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1 Rogate 275 set/09 OPINIÃO OPINIÃO Bíblia: inspiração vocacional Dárcio Alves da Silva Religioso Rogacionista N a Liturgia da Igreja celebramos o mês de setembro como o mês da Bíblia. Esta é, sem sombra de dú- vida, uma ótima oportunidade para pensar- mos em nossa vocação de filhos e filhas de Deus, o qual nos chama para viver no seu amor. O vocacionado e a vocacionada encon- tram na Sagrada Escritura o modo como Deus se revela ao mundo, seja através de símbolos naturais ou teofanias, como no Antigo Testamento (exemplos: Ex 13,21ss; 19,16ss), ou por meio de seu Filho, Jesus Cristo (cf. Lc 17,30; 1Cor 1,7). Encontram, também, o modo como chama cada pessoa do meio do povo para ser enviada a todos, como discípulo e discípula de seu Filho, missionário e missionária de Jesus. Na autêntica escuta da Palavra de Deus observamos a origem e o fundamento da fé cristã. A acolhida desta Palavra nos pos- sibilita responder o chamado que Deus faz a cada um de nós frente aos desafios e à realidade do mundo de hoje. Uma realida- de na qual facilmente o ser humano se dei- xa corromper pelo mal e fecha seu cora- ção para não ouvir a voz divina. A Palavra de Deus é o lugar onde pode- mos fazer a experiência do próprio Deus e cumprir a nossa missão na Igreja e no mundo, assim como fizeram tantos ícones da resposta vocacional, casos de Abraão, Moisés, os profetas; Pedro, André, Tiago e João; Maria, os evangelistas, Paulo... O que não falta na literatura bíblica são os inúmeros relatos vocacionais de homens e mulheres que encontraram na Palavra de Deus inspiração para responder ao chama- do divino e viverem sua vocação de modo livre e consciente, colocando seus dons a serviço da comunidade. E esta dinâmica se mantém. A Palavra de Deus continua a chamar discípulos e missionários, operários e operárias para a messe. Dentre tantos exemplos de santos e santas na caminhada da Igreja, destaca- mos o testemunho de Santo Aníbal Maria Di Francia (1851-1927), considerado o “antecipador da moderna pastoral vocacio- nal”, o apóstolo da oração pelas vocações. Ele que tão bem soube vivenciar e dedicar toda a sua vida a partir do mandamento de Jesus: “Rogai ao Senhor da messe para que envie operários à sua messe” (Mt 9,38; Lc 10,2). Assim como ele, inúmeras pessoas se inspiram na Palavra de Deus e respon- dem ao seu chamado. Busquemos, pois, na Palavra de Deus inspiração para viver o nosso batismo como fonte de todas as vocações, para encontrar um novo jeito de promover o serviço de animação vocacional. Por meio desta Pala- vra poderemos melhor compreender a ver- dade revelada, o plano da Trindade Santa, o sentido da nossa fé, caminhando em di- reção ao discipulado e à dimensão missio- nária de nossas vidas, frente a atual con- juntura da ação evangelizadora da Igreja na América Latina e no Caribe, testemunhan- do Jesus Cristo, o Bom Pastor, Palavra eterna do Pai por vocação.

OPINIÃO - rogate.org.br anteriores/PDF/275_set09.pdf · a Liturgia da Igreja celebramos o mês de setembro como o mês da Bíblia. Esta é, sem sombra de dú-vida, uma ótima oportunidade

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1Rogate 275 set/09

O P I N I Ã OOPINIÃO

Bíblia:inspiração vocacional

Dárcio Alves da SilvaReligioso Rogacionista

Na Liturgia da Igreja celebramos omês de setembro como o mês daBíblia. Esta é, sem sombra de dú-

vida, uma ótima oportunidade para pensar-mos em nossa vocação de filhos e filhas deDeus, o qual nos chama para viver no seuamor.

O vocacionado e a vocacionada encon-tram na Sagrada Escritura o modo comoDeus se revela ao mundo, seja através desímbolos naturais ou teofanias, como noAntigo Testamento (exemplos: Ex 13,21ss;19,16ss), ou por meio de seu Filho, JesusCristo (cf. Lc 17,30; 1Cor 1,7). Encontram,também, o modo como chama cada pessoado meio do povo para ser enviada a todos,como discípulo e discípula de seu Filho,missionário e missionária de Jesus.

Na autêntica escuta da Palavra de Deusobservamos a origem e o fundamento dafé cristã. A acolhida desta Palavra nos pos-sibilita responder o chamado que Deus faza cada um de nós frente aos desafios e àrealidade do mundo de hoje. Uma realida-de na qual facilmente o ser humano se dei-xa corromper pelo mal e fecha seu cora-ção para não ouvir a voz divina.

A Palavra de Deus é o lugar onde pode-mos fazer a experiência do próprio Deus ecumprir a nossa missão na Igreja e nomundo, assim como fizeram tantos íconesda resposta vocacional, casos de Abraão,Moisés, os profetas; Pedro, André, Tiagoe João; Maria, os evangelistas, Paulo... Oque não falta na literatura bíblica são osinúmeros relatos vocacionais de homense mulheres que encontraram na Palavra de

Deus inspiração para responder ao chama-do divino e viverem sua vocação de modolivre e consciente, colocando seus dons aserviço da comunidade.

E esta dinâmica se mantém. A Palavrade Deus continua a chamar discípulos emissionários, operários e operárias para amesse. Dentre tantos exemplos de santose santas na caminhada da Igreja, destaca-mos o testemunho de Santo Aníbal MariaDi Francia (1851-1927), considerado o“antecipador da moderna pastoral vocacio-nal”, o apóstolo da oração pelas vocações.Ele que tão bem soube vivenciar e dedicartoda a sua vida a partir do mandamento deJesus: “Rogai ao Senhor da messe para queenvie operários à sua messe” (Mt 9,38; Lc10,2). Assim como ele, inúmeras pessoasse inspiram na Palavra de Deus e respon-dem ao seu chamado.

Busquemos, pois, na Palavra de Deusinspiração para viver o nosso batismo comofonte de todas as vocações, para encontrarum novo jeito de promover o serviço deanimação vocacional. Por meio desta Pala-vra poderemos melhor compreender a ver-dade revelada, o plano da Trindade Santa,o sentido da nossa fé, caminhando em di-reção ao discipulado e à dimensão missio-nária de nossas vidas, frente a atual con-juntura da ação evangelizadora da Igreja naAmérica Latina e no Caribe, testemunhan-do Jesus Cristo, o Bom Pastor, Palavraeterna do Pai por vocação.

2 Rogate 275 set/09

NESTA EDIÇÃO

Entrevista3º Congresso Vocacional do Brasil:contagem regressiva 03

Animação Vocacional1º Encontro Latino-americano de IPVs 09

AtualidadesCarta faz balanço e destacacompromissos das CEBs 11

EspecialNo caminho do “discipuladomissionário” - 1ª parte 13

Animação VocacionalJovens cristãos: promovidosem “educação sexual” 18

Informação 21

Leitor 23

Mística da VocaçãoInácio de Loyola,evangelizador corajoso 24

EDITORIAL

Capa: Cartaz do 3º Congresso Vocacional do Brasil,um dos destaques desta edição (cf. “Entrevista”).

Contagem regressiva para o 3º Con-gresso Vocacional do Brasil. Exa-tamente daqui a um ano estaremos

celebrando a terceira edição deste grandeevento, que reúne animadores vocacionaisde todos os cantos do país. Capa e “Entre-vista” retratam esta realidade. O congres-so, na verdade, já começou! A mobilizaçãovai aumentando pouco a pouco. Em breveteremos o Instrumento de Participação ouTexto-base, que ajudará na reflexão e pre-paração, além do cartaz e hino oficial.

Conforme adiantado no “Editorial” daúltima edição, iniciamos a apresentação dodocumento preparado pela Comissão Epis-copal Pastoral para os Ministérios Orde-nados e a Vida Consagrada da CNBB, umdos temas do 18º ENSAV - Encontro Na-cional do Serviço de Animação Vocacional(cf. seção “Especial”). Está dividido emquatro partes e servirá para iluminar acaminhada das equipes vocacionais em suamissão específica.

A seção “Opinião” nos recorda queestamos vivenciando o mês da Bíblia, im-portante fonte de inspiração vocacional. Ea quarta capa lembra os 15 anos de “Gritodos Excluídos”, com um tema pertinente:“Vida em primeiro lugar; a força da trans-formação está na organização popular”.

A Turma do Triguito

Celebração VocacionalOs mistérios da glóriana ótica vocacional

ENCARTES

Ano XXVIII - nº 275Setembro de 2009

Lançada em maio de 1982, a revista Rogate temregistro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Re-gistros de Títulos e Documentos, sob o nº98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da LeiFederal nº 5.250, de 1967. A revista é de pro-priedade dos Rogacionistas do Coração de Je-sus, em colaboração com as revistas: RogateErgo e MondoVoc (ltália), Vocations andPrayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).

