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ENTREVISTA Onde os valores imperam e os negócios prosperam Cinco gerações depois, a Torres Joalheiros, um projecto iniciado numa pequena alfaiataria de Torres Vedras, celebra o seu centenário num Palácio de Lisboa, naquele que terá sido o mais brilhante evento de alta-relojoaria e joalharia alguma vez realizado em Portugal. Paulo Torres dá a cara por uma empresa que é uma referência incontornável neste mercado, em Portugal e não só. Perguntas Paulo Costa Dias Paulo Torres, parafraseando a canção, 100 anos é muito tempo! Como é que os celebraram? É um facto indesmentível. Cem anos representam cinco gerações dedicadas a este ramo. E não vamos ficar por aqui. Começámos por remodelar a imagem das lojas, o que ainda não terminou, e fizemos uma exposição no Palácio Sotto Mayor em Lisboa, onde apresentámos um leque de peças exclusivas que surpreendeu todos os amantes da relojoaria e joalharia. Qual o período mais difícil dos 100 anos da Torres, sabe? A perda de um familiar é sempre marcante e pesarosa. Não gos- taria de me alongar neste aspecto… Sente que a Torres Joalheiros é um dos ‘tubarões’ do mercado? Sem dúvida. Representamos marcas do ramo que, aliadas ao serviço por nós prestado, fazem de nós uma referência. Mas, no entanto, estou perfeitamente ciente de que ainda temos muito que progredir. Há a ideia de uma certa perversão ligada aos lucros e ao crescimento que as empresas ‘do luxo’ não deixam de ter, mesmo em alturas de crise. O que pensa disto? A proliferação de empresas no nosso ramo que aconteceu há uns anos deixou de existir. Muitas fecharam com a crise. As que restam adaptaram-se às novas realidades e exigências de mercado, munindo-se de serviços e marcas que dão sempre valor acrescentado ao cliente. Por essa razão, os resultados aparecem. Que desafios colocam a actual crise e o modelo de desen- volvimento português? A sobrevivência dos mais aptos. Esta realidade que os nossos governantes nos impõem tem de ser contrariada com a cativação dos nossos clientes. Além de que temos um país com condições extraordinárias para o turismo e também aí devemos apostar na demarcação pela qualidade. Que desafios enfrenta a indústria relojoeira e o retalho, nos próximos anos? Estou seguro de que, a nível de produto, marcas como Jaeger- LeCoultre, Audemars Piguet, A.Lange&Söhne, Rolex, Chopard, entre outras, vão utilizar cada vez mais as novas tecnologias para a inovação técnica e de materiais nos seus produtos. Mas em relação às lojas virtuais e vendas pela Internet, de que se fala, compraria uma peça de sonho pelo monitor? Sou céptico relativamente a este ponto. “Cem anos representam cinco gerações dedica- das a este ramo. E não vamos ficar por aqui. Começámos por remodelar a imagem das lojas, o que ainda não terminou, e fizemos uma exposi- ção no Palácio Sotto Mayor em Lisboa, onde apresentámos um leque de peças exclusivas que surpreendeu todos os amantes da relojoaria e joalharia.” Foto Nuno Correia

Onde os valores imperam e os negócios prosperam · o bem e para o mal, os valores definidos pelo seu fundador. Que matriz é essa? Foi mais definida pelo fundador ou pelo seu avô,

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Page 1: Onde os valores imperam e os negócios prosperam · o bem e para o mal, os valores definidos pelo seu fundador. Que matriz é essa? Foi mais definida pelo fundador ou pelo seu avô,

entrevista

Onde os valores imperam e os negócios prosperamCinco gerações depois, a torres Joalheiros, um projecto iniciado numa pequena

alfaiataria de torres vedras, celebra o seu centenário num Palácio de Lisboa,

naquele que terá sido o mais brilhante evento de alta-relojoaria e joalharia

alguma vez realizado em Portugal. Paulo torres dá a cara por uma empresa que

é uma referência incontornável neste mercado, em Portugal e não só.

Perguntas Paulo Costa Dias

Paulo torres, parafraseando a canção, 100 anos é muito tempo! Como é que os celebraram?É um facto indesmentível. Cem anos representam cinco gerações dedicadas a este ramo. E não vamos ficar por aqui. Começámos por remodelar a imagem das lojas, o que ainda não terminou, e fizemos uma exposição no Palácio Sotto Mayor em Lisboa, onde apresentámos um leque de peças exclusivas que surpreendeu todos os amantes da relojoaria e joalharia.

Qual o período mais difícil dos 100 anos da torres, sabe?A perda de um familiar é sempre marcante e pesarosa. Não gos-taria de me alongar neste aspecto…

sente que a torres Joalheiros é um dos ‘tubarões’ do mercado?Sem dúvida. Representamos marcas do ramo que, aliadas ao serviço por nós prestado, fazem de nós uma referência. Mas, no entanto, estou perfeitamente ciente de que ainda temos muito que progredir.

Há a ideia de uma certa perversão ligada aos lucros e ao crescimento que as empresas ‘do luxo’ não deixam de ter, mesmo em alturas de crise. O que pensa disto?

