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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA
RICARDO SANTOS DE OLIVEIRA
ACIDENTES NUCLEARES:
estratégia de defesa
Rio de Janeiro 2011
RICARDO SANTOS DE OLIVEIRA
ACIDENTES NUCLEARES:
estratégia de defesa Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel Eng Aer R/1 Carlos Alberto
Gonçalves de Araujo.
Rio de Janeiro 2011
C2011 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________
Ricardo Santos de Oliveira Cel Med Aer
Biblioteca General Cordeiro de Farias
Oliveira, Ricardo Santos de
Acidentes Nucleares: estratégia de defesa / Coronel Médico da Aeronáutica Ricardo Santos de Oliveira - Rio de Janeiro: ESG, 2011.
68 f.: il.
Orientador: Cel Eng Aer R/1 Carlos Alberto Gonçalves de Araujo Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.
1. Acidentes Nucleares. 2. Estratégia de defesa. 3. Prevenção de Acidentes. 4. Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto. I.Título.
A todos
que durante o meu período de curso contribuíram com
ensinamentos e incentivos.
À minha mulher Carla e aos meus filhos
Thadeu, Matheus e Carolina pela compreensão, como resposta
aos momentos de minhas ausências, em dedicação às
atividades da ESG.
Ao meu pai e à minha mãe
pelo constante apoio em todas as horas.
AGRADECIMENTO
Aos estagiários da melhor Turma
Segurança e Desenvolvimento pelo convívio
harmonioso de todas as horas.
Ao Corpo Permanente da ESG pelos
ensinamentos e orientações que me fizeram refletir,
cada vez mais, sobre a importância de se estudar o
Brasil com a responsabilidade implícita de ter que
melhorar.
A Marcos Antonio de Oliveira, o querido
“GEÓLOGO MARCOS“, a constante orientação e
força nos assuntos sobre Energia Nuclear.
“O medo é a forma mais eficaz de
controle social: sociedades amedrontadas reagem como manadas, se deixando levar pelo primeiro grito de alerta. Em nome da
redução de uma ameaça superestimada lideranças podem agir livremente em busca
de outros objetivos, alheios à redução da própria ameaça”
Leonam dos Santos Guimarães
RESUMO
Esta monografia aborda um assunto de extrema importância para o nosso país em
decorrência da presença da Energia Nuclear como componente da nossa matriz
energética. Analisará a política atual de prevenção de acidentes nucleares da
Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto em Angra dos Reis, seus Sistemas
Redundantes de Segurança que protejam não só o meio ambiente como também a
saúde e a integridade física dos seus funcionários e da população do seu entorno. O
recente acidente afetando as 6 usinas em Fukushima Dai-ichi, no Japão, mostra que
nem sempre os que se imaginavam mais preparados para esse tipo de catástrofe
conseguem dimensionar os possíveis estragos. No Brasil, a estrutura responsável
pelas questões de segurança das atividades nucleares foi denominada “Sistema de
Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro” – SIPRON, abrangendo, entre outros, a
Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEM, a Eletronuclear, a Defesa Civil, o
Ministério da Defesa (MD) e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). Após breve
revisão da utilização da energia nuclear em escala mundial, nossa preocupação
recairá sobre a estratégia de defesa da CNAAA. Quanto à temporalidade, todas as
fontes de pesquisa disponíveis foram utilizadas e quanto ao espaço, falou-se sobre
os principais acidentes nucleares ocorridos no mundo desde Three Miles Island, em
1979, nos EUA, até o terremoto seguido de tsunami no Japão, em março de 2011. A
metodologia adotada comportou uma pesquisa bibliográfica e documental, a partir de
levantamento dos dados clínicos, biológicos e dosimétricos de populações
envolvidas nesse tipo de evento. O referencial teórico da pesquisa foi o Decreto nº
2.210, de 22 de abril de 1997 que instituiu o Sistema de Proteção ao Programa
Nuclear Brasileiro.
Palavras chave: Acidentes Nucleares. Estratégia de Defesa. Prevenção de
Acidentes. Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto.
ABSTRACT
This monograph borders on an issue of utmost importance to our country due to the
contribution of nuclear energy as a component of our energy matrix. It analyzed the
current policy of prevention of nuclear accidents by Almirante Álvaro Alberto Nuclear
Centre in Angra dos Reis, its redundant safety systems that protect not only the
environment but also the health and physical integrity of its workers and the
neighboring population to the Plants. The recent accident affecting the six plants in
Fukushima Dai-ichi in Japan shows that not always do those who appear more
prepared for this type of disaster, assess correctly what will happen and how to react
effectively in the resolution of the problem. In the event of a nuclear accident, the
country must be prepared to carry out certain actions and practices in order to
minimize possible negative consequences. In Brazil, the structure responsible for the
safety and security of nuclear activities is called "System for the Protection of
Brazilian Nuclear Program" – SIPRON, which include, among others, the National
Commission for Nuclear Energy – CNEMA – Electronuclear, Civil Defense, Ministry of
Defence – MD – and the Brazilian Intelligence Agency – ABIN. As accidents can
occur in all countries that use nuclear energy, after a brief review of their distribution
worldwide, our concern will be on defense strategy of the CNAAA. Timeframe will be
a valid research source with any publication or information age. As for space, it shall
be a valid review of studies of past accidents such as the Three Mile Island in the
USA in 1979, Chernobyl in the former USSR in 1986 and Cesium-137 in Goiania-
GO, in 1987 – the latter being a radiological accident – as well as the earthquake and
tsunami in Japan in March 2011. The methodology involved review of literature and
documents aimed at obtaining theoretical basis, collecting clinical, biological and
dosimetric data from populations involved in this type of event and analyzing the data
obtained.
Keywords: Nuclear Accidents. Defense Strategy. Accident Prevention. Central
Nuclear Almirante Álvaro Alberto.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 Reator PWR .....................................................................................21 FIGURA 2 Reator BWR .....................................................................................22 FIGURA 3 Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES) .......................23 FIGURA 4 Three Mile Island ..............................................................................24 FIGURA 5 Chernobyl atualmente ......................................................................27 FIGURA 6 Imagem de Satélite de Chernobyl da área atingida pelo acidente ...27 FIGURA 7 Avanço da radiação após o acidente ...............................................33 FIGURA 8 Vila abandonada nos arredores do acidente ....................................33 FIGURA 9 Sarcófago de Chernobyl ..................................................................34 FIGURA 10 Momento que o Tsunami atinge Fukushima .....................................37 FIGURA 11 A Usina totalmente alagada .............................................................38 FIGURA 12 Um mês após o acidente, estragos na Unidade 4 ............................39 FIGURA 13 Angra 1 ............................................................................................44 FIGURA 14 Angra 2 ............................................................................................45 FIGURA 15 Local de construção de Angra 3 .......................................................46
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Tipos de Usinas Nucleares ....................................................................... 17
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABIN Agência Brasileira de Inteligência
AFEN Associação dos Físicos de Radioproteção e Segurança Nuclear
AIEA Associação Internacional de Energia Atômica
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CMRI Centro Médico de Radiações Ionizantes
CNAAA Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto
CNEM Comissão Nacional de Energia Nuclear
ENV Evento Não Usual
FUSAR Fundação de Saúde de Angra
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
INB Indústrias Nucleares do Brasil
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica
MD Ministério da Defesa
NOS Operador Nacional do Sistema Elétrico
PEL Plano de Emergência Local
SAPÊ Sociedade Angrense de Proteção Ecológica
SBF Sociedade Brasileira de Física
SIPRON Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro
TCU Tribunal de Contas da União
TEPCO Tokio Eletric Power Company
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12 2 HISTÓRICO DA ATIVIDADE NUCLEAR ..................................................... 15 2.1 ENERGIA ATÔMICA ..................................................................................... 15 2.2 A GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR ........................................................ 16 2.3 DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DAS USINAS ..................................................... 17 2.4 APLICAÇÃO NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ............................... 18 2.5 TIPOS DE REATORES................................................................................. 19 2.6 REVISÃO DOS PRINCIPAIS ACIDENTES NUCLEARES ............................ 22 2.6.1 Three Miles Island ....................................................................................... 24 2.6.2 Chernobyl .................................................................................................... 25 2.6.3 Goiânia – Césio 137 .................................................................................... 35 2.6.4 Fukushima ................................................................................................... 36 3 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS E DE SAÚDE NOS ACIDENTES NUCLEARES ............................................................................................... 41 3.1 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS .................................................................. 41 3.2 REPERCUSSÕES DE SAÚDE..................................................................... 42 4 O COMPLEXO NUCLEAR BRASLEIRO ..................................................... 44 4.1 AS USINAS .................................................................................................. 44 4.2 PLANO DE DEFESA DE ACIDENTES ......................................................... 48 4.2.1 Exercício geral do plano de emergência .................................................. 52 5 CONCLUSÃO............................................................................................... 54 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 56 ANEXO A – MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR MUNDIAL ....................... 58 ANEXO B – EFEITOS DA RADIAÇÃO NO ORGANISMO HUMANO ........ 59 ANEXO C – SISTEMA DE PROTEÇÃO AO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO – SIPRON ......................................................... 64
12
1 INTRODUÇÃO
A descoberta da energia atômica em nosso século deveria ter sido uma
bênção para a humanidade. E teria sido realmente, se ela tivesse se desenvolvido
até aqui de maneira certa.
Como não foi esse o caso, é claro que a descoberta dessa energia foi
dirigida para caminhos errados. Daí nasceu a bomba atômica e os
"aperfeiçoamentos" que se seguiram, como a bomba de hidrogênio, as armas
nucleares táticas, os mísseis balísticos intercontinentais de ogivas múltiplas, a
bomba de nêutrons, os mísseis lançados de submarinos, o projeto guerra nas
estrelas, a bomba termonuclear de cobalto (aparentemente ainda não desenvolvida),
que alguns cientistas temem poder deslocar o eixo da Terra se detonada, entre
outros.
Voltada para "fins pacíficos", como fazem questão de alardear todos os
governos que detêm tecnologia nuclear, a energia atômica obtida das usinas
nucleares é muito importante no mundo moderno. Os problemas com os rejeitos
radioativos registrados até agora, demonstram que muitos cuidados devem ser
considerados para que se evitem incidentes ou acidentes de vulto.
Os tipos de acidentes que ocorrem nas instalações nucleares podem ser
radiológicos ou radioativos, e possuem como principais características:
Gerar campos com intensa radiação não direcional;
Liberação não controlada de material radioativo em grandes quantidades;
Contaminação do meio ambiente e/ou de seres humanos, causando
sérios danos à saúde, inclusive a morte.
CLASSIFICAÇÃO DE ACIDENTES ENVOLVENDO SERES HUMANOS
IRRADIAÇÃO EXTERNA (RADIOEXPOSIÇÃO)
corpo inteiro;
parcial do corpo; e
localizada.
13
CONTAMINAÇÃO (RADIOCONTAMINAÇÃO)
externa (superfície); e
interna (inalação/ingestão/injeção/absorção de pele ou ferimentos).
COMBINADOS (MISTOS)
Após um período de intenso desenvolvimento em escala internacional, a
geração de energia elétrica a partir de fonte nuclear atravessou uma fase de baixo
crescimento, em decorrência, principalmente, de (três) acidentes com usinas
nucleares: Three Mile Island (EUA, 1979), Chernobyl (Ucrânia, 1986) e mais
recentremente o de Fukushima Daí-ichi (Japão, 2011).
Entretanto, as alterações climáticas do planeta, devido à emissão de gases
causadores do efeito estufa produzidos, entre outros, pela operação de usinas
termelétricas; a previsão de escassez de petróleo e a contínua elevação do seus
preços; a necessidade de garantia de abastecimento de combustíveis; as instabilidades
geopolíticas internacionais, e a necessidade de diversificação da matriz energética e de
redução de fontes externas de abastecimento vêm motivando a reconsideração, em
vários países, da viabilidade de incremento da utilização da energia nuclear.
No caso das usinas nucleares, seus defensores argumentam que a usina
nuclear produz energia elétrica “limpa”. Ou seja, não lança na atmosfera substâncias
como o gás carbônico, que produzem o efeito estufa e provoca o aquecimento
global, além de não ocupar grandes áreas para gerar energia com as hidrelétricas.
Os críticos às usinas nucleares dizem que este processo de geração de
energia elétrica é caro, perigoso e ultrapassado.
Salientam que os rejeitos se constituem num problema caro, perigoso e sem
solução, pois o custo de segurança não justifica o seu investimento, e ainda será
deixado como herança para as gerações futuras.
Em comparação com as usinas hidrelétricas, as nucleares são mais onerosa
devido aos investimentos em segurança, sistemas de emergência, armazenamento
de resíduos radioativos, bem como o seu descomissionamento, isto é, a
desmontagem definitiva e descontaminação das instalações quando atingirem o
limite de suas vidas úteis. Mesmo considerando que as hidrelétricas demandam uma
série de impactos sociais e ambientais com a inundação de grandes áreas e o
deslocamento de populações.
14
Entretanto, o problema em questão é verificar se em caso de um acidente
nuclear na CNAAA, as medidas previstas nos Sistemas Redundantes de Segurança
serão eficientes para reduzir possíveis danos.
Portanto, o objetivo geral desta monografia é analisar a estratégia de defesa
e a eficiência dos Sistemas Redundantes de Segurança da CNAAA que impeçam a
liberação de radiação para o meio ambiente e protejam a saúde e integridade física
de seus funcionários ou residem no seu entorno.
Para o desenvolvimento do trabalho serão utilizadas duas questões
norteadoras, que são:
Será que no nosso país pode ocorrer um acidente nuclear nas proporções
do ocorrido em Fukushima Daí-ichi, no Japão?
