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Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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OITO DIAS
Amor e Sofrimento
Ádria Freitas
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Copyright © 2018 por Ádria Freitas
Título original: Oito dias
Capa e projeto gráfico: Estúdio AA Design
Ilustrações: Ádria Freitas
Revisão: Catharine Gomes
2ª Edição – 2º impressão
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser
utilizada ou reproduzida, por qualquer forma ou meio, seja ele
mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc., tampouco
apropriada ou estocada em sistema de bando de dados, sem expressa
autorização da editora (Lei nº 5.988, de 14/12/1973)
Este livro adota as regras do novo acordo ortográfico (2009).
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Dedico este livro aos meus pais que sempre estiveram
ao meu lado em todos os momentos da minha vida, meu irmão
Anderson que sempre me incentivou esquecer a gramatica e
criar a história, meu irmão Alexandre que sua vida é para mim
muitas vezes uma inspiração para criar personagens
autênticos, minhas amigas Catharina, Julia e Cassia que foram
minhas cobaias para lerem alguns dos meus livros sempre
prestativas e carinhosas, meu filho Max e minha nora Luana
que sempre torceram para meu sucesso, minha querida sogra
Dona Lourdes que amo como uma mãe do fundo do meu
coração, minha comadre Onília e meu querido esposo Celestino
Neto que sempre cuidou de tudo enquanto eu escrevia minhas
obras, quero agradecer também a todos meus amigos e
familiares que de alguma forma estavam presente na minha
vida.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Terceiro ano do Ensino médio (1989) início das
aulas, os alunos estavam eufóricos reencontrando seus
antigos e novos amigos.
Júlia, Fatinha e Amanda as três amigas se
abraçaram demostrando muita saudade.
- Olá Júlia e Fatinha como foram as férias de vocês?
- Eu não via a hora de voltar Amanda, Nossa! não
aguentava mais ficar em casa. Disse Fatinha eufórica.
- Eu também queria muito voltar, na escola é muito
mais interessante que ficar em casa. Disse Júlia.
- E você Amanda o que fez? Perguntou curiosa
Fatinha.
- Como sempre fiquei estudando, este é o último
ano do ensino médio então não podemos vacilar! As três
Capítulo I
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sentaram-se no pátio e ficaram conversando
animadamente até o sinal da escola bater.
Júlia e Fatinha eram irmãs, filhas de pais ricos
estudavam no colégio Armandinho Alves desde o ensino
básico, Amanda foi estudar no colégio no início do ensino
médio através de uma bolsa e logo se simpatizou com as
duas irmãs e ficaram muito amigas.
Amanda era pobre vivia com seus pais e sua avó
materna dona Albertina, sua vida era simples, mas cheia
de significado, era estudiosa, carinhosa com sua família,
respeitava os professores era um exemplo de menina,
com dezenove anos sua vida era da casa para o colégio,
sonhava em viajar o mundo, adorava a natureza, sempre
sonhadora, quando não estava com suas duas amigas
Júlia e Fatinha ficava sozinha olhando pela janela o trem
passar, o colégio ficava próximo a uma ferrovia que para
aqueles jovens era cheio de mistério e aventuras.
Assim que o sinal bateu os alunos que estavam
olhando um painel no pátio do colégio, foram cada um
para sua sala indicada.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Para alívio das três amigas, elas ficaram na mesma
sala 3º A, assim que Fatinha entrou na sala, foi para o
fundão, Amanda e Júlia ficaram sentadas na frente no
canto esquerdo da sala, Fatinha já sabia que a amiga e
sua irmã não gostavam de ficar no fundo e não se
incomodou, pois ela era muito popular no colégio e
gostava do fundo para analisar seus novos pretendentes.
Alguns novos alunos entravam na sala não
despertando o interesse de Fatinha que estava atenta,
logo um rapaz alto e bem vestido entrou na sala
despertando o interesse geral da sala, era Felipe olhos
verdes, cabelos pretos, entrou todo imponente e sentou
também no fundo da sala do lado direito de Fatinha que
não tirou os olhos do rapaz, nem ela e nenhuma das
meninas com exceção de Amanda que já estava
procurando saber quem seria o primeiro professor da
noite.
Felipe logo observou que ela foi a única moça na
sala que nem olhou para ele, deixando o rapaz intrigado
e interessado. Felipe vinha de família rica seus pais eram
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empresários no ramo de supermercados, ele era muito
mimado pela mãe, mas mesmo assim se sentia
incompreendido e só confiava seus segredos no seu irmão
mais velho Bruno que estava completando vinte dois anos
naquela semana das voltas as aulas, atualmente Bruno
trabalhava como mecânico terminou o ensino médio e não
quis mais saber de estudar, foi morar sozinho assim que
terminou um namoro complicado e já havia anteriormente
causado muitos problemas para seus pais que acabaram
expulsando o filho de casa sem direito a nenhum recurso
financeiro, mas Bruno depois da adolescência conturbada
se aplumou na vida e passou a se sustentar com seu
próprio trabalho, não necessitando mais da ajuda de
ninguém, mas hoje Bruno tinha um carinho especial por
sua família e já tinha feito as pazes com eles.
Bruno tinha olhos verdes acinzentados, cabelos
pretos e corpo atlético com várias tatuagens, apesar de
suas afeições rusticas pela dura vida que levava
atualmente, era um rapaz muito atraente onde passava
encantava as mulheres e alguns homens, mas Bruno era
muito reservado estava decepcionado com as mulheres
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que sempre se tornavam obsessivas e ciumentas. Decidiu
ficar sozinho depois da última namorada.
A única preocupação de Bruno atualmente era seu
irmão Felipe, sempre livrava o irmão de perigos e brigas
que ele provocava por ser folgado e mimado.
Felipe após o segundo ano do ensino médio não quis
mais estudar no colégio que estava e pediu transferência
para o colégio Armandinho Alves por ser o colégio mais
caro da região que morava e onde seu irmão Bruno havia
estudado ensino fundamental, seguindo o amigo Lucas
que já havia pedido a transferência para lá, Lucas era um
rapaz alegre, bonito, loiro com grandes olhos azuis, muito
dedicado aos estudos o rapaz ajudou Felipe em uma prova
de matemática conseguindo passar com uma excelente
nota, depois desse dia os dois ficaram muito amigos.
Lucas era o único filho de uma família de classe
média estava com dezenove anos só pensava em perder
a sua virgindade que era seu segredo mais terrível.
Felipe nem desconfiava que o amigo era virgem,
pois Lucas demostrava total habilidades com as moças de
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sua idade, mas no momento de namorar ou ter algo mais
sério ele sempre dava uma desculpa e escapava voltando
à estaca zero.
Os pais de Lucas brigavam o tempo todo, sua mãe
era superprotetora e Lucas se fechava no quarto
deprimido e mergulhava em seus livros estudando
obsessivamente todas as matérias do colégio com seu
fone de ouvido se excluindo totalmente daquele ambiente
sem diálogo de seus pais, seu ponto de apoio era a escola,
lá conseguia viver uma vida que sempre sonhou, amigos,
moças e se livrava das preocupações de casa.
Todos esses jovens estavam começando um novo
ano de muitas expectativas e sonhos, seus problemas
familiares para eles eram seus pais e seus medos
internos, tudo na vida deles era problemas, diversão e
azaração.
Todos os professores apresentados, trabalhos
encaminhados e a turma só pensava em se conhecer,
Fatinha logo se apresentou para Felipe que não deu a
mínima atenção para ela que ficou irritada com a desfeita,
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sendo ela a mais popular e requisitada do colégio ficou
indignada e comentou com as amigas, mas Júlia nem deu
importância sabia como a irmã era e também se
interessou por Felipe, Amanda nem queria saber do
assunto envolvida nas ideias para os trabalhos estava
interessada quem seria do seu grupo para começar logo
fazer as pesquisas adiantadas para não deixar para o fim
do semestre.
O Coordenador da sala montou os grupos de estudo
e Fatinha, Amanda e Júlia ficaram juntas, pois ninguém
ousava a separar as meninas, acrescentaram Felipe e
Lucas no grupo delas que fez Fatinha pular de alegria e
Felipe também ficou supersatisfeito queria muito se
aproximar de Amanda.
Poucas horas conhecendo o grupo Felipe ficou
apaixonado por Amanda naquele ano decidiu se interessar
pelas aulas só para impressionar a moça, Júlia suspirava
por Felipe como sua irmã também. Lucas logo se
interessou por Júlia, mas a moça só tinha olhos para
Felipe.
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Depois do mês de janeiro a turma já estava toda em
harmonia, os velhos amigos e os novos, nem começou o
ano e já havia um grande feriado se aproximando,
deixando os jovens cheios de energias e criatividade,
naquele ano o feriado de carnaval no colégio Armandinho
Alves teria uma semana, pois haveria uma reforma rápida
no colégio que não conseguiram terminar nas férias.
Foi Felipe que deu a ideia de um acampamento para
aproveitar o feriadão longo, todos gostaram da ideia e
cada um do grupo tinham que resolver com suas famílias
uma forma de obter autorização de seus pais para viajar.
Amanda chegou em casa feliz e foi logo conversar
com sua mãe.
Capítulo II
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- Mãe meus amigos do colégio vão acampar posso
ir?
- Por mim não tem problema filha, mas fala com seu
pai!
Amanda esperou ansiosa seu pai chegar do trabalho
para falar com ele e assim que ele entrou em casa ela foi
logo o abordando.
- Pai preciso falar com o senhor!
- Fala filha o que aconteceu?
- Meus amigos do colégio vão acampar posso ir?
- Quem vai?
- Três meninas contando comigo se eu for claro, e
dois meninos novos da minha sala.
- Onde vão dormir os meninos? Perguntou o pai de
Amanda sorrindo.
- Cada um vai dormir em barracas separadas pai.
- Ah então pode ir, confiamos em você!
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Amanda beijou seu pai e sua mãe e os abraçou com
carinho e disse:
- Fiquem tranquilos tomarei cuidado.
Fatinha e Júlia nem perguntou nada para seus pais,
resolveram mentir, que a mãe de uma amiga ia passar o
feriado de carnaval na praia e convidou as duas para ir
ficar oito dias com a família dela, o pai delas nem se
importou e a mãe pediu para Fatinha anotar o telefone da
casa da mãe da sua amiga e que podia ir, mas Fatinha
anotou qualquer telefone, sabia que por hora sua mãe não
ia conferir.
Lucas nem conseguiu falar com seus pais que
estavam novamente brigados, já havia decidido ir para o
acampamento sem falar com eles, pois seus pais nem iam
sentir sua falta mesmo, pensava em sua cama olhando
para o teto com o fone no ouvido.
