ONTOLOGIA DE APLICAÇÃO NO DOMÍNIO DE …livros01.livrosgratis.com.br/cp119185.pdf · pontifÍcia universidade catÓlica de minas gerais programa de pÓs-graduaÇÃo em informÁtica

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM INFORMTICA

    ONTOLOGIA DE APLICAO NO

    DOMNIO DE MORTALIDADE:

    uma ferramenta de apoio para o

    preenchimento da Declarao de bitos

    Fabrcio Martins Mendona

    Belo Horizonte

    2009

  • Livros Grtis

    http://www.livrosgratis.com.br

    Milhares de livros grtis para download.

  • Fabrcio Martins Mendona

    ONTOLOGIA DE APLICAO NO

    DOMNIO DE MORTALIDADE:

    uma ferramenta de apoio para o

    preenchimento da Declarao de bitos

    Dissertao apresentada ao programa de ps-graduao em Informtica da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Cincia da Computao.

    Orientadora: Ana Maria Pereira Cardoso Co-orientadora: Eliane Drumond

    Belo Horizonte

    2009

  • FICHA CATALOGRFICA

    Elaborada pela Biblioteca da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais

    Mendona, Fabrcio Martins M539o Ontologia de aplicao no domnio de mortalidade : uma ferramenta de apoio para o preenchimento da declarao de bitos / Fabrcio Martins Mendona Belo Horizonte, 2009. 113f. : il. Orientadora: Ana Maria Pereira Cardoso. Dissertao (Mestrado) Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Programa de Ps-graduao em Informtica. Bibliografia.

    1. Software . 2. Mortalidade Brasil. I. Cardoso, Ana Maria Pereira. II. Pontifcia Universidade. Catlica de Minas Gerais. III. Ttulo.

    CDU: 681.3.03:312(81)

    Bibliotecrio: Fernando A. Dias CRB6/1084

  • DEDICATRIA

    Primeiramente a Deus, luz que ilumina nossos caminhos, e permitiu a concretizao de mais um sonho em minha vida.

    minha me, Marilza, pelo amor, carinho, zelo e dedicao inigualvel que tem por mim. Ao meu pai, Jos Carlos, pelo incentivo, apoio e esforo interminvel em me conduzir no caminho acadmico. minha irm, Carla, pela torcida e incentivo nessa caminhada. Juliana, pela compreenso, amor e apoio nos momentos de dificuldade e de sucesso. Ao meu av, Antnio (in memorian), por mostrar que o sonho do estudo possvel.

  • AGRADECIMENTOS

    A Professora Ana, pela amizade, ateno e primorosa orientao ao longo dessa caminhada. A Doutora Eliane, pela dedicao e as preciosas contribuies a esse trabalho, sem as quais ele no teria se concretizado. A todos os amigos que estiveram sempre na torcida por mim. A todos do Mestrado em Informtica da PUC-MG, especialmente aos professores que deram contribuies valiosas no processo de qualificao. Aos funcionrios da SMSA-BH, Lenice Ishitani, Lcia Helena Lisboa, Silvana de Andrade Souza.

  • "Viver a arte de realizar sonhos. Nunca desista dos seus. Acredite e realize-os! Afinal, sonhar de graa. Encontre dentro do seu corao a energia para ser o artista da sua criao. O sol da vida est dentro de voc. Roberto Shinyashiki

    A mente que se abre a uma nova idia jamais voltar a seu tamanho original. Albert Einstein

  • RESUMO

    A organizao e a forma de representao das informaes sobre domnios especficos da rea de sade uma medida extremamente importante para direcionar os gestores de sade em suas propostas de planejamento e ao. Dentro deste contexto, os dados de mortalidade, atualmente disponibilizados pelo Sistema de Informao de Mortalidade, necessitam ser reavaliados para que possam de fato retratar o perfil epidemiolgico da populao brasileira. Com o objetivo de proporcionar melhorias na qualidade dos dados de mortalidade obtidos atravs do Sistema de Informao de Mortalidade, o presente trabalho desenvolveu uma ontologia de aplicao sobre o domnio de mortalidade e uma avaliao qualitativa do formulrio de Declarao de bito, instrumento padro para coleta dos dados para esse sistema de informao. Ontologia entendida como um artefato computacional para representao do conhecimento, que possui caractersticas prprias de acordo com o propsito para o qual ela foi construda, no caso a avaliao da Declarao de bito. A ontologia desenvolvida contou com a participao de profissionais de sade, especialistas no domnio de mortalidade, e tem por objetivo auxiliar os mdicos em sua tarefa de registrar os bitos ocorridos, a partir do preenchimento correto do formulrio de Declarao de bitos. Palavras-chave: Declarao de bitos, Registros de Mortalidade, Ontologia, Sistemas de Informao.

  • ABSTRACT

    The way the information about specific domains of the health area is

    represented and organized is an extremely important measure to give directions to the health managers in their action planning proposals. In this context, the mortality data, currently available in the Mortality Information System (SIM in Portuguese), need to be reassessed so that they can truly reflect the epidemiological profile of the Brazilian population. With the objective of providing improvement in the quality of mortality data obtained through the SIM, the present work developed an ontology of application about the domain of mortality and a qualitative evaluation of the Death Certificate (DO in Portuguese), tool in charge of the data collection for this information system. Ontology is understood as a computational artifact for representation of knowledge that has its particular characteristics defined according to the purpose for which it was constructed, in this case the evaluation of the DO. The ontology developed relied on the participation of health professionals, specialists in the mortality domain, and has the objective of assisting doctors in their task of registering the occurred deaths, by means of the correct way of filling out the DO.

    Key-words: Death Certificate, Mortality Registries, Ontology, Information Systems.

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1 Etapas do desenvolvimento de uma ontologia e interdependncias. ....33

    FIGURA 2 Mtodo para criao de uma ontologia a partir de um DER. ................35

    FIGURA 3 Passos executados na coleta de dados da metodologia proposta ........51

    FIGURA 4 Conhecimento dos mdicos sobre os documentos de orientao para o

    preenchimento da DO ..............................................................................................56

    FIGURA 5 Principal dificuldade relatada por mdicos para preenchimento da DO.57

    FIGURA 6 Sintomas ou modos de morrer considerados pelos mdicos como causa

    bsica de morte........................................................................................................58

    FIGURA 7 Quem preenche os campos de identificao do falecido da DO ...........59

    FIGURA 8 Preenchimento do campo Exame Complementar da DO pelos mdicos 60

    FIGURA 9 Especialidades dos mdicos participantes ............................................61

    FIGURA 10 Faculdades onde os mdicos participantes se formaram....................62

    FIGURA 11 Local onde os mdicos receberam orientao sobre o preenchimento da

    DO............................................................................................................................63

    FIGURA 12 Problemas sentidos pelos mdicos ao preencher a DO ......................64

    FIGURA 13 Arquitetura de desenvolvimento da 1 etapa: ontologia preliminar ......69

    FIGURA 14 Hierarquia de classes da ontologia preliminar sobre mortalidade........74

    FIGURA 15 Hierarquia de classes da ontologia preliminar sobre mortalidade

    representando os relacionamentos is_a ou _um entre as classes criadas. ...........77

    FIGURA 16 Atributos (slots) definidos para a classe Causa Externa......................78

    FIGURA 17 Um exemplo de instncia criada para a classe Causa Natural............80

  • FIGURA 18 Um exemplo de instncia para a classe Causa Externa......................81

    FIGURA 19 Exemplo de consulta s instncias da classe Causa Externa .............82

    FIGURA 20 Arquitetura de desenvolvimento da 2 etapa: ontologia sobre o

    preenchimento da DO ..............................................................................................85

    FIGURA 21 Hierarquia de classes da ontologia sobre o preenchimento da DO .....90

    FIGURA 22 Propriedades definidas na ontologia sobre o preenchimento da DO...91

    FIGURA 23 Pgina principal de acesso ontologia sobre o preenchimento da DO95

    FIGURA 24 Pgina que apresenta o conceito Feto da ontologia de preenchimento

    da DO.......................................................................................................................97

    FIGURA 25 Esboo de uma pgina de busca aos conceitos da ontologia sobre

    mortalidade.............................................................................................................101

    FIGURA 26 Atual modelo do formulrio da Declarao de bitos........................107

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 Ontologias de aplicao na rea de sade............................................. 40 TABELA 2 Ontologias de aplicao em domnios diversos...................................... 42 TABELA 3 Termos da ontologia preliminar .............................................................. 73 TABELA 4 Termos da ontologia sobre o preenchimento da DO .............................. 89 TABELA 5 Restries da classe Causa Externa da ontologia preliminar............... 113

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome

    API - Application Programming Interface

    BO Boletim de Ocorrncia

    CENEPI Centro Nacional de Epidemiologia

    CFM - Conselho Federal de Medicina

    CGAIS - Coordenao Geral de Anlise de Informaes em Sade

    CID Classificao Internacional de Doenas

    COREME - Comisso de Residncia Mdica

    CRM Cadastro de Registro Mdico

    DER Diagrama de Entidade e Relacionamento

    DO Declarao de bitos

    DST Doenas Sexualmente Transmissveis

    FUNASA Fundao Nacional de Sade

    HEM Hospital Eduardo de Menezes

    HL7 Health Level 7

    HTML - HyperText Markup Language

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    HPV - Human Papiloma Virus

    IML Instituto Mdico Legal

    MS Ministrio da Sade

    OMS Organizao Mundial de Sade

    OWL Ontology Web Language

    POO Paradigma Orientado a Objeto

    RAMOS - Reproductive Age Mortality Survey

    RDF Resource Description Framework

    RDFS - Resource Description Framework Schema

    RIC Registro de Identificao Civil

    SES Secretaria do Estado da Sade

    SUS Sistema nico de Sade

    SMSA/PBH - Secretaria Municipal de Sade e Assistncia

  • SMSA/PBH-BH - Secretaria Municipal de Sade e Assistncia de Belo Horizonte

    SGBD Sistema Gerenciador de Banco de Dados

    SIDA Sndrome da Imuno Deficincia Adquirida

    SIM Sistema de Informao de Mortalidade

    SINAN Sistema de Informao de Agravos de Notificao

    SVO - Servios de Verificao de bitos

    TIC Tecnologia da Informao e Comunicao

    TI Tecnologia da Informao

    UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

    UMLS Unified Medical Language System

    XSLT - Extended StyleSheet Language Transformation

    W3C - World Wide Web Consortium

    WWW World Wide Web

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ...................................................................................................... 14

