99
i UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E PETRÓLEO CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA SALGADO DESCOMISSIONAMENTO DE ESTRUTURAS OFFSHORE Niterói 2011

OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

i

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA SALGADO

DESCOMISSIONAMENTO DE ESTRUTURAS OFFSHORE

Niterói

2011

Page 2: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E PETRÓLEO

CURSO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO

Projeto Final apresentado ao Curso de

Graduação em Engenharia de Petróleo, pelo

Departamento de Engenharia Química e de

Petróleo, da Universidade Federal Fluminense,

como requisito parcial para a obtenção do Grau

de Engenheiro de Petróleo.

ORIENTADOR:

Prof. Fernando Benedicto Mainier

Niterói

2011

Page 3: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia
Page 4: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia
Page 5: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

iii

EPÍGRAFE

“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à

porta do Ateneu. Coragem para a luta.”. (Raul

Pompéia)

Page 6: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

iv

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente à minha família, por ser a base de tudo. Para

meu pai, o “Companheiro”, que incansavelmente sempre acreditou e confiou nos meus

esforços, para minha mãe, “Caia”, que sempre ajudou com suas orações, ensinamentos e

carinho, para meu irmão, Tadeu, pela boa convivência em Niterói e também para minha vó

“Clarinha”, por ser um exemplo de humildade que eu muito aprendi. Agradeço também a

todos os familiares que recentemente se foram e que fizeram parte de minha construção

como pessoa, como o Tio Paulo e a Tia Hedynha.

Agradeço também a todas as pessoas que passaram por meu caminho, sempre me

ajudando e apoiando, desde os tempos de Belo Horizonte, quando decidi estudar

Engenharia de Petróleo até os dias de hoje.

Page 7: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por iluminar meus caminhos ao longo dos

momentos mais difíceis da graduação, à Universidade Federal Fluminense, por ter

proporcionado um ensino de alta qualidade, ao coordenador do curso Geraldo de Souza

Ferreira, por sugerir o desenvolvimento deste tema, ao professor orientador Fernando

Benedicto Mainier, por toda a orientação e a todos os outros professores da Escola de

Engenharia, por terem contribuído para meu crescimento intelectual.

Page 8: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

vi

RESUMO

Atualmente, a maior parte da produção de petróleo nacional é proveniente de

campos offshore. Desde a primeira descoberta de óleo no leito marinho, em 1969, no campo

de Guaricema, a exploração offshore cresceu de forma acelerada, em especial pelo impulso

provocado pelo II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), em 1975 e mais recentemente

pelas descobertas do Pré-Sal.

Entretanto, o aumento da exploração offshore vem acompanhado de um problema,

que ainda não é percebido diretamente pela sociedade, governo e empresas, mas que já

pode ser notado com o advento dos chamados campos maduros, que são campos a um

estágio de seu completo exaurimento.

Dessa forma, uma preocupação sobre o que fazer com toda a infra estrutura criada

para atender a produção de petróleo, quando esta é encerrada, começa a tomar forma. Uma

análise do arcabouço jurídico tanto nacional como internacional a respeito do

descomissionamento destas estruturas, as consequências ambientais de uma remoção e

um estudo das diversas formas que uma plataforma de petróleo pode ser removida fazem

parte da proposta deste trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: descomissionamento; desmantelamento; instalações offshore;

plataforma; jaqueta.

Page 9: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

vii

ABSTRACT

Currently, the biggest part of national oil production comes from offshore fields. Since

the first offshore discover, in 1969, at Guaricema field, the offshore exploration has grown

rapidly, especially because of the impulse created by II PND (Second National Development

Program), in 1975 and most recently by the pre salt discoveries.

However, the increase of offshore exploration comes with a problem, that isn‟t

perceived directly by society, government and companies, but can be seen with the advent of

mature fields, which are by one step of their total depletion.

In this way, a preoccupation about what to do with all infra-structure created for

attending the petroleum production begins. An analysis of national and international legal

framework about decommissioning of these structures, the environmental consequences of a

removal and a study about the many forms that an oil rig can be removed are part of the

proposal of this work.

KEYWORDS: decommissioning; dismantlement; offshore installations; platform; jacket.

Page 10: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

viii

LISTA DE ABREVIATURAS

ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis.

BSW Basic Sediments and Water.

CECA Comissão Estadual de Controle Ambiental.

CGS Concrete Gravity Structures.

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente.

COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de

Engenharia.

EA Estudo Ambiental.

EIA Estudo de Impacto Ambiental.

EVA Estudo de Viabilidade Ambiental.

FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente.

FPSO Floating, Production, Storage and Offloading.

GLP Gás Liquefeito do Petróleo.

HLV Heavy Lift Vessel.

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis.

ICMS

IEF

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.

Instituto Estadual de Florestas.

IMO International Maritime Organization.

LES Laboratório de Energia Submarina.

LI Licença de Instalação.

LO Licença de Operação.

LPPER Licença Prévia de Perfuração.

LPPRO Licença Prévia de Produção.

LPS Licença de Pesquisa Sísmica.

LTS Laboratório de Tecnologia Submarina.

MMS

NIMA

Minerals Management Service.

Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente.

OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

OSPAR Convenção para a Proteção do Meio Marinho no Nordeste do

Atlântico

PCA Projeto de Controle Ambiental.

PETROBRAS Petróleo Brasileiro S/A.

Page 11: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

ix

PND Plano Nacional de Desenvolvimento.

PROALCOOL Programa Nacional do Álcool.

PUC Pontifícia Universidade Católica.

RIMA Relatório de Impacto Ambiental.

ROV Remote Operated Vehicle.

SERLA Secretaria de Rios e Lagoas.

TLP Tension Leg Platform.

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro.

UNCLOS Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar.

Page 12: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Consumo de combustíveis fósseis no mundo, entre 2006 e 2010 03

Figura 2.1 - Reservatório do tipo Gás em Solução, em uma pressão maior que a

pressão de saturação.

10

Figura 2.2 - Característica do mecanismo de gás em solução 11

Figura 2.3 - Reservatório com mecanismo de capa de gás 11

Figura 2.4 - Característica do mecanismo de capa de gás 12

Figura 2.5 - Reservatório com mecanismo de influxo de água 12

Figura 2.6 - Características do mecanismo influxo de água 13

Figura 2.7 - Reservatório com mecanismo combinado 13

Figura 2.8 - Reservatório com mecanismo de gás em solução - efeito da

segregação gravitacional.

14

Figura 2.9 - Esquema típico da curva de produção de um campo de petróleo até

sua condição de reabilitação como campo maduro.

15

Figura 2.10 - Evolução do preço de venda do barril de petróleo em relação aos

principais produtores: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Nigéria e Venezuela

19

Figura 2.11 - Principais causas do encerramento de uma atividade. 20

Figura 3.1 - Comparação do petroleiro Knock Nevis com os edifícios mais altos do

mundo

29

Figura 3.2 – Cimentação de poços, conforme diretrizes da ANP. 28

Figura 3.3 – Ordenamento Jurídico Brasileiro 37

Figura 4.1 - Principais tipos de plataformas. Da esquerda para direita: 1 e 2)

Jaquetas, 3) torres complacentes, 4 e 5) TLP, 6) Spars,7 e 8) Semi-

Submersíveis, 9) FPSO, 10) Jaqueta.

40

Figura 4.2 - Esquemático geral de uma plataforma tipo jaqueta. 40

Figura 4.3 – Remoção abaixo do leito marinho 42

Figura 4.4 – Um PIG de espuma de poliuretano 44

Figura 4.5 – Manta de concreto. 44

Figura 4.6 – Um HLV de alta capacidade removendo um topside. 45

Figura 4.7 - Tipos de Topsides: Integrado (a), modular (b) e híbrido (c). 46

Figura 4.8 – Plataforma do tipo Jaqueta, com as estacas destacadas em vermelho. 48

Figura 4.9 – ROV. 49

Figura 4.10 – Remoção parcial de uma jaqueta: parte superior para transporte para

o continente.

52

Page 13: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

xi

Figura 4.11 Remoção parcial da jaqueta, onde sua parte superior é lançada no

fundo do mar.

52

Figura 4.12 – Tombamento no local, com auxílio de rebocador. 53

Figura 4.13 – As principais massas de ar no Brasil. 55

Figura 4.14 – Uma jaqueta de pequeno porte munida de uma transição para

instalação de unidade de geração de energia eólica.

56

Figura 4.15 – Layout da fazenda eólica de Scroby Sands: Turbinas próximas de si e

da costa.

57

Figura 4.16 – Uma “fazenda de peixes” no litoral norte americano. 59

Figura 4.17 - Principais opções em um processo de descomissionamento. 60

Figura 5.1 – Uma “marambaia”. 62

Figura 5.2 – Uma jaqueta sendo transportada. 64

Figura 5.3 – Uma jaqueta sendo afundada no local. 64

Figura 5.4 – Caracterização do oceano. 67

Figura 5.5 – Materiais utilizados na construção do recife 70

Figura 5.6 – Cubo de 9 metros e estrutura central. 71

Figura 5.7 – Incrustação da tubulação. 71

Page 14: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Organização do SISNAMA 31

Tabela 3.2 – Principais licenças no setor de petróleo. 33

Tabela 4.1 - Principais diferenças não técnicas entre a Remoção Total e Remoção

Parcial

54

Tabela 4.2 – Comparação da capacidade gerada. 58

Tabela 4.3 - Densidade energética 58

Tabela 5.1 – Utilização dos recifes frente a outras opções. 69

Page 15: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

xiii

SUMÁRIO

Capítulo I – Introdução. 1

1.1 - Contexto histórico da exploração marítima brasileira.

1.2 - Descomissionamento: uma visão geral.

1.3 - Metodologia.

1.4 - Referencial Bibliográfico.

1

3

7

7

Capítulo II – O encerramento da produção de petróleo e métodos de

recuperação.

9

2.1 - Exaustão natural.

2.1.1 – Mecanismo de Gás em Solução

2.1.2 – Mecanismo de Capa de Gás

2.1.3 Mecanismo de Influxo de Água

2.1.4 – Outros mecanismos

2.1.4.1 – Mecanismo Combinado

2.1.4.2 – Segregação Gravitacional

2.2 - Exaustão econômica.

2.3 - Fatores políticos.

9

10

11

12

13

13

14

16

18

Capítulo III – As legislações do descomissionamento. 21

3.1 - Descomissionamento no mundo.

3.1.1 - Convenção de Genebra de 1958 sobre a plataforma continental.

3.1.2 - Convenção de Londres (1972).

3.1.3 - Convenção das Nações Unidas para o Direito Marítimo– UNCLOS

(1982).

3.1.4 - Diretrizes e Normas da Organização Marítima Internacional (IMO) para a

remoção de estruturas e instalações offshore na plataforma continental

(1989).

3.1.5 - Convenção para a Proteção do Meio Marinho no Nordeste do Atlântico

(OSPAR).

3.1.6 - A legislação norte-americana para o Golfo do México.

3.2 - Portarias e resoluções da ANP relacionadas ao descomissionamento.

3.2.1 - Portaria 114/2001 – Devolução de Áreas de Concessão na Fase de

Exploração.

21

21

21

22

22

23

24

25

25

Page 16: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

xiv

3.2.2 - Resolução Nº27/2006 – Desativação de instalações na fase de

produção.

3.2.3 - Portaria Nº25/2002 - Abandono de poços.

3.2.4 - Instrução Normativa nº20 do IBAMA sobre recifes artificiais.

3.3 - O licenciamento das atividades petrolíferas: passado, presente e futuro.

27

27

29

30

Capítulo IV – As várias formas de remoção. 39

4.1 - Remoção total.

4.1.1 - Morte e abandono dos poços.

4.1.2 - Preparação da plataforma.

4.1.3 - Remoção de risers.

4.1.4 - Remoção de dutos e cabos de energia.

4.1.5 - Mobilização de guindastes de alta capacidade.

4.1.6 - Remoção do Topside.

4.1.7 - Remoção da Jaqueta.

4.1.8 - Disposição em terra.

4.1.9 - Limpeza.

4.2 - Remoção Parcial.

4.2.1 - Preparação da plataforma.

4.2.2 - Remoção de condutores e oleodutos.

4.2.3 - Mobilização do HLV.

4.2.4 - Remoção parcial da jaqueta.

4.2.5 - Transporte e disposição em terra.

4.2.6 - Limpeza do local.

4.3 - Principais alternativas na remoção parcial .

4.3.1 - Energia eólica.

4.3.2 - Energia das ondas.

4.3.3 - Terminal de Gás Liquefeito (GLP)

4.3.4 - Aquicultura.

4.3.5 - Laboratório de Pesquisa Marítima.

40

41

41

42

43

44

47

45

49

50

50

50

51

51

51

53

53

55

55

57

58

59

60

Capítulo V – Recifes artificiais: aspectos positivos e negativos.

5.1 - Métodos de implementação.

5.2 - Delimitação da área do recife.

5.3 - Aspectos positivos .

62

64

65

65

Page 17: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

xv

5.4 - Aspectos negativos.

5.5 - Experiência internacional: projeto “Rigs to Reefs”.

5.6 - Brasil: Parceria Petrobras / UFRJ.

Capítulo VI – Conclusões.

Referências bibliográficas

66

68

69

73

76

Anexo A – Listas das principais plataformas de petróleo na costa brasileira.

80

Page 18: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

1

Capítulo I - Introdução

1.1 - Contexto Histórico da Exploração Marítima Brasileira

As atividades de exploração e produção de petróleo no Brasil se iniciaram

predominantemente com a exploração de poços em terra, até o início da década de

1960 (LUCZYNSKI, 2002, p.25). A exploração no mar era tida como inviável dada às

limitações técnicas da época e ao baixo preço do barril de petróleo. Para que a

exploração de petróleo nacional mudasse de cenário, passando a ter a maior parte

dos investimentos na exploração offshore, uma série de fatores internos e externos se

somaram. Um destes fatores foi a criação em 1960 da Organização dos Países

Produtores de Petróleo, a OPEP, com o objetivo em fortalecer os países produtores

frente às empresas compradoras de petróleo, que exigiam uma diminuição no preço

do óleo.

Nos anos de 1970 e 1971, alguns países integrantes da OPEP, como Argélia1,

Líbia2, Iraque3 e Irã4, seguindo uma onda nacionalista, passaram a nacionalizar suas

concessões, diminuindo o poder das grandes companhias internacionais de petróleo e

originando então uma nova ordem na indústria do petróleo.

Em 1973, Israel invadiu Egito e Síria, que lideravam uma coalizão árabe, dando

início a Guerra do Yon Kippur. Como Israel tinha os Estados Unidos como seu aliado,

a OPEP, que tinha como principais membros países árabes, decidiu em um aumento

do preço do barril do petróleo, além de embargar o óleo que tinha como destino os

países que apoiavam Israel. A suspensão do embargo se deu em 1974, em um

esforço das grandes companhias de petróleo e também do apoio do Irã, que era

membro da OPEP desde 1960 aos Estados Unidos.

Todo o período de tempo entre a eclosão da Guerra de Yon Kippur e o

embargo de óleo, ficou conhecido como o Primeiro Choque do Petróleo, que graças ao

aumento do preço do barril, possibilitou o desenvolvimento da exploração no ambiente

marinho, como o Mar do Norte e o Golfo do México, além de também dar início a

programas de economia de combustíveis e de pesquisa de energias alternativas

(LUCZYNSKI, 2002, p.26).

Em 1975, o então presidente da república, Ernesto Geisel, por meio do II PND

– Plano Nacional de Desenvolvimento -, consolidou sua decisão feita anos antes,

quando era presidente da Petrobras, acerca do estímulo da produção offshore, tendo

1 Argélia: Confisco de 51% das companhias francesas que atuavam naquele país.

2 Líbia: Nacionalização da inglesa British Petroleum.

3 Iraque: Criação da Iraq National Oil Company.

4 Irã: Criação da National Iranian Oil Company.

Page 19: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

2

em vista o fracasso das bacias terrestres e também com o objetivo em reduzir a

dependência ao petróleo estrangeiro.

Segundo D‟Almeida (2011), as principais características do II PND no plano da

matriz energética nacional era de ampliá-la, buscando por diferentes fontes de

energia, como a energia nuclear e a hidráulica, além de criar o Programa Nacional do

Álcool (PROALCOOL), em novembro de 19755. Em relação ao setor petrolífero, o II

PND buscava um maior investimento no setor de upstrem, em detrimento do

downstream, que historicamente era o que tinha maior parcela de investimentos, o que

foi recompensado pela descoberta em 1974 da Bacia de Campos. Ainda no upstream,

em 9 de outubro de 1975 houve a criação dos chamados “Contratos de risco”, que

proporcionaram a entrada de empresas estrangeiras no país pela liberação de áreas

da plataforma continental brasileira para exploração privada.

No Brasil, a exploração da costa foi iniciada antes do primeiro choque, com o

desenvolvimento da exploração na costa nordestina, mais precisamente nos estados

de Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Bahia, que tinham um preço

relativamente barato, devido à baixa profundidade. Entretanto, o vetor para a

exploração de petróleo no mar aconteceu como consequência da Crise do petróleo,

onde a alta do preço do barril possibilitou a produção em áreas antes tidas como

inviáveis. O sucesso da exploração offshore do Golfo do México pelos Estados

Unidos, onde a tecnologia para exploração offshore estava sendo desenvolvida desde

o final da década de 1950 também motivou a exploração offshore. Em 1968, o campo

de Guaricema, no Sergipe, começava a produzir petróleo.

Entre as diversas metas do II PND, estava a implantação de um programa para

desenvolvimento da Bacia de Campos, descoberta em 1974. Em 1973 a Petrobras

encontrou petróleo na costa do Rio Grande do Norte. O II PND teve um resultado

bastante satisfatório no que se refere ao desenvolvimento de uma nova fronteira

exploratória: 71% dos campos descobertos em um período de 43 anos (1954/1997)

foram descobertos em apenas 12 anos (1976/1988) (LOPES, 2004, p.31).

Consoante com as novas descobertas, o desenvolvimento e instalação de

plataformas no ambiente marítimo cresceu de maneira significativa. Desde 1947, com

a instalação da primeira plataforma de petróleo no mar, no Golfo do México, a

exploração e produção offshore cresceu constantemente.

Segundo Ferreira (2001, p.43), existem no mundo cerca de 7270 instalações

offshore distribuídas em mais de 53 países no mundo, em regiões como o Golfo do

México, Mar Negro, Mar da China, Mar do Norte, Mediterrâneo, a costa brasileira e

5 10 anos depois, 96% dos automóveis produzidos no Brasil eram movidos a álcool.

Page 20: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

3

mais recentemente a costa africana, sendo responsáveis pelo suprimento de cerca de

60% do petróleo mundial (BRITISH COLUMBIA, 2011). A Figura 1.1 ilustra o consumo

mundial de

petróleo.

Figura 1.1 - Consumo de combustíveis fósseis no mundo, entre 2006 e 2010 Fonte: World Bank, 2011.

Tipicamente, uma plataforma de petróleo é projetada para ter uma vida útil de

cerca de 20 anos, porém algumas conseguem operar em um período de tempo maior,

variando de 30 a 40 anos. Estima-se que existem aproximadamente 1500 que estão

no final de sua vida produtiva, e que terão a um curto ou médio prazo, passar por um

processo de descomissionamento (MANAGO, 1997). Em 2009, o Minerals

Management Service (MMS)6 estimou que as plataformas localizadas no litoral do

Pacífico, nos Estados Unidos, como as plataformas na costa do estado da Califórnia,

iriam chegar ao fim da vida econômica entre os anos de 2015 e 2030, momento em

que elas deverão ser desativadas e removidas ou então transferidas para um uso

alternativo, o que indica que o descomissionamento será objeto de grande interesse

nos próximos anos.