A mãe de Felipe não permitiu ele ir ao passeio,
morria de medo que acontecesse algo ruim com o filho, o
pai do rapaz estava muito preocupado com tanta atenção
que Norma tinha em relação ao filho caçula, foi assim que
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aconteceu com Bruno seu filho mais velho, era tanta
dedicação que Bruno abriu mão do conforto na casa dos
pais para viver sozinho, resolveu conversar com a esposa
com carinho para que ela não cometesse o mesmo erro
com o outro filho e afastasse ele também, o pai de Felipe
demostrava ser durão, mas morria de saudade do outro
filho Bruno.
Felipe estava inconformado com a decisão de sua
mãe e foi falar com ela, dona Norma estava na cozinha
preparando a janta quando Felipe entrou já com seus
questionamentos.
- Mãe eu dei a ideia do acampamento porque eu
não posso ir?
- Nem pensar, você sozinho no meio do mato com
um bando de adolescente sem nenhuma
responsabilidade.
O pai de Felipe tentou argumentar.
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- Mulher deixa esse menino se divertir, sempre teve
ótimas notas e feriado é assim felicidade, alegria o deixa
ir!
- Não vamos mais falar nesse assunto, minha
resposta é não!
Felipe saiu batendo os pés revoltado, bateu a porta
e se trancou no quarto, pegou o celular e ligou para o seu
irmão Bruno.
- Alô!
- Bruno! Sou eu Felipe!
- Fala mano, o que pega?
- O que pega é a mãe, no meu pé sempre!
- O que você aprontou agora moleque?
- Não fiz nada eu só quero acampar com o pessoal
da minha sala, eu dei a ideia para passar oito dias do
feriado em Guararema acampado, mas a mãe nem quis
conversar e disse não, o que eu faço mano?
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- Não sei, quando a mãe diz não dificilmente muda
de ideia.
- Por favor Bruno fala com ela, estou apaixonado
por uma moça e se ela for quero ficar com ela sem os
olhos do inspetor do colégio, ele não deixa as moças
chegar nem perto da gente e a mãe não me deixa sair à
noite com meus amigos sou um prisioneiro nesta casa.
- Entendo, aquele inspetor não muda mesmo, na
minha época era difícil, concordo com você um bom lugar
para se livrar dos adultos é um bom acampamento e a
mãe não muda mesmo.
- Você já acampou Bruno?
- Claro várias vezes, e vou te falar é muito bom,
mas tem que ter responsabilidade, nada de beber até cair
e nada de drogas.
- Eu só quero a Amanda vou até levar camisinha
você arruma para mim?
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- Opa! Calma aí, primeiro você tem que ir, depois
pensa o que vai levar, daqui a pouco estarei aí, a mãe não
pode continuar te tratando com um bebezinho.
- Obrigado meu irmão!
- Obrigado nada, vou cobrar o favor! Bruno deu uma
deliciosa risada e desligou o celular.
Depois de duas horas Bruno chegou na casa de seus
pais, foi recebido com carinho por sua mãe, mas logo que
começou a falar sobre o assunto acampamento os dois
começaram a brigar.
- Nem vem com essa conversa, você saiu de casa,
fez tudo que quis e Felipe não vai fazer o que você fez.
- Mãe, não adianta Felipe tem dezoito anos, assim
que completar vinte um vai fazer como eu, sair sem dar
satisfação, mãe a senhora tem que aprender a lhe dar
com isso, não ficaremos para sempre adolescentes.
- Assim você me magoa filho, faço de tudo para
proteger, amar vocês e o que levo?
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- Mãe, amamos a senhora, mas temos nossas vidas,
nossas vontades, nossos sonhos e a liberdade é nossa
única forma de viver esses anseios.
- Você vive sozinho, trabalhando de mecânico, podia
fazer engenharia em uma faculdade, mas largou tudo e
quer levar seu irmão pelo mesmo caminho?
- Não mãe, Felipe é diferente é estudioso, vai fazer
faculdade, pensa longe, mas se a senhora fizer isso com
ele, tirar sua alegria, prender como uma menina em casa,
aí sim a senhora vai perde-lo.
O pai de Felipe ouvia calado, desde que Bruno saiu
de casa não falou mais com o filho, mas concordava com
a cabeça deixando a mãe desesperada ao olhar para o
marido.
- Mas filho esse lugar tem bandidos, drogados é um
perigo ir para mata sozinho.
- Mãe, todo o lugar tem bandidos, drogas e muitas
coisas ruins, depende de cada um querer essas coisas ou
não.
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- Ele pode ser assaltado!
De repente o pai de Felipe levantou do sofá e disse
bravo.
- Chega! Você está me enlouquecendo mulher,
Felipe parece um bebe de nove meses, que inferno, deixa
ele sair, namorar, viver, você sufoca nossos filhos!
Entendo sua preocupação de mãe, mas não pode ser
assim meu bem, seja mais flexível.
- Tudo bem, eu deixo se o Bruno for junto, se não
sem chance!
- Eu ir acampar com um bando de adolescentes?
Jamais! Preciso trabalhar ganho mil e quinhentos por dia
arrumando carro de bacana como vocês, não vou deixar
de trabalhar para ser baba do Felipe.
- Então nada feito! Disse a mãe decidida.
Felipe sentou no sofá com a cabeça baixa entre as
mãos.
- Tudo bem, eu pago! Disse o pai.
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- Como assim? Perguntou assustado Bruno.
- Eu te dou dois mil por dia para ser a baba do seu
irmão e mais cinco mil para comprar tudo para esse
acampamento, que seja o melhor passeio da vida dele.
- O senhor está brincando né pai?
- Não, estou falando sério e tem mais se for com
seu irmão neste acampamento e trouxer ele sã e salvo eu
perdoo você por ter saído de casa, abandonado a
faculdade e toda boa vida que poderíamos te dar e você
desprezou.
- Isso é chantagem!
- Não é negociação, então aceita ou não? Já estou
com sono preciso dormir.
Bruno olhou para sua mãe e seu irmão e mesmo
contrariado disse:
- Tudo bem só dessa vez! Eu vou, com essa grana
já fiz o mês. Pegou a jaqueta que tinha deixando no sofá
e saiu dizendo:
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- Felipe te encontro as seis da manhã no sábado na
estação da luz.
Felipe ficou todo eufórico beijou sua mãe e seu pai
e deu um abraço no irmão, depois foi dormir animado não
via a hora de chegar no colégio e falar com sua turma.
No dia seguinte, Felipe chegou contando a novidade
para turma que seus pais haviam deixado ele ir acampar,
cada um falou das experiências com os pais e naquele dia
nem conseguiram prestar atenção nas aulas, passaram a
planejar o passeio detalhe por detalhe, dividindo quem iria
levar determinadas comidas, panelas, colchonetes etc.
Era sexta-feira ao chegar em casa Felipe ligou para
seu irmão Bruno.
- Alô! Atendeu Bruno.
- Oi Bruno sou eu, você já comprou tudo para o
acampamento, na escola a turma dividiu as comidas para
cada um levar, minha parte ficou com os miojos, molhos
e bolachas, você comprou? O pai já transferiu o dinheiro
para sua conta.
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- Calma Felipe! comprei tudo até a mais dessa sua
lista, comprei a barraca, cantil, panelas, equipamento de
sobrevivência e alguns remédios, camisinha, comida e
muito mais.
- Beleza te vejo amanhã as seis da manhã na
estação da luz, valeu!
- Valeu! Relaxa irmãozinho não vai ter um
piripaque! Bruno deu uma gargalhada e desligou o
telefone.
Bruno morava em um apartamento simples, que
ficava em cima da oficina que ele trabalhava, da sua cama
que ficava ao lado da janela, dava para observar o céu e
naquela noite ele estava com uma lua linda e todo
estrelado, o fazendo relembrar seu tempo de adolescente,
era igualzinho ao seu irmão Felipe, eufórico cheio de
sonhos, lembrou-se das decepções de sua vida e hoje
como estava solitário, ficou na cama pensativo e demorou
muito para conciliar o sono, somente muito tarde
conseguiu adormecer.
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Sábado, Felipe chegou as cinco e meia na estação,
ficou esperando ansioso os amigos.
Primeiro foi Lucas que chegou todo equipado,
mochilão, manta enrolada e amarrada, algumas panelas,
boné, bermuda, óculos escuros, cantil amarrado na
mochila, com um sorriso na cara indescritível de
felicidade.
- Fala Felipe, beleza?
- Beleza Lucas, e aí animado?
- Bem animado amigo!
Logo chegou Bruno de boné, bermuda preta,
camiseta branca, mochilão nas costas, duas mantas
enroladas e amarradas uma de cada lado da mochila e
com algumas panelas também penduradas, dois cantis,
Capítulo III
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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uma mochila menor na mão que estavam as comidas e foi
entregue para Felipe levar.
- Fala marujos! Disse animado Bruno.
- Oi Bruno esse é meu amigo Lucas, Lucas esse é
meu irmão Bruno!
- Prazer cara! Nossa você é bem diferente do Felipe
nem parecem irmãos.
- Você acha? Perguntou Bruno irônico.
-É que você é todo tatuado, mais velho e seus olhos
é tão diferente parecem cinzas!
- Está me estranhando cara? Sai fora! Deixa seus
elogios para aquelas duas animadinhas chegando ali!
Lucas e Felipe olharam para trás, eram Fatinha e
Júlia estavam vestida com um short azul Fatinha com
camiseta preta e Júlia com camiseta branca, mochila nas
costas, panelas, mantas amarradas nas mochilas, vinham
saçaricando e rindo.
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- Olá meninos! Nossa! Quem é o bonitão tatuado,
Deus Thor? Perguntou Fatinha indo para cima de Bruno
que afastou a moça com as mãos delicadamente.
Foi Felipe que apresentou o irmão um pouco
vergonhado pela amiga atrevida.
Bruno nem respondeu e ignorou sem cerimonias,
odiava mulher atrevida e principalmente as novinhas,
queria distância de encrenca só tinha uma missão,
proteger seu irmão, mais nada.
Júlia se sentiu envergonhada com a irmã também,
mas Fatinha nem ligou, sorriu e disfarçou o
constrangimento.
Ficaram conversando por uns minutos e foi Bruno
que se manifestou.
- E aí galera quem falta, vamos?
- Calma falta o amor da minha vida, Amanda. Disse
Felipe olhando para os lados.
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Júlia ficou vermelha na hora e com raiva por dentro,
foi Lucas que percebeu, mas não comentou nada, Fatinha
na mesma hora que conheceu Bruno já esqueceu seu
amor por Felipe.
Dez minutos após a pergunta, vinha ao longe
Amanda, vestida com uma bermuda branca, camiseta
preta, mochila nas costas, manta, panelas e cantil
amarrados na mochila, vinha séria e apressada.
- Oi pessoal desculpa o atraso!
Bruno olhou da cabeça aos pés da moça e riu com
ar de ironia e comentou.
