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7 SERPENTES DE IMPORTÂNCIA MÉDICA DO NORDESTE DO BRASIL SERPENTES DE IMPORTÂNCIA MÉDICA DO NORDESTE DO BRASIL SERPENTES DE IMPORTÂNCIA MÉDICA DO NORDESTE DO BRASIL SERPENTES DE IMPORTÂNCIA MÉDICA DO NORDESTE DO BRASIL SERPENTES DE IMPORTÂNCIA MÉDICA DO NORDESTE DO BRASIL SNAKES OF MEDICAL IMPORTANCE IN NORTHEAST OF BRAZIL Rejâne M. Lira-da-Silva 1 , Yukari F. Mise 1 , Luciana L. Casais-e-Silva 2,3 , Jiancarlo Ulloa 1 , Breno Hamdan 1 e Tania K. Brazil 1,2 1 Núcleo Regional de Ofiologia e Animais Peçonhentos da Bahia (NOAP), Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia; 2 Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), Salvador, Bahia; 3 Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Salvador, BA, Brasil Os resultados deste trabalho são conseqüência do projeto “Serpentes de importância médica da Região Nordeste do Brasil”, apoiado pelo Ministério da Saúde (agosto/2003-fevereiro/2005), com o objetivo de identificar as espécies de serpentes de importância médica que ocorrem no Nordeste e os aspectos clínico-epidemiológicos dos acidentes provocados por estes animais. Foram analisados 6.274 exemplares, consultados em coleções herpetológicas e em Centros de Atendimento em Saúde específicos em cada Estado. Os dados consultados foram referentes à procedência, data de coleta, tamanho, sexo e número de registro em coleção. Identificou-se 25 espécies: doze de jararacas Bothrops (B.atrox, B.brazili, B.erythromelas, B.jararaca, B.jararacussu, B.leucurus, B.lutzi, B.marajoensis, B.moojeni, B.muriciensis, B.neuwiedi e B.pirajai), e duas Bothriopsis (B.bilineata e B.taeniata), nove Micrurus (M.brasilensis, M.corallinus, M.filiformis, M.hemprichii, M.ibiboboca, M.leminiscatus, M.psyches, M.spixii e M.surinamensis), além de Crotalus durissus, Lachesis muta e três espécies da família Colubridae: Boiruna sertaneja, Philodryas olfersii e P.patagoniensis, cuja distribuição variou nas diversas fitofisionomias de cada Estado. Três são consideradas endêmicas: B.lutzi, B.muriciensis e B.pirajai, esta última, também vulnerável. C.durissus foi a de distribuição mais abrangente, seguida de B.erythromelas e B.leucurus. B.brazili e B.marajoensis, espécies botrópicas amazônicas raras, foram restritas ao Maranhão. Entre as Micrurus, M.ibiboboca foi a de ocorrência mais abrangente, seguida de M.lemniscatus e M.corallinus. Pode-se afirmar que a fauna ofídica de importância médica no Nordeste é mais diversa do que se imaginava, perfazendo 53% das espécies brasileiras. Com este trabalho, também pudemos, confirmar a ocorrência de Crotalus durissus na faixa litorânea e indicar as principais espécies que devem ser mais bem estudadas devido à sua abrangência geográfica e possibilidade de encontro com a população humana, como B.erythromelas, B.leucurus, M.ibiboboca e M.lemniscatus. Palavras-chave: Serpentes. Bothrops, Lachesis, Crotalus, Micurus. The results of this study are the consequence of the Project “Snakes of medical importance of the Northeast of Brazil”, supported by the Ministry of Health (August/2003-February/2005), to identify the species of snakes of medical importance which occur in Northeast and the clinical and epidemiological aspects of accidents caused by these animals. We examined 6,274 specimens, found in Herpetological collections and Health Care Centers in each specific state. The data were found concerning the origin, date of collection, size, sex and number of records in collection. It was identified 25 species: twelve of Bothrops (B.atrox, B.brazili, B.erythromelas, B.jararaca, B.jararacussu, B.leucurus, B.lutzi, B.marajoensis, B.moojeni, B.muriciensis, B.neuwiedi and B.pirajai), two of Bothriopsis (B.bilineata and B.taeniata), nine Micrurus (M.brasilensis, M.corallinus, M.filiformis, M.hemprichii, M.ibiboboca, M.leminiscatus, M.psyches, M.spixii and M.surinamensis), beyond Crotalus durissus, Lachesis muta and three species of the family Dipsadidae: Boiruna sertaneja (mussurana), Philodryas olfersii and P. patagoniensis, whose distribution varied in different vegetation of each state. Three are considered endemic: B.lutzi, B.muriciensis and B.pirajai, the latter also vulnerable. C.durissus was a broad distribution, followed by B.erythromelas and B.leucurus. B.brazili e B.marajoensis Amazon bothropic rare species were restricted to Maranhão. Between Micrurus, M.ibiboboca of occurrence was the most comprehensive, followed by M.lemniscatus e M.corallinus. We can say that the ophidian fauna of medical importance in the Northeast is more diverse than thought, making up 53% of the Brazilian species, and also confirm the occurrence of Crotalus durissus the coastal strip and indicate the main species to be better studied because of its geographical scope and possibility of meeting with the human population, as B.erythromelas, B.leucurus, M.ibiboboca and M.lemniscatus. Key words: Snakes. Bothrops, Lachesis, Crotalus, Micurus. Recebido em 16/05/2009 Aceito em 08/06/2009 Endereço para correspondência: Profa. Dra. Rejâne M. Lira-da-Silva, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia, Campus Universitário de Ondina, Salvador, Brasil, 40.170- 210. Tel: 71 32836564. FAX: 71 32836511. E-mail: [email protected]. Gazeta Médica da Bahia 2009;79 (Supl.1):7-20 © 2009 Gazeta Médica da Bahia. Todos os direitos reservados. Até o momento, existem 365 espécies de serpentes catalogadas no Brasil, agrupadas em 75 gêneros e 10 famílias (4) , das quais cerca de 16% (59 espécies) pode ser considerada potencialmente capaz de produzir envenenamentos que necessitem de uma intervenção médica. A essas, chamaremos de serpentes de importância médica. Nesta categoria, estão aquelas que apresentam glândulas que produzem toxinas e que portam presas (dentes modificados para inoculação do veneno), dos tipos solenóglifa, proteróglifa e opistóglifa. No Brasil, estão agrupadas nas famílias Viperidae (Bothrops, Bothriopsis, Bothrocophias, Lachesis e Crotalus), Elapidae