    2 ESTADO DA ARTE .............................................................................................. 19

    2.1 Sistema de Informao de Mortalidade: problemas e propostas ................ 19

    2.2 Definio de ontologia ..................................................................................... 25

    2.3 Caractersticas de uma ontologia ................................................................... 26

    2.4 Construo e avaliao da ontologia ............................................................. 30

    2.5 Ontologias pesquisadas .................................................................................. 38

    2.6 Trabalhos relacionados ................................................................................... 43

    3 JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 45

    4 METODOLOGIA ................................................................................................... 48

    4.1 Estudo exploratrio com mtodos de pesquisa qualitativa ......................... 49

    4.1.1 Tcnicas para coleta de dados........................................................................ 49

    4.1.2 Anlise e Discusso dos Resultados............................................................... 53

    4.1.2.1 O primeiro questionrio ................................................................................. 54

    4.1.2.2 O segundo questionrio ................................................................................ 55

    4.1.2.3 O terceiro questionrio .................................................................................. 61

    4.2 Construo da ontologia ................................................................................. 65

    4.2.1 Etapas de desenvolvimento da ontologia ........................................................ 68

    4.2.1.1 A primeira etapa: desenvolvimento da ontologia preliminar .......................... 68

    4.2.1.2 A segunda etapa: desenvolvimento da ontologia sobre o preenchimento da

    Declarao de bitos................................................................................................ 83

    4.2.2 Pgina de consulta a base de conhecimento da ontologia.............................. 94

    5 CONCLUSES E TRABALHOS FUTUROS ........................................................ 98

    REFERNCIAS....................................................................................................... 103

    ANEXOS ................................................................................................................. 107

  • 14

    1 INTRODUO

    A atual utilizao das Tecnologias da Informao e da Comunicao (TICs)

    nas organizaes, instituies corporativas e acadmicas, e claro, tambm no

    cotidiano de grande parte das pessoas tem conferido mudanas na forma de

    tratamento da informao.

    O papel desempenhado pelas TICs para organizao e representao do

    conhecimento compartilhado de suma importncia em qualquer domnio de

    aplicao, fornecendo o suporte adequado para o processo de gerenciamento das

    informaes.

    Neste trabalho, o domnio estudado a grande rea da sade, no que diz

    respeito aos dados publicados pelos rgos responsveis sobre o quadro de

    mortalidade da populao brasileira. Como em qualquer domnio especfico, mas

    talvez com uma importncia ainda mais elevada, o gerenciamento de informaes na

    rea de sade a engrenagem principal para o correto funcionamento de um

    sistema pblico abrangente, que deve suprir as necessidades da populao.

    Informaes confiveis nas mos dos gestores de sade representam

    importante ferramenta para subsidiar a tomada de deciso, j que, segundo Amaral

    (2003), permitem a apropriao do conhecimento sobre a realidade que se deseja

    intervir/ modificar, bem como sobre os problemas e fatores de risco que se deseja

    combater.

    O mesmo Amaral (2003) afirma que a divulgao e seleo dos indicadores

    como instrumento para acompanhamento da poltica de sade ainda incipiente e

    pontual no Brasil. O Sistema de Informaes sobre Mortalidade (SIM) um sistema

    de vigilncia epidemiolgica de abrangncia nacional, cujo objetivo captar dados

    sobre todos os bitos ocorridos no pas a fim de fornecer informaes sobre

    mortalidade para todas as instncias do sistema de sade e para toda a sociedade.

    A Base Nacional de Informaes sobre Mortalidade de acesso pblico. Os dados

    do SIM podem ser obtidos no s no Anurio de Estatsticas de Mortalidade, como

    em CD-ROM ou na internet (http://www.datasus.gov.br).

    As informaes sobre a mortalidade representam tradicionalmente uma

    importante fonte de dados para estudos epidemiolgicos, demogrficos e para o

  • 15

    planejamento em sade. Portanto, realizar um estudo para a avaliao dos dados de

    mortalidade no pas um campo de pesquisa extremamente amplo e importante, j

    que esses dados representam um importante subsdio para a maioria dos

    indicadores de sade e permitem traar o perfil epidemiolgico da populao

    brasileira.

    O presente trabalho tem por objetivo realizar uma avaliao qualitativa das

    informaes sobre mortalidade no Brasil, disponibilizadas pelo Sistema de

    Informao de Mortalidade (SIM) do Ministrio da Sade. O objeto de estudo para a

    avaliao qualitativa, proposta neste trabalho, o formulrio de Declarao de bito

    (DO) - instrumento utilizado para a coleta de dados do SIM e de uso obrigatrio em

    todo territrio nacional para emisso da Certido de bito pelos Cartrios.

    O SIM um sistema de informao criado e implantado pelo Ministrio da

    Sade no ano de 1975. Antes desse perodo, o registro de bitos no Brasil era feito

    apenas pelo IBGE. Atualmente, alguns trabalhos confrontam os dados de

    mortalidade produzidos pelo SIM e pelo IBGE. Contudo essa comparao apenas

    pode ser feita sob uma perspectiva quantitativa, j que os dados fornecidos pelo

    IBGE equivalem apenas ao nmero de indivduos que faleceram e seus respectivos

    nomes. Enquanto, o SIM produz esses dados e tambm as informaes de como

    esses indivduos faleceram, incluindo, por exemplo, as causas bsicas de morte.

    Outro ponto positivo a favor do SIM sua cobertura no territrio nacional, que

    segundo Carvalho (1997), citado em Queiroz (2002), dificilmente ser alcanvel

    por qualquer outro sistema que produza dados de mortalidade, principalmente

    devido a sua caracterstica compulsria e distribuio gratuita do formulrio da

    DO.

    Embora venha a cada ano aumentando sua abrangncia em todo pas, o SIM

    ainda enfrenta alguns obstculos e, o principal deles, a deficincia quanto ao

    preenchimento do seu instrumento de coleta de dados, que o formulrio da DO.

    Por esse motivo, o foco do estudo sobre os dados de mortalidade, proposto neste

    trabalho, est centrado na anlise do preenchimento da DO por parte dos mdicos,

    recuperando e validando os problemas identificados no processo de preenchimento

    deste formulrio.

    A literatura mostra que os trabalhos que esto sendo desenvolvidos para

    identificar as deficincias no processo de preenchimento da DO basicamente

  • 16

    concentram-se em anlises estatsticas, portanto quantitativas, sobre os dados

    produzidos pelo SIM, como, por exemplo: redistribuio das mortes por causa

    bsica, questionrios utilizando o mtodo RAMOS1 e outros mtodos de recuperao

    de informao nos locais de ocorrncia ou de registro dos bitos, como em

    estabelecimentos de sade, Institutos de Medicina Legal (IML), cartrios, domiclios

    dos indivduos falecidos, entre outros.

    Por outro lado, podemos encontrar, alguns trabalhos relacionados ao

    desenvolvimento de ontologias com o propsito de recuperar, organizar, padronizar e

    compartilhar informaes acerca de um domnio ou aplicao especfica ou ainda de

    um domnio mais genrico, todos utilizando abordagem qualitativa. Especificamente,

    no domnio relativo rea de sade, muitos trabalhos j foram e esto sendo

    desenvolvidos por pesquisadores sobre ontologias, empresas de TI e organizaes

    no governamentais, tais como a Fundao OpenEHR2 e a HL73. Alguns desses

    trabalhos j desenvolvidos e as ontologias construdas so recuperados na presente

    pesquisa e esto descritos na seo 4, como, por exemplo, uma ontologia para o

    domnio de Cardiologia (OLIVEIRA, 1999, citado em ALVES, 2003), que descreve os

    conceitos e seus relacionamentos sobre as subreas da Cardiologia. No entanto,

    no existe ainda uma ontologia de referncia para o domnio de Mortalidade.

    O trabalho aqui proposto utiliza-se das possveis contribuies de uma

    ontologia de aplicao - colaborao e informao, compartilhamento, padronizao,

    confiabilidade, entre outras - para representar o conhecimento sobre o domnio de

    mortalidade e, desta forma, auxiliar os mdicos em seu ato de preenchimento da DO,

    com o propsito de trazer qualidade s informaes declaradas neste formulrio e,

    consequentemente, ao SIM.

    Pode-se assim afirmar que o objetivo geral desta pesquisa realizar uma

    avaliao qualitativa do instrumento de coleta das informaes sobre mortalidade, a

    Declarao de bito (DO), disponibilizadas pelo Sistema de Informao de

    Mortalidade (SIM) do Ministrio da Sade. Faz parte da soluo aqui proposta, a

    1 Reproductive Age Mortality Survey 2 OpenEHR [pgina na internet] OpenEHR; [Acessado em 12 de setembro de 2009]. Disponvel em:

    http://www.openehr.org 3 HL7 [pgina na internet] [Acessado em 12 de setembro de 2009]. Disponvel em: http://www.hl7.org/

  • 17

    elaborao de uma ontologia de aplicao sobre o domnio de mortalidade,

    desenvolvida em conjunto com profissionais das reas de sade e epidemiologia do

    municpio de Belo Horizonte e, posteriormente, validada por outros profissionais

    dessas reas.

    Esta a principal contribuio sugerida por este trabalho de pesquisa, que

    pode assim auxiliar os gestores de sade, em sua atividade de tomada de deciso, a

    planejar melhores estratgias para cuidar da sade da populao brasileira.

    Como objetivos especficos, pretende-se:

    Identificar as principais dificuldades no processo de gerao de informaes

    sobre mortalidade no Brasil, por meio do estudo dos problemas encontrados

    para o preenchimento correto da DO.

    Analisar os identificadores dos campos e identificadores das opes de

    mltipla escolha desses campos no formulrio da DO, verificando se eles

    esto claramente definidos.

    Desenvolver uma ontologia de aplicao no domnio de mortalidade,

    especificando os conceitos e relacionamentos relevantes sobre as

    informaes necessrias para o correto preenchimento da DO por parte dos

    mdicos.

    Construir uma pgina web para apresentar a hierarquia de conceitos que

    representaro a forma de interao dos mdicos e epidemiologistas com os

    termos definidos na ontologia.

    Validar a ontologia sobre o domnio de mortalidade junto aos profissionais das

    reas de sade e epidemiologia, verificando as contribuies que ela poder

    trazer aos mdicos no ato de preenchimento da DO.