- Nossa! Para onde vamos, para uma festa,
patricinha?
Amanda olhou aquele rapaz bonito, irônico e
desconhecido e não respondeu, olhou para Felipe e disse.
- Oi Felipe quem é esse aí?
- Oi minha musa é meu irmão Bruno, Bruno essa é
Amanda.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Tá, tá, já sei, vamos se não iremos perder o
ônibus. Disse irritado Bruno sem nenhum motivo
aparente.
Fatinha ficou feliz, pela primeira vez viu um homem
não babar em sua amiga Amanda, sempre era a preferida
em tudo, até os professores a elogiavam.
A turma entrou no trem rumo à estação Estudante
sentido Mogi das Cruzes São Paulo.
Bruno disfarçadamente observava Amanda, ela lia
um livro e Fatinha não parava de falar com Júlia querendo
chamar a atenção de Bruno que nem olhava para as duas.
Felipe também olhava apaixonado para Amanda e
Lucas pela primeira vez sentiu um desejo incontrolável,
algo estava mudando dentro dele que o deixou confuso, a
presença de Bruno mexeu com seus sentidos mais íntimos
e várias fantasias passavam pela sua cabeça enquanto
observava Bruno de Boné sobre os olhos e fingindo estar
dormindo.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Lucas observava discretamente, os braços fortes de
Bruno seu corpo atlético a pele bronzeada e tatuada, seu
jeito de predador estava deixando-o maluco de desejo
jamais poderia imaginar sentir algo assim por um homem,
ao mesmo tempo estava envergonhado, sempre rodeado
de linda moças, mesmo não conseguindo ir para cama
com nenhuma, jamais imaginou uma cena dessas.
O trem seguiu seu curso e naquelas horas de
viagem cada um curtiu seus pensamentos íntimos e
secretos.
Um som saiu do trem.
“Estação Estudante, solicitamos a todos que
desembargue nesta estação, este trem será recolhido”
Todos desceram e o tempo estava ainda com
neblina um friozinho gostoso se apoderou do ambiente.
As moças logo pegaram um casaco para vestir,
menos Fatinha que sentia um calor fora de época.
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Amanda colocou a mochila no chão e comunicou ao
grupo que iria na padaria comprar pão que causou um
belo discurso de Bruno.
- Olha a Loirinha, ela vai comprar chuveiro também?
Lá na mata não tem água quente melhor providenciar,
nem colchão de água viu!
Amanda olhou para Bruno e não disse nada, virou
as costas e falou com Júlia.
- Você vai comigo Júlia?
- Vou sim, vamos!
Bruno ficou mais irritado com o silencio de Amanda
do que qualquer outra coisa no mundo, nunca foi ignorado
por uma mulher na sua vida e não entendia, mas Amanda
o irritava profundamente, não sabia porquê, mergulhado
em seus pensamentos foi sacudido pelo irmão.
- Qual é a sua Bruno? Perguntou irritado Felipe
- O que eu fiz? Disse com ar de desentendido Bruno.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Você implica com minha musa e ainda pergunta,
qual é? Você está irritante, chato, mal-humorado, porque
não volta para sua vidinha e me deixa aqui com meus
amigos, já basta a mãe que fica pegando no meu pé,
agora você quer estragar minha relação com Amanda?
- Calma, não é bem assim? Você fica babando por
essa moça e ela não está nem aí para você.
- Não importa, gosto dela desde o primeiro dia que
a vi na sala, ela sempre me ignorou, eu continuo insistindo
uma hora ela me dá uma chance.
- Você está maluco, gostar de quem não gosta de
você e ficar atrás de uma única moça, com tanta mulher
no mundo te dando mole?
- Eu quero ela, foi a única moça que não namorou
na escola com ninguém segundo informações, ela é
diferente de todas.
- Ah entendi, aí você gamou, já pensou se ela não é
lésbica?
- Já, até perguntei para ela.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- E ela? Neste momento Bruno ficou curioso e
ansioso com a resposta do irmão.
- Ela me olhou nos olhos e disse: Escola é para
estudar, não para perder tempo com namoricos, eu não
sou lésbica, mas tudo tem hora certa e no momento para
mim é o estudo, não sou filhinha de papai como você que
ganham tudo de mão beijada, sou bolsista e dou valor
para isso.
- Caramba! Ela disse assim na sua cara?
- Sim, olhando com aqueles olhos verdes nos meus.
- E você, o que fez?
- Nada, me apaixonei de vez e desde esse dia vivo
atrás dela.
Bruno baixou a cabeça pensativo e disse ao irmão.
- Vai fundo Felipe é uma moça que vale a pena, me
desculpe não vou mais implicar com ela.
- Então meu irmão, esquece esse lance de babá,
deixa eu errar, beber, viver!
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Está certo meu irmão, só eu errando que dei valor
para as coisas, não vou te controlar, agora cada um por
si, só me faz um favor, nada de drogas e usa camisinha
beleza?
- Beleza!
Os dois se abraçaram e Lucas continuou observando
de longe sentado em cima da mochila, a estação estava
lotada, já passava das nove da manhã, Amanda e Júlia
estava voltando quando viram um tumulto na rodoviária.
- Gente o que aconteceu? Perguntou Amanda
preocupada e foi Bruno que respondeu.
- Não tem ônibus para Guararema, o exército fechou
o local para treinamento por um ano.
- E agora o que vamos fazer? Perguntou aflita Júlia.
Neste momento aproximou um rapaz alto, cabelo
com dread, calça larga, camisão com uma estampa do bob
Marley, cheio de ginga.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
33
- E aí Galerinha, meu nome é Bola beleza? Eu
conheço outro lugar, minha turma está indo para lá, vocês
têm interesse?
Entreolharam e foi Amanda que perguntou.
- Oi Bola meu nome é Amanda prazer, onde é esse
lugar?
Bruno se manifestou.
- Opa nem pensar, ninguém vai para lugar nenhum,
já que não tem Guararema vamos embora para casa!
Foi um alvoroço todos falando ao mesmo tempo,
bola e Amanda ficaram olhando a confusão.
- Você não decide nada aqui, eu vou com eles. Disse
Amanda desafiadora olhando dentro dos olhos de Bruno
que sentiu um arrepio e um calor em seu corpo.
Felipe e todos do grupo responderam juntos.
- Nós também.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Bruno pensou bem e se sentiu um velho querendo
dominar um bando de adolescente querendo aventuras e
ponderou.
- Beleza que lugar é esse Bola?
- Olha chefia, é Casa Grande, um lugar lindo, com
cachoeira é pouco habitada, mas eu e minha turma
sempre vai para lá é muito bom.
- Cadê sua turma? Perguntou Bruno.
Bola assobiou e acenou para seus amigos, que se
aproximaram solícitos.
- Aqui estão, Macarrão, Japa, Véio, Mina e Marido
da Mina Pedrão.
Bruno sorriu e perguntou.
- Legal, alguém tem um nome por aqui?
- Oh! Chefia que preconceito com nossa pessoa, são
nossos nomes se você está falando do nome de
nascimento, ninguém lembra aqui, o que importa isso?
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Nada Bola esquece! Você tem razão. Respondeu
Bruno.
Todos foram comprar as passagens para o novo
rumo Casa Grande, Felipe ficou satisfeito com a atitude
de Bruno e o ônibus saiu as dez horas e quinze minutos.
Bruno ainda questionou Bola.
- E se não gostarmos do lugar? Perguntou Bruno
- Relaxa chefia, tem dois ônibus para Casa Grande
um as dez da manhã e outro as dezessete horas da tarde,
se vocês não gostarem volta no ônibus que sai no final da
tarde.
- O que tem lá que nunca ouvi falar desse lugar?
- Chefia, na verdade esse lugar é um complexo da
Sabesp inaugurado em 1939 além de abrigar hippies na
década de 60 após sua desativação, detém uma
localização privilegiada no alto da serra e está repleta de
atrativos naturebas. Estes vão desde vários remansos
bucólicos, poços e cachus dos rios cristalinos, belos visus
do litoral e até caminhadas que descem até Bertioga. Um
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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ponto prolífico para futuras incursões localizado no centro
da Serra do Mar Mogiana, se ligou?
- Sim me liguei. Bruno sorriu e se calou.
O ônibus ao sair da estação de Estudantes, foi por
uma rodovia depois entrou em uma estrada sentindo a
rodoviária de Biritiba-Mirim, depois de passar por
Salesópolis entrou em uma rua de terra e parecia que
estava subindo a serra do mar, os dois lados apenas mato,
estrada de terra vermelha, o sol já apontava no céu forte
e sem nuvens deixando um dia claro e azul com contrates
do verde das matas.
Dentro do Ônibus que parecia uma carroça,
sacolejava, mas ninguém estava se incomodando os olhos
fixos pela janela curtindo a paisagem, já havia quatro
horas após saída da estação de Estudantes o calor já se
fazia presente, coração acelerados em uma adrenalina
total.
Chegaram ao destino, desceram do ônibus próximo
a uma represa, Bola que tomou a frente comandando o
grupo para uma deliciosa aventura dentro do mato,
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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andaram um pouco até achar um lugar seguro para descer
as pedras e passar do outro lado da represa, devagar um
a um foi descendo e atravessando o rio que estava raso,
mas cheio de pedras enormes, Bola pretendia achar um
lugar privilegiado próximo a represa.
Fatinha estava calada demostrando um visível
cansaço, a mata era um lugar bem diferente que ela
estava acostumada, gostava dos shoppings da cidade e
da movimentação, aquele lugar era um desafio para ela.
Felipe e Lucas atrás de Bola animados observado tudo,
Amanda acompanhava Macarrão e o restante do grupo de
bola e Bruno vinha ao longe por último e bem distante, de
vez enquanto Amanda olhava para trás para ver onde ele
estava, Bruno percebia e estava gostando da brincadeira
de gato e rato pelo olhar.
Bola achou um lugar lindo, limpo e plano, onde o
grupo de Bruno ficou, Bola deixou seus novos amigos e
foi com seu grupo para logo mais acima sem
questionamentos por parte do pessoal de Bruno que
deixaram as mochilas no chão e sentaram par descansar.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Fatinha e Júlia estavam de biquínis por baixo das
roupas e foram em direção a represa se refrescar, já
passava do meio dia e o sol já estava escaldante.
Amanda se manifestou.
- Pessoal enquanto as meninas vão se refrescar, vou
buscar lenha para fazer uma fogueira, precisamos
preparar a comida e eu acho melhor vocês montarem as
barracas, porque na mata deve escurecer rápido.
Bruno olhou admirado e se manifestou a favor de
Amanda a antipatia havia terminado assim que pisaram
na mata.
- Ela está certa, vamos montar as barracas!
Bola e sua turma já haviam montado suas barracas
e desceram para ajudar.
- Oi chefia viemos ajudar.