Ofidismo Nordeste Muito Bom

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  • 7Gaz. md. Bahia 2009;79 (Supl.1):7-20 Serpentes de Importncia Mdica do Nordeste

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    SERPENTES DE IMPORTNCIA MDICA DO NORDESTE DO BRASILSERPENTES DE IMPORTNCIA MDICA DO NORDESTE DO BRASILSERPENTES DE IMPORTNCIA MDICA DO NORDESTE DO BRASILSERPENTES DE IMPORTNCIA MDICA DO NORDESTE DO BRASILSERPENTES DE IMPORTNCIA MDICA DO NORDESTE DO BRASIL

    SNAKES OF MEDICAL IMPORTANCE IN NORTHEAST OF BRAZIL

    Rejne M. Lira-da-Silva1, Yukari F. Mise1, Luciana L. Casais-e-Silva2,3, Jiancarlo Ulloa1, Breno Hamdan1 e Tania K. Brazil1,21Ncleo Regional de Ofiologia e Animais Peonhentos da Bahia (NOAP), Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia,

    Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia; 2Escola Bahiana de Medicina e Sade Pblica (EBMSP), Salvador, Bahia;3Universidade do Estado da Bahia (UNEB); Salvador, BA, Brasil

    Os resultados deste trabalho so conseqncia do projeto Serpentes de importncia mdica da Regio Nordeste doBrasil, apoiado pelo Ministrio da Sade (agosto/2003-fevereiro/2005), com o objetivo de identificar as espcies deserpentes de importncia mdica que ocorrem no Nordeste e os aspectos clnico-epidemiolgicos dos acidentesprovocados por estes animais. Foram analisados 6.274 exemplares, consultados em colees herpetolgicas e emCentros de Atendimento em Sade especficos em cada Estado. Os dados consultados foram referentes procedncia,data de coleta, tamanho, sexo e nmero de registro em coleo. Identificou-se 25 espcies: doze de jararacasBothrops (B.atrox, B.brazili, B.erythromelas, B.jararaca, B.jararacussu, B.leucurus, B.lutzi, B.marajoensis, B.moojeni,B.muriciensis, B.neuwiedi e B.pirajai), e duas Bothriopsis (B.bilineata e B.taeniata), nove Micrurus (M.brasilensis,M.corallinus, M.filiformis, M.hemprichii, M.ibiboboca, M.leminiscatus, M.psyches, M.spixii e M.surinamensis), almde Crotalus durissus, Lachesis muta e trs espcies da famlia Colubridae: Boiruna sertaneja, Philodryas olfersii eP.patagoniensis, cuja distribuio variou nas diversas fitofisionomias de cada Estado. Trs so consideradas endmicas:B.lutzi, B.muriciensis e B.pirajai, esta ltima, tambm vulnervel. C.durissus foi a de distribuio mais abrangente,seguida de B.erythromelas e B.leucurus. B.brazili e B.marajoensis, espcies botrpicas amaznicas raras, foram restritasao Maranho. Entre as Micrurus, M.ibiboboca foi a de ocorrncia mais abrangente, seguida de M.lemniscatus eM.corallinus. Pode-se afirmar que a fauna ofdica de importncia mdica no Nordeste mais diversa do que seimaginava, perfazendo 53% das espcies brasileiras. Com este trabalho, tambm pudemos, confirmar a ocorrnciade Crotalus durissus na faixa litornea e indicar as principais espcies que devem ser mais bem estudadas devido sua abrangncia geogrfica e possibilidade de encontro com a populao humana, como B.erythromelas, B.leucurus,M.ibiboboca e M.lemniscatus.Palavras-chave: Serpentes. Bothrops, Lachesis, Crotalus, Micurus.

    The results of this study are the consequence of the Project Snakes of medical importance of the Northeast of Brazil,supported by the Ministry of Health (August/2003-February/2005), to identify the species of snakes of medical importancewhich occur in Northeast and the clinical and epidemiological aspects of accidents caused by these animals. We examined6,274 specimens, found in Herpetological collections and Health Care Centers in each specific state. The data were foundconcerning the origin, date of collection, size, sex and number of records in collection. It was identified 25 species: twelveof Bothrops (B.atrox, B.brazili, B.erythromelas, B.jararaca, B.jararacussu, B.leucurus, B.lutzi, B.marajoensis, B.moojeni,B.muriciensis, B.neuwiedi and B.pirajai), two of Bothriopsis (B.bilineata and B.taeniata), nine Micrurus (M.brasilensis,M.corallinus, M.filiformis, M.hemprichii, M.ibiboboca, M.leminiscatus, M.psyches, M.spixii and M.surinamensis), beyondCrotalus durissus, Lachesis muta and three species of the family Dipsadidae: Boiruna sertaneja (mussurana), Philodryasolfersii and P. patagoniensis, whose distribution varied in different vegetation of each state. Three are considered endemic:B.lutzi, B.muriciensis and B.pirajai, the latter also vulnerable. C.durissus was a broad distribution, followed by B.erythromelasand B.leucurus. B.brazili e B.marajoensis Amazon bothropic rare species were restricted to Maranho. Between Micrurus,M.ibiboboca of occurrence was the most comprehensive, followed by M.lemniscatus e M.corallinus. We can say that theophidian fauna of medical importance in the Northeast is more diverse than thought, making up 53% of the Brazilianspecies, and also confirm the occurrence of Crotalus durissus the coastal strip and indicate the main species to be betterstudied because of its geographical scope and possibility of meeting with the human population, as B.erythromelas,B.leucurus, M.ibiboboca and M.lemniscatus.Key words: Snakes. Bothrops, Lachesis, Crotalus, Micurus.

    Recebido em 16/05/2009 Aceito em 08/06/2009Endereo para correspondncia: Profa. Dra. Rejne M. Lira-da-Silva,Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federalda Bahia, Campus Universitrio de Ondina, Salvador, Brasil, 40.170-210. Tel: 71 32836564. FAX: 71 32836511. E-mail: [email protected].

    Gazeta Mdica da Bahia 2009;79 (Supl.1):7-20 2009 Gazeta Mdica da Bahia. Todos os direitos reservados.