No caso de um acidente nuclear na CNAAA, os Sistemas Redundantes de
Segurança serão suficientes para evitar grandes danos como em Fukushima Daí-
ichi, no Japão?
Inicialmente, será feito um histórico da atividade nuclear, como funcionam e
qual a distribuição mundial das Usinas Nucleares, descrevendo os tipos de reatores
mais utilizados. Na seqüência, abordaremos também os principais acidentes
nucleares acontecidos ao longo da História.
Posteriormente, trataremos das repercussões para a Saúde e para o Meio
Ambiente, nos casos de exposição nuclear.
A seguir, será tratada a estratégia de defesa de uma forma geral, com
destaque para o acidente em Fukushima Daí-ichi e como está a ação da Secretaria
Nacional de Defesa Civil em articulação com as defesas civis estadual e municipal
em relação à CNAAA.
Falaremos também sobre o SIPRON e finalmente serão analisadas as
questões norteadoras bem como as conclusões fruto do trabalho de pesquisa.
A análise do plano de emergência permite avaliar a sua eficácia e identificar
os pontos onde podemos contribuir para sua melhora. Predominou a pesquisa
qualitativa quanto à natureza e exploratória quanto ao objetivo geral.
Face ao tempo limitado foram utilizados dados estatísticos, de literatura
sobre o tema e dados da internet.
A identificação de um plano efetivo de segurança para a CNAAA e a procura
de aspectos relevantes que possam melhorar o que já está implantado, foi
perseguido todo o tempo na execução deste TCC.
15
2 HISTÓRICO DA ATIVIDADE NUCLEAR
2.1 ENERGIA ATÔMICA
A história do uso da energia do átomo tem início em 1895 quando o alemão
Wilheim Konrad Roentgen (1845-1923) revela a existência dos raios X. O “x” no
caso foi a expressão adotada por ele para expressar sua ignorância (uma incógnita,
portanto) quanto ao que era essa energia invisível capaz de atravessar o corpo
humano e revelar os ossos.
Três anos depois o inglês Joseph-John Thomson (1856-1940) percebeu que
a energia elétrica se propaga graças a transmissão de partículas que ele batizou de
elétrons.
Em 1907 a teoria da relatividade, esboçada por Albert Einstein dois anos
antes, ganha uma formulação matemática mais eficiente, feita pelo alemão Hermann
Minkowski. Desta forma fica mais fácil analisar teoricamente o que acontece nas
dimensões atômicas e cósmicas.
Ernest Rutherford, neozeolandes nascido em 1871, e o dinamarquês Niels
Bohr (1885-1962), estabelecem um modelo para o átomo: com um núcleo e elétrons
girando à sua volta. Este modelo sofreria alterações, com a descoberta, no futuro, de
novas partículas.
Em 1927 as convicções sobre o átomo são abaladas e geram uma
suspeição sobre todas as experiências feitas com ele. O alemão Werner Carl
Heinsenberg (1901-1976) define o Princípio da incerteza. Ele diz que não é possível
medir com exatidão, ao mesmo tempo, a velocidade e a posição dos átomos – os
valores se alteram quando submetidos à medição.
Somente em 1934 o italiano Enrico Fermi (1901-1954) descobre a existência
de uma força nuclear. O japonês Hideki Yukawa (1907-1981) descobre que existe
uma força nuclear que gruda as partículas subatômicas.
Quatro anos depois os físico-químicos alemães Otto Hahn (1879-1968) e
Lise Meitner (1876-1968) realizam a fissão do núcleo do urânio, abrindo a
possibilidade de geração de energia atômica.
O mundo conheceu o poder destruidor da energia atômica em 1945, quando
os Estados Unidos lançaram duas bombas sobre as cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasaki. A segunda guerra já estava ganha pelos aliados, mas era
16
preciso testar o novo artefato. E isso foi feito pelos norte-americanos, matando mais
de 150 mil civis. O grupo que levou os Estados Unidos à bomba e daí ao massacre
da população japonesa foi liderado pelo físico Robert Oppenheimer, e tinha Enrico
Fermi e outros cientistas, entre os seus colaboradores.
2.2 A GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR
A energia elétrica é obtida de fonte nuclear a partir do calor da reação do
combustível (urânio) utilizando o princípio básico de funcionamento de uma usina
térmica convencional: a queima do combustível produz calor, esse ferve a água de
uma caldeira transformando-a em vapor.
O vapor movimenta uma turbina que, por sua vez, dá partida a um gerador
que produz a eletricidade.
O combustível “queimado” no caso é a energia de coesão dos prótons no
núcleo. Para entender como isso ocorre, é preciso conhecer um pouco os átomos.
No urânio presente na natureza são encontrados átomos que têm em seu
núcleo 92 prótons e 143 nêutrons (cuja soma dá 235); átomos com 92 prótons e 142
nêutrons (234); e outros ainda, com 92 prótons e 146 nêutrons (238). Como os
prótons e elétrons são em número igual (92), podemos dizer que esses átomos são
quimicamente iguais e os chamaremos de isótopos (“iso”= iguais) do mesmo
elemento, isto é, do urânio.
Para diferenciá-los, usa-se o símbolo químico do elemento e um número, de
acordo com seu peso atômico: Isótopo U-234, Isótopo U-235 e Isótopo U-238.
O choque de um nêutron livre com o isótopo U-235 causa a divisão do
núcleo desse isótopo em duas partes - dois outros átomos - e ocasiona uma
liberação relativamente alta de energia. Dá-se a esse fenômeno o nome de fissão
nuclear.
A fissão nuclear ocasiona a transformação da matéria em energia, através
da divisão do isótopo U-235.
Por que o U-235 e não o U-234 ou o U-238?
Quando a fissão do isótopo U-235 ocorre o núcleo divide-se em duas partes
formando dois elementos novos, e dele se desprendem 2 ou 3 nêutrons que, por seu
turno, podem chocar-se com outro núcleo de U-235 acarretando nova fissão, novos
17
elementos são formados, provocando uma seqüência de fissões denominada reação
nuclear em cadeia.
Somente o U-235 na natureza tem a propriedade de se fissionar e portanto,
sustentar uma reação em cadeia.
O aproveitamento e o controle dessa energia liberada são feitos dentro de
reatores nucleares que, nas usinas nucleares, fazem o mesmo papel que a caldeira
desempenha nas usinas térmicas comuns.
A fim de otimizar as reações nucleares, costuma-se enriquecer o urânio
antes do seu uso nos reatores. Esta operação consiste simplesmente em aumentar
o teor do Isótopo U-235 (o único que se fissiona) na mistura de isótopos do urânio
natural (U-234, U-235 e U-238).
2.3 DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DAS USINAS
As usinas nucleares participam em torno de 16% do total da energia elétrica
produzida no mundo, embora correspondam apenas de 12% da capacidade elétrica
instalada. Isso indica que a maior parte das usinas nucleares opera com fatores de
utilização superiores aos das usinas elétricas convencionais. O quadro a seguir
mostra a matriz energética mundial.
Tabela 1: Participação mundial dos diversos tipos de Usinas (Nucleares)
TIPO DE USINA PARTICIPAÇÃO (%)
Carvão 40,1
Gás 19,4
Hidrelétricas 15,9
Nuclear 15,8
Óleo 6,9
Outros 1,9
TOTAL 100,0
Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA
Temos ainda no Anexo A o quadro contendo a participação da energia
nuclear na matriz energética dos países que a utilizam.
18
2.4 APLICAÇÃO NA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
A energia elétrica é essencial ao desenvolvimento sócio-econômico dos
países. É sinônimo de melhor qualidade de vida. A sua importância decorre
principalmente das seguintes razões:
É facilmente transportável. Pode ser produzida no local mais conveniente
e transmitida para consumidores distantes por uma simples rede de
condutores (fios);
É facilmente transformável em outras formas de energia. Exemplo: calor,
luz, movimento; e
É elemento fundamental para a ocorrência de muitos fenômenos físicos e
químicos que formam a base de operação de máquinas, equipamentos,
etc., dos tempos atuais. Exemplo: eletromagnetismo, efeito termiônico,
efeito semicondutor, fotovoltaico, oxidação e redução, etc.
Existem várias formas de se gerar energia elétrica. Mas, em se tratando de
geração comercial de energia elétrica, as opções ficam reduzidas à geração
termelétrica, hidroelétrica, solar e eólica.
A geração termelétrica é a mais largamente empregada no mundo.
Existem, basicamente, três formas de produção de energia elétrica por este
meio:
1ª) a queima de um combustível fóssil (carvão e derivados de petróleo)
diretamente em um motor produz movimento em uma turbina, daí
transmitido a um gerador que produz energia elétrica;
2ª) a queima do combustível (fóssil ou biomassa) aquece uma caldeira, o
vapor da caldeira aciona turbinas (a vapor) que, por sua vez, movem o
gerador de energia elétrica; e
3ª) a geração termonuclear, que deve ser entendida como uma termelétrica
a vapor, que usa um reator nuclear como fonte de calor para aquecer as
caldeiras.
Como em qualquer usina termoelétrica a vapor, nas usinas termonucleares,
o calor é usado para vaporizar água. O vapor é forçado a passar pelas pás de uma
19
turbina e a girá-la. Assim, a energia térmica é transformada em energia mecânica de
rotação. O eixo da turbina aciona um gerador, que transforma a energia mecânica
em energia elétrica.
O processo de geração de energia elétrica a partir da energia nuclear, então,
pode ser esquematizado em três passos:
No reator: transformação da energia nuclear em energia térmica, através
da reação nuclear em cadeia;
Na turbina: transformação da energia térmica em energia mecânica,
através da ação do vapor d’água aquecido; e
No gerador: transformação da energia mecânica em energia elétrica.
Na geração hidrelétrica a energia potencial de uma queda d’água é usada
para acionar turbinas que, por sua vez, acionam os geradores elétricos.
Na geração solar, em geral, a energia da radiação solar é convertida
diretamente em eletricidade com o uso de células fotovoltaicas. A potência obtida –
conforme a tecnologia atual - é baixa, e há necessidade de acumuladores (baterias)
para suprir picos de demanda e fornecer energia durante a noite. É empregada
principalmente para suprir pequenas unidades residenciais em zonas rurais distantes
das redes elétricas.
No método eólico, a força dos ventos aciona pás que giram geradores.
A viabilidade de sua implantação depende das características de vento na
região. Em alguns países sua participação vem aumentando, devido à possibilidade
de se obter quantidades razoáveis de energia sem impactos ambientais
significativos.
2.5 TIPOS DE REATORES
Existem muitas combinações de materiais e disposições possíveis para se
construir um reator nuclear operacional. Devido a isso, temos várias classificações
para os tipos de reatores:
a) quanto à finalidade:
reatores de pesquisa e desenvolvimento, destinados a pesquisa e não
objetivam a produção de energia elétrica. São úteis na produção de
radio-isótopos, utilizados em aplicações medicas, por exemplo;
20
reatores de produção e reatores de potencia são usados para o
aproveitamento dos materiais férteis (U-238 e Th-232), a partir dos
quais são fabricados os elementos físseis. Existem poucos reatores
desse tipo. Podem ser facilmente adaptados para produção de
combustível nuclear para armas; e
reatores de potência são os utilizados para produção de energia
elétrica. Existem reatores fixos (os das centrais nucleares) e os móveis,
utilizados em navios e submarinos.
b) quanto à combinação moderador e refrigerante:
Existem diversas combinações possíveis de moderador e refrigerante,
destacando-se:
Moderador .................................................... Refrigerante
Água leve ...................................................... Água leve
Água pesada ................................................ Dióxido de carbono
Grafite ........................................................... Hélio
Berílio ........................................................... Sódio líquido
c) quanto ao combustível:
O urânio com teor de U-235 variando do urânio natural (0,7%) a levemente
enriquecido (3%) a altamente enriquecido (90%) é empregado em vários reatores,
com o enriquecimento dependendo do conjunto. Os nuclídeos físseis Pu-239 e U-
233 são produzidos e consumidos em reatores contendo quantidades significativas
de U-238 ou Th-232. O Pu-239 serve como combustível para reatores rápidos
regeneradores e podem ser reciclados como combustível para reatores térmicos. O
combustível pode ter várias apresentações físicas: metal ou liga, composto UO2.
d) quanto à disposição:
Pode-se isolar o combustível do refrigerante, formando a chamada
disposição heterogênea, que é a mais utilizada. Outras disposições são as
chamadas homogêneas, onde se tem a mistura de combustível e moderador ou
combustível e moderador-refrigerador.
21
e) quanto aos materiais estruturais:
As várias funções num reator são usadas para dar nome a certo tipo de
reator.
Alguns dos reatores de potencia mais utilizados são o PWR ou BWR.
O PWR – iniciais da expressão inglesa Pressurized Water Reactor (reator a
água pressurizada) foi desenvolvido inicialmente pela Westinghouse e utiliza água
leve pressurizada como moderador e arrefecedor, como pode ser visto na figura a
seguir. Os reatores instalados na CNAAA são desse modelo.
Figura 1: Reator PWR Fonte: GLASSTONE, Samuel (Bibliografia)
O BWR – iniciais da expressão inglesa Boiling Water Reactor (reator a água
fervente) desenvolvido pela General Eletric, utiliza água leve como moderador e
arrefecedor, e pode ser visto na figura a seguir.