- Beleza Bola, ajuda a Amanda a pegar os gravetos
para fazer uma fogueira e o restante ajuda nas barracas.
Bruno tomou a liderança do grupo.
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- Opa, com a maior satisfação chefia.
Uma hora depois as barracas estavam armadas,
fogo acesso e Amanda estava cozinhando, Fatinha e Júlia
voltaram reclamando de fome e foi Bruno que respondeu.
- Então meninas enquanto vocês tomavam sol,
fizemos tudo por aqui e já dividimos as tarefas diárias,
você duas ficaram para lavar as loucas, secar e guardar.
Fatinha deu um sorriso sem graça, não respondeu
nada e foi para a barraca se secar foi Júlia que se
desculpou e aceitou a atarefa.
Bruno se aproximou de Amanda que estava
separando os pratos e talheres e disse.
- Quer ajuda?
- Se quiser colocar esses pratos ali na nossa mesa
que Bola construiu agradeço.
- Claro.
Bruno prontamente ajudou Amanda arrumar a mesa
e logo todos estavam almoçando, todos elogiaram a
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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comida e comeram com satisfação, Bola se aproximou e
pegou um prato para provar dizendo sem cerimonias.
- Nossa! preciso provar esse rango, esse cheiro está
muito bom, parabéns princesa você é uma verdadeira Jóia
no meio desse mato todo.
- Parabéns Amanda está muito bom. Disse Felipe se
fazendo presente no assunto.
- Não fiz nada, uma comida simples sem recurso,
respondeu Amanda com simplicidade.
Bruno olhou sem dizer nada, Fatinha saiu depois do
almoço com Júlia para lavar a louça e não deixou de
comentar.
- Até cozinhar Amanda sabe! Fatinha reclamou com
a irmã.
- Ela é uma mulher muito bacana Fatinha, não deve
se sentir inferior, cada um tem seu jeito.
- Mas a Amanda chega a ser irritante, todos ficam
babando por ela, eu sou a popular.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Você sabe cozinhar Fatinha?
- Claro que não! Nem quero aprender!
- Então está vendo, não tem comparação essa é a
diferença, Amanda sempre está pronta para ajudar os
amigos.
Fatinha se sentiu envergonhada diante da irmã mais
nova que parecia mais madura que ela e se calou.
Felipe se aproximou de Amanda que já havia
colocado um short e uma blusinha azul que deixava seus
olhos verdes muito intensos, sua pele bronzeada e seus
cabelos loiros se refletiam com o sol, Felipe não deixou de
observar sua amada.
- Posso falar com você em particular? Felipe
perguntou todo envergonhado.
- Claro Felipe pode dizer!
- Não aqui, pode ser na minha barraca?
- Porque tem que ser na sua barraca, fala aqui
mesmo, não tem ninguém por perto.
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- Tudo bem, Amanda quer namorar comigo? Eu
estou apaixonado por você e já não consigo mais nem
dormir.
Amanda olhou bem dentro dos olhos de Felipe,
pegou em suas mãos e com carinho disse:
- Meu querido amigo Felipe, sei que gosta de mim,
mas não posso corresponder a esse amor, não por sua
causa é que eu gosto de outra pessoa e não consegui
esquece-lo.
- Mas eu faço você esquecer, posso te amar por nós
dois.
- Não funciona assim Felipe, eu gosto de você como
amigo, não acredito que sentimento venha a mudar.
- Como você pode ter certeza disso?
- Porque você não faz meu tipo de homem Felipe,
desculpe, melhor encerrarmos a conversa aqui, não fale
mais sobre isso tudo bem?
- O que eu faço com o amor que sinto por você?
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- Procure alguém que lhe ame assim também, e
contente apenas com nossa amizade se quiser continuar
próximo a mim, olhe para o lado Felipe tem outras
pessoas apaixonada por você.
Amanda deixou Felipe sozinho próximo a fogueira
feita para fazer a comida, o pessoal já estava sentando
próximo a outra fogueira para se esquentar, pois a noite
já estava chegando e começava a esfriar.
O céu estava um azul indescritível, nuvens passava
rápida por causa vento. Felipe sentou-se onde estava
quando conversava com Amanda e ficou ali por horas
sozinho, Bruno só observava e achou melhor deixar ele
tranquilo.
Amanda foi até sua barraca e vestiu um moletom
cinza com capuz e foi sentar com o pessoal na fogueira,
triste e pensativa olhava o fogo, Bruno a observava de
longe e foi Bola que sentou perto dela abraçando-a.
- Dez Reais pelo seu pensamento?
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- Ah Bola se pudéssemos controlar nosso coração
seria tão mais fácil né?
- Sim, mas o interessante da vida é isso, amar quem
não ama agente e decepcionar quem ama e assim a gente
vai aprendendo, se está falando do Felipão ali eu tenho
certeza que você fez a escolha certa o pior para um
homem é viver iludido.
- Você tem razão, acredito que a sinceridade é
melhor que deixar a ilusão dominar.
- Com certeza minha princesa, agora vem aqui,
deixa eu te esquentar, sou grande e com frio você não
fica.
- Você já se apaixonou Bola?
- Vixi várias vezes, e estou apaixonado novamente
por você gata.
- Ah para com brincadeira Bola estou falando sério.
- É sério! Princesa.
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Amanda nem deu importância e sorriu, Bruno a
olhava fixamente sem desviar o olhar e quando os olhos
de Amanda cruzaram com de Bruno o coração dos dois
dispararam, mas ele disfarçou e foi ficar ao lado de
Macarrão para conversar, não entendia porque aquela
moça desconhecida e adolescente mexia tanto com ele.
Bruno sentia seu coração disparado, não entendia
como deixou esse sentimento pega-lo desprevenido,
começou a beber com Macarrão e Japa tentando acalmar
seus instintos, sabia do amor de Felipe pela moça, nem
podia pensar nisso, mas aqueles olhos, aquele corpo
inocente, aquele jeito doce e ao mesmo temo forte e
decidido, realmente era uma mulher diferente.
Macarrão era um rapaz alto, olhos e cabelos pretos,
pele bronzeada, vivia na praia grande era considerado um
caiçara, conheceu Bola nos acampamentos que fazia
desde os oito anos de idade com seu pai, depois dos
quinze anos começou a acampar sozinho, após muitas
viagens deixou de ir para casa e desde então sempre que
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Bola, Japa, Mina e Pedrão acampam chamam Macarrão
para ir junto, Bola e Macarrão se tornaram muito amigos.
Macarrão apesar do seu jeito louco de ser era um
homem carinhoso e que dava muito valor as amizades,
começou a beber e Fatinha provocar Bruno se mostrou
interessada por macarrão que parecia disponível se
aproximou como não querendo nada e começou a beber
também entre um copo e outro Macarrão e Fatinha
estavam mais próximos e Bruno percebendo o clima saiu
deixando os dois sozinhos.
No dia seguinte Fatinha acordou na barraca de
Macarrão, não era surpresa para ninguém, pois Macarrão
dificilmente não ficava com uma mulher nos
acampamentos e Fatinha como era atirada logo percebeu
as investidas de Macarrão e nem deixou o rapaz sofrer.
Júlia ficava envergonhada com o desprendimento da
irmã era totalmente diferente dela, Júlia era recatada,
tímida mesmo linda não gostava de se envolver com
qualquer um se preservava para um grande amor, mesmo
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que Felipe não percebesse que ele era seu grande amor
preferia aguardar o momento certo.
Amanda adorava Júlia já que as duas pensavam
bem parecido em relação aos homens.
Bruno dormiu bêbado, mas acordou bem cedo era o
segundo dia que estavam acampados e resolveu explorar
a mata, vestido de calça camuflada com do exército,
coturno, camiseta preta, boné e um facão na mão, já
estava pronto para sair quando viu Amanda indo na
direção do rio, ela também levantou bem cedo nem era
sete da manhã todos estavam dormindo e Bruno resolveu
em silencio segui-la.
Amanda ao chegar na represa olhou para os lados e
se despiu, Bruno ao ver a cena se escondeu para que ela
nem sonhasse que ele estava ali observando, Amanda se
jogou na água e começou a nadar, mergulhava e depois
subia a superfície tirando os cabelos do rosto
delicadamente com as mãos, Bruno parado só observava.
Amanda se aproximou até a margem e olhou para o
seu lado esquerdo quando viu uma jaguatirica a
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observando não conseguia se mexer, Bruno ao vê-la
assustada olhou para o mesmo lado e viu a Jaguatirica
também imediatamente se aproximou de Amanda com
cautela e disse:
- Calma, não faça nenhum movimento brusco.
- O que você está fazendo aqui?
- Estava explorando e vi um barulho na água vim
ver o que era e te encontrei, toma sua toalha, venha
devagar.
Conforme Amanda ia saindo da água a jaguatirica
entrou na água devagar em direção a eles, nesse
momento Bruno pegou as roupas de Amanda e disse para
moça que estava enrolada na toalha.
- Corre!
Amanda correu em direção ao acampamento e
Bruno vinha logo atrás se afastando da jaguatirica que
não teve tempo de sair da água por sorte dos dois.
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Chegando ao acampamento Bruno entregou as
roupas de Amanda que correu para barraca para se vestir,
Bruno ficou do lado de fora fazendo a guarda.
Já passava das oito da manhã e os outros já
começava a acordar vendo a cara de Bruno e Amanda
começaram a questionar o que havia acontecido, Bruno
contou a mesma história que contou para Amanda sobre
sua presença na represa enquanto ela tomava banho.
- Foi minha sorte o Bruno estar lá eu não saberia
como escapar daquele bicho.
Felipe logo se manifestou irônico e morrendo de
ciúmes.
- Sorte do Bruno não sua.
- O que? Amanda questionou disfarçando o
comentário.
Todos perceberam a ironia e foi a Mina que retrucou.
- Você é maluco garoto? Sua amiga poderia ter
morrido e você pensando em besteira.
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Bola e os seus amigos havia ouvido as conversas e
desceram para saber o que estava acontecendo.
Bola falou sério do perigo de encontrar a jaguatirica.
- Essa bicha parece uma onça e caça como ela se a
jaguatirica se sentir ameaçada ela ataca, era grande
Bruno?
- Não eu acho que era filhote esse é o problema.
- Porque problema. Perguntou Fatinha agarrada no
braço do Macarrão.
Bola respondeu prontamente.
- Se for filhote, tem pai e mãe e se derem falta do
filhote vem atrás aí ninguém segura é melhor ficarmos
todos juntos e fazer umas armadinhas caso eles se
aproximem a noite, ela deve estar com fome.
Bola e seus amigos desceram suas barracas para o
mesmo terreno dos outros, com barbantes e latinhas
fizeram um anel ao redor das barracas, ficaram paus ao
redor construindo uma cerca.
