um corteda ordem de R$ 50 bilhões noorçamento. Parte dessa políti-ca é uma série de ataques aosservidores públicos e a todosos trabalhadores, que chama-mos de o “pacote de malda-des” do governo Dilma.

Fabio Antonio ArrudaDiretor do Sinsprev/SP

Na verdade, o que está em jogopor trás destas medidas é o apro-fundamento da crise econômica mun-dial, jogando a conta nas costas dostrabalhadores.

Vários projetos de lei atacam ofuncionalismo público. A PLP549/09, altera a Lei de Responsabi-lidade Fiscal e condiciona o aumentodas despesas com a folha dos servi-dores à inflação mais 2,5% ou a va-riação do PIB, o que for menor. APLP 549/09 representa, na prática,um congelamento salarial de 10 anosa todos os servidores de todas as es-feras no país e redução drástica dosconcursos públicos. Isso comprometediretamente a prestação de serviçospúblicos à população.

No dia 23/03 foi indicado o De-putado Pepe Vargas (PT/RS) paraser o relator do PLP 549/09 na Co-missão de Finanças e Tramitaçãoda Câmara. O projeto já foi aprovadono Senado. Em 2010, sob pressãodos servidores, a proposta de PLPfoi rejeitada na comissão da Câmara.Porém o governo conseguiu ganhartempo e adiar a votação do parecercontrário da relatora da Comissão,a então deputada Luciana Genro(PSOL/RS). Agora com uma posiçãomais favorável no Congresso o go-verno Dilma espera aprovar a PLP.

Além dela, a PL 248/98 tambémvolta à tona. Esse projeto, se apro-vado, permite a demissão de servidor

público por insuficiência de desem-penho. O governo Lula foi marcadoprincipalmente pela regulamentaçãode gratificações e avaliação de de-sempenho nas mais diversas cate-gorias. Em muitas categorias as gra-tificações representam até 75% daremuneração. O terreno já está pre-parado para cortes e demissões nofuncionalismo.

Para dar o golpe final na paridadedos servidores, que foi tirada com areforma da previdência de 2003, ogoverno pretende criar a previdênciacomplementar do servidor com oPL 1992/07.

O modo petista deprivatizar

A entrega de serviços públicos àiniciativa privada continua. No últimodia de mandato, o governo Lula emitiua MP 520 que criou a Empresa Bra-sileira de Serviços Hospitalares,EBESRH, que leva a privatizaçãodos Hospitais Universitários. Juntocom a PLP 92/07 abre caminho paraa privatização da saúde pública emtodo o país, instituindo as “fundaçõesestatais de direito privado”, acabandocom a garantia constitucional de queo Estado financiará os serviços pú-blicos, inclusive os essenciais. Já es-tamos vendo a proliferação das cha-

madas Organizações Sociais pelo país.O governo Lula conseguiu, nos

seus oito anos de mandato, dividiros servidores e levá-los a negociaçõesseparadas, cooptando várias entidadesdos servidores ligados à CUT. Alémdisso, promoveu uma brutal repressãoaos processos de greve dos servidorescomo, por exemplo, no caso doINSS, com o julgamento da greveilegal antes de começar, cortandobrutalmente os salários dos servidoresgrevistas.

O resultado disso foram negocia-ções rebaixadas e enfraquecimentodas categorias.

Nesse ano, no dia 16 de fevereiro,foi lançada a campanha salarial 2011com mais de mil servidores em Bra-sília. Trata-se de um pontapé inicialque pode representar um salto dequalidade nas mobilizações contraos ataques do governo.

Agora em abril, uma série de ati-vidades está sendo chamada paramobilizar os servidores. Uma cara-vana a Brasília com ato no dia 13de abril, um dia nacional de luta nodia 28 de abril, além de categoriasimportantes do funcionalismo defi-nindo indicativos de greve.

Agora é a hora de unificar a lutados servidores! É o único caminhopossível para barrar os ataques dosgovernos aos servidores!

nacional/sindical • 5Ofensiva Socialista n° 06 abril/maio - 2011

Chega de enganação,aumento real para osprofessores!SÃO PAULO O governador de

São Paulo, Geraldo Alckmin, eseu Secretário de Educação, Her-man Voorwald, querem passar aimpressão de que defendem a “va-lorização dos professores”. Aomesmo tempo oferecem 0% deajuste real para o funcionalismo.

Dizem que vão melhorar o Planode Carreira do Magistério, mas ogoverno não tem a intenção derevogar nenhuma das leis e reso-luções passadas nos últimos dezanos que retiraram direitos dosprofessores, sucatearam as escolase achataram os salários.

Mesmo com a Lei de Respon-sabilidade Fiscal (LRF) é possíveldar aumento real para todo o fun-cionalismo. O governo gasta hojeapenas 54% com a folha de paga-mento do funcionalismo públicoe a LRF diz que pode chegar até60%. Na pasta da Secretaria deEducação o nível é menor ainda.

Queremos sim discutir um Planode Carreira que realmente atenda asnecessidades dos professores e de-mais funcionários e que prime poruma Educação de qualidade para ascrianças. O apresentado pelo governoaté agora é pura enganação.

Nós exigimos um reajuste sala-rial imediato de 36,74% que, deacordo com os cálculos do DIEE-SE, seria necessário para repor opoder de compra desde 1998.

Outra enganação do governofoi a política de bônus, passandoa ideia que aqueles professoresque se dedicaram iam receber umbônus farto. Quem ainda tinhaessa ilusão ficou bastante decep-cionado após o dia 31 de março.

Luta contramunicipalização em

TaboãoNo dia 24 de março realizamos

um ato contra a municipalização daE. E. Francisco Vicente em Taboãoda Serra/SP, com a participação dealunos, pais, professores e a Apeoesp(Subsede de Taboão da Serra). Fomosem passeata até a Prefeitura ondeprotocolamos um abaixo assinadocontra a municipalização.

A prefeitura do PSB/PT estáquerendo municipalizar essa escolae aos poucos absorver todo o cicloI que ainda está a cargo do Estado.No entanto, a prefeitura não con-segue atender a demanda de cre-ches e pré escolas. No ciclo I tra-balham com três turnos diários eestão querendo ampliar a rede. Aqualidade na rede municipal emmuitos aspectos consegue ser piorque a rede estadual.

Eleições na ApeoespNo dia 09 de junho teremos

eleições na Apeoesp, o maior sin-dicato da América Latina. Serãoeleições para a diretoria e para osconselheiros regionais e estaduais.Todos os cargos agora com man-dato para 3 anos, mudança ocorridano último congresso.

A Oposição Alternativa Unificadaconsolidou alianças importantesno campo da esquerda e tem con-dições de lutar e sair vitoriosa nessepleito para conseguirmos combateros ataques dos governos federal eestaduais. Precisamos de apoio nadivulgação das nossas ideias e deajuda no dia da eleição..Edemilson A. P. Clementino

E E Laurita Ortega Mari,conselheiro pela Oposição

Alternativa Unificada,Educadores Socialistas

Dia 28 de abril não é uma dataqualquer. Trata-se do Dia inter-nacional de luta contra aciden-tes e doenças do trabalho.Trabalhadores de várias partesdo mundo vão levantar suasbandeiras contra essa verda-deira epidemia que mata mui-ta gente e deixa milhões de le-sionados pelo mundo todo.

Joaquim Aristeu (Boca)Cipeiro na AmBev-Jacareí e

membro da Executiva Estadualda CSP-Conlutas em São Paulo

O dia 28 de abril foi criado no Ca-nadá, em 1995, para lembrar o trágicoacidente do trabalho ocorrido em1969 na cidade de Farminghton nosEstados Unidos onde uma explosãoem uma mina matou 78 trabalhadorese deixou centenas de feridos.

É uma forma de denunciar e darvisibilidade à gravidade de um pro-blema que ocorre hoje em todas asempresas.

Segundo estatísticas do Ministérioda Previdência Social (divulgadasno dia 04/11/2010), no ano de 2009

morreram 2.496 trabalhadores e tra-balhadoras vitimas de acidentes dotrabalho. Neste período tivemos723.452 trabalhadores acidentados,aproximadamente 7 mortes por diae nada menos que 1.982 acidentespor dia, ou seja, 83 acidentes porhora, ou ainda, 1,37 acidente porminuto no pais.

Nesta estatística não estão con-tabilizadas as doenças do trabalhoe mortes ocorridas nos locais detrabalho.

5 mil morrem emacidentes de trabalho por

dia no mundo

Essas ocorrências chegam a com-prometer 4% do PIB mundial. Dostrabalhadores mortos no mundo acada ano, 22 mil são crianças, víti-mas do trabalho infantil. Ainda se-gundo a OIT, todos os dias morrem,em média, 5 mil pessoas devido aacidentes ou doenças relacionadoscom o trabalho.

No Brasil, os dados oficiais semantêm muito distantes da realidadeem que vivem os trabalhadores,uma vez que as estatísticas consi-

deram apenas os dados do mercadoformal, desprezando as vítimas quenão têm registro em carteira.

Outro fator que mascara a realidadeé que as estatísticas se baseiam naemissão do CAT (Comunicação deAcidente de Trabalho), documentoque a empresa deve encaminhar quan-do o trabalhador sofre um acidentede trabalho ou se queixa de algumalesão por conta da função exercida.

O que acontece é que a absolutamaioria das empresas se nega aemitir o CAT, para dificultar o re-conhecimento de sua responsabili-dade diante da lesão sofrida pelotrabalhador.

Trabalhadores do setor dealimentação não são

exceção

Entre os trabalhadores das indús-trias do setor de alimentação noVale do Paraíba a situação não édiferente. Apenas nesse ano de 2011dois trabalhadores já perderam avida, um terceirizado na empresaJ. MACEDO e um trabalhador daAmBev que morreu no último dia27 de março quando saia da fábrica

devido às péssimas condições daestrada, uma situação que a CIPA(Comissão Interna de Prevenção deAcidentes) da empresa vinha de-nunciando a mais de 3 anos.

Na AmBev são dezenas de tra-balhadores, muitos deles com menosde um ano de casa, com problemasde coluna, joelhos, ombros e váriosoutros tipos de doenças adquiridasno manuseio de produtos químicos.Sem falar dos problemas psicoló-gicos resultantes do assédio moral,principalmente no setor de processoe no setor do engarrafamento decerveja, por parte da gerência emuitos supervisores.

O assédio moral hoje também éum mecanismo de opressão no ser-viço público. São centenas de tra-balhadores e trabalhadoras que estãono caminho até do suicídio devidoa esta prática nefasta dos patrões egovernos.

Neste 28 de abril vamos protestare exigir o fim das doenças e aci-dentes do trabalho. Vamos exigirreparação e punição aos responsáveispela mutilação e morte dos traba-lhadores e trabalhadoras.

28 de abril, dia mundial de luta contra os acidentes e doenças do trabalho

Unificar o funcionalismo contrao pacote de maldades de Dilma

3 Contra qualquer reforma queretire direitos dos trabalhadores. 3 Contra qualquer reforma queretire direitos dos trabalhadores.3 Regulamentação/institucio-nalização da negociação coletivano setor público e direito degreve irrestrito.3 Retirada dos PLPs, MPs, de-cretos contrários aos interessesdos servidores públicos: PLP549/09 (congela o salário dosservidores por dez anos), PLP248/98 (prevê a demissão deservidores avaliados insuficientespor dois ciclos seguidos ou terintercalados no espaço de doisanos), PLP 92/07 (cria as fun-dações estatais), MP 520/10(cria a Empresa Brasileira deServiços Hospitalares) e demaisproposições.3 Cumprimento por parte dogoverno dos acordos firmados.3 Paridade entre ativos, apo-sentados e pensionistas.3 Definição de data-base (1ºde maio).3 Política salarial permanentecom reposição inflacionária, va-lorização do salário base e in-corporação das gratificações.

