OFICINA 02

TEMA: Planejamento de uma Sequncia Didtica:

o que , como se faz

Gilson Neves

Analista Educacional da Secretaria de Estado da Educao

SEE/MG

Bocaiva, 3 e 4 de agosto de 2012

Partindo do princpio de que so os usos que fundam a lngua e no o contrrio, defende-se a tese de que falar ou escrever bem no ser capaz de adequar-se s regras da lngua, mas usar adequadamente a lngua para produzir um efeito de sentido pretendido numa dada situao (Marcuschi).

a inteno comunicativa que funda o uso da lngua e no a

morfologia ou a gramtica(Marcuschi).

Ao selecionar textos para estudo, preciso ter em mente

que a escola deve garantir ao aluno o contato com textos:

de diferentes gneros orais e escritos em circulao na

sociedade;

adequados do ponto de vista discursivo, semntico e

formal;

com nveis cada vez mais complexos de organizao.

(CBC/MG, p. 17).

SEQUNCIA DIDTICA (SD) (JOAQUIM DOLZ, MICHLE NOVERRAZ, BERNARD SCHNEUWLY)

Conjunto de atividades escolares organizadas, de

maneira sistemtica, em torno de um gnero textual

oral ou escrito: servem para dar acesso aos alunos a

prticas de linguagem novas ou dificilmente

dominveis.

Certos gneros interessam mais escola as narrativas de aventuras, as reportagens esportivas, as

mesas redondas, os seminrios, as notcias do dia, as

receitas de cozinha, para citar apenas alguns.

Uma SD tem a finalidade de ajudar o aluno a

dominar melhor um gnero de texto, permitindo-

lhe escrever ou falar de uma maneira mais

adequada numa dada situao comunicativa.

O trabalho escolar ser realizado sobre gneros que o aluno no domina ou o faz de maneira insuficiente; e sobre os gneros dificilmente acessveis, espontaneamente, pela maioria dos alunos; e sobre gneros pblicos e no privados.

Esses autores trabalham com gneros e no com

tipos textuais. No entanto, adequando-se ao

contedo do CBC/MG, podemos introduzir os tipos

e as sequncias textuais numa SD.

COMO ESCOLHER GNEROS PARA UMA

SEQUNCIA DIDTICA - AGRUPAMENTOS

Num primeiro momento, fazem-se agrupamentos,

onde se delimitam os conjuntos de gneros suscetveis

de serem trabalhados para atingir as finalidades

gerais da SD e, de maneira geral, permitir aos alunos o

acesso a uma cultura suficiente no domnio da

produo de textos orais e escritos, cultura que no se

limita apenas a dimenses utilitrias.

Num segundo momento, a escolha de determinados

gneros dentro dos agrupamentos feita em funo

de critrios de progresso atravs dos diferentes anos

escolares do Ensino Fundamental.

ASPECTOS TIPOLGICOS

DOMNIOS SOCIAIS

DE COMUNICAO

CAPACIDADES DE

LINGUAGEM

DOMINANTES

EXEMPLOS DE

GNEROS ORAIS E

ESCRITOS

Cultura literria

ficcional

NARRAR:

Mimeses da ao

atravs da criao da

intriga.

Conto maravilhoso,

fbula, lenda, narrativa

de aventura, fico

cientfica, narrativa de

enigma, novela

fantstica, conto

parodiado

Documentao e

memorizao de aes

humanas

RELATAR:

Representao pelo

discurso de experincias

vividas, situadas no

tempo

Relato de experincia

vivida, relato de

viagem, testemunho,

curriculum vitae,

notcia, reportagem,

crnica esportiva,

ensaio biogrfico

Discusso de

problemas sociais

controversos

ARGUMENTAR:

Sustentao,

refutao e

negociao de

tomadas de posio

Texto de opinio,

dilogo

argumentativo, carta

do leitor, carta de

reclamao,

deliberao informal,

debate regrado,

discurso de defesa

(adv.), discurso de

acusao (adv.)

Transmisso e

construo de saberes

EXPOR:

Apresentao textual de

diferentes formas dos

saberes.

Seminrio, conferncia,

artigo ou verbete de

enciclopdia, entrevista

de especialista, tomada

de notas, resumo de

textos expositivos ou explicativos, relatrio

cientfico, relato de

experincia cientfica.

Instrues e

prescries

DESCREVER

AES:

Regulao mtua de

comportamentos

Instrues de

montagem, receita,

regulamento, regras

de jogo, instrues de

uso, instrues.

Os agrupamentos, assim definidos, no so estanques uns em

relao aos outros; no possvel classificar um gnero de

maneira absoluta num dos agrupamentos propostos. No

mximo, possvel determinar alguns gneros que poderiam

ser prottipos para cada agrupamento e, assim, talvez,

particularmente indicados para um trabalho didtico.

ESTRUTURA DA SEQUNCIA DIDTICA:

COMO FAZER

1. APRESENTAO DA SITUAO

Descrio detalhada da tarefa oral ou escrita:

construir a representao da comunicao e da

atividade de linguagem a ser executada.

Duas dimenses:

1) Apresentao de um problema de comunicao bem

definido. Projeto coletivo de produo de um gnero oral

ou escrito. Qual o problema de comunicao que devem

resolver?