DIRETOR DE REDAÇÃOJuarez Albino Destro

EDITORJefferson Silveira

COLABORADORESArmando Del Mercato (capa),

Guido Mottinelli (Animação Vocacional),Osmar Koxne (Triguito) e Patrício Sciadini

CONSELHO EDITORIALIzabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves da

Silva, Dilson Brito da Rocha, Maria da CruzSantos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres

JORNALISTA RESPONSÁVELÂngelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP

IMPRESSÃOGráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)

SEDE CENTRAL/CONTATOSDireção, Editoria, Secretaria e Administração:

Tel./Fax: (11) 3932-1434 / 3931-3162E-mail: [email protected]

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ASSINATURA ANUALNacional: 40 reais (10 edições ao ano)Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares

América - 30 dólaresEuropa - 50 euros

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Os artigos assinados não expressam,necessariamente, a opinião da Revista

3Rogate 275 set/09

ENTREVISTAENTREVISTA

3º Congresso Vocacional do Brasil:contagem regressiva

Ângelo Mezzari, religioso Rogacionista e sacerdote há quase25 anos, participou ativamente do processo de organização

dos Congressos Vocacionais do Brasil de 1999 e 2005,e está também na equipe preparatória à terceira edição,

que se realiza exatamente daqui a um ano

Com um histórico am-plo no serviço de ani-mação vocacional, seja

no âmbito de sua congregaçãoou da Igreja do Brasil, atravésda participação em comissõesligadas à Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil(CNBB) ou do Instituto dePastoral Vocacional (IPV), oreligioso Rogacionista, padreÂngelo Ademir Mezzari, 53anos, é o entrevistado destaedição. E fala sobre o 3º Congresso Voca-cional do Brasil, que será realizado exata-mente daqui a um ano, de 03 a 07 de se-tembro de 2010, em Itaici, município deIndaiatuba (SP). O tema recorda a 5ª Con-ferência do Episcopado da América Latinae do Caribe, realizado em Aparecida: “Dis-cípulos missionários a serviço das voca-ções”. O lema escolhido vem do evange-lista Mateus (28,19): “Ide, pois, fazer dis-cípulos entre todas as nações”.

Pe. Ângelo já foi entrevistado outrasduas vezes pela Rogate. Em dezembro de2002 (edição 208) falou sobre as expecta-

tivas de seu governo, ao sereleito Provincial dos Rogacio-nistas para a América Latina;em agosto do ano passado(edição 264) refletiu sobre os15 anos do IPV, do qual parti-cipa ativamente desde sua fun-dação, em 1993. De fato, pre-sidiu a diretoria executiva pornove anos (1993-2002) e atu-almente, desde o ano 2002,preside o conselho superior,formado pelos provinciais dos

institutos religiosos que compõe a entida-de. É natural de Forquilhinha, cidade quena época de seu nascimento era um distri-to de Criciúma (SC). Em dezembro desteano celebra seus 25 anos de ministériopresbiteral. Jornalista, foi um dos mentoresda revista Rogate, da qual é o “responsá-vel”. Mestre em Teologia Dogmática, as-sessora grupos e outros institutos, auxili-ando também na Escola de Preparação paraAnimadores Vocacionais (ESPAV), do IPV.Pe. Ângelo faz parte da Comissão Execu-tiva que está preparando o 3º CongressoVocacional do Brasil.

Fotos: Arquivo Rogate

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Rogate: Vamos começar nossa conver-sa perguntando por que realizar uma ter-ceira edição do Congresso Vocacional doBrasil...

Ângelo: Esta é uma pergunta comumque fazemos neste tempo em que se di-vulga e se organiza o 3º Congresso Voca-cional do Brasil. O novo evento propõe-sea celebrar a caminhada do serviço de ani-mação vocacional, a aprofundar a teologiadas vocações na perspectiva do discipula-do e da missionariedade, a consolidar aidentidade do animador e da animadora, edo próprio serviço de animação vocacio-nal. Também quer oferecer pistas de açãopara o trabalho vocacional. De um lado te-mos a realidade que nos provoca, de umamultidão cansada e abatida, “o rosto hu-milhado de tantos homens e mulheres denossos povos”, como afirma o Documentode Aparecida (n. 32), também por falta depastores, de ministros, de lideranças. Deoutro, escutamos o apelo da fidelidade aomandato de Jesus, de anunciar o Reino, deevangelizar, de pedir ao Senhor da messeque envie operários para a sua messe (cf.Mt 9,32-35; Lc 10,2). Deseja-se dar conti-nuidade ao processo de realização dos con-gressos vocacionais, o que tem aconteci-do a cada cinco anos aproximadamente.Neste sentido, é importante a fidelidadeao que se fez e viveu, mas também a novi-dade, capaz de gerar um novo espírito eum novo coração. Pois é sempre tempopara construir o novo na Igreja e no servi-ço de animação vocacional, tempo de avan-çar e de planejar, pois todos os “discípulosmissionários” são responsáveis e estão aserviço das vocações.

Rogate: No tema do congresso se perce-be o “respiro” de Aparecida. Qual a impor-tância desta ligação?

ENTREVISTA3º Congresso Vocacionaldo Brasil

Data: 03 a 07 de setembro de 2010

Tema: “Discípulos missionários” a ser-viço das vocações

Lema: “Ide, pois, fazer discípulos entretodas as nações” (cf. Mt 28,19)

Objetivo geral: Aprofundar o tema do“discípulo missionário” a serviço das voca-ções, em uma Igreja ministerial, na cons-trução do Reino de Deus.

Objetivos específicos:a) celebrar a caminhada do serviço de

animação vocacional;b) aprofundar a teologia das vocações

na perspectiva do discipulado e da missio-nariedade, à luz de Aparecida;

c) consolidar a identidade do animadore do serviço de animação vocacional na fon-te da Palavra de Deus;

d) oferecer pistas de ação para o servi-ço de animação vocacional, insistindo par-ticularmente no itinerário e no planejamen-to vocacional.

Justificativa:Realizar o 3º Congresso Vocacional como

expressão da caminhada vocacional da Igre-ja no Brasil, no processo de continuidade derealização dos congressos, acolhendo asorientações do Sínodo sobre a Palavra deDeus e da Conferência de Aparecida, comseus referenciais para a vida (discipulado) epara o serviço das vocações (missão).

Estratégias:a) cronograma das principais ações (an-

tes, durante e depois);b) Instrumento de Participação, como

subsídio de reflexão para as Igrejas Parti-culares, equipes e seus animadores voca-cionais;

c) motivar e divulgar o evento.

Responsáveis: CMOVC-CNBB (Comis-são Episcopal Pastoral para os MinistériosOrdenados e a Vida Consagrada da Confe-rência Nacional dos Bispos do Brasil) eComissão Executiva do Congresso.

5Rogate 275 set/09

ENTREVISTA

Ângelo: De fato, nesta fase de prepa-ração ao congresso pretende-se acolher,como horizonte e referência, não apenaso Documento de Aparecida, com todas assuas indicações, mas também o Sínododos Bispos sobre a Palavra de Deus navida e na missão da Igreja. Temos as pro-posições aprovadas pelos padres sinodaise estamos na expectativa de uma CartaEncíclica do papa Bento XVIsobre a temática. Aparecida eo Sínodo darão importantesreferenciais teológicos e pas-torais para a vida - o discipu-lado - e o serviço das voca-ções - a missão. Soma-se a es-tes dois eventos, a sintoniapara com o Ano Sacerdotal,convocado recentemente pelopapa Bento XVI, com o tema:“Fidelidade de Cristo, fideli-dade do sacerdote”, com o ob-jetivo de fazer perceber sem-pre mais a importância doserviço e da missão do sacer-dote na Igreja e na sociedadecontemporânea.

Rogate: Podemos afirmarque todo o Documento de Apa-recida é vocacional?

Ângelo: O próprio temarefletido na Conferência indi-ca isso, e também o conteúdodo Documento Final aponta nesta direção.E nós, da animação e da pastoral vocacio-nal, nos propomos à “grande tarefa de pro-teger e alimentar a fé do povo de Deus erecordar aos fiéis deste Continente que,em virtude de seu batismo, são chamadosa ser discípulos e missionários de JesusCristo” (Documento de Aparecida, 10). Tra-ta-se de um mandato, uma missão que de-

vemos realizar, o de despertar, discernir,cultivar e acompanhar a vocação dos bati-zados para que sejam verdadeiramente“discípulos missionários” de Jesus Cristo.Esta tarefa protetora e alimentadora da fé,e de memorial, também é nossa, e quere-mos cada vez mais assumi-la integralmen-te. A ordem de Jesus é explícita, objetiva,é ir, e fazer discípulos. O Documento de

Aparecida, em seu número100, recorda que entre tantosdesafios enfrentados pelaIgreja, constata-se também onúmero insuficiente de sacer-dotes e sua não equitativa dis-tribuição, e a relativa escas-sez de vocações ao ministé-rio e à vida consagrada. Cer-tamente esta carência podeser estendida aos demais mi-nistérios, somos testemunhase temos consciência disso. Àescassez, ao número insufici-ente e a uma não justa distri-buição, mais do que ninguém,na Igreja, deve se interessaro serviço de animação voca-cional.

Rogate: A dinâmica uti-lizada nesta terceira ediçãoserá a mesma dos dois eventosprecedentes?

