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PORTUGUÊS – 10º ANO ANÁLISE DE POEMA CAMÕES ONDADOS FIOS DE OURO RELUZENTE Ondados fios de ouro reluzente, Que, agora da mão bela recolhidos, Agora sobre as rosas estendidos, Fazeis que a sua beleza se acrescente; Olhos, que vos moveis tão docemente, Em mil divinos raios encendidos, Se de cá me levais alma e sentidos, Que fora, se de vós não fora ausente? Honesto riso, que entre a mor fineza De perlas e corais nasce e parece, Se na alma em doces ecos não o ouvisse!... Se, imaginando só tanta beleza, De si em nova glória a alma se esquece, Que será quando a vir?... Ah! Quem a visse… O texto é constituído por duas quadras e dois tercetos em metro decassilábico, com um esquema rimático ABBA // ABBA // CDE // CDE, verificando-se a existência de rima interpolada em “A”, emparelhada em “B” e interpolada em “C,D,E”. O soneto aborda o tema a mulher, mais propriamente, o ideal Petrarquista. Este ideal é sempre descrito como uma mulher perfeita, bela, nobre, só descritível em imagens hiperbólicas. No soneto “Ondados fios de ouro reluzente”, verifica-se a descrição física, à maneira de Petrarca, de uma mulher, que contribui para a sua caracterização moral. O poema apresenta uma enumeração metafórica dos atributos físicos da mulher, sendo apresentados os cabelos: “Ondados fios de ouro reluzente”, rosto metaforizado em “rosas”, os olhos como “raios encendidos”, o riso, e os dentes e os lábios, metaforizados em “perlas e corais”. Esta caracterização respeita o ideal feminino petrarquista e assume também a ausência da amada: “Se na alma em doces ecos não o ouvisse!...”. Assim, afastado do objecto da sua devoção, o poeta deseja a proximidade: “Que será quando a vir… Ah! Quem a visse…”, utilizando um discurso expressivo, marcado pela suspensão das ideias – visível na utilização das reticências – e com expressões interjectivas. Recursos de Estilo Hipérbole: “Em mil divinos raios” Metáfora: “Fios de ouro reluzente” “De perlas e corais”

Ondados Fios de Ouro Reluzente

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resumo e questões

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Page 1: Ondados Fios de Ouro Reluzente

PORTUGUÊS – 10º ANOANÁLISE DE POEMA CAMÕES

ONDADOS FIOS DE OURO RELUZENTE

Ondados fios de ouro reluzente,Que, agora da mão bela recolhidos,Agora sobre as rosas estendidos,Fazeis que a sua beleza se acrescente;

Olhos, que vos moveis tão docemente,Em mil divinos raios encendidos,Se de cá me levais alma e sentidos,Que fora, se de vós não fora ausente?

Honesto riso, que entre a mor finezaDe perlas e corais nasce e parece,Se na alma em doces ecos não o ouvisse!...

Se, imaginando só tanta beleza,De si em nova glória a alma se esquece,Que será quando a vir?... Ah! Quem a visse…

O texto é constituído por duas quadras e dois tercetos em metro decassilábico, com um esquema rimático ABBA // ABBA // CDE // CDE, verificando-se a existência de rima interpolada em “A”, emparelhada em “B” e interpolada em “C,D,E”. O soneto aborda o tema a mulher, mais propriamente, o ideal Petrarquista. Este ideal é sempre descrito como uma mulher perfeita, bela, nobre, só descritível em imagens hiperbólicas. No soneto “Ondados fios de ouro reluzente”, verifica-se a descrição física, à maneira de Petrarca, de uma mulher, que contribui para a sua caracterização moral. O poema apresenta uma enumeração metafórica dos atributos físicos da mulher, sendo apresentados os cabelos: “Ondados fios de ouro reluzente”, rosto metaforizado em “rosas”, os olhos como “raios encendidos”, o riso, e os dentes e os lábios, metaforizados em “perlas e corais”. Esta caracterização respeita o ideal feminino petrarquista e assume também a ausência da amada: “Se na alma em doces ecos não o ouvisse!...”. Assim, afastado do objecto da sua devoção, o poeta deseja a proximidade: “Que será quando a vir… Ah! Quem a visse…”, utilizando um discurso expressivo, marcado pela suspensão das ideias – visível na utilização das reticências – e com expressões interjectivas.