1.2 - Descomissionamento: uma visão geral

Pelo exposto no item anterior, a exploração de petróleo offshore no Brasil foi

impulsionada basicamente pelo II PND, que por sua vez foi uma consequência do

6 MMS – Sigla em inglês de “U.S Department of the Interior Minerals Management Service”.

Page 21: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

4

primeiro choque do petróleo. Dessa forma, foi a partir do estabelecimento de diretrizes

políticas que possibilitaram que a exploração em bacias offshore ficasse intensiva, o

uso de plataformas, além de outras instalações marítimas foi necessário para o

desenvolvimento e produção do petróleo no mar. Levando em conta que a produção

brasileira de petróleo em alto mar é relativamente recente, os problemas ocasionados

pelo abandono de plataformas ainda não ocorreram de forma significativa. Contudo, a

preocupação pelo destino das instalações de produção e suas consequências sociais,

ambientais e econômicas, deve começar desde agora, para evitarmos problemas

futuros (LUCZYNSKI, 2002, p.52). É baseado nesta preocupação que o presente

trabalho se inspira.

Em algum dia, cada campo desenvolvido, possuidor de infraestrutura para a

produção de petróleo, como poços, risers, oleodutos, gasodutos, árvores de natal e

muitos outros equipamentos, vai atingir o fim de sua vida útil. Após todas as opções

para estender a vida de determinado campo de petróleo terem sido feitas, as

instalações serão desativadas e o descomissionamento será inevitável.

Segundo a visão de Ruivo (2001, p.20), o descomissionamento é o nome dado

ao processo que ocorre, ou deveria ocorrer no final da vida produtiva de uma

determinada instalação, onde a operadora de uma instalação de petróleo ou gás

natural vai planejar, aprovar e implementar a remoção, eliminação ou reuso de uma

instalação, quando não é mais necessário o seu uso para a produção de petróleo, de

acordo com as melhores práticas da engenharia.

Pode ser descrito como a melhor maneira de encerrar a operação de

produção no final da vida produtiva do campo. É essencialmente

multidisciplinar, pois requer um método detalhado e ponderado com

diversas áreas que a engenharia: ambiental, financeira, política e de

bem estar e segurança. Antigamente, o termo “abandono” era utilizado

para denominar esse procedimento. Contudo, [...] concluiu-se que seria

melhor a atualização do termo, uma vez que para alguns o termo

“abandono” sugere o descarte irresponsável de materiais (RUIVO,

2001, p.20).

Em geral, o descomissionamento é uma operação complexa e delicada, tendo

um risco associado. As principais considerações que devem ser levantadas são o

potencial de impacto ao meio ambiente, à saúde e segurança humana, viabilidade

técnica, custos do planejamento e à aceitabilidade da sociedade. O

descomissionamento pode ser alcançado de diferentes maneiras, dependendo do

local do empreendimento e do tipo de instalação a ser descomissionada, envolvendo

Page 22: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

5

um longo período de consultas com grupos interessados, como pescadores e grupos

ambientalistas.

De acordo com Lakhal (2009, p.1) o primeiro processo de descomissionamento

que se tem notícia foi o caso de uma plataforma no golfo do México, em 1973.

Entretanto, o mais conhecido e também o principal motivador para que o processo de

descomissionamento ocorresse de forma planejada, como é hoje em alguns países,

promovendo o início da realização de estudos sobre o tema e também modificando

parte das legislações sobre as atividades marítimas foi o caso do abandono de uma

plataforma de petróleo do tipo Spar, no campo de Brent em 1995, no Mar do Norte, o

que ficou conhecido como o caso “Brent Spar”, nome dado também à plataforma em

questão.

O abandono da plataforma pela Shell, em uma zona abissal foi duramente

criticado pelo grupo ambientalista Greenpeace, que se mostrou preocupado com as

consequências ambientais deste ato. Então, em 1998 a Shell decidiu em reutilizar

parte da plataforma para a ampliação de instalações portuárias na Noruega. Desde

então, o problema passou a ser tratado em diferentes vertentes, envolvendo os

governos, e a sociedade.

Os processos de desativação de infraestrutura e abandono de poços variam de

caso a caso de acordo com a regulamentação vigente, condições geográficas e

características das instalações em questão, demandando, portanto, o desenvolvimento

de um projeto específico para cada caso.

De acordo com Brain & Company (2009, p.169), estes processos envolvem

uma série de atividades agrupadas em uma série de etapas, tais como planejamento,

abandono de poços, preparação das instalações para remoção, abandono de dutos,

remoção, transporte, armazenamento ou afundamento das estruturas e por fim,

inspeções após a remoção.

Atualmente, as duas regiões do globo que possuem relativa experiência em

relação ao descomissionamento de estruturas offshore são o Golfo do México e o Mar

do Norte. No entanto, devido aos diferentes contextos econômicos, políticos, técnicos,

ambientais e condições geográficas de cada região, a comparação direta dos casos

norte americano e europeu com o brasileiro não é recomendada. Cada projeto de

descomissionamento deve ser feito de forma única, pois as características variam

caso a caso (BRAIN & COMPANY, 2009, p.168).

Hoje em dia, um ponto alvo de grandes discussões é o destino final de uma

estrutura offshore, que pode ser:

Remoção completa e transporte até a costa para reutilização ou conversão;

Page 23: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

6

Afundamento em um local especificamente escolhido para formação de recifes

artificiais;

Reutilização no local sem desmantelamento, através da instalação de usinas

para geração de energia elétrica, por meio da energia dos ventos ou da energia

das ondas, ou até mesmo na instalação de bases para pesquisa

oceanográfica, para estudo de parâmetros físicos, químicos, biológicos e

geológicos dos oceanos.

Apesar da maior empresa brasileira, a Petrobras, ainda não ter descomissionado

instalações de produção de grande porte e em quantidade significativa, a preocupação

com o descomissionamento é crescente, uma vez que uma série de plataformas do

tipo jaqueta deverão ser desativadas nos próximos anos, em virtude do

amadurecimento dos campos de petróleo, o que tornará o descomissionamento algo

inevitável.

A Petrobras possui hoje 71 plataformas fixas operando em

águas nacionais, sendo que um número restrito delas, 7, caso

venham a ser desativadas, demandariam recursos de maior

escala por estarem instaladas em lâmina de água superior a

100 m e possuírem capacidade produtiva superior a 50.000

barris por dia. (BRAIN & COMPANY, 2009, p.170).

Algumas empresas estrangeiras, como a Saipem e Aker que atuam no Brasil

fornecendo serviços de construção offshore possuem experiência no serviço de

desativação, por terem prestado serviços para as companhias operadoras no Mar do

Norte.

Em um processo de descomissionamento, essas empresas

podem prestar serviços de desativação, sendo necessário

somente um acompanhamento de suas capacidades para

realizar serviços demandados de acordo com a legislação

vigente no país (BRAIN & COMPANY, 2009, p.170).

Os estaleiros nacionais, por meio de incentivos governamentais, além das regras

de conteúdo local mínimo, alavancaram as atividades de construção de navios, que

estava há muitos anos em decadência no Brasil. Até 2017, está prevista a contratação

de 40 navios sonda e plataformas de perfuração submersíveis para operar em águas

profundas e ultra profundas, com conteúdo nacional da ordem de 65% em 2018 o que

Page 24: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

7

vai possibilitar o desenvolvimento ainda maior da indústria naval nacional

(D‟ALMEIDA, 2011).

O estabelecimento de normas ambientais que visem à regulamentação da

atividade de descomissionamento, como a Licença Desativação, que será tratada ao

longo do trabalho podem ser decisivas para a consolidação do parque nacional de

estaleiros, que podem ser capacitados para a realização de operações de

descomissionamento, concorrendo com as empresas internacionais e gerando

emprego e renda para o Brasil.

1.3 – Metodologia

Como o tema descomissionamento é relativamente novo no Brasil, o

desenvolvimento de um trabalho que possibilite a perfeita compreensão do estudo

realizado é muito importante para aqueles que possam se interessar pelo tema e que

no futuro darão continuidade ao seu desenvolvimento.

Ao se estudar o processo de descomissionamento de instalações offshore,

percebe-se que existe pouca divulgação desse assunto. Grande parte das referências

existentes são estrangeiras e as boas obras nacionais são poucas, já que o assunto é

pouco explorado no Brasil. Este será um trabalho de pesquisa bibliográfica e

compilação da literatura, como livros, revistas, jornais, artigos científicos, monografias,

dissertações e redes eletrônicas, de modo a verificar o conhecimento acumulado

sobre o assunto e comparar as diversas opiniões existentes sobre o tema.

Inicialmente, serão trabalhadas as questões básicas acerca do

descomissionamento, como as razões que levam uma empresa a abandonar um

projeto e as etapas do processo. Em um segundo momento, será feito um estudo das

legislações internacionais e nacionais sobre o assunto, tendo como objetivo propor

melhorias para a legislação nacional. Alternativas energéticas, como a energia solar e

energia das ondas serão levadas em conta, quando do estudo do processo de

descomissionamento em questão.

1.4 – Referencial Bibliográfico.

Para a pesquisa, uma combinação das palavras chave descritas a seguir foram

utilizadas, limitando o período de abrangência na obtenção de dados estatísticos. A

revisão bibliográfica foi baseada nas publicações de livros, artigos, teses, periódicos, e

demais documentos pertinentes às técnicas de descomissionamento em estruturas

offshore.

Page 25: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

8

A pesquisa bibliográfica relacionada ao tema foi conduzida através da consulta

aos "Abstracts" da área de petróleo e bancos de dados tais como: CAPES, Bibliotecas

das Universidades Federais e Estaduais, como a Universidade Estadual de Campinas,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, além de

bibliotecas virtuais, como a Elsevier e dos tradicionais livros.

Como abordado no item 1.3, o número de obras nacionais sobre o tema é

escasso. Entretanto, embora sejam poucas, algumas possuem notória qualidade e

foram utilizadas para o desenvolvimento deste trabalho. Destacam-se a tese de

doutorado de Luczynski, E., intitulada “Os condicionantes para o abandono das

plataformas offshore após o encerramento da produção”, o livro ”Decommissioning of

Offshore Oil and Gas Instalations: Economic and Fiscal Issues” de autoria de Ferreira,

D. e a dissertação de mestrado ”Descomissionamento de Sistemas de Produção

Offshore”, de Ruivo, F.

Durante a pesquisa bibliográfica, as seguintes palavras chave foram utilizadas:

"decomissioning offshore structures", descomissionamento de estruturas offshore,

"offshore production facilities", instalações de produção offshore, "petroleum

environmental effects", efeitos do petróleo no meio ambiente, ”petroleum economical

statistics”, estatísticas econômicas do petróleo, “abandonment and platform disposals”,

abandono e disposição de plataformas, “environmental regulation” , legislação

ambiental, “International Maritime Organization – IMO”, Organização Marítima

Internacional.

Page 26: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

9

Capítulo II – O encerramento da produção de petróleo e métodos de

recuperação.

Existem na literatura, três razões básicas para o encerramento de produção em

um reservatório e o consequente abandono de uma plataforma de produção:

Exaustão natural;

Exaustão econômica;

Fatores políticos.

2.1 - Exaustão natural

A primeira razão abordada neste trabalho para o abandono de uma plataforma

de petróleo é a exaustão natural, que é atualmente representada pelos campos

maduros de petróleo, que estão a um estágio de seu total esgotamento.

Um campo de petróleo ou gás natural maduro pode ser entendido como um

campo plenamente desenvolvido, ou seja, com sua produção plenamente

desenvolvida, amadurecida (FERREIRA, A., 2009).

Novaes (2010, p.42) cita várias definições sobre campos maduros, de acordo

com o ponto de vista de vários autores. Schiozer (2002), citado por Novaes (2010),

define campo maduro como sendo aquele que possui volume de petróleo recuperável

inferior a três milhões de barris de óleo equivalente e que esteja produzindo há pelo

menos 10 anos tanto onshore quanto em situação offshore com profundidades

inferiores a 50 metros.

A definição dada por Ribeiro, M. (2007), citada por Novaes (2010), indica que

poço ou campo produtor maduro é aquele que já passou pelo seu ápice de produção e

necessita de investimentos em técnicas secundárias ou complementares para o

prolongamento de sua vida econômica útil.

Para entendermos sobre como um reservatório passa de seu ápice produtivo e

perde pressão até se tornar inviável, tornando o campo maduro, é necessário entender

um pouco sobre os mecanismos de produção de um reservatório de petróleo.

Ao longo da produção de um campo de petróleo, a energia contida

originalmente no reservatório, oriunda das pressões geológicas as quais os fluídos

estão submetidos, vai diminuindo. Inicialmente, a rocha reservatório possui um volume

de hidrocarbonetos, petróleo, gás natural ou ambos associados em diferentes

proporções, na maioria dos casos, acompanhados de água.

Os fluidos presentes no interior da rocha reservatório estão submetidos a

pressões que variam de acordo com o mecanismo de produção de cada reservatório,

Page 27: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

10

podendo chegar a tal ordem de grandeza que são suficientes para levar os fluídos até

a superfície, o que é conhecido como “surgência”. Existem três mecanismos básicos

de reservatórios de petróleo, que influenciam diretamente no tempo de surgência do

petróleo até a superfície:

Gás em solução;

Capa de gás;

Influxo de água.

Existe ainda o mecanismo de segregação gravitacional, que é na verdade o efeito

da gravidade que vai ajudar no desempenho dos outros mecanismos, além do

mecanismo combinado, onde todos os outros quatro mecanismos anteriores podem

atuar conjuntamente.

2.1.1 - Mecanismo de gás em solução

Em um reservatório do tipo gás em solução, toda a energia necessária para a

produção vem do próprio gás dissolvido no óleo, já que este se encontra isolado de

um possível aquífero situado em um ambiente externo, ou da presença externa de

gases (Figura 2.1).

Figura 2.1- Reservatório do tipo Gás em Solução, em uma pressão maior que a pressão de saturação.

Fonte: Rosa (2006, p.316).

Durante a produção de petróleo, a pressão interna do reservatório se reduz e

como consequência, os fluidos lá contidos se expandem, possibilitando o

deslocamento de fluidos e a produção do reservatório. Com o passar do tempo, a

redução contínua de pressão vai provocar a vaporização das frações mais leves do

óleo. É a expansão do gás que desloca o liquido para fora do meio poroso, pois o gás

é mais expansível do que o líquido. Entretanto, neste mecanismo, na medida em que

os hidrocarbonetos vão vaporizando, chega um ponto em que o gás forma uma fase

contínua, sendo produzido juntamente com o óleo. Isso faz com que o gás, que é o

Page 28: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

11

principal elemento responsável pelo fornecimento de energia para o reservatório, seja

drenado junto com o óleo, saindo do reservatório e fazendo com que a pressão do

reservatório caia rápida e continuamente, como mostra a Figura 2.2 (ROSA, 2006,

p.316).

Neste mecanismo de produção, a taxa de recuperação é baixa, tipicamente

inferior a 20% do volume original da jazida. A energia se esgota rapidamente, fazendo

com que a quantidade de óleo produzida seja insuficiente para cobrir os custos de

produção, passando a produzir então com valores antieconômicos. Isso pode levar ao

abandono do reservatório, mesmo quando a quantidade de óleo restante ainda seja

bastante significativa. Quando o volume de óleo não drenado é considerável, o

reservatório é alvo de projetos com o intuito de aumentar a produção, com a utilização

de técnicas de elevação artificial e de recuperação de petróleo (ROSA, 2005, p.317).

Figura 2.2 - Característica do mecanismo de gás em solução (ROSA, 2006, p.317).

2.1.2 Mecanismo de capa de gás

No mecanismo de capa de gás o reservatório já se encontra com gás em

equilíbrio com o óleo no estado inicial de produção, devido às condições

termodinâmicas de temperatura e pressão. A fase vapor, por ter uma densidade menor

que o líquido, se acumula na parte superior do reservatório, formando o que é

conhecido como “capa de gás” (Figura 2.3).

Figura 2.3 - Reservatório com mecanismo de capa de gás Fonte: ROSA (2006, p.318).

Page 29: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

12

O poço é canhoneado na parte inferior do reservatório, que é a que contém

óleo, e é colocado em produção, acarretando em uma diminuição de pressão devido à

retirada de fluido (Figura 2.4). A queda de pressão vai ser transmitida para a capa de

gás, que com o tempo irá responder com uma expansão, em direção à região que

antes estava ocupada por óleo, penetrando-a. Como o gás tem uma compressibilidade

muito alta, sua expansão ocorre sem que haja queda substancial de pressão (ROSA,

2006, p.318).

Neste tipo de mecanismo, as recuperações são da ordem de 20% a 30%,

demorando mais tempo para a instalação de mecanismos de elevação artificial e

recuperação de petróleo e consequentemente, retardando o abandono do reservatório

em questão.

Figura 2.4 - Característica do mecanismo de capa de gás Fonte: ROSA, 2006, p.318.

2.1.3 Mecanismo de influxo de água

Este mecanismo acontece quando a porção que contém óleo fica em contato

direto com um aquífero, em sua parte inferior.

Figura 2.5 - Reservatório com mecanismo de influxo de água Fonte: ROSA, 2006, p.319.

Da mesma forma dos mecanismos anteriores, a produção de óleo acarreta em

uma redução de pressão dentro do reservatório. Assim, a resposta do aquífero à

redução de pressão é de ocupar o local antes ocupado pelo óleo, por meio do influxo

Page 30: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

13

de água, proporcionando o deslocamento de óleo para os poços e também

promovendo a manutenção de pressão (ROSA, 2006, p.319).

Segundo Rosa (2006, p.319) o mecanismo de influxo de água é o que permite

uma maior recuperação, chegando a níveis de 30 a 40%, podendo chegar a valores de

75% do óleo originalmente existente, fazendo com que o reservatório demore uma

quantidade de tempo considerável para uma intervenção e consequentemente para

um abandono.

Figura 2.6 - Características do mecanismo influxo de água Fonte: ROSA, 2006, p.320.

2.1.4 Outros mecanismos

Além dos três mecanismos citados acima, ainda podem existir outros dois

tipos:

Mecanismo combinado;

Segregação gravitacional.

2.1.4.1 – Mecanismo combinado

No mecanismo combinado, como o próprio nome diz, o mecanismo de

produção vai ser a sobreposição dos efeitos dos mecanismos anteriores em um único

reservatório (Figura 2.7), não sendo possível enquadrá-lo em um tipo ou outro de

mecanismo (ROSA, 2006, p.320).

Figura 2.7 - Reservatório com mecanismo combinado

Fonte: ROSA, 2006, p.320.

Page 31: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

14

2.1.4.2 - Segregação gravitacional

O efeito da força gravitacional é, neste mecanismo, o agente responsável pela

melhoria do desempenho dos mecanismos de produção. A gravidade, combinada a

outros fatores, como a permeabilidade vertical e o tipo de geometria da rocha

reservatório faz com que o gás seja acumulado na parte superior do reservatório,

formando uma capa de gás (Figura 2.8). Dessa maneira, o gás irá segregar do óleo

devido a diferença de densidade entre as duas fases (ROSA, 2006, p.321).

Figura 2.8 - Reservatório com mecanismo de gás em solução - efeito da segregação gravitacional.

Fonte: ROSA, 2006, p.321.

Podemos concluir que cada um dos mecanismos de produção acima citados

utilizam-se de técnicas de recuperação primária, que são comuns na fase inicial de

produção, ou seja, técnicas que fazem uso de mecanismos naturais do reservatório

aproveitando a expansão dos fluidos e do gás dissolvido. Nestes casos, a expansão

da chamada “capa de gás” e do aquífero são eficientes para elevação do fluído até a

superfície.

Nos casos em que a produção até a superfície não é surgente, ou quando o

fluido era, mas por motivos de perda de energia o reservatório deixou de ser, técnicas

de elevação artificial, como o Bombeio Centrífugo Submerso, Bombeio de Cavidades

Progressivas, Bombeio Mecânico com Hastes e Gás Lift, são utilizadas para elevação

do fluído até a superfície. Tipicamente, um reservatório possui grande energia inicial,

diminuindo a quantidade de energia necessária para que a elevação artificial ocorra e

o fluido atinja a superfície.