22
Figura 2: Reator BWR Fonte: GLASSTONE, Samuel (Bibliografia)
2.6 REVISÃO DOS PRINCIPAIS ACIDENTES NUCLEARES
Em alguns casos uma contaminação radioativa acontece, mas em muitos
casos o acidente envolve uma fonte selada ou a libertação de radioatividade é
pequena, enquanto a radiação direta é grande. Devido à confidencialidade do
governo e da indústria, nem sempre é possível determinar com certeza a freqüência
ou a extensão de alguns eventos no início da história da indústria nuclear. Nos dias
atuais, acidentes e incidentes que resultem em ferimentos, mortes ou séria
contaminação ambiental tendem a ser melhores documentados pela Agência
Internacional de Energia Atómica.
Devido à diferente natureza dos eventos, é melhor dividi-los em acidentes
“nucleares” e "de radiação”. Um exemplo de acidente nuclear pode ser aquele no
qual o núcleo do reator é danificado, tal como em Three Mile Island, enquanto um
acidente de radiação pode ser um evento de acidente de Medicina Nuclear, onde um
trabalhador derruba a fonte de radiação (a substância radioativa: o radionucleotídeo)
num rio. Estes acidentes de radiação, tais como aqueles envolvendo fontes de
radiação, como os radionucleotídeos usados para a elaboração de radiofármacos,
frequentemente têm tanta ou mais probabilidade de causar sérios danos aos
23
trabalhadores e ao público quanto os bem conhecidos acidentes nucleares,
possivelmente porque dispositivos de Tomografia por emissão de positrões (PET), a
cintilografia e a radioterapia (braquiterapia), designadamente, estão presentes em
muitos dos hospitais e o público em geral desconhece seus riscos. Foi o caso, por
exemplo, do acidente radiológico em Goiânia, com o césio-137.
Acidentes de radiação são mais comuns que acidentes nucleares, e são
freqüentemente de escala limitada. Por exemplo, no Centro de Pesquisa Nuclear de
Soreq, um trabalhador sofreu uma dose que era similar à mais alta dose sofrida por
um trabalhador no local do acidente nuclear de Chernobil no primeiro dia. Porém,
devido ao fato de que a fonte gama não era capaz de passar o invólucro de concreto
de dois metros de espessura, ela não foi capaz de ferir muitos outros.
A Escala Internacional de Acidentes Nucleares (mais conhecida pelas suas
siglas, INES) foi introduzida pela OIEA para permitir a comunicação sem falta de
informação importante de segurança em caso de acidentes nucleares e facilitar o
conhecimento dos meios de comunicação e a população de sua importância em
matéria de segurança. Definiu-se um número de critérios e indicadores para
assegurar a informação coerente de acontecimentos nucleares por diferentes
autoridades oficiais. Há 7 níveis na escala, como mostra a figura 3:
7 Acidente grave
6 Acidente importante
5 Acidente com risco fora da localização
4 Acidente sem risco fora da localização
3 Incidente importante
2 Incidente
1 Anomalia
0 Desvio (Sem significação para a segurança)
Figura 3: Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES) Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA
24
Os acontecimentos de nível 1 - 3, sem consequência significativa sobre a
população e o meio ambiente, qualificam-se de incidentes, os níveis superiores (4 a
7), de acidentes. O último nível corresponde a um acidente cuja gravidade é
comparável ao ocorrido em 26 de abril de 1986 na central nuclear de Chernobil e ao
de 11 de Março de 2011 na central nuclear de Fukushima.
2.6.1 Three Mile Island
Three Mile Island é a localização de uma central nuclear que em 28 de Março
de 1979 sofreu uma fusão parcial, havendo vazamento de radioatividade para a
atmosfera. A central nuclear de Three Mile Island fica na ilha no Rio Susquehanna no
condado de Dauphin, próximo de Harrisburg, com uma área de 3,29 km², e pode ser
vista na figura 4.
Figura 4: Three Mile Island Fonte: http://www.threemileisland.org
O acidente ocorrido em 28 de março de 1979, na usina nuclear de Three
Mile Island, Pensilvânia nos Estados Unidos, foi causado devido a falhas no sistema
e erro operacional. Houve corte de custos que afetaram economicamente a
25
manutenção e uso de materiais inferiores. Mas, principalmente apontaram-se erros
humanos, com decisões e ações erradas tomadas por pessoas despreparadas.
O acidente desencadeou-se pelos problemas mecânico e elétrico que
ocasionaram a parada de uma bomba de água que alimentava o gerador de vapor,
que acionou certas bombas de emergência que tinham sido deixadas fechadas. O
núcleo do reator começou a se aquecer e parou e a pressão aumentou. Uma válvula
abriu-se para reduzir a pressão que voltou ao normal. Mas a válvula permaneceu
aberta, ao contrário do que o indicador do painel de controle assinalava. Então, a
pressão continuou a cair e seguiu-se uma perda de líquido refrigerante ou água
radioativa: 1,5 milhão de litros de água foram lançados no rio Susquehanna. Gases
radioativos escaparam e atingiram a atmosfera. Outros elementos radioativos
atravessaram as paredes.
Um dia depois foi medido a radioatividade em volta da usina que alcançava
até 16 quilômetros com intensidade de até 8 vezes maior que a letal. Apesar disso,o
governador do estado da Pensilvânia iniciou a retirada só dois dias depois do
acidente. O governador Dick Thornburgh aconselhou o chefe da NRC, Joseph
Hendrie, a iniciar a evacuação "pelas mulheres grávidas e crianças em idade pré-
escolar em um raio de 5 milhas ao redor das intalações". Em poucos dias, 140.000
pessoas haviam deixado a área voluntariamente.
2.6.2 Chernobyl
O acidente nuclear de Chernobil ocorreu dia 26 de abril de 1986, na Usina
Nuclear de Chernobil (originalmente chamada Vladimir Lenin) na Ucrânia (então
parte da União Soviética). É considerado o pior acidente nuclear da história da
energia nuclear, produzindo uma nuvem de radioatividade que atingiu a União
Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido, com a liberação de 400
vezes mais contaminação que a bomba que foi lançada sobre Hiroshima.[1] Grandes
áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas,[2] resultando na
evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil pessoas. Cerca de 60%
de radioatividade caiu em território bielorrusso.
O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear
soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético
a ser menos secreto. Nos dias atuais, a Rússia, a Ucrânia e a Bielorrússia têm
26
suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de
saúde devidos ao acidente de Chernobil. É difícil dizer com precisão o número de
mortos causados pelos eventos de Chernobil, devido às mortes esperadas por
câncer, que ainda não ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao
acidente. Um relatório da Organização das Nações Unidas de 2005 atribuiu 56
mortes até aquela data – 47 trabalhadores acidentados e nove crianças com câncer
da tireóide – e estimou que cerca de 4000 pessoas morrerão de doenças
relacionadas com o acidente.[2] O Greenpeace, entre outros, contesta as conclusões
do estudo.
O governo soviético procurou esconder o ocorrido da comunidade mundial,
até que a radiação em altos níveis foi detectada em outros países. Segue um trecho
do pronunciamento do líder da União Soviética, na época do acidente, Mikhail
Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência:
“Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na usina nuclear de Chernobyl. Ele afetou duramente o povo soviético, e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez, nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controle.”
A usina de Chernobil está situada no assentamento de Pripyat, Ucrânia, 18
quilômetros a noroeste da cidade de Chernobil, 16 quilômetros da fronteira com a
Bielorrússia, e cerca de 110 quilômetros ao norte de Kiev. A usina era composta por
quatro reatores, cada um capaz de produzir um gigawatt de energia elétrica (3,2
gigawatts de energia térmica). Em conjunto, os quatro reatores produziam cerca de
10% da energia elétrica utilizada pela Ucrânia na época do acidente. A construção
da instalação começou na década de 1970, com o reator nº 1 comissionado em
1977, seguido pelo nº 2 (1978), nº 3 (1981), e nº 4 (1983). Dois reatores adicionais
(nº 5 e nº 6, também capazes de produzir um gigawatt cada) estavam em construção
na época do acidente. As quatro unidades geradoras usavam um tipo de reator
chamado RBMK-1000.[3] As figuras 5 e 6 mostram o estado atual das estalações da
usina de Chernobil já desativada e a imagem de satélite da área atingida.
27
Figura 5: Chernobyl atualmente Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl. National Geographic
Figura 6: Imagem de Satélite de Chernobyl da área atingida pelo acidente Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl. National Geographic
Sábado, 26 de abril de 1986, à 1:23:58 a.m. hora local, o quarto reator da
usina de Chernobil - conhecido como Chernobil-4 - sofreu uma catastrófica explosão
de vapor que resultou em incêndio, uma série de explosões adicionais, e um
derretimento nuclear.
Há duas teorias oficiais, mas contraditórias, sobre a causa do acidente. A
primeira foi publicada em agosto de 1986, e atribuiu a culpa, exclusivamente, aos
28
operadores da usina. A segunda teoria foi publicada em 1991 e atribuiu o acidente a
defeitos no projeto do reator RBMK, especificamente nas hastes de controle. Ambas
teorias foram fortemente apoiadas por diferentes grupos, inclusive os projetistas dos
reatores, pessoal da usina de Chernobil, e o governo. Alguns especialistas
independentes agora acreditam que nenhuma teoria estava completamente certa.
Na realidade o que aconteceu foi uma conjunção das duas, sendo que a
possibilidade de defeito no reator foi exponencialmente agravado pelo erro humano.
Porém o fator mais importante foi que Anatoly Dyatlov, engenheiro chefe
responsável pela realização de testes nos reatores, mesmo sabendo que o reator
era perigoso em algumas condições e contra os parâmetros de segurança dispostos
no manual de operação, levou a efeito intencionalmente a realização de um teste de
redução de potência que resultou no desastre. A gerência da instalação era
composta em grande parte de pessoal não qualificado em RBMK: o diretor, V.P.
Bryukhanov, tinha experiência e treinamento em usina termo-elétrica a carvão. Seu
engenheiro chefe, Nikolai Fomin, também veio de uma usina convencional. O próprio
Anatoli Dyatlov, ex-engenheiro chefe dos Reatores 3 e 4, somente tinha "alguma
experiência com pequenos reatores nucleares".
Em particular:
O reator tinha um fração de vazio positivo perigosamente alto. Dito de
forma simples, isto significa que se bolhas de vapor se formam na água
de resfriamento, a reação nuclear se acelera, levando à sobrevelocidade
se não houver intervenção. Pior, com carga baixa, este coeficiente a vazio
não era compensado por outros fatores, os quais tornavam o reator
instável e perigoso. Os operadores não tinham conhecimento deste perigo
e isto não era intuitivo para um operador não treinado;
Um defeito mais significativo do reator era o projeto das hastes de
controle. Num reator nuclear, hastes de controle são inseridas no reator
para diminuir a reação. Entretanto, no projeto do reator RBMK, as pontas
das hastes de controle eram feitas de grafite e os extensores (as áreas
finais das hastes de controle acima das pontas, medindo um metro de
comprimento) eram ocas e cheias de água, enquanto o resto da haste - a
parte realmente funcional que absorve os nêutrons e portanto pára a
reação - era feita de carbono-boro. Com este projeto, quando as hastes
eram inseridas no reator, as pontas de grafite deslocavam uma
29
quantidade do resfriador (água). Isto aumenta a taxa de fissão nuclear,
uma vez que o grafite é um moderador de nêutrons mais potente. Então
nos primeiros segundos após a ativação das hastes de controle, a
potência do reator aumenta, em vez de diminuir, como desejado. Este
comportamento do equipamento não é intuitivo (ao contrário, o esperado
seria que a potência começasse a baixar imediatamente), e,
principalmente, não era de conhecimento dos operadores; e
Os operadores violaram procedimentos, possivelmente porque eles
ignoravam os defeitos de projeto do reator. Também muitos
procedimentos irregulares contribuíram para causar o acidente. Um deles
foi a comunicação ineficiente entre os escritórios de segurança (na capital,
Kiev) e os operadores encarregados do experimento conduzido naquela
noite.
É importante notar que os operadores desligaram muitos dos sistemas de
proteção do reator, o que era proibido pelos guias técnicos publicados, a menos que
houvesse mau funcionamento.
De acordo com o relatório da Comissão do Governo, publicado em agosto
de 1986, os operadores removeram pelo menos 204 hastes de controle do núcleo do
reator (de um total de 211 deste modelo de reator). O guia já mencionado proibia a
operação do RBMK-1000 com menos de 15 hastes dentro da zona do núcleo.
Dia 25 de abril de 1986, o reator da Unidade 4 estava programado para ser
desligado para manutenção de rotina. Foi decidido usar esta oportunidade para
testar a capacidade do gerador do reator para gerar suficiente energia para manter
seus sistemas de segurança (em particular, as bombas de água) no caso de perda
do suprimento externo de energia. Reatores como o de Chernobil têm um par de
geradores diesel disponível como reserva, mas eles não são ativados
instantaneamente – o reator é portanto usado para partir a turbina, a um certo ponto
a turbina seria desconectada do reator e deixada a rodar sob a força de sua inércia
rotacional, e o objetivo do teste era determinar se as turbinas, na sua fase de queda
de rotação, poderiam alimentar as bombas enquanto o gerador estivesse partindo. O
teste foi realizado com sucesso previamente em outra unidade (com as medidas de
proteção ativas) e o resultado foi negativo, isto é, as turbinas não geravam suficiente
energia, na fase de queda de rotação, para alimentar as bombas, mas melhorias
adicionais foram feitas nas turbinas, o que levou à necessidade de repetir os testes.
