Opera Malandro

Embed Size (px)

Citation preview

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

Carnavais e Malandros: os heris Leitura da adaptao flmica pera do Malandro de Ruy GuerraSandra Luna (UFPB)1 Harlon Homem de Lacerda Sousa (UFPB)2

Resumo:O Carnaval e o Malandro so os heris do filme de Ruy Guerra pera do Malandro adaptado da pea homnima de Chico Buarque. O filme produzido com o governo francs no ano 1985 assimila os principais temas do texto teatral: a temtica histrica assumida num teor alegrico e um ponto de vista universalizante das relaes econmico-sociais do capitalismo tardio a partir da periferia de um pas perifrico. O termo universalizante deve-se concepo aristotlica de Poesia diante da funo particular da Histria. Na linguagem cinematogrfica, o diretor moambicano retrabalha a imagem do malandro j posta na comdia buarquiana. Ao dispor o carnaval como uma soluo deus ex machina para a recolocao do malandro no mundo da (des)ordem, Ruy Guerra nos oferece um paralelo de compreenso desta representao de um tipo brasileiro compreendido, tambm, a partir da tese de Roberto DaMatta em Carnavais, Malandros e Heris.

Palavras-chave: Malandro; Chico Buarque; Ruy Guerra; Teatro; Adaptao Flmica Um subrbio carioca repleto de malandragem, prostituio e corrupo, no incio dos anos quarenta do sculo vinte serve de tema para a ltima pea escrita por Chico Buarque de Holanda: pera do Malandro (1978). Sete anos mais tarde, em 1985, Ruy Guerra dirige uma adaptao flmica dessa pera, retomando uma parceria que comeara em 1973 com a pea Calabar: o elogio da traio. Produzido num momento de abertura poltica, mas com a ao pautada num perodo ditatorial (a ditadura estado-novista de Getlio Vargas), o filme traz, entre canes e coreografias, um ponto de vista que nos conduz uma reflexo crtica sobre um sistema opressor, calcado em relaes esprias na busca por lucro. A pea de Chico Buarque foi baseada na pera dos Mendigos de John Gay (1728) e na pera dos Trs Vintns de Bertolt Brecht e Kurt Weill (1928). Dadas suas influncias, ressaltamos o carter pico que acompanha a dramaturgia buarquiana desde sua estria com Roda-viva (1968) e que se reimprime na pera do Malandro. A esttica brechtiana, sustentada em uma postura polticoideolgica marxista, oferece ferramentas que apontam para uma possibilidade de pensamento e manifestao artstica contrrios ao sistema opressor imposto de maneira contundente no Brasil entre 1964 e 1980. Ser contrrio ao regime militar ser a marca principal de Chico Buarque assim como da maioria dos artistas da poca na sua obra musical, ficcional e dramtica. Tal oposio revela-se principalmente na linguagem pardica, alegrica, irnica e/ou satrica de sua produo artstica3. Nesta pera v-se reunidos elementos que estabelecem, a priori, possibilidades de anlise prximas: a concepo brechtiana de construo dramtica; a temtica histrica assumida num nvel, tambm, alegrico; um ponto de vista universalizante das relaes econmico-sociais do capitalismo tardio a partir da periferia de um pas perifrico.1

Sandra LUNA, Professora Doutora (Orientadora) Universidade Federal da Paraba. [email protected] 2 Harlon SOUSA, Mestrando Universidade Federal da Paraba. [email protected] 3 Para uma melhor anlise da linguagem e obra de Chico Buarque ver: MENESES, Adlia Bezerra de. Desenho mgico: poesia e poltica em Chico Buarque. 3. ed. Cotia: Ateli Editorial, 2002.