A quem se dirige a produo? Comunidade, colegas de

classe ou de escola, pais, professores, alunos de outras

escolas, destinatrio difuso (como no caso de um

programa de TV), leitores de jornal, etc.

ler ou escutar modelo ou exemplo do gnero visado.

qual o gnero ser abordado: receita de cozinha para

rdio da escola, coletnea de contos para a biblioteca,

exposio a ser proposta para a turma ou para a

comunidade, elaborao de uma cartilha sobre tema

crucial para a comunidade ou para a escola?

que forma assumir a produo: gravao de udio ou vdeo, folheto, carta a ser enviada, representao em palco ou em sala de aula, artigo para publicao em jornal da cidade, exposio no hall da escola, jornal escolar?

quem participar da produo: todos os alunos, alguns

alunos, individualmente ou em grupo?

2) Preparao dos CONTEDOS dos textos que sero

produzidos.

Num debate, escuta de breves tomadas de posio;

num tema geral, podem ser retirados subtemas para

um artigo enciclopdico; num seminrio, deve-se

conhecer bem o que se deve explicar ao pblico ou

pode-se buscar o contedo da prpria disciplina ou de

outras disciplinas; numa carta do leitor, os

argumentos a favor e contra; num conto, os elementos

constitutivos do enredo.

2. PRODUO INICIAL

Realizao prtica de uma avaliao formativa e

primeiras aprendizagens. Os alunos fazem a

primeira produo do gnero escolhido, baseados

num exemplo ou modelo:

Produes no recebem nota;

Anlise das produes;

Primeiras observaes;

Refinamento da SD;

Produo de mdulos;

Adaptao da SD s habilidades dos alunos.

3. MDULOS DA SEQUNCIA

Atividades de leitura e interpretao de textos

orais ou escritos: textos de um s gnero, textos de

gneros diferentes, textos de gneros diversos que

envolvam linguagem verbal e no verbal etc.

Mtodo de leitura e interpretao: CBC/MG e suas cinco operaes:

Contextualizao

Tematizao

Enunciao

Textualizao

Retextualizao

Tarefas simplificadas de produo de texto

(Operao de Textualizao ou de Retextualizao):

trabalhar as superestruturas dos tipos textuais do CBC/MG;

reescrever um tpico de um gnero em outro gnero diferente;

inserir uma parte que falta em determinado

texto, elaborar refutaes encadeadas ou posies

favorveis a certos temas, gerenciar contedos

lingusticos, etc.

dar continuidade a um texto, no gnero que se queira explorar na sequncia didtica;

reorganizar o contedo de certos tipos textuais;

retextualizar um texto oral para o escrito ou do

escrito para o oral;

pequenas produes a partir do contedo dos textos lidos, no gnero que se queira produzir na

SD, etc.

Elaborao de uma linguagem comum para poder

falar dos textos, coment-los, critic-los, melhor-

los, quer se trate de seus prprios textos ou dos de

outrem, ao longo de todos os mdulos.

Domnio de uma linguagem tcnica que pode ser simples.

Pode ser construda ao longo do trabalho ou como

sntese antes da produo final.

4. PRODUO FINAL

A SD encerra-se com uma produo final, firmada dentro do projeto apresentado no incio e previsto na tentativa de produo do gnero no comeo da Sequncia.

Esse produto final d ao aluno a possibilidade de

pr em prtica as noes e os instrumentos

elaborados separadamente nos mdulos.

Indica ao aluno os objetivos a serem atingidos e d-

lhe um controle sobre seu prprio processo de

aprendizagem (O que aprendi? O que resta fazer?).

A reviso e a reescrita deve ser feita acompanhada

de obras de referncia (guia ortogrfico, dicionrio,

livros, enciclopdias, etc.).

Serve de instrumento para o aluno regular e

controlar seu prprio comportamento de produtor

de textos, durante a reviso e a reescrita.

Permite aos alunos e ao professor avaliar os

progressos realizados no domnio trabalhado.

5. AVALIAO

Alm da avaliao somativa, avaliam-se tambm os

seguintes aspectos:

Anlise das produes dos alunos em funo dos objetivos da sequncia e das caractersticas do gnero;

Escolha das atividades indispensveis para a

realizao da continuidade da sequncia;

Previso e elaborao, para os casos de insucesso, um trabalho mais profundo e intervenes diferenciadas para as dimenses mais problemticas.

A ordem dos mdulos de uma sequncia

didtica no aleatria. Se vrios itinerrios

so possveis, certas atividades apresentam

uma base para a realizao de outras.

PORTANTO, A SD DEVE CONTEMPLAR:

Uma esfera de atividade em que o gnero circule;

A definio de uma situao de comunicao na

qual a produo se insere;

A disponibilizao de textos sociais (de circulao

real) como referncia para os alunos;

Uma organizao geral de ensino que v ao

encontro das transformaes desejadas;

Atividades que contribuam para que os objetivos

sejam alcanados;

Propostas de percursos e situaes que levam o

aluno a atingir os objetivos desejados;

ESQUEMA DA SEQUNCIA DIDTICA

Apresentao

da situao Produo

Inicial

Mdulo

1

Mdulo

2

Mdulo

n

Produo

final

(segundo Dolz, Noverraz e Shneuwly)