30
A potência de saída do reator 4 devia ser reduzida de sua capacidade
nominal de 3,2 GW para 700 MW a fim de realizar o teste com baixa potência, mais
segura. Porém, devido à demora em começar a experiência, os operadores do
reator reduziram a geração muito rapidamente, e a saída real foi de somente 30
MW. Como resultado, a concentração de nêutrons absorvendo o produto da fissão,
xenon-135, aumentou (este produto é tipicamente consumido num reator em baixa
carga). Embora a escala de queda de potência estivesse próxima ao máximo
permitido pelos regulamentos de segurança, a gerência dos operadores decidiu não
desligar o reator e continuar o teste. Ademais, foi decidido abreviar o experimento e
aumentar a potência para apenas 200 MW. A fim de superar a absorção de neutrons
do excesso de xenon-135, as hastes de controle foram puxadas para fora do reator
mais rapidamente que o permitido pelos regulamentos de segurança. Como parte do
experimento, à 1:05 de 26 de abril, as bombas que foram alimentadas pelo gerador
da turbina foram ligadas; o fluxo de água gerado por essa ação excedeu o
especificado pelos regulamentos de segurança. O fluxo de água aumentou à 1:19 –
uma vez que a água também absorve nêutrons. Este adicional incremento no fluxo
de água requeria a remoção manual das hastes de controle, produzindo uma
condição de operação altamente instável e perigosa.
À 1:23, o teste começou. A situação instável do reator não se refletia, de
nenhuma maneira, no painel de controle, e não parece que algum dos operadores
estivesse totalmente consciente do perigo. A energia para as bombas de água foi
cortada, e como elas foram conduzidas pela inércia do gerador da turbina, o fluxo de
água decresceu. A turbina foi desconectada do reator, aumentando o nível de vapor
no núcleo do reator. À medida que o líquido resfriador aquecia, bolsas de vapor se
formavam nas linhas de resfriamento. O projeto peculiar do reator moderado a
grafite RBMK em Chernobil tem um grande coeficiente de vazio positivo, o que
significa que a potência do reator aumenta rapidamente na ausência da absorção de
nêutrons da água, e nesse caso a operação do reator torna-se progressivamente
menos estável e mais perigosa.
À 1:23 os operadores pressionaram o botão AZ-5 (Defesa Rápida de
Emergência 5) que ordenou uma inserção total de todas as hastes de controle,
incluindo as hastes de controle manual que previamente haviam sido retiradas sem
cautela. Não está claro se isso foi feito como medida de emergência, ou como uma
simples método de rotina para desligar totalmente o reator após a conclusão do
31
experimento (o reator estava programado para ser desligado para manutenção de
rotina). É usualmente sugerido que a parada total foi ordenada como resposta à
inesperada subida rápida de potência. Por outro lado Anatoly Syatlov, engenheiro
chefe da usina Nuclear de Chernobil na época do acidente, escreveu em seu livro:
“Antes de 01:23, os sistemas do controle central... não registravam nenhuma mudança de parâmetros que pudessem justificar a parada total. A Comissão... juntou e analisou grande quantidade de material, e declarou em seu relatório que falhou em determinar a razão pela qual a parada total foi ordenada. Não havia necessidade de procurar pela razão. O reator simplesmente foi desligado após a conclusão do experimento.”
Devido à baixa velocidade do mecanismo de inserção das hastes de controle
(20 segundos para completar), as partes ocas das hastes e o deslocamento
temporário do resfriador, a parada total provocou o aumento da velocidade da
reação. O aumento da energia de saída causou a deformação dos canais das hastes
de controle. As hastes travaram após serem inseridas somente um terço do
caminho, e foram portanto incapazes de conter a reação. Por volta de 1:23:47, o a
potência do reator aumentou para cerca de 30GW, dez vezes a potência normal de
saída. As hastes de combustível começaram a derreter e a pressão de vapor
rapidamente aumentou causando uma grande explosão de vapor, deslocando e
destruindo a cobertura do reator, rompendo os tubos de resfriamento e então
abrindo um buraco no teto.
Para reduzir custos, e devido a seu grande tamanho, o reator foi construído
com somente contenção parcial. Isto permitiu que os contaminantes radioativos
escapassem para a atmosfera depois que a explosão de vapor queimou os vasos de
pressão primários. Depois que parte do teto explodiu, a entrada de oxigênio –
combinada com a temperatura extremamente alta do combustível do reator e do
grafite moderador – produziu um incêndio da grafite. Este incêndio contribuiu para
espalhar o material radioativo e contaminar as áreas vizinhas.
Há alguma controvérsia sobre a exata sequência de eventos após 1:22:30
(hora local) devido a inconsistências entre declaração das testemunhas e os
registros da central. A versão mais comumente aceita é descrita a seguir. De acordo
a esta teoria, a primeira explosão aconteceu aproximadamente à 1:23:47, sete
segundos após o operador ordenar a parada total. É algumas vezes afirmado que a
explosão aconteceu antes ou imediatamente em seguida à parada total (esta é a
32
versão do Comitê Soviético que estudou o acidente). Esta distinção é importante
porque, se o reator tornou-se crítico vários segundos após a ordem de parada total,
esta falha seria atribuída ao projeto das hastes de controle, enquanto a explosão
simultânea à ordem de parada total seria atribuída à ação dos operadores. De fato,
um fraco evento sísmico foi registrado na área de Chernobil à 1:23:39. Este evento
poderia ter sido causado pela explosão ou poderia ser coincidente. A situação é
complicada pelo fato de que o botão de parada total foi pressionado mais de uma
vez, e a pessoa que o pressionou morreu duas semanas após o acidente,
envenenada pela radiação.
26 de abril de 1986 - Acidente no reator 4, da Central Elétrica Nuclear de
Chernobil. Aconteceu à noite, entre 25 e 26 de abril de 1986, durante um
teste. A equipe operacional planejou testar se as turbinas poderiam
produzir energia suficiente para manter as bombas do líquido de
refrigeração funcionando, no caso de uma perda de potência, até que o
gerador de emergência, a óleo diesel, fosse ativado. Para prevenir o bom
andamento do teste do reator, foram desligados os sistemas de
segurança. Para o teste, o reator teve que ter sua capacidade operacional
reduzida para 25%. Este procedimento não saiu de acordo com
planejado. Por razões desconhecidas, o nível de potência de reator caiu
para menos de 1% e por isso a potência teve que ser aumentada. Mas 30
segundos depois do começo do teste, houve um aumento de potência
repentina e inesperada. O sistema de segurança do reator, que deveria
ter parado a reação de cadeia, falhou. Em frações de segundo, o nível de
potência e temperatura subiram em demasia. O reator ficou
descontrolado. Houve uma explosão violenta. A cobertura de proteção, de
1000 toneladas, não resistiu. A temperatura de mais de 2000°C, derreteu
as hastes de controle. A grafite que cobria o reator pegou fogo. Material
radiativo começou a ser lançado na atmosfera.
de 26 de abril até 4 de maio de 1986 - a maior parte da radiação foi
emitida nos primeiros dez dias. Inicialmente houve predominância de
ventos norte e noroeste. No final de abril o vento mudou para sul e
sudeste. As chuvas locais frequentes fizeram com que a radiação fosse
distribuída local e regionalmente. Na figura 6, pode-se verificar o avanço
da radiação após o acidente.
33
Figura 7: Avanço da radiação após o acidente Fonte: Revista Átomo, Número 86, Janeiro/2006
de 27 de abril a 5 de maio de 1986 - aproximadamente 1800 helicópteros
jogaram cerca de 5000 toneladas de material extintor, como areia e
chumbo, sobre o reator que ainda queimava.
27 de abril de 1986 - os habitantes da cidade de Pripyat foram evacuados.
A figura 7 mostra a situação de uma residência no entorno do local do
acidente.
Figura 8: Vila abandonada nos arredores do acidente Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl. National Geographic
34
28 de abril 1986, 23 horas - um laboratório de pesquisas nucleares da
Dinamarca anunciou a ocorrência do acidente nuclear em Chernobil.
29 de abril de 1986 - o acidente nuclear de Chernobil foi divulgado como
notícia pela primeira vez, na Alemanha;
até 5 de maio 1986 - durante os 10 dias após o acidente, 130 mil pessoas
foram evacuadas;
6 de maio de 1986 - cessou a emissão radioativa;
de 15 a 16 de maio de 1986 - novos focos de incêndio e emissão radioativa;
23 de maio de 1986 - o governo soviético ordenou a distribuição de
solução de iodo à população;
Novembro de 1986 - o "sarcófago" que abriga o reator foi concluído, como
mostra a figura 8. Ele destina-se a absorver a radiação e conter o
combustível remanescente.
Figura 9: “Sarcófago de Chernobyl” Fonte: Stone, Richard – Inside Chernobyl . National Geographic
Considerado uma medida provisória e construído para durar de 20 a 30
anos, seu maior problema é a falta de estabilidade, pois, como foi
construído às pressas, há risco de ferrugem nas vigas;
1989 - o governo russo embargou a construção dos reatores 5 e 6 da
usina; e
12 de dezembro de 2000 - depois de várias negociações internacionais, a
usina de Chernobil foi desativada.
35
2.6.3 Goiânia – Césio 137
O acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente
com o Césio-137, foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido
no Brasil. A contaminação teve início em 13 de setembro de 1987, quando um
aparelho utilizado em radioterapias das instalações de um hospital abandonado foi
encontrado, na zona central de Goiânia, no estado de Goiás. Foi classificado como
nível 5 na Escala Internacional de Acidentes Nucleares.
O instrumento, irresponsavelmente deixado no hospital, foi encontrado por
catadores de um ferro velho do local, que entenderam tratar-se de sucata. Foi
desmontado e repassado para terceiros, gerando um rastro de contaminação, o qual
afetou seriamente a saúde de centenas de pessoas. O acidente com Césio-137 foi o
maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas
nucleares.
A contaminação em Goiânia originou-se de uma cápsula que continha
cloreto de césio - um sal obtido do radioisótopo 137 do elemento químico césio. A
cápsula radioativa era parte de um equipamento radioterapêutico, e, dentro deste,
encontrava-se revestida por uma caixa protetora de aço e chumbo. Essa caixa de
proteção continha também uma janela feita de irídio, que permitia a passagem da
radiação para o exterior.
A caixa contendo a cápsula radioativa estava, por sua vez, contida num
contentor giratório que dispunha de um colimador. Este servia para direcionar o feixe
radioativo, bem como para controlar a sua intensidade.
Não se pôde conhecer ao certo o número de série da fonte radioativa, mas
pensa-se que a mesma tenha sido produzida por volta de 1970, pelo Laboratório
Nacional de Oak Ridge, nos Estados Unidos da América. O material radioativo
contido na cápsula totalizava 0,093 kg e a sua radioatividade era, à época do
acidente, de 50,9 Terabecquerels (TBq) ou 1375 Ci.
O equipamento radioterápico em questão era do modelo Cesapam F-3000.
Foi projetado, nos anos 1950, pela empresa italiana Barazetti e Cia., e
comercializado pela empresa italiana Generay SpA.
O objeto onde contia a capsula de césio foi recolhida pelos militares do
exército, e encontra-se exposto como um trófeu no interior da Escola de Instrução
36
Especializada, na cidade do Rio de Janeiro. É um modo de agradecimento aos que
participaram da limpeza da área contaminada.
O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) era um instituto privado, localizado
na Avenida Paranaíba, no Centro de Goiânia. O equipamento que gerou a
contaminação na cidade entrou em funcionamento em 1971, tendo sido desativado
em 1985, quando o IGR deixou de operar no endereço mencionado. Com a mudança
de localização, o equipamento de teleterapia foi abandonado no interior das antigas
instalações. A maior parte das edificações pertencentes à clínica foi demolida, mas
algumas salas - inclusive aquela em que se localizava o aparelho - foram mantidas em
ruínas. Houve onze mortes e 600 pessoas foram contaminadas, mas muitos alegam
ser impossível medir em números o tamanho de uma catástrofe nuclear.
Foi no ferro-velho de Devair que a cápsula de césio foi aberta para o
reaproveitamento do chumbo. O dono do ferro-velho expôs ao ambiente 19,26 g de
cloreto de césio-137 (CsCl), um sal muito parecido com o sal de cozinha (NaCl), mas
que emite um brilho azulado quando em local desprovido de luz. Devair ficou
encantado com o pó que emitia um brilho azul no escuro. Ele mostrou a descoberta
para a mulher Maria Gabriela, bem como o distribuiu para familiares e amigos. Pelo
fato de esse sal ser higroscópico, ou seja, absorver a umidade do ar, ele facilmente
adere à roupa, pele e utensílios, podendo contaminar os alimentos e o organismo
internamente. Devair passou pelo tratamento de descontaminação no Hospital
Marcílio Dias, no Rio de Janeiro, e morreu sete anos depois.
A Comissâo Nacional de Energia Nuclear (CNEN) mandou examinar toda a
população da região, No total 112.800 pessoas foram expostas aos efeitos do césio,
muitas com contaminação corporal externa revertida a tempo. Destas, 129 pessoas
apresentaram contaminação corporal interna e externa concreta, vindo a
desenvolver sintomas e foram apenas medicadas. Porém, 49 foram internadas,
sendo que 21 precisaram sofrer tratamento intensivo; destas, quatro não resistiram e
acabaram morrendo.