Ângelo: O 3º Congresso,a exemplo dos anteriores, pela sua meto-dologia organizativa, vai permitir uma par-ticipação diversificada e qualificada de ani-madores e animadoras vocacionais, nassuas diversas fases. O simples fato de es-tar juntos e se encontrar, de refletir e par-tilhar as próprias práticas, de celebrar epropor metas e diretrizes, favorecem umaconvergência nas prioridades e nas ações,

Deseja-se darcontinuidade

ao processo derealização dos

congressosvocacionais

6 Rogate 275 set/09

ENTREVISTA

nos princípios e valores, garantindo a uni-dade no caminho e a riqueza das vocaçõespara a vida e a missão da Igreja no mundo.O congresso é sempre fruto de um pro-cesso profundo do serviço de animaçãovocacional, sua identidade e missão. Osanteriores se abriram para as questões daantropologia e da cultura vocacional, dainculturação e da evangelização, da oraçãoe da espiritualidade, da integração das pas-torais, da pedagogia e do planejamento, doitinerário vocacional. Este vai enfocar atemática do “discipuladomissionário” no serviçodas vocações, iluminandotodas as questões anterio-res já tratadas e apontan-do os novos desafios a se-rem enfrentados. Certa-mente o uso do método“ver, julgar e agir” poderácolaborar para que viva-mos mais intensamentenossa vocação e missão naIgreja. Recordamos que o2º Congresso Vocacionaltambém abordou a temáti-ca metodológica, sugerin-do no serviço de animaçãovocacional uma metodolo-gia de planejamento parti-cipativo, contemplandouma análise da realidade(marco situacional), a ilu-minação da fé (marco doutrinal) e a ação eprogramação (marco operacional).

Rogate: Garantir a unidade no cami-nho vocacional da Igreja no Brasil, de fato,é um grande desafio. Como acontece isso naprática?

Ângelo: Sabemos que no caminho daevangelização não é suficiente realizar um

novo evento, isolado de todo o processoaté aqui feito, com suas riquezas e tam-bém limites. As condições favoráveis paraa realização do 3º Congresso e o seu pla-nejamento, feito com antecedência, deve-rão envolver certamente todas as instân-cias e os setores eclesiais, fazendo chegaràs comunidades, aos grupos, às equipes ecoordenações vocacionais, aos vocaciona-dos, a reflexão proposta, favorecendo eestimulando a participação e co-responsa-bilidade. Fundamental é a preparação, a ora-

ção persistente, o aprofun-damento temático, a articu-lação, o estabelecimento deprioridades, e uma progra-mação que incida após ocongresso nos planos e pro-jetos da própria conferên-cia episcopal e comissão es-pecífica, dos Regionais, dasdioceses e suas comunida-des. O que se deseja é quena Igreja, povo de Deus, porsua graça e benignidade,haja um novo florescimen-to de vocações, como ex-pressão da riqueza, multi-plicidade e complementari-dade de dons, carismas eministérios.

Rogate: “Ide, pois, fa-zer discípulos entre todas as

nações”, é o lema do congresso. Faz partedos últimos versículos do evangelho de Ma-teus, que se conclui exatamente afirmandoque Jesus estará conosco todos os dias, até ofinal dos tempos. Espera-se dos discípulosque partam em missão. E quem ainda não édiscípulo?

Ângelo: O 3º Congresso se propõe, ecertamente dele se espera, do ponto de

“O 3º Congresso Vocacional do Bra-sil será um espaço propício para pro-vocar e estimular no serviço de ani-mação vocacional uma conversãopastoral e renovação missionária”

7Rogate 275 set/09

ENTREVISTA

vista temático e pastoral, que na animaçãovocacional e no trabalho de seus agentes,se garanta a centralidade do encontro coma pessoa de Jesus Cristo e a conversãopastoral. De fato, na missão evangelizado-ra, o serviço de animação vocacional, comoum instrumento do Espírito de Deus, terácomo tarefa fundamental fazer com que osvocacionados tenham um “encontro comum acontecimento, com uma Pessoa, quedá novo horizonte à vida e, com isso, umaorientação decisiva”, como afirma o Do-cumento de Aparecida (n. 12). Neste sen-tido podemos falar da necessidade de pro-mover a “pedagogia do encontro” com Je-sus Cristo, que desperte e forme autênti-cos “discípulos missionários”. Pois, comose vê no mesmo Documento de Apareci-da, “conhecer Jesus é o melhor presenteque qualquer pessoa pode receber; tê-loencontrado foi o melhor que ocorreu emnossas vidas; e fazê-lo conhecido com nos-sa palavra e obras é nossa alegria” (n. 29).

Rogate: O senhor falava de conversãopastoral...

Ângelo: Exato. O 3º Congresso Voca-cional do Brasil será um espaço propíciopara provocar e estimular no serviço deanimação vocacional uma conversão pas-toral e renovação missionária, que deve“impregnar todos os planos pastorais dedioceses, paróquias, comunidades religio-sas, movimentos e de qualquer instituiçãoda Igreja”, conforme o Documento de Apa-recida (n. 365). A conversão implica emescutar com atenção e discernir “o que oEspírito está dizendo às Igrejas” (Ap 2,29)através dos sinais dos tempos, onde Deusse manifesta. Para tanto, se exigem atitu-des de abertura, diálogo e disponibilidadepara promover a corresponsabilidade e aparticipação efetiva de todos. Urgência

pastoral na animação vocacional é o teste-munho de comunhão eclesial e de santida-de de vida.

Rogate: O que diria para as comuni-dades de base que estão começando agora ase preparar para o congresso?

Ângelo: Neste processo preparatório aoCongresso Vocacional é preciso ter confi-ança no Senhor da messe, manter viva aesperança, prodigalizar-se no amor compas-sivo e misericordioso. “Não tenham medo”(Mt 28,5), pois o que nos define é o amorrecebido do Pai graças a Jesus Cristo pelaunção do Espírito Santo. Confiança signifi-ca superar a apatia e o desânimo, vencer apassividade e empenhar-se, pois o que nosimpele é o amor de Jesus Cristo. Como Igre-ja e na Igreja, no serviço de animação voca-cional, queremos assumir cada vez mais odesafio de promover e formar discípulos emissionários que respondam à vocação re-cebida. O melhor serviço que a animaçãovocacional pode prestar, como ação evan-gelizadora e atividade eclesial da fé, é que“Jesus Cristo seja encontrado, amado, ado-rado, anunciado e comunicado a todos”, con-forme bem definiu o Documento de Apare-cida (n. 14). O 3º Congresso, cuja prepara-ção já iniciamos, será um espaço apropria-do para proclamar que a própria vocação, aprópria liberdade e a própria originalidadesão dons de Deus para a plenitude e o ser-viço do mundo. Não só! Será ocasião tam-bém para participar e contribuir com o des-pertar missionário, seguros de que a Provi-dência de Deus nos proporcionará grandessurpresas, citando Aparecida (n. 551).

Rogate: O senhor participou recente-mente do 1º Encontro dos Institutos de Pas-toral Vocacional da América Latina e doCaribe. Como foi a experiência?

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ENTREVISTA

Trindade Santa,Deus da vida e do amor,somos seguidoras e seguidores de Jesus,discípulos missionáriosa serviço das vocações.

Como animadores da pastoral vocacional,queremos responderao mandato de Jesusde fazer discípulos entre todas as nações,incentivando a vocaçãodos cristãos leigos e leigas,à vida consagradae aos ministérios ordenados,construindo uma Igrejacorresponsável e ministerial.

Buscamos uma Igrejafiel aos sinais dos tempos,samaritana, missionária,ecumênica e libertadora,que responda ao clamor do povo,em suas lutas e esperanças;e que testemunhe a Boa Nova do Reino,com a Palavra e com a vida.

Que Maria, a mãe de Jesus,e tantas testemunhas fiéis até o martírio,intercedam a bençãopara o 3º Congresso Vocacional do Brasil.

Amém.

Oração do 3º CongressoVocacional do Brasil

Ângelo: Foi bastante interessante co-nhecer e partilhar os nossos serviços naárea das vocações e dos ministérios comoutros organismos afins de nosso conti-nente. O enfoque principal acabou sendoa preparação ao 2º Congresso VocacionalLatino-americano, marcado para feverei-ro de 2011, na Costa Rica. Os responsá-veis pelos IPVs (Institutos de Pastoral Vo-cacional) assumiram o compromisso, jun-to com o DEVYM-CELAM (Departamen-to de Vocações e Ministérios do Conse-lho Episcopal Latino-americano) e aCLAR (Confederação Latino-americanade Religiosos e Religiosas), de prepararo evento. O Instrumento de Participação,por exemplo, foi esquematizado duranteeste 1º Encontro dos IPVs.

Rogate: Uma mensagem final aos nos-sos animadores vocacionais...

Ângelo: Somos chamados, como “dis-cípulos missionários”, a servir mais plenae intensamente as vocações na Igreja. Econvocados a colaborar, onde for possívele nas instâncias em que estamos envolvi-dos, com a preparação, realização e con-cretização das deliberações do 3º Congres-so Vocacional do Brasil, para que todos osseus objetivos sejam atingidos. Neste ca-minho, contamos com o auxílio da VirgemMaria, a “discípula missionária”. Pedimosque nos ensine a responder como fez elano mistério da anunciação e encarnação.Somos chamados a permanecer na sua es-cola, mantendo vivas as atitudes de aten-ção, de serviço, de entrega e de gratuida-de que devem distinguir os discípulos deseu Filho. Com Maria podemos aprendera sair de nós mesmos e a acolher o manda-to de Jesus: “Ide, pois, fazer discípulosentre todas as nações”!