    At o momento, existem 365 espcies de serpentescatalogadas no Brasil, agrupadas em 75 gneros e 10 famlias

    (4), das quais cerca de 16% (59 espcies) pode ser consideradapotencialmente capaz de produzir envenenamentos quenecessitem de uma interveno mdica. A essas, chamaremosde serpentes de importncia mdica. Nesta categoria, estoaquelas que apresentam glndulas que produzem toxinas eque portam presas (dentes modificados para inoculao doveneno), dos tipos solenglifa, proterglifa e opistglifa. NoBrasil, esto agrupadas nas famlias Viperidae (Bothrops,Bothriopsis, Bothrocophias, Lachesis e Crotalus), Elapidae

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    (Micrurus e Leptomicrurus) e Dipsadidae (Boiruna ePhilodryas). Existem atualmente 23 espcies de Bothrops, 2de Bothriopsis e 1 de Bothrocophias (jararacas), 24 deMicrurus (corais) e 3 de Leptomicrurus (corais), Lachesismuta (surucucus) e Crotalus durissus (cascavis) souniespecficas (4,7).

    Serpentes da famlia Dipsadidae (antes Colubridae) noeram consideradas uma ameaa real aos seres humanos. Porm,a partir de 1999, o Ministrio da Sade passou a considerarPhilodryas olfersii, P. patagoniensis, P. viridissimus e Cleliaplumbea (=Boiruna sertaneja) como serpentes de importnciamdica (21). Em 1992, aps um bito confirmado de uma criana,decorrente de uma picada causada por P. olfersii no Rio Grandedo Sul, evidenciou-se a necessidade de ateno mdica aosacidentes causados por algumas espcies dessa famlia (1,27),principalmente considerando-se que, muito provavelmente,os acidentes por estas serpentes so subdimensionados e acasustica, portanto, no reflete a sua magnitude (26).

    A importncia de se identificar o gnero do agentecausador do envenenamento por serpentes, ou seja, doacidente ofdico, vem de longa data, mais precisamente dofinal do sculo XIX, com a publicao de Otto Wucherer (36)(1820-1873) em 1867 e posteriormente quando Vital Brazil(1897-1950) divulgou para a sociedade mdica a especificidadedos venenos das serpentes, dos anti-venenos ou soros anti-ofdicos (5,36). No entanto, s a partir de 1985, com a crise dosoro, o Ministrio da Sade (MS) tomou a si aresponsabilidade por este agravo (8), considerado ainda degrandes propores, apesar do Pas j ter sado da suacondio quase totalmente rural. Em 1986, foi criado oPrograma Nacional de Ofidismo que, em seguida, passou aPrograma Nacional de Controle de Acidentes por AnimaisPeonhentos. A obrigatoriedade da notificao desse tipo deacidente, a partir de 1987, e a sua incluso no Sistema deInformao de Agravos de Notificao (SINAN) (2) foramdeterminantes para os primeiros estudos regionalizados deepidemiologia dos acidentes ofdicos. Porm, o que se verificounas primeiras aes de sistematizao foi uma ausncia deinformaes atualizadas das equipes de sade, tanto emreferncia ao diagnstico e tratamento, quanto identificaodo agente agressor (8). Assim, com o objetivo de melhoraresse atendimento, a Coordenao Nacional de Zoonoses eAnimais Peonhentos (CNCZAP-MS) passou a coordenar asaes envolvendo as Secretarias Estaduais e Municipais,Centros de Controle de Zoonoses e Animais Peonhentos,Ncleos de Ofiologia e Laboratrios Produtores (2). Dentreessas aes, foram apoiados os primeiros projetosregionalizados sobre a distribuio das serpentes no pas. Oprimeiro, direcionado para a regio Sul e Sudeste e o segundo,para a regio Nordeste, ambos financiados pelo VIGISUS Estruturao do Sistema Nacional de Vigilncia em Sade, apartir de 1998 (22).

    Os resultados do presente trabalho so, portanto,conseqncia do projeto Serpentes de importncia mdicada Regio Nordeste do Brasil, desenvolvido no perodo de

    agosto de 2003 a fevereiro de 2005, coordenado pelo NcleoRegional de Ofiologia e Animais Peonhentos da UniversidadeFederal da Bahia (NOAP/UFBA) e envolvendo 7 da 9Secretarias Estaduais do Nordeste e as Universidades Federalde Pernambuco e do Cear. Este projeto deu um saltoqualitativo tanto no conhecimento das espcies de serpentesque ocorrem no Nordeste quanto da epidemiologia dosacidentes ofdicos. Alm disso, contribuiu para a capacitaode vrios profissionais da sade, atravs dos cursos deSerpentes e Ofidismo, oferecidos para todos os Estados,com exceo do Rio Grande do Norte, atingindo cerca de 395pessoas, incluindo os estudantes que participaram ativamenteda execuo do Projeto, principalmente nos Estados da Bahiae de Pernambuco (18).

    Atravs deste trabalho pretendeu-se ampliar oconhecimento sobre as espcies de serpentes de importnciamdica do Nordeste do Brasil, atualizando a sua distribuiogeogrfica. Esse conhecimento no s possibilitar afundamentao necessria s aes da vigilncia ambientalpelos rgos pblicos da regio, como permitir o diagnsticopresuntivo da etiologia destes acidentes e subsidiar aspolticas de produo e distribuio de soro antiofdico.

    Material e MtodosPara atingir os objetivos do trabalho foram utilizadas, como

    fontes primrias, os registros de ocorrncia de 6.274 exemplaresde serpentes, consultados em 17 instituies (Tabela 1), queincluram as principais colees nacionais e regionais do pase os Centros de Atendimento especfico em cada Estado,durante o perodo agosto 2003 a agosto de 2004. Como fontessecundrias foram utilizados os dados de novas ocorrnciaspara o Estado, coletados por outros pesquisadores e/ou dadospublicados em peridicos nacionais e internacionais. Anomenclatura dos txons seguiu Campbell & Lamar (2004) (7),atualizada recentemente pela ltima lista de rpteis publicadaspela Sociedade Brasileira de Herpetologia (4).

    Os dados foram analisados atravs de um conjunto deprocedimentos do pacote estatstico SPSS for Windows 11.0SPSS (32) e do Microsoft Excel verso 2000. Para a construodos mapas de distribuio foram estabelecidos os municpioscomo unidades amostrais e utilizou-se o TAB para Windows TabWin verso 3.5.

    ResultadosForam identificadas 25 espcies de serpentes de

    importncia mdica na Regio Nordeste, das quais doze dognero Bothrops (B. atrox, B. brazili, B. erythromelas, B.jararaca, B. jararacussu, B. leucurus, B. lutzi, B. marajoensis,B. moojeni, B. muriciensis, B. neuwiedi e B. pirajai), duas deBothriopsis (B. bilineata e B. taeniata), nove de Micrurus(M. brasilensis, M. corallinus, M. filiformis, M. hemprichii,M. ibiboboca, M. leminiscatus, M. psyches, M. spixii e M.surinamensis), alm de Crotalus durissus, de Lachesis mutae de trs espcies da famlia Dpsadidae: Boiruna sertaneja,Philodryas olfersii e P. patagoniensis (Tabela 2). Estes dados

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    Tabela 1. Instituies consultadas por Estado do Brasil (agosto de 2003 a agosto de 2004).