2.6.4 Fukushima
O acidente nuclear de Fukushima diz respeito a uma série de falhas em
andamento de equipamentos e lançamentos de materiais radioativos na Central
Nuclear de Fukushima I, no Japão, em consequência dos danos causados pelo
37
sismo e tsunami de Tōhoku que aconteceu às 14:46 JST em 11 de março de 2011.[1]
A central nuclear é composta por seis reatores de água fervente em separado
mantidos pela Tokyo Electric Power Company (TEPCO). Os reatores 4, 5 e 6 haviam
sido fechados para manutenção antes do terremoto. Os reatores restantes foram
fechados automaticamente após o terremoto e geradores de emergência foram
iniciados para manter as bombas de água necessárias para resfriá-los. A central foi
protegida por um dique projetado para resistir a um maremoto de 5,7 metros de
altura, mas cerca de 15 minutos após o terremoto foi atingido por uma onda de 14
metros, que chegou facilmente ao topo do paredão. A planta inteira, incluindo o
gerador de baixa altitude, foi inundada, como mostram as figura 9 e 10. Como
consequência, os geradores de emergência foram desativados e os reatores
começaram a superaquecer devido à deterioração natural do combustível nuclear
contido neles. Os danos causados pela inundação e pelo terremoto impediram a
chegada da assistência que deveria ser trazida de outros lugares.
Figura 10: Momento que o Tsunami atinge Fukushima Fonte: Tepco – Tokio Eletric Power
Evidências apontaram uma fusão parcial do núcleo nos reatores 1, 2 e 3;
explosões destruíram o revestimento superior de hidrogênio dos edifícios de
alojamento dos reatores 1, 3 e 4; uma explosão danificou o confinamento dentro do
reator 2; e múltiplos incêndios eclodiram no reator 4. Além disso, as barras de
combustível armazenado em piscinas de combustível irradiado das unidades 1-4
38
começaram a superaquecer os níveis de água nas piscinas abandonadas. Receios
de vazamentos de radiação levaram a uma evacuação de 20 km de raio ao redor da
planta. Os trabalhadores da fábrica sofreram exposição à radiação e foram
temporariamente evacuados em vários momentos. Em 11 de abril, as autoridades
japonesas designadas a magnitude do perigo em reatores 1, 2 e 3 no nível 7 no
ponto 7 da Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES). A energia foi
restaurada para partes da central nuclear em 20 de março, mas máquinas
danificadas por inundações, incêndios e explosões permaneceram inoperantes.
Figura 11: A usina totalmente alagada Fonte: Tepco – Tokio Eletric Power
Medições realizadas pelo Ministério da Ciência e Educação do Japão nas
áreas do norte do país entre 30 e 50 km da planta apresentaram níveis altos de
césio radioativo, suficientes para causar preocupação. Alimentos produzidos na área
foram proibidos de serem vendidos. Foi sugerido que as medições mundiais de iodo-
131 e de césio-137 indicaram que os lançamentos radioativos de Fukushima são da
mesma ordem de grandeza que os lançamentos de isótopos do desastre de
Chernobil em 1986; O governo de Tóquio recomendou que a água da torneira não
deve ser usada temporariamente para preparar alimentos para crianças.
Contaminação por plutônio foi detectada no solo em dois locais da central nuclear.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciou em 27 de
março que os trabalhadores da central foram internados por precaução, em 25 de
março, por terem sido expostos a níveis de radiação entre 2 e 6 Sv em seus
tornozelos quando em pé na água na unidade 3. A reação internacional ao acidente
também estava preocupada. O governo japonês e a TEPCO têm sido criticados por
39
má comunicação com o público e esforços de limpeza improvisados. Especialistas
dizem que uma força de trabalho de centenas ou mesmo milhares levariam anos ou
décadas para limpar a área. Em 20 de março, o chefe de gabinete do secretário
Yukio Edano anunciou que a estação seria desativada logo que a crise acabar. A
figura 11 mostra os danos causados na Unidade 4.
Figura 12: Um mês após o acidente, estragos na Unidade 4 Fonte: Tepco – Tokio Eletric Power
Que lições podem ser aprendidas pela indústria nuclear até o momento? A
primeira delas é que as usinas nucleares são as construções humanas melhor
adaptadas a resistir a eventos naturais de severidade milenar, como mostram as
centrais de Onagawa, Fukushima Daini e Tokai. Outra é que a resistência das
usinas nucleares localizadas em áreas de alto risco sísmico, especialmente aquelas
em zonas costeiras sujeitas a tsunamis, que são muito poucas dentre as 440 em
operação no mundo, deve ser reavaliada e, eventualmente, reforçada.
Certamente, passada a fase acidental que ainda vivemos, a análise técnica
profunda do evento levará a muitas outras lições aplicáveis não só as usinas do tipo
BWR, mas também às demais em operação, bem com àquelas que estão em projeto
e construção, aperfeiçoando a segurança num processo de melhoria contínua. Isso
ocorre sistematicamente na indústria nuclear mesmo para eventos pouco
significativos, quanto em mais em eventos severos como o que se vivencia hoje. Foi
assim para os acidentes de Three Miles Island em 1979 nos EUA e de Chernobyl, na
ex-URSS.
40
Note-se que quaisquer comparações do que pode ainda vir a ocorrer em
Fukushima Dai-ichi com o que ocorreu em Tchernobyl não são tecnicamente
corretas, na medida em que, naquele trágico acidente, os materiais radioativos
foram dispersos em grande quantidade e a grandes distâncias devido à energia
liberada pelo incêndio de centenas de toneladas de grafite que havia no interior do
reator, que levou vários dias para ser apagado, ao custo da vida de dezenas de
heróicos “terminators”. Num reator a água, que não usa grafite nem outra forma de
acumulação de grande quantidade de energia liberável em curto período, como são
os BWR afetados e os PWR que juntos compõe cerca de 90% da frota mundial, não
existe energia disponível para tal dispersão. No pior caso, essa dispersão se limitaria
ao raio de evacuação e, em menor quantidade, ao raio de abrigagem já
estabelecidos na região.
Demandas por ações imediatas no sentido de desligar usinas em operação
ou interromper obras de usinas em construção são precipitadas pelo clima
catastrofista que tem sido predominante na divulgação do evento pela mídia, que
influencia fortemente a opinião pública, ou deflagradas por razões de natureza
política e ideológica, as quais, ainda que legítimas nas sociedades democráticas,
não encontram fundamento técnico que as suportem.
Isto porque, mesmo no contexto da tragédia que se abateu sob o Japão, a
maioria das usinas nucleares afetadas permanecem em condição segura, não
implicando em nenhuma conseqüência adicional às populações já atingidas e
aquelas, em minoria, que não resistiram plenamente, tiveram suas conseqüências
mitigadas pelo acionamento de um Plano de Emergência Externo ampliado, que
está protegendo as populações evacuadas mesmo para as condições em que venha
a ocorrer o pior caso de liberação de material radioativo, o que até o presente não
ocorreu e as informações atuais indicam que não ocorrerá.
Obviamente, esses poucos argumentos técnicos não encerram o debate.
Nas sociedades democráticas, como a brasileira, ele está apenas se iniciando e
deverá resultar numa indústria nuclear ainda mais segura. Devemos, entretanto, nos
precaver de decisões precipitadas, tomadas pelo calor da emoção ou por
oportunismo, que venham a prejudicar as próprias sociedades às quais se pretende
defender, como seria o caso de uma “proscrição” da geração elétrica nuclear, com
paralisação de usinas em operação e de projetos em construção em planejamento.
41
3 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS E DE SAÚDE NOS ACIDENTES NUCLEARES
Os danos causados por um acidente nuclear podem afetar tanto o meio
ambiente quanto à saúde da população residente no seu entorno, como podemos
verificar.
3.1 REPERCUSSÕES AMBIENTAIS
A poluição nuclear é causada pela destinação incorreta ou vazamento de
resíduos radioativos proveniente de diversas fontes que utilizam a energia nuclear,
como, por exemplo, as usinas nucleares ou aparelhos de raios-x, e se caracteriza
pelo alto grau de periculosidade devido a capacidade de causar alterações nas
estruturas das células provocando, assim, alterações no organismo como um todo.
Na prática, o lixo nuclear tem grande poder de poluição, que não costuma
ocorrer, devido aos cuidados de segurança que impedem sua liberação para o meio
ambiente. A grande e importante diferença é que o lixo nuclear possui a capacidade
de permanecer ativo por milhares de anos exigindo o monitoramento constante e, no
caso de acidentes as conseqüências são muito piores podendo, inclusive, causar
danos por várias gerações, como no caso do acidente com o Césio-137 em Goiânia
para o qual foi criada uma Superintendência permanente para tratar das vítimas do
acidente (Superintendência Leide das Neves).
O principal argumento da corrente contra a energia nuclear é justamente o
perigo de que acidentes como esse, voltem a acontecer.
Com a criação de novas usinas termonucleares para geração de energia a
quantidade de resíduos que deverá ser estocada, também aumentará. Esses
resíduos são provenientes não apenas das usinas termonucleares, mas durante
todo o processo, desde a fase de mineração até a fase final de reprocessamento do
combustível nuclear, quando o urânio não queimado do reator e o plutônio gerado
são separados dos produtos formados na fissão. Esses resíduos serão classificados
de acordo com o nível de radioatividade sendo classificados como baixa, média ou
alta atividade e armazenados segundo normas da CNEN (Comissão Nacional de
Energia Nuclear). Mas, mesmo assim permanecerão por um bom tempo como uma
potencial fonte de poluição e perigo.
42
De fato, a grande resistência atual quanto à utilização da energia nuclear
concentra-se na produção e gerenciamento dos resíduos radioativos gerados pelas
usinas. A França, que atualmente tem cerca de 80% de suas necessidades elétricas
supridas por usinas nucleares, conta com a desaprovação de 55% da população
quanto à forma como os resíduos são gerenciados. E quase 80% da população
européia concordam que não há uma forma segura de descartar os resíduos
nucleares.
Entretanto, antecipando-se às iniciativas da Comunidade Européia de tentar
acelerar as discussões a respeito, a França lança mão de incentivos fiscais para as
cidades que se dispuserem a receber os resíduos gerados por suas usinas
nucleares e aprova uma lei onde estipula que os resíduos serão armazenados em
abrigos subterrâneos, traçando um cronograma para cumprir seu objetivo até 2015.
Inclusive, um dos argumentos daqueles que são a favor da implementação
de um programa energético baseado na energia nuclear argumentam que a
tecnologia evoluiu muito nos últimos anos tornando as usinas termonucleares muito
mais seguras.
Com certeza, se compararmos as termoelétricas movidas à energia nuclear
com aquelas movidas a carvão, que respondem por 53% da energia gerada nos
EUA, por exemplo, chegaremos à conclusão óbvia de que a primeira polui muito
menos, visto que a segunda emite níveis de CO2 (dióxido de carbono) altíssimos,
sendo um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.
Ou seja, a energia nuclear polui sim, ou é possível poluir se não houver os
devidos cuidados. O que acontece é que isso pode ser evitado armazenando-se e
monitorando os resíduos. Situação que, porém, eleva e muito, os custos da energia
nuclear.
3.2 REPERCUSSÕES DE SAÚDE
A radiação pode ser benéfica quando bem empregada como vemos na
medicina para o tratamento de alguns cânceres, mas este não é o foco de nosso
texto. Falaremos aqui dos efeitos adversos da radiação, principalmente com aqueles
que acontecem com acidentes nucleares.
43
A radiação mede-se em unidades diferentes. O roentgen (R) mede a
quantidade desta no ar. O gray (Gy) é a quantidade de energia realmente absorvida
por qualquer tecido ou substância após uma exposição à radiação.
Os efeitos prejudiciais da radiação dependem da quantidade (dose), da
duração e do grau de exposição. Uma única dose rápida de radiação pode ser
mortal, mas a mesma dose total aplicada num lapso de semanas ou meses pode
provocar efeitos mínimos. A dose total e o grau de exposição determinam os efeitos
imediatos sobre o material genético das células.
Os efeitos da radiação são cumulativos, ou seja, cada exposição é somada
às anteriores até determinar a dose total e o seu provável efeito sobre o organismo.
Da mesma forma, à medida que aumenta a proporção da dose ou a dose total,
aumenta também a probabilidade de se produzirem efeitos detectáveis.
Os efeitos da radiação também dependem da percentagem do organismo
que é exposto. Por exemplo, se uma área grande do corpo for exposta pode
provocar a morte quando a radiação se distribui sobre toda a superfície corporal. No
entanto, quando se limita a uma área pequena, como acontece na terapia contra o
cancro, é possível aplicar 3 ou 4 vezes esta quantidade sem que se produzam danos
graves no organismo.
As células do nosso organismo que se multiplicam rapidamente, como o
intestino e a medula óssea, são mais acometidas pela radiação do que os tecidos
cujas células se multiplicam mais lentamente, como os músculos e os tendões.
O Anexo B mostra os malefícios causados nos seres humanos expostos
além dos níveis permitidos à radiação nuclear.
44
4 O COMPLEXO NUCLEAR BRASILEIRO
4.1 AS USINAS
A Central, situada no município de Angra dos Reis, foi assim denominada em
justa homenagem ao pesquisador pioneiro da tecnologia nuclear no Brasil e principal
articulador de uma política nacional para o setor. Embora a construção da primeira
usina tenha sido sua inspiração, o Almirante, nascido em 1889, não chegou a ver
Angra 1 gerando energia, pois faleceu em 1976. Mas sua obra persiste na
competência e capacitação dos técnicos que fazem o Brasil ter hoje usinas
nucleares classificadas entre as mais eficientes do planeta.
Atualmente estão em operação as usinas Angra 1- com capacidade para
geração de 657 megawatts elétricos, e Angra 2 - de 1350 megawatts elétricos. Angra
3, que será praticamente uma réplica de Angra 2 (incorporando os avanços
tecnológicos ocorridos desde a construção desta usina), está prevista para gerar
1405 megawatts.