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- Melhor ficarmos todos juntos, ninguém sai sozinho
combinado? Disse Bruno preocupado.
Todos concordaram e passaram o dia em grupo de
três pessoas sempre.
A noite chegou e todos estavam apreensivos,
acenderam a fogueira e ficaram conversando sobre suas
vidas, Bruno ficou em cima de uma pedra sozinho
observando o grupo, estava com uma camisa branca e
uma bermuda jeans seus braços a mostra chamava
atenção de todos, Lucas o observava discretamente e era
observado por Japa, Amanda estava sorridente naquela
noite e seu sorriso mexia com Bruno que de longe a
observava e Felipe de lado conversando animado com ela
se sentia feliz só de estar do seu lado, Mina e Pedrão
foram dar uma volta para ver se via a jaguatirica
rondando o casal conhecia Casa Grande como ninguém,
Bola pegou um violão e começou cantar uma canção todos
olhavam a fogueira e embalados pela canção sentiam-se
felizes, Fatinha e Macarrão estava dentro da barraca, Júlia
olhos marejados com a música, adorava aquela música,
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Bola cantava “Se seu não falasse das Flores”. Muitos
daqueles jovens participaram do impeachment do
Presidente Fernando Collor, e mesmo Júlia não gostando
de política se sentiu importante em participar de uma
decisão tão importante de um País inteiro.
Depois Bola começou cantar musicas do Legião
Urbana e todos embalaram nas músicas cantando juntos.
Aos poucos o grupo foi se desfazendo, a musica
acabou e só sobrou Amanda, Felipe, Bruno, Lucas e Japa
próximo a fogueira, no silêncio da mata escutava os grilos
e o barulho da água da represa, um vento frio passava
por eles embalando aquela noite, Amanda olhava para o
céu forrado de estrelas, a lua estava branca e distante.
Felipe, Lucas e Japa estavam bebendo vodca com
Coca-Cola, Bruno assava alguns pedaços de queijo da
fogueira e Amanda estava admirada com o clima daquela
noite.
- Você já havia acampado antes Amanda?
Perguntou sem pretensões Bruno.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Não.
-Nossa! Você parece ter experiencia com
acampamento.
- Só acho que todos devem cooperar é o que fiz.
- Eu quero me desculpar com você pela maneira que
te tratei ao conhece-la.
- Esquece, já não me lembrava disso.
- Fez bem meu irmão! Você foi muito mal com
minha amada. Falou bêbado Felipe abraçado com Japa.
- Vem Felipe vou colocar você para dormir, já bebeu
demais.
- Não! Eu vou com Japa sair sem minha babá! Fica
aí Lucas de olho no meu irmão predador, protege minha
amada!
Japa levou Felipe para barraca, Lucas bebeu pouco
e ficou ali na fogueira observando Bruno, pensava como
podia existir um homem tão lindo, sua barba estava
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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crescendo e aquele ar de homem bravo, deixava-o
maluco, já estava convencido que estava apaixonado.
Bruno ficou em silêncio.
- Muito legal da sua parte trazer seu irmão para
acampar. Disse Amanda puxando assunto.
Bruno contou para Amanda como foi parar no
acampamento e que não era nenhum herói do irmão.
- Mesmo que você teve um incentivo, seu irmão
acha que você é o herói dele sim, sempre fala de você
com muito carinho.
- Amo meu irmão, quero ver ele bem, eu fui um
porra louca na idade dele, fui apaixonado por uma mina e
depois desandei na bebida e nas drogas, acabei o colégio
e não quis mais saber de nada, depois terminei com a
mina que eu era apaixonado porque ela me traiu, mas
depois disso a mina pirou e queria voltar de qualquer jeito,
tentou varias vezes o suicido, depois disso, sai de casa,
sumi do mapa para não ter responsabilidade com nada
disso, não sou um herói, sou um covarde.
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Bruno chateado com as lembranças de seu passado,
tomou o copo das mãos de Lucas e virou na boca se
levantou, se despediu de Amanda dando um beijo em sua
testa e apertou a mão de Lucas.
- Falou galera! Vou deitar.
Lucas e Amanda ficaram em silencio por alguns
minutos depois se levantaram e foram deitar também.
No dia seguinte Amanda avisou que a comida estava
bem pouca e que não iria dar para passar mais dias.
Já era quarta feira e após o almoço enquanto
Fatinha, Júlia e Felipe foram até a represa lavar a louça,
Bola teve uma ideia.
- Bom aqui tem algumas casinhas e plantações,
podemos explorar e pedir comida.
- Eu concordo. Disse Bruno.
Amanda se manifestou.
- Então vamos, Eu, Bola, Bruno e Lucas procurar
comida e Macarrão, Japa, Pedrão e Mina ficam aqui
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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esperando Fatinha, Felipe e Júlia voltarem, explica para
eles onde fomos e enquanto isso, vocês cuidam do
acampamento.
Todos concordaram e o grupo que Amanda montou
foi rumo a mata procurar comida, seguiram o caminho
contrário da represa entrando na mata fechada.
Amanda também tinha uma roupa apropriada para
ocasião que deixou Bruno de queixo caído, não imaginava
que aquela patricinha que viu no metro era uma mulher
forte, decidida e irresistível.
Amanda colocou um short verde, coturno, camisa
preta, pegou uma mochila vazia, cantil e outro facão que
Macarrão havia emprestado para ela, cabelos presos e
boné.
Ao ver Amanda Bola e Bruno se olharam e Lucas riu
da cara de bobos que eles fizeram.
Passando na frente deles sem cerimônia e decidida
disse:
- Vão ficar ai parados, Vamos!
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Por volta das dez da manhã quando o grupo entrou
na mata, foram seguindo trilhas e conversando animados.
Bruno permanecia em silencio observando tudo,
enquanto Amanda e Bola conversavam um da vida do
outro e cada vez que Amanda contava mais coisas sobre
ela, sua família, seus objetivos profissionais, suas ideias
sobre a vida, Bruno mais se apaixonava.
Lucas ao lado de Bruno tentava puxar conversa,
mas Bruno queria ficar em silencio escutando a conversa
de Amanda e Bola.
Pararam no primeiro sitio, havia uma senhora na
sacada da casa e foi Bruno que se aproximou.
- Bom dia Senhora, peço licença para nos
aproximar?
- Claro! Meninos venham, entrem!
Capítulo IV
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Prazer senhora, meu nome é Bruno, essa é
Amanda, Bola e Lucas, estamos acampados lá embaixo na
represa e nossa comida está acabando, gostaria de saber
se a senhora pode arrumar alguma coisa para nós,
qualquer coisa.
- Sim meu filho é um prazer, meu nome é Rita, só
um instante vou pegar lá dentro.
O grupo ficou do lado de fora para não assustar a
senhora depois de vinte minutos vem dona Rita com uma
sacola cheia de mantimentos, macarrão, um vidro de doce
de leite, biscoito, café e arroz.
Bruno agradeceu beijando dona Rita nas mãos e o
grupo continuou seu caminho. Foram conversando
animados.
Cada sitio que eles paravam um deles pedia, logo
mais adiante seria a última casa, pois já tinham bastante
coisas, era uma casa sinistra bem no alto de um morro, o
caminho era todo cheio de arvores e flores, foram até a
casa, pararam no portão e ficaram indecisos.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Será que vamos? Perguntou Bola.
- Claro, nossa última parada eu peço, vamos! Disse
decidida Amanda.
Eles subiram até a casinha e bateram palmas,
menos de um minuto saiu uma senhora bem idosa e
simpática, já passava das três da tarde a senhora
prestativa, pegou biscoito, pão caseiro, macarrão e assim
que entregou a sacola para Amanda disse:
- Vocês estão famintos coitadinhos olha só essas
carinhas de fome antes de irem embora vocês vão tomar
um café bem gostoso com bolo de milho esperem aqui.
O grupo esperou para não fazer desfeita para
senhora, logo ela saiu com café e bolo, havia uma mesa
na varanda onde Bola e Lucas se sentaram com a
senhorinha que feliz pela visita dos jovens se mostrava
prestativa, Amanda não quis sentar e Bruno também não
ficaram em pé, tomaram café, comeram bolo e ficaram
conversando animados, Bruno pegou no braço de Amanda
e disse no seu ouvido.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Venha! Quero falar com você.
Nem esperou Amanda responder e arrastou ela para
trás da casa sem que ela pudesse reagir, Bruno pegou em
sua cintura e a beijou apaixonadamente, Amanda
retribuiu com o mesmo fogo e paixão.
Os dois com o coração batendo forte, após cinco
minutos foram surpreendidos por Bola que chamou os
dois para ir embora, Amanda estava sem folego e
encantada com o beijo de Bruno, nunca havia beijado com
tanta paixão e ardência foi um momento único e
inesquecível.
Bruno queria mais e não se controlando de tanto
amor e desejo no caminho de volta não aguentou esperar
mais nada e a beijou apaixonadamente novamente,
deixando Bola e Lucas pasmos.
Lucas ficou decepcionado, mas sabia que não tinha
nenhuma chance com Bruno, Bola também ficou chateado
mesmo sabendo que não teria nenhuma chance com
Amanda, Bola vendo aquele beijo tão ardente percebeu o
quanto estava só.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Os dois foram caminhando de mãos dadas sem
palavras, paravam se beijavam e caminhavam foi assim
até próximo ao acampamento.
Bola e Lucas foram na frente chegando primeiro
com a comida, Felipe foi o primeiro a questionar porque
eles foram sem ele, mas Bola nem respondeu e Lucas
disfarçou mostrando quantas coisas conseguiram
deixando Felipe desconfiado.
- Amanda espera, e agora o que faremos?
- Não sei Bruno, só sei que adorei beijar você.
- Eu estou louco por você moça e não vou te perder
de vista, mas saindo daqui podemos nos ver?
- É o que mais quero.
Bruno a beijou novamente e os dois foram para o
acampamento.
Felipe estava muito bravo e foi logo questionado
Amanda porque ela foi sozinha com três homens.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Eu não devo satisfação para você, estávamos
precisando de comida e você não estava aqui para ir
conosco.
- Porque não deixou o Macarrão, Pedrão ou Japa ir?
-Me poupe Felipe! Amanda ficou séria com o
questionamento de Felipe e foi para fogueira preparar a
comida agora eles poderiam ficar até domingo e era o que
Amanda mais queria.
Felipe ficou o resto do dia emburrado, mas ninguém
deu importância.
Bruno tentava o máximo disfarçar, mas estava difícil
ficar longe de Amanda, os dois estavam completamente
apaixonados um pelo outro e depois que descobriram isso
estava difícil de ficar longe.