    Estado InstituioAlagoas Museu de Histria Natural da Universidade Federal de AlagoasBahia Museu de Zoologia da Universidade Federal da Bahia

    Ncleo Regional de Ofiologia e Animais Peonhentos do Departamento de Zoologia da UniversidadeFederal da BahiaLaboratrio de Herpetologia e Animais Peonhentos do Departamento de Zoologia da UniversidadeEstadual de Feira de SantanaCentro de Pesquisas da Lavoura CacaueiraCentro de Informaes Antiveneno da Secretaria de Sade da Bahia

    Distrito Federal Departamento de Zoologia da Universidade de Braslia*Maranho Laboratrio de Herpetologia do Departamento de Biologia da Universidade Federal do MaranhoPar Museu Paraense Emlio Goeldi*Paraba Centro de Intoxicaes da Secretaria de Sade da ParabaPernambuco Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco

    Laboratrio de Rpteis do Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de PernambucoRio de Janeiro Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Instituto Vital BrazilSo Paulo Instituto Butantan

    Museu de Zoologia da Universidade de So PauloMuseu de Histria Natural da Universidade Estadual de Campinas

    * Colees consultadas via Internet ou em perodo anterior vigncia do Projeto.

    Tabela 2. Distribuio das espcies de serpentes de importncia mdica nos Estados do Nordeste brasileiro (agosto de 2003 aagosto de 2004).

    Famlia Espcie Distribuio nos Estados do NordesteViperidae Bothrops atrox (Linnaeus, 1758) SE, AL, PB, CE, PI, MA

    Bothrops brazili Hoge, 1953 MA*Bothrops erythromelas Amaral, 1923 BA, SE, AL, PE, PB, RN, CE, PIBothrops jararaca (Wied, 1824) BABothrops jararacussu Lacerda, 1884 BABothrops leucurus Wagler, 1824 BA, SE, AL, PE, CE, MABothrops lutzi (Miranda-Ribeiro, 1915) BA, PE**, PI, MA**Bothrops marajoensis Hoge, 1966 MABothrops moojeni Hoge, 1966 BA, SE, PE, CE, PI, MA*Bothrops muriciencis Ferrarezzi & Freire, 2001 ALBothrops neuwiedi Wagler, 1824 BA, PB, CE, PIBothrops pirajai Amaral, 1923 BABothriopsis bilineata (Wied, 1825) BA, SE, AL, PE, PB, CE, MA*Bothriopsis taeniata (Wagler, 1824) MA*Crotalus durissus cascavella Linnaeus, 1758 BA, SE, AL, PE, PB, RN, PI, CE, MACrotalus durissus collilineatus Linnaeus, 1758 BA*Lachesis muta (Linnaeus, 1766) BA, SE*, AL, PE, PB, RN*, CE, MA*

    Elapidae Micrurus brasiliensis Roze, 1967 BAMicrurus corallinus Merrem, 1820 BA, SE*, AL*, PE*, PB*, RNMicrurus filiformis Gnther, 1859 MA*Micrurus hemprichii Jan, 1858 MA*Micrurus ibiboboca Merrem, 1820 BA, SE, AL, PE, PB, RN, CE, PI, MAMicrurus lemniscatus Linnaeus, 1758 BA, SE, AL, PE, PB, CE, PI, MAMicrurus paraensis Cunha & Nascimento, 1973 MA*Micrurus spixii Wagler, 1824 MA*Micrurus surinamensis Cuvier, 1817 MA*

    Colubridae Boiruna sertaneja Zaher, 1996 BA, AL, PE, PB, RN, CE, PIPhilodryas olfersii Lichtenstein, 1823 BA, SE, AL, PE, PB, RN, CE, PI, MAPhilodryas patagoniensis Shlegel, 1837 AL, PE, PB

    *Distribuio referida apenas por CAMPBELL & LAMAR (2004). ** Distribuio referida apenas por SILVA (2004) e SILVA & RODRIGUES (2008).

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    indicam que o Nordeste do Brasil possui 43% das serpentesde importncia mdica do Brasil e estas, representam 6,8% dafauna ofdica nacional. A distribuio destas espcies variounos diversos ecossistemas e fitofisionomias de cada Estado.Trs espcies so consideradas endmicas do Nordeste:Bothrops lutzi, registrada neste trabalho para a Bahia e oPiau e referida por Silva (2000) (29) para Pernambuco eMaranho; B. muriciensis, apenas em Alagoas e B. pirajaiapenas na Bahia. Esta ltima encontrava-se, tambm, nacategoria vulnervel, na ltima lista nacional de espciesameaadas de extino do Ministrio do Meio Ambiente(Instruo Normativa n. 3, de 27/05/2003).

    A espcie de distribuio mais ampla foi Crotalus durissus,seguida de Bothrops erythromelas e B. leucurus. A primeira,registrada em todos os Estados nordestinos, a segunda, coma nica exceo do Estado do Maranho e a terceira com anica exceo do Estado do Piau.

    Entre as espcies botrpicas amaznicas raras, foramregistradas B. brazili e B. marajoensis, ambas com ocorrnciarestrita ao Maranho (7), embora a primeira no tenha sidoidentificada nas colees visitadas.

    Entre as nove espcies de Micrurus registradas, M.ibiboboca foi a de ocorrncia mais abrangente nos Estados(todos), seguida de M. lemniscatus (com exceo doMaranho e Rio Grande do Norte) e M. corallinus (com exceodo Maranho, Cear e Piau). M. brasiliensis foi registradaapenas para a Bahia e as outras seis espcies foram restritasao Estado do Maranho, e, mesmo assim, com informaesobtidas na literatura (7).

    Entre as dipsaddeas, apenas Philodryas olfersii foiregistrada em todos os Estados, seguida de Boiruna sertaneja,ausente apenas em Sergipe e no Maranho. P. patagoniensisfoi registrada somente em quatro Estados (Bahia, Alagoas,Pernambuco e Paraba).

    DiscussoEntre as famlias de serpentes de importncia mdica, os

    viperdeos so, sem dvida, o mais importante grupo para asade pblica, devido alta freqncia de acidentes e aosmais graves acidentes registrados, no s no Brasil, mas emoutros pases americanos (20). Para efeito de discusso seroexcludos os dados das serpentes de importncia mdica daFamlia Dipsadidae.