    Para alcanar esses objetivos foi realizado um estudo de caso sobre os

    problemas de preenchimento da DO e o desenvolvimento de uma ontologia de

    aplicao sobre o domnio de mortalidade; ambos com o apoio de profissionais das

    reas de sade e epidemiologia da Secretaria Municipal de Sade e Assistncia de

    Belo Horizonte (SMSA/PBH-BH), Minas Gerais, especialistas no contexto das

    informaes sobre mortalidade.

  • 18

    As tcnicas de coleta de dados que fundamentam este estudo so os grupos

    focais e as entrevistas realizadas com esses profissionais, assim como o acesso a

    documentos e registros referentes ao tema. O estudo de caso proposto serve como

    uma base para generalizao do estudo dos dados de mortalidade gerados em todo

    pas.

    Para a construo da ontologia de aplicao proposta sobre o domnio de

    mortalidade foi utilizada a ferramenta Protg 3.3.1 - disponvel para acesso no site

    da Universidade de Stanford, CA, USA e o Mtodo 101 ou metodologia de Noy e

    McGuinness (2000) para desenvolvimento de ontologias.

    Este trabalho est estruturado da seguinte maneira: na Seo 2

    apresentado o estado da arte, que contm trabalhos relacionados com anlise das

    informaes sobre mortalidade e outros que tratam sobre a utilizao de ontologias.

    A Seo 3 apresenta a justificativa para este trabalho, ressaltando a motivao e a

    importncia do tema. A metodologia utilizada, incluindo o mtodo de construo da

    ontologia proposta, est na Seo 4. Concluses e trabalhos futuros esto descritos

    na Seo 5.

  • 19

    2 ESTADO DA ARTE

    2.1 Sistema de Informao de Mortalidade: problemas e propostas

    Antes da criao do SIM, pelo Ministrio da Sade, no ano de 1975, os

    problemas de registros de bitos e sua divulgao eram ainda maiores do que os

    encontrados atualmente. Para termos uma noo desta situao passada, o Centro

    Nacional de Epidemiologia (CENEPI) divulgou informaes de que o Ministrio da

    Educao e Sade, no ano de 1944, publicou os dados de mortalidade por causa,

    restritos aos bitos registrados nas capitais brasileiras nos anos de 1929 e 1932, por

    meio do Anurio Bioestatstico. As informaes sobre mortalidade no Brasil vinham

    de iniciativas prprias de cada municpio, o que fez surgir mais de 40 tipos diferentes

    de atestados de bito. Foi com o surgimento do SIM, que um modelo nico de

    declarao de bito se tornou um documento-padro com abrangncia nacional.

    Desde a sua criao, o SIM vem aumentando sua abrangncia em todo o

    pas, mas ainda assim no conseguiu atingir uma boa condio de

    representatividade da realidade social, como constatado por Jorge et al. (2002):

    At hoje, entretanto, quando seus dados so confrontados com estimativas do IBGE, mostram-se de certa forma ainda incompletos. Estima-se que, em 1999, sua abrangncia para o pas como um todo foi de 82%, variando entre o mnimo de 60,8% para a Regio Nordeste e 95,3% para a Regio Sul.

    Como j mencionado, este cenrio de utilizao do SIM enfrenta problemas,

    principalmente, devido s deficincias no preenchimento do formulrio da DO, cuja

    responsabilidade do profissional mdico.

    O preenchimento incorreto da DO representa o maior dos obstculos para o

    funcionamento do processo de coleta de dados do SIM. As dificuldades relatadas

    pelos mdicos geram registros incorretos que se relacionam principalmente com a

    falta de informaes sobre o diagnstico do paciente, a presena de campos no

    formulrio da DO que no esto claramente definidos e a ausncia do pronturio do

    paciente.

    Somam-se a essas dificuldades problemas de aceitabilidade do SIM,

    decorrentes, talvez, do fato do mdico estar mal instrudo quanto importncia do

  • 20

    correto preenchimento de todos os campos da DO, ou, at, de sua negligncia ou

    descaso com tal incumbncia.

    Na seo 6 deste trabalho, que inclui a Metodologia adotada, feita uma

    descrio mais detalhada sobre os problemas relacionados ao preenchimento da

    DO, utilizando-se das informaes coletadas em entrevistas e questionrios com

    profissionais mdicos.

    Para demonstrar que h falhas no processo de instruo para o

    preenchimento da DO e na transio desse processo para a codificao dos dados

    que vo alimentar o SIM no preciso ir muito longe.

    Tanto o Manual de Procedimentos do Sistema de Informaes sobre

    Mortalidade quanto o Manual de Instrues para o Preenchimento da Declarao de

    bitos apenas foram elaborados no ano de 2001, tantos anos depois da

    implantao deste sistema oficial do Ministrio da Sade para coletar os dados sobre

    bitos em todo pas. Esses dois documentos encontram-se disponveis para

    download no site do Ministrio da Sade4.

    O motivo pelos quais esses dois documentos, essenciais ao funcionamento do

    SIM, somente terem sido publicados recentemente no definido pelos rgos

    responsveis por sua publicao. Sabe-se que eles representam uma importante

    fonte de consulta tanto para os mdicos, quanto para quem operacionaliza o SIM e

    tambm para a especializao no conhecimento do domnio sobre mortalidade no

    Brasil, como o caso desta pesquisa.

    O processo de alimentao do SIM feito pelas Secretarias Municipais de

    Sade que recebem a 1 via das DO preenchidas, as conferem, codificam e

    transferem as informaes nelas contidas. Depois de devidamente processados,

    revistos e corrigidos os dados coletados so consolidados em bases de dados

    estaduais, pelas Secretarias Estaduais de Sade. Essas bases so remetidas

    Coordenao Geral de Anlise de Informaes em Sade (CGAIS), que as

    consolida, constituindo uma base de dados de abrangncia nacional. Essa Base

    Nacional de Informaes sobre Mortalidade de acesso pblico e pode ser obtida

    4 Manual de Procedimentos do Sistema de Informaes sobre Mortalidade, disponvel em:

    portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/sis_mortalidade.pdf

    Manual de Instrues para o Preenchimento da Declarao de bitos, disponvel em:

    portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/declaracao_obitos%20.pdf

  • 21

    atravs do Anurio de Estatsticas de Mortalidade, disponvel em CD-ROM ou na

    Internet, atravs da pgina da FUNASA5.

    Mediante os trabalhos encontrados na literatura e atravs do estudo de caso

    realizado por esta pesquisa correto afirmar que o maior problema em todo esse

    processo est no momento do preenchimento, por parte do mdico, do documento

    padro que alimente o SIM, ou seja, a DO. Sendo assim, o foco deste trabalho,

    dentro do processo de gerao dos dados do SIM, o momento do preenchimento

    da DO, anterior fase de alimentao do SIM.

    As informaes sobre o preenchimento da DO, como o prprio nome indica

    esto disponveis no documento Manual de Instrues para o Preenchimento da

    Declarao de bitos, que foi usado neste trabalho como fonte de consulta para o

    conhecimento das regras sobre o preenchimento.

    Posteriormente criao e elaborao do Manual de Instrues para o

    Preenchimento da Declarao de bitos, o Ministrio da Sade, por intermdio do

    Secretrio de Vigilncia em Sade, o Conselho Federal de Medicina e o Centro

    Colaborador da OMS, elaboraram no ano de 2006 outro documento contendo

    informaes sobre o preenchimento da DO, conhecido, pelos mdicos, como

    Cartilha do CFM. Esse documento contm instrues sobre o preenchimento dos

    campos da DO e aborda tambm as responsabilidades e as condies em que ela

    deve ser emitida, numa tentativa dos rgos responsveis em melhorar a qualidade

    das informaes contidas na DO e, consequentemente, os dados gerados pelo SIM.

    Na Seo 6 feita uma anlise mais detalhada do uso da Cartilha do CFM e

    do Manual de Instrues para o Preenchimento da Declarao de bitos por parte

    dos mdicos, a partir dos dados coletados com os questionrios aplicados nas

    instituies de sade.

    A anlise dos problemas relacionados ao preenchimento da DO, foi feita por

    meio de estudo sobre as variveis ou os campos contidos no formulrio. Para tanto

    foram recuperados, na literatura, alguns trabalhos sobre esse tpico e aplicadas

    tcnicas de coleta de dados para verificar as percepes de mdicos quanto ao seu

    preenchimento.

    5 Base Nacional de Informaes sobre Mortalidade, disponvel em:

    http://www.funasa.gov.br/sis/sis00.htm

  • 22

    O formulrio da DO composto por nove blocos de variveis ou nove

    agrupamentos de campos em comum (BRASIL, 2001a):

    Bloco I Cartrio (informaes sobre o cartrio onde foi registrado o

    falecimento);

    Bloco II Identificao (informaes sobre a identidade do falecido);

    Bloco III Residncia (tambm faz parte do grupo de informaes sobre a

    identidade do falecido, mas foi desmembrado do bloco anterior por

    questes operacionais);

    Bloco IV Ocorrncia (informaes sobre o local fsico onde ocorreu o

    bito);

    Bloco V - bito fetal ou menor de um ano (informaes sobre a me nos

    casos de bito fetal ou bito menor de um ano);

    Bloco VI - Condies e causas do bito (informaes sobre as condies e

    causas que provocaram o bito);

    Bloco VII Mdico (informaes bsicas sobre o mdico que assina a

    DO);

    Bloco VIII - Causas externas (provveis circunstncias de morte no

    natural);

    Bloco IX - Localidade sem Mdico (bitos ocorridos em localidades onde

    no exista mdico).

    Com exceo do Bloco I, que deve ser preenchido exclusivamente pelo

    Cartrio de Registro Civil, todos os demais cabem ao mdico, que tem

    responsabilidade tica e jurdica pelo preenchimento e pela assinatura da DO, assim

    como pelas informaes registradas em todos os campos desse documento

    (BRASIL, 2006). Porm, ainda ocorrem situaes em que alguns campos so

    preenchidos por funcionrios administrativos das instituies de sade de acordo

    com os dados coletados por este trabalho.

    Todos os campos contidos na DO so de preenchimento obrigatrio de

    acordo com o tipo de bito ocorrido. Assim, por exemplo, se o bito ocorrido foi de

    uma criana menor de um ano, o bloco V (bito fetal ou menor de um ano) deve ser

    preenchido, assim como os blocos de I a VII. Neste exemplo, o bloco VIII ser

  • 23

    preenchido apenas no caso do bito ter sido por causas externas e o bloco IX nos

    casos em que a localidade onde ocorreu o bito no tenha mdico. No entanto, a

    prtica mostra que muitos campos de preenchimento obrigatrio do formulrio so

    omitidos pelos mdicos, como pode ser comprovado pela coleta de dados realizada

    por este trabalho.