Sábado o dia estava lindo, mas todos estavam
cansados e querendo ir embora, Bruno e Amanda não
queriam ir embora e como a turma de Bola também só
iam no domingo, todos resolveram esperar também para
irem juntos para Capital.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Anoiteceu com o céu estrelado, o ar estava
agradável, cheiro de mato diante da fogueira todos
alegres e contando histórias o medo da jaguatirica ficou
bem longe, ninguém se lembrava dela e Bruno fixava seus
olhos em Amanda que correspondia com amor e ternura
deixando ele louco de amor.
Felipe emburrado foi dormir cedo que para Amanda
e Bruno foi um alívio, Lucas estava de canto olhando o
céu quando Japa se aproximou.
- Você está bem Lucas?
- Oi Japa, estou triste, mas faz parte uma noite
dessa tão romântica e eu sozinho.
- Porque não se aproxima de Júlia? - Ela está só
também é uma bela moça.
- Olha cara se quiser ficar com Júlia vai em frente,
não faz meu tipo.
- Acredito que Júlia faz o tipo de qualquer homem.
disse Japa provocativo.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Sim pode ser, mas para mim fica difícil gosto da
mesma fruta que Júlia gosta se me entende.
Japa ficou em silencio por uns segundos e disse:
- Entendo bem como é isso. Sou assim também.
- Você é gay Japa?
- Sim e qual o problema nisso?
- Nenhum, é que não parece, você é tão...
- Tão? O que?
- Metido a macho.
- Eu medito a macho? Pode ser exagero seu, mas
não é preciso ser explicito para ser gay, você mesmo não
parece também, é um rapaz bem bonito e está bem longe
de parecer ser gay.
- Mas sou e descobri da pior forma que um homem
poderia descobrir.
- Serio? Quer falar a respeito?
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Eu nunca havia sentindo desejo por uma mulher,
nenhum interesse, sempre fui muito amigo delas,
engraçado meus amigos me invejavam sempre, eu saia
com muitas mulheres lindas, mas nunca fiquei com
nenhuma, até esse dia de acampar que conheci Bruno.
- Bruno irmão de Felipe?
- Sim, assim que eu vi Bruno senti tudo que nunca
havia sentindo por uma mulher, senti meu coração
disparar, minhas mãos suar, parecia que saiam corações
dos meus olhos como nos desenhos animados e o pior de
tudo...
Lucas fez uma pausa pensativo e se calou com
vergonha.
- Diz o que sentiu? Pode confiar em mim.
- Senti desejo, vontade de beijar ele ali mesmo na
estação, senti tesão e pior fiquei excitado.
- Mas esse desejo, esse sentimento é normal Lucas,
os homens sentem isso por uma mulher e sentimos por
homens que diferença faz?
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- Toda diferença, me sinto um anormal, alguém com
instintos animais, irracionais, um pecador.
- Opa! Para com isso, só sentimentos meu amigo,
nada de pecaminoso, sentimento, desejo faz parte do ser
humano racional, esse lance de pecado é outro
departamento não tem nada a ver com sentimentos.
- Fico pensando em meus pais, vão me excluir do
mundo deles se descobrirem.
- Experiência própria Lucas, não escolhemos ser
assim, simplesmente nascemos assim só demora para
descobrir e principalmente aceitar, somos humanos,
normais e pessoas que merecem respeito como outro
homem qualquer, se te excluírem só porque você gosta
de homens não de mulheres essas pessoas vão perder a
chance de estar perto de você e participar da sua vida.
- Falando com você parece ser tão simples.
- Não é fácil meu amigo, mas é simples, quem
complica é o ser humano preconceituoso que acha que é
um ser superior, normal e que somos desajustados.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Lucas se sentiu bem com aquela conversa e ficou
curioso.
- Porque te chamam de Japa você não é japonês!
Japa era um rapaz bonito, forte, cabelos e olhos
castanhos, tinha seus cabelos com dread como seus
amigos, vestia-se com roupas largas e despojadas
respondeu à pergunta de Lucas com sua história.
- Não conheci meus pais, cresci em um orfanato,
assim que completei um ano fui adotado por uma família
japonesa minha mãe Yasu e meu pai Kasuko, fomos morar
no Japão, lá cresci, estudei, me formei, mas a cultura é
bem diferente, assim que fiquei adolescente percebi que
eu era diferente dos meus pais, então eles me contaram
que fui adotado, fiquei muito grato a eles por ter me
adotado, mas sempre fui muito curioso e quis vir ao Brasil
conhecer minha cultura, minhas origens.
- E nunca mais voltou ao Japão?
- Sim todo ano vou visitar meus pais, mas decidi
morar aqui porque foi na faculdade que descobri que
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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gostava de homens não de mulheres, realmente seria um
golpe muito forte para meus pais a cultura deles é bem
rígida, eu não queria decepcioná-los, então me refúgio
aqui, sem ter que dar satisfação a ninguém.
- E por isso que te chamam de Japa?
- Não! É porque eles acham meu nome muito difícil,
meu nome é Daichi Watanabe e também porque falo
fluentemente o idioma que facilitou ganhar uma grana
aqui, além da mesada que meus pais me dão todo mês.
- Entendi agora Japa. Lucas sorriu satisfeito com o
novo amigo.
- Comecei a acampar com meu ex-namorado e
conheci a turma do Bola, quando terminei meu namoro de
cinco anos, passei a acampar com o grupo sozinho.
- Entendi, e seu ex-namorado?
- Casou com outro.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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Lucas ficou pensativo, aquele mundo era muito
diferente para ele ainda, mas conversando com Japa já
não sentia tão anormal assim.
- Você Lucas tem que procurar amigos que aceitam
você como é, nada de se esconder, viva sua vida
discretamente, pois infelizmente não podemos nos expor,
mas podemos sim, ser feliz como qualquer ser humano,
encontrei no grupo do Bola amigos que me respeitam e
me entendem.
Bruno cercava discretamente Amanda viu que Felipe
estava distraído com o restante do grupo e se aproximou
de Amanda, falou bem no pé do ouvido dela.
- Dá um jeito de ir até a represa. Disse com voz
baixa que deixou Amanda arrepiada.
Ela olhou para trás e viu o pessoal distraído, foi pelo
outro lado e chegou na represa não viu Bruno se
aproximou da agua e foi surpreendida por ele abraçando-
a com carinho, ele virou ela segurou na cintura dela e a
beijou novamente apaixonadamente ela sentiu o calor do
corpo dele os braços fortes envolvendo-a sentiu muita
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
70
vontade de se entregar para aquele amor ali mesmo, mas
se lembrou de seus pais e da promessa que tinha feito de
que não ia fazer nada de errado, delicadamente se afastou
e disse:
- Nossa! Você me tira o folego.
- Você que me deixa louco, como pode eu sentir
tudo isso em tão pouco tempo, eu me sinto um vulcão
adormecido que de repente entrou em erupção, estou
enlouquecido de amor, Amanda por você.
Amanda ficou olhando aqueles olhos cinzas, aquele
homem doido por ela e se sentiu muito poderosa e frágil
ao mesmo tempo, pois de repente lembrou que Bruno era
irmão de Felipe e isso não ia dar certo.
- Vamos voltar, não quero que Felipe nos veja
juntos Bruno.
- Tem razão, mas antes...
Bruno a pegou novamente e a beijou, depois os dois
voltaram para o acampamento separadamente, Amanda
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
71
foi na frente e Bruno logo atrás, ninguém viu eles
chegarem.
Depois de frente a fogueira Amanda e Bruno ficou
conversando a cada assunto descobriam muitas
afinidades, a conversa dos dois atravessou a madrugada
e a fogueira já estava apagando quando resolveram ir
dormir o restante da turma já havia se recolhido em suas
barracas.
Domingo, todos resolveram acordar bem cedo para
levantar acampamento, o ônibus partiria às dez da manhã
se perder o ônibus desse horário somente as dezessete
horas da tarde como foi explicado por Bola.
Dez horas em ponto, todos estavam na estrada
esperando o ônibus, Bruno não ia deixar Amanda sentar
com Felipe e assim que subiram no ônibus ele sentou do
lado dela deixando Felipe sem ação, para não discutir com
o irmão Felipe sentou do lado de Bola emburrado, pois
Lucas resolveu sentar do lado do Japa.
Todos distraídos conversando enquanto o ônibus
sacudia na poeira da estrada, Bruno olhava dentro dos
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
72
olhos de Amanda que estava encantada com os olhos de
Bruno cinzas, brilhantes e apaixonados, não se
contentando mais Bruno a beijou novamente com ardor e
paixão esquecendo de todo o resto, assim que Felipe virou
e viu a cena não se conteve levantou e puxou seu irmão
querendo esmurra-lo no rosto, mas Bola o deteve e Bruno
disse sério.
- Na estação da Luz nós dois vamos conversar!
Felipe estava fervendo de raiva e decepção.
Fatinha e Júlia ficaram surpresa com a cena, não
imaginava que Amanda fosse ficar com alguém
principalmente com Bruno que a ignorava desde que
chegaram no acampamento.
Ao chegar na estação da Luz, Felipe nem conversou
com ninguém, foi até o metro e partiu sozinho para casa,
Bruno tentou alcançar, mas não conseguiu.
- Deixa! Eu falo com ele depois, vou te levar para
casa Amanda.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
73
- Tudo bem Bruno, mas não deixa de falar com seu
irmão.
- Vou falar com ele, mas no momento é bom dar um
tempo, posso te ver na segunda no seu colégio?
- Sim, te espero na saída.
Cada um foi para suas casas felizes, menos Felipe
que chegou em casa e não falou com ninguém, sua mãe
tentou conversar com ele, mas depois viu que era coisa
de adolescente e que ele voltou sã e salvo deixou ele para
lá, ao passar dois dias Bruno tentou diversas vezes falar
com o irmão, mas Felipe conseguia sempre escapar,
mesmo Bruno indo todos os dias no colégio ver Amanda
não conseguia encontrar o irmão, depois de um mês de
tentativas por acaso Bruno deu de cara com Felipe saindo
da escola.
Então finalmente os dois conversaram por horas e
conseguiram se entender, mesmo contrariado Felipe
aceitou o namoro do irmão, que se dizia apaixonado.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
74
A vida de Bruno continuou tranquilamente
namorando Amanda os dois estavam muito felizes, Felipe
não parava mais em casa, faltava no colégio e passou a
andar com alguns rapazes bem diferente dos quais
andava antes.
A mãe de Felipe ficou preocupada chamou Bruno
para averiguar o que estava acontecendo e para sua
surpresa Felipe estava andando com uns caras da pesada,
usando drogas e abusando do álcool.
Bruno custou acreditar que era Felipe ao vê-lo,
magro, pálido e com o olhar muito distante, nada que
Bruno falava Felipe ouvia estava em outro mundo, para
que sua mãe não visse Felipe naquele estado, resolveu
levar o irmão para sua casa, avisou Amanda que precisa
se ausentar uns dias para que ela não ficasse preocupada,
mas não falou nada sobre Felipe.