Calendário:13 de abril

Ato Nacional, com caravanasa Brasília, convocado pela Coor-denação Nacional das Entida-des dos Servidores PúblicosFederais – CNESF - Campanhasalarial 2011, MP 520/2010e PEC 270.

28 de abrilDia Nacional de Luta em defesados trabalhadores com mani-festações e atos públicos nosestados.

Começa um abril de luta para o funcionalismo público.

Page 6: Ofensiva Socialista n°06 - abril/maio 2011

6 • especial: PSOL Ofensiva Socialista n°06 abril/maio - 2011

Entre os dias 01 e 03 de abril,militantes do PSOL de 10Estados reuniram-se emCuritiba para o I Encontro deEcossocialistas do partido. Ointuito foi o de diagnosticar osprincipais conflitos socioam-bientais e construir uma seto-rial nacional, fomentar organiza-ções de base nos estados e mu-nicípios e propor uma pauta an-ticapitalista e ecológica para oconjunto da militância e dosmandatos.

Bruno MattosFiscal de meio ambiente em Rio das

Ostras, estudante de ProduçãoCultural da UFF e militante do Núcleo

PSOL Serramar RJ

O Ecossocialismo surge como umacontraposição ao capitalismo verde,ou como bem cunhou Plínio de Ar-ruda Sampaio, ao ecocapitalismo,denunciando o discurso da “ecoefi-

ciência” e do “desenvolvimento sus-tentável” que não rompem com a ló-gica de produção capitalista e da ex-pansão da lucratividade.

É preciso denunciar a insustentabili-dade de qualquer alternativa de capita-lismo “amenizado” ou “melhorado”.No seu lugar, é preciso propor uma al-ternativa que retome a relação meta-bólica entre homem e natureza, comconsciência ampliada e desalienada.

A partir de tais discussões intro-dutórias, os militantes reunidos ana-lisaram o campo de luta ecossocialistano Brasil à luz do projeto desenvol-vimentista encampado pelo governo‘petemedebista’. Este projeto é apre-sentado como solução para a questãosocial brasileira, mas na prática apenasaprofunda as expressões negativas,suplantando a democracia direta, osdireitos humanos e culturais, trato-rando minorias e grupos vulneráveis,ameaçando a biodiversidade e as re-servas de recursos naturais do país,desnacionalizando-as, poluindo e de-

gradando-as ao ritmo de um aceleradoprocesso de acumulação privada dolucro socialmente produzido.

Carta de Curitiba

Dos debates surge a Carta de Curi-tiba. Nela o diagnóstico da crise so-cioambiental planetária é colocado apartir dos indicadores da escassez eextinção de recursos, seres vivos eculturas e das grandes tragédias re-centes como as enxurradas e desmo-ronamentos da região serrana do Rio,o vazamento gigantesco de petróleono Golfo do México, ainda sem so-lução definitiva, e da explosão dereatores nucleares no Japão, pós tsu-nami, cujos impactos locais e globaisainda não foram mensurados.

O conjunto da militância ecosso-cialista deliberou finalmente no do-cumento as diretrizes de luta e pro-postas de ação, entre elas: a constru-ção de um programa ecossocialistapara o PSOL; a luta contra a reforma

ruralista do Código Florestal; contraa atual matriz energética, sobretudoas barragens de hidrelétricas e im-plantação de novas usinas nucleares,buscando um modelo de energiasmenos poluentes e impactantes e adesativação das nucleares de Angrados Reis (a proposta do encontro éque os mandatos do PSOL proponhamum plebiscito nacional, mas tambémque a esquerda e os movimentos so-ciais construam um referendo popularcontra a energia nuclear); a denúnciadas ações de flexibilização dos pro-cedimentos de licenciamento am-biental e desmonte dos órgãos licen-ciadores e fiscalizadores nacionais eestaduais; a resistência e denúnciadas arbitrariedades e desvios dasobras do PAC e dos megaeventos(Copa e olimpíada) que trazem noseu bojo um projeto de segregaçãosocial das cidades, aprofundando asdesigualdades e a opressão sobre osmais pobres; por uma reforma urbanaampla e contra as remoções, contra

o ‘ecocinismo’ que remove famíliassob a desculpa da preservação am-biental e da defesa civil, mas quevisa apenas liberar espaço para a es-peculação imobiliária e higienizarsocialmente o centro e áreas nobresdas grandes cidades; por uma reformaagrária ecológica que coloque freioao destrutivo agronegócio e promovaa agricultura familiar; pelo reconhe-cimento e demarcação de territóriosindígenas, quilombolas e reservasextrativistas e o combate ao racismoambiental, entre outras questões.

Foi aclamada ainda a propostaoriunda do setorial de comunicaçãoe cultural de se construir um Encontrode Setoriais do PSOL antes do Con-gresso Nacional que deverá ocorrerno fim do ano no Rio de Janeiro.

Para o Rio de Janeiro, definiu-seum indicativo de data, entre os mili-tantes fluminenses, para uma primeirareunião da construção de um setorialestadual no fim de semana de 14 e15 de maio em Rio das Ostras.

O Partido Socialismo e Liber-dade (PSOL) sai do processoeleitoral de 2010 como a maisimportante referência política deoposição de esquerda ao governoDilma e ao lulismo.

André FerrariDiretório Nacional do PSOL

A campanha presidencial de Plíniode Arruda Sampaio jogou um papelimportante para resgatar temas centraisde luta dos movimentos sociais e daesquerda socialista. No espaço que opartido conquistou na campanha, Plí-nio defendeu a reforma agrária, de-nunciou a dívida pública como ver-dadeira “bolsa família” dos ricos edefendeu sua suspensão com auditoria,além de levantar uma clara defesados serviços públicos de educação esaúde, denunciar as privatizações emostrar que o lulismo não se diferenciaefetivamente do tucanato.

O PSOL também foi o único setorde oposição de esquerda ao governofederal que conseguiu eleger parla-mentares em 2010. Foram três de-putados federais, quatro deputadosestaduais e um senador, pelo menospor enquanto. Se for possível revertera semi-cassação do mandato de Ma-rinor Brito do Pará pela decisão doSTF em legitimar a candidatura do“ficha suja” Jader Barbalho, o PSOLpoderá manter dois senadores.

Em algumas regiões, o PSOL foium fator relevante no cenário políticoe conseguiu dialogar com amplossetores de massas. O destaque é semdúvida o Rio de Janeiro. Apesar doslimites do partido e sua direção, al-gumas das mais importantes deman-das dos movimentos populares en-contraram em candidaturas do PSOLum canal de expressão. A luta contraa criminalização da pobreza e dosmovimentos, a luta pela reforma ur-bana e pelos direitos sociais maisbásicos puderam utilizar o PSOLcomo ferramenta.

Apesar de um cenário político geraladverso, marcado pelo relativo refluxonas lutas de massas, ilusões no lulis-mo, pela falsa polarização entre PTe PSDB assim como a falsa novidaderepresentada por Marina Silva, oPSOL conseguiu estabelecer algumasbases para o avanço da construção

de uma oposição de esquerda efetivano país. Mas, levar adiante essa tarefano próximo período dependerá dasavaliações e deliberações a seremdefinidas pelo III Congresso do par-tido no final desse ano.

Investir no fortalecimentodas lutas dos trabalhadores

É verdade que o principal fator adefinir os rumos do PSOL e da opo-sição de esquerda está relacionadoàs perspectivas para as lutas sociais.Sem o crescimento, generalização eunificação das mobilizações de tra-balhadores, estudantes, sem-terra edemais setores atingidos pelas políticasneoliberais que o governo Dilma jácomeça a implementar, a tendência éque o espaço do PSOL fique restrito.

Porém, o partido pode e deve jogarum papel central no estímulo e fortale-cimento das lutas sociais. O PSOL nãoé mero expectador desse processo.

Os mandatos parlamentares têmque estar integralmente a serviço daslutas concretas dos trabalhadores.Os militantes e dirigentes do PSOLdevem trabalhar para enraizar o par-tido nos locais de trabalho, estudo,nos bairros e no campo, com umaperspectiva de organização para aluta. Da mesma forma, o PSOL deveestimular a reorganização do movi-mento sindical e popular.

A ameaça do eleitoralismo

Infelizmente, porém, o que vemosno interior do partido é o crescimentode uma visão e prática que subestimamas lutas diretas dos trabalhadores e jo-gam todas as fichas na disputa eleitoralde forma muitas vezes temerária.

Em 2010, essa visão eleitoralistafoi derrotada no interior do partidocom o fracasso da política de coli-gação do PSOL com o PV de MarinaSilva e também com a derrota deMartiniano Cavalcanti na disputa so-bre quem seria o candidato presi-dencial do partido.

Porém, ainda em 2010 tivemos si-tuações inaceitáveis como, por exem-plo, a participação do candidato asenador do PSOL no Amapá na cam-panha de candidatos da direita (PTB).Da mesma forma, o cálculo eleitoral

desesperado levou o PSOL do RioGrande do Sul a abrir mão de umcandidato ao Senado para apoiarPaulo Paim do PT, o mesmo que re-centemente, apesar de toda a dema-gogia, votou a favor do reajuste ri-dículo do salário-mínimo.

Antes mesmo de 2010, vimos coli-gações feitas com partidos da base go-vernista ou legendas fisiológicas, comonas eleições de 2008. Em Porto Alegre,o PSOL coligou-se com o PV e aindapor cima aceitou receber recursos daGerdau para a campanha eleitoral.

Internamente ao partido, a ânsiaeleitoralista pode ser extremamentedanosa à democracia interna. Man-datos parlamentares transformam-seem verdadeiros Olimpos de ondeuma elite define políticas sem qual-quer consulta ou debate nas bases.

O eleitoralismo também deformae desconfigura a base militante dopartido. Se o eleitoralismo prevalece,vale a filiação em massa, despolitizadae descomprometida com a construçãopartidária e as lutas dos trabalhadores.Essa base deformada acaba por resu-mir-se, no máximo, a um amontoadode cabos eleitorais e não um coletivomilitante consciente e crítico, capaz

de atuar e pensar por conta própria.O crescimento orgânico do PSOL

tem que se dar principalmente combase no recrutamento ao partido dosmelhores ativistas dos movimentos elutas sociais. Essa base orgânica sólidaé que permitirá ao partido influenciarpoliticamente setores muito mais amplosdo povo. A ausência de um partido demilitantes ativos e organizados, faz doPSOL refém dos interesses eleitorais.

Crise do PSOL em São Paulo

A crise que estamos observandono PSOL de São Paulo reflete a he-gemonia eleitoralista no partido deconjunto. A tentativa de um setor li-gado ao deputado estadual CarlosGianazzi, em ação coordenada coma corrente MES, de filiar mais de700 pessoas ao partido sem nenhumcritério de militância ou qualquerbase política mais sólida, representaum passo qualitativo para trás.

O problema é que alguns dos setoresque hoje questionam essa prática, nocaso a corrente majoritária em SãoPaulo (APS), ajudaram a diluir o ca-ráter militante do partido nos últimosanos. A praticamente total ausênciade critérios para a participação de fi-liados na eleição de delegados aosCongressos não foi uma política ex-clusiva de Gianazzi e do MES.