Recursos de Estilo

Hipérbole: “Em mil divinos raios”

Metáfora: “Fios de ouro reluzente” “De perlas e corais”

Perguntas

1-“Honesto Riso”, interpreta a expressão transcrita.R: O honesto riso, transmite a sua honestidade. Uma qualidade social que ela possui.2-Lábios e dentes são representados de forma poética e valorativa. Explica como.R: São representados de forma poética e valorativa através da utilização da metáfora “perlas e corais” que são dois elementos da natureza de excecional e extraordinária beleza.3-Este soneto apresenta o retrato de uma mulher bela? Ou o retrato da beleza? Qual das sugestões te parece mais de acordo com o poema? Justifica a tua opinião.R: O retrato da beleza, considerando que aqui estão presentes características que apontam para um ideal de beleza no seu todo e não propriamente para a beleza de uma única mulher.

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6. Leia atentamente o poema e responda às questões.

Ondados fios de ouro reluzente,Que agora da mão bela recolhidos,Agora sobre as rosas estendidosFazeis que sua graça se acrescente;

Olhos, que vos moveis tão docemente,Em mil divinos raios encendidos,Se de cá me levais alma e sentidos,Que fora, se de vós não fora ausente?

Honesto riso, que entre a mor finezaDe perlas e corais nace e parece,Se n'alma em doces ecos não o ouvisse!

Se imaginando só tanta beleza,De si, em nova glória, a alma se esquece,Que será quando a vir? Ah! quem a visse!

6.1. Divida o poema em duas partes, justificando as suas opções.

6.2. Descreva, por palavras suas, a mulher que o sujeito poético nos apresenta, distinguido as qualidades

físicas, psicológicas e morais.

6.3. Identifique no poema uma metáfora, uma hipérbole e uma pergunta retórica, justificando o valor

expressivo de cada um dos recursos estilísticos.

6.4. Indique o verso em que o sujeito de enunciação se refere aos lábios e aos dentes desta mulher ideal.

6.5. Aponte o desejo final do poeta, referindo se o mesmo se poderá concretizar e justificando a sua

resposta.

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TEMANeste soneto, o sujeito imagina e exalta a beleza da amada ausente, cujo retrato reconstitui pela memória (influência platónica da teoria da reminiscência), e, no último terceto, exprime grande desejo de a ver, através da interrogação retórica, da interjeição (“Ah!”) e da exclamação. Revela, sobretudo, influência petrarquista na idealização da mulher e na exaltação das suas qualidades físicas (os cabelos, os olhos, o rosto, os dentes, os lábios) e, também, das suas qualidades psicológicas ou morais (a doçura, a graça, a honestidade).

ESTRUTURA INTERNA

O soneto divide-se em duas partes lógicas:1ª parte – primeiros onze versos – caracterizam e exaltam a beleza da amada, concentrada nos cabelos, nos olhos e no riso;2ª parte – último terceto – a oração condicional, o advérbio “tanta”, a interrogação retórica e a exclamação fnal contribuem para dar feição hiperbolizante aos encantos da amada e justificam o forte desejo de a ver.

UNIDADE FORMA / CONTEÚDO

A caracterização da amada e a exaltação da sua beleza são conseguidas através dos seguintes recursos estilísticos:

a) Metáfora - “Ondados fios de ouro reluzentes” (cabelos louros ondeados e luzidios),“as rosas” (as faces cor-de-rosa),“em mil divinos raios encendidos” (intensamente brilhantes),“perlas e corais” (dentes e lábios),“a alma se esquece” (se extasia).

b) Personificação - dos cabelos e dos olhos, a quem o sujeito se dirige.

c) Interrogação Retórica - 8º verso e no último.

d) Exclamação e Interjeição - 11º e 14º versos.

e) Adjectivação expressiva - “ondados”, “reluzente”, “honesto”, “doces