ANGRA 1
A primeira usina nuclear brasileira opera com um reator do tipo PWR (água
pressurizada), que é o mais utilizado no mundo. Desde 1985, quando entrou em
operação comercial, Angra 1 (figura 12) gera energia suficiente para suprir uma
capital como Vitória ou Florianópolis, com 1 milhão de habitantes.
Figura 13: Angra 1 Fonte: Eletronuclear / Eletrobrás
45
Esta primeira usina nuclear foi adquirida sob a forma de “turn key”, como um
pacote fechado, que não previa transferência de tecnologia por parte dos
fornecedores.
No entanto, a experiência acumulada pela Eletrobras Eletronuclear em todos
esses anos de operação comercial, com indicadores de eficiência que superam o de
muitas usinas similares, permite que a empresa tenha, hoje, a capacidade de
realizar um programa contínuo de melhoria tecnológica e incorporar os mais
recentes avanços da indústria nuclear. Como, por exemplo, realizar a troca de dois
dos principais equipamentos de Angra 1, os geradores de vapor. Com esses novos
equipamentos, a vida útil de Angra 1 se prolongará e a usina estará apta a gerar
mais energia para o Brasil.
ANGRA 2
Fruto de um acordo nuclear Brasil-Alemanha, a construção e a operação de
Angra 2 (figura 13) ocorreram conjuntamente à transferência de tecnologia para o
país, o que levou também o Brasil a um desenvolvimento tecnológico próprio, do
qual resultou o domínio sobre praticamente todas as etapas de fabricação do
combustível nuclear. Desse modo, a Eletrobras Eletronuclear (Indústrias Nucleares
do Brasil) reúnem, hoje, profissionais qualificados e sintonizados com o estado da
arte do setor.
Figura 14: Angra 2 Fonte: Eletronuclear / Eletrobrás
46
Angra 2 também opera com um reator tipo PWR, isto é, água pressurizada,
e sua potência nominal é de 1350 MW.
Angra 2, sozinha, poderia atender ao consumo de uma região metropolitana
do tamanho de Curitiba, com dois milhões de habitantes. Como tem o maior gerador
elétrico do hemisfério Sul, Angra 2 contribui decisivamente com sua energia para
que os reservatórios de água que abastecem as hidrelétricas sejam mantidos em
níveis que não comprometam o fornecimento de eletricidade da região
economicamente mais importante do país, o Sudeste.
ANGRA 3
Angra 3 (figura 14) será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro
Alberto, localizado na praia de Itaorna, município de Angra dos Reis (RJ).
Figura 15: Local de construção de Angra 3 Fonte: Eletronuclear / Eletrobras
A nova usina terá uma potência bruta elétrica de 1.405 MWe, podendo gerar
cerca de 10,9 milhões de MWh por ano - energia equivalente a um terço do
consumo do Estado do Rio de Janeiro – e será similar a Angra 2, em operação há
cerca de 8 anos.
Por conta dessa semelhança, grande parte do projeto de engenharia a ser
utilizado na nova usina está pronta. Além disso, a experiência com a construção e
montagem de Angra 2 demonstrou a significativa capacidade técnica das empresas
nacionais em atuar nesse segmento. Uma parcela considerável dos equipamentos
importados já foi adquirida, notadamente os componentes mecânicos de grande porte.
47
Uma vez retomada a obra, o prazo estimado para a conclusão de Angra 3 é
de 5,5 anos, com início na concretagem das fundações do edifício do reator, além
das obras civis. Sua implantação inclui a montagem eletromecânica, o
comissionamento de equipamentos e sistemas e os testes operacionais.
Hoje, o empreendimento Angra 3 apresenta um progresso físico de cerca de
30%. Serão necessários investimentos adicionais de R$ 8,56 bilhões (base
dezembro de 2008), sendo que 70% dos gastos serão realizados no mercado
nacional e apenas 30% no exterior.
O local definido para a implantação de Angra tem sido monitorado desde a
década de 70 por meio de diversos estudos e programas ambientais, seguindo as
principais normas e diretrizes estabelecidas pelos órgãos reguladores e
fiscalizadores competentes.
NOVAS CENTRAIS
Em julho de 2008, o Governo Federal criou o Comitê de Desenvolvimento do
Programa Nuclear Brasileiro. A função do Comitê é fixar diretrizes e metas para o
desenvolvimento do Programa e supervisionar sua execução.
Em agosto do mesmo ano, Othon Luiz Pinheiro da Silva, secretário-
executivo do Comitê e presidente da Eletrobras Eletronuclear, apresentou ao
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, os objetivos e metas definidos
pelo grupo.
Na área de geração elétrica, para atender ao Plano Decenal de Energia
(PDE 2007/2016), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) vinculada
ao Ministério de Minas e Energia, a Usina Angra 3, com capacidade de produzir
1.405 MWe, deverá entrar em operação em maio de 2015, concluindo assim a
implantação da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, no Rio
de Janeiro.
Já o Plano Nacional de Energia (PNE 2030) que subsidia o Governo na
formulação de sua estratégia para a expansão da oferta de energia até 2030 aponta
a necessidade de o sistema elétrico brasileiro ter mais 4.000 MWe de origem nuclear
até 2025.
O Comitê, então, apresentou ao Presidente Lula a proposta de construção
de mais quatro usinas nucleares com capacidade de 1.000 MW cada, sendo duas no
Nordeste e outras duas no Sudeste. Conforme a evolução futura da necessidade de
48
expansão da oferta de eletricidade existe a possibilidade do acréscimo de mais duas
usinas (2.000 MW) adicionais.
4.2 PLANO DE DEFESA DE ACIDENTES
Os eventos acontecidos nas usinas nucleares do Japão após a ocorrência
de um terremoto seguido de tsunami tornaram necessária a execução do plano de
emergência das centrais atingidas, incluindo medidas como a evacuação dos
habitantes vizinhos a estas unidades, de forma preventiva. Este fato pode causar
dúvidas ou questionamentos em relação ao plano de emergência da central nuclear
de Angra. Para sanar as dúvidas, realizamos uma série de questionamentos ao
Engenheiro Mário Almeida Filho da Assessoria de Responsabilidade Socioambiental
da Eletrobrás, como veremos a seguir.
Existe um plano de emergência? É feito algum tipo de treinamento com
a população local?
Usinas como Angra 1 e Angra 2 foram projetadas e construídas com barreiras
de proteção sucessivas e preparadas para resistir a um acidente mais sério. No
entanto, como é comum e recomendável nos locais onde existem instalações
industriais, um plano de emergência foi elaborado para orientar a população que mora
nas proximidades da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA).
No PEE/RJ constam ações específicas a serem implementadas nas Zonas
de Planejamento de Emergência, que são áreas vizinhas à CNAAA, delimitadas por
círculos, com raios, respectivamente, de 3 km, 5 km, 10 km e 15 km, centrados no
edifício do reator de Angra 1.
No âmbito do Plano de Emergência, como são classificados os eventos
e a partir de que nível devem preocupar a população?
Existe um modelo internacional de classificação e comunicação de
emergências ao órgão regulador e às demais autoridades, que prevê ações sempre
preventivas e antecipatórias. O modelo pressupõe quatro etapas possíveis de
evolução dos eventos em função do possível grau de impacto. Vão desde as mais
simples, sem nenhum reflexo sobre a saúde e a segurança da população, até as
49
mais sérias, que podem ter como consequência a liberação de material radioativo
para o meio ambiente.
O PEE/RJ da CNAAA é acionado gradativamente, conforme as etapas
descritas a seguir:
1) Evento Não Usual (ENU) – é uma condição anormal na usina sem nenhuma
possibilidade de liberação de material radioativo para o meio ambiente;
2) Alerta – indicação de real ou provável degradação nos níveis de
segurança. São ativados os centros de emergência internos das usinas e
os externos em Angra dos Reis, Rio de Janeiro e Brasília, sem a
necessidade de ações de evacuação dos trabalhadores nem da
população. Em casos de Alerta e ENU não está prevista qualquer ação
junto à população;
3) Emergência de Área – indicação de real ou possível falha nas funções de
segurança; não há indicação de falha iminente do núcleo do reator. Os
trabalhadores não envolvidos com a emergência são retirados das usinas,
conforme estabelece o Plano de Emergência Local (PEL); e
4) Emergência Geral – indicação de real ou possível liberação de material
radioativo; indicação de degradação iminente ou real do núcleo do reator.
A população da ZPE-3 será evacuada para a ZPE-5 e, no caso de um
agravamento, a população da ZPE-5 será removida para a ZPE-10. A
população será orientada pela Defesa Civil, que tem destacamentos a
leste e oeste da CNAAA, através das 8 sirenes instaladas nas ZPEs 3 e 5.
O Plano de Emergência Externo do Estado do Rio de Janeiro (PEE/RJ)
estabelece a remoção da população terrestre que não possui meios próprios, por
meio de ônibus da Eletronuclear e das empresas concessionárias de transporte da
região. Os abrigos serão escolas municipais e estaduais predefinidas no plano. Os
ilhéus serão removidos pelo 1o Distrito Naval e serão abrigados no Colégio Naval de
Angra dos Reis.
A cada dois anos são realizados exercícios simulados com a participação
voluntária de parte da população e de todos os órgãos envolvidos na resposta a uma
situação de emergência na CNAAA.
50
Como funciona o Plano de Emergência Externo?
O planejamento prevê ações em uma área de até 5 km em torno da central
nuclear de Angra, que conta com um sistema de som capaz de transmitir alertas e
informações. As estações locais de rádio e TV também fazem parte do plano e estão
preparadas para divulgar instruções em caso de necessidade.
Campanhas de esclarecimento também são realizadas, incluindo a
distribuição anual de 40 mil calendários, de casa em casa, com instruções sobre
como os moradores devem agir em situações de emergência. O calendário chama a
atenção, também, para o teste mensal do sistema de som nas localidades próximas
às usinas. O teste acontece todo dia 10, às 10 horas da manhã, para não confundir
os moradores.
As ações especificadas nesse plano, coordenadas pela Defesa Civil do
Estado do Rio de Janeiro, sob a supervisão geral do Gabinete de Segurança
Institucional da Presidência da República (GSI/PR), que é o órgão central do
Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (Sipron), e a supervisão
técnica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), envolvem, também, a
participação das seguintes organizações: Exército, Marinha, Aeronáutica, Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit),
Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Defesa
Civil de Angra dos Reis, Defesa Civil de Paraty, empresas de eletricidade, de
telefonia, de abastecimento de água e empresas de transporte urbano da região,
além de outras secretarias estaduais e municipais.
Visando a manter esse plano sempre em condições de acionamento, são
realizados, anualmente, nos anos pares, os Exercícios de Emergência – Parcial,
quando são testadas, entre outras ações previstas no PEE/RJ, a eficácia da cadeia
de comunicações e a eficiência da ativação dos centros de emergência, e, nos
anos ímpares, os Exercícios de Emergência – Geral, quando são postas em prática
e testadas todas as ações revistas no plano, inclusive a capacidade de mobilização
de meios em pessoal e material; a disseminação de informações ao público e à
imprensa; a ativação de alguns abrigos e até mesmo a simulação de evacuação de
voluntários residentes na ZPE-3 e na ZPE-5, embora a possibilidade de remoção
da população circunvizinha à Central Nuclear seja uma hipótese muito pouco
provável.
51
Como funciona o Plano de Emergência Local?
O Plano de Emergência Local (PEL) tem como objetivo proteger a saúde e
garantir a segurança dos trabalhadores das usinas e do público em geral presente
na Área de Propriedade da Eletronuclear em qualquer situação de emergência
radiológica em Angra 1 e/ou Angra 2. O PEL abrange toda a área da CNAAA, a Vila
Residencial de Praia Brava e a região de Piraquara de Fora. Esse Plano contempla,
ainda, o apoio a ser prestado à Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro e à Cnen
na ZPE-3 e na ZPE-5.
Para testar e aprimorar a eficiência das equipes que, vinte e quatro horas
por dia, sete dias por semana, respondem pela atuação inicial nas usinas dos
Grupos e das Equipes de Emergência, previstas no PEL, a Eletronuclear realiza dez
exercícios anuais, sendo cinco por usina. Além desses exercícios simulados, os
Grupos e as Equipes de Emergência participam, ainda, dos Exercícios de
Emergência – Parcial e dos Exercícios de Emergência – Geral em conjunto com os
diversos órgãos dos diferentes níveis de governo diretamente envolvidos no PEE/RJ.
Em caso de um acidente grave, que área poderia ser atingida?
Com base nos critérios estabelecidos pela Cnen, as ações para a proteção
da população, em situações de emergência na central nuclear de Angra, são
esquematizadas segundo as Zonas de Planejamento de Emergência – ZPEs, com
graus de planejamento de resposta que variam de acordo com a distância da central
nuclear. A ZPE-3 está compreendida num raio de 3 km ao redor de Angra 1, a ZPE-5
num raio de 5 km e as ZPEs 10 e 15 em raios de 10 km e 15 km, respectivamente.
O Plano de Emergência Externo prevê as ações preventivas e urgentes de
remoção da população num raio de 3 km e, em caso de agravamento do acidente,
também num raio de 5 km. Nessas zonas é que estão instaladas as sirenes para
notificação da população.
As ZPEs 10 e 15 são consideradas zonas de controle ambiental, onde não
são previstas medidas de proteção urgentes e preventivas e sim medidas baseadas
numa monitoração do meio ambiente.
Há quantas pessoas aproximadamente nas ZPEs 3 e 5?
A Defesa Civil Municipal de Angra trabalha, na ZPE-3, com uma estimativa
de 360 pessoas e, na ZPE-5, com 16.836 pessoas.