A descaracterização progressivado PSOL como partido de lutadoresda classe trabalhadora e de militantessocialistas é resultado da política dossetores majoritários. A única formade cortar pela raiz práticas como aque se tenta implementar em SãoPaulo é revertendo radicalmente apolítica majoritária.

Rupturas com o partido

Recentemente setores organizadosromperam com o partido em estadoscomo Maranhão e Rio Grande do Sul,além de muitos outros ativistas inde-pendentes que seguiram o mesmo rumo.

Essas defecções são resultado dapolítica adotada pela direção no últimoperíodo. A seguir o curso atual, opartido vai perder uma base importantede seu quadro militante ativo. Esseprocesso só vai fortalecer a base des-

politizada e oportunista no PSOL ecoloca em sério risco o seu futuro.

O PSOL é um elemento progressivona realidade da luta de classes no país.Vimos isso com a campanha de Plínioem 2010 e o papel que joga, porexemplo, no Rio de Janeiro. O partidoainda é a principal referência de opo-sição de esquerda no país. O grau defragmentação e dispersão da esquerdaindependente do governo seria aindamaior se o PSOL não existisse. Essesfatores justificam a política de atuarno PSOL e buscar construí-lo comuma política consequente.

Porém, nesse momento, atuar noPSOL só se justifica se travarmosuma firme luta política pelo resgatede seu projeto original de um partidoclassista, democrático e socialista.Para isso, é preciso construir uma alaesquerda unificada e consequente noPSOL capaz de aglutinar todos os quequeiram resistir ao curso eleitoralista.

Chamamos a todos os militantesconsequentes do PSOL a defenderde forma clara e franca o retorno dopartido ao seu projeto original:

• Por um PSOL que seja oposiçãoconsequente, classista e socialistaao governo Dilma, ao lulismo e àdireita tradicional.

• Enraizar o partido nas lutasdos trabalhadores e da juventudecomo prioridade.

• Intervir no processo eleitoralcom uma política classista e socia-lista e candidaturas a serviço daslutas dos trabalhadores.

• Organizar o partido pela base,com núcleos ativos nos bairros, lo-cais de trabalho e estudo, categoriase movimentos sociais.

• Construir o PSOL com os lu-tadores da nossa classe e não umpartido de cabos eleitorais.

• Não às coligações com partidosburgueses e governistas em 2012.Não às contribuições financeirasde empresas ao partido. Não à fi-liação industrial, sem critérios.

• Por um PSOL democrático emilitante, classista e socialista. Pelaunidade de uma Frente de Esquer-da com PSTU, PCB e demais or-ganizações e movimentos de lutada classe trabalhadora.

O PSOL que queremos

I Encontro de Ecossocialistas do PSOL

A campanha de Plínio jogou umpapel importante para resgatar

temas centrais de luta dosmovimentos sociais.

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especial: visita de Obama • 7Ofensiva Socialista n° 06 abril/maio - 2011

Mesmo com poucos resultadospráticos imediatos, a visita deObama à América Latina no fi-nal de março refletiu as preocu-pações e interesses do imperia-lismo estadunidense no novocenário internacional de crisecapitalista e corrida imperialis-ta sobre a América Latina.

André Ferrari

O presidente dos EUA Barack Oba-ma esteve no Brasil, Chile e El Sal-vador entre os dias 19 e 23 de março.O tom dos discursos no Teatro Mu-nicipal do Rio ou no Palácio de LaMoneda em Santiago indicava umaconversa “entre iguais”. Obama rei-vindicou as democracias latino-ame-ricanas e fez questão de enfatizarque começava ali uma nova fase nasrelações entre os EUA e a AméricaLatina.

Por trás da retórica, o que se viufoi bem diferente. A começar pela re-pressão intensa contra qualquer umque quebrasse o coro de bajuladores.No Rio, enquanto Obama falava emdemocracia e fazia referências ao pas-sado da presidente brasileira, DilmaRousseff, como presa política, 13 ma-nifestantes que participaram de umprotesto pacífico em frente ao Con-sulado dos EUA foram enviados àprisão de forma totalmente arbitrária.

Se os agentes de segurança esta-dunidenses trazidos na comitiva deObama chegaram ao ponto de sub-meter ministros de Estado a uma re-vista vexatória, o tratamento dadoao povo nas ruas não poderia tersido diferente.

Mais do que as visitas a comuni-dades pobres ou pontos turísticos doRio, a marca da visita de Obamaestá nas cabeças raspadas de jovense trabalhadores transformados empresos políticos pelos governos deDilma e Sergio Cabral a serviço dogoverno estadunidense.

Mas, isso não é tudo. Também fi-cará marcado que foi em solo brasi-leiro, minutos antes de um jantar noPalácio do Planalto que Obama au-torizou o ataque militar à Líbia, umaação imperialista voltada para contera revolução árabe e não com finshumanitários como apresentada.

Crise e corridaimperialista

A América Latina historicamentefoi tratada como quintal do imperia-lismo estadunidense. Num momentoem que a economia dos EUA buscaencontrar caminhos de recuperaçãodepois da grave crise que atingiuseu pico em 2008 e 2009, mais umavez, a América Latina é vista comocampo de exploração.

Desde 2009, muitos países latino-americanos puderam amenizar o im-pacto mais forte da crise internacionalaproveitando-se das exportações decommodities ao mercado asiático,em particular à China. Esse foi ocaso do Brasil que, junto com umapolítica de utilizar dinheiro públicopara sustentar a atividade econômicae fomentar o crédito, conseguiu umataxa de crescimento do PIB da ordemde 7,5% em 2010 diante de um cres-cimento abaixo de zero em 2009.

Em 2010, o Brasil teve o maiordéficit comercial de todos os temposem relação aos EUA. As exportaçõesdo Brasil ao mercado estadunidensecaíram 37,8% no auge da crise (pri-meiro quadrimestre de 2009). En-quanto isso, em relação à China, asexportações cresceram 62,67% nomesmo período. Isso fez com que aChina fosse hoje o primeiro mercadopara as exportações brasileiras emtodo o mundo.

Ao contrário de países latino-ame-ricanos como o México e países daAmérica Central, mais dependentesdo mercado estadunidense, esse dis-tanciamento em relação aos EUA fa-voreceu a economia brasileira. Porém,criou novas contradições e problemas.

Nas vésperas da visita de Obama,a imprensa noticiou que o subsecre-tário de Estado dos EUA, Arturo Va-lenzuela havia declarado estar “con-tente” com as relações do Brasil coma China, porque com o dinheiro dasexportações ao país asiático, o Brasilcompraria “máquinas americanas”.

Essa declaração reflete uma con-tradição fundamental da “emergente”economia brasileira. As relações cons-truídas com a China reproduzem ummodelo neocolonial de exportaçãode produtos primários e importaçãode produtos industrializados. EntreEUA e China, a disputa é de quem oBrasil e a América Latina comprarãomais.

A guerra cambial em curso, com avalorização da moeda brasileira, juntocom medidas protecionistas que apon-tam os riscos de uma guerra comercialgeneralizada, tende a agravar a si-tuação. O resultado disso é um pro-cesso de desindustrialização e retro-

cesso nas bases fundamentais da eco-nomia brasileira, com graves efeitossociais, mesmo quando há índicespositivos de crescimento.

Os investimentos chineses no Brasilvisam garantir o acesso à matériaprima, produtos agrícolas, alimentose minérios que o país necessita. Maisrecentemente, a China se voltou paraa perspectiva de o Brasil tornar-sefuturamente um grande exportadorde petróleo. Esse tema também foicentral na visita de Obama ao Brasil.

A perspectiva de exploração degrandes bacias petrolíferas em águasprofundas na camada pré-sal na costabrasileira é alvo de grande atençãodo ponto de vistas dos interesses im-perialistas. Apesar de muito incertado ponto de vista do financiamentoe dos riscos ambientais para sua pro-dução (haja vista o desastre do va-zamento no Golfo do México), o pe-

tróleo do pré-sal pode representaruma mudança significativa do papeldo Brasil no cenário da produção in-ternacional do petróleo.

Interessa à classe dominante dosEUA diversificar seus fornecedoresde petróleo, principalmente num con-texto de crises revolucionárias noOriente Médio. Mas, interessa tam-bém que empresas estadunidensesparticipem do lucrativo empreendi-mento no Brasil.

Em 2009 foi assinado um acordoque prevê um empréstimo chinês decerca de US$ 10 bilhões para investi-mentos nas novas reservas do pré-sal, tendo como contrapartida a garantiade entrega de uma quantidade fixa depetróleo por dez anos para a China.

No Brasil, Obama propôs um “diá-logo estratégico sobre energia” comintenções parecidas. Mas, quando setrata do imperialismo estadunidense,não se pode limitar as relações entrepaíses a meros acordos comerciais.Uma nova ofensiva dos EUA sobrea América Latina inclui desde a pres-são “democrática” sobre governosda região até o uso direto ou indiretoda supremacia militar.

A reativação da IV Frota da marinhaestadunidense para monitorar o Atlân-tico não é uma ação gratuita, supos-tamente motivada por razões huma-nitárias ou combate ao narcotráfico.Esta também relacionada à corridaimperialista pela América Latina.

Lula e Dilma:política externaprogressista?

O início de governo de DilmaRousseff, herdeira de Lula, tem sidomarcado por um retorno às políticasneoliberais mais explícitas que ca-racterizaram o primeiro governo doPT, como continuidade do governode Fernando Henrique Cardoso, aber-tamente neoliberal.

Depois de uma profunda crise po-lítica marcada por escândalos de cor-rupção em 2005 e os graves efeitosda crise econômica internacional de2008 e 2009, o governo Lula nãoconseguiu aprofundar o curso neoli-beral adotado desde o início. Comoquase todos os governos burguesesdo mundo, Lula foi obrigado a jogaro peso do Estado para salvar os ca-pitalistas e amenizar os efeitos dacrise. Junto com isso tentou adotaruma aparência mais desenvolvimen-tista e menos neoliberal.

Seguindo a tendência internacional,o governo Dilma parte com forçapara remediar os “excessos” do pe-ríodo de crise. O governo já anuncioucortes da ordem de R$ 50 bilhões,além de retomar os planos de umanova contra-reforma da previdênciasocial, congelamento de salários parao funcionalismo público, etc.

Mesmo para muitos críticos doprimeiro mandato de Lula, a políticaexterna do governo era a única áreaonde o governo mereceria aplausospor sua postura independente e so-berana. Na verdade, a política externabrasileira não deixou de ser coerentecom a política interna.

O lulismo no poder representouuma expansão do capitalismo brasi-leiro sobre a América do Sul, reedi-tando uma perspectiva subimperia-lista. O governo Lula representou osinteresses econômicos das grandesempresas brasileiras e multinacionaisinstaladas no Brasil e interessadasno mercado e potencial econômicodessa região.

Se essa política pode ter geradoocasionalmente algum desconfortoem relação ao governo estaduni-dense, nunca representou nenhumtipo de ruptura ou intenção de avan-çar nessa direção. Na prática, oBrasil atuaria como sócio menor doimperialismo.

Para os interesses do subimperia-lismo brasileiro é fundamental aconstrução de uma situação de pazsocial e estabilidade na América La-tina. Essa é a razão pela qual o go-verno brasileiro jogou um papel pro-tagonista tanto na tentativa de con-tenção das ações golpistas em paísescomo Venezuela, Bolívia e Honduras,como na busca consciente de frearprocessos de transformação radicaldessas sociedades numa perspectivarevolucionária e anticapitalista.