    As estatsticas de mortalidade so muito importantes para um pas, j que a

    partir delas so criadas polticas de conscientizao para melhorias na qualidade de

    vida dos cidados e o aumento da expectativa de vida da populao. Um exemplo

    simples e real de poltica de conscientizao adotada aps a anlise das estatsticas

    de mortalidade a obrigao aplicada aos condutores de veculos automotivos em

    relao ao uso do cinto de segurana para evitar as mortes no trnsito. Apesar

    dessa importncia reconhecida, a declarao de bito, instrumento de coleta para

    os dados de mortalidade no Brasil, ainda vista pelo mdico apenas como uma

    exigncia legal para o sepultamento, sendo raras vezes encarada como fonte

    geradora de dados sobre a sade de uma populao, como afirma Niobey et al.

    (1990).

    De maneira geral, os mdicos no se sentem responsveis pelo

    preenchimento da parte menos nobre da DO, referente ao nome do falecido, sua

    profisso, idade, residncia; ficando para funcionrios administrativos - ainda menos

    comprometidos - a tarefa de completar as esses campos, como cita Niobey et al.

    (1990) em seu trabalho.

    Os mdicos preocupam-se apenas em preencher as informaes relativas s

    causas e condies do bito, que fazem parte do Bloco VI, mas ainda assim os

    dados registrados nesses campos apresentam problemas de preenchimento, como

    pode ser comprovado atravs de trabalhos publicados.

    Recorrendo literatura, podemos identificar os principais problemas sobre o

    preenchimento da DO. Alguns desses problemas principais foram utilizados, neste

    trabalho, como forma de avaliao da qualidade de preenchimento da DO, atravs

    de sua incluso em questes elaboradas para os questionrios propostos.

    Os problemas destacados na literatura sobre o preenchimento da DO e

    includos nos questionrios deste trabalho foram:

  • 24

    bitos enquadrados na situao de diagnsticos incompletos: so bitos

    cuja causa bsica6 de morte, declarada na DO, corresponde s

    conseqncias ou complicaes da real causa de morte. Segundo Jorge et

    al. (2002), com freqncia os mdicos declaram, na DO, a complicao e

    no a causa bsica, comprometendo assim a qualidade dos dados

    informados.

    bitos cuja causa bsica de morte a AIDS: h sub-enumerao desta

    classe de bitos nas estatsticas oficiais de mortalidade. Segundo Lemos e

    Valente (2001), os dados registrados sobre a ocorrncia da doena no

    representam o nmero real de casos existentes. Estima-se que apenas um

    quinto dos casos de AIDS ocorridos no mundo so notificados

    Organizao Mundial de Sade (OMS) (MANN et al., 1993), citado em

    Lemos e Valente (2001).

    Mortes por causas maternas: correspondem aos bitos de mulheres em

    idade frtil, de 10 a 49 anos, quando este bito ocorreu no momento da

    gravidez ou nos ltimos doze meses anteriores ao evento fatal (BRASIL,

    2001a). O preenchimento deste item na DO registra elevadas propores

    de ignorado - ausncia de informao - como demonstrou Laurenti et al.

    (2000).

    bitos por causa externa7 (ou morte no natural): as informaes desse

    tipo de bito devem ser registradas no Bloco VIII da DO, porm, segundo

    Ladeira e Guimares (1998), apesar de haver itens na DO,

    especificamente, criados para informar as circunstncias e caractersticas

    em que ocorreram os bitos por violncia, o que ocorre o no-

    preenchimento desses campos, j que os mdicos legistas alegam no

    ter como afirmar se aquele bito foi causado por este ou aquele

    mecanismo. Contudo, na maioria dos casos, um guia policial ou Boletim

    de Ocorrncia (B.O.), feito para o evento ocorrido, fornece informaes

    suficientes sobre a causa externa da morte.

    6 A doena ou leso que iniciou a cadeia de acontecimentos patolgicos que conduziram diretamente morte, ou as circunstncias do acidente ou violncia que produziram a leso fatal (BRASIL, 2001a). 7 bito por causa externa aquele que decorre de leso provocada por violncia (homicdio, suicdio, acidente ou morte suspeita) qualquer que tenho sido o tempo entre o evento lesivo e a morte propriamente (BRASIL, 2006).

  • 25

    2.2 Definio de ontologia

    Recorrendo ao dicionrio Aurlio encontramos a seguinte definio para a

    palavra ontologia: 1. s.f. Cincia do ser em geral. 2. Filos. Parte da metafsica que

    estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais.

    Segundo Almeida e Bax (2003), o termo tem origem no grego ontos, ser, e

    logos, palavra e, originalmente a palavra aristotlica categoria, que pode ser

    usada para classificar alguma coisa.

    A grande parte dos autores entende que a palavra ontologia grafada com o

    minsculo um conceito introduzido e utilizado em reas de Tecnologia da

    Informao (T.I.), tais como Inteligncia Artificial e Engenharia de Software, enquanto

    a palavra Ontologia grafada com O maisculo refere-se a uma disciplina da

    Filosofia. Guarino (1998) comenta sobre essa questo em seu artigo:

    O termo ontologia, em oposio a Ontologia, uma disciplina filosfica, pode se referir tanto a um sistema particular de categorias, independente de uma linguagem especfica, e que serve para descrever uma certa percepo do mundo, quanto pode denotar um artefato da Engenharia de Software constitudo por um vocabulrio especfico usado para descrever certa realidade, acompanhado de um conjunto de afirmaes explcitas dando sentidos pretendidos s palavras do vocabulrio (GUARINO, 1998).

    Desde que o termo foi incorporado pela Cincia da Computao, muitas

    definies podem ser encontradas para ontologia, no entanto, neste trabalho no se

    pretende entrar no mrito da discusso sobre a correta definio de ontologia, mas

    apenas apontar a definio para o termo aqui adotado.

    Por ser a definio mais comum em Cincia da Computao e adequada a

    esta pesquisa, a de Grubber (1993) foi escolhida como forma de conceituar

    ontologia. Segundo este autor, a idia de ontologia, no contexto da Inteligncia

    Artificial, a de especificao explcita e formal de uma conceitualizao

    compartilhada. Onde:

    Conceitualizao: refere-se a um modelo de fenmeno abstrato no mundo por

    ter identificado os conceitos relevantes daquele fenmeno;

    Explcito: significa que o tipo dos conceitos usados e as restries no seu uso

    so definidos explicitamente;

  • 26

    Formal: refere-se ao fato que a ontologia deve ser lida pela mquina;

    Compartilhado: ontologia deve capturar conhecimento consensual aceito

    pelas comunidades.

    2.3 Caractersticas de uma ontologia

    Uma ontologia, analisada como artefato computacional para representao do

    conhecimento, possui caractersticas prprias de acordo com o propsito para o qual

    ela foi construda. Neste tpico, sero apresentados os trabalhos de alguns

    pesquisadores que procuraram identificar as caractersticas das ontologias e

    classific-las em tipos distintos, de acordo com seu propsito.

    Primeiramente, quanto ao nvel de dependncia, uma ontologia pode ser

    classificada, de acordo com Guarino (1998) em:

    Ontologia de Alto Nvel: descreve conceitos gerais como espao, tempo,

    assunto, objeto, evento, ao, etc., os quais so independentes de um

    problema ou domnio especfico;

    Ontologia de Domnio/Tarefa: descreve o vocabulrio relacionado com o

    domnio genrico (exemplo: medicina), ou uma atividade genrica (exemplo:

    diagnstico), especializando os termos introduzidos na ontologia de alto nvel;

    Ontologia de Aplicao: descreve conceitos dependendo de um domnio e

    tarefa especficos, os quais so especializaes das ontologias relacionadas,

    tem como objetivo a parte prtica, a implementao.

    A ontologia proposta por este trabalho pode ser considerada uma ontologia de

    aplicao, pois descreve os conceitos relativos ao domnio de mortalidade,

    especificamente aqueles referentes ao preenchimento da DO, alm de ter por

    objetivo a parte prtica, j que busca auxiliar os mdicos a preencherem

    adequadamente as informaes contidas no formulrio da DO.

    Quanto ao grau de formalidade, uma ontologia pode tomar uma variedade de

    formas, mas necessariamente, deve incluir um conjunto de termos (vocabulrio) e

    alguma especificao de suas definies (significados). Segundo Uschold (1996) os

    tipos de ontologia existentes quanto formalidade so:

  • 27

    Altamente informal: expresso livremente em linguagem natural;

    Semi-formal: expresso de uma forma restrita e estruturada na linguagem

    natural. Maior clareza pela reduo da ambigidade;

    Formal: expressa numa linguagem artificial definida formalmente.

    A ontologia sobre o domnio de mortalidade pode ser classificada como semi-

    formal, j que a representao do conjunto de termos da ontologia foi feita de

    maneira estruturada com o uso das linguagens formais obtidas a partir da exportao

    da ferramenta Protg: a linguagem Ontology Web Language (OWL8) e a linguagem

    HyperText Markup Language (HTML). Apesar do uso de linguagens artificiais, a

    ontologia sobre o domnio de mortalidade no pode ser classificada como uma

    ontologia formal porque no foram especificados axiomas para ela.

    Para representao do conhecimento, uma ontologia utiliza-se de cinco

    elementos bsicos. Fazendo um resumo das definies encontradas na literatura,

    podemos definir da seguinte maneira estes elementos:

    Conceitos: so idias bsicas que se pretende formalizar. Em geral esto

    organizados em taxonomias, podendo ser classes de objetos, mtodos,

    planos, estratgias, processos, entre outros. Por exemplo, em uma ontologia

    sobre pases do mundo, pas um conceito.

    Relaes: representam relacionamentos semnticos entre os conceitos do

    domnio. Alguns exemplos tpicos so: _uma, instncia_de, subclasse_de e

    parte_de;

    Instncias: representam os exemplos ou elementos de um conceito. Por

    exemplo, na ontologia sobre pases, Brasil uma instncia do conceito pas.