    Entre os Viperdeos, destaca-se o gnero Bothrops comalgumas espcies responsveis pelos 90% dos cerca de 20.000acidentes ofdicos anuais notificados no Brasil (21). Osresultados deste trabalho mostram que 50% (12 das 24espcies) dessas espcies ocorrem no Nordeste brasileiro.Nessa regio, portanto, revela-se uma nova importncia ada obteno dos dados clnico-epidemiolgicos (aindaescassos) das espcies endmicas, alm daqueles que, emboraconhecidos, atinge populaes e ncleos humanos distintosdaqueles j obtidos nas regies Sudeste e Sul do pas. Nessecontexto, destacam-se B. pirajai, endmica do sudeste daBahia e de algumas reas do recncavo baiano, e B.

    muriciencis, endmica do Alagoas, ambas restritas a reas deMata Atlntica ombrfila, um dos biomas mais ameaados domundo devido, principalmente, fragmentao e perda dehabitat.

    Bothrops erythromelas Amaral 1923 (Figuras 1 e 1a) foiconsiderada por muito tempo restrita caatinga (35), mas,Campbell & Lamar (6,7) ampliaram a sua distribuio paraambientes ridos e semi-ridos que circundam florestastropicais secas e decduas, reas rochosas, vegetaesrasteiras de bromlias terrestres e ao longo de margens derios, porm, nunca alcanando o litoral. No entanto, Mise etal. (23) tambm registraram a sua ocorrncia na RegioMetropolitana do Salvador (Lauro de Freitas e Salvador,municpios litorneos caracterizados por apresentaremformaes secundrias de Mata Atlntica e restingas). Aampliao da distribuio desta espcie no est restrita Bahia, mas tambm Paraba, Alagoas e Rio Grande do Norte,ressaltando que, neste ltimo, a caatinga atinge o litoral.Embora constatada a sua ampla distribuio nos Estadosnordestinos, provavelmente esta no seja a principal espciecausadora de acidentes nessa regio, lugar indicado para a B.leucurus na Bahia (15,20). Essa constatao, no entanto, aindacarece de dados sobre a abundncia, aspectos da biologia eetologia das espcies e, principalmente, da sua identificaonos postos de atendimento mdico para os outros Estados.

    Bothrops leucurus Wagler 1824 (Figuras 2 e 2a) a espciede viperdeo mais comum na faixa atlntica do Nordeste, atagora registrada desde o Cear at o Esprito Santo (20,25), desdeo nvel do mar at 300-400m (7). No Estado da Bahia, adapta-sebem a ambientes urbanos densamente povoados, inclusiveos peridomiciliares, com ocorrncia em praticamente todas asfitofisionomias (14,34). Os resultados desse trabalho permitemampliar a sua ocorrncia at o Estado do Maranho e, tambm,a sua distribuio vertical, desde o nvel do mar (RegioMetropolitana do Salvador) at cerca de 1200 m (ChapadaDiamantina, Bahia) (18). No Estado de Pernambuco, B. leucurusfoi encontrada em um remanescente de Mata Atlntica,localizado na regio semi-rida de Pernambuco, na Serra dosCavalos, Parque Ecolgico Joo Vasconcelos Sobrinho,municpio de Caruaru (081836' 083000'S e 360000' 361010'W), em altitude de 900m (13)).

    Atualmente sabe-se que Bothrops moojeni Hoge 1966(Figuras 3 e 3a) a principal espcie dos cerrados brasileiros,distribuindo-se desde o Paran, alcanando os estadosnordestinos, no extremo-oeste da Bahia, sul do Piau e doMaranho (20). Os dados deste trabalho ampliam a suadistribuio para uma regio mais ao norte do Piau (Florianoe Uruu), extremo oeste de Pernambuco (Petrolina) e litoralde Alagoas (Macei), esta ltima registrada na ColeoHerpetolgica do Museu de Zoologia, da Universidade deSo Paulo (USP-SP).

    O complexo B. neuwiedi foi dividido em sete espcies: B.neuwiedi, B. diporus, B. lutzi, B.mattogrosensis, B.pauloensis,B. pubescens e Bothrops marmoratus (7,29,30), alertando quepode haver hibridizao entre elas (29). B. neuwiedi rene,

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    dessa maneira, as antigas B. n. goyasensis, B. n. meridionalis,B. n. paranaensis e B. n. urutu, ocorrendo na Bahia, MinasGerais, Gois, So Paulo, Rio de Janeiro, Esprito Santo eParan. B. lutzi, foi elevada categoria de espcie esinonimizada com B. n. neuwiedi, B. n. piauyensis e B.iglesiasi, com uma ocorrncia restrita ao Maranho, Piau,Cear e Bahia (7,17,29,30). Neste trabalho, Bothrops lutzi Miranda-Ribeiro 1915 (Figuras 4 e 4a) s foi registrada para a Bahia ePiau, embora ela ocorra tambm em Pernambuco e Maranho(29). Bothrops neuwiedi Wagler 1824 (Figuras 5 e 5a) foiregistrada neste trabalho para Bahia, Paraba, Cear e Piau.

    Bothrops jararaca Wied 1824 (Figuras 6 e 6a) a espciemais comum da regio Sudeste do Brasil, ocupa umadiversidade de habitats, desde florestas tropicais esemitropicais decduas, semidecduais, cerrado at regiesantropizadas, como reas cultivadas e zona urbana (7,20). Podeser encontrada desde o sul da Bahia at o Rio Grande do Sul(6,7,28). Recentemente essa distribuio foi ampliada no seulimite norte do Estado da Bahia at os municpios de AmliaRodrigues e Miguel Calmon (11,16). Os dados deste trabalhomantm a distribuio acima, porm, ampliam-na em direoleste-oeste, devido captura de um exemplar no municpio dePalmeiras, vila Caet-Au e um em Ibicoara (Estado da Bahia),ambos na regio da Chapada Diamantina, com altitudes entre400-1.400m, coberta de vegetao aberta, como cerrados ecampos rupestres e, por vezes, fragmentos de matas ciliarescom vegetao densa.

    Bothrops jararacussu Lacerda 1884 (Figuras 7 e 7a), assimcomo a B.jararaca, encontrada predominantemente noSudeste e Sul do pas e no Nordeste, apenas no Estado daBahia. considerada a maior espcie do gnero podendoalcanar 2,5m de comprimento e de maior quantidade de venenonas glndulas (7,20). Da mesma maneira que para B. jararaca,os dados deste trabalho indicam uma ampliao da suadistribuio no sentido leste-sudoeste da Bahia, alcanandoo municpio de Vitria da Conquista. H referncia de capturade exemplares em lavouras de cacau no municpio de BoaNova, entre 700 e 900m de altitude (3).