O papel de empresários e políticosbrasileiros ao estimular política, eco-nômica e ideologicamente o processode restauração capitalista em Cubaaponta também na mesma direção.

Além disso, as ambições da bur-guesia brasileira e do grande capitalaqui instalado buscam um reconhe-cimento maior do papel político dopaís internacionalmente. A aspiraçãopor um assento permanente para opaís no Conselho de Segurança daONU simboliza isso. É isso queleva o governo brasileiro a buscarintervir em temas polêmicos como aquestão do Irã e Oriente Médio.

No caso do Haiti, a missão daONU encabeçada por forças brasi-leiras, não passa de uma força armadade ocupação sobre um país profun-damente abalado por desastres natu-rais, epidemias e uma verdadeira es-poliação por parte dos interesses eco-nômicos internacionais.

A presença do Brasil no Haiti,assim como de tropas de outros paíseslatino-americanos, deixa claro o papelretrógrado da política externa do go-verno brasileiro.

A luta contra o imperialismo noBrasil e na América Latina está vin-culada também à luta contra seussócios menores em território nacional.Trata-se, portanto, de uma luta contraos interesses capitalistas em solo bra-sileiro e latino-americano. Trata-se deuma luta anti-capitalista e pela unidadesocialista da América Latina.

Obama e a América Latina

De igual para igual?

Dilma com Obama: repressão, petróleo e ataque imperialista à Líbia.

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8 • análise: violência Ofensiva Socialista n°06 abril/maio - 2011

Quando pensamos em violêncialogo imaginamos a cena: umapessoa sendo agredida fisica-mente pela outra, geralmenteum mais forte espancando omais fraco. Fora de contextoesta imagem causa repugnân-cia pela tamanha covardia ecom certeza algumas pessoasde bom coração virão apartar abriga.

Kátia Sales

Agora mudemos o cenário e aspersonagens: coloquemos um sofá,uma mesa, um fogão, uma TV ligada,o mais forte (ele) espancando, e omais fraco (ela) apanhando. Em68,1%* dos casos os filhos estãopresenciando esta lamentável cena,em outros 16,2%* os filhos estãosofrendo a violência junto com amãe. E os vizinhos... nesta hora nin-guém ouve nada. A omissão da so-ciedade também é um ato de vio-lência contra as mulheres.

Além da Lei Maria da Penha

No primeiro caso, a sanção previstano código penal para quem ofendera integridade corporal ou a saúdede outrem é pena de 3 meses a 1ano de reclusão, podendo ser con-vertida na maioria das vezes em pa-gamento de cestas básicas, no casodo réu ser primário. No contexto deViolência Doméstica a pena podevariar de 3 meses a 3 anos de reclusãoconforme prevê a Lei Maria da Pe-nha, em vigor desde setembro de2006. Eis aí uma das “ações afir-mativas” comemorada pelo movi-mento feminista desde então. Noentanto, a Violência Doméstica é,infelizmente, apenas uma das espé-cies de violência que as mulheressofrem no dia a dia. Nós só podere-mos nos armar contra estas violações

a partir do momento que entendermoscomo elas funcionam.

Violência de Gênero: é aquelaque acomete somente as mulherespelo simples fato de termos nascidomulheres, são as infelizes frases dotipo “tinha que ser mulher”, “vaipilotar fogão”, “isto é coisa de ma-rica”, podendo atingir todas as faixasetárias.

Violência Moral: é aquela queatinge a honra, o caráter, com palavrasde baixo calão, com afirmativas quese presumem ser verdadeiras, quepodem ser sentidas de formas dife-rentes variando de mulher para mu-lher: “gostosa”, “loira burra”, “gali-nha”... A Violência Moral esta muitopresente no ambiente de trabalho eintimamente ligada ao assédio moralvivido pelas trabalhadoras que quandose recusam a sair com seus colegasou patrões começam a ser perseguidase muitas vezes se sentem culpadaspor isto, chegando ao adoecimentoou pedindo demissão.

‘Não’ é ‘não’

Violência Sexual: infelizmente nãosão só os casos de estupro por estra-nhos que podemos caracterizar comoviolência sexual. Ora, se a compa-nheira não esta a fim de ter relaçõese o companheiro a força, não temoutro nome que não estupro. ‘Não’quer dizer ‘não’ mesmo. Quandouma mulher se submete aos desejosde outro contra a sua vontade, estamosdiante de uma violência sexual.

Violência Psicológica: não é pre-ciso um olho roxo, tem relação comos tratamentos desumanos a quemuitas mulheres são submetidas,que podem deixar sequelas irrever-síveis em sua alma. Esta talvez sejaa mais difícil de se combater porquenão conseguimos detectar sozinhas,muitas vezes o agressor deprecia,rejeita, manipula, discrimina, des-respeita, é indiferente. Nos rouba a

autoestima e nos anula completa-mente como ser humano. Quando amulher possui filhos, estes são uti-lizados como método de coação psi-cológica, deixando-a mais presa aeste tipo de relação.

Agora a mais perversa de todosos tipos de violência contra as mu-lheres: violência estatal. Não hánenhum outro mecanismo que violetanto os direitos das mulheres quantoo próprio Estado. Apesar de constarno Artigo 5, inciso II da Constituiçãobrasileira que “homens e mulheressão iguais em direitos e obrigações,”isto não passa de mera formalidade.

É visível que o Estado é omissona solução dos conflitos e necessi-dade sociais da sua maioria de tra-balhadores e trabalhadoras.

Como um governo que pretendepunir a violência contra a mulherpode levar em consideração apenasa violência ocorrida em seu espaçodomestico? Já não estaria o Estadoafirmando que “como lugar de mu-lher é em casa, então é lá que elaapanha”? Se esta é a grande preo-cupação, já que a maioria das agres-sões às mulheres derivam de fatode suas relações íntimas, porque asDelegacias de Defesa da Mulher só

funcionam de segunda à sexta emhorário comercial? Como garantirabrigo às vítimas contando com ape-nas 70 casas abrigo no país todo?Como livrar a mulher desta posiçãode dominação e dependência finan-ceira de seu parceiro? Tem o Estadoreal interesse nisto?

A questão é: o grande desafio paraa sociedade não é ser boazinha eligar no 180 toda vez que presenciarum ato de violência, mas sim combatertodas as formas de violência que opróprio Estado nos impõe todos osdias, principalmente contra as mu-lheres, e entender que isto não é co-mum. É o sistema que torna as pessoasviolentas e tem interesse de manterassim “cada um no seu lugar”.

Organizar a luta

Para combatermos o machismo ea violência precisamos combater oEstado também. É preciso não sermosconiventes com estes tipos de vio-lência, é preciso organizar as mu-lheres em suas ruas, em seus bairros,em seus locais de trabalho. Há váriasexperiências positivas de mulheresque se uniram para enfrentar a vio-lência sofrida no âmbito familiar,como o apitaço para chamar a aten-ção quando uma mulher esta sendoagredida, porque não um panelaçoou mais originalmente um colheraço?Estas situações não podem ser en-caradas como individuais, precisamde ações coletivas.

As companheiras e companheirosda LSR tem o compromisso de or-ganizar e impulsionar as lutas pelofim de qualquer tipo de violência.Procure um de nós, vamos nos or-ganizar, reivindicar casas abrigosonde não há e espantar a violênciapara lá. Vamos meter a colher sim!

* Dados divulgados em agostode 2010 pela Secretaria de Políticaspara as Mulheres da Presidênciada República.

A professora estacionava seucarro em frente à escola, issopor volta das seis e meia damanhã, quando um veículo quese encontrava parado do ladooposto, abre a porta e de lá saium jovem, por volta de 27anos, saca uma arma e dispara4 tiros a queima-roupa na pro-fessora.

José Afonso da Silva

Professores, alunos e pais que es-tavam próximos entraram em de-sespero, correndo, gritando ou pa-ralisados diante da situação. Levadaàs pressas ao hospital mais próximo,ela não resistiu e faleceu antes mesmode ser socorrida pelos médicos.

Esses foram os últimos minutosda professora Joyce Domingues, coor-denadora da EMEF Paulo Freire, lo-calizada no município de Embu, quevoltava a trabalhar depois seis meses,pois gozava de licença gestante.

Infelizmente, o caso da professoraJoyce não é uma exceção na região

de Taboão da Serra. Desde o iníciodo ano, alunas foram raptadas e es-tupradas; houve tentativas de estuprode professoras; seqüestro de profes-sores; assaltos e ameaças de agressãoe morte. Todos os casos ocorreramdentro ou na porta das escolas.

O clima de medo e insegurançafaz crescer ainda mais o adoecimentodos professores que são obrigados ase afastarem do trabalho por de-pressão, síndrome do pânico ou mes-mo a abandonarem a carreira domagistério.

Prefeitura do Embureprime educadores

No dia em que a professora Joycefoi assassinada, tanto a prefeituracomo a secretária de educação domunicípio de Embu, não chamaramum dia de luto e sequer soltaramuma nota comentando o ocorrido.

Não houve nenhuma assistênciaaos funcionários da escola, assimcomo nenhuma ação no sentido deexigir das autoridades policiais ce-

leridade nas investigações e puniçãoaos envolvidos no crime da profes-sora Joyce.

Por incrível que possa parecer, apostura do governo municipal foide intensificar a repressão contra osprofessores nas escolas.

Isso ficou nítido no ato convocadopela APEOESP de Taboão da Serra,em 28/03, para lembrar os 30 diasdo assassinato da professora Joyce.

O ato tinha como única finalidadeo fim da violência nas escolas e apunição dos envolvidos no crime.Mas, na véspera do ato, todo staffdo governo entrou em ação amea-çando os professores que por venturacomparecessem na manifestação.Na escola da professora Joyce, porexemplo, os funcionários e profes-sores trabalharam normalmente comose nada tivesse acontecido.

Alguns professores que mesmocom o intenso assédio moral sofrido,marcaram presença no ato, denun-ciaram a “violência” moral e asameaças enfrentas pelos profissionaisda educação no município.

Violência, assédio moral efalta de democracia

Na verdade, a preocupação da ad-ministração municipal era que o atose voltasse contra a prefeitura ecomprometesse as próximas elei-ções.

Esse incidente aponta para o fatode que devemos combater a violênciasocial impregnada nas escolas pú-blicas, mas também é necessáriocombater o assédio moral; a faltade democracia e o desrespeito aoseducadores.

Enquanto professores, alunos e acomunidades de escolas da periferiase tornaram reféns da violência en-dêmica estabelecida, o governo es-tadual reforça a segurança nos bairrosmais ricos da cidade.

Violência de gênero – metendo a colher sim!

Professora assassinada em Embu-SP

Segurança para os ricos, descasoe repressão para as periferias

Protesto contra o assassinato da Professora Joyce em Embu no dia 28 de março.

A luta é todo dia: o bloco feminista “Adeus Amélia” num desfile de lutano 8 de março de carnaval esse ano em São Paulo.

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nacional/cultura • 9Ofensiva Socialista n° 06 abril/maio - 2011

Hegemonicamente, a cultura éconsiderada uma mercadoria.Assim, como bons empresá-rios, artistas e produtores seunem no garimpo por incenti-vos fiscais às suas “obras”,não com objetivo de socializara produção de cultura, mas uni-camente como meio de se tor-narem ricos. Desde 1991, ainstituição da Lei Federal deIncentivo à Cultura (Lei nº8.313 de 23 de dezembro), apopular Lei Rouanet, é um dosprincipais mecanismos legaispara isso. A lei nada mais éque uma forma de isenção fis-cal (pessoa jurídica 6% e física4%) para aqueles que “incenti-vam a cultura”.