    Axiomas: so regras declaradas sobre relaes que os elementos da

    ontologia devem cumprir, podendo-se inferir atravs deles novos

    conhecimentos. Um exemplo pode ser encontrado em Cunha (2006), sobre

    uma ontologia de seres vivos:

    o solteiro(x) = homem(x) casado(x)

    8 Padro do W3 Consortium; sintaxe disponvel na Internet em http:// www.w3c.org.

  • 28

    o carnvoro(x) = animal(x) come (y) y = 'carne'

    o herbvoro(x) = animal(x) come (y) y = 'vegetais'

    o animal(x) = carnvoro(x) herbvoro(x)

    Ainda com relao a estes elementos que compem uma ontologia, podemos

    classificar os tipos de informao presentes nela. Segundo Cunha (2006) temos

    basicamente trs de tipos de informao:

    Terminolgica: conjunto bsico de conceitos e relaes da ontologia,

    denominada de camada de definio da ontologia;

    Assertiva: conjunto de assertivas que se aplicam aos conceitos e relaes,

    denominada de camada de axiomas da ontologia;

    Pragmtica: corresponde camada de ferramentas, que contm um conjunto

    de informaes pragmticas que no se enquadram nem na informao

    terminolgica nem na informao assertiva. Por exemplo, informaes

    pragmticas podem ser as formas como os conceitos da ontologia devem

    estar expressos na tela, tais como uma Application Programming Interface

    API, construda para a ontologia e expressa na linguagem de definio de

    interface.

    A ontologia proposta neste trabalho contm todos os trs tipos de informao,

    segundo a classificao de Cunha (2006). Os conceitos e seus relacionamentos

    definidos, tais como: Mdico, bito, declarado_por, etc. fazem parte da informao

    terminolgica; as restries aplicadas aos conceitos, como, por exemplo, bito de

    Gestante refere-se ao bito sofrido por uma Pessoa do sexo feminino com idade

    entre 14 e 49 anos (idade frtil), constituem a informao assertiva; e, por fim, a

    informao pragmtica representada pelos dados produzidos sobre a ontologia,

    excluindo conceitos, relacionamentos e axiomas, a partir do software Protg,

    utilizado neste trabalho para desenvolver, editar e exportar a ontologia do formulrio

    da DO. Alguns desses dados, por exemplo, so os diagramas elaborados a partir

    dos conceitos e relaes, que modelam uma viso da ontologia construda.

  • 29

    Outra caracterstica de uma ontologia a linguagem usada para descrev-la.

    Existem vrias propostas de linguagens para descrever ontologias e a maioria delas

    baseada em clculo de predicados.

    A linguagem usada para descrever a ontologia um elemento importante

    dela, j que permite formalizar conceitos explcitos do modelo de domnio construdo.

    Segundo Antoniou e Van Harmelen (2004), citado em Medeiros Jr. (2006), uma

    linguagem para representao de ontologias deve atender aos seguintes requisitos:

    Possuir uma sintaxe bem definida;

    Possuir uma semntica formal;

    Possuir um suporte eficiente de raciocnio;

    Ser poderosa e suficientemente expressiva;

    Ter facilidade de expresso.

    Uma sintaxe bem definida uma caracterstica importante para a ontologia j

    que representa, segundo Medeiros Jr. (2006), uma condio necessria para que

    uma ontologia possa ser processada adequadamente.

    Possuir uma semntica formal uma grande vantagem de uma ontologia, j

    que ela, segundo Medeiros Jr.. (2006), descreve os significados do conhecimento

    de forma precisa, diferente de interpretaes subjetivas, e permite que se faam

    inferncias utilizando o conhecimento representado na ontologia.

    Em Almeida e Bax (2003) podemos encontrar uma descrio bastante ampla

    e abrangente sobre linguagens para a construo de ontologias, tais como: CycL2

    (Lenat e Guha, 1990), Frame Logic (Kifer, Lausen e Wu, 1995), Ontolngua

    (Chaudhri, 1998), XML e XML-Schema (W3C/XML2002, 2002), RDF e RDF-Schema

    (W3C, 2002), OIL5 e DAML + OIL6 (Horrocks, 2001) e, por fim, OWL (W3C, 2004),

    que foi baseada em XML e DAML+OIL.

    Este trabalho no tem por objetivo realizar uma discusso acerca destas

    linguagens para construo de ontologias, mas dentre as linguagens atualmente

    disponveis, utilizou-se daquelas padronizadas pela World Wide Web Consortium

    (W3C) e obtidas a partir da exportao do editor de ontologias Protg.

  • 30

    Inicialmente foi utilizada a linguagem OWL para descrever as classes, as

    propriedades, as restries e as instncias da ontologia proposta, de acordo com as

    possibilidades oferecidas por essa linguagem.

    J para a construo de pginas web para acesso aos termos definidos na

    ontologia foi utilizada a linguagem HTML, como forma de apresentar a hierarquia de

    conceitos da ontologia e permitir a navegao, atravs de hyperlinks, a esses

    conceitos e suas propriedades.

    2.4 Construo e avaliao da ontologia

    Existem vrias metodologias para construo de ontologias, da mesma forma

    que existe tambm uma srie de ferramentas que auxiliam neste processo de

    construo. Porm, no se conhece ainda uma metodologia nica e, suficientemente

    capaz, de construir de maneira correta a ontologia para o propsito em que ela se

    disps.

    Mesmo que no exista uma unanimidade a respeito do processo de

    construo de ontologias, alguns pressupostos so essenciais a qualquer

    metodologia proposta. Trs pressupostos so apresentados por Noy e McGuinness

    (2001):

    No existe uma maneira correta de modelar um domnio sempre existem

    alternativas viveis. A melhor soluo quase sempre depende da aplicao.

    O desenvolvimento de uma ontologia necessariamente um processo

    iterativo.

    Conceitos em uma ontologia deveriam ser prximos dos objetos (fsicos ou

    lgicos) e relacionamentos do domnio de interesse. Os conceitos, ento,

    deveriam ser provavelmente substantivos (objetos) ou verbos

    (relacionamentos) em sentenas que descrevem o domnio.

    Outro ponto de convergncia no discurso dos autores sobre o projeto de

    ontologias quanto aos princpios que uma ontologia deve seguir no seu processo

    de elaborao. Esses princpios tambm funcionam como critrios de avaliao aps

    ela ter sido construda. Segundo Gruber (1993) os princpios so:

  • 31

    Clareza e Objetividade: uma ontologia deve apresentar de forma clara e

    objetiva as definies do significado dos termos assim como uma

    documentao. Aconselha-se que uma definio deva ser declarada atravs

    de axiomas lgicos, com condies necessrias e suficientes, e que todas as

    definies devam ser documentadas em linguagem natural;

    Coerncia: uma ontologia deve ser coerente, isto , permitir inferncias que

    sejam consistentes com as definies. A coerncia deve atingir tambm os

    conceitos definidos informalmente, os quais devem ser expressos em

    linguagem natural e conter exemplos. Se um conceito for inferido, a partir de

    axiomas, contradizendo uma definio ou exemplo dado informalmente, ento

    a ontologia incoerente e dever ser revista;

    Extensibilidade: uma ontologia deve permitir que novos termos possam ser

    definidos para usos especiais baseados no vocabulrio existente, de maneira

    que no seja requerida a reviso das definies previamente existentes.

    Alm destes princpios citados por Gruber, existem outros trs essenciais,

    conforme menciona Gmez-Prez (1999), citado em Alves (2003):

    Completude: a definio expressa por uma condio necessria e suficiente

    preferida em relao a uma definio parcial, isto , a definio completa

    sobre uma incompleta;

    Implementao Mnima: a conceituao deve ser especificada no nvel do

    conhecimento, isto , sem depender de uma codificao particular no nvel

    simblico ou de codificao;

    Compromisso Ontolgico: uma ontologia deve requerer o compromisso

    ontolgico mnimo suficiente para dar suporte s atividades de

    compartilhamento de conhecimento desejadas. Com o objetivo de aumentar a

    reusabilidade, apenas o conhecimento essencial deve ser includo, tornando

    possvel a incluso de novos conceitos para especializar o assunto.

    Para que a ontologia proposta neste trabalho atingisse o objetivo esperado

    para ela, ou seja, o de permitir a avaliao qualitativa e melhorias no preenchimento

  • 32

    do formulrio da DO, sua construo foi fundamentada nos princpios anteriormente

    apresentados.

    Com o intuito de garantir a clareza, objetividade e coerncia das definies

    propostas nesta ontologia foram realizados o levantamento e a especificao de

    requisitos sobre os dados de mortalidade junto aos profissionais da rea de sade e

    epidemiologia da SMSA/PBH/PBH, por meio de tcnicas de coleta de dados, como

    entrevistas e grupos focais, conforme descrito na seo Metodologia deste trabalho.

    A execuo desta tarefa foi realizada em etapas e acompanhada de

    documentao dos dados coletados, o que permitiu tambm adicionar novos termos

    a ontologia quando necessrio, garantindo, assim, outro princpio fundamental, a

    extensibilidade.

    O levantamento inicial das necessidades e a validao do modelo proposto,

    permitiram a completude e o compromisso ontolgico necessrios a uma ontologia

    bem definida. Como as definies propostas foram especificadas sem dependncia

    de linguagens de codificao, modelos de dados, ambientes operacionais, etc., na

    ontologia de aplicao sobre o domnio de mortalidade garantida o princpio

    implementao mnima, bem como a possibilidade de reuso da mesma em outros

    projetos.

    Baseados nos princpios fundamentais, mencionados anteriormente, para

    uma ontologia, diversos autores propuseram metodologias para sua construo.

    Abaixo so listadas algumas das mais conhecidas:

    Metodologia de Uschold e Martin (1995): Skeletal Methodology;

    Metodologia de Grninger e Fox (1995): TOVE (Toronto Virtual Enterprise);

    Metodologia de Fernndez, Gmez-Prez (1997): Methontology;

    Metodologia de Falbo (1998);

    Metodologia de Noy e McGuinness (2000): adequada ao uso do Protg.

    Em Almeida e Bax (2003) podem ser encontradas outras metodologias e mais

    detalhes sobre as citadas neste trabalho. Com relao metodologia que ser

    adotada para a construo da ontologia de aplicao para o formulrio DO optou-se

    pela Metodologia de Noy e McGuinness, cujos detalhes esto descritos na seo

    Metodologia deste trabalho.

  • 33

    Mesmo com algumas diferenas entre a seqncia de passos adotada pelas

    metodologias apresentadas, de uma maneira geral, todas incluem as seguintes

    tarefas:

    Identificao dos objetivos e escopo da ontologia;

    Criao da ontologia, passando pelas fases de captura, codificao e

    integrao com ontologias existentes;

    Avaliao;

    Documentao.