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9Rogate 275 set/09

VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

1º Encontro Latino-americanode IPVs

Institutos de Pastoral Vocacional (IPVs) de diversos paísesda América Latina estiveram reunidos em São Paulo, Brasil,

numa experiência inédita

Entre os dias 07 e 11 de agosto, naCasa Lareira São José, em São Pau-lo (SP), foi realizado o 1º Encontro

de Institutos de Pastoral Vocacional daAmérica Latina e do Caribe. Promovidopelo Departamento de Vocações e Minis-térios do Conselho Episcopal Latino-ame-ricano (DEVYM-CELAM), o encontro tevecomo objetivo principal refletir sobre otema das vocações à luz da Conferência deAparecida, visando a realização do 2º Con-gresso Vocacional Latino-americano, queocorrerá em 2011. Para tanto os represen-tantes apresentaram um panorama das ati-vidades de seus institutos, bem como in-cluíram nos seus planos de trabalho a co-laboração na preparação do 2º CongressoContinental.

Participaram do encontro o secretárioexecutivo do DEVYM, Pe. Alexis Rodrí-guez Vargas, e o secretário geral da Con-federação Latino-americana e Caribenhade Religiosos e Religiosas (CLAR), Pe.Gabriel Naranjo, ambos da Colômbia; Pe.Reginaldo de Lima, assessor da ComissãoEpiscopal Pastoral para os Ministérios Or-denados e a Vida Consagrada, da Confe-rência Nacional dos Bispos do Brasil(CMOVC-CNBB); Pe. Ricardo Morales,representando o Instituto de Pastoral Vo-

cacional (IPV) da Argentina; Pe. JohansLeon Borrome, do IPV da Venezuela; Pe.Cristian Rivera, coordenador diocesano dePastoral Vocacional, da Costa Rica; Pe.Carlos Silva Guillama, do Uruguai; e, doIPV brasileiro, os sacerdotes Rogacionis-tas, Ângelo Ademir Mezzari e Gilson LuizMaia. Pe. Gilson, que hoje trabalha comopároco na cidade de Bauru (SP), foi o se-cretário executivo do DEVYM-CELAM nagestão anterior, quando se sugeriu e pla-nejou a realização deste encontro inédito.

Os Institutos de Pastoral Vocacional apre-sentaram um histórico de suas caminhadas,promovendo uma rica troca de experiênci-as. Algumas ações foram assumidas pelosresponsáveis dos respectivos IPVs:

a) ajudar na preparação do 2º Congres-so Vocacional Latino-americano, junta-mente com o DEVYM e a CLAR;

b) divulgar o 2º Congresso VocacionalLatino-americano nos meios de comuni-cação de seus países;

c) manter um intercâmbio e partilha desubsídios e produções elaboradas;

d) colocar-se à disposição dos organis-mos eclesiais locais, como referência eapoio no serviço de animação vocacional;

e) realizar um 2º Encontro dos IPVs daAmérica Latina e do Caribe, após o Con-

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Da Redação

VOCACIONAL2º Congresso VocacionalLatino-americano

Data: 08 a 12 de fevereiro de 2011

Local: Costa Rica

Tema: Chamados a lançar as redes paraalcançar vida plena em Cristo

Lema: “Mestre, em teu nome lançarei asredes” (cf. Lc 5,5)

Objetivo geral: Fortalecer a cultura vo-cacional, para que os batizados assumamseu chamado de serem discípulos e missi-onários de Cristo nas circunstâncias atuaisda América Latina e do Caribe.

Objetivos específicos:a) destacar os principais aspectos da re-

alidade da América Latina e do Caribe queincidem na dinâmica vocacional;

b) analisar a consciência que os bati-zados possuem a respeito da cultura vo-cacional;

c) refletir o projeto do Pai ao ser huma-no nas circunstâncias atuais da América La-tina e do Caribe;

d) apresentar a vocação batismal comoeixo transversal de toda ação pastoral daIgreja;

e) elaborar pistas concretas de evange-lização e animação vocacional para a mis-são do Continente;

f) elaborar critérios para os processos doitinerário vocacional, que respondam às cir-cunstâncias atuais da América Latina e doCaribe.

Metodologia: Tanto na preparação,quanto no próprio Congresso, será usa-do o método “ver, julgar, agir” (cf. Docu-mento de Aparecida, 19).

Participantes: Serão convocadosdelegados de cada Conferência Episco-pal que compõe o Continente, além deconvidados e grupo de apoio, totalizando375 participantes.

Inscrições: Até outubro de 2010. Alistagem dos delegados do Brasil serácoordenada pela comissão específica daCNBB (CMOVC).

gresso Latino-americano. Neste sentido,a CLAR, como estratégia, convocaria ascongregações e os institutos de vida con-sagrada com carisma vocacional para umareunião prévia.

O encontro também discutiu a forma decolaboração imediata à preparação do 2ºCongresso Vocacional Latino-americano(ver box ao lado). Planejou-se a elaboraçãodo Documento de Participação, no méto-do “ver, julgar, agir”. A primeira parte(ver), que será trabalhada pelo sacerdoteuruguaio, Carlos Silva Guillama, Doutorem Teologia, terá o título “Escutar a vozda Palavra”. Na segunda parte (julgar),“Descobrir o rosto da Palavra”, colabora-rão o Pe. Gabriel Naranjo, da CLAR, e oPe. Gilson Maia, do Brasil, especialista emexegese. O “agir” terá dois capítulos:“Construir a casa da Palavra” e “Percor-rer o caminho da Palavra”. Ambos serãoelaborados pelo Mestre em Teologia, Pe.Ângelo Mezzari.

Os participantes do 1º Encontro dosIPVs Latino-americanos (foto abaixo) rea-lizaram uma visita ao IPV do Brasil, tam-bém sede da revista Rogate, no dia 09 deagosto, mesmo dia em que puderam fazerum passeio cultural por São Paulo.

Foto: Arquivo Rogate

11Rogate 275 set/09

ATUALIDADESATUALIDADES

Nós, participantes do 12º Interecle-sial das CEBs (Comunidades Ecle-siais de Base), daqui das margens

do Rio Madeira, no coração da Amazônia,saudamos com afeto as irmãs e irmãos detodos os cantos do Brasil e dos demais pa-íses do continente, que sonham conoscocom novos céus e nova terra, num jeitonovo de ser Igreja, de atuar em sociedadee de cuidar respeitosa e amorosamente detoda a criação!

Fomos convocados de 21 a 25 de julhode 2009, pelo Espírito e pela Igreja irmãde Porto Velho (RO), para nos debruçarsobre o tema que nos guiou por toda a pre-paração do Intereclesial em nossas comu-nidades e Regionais: “CEBs: Ecologia eMissão - Do ventre da terra, o grito quevem da Amazônia”.

Somos 3.010 delegados, aos quais sesomam convidados, equipes de serviço, im-prensa e famílias que acolhem os partici-pantes, ultrapassando cinco mil pessoas en-volvidas neste Intereclesial. Dos delegadosde quase todas as 272 dioceses do Brasil,2.174 são leigos, sendo 1.234 mulheres e940 homens; 197 religiosas, 41 religiososirmãos, 331 presbíteros e 56 bispos, dentreos quais um da Igreja Episcopal Anglicanado Brasil, além de pastores, pastoras e fiéis

dessa Igreja, da Igreja Metodista, da IgrejaEvangélica de Confissão Luterana no Bra-sil e da Igreja Unida de Cristo do Japão. Ocaráter pluriétnico, pluricultural e plurilin-guístico de nossa assembleia encontra-seespelhado no rosto das 38 nações indíge-nas aqui presentes e no de irmãos e irmãsde nove países da América Latina e do Ca-ribe, de cinco da Europa, de um da África,de outro da Ásia e da América do Norte.Queremos ressaltar a presença marcante dajuventude de todo o Brasil por meio de suasvárias organizações.

Nas diferenças, o mesmo Deus quenos convoca para a Justiça e a Paz.Juntos, representantes das Religi-

ões Indígenas e dos Cultos Afro-brasilei-ros, de Judeus, Cristãos Ortodoxos, Cató-licos e Evangélicos, Muçulmanos, de mu-lheres e homens de boa vontade e de to-das as crenças, no diálogo e respeito à di-versidade da teia da vida, acolhemos osgritos da Amazônia e de todos os biomas,e reafirmamos nossa solidariedade e com-promisso com a justiça geradora da paz.

Caminhamos como povo de Deus queconquista a Terra Prometida e a torna es-paço de fartura e fraternura, acolhendotodas as expressões da vida.

Carta faz balanço e destacacompromissos das CEBs

A revista Rogate apresenta extrato da mensagem finaldo 12º Intereclesial das CEBs, realizado em

Porto Velho (RO), de 21 a 25 de julho

12 Rogate 275 set/09

Da Redação

ATUALIDADES

Comprometemo-nos a fortalecer as lu-tas dos movimentos sociais populares: asdos povos indígenas, pela demarcação ehomologação de suas terras e respeito porsuas culturas; as dos afro-descendentes,pelo reconhecimento e demarcação dasterras quilombolas; as das mulheres, porsua dignidade e igualdade e avanço em suasarticulações locais, nacionais e internaci-onais; as dos ribeirinhos pela legalizaçãode suas posses; as dos atingidos pelas bar-ragens, pelo direito à terra equivalente,restituição de seus meios de sobrevivên-cia perdidos e indenização por suasbenfeitorias; as dos sem terra, apoi-ando-os em suas ocupações eem sua e nossa luta pela re-forma agrária, contra o lati-fúndio e os grileiros; as dosmovimentos ecológicos, con-tra a devastação da natureza,pela defesa das águas e dosanimais.