Com transcorrer da produção, o reservatório vai perdendo o volume de

hidrocarbonetos que originalmente possuía, e consequentemente perdendo pressão,

evoluindo para a condição de reservatório maduro e necessitando de técnicas de

recuperação, para o prolongamento da vida útil do reservatório, por meio da alteração

das condições naturais do reservatório e consequentemente evitando o decaimento da

pressão. As principais técnicas são:

Injeção de gás na cobertura de gás ou na zona de óleo;

Injeção de água no aqüífero ou na zona de óleo;

Page 32: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

15

Thomas et al (2001, p.205) faz referência ainda aos métodos especiais de

recuperação, utilizando artifícios mais sofisticados tais como os “Métodos térmicos” no

qual se altera a viscosidade do fluido através da injeção de vapor ou combustão in situ

e os “Métodos Químicos”, onde a injeção de alguns produtos alteram as

características químicas do óleo ou da rocha.

A Figura 2.9 apresenta esquematicamente o ciclo de vida de um reservatório,

da época em que é descoberto, o momento de declínio de sua produção até a

condição limite de sua economicidade. A situação de reabilitação e prolongamento de

sua vida útil já ocorre na condição de campo maduro. O projeto de reabilitação será

proporcionalmente sofisticado à possibilidade de incremento da produção (FERREIRA,

2009).

Figura 2.9 - Esquema típico da curva de produção de um campo de petróleo até sua condição de reabilitação como campo maduro.

Fonte: Adaptado de Ferreira (2004, p.32), citado por Laikhal (2009, p.114).

À medida que o tempo vai passando a produção de petróleo vai

decrescendo, tendendo-se à situação em que a receita proveniente

da venda do petróleo é insuficiente para cobrir as despesas de

manutenção da operação. Essa é a condição de abandono do projeto

(THOMAS, 2001, p.197).

Uma característica comum a todos os campos maduros é a baixa

produtividade, além do alto índice de BSW7. Com o decorrer dos anos, a produção de

água vai se superpondo à produção de petróleo, superando-a largamente com o

avanço da maturidade, chegando a patamares de 5% de petróleo para 95% de água

em volume. Esta característica confere uma maior dificuldade à empresa operadora de

um campo maduro, pois a água produzida não pode ser descartada in natura no meio

ambiente, requerendo tratamento ou reinjeção. Na bacia do Recôncavo Baiano, que

7 BSW – Basic Sediments & Water: É a razão entre a quantidade de água e sedimentos produzida pela quantidade de óleo, água e sedimentos.

Page 33: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

16

foi a primeira bacia sedimentar brasileira a ser explorada, muitos campos foram

abandonados pela Petrobras e devolvidos para a ANP. Atualmente, a principal bacia

exploratória brasileira, a Bacia de Campos, está entrando na fase de maturidade

(SANTOS JR, 2009, citado por NOVAES (2010, p.48).

Segundo Zamith & Santos (2007), citado por Novaes (2010, p.50), a bacia do

Recôncavo Baiano, possui a maioria dos poços com idade avançada, variando de 30 a

60 anos de produção. A utilização de técnicas avançadas de recuperação nestes

campos, que iniciaram sua produção nas décadas de 1930 a 1950 se mostra ineficaz,

e alguns destes campos em 2007 já estavam em seu limite econômico.

Pelo conteúdo exposto, os campos maduros são um conceito chave para o

entendimento das razões que levam ao descomissionamento. A entrada da Bacia de

Campos, principal bacia brasileira em produção de petróleo em um estágio de

maturação nos leva a estudar o processo de descomissionamento, que nunca ocorreu

em águas nacionais e que promete ser um grande desafio nos próximos anos.

2.2- Exaustão econômica

Na exaustão econômica, a produção será interrompida mesmo que a rocha

reservatório ainda contenha fluidos. Ela acontece quando o fluxo de caixa da operação

já não é mais favorável à operadora, ou seja, a soma das despesas envolvidas no

processo são mais altas do que as receitas. Com isso, alguns dos recursos naturais

não são extraídos ou até mesmo descobertos, em função dos elevados custos de

extração.

Ruivo (2001, p.25) estabelece duas condições básicas para a ocorrência de

uma exaustão econômica. A primeira e mais óbvia, é baseada na lei de oferta e

procura, onde o preço de venda do petróleo deve possuir um range, ou seja, variar

entre um valor mínimo possível, onde um preço abaixo dele não garante lucros e um

preço máximo possível, onde um preço acima dele faz com que a empresa perca

mercado, pela diminuição da demanda. Dessa forma, basta o preço exceder os dois

limites fixados, para baixo do mínimo ou para cima do máximo, que a produção irá ser

interrompida.

A segunda condição tratada por Ruivo (2001, p.25) mostra o aumento do custo

marginal de produção de petróleo na medida em que a reserva diminui. Quanto menor

a quantidade de petróleo no reservatório, maior é o preço envolvido, devido ao uso de

tecnologias mais sofisticadas, e, portanto mais caras para sua extração, fazendo com

que a exploração de petróleo deixe de ser viável.

Page 34: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

17

De acordo com Luczynski (2002, p.49), o produtor, quando não tem

preocupações de abastecimento interno, ou não tiver quem a regule, pode apostar em

um cenário futuro de escassez ou de maior demanda para o produto, de modo a

produzir e vender posteriormente. Nessa abordagem, a margem de lucro pode

aumentar com a produção da chamada “renda de escassez”, devido à diminuição da

quantidade de petróleo no mercado. Um exemplo prático da redução de oferta é

aquela praticada pela OPEP com base na diminuição da produção, podendo acontecer

futuramente com a redução natural do recurso.

Ruivo (2001, p.25) diz que a taxa ótima de extração de petróleo é determinada

pela empresa durante todo o momento da vida produtiva de determinado reservatório.

A determinação da taxa ótima requer um equilíbrio entre o lucro marginal, preço e

custo marginal de extração, que possuem uma ampla margem e variação, como os

custos de operação e dos custos futuros, que variam principalmente em função da

redução das reservas, acarretando também em uma redução do VPL - Valor Presente

Líquido - sobre ganhos futuros.

A operadora determinará o momento das operações de descomissionamento,

considerando fatores financeiros e estratégicos, feitos para cada instalação específica.

Estes fatores incluirão:

Natureza da geologia do campo;

Tempo de vida restante do reservatório;

Estratégia desenvolvida para a produção do campo;

Possibilidade de estender a vida útil dos equipamentos, utilizando-os em

campos marginais e/ou poços satélites;

O preço do óleo (difícil de ser medido), custos de operação e manutenção;

Exigências das legislações ambientais, cada vez mais severas;

Se a plataforma possui outra finalidade, como bombeamento de fluidos.

A data exata do momento de descomissionar uma estrutura não é possível ser

determinada, devido à enorme quantidade de variáveis envolvidas e suas variações e

das influências externas, como preço do barril. Entretanto, é possível ter uma ideia de

quando será o momento de descomissionar, por meio do uso de metodologias, e

lembrando que vai existir uma margem de erro associada ao uso da metodologia.

Além da variável econômica alguns países, como o Brasil, estão passando por

uma reformulação na legislação sobre o descomissionamento, e dependendo do grau

de exigências, cada vez mais severas, sobretudo em relação ao aspecto ambiental, os

custos do processo de descomissionamento poderão aumentar, resultando em uma

Page 35: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

18

antecipação da data para início deste processo, caso o capital utilizado seja

proveniente do próprio projeto em questão.

Segundo Ruivo (2001, p.26), a metodologia apresentada deve exigir da

empresa operadora um modelo de simulação numérica de reservatórios, para que seja

possível a determinação da quantidade de óleo disponível para a retirada, além da

previsão da capacidade dos poços de produção. Dessa forma, é possível determinar a

taxa de produção ótima, e consequentemente o rendimento financeiro a ser obtido

com a venda do petróleo.

A partir dos resultados gráficos do modelo de simulação, é possível prever o

momento onde os custos excedem os rendimentos, definindo então o momento onde o

processo de descomissionamento deve ser iniciado.

2.3 – Fatores Políticos

Segundo Luczynski (2002, p.46) os fatores políticos são atribuídos

principalmente às políticas públicas de um governo. Segundo ele, elas são formas

pelas quais o governo tem para mudar o país no plano econômico e social, e possuem

consequências significativas na sociedade de um país.

No caso brasileiro, um plano político/econômico que resultou em

consequências diretas para a sociedade e que possui relevante interesse para o

trabalho foi o II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND, já citado anteriormente,

cujos principais objetivos eram:

Diminuição da dependência externa de petróleo;

Incentivo à exploração de petróleo em aguas profundas;

Criação de programas de pesquisa e desenvolvimento de energias

renováveis ou alternativas, programas de conservação de energia ou de

racionamento de combustível.

Segundo Luczynski (2002, p.47), os efeitos negativos do choque de 1973 na

balança comercial brasileira eram ainda sentidos nos anos seguintes, devido ao

aumento de cerca de 70% do preço do barril importado dos países membros da

OPEP, elevando os gastos com a importação de petróleo em cerca de US$ 300

milhões.

Page 36: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

19

Figura 2.10 - Evolução do preço de venda do barril de petróleo em relação aos principais produtores: Arábia Saudita, Irã, Iraque, Nigéria e Venezuela.

Fonte: Luczynski (2002, p.47).

Segundo Luczynski (2002, p.47), após a implementação das diretrizes gerais

do II PND, como o incentivo oficial a programas de pesquisa e desenvolvimento de

novas tecnologias e combustíveis, assim como de conservação de energia, a

consolidação do novo modelo energético, baseado em energias renováveis, o

Proálcool era iminente. No entanto, embora 90% dos carros brasileiros, em um dado

momento, terem sido movidos a álcool, o Proálcool acabou caindo no descrédito da

população brasileira, quando o Governo Federal, que possuía o monopólio de

distribuição dos combustíveis, não foi capaz de garantir o abastecimento interno, em

virtude dos preços internacionais do açúcar estarem mais altos que os preços do

álcool, dando maiores lucros ao produtor a exportação de açúcar.

O Proálcool, que tinha a vantagem de ser uma alternativa ecológica,

economicamente viável e com tecnologia nacional, liderada pelo Instituto Tecnológico

da Aeronáutica (ITA) não foi capaz de assegurar o abastecimento energético nacional,

fracassando, através do desabastecimento interno que logo aconteceu no país.

Pela visão de Luczynski (2002, p.48), a exploração de petróleo offshore

nacional não teria evoluído tanto se o Proálcool tivesse sido um programa de sucesso,

alcançado êxito com a substituição parcial dos combustíveis derivados de petróleo e

promovendo uma redução drástica da dependência externa de petróleo.

Luczunski (2002, p.48) aborda a questão dos fatores políticos fazendo uma

tese hipotética, onde todos os países do mundo tivessem um “Proalcool” bem

estruturado, eficaz, aceito pela população e que o uso do petróleo fosse destinado

somente à produção de combustíveis. Dessa forma, poderia imaginar que ocorreria a

diminuição da base petróleo na matriz energética, que poderia levar a diminuição do

ritmo de extração de petróleo offshore, com o intuito em preservar os recursos para o

futuro e redirecionar os investimentos para outros setores; além de diminuir a

produção de petróleo, chegando ao ponto das empresas encerrarem a produção em

Page 37: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

20

áreas cujo custo de exploração é tipicamente superior, como as áreas de alto risco

geológico ou em mar aberto, fazendo com que elas passem por manutenções

periódicas ou então fazendo com que elas sejam abandonadas necessitando,

portanto, de um processo de descomissionamento.

Figura 2.11 - Principais causas do encerramento de uma atividade.

Baseado no que foi acima exposto, podemos concluir que o encerramento de

uma atividade de exploração de petróleo está condicionada a fatores políticos, por

meio de interesses; fatores naturais, pelo exaurimento do reservatório; e pela perda de

economicidade do projeto, com o preço do barril influenciando diretamente, além de

uma demanda reduzida do produto explorado. Percebe-se também que os fatores

econômicos se sobrepõem aos fatores naturais, pois o esgotamento parcial está

intimamente ligado aos fatores financeiros.

Políticos

Naturais

Econômicos

Page 38: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

21

Capítulo III – As legislações do descomissionamento.

3.1 - Descomissionamento no mundo

Segundo Ferreira et al. (2005, p. 35) existem várias convenções internacionais e

tratados a respeito ao descomissionamento offshore. Algumas das mais importantes

são:

3.1.1 - Convenção de Genebra de 1958 sobre a plataforma continental

Possui significativa importância, por ser a primeira convenção sobre o assunto.

Sua implementação foi iniciada em 1964, quando 56 países a assinaram. Sua principal

característica foi a recomendação da remoção completa das instalações. Grande parte

da indústria mundial de petróleo argumenta que as recomendações desta convenção

não são mais aplicáveis, enquanto que o público em geral e outros interessados

divergem a respeito da não aplicabilidade.

3.1.2 - Convenção de Londres (1972)

A convenção de Londres foi um tratado assinado por 77 países e que apresentou

disposições a respeito as águas internacionais. Um ponto relevante foi a prevenção da

poluição marinha por “Dumping”, que segundo a convenção, é definido como

“qualquer lançamento deliberado no mar de navios, aeronaves, plataformas ou outras

estruturas feitas pelo homem”. Um exemplo crítico de Dumping é o que foi e ainda é

praticado por países consumidores de energia nuclear, com o lançamento de lixos

radioativos em fossas abissais.

O governo brasileiro a internalizou pelo Decreto nº 87.566, de 16 de setembro de

1982, que prevê em seu Art. 2º que as partes contratantes adotarão segundo suas

possibilidades científicas, técnicas e econômicas, medidas eficazes, individual e

coletivamente, para impedir a contaminação do mar causada pelo alijamento

(Instrução Normativa Nº20/2009 – IBAMA).

Page 39: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

22

3.1.3 - Convenção das Nações Unidas para o Direito Marítimo– UNCLOS8 (1982)

A UNCLOS foi responsável em fornecer um regime abrangente para os mares e

oceanos de todo o mundo, sendo ratificada por 127 países e passando a ter validade a

partir de 1994. Uma característica interessante da UNCLOS é a de conceder aos

Estados signatários, direitos soberanos para explorar o ambiente marinho, de acordo

com a política ambiental de cada estado. Este controle soberano sobre o mar e

consequentemente sobre os recursos offshore é feito concomitantemente com a

liberdade de navegação e sobrevoo.

Outro ponto importante da convenção é o artigo 60 da convenção diz que as

instalações ou estruturas que são abandonadas ou inutilizadas devem ser removidas

para garantir à segurança da navegação, levando em conta às normas internacionais,

a proteção ambiental, a pesca e os direitos e deveres de outros estados (FERREIRA,

2005, p.35).

3.1.4 - Diretrizes e Normas da Organização Marítima Internacional (IMO) para a

remoção de estruturas e instalações offshore na plataforma continental –

(1989)

As diretrizes e normas da IMO foram adotadas em 19 de outubro de 1989, e são

basicamente uma interpretação dos resultados da convenção de 1982, porém coloca

algumas exceções à remoção completa. Algumas normas em relação ao

descomissionamento de estruturas offshore, segundo as diretrizes da IMO são (IMO,

2011):

a) Instalações pesando menos de 4000 toneladas (excluindo deck e Topside),

localizadas em locais onde a profundidade é menor do que 100 metros devem

ser completamente removidas;

b) Instalações localizadas em lâmina d‟água maiores que 100 metros devem ser

totalmente ou parcialmente removidas, desde que fique disponível uma coluna

d‟água livre de 55 metros, de modo a não prejudicar a navegação;

c) A remoção total não será requerida nas seguintes circunstâncias: inviabilidade

técnica, riscos ao homem e/ou ao meio ambiente e custos de remoção

extremamente elevados;

8 UNCLOS – Abreviatura em inglês de “United Nations Convention on the Law of the Sea”.

Page 40: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

23

d) Todas as instalações projetadas e construídas depois de 1º de janeiro de 1998

devem ser planejadas de forma que possibilite o descomissionamento total da

estrutura;

e) Uma estrutura pode ser deixada parcial ou totalmente no local, desde que o

seu novo uso seja justificável, e que isto não deixe interferências para os

outros usuários do mar.

3.1.5 - Convenção para a Proteção do Meio Marinho no Nordeste do Atlântico

(OSPAR)

Além das convenções internacionais a respeito do tema, existem também as

convenções regionais, para tratar de assuntos específicos de regiões produtoras que

envolvem diferentes nações vizinhas, como é o caso da exploração no Mar do Norte.

A mais importante delas, a “Convention for the Protection of the Marine Environmente

in the North East Atlantic” (OSPAR), que funciona como um mecanismo pelo qual 15

países 9 europeus cooperam para proteger o ambiente marinho do Atlântico Nordeste.

De acordo EKINS et al. (2005, p.106), suas principais resoluções foram elaboradas

em 1992 e passaram realmente a valer em 1998. Até o ano de 1995, a Convenção

OSPAR fez permitir, em certas circunstancias a eliminação no mar de partes ou a

totalidade das instalações offshore inativas. Contudo, após o episódio da plataforma

de Brent Spar, brevemente relatado na seção 1.2, a permissão deixou de existir.

Em julho de 1998, em uma reunião ministerial da OSPAR em Portugal, a seção da

convenção que regia a eliminação das instalações offshore foi revista, e uma nova

regulamentação foi instaurada, não permitindo de maneira geral a disposição de

estruturas offshore no mar. Todas as normas da OSPAR são baseadas no princípio

preventivo e no princípio poluidor-pagador (OSPAR, 2011). Alguns tópicos da reunião

merecem destaque:

Remoção para o continente de todos os Topsides;

Remoção de todas as subestruturas ou jaquetas de peso inferior a 10 mil

toneladas e posteriormente reuso ou reciclo do material;

9 Os quinze países que integram a OSPAR são: Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido. A Finlândia não é no litoral ocidental da Europa, mas historicamente foi envolvida nos esforços para controlar o despejo de resíduos perigosos no Atlântico e no Mar do Norte. Luxemburgo e Suíça fazem parte devido à sua localização, devido ao rio Reno (OSPAR, 2011).

Page 41: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

24

Avaliação caso a caso de estruturas com peso superior a 10 mil

toneladas, podendo elas serem totalmente removidas ou deixadas no

local;

Exceções em geral devem ser consideradas quando danos estruturais

podem ser causados quando da remoção da estrutura.

O Dumping e a prática de deixar uma instalação offshore total ou

parcialmente em uma área marítima é proibida. Entretanto, se a

autoridade competente estiver convencida de que uma avaliação

mostra que há razões significativas para uma solução alternativa, deve

ser emitida licença para a reutilização, reciclagem ou pode-se deixar no

local, total ou parcialmente (FERREIRA, 2005, p.40, tradução nossa).

3.1.6 - A legislação norte-americana para o Golfo do México

Além das convenções internacionais a respeito do descomissionamento,

grande parte dos países possuem legislações próprias sobre o tema. Os Estados

Unidos, por exemplo, possuem uma legislação própria para a região do Golfo do

México, que é onde ocorre a maior parte da exploração offshore daquele país. No

Brasil, as principais legislações como leis, portarias e resoluções serão discutidas no

próximo tópico.

Segundo Saxon (1997), citado por Luczynski (2002, p.63), são cinco as etapas

para promoção da desativação das plataformas de petróleo na região do Golfo do

México:

Permissão e aprovação da desativação pelos órgãos competentes;

Lacramento do poço;

Desativação da plataforma;

Remoção da plataforma;

Limpeza do local.

Como podemos perceber a legislação norte-americana não prevê o

monitoramento posterior ao abandono, abrindo espaço para vazamentos e

contaminação sem medidas imediatas de mitigação e controle dos danos.

Page 42: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

25

3.2 – Portarias e resoluções da ANP relacionadas ao descomissionamento

A ANP editou até o presente momento, duas portarias e uma resolução, que

estão relacionadas ao tema de descomissionamento. A portaria Nº114/2001, que trata

da devolução de áreas de concessão na fase de exploração, a resolução Nº27/2006,

que trata sobre o regulamento técnico de Desativação de Instalações e especifica

condições para devolução de áreas de concessão na fase de produção e a portaria

Nº25/2002, que trata da questão dos poços de petróleo que são abandonados

temporariamente e permanentemente.

3.2.1 - Portaria 114/2001 – Devolução de Áreas de Concessão na Fase de

Exploração

A ANP publicou em 25 de julho de 2001 a portaria Nº114, que diz respeito ao

regulamento Técnico de Devolução de Áreas de Concessão na Fase de Exploração.