    Essas tarefas podem ser identificadas abaixo, numa figura adaptada da

    Metodologia de Falbo de 1998 (uma das primeiras metodologias para a construo

    de ontologias):

    FIGURA 1 - Etapas do desenvolvimento de uma ontologia e suas interdependncias.

    Adaptado de FALBO, 1998.

    Para avaliao da ontologia elaborada existe tambm uma srie de trabalhos

    que, em geral, concordam sobre algumas questes essenciais para uma ontologia:

    Estar adequada ao propsito e aplicao que se pretende para ela;

    Atender aos critrios (Gruber, 1993) e princpios essenciais, j mencionados:

    clareza e objetividade, coerncia, extensibilidade, completude, implementao

    mnima e compromisso ontolgico;

    Possuir um conjunto de axiomas que seja necessrio e suficiente;

  • 34

    Ser capaz de responder s questes informais de competncia, segundo

    Gruninger e Fox (1995), citado em Alves (2003);

    Por fim, vale a pena ressaltar que esta fase de avaliao deve ser realizada

    paralelamente ao processo de construo da ontologia.

    Mesmo com o surgimento de diversas metodologias, acompanhadas de

    ferramentas de apoio, o processo de desenvolvimento de ontologias na rea de

    Tecnologia de Informao ainda esbarra em algumas dificuldades, tais como a falta

    de uma nica metodologia padro, complexidade para o entendimento das atuais

    metodologias e outros fatores. Sobre esta constatao, Caliari (2007) afirma que:

    Na literatura, h metodologias com abordagens e caractersticas diversas, as quais

    foram desenvolvidas com diferentes objetivos e para aplicaes distintas, muitas

    vezes o modo de construo prescrito de difcil compreenso para os profissionais

    de TI.

    Caliari (2007) reafirma essa condio para o desenvolvimento de ontologias,

    quando diz que a maior parte das metodologias so destinadas a pessoas com um

    bom nvel de conhecimento terico em ontologias, o que leva os profissionais de TI

    a investir boa parte do seu tempo para compreenso da metodologia e o formalismo

    de sua representao.

    Diante desta situao, alguns pesquisadores, como o prprio Caliari (2007),

    propuseram mtodos auxiliares que visam orientar a subjetividade no processo de

    construo da ontologia e utilizar conceitos mais prximos realidade do

    desenvolvedor, como, por exemplo, o Diagrama de Entidade e Relacionamento

    (DER), Teoria dos Grafos e tcnicas de recuperao de informao.

    Caliari (2007) props um mtodo para criao de ontologias de domnio e

    aplicao, denominado de DERONTO, que recebe como entrada um DER criado

    pelo usurio (desenvolvedor da ontologia) e, a partir dele, gera o modelo ontolgico.

    De acordo com o autor, este mtodo possui seis passos, que so apresentados na

    figura 2.

  • 35

    FIGURA 2 - Mtodo para criao de uma ontologia a partir de um DER. Adaptado de CALIARI, 2007.

    Passo 1: consiste em desenvolver um DER a partir de um enunciado ou uma

    lista de perguntas fornecidas ao projetista pelo usurio.

    Passo 2: o DER reescrito excluindo relaes e entidades complexas, tais

    como, atributos compostos e multivalorados e relaes associativas. Este

    passo foi criado para possibilitar a automatizao dos passos que o seguem.

    Passo 3: inicia-se a construo da ontologia, sendo definida a hierarquia de

    conceitos.

    Passo 4: as propriedades so definidas a partir dos relacionamentos e

    atributos do DER.

    Passo 5, os axiomas de definio total ou parcial dos conceitos so

    estabelecidos a partir da cardinalidade das relaes.

    Passo 6: o projetista verifica e modifica a ontologia definida.

    Outro mtodo auxiliar para o processo de criao de ontologias foi proposto

    por Alves (2003), que utiliza tcnicas de recuperao de informao para obteno

  • 36

    da ontologia e chamado de EVOLUI, porque trabalha atravs de ciclos evolutivos,

    onde os resultados do ciclo anterior so usados para a consecuo de novos

    resultados. Este mtodo consiste em sugerir palavras candidatas a conceitos,

    identificando relaes binrias entre essas palavras e, a partir destas relaes,

    sugerir axiomas para a futura ontologia. Os axiomas sugeridos esto representados

    na linguagem web OWL.

    J Alencar e Zrate (2007) propuseram o mtodo Sphere-M, que busca

    orientar a tarefa de captura de uma ontologia de aplicao, atravs de passos,

    regras e mtricas baseadas em um algoritmo implementado para realizar a busca em

    profundidade em um grafo. Os conceitos e relacionamentos da ontologia esto

    modelados neste grafo.

    O mtodo Sphere-M estabelece as seguintes etapas para o processo de

    construo da ontologia:

    Definir um conjunto inicial de elementos relativos ao domnio abordado,

    seguidos da gerao da indexao numrica desses elementos;

    Agrupar os elementos definidos entre os trs conjuntos-chave do mtodo:

    Teto (elementos mais gerais que descrevem o assunto abordado), Piso

    (grande massa de elementos que constitui o domnio estudado e que devem

    ser analisados em conjunto com os outros elementos) e Entes Relevantes

    (elementos estrategicamente escolhidos para orientar a maneira como os

    conjuntos Piso e Teto iro se relacionar);

    Obter as relaes ontolgicas entre os elementos dos conjuntos-chave e gerar

    novos atributos sobre o domnio estudado.

    Sobre a ltima etapa o autor explica:

    um processo iterativo e interativo, que consiste em representar o domnio estudado como um grafo de vrtices numerosos, utilizando os ndices numricos dos elementos para identific-los e relacion-los, obtendo, ao fim do processo, um grafo com todos os vrtices ou elementos conectados. Quando todos os elementos forem conectados a densidade da esfera ser igual 1.0 e a produtividade da mesma um valor obtido de acordo com a eficincia da iterao. (ALENCAR e ZRATE, 2007).

  • 37

    Por fim, o mtodo Sphere-M tem sido utilizado em um trabalho de pesquisa

    para anlise do formulrio SINAN, sobre os dados de Tuberculose, conhecido como

    Valedouro Projeto para a Sade Pblica no Vale do Jequitinhonha; anlise de

    dados epidemiolgicos para tuberculose atravs de Data Mining. Esse trabalho

    similar ao proposto por este estudo.

    Todas essas metodologias de desenvolvimento de ontologias citadas,

    serviram de referencial terico para a construo de uma ontologia de aplicao

    sobre o domnio de mortalidade. Mas de fato a metodologia usada neste trabalho foi

    a de Noy e McGuinness (2000), tambm conhecida como Mtodo 101, que est

    descrita em detalhes na seo 6.

    Ao adotar a metodologia de Noy e McGuinness (2000) ou Mtodo 101, este

    trabalho cumpre as etapas para o desenvolvimento de uma ontologia segundo a

    metodologia de Falbo (1998), passando pela fase de identificao e especificao de

    requisitos, captura e formalizao da ontologia, integrao com ontologias j

    existentes e, por fim, avaliao e documentao. Falbo foi um dos primeiros autores

    a descrever essas etapas de construo, que esto incorporadas, com pequenas

    diferenas, nas demais metodologias de desenvolvimento, entre elas a de Noy e

    McGuinness (2000).

    O mtodo DERONTO, proposto por Caliari (2007), foi utilizado no para o

    desenvolvimento da ontologia em si, mas como uma base terica para diferenciar os

    elementos de uma modelagem a partir de um DER sobre o domnio da mortalidade,

    dos conceitos e relacionamentos definidos em uma ontologia para o mesmo domnio

    da mortalidade.

    J o mtodo Sphere-M, proposto por Alencar e Zrate (2007), colabora com

    este trabalho para a construo da ontologia, no momento de definio dos

    elementos relativos ao domnio de mortalidade. A definio dos conjuntos-chave,

    segundos os autores dos mtodos em Teto, Piso e Entes Relevantes, auxilia nos

    passos trs (enumerar termos importantes) e quatro (definir classes e hierarquia) da

    metodologia de construo de Noy e McGuinness (2000). Dividir os elementos

    relativos ao domnio de mortalidade nesses trs conjuntos ajuda a considerar qual

    elemento ir se transformar em um conceito ou relao da ontologia, sua importncia

    e sua hierarquia ou posio em relao aos demais conceitos definidos.

  • 38

    2.5 Ontologias pesquisadas

    Para a construo da ontologia de aplicao no domnio de mortalidade foram

    estudados alguns trabalhos que desenvolveram ontologias, especialmente aquelas

    aplicadas em domnios especficos da rea de sade.

    A reviso de literatura feita demonstra o quanto essa tcnica de

    representao do conhecimento vem sendo amplamente utilizada em vrios

    domnios da rea de sade. Segundo Manica et al. [2008?], as ontologias tem sido

    utilizadas na rea de sade para auxiliar na troca de informaes clnicas entre

    sistemas e o desenvolvimento de novas aplicaes como pronturio eletrnico do

    paciente, segunda opinio diagnstica, sistemas de suporte a deciso diagnsticas.

    Ao correlacionar a ontologia proposta sobre mortalidade com as ontologias at

    ento desenvolvidas, o propsito principal o desenvolvimento de uma ontologia

    que possa percorrer o mesmo caminho de experincias j bem sucedidas com o uso

    desta tcnica, proporcionando, assim, resultados positivos no domnio onde

    aplicada, ou seja, o de mortalidade.

    A Tabela 1 relaciona as ontologias de aplicao para domnios especficos da

    rea de sade que serviram de referncia para o desenvolvimento da ontologia

    sobre o domnio de mortalidade. Esta tabela contm o nome dado ontologia

    construda, que, de maneira geral, serve para identificar qual rea da sade ela

    aplicvel, a metodologia utilizada para sua construo e uma breve descrio do que

    a ontologia.

    Ontologia Metodologia Ferramenta

    de edio

    Descrio

    Ontologia de

    referncia para

    o domnio da

    Cardiologia.

    EVOLUI

    (ALVES,

    2003)

    No

    especificada

    Define os conceitos, sub-classes e instncias

    em cada uma das sub-teorias do domnio

    Cardiologia: Patologia, Anatomia do Corao,

    Diagnstico, Terapia, Avaliao Clnica e

    Exames Complementares.

    (OLIVEIRA, 1999, citado em ALVES, 2003).