Bruno precisava afastar aqueles amigos de Felipe,
pois Felipe sendo um rapaz rico, os viciados grudaram
nele como carrapatos por causa do dinheiro.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
75
Depois de alguns dias tendo tranquilizado seus pais
a respeito de Felipe, Bruno foi até o colégio para falar com
Amanda.
- Preciso ir para Parati com Felipe, você quer ir
conosco?
- Não posso, estou em provas e preciso estudar no
fim de semana e também acredito que meus pais não iam
aprovar essa viagem tão repentina com dois rapazes.
- Tudo bem, na segunda te vejo então, vou só ficar
esse fim de semana.
Bruno beijou Amanda e se foi, ela passou o fim de
semana estudando, morrendo de saudade do namorado.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
76
Em Parati Felipe já estava mais corado e na varanda
de uma bela casa os dois sentados começaram a
conversar.
- Eu não acredito Felipe que você chegou tão baixo
com esses seus amigos, olha seu estado, tive que tirar
você de São Paulo para a mãe e o pai não perceberem.
- Não enche Bruno, tenho mais de dezoito anos faço
o que bem entender da minha droga de vida.
- Porque você fala isso meu irmão, você tem tudo,
nossos pais são ricos, tem uma casa linda, ganhou um
carro do pai no seu aniversário e fala assim, não entendo.
- Não entende? Eu não queria nada disso, preferia
ser uma favelado, mas ter o amor de Amanda.
- Ah não! Essa história novamente?
Capítulo V
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
77
- Isso você não quer ouvir né, quer me ajudar, mas
abrir mão da sua namorada não quer!
- Felipe faltam seis meses para terminar o ano, você
é um rapaz inteligente tem boas notas vai passar com
certeza, basta voltar para o colégio e terminar, para de
sair com esses caras e volta a sua vida de realidade.
- Pois é, eu posso voltar sim, mas com uma
condição.
- Condição?
- Sim, você termina seu namoro com Amanda e
deixa ela livre para eu conquista-la.
- Você está maluco? Amanda me ama.
- Se ela se decepcionar com você eu terei uma
chance, ela vai ver que eu sou o homem da vida dela.
- A vida não funciona assim, isso é chantagem
emocional, não é justo, eu disse para você eu amo a
Amanda e ela a mim.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
78
- Eu amo a Amanda antes de você conhece-la, se eu
não tivesse inventado esses oito dias de acampamento ela
seria minha e nem ia conhecer você.
- Você está delirando Felipe.
- Ou você termina com ela, ou eu vou me entregar
nas drogas de vez, está nas suas mãos.
- Você sabe o que eu passei no passado, você está
fazendo o mesmo, tudo que prometi para mãe que você
jamais ia fazer e tem mais você sabe que odeio
chantagem emocional como minha ex-namorada fazia a
Lucy.
- Pode ser, mas deu certo você ficou com ela quatro
anos e eu preciso desses seis meses para conquistar
Amanda.
Bruno não disse mais nada ficou chocado com a
atitude de Felipe, mas queria ver o irmão feliz de alguma
forma se sentia responsável pela felicidade dele.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
79
Voltaram para São Paulo, Felipe sabia do caráter do
irmão então voltou para o colégio na segunda feira e seus
pais nem perceberam que ele havia mudado tanto.
Na saída do colégio Bruno estava em um bar
esperando Amanda passar, assim que viu a namorada foi
falar com ela que não tinha visto ele dentro do bar.
- Amanda!
- Bruno meu amor como esta? Porque não me ligou?
Estava preocupada.
Bruno deu um beijo no rosto de Amanda que sentiu
toda sua tensão.
- Aqui está seu fone que você deixou comigo.
-Você está bem?
-Olha Amanda nada bem, mas existem coisas que
precisam mudar então entre nós está tudo acabado.
Bruno olhou bem nos olhos de Amanda não disse
mais nada e foi embora, naquele momento o coração de
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
80
Amanda doeu muito, sem entender como um amor tão
gostoso e intenso poderia acabar assim.
Amanda ficou dois meses sem entender, perguntou
para Felipe e ele só dizia que o irmão era assim mesmo.
Amanda realmente ficou decepcionada, mas ao
contrário que Felipe imaginava ela não quis saber dele e
de mais ninguém por um bom tempo, depois namorou
alguns rapazes, mas não se apaixonou novamente.
As aulas terminaram e Felipe não conseguiu concluir
seu projeto de conquistar Amanda, cada um foi para um
lado, Amanda se mudou de onde morava e seguiu sua
vida sozinha se apegando aos estudos de graduação
pretendia fazer Designer Gráfico e com ajuda da diretora
de seu colégio conseguiu mais uma bolsa agora para
graduação começou a estudar e se focar na sua vida
simples e sem Bruno.
Felipe depois que terminou o colégio reencontrou
seus antigos amigos de drogas e bebedeira e se entregou
completamente nesta vida, só que desta vez seus pais
ficaram sabendo e Bruno infeliz abandonou tudo com
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
81
ajuda do pai que se reaproximou do filho foi morar em
Nova York para estudar como seus pais queriam, a Mãe
de Felipe não queria incomodar Bruno com os assuntos do
irmão. As coisas foram se agravando até que Felipe teve
uma overdose fatal.
Assim que Bruno soube veio ao Brasil para o enterro
do irmão, decepcionado e se sentido culpado pelo estado
do irmão não se aproximou de ninguém no cemitério, viu
todos os amigos de Felipe inclusive Amanda que estava
linda, mas ele não deixou ela o ver, saiu do cemitério e foi
para casa depois da missa de sete dias se despediu dos
pais e voltou para os Estados Unidos solitário se entregou
ao novo trabalho passou estudar Artes Visuais, conseguiu
na pintura retratar todos seus sentimentos, sentia muita
falta de Amanda de seus pais e agora de Felipe.
Depois do luto os pais de Felipe também se
mudaram para os Estados Unidos para tentar uma nova
vida ao lado de Bruno que deu a ideia de tê-los próximos,
mesmo morando em casas separadas se viam sempre.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
82
Bruno após formado em Artes Visuais conseguiu se
destacar com suas pinturas expressionistas, cores fortes
e todos seus sofrimentos ele expressava nas obras, logo
ganhou o gosto do público e Bruno passou a viajar pelo
mundo divulgando sua arte, passou a assinar Lobo
Solitário e ganhou as capas de revistas, galerias e
exposições conceituadas no mundo da arte.
Trabalhando sua marca de seu nome “Lobo
Solitário” não mostrava seu rosto em lugar nenhum, o
segredo de seu sucesso era manter seu anonimato de sua
imagem, ele queria que só sua pintura mostrasse seus
sentimentos.
E os ricos e colecionadores pagavam fortunas para
que Bruno mostrasse o rosto, mas o artista gostou desse
mistério e passou a ser muito comentado.
Bruno aceitou se mostrar apenas em exposições
sem fotógrafos tudo era muito organizado e a segurança
reforçada para que sua imagem não fosse divulgada.
Dois anos se passaram após a morte de Felipe.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
83
Uma noite Amanda estava organizando as cadeiras
do centro espírita que passou a trabalhar depois da morte
de seu amigo e sua separação dolorosa, antes de abrirem
e viu entrar uma moça bonita, mas um pouco debilitada
sendo apoiada por uma senhora.
- Boa noite em que posso ajudar vocês?
- Olá aqui é o Centro Espirita Caminho para Luz?
- Sim, entrem por favor.
- Fomos indicadas por um amigo e queria que minha
filha se tratasse como funciona?
- Claro, qual o nome da senhora?
- Dona Dulce e minha filha Lucy.
- O que a Lucy teve?
Capítulo VI
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
84
- Amou demais e atentou diversas vezes contra sua
vida, passou cinco anos no sanatório e agora que teve alta
tenho medo que ela não se adapte a vida aqui fora
novamente.
- Dona Dulce basta ela querer e acreditar que vai
conseguir que ficará boa.
Neste momento da conversa com voz calma e baixa
Lucy falou:
- Eu quero, eu vejo e não tenho mais medo.
- O que você vê Lucy? Perguntou Amanda.
- Antes eu via monstros, pessoas desfiguradas e
muita dor eu tinha medo de ficar sozinha, mas meu
namorado não entendia que eu dizia, eu era ciumenta e
possessiva e quando ele ia terminar comigo meu medo
era tanto que falava que se ficasse sozinha eu ia me
matar, tentei várias vezes, mas nunca deu certo, sempre
aparecia uma mulher de branco me olhava e dizia que eu
estava fazendo tudo errado, neste momento sempre
chegava alguém para me impedir de me suicidar.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
85
Lucy fez uma pausa por uns minutos e com lágrimas
nos olhos continuou...
- Meu namorado terminou comigo mesmo assim,
depois disso fiquei desiquilibrada, chorava o tempo todo e
meus pais que não aguentavam mais tanto sofrimento
decidiram me internar em uma clínica para tratamento
psicológico, alguns meses atrás recebi uma visita
espiritual de um rapaz que sofreu muito da mesma forma
que eu sofri e disse para eu me tratar aqui neste centro.
- Você sabe o nome desse rapaz, o conhece?
- Sim, era meu cunhado, mas não posso dizer o
nome dele, ele me disse que eu não poderia falar, pois
atrapalharia meu tratamento e o destino de outras
pessoas.
Amanda sentiu muita afinidade com aquela história,
teve a impressão de ter ouvido algo parecido, mas não
comentou e disse:
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
86
- Sem problema o importante que você veio até nós,
iremos te ajudar, mas você terá que seguir o tratamento
direitinho aceita?
- Como é esse tratamento?
- Você precisa frequentar uma vez por semana o
centro para assistir nossas palestras, receber os passes
espirituais, tomar nossa água fluidificada, sua mãe e você
deverão aplicar o evangelho no seu lar, você Lucy terá
que fazer mais orações, ao acordar e ao deitar-se.
- Mas não tem remédio, choques, broncas?
- Não tem nada disso, você só precisa levar Deus
até sua vida e aprender mais sobre estes fenômenos que
você vê, pois você não é louca, você tem mediunidade.
- O que é mediunidade?
- É uma pessoa que nasce com a capacidade de
fazer a ligação desse plano terrestre com o plano
espiritual, um mediador, um médium.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
87
- Entendi, então o que tenho não é grave e tenho
cura?
- Não é nada grave e tem cura sim, a mediunidade
é maravilhosa quando conduzida corretamente e
frequentar um centro espírita já é um bom começo.
- E porque essa minha vontade de morrer? - Nada
aqui me interessa mais.
- Ilusão minha querida, isso acontece porque você
tem marcas de vidas passadas e não está aguentando as
responsabilidades dessa vida, você precisa ser forte para
merecer o perdão desses obsessores que te perseguem.
