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Educação A Educação para Todos é um problema de todo o mundo ou meramente uma preocupação dos países em desenvolvimento? A questão é colocada na publicação Relatório de Monitoramento Global EFA 2002 (“Education for All: Is the world on track?”). Esta publicação recente da UNESCO é um marco. A definição da universalização do ensino fundamental como um dos Objetivos do Milênio pode ter dado a impressão de que a Educação para Todos é uma meta somente para os países pobres. Não é. Todos os países devem buscar a Educação para Todos, pois nenhum deles está totalmente satisfeito com a educação dada a seus residentes. Um dos objetivos do EFA é assegurar que as necessidades de aprendizagem de todos os jovens sejam atendidas por meio da igualdade de acesso aos programas e táticas de sobrevivência apropriados. Muitos vêem este objetivo como um sinônimo de ensino médio, o que a maioria dos países acha problemático. Algumas das questões são exploradas nesta edição do Educação Hoje. Os países em desenvolvimento querem expandir o ensino médio para que este possa preparar os jovens para contribuir com a sociedade e para a economia nas quais eles vivem. Nos países industrializados, o ensino médio já é universal. No entanto, na opinião desses países, estas escolas são pára-raios para as tempestades contemporâneas na sociedade. A maioria de nós gostaria que o ensino médio tornasse os jovens pessoas autônomas e motivadas que tivessem o desejo de contribuir com suas comunidades ganhando um salário satisfatório e promovendo o bem comum. Como podemos alcançar este objetivo? Uma interação mais rica entre professores e alunos é uma das abordagens possíveis. Cuba reorganizou os três primeiros anos do ensino médio para que os jovens tenham aulas de todas as matérias, exceto educação física e língua estrangeira moderna, com o mesmo professor. O objetivo é criar relações mais próximas e uma visão mais ampla do conhecimento. Outra abordagem enfatiza os valores pessoais. O Centro Columba 1400 (www.columba1400.com), na Escócia, tem demonstrado que até mesmo cursos de curta duração, quando centrados nos princípios da conscientização, concen- tração, criatividade, integridade, perseverança e serviço, podem mudar as atitudes e as subseqüentes escolhas de vida da juventude desmotivada. N0 4 Janeiro- Março de 2003 EDUCANDO ADOLESCENTES EDITORIAL REPORTAGENS John Daniel Diretor Geral Adjunto para a Educação O crescimento do ensino médio nos últimos anos é inédito. O resultado são turmas superlotadas, cheias de adolescentes com diferentes formações culturais e de diversas origens sociais. Em Foco, um relatório de quatro páginas, examina os problemas de professores sobrecarregados e alunos desinteressados. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura BREVES Iniciativas educacionais no Brasil e no mundo pág. 10 O MUNDO DA APRENDIZAGEM O Brasil paga aos pais para que coloquem seus filhos na escola pág. 2 EM FOCO O ensino médio no centro das atenções pág. 4 O Informativo do Setor de Educação da UNESCO EDUCAÇÃO PARA TODOS Setenta países ficam para trás págs. 8-9

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e ...E7%E3o%20HojeUNESCO_2003.pdf · a conta de luz e comprar livros, canetas e até brinquedos e sandálias," diz

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Educação

A Educação para Todos é um problema de todo o mundoou meramente uma preocupação dos países emdesenvolvimento? A questão é colocada na publicação

Relatório de Monitoramento Global EFA 2002 (“Education for All: Is the worldon track?”). Esta publicação recente da UNESCO é um marco. A definição dauniversalização do ensino fundamental como um dos Objetivos do Milênio pode terdado a impressão de que a Educação para Todos é uma meta somente para os paísespobres. Não é. Todos os países devem buscar a Educação para Todos, pois nenhumdeles está totalmente satisfeito com a educação dada a seus residentes.

Um dos objetivos do EFA é assegurar que as necessidades de aprendizagem de todosos jovens sejam atendidas por meio da igualdade de acesso aos programas e táticasde sobrevivência apropriados. Muitos vêem este objetivo como um sinônimo deensino médio, o que a maioria dos países acha problemático. Algumas das questõessão exploradas nesta edição do Educação Hoje. Os países em desenvolvimentoquerem expandir o ensino médio para que este possa preparar os jovens paracontribuir com a sociedade e para a economia nas quais eles vivem. Nos paísesindustrializados, o ensino médio já é universal. No entanto, na opinião desses países,estas escolas são pára-raios para as tempestades contemporâneas na sociedade.

A maioria de nós gostaria que o ensino médio tornasse os jovens pessoas autônomase motivadas que tivessem o desejo de contribuir com suas comunidades ganhandoum salário satisfatório e promovendo o bem comum.Como podemos alcançar este objetivo ?