Esta portaria foi um avanço significativo no descomissionamento no Brasil, pois definiu

várias responsabilidades às empresas detentoras de determinado campo que deixou

de produzir.

Alguns tópicos relacionados à retirada de instalações são bastante importantes,

e serão relatados neste trabalho. A ANP atribui a responsabilidade de remoção de

instalações unicamente à empresa concessionária, incluindo a remoção dos bens que

não sejam objeto de reversão10 ou alienação11, bem como atribui à empresa

concessionária a responsabilidade de fazer a recuperação ambiental da área ocupada.

A ANP deixa com a empresa Concessionária a responsabilidade de escolher,

de acordo com estudos realizados anteriormente, qual a melhor forma de

descomissionar a instalação, podendo ser total ou parcial. A alternativa de não

remoção também é válida, desde que critérios de segurança e impacto ambientais

indiquem que a não remoção seja a melhor alternativa.

A portaria 114/2001 ainda faz algumas orientações para a recuperação

ambiental de áreas, sendo elas12:

10

Reversão de bens: é o ato de transferir a propriedade da União e à administração da ANP, no momento da devolução de uma área de concessão ou parte dela, um bem que teve como propósito original a exploração de petróleo ou gás natural. Fonte: Portaria Nº114/2001.

11 Alienação de bens: É o ato de transferir a terceiros, por quaisquer meios, um bem de propriedade do Concessionário que teve como propósito original a exploração de petróleo e/ou de gás natural.

12 Os itens „b‟, „d‟ e „f‟ são de exclusividade de operações onshore, o que foge do escopo deste trabalho.

Page 43: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

26

a) Remoção de toda e qualquer sucata, fios, material plástico, lixo, produtos químicos

e outros insumos utilizados na atividade;

b) Tratamento e remoção, para local apropriado, dos solos contaminados assim como

dos resíduos de petróleo e/ou produtos e componentes químicos utilizados na

exploração;

c) Remoção dos bens não utilizáveis e descarte dos entulhos em locais apropriados

para disposição final;

d) Revolvimento do terrapleno e reaterro de todas as cavidades até o nível do terreno

circundante;

e) Reaterro de todas as cavidades em sub-superfície causadas por detonações;

f) Revegetação dos taludes de corte e dos aterros, assim como das picadas utilizadas

para a atividade de aquisição sísmica.

A portaria 114/200113 ainda faz algumas orientações exclusivamente para

operações offshore, estipulando o valor da profundidade em que uma plataforma fixa,

como uma jaqueta, por exemplo, deve ser cortada em relação ao fundo do mar. Para

instalações que se situem em laminas d‟água maiores que 80 metros, e que devido a

fatores técnicos, de segurança ou impacto ambiental seja inviável a retirada total, a

ANP recomenda que o material seja cortado de forma que se tenha pelo menos 80

metros de lâmina d‟agua livre, devendo a empresa se responsabilizar pela limpeza de

sucatas do fundo do oceano. Cabe ressaltar aqui o elevado nível conservador da ANP

em relação à lâmina d‟água livre, uma vez que o calado de um navio, por maior que

seja, nunca será de 80 metros. O maior navio petroleiro do mundo, o Knock Nevis,

possui calado de 24,5 metros. A figura 3.1 compara o petroleiro Knock Nevis com os

edifícios mais altos do mundo.

Figura 3.1 - Comparação do petroleiro Knock Nevis com os edifícios mais altos do mundo.

Fonte: Wikipedia (2011).

13

Antes da publicação da portaria Nº114/2001, a Petrobras seguia somente as seguintes normas: PETROBRAS PE-11-0142 – “Procedimento de Desativação de Instalações de Produção de Petróleo – Fase Produção”;PETROBRAS PG-11-0145 – “Gerenciamento da Desativação de Instalações de Produção de Petróleo – Fase de Produção”.

Page 44: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

27

3.2.2 – Resolução Nº27/2006 – Desativação de instalações na fase de produção.

A resolução Nº27, de 19 de outubro de 2006 é bastante parecida com a

portaria acima citada. A grande diferença, é que a norma dedicada à fase de produção

traz algumas condições a respeito da implementação de recifes artificiais, quando este

é indicado como alternativa no processo de descomissionamento.

Segundo a resolução, a utilização de toda a instalação de produção ou parte

dela para criação de recifes artificiais deve ser precedida por uma adequação a este

uso específico, pela aprovação da implantação do recife pela Autoridade Marítima e

pela aprovação de sua manutenção e monitoramento pelo órgão ao qual couber o

controle ambiental da área. A adequação das partes que serão depositadas no leito

marinho deve ser feita por meio da limpeza do óleo remanescente, de forma que

inclua todas as medidas de segurança e de prevenção de dano ambiental durante a

realização destas operações.

Em relação aos outros pontos, a resolução é bastante similiar à portaria Nº114.

Como exemplo, podemos citar a remoção completa de estruturas de até 4000

toneladas que se localizam em lâmina d‟água de até 80 metros, devendo ser cortadas

em 20 metros a mais em áreas sujeitas a processos erosivos. A limpeza de toda e

qualquer sucata que se localize em lâminas d‟água inferiores a 80 metros também é

aconselhada na resolução.

3.2.3 – Portaria Nº25/2002 - Abandono de poços.

A taxa de sucesso em uma exploração de petróleo é tida como muito baixa em

toda a indústria mundial de petróleo. No Brasil, a Petrobras é de certo modo

privilegiada, e possui relativo sucesso em suas campanhas exploratórias. Segundo a

empresa, de 2006 a 2008, cerca de 30 poços foram perfurados, com taxa de sucesso

de 87%, muito acima da média mundial. Como a taxa de poços perfurados que não

contem óleo é muito alta, o abandono de poços é uma atividade que sempre existiu

não só no Brasil como em todo o mundo (PETROBRAS, 2011).

Embora algumas empresas sigam algumas normas para a desativação de

poços, como no caso da Petrobras, que segue a norma N-2345 – “Abandono

Temporário e Definitivo de Poços Marítimos”, a ANP publicou em 7 de março de 2002

a portaria Nº25, que disciplina os procedimentos a serem adotados no abandono de

poços perfurados e/ou gás, de maneira a assegurar o perfeito isolamento das zonas

de petróleo e/ou gás e também dos aquíferos existentes, por meio de tampões de

cimento e/ou mecânicos, com o objetivo de prevenir a migração dos fluidos entre as

Page 45: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

28

formações, seja pelo poço ou pelo espaço anular entre o poço e o revestimento e

prevenindo também a migração de fluidos do poço para o fundo do mar.

A portaria também diferencia o abandono de poços em temporário e

permanente, e deixa de forma bem clara o maior conservadorismo em relação aos

poços abandonados permanentemente, com regras mais rígidas. Segundo Mariano

(2007, p.139), o abandono temporário de um poço é feito quando sabe-se que a

interrupção da produção é de pequena duração.

Dependendo da duração da parada, ela pode ser classificada como um

abandono temporário, e estará sujeita às normas contidas na portaria Nº25/2002. O

desligamento de um poço é muito mais desejável, por parte da empresa, do que o seu

fechamento definitivo, no caso de a produção ainda ser viável, porque uma vez que o

poço seja fechado, é impossível acessar novamente o óleo que permaneceu no

reservatório, devido aos tampões que são colocados para evitar o fluxo indesejável de

fluidos.

Dentre as regras contidas na portaria Nº25/2002, cabe destacar algumas

contidas nos artigos 14, 15 e 19, que se referem ao abandono permanente.

A ANP sistematiza o procedimento a ser adotado para o isolamento de um

intervalo canhoneado, deixando a critério da empresa a escolha de 3 tipos de

completação final para o poço. No primeiro deles, a empresa deve cobrir todo o

intervalo canhoneado por meio de tampão de cimento, de modo que seu topo fique no

mínimo a 30 metros acima do topo do intervalo canhoneado e sua base também no

mínimo 30 metros abaixo da base deste intervalo canhoneado (Figura 3.2a). Caso o

canhoneado fique a menos de 30 metros do fundo do poço, todo o espaço entre o

canhoneado e o fundo do poço deve ser cimentado. Na segunda alternativa, um

tampão mecânico deve ser assentado em até 30 metros do intervalo canhoneado, e

acima do tampão mecânico, um tampão de cimento deve ser deslocado, com no

mínimo 30 metros de comprimento (Figura 3.2b). Na terceira e última alternativa, a

empresa deve deslocar um tampão de cimento, de no mínimo 60 metros de

comprimento, de modo que a base do tampão de cimento fique posicionada em até 30

metros do intervalo canhoneado (Figura 3.2c).

Figura 3.2 – Cimentação de poços, conforme as diretrizes da ANP.

Page 46: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

29

Para poços com múltiplos intervalos canhoneados, a ANP regula o isolamento

do intervalo mais raso, que é o intervalo mais próximo ao fundo do mar. De acordo

com o artigo 15, o isolamento deve ser feito pela escolha de dois possíveis métodos.

No primeiro deles, um tampão mecânico permanente deve ser assentado a cerca de

20 metros acima do topo do intervalo canhoneado, e posteriormente, um tampão de

cimento de no mínimo 30 metros deve ser deslocado acima do tampão mecânico. No

segundo procedimento possível, um tampão de cimento de 60 metros de comprimento

no mínimo deve ser deslocado, de modo que sua base fique a 20 metros do topo do

intervalo canhoneado, não necessitando neste caso de um tampão mecânico.

O artigo 19 trata do tampão de superfície, que no caso de um poço situado no

mar, deverá ter no mínimo 30 metros de comprimento e seu topo deverá ser

posicionado no intervalo entre 100 e 250 metros do fundo do mar. A empresa deverá

ser responsável também pela remoção de todos os equipamentos de poço instalados,

desde que a lâmina d‟água seja de até 80 metros. Em regiões do oceano onde os

sedimentos sejam pouco consolidados, e, portanto sujeitas a processos erosivos, a

retirada deve ser feita a 20 metros abaixo do fundo do mar.

A questão do fechamento de poços é de extrema importância do ponto de vista

ambiental, uma vez que a garantia da atividade pesqueira, a reconstituição do

assoalho oceânico e a preservação do meio marinho devem ser garantidas com um

bom encerramento da atividade produtiva.

3.2.4 - Instrução Normativa nº20 do IBAMA sobre recifes artificiais.

No dia 03 de julho de 2009, o IBAMA, levando em conta a problemática do

Dumping e o disposto na Convenção de Londres de 1972, publicou a instrução

normativa Nº20, que dispõe sobre o licenciamento ambiental para a instalação de

recifes artificiais na costa brasileira, que segundo a portaria, pode se constituir em um

instrumento de ordenamento pesqueiro, de promoção do turismo ecológico e também

de apoio para pesquisas marítimas.

Dessa forma, a portaria estabelece normas e procedimentos que orientam a

implantação, manutenção, uso e retirada de recifes artificiais em ambientes

subaquáticos situados no mar territorial14 e na zona econômica exclusiva15.

14

Mar territorial brasileiro: uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil.

15 Zona econômica exclusiva brasileira uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial.

Page 47: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

30

Dentre os pontos mais importantes, destacam-se:

Manifestação dos órgãos competentes na fase de licenciamento, dizendo se é

possível a interferência do recife artificial com a gestão da pesca extrativa e da

aquicultura;

Proibição da implementação dos recifes em áreas frágeis, que podem sofrer

impactos negativos, como habitats protegidos por legislação específica,

formações recifais naturais, assim como estuários e lagunas;

Estudo de viabilidade pelo órgão competente da instalação de recifes artificiais

em fundos de algas calcárias;

Verificação da adequação da plataforma quanto à retirada de substâncias

tóxicas ou potencialmente poluentes;

Responsabilidade integral do empreendedor sobre o recife, cabendo a ele a

remoção em caso de danos ambientais.

No caso específico das plataformas offshore, destaca-se:

No caso de embarcações e plataformas offshore, deverá ser apresentado

ao IBAMA plano logístico de descomissionamento, abrangendo todo

tratamento realizado para adequação à finalidade proposta, com a retirada

de cantos vivos e a remoção total de substâncias e materiais

potencialmente poluentes (óleos e combustíveis, asbestos, PCBs, tintas

anti-incrustantes, materiais que possam flutuar e representar risco,

plásticos, vidros, baterias, anticongelantes, lâmpadas com mercúrio etc), em

conformidade com as Normas da Autoridade Marítima para Atividade de

Inspeção Naval. Art.10, § 3° da Instrução Normativa.

3.3 - O licenciamento das atividades petrolíferas: passado, presente e futuro.

O ano de 1981 é considerado um divisor de águas na legislação ambiental

brasileira, com a edição da Lei nº6.938, que dentre suas principais inovações, instituiu

o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e os instrumentos da Política

Nacional de Meio Ambiente. O SISNAMA é composto de órgãos federais, estaduais e

municipais, organizados na forma representada na tabela 3.1.

Page 48: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

31

Tabela 3.1 – Organização do SISNAMA

Fonte: Lei nº 6.938/81

Seu órgão central é o Ministério do Meio Ambiente, com a função de planejar,

coordenar, supervisionar e controlar a politica nacional de meio ambiente. No âmbito

federal, os outros órgãos são o conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA),

órgão consultivo e deliberativo, e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), órgão executor.

De acordo com Küchler (2007, p.16), estruturas similares são encontradas

também nos estados da federação. No caso do estado do Rio de Janeiro, o órgão

central é representado pela Secretaria do Meio Ambiente, um órgão deliberativo e

normativo encarregado de estabelecer as diretrizes da Política Estadual de Controle

Ambiental, o Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONEMA), e órgãos executores,

como a Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA), a Fundação Estadual de

Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), a Secretaria de Rio e Lagoas (SERLA) e o

Instituto Estadual de Florestas (IEF).

No nível municipal, também é possível encontrarmos órgãos de proteção

ambiental similares aos outros existentes em nível federal e estadual, que são

coordenados pelas conhecidas Secretarias Municipais de Meio Ambiente.

Classificação Nome Função

Órgão central Ministério do Meio

Ambiente

Planejar, coordenar, supervisionar e controlar a política e as diretrizes para

o meio ambiente.

Órgão Consultivo e Deliberativo Federal

Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)

Assessorar, estudar e propor diretrizes de

políticas governamentais, deliberar sobre normas e padrões compatíveis com

o meio ambiente ecologicamente

equilibrado.

Órgão executor Federal

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (IBAMA)

Executar a política e diretrizes governamentais

Órgãos Secionais

Órgãos ou entidades estaduais, responsáveis

pela execução de programas, projetos e pelo

controle e fiscalização.

Órgãos Locais

Órgãos ou entidades municipais, responsáveis

pelo controle e fiscalização.

Page 49: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

32

De todos os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente criados pela

Lei nº 6.938, o Licenciamento Ambiental é o que mostrou maior eficácia na

preservação ambiental, por ser baseado na prevenção, sendo, portanto o instrumento

mais importante para alcançar os objetivos e metas da Política Nacional de Meio

Ambiente. O licenciamento destaca-se ainda por contribuir com a melhoria das

relações das empresas com a sociedade e de otimizar o uso dos recursos naturais, ao

mesmo tempo reduzindo os impactos ambientais.

De acordo com o artigo 10 desta lei, a licença deve ser obtida por determinada

organização antes que seja feita a “construção, instalação, ampliação e funcionamento

de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados

efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de

causar degradação ambiental.”.

Segundo Bezerra (2004, p.5), algumas exigências para a emissão da Licença

são feitas, como a realização de um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do

respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), além do cumprimento de outros

requisitos, como a realização de audiência pública em certos casos. A área de

petróleo e gás natural ainda exige a Licença de Pesquisa Sísmica (LPS), que se refere

à aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de transição, a Licença Prévia

para Perfuração (LPper), a Licença Prévia de Produção para Pesquisa (LPpro), nos

casos de Teste de Longa Duração – TLD, além das tradicionais Licença de Instalação

(LI) e Licença de Operação (LO) para sistemas de produção e escoamento. A tabela

3.2 sistematiza todos os tipos de licença:

Page 50: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

33

Tabela 3.2 – Principais licenças no setor de petróleo.

Fonte: Bezerra (2004, p.5).

Analisando o Quadro 3.2, percebemos que embora o arcabouço de proteção

ambiental seja numeroso ele se apresenta incompleto, quando percebemos que não

existe no Brasil, a nível federal, algum tipo de licença que lide com os possíveis

problemas ambientais que um abandono pode trazer, necessitando, portanto de uma

“Licença Desativação”.

Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), aprovou algumas

portarias, como a portaria n.º 25/2002 que aprova o Regulamento de Abandono de

Poços perfurados com vistas a exploração ou produção de petróleo e/ou gás, além da

portaria n.º27/2006, que define os procedimentos a serem adotados na Desativação

de Instalações e especifica condições para Devolução de Áreas de Concessão na

Fase de Produção. Entretanto, isso não é suficiente.

o ideal seria a inclusão de uma “Licença de Desinstalação” no

procedimento de licenciamento ambiental, através da qual se exigiria

uma série de condicionantes para que fosse possível o

descomisionamento de uma atividade de upstream, conferindo a

proteção ambiental necessária (BEZERRA, 2004, p.7).

As licenças são instrumentos de intervenção ambiental, uma vez que são

mecanismos condicionadores da conduta e atividades no meio ambiente. Além das

licenças que vão possibilitar a instalação e a operação do empreendimento, é de igual

Atividade Licenças expedidas pelo

Ibama Estudos e Relatórios ambientais exigidos

Sísmica

Licença de Operação – LO (onshore).

Licença de Pesquisa Sísmica – LPS (offshore)

Estudo Ambiental – EA, posteriormente Estudo de Impacto Ambiental – EIA

(onshore)

Exploração e Produção

Licença Prévia para Perfuração – Lpper

Relatório de Controle Ambiental – RCA

Licença Prévia de produção para Pesquisa –

Lppro

Estudo de Viabilidade Ambiental – EVA

Licença de Instalação – LI

Relatório de Avaliação Ambiental – RAA ou Estudo de Impacto

Ambiental – EIA e seu respectivo Relatório de

Impacto Ambiental – RIMA

Licença de Operação – LO Projeto de Controle

Ambiental - PCA

Page 51: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

34

importância pensar em uma licença para a desativação do mesmo, uma vez que a

desativação possui um grande potencial em gerar passivos tanto para o meio-

ambiente natural quanto para o social, como é o caso das comunidades locais de

pescadores circundantes à área (GOMES, 2006, p.95).

O planejamento do que deve ser feito quando um empreendimento cessa suas

atividades é imprescindível. O pensamento de que a descontinuidade da atividade

econômica não gera prejuízos sócio ambientais é duvidoso, pois não é possível

presumir que externalidades não continuarão com o encerramento da produção.

Dessa forma, é fundamental considerar o que deve ser feito com o empreendimento e

quais serão seus efeitos negativos, a fim de preveni-los e mitigá-los (GOMES, 2006,

p.97).

Segundo Gomes (2006, p.84), o enquadramento da licença proposta como

sendo mais um dos tipos de licenciamento ambiental está implícito na própria norma

jurídica que conceitua o que é licença ambiental:

A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e

operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos

ambientais considerados efetiva ou potencialmente poluidoras, bem

como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma de causar

degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão

ambiental competente sem prejuízo de outras licenças legalmente

exigíveis. (Artigo 2º da Resolução CONAMA Nº 237, de 19/12/1997).

É fato consumado que a grande maioria dos empreendimentos trazem

modificações ambientais e sociais no local onde é instalado. Como em geral os

ganhos econômicos não refletem na mesma proporção incremento na qualidade

social, a utilização das licenças é justificada, para saber se os ganhos financeiros

compensam os eventuais custos ambientais e sociais. Dessa forma, uma licença de

desativação é cabível, uma vez que qualquer tipo de atividade que cause degradação

ambiental deve demandar algum processo de licenciamento antes que a atividade se

inicie.

A leitura do artigo 2º da Resolução Conama Nº237, acima citado, deixa

implícito que o instrumento descomissionatório nada mais é que outro tipo de licença.