    At a dcada de 80 Bothrops marajoensis (Figura 8) eraconsiderada endmica das savanas da Ilha de Maraj, noEstado do Par (12), mas, recentemente, constatou-se a suadistribuio nas terras de baixa altitude da costa do delta doRio Amazonas no muito acima do nvel do mar (7). Osresultados confirmam sua ocorrncia no estado do Maranho,municpios de So Lus e Pinheiro, a partir de exemplaresdepositados na Coleo Herpetolgica do Instituto Butantan(IB-SP).

    Bothrops atrox Linnaeus, 1758 habita praticamente todosos pases da Amrica do Sul, com exceo do Chile, Paraguai,Uruguai e Argentina (6,7), tratando-se de um complexo deespcies das florestas amaznica e atlntica, consiste em umasrie de populaes animais nesta faixa de distribuio. NoBrasil, B. atrox (Figuras 9 e 9a) sempre foi referida para aregio amaznica, ocorrendo no Nordeste apenas no estadodo Maranho. Os dados deste trabalho ampliam a sua

    distribuio para os estados do Alagoas, Paraba, Cear ePiau, corroborando o seu registro em 1995, para Sergipe (19).As suspeitas de que os registros no Nordeste do Pas tenhamsido baseados em exemplares de B. leucurus (7), podem serdescartadas, na medida em que foram examinados econfirmados, nesse trabalho, os exemplares que j estavamidentificados na Coleo Herpetolgica do Instituto Butantan(SP).

    Entre as espcies endmicas do Nordeste, esto B. lutzi,B. muriciencis e B. pirajai.

    Como j referido, B. lutzi ocorre na Bahia, Piau, Pernambucoe Maranho. B. muriciencis (Figuras 10 e 10a) foi descrita por(10), como endmica do municpio de Murici, encontrada naMata de Murici, maior remanescente de floresta atlntica noEstado de Alagoas, distante apenas 70 km da capital, Macei.Os tipos de B. muriciencis, depositados na ColeoHerpetolgica do Museu Nacional da Universidade Federaldo Rio de Janeiro, foram examinados e confirmados.

    Desde a descrio de Bothrops pirajai (Figuras 11 e 11a)em 1923, so escassas as citaes deste animal, assim comopoucas as informaes sobre a sua histria natural. Alocalidade-tipo desta espcie o municpio de Ilhus, no sulda Bahia e os registros posteriores indicam a sua ocorrnciapara outros municpios das regies Centro e Sul e para omunicpio de Monte Santo, entre os Rios Itapicuru e SoFrancisco, no Centro-Oeste do mesmo Estado (3,6,7). Pareceum animal restrito s reas de floresta primria de terras demdia e baixa altitude, aparecendo em plantaes de cacau ecabruca. A publicao da nova lista das espcies da faunabrasileira ameaada de extino coloca esta jararaca, nacategoria Em Perigo (Instruo Normativa do Ministrio doMeio Ambiente, n. 3, de 27/05/2003), indicando fortementemaiores estudos que subsidiem a sua conservao. Trata-sede uma espcie rara, conforme indica o pequeno nmero deexemplares j obtidos e os depoimentos de pessoas residentesem reas onde foi coletada (3).

    Bothriopsis bilineata (Figuras 12 e 12a) uma serpenteabundante nas florestas primrias, com uma estreitaassociao com cursos dgua. Alguns autores referem queela encontrada sobre troncos de rvores ao longo de crregose nas bordas das clareiras de florestas, outros afirmam t-laencontrado somente em floresta primria ou em florestassecundrias antigas prximas s matas primrias (6,7). Osregistros deste trabalho indicam a sua distribuio para osfragmentos de Mata Atlntica dos Estados da Bahia, Alagoas,Sergipe, Paraba, Pernambuco e Cear.

    A situao das populaes de Lachesis muta (Figuras 13e 13a) na Mata atlntica est intimamente associada deteriorao deste Bioma, originalmente distribudo em umarea superior a 1,3 milho de km, em 17 Estados brasileiros,ocupando cerca de 15% do territrio nacional. Hoje estreduzido a menos de 7% desse total, ou cerca de 100 mil km,resultado dos impactos dos diferentes ciclos de exploraoeconmica desde o incio da colonizao europia e da altadensidade demogrfica em sua rea de abrangncia.

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    Figura 1. Bothrops erythromelas Amaral 1923. Foto: BrenoHamdan.

    Figura 2. Bothrops leucurus Wagler 1824. Foto: BrenoHamdan.

    Figura 3. Bothrops moojeni Hoge 1966. Foto: Breno Hamdan.

    Figura 4. Bothrops lutzi Miranda-Ribeiro 1915. Foto: DanielLoebmann.

    Figura 5. Bothrops neuwiedi Wagler 1824. Foto LucianaCasais.

    Figura 6. Bothrops jararaca Wied 1824. Foto: Breno Hamdan.

  • 13Gaz. md. Bahia 2009;79 (Supl.1):7-20 Serpentes de Importncia Mdica do Nordeste

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    Figura 1a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropserythromelas no Nordeste do Brasil.

    Figura 2a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsleucurus no Nordeste do Brasil.

    Figura 3a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsmoojeni no Nordeste do Brasil.

    Figura 4a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropslutzi no Nordeste do Brasil.

    Figura 5a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsneuwiedi no Nordeste do Brasil.

    Figura 6a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsjararaca no Nordeste do Brasil.

    BERYTHROMELAS

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B lutzi

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B leucurus

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B neuwiedi

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B moojeni

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B jararaca

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

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    Figura 7. Bothrops jararacussu Lacerda 1884. Foto: BrenoHamdan.

    Figura 9. Bothrops atrox Linnaeus, 1758. Foto: Luciana Casais.

    Figura 10. Bothrops muriciencis Ferrarezzi & Freire 2001. Foto:Jiancarlo Ulloa.

    Figura 11. Bothrops pirajai Amaral 1923. Foto: Breno Hamdan.