Uma interação mais rica entre professores e alunos é uma das abordagens possíveis.Cuba reorganizou os três primeiros anos do ensino médio para que os jovenstenham aulas de todas as matérias, exceto educação física e língua estrangeiramoderna, com o mesmo professor. O objetivo é criar relações mais próximas e umavisão mais ampla do conhecimento.

Outra abordagem enfatiza os valores pessoais. O Centro Columba 1400(www.columba1400.com), na Escócia, tem demonstrado que até mesmo cursosde curta duração, quando centrados nos princípios da conscientização, concen-tração, criatividade, integridade, perseverança e serviço, podem mudar as atitudese as subseqüentes escolhas de vida da juventude desmotivada.

N0 4Janeiro-Março de 2003

EDUCANDO ADOLESCENTES

EDITORIAL

REPORTAGENS

John DanielDiretor Geral Adjunto para a Educação

O crescimento do ensino médio nos últimos anos é inédito. O resultado sãoturmas superlotadas, cheias de adolescentes com diferentes formaçõesculturais e de diversas origens sociais. Em Foco, um relatório de quatro páginas,examina os problemas de professores sobrecarregados e alunos desinteressados.

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

BREVESIniciativas educacionais

no Brasil e no mundopág. 10

O MUNDO DA APRENDIZAGEMO Brasil paga aos pais para quecoloquem seus filhos na escola

pág. 2

EM FOCOO ensino médio no

centro das atençõespág. 4

O Informativodo Setor de Educação

da UNESCO

EDUCAÇÃO PARA TODOSSetenta paísesficam para trás

págs. 8-9

O MUNDO DA APRENDIZAGEM

Bolsa Educacional tira crianças da ruaO governo brasileiro paga aos pais de baixa renda para que mandem seus filhos à escola

“ Eu ajudo muito a minha mãe porque euvou para a escola. Agora a gente pode pagara conta de luz e comprar livros, canetas eaté brinquedos e sandálias," diz GeislaneJosé da Silva, uma envergonhada menina deoito anos matriculada em uma escola públicana Cidade Ocidental, a 50 quilômetrosda capital Brasília. Apesar de sua idade,Geislane é a principal responsável pelo sus-tento de sua família. Sua mãe recebe umabolsa mensalmente com a condição de que afilha vá à escola. "Minha mãe fica me dizendoque eu tenho que ficar na escola," diz ela.

fixo que permite que ela mande seus filhosà escola.

Combatendo a evasão

A Bolsa-Escola foi lançada há dois anos com oobjetivo de reduzir a evasão escolar. No Brasil,de cada quatro alunos, um deixa a escola antesde completar o ensino fundamental. Hoje,o programa atinge 8,7 milhões de alunos.O objetivo é chegar a 11 milhões.

Os beneficiários são pais cuja renda é igualou menor do que a metadede um salário-mínimo. Eles re-cebem uma quantia mensal deR$5 por criança de 6 a 15 anos.O benefício é concedido parano máximo três crianças. Opagamento é feito contantoque as crianças estejam pre-sentes em 85% das aulas. Namaioria dos casos, a bolsa épaga às mães, que podemretirar a quantia diretamenteem caixas eletrônicos usandoum cartão magnético especial.

Benefícios econômicos

"O programa é notável porquecombate a exclusão e a pobreza,que são as causas da evasão edo trabalho infantil," diz JorgeWerthein, Representante daUNESCO no Brasil. Uma avali-ação inicial feita pela UNESCO/UNICEF destaca os resultadospositivos obtidos pela Bolsa-Escola.Além de reduzir o número

de faltas, a evasão escolar e a repetência,ela motiva as crianças, combate o trabalhoinfantil, melhora a qualidade de vida efortalece a auto-estima da família, espe-cialmente a das mulheres.

O programa também faz sentido economica-mente, diz Werthein. São necessários R$100anualmente para matricular uma criança

no ensino fundamental. Se a criança deixa aescola, o dinheiro é perdido. Matricular umacriança e dar a ela a Bolsa-Escola custasomente R$60 a mais por ano, e esta criançaprovavelmente ficará na escola.

O princípio Robin Hood

O programa custa R$660 milhões por ano eé financiado por um novo imposto, que écobrado sobre transações financeiras. "Esteé o princípio Robin Hood posto em prática,"diz Floriano Pesaro, secretário nacional doPrograma Bolsa-Escola até janeiro de 2003."Nós tiramos dos ricos e damos aos pobres."

A chave para o sucesso, diz ele, é o alto graude descentralização e um sistema bancáriobem desenvolvido para transferir dinheiro.Hoje, 99% das crianças nos 5.545 municípiosno país fazem parte do programa.