Cada licença ambiental é dada em um momento adequado, e é por meio da “Licença

Desativação” que será suprido o lapso que ocorre no período em que o

empreendimento não mais produz e o período em que ele estava em atividade

(GOMES, 2006, p.89).

Page 52: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

35

Hoje em dia, com as ideias de sustentabilidade ganhando cada vez mais força

na sociedade e nas corporações com o “Triple Bottom Line”, uma atividade econômica

não pode ter um caráter focado apenas em ganhos financeiros. Não é possível

imaginar que após o encerramento de uma determinada atividade petrolífera, pelo

esgotamento dos recursos do óleo, ou com o fim do interesse econômico em

determinado campo, ela seja simplesmente abandonada.

O instrumento do descomissionamento deve atuar não só pensando em

prevenir possíveis impactos no presente, mas também pensando em termos de futuro,

para que a mudança que o empreendimento causou não afete as futuras gerações,

que tiram seu sustento na região circunvizinha ao empreendimento. O

Descomissionamento pode potencializar essa manutenção ambiental futura, pois vai

estreitar a distância entre a busca por melhores condições de mercado sem que exista

o simples abandono do empreendimento, evitando os prejuízos de um simples

abandono e possibilitando que as futuras gerações gozem de qualidade ambiental

similar da que existia antes do início das instalações.

O estado do Rio de Janeiro dispõe da Licença Ambiental de Recuperação

(LAR), que de acordo com o artigo 2º do decreto estadual Nº 42.159, aprova a

remediação, recuperação, descontaminação ou eliminação de passivo ambiental

existente, na medida do possível e de acordo com os padrões técnicos exigíveis, em

especial aqueles empreendimentos ou atividades fechados, desativados ou

abandonados. Essa é uma licença que mais se aproxima do que seria a “Licença

Desativação”. Entretanto, a “Licença Desativação” teria um cunho mais preventivo do

que reparador, que é como a LAR se apresenta. Uma “Licença Desativação” teria pela

sua própria concepção um caráter proativo e não reativo.

Uma notícia publicada no Jornal O Globo de 05 de junho de 2006, diz respeito

a um anteprojeto, elaborada por pesquisadores do Núcleo Interdisciplinar de Meio

Ambiente (NIMA) da PUC, que prevê, dentre outras coisas, a criação do ICMS

ecológico e da Licença de Desativação16 de empreendimentos potencialmente

poluidores, com a finalidade de combater o passivo ambiental deixado pelos

empreendimentos (O GLOBO, 2006).

De acordo com o Anteprojeto de Lei do novo Código Ambiental do Estado do

Rio de Janeiro, (2005, p.16), podemos destacar alguns artigos, tais como:

Art. 40: Licença de Desativação (LD): Autoriza a desativação de

empreendimento ou atividade, com base nos estudos e relatórios sobre

16

Cabe destacar, que mesmo que o anteprojeto seja um dia aprovado, o órgão executor do Estado do Rio de Janeiro não tem competência para exigir Licença Desativação de uma atividade offshore, pois as águas localizadas na plataforma continental e zona econômica exclusiva estão sujeitas ao licenciamento de um órgão federal, no caso, o IBAMA. Fonte: Art. 4º, Resolução Conama 237/97.

Page 53: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

36

as medidas compensatórias, reparadoras, mitigadoras, de

descontaminação e de preservação ambiental;

Art.50: A desativação de empreendimentos ou atividades

potencialmente poluidores dependerá de Licença de Desativação,

conforme o previsto na legislação federal e estadual, inclusive nas

normas editadas pelo CONAMA e pelo CONEMA, ou o determinado

pelo órgão ambiental licenciador;

Art. 51: A Licença de Desativação (LD) será concedida com base em

vistoria ou outros meios técnicos de verificação, atendidas as seguintes

exigências, dentre outras determinadas pelo órgão ambiental

licenciador:

I – adequado destino de resíduos;

II – cronograma físico e financeiro de reparação ou compensação por

danos ambientais, à saúde da população vizinha e dos trabalhadores;

III – cumprimento das condicionantes das licenças;

Art. 52: O encerramento de atividades antes da obtenção da Licença

de Desativação, quando esta for necessária, será considerada conduta

lesiva ao meio ambiente, configurando infração administrativa, e

sujeitará os infratores, independentemente das sanções criminais e da

obrigação de reparar o dano, à multa de R$ 15.000,00 (quinze mil

reais) a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais).

Alguns aspectos foram levantados por Luczynski (2002, p.184), sobre alguns

tópicos que uma futura legislação brasileira sobre descomissionamento deveria

abordar. Entre eles, destacam-se:

Uma definição do que é entendido como término de produção em plataformas

offshore e onshore, assim como os dois tipos de descomissionamento

existentes, o total e o parcial de acordo com a realidade brasileira;

Quais são os critérios utilizados na decisão de fazer um descomissionamento

total ou parcial: sugere-se o respeito aos critérios da IMO, ou seja, plataformas

de até 4 mil toneladas e em profundidades de até 55 m devem ser totalmente

removidas. Às outras se admite descomissionamento parcial;

Definir o que é “Dumping17” e quando ele acontece. De acordo com as

recomendações da Convenção para a Proteção do Meio Marinho no Nordeste

17

Conforme discutido na seção 3.1, Dumping é o nome dado a qualquer disposição deliberada de embarcações, veículos aéreos, plataformas ou qualquer estrutura construída pelo homem. Entende-se também a partir da Convenção de Londres de 1972 que o abandono total ou parcial de uma estrutura no mar é considerado Dumping.

Page 54: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

37

do Atlântico (OSPAR), o afundamento ou a permanência de qualquer estrutura

offshore deve ser banida, inclusive a rede de dutos;

Possuir uma flexibilidade. Uma plataforma que se enquadre na categoria de

descomissionamento total pode ter algumas partes destinadas à formação de

recifes artificiais, como tanques e contêineres, que são de fácil remoção;

A legislação também deve definir quais são as técnicas e os passos a serem

cumpridos durante o descomissionamento. Os produtores podem apresentar e

executar a sua própria metodologia de descomissionamento, desde que

obedecendo à legislação vigente;

Poder de polícia para a entidade fiscalizadora, cabendo a aplicação das

penalidades previstas em lei, como uma multa pelo descumprimento de prazos

ou poluição;

Definir como o processo de descomissionamento irá ser financiado, uma vez

que o abandono de uma atividade produtiva se dá muitas vezes por razões

econômicas;

Definir quais as variáveis ambientais devem ser monitoradas antes, durante e

após o descomissionamento;

Definir os usos finais mais adequados de uma plataforma ou parte dela, como

por exemplo, a criação de recifes artificiais, construção de um porto, de farol,

estação de pesquisas, etc., levando sempre em conta a variável ambiental.

Embora algumas portarias da ANP levem em conta alguns dos aspectos

levantados por Luczynski, a formulação de algo com força de lei é sem dúvida muito

melhor para um bom processo de desativação. De acordo com o ordenamento jurídico

brasileiro (Figura 3.2), uma portaria é algo menor do que uma lei. Ou seja, caso uma

“Licença Desativação” seja criada, ela iria abranger não só as operações de

exploração e produção de petróleo, como também todas as outras atividades que

acontecem em ambiente marinho, como por exemplo, a extração de sal.

Figura 3.3 – Ordenamento Jurídico Brasileiro Fonte: Adaptado de Wikipedia (2011).

Page 55: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

38

Observa-se também que a IMO influencia diretamente na criação de leis

específicas, e suas recomendações inspiram algumas legislações nacionais como no

caso da brasileira, o que é facilmente verificado ao constatar a grande similaridade da

portaria Nº114/2001 da ANP com as diretrizes gerais da IMO.

Page 56: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

39

Capítulo IV – As várias formas de remoção

Sabemos que hoje existem diversas alternativas sobre o que fazer com uma

plataforma quando sua vida útil termina. Entretanto, todas as opções como recifes

artificiais, programas de energia renovável, como energia dos ventos, correntes e das

marés devem passar por uma etapa básica, onde a partir dela, irá ser decidido o que

fazer com a instalação. Essa etapa é a decisão em fazer uma remoção total ou parcial.

Em uma remoção total, a plataforma terá obrigatoriamente que ser disposta em terra,

tanto as jaquetas quanto os Topsides, oleodutos e gasodutos. Já em uma remoção

parcial, um projeto de recifes artificiais, de aquicultura, de laboratórios marinhos, e até

mesmo projetos de geração de energia alternativa são avaliados.

De todos os tipos de plataforma existentes (Figura 4.1), como as FPSOs,

plataformas semi-submersíveis, torres complacentes, TLP, spars, jaquetas e CGS, a

mais problemática em termos de descomissionamento é a plataforma do tipo Jaqueta,

e será ela o escopo deste trabalho. Plataformas que não possuem ancoragem fixa,

como as FPSOs, TLPs e as semi-submersíveis não trazem muitos problemas, pois

possuem grande mobilidade e podem ser facilmente rebocadas para manutenção. Já

as plataformas do tipo Spar, Torres Complacentes e CGS inexistem no Brasil. Desta

forma a plataforma jaqueta, que é amplamente utilizada não só no Brasil como em

todo o mundo, é o principal alvo de estudos deste trabalho, pois sua concepção não

permite que seja rebocada, necessitando de um estudo mais complexo para que sua

retirada, seja ela total ou parcial, seja feita com segurança. Segundo Ruivo (2001,

p.81), estima-se que o Brasil tenha 71 jaquetas, a maior parte delas localizada na

região nordeste.

Dessa forma, a decisão em fazer um descomissionamento total ou parcial é

crucial em determinado projeto, e esta decisão deve ser feita levando em

consideração caso por caso, pois como já discutido anteriormente, cada projeto de

descomissionamento é singular. Os principais benefícios e desvantagens de uma

remoção total ou parcial, levando também em consideração os aspectos ambientais

serão levantados neste capítulo.

Page 57: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

40

Figura 4.1: Principais tipos de plataformas. Da esquerda para direita: 1) Jaqueta, 2) Torres Complacentes, 3 e 4) TLP, 5) Semi-

Submersível 6 e 7) Spars, 8) Bóia de Controle (não é plataforma) e 9) FPSO. Fonte: CHAKRABARTI, 2005, p.6.

4.1 – Remoção total

A remoção total ou completa de uma plataforma de petróleo do tipo fixa (Figura

4.2) envolve a remoção do deck e de todas as outras estruturas submersas como

jaqueta e condutores, guindastes, torres, além de todos os detritos no solo marinho.

Figura 4.2: Esquemático geral de uma plataforma tipo jaqueta. Fonte: LAKHAL (2009, p.115).

De acordo com Bernstein (2007, p.40), a remoção total envolve basicamente 9

etapas básicas:

Page 58: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

41

“Morte” e abandono dos poços;

Preparação da plataforma;

Remoção de risers;

Remoção de dutos e cabos de energia;

Mobilização de guindastes de alta capacidade;

Remoção do Topside;

Remoção da Jaqueta;

Disposição em terra;

Limpeza.

4.1.1 - “Morte” e abandono dos poços

O tamponamento e posterior abandono de poços é o primeiro passo em um

processo de descomissionamento. Sua eficácia deve ser de tal forma que assegure

um perfeito isolamento do poço com o fundo do oceano, prevenindo a saída

indesejada de fluidos do interior da rocha para o interior do poço ou pelo espaço

anular.

A operação envolve a retirada de todos os equipamentos do poço, como

packers, bombas de elevação artificial, sistema de gás lift, dentre outros, seguida da

cimentação adequada de todos os intervalos permeáveis do poço e dos espaços

anulares.

A legislação brasileira que regulamenta o abandono de poços é a portaria da

ANP Nº 25/2002, além da resolução da ANP Nº 27/2006 que se refere aos campos em

estágio de produção, que já foram tratadas no capitulo anterior.

4.1.2 - Preparação da plataforma

De acordo com Bernstein (2007, p.41), a preparação da plataforma para o

descomissionamento envolve uma série de etapas, destacando:

Inspeção do Topside e da jaqueta, para revisão da condição estrutural da

plataforma antes de dar início ao processo de desmantalamento;

Transferência de todas as peças e equipamentos de pequeno porte para o

desmantelamento tem terra;

Limpeza de todas as tubulações e equipamentos, de modo que fiquem livres de

óleo;

Page 59: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

42

Corte de todas as tubulações e fiações que fazem a conexão com diferentes

módulos;

Remoção de incrustações marinhas na jaqueta, por meio de auxílio de

mergulhadores.

Bernstein (2007, p.41) lembra ainda a importância de que todas as ações

mencionadas acima sejam feitas antes da chegada do HLV (Heavy Lift Vessel)18, pois

a operação do guindaste deve ser otimizada ao máximo, a fim de minimizar o tempo

de uso do HLV.

4.1.3 - Remoção de risers

Os risers são tubos de grande diâmetro utilizados na fase de perfuração,

completação e produção. Segundo Ruivo (2001, p.111), a remoção dos risers deve ser

feita até 5 metros abaixo do solo marinho (Figura 4.3), por meio da utilização de

macacos hidráulicos, guindaste e plataforma de perfuração, podendo também ser feito

antes da chegada do HLV. A utilização da plataforma é necessária para suportar a

carga e também para auxiliar no corte do riser, realizado com cortadores mecânicos

externos. O trecho da tubulação que foi cortado é disposto posteriormente em outro

local, com o uso do guindaste da própria plataforma. O procedimento é repetido

inúmeras vezes até que o tubo seja completamente retirado.

Figura 4.3 – Remoção abaixo do leito marinho. Fonte: Adaptado de BP (2006, p.9).

A utilização de explosivos também pode ser utilizada como técnica de

remoção, entretanto, a técnica é impactante para os animais marinhos que vivem nos

18

HLV: É uma embarcação munida de um guindaste de alta capacidade. Bastante utilizado em estaleiros, é fundamental para a içagem de peças de grande porte em um processo de remoção total ou parcial.

Page 60: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

43

arredores da plataforma. Segundo Bernstein (2007, p.41), o custo da remoção de

risers por meio de técnicas de corte é cerca de 30% a 50% mais caros que o uso de

explosivos.

4.1.4 - Dutos e cabos de energia

Gasodutos e oleodutos são responsáveis pela distribuição de petróleo e gás

do solo marinho para o continente, nas unidades de processamento e distribuição, ou

transferência para alguma outra plataforma de petróleo. Já os cabos de energia são

responsáveis pelo aporte de energia elétrica de alguns equipamentos do poço, como

no caso das bombas de elevação artificial. Todos estes elementos devem ser

descomissionados em um processo de descomissionamento total.

Segundo Ruivo (2001, p.108), a limpeza dos oleodutos deve ser feita baseada

no processo Pig Progressivo. O processo de limpeza é relativamente simples, e

envolve a passagem de Pig‟s de diferentes diâmetros ao longo da tubulação, a fim de

retirar as parafinas na parede interna do tubo.

O Pig é empurrado para dentro da tubulação, por meio de um lançador de Pig,

com o auxílio do bombeamento de ar, nitrogênio, água ou agentes químicos. Uma

quantidade específica de fluído ou gás é bombeada antes da inserção de um segundo

Pig no lançador. Este processo continua, progressivamente, até a remoção de todos

os hidrocarbonetos remanescentes. O processo é feito de modo progressivo para que

nenhum Pig fique preso às paredes da tubulação.

Existem diversos tipos de Pig (Figura 4.4) que são utilizados na remoção de

hidrocarbonetos no interior da tubulação. Eles são escolhidos de acordo com o

histórico de limpeza anterior da tubulação, que induz uma projeção de como a parede

interna está em relação às parafinas ou outros resíduos resultantes da produção de

petróleo, além da presença de corrosão. De acordo com Cutwell, contido em Manago

at al. (2007, p.69), os principais tipos de Pig são:

Poli Pig de baixa densidade: devido à baixa densidade, têm como característica

a capacidade de passar através de oleodutos parcialmente bloqueados, pois

conseguem se deformar quando são empurrados. A passagem de fluidos no

sentido contrário não é permitida com a utilização destes Pigs, garantindo que

todo o líquido ou parafina, seja deslocado pelo fluído ou gás atrás do Pig;

Poli Pig de média densidade: remove a parafina das paredes internas do

oleoduto, devido à aplicação de uma força moderada através de dutos

entupidos;

Page 61: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

44

Poli Pig de alta densidade: remove grande parte do material contido

internamente no duto, por meio da aplicação de uma grande força;

Pig escova: é um Pig munido de cerdas de metal, para possibilitar a remoção

de material remanescente dos outros estágios de limpeza;

Pig raspadeira: parecido com o Pig escova, o Pig raspadeira possui paletas de

alta resistência que funcionam como raspadores;

Poli Pig: realiza a limpeza final do oleoduto.

Figura 4.4 – Um PIG de espuma de poliuretano.

Fonte: HIDROPIG (2011).

Após a passagem de todos os Pigs, devem ser verificadas a eficácia e

qualidade da operação, que é verificada pela qualidade da água corrente, que

visualmente não deve conter manchas de hidrocarbonetos. Após a limpeza, os

oleodutos estão prontos para o corte e posterior remoção.

De acordo com Ruivo (2001, p.110), se os oleodutos estiverem dentro da zona

de arrebentação, eles devem ser removidos ou pelo menos tamponados e enterrados.

Devido a variável ambiental, quanto mais próximo o gasoduto estiver da costa, mais

recomendável será a remoção completa, devido à presença de ecossistemas

sensíveis, como os manguezais.

Para que a atividade pesqueira não seja afetada, as extremidades dos

oleodutos devem ser enterradas no solo marinho, ou uma manta de concreto deve ser

colocada em cima da ponta, caso não seja possível enterrar (Figura 4.5).

Figura 4.5 – Manta de concreto. Fonte: Manago et al. (2007, p.70).

4.1.5 - Mobilização de guindastes de alta capacidade

Segundo Ruivo (2001, p.105), a mobilização de guindastes envolve a elevação

e o transporte da subestrutura e módulos ou parte de Topsides até um local

Page 62: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

45

apropriado para o seu desmantelamento. Para isso, são utilizados guindastes de alta

capacidade, ou HLV (Figura 4.6) para içar grandes cargas, representando grande

parte do custo do descomissionamento. Para se ter uma ideia, as taxas de aluguel de

um pequeno HLV, de capacidade de 500 toneladas é da ordem de US$156.000 por

dia, enquanto que um HLV de grande capacidade (4000 toneladas) é da ordem de

US$252.000 ou mais, devendo também ser contabilizado o tempo de trânsito, que

tipicamente é 90% do tempo total gasto. (Bernstein 2007, p.43).

Com o aumento do Canal de Panamá, previsto para 2014, alguns HLVs, com

largura de até 160 metros vão poder passar através do canal, diminuindo

significativamente o tempo gasto no transporte e consequentemente os dispendiosos

custos envolvidos.

Figura 4.6 – Um HLV de alta capacidade removendo um topside. Fonte: PARSHALL, Joel, 2011, p.48.

4.1.6 - Remoção do Topside

O Topside, também conhecidos como Topside Facilities ou Deck é o nome

dado à estrutura que fica localizada em cima da jaqueta. É onde ficam abrigados os

equipamentos de perfuração, produção, processamento, alojamentos (podendo

abrigar até 300 trabalhadores) e demais sistemas de utilidades da plataforma, como o

sistema de água de aquecimento, ar comprimido, compressão booster, dentre outros.

Os Topsides ainda são divididos em três categorias: integrados, modulares e híbridos,

como mostra a Figura 4.7 (Ruivo, 2001, p.93).

Page 63: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

46

..........(a) ........................................ (b) ........... (c)

Figura 4.7: Tipos de Topsides: Integrado (a), modular (b) e híbrido (c). Fonte: Manago et al. (2007, p.39)

Segundo Prasthofer, contido em Manago at al. (2007, p.38), A operação de

remoção consiste na retirada do Topside integrado ou modular e da subestrutura,

podendo ser feita de quatro maneiras distintas:

Remoção única;

Remoção por módulos combinados;

Remoção reversa por módulos individuais;

Remoção em pequenos blocos.