Reginaldo Costa

De lá pra cá esta relação do setorprivado ampliou-se consideravel-mente nas políticas de fomento acultura e temos hoje um verdadeirocaudilhismo na distribuição de verbapara a área de cultura. A Lei Rouanetgarante um montante anual de R$ 1bilhão, oriundo de isenções fiscaisde grandes empresas. Mas para ondevai esse dinheiro?

Não é preciso grandes análisespara perceber que os grandes inves-timentos são sempre destinados aosmesmos grupos empresariais e ar-tistas. Formaram uma oligarquia quedomina o controle sobre os investi-mentos em cultura. E o que é pior:não se reflete em uma possibilidademaior de acesso aos trabalhadorespobres, justamente o setor que possuimaiores dificuldades de ter acessoaos meios difusores de cultura. Peças,shows de música, CDs e DVDs deartistas renomados recebem fartasquantias, mas o custo de aquisiçãodestes produtos culturais é extre-mamente caro e pode ser consumidoapenas por uma pequena parcelaprivilegiada da população.

O blog milionárío de Maria Bethânia

O caso de Maria Bethânia ganhounotoriedade recentemente na grandemídia sobre o que seria um supostoabuso no uso do dinheiro público,ainda que dentro dos marcos da lei.Longe de ser um caso isolado, Bet-hânia é um exemplo do que maisacontece em nosso país: justamenteo artista que menos precisa de verbapara seus trabalhos recebe mais. Bet-hânia recebeu R$ 1,3 milhão pararealizar 365 vídeos de declamaçãode poesias e postá-las num blog.

Além do disparate que é o valordo financiamento para algo tão sim-ples como um blog, outros absurdossaltam aos olhos. Primeiro, R$ 130mil será destinado à empresa finan-ciadora, ou seja, o dinheiro que de-veria ser usado para garantir a obraartística volta para o bolso da em-presa. Bem conveniente. Outra ques-tão maliciosa é que a diretora artísticadeste mega-empreendimento, umblog de poesia, receberá a singelaquantia de R$ 600 mil. Curioso éque Bethânia é a diretora artística.

Apesar do estardalhaço da mídiaisso é prática comum. Outros queri-dinhos das grandes corporações decultura receberam fortunas. Arnaldo

Jabor recebeu R$ 12 milhões parafazer seu filme “A Suprema felici-dade”; Fernando Deluqui da bandaRPM R$ 207 mil para a execuçãode um DVD e um disco; GilbertoGil conseguiu R$ 800 mil para asua turnê; Gal Costa captou R$ 2,2milhões para um projeto de oitoshows e a execução de um DVDdos shows, e o mais escandaloso, oCirque Du Soleil recebeu R$ 9 mi-lhões e mesmo assim vendeu in-gressos a R$ 200!

Parâmetros do mercado

O investimento em cultura segueparâmetros de mercado. Não poracaso 85% dos recursos em culturano ano 2001 foram no eixo Rio-SãoPaulo, tendo apenas 2% na regiãoNordeste. Ou seja, a empresa queentre tantos projetos opta pelo blogde Maria Bethânia deixa sem verbacentenas de artistas. A escolha daempresa é meramente comercial,nada tendo a ver com uma perspec-tiva de política pública de cultura.

Os institutos culturais ligados abancos e grandes empresas, assim,surgem seguindo esta lógica embusca de mercado e de locais já do-tados de infra-estrutura cultural comoSESC, SENAI, teatros e centros cul-turais estaduais e municipais. O fatodos investimentos serem baseadosem lobbys faz com que estes institutossempre sejam os responsáveis porcentralizar a maior parte dos inves-timentos, tornando-os alvo de finan-ciamentos praticamente perpétuos.

Caso Bethânia segue a regra

Bethânia é, portanto, nada mais quea regra quando se discute distribuiçãode verba na área de cultura. O quedeve ser debatido e mudado é o métodode fomento a cultura no país: se dei-xaremos a gestão do fomento à culturaa mercê de empresas e artistas-em-presários, ou se entidades representa-tivas e movimentos sociais serão os

responsáveis por tornar pública e de-mocrática a produção e o acesso àsformas de manifestação cultural. OEstado não pode ser apenas um faci-litador para que empresas se beneficiemcom marketing e isenções fiscais quelhes retornam em forma de lucro eboa imagem perante a sociedade.

Esta mercantilização absoluta dacultura tornou o artista meramenteum empresário, submisso ao seuchefe, o empresário cultural. O pro-dutor cultural passa a ser o intérpretedo gosto geral, que sob rígidos cri-térios de marketing empresarial in-dustrializa a manifestação culturalem torno de interesses econômicosparticulares. A consequencia artísticadisso é a subordinação dos produtoresculturais a um chamado “gosto mé-dio”, ou mesmo nichos específicosde mercado (arte esnobe para os ri-cos). O conservadorismo, a previsi-bilidade, a falta de crítica são marcasque explicam o porquê do marasmode inovações culturais acessíveis aogrande público.

Verba pública para quem precisa

O orçamento da área de culturadeve ser público de fato. Por que aoinvés de permitirem que mais de R$1 bilhão se perca em manifestaçõesartísticas elitistas, não podemos gerirverba para quem de fato precisa?Por que temos que oferecer a empresasverba pública, se a gestão públicapoderia tirar do caminho estes atra-vessadores da cultura e ampliar aspossibilidades de produção cultural?

Há mais em jogo. A tradição co-ronelista ainda trafega entre vaidadese interesses econômicos no meioartístico. Poucas famílias, gruposempresariais e o mesmo loteamentode sempre também se enraízam naprodução cultural. Maria Bethâniaé parte disso. E quando Caetano Ve-loso baba raivosamente em defesade sua irmã, está apenas nos lem-brando que a tradição coronelistaainda é regra também nos versos.

Assistentes Sociais trabalhan-do no serviço público ou noterceiro setor vivem cotidiana-mente em um cenário de de-salento diante de condiçõessub humanas e reveladoras doque significa o impacto do ca-pitalismo sobre camadas po-pulares e da classe trabalha-dora. Ao longo de um desafia-dor trabalho sem perspectivasde mudança, buscam estraté-gias de enfrentamento indivi-duais ou coletivas para reduzirou superar os impactos preju-diciais ao desenvolvimentodas ações, sem grandes con-quistas.

Caiza Carla Herbella,Rita Aguiar e Raquel Guzzo

Depois de mais de 30 anos deluta, em 26 de agosto de 2010, osAssistentes Sociais conseguem umavanço: reduzir a carga horáriapara 30 horas sem a redução dossalários (Lei n°12.317/2010). Emuma época de redução e restriçãode direitos, essa conquista representaum marco não só para a categoria,mas também para toda a classe tra-balhadora.

Dá com uma mão e tiracom a outra

Junto com a lei, porém, outraslutas surgem. Após seis meses desancionada, várias entidades, pre-feituras e principalmente empresas,ainda não a cumprem. As que cum-prem “castigam” os profissionaisreduzindo ou retirando seus benefí-cios (como bonificações, vales ali-mentação etc). Muitas empresas,para não demitirem os profissionais,trocaram a nomenclatura do cargode “Assistente Social” por outroqualquer, apontando para a extinçãodos assistentes sociais para sempreda iniciativa privada. Outro exemploé o INSS, que contrata analistasocial e não assistente social.

A lei, com apenas três parágrafos,deixou a desejar dando aberturapara outras questões. Não prevê pu-nições para os órgãos que não acumprem e não prevê a impossibi-lidade da restrição ou diminuiçãode benefícios já garantidos.

Em Campinas, como exemplo, alegislação federal, para ser cumprida,exigiu uma mobilização sem prece-dentes da categoria durante os últimosseis meses. Depois de vários embates,o prefeito Hélio apresentou um pro-jeto de lei (PL 146/11) dispondosobre a jornada de trabalho do cargode Assistente Social. No entanto,este projeto formulado com apenas4 artigos não atende às necessidadesdos trabalhadores, porque divide ajornada de 6 horas diárias, em doisperíodos de três horas – manhã etarde - definidos pela chefia imediatae garante a não redução dos saláriosapenas aos atuais servidores, nãomencionando o que pode acontecercom os que ingressarem na função.

É uma questão de luta

Este projeto está sendo debatidopela categoria e ainda necessita demuita luta e mobilização para quenão se torne mais uma condiçãode “tiro no pé”, pois sem aumentar

o quadro dos servidores, e com oaumento da população e suas ne-cessidades básicas de sobrevivência,as seis horas diretas de trabalho setornarão as mesmas ou mais doque as oito horas anteriores. É pre-ciso que junto com esta reivindi-cação, os servidores estejam atentospara o que será consequência deum projeto que mais se caracterizacomo uma migalha para silenciara categoria do que uma conquistade direito.

Salarios desigual paratrabalho igual

Mais do que a luta pela efetivaçãodas 30 horas, outras questões dacategoria estão sendo esquecidas,como melhores condições de tra-balho e um piso para categoria,pois o salário de muitos profissionaischega a ser uma vergonha! Variamde acordo com as prefeituras e,pior do que isso, diferenciam-seentre os servidores públicos e oscontratados pelo terceiro setor paraa mesma função, o que é uma con-sequência da privatização dos ser-viços de assistência social e segu-ridade, previstos pela constituiçãocomo dever do estado.

Esta luta mostrou que, ao se mo-bilizar e organizar, a categoria con-segue obter algum resultado envol-vendo sindicatos e conselhos pro-fissionais. No entanto, é precisoainda que os trabalhadores unam-seentre si e com outras categorias pro-fissionais para avançar nas conquistasde direitos. Assistentes sociais co-meteram um erro em não se articularcom outras categorias profissionaisna luta pelas 30 horas semanais. Po-deríamos ter engrossado essa luta,dialogando com pedagogos, psicó-logos, professores e outras tantascategorias. Mas até esta condição éfruto da ideologia que divide paraenfraquecer: as lutas contra a priva-tização da saúde, educação e assis-tência tem o mesmo inimigo comume para que seja possível enfrentá-lo,é preciso que nos unamos.

Unidade com outrascategorias

Marilda Vilela Iamamoto, autoramuito conhecida entre os assistentessociais, diz que “é necessário rompercom uma visão endógena, focalista,uma visão de dentro do Serviço So-cial, prisioneira em seus muros in-ternos. Alargar os horizontes, olharpara mais longe, para o movimentodas classes sociais e do Estado esuas relações com a sociedade; nãopara perder ou diluir as particulari-dades profissionais, mas ao contrário,para iluminá-los com maior nitidez.Extrapolar o Serviço Social para me-lhor apreendê-lo na história da so-ciedade da qual ele é parte e expressão.É importante sair da redoma de vidroque aprisiona os assistentes sociaisnuma visão de dentro e para dentrodo Serviço Social, como precondiçãopara que se possa captar as mediaçõese requalificar o fazer profissional,identificando suas particularidadese descobrir alternativas de ação.”

Assistentes Sociais, Educadores,Profissionais de Saúde, juntos contraa violação de direitos e a privatizaçãobranca que avança sobre os quadrosde servidores públicos brasileiros.

Lei Rouanet e as oligarquias da cultura

Assistentes Sociais30 horas: Avançoou retrocesso?

Cirque Du Soleil recebeu R$ 9 milhões e mesmo assim vendeuingressos a R$ 200.