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

Dividida em dois atos, a verso teatral da pera do Malandro, traz ainda uma introduo, dois prlogos (1 e 2 atos), um eplogo e um eplogo do eplogo. A linguagem metateatral sugerida na introduo (tambm na cena 07 e no intermezzo, no final do segundo ato) assegura, em termos brechtianos4, o efeito de distanciamento e ainda sugere um estado de permanncia do tipo de relaes sociais mantidas entre as personagens, tambm, entre os atores. Na introduo temos a figura do produtor que apresenta o autor da pea, Joo Alegre, e a presidente da Associao Morada da Me Solteira, que receber, num gesto beneficente do autor, a bilheteria do espetculo, Dona Vitria Fernandes Duran que representaria ela mesma na trama. No intermezzo, as personagens, agora como atores, interrompem a pea e iniciam uma discusso sobre o final da trama, que deveria ser um happy end, mas transforma-se num ato poltico contra a corrupo e explorao do proletariado. Numa diviso entre estrelas e figurantes, a discusso encerrada com a cooptao do autor pelo produtor (que d um carro a Joo Alegre) e o final ensaiado realizado. Os prlogos e o eplogo do eplogo so protagonizados pelo autor da pera do Malandro. Joo Alegre batuca uma caixinha de fsforos sozinho no palco. A trs canes executadas por ele manifestam uma relao direta com a estrutura da pea que est para comear. Na primeira cano, as relaes comerciais em diversas esferas so apresentadas a partir do consumidor final (o malandro) que no paga pelo produto consumido (cachaa) e ocasiona um efeito em cadeia desestruturando a engrenagem do capitalismo at o ltimo grau (os Ianques), mas que, ciclicamente, retorna para o malandro, que autuado e condenado culpado pela situao. No segundo prlogo, no incio do segundo ato, Alegre canta Homenagem ao Malandro que figura uma generalizao da malandragem. O malandro o poltico, o burgus, etc. J o malandro legtimo no existe mais parece que at trabalha, mora l longe e chacoalha num trem da central, ou seja, o malandro vira povo. No eplogo do eplogo, o malandro, provavelmente aquele que foi preso na primeira cano ou o que chacoalha num trem da central, um defunto encontrado em estado de putrefao, como indigente. Aqui se pode ler a descartabilidade (substituibilidade?5) do malandro (povo!) para o sistema, que no necessita dele para que as engrenagens funcionem ou, antes, precisa da ausncia do malandro para seu funcionamento. O conflito6 principal da pea, na ao imanente, o envolvimento de Teresinha Fernandes Duran com Max Overseas. a partir do embate entre dois mundos diversos que se desenrolam os conflitos menores. Esse embate, percebido como alegoria, garante o que chamamos no incio deste texto de ponto de vista universalizante das relaes econmico-sociais do capitalismo tardio na periferia de um pas perifrico. O pequeno artigo de Lus Werneck Vianna, O americanismo: da pirataria

4

Sobre a esttica brechtiana cf. JAMESON, Fredric. O Mtodo Brecht. Traduo: Maria Silvia Betti. Reviso Tcnica: In Camargo Costa. Petrpolis: Vozes, 1999. 5 No captulo primeiro da Dialtica do Esclarecimento dedicado discusso do conceito de esclarecimento, ADORNO & HORKHEIMER definem a substituibilidade: As medidas tomadas por Ulisses quando seu navio se aproxima das Sereias pressagiam alegoricamente a dialtica do esclarecimento. Assim como a substituibilidade a medida da dominao e o mais poderoso aquele que pode se fazer substituir na maioria das funes, assim tambm a substituibilidade o veculo do progresso e, ao mesmo tempo, da regresso. (2006; p. 40) [grifo nosso] Deste excerto compreendemos que a substituibilidade garante a falta de necessidade da participao do malandro no processo de funcionamento do sistema capitalista. J que o mais poderoso pode se fazer substituir na maioria das funes. 6 O termo conflito usado aqui tal como em Hegel: [...] o agir dramtico no se limita simples execuo tranqila de uma finalidade determinada, e sim repousa pura e simplesmente sobre circunstncias, paixes e caracteres colidentes e, desse modo, conduz a aes e reaes que, por seu lado, tornam novamente necessrio um acordo da luta e da ciso. O que vemos, por isso, diante de ns, so os fins individualizados nos caracteres vivos e nas situaes ricas de conflito, fins que se mostram e se afirmam, intervm e se determinam mutuamente [...] HEGEL, G.W.F. Cursos de Esttica: Poesia. Traduo: Marco Aurlio Werle, Oliver Tolle. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2004. p. 201 (Clssicos 26).