Queremos defender e apoi-ar o movimento “Florestania”, no respei-to à agrobiodiversidade e aos valores cul-turais, sociais e ambientais da Amazônia.

Assumimos também o compromisso derespaldar modelos econômicos alternati-vos na agricultura, na produção de energi-as limpas e ambientalmente amigáveis; departicipar na luta sindical, reforçando a açãodos sindicatos do campo e da cidade, comsuas associações e cooperativas e sua lutacontra o desemprego, com especial aten-ção à juventude.

Convocamos a todos nós para o traba-lho político de base, para a militância emmovimentos sociais e partidos ligados àslutas populares; para participar nas lutaspor políticas públicas ligadas à educação,saúde, moradia, transporte, saneamentobásico, emprego, reforma agrária e para

tomar parte nos conselhos de cidadania,nas pastorais sociais, no movimento pelanão redução da maioridade penal, no Gritodos Excluídos, nas iniciativas do 1º de Maioe das Semanas Sociais.

Comprometemo-nos ainda a fortalecere multiplicar nossas Comunidades Eclesi-ais de Base, criando comunidades eclesi-ais e ecológicas de base nos bairros dascidades e na zona rural, promovendo a edu-cação ambiental em todos os espaços desua atuação; fortalecendo a formação bí-blica; incentivando uma Igreja toda ela mi-

nisterial, com ministérios diversifica-dos confiados a leigas e leigos; assu-

mindo seu protagonismo,como sujeitos privilegiadosda missão; fortalecendo o di-álogo ecumênico e interreli-gioso, e superando a intole-rância religiosa e os precon-ceitos.

Queremos, a partir dasCEBs, repensar a pastoral ur-

bana, como um dos grandes desafios ecle-siais, assumir o testemunho e a memóriados nossos mártires e empenhar-nos naMissão Continental proposta pela 5ª Con-ferência do Episcopado Latino-americanoe Caribenho, em Aparecida.

Rumo ao 13º IntereclesialEscolhida a Igreja do Crato, que irá aco-

lher, nas terras do Padre Cícero, o 13º In-tereclesial, recolocamos nos trilhos o tremdas CEBs, rumo ao Ceará, enviando avocês, irmãos e irmãs das comunidades,nosso abraço fraterno, e cheio de revigo-rada esperança.

Amém! Axé! Auerê! Aleluia!

Mensagem completa em: www.cebs12.org.br

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ESPECIALESPECIAL

No caminho do“discipulado missionário”

- parte 1 -

Os eixos fundamentais do serviço de animação vocacionalsão refletidos neste documento elaborado

pela CMOVC, da CNBB

Durante o 18º Encontro Nacional doServiço de Animação Vocacional(ENSAV), realizado no Centro

Rogate do Brasil, em São Paulo (SP), dias08 e 09 de junho, os representantes dosRegionais presentes foram motivados pelaComissão Episcopal Pastoral para os Mi-nistérios Ordenados e a Vida Consagrada,da Conferência Nacional dos Bispos doBrasil (CMOVC-CNBB), representada porPe. Reginaldo de Lima e Ir. Maria do CarmoSilva Santiago, respectivamente assessore secretária da comissão, a refletirem so-bre dois textos. Um deles foi oferecidopelas Pontifícias Obras das Vocações (daCongregação para a Educação Católica) eo outro tratava-se de um documento daCMOVC, com a indicação dos eixos funda-mentais do serviço de animação vocacio-nal (cf. Rogate 274, ago/09, p. 15-17). Umextrato do primeiro texto foi apresentadono último número da revista Rogate. Apartir desta edição, e até o mês de dezem-bro, a Rogate apresentará as quatro par-tes do documento da CMOVC, intitulado“No caminho do discipulado missionário”,na certeza de que este será um ótimo sub-sídio para o trabalho dos animadores e ani-madoras vocacionais.

IntroduçãoPara a vida de cada cristão e para a vida

da Igreja, é de grande importância a con-vicção de que é Deus mesmo quem toma ainiciativa para vir ao nosso encontro. Neleestá a fonte do chamado para o seguimentoa Jesus Cristo; para a vivência da missão; ea vivência em comunhão. A CMOVC, à luzdo Documento de Aparecida (DA) e dasDiretrizes Gerais da Ação Evangelizadorada Igreja no Brasil (2008-2010), desejaaprofundar, em seu âmbito de atuação, es-ses eixos fundamentais. A vivência dessecaminho na Igreja e na sociedade só é pos-sível pela ação do Espírito Santo, que di-namiza a vida da comunidade e a consolidacom vocações específicas, sempre a ser-viço da edificação do Povo de Deus. Paratanto, precisamos dar atenção à formaçãocomo necessidade e desafio.

“A condição do discípulo brota de JesusCristo como de sua fonte, pela fé e pelobatismo, e cresce na Igreja, comunidadeonde todos os seus membros adquiremigual dignidade e participam de diversosministérios e carismas. Desse modo, rea-liza-se na Igreja a forma própria e especí-fica de viver a santidade batismal a servi-ço do Reino de Deus” (DA 184).

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Quando cada pessoa toma consci-ência de que é chamada por Deuspara seguir Jesus Cristo, fazendoparte da comunidade, e de que omesmo Deus lhe concede a graça doEspírito Santo para testemunhar essaexperiência de fé na família, na comu-nidade e na sociedade, ela sabe que nãose trata de missão por conta própria, masda comunhão com Jesus Cristo. Esta gra-ça precisa ser continuamente cultivada demodo pessoal e na comunhão com a co-munidade.

As pessoas que têm vocação e missãoespecíficas necessitam ainda mais encon-trar meios para esse cultivo e aprofunda-mento, pois se trata de fazer, como "discí-pulo missionário", a experiência do encon-tro com Jesus Cristo nessa realidade emconstante transformação e tão desafiado-ra. “Cada uma das vocações tem um modoconcreto e diferente de viver a espirituali-dade, que dá profundidade e entusiasmopara o exercício concreto de suas tarefas.Dessa forma, a vida no Espírito não nosfecha em intimidade cômoda e fechada,mas sim nos torna pessoas generosas ecriativas, felizes no anúncio e no serviçomissionário.Torna-nos comprometidoscom os reclamos da realidade e capazes deencontrar nela profundo significado emtudo o que nos cabe fazer pela Igreja e pelomundo” (DA 285).

Chamados ao seguimentode Jesus Cristo:

“Segue-me” (Mc 2,14)

1. Jesus Cristo sempre toma a iniciati-va para chamar os discípulos, para esco-lher os doze, para formá-los e para enviá-los. Assim, vai acontecendo um profundorelacionamento entre os discípulos e o

Mestre; pois ele “constituiu doze para queficassem com ele e para enviá-los a pre-gar, e terem autoridade para expulsar osdemônios” (Mc 3,14-15).

2. Os discípulos vão descobrindo todaa beleza da vida do Mestre a partir do en-contro com ele e sentem entusiasmo emsegui-lo. Mesmo que tudo ainda não sejaclaro para eles, a experiência da vivênciacom Jesus Cristo lhes indica que ele é oMestre missionário, amigo dos publicanose pecadores, que está sempre saindo aoencontro: “Jesus percorria todas as cida-des e povoados ensinando em suas sina-gogas e pregando o evangelho do Reino,enquanto curava toda sorte de doenças eenfermidades” (Mt 9,35).

3. Mas Jesus percebe a fragilidade navida deles e os prepara para que possamabraçar a missão que passa pela renúnciade si mesmos, pelo sofrimento (cf. Mc8,34), pela entrega da vida: “O Filho doHomem não veio para ser servido, maspara servir e dar a sua vida em resgate pormuitos” (Mc 10,45). No processo de for-mação, Jesus está sempre dirigindo-lhes apalavra, dando-lhes particular atenção (cf.

ESPECIAL

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Mc 4,10.34; 8,31; 9,30-31; 10,32-33.42;14,17.28; 16,14), para que estejam viven-ciando a comunhão com o Mestre: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz,também vós o façais [...]. Se compreender-des isso e o praticardes, felizes sereis” (Jo13,15.17).

4. Ele sabe que veio para reunir e guiaraqueles que são atraídos pelo Pai e lhe sãoentregues: “Por eles eu rogo; não rogo pelomundo, mas pelos que me deste, porquesão teus” (Jo 17,9).

5. Depois de ressuscitado, Jesus con-tinua saindo ao encontro dos discípulos.Em primeiro lugar daqueles dois na es-trada de Emaús e, em seguida, da comu-nidade toda, como encontramos no evan-gelho de Lucas (cf. Lc 24,13ss). A experi-ência do encontro torna-se fundamentalpara que a motivação seja renovada. Nes-se encontro, Jesus parte da situação dedesencanto que está sendo vivenciada pe-los discípulos. Percebendo que veem a re-alidade a partir de si mesmos, Jesus per-gunta e deixa que falem.