Nos raros casos nos quais o programa Bolsa-Escola não está disponível, ONGs como aMissão Criança assumem o controle. "Porexemplo, nós tomamos conta das pessoasque vivem nos lixões," diz Cristovam Buar-que, ex-presidente da Missão Criança hojeMinistro da Educação.

Na Cidade Ocidental há agora um númeromenor de crianças mendigando nas ruas e afreqüência escolar aumentou significativa-mente. "Antes, as crianças eram matricu-ladas nas escolas, mas não tinham incentivopara freqüentar as aulas. Agora elas estãomais motivadas," diz a diretora BeatrizSobriho de Meio.

A Bolsa-Escola não convenceu somente opovo brasileiro. Programas parecidos estãosurgindo na América do Sul (Bolívia, Chile,Colômbia, Equador, Nicarágua e México) eprogramas-piloto estão sendo desenvolvidosem Moçambique e na República Unida daTanzânia.

Contato: Jorge Werthein, UNESCO no BrasilE-mail: [email protected]

islane José da Silva, 8 anos, tem que ir à escola para sustentar sua família

A mãe de Geislane está entre os mais de 2,5milhões de pais de baixa renda no Brasil quesão beneficiários de um programa nacionalde bolsas, o Bolsa-Escola. Assim como a grandemaioria das mulheres em sua vizinhança, elaé mãe solteira, não tem emprego fixo e nãorecebe pensão do pai de seus três filhos.Para ela – e pais de baixa renda como ela – abolsa educacional significa um rendimento

Táticas de sobrevivência e pequenos empréstimosUm projeto está rompendo o círculo vicioso das jovens que vivem nas favelas do Quênia

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A violência contra jovens mulheres é parte do dia-a-dia no Quênia

muito disseminado nas favelas, e a eliminaçãoda violência contra a mulher.

Até agora, a UNESCO treinou um núcleo dementores que oferecem aulas de táticas desobrevivência para jovens mulheres. RitaNjenga, que faz parte deste núcleo, é respon-sável por dois grupos e diz que o programaestá começando a dar frutos. Os grupos sereúnem uma vez por semana nas favelase freqüentam várias aulas. As mulheres tam-bém contribuem com dinheiro, menos de umdólar cada uma. Este dinheiro é guardado edepois usado como garantia de pagamentodos empréstimos concedidos pela K-Rep.

Construindo confiança

"Estamos aqui para ajudar as adolescentesa lidar com suas situações, entender a simesmas, seus relacionamentos e olhar avida de forma positiva," diz Rita Njenga.Seu grupo, na favela de Kibera, é formadopor 30 mulheres muçulmanas entre 16e 23 anos de idade. A maioria delas nuncafoi à escola e teve que se casar cedo paraescapar da miséria em casa. No entanto, issosó fez com que elas encontrassem problemasainda mais sérios em seus novos lares.

Rispa Were, que tem dois grupos nas favelasde Kayole e Mathare, na zona leste da cidade,diz que o maior desafio para as jovens é seabrir e confiar nos outros. Muitas delas foramou são vítimas de exploração econômica,sexual e social, tornando-as desconfiadas.

Richard Mwaniki, outro mentor, junta paise líderes da comunidade em encontrossemanais para conversar com jovens, res-ponder às perguntas que os incomodam eencorajá-los. "Chegamos à conclusão de queconseguimos mudar a atitude desses jovensnos relacionando com eles de forma afetiva.Mesmo sem muito dinheiro, eles podemcomeçar a fazer coisas significativas paraeles mesmos. Para mim, esta é a maior reali-zação do programa até agora," diz Mwaniki.

Contato: Susan Nkinyangi, UNESCO NairobiEmail: [email protected]

É contra esta formação que a K-Rep, agêncialíder em desenvolvimento de microfinançasno Quênia, lançou um programa em junho doano passado para dar assistência a estasmeninas por meio de empréstimos para queelas montem pequenos negócios e possamganhar seu sustento. O programa foilançado com o apoio da UNESCO. A K-Repoferece os recursos iniciais, e a UNESCO, pormeio de sua Cadeira na Universidade deNairobi, aconselhamento e aulas de táticasde sobrevivência para ajudar as jovens adesenvolver atitudes positivas em relação aelas mesmas. Os negócios incluem a vendade roupas e sapatos usados, a gerênciade quiosques de venda a varejo, soldagem,costura e conserto de sapatos. Os emprés-timos vão de US$ 25 a US$130 dólares.