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

modernizao autoritria (e o que se pode seguir) 7, constante na edio da pea, serve como apoio para essa leitura. A partir do que se colocou como conflito principal podem-se estabelecer dois planos de viso dos conflitos da pea: no mundo de Teresinha: tradio, famlia e propriedade (qualquer relao com a TFP 8 , no mera coincidncia); no mundo de Max: contrabando, corrupo e libertinagem. Estes dois planos, inicialmente opostos, aproximam-se e acabam por fundir-se, no entanto, um novo conflito se estabelece. As personagens Duran, Vitria e Teresinha demarcam um universo representante das relaes burguesas. Pai, me e filha (respectivamente) apresentam uma famlia tradicional, com razes europias, que se mantm a margem da sociedade elitista por conta dos negcios no-convencionais do chefe da famlia. Duran, alm de agiota, administra vrios prostbulos na Lapa e supre sua famlia com os lucros da explorao das prostitutas que agencia, mantm e, at, prepara para o trabalho. Max e seus scios, comparsas, so os malandros tpicos do subrbio carioca do incio do sculo XX. O contrabando de produtos importados dos Estados Unidos (e, aqui inclumos at o nome adotado por Sebastio Pinto Max Overseas) e a distribuio desses produtos pelos comparsas preservam a vida libertina levada pelo Malandro com as prostitutas. Dois elos entre esses planos so de importante valia para a trama da pea: o delegado Chaves corrompido (e se deixa corromper) por Max, seu velho amigo, e por Duran; as prostitutas funcionrias de Duran tm grande apreo pelas qualidades de Max. Uma outra personagem que poderia ser vista como um elo, mas que prefervel coloc-la como um duplo, transitando livre entre os dois planos, Genival a Geni pois ela conta com a confiana de Duran e de Max. No desfecho da ao, os dois planos convergem. Teresinha, smbolo do esprito do capital burgus, demite os comparsas do marido e transforma o esquema de contraveno de Max numa empresa de importaes com mo-de-obra assalariada. O trabalho de Max, pautado na longa amizade com os demais, realizado de forma artesanal, entra nos tempos do progresso, da industrializao. Teresinha convence o pai de que seu trabalho est fadado ao esquecimento e runa. O discurso do progresso empreendido pela filha faz com que Duran (que no falava com a filha, numa separao simblica entre o velho e o novo tipo de explorao do trabalho) e Vitria ceda e realizado novo casamento entre Max Overseas e Teresinha Duran, desta feita na Igreja (outra instituio burguesa). importante ainda salientar que quando h a invaso das prostitutas de Duran e dos comparsas de Max (que so igualados, como patres) para realizar uma passeata contra a corrupo e explorao do trabalho, o delegado Chaves se esconde. Entende-se que o representante do poder opressor do Estado (lembre-se, ditatorial) sucumbe ao poder do povo. A pea pera do Malandro conta com um manancial interpretativo que compreenderia um extenso trabalho analtico9. Como, neste ensaio, pretende-se analisar a adaptao flmica realizada por Ruy Guerra, faz-se necessrio olvidar alguns elementos importantes na compreenso da pea como, por exemplo, as canes (Folhetim, Viver do amor, pera, Sempre em frente, Se eu fosse teu patro, etc). importante destacar que, mesmo fora da pea, essas msicas apresentam significado. De acordo com o pensamento brechtiano10, ao qual coligamos este texto de Chico Buarque, a msica a mais valiosa7 8

In: BUARQUE, Chico. pera do Malandro. So Paulo: crculo do livro, 1978. pp. 5-15. A Sociedade Brasileira de Defesa da Tradio, Famlia e Propriedade. Fundada em 1960 pelo jornalista Plnio Correa de Oliveira, esta organizao opera em nome dos ideais burgueses e contra qualquer forma de pensamento que sugira a inverso da ordem patriarcal e mercantilista. Mais no site: www.tfp.org.br 9 Para uma anlise mais pormenorizada da pea, ver: RABELO, Adriano de Paula. O teatro de Chico Buarque. So Paulo, Departamento de Letras Clssicas e vernculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP (Dissertao de Mestrado), 1998. pp. 157-205 10 BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro. Trad.: Fiama Paes Brando. 2 ed. 2 imp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

contribuio para o tema pois a msica facilita a compreenso do texto, interpreta o texto, pressupe o texto, assume uma posio, revela um comportamento. (BRECHT; 2005, p.32). Entretanto, algumas das canes da pea foram reaproveitadas no filme, assim como foram compostas outras exclusivamente para a adaptao. Ruy Alexandre Guerra Coelho Pereira, moambicano, participa do cenrio cultural brasileiro de diversas formas (compositor, dramaturgo, ficcionista), junto com Glauber Rocha, destaca-se na arte cinematogrfica quando da difuso do movimento conhecido por Cinema Novo 11 . Produzido em parceria com o governo francs, o filme pera do Malandro, j na sua composio, estabelece um parmetro de crtica estrutural que acompanha o tom irnico e alegrico da pea. O enredo que critica a dominao cultural e econmica norte-americana concebido num musical aos moldes da Broadway. Esta uma primeira diferena do filme em relao pea, esta uma pera, aquele um musical popular (na pea temos uma pera cantada em tom srio e elevado, mesmo com temtica esdrxula. No filme a cano pera foi retirada e mantidas apenas as canes como os sambas, boleros, tango e etc. todos ritmos populares12). O filme pera do Malandro assegura, desde o incio, uma caracterstica que vai marcar a relao de proximidade com a pea: a metalinguagem. A primeira cena exibe o trecho de um filme em que dois homens disputam a ateno de uma mulher, situao anloga a que ser estabelecida durante o musical. A entrada de Max Overseas numa sala de projeo e o dilogo entre ele e o projetor Porfrio apresentam dois momentos que caracterizam a metalinguagem. Na entrada da sala um cartaz divulga o filme que ser exibido, Scarface13, e durante o dilogo as duas personagens citam atores e situaes que estabelecem uma conexo direta com a ao da adaptao. Por ltimo, numa cena em que Max deixa a sala de cinema aps assistir a um filme14, Porfrio o segue e pergunta ao malandro: Afinal, o filme um happy end ou no?. A metalinguagem, neste filme, sempre oferece uma analogia e traz recursos ricos de compreenso do enredo. A iluminao um recurso tcnico que o diretor explora de maneira interessante e, assim, permite construir um parmetro de relao com a ao. Todas as cenas so iluminadas de forma que a penumbra, a sombra, a noite predominam, exceto na seqncia do jogo de futebol quando Max e Ludmila se encontram. Estas cenas acontecem durante o dia. Logo depois o foco do diretor leva-nos a um simblico pr-do-sol na cena em que o casal se estabelece e os mundos de Max e Ludmila unem-se: a claridade diuturna do progresso com a penumbra do mundo da malandragem. A diviso polarizada que se estabeleceu para anlise da pea relevante na adaptao na medida em que h o conflito entre dois mundos. No entanto, diferente do texto teatral, o filme constri o conflito central entre Otto Struedel, que corresponde ao Duran do texto buarquiano, e Max Overseas. Na pea, o casamento de Teresinha e Max j acontece no primeiro ato. Na adaptao, Max ir11