    Ontologia para

    Sistemas de

    Emergncia:

    SAMU e Corpo

    Mtodo 101

    Protg Ontologia para facilitar o reuso e uma provvel

    integrao futura entre os sistemas de

    emergncia e hospitais, clnicas e aplicaes de

    pronturio eletrnico. Pode ser usada no

  • 39

    de Bombeiros. desenvolvimento de sistemas baseados em

    conhecimento para resolver problemas e

    auxiliar na tomada de deciso.

    (MANICA et al., [2008?])

    Ontologia

    referente s

    Doenas

    Sexualmente

    Transmissveis

    (DST)

    Methontology

    Protg Ontologia para gerenciar o conhecimento

    referente a Acquired Immunodeficiency

    Syndrome (AIDS), Human Papiloma Virus

    (HPV), Sfilis, Sfilis Congnita, Gonorria,

    Herpes Genital, Linfogranuloma Venreo e

    Tricomonase. (FARIAS et al., [2003?])

    Ontologia

    SODOnt

    Mtodo 101

    Protg Define um vocabulrio comum para mdicos e

    um conjunto de dados com suas estruturas para

    softwares que precisam compartilhar

    informaes de segunda opinio diagnstica9.

    (PIRES et al., [2006?])

    Ontologia para

    o Atendimento

    Emergencial de

    Pacientes

    OntoKen10

    Protg Ontologia para troca de informaes

    emergenciais (atendimento de urgncia) de

    pacientes entre sistemas de informao

    hospitalar, que engloba um vocbulo comum

    entre sistemas heterogneos para o

    compartilhamento de informaes relevantes

    sobre o atendimento emergencial de pacientes.

    (LOPES et al., [2007?])

    Ontologia de

    conceitos em

    sade do

    modelo de

    referncia

    OpenEHR

    No

    especificada

    No

    especificada

    Descreve o contedo clnico a partir de uma

    ontologia de conceitos em sade, organizada

    nas seguintes categorias:

    Documentos clnicos (ex: sumrios de alta);

    Histria, exame fsico, evoluo;

    Registro de dados mensurveis (ex: peso, presso arterial, etc.);

    Registro de avaliaes clnicas;

    Registro do workflow (ex: prescrio mdica, solicitao de exames);

    Registro de atividades clnicas (ex: administrao de medicamentos).

    9 Segunda opinio diagnstica ou mdica constitui um parecer de um outro mdico, alm do mdico assistente, com o objetivo de auxiliar quanto melhor conduta diagnstica e s melhores opes de tratamento no caso clnico apresentado pelo paciente. 10 Ontologies for Knowledge Engineering and Management

  • 40

    (NEIRA et al., [2008?])

    Ontologia do

    Carto Nacional

    de Sade

    No

    especificada

    No

    especificada

    Representa os conceitos e relacionamentos

    definidos pelo padro de troca de mensagens

    do Sistema do Carto Nacional de Sade.

    Engloba dados como os do atendimento do

    paciente, tipos de alta mdica, entre outros.

    (http://www.tridedalo.com.br/2003/07/cns)

    (NARDON e MOURA JR., 2003)

    TABELA 1 - Ontologias de aplicao na rea de sade.

    Analisando os dados da Tabela 1 possvel identificar grandes similaridades

    e equivalncias com a ontologia de aplicao sobre o domnio de mortalidade,

    proposta neste trabalho. Primeiramente, o fato de que as ontologias construdas

    introduzem melhorias nos processos de recuperao da informao, seja no domnio

    da mortalidade, no domnio das emergncias, no domnio das Doenas Sexualmente

    Transmissveis (DST), etc. Isso ocorre porque o conhecimento acerca desses

    domnios poder ser interpretado por computadores.

    As ontologias apresentadas permitem ainda um entendimento comum entre

    profissionais de sade e sistemas computacionais sobre os conceitos e relaes do

    domnio tratado, alm de possibilitar o reuso do conhecimento representado em

    pesquisas futuras. Um exemplo de pesquisa, que pode ser citado no caso da

    ontologia sobre o domnio de mortalidade, a de um mdico que pode consultar as

    causas bsicas de morte de um paciente que so equivalentes quelas que ele deve

    informar na declarao de bito a ser feita. Sem dvida, a ontologia estar auxiliando

    o mdico em sua atividade de registrar o bito, o que pode acontecer tambm com

    um profissional de sade que atende a uma emergncia, caso ele consulte uma

    ontologia para sistemas de emergncia, como a desenvolvida por Manica et al.,

    [2008?].

    Outra semelhana identificada a fase de especializao no conhecimento

    sobre o domnio tratado, realizada atravs de consulta legislao e aos

    documentos sobre o domnio representado, alm de dados coletados em pesquisa

    de campo.

    Em todas as ontologias apresentadas a base de conhecimento gerada e

    representada ainda encontra-se em fase de evoluo dos conceitos e relaes do

    domnio, como os prprios pesquisadores afirmam em seus trabalhos. Isso acontece

  • 41

    tambm com a ontologia sobre o domnio de mortalidade, j que seu

    desenvolvimento faz parte de um ciclo evolutivo e a tendncia sempre da incluso

    de um maior nmero de informaes ontologia, tornando-a mais completa.

    Estabelecendo uma comparao das metodologias utilizadas podemos

    perceber que no existe uma metodologia padro para o desenvolvimento de

    ontologias na rea de sade e sim uma diversidade delas. No entanto, pode-se

    perceber a utilizao recorrente do editor de ontologias Protg para manipular as

    classes (conceitos) e seus relacionamentos, bem como as restries ou

    propriedades dos termos definidos. No presente trabalho foi adotado o Protg como

    editor de ontologias e o Mtodo 101 (ou metodologia de Noy e McGuinness) como

    metodologia de desenvolvimento.

    Outras ontologias de aplicao em domnios especficos, no relacionados

    rea de sade, tambm foram explorados como referncia para o desenvolvimento

    da ontologia de aplicao sobre o domnio de mortalidade. Embora no estejam

    relacionadas com a rea de sade, essas ontologias de aplicao auxiliaram no

    processo de definio dos termos e tambm na forma de apresentao e acesso a

    base de conhecimento da ontologia.

    A Tabela 2 apresenta a relao dessas ontologias pesquisadas.

    Ontologia Metodologia Ferramenta

    de edio

    Descrio

    Ontologia para

    Publicao Cientfica

    Mtodo 101

    Protg Ontologia para a recuperao de artigos

    cientficos on-line, baseado na Norma de

    Referncias NBR6023, para definio dos

    termos essenciais, utilizados no processo

    de busca e recuperao de um artigo on-

    line.

    (ELUAN e FACHIN, 2007)

    Ontologia de domnio

    para Aprendizagem

    Cooperativa

    No

    especificada

    Processo de

    construo

    manual

    Descreve o conhecimento sobre os

    elementos essenciais que devem ser

    considerados na aprendizagem

    cooperativa, envolvendo pessoas,

    atividades, recursos e produtos, bem como

    as relaes entre estes elementos.

    (GAVA e MENEZES, 2003)

  • 42

    ONTOTUR: modelo

    de domnio e

    usurios da rea

    Turstica

    Tcnica

    GRAMO11

    ONTODUM12 Construda atravs da aplicao da

    GRAMO, uma tcnica baseada em

    Ontologias para a Anlise de Domnio e

    Usurios, e da utilizao da ferramenta

    ONTODUM. (FARIA et. al., 2004)

    Ontologia de

    Competncias

    Profissionais em TI.

    Metodologia

    de Falbo

    Processo de

    construo

    manual

    Formada por elementos essenciais das

    organizaes de TI: Competncia

    Profissional (habilidades, conhecimentos,

    atitude e valor), Posto de Trabalho (cargo

    ou funo) e Indivduo. (LEO, et al., 2004)

    Ontologia

    representativa da

    memria

    organizacional13 da

    CEMIG

    Metodologia

    prpria

    Protg Ontologia desenvolvida para representar a

    memria de uma organizao real CEMIG

    , possibilitando a criao e a manuteno

    de uma linguagem organizacional uniforme.

    (ALMEIDA, 2006)

    TABELA 2 - Ontologias de aplicao em domnios diversos.

    Sobre os dados contidos na Tabela 2 importante destacar que o trabalho de

    Almeida (2006) inclui, alm da ontologia representativa da memria organizacional

    da empresa CEMIG, um prottipo de um aplicativo para busca de conceitos, relaes

    e atributos da ontologia, utilizado por funcionrios desta organizao.

    O prottipo implementado por Almeida (2006) utilizou a linguagem Extended

    StyleSheet Language Transformation (XSLT) para implementao das pginas e um

    arquivo Resource Description Framework Schema (RDFS), obtido atravs de

    exportao do Protg, contendo os termos definidos na ontologia. As

    funcionalidades desse prottipo incluem: uma tela de navegao e pesquisa, que

    possibilita a busca por conceitos e por relaes ligadas a um conceito e uma viso

    hiperblica dos conceitos, que permite ao usurio visualizar a estrutura como um

    todo e entender o contexto de um conceito durante as buscas.

    11 GRAMO uma tcnica baseada em ontologias para a Anlise de Domnio e Usurios na Engenharia de Domnio Multiagente. (FARIA et. al., 2004). 12 ONTODUM uma meta-ontologia usada para representar o conhecimento da tcnica GRAMO (FARIA et. al., 2004). 13 O termo memria organizacional tem sido utilizado, por diversos autores, como uma metfora para explicar fenmenos verificados no ciclo de vida das organizaes. (ALMEIDA, 2006)

  • 43

    A referncia a esse prottipo foi importante para o presente trabalho, j que

    ajudou a alimentar a idia para a construo de pginas na web de acesso base

    de conhecimento da ontologia sobre o domnio de mortalidade.

    2.6 Trabalhos relacionados

    Alm das ontologias pesquisadas neste trabalho importante tambm

    ressaltar que outros artefatos computacionais vm sendo amplamente utilizados para

    representar, integrar e compartilhar as informaes produzidas por diferentes

    domnios da rea de sade, como o caso dos modelos de referncia de

    informaes em sade e projetos de unificao de terminologias em sade,

    utilizando tesaurus14 e redes semnticas.

    Um modelo de informao uma especificao estruturada de informaes

    de um domnio. Define as classes de informao, incluindo atributos,

    relacionamentos, restries e estados, sendo assim, essenciais para garantir a

    interoperabilidade semntica. Segundo Neira et al. [2008?], os principais modelos de

    referncia de informaes em sade atualmente utilizados, so o padro HL7,

    verso trs, e o modelo de arqutipos15 da Fundao OpenEHR.