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10 • internacional Ofensiva Socialista n°06 abril/maio - 2011

Desastre deFukushima: a permanenteameaça nuclearÉ uma trágica ironia que odesastre nuclear deFukushima ocorra semanasapós o 25º aniversário da ca-tástrofe de Chernobyl na anti-ga União Soviética, o pioracidente nuclear da história.

Pete DickinsonPartido Socialista (CIT na

Inglaterra & Gales)

Logo após o acidente quase to-dos os especialistas pró-nuclearesque foram consultados repetiamque “tudo estava sob controle”.Contudo, com o tempo ficou claroque isso não era verdade. Materialradioativo estava vazando dos rea-tores, enquanto os bombeiros etécnicos desesperadamente tenta-vam resfriar o combustível nucleare conter os vazamentos.

Ainda não há informação sufi-ciente para tirar todas as liçõesdesse desastre, em parte por quehá uma escandalosa falta de dadosdisponibilizados pelo operadorprivado, a Tokyo Electric PowerCompany. No final dos anos 1980e 1990, descobriu-se que essa em-presa falsificou sistematicamenteregistros de problemas de segu-rança em seus reatores nucleares.

A principal falha do reator foique os múltiplos sistemas de se-gurança falharam por uma causacomum. O terremoto derrubou aslinhas de energia que forneciameletricidade ao sistema de refri-geração, e o tsunami resultantedesligou a energia a diesel.

O ponto central é que é muito di-fícil prever toda possível situaçãoque, em circunstâncias extremamenteraras, poderiam levar ao colapso.Mas quando surgem essas circuns-tâncias, é possível uma catástrofe.Esse é um dos problemas funda-mentais com a energia nuclear.

O Japão é um dos países maisavançados tecnologicamente. Porexemplo, a China está planejandoum drástico programa de cons-trução de novos reatores nucleares.Apesar dos rígidos regulamentosambientais no papel, as leis sãonormalmente ignoradas a nívellocal, graças à atmosfera de fa-roeste capitalista que existe ali.

Não há solução paraestocar o lixo nuclear

A segurança das usinas tambémé apenas um aspecto do conjuntode ameaças da energia nuclear.Ainda não se projetou nenhummétodo seguro para estocar o lixonuclear, o qual permanece radio-ativo por mais de 100 mil anos.

Após o desastre no Japão, muitosgovernos anunciaram que estão re-vendo a expansão da energia nu-clear. Na maioria dos casos, issoprovavelmente será temporário, jáque eles não desejarão aceitar osgastos, relativamente pequenos,mas ainda assim maiores compa-radas com a nuclear, em energiarenovável.

É preciso construir um movi-mento que desafie a política nuclearda burguesia, mais uma vez mos-trada como negligente com esseincidente. É preciso uma mudançana sociedade para remover a ameaçapermanentemente já que, em últimocaso, a busca por lucros vem pri-meiro no capitalismo e não as ne-cessidades e a segurança humana.

A crise nãoacabou

A crise mundial que estourou nomundo em 2008 ainda não acabou eainda continua a causar vítimas, ape-sar de uma certa recuperação, puxadaprincipalmente pela China. Quemtem a possibilidade de exportar paraa China também conseguiu se recu-perar mais rapidamente, como oBrasil.

Mas mesmo a China foi afetadapela crise e pode ser a fonte parafuturas crises. Para evitar uma re-cessão, o governo chinês lançou umgigante pacote de 585 bilhões dedólares em 2008 e facilitou o crédito,que levou a um enorme aumentonos empréstimos. O preço disso éum aumento na inflação e a criaçãode bolhas, e agora o governo estátendo de aumentar os juros.

Em muitos países na Europa a re-cuperação é muito frágil. No últimotrimestre a Grã Bretanha teve umanova queda no PIB. A crise maisprofunda ainda se vê nos chamadosPIGS (Portugal, Irlanda, Grécia eEspanha). A Grécia e a Irlanda, in-capazes de pagarem suas dívidaspúblicas, após grandes resgates aosbancos, recorreram ao FMI e a UniãoEuropeia. Esses pacotes de “resgate”vinham condicionados com maisataques aos trabalhadores, com re-dução dos salários dos servidorespúblicos, cortes nas aposentadoriase auxílio desemprego, privatizações,etc. O resultado dessa “medicina” éuma queda no PIB. A Irlanda e aGrécia estão no terceiro ano conse-cutivo com queda no PIB. O governoirlandês do Fianna Fail e PartidoVerde foi forçado e sofreu uma der-rota histórica nas eleições.

Agora chegou a vez de Portugal.Após o fracasso da tentativa de votarum quarto pacote de maldades noCongresso, o primeiro ministro Só-crates renunciou. Portugal agora estápedindo ajuda à União Europeia.Porém, o que não deixam os políticose economistas dormirem a noite é apossibilidade de a Espanha dar umcalote na sua dívida, já que é umpaís muito maior.

Os fatores dacrise permanecem

Mesmo se a economia mundialconseguir se estabilizar no curtoprazo, não será um retorno a umcrescimento forte. Os fatores quelevaram à crise não foram resolvi-dos.

A crise financeira devido às enormesbolhas especulativas foram resolvidassó parcialmente. Enormes quantidades

de “capital fictício” foram queimadas.A estimativa do FMI é que duranteos anos 2008-2010 a economia mun-dial perdeu 50 trilhões de dólarespor causa da queda nos valores deativos (ações, créditos e papeis ba-seados nesses) e perda de produção– o equivalente à produção mundialdurante um ano! Mas as enormesquantias de dinheiro injetadas na eco-nomia para salvar o sistema financeiroe estimular a economia, a juros pertodo zero, já estimularam novas ondasde especulação.

Nessa situação, o Brasil pareceser beneficiado, com a grande entradade recursos. A entrada de dólaresno país em janeiro-março já superouem 40% o total de capital que entrouno ano passado inteiro. Isso podeparecer bom no curto prazo, masleva a uma valorização do real, au-mento da especulação e um dia ofluxo vai se reverter, levando a novascrises financeiras aqui também.

Um efeito dos resgates dos bancosfoi que boa parte das dívidas podresprivadas no mundo foram transfor-madas em dívidas públicas e enormesdéficits nos orçamentos, especial-mente na Europa e nos EUA. Paratapar esses buracos os governos lan-çam pacotes de cortes e aumento deimpostos onde os trabalhadores pa-gam a maior parte.

Além disso, muitos bancos aindaestão com problemas. Na Irlandafoi recentemente lançado um relatóriomostrando que os bancos precisamde mais 24 bilhões de euros parasobreviverem. Nos EUA, após certarecuperação, os preços das casasvoltaram a cair nos últimos 7 meses,o que vai gerar novos rombos emfinanciamentos.

E a crise não é só financeira. Hátambém um crise de superproduçãoe excesso de capacidade, o mesmomecanismo que Marx identificou jáhá 160 anos atrás. O capitalismogera capacidade de produção maisrápido que a capacidade de consumo,principalmente dos trabalhadores.Um papel da crise é de se livrardesses excessos de capacidade fe-chando fábricas, especialmente asmais antigas, abrindo o caminhopara as novas, mais modernas. Masisso não aconteceu em grau sufi-ciente. A China continua expandindosua produção rapidamente.

Ao mesmo tempo os outros paísestambém querem fortalecer suas ex-portações. Até a antiga potencia in-dustrial Grã Bretanha, que tinhaapostado em uma economia “pós-industrial”, tornando-se meramenteum centro financeiro e de serviços,agora quer renovar sua indústria. Jávimos a chamada “guerra cambial”(rebaixar o valor da moeda nacional

é uma forma de rebaixar artificial-mente o preço dos seus produtospara competir no mercado) apontandopara futuras guerras comerciais.

Um fator adicional é que os grandesdesequilíbrios que marcaram a eco-nomia mundial ainda permanecem,entre o pólo produtor (China) e opólo consumidor (EUA). Esses de-sequilíbrios e desigualdade no cres-cimento causam novos problemas.Os preços das commodities, comopetróleo, minérios e alimentos, estãoaltíssimos, puxados pela demandada China. Isso ameaça a recuperaçãoem muitos países. A inflação tambémé uma ameaça principalmente aostrabalhadores e pobres. Os desequi-líbrios também reforçam o fluxo decapital especulativo.

A luta e afragilidade daalternativa

Já no início nesse ano vimos im-portantes lutas contra as tentativasdos governos fazerem os trabalha-dores pagarem pela crise. Na Gréciavimos uma oitava greve geral em23 de fevereiro. Em Portugal centenasde milhares protestaram nas ruas nodia 12 de março. Em Bruxelas de-zenas de milhares protestaram nodia 25 de março, ao mesmo tempoem que a cúpula da União Europeiadiscutia como lidar com a crise dasfinanças públicas atacando os tra-balhadores. No dia seguinte em Lon-dres, vimos a maior manifestaçãosindical na história do país, com500-700 mil nas ruas.

Mesmo nos EUA vimos impor-tantes embates. O projeto de lei dogovernador de Wisconsin, passadocom rolo-compressor, que proíbeacordos coletivos no setor públicopara quebrar os sindicatos, levou agrandes manifestações, com 200 milpessoas nas ruas no dia 12 de março,ocupação do parlamento, greves es-

tudantis, etc. Só a covardia doslíderes sindicais fez com que atéagora não houvesse uma greve geralno estado.

Mas essas importantes lutas reve-lam também a fragilidade atual daalternativa de esquerda. Os sindicatosdesses países são controlados porpartidos “socialdemocratas” / “tra-balhistas” / “socialistas” / “comu-nistas” que há tempo já se adaptaramao sistema e não tem nenhuma es-tratégia para a luta, ou apoiam mesmoo governo, como na Grécia. Eles sósão pressionados a chamar à lutapara não serem varridos pela pressãoda base.

Tudo isso limita a luta. Em Portu-gal vimos como os sindicatos nãochamaram nenhuma luta nacionalapós a bem-sucedida greve geral de24 de novembro do ano passado.Os protestos de 12 de março foramchamados por um grupo do Face-book! Na Espanha também não hou-ve uma continuidade da luta porparte dos sindicatos nacionais, apósa greve geral de 29 de setembro.

Na Grã Bretanha o governo con-servador-liberal lançou um orçamentoem novembro que foi uma declaraçãode guerra aos trabalhadores, comum plano de demitir 10% dos servi-dores públicos. Dezenas de milharesde estudantes saíram nas ruas. Masa direção dos sindicatos chamouuma manifestação só para 26 demarço. O tamanho dessa manifesta-ção mostrou a vontade de lutar porparte dos trabalhadores, mas a direçãonão indicou nenhuma estratégia paraa luta. Espantados pela multidão,divulgaram a estimativa de partici-pação mais conservadora, 250 mil,quando mesmo a polícia tinha feitouma estimativa ao dobro disso.

Essas lutas precisam de uma es-tratégia para vencer. Os próximospassos nas lutas devem ser discutidosna base, com comitês formados emtodos locais de trabalho, nos bairros,etc. Greves gerais são instrumentos

2011 começou de forma tumultuosa. Os levantes no mundo

árabe levaram a queda de ditadores na Tunísia e no Egito, no

poder há décadas. As lutas contra os contínuos ataques, onde

os governos tentam descarregar o custo da crise capitalista

internacional nas costas dos trabalhadores, continuam, mas

também com importantes lutas na Europa e nos EUA. Além

disso, vimos a tríplice catástrofe no Japão: terremoto, tsunami

e desastre nuclear.Por mais diversos que esses processos parecem ser, eles

têm aspectos importantes em comum: eles mostram de forma

gráfica como o sistema em que vivemos não consegue resolver

os problemas do povo trabalhador do mundo, mas também co-

mo é urgente a construção da uma alternativa que pode levar

as lutas que ocorrem hoje a uma vitória duradoura.