4.1.6.1 - Remoção única

A grande vantagem da remoção dos Topsides como uma única unidade é o

menor tempo da operação no mar, diminuindo os custos com o navio de elevação

robusto (HLV). Este tipo de remoção é utilizado em pequenas plataformas, pois a

capacidade de carga dos HLV‟s é limitada.

Uma desvantagem da utilização deste método é onde desembarcar os

Topsides em terra, pois o depósito do Topside em um cais é limitado à capacidade de

suporte de carga do porto. Outra opção em relação ao descarte é o desmantelamento

do Topside em cima de um navio cargueiro, caso não seja possível o descarte em

terra.

4.1.6.2 - Remoção por módulos combinados

Prasthofer (1997, p.40) cita que um estudo relativamente recente mostrou que

a remoção de Topsides em grupos de 2 ou 4 módulos, ao mesmo tempo pode ser

mais eficiente. A vantagem estaria na redução do tempo de utilização do HLV, visto

que poucos içamentos seriam necessários, em comparação com a retirada reversa,

onde os módulos são içados individualmente. A posição e o peso dos módulos na

plataforma determinam se este método será possível ou não e quais módulos poderão

Page 64: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

47

ser levantados de uma só vez. A remoção por módulos não é vantajosa quando se

trabalham com grandes estruturas, onde a logística é mais complexa.

4.1.6.3 - Remoção reversa por módulos individuais

Este método envolve a desconstrução dos Topsides, seguindo a ordem reversa

que este foi instalado, ou seja, a remoção dos módulos e dos componentes do convés

um por vez. A instalação reversa necessita de navios cargueiros com capacidade

moderada ou robustos navios guindaste para a retirada dos grandes módulos. Para

que possam ser estabelecidas as condições dos módulos antes dos içamentos, são

necessárias:

Verificação da integridade estrutural, instalação de reforços, se necessário, e

estabilização do centro de gravidade dos módulos;

Reinstalação de cabos-guias ou instalação de novas estruturas para o

içamento;

Separação de toda a conexão entre os módulos.

Um planejamento prévio da preparação e das sequências de elevação deve ser

elaborado a fim de maximizar a utilização dos equipamentos dos Topsides, tais como,

acomodações e energia, minimizando a permanência do HLV no local da operação.

4.1.6.4 - Remoção em pequenos blocos

O último método descrito por Prasthofer (1997, p.40) é o da “desconstrução”, a

partir de ferramentas de corte, de apoio e dos guindastes da plataforma. Cada parte

do Topside que foi retirado da plataforma é levado para um container, que é levado

para um navio para o transporte para a costa. A principal vantagem deste método é a

não utilização dos HLVs, que como já dito anteriormente, possuem um custo

extremamente elevado. Apesar do método de remoção em pequenos blocos ser mais

demorado, a empresa não arca com grandes custos.

4.1.7 - Remoção da Jaqueta

De acordo com Bernstein (2007, p.47), as plataformas do tipo jaqueta tem

como característica a instalação em profundidades que variam tipicamente de 10 até

360 metros e com um peso variando de 400 até 43000 toneladas. Para que a jaqueta

seja removida completamente do oceano, o primeiro passo é remover as principais

estacas, que são basicamente tubos de grande diâmetro que fixam a plataforma no

fundo do mar (Figura 4.8).

Page 65: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

48

De acordo com Cutwell, contido em Manago at al. (2007, p.63), a remoção

completa e disposição em terra das jaquetas localizadas em águas profundas é

desafiadora. O imenso peso das estruturas, somado à grande lâmina d‟água fazem

com que a operação seja muito mais complexa e também mais onerosa. Em

estruturas de grande porte, o recomendável é que ela seja cortada em diferentes

partes, para facilitar o içamento por um HLV.

Figura 4.8 – Plataforma do tipo Jaqueta, com as estacas destacadas em vermelho, responsáveis pela fixação no fundo do mar.

Fonte: UNIVERSITY OF STRATHCLYDE (2011).

Segundo Ruivo (2001, p.84), as quatro etapas fundamentais em uma operação

de remoção completa de jaqueta são o corte de seções da jaqueta, quando este se

fizer necessário, içamento das várias partes, carregamento e por fim a disposição de

cada uma das seções que foram retiradas.

Antes da jaqueta ser cortada em seções, a identificação dos pontos de corte é

fundamental, pois vai determinar como vão ser feitas as operações seguintes da

remoção. Uma seção deve possuir peso não maior do que a capacidade de carga dos

guindastes. As dimensões e a quantidade das seções determinarão a trajetória do

reboque, o tamanho e a quantidade de barcaças de carga.

Quando o corte é realizado in situ, ferramentas especiais deverão ser

utilizadas, como as operadas remotamente, conhecidas por ROV (Remote Operated

Vehicle), Figura 4.9, que proporcionam maior segurança à operação, e também têm

maior eficiência já que os cortadores são feitos de diamante e a máquina pode

Page 66: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

49

trabalhar em períodos prolongados. Uma desvantagem dos ROV‟s é o limite que o

equipamento possui na execução de tarefas que exigem uma manipulação maior,

devido à disposição dos tubos. O uso de mergulhadores ainda é muito comum em

profundidades de até 100 metros, devido à maior mobilidade do mergulhador.

Figura 4.9 –ROV. Fonte: Oceaneering (2011).

Segundo Ruivo (2001, p.84), a jaqueta será levantada e rebocada após cada

um dos cortes horizontais. Um navio guindaste de grande porte HLV deverá ser

equipado com várias ferramentas, uma vez que cada seção levantada exigirá um tipo

específico de equipamento. Assim, uma estrutura distribuidora poderá ser utilizada no

HLV de modo que ele possa segurar múltiplas ferramentas no guindaste.

Caso a jaqueta seja utilizada para criação de recifes artificiais, ela deverá ser

rebocada, até a posição pré-estabelecida pela empresa, com respeito à legislação e

aos órgãos ambientais, de modo que o recife criado não cause uma superpopulação

de determinada espécie de peixes e cause desequilíbrio ambiental.

4.1.8 – Transporte e Disposição em terra

Segundo Bernstein (2007, p.49), a remoção completa de todas as plataformas

na costa da Califórnia iria resultar em uma massa de aço da ordem de 375.000

toneladas. Isso indica que deve existir uma boa estrutura localizada na costa, para

receber o material e posteriormente reciclá-lo ou desmontá-lo.

Além da presença da sucata de aço reciclável, outros materiais não metálicos

devem ser recuperados da instalação offshore. Alguns materiais como cimento,

plástico, madeira e alguns tóxicos, como o amianto devem ser retirados, sendo então

reciclados.

Page 67: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

50

4.1.9 – Limpeza do local

De acordo com McCarthy, contido em Manago at al. (2007, p.74), o último

estágio de um processo de descomissionamento total é a limpeza no local, onde é

feita a eliminação de detritos localizados no leito marinho, produzidos durante a fase

de produção de petróleo e gás. Segundo Bernstein (2007, p.49), após a retirada da

jaqueta, também é feita uma busca por possíveis instalações remanescentes, como

dutos e cabos, a fim de retirar e evitar que ocorra transtornos em relação ao tráfego de

navios e à atividade pesqueira.

4.2. Remoção parcial

Conforme visto no capítulo anterior, a remoção total é sempre a mais indicada

em um processo de descomissionamento. Entretanto, em casos onde a estrutura é

muito grande, a lnternational Maritime Organization (IMO) recomenda que seja feita

uma retirada parcial, desde que a retirada possibilite uma coluna d‟água livre, para não

prejudicar os interesses dos outros usuários do oceano. De acordo com as normas da

portaria 114/2001, a plataforma pode ser retirada parcialmente, desde que fique livre

uma lâmina d‟água de 80 metros.

Segundo Ruivo (2001, p.86), a parte removida possui os seguintes destinos:

Disposta em terra para reciclagem, ou eliminação;

Disposta próxima à porção remanescente da estrutura;

Reboque e disposição da estrutura, em um local licenciado, em águas

profundas, ou ainda, dispô-la a uma distância mínima da costa mais próxima.

Abaixo, as principais diferenças no processo de remoção parcial em relação à

remoção total.

4.2.1 - Preparação da plataforma

O processo de preparação da plataforma é praticamente idêntico à preparação

quando o descomissionamento é completo. A grande diferença é em relação aos

organismos vivos que crescem na parede externa dos tubos. A remoção destes

organismos em um descomissionamento parcial é menor do que em um total,

principalmente se a parte de cima da jaqueta for colocada no fundo do oceano, com o

objetivo em aumentar a área do recife a ser criado com a jaqueta. Bernstein (2007,

p.58) lembra que os organismos tendem a morrer, mesmo se eles não forem retirados

da tubulação. Isso ocorre por que caso a jaqueta seja cortada e a parte superior

Page 68: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

51

(habitat preferencial) for disposta no fundo do oceano, eles podem não se adaptar à

nova profundidade e então, não sobreviver.

4.2.2 - Remoção de oleodutos

De acordo com as diretrizes da ANP, contidas na portaria Nº114/2001, a

retirada oleodutos não é obrigatória caso a remoção seja contra indicada do ponto de

vista de segurança ou impacto ambiental, e também caso a plataforma se situe em

lâmina d‟água acima de 80 metros.

4.2.3 - Mobilização do HLV

Em um projeto de descomissionamento parcial, o tamanho do HLV é ditado

pelo peso máximo de um único içamento. As seções da plataforma são cortadas de

forma que se enquadrem no tamanho máximo que o HLV escolhido pode suportar.

Dessa forma, em um descomissionamento parcial, a seleção de um HLV de pequeno

porte é possível, reduzindo as taxas diárias associadas com a mobilização,

desmobilização e com o trabalho do HLV em si. Se grande parte da jaqueta for

deixada no local, o numero de dias que um HLV vai ficar no local de trabalho é

reduzido significativamente.

4.2.4 - Remoção Parcial da Jaqueta

Os principais benefícios de uma remoção parcial são a manutenção do meio

ambiente marinho, principalmente quando for utilizado em conjunto com programas de

recife artificial, pois a estrutura continuará proporcionando habitat para a vida marinha.

Um entrave na remoção parcial é a presença de cimento no espaço anular entre os

pilares da jaqueta, que não deve ficar no oceano. A remoção deste cimento é

complexa, algumas vezes sendo necessário o uso de explosivos.

De acordo com (Bernstein,2007, p.57), na remoção parcial a jaqueta é deixada

em pé, enquanto que os pilares que fixam a jaqueta no fundo do oceano são deixados

no local. A remoção é feita desde que fique uma lamina d‟água livre de 80 metros,

como já comentado. Na remoção parcial, o uso de explosivos para o corte não é muito

indicado, devido aos impactos no ambiente marinho e também por motivos técnicos, já

que na remoção parcial ele já não é muito necessário.

Para a seção da jaqueta que foi removida, existem duas opções para seu

destino. A primeira é o transporte para o continente, (Figura 4.10) para que ela seja

cortada e reciclada. A segunda opção é deixa-la no fundo do oceano, de forma a

aumentar o tamanho do recife artificial (Figura 4.11). Na primeira opção, a porção

superior da jaqueta deve ser içada por meio de um HLV para o posterior transporte.

Page 69: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

52

Figura 4.10 – Remoção parcial de uma jaqueta: parte superior para transporte ao continente.

Fonte: Oil & Gas UK, 2010, p. 45.

Figura 4.11 - Remoção parcial da jaqueta, onde sua parte superior é lançada no fundo do mar.

Fonte: Twachtman Snyder & Byrd, 2000, p.10.

Outro tipo de remoção de jaqueta, também considerado parcial é o

tombamento no local, conforme mostra a Figura 4.12. É possível que a jaqueta seja

disposta no fundo do mar sem o auxílio de rebocadores, apenas com o corte em sua

parte mais inferior, para possibilitar o desmoronamento natural. Entretanto, este

procedimento é de alta complexidade.

Page 70: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

53

Uma vez que a estrutura esteja no fundo do mar, ela passa a atuar como um

habitat artificial para a vida maninha. Essa alternativa é extremamente barata, pois

elimina os custos do transporte da jaqueta.

Figura 4.12 – Tombamento no local, com auxílio de rebocador. Fonte: Dauterive, 2000.

4.2.5 – Transporte e disposição em terra

Diferentemente da remoção total, onde toda a massa de aço deve ser trazida

para a terra, na remoção parcial apenas parte da plataforma é trazida a terra, e em

alguns casos, onde a parte superior da jaqueta é disposta no local, para ampliação do

recife, a quantidade de aço para o transporte se reduz em 22%, reduzindo os custos

de transporte, desmantelamento e reciclagem em torno de US$102 milhões de dólares

(Bernstein, 2007, p.58).

4.2.6 - Limpeza do local

Após a remoção da parte da jaqueta destinada ao reciclo, a parte inferior da

jaqueta ainda fica remanescente no local, para o caso de criação de recifes artificiais.

Nessa hora, é necessário executar uma operação de limpeza, para verificar a

existência de eventuais obstruções, que possam vir a prejudicar os outros usuários do

oceano (Bernstein ,2007, p.58).

De acordo com Ruivo (2001, p.115), um dos procedimentos mais utilizados na

Califórnia para a verificação da limpeza é a passagem de uma rede com um reticulado

de grande densidade, de forma que cubra uma grande área. A navegação por GPS é

utilizada para dizer exatamente a localização de cada uma das saliências encontradas.

Após a documentação de todas as saliências, é colocada em prática uma operação de

remoção. Nos casos onde a passagem de redes não é recomendada, ou impraticável,

devido à dificuldade no posicionamento em função das características da rede, a

utilização de rastreadores acústicos pode ser válida para a localização dos resíduos

remanescentes.

Analisando as propostas feitas por Bernstein, podemos perceber que as 9

etapas de um processo de descomissionamento não são suficientes. Quando a

Page 71: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

54

retirada de instalações é regulamentada por algum órgão governamental, é

fundamental que a primeira etapa seja uma “autorização” do projeto de

descomissionamento elaborado previamente pela empresa pelos órgãos competentes,

como acontece em alguns países e que poderá acontecer no Brasil, caso a Licença

Desativação, discutida no capítulo anterior seja um dia aprovada.

Outra etapa fundamental é o monitoramento do que foi deixado para trás,

quando o descomissionamento é parcial. Segundo Ekins (2005, p.436), todo o material

deixado in situ deve ser alvo de monitoramento durante um período de tempo, e todas

as implicações financeiras relacionadas ao monitoramento e às possíveis medidas

corretivas devem ser dadas exclusivamente à empresa que explorou no local. A

determinação do tempo de duração e a frequência do monitoramento no local, de

acordo com Ekins, deve ser determinado pelo órgão regulador. As principais

diferenças entre uma remoção total e parcial são apresentadas na tabela 4.1.

Tabela 4.1: Principais diferenças não técnicas entre a Remoção Total e Remoção Parcial

Área Remoção Total Remoção Parcial

Setor Pesqueiro Diminui a densidade de

biomassa, devido à eliminação do habitat criado na estrutura.

Dificulta a prática da pesca de arrasto, uma vez que as redes podem se prender na estrutura. Promove a formação de recifes

artificiais na estrutura, aumentando a biomassa local.

Navegação Sem riscos à navegação, pois

nada permanece acima do solo marinho.

Pode apresentar riscos à navegação, caso a legislação

não seja cumprida. Nas estruturas offshore, deve existir uma lamina d‟água livre de 80

metros (ANP). Risco na navegação de subsuperfície.

Monitoramento Não é necessário

monitoramento posterior à remoção.

É necessário monitoramento posterior ao

descomissionamento, para evitar vazamentos e

contaminação sem medidas imediatas de mitigação e

controle dos danos.

Custos

É a mais dispendiosa, requer a remoção de toda a estrutura e a

utilização de HLV, que possuem custo elevado.

É mais barata que a remoção total, algumas vezes não

necessitando alugar um HLV.

Observando as tabelas contidas no Anexo A, percebemos que a região

nordeste brasileira concentra a maior parte das plataformas do tipo fixa no Brasil,

sendo a maioria delas situadas em lâminas d‟água inferiores a 80 metros.

Page 72: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

55

O Brasil, em princípio, como signatário da IMO vê-se obrigado a

cumprir as disposições quanto às especificidades de abandono de

plataformas, especialmente nos campos de petróleo do Nordeste

(LUCZYNSKI, 2002, p.100).

Ao analisarmos o que está contido nas diretrizes da IMO e o recomendado pela

ANP, percebemos que existe uma divergência. Enquanto a IMO recomenda a

remoção total para profundidades de até 100 metros, a ANP, por meio de sua portaria

Nº27/2006, recomenda a remoção em sua totalidade para lâminas d‟água de até 80

metros.

4.3 - Principais alternativas na remoção parcial

Nos últimos anos, o interesse por parte da indústria em investir em novas

tecnologias, em especial nas relativas às energias renováveis é notável. No que se

refere à utilização de energias alternativas em ambiente marítimo, dois tipos merecem

destaque: a energia eólica e a energia das ondas. Cabe lembrar que o Brasil possui

um grande potencial nessa área, já que seu litoral possui grandes deslocamentos de

massa de ar, que também são responsáveis pela formação das ondas, como mostra a

Figura 4.13.

Figura 4.13 – As principais massas de ar no Brasil. Fonte: COPPE (2011).

4.3.1 - Energia eólica

A utilização de plataformas inutilizadas como suporte para instalações de

energia eólica é vista pelo MMS (2010) como uma alternativa possível. Segundo o

MMS, uma plataforma pode ser utilizada como uma central de facilidades, com

Page 73: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

56

sistemas de controle e instrumentação, comunicação, acomodações temporárias para

funcionários, além de também poderem ser utilizadas apenas como suporte a uma

unidade de geração de energia eólica, como mostra a Figura 4.14.

Figura 4.14 – Uma jaqueta de pequeno porte munida de uma transição para instalação de unidade de geração de energia eólica.

Fonte: Kaiser, 2010, p.70.

De acordo com Bernstein et al (2007, p.61), a utilização de uma jaqueta para

instalação de apenas uma unidade de geração de energia é considerada inviável, pois

ela não geraria a energia que se espera de uma fazenda eólica. Para que um projeto

deste tipo fosse viável, uma série de geradores deveriam ser instalados lado a lado

(Figura 4.15) e não apenas alguns localizados.

Nota-se também que é preciso uma nova concepção dos geradores em termos

de projeto e geometria, para que seja possível a instalação de vários geradores em

uma só estrutura offshore, de modo a aumentar o rendimento energético.

O potencial para uso de plataformas descomissionadas para uma usina eólica

offshore é limitado, pelo fato da instalação de turbinas em uma distância relativamente

longe da costa ainda não ser comercial, além do fato de que a indústria prefere instalar

estruturas flutuantes individuais a aproveitar uma jaqueta situada em um ambiente

mais hostil.

Page 74: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

57

Figura 4.15 – Layout da fazenda eólica de Scroby Sands: Turbinas próximas de si e da costa.

Fonte: Kaiser, 2010, p.48.

Segundo Bernstein et al (2007, p.63), a opção em promover a instalação de

usinas de energia eólica pode se tornar mais atrativa no futuro, com as mudanças

econômicas e com um estudo mais elaborado do uso do vento para geração de

eletricidade.

Bernstein alerta ainda que mesmo que um dia este tipo de alternativa seja

viável, ela não elimina a necessidade de remoção da jaqueta, uma vez que um dia a

vida estrutural dela irá acabar. Essa alternativa apenas retarda o cronograma das

atividades de remoção.

4.3.2 - Energia das ondas

Diferentemente da energia eólica, essa alternativa está muito mais próxima da

nossa realidade, inclusive pelo já conhecimento acumulado no assunto. O primeiro

projeto de energia de ondas que se tem notícia data de 1789 (COPPE, 2011). A

Universidade Federal do Rio de Janeiro, em seu Laboratório de Energia Submarina

(LES) desenvolveu tecnologia nacional de ponta, para a extração de energia elétrica

por meio das ondas. Estas, em águas profundas possuem energia de 3 a 8 vezes

maior do que as ondas na costa, o que amplia a capacidade de geração de energia

elétrica. Segundo Cruz (2004, p.7), a energia contida nas ondas é capaz de gerar algo

em torno de 2 TW, o que é comparado a potência elétrica média anual consumida

mundialmente. Segundo à COPPE, se 10% do aproveitamento do potencial energético

total das ondas fosse obtido, a matriz energética mundial teria um incremento da

ordem de 1000 GW (Tabela 4.2).