    Figura 12. Bothriopsis bilineata Wied 1825. Foto: BrenoHamdan.

    encontrada desde o norte do Estado do Rio de Janeiro at aParaba, com alguns enclaves midos do Cear e, provavelmente,do Piau (20). Dos 8 estados nordestinos citados na suadistribuio, apenas em quatro deles pde-se identificarexemplares, dos quais a Bahia foi o que apresentou a maiorquantidade de registros, particularmente no litoral sul (92,9%de todos os registros neste Estado) (33). Existe uma verdadeiracarncia de dados biolgicos e, principalmente, ecolgicos,desta espcie. A dificuldade em encontrar indivduos no campoou, at mesmo, registrados em colees cientficas, evidenciatal raridade. Dentre todas as 17 colees visitadas no decorrerdeste trabalho foram contabilizados registros de 101 indivduosnos ltimos cem anos. Apesar da maioria dos indivduosestudados nesse trabalho terem sido encontrados em reas deconservao da Bahia, isto no suficiente para determinarque as populaes encontram-se livres do risco de extino,uma vez que no existem estudos sobre a relao do tamanhodo fragmento e as necessidades biolgicas da espcie (33).

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    Figura 7a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsjararacussu no Nordeste do Brasil.

    Figura 8. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsmarajoensis no Nordeste do Brasil.

    Figura 9a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsatrox no Nordeste do Brasil.

    Figura 10a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropsmuriciencis no Nordeste do Brasil.

    Figura 11a. Distribuio geogrfica dos registros de Bothropspirajai no Nordeste do Brasil.

    Figura 12a. Distribuio geogrfica dos registros deBothriopsis bilineata no Nordeste do Brasil.

    B bilineatus

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B jararacussu

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B muriciensis

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B marajoensis

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B pirajai

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    B atrox

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

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    Figura 13. Lachesis muta Linnaeus 1776. Foto: GiuseppePuorto.

    Figura 14. Crotalus durissus cascavella Linnaeus 1758. Foto:Breno Hamdan.

    Figura 15. Micrurus ibiboboca Merrem 1820. Foto: LucianaCasais.

    Figura 16. Micrurus lemniscatus Linnaeus 1758. Foto:Luciana Casais.

    Figura 18. Micrurus corallinus Linnaeus 1758. Foto: AntnioJorge S. Argolo.

    As cascavis (Crotalus durissus) tm sido reconhecidas,ao longo do tempo, como ocorrendo em regies ridas ousemi-ridas. O Ministrio da Sade, bem como o prprioInstituto Butantan (So Paulo) tm pontuado a suadistribuio excluindo-a do litoral brasileiro e Campbell &Lamar(7) ainda referem que esta espcie parece estar ausenteda costa atlntica do Brasil. No entanto, os 502 registros destetrabalho, indicam a presena C. durissus cascavella (Figuras14 e 14a) em pelo menos sete dos 10 municpios da RegioMetropolitana de Salvador e em sete, dos 20 municpios doLitoral Norte da Bahia, onde, decididamente, o clima no rido e muitas dessas ocorrncias esto localizadas emambiente de dunas e restingas dentro do bioma de MataAtlntica. Nesse aspecto, chamam a ateno os registrosrecentes de quatro exemplares em Salvador, dos quais trsnos bairros da Paralela, Cabula e Stella Maris. Apesar de Miseet al. (24) j terem considerado os registros dessa serpente nos

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    Figura 13a. Distribuio geogrfica dos registros de Lachesismuta no Nordeste do Brasil.

    Figura 14a. Distribuio geogrfica dos registros de Crotalusdurissus cascavella no Nordeste do Brasil.

    Figura 15a. Distribuio geogrfica dos registros de Micrurusibiboboca no Nordeste do Brasil.

    Figura 16a. Distribuio geogrfica dos registros de Micruruslemniscatus no Nordeste do Brasil.

    Figura 17. Distribuio geogrfica dos registros de Micrurusbrasiliensis no Nordeste do Brasil.

    Figura 18a. Distribuio geogrfica dos registros de Micruruscorallinus no Nordeste do Brasil.

    M corallinus

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    Lachesis

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    M lemniscatus

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    Crotalus

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    M frontalis

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

    M ibiboboca

    at 00 --| 55 --| 5050 --| 500

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    municpios litorneos da Bahia como uma ampliao na suadistribuio geogrfica atriburam-na ao crescentedesmatamento durante o processo de metropolizao dacidade do Salvador para ambientes que foram antropizadosao longo do tempo e, portanto, tornaram-se abertos permitindoa sua migrao do cerrado ou da caatinga para o litoral dedunas e restingas. No entanto, h indcios da existncia decascavis no sculo XVI, na abrangncia da cidade que estavase formando (Salvador) quando ainda era caracterizada pela densaMata Atlntica que recobria a larga faixa litornea nordestina (31).Este dado sugere que este animal pode ter migrado para a costaquando ela ainda esta era rida (logo depois do final da ultimaglaciao) e se manteve nos enclaves mais abertos, no caso asrestingas, quando a costa comeou a ser tomada por florestas.Em todos os outros Estados do Nordeste, houve registrosespordicos de Crotalus durissus em vrios municpios, porm,os dados mais consistentes e que permitem uma anlise maisapurada so aqueles do Estado da Bahia.

    As duas espcies de Micrurus mais amplamentedistribudas no Nordeste so, sem dvida M. ibiboboca e M.lemniscatus, ambas com padro coral de colorao em trade.No s estas, mas outras espcies desse gnero compreendemgrupos complexos e por suas caractersticas fossoriais, osestudos so difceis e, conseqentemente escassos. Optou-se neste trabalho pela orientao de Campbell & Lamar (7), aqual no foi suficiente para separar alguns exemplaresexaminados, devido sobreposio de caracteres, o querefora a importncia de uma reviso cuidadosa destas duasespcies.

    M. ibiboboca (Figuras 15 e 15a) um animal adaptado aregies xerofticas semiridas como a caatinga nordestina, semreferncia at agora de outra espcie simptrica do gnero(6,7,35). Presente em todos os Estados nordestinos, embora asua distribuio meridional no esteja bem estabelecida, estdescrita para Minas Gerais, Gois e Rio de Janeiro. Costumaser confundida com M. lemniscatus que habita a mesma regio,mas na faixa litornea (20).

    M. lemniscatus (Figuras 16 e 16a) distribui-se no vale dabacia amaznica, cerrados do Brasil Central e uma larga faixalitornea, desde o Rio Grande do Norte at o Rio de Janeiro(20), o que demonstra seu habitat variado, desde reas abertascomo savanas, regies rochosas e plancies submetidas ainundaes at formaes de florestas tropicais midas,associaes de florestas de galeria e florestas secundrias.So encontradas tambm prximas de habitaes humanas eem ambientes midos ou aquticos. Os novos registros destetrabalho ampliam a distribuio desta espcie para o Piau,onde ainda no tinha sido registrada e, na Bahia, para aChapada Diamantina e sudoeste do Estado, onde ocorre emsimpatria com M. ibiboboca, discordando das observaesde Campbell & Lamar (7).