52
É possível ocorrer um acidente semelhante ao de Fukushima – Daí –
Ichi no Brasil?
Devido a estabilidade sísmica e geológica da plataforma continental
brasileira, a ocorrência de acidente semelhante, torna-se extremamente improvável.
4.2.1 Exercício geral do plano de emergência
No último Exercício Geral do Plano de Emergência da CNAAA, realizado em
01/09/2011 representantes de órgãos nacionais e internacionais estiveram presentes
como observadores, entre eles do MD, Comando da Marinha, Defesa Civil Nacional,
Ibama, Cemig, TCU e demais representantes convidados pela AIEA – Agência
Internacional de Energia Atômica. Depois de constatada a existência de uma
Emergência Geral teve início a evacuação da população localizada em um raio de 3
km ao redor de Angra. Por volta das 11h30, houve a simulação da transferência de
uma paciente contaminada por radiação, a funcionária foi transferida do CMRI,
localizado na vila histórica de Mambucaba para o Hospital Marcílio Dias, no Rio de
Janeiro em helicóptero da Força Aérea. Na parte da tarde os moradores do “Frade”
se reuniram na entrada do “Sertãozinho” em um Ponto de Reunião simulando a
evacuação da comunidade. Logo após, funcionários da FUSAR realizaram a
distribuição de pastilhas de iodeto de potássio na Praia Vermelha e foi testada
também a retirada da população por via marítima e terrestre. Concluído o Exercício
Geral, todos os órgãos envolvidos no Plano de Emergência elaboram um Relatório a
ser entregue as equipes analisadoras da Eletronuclear/Eletrobrás para que haja uma
conclusão de como foram as ações e o que deverá ser feito para melhorá-las.
Importante ressaltar as ações que compõe o Planejamento Global de
Defesa, com o fundamental esclarecimento prévio da população, seu cadastramento
e os exercícios simulados periódicos. Órgãos como a SIPRON e Secretária Nacional
de Defesa Civil farão a gestão efetiva de todo o processo.
Sendo assim, em função dos dados levantados e analisados concluiu-se
que:
Em caso de um acidente nuclear na CNAAA, as medidas previstas nos
Sistemas Redundantes de Segurança serão eficientes para reduzir os danos que por
ventura venham acontecer; e
53
Não é possível ocorrer um acidente nas mesmas proporções do ocorrido em
Fukushima Daí-ichi, no Japão, devido às características sísmicas e geológicas do
nosso país. Soma-se o fato que os reatores de Angra são do tipo PWR (Pressurized
Water Reactor) mundialmente reconhecidos como mais modernos e seguros que os
do tipo BWR (Boiling Water Reactor) de Fukushima.
54
5 CONCLUSÃO
A cruzada nacional que os especialistas fazem para convencer os leigos que
a energia nuclear tem inúmeras vantagens e é segura, é legítima, pois é inegável a
importância do acesso a informação quando se deseja tomar decisões, mas este
procedimento não é de forma alguma neutro.
A defesa incondicional de um ponto de vista, mesmo que oriunda da Ciência,
que tem por princípio a neutralidade, a isenção e a imparcialidade a respeito dos
debates, comporta um determinado interesse e um juízo de valor.
Diante de uma situação de “perigo”, diferentes pessoas terão reações
distintas. Mesmo que existam normas e padrões, culturas distintas frustram a
tentativa de tornar os estudos do risco uma ciência objetiva com instrumentos de
mensuração quantitativos.
Numa sociedade democrática, não se pode inibir o debate sob o pretexto de
que os opositores são desqualificados, e é isso que ocorre em debates de natureza
tecnológica.
O debate acerca da energia nuclear não deve se limitar aos aspectos
técnicos, pois o processo como um todo não será gerido apenas por técnicos, mas
também por pessoas que estão sujeitas a emocionais que não podem ser previstos
pela análise puramente técnica, mas que no final, serão decisivos.
Os últimos 100 anos apresentaram um aumento substancial da emissão de
gases à atmosfera, levando a sociedade e governos a iniciativas como o protocolo
de Kyoto. Entretanto, as demandas econômicas têm dificultado a implementação do
acordo.
Os especialistas afirmam que a energia nuclear pode contribuir muito para a
redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.
A percepção da energia nuclear pela população é muito superficial. As
informações provêm da imprensa, raramente de estudos, fazendo com que ela seja
desconhecida, temida e rejeitada. Em geral, as pessoas não sabem defini-la, sequer
parcialmente, nem conhecem a maioria das suas aplicações.
Desde o início, a energia nuclear tem suscitado as mais diversas reações
junto à população em geral. Reações de incredubilidade, admiração, desconfiança,
rejeição e ódio.
55
Com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagazaki e os acidentes e
incidentes nucleares, a energia nuclear e tudo que a ela esteja relacionado, passou
a ser questionado e, logo após, houve intensas campanhas de combate ao seu uso.
A imprensa certamente foi a maior responsável pelo preconceito em relação
à energia nuclear. As notícias de caráter sensacionalista geraram por anos uma
imagem negativa de tudo que tenha o termo “nuclear” associado.
Em geral, a fonte de informações invariavelmente citada, o ponto de
referencia do saber, é a imprensa: jornais, televisão, revistas. Nunca uma aula, um
livro ou uma revista de divulgação científica! Considerando que os jornalistas,
incluindo os de colunas científicas, não costumam ter uma boa formação em
ciências, o valor científico e a credibilidade das informações veiculadas na imprensa
são no mínimo questionáveis, principalmente pela falta de comprovação nas
matérias publicadas.
Por mais remota que seja a possibilidade de ocorrência de um acidente,
devemos estar preparados para saber o que fazer, como fazer e quando fazer e
ainda treinar estes procedimentos em exercícios simulados. Esse comportamento é
a diferença em ser mais ou menos afetado.
Em relação à CNAAA, observamos que a estratégia de defesa, o Plano de
Segurança e os Sistemas Redundantes alcançam o objetivo maior de torná-la o
mais segura possível.
Os Sistemas Redundantes como pôde ser verificado nas pesquisas e no
último exercício simulado conseguem tornar a CNAAA com uma estratégia de
defesa contra acidentes nucleares plena e bem estabelecida.
“É bom lembrar que as decisões que tomarmos em relação a escolha da
matriz energética, deve levar em conta que os efeitos dessas
decisões nas gerações futuras.”
56
REFERÊNCIAS
A NUCLEAR disaster (Oracle Think Quest Education Foundation). Chernobyl, Ucrânia: s.n., 1986.
ANDRADE, Alexandre. Monitor Nuclear. Website. Disponível em: <http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br>. Acesso em: 12 jun. 2011.
BARNABY, Frank; KEMP, James. Secure Energy? Civil Nuclear Power, Security and Global Warming. London: Oxford Research Group, 2007. Disponível em: <http://www.oxfordresearchgroup.org.uk/publications/briefing_papers/pdf/secureenergy.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2011.
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CARDOSO, Eliezer. Apostila educativa energia nuclear. Rio de Janeiro: CNEN, 2005. Disponível em: <http://www.cnen.gov.br/ensino/apostilas/energia.pdf>. Acesso em: 17 maio 2011.
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57
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MONGELLI, Sara. Geração Núcleo-elétrica: Retrospectiva, Situação Atual e Perspectivas Futuras. São Paulo: IPEN/USP, 2006. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/85/85133/tde-08062007-151208>. Acesso em: 13 jul. 2011.
MURRAY, Raymond. Energia Nuclear. São Paulo: Hemus, 2004.
NUCLEAR Energy Today. Paris: The Nuclear Energy Agency (NEA), 2003. Disponível em: <http://www.nea.fr/html/pub/nuclearenergytoday/welcome.html>. Acesso em: 13 jul. 2011.
NUCLEAR Tecnologia e Consultoria – NUTEC. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: <http://www.nuctec.com.br/educacional/enbrasil.html>. Acesso em: 13 jul. 2011.
STONE, Richard Inside Chernobyl. National Geographic. Chicado, 1990.
THE FUTURE of Nuclear Power: An Interdisciplinary MIT Study. Cambridge, MA: MIT, 2003. Disponível em: <http://web.mit.edu/nuclearpower>. Acesso em: 22 jun. 2011.
URANIUM Information Centre Ltd. Nuclear Power in Brazil. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: <http://www.uic.com.au/nip95.htm>. Acesso em: 17 maio 2011.
_____. World Nuclear Power Reactors 2006-07. E.U.A., Disponível em: <http://www.uic.com.au/reactors.htm>. Acesso em: 17 maio 2011.
WIKIPÉDIA A ENCICLOPÉDIA LIVRE. Acidente nuclear de Chernobyl. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Acidente_nuclear_de_Chernobil>. Acesso em: 22 jun. 2011.
58
ANEXO A - MATRIZ ENERGÉTICA NUCLEAR MUNDIAL
1 Lituânia 78 %
2. França 77 %
3. Bélgica 58 %
4. Eslováquia 53 %
5. Ucrânia 46 %
6. Suécia 44 %
7. Bulgária 42 %
8. Coréia do Sul 39 %
9. Hungria 39 %
10. Eslovênia 39%
11. Suíça 36 %
12. Armênia 35 %
13. Japão 34 %
14. Finlândia 31 %
15. Alemanha 31 %
... ...
25. Brasil 2%
Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA
59
ANEXO B – EFEITOS DA RADIAÇÃO NO ORGANISMO HUMANO
A exposição à radiação provoca dois tipos de lesões:
Agudas (imediatas) podendo afetar diversos órgãos
Verifica-se numa pequena proporção de doentes depois de um tratamento
com radiação (radioterapia), especialmente se tiver sido aplicada sobre o abdômen.
Os sintomas compreendem náuseas, vômitos, diarréia, perda de apetite, dor de
cabeça, sensação de mal-estar geral e um ritmo cardíaco acelerado (taquicardia).
Costumam regredir de horas a poucos dias.
Crônicas (tardias)
Cérebro e sistema nervoso: Os primeiros sintomas são náuseas e vômitos,
seguidos de apatia, sonolência e, em alguns casos, coma. Estes sintomas são
provocados, muito provavelmente, pela inflamação do tecido cerebral (inchaço
cerebral). Em poucas horas ocorrem os tremores, convulsões, incapacidade para
andar e, finalmente, a morte. É provocada quando a dose total de radiação é
extremamente alta (mais de 30 grays). Revela-se sempre mortal.
Grandes doses acumuladas sobre a coluna dorsal podem provocar uma
lesão gravíssima, que pode acabar em paralisia.
Trato gastro intestinal: Os sintomas consistem em náuseas, vômitos e
diarréias graves, que provocam grande desidratação, que pode ser a causa da
morte. Inicialmente é provocada pela morte das células que revestem a mucosa do
estomago e intestino. Os sintomas persistem devido ao desprendimento progressivo
do revestimento mucoso e ao desenvolvimento de infecções bacterianas, mais
tardiamente. Finalmente, as células que absorvem nutrientes ficam completamente
destruídas e produz-se perda de sangue na zona lesionada, para o interior do
intestino, normalmente em grandes quantidades. Entre 4 e 6 dias depois da
exposição à radiação podem crescer novas células. Mas, mesmo que assim seja, as
vítimas provavelmente morrerão em virtude de uma insuficiência da medula óssea,
entre 2 e 3 semanas mais tarde. É produzida a partir de doses menores de radiação,
mas também igualmente altas (4 grays ou mais).
Sistema sanguíneo: ocorre quando a medula óssea é afetada bem como o
baço e os gânglios linfáticos, que são os principais centros de produção de células
sanguíneas (hematopoiese). Manifesta-se depois de uma exposição de 2 a 10 grays
de radiação e começa com perda de apetite (anorexia), apatia, náuseas e vômitos.
60
Estes sintomas são mais graves ao fim de 6 a 12 horas depois da exposição (muito
agudo e um dos primeiros a se manifestarem) e podem regredir completamente
entre 24 e 36 horas mais tarde. Durante este período em que não há sintomas, as
células produtoras de sangue localizadas nos gânglios linfáticos, no baço e na
medula óssea começam a desgastar-se, a diminuir e não se formam de novo, o que
implica uma grave carência de glóbulos brancos (LEUCEMIA) e vermelhos
(ANEMIA). A falta de glóbulos brancos (que combatem as infecções) costuma
provocar infecções graves e lesões características na pele.
Lesões da pele: As lesões de pele após a exposição à radiação, são
decorrentes, na maioria das vezes pela leucemia.
Foto 14: Lesões Papulo Nodulares Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia
As manifestações cutâneas da leucemia causadas por exposições
radioativas ou não, podem ser as mais variadas possíveis e encontram- se de
diversas formas, incluem lesões cutâneas específicas, primárias, resultantes de
infiltração direta da pele e tecido subcutâneo pelas células leucêmicas. As lesões
papulo-nodulares da leucemia cutânea apresentam-se como pápulas (elevações da
pele), crostas, placas ou nódulos dérmicos marrom-avermelhados a violáceos,
endurecidos. Nódulos cutâneos pigmentados são comuns.
61
Foto 15: Eritrodermia Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia
As lesões iniciais podem ser maculares. Outras apresentações clínicas da
leucemia cutânea incluem bolhas, ulcerações e eritrodermia (dermatite esfoliativa)
resultante da infiltração leucêmica difusa da pele.
Foto 16: Eritrodermia Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia
Se a dose total de radiação for de mais de 6 grays, as insuficiências
hematopoiéticas e gastrointestinais costumam ser mortais.
Músculos: Pode provocar uma doença dolorosa que inclui atrofia muscular e
a formação de depósitos de cálcio. Poucas vezes estas alterações provocam
tumores musculares malignos.