6. Depois de escutá-los, Jesus faz ob-servações quanto à visão que expressame os questiona: “E, começando por Moi-sés e por todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as Escrituras o quea ele dizia respeito” (Lc 24,27).Mostra-lhes o significado profundodo que estava acontecendo. Esse tem-po que Jesus dedica para clarear a vi-são deles é muito importante, masnão foi suficiente. Um outro passoaconteceu na celebração da parti-lha do pão. Aí, os seus olhos seabriram. E mesmo assim, houvenecessidade da confirmação da ex-periência na comunidade dos dis-cípulos. Foi então que “abriu-lhesa mente para que entendessem as

Escrituras” (Lc 24,45) e explicou-lhes osentido do seu sofrimento, da entrega desua vida. No acompanhamento que Jesusfaz há um destaque especial para a Palavrae para “a partilha do pão”, que ele abençoae distribui, como lugares de encontro como Ressuscitado.

7. Porém, não basta caminhar com Je-sus, escutá-lo, ver suas obras. Muitos es-tavam com ele, mas não haviam descober-to a pessoa e a missão de Jesus a partirdele. A visão que predominava em seus co-rações era aquela de um Messias gloriosoque libertaria o povo, traria vantagens eprivilégios para seus adeptos e reinariasem passar pelo sofrimento, ainda maispela morte na cruz. Por isso não o acolhemlogo como ele é: aquele que sofreu, foi cru-cificado e os acompanhava vivo.

8. Na verdade, vemos como há todo umprocesso na vida dos discípulos. Antes seusolhos estavam impedidos de reconhecê-lo.Agora eles o reconhecem na ceia, mas Je-sus se torna invisível diante deles (cf. Lc24,31). Então, o que é fundamental na ex-periência do seguimento a Jesus Cristo, oque precisa marcar o caminho espiritual dodiscípulo?

ESPECIAL

16 Rogate 275 set/09

9. Jesus se dá a conhecer na comunida-de reunida. A experiência dos dois não osisola da comunidade; ao contrário, moti-va-os para que voltem à comunidade. Mas,mesmo depois de contarem e escutaremas experiências do encontro, ainda há dú-vidas em seus corações. Assim, não reco-nheceram Jesus quando se apresentou nomeio deles e disse: “A paz esteja convos-co!” (Lc 24,36). É o próprio Jesus que vaiapresentar-lhes as mãos e os pés e comerum pedaço de peixe para fazer-lhes ver quese trata dele mesmo. “Então, abriu-lhes amente para que entendessem as Escritu-ras, e disse-lhes: ‘Assim está escrito que oCristo devia sofrer e ressuscitar dos mor-tos ao terceiro dia, e que, em seu nome,fosse proclamado o arrependimento paraa remissão dos pecados a todas as nações,a começar por Jerusalém’” (Lc 24,45-47).É na comunidade dos discípulos que seconfirma a experiência do encontro feitaanteriormente de modo pessoal e em pe-quenos grupos. Jesus, outra vez, toma ainiciativa de ir ao encontro dos seus discí-

pulos, agora reunidos. Ele sabe da impor-tância da comunidade dos discípulos paraa missão. Por isso lhe dá atenção, expli-cando o significado de tudo o que haviaacontecido com ele. É necessário que a co-munidade seja realmente comunidade detestemunhas do Ressuscitado; pois se tratade vivenciar, celebrar e anunciar o que naverdade aconteceu e que faz parte da ex-periência pessoal e comunitária: “Isso quevimos e ouvimos, nós vos anunciamos”(1Jo 1,3). Sem esta experiência constanteda presença do Mestre, sem estar nessacomunhão profunda com aquele que cha-ma e envia, a comunidade não será comu-nidade de "discípulos missionários". É Je-sus mesmo quem afirma: “Vós sois as tes-temunhas dessas coisas” (Lc 24,48). Paralevar adiante a missão, a comunidade dosdiscípulos vai acolher como graça a con-vicção de que não estará sozinha e iráaprofundá-la a cada momento, pois conta-rá com a força do Espírito de Deus: “Euenviarei sobre vós o que meu Pai prome-teu. Por isso, permanecei na cidade até que

sejais revestidos da força do Alto”(Lc 24,49). Aquele mesmo que con-

sagrou Jesus para amissão, também con-sagra os discípulosdele para que con-tinuem a obra queé de Deus.

ESPECIAL

Sem a experiênciada presença doMestre, sem estarem comunhão comaquele que chama eenvia, a comunidadenão será de “discípu-los missionários”

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ESPECIAL

CMOVC-CNBB

10. A comunidade, no caminho de Je-sus Cristo, precisa aprender a sair ao en-contro das pessoas, de grupos e de outrascomunidades; a sair em missão, a se reu-nir e celebrar, a ser testemunha e dar tes-temunho. Em 1975 o papa Paulo VI já con-siderava que é importante realçar: “para aIgreja, o testemunho de uma vida autenti-camente cristã, entregue nas mãos deDeus, numa comunhão que nada deverá in-terromper, e dedicada ao próximo com umzelo sem limites, é o primeiro meio deevangelização. ‘O homem contemporâneoescuta com melhor boa vontade as teste-munhas do que os mestres – dizíamos ain-da recentemente a um grupo de leigos –ou então, se escuta os mestres, é porqueeles são testemunhas’. [...] Será, pois, peloseu comportamento, pela sua vida, que aIgreja há de, antes de mais nada, evangeli-zar o mundo; ou seja, pelo seu testemu-nho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus,testemunho de pobreza, de desapego e deliberdade frente aos poderes deste mun-do; numa palavra, testemunho de santida-de” (EN 41).

11. Na vivência do seu testemunho, acomunidade é chamada a reconhecer aschagas vivas de Cristo na vida das pesso-as, das famílias, dos jovens, das comuni-dades, de todos os excluídos. Guiada peloEspírito Santo, a comunidade se deixaráinterpelar pelos que sofrem, e será ilumi-nada para que seus membros sejam "discí-pulos missionários", obedecendo ao evan-gelho: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc10,37).

12. Mergulhando no Mistério da Pás-coa de Jesus Cristo, o discípulo encontra aforça de Deus que o faz entrar na realida-de em que vive para descobrir que já foiredimido pela entrega da vida de Jesus. Oque lhe falta é abrir, sem reservas, sua vida

para acolher a graça que lhe é concedidano encontro com aquele que morreu e res-suscitou, e que continua saindo ao encon-tro dos filhos e filhas amados de Deus parareunir o que está disperso (cf. Jo 11,52).

13. O Documento de Aparecida, ressal-tando a importância da experiência do en-contro pessoal com Jesus Cristo, mostraque a vivência da fé pede necessariamen-te a ligação-pertença a uma comunidadede fé: “Também hoje o encontro dos discí-pulos com Jesus na intimidade é indispen-sável para alimentar a vida comunitária ea atividade missionária. Os discípulos deJesus são chamados a viver em comunhãocom o Pai (1Jo 1,3) e com seu Filho mortoe ressuscitado, na ‘comunhão do EspíritoSanto’ (2Cor 13,13). [...] A vocação ao dis-cipulado missionário é con-vocação à co-munhão em sua Igreja. Não há discipuladosem comunhão. Diante da tentação, muitopresente na cultura atual, de ser cristãossem Igreja e das novas buscas espirituaisindividualistas, afirmamos que a fé em Je-sus Cristo nos chegou através da comuni-dade eclesial e ela ‘nos dá uma família, afamília universal de Deus na Igreja Católi-ca. A fé nos liberta do isolamento do eu,porque nos conduz à comunhão’ (DI 3).Isso significa que uma dimensão constitu-tiva do acontecimento cristão é o fato depertencer a uma comunidade concreta naqual podemos viver uma experiência per-manente de discipulado e de comunhãocom os sucessores dos apóstolos e com opapa” (DA 154.155.156). Sendo assim, adimensão comunitária não é uma dimen-são entre outras, mas precisa acompanhare perpassar todas as dimensões da forma-ção humana.

Continua na próxima edição

18 Rogate 275 set/09

VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

Jovens cristãos: promovidosem “educação sexual”

Uma das belezas da vida cristã é a valorização do “você”,sinal de que é possível deixar de lado o “eu” para

compreender o “outro”

Vamos procurarc o m p r e e n d e rporque a escolha

cristã se diferencia dasdemais escolhas. Umapessoa que tem fé nãopode escolher como umateu, mesmo quando éforte a tentação de ratifi-car a mentalidade comum. Exatamente nomomento da decisão torna-se evidente adiferença, e a fé aparece com toda sua for-ça discriminante. Tomamos, como exem-plo, a escolha que um adolescente ou jo-vem é convidado a fazer, frequentemente,diante da própria sexualidade, com suaspretensões e seu mistério.

“É assim que todos fazem...”Um adolescente, animal mimético (afei-

to a imitações), é fortemente induzido aagir, a respeito da conduta sexual, comofazem os outros, os que parecem mais as-tutos e líderes no grupo, os que parecemter solucionado todas as dúvidas no assuntoe não conhecem os pudores e as vergo-nhas do passado, os que podem exibir,como um troféu, o número de meninas“conquistadas”, e besteiras realizadas.