Page 75: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

58

Tabela 4.2 – Comparação da capacidade gerada.

Potência kW) Aplicação

50 Iluminação e força motriz para uma pequena fábrica 500 Iluminação e força motriz para uma vila de 200 famílias.

5000 Alimentação de uma rede local e complemento da matriz energética.

30.000 Alimentação de 20.000 casas 2.000.000.000 Consumo energético mundial

Fonte: Ricarte, 2007, p.9.

Segundo Ricarte (2007, p.12), as vantagens da utilização da energia

proveniente das ondas são muitas. Entre elas, podemos destacar que apesar das

variações de altura e da quantidade de ondas, ela é considerada abundante, é uma

energia totalmente livre de poluição, possuindo uma densidade energética superior à

eólica (Tabela 4.3), além de suas instalações poderem ser construídas em harmonia

com a vida marinha, podendo funcionar concomitantemente como recife artificial.

Tabela 4.3 – Densidade energética.

Fonte energética

Densidade (kW/m²)

Solar 0,1 Eólica 0,5 Ondas 10

Fonte: Universidade de Leipzig, citado por Ricarte (2007, p.9).

A implantação de uma usina geradora a partir das ondas é promissora, e pode

ser feita tanto onshore, quanto nearshore19 e offshore, no caso da implementação em

jaquetas. Quando utilizadas nearshore, podem servir também como proteção à costa,

atuando na dissipação da força das ondas.

A dificuldade da implementação de um sistema de transmissão de energia

submarina é um fator limitante para ambas as alternativas – eólica e das ondas, pois

os cabos elétricos ficam sujeitos à erosão do solo, correntes marítimas, etc. O

desenvolvimento de uma nova tecnologia para a transmissão da energia gerada

offshore promete ser um grande desafio.

4.3.3 - Terminal de Gás Liquefeito (GLP)

Bernstein et al (2007, p.65) cita um caso onde um plano para construção de um

terminal de Gás Liquefeito foi proposto nos Estados Unidos, conectando o terminal à

19

Nearshore: instalação localizada próxima da costa.

Page 76: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

59

uma rede de gasodutos submarinos e terrestres. Entretanto, devido a uma série de

preocupações ambientais, o projeto não foi levado a diante. Um outro projeto, para a

construção de um sistema de armazenamento flutuante de GLP também foi negado

em 2007 pelo governador da Califórnia Schwarzenegger.

4.3.4 – Aquicultura

A aquicultura é apresentada como sendo uma solução para atender a

crescente demanda de peixes e frutos do mar pelo mercado, sem causar uma

diminuição na população de peixes, podendo ser utilizada inclusive para o crescimento

de espécies que estão ameaçadas, dada a intensiva pesca tradicional. Dessa forma, a

instalação de “fazendas no mar” (Figura 4.16) é mais uma das propostas para serem

utilizadas como alternativa no processo de descomissionamento e reutilização de

jaquetas.

Os Estados Unidos já executaram apenas quatro projetos de aquicultura

usando a jaqueta como base para as operações, entretanto todos eles fracassaram,

por diversos motivos. O alto preço do peixe produzido, já que as instalações ficam

longe da costa, danificações da estrutura, devido às tempestades, além de questões

econômicas, como a competição da aquicultura com as comunidades tradicionais de

pesca, e da utilização de recursos públicos para o lucro.

De acordo com Bernstein et al (2007, p.66), existiam nos Estados Unidos, no

ano de 2005, cinco instalações de aquicultura, porém nenhuma delas utilizavam

estruturas offshore em suas operações, já que os casos em que a jaqueta foi utilizada

fracassaram. Um estudo feito pela Louisiana Department of Natural Resources

determinou que é necessário mais pesquisas para que a instalação de unidades em

jaquetas se torne possível.

Figura 4.16 – Uma “fazenda de peixes” no litoral norte americano. Fonte: GCAPTAIN (2011).

Page 77: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

60

4.3.5 - Laboratórios marítimos

A construção de laboratórios científicos em alto mar é mais uma alternativa

dada para as estruturas offshore. Dados como poluição, nível de acidez da água,

distribuição de nutrientes, correntes marinhas, estudo dos vórtices, além de um

sistema de monitoramento de catástrofes naturais são algumas das atribuições que

um laboratório situado em ambiente offshore pode ter.

As informações científicas obtidas em um laboratório desta natureza podem

servir desde o monitoramento da vida marinha, até para prever possíveis enchentes e

deslizamentos de terras e deixar a população sob alerta.

O projeto de um laboratório marítimo tem no Brasil apoio do governo federal

para sua concretização, e ficaria cerca de 500 quilômetros da costa, podendo servir

como apoio para a produção no pré-sal (REVISTA VEJA, 2011).

Nós vamos fazer o primeiro laboratório marítimo fixo em alto-mar. O

Brasil não pode olhar para a Amazônia azul que é a plataforma

continental só para tirar gás e petróleo. Temos de ter compromisso

com a biodiversidade. (Aloísio Mercadante em entrevista à Revista

Veja).

Figura 4.17 - Principais opções em um processo de descomissionamento.

Fim da produção

Remoção completa

Jaqueta e Topside

dispostos no

continente

Abandono em Abissais

Remoção Parcial

Projetos de energia

alternativa

Eólica Ondas

Recifes Artificiais

Laboratório de pesquisa

marinha

Aquicultura

Terminal de GLP

Page 78: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

61

Como podemos perceber, quando a jaqueta é deixada parcialmente ou

integralmente no local, ela terá um leque de destinos possíveis, e grande parte deles

possuem características sustentáveis, como projetos de energia eólica, energia das

ondas, além de atividades como laboratórios de pesquisa e aquicultura (Figura 4.17).

Porém, as alternativas acima citadas ainda são inviáveis, dado que praticamente

nenhum projeto ainda obteve sucesso.

No entanto, a utilização de jaquetas para a instalação de recifes artificiais é

uma prática já bastante conhecida da indústria offshore, e vem ganhando cada vez

mais força em relação ao descomissionamento. Porém, algumas perguntas surgem

em relação aos recifes: até que ponto a criação de recifes deixa de ser um processo

sustentável e passa a ser manobra de empresas que querem se livrar das instalações

com custo reduzido? Quais são suas vantagens e desvantagens? A resposta a estas

perguntas serão objetivo do próximo capítulo.

Page 79: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

62

Capítulo V – Recifes artificiais

Recife artificial é o nome dado a qualquer estrutura colocada pelo homem no meio

ambiente marinho, com o objetivo em simular um recife natural. Segundo Bastos

(2005, p.37) a construção deste tipo de atrator de vida marinha é conhecida de longa

data, tanto pelas tribos indígenas do século XVII, como pela população ribeirinha, que

os conhece como “marambaias” ou “pesqueira”, quando o recife é construído a partir

de galhos e/ou pedras atiradas no mar (Figura 5.1). De acordo com a definição do

IBAMA, entende-se por recife artificial:

a estrutura construída ou composta de materiais de origem natural ou

antropogênica, inerte e não poluente disposta intencionalmente em meio

subaquático em contato direto com o substrato, capaz de alterar

significativamente, de forma planejada, o relevo dos fundos naturais ou

influenciar processos físicos, biológicos, geoquímicos e socioeconômicos,

de acordo com interesses nacionais, regionais e locais. (Instrução

Normativa nº20, IBAMA).

Figura 5.1 – Uma “marambaia”. Fonte: Bastos, 2005 p.37.

Como discutido no ultimo capítulo, os recifes artificiais são até a atualidade a

alternativa que mais obteve êxito em um processo de descomissionamento, com

vários casos de sucesso, principalmente na região central e oeste do Golfo do México,

devido à sua estabilidade e durabilidade (DAUTERIVE, 2005, p.2). A principal razão

para a preferência das operadoras em fazer um projeto de recifes ao invés de um

Page 80: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

63

projeto de energias alternativas, aquicultura, laboratórios marítimos ou remoção total é

o custo envolvido.

A remoção total, apesar de ser a mais recomendada pelas convenções

internacionais, pode de acordo com este ponto de vista, causar perda de vida marinha,

pois atraem uma gama de organismos ainda na fase de produção de petróleo

(Ferreira, 2005, p.78), além de ser a mais dispendiosa, pelo elevado custo na remoção

de todos os equipamentos presentes durante a vida produtiva. Todas as outras

alternativas se mostraram economicamente inviáveis, pelo menos a curto prazo, com

exceção da energia das ondas, que tem os principais projetos sendo desenvolvidos na

atualidade.

Dessa forma, a criação de recifes é uma alternativa cada vez mais escolhida pelas

empresas onde a necessidade de descomissionamento já é uma realidade, pelo custo

extremamente baixo envolvido na operação, onde o aluguel de HLV‟s é mínimo, ou

não existente. Segundo Luczynski (2002, p.100), o governo inglês criou inclusive

legislação específica para o abandono de plataformas que favorece a remoção parcial,

desde que ela tenha como objetivo a criação de recifes.

Segundo Kaiser (2006, p.10), uma operadora antes de decidir pela

implementação de um recife, deve fazer uma análise prévia dos custos associados,

uma vez que a criação de um recife, embora seja mais barata, também possui

despesas. Uma abordagem lógica é a empresa fazer uma estimativa dos custos de

remoção total, trazendo toda a estrutura para a costa, o que Kaiser chama de C[shore]

e os custos relativos à criação do recife, o que é chamado de C[reef]. Se a equação 01

for positiva, a instalação do recife é vantajosa. Caso contrário, se a equação foi

negativa ou nula, a disposição da plataforma em terra prevalece.

(01)

Obviamente, existe um risco associado, já que o planejamento de custos é feito

antes da operação, e está sujeito à flutuações.

Entretanto, Ferreira (2005, p.80) verifica que o cálculo acima é desnecessário, pois

segundo ele a criação de recifes artificiais é sempre muito mais vantajosa do que a

remoção total. Segundo ele, o custo de remoção total de uma plataforma na costa da

Califórnia gira em torno de US$ 1253 milhões, enquanto que um recife fica na faixa de

US$ 595 milhões, gerando uma economia de US$ 658 milhões de dólares para as

empresas operadoras.

Page 81: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

64

5.1 - Métodos de implementação

Dauterive (2000, p.2) cita os três principais métodos de deslocamento da

jaqueta para a criação dos recifes. O primeiro trata-se do corte da jaqueta na base e

posterior reboque até a região mais propícia à instalação do recife (Figura 5.2). No

segundo método, a jaqueta é cortada na base, porém é afundada no mesmo local. Já

no último, a jaqueta não é seccionada na base, e sim em uma região pré-determinada

ao longo da estrutura. A parte superior da jaqueta pode ser transportada para a terra

ou pode compor o recife, por meio de um afundamento (Figura 5.3). Dauterive cita que

o primeiro projeto Rigs to Reef (RTR) aconteceu em 1979 na costa de Lousiana, nos

Estados Unidos. Desde então, os projetos foram se aprimorando, e hoje em dia já

existem projetos onde não são utilizados explosivos durante o corte da jaqueta,

ocasionando um impacto mínimo nos organismos vivos.

Figura 5.2 – Uma jaqueta sendo transportada. Fonte: LARP, citado por Kaiser, 2006, p.12.

Figura 5.3 – Uma jaqueta sendo afundada no local. Fonte: Louisiana Department of Fish and Wild life, citado por Kaiser, 2006, p.12.

Page 82: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

65

De acordo com Luczynski (2002, p.60), a implantação dos recifes artificiais

deve se feita seguindo práticas sustentáveis, como a garantia da proteção da fauna

marinha durante a fase de desativação e também no processo de transformação da

plataforma em recife, garantir que a navegação não seja prejudicada no entorno, além

de definir a profundidade ideal para a instalação do mesmo.

Ainda segundo a visão de Luczynski (2002, p.60), todo o processo de criação

dos recifes deve ser acompanhado por uma comissão de especialistas, para

monitoramento das condições do habitat recifal e também pelo órgão ambiental

competente, que também seria responsável pela sua proteção, por meio de uma

legislação adequada.

5.2 - Delimitação da área do recife

Segundo Kaiser (2006, p.6) e Bastos (2005, p.103) não é qualquer área no solo

marinho que pode receber um recife artificial. O estudo para a escolha da área deve

passar por vários passos, filtrando alguns aspectos que não são de interesse, como:

Corredores de oleodutos;

Linhas de transmissão;

Instalações de produção ou transporte;

Zonas militares;

Condições oceanográficas (ondas, marés, correntes, temperatura);

Fundo marinho, se consolidado ou não;

Presença de vida marinha no fundo ou não;

Áreas com baixa lâmina d‟água.

Com a delimitação das áreas onde o recife não pode ser instalado, devido à

presença de alguns dos itens acima, ou potencial da presença deles no futuro, é feita

então uma audiência pública, onde é realizada pesquisa junto à população e

comunidades interessadas, para definir qual é a melhor área para a implementação do

recife.

5.3 - Aspectos positivos

Bastos (2005, p.37) ilustra as principais vantagens ambientais e econômicas que

um recife artificial traz para a sociedade. Os principais grupos da sociedade a serem

beneficiados na criação de um recife são as comunidades de pescadores tradicionais,

Page 83: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

66

que se baseiam na pesca artesanal, devido ao aumento da quantidade de peixes, que

consequentemente trazem maior geração de renda e emprego. Além disso, também

auxilia na criação de zonas de recuperação ambiental, reservas extrativistas e

reservas de desenvolvimento sustentável, todas focando a atividade econômica da

pesca.

O desenvolvimento de uma atividade turística, como o mergulho também possui

grande potencial, além de possibilitar o desenvolvimento das comunidades costeiras.

O desenvolvimento de uma atividade de pesquisa científica também é levantado por

Bastos.

A criação de recifes vem a prejudicar a pesca de arrasto, mas que de modo geral

não é bem vista por organizações ambientalistas, como o Greenpeace, que a

considera como uma forma de pesca destrutiva, devido principalmente à remoção de

espécies antes ou durante a fase de reprodução (GREENPEACE, 2010)

5.4 - Aspectos negativos

Ferreira (2005, p.82) diz que o conceito de criação de recifes artificiais ainda

não é aceito por todos. A criação de recifes no Mar do Norte, por exemplo, é bastante

questionada devido à suas características peculiares, como alta profundidade,

temperaturas muito baixas e a água turva. De acordo com Ferreira, a tentativa de

criação de recifes artificiais no Mar do Norte iria na verdade resultar em várias práticas

de Dumping.

Segundo o governo do Estado de São Paulo (2011), uma característica bastante

conhecida por parte da sociedade em geral é que os recifes artificiais promovem

diversificação e aumento da fauna, proporcionando como consequência um aumento

da atividade pesqueira. Esta é a ideia básica de um recife, entretanto, se o projeto não

for bem feito e conduzido, o recife artificial pode perder sua principal característica.

Isso pode acontecer de diversas formas:

Quando o recife, ao invés de promover o crescimento da comunidade de

peixes dentro dele e em seu entorno, promove apenas o deslocamento de um

peixe de uma determinada região para o recife;

Crescimento de determinada espécie que se adapta melhor ao recife em uma

taxa maior do que de outra, promovendo desequilíbrio ecológico;

Ameaça ao estoque, pois a concentração de peixes em áreas conhecidas pelos

pescadores levaria a uma atividade pesqueira mais intensiva naquele ponto,

diferentemente do que ocorre se os organismos estivessem dispersos em uma

área maior.

Page 84: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

67

Após a implementação do recife, uma nova fase deve ser colocada em prática,

que é a de monitoramento. Nessa fase, os impactos tanto positivos quanto negativos

deverão ser avaliados na área recifal e nas áreas adjacentes, como também se a

iniciativa cumpriu seus objetivos, além de verificar se as estruturas residem na mesma

posição na qual foram instaladas, de forma que as bóias localizadas na superfície da

água continuem inalteradas.

Para que se tenha um parâmetro de comparação para a determinação dos

impactos ambientais, é necessário um estudo da biomassa do local e das áreas

adjacentes antes da instalação do recife e outro estudo depois da implementação,

ajudando a empresa a determinar o poder de agregação e a ampliação da biomassa

dentro do recife ou a redução em uma região adjacente, o que seria um ponto

negativo.

Figura 5.4 – Caracterização do oceano. Fonte: Universidade de Coimbra (2011).

A distribuição de biomassa em um oceano (Figura 5.4) apresenta-se estratificada,

se dividindo basicamente de acordo com a distância à costa, densidade luminosa e

profundidade. Uma breve interpretação da figura acima nos permite dizer por que a

delimitação da área é tão importante na criação de um recife.

Ruivo (2001, p.126) caracteriza o oceano na seguinte forma:

Zona Nerítica, que é a região do oceano maior concentração de espécies;

Zona Epipelágica, onde são encontrados os fitoplancton e zooplancton

marinho;

Page 85: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

68

Zona Mesopelágica, situada em um profundidade de até 1000 metros. É

onde os peixes, invertebrados e mamíferos situados na camada

imediatamente superior (epipelágica) se alimentam;

Zonas Batipelágicas e Abissais, que são áreas frias e que não recebem luz

solar. Possuem baixa densidade de biomassa e são habitadas somente

por espécies muito modificadas;

Aberturas Hidrotermais, onde a única forma de vida conhecida é a de

bactérias autótrofas.

Com base no exposto, podemos perceber que a densidade de biomassa vai

diminuindo na medida em que o oceano fica cada vez mais profundo. Dessa forma,

uma jaqueta que é disposta em uma zona Batipelágica, Abissal ou Hidrotermal

certamente não servirá de abrigo para futuras comunidades de peixes, representando

um caso de Dumping, como retratado pela convenção de Londres de 1972.

Além da distribuição de organismos em um nível macro, considerando as

grandezas do oceano, eles também se estratificam em pequenas profundidades, como

ao longo de uma plataforma de petróleo. Segundo Bastos (2005, p.34), diferentes

espécies animais e vegetais são atraídas para a plataforma, que oferece diversos

patamares de profundidade, permitindo que moluscos, crustáceos, algas e outros

organismos marinhos se estratifiquem ao longo da estrutura metálica, possibilitando a

criação de um novo e pequeno ecossistema. A estratificação das espécies ao longo da

estrutura metálica é notada principalmente em jaquetas ainda em fase de produção,

dado seu grande tamanho.

5.6 - Experiência internacional: projeto “Rigs to Reefs”

Os Estados Unidos possuem hoje o maior programa de conversão de

plataformas em recifes artificiais do mundo, o que ficou conhecido como projeto “Rigs

to Reefs”. Este programa foi uma iniciativa do Minerals Management Service (MMS), e

seu maior êxito se encontra hoje na costa do estado da Lousiana, no Golfo do México

que possui a maior quantidade de recifes artificiais a partir de estruturas

descomissionadas do mundo. Segundo Ferreira (2005, p.79), até no final de 1998,

aproximadamente 125 das 1250 estruturas descomissionadas foram removidas do

Golfo do México com o objetivo na criação de recifes, além da utilização de outros

tipos de estruturas, como aviões, tanques de guerra e trens. De acordo com Ruivo

(2001, p.137) grande parte dos recifes situados no Golfo do México foram instalados

em uma profundidade variando de 30 a 100 metros, e em uma distância da costa de

2,5 a 143 km.

Page 86: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

69

Segundo Dauterive (2000, p.3), os grandes beneficiários da política de criação

de recifes artificiais são os pescadores, já que os recifes possibilitaram um incremento

em 75% da biomassa marinha. A tabela 5.1 mostra o sucesso do projeto “Rigs to

Reef”, mostrando a prevalência da criação de recifes sobre as outras opções de

descomissionamento.

Tabela 5.1 – Utilização dos recifes frente a outras opções.

ESTADO RECIFES

ARTIFICIAIS REBOQUE E DISPOSIÇÃO

TOMBAMENTO NO LOCAL

REMOÇÃO PARCIAL

Alabama 4 4 - - Flórida 3 3 - -

Lousiana 94 59 31 4 Missisipi - - - - Texas 50 24 14 12

TOTAL 151 90 45 16

Fonte: Dauterive (2000, p.3).