O cinema novo descreveu, poetizou, discursou, exercitou os temas da fome: personagens comendo terra, personagens comendo razes, personagens roubando para comer, personagens matando para comer, personagens feios, sujos, descarnados, morando em casas sujas, feias, escuras. (ROCHA, Glauber. Esttica da Fome. APUD MARTINS, Ana Lcia Lucas. Joaquim Pedro de Andrade, Macunama e a Indstria Cultural. www.ifcs.ufrj.br/~nusc/achegas.pdf. acesso em: 21 de fevereiro de 2008. 12 Para uma leitura das canes da pea cf. GOUVEIA, Arturo. A malandragem estrutural. In: FERNANDES, Rinaldo de. (org.). Chico Buarque do Brasil. Rio de Janeiro: Garamond; Fundao Biblioteca Nacional, 2004. pp. 187-205. 13 Filme de gangsters filmado em 1932, dirigido por Howard Hawks. Refilmado em 1983, assinado por Brian de Palma (Fonte: www.imdb.com. acesso em: 03 de maro de 2008). A associao com esse filme sugerida, alm da temtica, tanto pela data de sua primeira filmagem (que remete a um perodo prximo ao do enredo) como pela segunda filmagem (dois anos antes da pera do Manlandro). 14 Max Oversas, ao invs de um filme, parece estar assistindo performance de Margot (Elba Ramalho) que canta Palavra de Mulher na rua, tal impresso mantida pelo jogo de edio feito no filme.

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

aproximar-se de Ludmila para vingar-se do senhor Struedel, que demite de seu cabaret a prostituta que sustentava o malandro, Margot. Este conflito tambm ser abordado no nvel contextual da adaptao, ou seja, a ao flmica se passa durante a segunda guerra mundial, entre dezembro de 1941 e agosto de 1942. Otto Struedel nazista (inclusive, caracterizado como Hitler) entra em conflito com Max entusiasta da democracia e liberdade norte-americanas. O cenrio da guerra representado no filme: de um lado, os nazi-fascistas; de outro, os aliados. Uma seqncia no incio da adaptao marcante para evidenciar esta discusso: uma negociao entre Max e marinheiros norte-americanos interrompida pelos gritos vindos do navio: Pearl Harbor, Japanese. Logo depois Max, seu bando e os marinheiros comemoram a entrada dos Estados Unidos na guerra dentro do Cabaret de Hamburgo, de propriedade do Sr. Struedel. L, Max ensaia um discurso em louvao aos ianques, que interrompido pela insatisfao de integralistas, o que desencadeia uma briga generalizada e a destruio do Cabaret. Ao saber da destruio de sua propriedade e do motivo que a causou, o Sr. Struedel, no seu escritrio decorado com um enorme retrato de Adolf Hitler, pede ao delegado Tigro (Ney Latorraca) que acabe com Max. Entendida a polarizao da ao flmica que vai demarcar seus conflitos, assim como na pea, partimos para colocar os conflitos que se formam em cada um dos mundos, mas que se vinculam ao conflito principal e, ainda, ao mesmo ponto de vista universalizante das relaes econmico-sociais do capitalismo tardio a partir da periferia de um pas perifrico. Esse ponto de vista ser o principal fator que resguarda a proximidade entre a pea e sua adaptao flmica. No mundo de Max Overseas, destacamos cenas e seqncias que revelam a insero do capitalismo como idia de progresso no Brasil da dcada de 40 do sculo vinte, alm de sua compreenso alegrica, uma vez que uma idia de progresso semelhante (no entanto, mais predatria) ocorre nas dcadas de 70 e 80. A seqncia emblemtica, neste sentido, o desafio entre Max e o, simblico, Stiro do Bilhar (Wilson Grey). Num bar, dois bandos de malandros se encontram. De lados opostos, os grupos observam uma mesa de bilhar posta no centro do cenrio. Os dois malandros iniciam uma partida de sinuca e cantam Desafio do Malandro enquanto seus comparsas danam em coreografia. A cano essencial para a compreenso da seqncia e de sua relao com a ao. Em forma de dilogo, a cano iniciada pelo Stiro do Bilhar. O desafio marca o novo e o velho malandro, e pode ser lido como a disputa entre os dois tipos na qual apenas um poder permanecer. As estrofes cantadas pelo Stiro funcionam como elemento de caracterizao de Max Overseas (o j conhecido, Sebastio Pinto) ou do novo tipo de malandro. De primeira trazemos dois versos iniciais, respectivamente: S sei que voc vem com five o'clock, very well, my friend, S sei que voc vem com reco-reco, berimbau, farofa (grifos nossos). Os dois versos so estruturalmente iguais, assim como as estrofes em que esto inseridos. Os destaques demonstram a obviedade da relao de oposio entre o novo e o velho. A linguagem marca dessa distncia: de um lado o novo com as importaes norte-americanas e a dominao imperialista (inicialmente inglesa como marca a referncia hora do ch) iniciada pela expresso atravs do idioma estrangeiro (j percebida na mudana dos nomes de Max e de seus comparsas); do outro lado o velho malandro com a expresso calcada em regionalismos da lngua portuguesa (brasileira). Na quarta estrofe: Voc infelizmente continua igual / fala bonito e passa fome (grifo nosso), Max faz referncia novamente linguagem do velho malandro e, dessa vez, a sua condio social. Dois outros temas que vo marcar a contenda so o amor e o trabalho. colocada na cano a forma de relacionar-se com as mulheres (e de aproveitar-se), sendo inclusive sustentado por elas. Quanto ao trabalho, a alcunha de trabalhador ou de constituir famlia (virar av) recebido como uma ofensa grave. Quando estes temas se configuram na economia da cano, a disputa acirrada at