    Com relao aos projetos de unificao de terminologias em sade, utilizando

    tesaurus e redes semnticas, destaca-se o UMLS (Unified Medical Language

    System). Como cita Manica et al. [2008?], o UMLS conecta um vocabulrio

    biomdico de diversas fontes (terminologia clnica, fontes sobre drogas, etc.) em

    diversas lnguas e pode ser considerada uma das mais completas codificaes em

    relao s terminologias de sade.

    Como afirma Pisanelli (1998), citado em Manica et al. [2008?], o UMLS

    composto basicamente por trs principais bases de conhecimento: um

    metathesaurus com informao semntica sobre os conceitos, seus termos e suas

    relaes; uma rede semntica de categorias genricas s quais os termos do

    14 Vocabulrio controlado onde os termos no esto organizados em ordem alfabtica, mas relacionados semanticamente em ordem hierrquica cobrindo um domnio especfico. 15 Expresso computvel de um conceito em nvel de domnio na forma de declaraes de restries estruturadas, baseada em algum modelo de informao de referncia (ABNT ISO/TR20514), citado em Neira et al. [2008?].

  • 44

    metathesaurus so atribudos; e um lxico especializado que contm informao

    sinttica sobre termos biomdicos.

    Por fim, vale a pena ressaltar outra experincia realizada para representao

    do conhecimento na rea de sade realizada por Nardon e Moura Jr. (2003), que

    combina as informaes representadas por uma ontologia e um Sistema de Banco

    de Dados Dedutivos16 para processar essas informaes.

    O trabalho proposto por Nardon e Moura Jr. (2003) consiste na utilizao de

    tecnologias propostas para a construo da Web Semntica, especialmente o

    padro Resource Description Framework (RDF), combinadas com uma linguagem de

    consulta baseada em sistemas de bancos de dados dedutivos para permitir o

    compartilhamento de bases de conhecimento e a resoluo de consultas

    complexas, utilizando ontologias construdas sobre um domnio especfico.

    Para a execuo do seu trabalho, Nardon e Moura Jr. (2003) utilizaram

    relacionamentos presentes na rede semntica UMLS, em termos de

    relacionamentos RDF17, para serem utilizados pelo mecanismo de inferncia do

    sistema TRI-DEDALO (um banco de dados dedutivo) para inferir conhecimento

    adicional. Assim, eles construram uma ontologia para representar informaes

    clnicas do paciente a partir da rede semntica UMLS. Quando essa ontologia

    construda estiver completamente testada e aprovada at o presente momento

    desta pesquisa isso no havia ocorrido , ela servir de base para implantao

    nacional do pronturio eletrnico do paciente e poder gerar conhecimento para a

    ontologia sobre o domnio de mortalidade.

    16 Sistemas capazes de fornecer todos os servios de um SGBD tradicional e que permite, adicionalmente, a deduo de novas informaes a partir daquelas explicitamente inseridas no Banco de Dados (CERI et al., 1990), citado em Nardon e Moura Jr., 2003. 17 RDF um padro criado para modelar meta-dados sobre recursos disponveis na Web, tanto uma pgina da Web, quanto qualquer outro documento (NARDON e MOURA JR., 2003).

  • 45

    3 JUSTIFICATIVA

    A verificao da veracidade e confiabilidade da informao um processo

    crescente em todos os nveis da rea de sade, desde os responsveis pela gerao

    dos dados at aqueles que a utilizam para decises e aes que objetivam a

    melhoria do estado da sade da populao.

    O uso eficiente e adequado dos dados produzidos pelo SIM permite aos

    gestores de sade desenvolver e, ao mesmo tempo, avaliar os programas de

    planejamento de aes na rea, j que esse sistema de informao do Ministrio da

    Sade representa a principal fonte de informaes sobre o quadro de mortalidade no

    Brasil. No entanto, para que os resultados benficos na sade de populao

    brasileira possam ser alcanados, uma primeira medida que os dados produzidos

    por esse sistema possam ser confiveis e reflitam a real situao do quadro de

    mortalidade no pas.

    Como j foi mencionado, o cenrio atual de abrangncia e utilizao do SIM

    mostra que ele ainda no conseguiu atingir uma boa condio de representatividade

    da realidade social, apesar dos esforos empreendidos pelos rgos governamentais

    responsveis. Esse fato se deve principalmente as deficincias no preenchimento do

    instrumento de coleta de dados do SIM, ou seja, o formulrio da DO

    Apesar do inegvel valor que as estatsticas de mortalidade representam para

    um pas, permitindo a obteno de informaes epidemiolgicas e de um quadro

    representativo do estado de sade de sua populao, infelizmente, grande parte dos

    mdicos, responsveis pelas declaraes na DO, ainda no percebem a importncia

    dessas informaes e encaram o preenchimento do formulrio como mera exigncia

    legal.

    A estratgia adotada neste trabalho a de utilizar mtodos qualitativos, na

    anlise de preenchimento do formulrio da DO, fundamentados pela construo de

    uma ontologia de aplicao com o auxlio de profissionais das reas de sade e

    epidemiologia, diferenciando-se, desta forma, de outros estudos que adotam

    metodologias quantitativas.

    A construo de uma ontologia de aplicao para o domnio de mortalidade

    torna possvel um tipo de anlise do atual modelo do formulrio capaz de orientar a

    subjetividade do pesquisador neste processo.

  • 46

    Alm deste ganho, as propriedades intrnsecas de uma ontologia

    corretamente elaborada e relevante ao domnio em que se aplica, podem ser citadas

    como contribuies importantes deste trabalho de pesquisa. Tais propriedades, que

    se traduzem em vantagens significativas, so mencionadas por vrios

    pesquisadores.

    Uschold e Gruninger (1996) afirmam que as ontologias contribuem para a

    reduo de confuso conceitual e terminolgica, proporcionando um entendimento

    compartilhado. Este entendimento refere-se :

    Comunicao e Colaborao entre pessoas com diferentes necessidades e

    pontos de vista, devido aos diferentes contextos em que se encontram;

    Interoperabilidade entre sistemas, obtida atravs da traduo de informaes

    entre diferentes mtodos de modelagem, paradigmas, linguagens e

    ferramentas de software;

    Informao: podem ser usadas como fonte de consulta e de referncia do

    domnio;

    Reusabilidade da representao do conhecimento compartilhado, com

    benefcios para a engenharia de sistemas, em particular;

    Confiabilidade gerada pela possibilidade de automatizar a checagem de

    consistncia de uma representao formal;

    Especificao e Modelagem: o conhecimento compartilhado pode ajudar na

    identificao de requisitos e na definio da especificao de um sistema.

    Essas vantagens puderam ser obtidas com a ontologia de aplicao sobre o

    domnio de mortalidade, cumprindo alguns passos importantes, tais como:

    A aplicao de tcnicas de entrevistas e grupo focal envolvendo pessoas com

    diferentes pontos de vista e interesse, contribuiu para o compartilhamento do

    conhecimento sobre o domnio das informaes sobre mortalidade, contando

    com a comunicao e colaborao destas pessoas envolvidas;

    A especificao do conhecimento sobre mortalidade, obtida pela construo

    da ontologia possibilita que ela seja usada como fonte de informao neste

    domnio, sirva de base para futuras especificaes e modelagens de sistemas

  • 47

    sobre este tema, assim como possa ser reutilizada nos processos de

    engenharia de software;

    O mapeamento do conhecimento sobre mortalidade atravs de uma ontologia,

    garante simultaneamente a interoperabilidade, uma vez que no h

    dependncia de linguagens, mtodos de modelagem, software, etc., e

    tambm a confiabilidade, j que as informaes coletadas nas entrevistas so

    representadas formalmente.

    Em Alves (2003), so citados outros autores que tambm destacaram

    algumas das possibilidades trazidas por uma ontologia construda para um domnio

    especfico. So elas:

    Extrair e recuperar informaes (WELTY, 1998);

    Melhorar o projeto de sistemas baseados em conhecimento ou sistemas

    comuns, pois a definio de ontologias melhora as especificaes,

    confiabilidade e reutilizao de sistemas computadorizados (OLIVEIRA,

    1999);

    Representar o conhecimento humano na Web Semntica (LEE et. al, 2001a);

    Reusar e organizar o conhecimento sobre um determinado problema ou

    domnio (GRNINGER e LEE, 2002).

    Como forma de resumir o pensamento destes autores e trazer essas idias

    para o estudo de caso tratado nesta pesquisa, pode-se dizer que a ontologia de

    aplicao construda sobre mortalidade pretende ser uma base de conhecimento

    sobre este domnio, que seja compartilhvel, reutilizvel, interopervel e acessvel

    para as pessoas diretamente interessadas neste tema, especialmente os mdicos

    declarantes da DO, mas tambm outros profissionais das reas de sade e de

    epidemiologia, gestores em sade e profissionais da rea de TI, estes ltimos com

    interesse na utilizao de ontologias como recurso de representao e modelagem

    do conhecimento de domnios especficos.

    Quanto maior a interatividade e colaborao das pessoas em torno desta

    base de conhecimento sobre mortalidade, maiores sero os benefcios para uma

    padronizao de conceitos sobre as informaes de relativas ao registro de bitos

    dos indivduos.

  • 48

    4 METODOLOGIA

    Esta seo tem por objetivo apresentar a metodologia adotada neste trabalho.

    Basicamente ela pode ser dividida em duas partes:

    1. Estudo exploratrio com mtodos de pesquisa qualitativa como abordagem

    principal para a validao e anlise dos problemas relacionados ao

    preenchimento da DO, as tcnicas de coleta de dados e os resultados obtidos.

    2. O desenvolvimento de uma ontologia sobre o domnio de mortalidade,

    desenvolvida em duas etapas: a 1 etapa, denominada de ontologia preliminar

    e a 2 etapa, definida como ontologia sobre o preenchimento da DO.

    O conjunto de informaes obtido aps a etapa qualitativa criou as condies

    necessrias para o desenvolvimento da ontologia sobre mortalidade, assim como

    sua validao e a evoluo.

    Conforme mencionado anteriormente, a seo 4 est dividida em duas partes:

    a subseo 4.1, que descreve o estudo exploratrio com mtodos de pesquisa

    qualitativa e a subseo 4.2, sobre a construo da ontologia.

    A subseo 4.1 tambm dividida em duas partes: a subseo 4.1.1, que

    contm as tcnicas de coleta de dados utilizadas e a subseo 4.1.2, que descreve a

    anlise e dis