A proliferação de empresas no nosso ramo que aconteceu há uns anos deixou de existir. Muitas fecharam com a crise. As que restam adaptaram-se às novas realidades e exigências de mercado, munindo-se de serviços e marcas que dão sempre valor acrescentado ao cliente. Por essa razão, os resultados aparecem.

Que desafios colocam a actual crise e o modelo de desen-volvimento português?A sobrevivência dos mais aptos. Esta realidade que os nossos governantes nos impõem tem de ser contrariada com a cativação dos nossos clientes. Além de que temos um país com condições extraordinárias para o turismo e também aí devemos apostar na demarcação pela qualidade.

Que desafios enfrenta a indústria relojoeira e o retalho, nos próximos anos?Estou seguro de que, a nível de produto, marcas como Jaeger-LeCoultre, Audemars Piguet, A.Lange&Söhne, Rolex, Chopard, entre outras, vão utilizar cada vez mais as novas tecnologias para a inovação técnica e de materiais nos seus produtos.Mas em relação às lojas virtuais e vendas pela Internet, de que se fala, compraria uma peça de sonho pelo monitor? Sou céptico relativamente a este ponto.

“Cem anos representam cinco gerações dedica-das a este ramo. E não vamos ficar por aqui. Começámos por remodelar a imagem das lojas, o que ainda não terminou, e fizemos uma exposi-ção no Palácio Sotto Mayor em Lisboa, onde apresentámos um leque de peças exclusivas que surpreendeu todos os amantes da relojoaria e joalharia.”

Foto Nuno Correia

Page 2: Onde os valores imperam e os negócios prosperam · o bem e para o mal, os valores definidos pelo seu fundador. Que matriz é essa? Foi mais definida pelo fundador ou pelo seu avô,

Depois de anos de uma certa ‘extravagância’ relojoeira, na forma como na dimensão, parece haver uma tendência para o regresso de linhas mais clássicas e vintage. Confirma essa tendência?As marcas de sucesso baseiam-se na intemporalidade dos seus produtos, nunca descorando a capacidade tecnológica de os melhorar. Assim, tenho de concordar com o facto de que hoje a realidade económica prevalece e as marcas apostam no sucesso e desenvolvimento das linhas clássicas. Nos best-sellers...

Que valor tem para a indústria da alta-relojoaria a manuten-ção de actividades artesanais como são a esmaltagem, a lacagem, a pintura miniatural, a gravação, a incrustação etc.?São pontos onde as marcas fazem a demarcação para as res-tantes. Uma excelência a que poucos podem chegar, um valor acrescentado em que, além da minúcia do mecanismo, uma outra arte pode e faz a diferença.

O que aprendeu a lidar desde tão novo com gestores suíços e com produtos suíços?A pontualidade foi um dos factores mais marcantes. Tal e qual como o produto que vendemos (risos). Agora a sério, a indústria relojoeira suíça é única e é um privilé-gio trabalhar com ela. O pormenor e detalhe, juntamente com a qualidade e complexidade dos movimentos desenvolvidos pelas marcas que representamos, são admiráveis. Tentamos sempre complementá-los em Portugal.

O que é o luxo, sobretudo agora em que parece ter havido alguma alteração no conceito?Eu diria que o luxo é ter algo que me satisfaz por completo na es-sência e na excelência.

Uma das virtudes que os estudos sobre empresas familiares – como esta continua a ser – apontam é que mantêm, para o bem e para o mal, os valores definidos pelo seu fundador. Que matriz é essa? Foi mais definida pelo fundador ou pelo seu avô, ou o seu pai, visto que já vão na 5.ª geração?Pergunta pertinente. Penso ter uma mescla de todos. Aprendem -os sempre com o nosso Pai e este com o dele. Logo, a visão de cada um é moldada pelo antecessor, processada e transmitida ao descendente. Há as que prevalecem e as que desaparecem… Eu

tive sorte em pertencer a uma família onde os valores imperam e os negócios prosperam.

Que desafios se colocam a quem gere uma empresa fami- liar e quer manter a família unida?Nem sempre é fácil, mas é sempre gratificante. O grande desafio diário é lidar com as pessoas que nos rodeiam, familiares ou não, pois somos uma grande família na Torres Joalheiros, e queremos que os nossos clientes sintam o prazer que é recebê-los em nossa casa.

O que acha que significa e/ou o que gostaria que signifi-casse o nome Torres Joalheiros para o consumidor final?Sinónimo de excelência na perfeição e mestria no desempenho.

Como gere o seu tempo?Agora com a recente chegada da 6.ª geração Torres, o tempo escasseia mas trabalho, família e lazer têm o tempo necessário.

O que gostava de ter feito se não tivesse assumido os negócios da família?Campo, campo e campo. Quem sabe se não existiria mais um agricultor neste mundo.Sempre me identifiquei bastante com a realidade das pessoas do campo. Aí o tempo é gerido de forma diferente.

Que relógio gostava de ter e não tem?Sempre sonhei ter um Rolex Daytona. Quem sabe se não irei ficar com uma das edições do Centenário da Torres.

entrevista

Foto Nuno Correia