    M. brasiliensis (Figuras 17) ocorre no Brasil Central, doMato Grosso, Gois, Minas Gerais e Bahia at o sul do Paraguai,primariamente em altitudes de cerca de 700m (7). Importasalientar que as espcies acima descritas, M. ibiboboca, M.

    leminiscatus e M. brasiliensis, compreendem um grupo queapresenta caractersticas morfolgicas muito prximas, o quejustifica a ateno dos pesquisadores.

    M. corallinus (Figuras 18 e 18a) uma coral de pequenoporte, medindo de 500-980 mm com anis pretos simples, entredois brancos, diferindo assim da maioria das espciesbrasileiras com padro coral de colorao, que apresentamtrades de anis pretos entre os vermelhos. Parece serdependente da umidade da mata o que faz com que suaexistncia esteja relacionada com a presena de ambientesflorestais (20). uma das espcies de corais mais comum nasregies sul e sudeste do pas, ocorrendo principalmente nafaixa litornea, desde Ilhus na Bahia, at Santa Catarina enoroeste do Rio Grande do Sul(20), com uma distribuiovertical de 500m. Porm, essa distribuio foi ampliada noNordeste, desde 1996 atingindo o municpio de Simes Filho,na Bahia e a reserva de Nsea Floresta, no Rio Grande doNorte (9).

    Devido influncia amaznica no Estado do Maranho,cinco espcies de corais amaznicas esto assinaladas para oNordeste, restritas a este Estado: M. filiformis, M. hemprichi,M. paraensis, M. spixii e M. surinamensis (7), porm, nenhumadelas foi registrada nas colees cientficas e/ou regionaisvisitadas, decorrentes deste trabalho.

    ConclusesConsiderando que a maior parte dos dados aqui analisados

    refere-se a registros e animais consultados em coleescientficas e/ou regionais, principalmente na coleo doInstituto Butantan (SP) (52,21%), deve-se inferir que, na suamaioria, foram animais remetidos das diversas localidades doNordeste e, portanto, refere-se a dados numericamenteestimativos e no representativos de uma freqnciadistributiva que possa explicar os fatores que porventuraestejam influenciando essa distribuio. Indicam muito maiso encontro do animal com o homem, por fatores possivelmenteimpactantes naturais (como queimadas ou precipitaochuvosa elevada) ou de interveno antrpica (comoconstruo de barragens, queimadas para agricultura), do que,propriamente, zoogeogrficos. Apesar disso, devido aonmero de exemplares analisados e credibilidade de suasrespectivas fontes, pode-se afirmar que a fauna ofdica deimportncia mdica no Nordeste mais diversa do que seimaginava, perfazendo 43% das espcies brasileiras. Pode-se,ainda, indicar as principais espcies que devem ser melhorestudadas, devido sua abrangncia geogrfica epossibilidade de encontro com a populao humana, comoBothrops erythromelas, B.leucurus, Micrurus ibiboboca eM. lemniscatus.

    AgradecimentosOs autores agradecem aos representantes das Secretarias

    de Sade dos Estados da Bahia, Daisy Schwab Rodrigues(CIAVE); da Paraba, Maria de Ftima Leandro Marques(CEATOX/Joo Pessoa) e Sayonara Ma. Lia Fook Meira

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    (CEATOX/Campina Grande e Universidade Estadual daParaba); de Alagoas, Dr. Valmir Costa; de Pernambuco Dr.Doralcio Fortes Lins e Silva; do Piau, Dr. Francisco de AssisBorges Moraes; de Sergipe, Dr. Antnio Medeiros Venncio;do Cear, Dr. Benedito Neilson Roli e do Maranho, Dr.Jakeline Maria Trinta Rios, os quais permitiram o acesso aosanimais conservados responsveis pelos acidentes ofdicos.Agradecem tambm aos curadores das colees cientficasherpetolgicas: Dr. Ana Lcia Prudente da Costa (MuseuParaense Emlio Goeldi), Dr. Anbal Rafael Melgarejo Gimenez(Instituto Vital Brazil), Dr. Antonia Marli Vieira da Encarnao(Centro de Pesquisas da Lavoura Cacaueira - CEPLAC), Dr.Diva Maria Borges-Nojosa (Universidade Federal do Cear),Dr. Flora Alcua Junca (Universidade Estadual de Feira deSantana), Dr. Francisco Lus Franco (Instituto Butantan), Dr.Giuseppe Puorto (Diretor do Museu Biolgico do InstitutoButantan), Dr. Gabriel Omar Skuk Sugliano (Museu de HistriaNatural da Universidade Federal de Alagoas), Dr. Gilda V.Andrade (Departamento de Zoologia da Universidade Federaldo Maranho), Dr. Guarino Colli (Instituto Central de Cinciasda Universidade de Braslia), Dr. Hussan Zaher (Museu deZoologia da Universidade de So Paulo), Dr. Ivan Sazima(Museu de Histria Natural da Universidade Estadual deCampinas), Dr. Jlio Csar de Moura-Leite (Museu de HistriaNatural Capo da Imbuia da Pontfica Universidade Catlica doParan), Dr. Miriam Camargo Guarnieri (Universidade Federalde Pernambuco), Dr. Ronaldo Fernandes (Museu Nacional daUniversidade Federal do Rio de Janeiro) e Prof MsC ZenildeMoreira Borges de Morais (Universidade Federal Rural dePernambuco). Agradecemos tambm aos colaboradores, entrebolsistas do Projeto, tcnicos estudantes de Mestrado eestagirios do Ncleo Regional de Ofiologia e AnimaisPeonhentos (NOAP/UFBA), alm daqueles das instituiesque nos receberam: Agustn Camacho Guerrero (UFBA), AizeAnne Alves do Nascimento (FTC), Arnaldo Jnior (UFPE), BrenoHamdan (UFBA), Bruno Santos Ambrosi (FTC), Carlos Estevode Souza Jnior (FTC), Clarissa Machado Pinto Leite (UFBA),Eduardo Freire de Abreu Brasileiro (FTC), Eduardo MendesFattori Gonalves (UFBA), Fbio Conceio de Menezes (FTC),Fernanda Rodamilans (UFBA), Guilherme Mortimer Jordo(UFBA), Ilca Priscila de Arajo (UFPE), Isabela Mariz (UFPE),Lina Maria Almeida Silva (UFBA), Lucas Rhr (UFPE), MarcoTullio Lima Barreto (UEPB), Mrio Ferreira (UFPE), Milena Pinho(UFPE), Ricardo de Faria Jnior (UFBA), Roberta SmaniaMarques (UFBA), Simone Santos Silva (CIAVE).

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