Os que “não sabem fazer isso”, pelo

contrário, são inexoravel-mente excluídos. Eleschegam ao ponto de in-ventar algo sobre o as-sunto para não receberemo desprezo dos outros. Otema do sexo é o mais frá-gil e, ao mesmo tempo, omais sutil dos conformis-

mos. Prevalece a lei - única - da manada:todos os animais, obedientes, fazem asmesmas escolhas. Aliás, as sofrem. E jul-gam-se como livres.

A pessoa que tem fé baseia sua escolhaem pontos de referência que vão além dalógica do “é assim que todos fazem”: oevangelho do amor, por exemplo, ou o res-peito pela mulher e por sua beleza, ou ocorpo como templo de Deus, ou o misté-rio da sexualidade... Em todo caso, muitoalém da decisão que vai tomar, ela acreditana possibilidade de fazer uma escolha, e nãode sofrê-la.

“Conquistei aquela menina...”A linguagem usual é muito expressiva:

“Ontem conquistei aquela menina, e comela já cheguei a oito”. Isto é, o sujeito ati-vo é o “eu”, colecionador de conquistas; o“você” desaparece na sua individualidade

Foto: www.sxc.hu

19Rogate 275 set/09

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

e dignidade, ou se torna somente um nú-mero para redigir a classificação especial dosforçados ao sexo, algo passivo. Assim, comoum adolescente “bebe” uma cerveja ou algoforte, “conquista” também a menina (ou asmeninas) e fala disso com a linguagem “nar-cisista” de quem pensa que o mundo giraao redor da sua potência sexual.

Quem tem o dom da fé deveria conse-guir não entrar neste delírio de simbiose,aonde existe somente o “eu”. O cristianis-mo é a religião do “você”, do rosto do ou-tro como fonte de responsabilidade para o“eu”, de encontrar sempre uma aberturapara o outro. A sexualidade encontra nareligião toda a sua dimensão profundamen-te relacional.

“Se a outra topa...”Mais uma vez a linguagem serve para

entender as intenções escondidas (e nemtanto): “se a outra topa... é sinal de que elagosta de mim e eu não faço nada de mal...”.E assim uma pessoa se justifica, aliás, tentaapropriar-se da bondade de uma escolha,apropriar-se da liberdade dos outros. Ne-nhum sinal para um possível amor: é sóquestão de “gostar-se”. Significa toda ou-tra coisa e desvirtua o encontro sexual, le-vando-o a uma simples troca entre corpos,não conscientes um do outro, mas cada umpor si, e que leva a uma satisfação que pas-sa por acaso pelo corpo do outro, atravésde um encontro fechado “no espaço limi-tado e pegajoso que corre entre dois orifí-cios destinados ao desafogo fisiológico” (T.Zanni). Também Freud, nesta altura, teriaalgo a dizer.

Para o cristão, o corpo não é somente enem essencialmente fonte de prazer, masinstrumento do dom de si; e a outra pes-soa não é uma “dançarina ousada”, ou “al-guém que topou”, mas é a companheira de

uma aventura inédita, que vai levar os doisa descobrirem o mistério do ser humano ea maravilha do relacionamento íntimo.

A sexualidade é parte deste mistério, ea alegria do relacionamento é a felicidadede conhecer (o você) e reconhecer-se (emvocê).

O namoro ilícito de uma noiteContinuemos ainda analisando o proble-

ma central: a ideia do outro. Muitas vezeso relacionamento sexual é um monólogo,uma ginástica, que para ser praticada cor-retamente precisa de um outro corpo. É ochamado “namoro ilícito de uma noite”, rá-pido e sem história, uma ocasião para nãoperder e consumar com quem - outra gíriapopular -, “topa fazer sexo”. Trata-se dosexo “usa e joga fora”, aquele da falsa li-beração sexual de algumas dezenas de anosatrás, o sexo da ousadia que depois criaanorexia, ou de quem, coitadinho, fica con-tente em fazer sexo, mas depois não gozaou não sabe e nem pode gozar, porque per-deu o contato com os seus sentimentos(imagina com os sentimentos dos outros),porque a sua sexualidade tem a mesma au-tenticidade das flores artificiais.

Para quem está livre em Cristo, o rela-cionamento sexual é como a celebração fi-nal de um relacionamento que passou porvárias etapas. É o momento do máximoentendimento com uma pessoa com a qualo acordo cresceu pouco a pouco, entre es-forços, renúncias e escolhas corajosas, comuma pessoa que agora ninguém trocariapor todo o ouro do mundo... a mais lindade todas, para uma felicidade imensa...

Obsessão e êxtase,risco e esperança

Que tormento e que aborrecimentoesta invasão do sexo em todos os níveis, e

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Amedeo CenciniReligioso Canossiano e sacerdote

Trad. Guido MottinelliReligioso Rogacionista e sacerdote

VOCACIONAL

colocado em todos os temperos para esti-mular o apetite por alguma coisa, qualquercoisa: os nossos sapatos, os alimentos, amarca da gasolina... Essas coisas o exibemcomo um símbolo, os programas de TV orepetem com uma frequência até monóto-na, e nós, manada de consumidores tele-dependentes (talvez com alguma exceçãono setor), de uma maneira ordenada, oaceitamos e nos esforçamos para rir dian-te de uma estúpida piada sobre o sexo, con-tada muitas vezes. Assim, o sexo acaboude ser um mistério, tornou-se uma coisabanal e achatada, a ser entregue ao psica-nalista e ao sexólogo. Estas pessoas, comtoda certeza, nos convidarão a nos libertarde todo obstáculo e reticência, para expe-rimentar a inebriante (?) liberdade dos sen-tidos.

Agora, se é verdade que a capacidadede escolha do ser humano se engrandecediante do mistério e dos múltiplos e inédi-tos caminhos que se abrem para a liberda-de humana, não é difícil entender o papelestratégico e precioso da dimensão sexu-al. O risco, então, será de que a perda domistério da sexualidade determine tam-bém a perda da capacidade da escolha.

A esperança está em nossos jovens, ounaqueles que, nesta geração, finalmenteabram os olhos e se rebelem contra estaimposição (de alguns adultos?) que os tor-nam escravos e deprimidos.

Esses jovens terão sorte se, educadosno sentido da beleza misteriosa da sexua-lidade, tiverem a coragem de fazer esco-lhas coerentes, especialmente se nelasdescobrirem a alegria prometida por Jesus:“bem-aventurados os puros de coração”!

Os velhos ascetas diziam que “o maiorde todos os pecados é o esquecimen-

to”; o maior e também não tão raro, comoparece. [...] E é interessante, tristemente in-teressante, observar que do esquecimentovem a idolatria, que quer dizer o bezerro deouro no lugar de Deus, o ídolo mudo e ina-nimado em meu poder, portanto, o eu, emúltima análise, que pretende tirar Deus docentro, tornando inócuo todo projeto deintegração em torno da cruz de Jesus.

O egocentrismo, segundo os Padres, “éa mãe de todos os pecados”, e é isto quese opõe, explicitamente, a um projeto deintegração.

Essa passagem, do maior dos pecados(o esquecimento) à mãe de todos os peca-dos (o egocentrismo), marca, também, a pas-sagem da ingratidão esquecida e irrespon-sável, que esquece aquilo que Deus fez pormim, de onde deveriam nascer confiança eresponsabilidade, para a preocupação exces-siva por mim mesmo. Daí, o afã crescente,aquele afã que complica terrivelmente a vida,pois torna superpreocupado de si, como seestivesse sozinho no deserto, filho de nin-guém ou de um passado hostil, ou abando-nado a um destino cego e sinistro.

Agora, tal preocupação é pagã, pode tê-la somente aquele que não crê, ou crê enão confia, ou não recorda mais que Deusé aquela Vontade boa que cuida de cadavivente, que já cuidou de cada um, em cadadia da vida. Por isso o esquecimento é omaior de todos os pecados, exatamenteporque leva à “mãe de todos os pecados”,o egocentrismo, ou à maior estupidez queo ser humano pode cometer: colocar-se nocentro da vida, usurpando aquele lugar quecabe a Deus e que é todo interesse do serhumano deixar nas grandes mãos divinas,porque somente Deus e o seu amor lhe per-mitem reunir toda a sua existência sem en-vergonhar-se dela, mas, ao contrário, reco-nhecendo nela os traços daquele amor.

A mãe de todos os pecados:o egocentrismo

CENCINI, A. “A árvore da vida”.São Paulo, Paulinas, 2007, p. 232-233

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IN FORMAÇÃOIN FORMAÇÃO

A Bíblia e o desafioda interpretação sociológica

Com uma linguagem simples, clara e didática,o livro A Bíblia e o desafio da interpretaçãosociológica, novo lançamento da Paulus Edi-

tora, possibilita o aprofundamento da compreensãoda Bíblia por pessoas que não são especialistas noassunto, mas são apaixonados pelo tema. Mestre emCiências da Religião pela Pontifícia Universidade Ca-tólica de São Paulo (PUC-SP) e professor de Bíblia,Teologia, Filosofia, Ética e Estudo do Homem Contem-porâneo na Universidade São Francisco, em São Paulo(SP), o autor Valter Luiz Lara faz um estudo sociológicodos textos bíblicos do Antigo Testamento buscando com-preender o contexto histórico e social no qual eles foramelaborados, o que permite desfazer certos preconceitosdogmáticos, sem negar os dogmas. O autor também res-salta o papel feminino na Bíblia, especialmente nos livrosCântico dos Cânticos, Ester, Judite e Rute. É uma obra queconvida o leitor a um olhar crítico da Bíblia, e que pode auxili-ar os animadores e animadoras vocacionais a esclarecerem al-guns mitos que dificultam a caminhada.