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

que a me alvo das ofensas. Este o ponto alto da briga seguindo-se o momento de desfecho. O uso da navalha, arma tpica do malandro, rejeitado, para que a batalha seja decidida na mesa de bilhar (fundo de caapa). importante perceber a sugesto de expulso do territrio mais sutil sumir da Lapa. No filme h outra seqncia de encontro entre os dois malandros. Max, dessa vez com a navalha, diz para Stiro que seu tipo de malandragem no mais aceito na Lapa. Se ele quiser continuar a proceder da velha maneira melhor que compre um berro [arma] e suba o morro. O momento alto do desafio dos malandros est na cena posterior execuo da cano. Max, derrotado, deve pagar a aposta (cem mil ris). Ele tenta pagar com um isqueiro importado. Stiro pega o isqueiro, coloca perto do ouvido e tenta batucar o objeto. No ouvindo nenhum som, o malandro diz: mas isso no d samba. A relao entre o novo e o velho agora simbolizada na oposio entre o isqueiro (importado, moderno) e a caixa de fsforos (local, tradicional). Esta d samba. Ao pegar o isqueiro de volta, Max, ensaia um batuque com o instrumento. Esse ato caracteriza o jeitinho brasileiro de adaptar-se a e adaptar situaes. O mundo do senhor Otto Struedel seu escritrio. Apenas em trs cenas ele sai de sua casa: quando vai estao, para buscar sua filha. Aqui se v uma diferena entre Duran (da pea) e Otto (do filme), o do texto no fala com sua filha Teresinha. J Otto tem Ludmila como sua princesa; quando vai delegacia pressionar o delegado Tigro para matar Max e resgatar sua filha; e, na Igreja, no casamento de Max e Ludmila. Essa quase imobilidade de cenrio, dessa personagem, reforada pela fala de sua esposa Victria Struedel (Maria Slvia), semelhante a da pea: Ele faz o trabalho intelectual. Um momento interessante da caracterizao de Otto a seqncia em que Fichinha (Andria Dantas) enviada a sua casa pelo delegado para se tornar uma de suas funcionrias. Aps a execuo da cano Viver do Amor pelas prostitutas (que antes tinham reclamado da situao de trabalho) ele realiza um discurso carregado por um acento alemo, enquanto a cmera abre o ngulo em zoom out15 e, de um superclose16 no seu rosto, fecha em plano mdio 17 mostrando-o no escritrio e abaixo do retrato de Hitler:Milagre, Vitria, Milagre! Mas, est perfeita... vai, vai, vai... bota ela pra trabalhar. [Solene:] Recolher essas retirantes, botar dente nelas, ensinar higiene, a arte! Dar emprego [...]. Em troca recebe o qu?! Ingratidon! Agora se vocs pensam que sou um explorador, que o patron sempre uma canalha, que o luta de classes o salvaon da ploretariado... muito bem! Os portas do rua esto abertas! (sic)

Este efeito de cmera sai de uma narrao cerrada num indivduo e sobe em crescendo para uma relao alegrica com Hitler e o nazismo. O discurso social-democrata, alm de se aproximar, ideologicamente, do nazismo 18 , aproxima-se do populismo (que aliamos estratgia de governo getulista). A idia de ame-o ou deixe-o tambm est presente neste discurso. Este excerto funciona como um catalisador de idias totalitrias, a saber: a social-democracia alem, o populismo getulista e a ditadura militar do ps-64. Outros dois momentos vo ser interessantes para o mundo do cafeto germnico: o encontro com o delegado e a discusso com Ludmila.