Segundo Ruivo (2001, p.138), as estruturas offshore produzem bons recifes devido

aos seguintes fatores:

Habitat robusto, capaz de proporcionar local adequado para a desova e ninho

de diferentes espécies marinhas;

Um ponto de referencia visual e palpável;

Circulação adequada de água dentro do seu interior, graças às aberturas na

estrutura;

Uma grande área superficial, que aliado à circulação de água, encoraja o

desenvolvimento de espécies que se desenvolvem mais próximas ao solo

marinho;

A complexidade física da estrutura proporciona proteção contra fortes

correntezas e predadores.

Uma variedade de habitats ao longo da coluna d‟água, permitindo que

diferentes espécies permaneçam em sua profundidade marinha mais

confortável, aumentando, portanto, a variabilidade biológica do local.

5.7 - Brasil: Parceria Petrobras / UFRJ

No Brasil, ainda não se tem notícia de um projeto de transformação de uma

plataforma em recife artificial. No entanto, um projeto similar foi desenvolvido em

parceria da Petrobras com o Laboratório de Tecnologia Submarina (LTS/COPPE), da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Page 87: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

70

Este projeto se baseou na construção de recifes artificiais a partir de peças

estruturais e tubulações desativadas e imunes de tóxicos, utilizadas na exploração

offshore (Figura 5.5), que segundo Bastos (2005, p.106) têm também como finalidade

inibir a pesca de arrastão, pela sua configuração geométrica.

Figura 5.5 – Materiais utilizados na construção do recife Fonte: Bastos (2005, p.106).

A região escolhida para abrigar o recife foi o litoral de Rio das Ostras, por ter

menor visibilidade em relação à pesca comercial e procurando então beneficiar as

comunidades artesanais de pescadores, que foi o objetivo principal do projeto. A área

de implementação foi escolhida principalmente por estar situada na zona eufótica, que

como dito anteriormente, abriga a maior parte da biomassa (BASTOS, 2005, p.109).

Os módulos metálicos, criados a partir de uniões de tubulações inutilizadas por

meio de braçadeiras foram projetados como figuras geométricas tridimensionais, como

cubos e pirâmides (Figura 5.6). As estruturas construídas podem ser divididas ainda

em dois grupos, as de grande e as de média dimensão. As consideradas de grande

porte, com 9 metros de lado e até 13 toneladas e as estruturas médias com 6 metros

de lado e pesando 8 toneladas. Segundo Bastos (2005, p.115), ao todo foram

construídas 27 estruturas, entre elas.

4 cubos grandes;

8 cubos médios;

3 prismas ;

5 pirâmides;

2 containers;

4 estruturas recicladas;

1 torre central.

Page 88: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

71

Figura 5.6 – Cubo de 9 metros e estrutura central. Fonte: Bastos, 2005, p.116.

De acordo com Bastos (2005, p.132), a construção do recife no litoral de Rio

das Ostras atendeu positivamente as expectativas. Toda a tubulação foi aos poucos

sendo incrustrada por diferentes organismos, que chegaram a 20 espécies diferentes

em 2004, e que chegaram a se superpor em diferentes camadas, chegando inclusive a

modificar a forma da tubulação (Figura 5.7).

Outro aspecto positivo levantado por Bastos foi o despertar de uma nova

mentalidade na comunidade litorânea em relação ao uso dos recursos naturais, onde a

conservação destes se mostra agora importante para as gerações futuras. Este fato

deve-se ao reaparecimento de espécies que já não eram mais encontradas na região,

e que cuja volta foi atribuída ao recife20.

Figura 5.7 – Incrustação da tubulação. Fonte: Bastos (2005, p.134)

20

Não é possível ter certeza que o reaparecimento foi devido à criação do recife artificial. Algumas espécies estão sujeitas a fatores sazonais, ou seja, aparecem em determinadas regiões em períodos cíclicos.

Page 89: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

72

Bastos (2005, p.156) conclui que é possível que a atividade de exploração de

petróleo atue em conjunto com a atividade pesqueira, auxiliando na conciliação e

conflitos com as comunidades de pescadores e também os ajudando a se

desenvolver. A experiência e conhecimentos acumulados em Rio das Ostras, pode

servir como base para a implementação futura de recifes que tenham como base

estruturas offshore maiores, como jaquetas, Topsides e equipamentos.

Embora [...] não se tenha utilizado estruturas de

produção de petróleo descomissionadas, mas sim

parte delas, espera-se que pela similaridade dos

procedimentos de planejamento, preparação,

limpeza e disposição, tais estruturas possam ser

usadas como recifes artificiais, com mesmo

sucesso alcançado (BASTOS, 2005, p.149).

Segundo Ferreira (2005, p.82), o sucesso dos projetos de recifes artificiais está

ligado a basicamente três fatores: condições ambientais, legislação favorável e é claro,

estruturas offshore disponíveis para descarte.

Page 90: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

73

Capítulo VI – Conclusões

Pela leitura crítica do que foi exposto, podemos concluir os seguintes tópicos em

relação ao descomissionamento:

Embora o descomissionamento em sistemas offshore nunca tenha ocorrido no

Brasil, nosso país pode aproveitar a experiência técnica acumulada pelos

países que o fizeram, como os países europeus e os Estados Unidos, para que

quando ele ocorra no Brasil, seja com o mínimo de externalidades possível;

A multidisciplinaridade do processo é algo que o deixa mais complexo, logo, a

presença de vários tipos de profissionais é fundamental para seu sucesso. A

criação de um canal de comunicação entre eles e também com a comunidade

em geral, para facilitar o entendimento de temas que não são compreendidos

por todos, é essencial para o progresso e eficácia do projeto;

O processo de descomissionamento é algo que é feito justamente para

prevenir passivos que possam aparecer em um momento posterior à vida útil

da estrutura offshore. Entretanto, o descomissionamento em si já é algo

extremamente complexo, e efeitos negativos podem aparecer quando do

prosseguimento da operação. Dessa forma, a Licença Desativação aparece

como instrumento extremamente necessário, mas para a qual ainda não é

dada devida importância;

O estabelecimento de normas como a Licença Desativação, pode ser decisivo

para a ampliação do número de empresas que atuam no país na área de

construção marítima, que podem prestar os serviços necessários para que um

descomissionamento bem sucedido aconteça, gerando emprego e renda para

o Brasil;

Em relação à utilização de parte da plataforma de petróleo para a

implementação de usinas de energia alternativa, um futuro promissor envolve a

energia das ondas, onde dados comprovam o enorme potencial mundial e

nacional para o desenvolvimento desta tecnologia, dada a sua enorme

densidade energética. A utilização de jaquetas como base para a instalação de

geradores de energia eólica é promissora, porém, para ser viável ainda precisa

de maiores investimentos em pesquisa e no desenvolvimento de novos

modelos de turbinas, uma vez que a concepção existente, dada a sua

geometria, não se adapta bem às dimensões de uma plataforma offshore;

Mesmo com a adoção de um programa para reutilização da estrutura, isso não

significa que o problema está resolvido. A plataforma, mesmo após ter passado

Page 91: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

74

pelo fim da vida útil, ainda está sujeita ao tempo de vida estrutural, que é

quando a própria estrutura de aço chega ao seu fim, e que certamente será

acelerado com a menor taxa de manutenção da estrutura, quando ela não

servir mais à exploração de petróleo. Dessa forma, a remoção total em um

longo prazo é inevitável, e a reutilização passa a ser vista apenas como uma

forma de retardar o tempo e os custos envolvidos em uma remoção total;

No caso da empresa decidir em descomissionar por meio da criação de um

recife artificial, um estudo detalhado deve ser feito em relação à localização da

área perfeita para a implementação, de forma que o local se situe em uma

profundidade que não prejudique a navegação e também que tenha uma

densidade de biomassa suficiente para a criação do recife, caso contrário, a

tentativa de criação de recife será na verdade uma forma de Dumping;

Os recifes artificiais, quando bem conduzidos provam que é possível a

convivência harmoniosa entre pescadores e a indústria de petróleo, que

historicamente é dada por uma relação de conflitos;

Para que um projeto de descomissionamento ocorra de forma eficaz e segura,

é necessário antes de tudo um planejamento do processo antes que ele ocorra,

abrangendo estudos de viabilidade técnica, impactos ambientais e também um

estudo econômico, garantindo que a empresa não seja surpreendida com um

fluxo de caixa negativo, já que o processo de descomissionamento ocorre

justamente no momento em que o campo não mais gera lucros.

Page 92: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

75

Sugestões para trabalhos futuros

Uma vez que o tema de descomissionamento é muito pouco abordado não só no

Brasil, como também no mundo, é fundamental que as ideias contidas neste trabalho

sirvam de pilar, junto com outras publicações para o prosseguimento do estudo sobre

o tema. Dessa forma, podemos elencar algumas áreas em que o campo de estudo é

promissor, dentre elas:

Na área financeira: Estudo sobre as diferentes formas em que a empresa

pode financiar os custos do processo de descomissionamento;

Na área jurídica: Estudo jurídico sobre melhorias na legislação nacional

em relação ao tema; Viabilidade da criação da Licença Desativação a nível

nacional (IBAMA);

Na biologia: Estudo da influência da remoção da plataforma sobre os

organismos existentes, assim como as alterações biológicas no meio

marinho que um recife proporciona. Verificar até que ponto um recife é

benéfico para o ecossistema;

Na engenharia: Estudo de novas formas para a remoção da estrutura, que

sejam menos invasivas para o habitat marinho. Um novo paradigma no

projeto de plataformas de petróleo, de forma que sua construção facilite a

remoção total, podendo inclusive dispensar o uso de explosivos. Estudos

sobre viabilidade técnica e econômica da implementação de usinas de

energia alternativa nas estruturas offshore. Estudos sobre o aproveitamento

da infraestrutura existente de oleodutos e gasodutos para a passagem

interna de cabos de energia, o que poderá viabilizar técnica e

economicamente a instalação de usinas geradoras de energia elétrica,

tanto eólica quanto das ondas nas plataformas offshore.

Page 93: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

76

Referências bibliográficas BASTOS, L. – O uso de Recifes Artificiais como Instrumento de Suporte à Pesca em Regiões Produtoras de Petróleo Offshore (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal Fluminense. Niterói, RJ. 2005. BERNSTEIN, B. - Evaluating Alternatives for Decommissioning California‟s Offshore Oil and Gas Platforms: A Technical Analysis to Inform State Policy. California Ocean Science Trust. 2007. BEZERRA, L. G. E. A Indústria Brasileira de Petróleo Upstream e a Proteção Ambiental – Arcabouço e Breves Reflexões In: Anais do 3º Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás. Salvador, BA. 2005. BP – North West Hutton Decommissioning Programe – Aberdeen, 2005. BRAIN & COMPANY. Estudos de Alternativas Regulatórias, institucionais e Financeiras para a Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural e para o Desenvolvimento Industrial da Cadeia Produtiva de Petróleo e Gás Natural no Brasil. Relatório Consolidado. São Paulo. 2009. CARR, M; MCGINNIS, M; FORRESTER, G; HARDING, J; RAIMONDI, P. - Consequences of Alternative Decommissioning Options to Reef Fish Assemblages and Implications for Decommissioning Policy - U.S. Department of the Interior. Minerals Management Service (MMS), 2003. CHAKRABARTI, S – Handbook of Offshore Engineering. Offshore Structure Analysis, Inc. Plainfield, Illinois, USA, 2005. D‟ALMEIDA, A. L. – Notas de aula da disciplina Tópicos Especiais em Engenharia de Petróleo IV. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2011. DAUTERIVE, L. - Rigs-to-reefs policy, progress, and perspective. New Orleans: Minerals Management Service (MMS) - U.S. Department of the Interior, 2000. DAUTERIVE, L. - Diving For Science in the Twenty-First Century. Minerals Management Service, Gulf of Mexico Region. New Orleans. EKINS, P. et al. Decommissioning of Offshore Oil and Gas Facilities Decommissioning Scenarios: A Comparative Assessment Using Flow Analysis. 2005 FERREIRA, D. F; SUSLICK S. B. - Identifying potential impacts of bonding instruments on offshore oil projects. Campinas, SP 2001. FERREIRA, D. F; SUSLICK S. B. – Decommissioning of Offshore Oil and Gas Instalations: Economic and Fiscal Issues. – Campinas: Editora Komedi. 2005. ISBN 85-7582-166-0. GOMES, M. V. C. - O Descomissionamento Ambiental. (Dissertação de Mestrado). CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE FLUMINENSE – UNIFLU. CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ. 2006

Page 94: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

77

KAISER, M. - The Louisiana artificial reef program. Center for Energy Studies, Louisiana State University Energy Coast & Environment Building, USA. 2006. KAISER, M - Offshore Wind Energy Installation and Decommissioning Cost Estimation in the U.S. Outer Continental Shelf. Energy Research Group, LLC. Baton Rouge, Louisiana, 2010. KÜCHLER, I. L. Licenciamento Ambiental da Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural. (Monografia de Especialização). Niterói, RJ. UFF (Faculdade de Direito). 2007. LAKHAL, S; KHAN, M; ISLAM, M. An „„Olympic‟‟ framework for a green decommissioning of an offshore oil platform. Ocean & Coastal Management. Canada. 2009. LOPES, F. O Conflito Entre a Exploração Offshore de Petróleo e a Atividade Pesqueira Artesanal. (Monografia de Bacharelado). Rio de Janeiro, RJ. UFRJ. 2004. LUCZYNSKI, E. Os condicionantes para o abandono das plataformas offshore após o encerramento da produção (Tese de Doutorado). São Paulo: Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia, Universidade de São Paulo (USP). 2002. MANAGO, F; WILLIAMSON, B. Decommissioning and Removal of Oil and Gas Facilities Offshore California: Recent Experiences and Future Deepwater Challenges. Southern California Educational Initiative. Ventura, California. 1997. MARIANO, J. B. Proposta de metodologia de Avaliação Integrada de Riscos e Impactos Ambientais para Estudos de Avaliação Ambiental Estratégica do Setor de Petróleo e Gás Natural em Áreas Offshore. (Tese de Doutorado). Rio de Janeiro, RJ. UFRJ. 2007. MELLO, M - O Descomissionamento das Plataformas e Instalações Marítimas para a Produção de Hidrocarbonetos e Seus Aspectos Legais. Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2006. Portaria ANP Nº25 de 7 de março de 2002. Aprova o Regulamento de Abandono de Poços perfurados com vistas à exploração ou produção de petróleo e/ou gás. Publicada no DOU de 07/03/2002. Portaria ANP Nº114 de 25 de julho de 2001. Aprova o Regulamento técnico que define os procedimentos a serem adotados na devolução de áreas de concessão na fase de exploração. Publicada no DOU de 08/08/2001. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL - Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília, 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Resolução ANP Nº27 de 19 de outubro de 2006. Estabelece os procedimentos para a Desativação de Instalações em Áreas de Concessão na Fase de Produção de petróleo ou gás natural. Publicada no DOU de 19/10/2006. RICARTE, E. B. – Avaliação de Sítios para o Aproveitamento dos Recursos Energéticos das Ondas do mar. (Dissertação de Doutorado). Rio de Janeiro. 2007.

Page 95: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

78

RUIVO, F. M. Descomissionamento de sistemas de produção offshore (Dissertação de Mestrado em Ciências e Engenharia de Petróleo). Campinas: Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Petróleo, Universidade de Campinas (UNICAMP). 2001. THOMAS (Organizador). Fundamentos de Engenharia de Petróleo. Ed. Interciência. Rio de Janeiro. 2001. TWACHTMAN SNYDER & BYRD. Gulf of Mexico Deepwater Platform Decommissioning. Offshore Technology Conference (OTC), Houston, Texas. 2003. Sites da Web Consultados Código Ambiental do Estado do Rio de Janeiro – Ante Projeto de Lei. Outubro de 2005. Disponível em <http://www.nima.puc-rio.br/index.php/pt/>. Acesso em 10/09/2011. COPPE. Energia das Ondas no Mar. Disponível em <http://www.lts. coppe.ufrj.br/downloads/ondas-coppe.pdf>. Acesso em 18/10/2011. Decreto estadual Nº 42.159 de 02 de dezembro de 2009. Dispõe sobre o Sistema de Licenciamento Ambiental - SLAM e dá outras providências. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em <http://200.20.53.7/Ineaportal/ Conteudo.aspx?ID=5FF15BC5-FEB7-4420-834D-FA5C0B6C3C&Print=1>.Data de acesso: 30/08/2011. GCAPTAIN. Disponível em <http://gcaptain.com/wp-content/uploads/2009/03/ aquapod_fish-farm1.jpg>. Acesso em 21/09/2011 JORNAL O GLOBO de 05 de junho de 2006 – Estado pode ganhar código ambiental – Disponível em <http://pib.socioambiental.org/en/noticias?id= 41669>. Data de Acesso: 02/09/2011. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – Recifes Artificiais: prós e contras. Disponível em <ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/recifes_artificiais.pdf>. Acesso em 27/09/2011 GREENPEACE – Pesca de Arrasto de Profundidade (2010). Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=aoxJdiEx4hA>. Acesso em 02/10/2011 HIDROPIG – Disponível em <http://www.hidropig.com.br>. Acesso em 17/11/2011. IMO - International Maritime Organization - Resolução A.672(16). Disponível em <http://www.imo.org/blast/mainframe.asp?topic_id=1026>. Acesso em 10/10/2011. Instrução Normativa nº 20 de 03/07/2009. Dispõe sobre o licenciamento ambiental para instalação de recifes artificiais no Mar Territorial na Zona Econômica Exclusiva brasileiros. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (D.O.U. 06/07/2009). Disponível em <http://www.diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?numlink =211542>. Acesso: 05/07/2011. Is “Rig to Reefs” viable in the North Sea? Disponível em <http://social.decomworld.com/industry-insight/rigs-reefs-viable-north-sea>. Acesso em 25/09/2011.

Page 96: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

79

OCEANNERING – Disponível em http://www.oceaneering.com. Acesso em 20/09/2011. OIL & GAS UK 2010 - ECONOMIC REPORT. Disponível em <http://www.oilandgasuk.co.uk>. Acesso em 22/10/2011. OSPAR, Convention for the Protection of the Marine Environmente in the North East Atlantic - Disponível em <http://www.ospar.org>. Acesso em 03/09/2011. PETROBRAS. Fatos e Dados. Disponível em <http://fatosedados. blogspetrobras.com. br>. Acesso em 01/09/2011.

REVISTA VEJA. Brasil terá centro para monitorar a vida marinha em alto-mar Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/brasil-tera-centro-de-monitoramento-da-vida-marinha-proximo-a-plataforma-do-pre-sal> Acesso em 23/09/2011.

UNIVERSIDADE DE COIMBRA. Breve Caracterização dos Oceanos. Disponível em <https://woc.uc.pt/botanica/ getFile.do?tipo=2&id=2961>. Acesso em 02/10/2011. UNIVERSITY OF STRATHCLYDE - Disponível em <http://www.esru.strath.ac.uk/EandE /Web_sites/98-9/offshore/rig.jpg> Acesso em 13/09/2011. WIKIPEDIA: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Knock_Nevis> Acesso em 03/09/2011. WORLD BANK – Disponível em <http://www.worldbank.org> Acesso em 05/08/2011.

Page 97: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

80

ANEXO – Listas das principais plataformas de petróleo na costa brasileira. (Ano

Base: 2006)

Bacia de Campos

Fonte: Mello, 2006, p.40

Bacia de Santos

Fonte: Mello, 2006, p.43.

Page 98: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

81

Bacia do Rio Grande do Norte / Ceará

Fonte: Mello, 2006, p.41.

Bacia do Espírito Santo

Fonte: Mello, 2006, p.42.

Page 99: OLAVO JUNQUEIRA FERREIRA LOPES VILLELA … Junqueira... · i universidade federal fluminense escola de engenharia departamento de engenharia quÍmica e petrÓleo curso de engenharia

82

Bacia de Sergipe / Alagoas

Fonte: Mello, 2006, p.42.