Marcus Kollbrunner

Do Egito ao Portugal, da Tunísia a Grã Bretanha, do Brasil aos EUA, da Líbia ao Japão

A urgência de uma alternativa socialista dos trabalhadores

Entre 500 e 700 mil participaram no ato em Londres no dia 26 demarço contra os ataques do governo aos trabalhadores.

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O Comitê por umainternacional dos

Trabalhadores é umaorganização socialista compresença em mais de 40países, em todos oscontinentes. A LSR é aseção brasileira do CIT.Visites os sites do CIT:www.socialistworld.net

www.mundosocialista.net

Trabalhadores bolivianos lutampor seus direitosBOLÍVIADesde janeiro de 2011,

os trabalhadores da Norland, umafábrica de laticínios de Cocha-bamba, estão em processo de mo-bilização contra os ataques da di-retoria da empresa. Pela lei boli-viana, os trabalhadores teriam di-reito a um “bônus incentivo”, quea empresa não paga há quase cincoanos, usando como argumentostodo tipo de desculpas.

Cansados de esperar pela boavontade da empresa, os 47 traba-lhadores e trabalhadoras da empresainiciaram um processo de mobili-zação, que incluiu uma greve defome que durou cinco dias, na ten-tativa de retomar as negociaçõesque a gerência havia suspendido.Passados quase três meses, a situa-ção ainda está indefinida, com aempresa ameaçando processar ostrabalhadores por supostos prejuízoscausados por sua mobilização.

A Alternativa Socialista Revo-lucionária (ASR) da Bolívia, or-ganização irmã da LSR no Brasil,está desde o primeiro momentoapoiando a luta dos trabalhadoresda Norland, emprestando apoiomaterial e político. Acreditamosque essa é parte de uma luta muitomaior, e é um sinal da reorgani-zação do movimento independenteda classe operária da Bolívia contraseus exploradores privados e es-trangeiros.

Nenhuma crise para os bilionáriosOS RICOS O número de bilio-

nários em dólares no mundo che-gou a 1.210, segunda a revista es-tadunidense “Forbes”.

O mais rico de todos é o mexi-cano Carlos Slim, dono da AméricaMóvil com uma fortuna avaliadaa US$ 74 bilhões. Em segundolugar vem o dono da Microsoft,Bill Gates, dos EUA, com US$56 bilhões. Ele só não está no pri-meiro lugar por ter doado US$ 30bilhões nos últimos anos!

Eike Batista é o brasileiro maisrico, com uma fortuna avaliadaem US$ 30 bilhões. Ele ocupa aoitava posição na lista mundial.

No último ano a riqueza totaldesses bilionários cresceu em US$1 trilhão e bateu um novo recorde:US$ 4,5 trilhões. Isso é três vezesmais que o PIB (a soma de tudoque é produzido durante um ano)da Índia, que tem de 1,2 bilhõesde habitantes.

Estima-se que a metade da po-pulação mundial sobrevive comno máximo 2 dólares por dia. Apobreza no mundo mata 25 milpessoas por dia.

internacional • 11Ofensiva Socialista n° 06 abril/maio - 2011

de luta importantes, onde a classetrabalhadora sente a sua força. Quandosão convocados, é necessário ter umplano para um próximo passo, se ne-cessário para fazer crescer a luta.

Falta dealternativa

política à alturaQuando a luta chega a esse nível,

com o conjunto da classe trabalha-dora enfrentando o governo, a exis-tência de uma alternativa política éfundamental para o avanço da luta.Derrotar os ataques do governo sig-nifica muitas vezes derrubar o go-verno, como vimos na Irlanda e Por-tugal. A questão do poder da socie-dade está colocada. Onde não háuma alternativa, o governo podemanter-se, ou tudo muda para nãomudar, e a “alternativa” é somenteum variante da mesma política.

Por isso está colocado não só atarefa de tomar a direção do movi-mento sindical dos burocratas e go-vernistas, mas também a construçãode novas alternativas políticas. Jávimos várias iniciativas importantesde construção de novos partidos deesquerda na Europa, mas em geral

vemos como esse processo ainda éincipiente e cheio de armadilhas.

Em geral os novos partidos de es-querda até agora não se mostraramestar a altura das tarefas. Exatamenteno momento da crise mais profundado capitalismo e em que os traba-lhadores se mostram preparados aluta, eles recuam em colocar umaalternativa consequente ao sistema.Muitas vezes o horizonte é mera-mente institucional e eleitoral.

Na Grécia a aliança de esquerdaSyriza, que chegou a ter 18% naspesquisas não colocou uma alternativaconsequente para a luta, como a ne-cessidade de defender o não paga-mento da dívida pública e estatizaçãodos bancos. Os resultados baixosnas eleições desencadearam uma dis-puta interna, mas baseada em perso-nalismo ao invés de debate político.

O Bloco de Esquerda em Portugalchegou a votar a favor do pacote deajuda à Grécia do FMI e da UniãoEuropeia, condicionado com cortesbrutais no orçamento público e ataquesaos trabalhadores. O que farão quandoPortugal agora enfrentará a mesmasituação que Grácia? Na eleiçõespresidências em janeiro o Bloco deEsquerda apoiou o mesmo candidatoque o primeiro ministro Sócrates!

Na Alemanha o Partido de Es-querda (Die Linke), também jogouum papel fraco nas lutas. 240 milpessoas saíram nas ruas em quatromanifestações regionais no dia 26de março contra a energia nuclear ea política do regime. Os governosresponsáveis perderam feio nas duasúltimas eleições estaduais no finalde março mas o Die Linke não con-seguiu superar a clausula de barreirade 5% em nenhum desses estados.No lugar da esquerda, foi o PartidoVerde, que já participou no governofederal com os socialdemocratas im-plementando uma política de ataquesaos trabalhadores e aceitando a per-manência da energia nuclear, quesaiu vitorioso.

Na França o Novo Partido Anti-capitalista (NPA) também não con-seguiu se posicionar nas lutas. Oprincipal debate desde a fundaçãotem sido a tática eleitoral.

Irlanda – um exemplo positivoNossos companheiros na Irlanda

mostraram durante essa crise que épossível defender uma alternativasocialista e ganhar apoio por issode setores importantes, contrariandoo “senso comum” da esquerda dehoje que só se ganha eleições rebai-xando o programa.

No ano passado Joe Higgins doPartido Socialista, CIT na Irlanda,elegeu-se ao parlamento europeu.Para as eleições desse ano partici-pamos no lançamento da Aliançada Esquerda Unida. Sabíamos queo mais provável nas eleições eraque a dita “oposição”, o Labour eFine Gail, provavelmente ganharia,vistos como um “mal menor”. Issomesmo quando na verdade eles de-fendem os mesmos ataques, só que-rem que eles sejam implementadosa conta gotas ao invés de uma vez.

Mas sabíamos também que haviaa possibilidade de eleger deputadosque representam uma luta e alter-nativa consequente. O apoio à lutaque já conduzimos ou à figura pú-blica de Joe Higgins, conhecidopelo apoio às lutas e por viver comum salário de trabalhador, mostravaisso. A eleição de deputados de es-querda seria muito importante, jáque o novo governo continuariacom a mesma política, o que abririaespaço para uma esquerda conse-quente no futuro. O resultado foiuma vitória importante, cinco de-putados foram eleitos pela Aliançada Esquerda Unida, incluindo doisdo Partido Socialista, Joe Higginse Clare Daly.

No mundo árabe as altas dospreços se juntaram a uma si-tuação social insuportável – al-to desemprego, pobreza, faltade perspectiva para a juventu-de e o sufoco das ditaduras – ecriaram uma mistura explosiva.A luta na Tunísia serviu como afaísca que incendiou a regiãointeira, especialmente após avitória contra Ben Ali e subse-quente vitória do povo egípciocontra o Mubarak.

Os movimentos revolucionáriosno mundo árabe levantam os mesmosproblemas para a classe trabalhadora:a necessidade de construir um mo-vimento independente da classe tra-balhadora e a necessidade de cons-truir uma alternativa política.

Os protestos na Tunísia e no Egitomostraram o papel fundamental daclasse trabalhadora na luta. As grevesdos trabalhadores foram decisivaspara a derrubada de Ben Ali e Mu-barak. A luta dos trabalhadores tam-bém mostrava o potencial de cons-truir uma nova sociedade de baixopara cima. Instintivamente foramlançados comitês para organizar aslutas, autodefesa, suprimentos etc.A unificação desses comitês emnível local, regional e nacional dariauma alternativa à estrutura podre ecorrupta dos estados atuais. Maspara isso seria também necessárioum instrumento político dos traba-lhadores armado com um programaque poderia colocar essas ideias –um partido socialista.

Na sua ausência, a luta chega aum limite. Derrubados Ben-Ali eMubarak – como avançar? Na Tu-nísia permanece no poder a estruturapolítica construída pelo partido doBen-Ali. No Egito os militares to-maram o controle de estado e orga-nizaram um referendo que fez alte-rações cosméticas à constituição.

Aqui é importante ver a necessi-dade de ver a luta por democraciacomo parte integrada de uma lutatambém por questões sociais e osistema econômico vigente. Parteda esquerda faz o equívoco de separaros dois, colocando que a luta atualé meramente democrática. Isso éfalso para começar pelo fato que oestopim dos movimentos foi exata-mente as questões sociais e econô-micas: aumentos dos preços, de-semprego, etc. Essa luta se canalizouem uma luta contra os regimes cor-ruptos, mas isso não negou as lutaseconômicas. Vimos como trabalha-dores na Tunísia e no Egito tomaramcontrole sobre locais de trabalho ecolocaram sua reivindicações.

A conquista de espaços democrá-ticos tem que servir para avançarnas lutas por melhorias nas condiçõesde vida. E essas lutas vão reforçar

as lutas para conquistar mais espaçodemocrático. Mas isso se choca otempo todo com o próprio sistema eo estado vigente. Não é nada artificial– é a realidade da luta. No Egitoisso é muito claro. As eleições foramsempre fraudadas, por isso defen-demos que os comitês dos trabalha-dores tem que controlar as eleições.Agora quem controla é o exército,que também controla boa parte daeconomia. Livrar-se do regime antigototalmente, significa os trabalhadorestomarem o controle do Estado e daeconomia.

Líbia

O exemplo da Líbia também mos-tra isso pela negativa. Lá o movi-mento dos trabalhadores é maisfrágil. A oposição foi dominada porlíderes locais e ex-participantes dogoverno de Gaddafi que não temum apelo para as massas no oestedo país. Isso foi reforçado pelo fatoque a oposição adotou a bandeirada antiga monarquia, que tinha suabase no leste do país, e o fato daoposição se posicionar a favor daintervenção do imperialismo.

O imperialismo só intervém paratentar controlar os rumos da revoltae do futuro governo, num país queé um importante produtor de petróleo.O imperialismo apoiou praticamentetodos os ditadores, a maioria até avéspera de serem derrubados, comoMubarak e Ben Ali – e também bus-cava acordos com Gaddafi.

Gaddafi soube explorar essas fra-quezas da oposição. Por isso a lutatem sido mais complicada na Líbia(junto com a política social maisavançada sob Gaddafi, num paíscom muitos petrodólares e populaçãopequena).