15

Zoom out o movimento de afastamento da cmera em relao ao objeto filmado. LUNA, Sandra e MARTINS, Shirley. Categorizao para estudos sobre planificao. Joo Pessoa, 2007. 16 Superclose a distncia entre cmera e objeto filmado que enquadra um recorte da face humana, eliminando parte da testa e do queixo Idem. 17 Plano mdio a distncia entre cmera e objeto filmado que enquadra no espao visual pessoas por inteiro, ou partes de um cenrio. Idem. 18 Tal aproximao entre nazismo e populismo firma-se na retrica utilizada pelos dois na qual prevalece um tom de unidade da nao e de valorizao do nacional.

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

Invertendo a ordem dos acontecimentos, analisaremos primeiro o encontro com o delegado que se d depois da discusso com a filha ento fugida de casa para firmar a sociedade com Max. O delegado volta de um encontro com Margot e surpreendido, na delegacia, com a presena do alemo. O dilogo dos dois emblemtico:[O Delegado entra no escritrio assoviando Aquela Mulher] Sr. Struedel: [Sentado a mesa, gritando e segurando o chicote do delegado] Delegada Tigron!... Delegado: [simptico] Sr. Struedel, que grata surpresa! Sr. Struedel: [ainda gritando] ...o senhor tem duas horas para localizar meu filha. Ludmila desapareceu e tudo indica que foi raptada por essa deliquente do Max Overseas, e sabe l que monstruosidade pode acontecer. Delegado: [falando baixo] Sr. Struedel, me desculpe mas, no h motivo para tanto alarme. Bem, pelas informaes que eu disponho, o Max, ele generoso e est se estabelecendo como comerciante. Sr. Struedel: [sempre gritando] Pelas informaes que eu disponho, esta contrabandista est pagando a voc, delegada, por acobertar seus aes. Delegado: [sentado numa cadeira, encolhido, falando baixo] Um momento, Sr Struedel! Com todo respeito. O senhor no pode fazer uma infmia dessas sem provas... Sr. Struedel: [furioso] Escuta aqui sua merda! Com que provas voc prendeu e massacrou essas miserveis todas, durante esses anos todos, h? Deu choque, arrancou unha, arrancou confisso. [ergue a cabea do delegado com o chicote] Matou bandido, escondeu cadver... e agora tem costas quentes. Mas tem hora que um sujeito como voc comea a ficar incmodo. Delegado: Sr. Struedel, por favor... Sr. Struedel: No se esquea que eu tenho amigos influentes na mais alto escalon. E que o governo est empenhado em limpar o imagem da polcia ante a opinio pblica. Delegado: Senhor Struedel, o senhor no entendeu... Struedel: Nain, Nain! O que eu entendo que um policial corrupto e psicopata como voc, o lugar dele atrs das grades. [acende um charuto e fala baixo, acariciando o rosto do delegado] Pois ento j sabe: eu quero meu filha inteirinha, compreendeu? Quanto a sua amiga Max Overseas... bem, o senhor sabe melhor do que eu o que fazer com ela, h? [entrega o chicote e sai] (grifos nossos)

Semelhante ao Desafio do Malandro este dilogo mostra um embate. Porm, aqui os agentes so dois opressores. A forma como o Sr. Struedel fala com o delegado, o fato de ele empunhar o chicote, smbolo de opresso, demonstram o controle do alemo sobre o delegado corrupto. Nos trechos destacados, nas falas de Otto, tem-se a descrio dos atos dos rgos repressores do estado durante a ditadura militar, dos grupos de extermnio, etc. A vontade do governo de limpar a imagem da polcia ante a opinio pblica representa o ambiente brasileiro na abertura poltica, perodo em que a adaptao produzida. Ainda vlido destacar a posse do instrumento de opresso: o chicote. Ele entregue nas mos do delegado para fazer o que deve ser feito a Max Overseas. Ou seja, o instrumento de opresso repassado e aquele que oprimiu relega ao outro a vez de oprimir. Tanto , que nas cenas seguintes, o delegado, no covil de Max onde ser realizado seu casamento com Ludmila, mata Geni pelas costas por ela ter feito insinuaes sobre sua masculinidade.