Páginas: 160Formato: 16 x 23 cmPreço: R$ 20,00

Pedidos:www.paulus.com.brTel. (11) 5087-3700

Div

ulga

ção

Com o tema “Lançai vossas redes do outro lado e achareis” (Jo 21,6), a FamíliaCarmelitana da América Latina esteve reunida entre os dias 02 e 15 de agosto, em

Curitiba (PR), pensando a realidadevocacional numa perspectiva juvenil.Foi a 9ª edição do encontro de for-mação, chamado de “Focal Interna-cional dos Carmelitas”. Utilizou-se ométodo “ver, julgar, agir”. O religiosoRogacionista, Pe. Geraldo Tadeu Fur-tado, do departamento de assesso-ria do Centro Rogate do Brasil, e se-cretário do Instituto de Pastoral Vo-cacional (IPV), abordou sobre a fun-damentação teológico-pastoral.

Foto: Antonio Rock Oliveira

Curso de Formação Carmelitana debate tema vocacional

22 Rogate 275 set/09

IN FORMAÇÃO

Curso em ItaiciEntre os dias 14 e 16 de agosto foi rea-

lizado na Vila Kostka, em Itaici, municípiode Indaituba (SP), o curso para animado-res e animadoras vocacionais, com o tema“Discípulos missionários a serviço das vo-cações; rumo ao 3º Congresso Vocacionaldo Brasil”. Estiveram presentes 65 pes-soas. O curso contou com a assessoria doPe. Luís González-Quevedo, Jesuíta, res-ponsável pelo Centro de EspiritualidadeInaciano (CEI) da Vila Kostka, e do Pe. Ge-raldo Tadeu Furtado, Rogacionista, mem-bro da Comissão Executiva de preparaçãodo 3º Congresso Vocacional do Brasil. Itaicitambém abrigará o congresso em 2010.

Assembleia do IPVNos dias 13 e 14 de agosto, na sede do Ins-

tituto de Pastoral Vocacional (IPV), em SãoPaulo (SP), realizou-se a assembleia geral am-pliada da entidade, reunindo os superiores mai-ores dos institutos que compõem o IPV, maisos membros dos respectivos conselhos. Napauta, informações sobre os congressos voca-cionais do Brasil, marcado para setembro de2010, e Latino-americano, que se realizará emfevereiro de 2011. O regimento interno da en-tidade também foi tema de debate, em sua fasede elaboração e aprovação. Por fim, projetou-se a agenda vocacional Caminhos 2011,com o tema central: “Chamados a lançar as redes para alcançar vida plena em Cristo”.

Foto: Arquivo Rogate

26º Encontro RogateJá estão abertas as inscrições para a 26ª

edição do Encontro Rogate, marcado paraos dias 31 de outubro a 02 de novembro,no Centro Rogate do Brasil, em São Paulo(SP). O assessor, Pe. Ângelo Mezzari, es-tará trabalhando e aprofundando o Instru-mento de Participação ou Texto-base do 3ºCongresso Vocacional do Brasil (veja deta-lhes na terceira capa desta revista).

Dia Mundial da PazO papa Bento XVI divulgou o tema de

sua mensagem para Dia Mundial da Paz de2010: “Se quiser cultivar a paz, preserve acriação”. Segundo o Vaticano, o objetivodo papa ao abordar este tema é “promovera conscientização da estreita relação nomundo globalizado entre a proteção da cri-ação e o bem da paz”. O Vaticano afirmou,ainda, que se a humanidade não souber en-frentar esta questão com renovado senti-do de justiça, equidade social e solidarie-dade internacional “corre o risco de seme-ar a violência entre os povos e entre asgerações presentes e futuras”. A mensa-gem apresentará indicações contidas emsua última encíclica, Caritas in veritate.

Foto

: Arq

uivo

Rog

ate

23Rogate 275 set/09

As mensagens enviadas poderão sereditadas pela equipe, favorecendo ummelhor entendimento de seu conteúdo.

Nossa Senhora da PennaPor ser leitor e assinante da Rogate, e

notar sempre a divulgação de eventos ca-tólicos importantes, venho comunicar queneste mês de setembro estão sendo reali-zados eventos festivos em louvor à NossaSenhora da Penna, em nossa comunidade,Freguesia, Jacarepaguá. No dia 08, porexemplo, D. Orani João Tempesta, arcebis-po de São Sebastião do Rio de Janeiro, es-tará presidindo a celebração na Solenida-de de nossa Padroeira. As festividades vãoaté o dia 27 de setembro.

Nelson Pereira Ribeiro Rio de Janeiro (RJ)

Curso VocacionalParticipei, com alegria, do curso voca-

cional assessorado pelos padres LuísGonzález-Quevedo, Jesuíta, e Geraldo Ta-deu Furtado, Rogacionista. O evento foi re-alizado de 14 a 16 de agosto, na Vila Kostka,em Itaci. Lembro que nossos olhos brilha-vam, encantados pela própria pastoral vo-cacional e cheios de ânimo para nos im-

L E I T O RLEITOR

pulsionar a dar testemunho de Jesus navida da Igreja. Quero agradecer a revistaRogate, pois foi através dela que muitosde nós chegamos ao encontro. Esse meiode comunicação é fundamental para nossaIgreja. Aproveito para deixar, também, osparabéns pelo filme “A Competição”, daTurma do Triguito. Está um sucesso!

Ir. Maria Cristiane, FBpor e-mail

EntrevistaRecebi a Rogate e agradeço. Gostei

muito da edição que fizeram de minha en-trevista (“Arte e música como expressãoda fé”, n. 274, ago/09, p. 3-7). Minhascoirmãs e outras pessoas que tiveramoportunidade de ler me apresentaram osparabéns e gostaram muito da revista.

Ir. Juliana Tartas, FCCuritiba (PR)

Fabricação e restauração de artigos sacros em metal

24 Rogate 275 set/09

MÍSTICAMÍSTICA DA VOCAÇÃO

Inácio de Loyola,evangelizador corajoso

Patrício SciadiniReligioso Carmelita Descalço e Sacerdote

Na vida dos santos encontramos as-pectos que nos surpreendem pelacoragem e pela ousadia. Santos não

têm medo de nada e de ninguém, estãoapaixonados por Jesus Cristo e pelo seuReino, e por isso lançam-se corajosamen-te na batalha em defesa da fé e da Igreja.Inácio de Loyola é o fundador da Compa-nhia de Jesus, mais conhecida como Or-dem dos Jesuítas, um instituto religiosoque já teve o maior número de religiososna Igreja, considerada a Ordem mais obe-diente ao papa e decidida a levar a sério oscompromissos evangelizadores em todosos campos. Encontramos jesuítas envol-vidos na área da educação, da ciência, damissão. E nós, brasileiros, muito devemosaos jesuítas, que foram os primeiros des-bravadores e souberam infundir no povoprincípios de fé e coragem.

Inácio era espanhol e nasceu em 1491,cem anos antes da morte do grande místi-co João da Cruz, contemporâneo de Marti-nho Lutero e contemporâneo da descober-ta da América. A reforma protestante e adescoberta da América serão acontecimen-tos que influenciarão toda a vida deste san-to. Homem batalhador e decidido a se coro-ar de fama militar, ao cair ferido em campode batalha é levado a Loyola. Durante a suarecuperação, não sabendo como passar otempo, começa a ler os livros “Vita Christi”e “Flos Sanctorum”, que mais tarde influ-enciarão a vida de Santa Teresa de Ávila.

As leituras o convertem, e ele toma adecisão de ir à Terra Santa para expiar ospecados. Assume uma nova vida, e nos cír-

culos universitários encontra jovens dese-josos de segui-lo e de ser de Cristo, entreos quais estava Francisco Xavier. Genero-so na sua doação, não se poupa e, estandoà frente da sua comunidade e Ordem, querque todos se dediquem ao serviço de Deuse à defesa da Igreja católica. Inácio querque seus religiosos sacerdotes sejam mo-delos dos seguidores de Jesus Cristo, to-talmente disponíveis na evangelização e aserviço do papa, dando gratuitamente o quegratuitamente recebem.

Inácio de Loyola continua vivo atravésde todos os jesuítas do mundo e atravésdos “Exercícios Espirituais”, os livros maisfamosos que ele escreveu, com os quaisainda hoje milhares de pessoas encontram-se com Deus, consigo mesmas e com osoutros. A Ordem dos Jesuítas é rica demártires e santos que souberam, com aprópria vida, e sua específica missão e dou-trina, dar um rosto de santidade a tantaspessoas. Inácio morreu em 31 de julho de1556. Nada pode deter o dever do jesuítade anunciar o evangelho em todos os lu-gares do mundo.

Quer saber mais sobre este santo e so-bre os jesuítas? São diversos caminhospara pesquisa, mas indicamos dois ende-reços interessantes:

http://www.itaici.org.brTel.: (19) 2107-8501http://www.cpalsj.orgTel.: (21) 2537-8311