A história de lutas do Oriente Mé-dio só confirma a necessidade deuma linha independente da classe

trabalhadora. Em vários países haviaimportantes partidos comunistas noperíodo pós-guerra, mas de cunhostalinista. A linha deles era que eranecessário os trabalhadores se ali-nharem aos líderes burgueses na-cionalistas “progressivos” e “anti-imperialistas” em seus países. Issosubordinou o movimento dos traba-lhadores àqueles que não represen-tavam uma verdadeira alternativa,mesmo quando se designavam comodefensores do “socialismo árabe”.No Egito o herdeiro do “progressivo”Nasser foi Mubarak, que se tornouum dos principais aliados árabesdos EUA. No Iraque foi SaddamHussein, que tomou o poder numgolpe e esmagou o partido comunista.Na Síria o partido comunista aindaparticipa formalmente na coalizãodo governo! No Irã as greves dostrabalhadores foram decisivas paraderrubar o Xá, mas a falta de linhaindependente e o fracasso da alter-nativa burguesa abriu para os muláse o subsequente massacre os líderesdo movimento dos trabalhadores.

Revoluções inacabadas

Isso não significa que os traba-lhadores na sua luta contra regimesditatoriais não podem fazer aliançastáticas com forças burguesas, masnunca se subjugar a essas. Sem umalinha de construção de forças inde-pendentes dos trabalhadores, comseu próprio programa e alternativasocialista, mesmo uma vitória tem-porária pode levar a novas derrotasposteriormente.

O processo no mundo árabe aindaestá em aberto. Vimos revoluçõesinacabadas. Para elas não serem se-questradas e desviadas como no Irãem 1979, a construção de um movi-mento independente dos trabalha-dores e de fortes partidos socialistas,é uma tarefa central.

Mundo árabe – o barril de pólvora explode

Do Egito ao Portugal, da Tunísia a Grã Bretanha, do Brasil aos EUA, da Líbia ao Japão

A urgência de uma alternativa socialista dos trabalhadores

Um novo período de luta se abreno mundo árabe.

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N° 06 abril/maio 2011

Preço: R$1,50 • Solidário: R$3,00 Acesso o nosso site:

www.lsr-cit.orge-mail: [email protected]

telefone: (11) 3104-1152

O ufanismo construído em tor-no dos megaeventos que serealizarão no Brasil, a Copa em2014 e as Olimpíadas em2016, vem sendo sustentadopor promessas de desenvolvi-mento, crescimento econômicoe aumento dos empregos, co-mo percebemos na fala da pre-sidente Dilma: “O evento torna-rá o Brasil uma vitrine interna-cional – esperamos recebercerca de 600 mil turistas”.Mas na verdade esconde um jo-go de interesses no qual os tra-balhadores serão os maioresprejudicados.

Mariana Cristina Moraes da Cunha

Psicóloga, integrante do ComitêPopular da Copa e das Olimpíadas

Luciano da Silva Barboza Historiador, mestrando do

IPPUR-UFRJ

O presidente do BNDES (BancoNacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social), Luciano Coutinho,afirmou que serão gastos R$ 183,2bilhões com obras da Copa do Mundode 2014. Além disso, o orçamentoinicial das Olimpíadas prevê gastosde R$ 25,9 bilhões. Quem se bene-ficiara com todo esse investimento?

A luta de classes na cidade se ex-pressa na estreita ligação entre es-peculação imobiliária e investimentospúblicos em infraestrutura e equi-pamentos urbanos. Percebemos nascidades uma disputa entre ricos epobres por saneamento básico, as-falto, água e por territórios melhorlocalizados. O Estado pode gerarinfraestrutura em locais de interessesda burguesia gerando valorizaçãofundiária na área ou o Estado podegerar infraestrutura nas favelas, be-neficiando os pobres moradores. Osconflitos no local de vida são merosreflexos de tensões subjacentes entreo conflito capital-trabalho.

Desigualdade urbana

Atrás da máscara de um projetobem-sucedido para o Rio de Janeiro,encontram-se sérios problemas sociaise econômicos como o aumento dadesigualdade urbana, que estão as-sumindo a forma geográfica de umacidade dual: de um centro renovadocercado por um mar de pobreza cres-cente. A concentração no espetáculoe na imagem mais do que no conteúdodos problemas sociais pode se revelarinútil a longo prazo para a melhoriada vida dos moradores.

A conta dos megaeventos já foientregue para os trabalhadores: re-moções de comunidades para darlugar a grandes avenidas; o enormenúmero de pessoas desapropriadasde suas casas, muitas sem indeniza-

ção ou então recebendo o valor dadesapropriação abaixo do valor demercado; o destino incerto com re-lação ao local de moradia dessas fa-mílias; os impactos ambientais e ur-banísticos que os megaeventos ge-raram na cidade.

Segundo Raquel Rolnik, relatorada ONU para o direito à moradiaadequada, os megaeventos permitema implementação de uma políticaque em outras situações teriam difi-culdade para serem implantadas.“Estamos vivendo um Estado de ex-ceção à lei de licitações, em relaçãoà isenção de impostos, a não neces-sidade de algumas salvaguardas quenormalmente são exigidas, que vãodesde alterações de plano diretorque não passam pelos processos nor-mais de alteração, excepcionalidadesque já estão sendo votadas pelasCâmaras Municipais, AssembleiasLegislativas e pelo Congresso Na-cional através de medidas provisórias.Em todas as esferas, isso já estáacontecendo no Brasil”.

Outros ataques aos trabalhadoresocorrerão na véspera e durante osmegaeventos, como a proibição demanifestações em certa distância deonde serão realizados os eventos.Assim como impedimento ao trabalhode camelôs e trabalhadores informais,remoção de moradores de rua, etc.

Higienização social

Esta sendo aprofundada uma po-lítica de higienização social que jácomeçou a ser realizada com as re-moções nas favelas. Além disso, ogoverno e a grande mídia culpabili-zam e criminalizam os pobres porestarem em área de risco.

A expectativa de remoções apre-sentada pelo governo é alarmante.A Transcarioca, corredor que ligaráa Barra da Tijuca ao Aeroporto In-ternacional Tom Jobim, visando osmegaeventos, já desapropriou 700residências e um decreto publicadopelo prefeito Eduardo Paes relaciona3.630 imóveis que serão desapro-priados na Barra, em Jacarepaguá,Madureira, Vicente de Carvalho eBrás de Pinha. Já a Transoeste, avia expressa que vai ligar a Barrada Tijuca à Santa Cruz na ZonaOeste do Rio de Janeiro tem previsãode desapropriar 3 mil famílias. Asdesapropriações da Transolímpica,via expressa para ônibus articuladose automóveis que ligará o Recreiodos Bandeirantes a Deodoro, ficarãoem torno de 700 imóveis.

Mais alarmante é a forma como ogoverno está fazendo tais desapro-priações, como as remoções das fa-mílias que moravam nas comunida-des do Recreio e que foram desa-propriadas sem qualquer tipo de in-denização ou negociação. Varias co-munidades já foram desabrigadascomo a favela largo do Campinho

em Madureira, as comunidades deVila Harmonia, Restinga, NotreDame e Vila Recreio II. Os mora-dores de Madureira já foram desa-propriados em função da Transca-rioca. Eles foram mandados para osconjuntos habitacionais em Cosmos,na zona oeste, que fica a mais de 1hora do Campinho.

A moradora Luciana França deMadureira disse:

“A lei orgânica do município, a429, fala que toda família removidatem que ser reassentada próxima.Isso não está sendo cumprido, porquea nossa comunidade vai ser reas-sentada em Cosmos, que são 18 es-tações de trem de onde a gente mora.É mais de uma hora de viagem.Pessoas já perderam o emprego,crianças perdendo o ano letivo, pes-soas de idade que vão perder trata-mento no posto médico, e outrasque estão desempregadas não vãopoder pagar as contas que tem nesseapartamento. A gente não tem acessoao contrato, não pode levar o advo-gado nem a defensoria pública. Eunão vou sair, só saio daqui quandoeu for prévia e justamente indenizadaou reassentada próxima”.

A intransigência do município do

Rio de Janeiro com os moradorespode ser percebida na fala do secre-tário municipal especial das Olim-píadas de 2016, Ruy Cezar MirandaReis: “É o recado: esta cidade temordem e tem lei”. Mas no Brasil jásabemos que a ordem é bater nospobres quando se rebelam e a leitem um lado claro: o lado dos ricos.

Comitê Popular da Copa

O Comitê Popular da Copa é umespaço de luta em defesa dos direitosdos trabalhadores urbanos formaise informais. Este comitê organizouuma manifestação que contou comcerca de duzentas pessoas, no dia25 de março no centro do RJ, contraas remoções de moradias populares.

De acordo com Itamar Silva, coor-denador do Ibase e liderança da co-munidade Santa Marta, na Zona Sulcarioca:

“No Rio é uma perversidade, por-que junta os grandes eventos, que éuma lógica empresarial e de especu-lação imobiliária, do interesse ime-diato daqueles que têm dinheiro nacidade, com um discurso preconcei-tuoso em relação à favela. Entãojunta área de risco e necessidades

de criar uma cidade ideal para receberas Olimpíadas ou a Copa, e comisso a população está completamenteacuada. O interesse é de colocar opobre bem distante e deixar só aquelesque podem pagar muito alto nessacidade, então ou a gente enfrentaesse debate de forma organizada ouvamos daqui a alguns anos exigir dogoverno investimentos porque a gentenão tem infraestrutura.”

Por tudo isso, concluímos que pensarcomo se reflete na vida dos trabalha-dores todas as políticas vinculadasaos megaeventos é tarefa fundamentalde todos, pois essas políticas ao invésde garantir a paz fortalecerão a segre-gação e o conflito de classes. Játivemos exemplos anteriores de comoesses conflitos geraram mobilização,pois após os ataques do governo pararealizar o Panamericano no Rio em2007, surgiu a reação dos trabalhadoresexpressa na construção da Plenáriados Movimentos Sociais, que aindahoje é um importante instrumentopara organizar as lutas de resistênciano Rio de Janeiro. A união dos lutadoresdos movimentos sociais, partidos deesquerda e sindicatos será determinantepara a vitória das demandas dos tra-balhadores no próximo período.

Megaeventos: quem ganhae quem paga a conta?

Depois de um ano dos desaba-mentos em Niterói, que deixaram10 mil pessoas desabrigadas, a po-pulação não se calou diante dodescaso, dos ataques e da repressãopor parte do prefeito, Jorge Robertoda Silveira (PDT). Centenas aindaestão morando em abrigos e ospoucos que conseguiram o ínfimoaluguel social, de 400 reais, sofremcom os seguidos atrasos.

No dia 06 de abril, um ano apósos desmoronamentos, 500 pessoas,

representando 30 comunidades, pro-testaram pelas ruas de Niterói exi-gindo seu direito a moradia, vidadigna e respeito.

Nem o direito de dizer o que pensame utilizar o espaço público está sendopermitido aos trabalhadores e traba-lhadoras. Em março a policia atirougás de pimenta em trabalhadores quereivindicavam o aluguel social, atra-sado há 3 meses. No ato do dia 06/04o prefeito mobilizou mais de 100 po-liciais, que formaram uma parede hu-

mana impedindo que os trabalhadoresocupassem a rua. Como se já nãobastasse, ainda prenderam um militantepor “desacato a autoridade”.

Um ano depois dos desabamentose nenhuma casa popular foi entre-gue. Enquanto isso o prefeito insisteno projeto de construção da torrepanorâmica, que custa 20 milhões,e enche a cidade de praças, o quemostra quais as reais preocupaçõese para quem ele governa.

Mariana Cristina

Morro do Bumba: Um ano depois – descaso e repressão