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

Outro momento importante no mundo de Struedel a discusso que ele tem com a filha Ludmila. Em casa, eles jogam Monoplio. Ludmila faz o pai assinar o contrato de sociedade entre ela e Max. O pai, enfurecido, discute com ela e se recusa. Ludmila diz:O senhor uma mmia papai... [Victria, surpresa, exclama: Ludmila!] Desculpe, mas, o senhor parou no sculo passado. Esses seus negcios esto podres. O seu patrimnio, ele t afundando. E quando o senhor morrer [Victria exclama novamente: Ludmila!] o qu que vai sobrar pra mim? Esses cabars? Esses cortios? ?! Tudo caindo aos pedaos... Ah no, papai! Eu tenho a minha vida pra frente. E o Max, ele um sujeito moderno, jogado pro futuro. E no adianta que j tem muito dinheiro envolvido. E daqui pra frente, a gente s vai crescer, crescer, e cada vez mais... [Struedel manda ela ir para o quarto].

O discurso de Ludmila traz os novos meios de produo. o capitalismo tardio substituindo as velhas formas de explorao (como os cortios). Com o delegado, Struedel o opressor. Com sua filha, ele o explorador ultrapassado. A fala de Ludmila semelhante fala de Teresinha (na pea). Mas, j foi dito, o conflito principal do filme entre Max e Struedel, entre a social-democracia (Nazismo) e a democracia norte-americana. Uma legenda, no incio do filme, demarca o incio da ao em 07 de dezembro de 1941 e diz: O governo Brasileiro apia a Alemanha Nazista apesar de forte oposio popular, ou seja, Otto Struedel, o dono do Cabaret de Hamburgo, um signo de representao do estado brasileiro. Semelhante a Duran, na pea. Mais adiante, visto o ataque japons a Pearl Harbor e a entrada dos Estados Unidos na guerra. No final do filme temos uma segunda legenda: 15 de fevereiro de 1942 e uma multido, durante a execuo da marcha carnavalesca Rio 42, apedreja a vitrine do Cabaret de Hamburgo. A posio de opresso e explorao do alemo est ameaada. Max tinha sido obrigado a fugir e Ludmila a voltar para casa. A dignidade do malandro, sua aparncia, estava comprometida: sapatos sujos, terno amassado, cabelo desgrenhado, barba por fazer. a morte simblica do malandro. Mas, ao ver, durante o carnaval, a ameaa ao alemo, Max decide alistar-se na FEB (Fora Expedicionria Brasileira) e diz: Eu vou saltar sob Berlim. Metaforicamente, o malandro vai invadir o mundo do alemo (Otto Struedel). Mais adiante nova legenda: 22 de Agosto de 1942. O Brasil declara guerra a Hitler e ameaa confiscar os bens de todos os alemes residentes no pas. Aps isso, a ltima cena do filme: o casamento de Max e Ludmila e o abrao de Max e Struedel, na igreja, sorrindo e chamando um ao outro de cafeto e explorador, assim como na pea, a unio dos dois mundos e o incio da explorao do mercado interno pelo capital estrangeiro representado na adaptao flmica. A pera do Malandro de Ruy Guerra abre uma linha de anlise que possibilita a verificao de dois smbolos da cultura brasileira: o malandro e o carnaval. Roberto DaMatta em Carnavais, Malandros e Heris 19 estabelece um paradigma entre rituais e o que ele chama de heris na sociedade brasileira. Em seu ensaio, o antroplogo, destaca trs tipos de ritual: o carnaval, o desfile (ou parada) militar e a procisso. A esses trs rituais, ele associa trs tipos brasileiros: o malandro, o caxias e o renunciador. Estudando com mais afinco o paradigma do carnaval e seu representante, o malandro, observa-se marcas relevantes deixadas por Ruy Guerra em sua adaptao. A primeira delas a cano Rio 42 que merece mais ateno:Rio 42 Chico Buarque 1985

19

DAMATTA, Roberto. Carnavais Malandros e Heris: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Se a guerra for declarada Em pleno domingo de carnaval Vers que um filho no foge luta Brasil, recruta O teu pessoal Se a terra anda ameaada De se acabar numa exploso de sal Se aliste, meu camarada A gente vai salvar o nosso carnaval Vai ter batalha de bombardino A colombina na Cruz Vermelha Vai ter centelha na batucada Rajada de tamborim A melindrosa mandando bala O mestre-sala curvando a Europa A tropa do general da banda Danando o samba em Berlim Se a guerra for declarada A rapaziada ganha na moral Se aliste, meu camarada A gente vai salvar o nosso carnaval