62
Pulmão: A radiação pode provocar inflamação dos mesmos (pneumonite
radioativa) e uma grande dose provocará graves cicatrizações (fibrose) no tecido
pulmonar, o que pode ser mortal.
Coração: O coração e o seu revestimento (pericárdio) podem inflamar-se
depois de uma exposição à radiação.
Material genético: A radiação altera o material genético das células que se
multiplicam. Nas células que não pertencem ao sistema reprodutor, estas alterações
podem provocar anomalias no crescimento celular, como cancro ou cataratas.
Quando os ovários e os testículos são expostos à radiação, a possibilidade de
a descendência ter anomalias genéticas (mutações) aumenta nos animais de
laboratório, mas este efeito ainda não foi devidamente comprovado nos seres
humanos.
Uma exposição prolongada ou repetida a baixas doses de radiação
proveniente de implantes radioativo ou de fontes externas pode provocar:
A interrupção dos períodos menstruais (amenorréia);
Uma menor fertilidade tanto nos homens como nas mulheres;
Também pode aparecer um menor impulso sexual (libido); e
Cataratas.
As doses muito elevadas aplicadas sobre zonas limitadas do corpo provocam:
A queda do cabelo;
Enfraquecimento da pele e formação de feridas abertas (úlceras), calos e
veias aracniformes (pequenas áreas avermelhadas que contêm vasos
sanguíneos dilatados que se encontram sob a pele, ou aranhas
vasculares);
Anos depois da ingestão de certos compostos radioativo, como os sais de
rádio, podem formar-se tumores ósseos.
O prognóstico depende da dose, da quantidade de radiação e da sua
distribuição no corpo. As análises ao sangue e à medula óssea podem fornecer
informação adicional acerca da gravidade da lesão.
Quando se manifesta os sintomas de acometimento cerebral ou
gastrointestinal, o diagnóstico é claro e o prognóstico pouco animador. O
acometimento cerebral é mortal num período de tempo que varia entre horas e
63
poucos dias e o comprometimento gastrointestinal, geralmente, é mortal num
período de tempo que varia de 3 a 10 dias, apesar de algumas pessoas
sobreviverem algumas semanas. Quando se há o acometimento do sistema
sanguíneo (hematopoiético) a morte poderá ocorrer em períodos de 8 a 50 dias. A
morte pode ser provocada por uma infecção grave ou por uma abundante perda de
sangue (hemorragia).
Algumas medidas tomadas após exposição à radiação poderão diminuir o
efeito maléfico ao material exposto e são preconizados:
A pele contaminada por materiais radioativos deverá ser lavada de
imediato com água abundante e, se for possível, com uma solução
especificamente fabricada para tal fim;
Qualquer ferida, por pequena que seja, deverá ser energicamente limpa
para eliminar todas as partículas radioativas;
Se a pessoa tiver ingerido material radioativo, deverá provocar o vômitos;
As pessoas expostas a uma radiação excessiva podem ser controladas
com análises ao ar expirado e à urina, em busca de sinais de
radiatividade;
Nos casos de acometimento do sistema sanguíneo hematopoiético, as
células sanguíneas são repostas por meio de transfusões, mas esta
medida é só temporária, porque é muito pouco provável que a medula
óssea danificada pela radiação se regenere;
Os esforços para evitar as infecções incluem o tratamento com
antibióticos e o isolamento, para que o doente se mantenha afastado de
outros possíveis portadores de microrganismos que provoquem doenças.
Em certos casos faz-se um transplante da medula óssea, mas o índice de
êxito é baixo;
Para tratar os efeitos mais tardios da exposição crônica, o primeiro passo
é eliminar a fonte de radiação. Certas substâncias radioativas, como o
rádio, o tório e o estrôncio, podem ser eliminadas do corpo com
medicamentos que aderem a estas substâncias e depois são excretadas
pela urina. No entanto, estes medicamentos conseguem melhores
resultados se forem administrados pouco depois da exposição o que não
ocorre normalmente.
64
ANEXO C - SISTEMA DE PROTEÇÃO AO PROGRAMA NUCLEAR BRASILEIRO - SIPRON
INTRODUÇÃO O Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro – SIPRON foi
instituído pelo Decreto-Lei nº 1.809, de 7 de outubro de 1980, e regulamentado pelo
Decreto nº 2.210, de 22 de abril de 1997, com o objetivo de assegurar o
planejamento integrado e de coordenar a ação conjunta e execução continuada de
providências, que visem atender às necessidades de segurança das atividades e
dos projetos nucleares brasileiros, da população e do meio ambiente.
Para se alcançar esse objetivo, os órgãos de defesa civil têm atribuições de
planejar e de implementar ações preventivas e de preparação, com a finalidade de
proteger a população na eventualidade de situação de emergência.
A legislação brasileira de proteção da população, em caso de acidente
nuclear, foi uma conseqüência direta da construção da Usina Angra 1, a partir de
1974. Em 1981, foram realizados os primeiros testes operacionais e, em 1982, a
usina recebeu autorização para operar com 30% da sua capacidade. Em 26 de
dezembro de 1984, a Usina recebeu autorização para operar comercialmente.
A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - CNAAA, conhecida também por
Usina Angra I, está localizada na região de Mambucaba, no Município de Angra dos
Reis, no Estado do Rio de Janeiro. É a única no território nacional, tendo sido
concebida para abrigar três usinas com capacidade para produzir 3.000 Megawatts.
Atualmente, encontra-se em funcionamento apenas a Usina de Angra 1 sendo que a
Usina Angra 2 está em fase de testes para a operação, enquanto que a Usina Angra
3 já foi prevista.
O Programa Nuclear Brasileiro teve início no ano de 1967, no Ministério das
Minas e Energia, com a participação da Comissão Nacional de Energia Nuclear –
CNEN e de Furnas(ELETROBRAS). Atualmente, o Programa está no âmbito do
Ministério da Ciência e Tecnologia.
A ATUAÇÃO DA DEFESA CIVIL
A Secretaria Nacional de Defesa Civil, em articulação com os órgãos de
defesa civil estadual e municipal, respondem por todas as ações de proteção da
população, nas proximidades da Usina de Angra. Para isso, a cada 2 anos, todos os
órgãos governamentais do SIPRON realizam um exercício simulado com a
participação da população para aperfeiçoar as ações planejadas.
Como em todos os países, a população e os órgãos locais são os primeiros
a responderem às necessidades. Daí a importância de um órgão de defesa civil local
estar comprometido com a segurança da população, participando efetivamente do
planejamento, dos exercícios simulados e das campanhas de esclarecimento junto à
população. Portanto, cabe à Comissão Municipal de Defesa Civil de Angra dos Reis
conscientizar e preparar a população para o caso de acidente nuclear.
65
a) Ações
A Secretaria Nacional de Defesa Civil – Órgão de Coordenação Setorial do
SIPRON – tem a atribuição de assessorar o Órgão Central e atuar nas ações
relacionadas com a proteção da população.
Na Normalidade – quando se elaboram os planos e testando-os com
exercícios simulados para aperfeiçoá-los.
estabelecer Diretrizes para Defesa Civil e supervisionar sua execução;
harmonizar e integrar, no âmbito da Defesa Civil, os Planos de Ação dos
Órgãos de Apoio;
planejar, promover e coordenar o cadastro da população;
planejar, promover e coordenar as Campanhas de Esclarecimento
Público;
solicitar a colaboração dos órgãos de apoio para a execução das medidas
de Defesa Civil;
formular Normas Gerais e Diretrizes, elaborar pareceres e sugestões e
projetos para atualização da legislação.
Manter entendimentos com a Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN) sobre:
a amplitude das áreas circunvizinhas às instalações nucleares, passíveis
de serem afetadas no caso de acidente nuclear; e
as normas de radioproteção vigentes, de interesse para o treinamento de
recursos humanos em defesa civil.
Em Situação de Emergência
Nesse caso, desenvolvem-se ações e atividades para reduzir os danos.
Em Situação de Emergência, a Secretaria Nacional de Defesa Civil
coordenará as ações de defesa civil e adotará, obrigatoriamente, os seguintes
procedimentos:
notificar e manter permanentemente informados os Órgãos de Apoio
necessários à condução das ações de defesa civil; e
assistir permanentemente a população e supervisionar a execução das
medidas de Defesa Civil.
b) Planejamento
À Secretaria Nacional de Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional,
que integra a Comissão de Coordenação da Proteção ao Programa Nuclear
Brasileiro - COPRON, compete estabelecer Diretrizes de Planejamento e Planos
para as ações de defesa civil, visando a proteção da população, em Situação de
Emergência.
Há vários planos setoriais de procedimentos, diretrizes para todos os órgãos
do SIPRON. Para as ações dos órgãos de defesa civil que visam à proteção da
população relacionada com os programas, projetos e atividades de energia nuclear,
os documentos de referência para a atuação de Defesa Civil são:
66
Diretriz de Planejamento das Ações de Defesa Civil
Documento que estabelece as competências e as ações a serem realizadas
pelos órgãos envolvidos no planejamento e na execução das medidas de proteção à
população, aos trabalhadores da CNAAA e ao meio ambiente;
Diretriz para o Planejamento e Execução das Campanhas de
Esclarecimento Prévio e de Informação para a População:
Documento que estabelece a orientação para o planejamento, a
coordenação e a realização das Campanhas;
Há um conjunto de planos que compõem o planejamento global, cabendo à
Defesa Civil os seguintes:
Plano de Notificação Pública
Este Plano consolida as ações planejadas pelos órgãos de Defesa Civil
federal, estadual e municipal, CNEN e ELETRONUCLEAR e estabelece a
sistemática para notificar a população residente na área de influência da CNAAA e
os órgãos do SIPRON;
Plano para Execução das Campanhas de Esclarecimento Prévio da
População e de Informação para a População Plano que estabelece os
critérios para a execução das atividades relacionadas com as campanhas
a serem desenvolvidas.
c) Cadastramento da População
Brasil é país signatário de Acordos e Convenções Internacionais de Energia
Nuclear, por conseguinte deve atender a vários requisitos para a segurança da
população residente na área próxima às Usinas Nucleares.
O cadastramento dos habitantes da área de influência da CNAAA, é de
fundamental importância para os planejamentos, para a preparação para
emergências e para a segurança da população. Cabe aos órgãos de defesa civil
promover esse cadastramento.
Essa atividade ocorre quando da realização do Censo nacional, pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, constando de levantamentos de dados
relativos à situação socioeconômica, faixa etária e deficientes físicos, e, quando
necessário, promovido pela Secretaria Nacional de Defesa Civil/MI, com o apoio da
Secretaria de Estado de Defesa Civil/RJ e da Prefeitura Municipal de Angra dos
Reis/RJ.
67
Foto 12: Alarme por Sirenes Fonte: SISPRON
SISTEMA DE ALARME POR SIRENES
O Ministério da Integração Nacional, através da Secretaria Nacional de
Defesa Civil, no cumprimento de suas atribuições de proteger a população residente
na área próxima à CNAAA, região do Frade e de Mambucaba, no Município de
Angra dos Reis/RJ, instalou um Sistema de Alarme por Sirenes, composto de 08
(oito) torres dotadas de sirenes eletrônicas de alta potência, do tipo omnidirecionais,
com capacidade para emitir som a 115 dB, com alcance de 1.600 metros, chegando
com 60 dB no ponto mais distante.
O sistema é de tecnologia americana e permite, através de uma Central de
Comando bidirecional, o acionamento das sirenes por controle remoto, podendo
também serem acionadas de modo manual, com recursos para emitir sinal sonoro e
mensagens pré-gravadas ou em viva voz.
Este sistema possibilita o monitoramento automático da torre e dos
equipamentos eletrônicos, como alarme contra intrusos, carga das baterias,
alimentação de energia elétrica e funcionamento através de teste silencioso das
sirenes.
As sirenes estão localizadas em pontos estratégicos, com o objetivo de
possibilitar uma abrangência sonora em toda a área habitada dentro da Zona de
Planejamento de Emergência, no raio de 05 km (ZPE 5), centrado no edifício do
reator da Usina Angra 1, para notificação da população, no caso de Situação de
Emergência na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto - CNAAA, em Angra dos
Reis/RJ.
68
Mapa do Município de Angra dos Reis, demonstrando a divisão em ZONAS DE
PLANEJAMENTO DE EMERGÊNCIA, em ZPE-03, ZPE-05, ZPE-10 e ZPE-15,
centradas no edifício do reator.
Foto 13: Zonas de Planejamento de Emergência Fonte: SISPRON
A área de influência da CNAAA é dividida em Área de Propriedade da
ELETRONUCLEAR (APE) e 04 Zonas de Planejamento de Emergência (ZPE),
compreendida dentro dos limites de um círculo de 03 Km, 05 Km, 10 Km e 15 Km de
raio, centrado no edifício do reator das Unidades Operacionais.
Este zoneamento é utilizado para a implementação das Campanhas de
Esclarecimento Público, o cadastramento da população, a avaliação de
necessidades e ativação de abrigos, evacuação da população e a adoção de
medidas de radioproteção da população e do meio ambiente.
Mais importante que todas as ações governamentais é a participação da
comunidade!
Não só nos acidentes nucleares, mas em qualquer ocorrência de desastre
(seca, inundação, granizo, incêndio, acidente de trabalho, acidente de trânsito) sofre
mais quem não está preparado.
Por mais remota que seja a possibilidade de ocorrência de um acidente,
devemos estar preparados para saber o que fazer, como fazer e quando fazer e
ainda treinar estes procedimentos em exercícios simulados. Esse comportamento é
a diferença em ser mais ou menos afetado.