Opus_Dei - Maçonaria

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  • 7/28/2019 Opus_Dei - Maonaria

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    Jornal Milnio

    Opus Dei /Maonaria (a histria do BCP)

    por Miguel Sousa Tavares

    Em pases onde o capitalismo, as leis da concorrncia e a seriedadedo negcio bancrio so levados a srio, a inacreditvel histria doBCP j teria levado a prises e a um escndalo pblico de todo otamanho. Em Portugal, como tudo vai acabar sem responsveis e semresponsabilidades, convm recordar os principais momentos deste"case study", para que ao menos a falta de vergonha no passeimpune.

    1. At ao 25 de Abril, o negcio bancrio em Portugal obedecia aregras simples:Cada grande famlia, intimamente ligada ao regime, tinha o seubanco. Os bancos tinham um s dono ou uma s famlia como dono esustentavam os demais negcios do respectivo grupo. Com o 25 deAbril e a nacionalizao sumria de toda a banca, entrmos numperodo 'revolucionrio' em que "a banca ao servio do povo" setraduzia, aos olhos do povo, por uns camaradas mal vestidos e malencarados que nos atendiam aos balces como se nos estivessem afazer um grande favor.

    Jardim Gonalves veio revolucionar isso, com a criao do BCP e, maistarde, da Nova Rede, onde as pessoas passaram a ser tratadas comoclientes e recebidas por profissionais do ofcio.. Mas, mais: eleconseguiu criar um banco atravs de um MBO informal que, naprtica, assentava na ideia de valorizar a competncia sobre ocapital.O BCP reuniu uma srie de accionistas fundadores, mas quem defacto mandava eram os administradores - que no tinham capital,mas tinham "know-how".

    Todos os fundadores aceitaram o contrato proposto pelo "engenheiro"- exceo de Amrico Amorim, que tratou de sair, com grandes

    lucros, assim que achou que os gestores no respeitavam o estatutoa que se achava com direito (e dinheiro).

    2. Com essa imagem, alis merecida, de profissionalismo ecompetncia, o BCP foi crescendo, crescendo, at se tornar o maiorbanco privado portugus, apenas atrs do nico banco pblico, aCaixa Geral de Depsitos.E, de cada vez que crescia, era necessrio um aumento de capital. E,em cada aumento de capital, era necessrio evitar que algumacionista individual ganhasse tanta dimenso que pudesse passar ainterferir na gesto do banco.

    Para tal, o BCP comeou a fazer coisas pouco recomendveis: aospequenos depositantes, que lhe tinham confiado as suas poupanas

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    para gesto, o BCP tratava de lhes comprar, obviamente sem osconsultar, aces do prprio banco nos aumentos de capital,deixando-os depois desamparados nas perdas da bolsa;Aos grandes depositantes e amigos dos gestores, abria-lhes crditosde milhes em "off-shores" para comprarem aces do banco,

    cobrindo-lhes, em caso de necessidade, os prejuzos do investimento.Desta forma exemplar, o banco financiou o seu crescimento com oplo do prprio co, alis, com o dinheiro dos depositantes - esubtraiu ao Estado uma fortuna em lucros no declarados paraimpostos.Ano aps ano, tambm o prprio BCP declarava lucros astronmicos,pelos quais pagava menos de impostos do que os porteiros do bancopagavam de IRS em percentagem. E , enquanto isso, aqueles que lhetinham confiado as suas pequenas ou mdias poupanas viam-nassistematicamente estagnadas ou at diminudas e, de seis em seismeses, recebiam uma carta-circular do engenheiro a explicar que osmercados estavam muito mal.

    3. Depois, e seguindo a velha profecia marxista, o BCP quis crescerainda mais e engolir o BPI.No conseguiu, mas, no processo, o engenheiro trucidou o sucessorque ele prprio havia escolhido, mostrando que a tmida "renovao"anunciada no passava de uma farsa. Descobriu-se ainda uma outracoisa extraordinria e que se diria impossvel: que o BCP e o BPItinham participaes cruzadas, ao ponto de hoje o BPI deter 8% docapital do BCP e, como maior acionista individual, ter-se tornadodeterminante no processo de escolha da nova administrao... do

    concorrente! Como se fosse a coisa mais natural do mundo, opresidente do BPI d uma conferncia de imprensa a explicar quemdeve integrar a nova administrao do banco que o quis opar e com oqual suposto concorrer no mercado, todos os dias...

    4. Instalada entretanto a guerra interna, entra em cena o notvelcomendador Berardo, ele s o homem que mais riqueza acumula emenos produz no pas (protegido pelo 1 Ministro (Scretina), que lhedeu um museu do Estado para armazenar a coleco de arte privada.Mas, verdade se diga, as brasas espalhadas por Berardo tiveram omrito de revelar segredos ocultos e inconfessveis daquela casa. E

    assim ficmos a saber que o filho do engenheiro fora financiado emmilhes para um negcio de vo de escada, e perdoado em milhesquando o negcio inevitavelmente foi por gua abaixo. E que haviatambm amigos do engenheiro e da administrao, gente que seprestara ao esquema das "off-shores", que igualmente viam os seuscrditos malparados serem perdoados e esquecidos por acto de favorpessoal.

    5. E foi quando, l do fundo do sono dos justos onde dormiatranquilo, acorda inesperadamente o governador do Banco dePortugal e resolve dizer que j bastava: aquela gente no podia

    continuar a dirigir o banco, sob pena de acontecer alguma coisa demais grave - como, por exemplo, a prpria falncia, a prazo.

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    6. Renem-se, ento, as seguintes personalidades de eleio: ocomendador Berardo, o presidente de uma empresa pblica comparticipao no BCP e ele prprio ex-ministro de um governo PSD eda confiana pessoal de Scrates, mais, ao que consta, algum emrepresentao do doutor "honoris causa" Stanley Ho - a quem tantossocialistas tanto devem e vice-versa. E, entre todos, congeminam um"take over" sobre a administrao do BCP, com o "agrement" do dr.Fernando Ulrich, do BPI..E olhando para o panorama perturbante a que se tinha chegado, a

    juntar ao sbito despertar do dr. Vtor Constncio, acharam todosavisado entregar o BCP ao PS. Para que no restassem dvidas dassuas boas intenes, at concordaram em que a vice-presidnciafosse entregue ao sr. Armando Vara (que tambm usa 'dr.') - fabulosoexpoente poltico e bancrio que o pas inteiro conhece e respeita...

    7. E eis como um banco, que era to independente, que fazia tremeros governos, desagua nos braos cndidos de um partido poltico - elogo o do Governo. E eis como um banco, que era to cristo, to"opus dei", to boas famlias, acaba na esfera dessa curiosa seita doavental, a que chamam maonaria.

    8. E, revelada a trama em todo o seu esplendor, que faz o lder daoposio?Pede em troca, para o seu partido, a Caixa Geral de Depsitos, obanco pblico.Pede e vai receber, porque h 'matrias de regime' que mesmo umgoverno que tenha maioria absoluta no parlamento no se atreve a

    pr em causa. Um governo inteligente, em Portugal, sabe que nuncapode abocanhar o bolo todo. Sob pena de os escndalos comearema rolar na praa pblica, no pode haver durante muito tempo umpequeno exrcito de desempregados da Grande Famlia do BlocoCentral.

    Se algum me tivesse contado esta histria, eu no teria acreditado..Mas vemos, ouvimos e lemos. E foi tal e qual.

    Miguel Sousa Tavares