- Nossa preciso mesmo aprender muito, não quero
atrapalhar você as pessoas estão entrando e estou aqui
tomando seu tempo.
- Não se preocupe, veja temos vários trabalhadores
aqui um ajuda o outro.
- E quem são aqueles que estão sentados lá na mesa
todos de branco?
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
88
Amanda olhou para mesa e não tinha ninguém, logo
imaginou que Lucy estava vendo os mentores espirituais.
- Esses são trabalhadores espirituais do centro.
Amanda apresentou para mentora do centro e Lucy
que logo se encantou com as duas.
Lucy passou a frequentar o centro e fazer todo o
tratamento, após dois anos Lucy já trabalhava como
médium na casa, dedicada e muito prestativa logo ficou
curada, Amanda e Lucy com a mesma idade se tornaram
muito amigas e conforme Amanda estudava, Lucy se
apaixonou pelos estudos também e foi estudar com
Amanda, com diferença de um semestre as duas se
formaram no mesmo ano como designer.
Lucy nunca mais viu o rapaz que indicou o centro
espírita e nunca comentou com ninguém o nome dele.
As duas ganharam uma bolsa para fazer uma
especialização na Itália, foram felizes e cheias de sonhos,
após morando dois anos no País, montaram um estúdio
de designer.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
89
Quinze anos se passaram Bruno estava com trinta e
sete anos e nunca se casou, teve alguns casos e focou em
sua vida artística completamente.
Lucas e Japa acabaram se apaixonando um pelo
outro e os dois iniciaram um romance e hoje estavam
casados fazia cinco anos ainda tinham contato com Bruno
eles sabiam quem era o Lobo Solitário, mas guardavam
esse segredo a sete chaves.
Os pais de Lucas ao saber de sua opção sexual ao
contrário que ele imaginava o apoiaram, o pai dele ficou
contrariado no início, mas ao ver o filho se dedicando aos
estudos e sempre sendo o mesmo homem bom e honesto,
aceitou a opção sexual do filho, ele e a esposa depois do
casamento de Lucas passaram a brigar menos e serem
felizes juntos.
Capítulo VII
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
90
Fatinha e Macarrão se casaram e tiveram dois filhos,
Júlia foi estudar na Alemanha com trinta e três anos
casou-se com um alemão e vivia no País com um filho.
Bola e sua turma continuavam na estrada
acampando agora sem Japa e Macarrão que viraram
homens de família, mas mantinham contato.
Amanda estava com trinta e quatro anos, mesmo
com tantas investidas dos homens Amanda nunca quis se
envolver com ninguém só pensava em sua carreira que
era um sucesso, ela e Lucy conseguiram trabalhar em
uma agência famosa.
Sexta feira fim de expediente, Lucy chegou com dois
convites na mão.
- Olha Amanda vamos a uma exposição que está
bombando nas redes sociais aqui na Europa.
- Estou tão cansada hoje amiga, deixa para outro
dia.
- Não, nem pensar é a exposição chamada “Oito
dias” do Lobo solitário.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
91
- É o artista que não mostra o rosto?
- Sim, mas hoje acaba o mistério ele vai estar lá e
quem descobrir quem ele é vai ganhar dois mil dólares.
- O que? Dois Mil dólares para quem descobrir quem
é o Lobo Solitário?
- Sim, já tinha esgotado os convites vipes, mas usei
o nome da nossa agência e conseguimos dois convites
especiais para entrar.
- Então vamos passar em casa e nos vestir a altura.
Disse animada Amanda.
- Isso! Assim que se fala.
As duas amigas foram para casa e se vestiram
sensuais e lindas.
Ao chegar na galeria da exposição se
impressionaram com tanto glamour, muitos seguranças e
emissoras de TV e muitos fotógrafos.
Tudo muito organizado uma noite de gala.
- Ainda bem que viemos bem vestidas Lucy.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
92
- Não poderia ser diferente minha amiga.
Quando Amanda entrou na galeria sentiu um arrepio
o mesmo aconteceu com Lucy.
- Você sentiu Amanda?
- Sim que estranho, porque todos estão me olhando
Lucy?
- Não sei Amanda, mas olha os quadros, tem seu
retrato minha amiga.
Amanda foi caminhado e sendo admirada por todos
logo foi reconhecida como a musa das telas.
Lucy puxou a amiga para ler o painel de entrada.
Oito dias foram a razão de eu viver um intenso amor
e ao mesmo tempo descobrir o que é sofrer, entre ganhos
e perdas coloquei em minhas telas esses oito dias que
passei em um acampamento em Casa Grande, um
pedacinho no meio do nada em São Paulo – Brasil.
Oito dias de amor e sofrimento.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
93
Logo Amanda estava rodeada de pessoas e muitos
jornalistas disfarçados tentavam se aproximar dela.
Bruno viu a movimentação e pediu para seu agente
ver o que estava acontecendo, foi quanto viu de longe o
mesmo cabelo loiro sendo refletido pela luz da galeria, um
contraste entre a realidade e as telas expostas.
Amanda viu Bruno de longe e não acreditava que
estava de frente com o Lobo Solitário.
Lucy ao ver Bruno não conseguia pensar não estava
acreditando em seus olhos.
Bruno foi desviando das pessoas e como se
estivesse dentro da mata foi até Amanda, mas não sabia
se ela estava acompanhada se estava casada, então se
limitou a cumprimenta-la formalmente, diferente de
Amanda que conhecia a história do Lobo solitário que não
era casado e era o mais cobiçado milionário de todos os
tempos.
- Oi Amanda incrível te ver aqui.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
94
Amanda não se conteve e correu para abraça-lo, os
dois ficaram alguns minutos sentindo o coração um do
outro disparados e foi Lucy que interrompeu o clima.
- Bruno? O que faz aqui? Vocês se conhecem?
- Lucy? O que você faz aqui? Perguntou Bruno sem
entender como as duas estavam juntas.
- Calma gente o que está acontecendo? Perguntou
o Curador da Exposição para Bruno.
Bruno explicou que a musa das telas estava ali na
sua frente, mas não sabia porque Lucy sua ex-namorada
também estava ali, Amanda não entendeu nada e o
curador acalmando os ânimos levou os três para uma sala
reservada enquanto um alvoroço de conversas acontecia
lá fora na exposição e os fotógrafos insistiam em entrar
na galeria.
- Amanda esse é Bruno meu ex-namorado o homem
que falai que foi embora.
- Eu terminei o namoro. Disse Bruno.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
95
Os três começaram a conversar e Lucy contou com
detalhes como conheceu Amanda e a mensagem que
recebeu de Felipe, falou de sua mediunidade, Amanda e
Bruno escutavam com atenção.
Bruno achou tudo aquilo incrível e perguntou para
Lucy como ela se sentia em relação a ele e Amanda.
Lucy explicou que já estava curada e que torcia que
Bruno e Amanda ficassem juntos.
Na exposição estavam todos que participaram do
acampamento há quinze anos atrás e os pais de Bruno.
Só Lucy viu Felipe feliz na exposição do irmão e
contou para Amanda que Felipe estava ali e que queria do
fundo do coração que o irmão se acertasse com ela e o
perdoasse.
Bruno estava emocionado, mas não podia perder o
controle tinha uma noite de gala para conduzir o prêmio
de dois mil dólares foi doado para o Centro Espirita
Caminho da Luz.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
96
Todos aproveitavam a viagem ao passado que as
telas de Bruno fizeram recordar, haviam muitas telas com
Felipe, as noites na fogueira, os olhares de Bruno para
Amanda e vice e versa, o medo da jaguatirica, Amanda
nua nadando na represa e todos naquele momento
souberam que Bruno esteve espiando Amanda que na
hora ficou constrangida, mas feliz por ter sido salvo por
ele naquele momento.
Após a exposição Amanda e Bruno ficaram juntos se
amaram completamente sem medo, sem receios,
resolveram suas vidas e após seis meses casaram,
voltaram para o Brasil e tiveram dois filhos um menino
colocaram o nome de Felipe e uma menina que colocaram
o nome de Sofia, convidaram Lucy para ser madrinha da
menina que aceitou prontamente.
Lucy no dia do casamento de Amanda e Bruno
conheceu Bola que havia deixado os acampamentos de
lado há alguns anos e se tornado um empresário de
sucesso, mudou seu visual se tornando um belo homem
de quarenta anos, os dois tinham muitas afinidades e logo
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
97
se apaixonaram depois de algum tempo de namoro se
casaram e tiveram dois filhos.
Todos os amigos em comum se encontravam uma
vez ao ano em Casa Grande para ensinar os filhos
acampar e continuar com o laço de amizade que os uniam.
Sentadas próximo a cachoeira as duas amigas
conversavam despreocupadas.
- Amanda, como saber quando a felicidade chega?
- Não sabemos minha querida, mas devemos
respeitar a natureza das pessoas, ninguém é de ninguém
e quando uma pessoa não foi feita para outra, não adianta
insistir, pois só causa sofrimento desnecessários, pois
todos nós temos nossos verdadeiros companheiros para
vida. Deus sabe de todas as coisas e a reencarnação faz
que fechamos os pontos um a um e se respeitar o
companheiro seguir seu destino, mesmo que isso nos
cause dor, acredite lá na frente você será recompensada
com seu amor verdadeiro, como você foi.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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- O melhor é amar e ser amado! Disse Bruno que
pegou a conversa no final e foi logo abraçando Amanda
com carinho.
- Eu te amo desde o primeiro olhar, te amo desde o
primeiro beijo e te amarei por toda minha vida. Foi o que
eu escrevi na última obra quando pintei você indo embora.
Amanda beijou Bruno com carinho e todos seus
amigos deram um abraço coletivo rindo e felizes.
Eles não viram, mas Felipe estava ali olhando feliz
com dois mentores espirituais ao lado e foi um deles que
disse.
- Não se preocupe Felipe, nesta reencarnação você
conseguiu perdoar agora voltará a terra como próximo
filho de Amanda e Bruno e poderá mostrar todo seu amor
de forma fraternal para se curar de vez da sua obsessão
por Amanda que vem de muitas outras reencarnações.
- Sim eu aceito e farei com muito amor e fé.
Oito Dias “Amor e Sofrimento”
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O prazer da vida e saber que tudo está em seu
lugar, não existe sofrimento e sim aprendizado, as perdas
por entes queridos é passageiros e vamos todos nos
encontrar novamente e em uma outra reencarnação
tentar ser feliz, mas para isso devemos mudar nosso
interior sempre para melhor.
Mudar o que podemos mudar e aceitar o que não
podemos mudar, mas saber que o passado é uma forma
de lição não se esquece devemos usa-la para melhorar
nosso futuro não caindo nos mesmos erros.
Todos são capazes de ser felizes, basta querer
mudar para isso acontecer, essa magia se chama lei da
atração “Querer e fazer acontecer”.
FIM