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

A cano entoada em ritmo de marcha. Uma multido fantasiada de forma aleatria desfila pela Lapa. Ao ver esta cena, Max renova-se (como j indicamos anteriormente). Seguindo o pensamento de DaMatta esta relao entre Max Overseas e a marcha de carnaval assume um sentido acentuadamente simblico. A marcha associa dois universos antagnicos, a guerra e o carnaval. O universo da parada militar, j vinculado ao tipo de cano (a marcha) e forma como ela cantada (em desfile), afirma-se na letra da cano. Esta, uma convocao para a batalha. Mas, essa afirmao ao mesmo tempo dissolvida pelos atores da guerra. A colombina, a melindrosa, o mestre-sala, o general da banda (e, aqui, o universo do carnaval e da guerra amalgamam-se de forma sinttica) participam dessa guerra que vai salvar o nosso carnaval. Nosso carnaval nossa nao, ou, pode-se dizer, nossa nao um carnaval. DaMatta diz:As festas so momentos extraordinrios marcados pela alegria e por valores considerados altamente positivos. A rotina da vida diria que vista como negativa. [...] pode-se dizer que o mundo automtico da vida diria o mundo das hierarquias e do caxias como paradigmas de comportamento quadradamente pautados pelas normas vigentes. (DaMATTA, 1997. p. 52)

Alm de tornar a guerra um assunto que ficar marcado pela alegria e por valores positivos, a cano transforma um tema localizado historicamente (a participao do Brasil na segunda grande guerra) num tempo csmico para usar a expresso de DaMatta ou mtico (o carnaval). Essa cronologia csmica , segundo o antroplogo, diretamente relacionada divindade e a aes que levam conjuno ou disjuno com os deuses (1997; p. 54). Na economia do filme, no momento da execuo da cano, verificamos claramente um momento de peripcia 20 garantido atravs de uma20

Ou peripeteia a mutao dos sucessos no contrrio (p. 210) como definido por Aristteles no captulo XI da Potica. Sobre o deus ex machina, no captulo XV, diz o estagirita: os desenlaces devem resultar da prpria estrutura do mito, e no do deus ex machina (p. 214). ARISTTELES. Potica. [texto bilnge grego-portugus] Traduo: Eudoro de Souza. So Paulo: Ars Potica, 1993.

XI Congresso Internacional da ABRALIC Tessituras, Interaes, Convergncias

13 a 17 de julho de 2008 USP So Paulo, Brasil

soluo do tipo deus ex machina para o restabelecimento do malandro na ao21. O carnaval surge para garantir ao malandro sua manuteno na desordem. Pois, na esfera da desordem22 (em oposio ordem) que o malandro pode assumir sua posio de heri.

Referncias Bibliogrficas[1] ADORNO, Theodor W. et HORKHEIMER, Max. Dialtica do Esclarecimento: fragmentos filosficos. reimp. Traduo: Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. [2] ARISTTELES. Potica. [texto bilnge grego-portugus] Traduo: Eudoro de Souza. So Paulo: Ars Potica, 1993. [3] BRECHT, Bertolt. Estudos sobre teatro. Trad.: Fiama Paes Brando. 2 ed. 2 imp. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. [4] BUARQUE, Chico. pera do Malandro. So Paulo: crculo do livro, 1978. pp. 5-15. [5] CANDIDO, Antonio. Dialtica da Malandragem. In: O discurso e a cidade. So Paulo: Duas cidades, 1993. pp. 19-54. [6] DAMATTA, Roberto. Carnavais Malandros e Heris: para uma sociologia do dilema brasileiro. 6. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. [7] GOUVEIA, Arturo. A malandragem estrutural. In: FERNANDES, Rinaldo de. (org.). Chico Buarque do Brasil. Rio de Janeiro: Garamond; Fundao Biblioteca Nacional, 2004. pp. 187-205. [8] HEGEL, G.W.F. Cursos de Esttica: Poesia. Traduo: Marco Aurlio Werle, Oliver Tolle. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2004. p. 201 (Clssicos 26). [9] JAMESON, Fredric. O Mtodo Brecht. Traduo: Maria Silvia Betti. Reviso Tcnica: In Camargo Costa. Petrpolis: Vozes, 1999 [10] LUNA, Sandra e MARTINS, Shirley. Categorizao para estudos sobre planificao. Joo Pessoa, 2007. [11] MARTINS, Ana Lcia Lucas. Joaquim Pedro de Andrade, Macunama e a Indstria Cultural. www.ifcs.ufrj.br/~nusc/achegas.pdf. Acesso em: 21 de fevereiro de 2008. [12] MENESES, Adlia Bezerra de. Desenho mgico: poesia e poltica em Chico Buarque. 3. ed. Cotia: Ateli Editorial, 2002 [13] RABELO, Adriano de Paula. O teatro de Chico Buarque. So Paulo, Departamento de Letras Clssicas e vernculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP (Dissertao de Mestrado), 1998.

FilmografiaGUERRA, Ruy. pera do Malandro. 1985.

21 22

Assim como o deus sol surge para resgatar a enfurecida Medeia com seu carro na tragdia grega de Eurpedes. A desordem estaria num plo negativo ou numa situao de inverso da ordem, numa estrutura dialtica. O malandro tem acesso as duas esferas. Ver tambm: GOUVEIA, Arturo. Op. cit. p.196. Nesse mesmo sentido: CANDIDO, Antonio. Dialtica da Malandragem. In: O discurso e a cidade. So Paulo: Duas cidades, 1993. pp. 19-54.