Aprendendo habilidades para vida

O ensino de táticas de sobrevivência incluihabilidades de comunicação, dinâmicas derelacionamentos entre homens e mulheres,dicas sobre negócios, maneiras de lidar econtrolar o estresse e a pressão do grupo,liderança e planejamento familiar, assimcomo maneiras de fazer escolhas saudáveise seguras. Outros elementos de extremaimportância são a prevenção do HIV/Aids,

Com 17 anos de idade, muitas meninas nasfavelas de Nairobi estão casadas, são mãesou até mesmo já se divorciaram. Algumasdelas ficam casadas não por escolha mas pornecessidade. Elas são atraídas por homensque prometem satisfazer suas necessidadesbásicas – dar a elas comida, abrigo e roupas,o que não é possível em seus lares.

Estas garotas são facilmente atraídasporque muitas vêm de lares desfeitos oufamílias uniparentais e procuram o amor e oapoio psicológico que nunca tiveram em casa.No entanto, em muitos casos a violênciadoméstica põe fim a estes casamentos.Quando terminam seus relacionamentos,algumas das meninas são forçadas a seprostituir, pois não têm fontes alternativasde renda. É difícil romper este círculo vicioso.

Táticas de sobrevivência

"Estas meninas aprendem táticas de sobre-vivência cedo," diz Susan Nkinyangi, con-sultora na área de educação da UNESCO emNairobi, "mas estas táticas são limitadasporque elas são analfabetas, tendo deixadode freqüentar a escola cedo. Muitas jovensse envolvem com prostituição. Isso as ex-põe a todo tipo de perigo, e o mais letaldeles é o HIV/Aids."

O número de alunos no ensino médio aumentou dez vezes nos últimos 50 anos. As turmasaumentaram e estão cada vez mais cheias de jovens com as mais diversas formaçõesculturais e origens sociais. Os professores não conseguem lidar com os problemas destesadolescentes no período mais delicado de suas vidas. São necessárias reformas parasatisfazer tanto aos alunos quanto aos professores.

EM FOCO

Educando adolescentes

assandre Montor iol

Johan, 14 anos, acaba de ser expulso da es-cola pela terceira vez em virtude de conflitoscom os professores. Com um boné na cabeça,este jovem habitante de um violento subúrbioparisiense culpa as escolas por seu fracasso.Os professores não têm respeito por ele, elediz. Além disso, ele não tem interesse pelaslições e simplesmente espera pelo fim daaula. O caso de Johan não é um fato isolado.É típico da crescente separação entre o ado-lescente e a escola.

"Quando os alunos perdem o interesse pelaaula, não hesitam em demonstrar sua faltade motivação, e esta é a parte mais difícil dedar aulas para adolescentes hoje em dia,"diz o sociólogo francês François Dubet. Foi-se o tempo em que os estudantes escutavamquietos enquanto o professor falava. Osadolescentes de hoje insistem em exercerseu direito de falar.

Falta de entendimento

"Há uma falta de entendimento entre osalunos e os professores," diz David Marcilhacy,professor de espanhol de uma escola de en-sino médio em Paris. "Os valores moraisdos adolescentes, os valores de esforço erespeito aos outros, são diferentes dos nos-sos e, acima de tudo, eles têm uma enormefalta de curiosidade. É um grande desafioconseguir fazer com que se interessem."Nem sempre os adolescentes vêem as coisasda mesma maneira que seus professores.Segundo um estudante latino-americanocitado na recente publicação "Ensino Médio:Um Caminho em Direção ao DesenvolvimentoHumano " (UNESCO Santiago), "eles fazema gente parecer bobo. Só porque eles sãoprofessores eles não têm o direito de tehumilhar. O respeito tem que ser mútuo."

De acordo com a educadora uruguaia HildaSurraco, os problemas de comportamentonem sempre estão relacionados à personali-dade do aluno. Muitas vezes são reações àmaneira como o jovem é tratado.

“A repetição gera desinteresse”, diz o biólo-go Jean-Didier Vincent. Ele acredita que aescola deveria estimular o desejo que osjovens têm de aprender, o que ocorreria, deacordo com ele, por meio de uma abordagemculturalmente apropriada. "Os jovens têmsede de viver, mas não se pode dar a mesma

bebida a todos. O que conta é a sede."Ele lamenta que os professores não sejamtreinados para isso. "O perfil deles," diz,"corresponde a uma escola que não existemais."

Violência e frustração

A violência é uma das conseqüências destafalta de entendimento. É também um sin-toma do desconforto geral no ensino médio.Sem senso de direção, os adolescentesdescontam sua frustração nas escolas, quesão um símbolo de autoridade. Grosserias,palavrões ditos aos professores, ataques,extorsão – a lista é longa. "As escolas con-centram todo tipo de violência social," dizDubet. Paul M. Kingery, do Instituto NacionalHamilton Fish para a Violência Escolar e

Comunitária nos Estados Unidos, diz: "O portede armas de fogo e o número de ataquesarmados têm aumentado consideravelmentenos últimos anos. A falta de responsabili-dade dos pais, a disponibilidade de armas defogo, a violência na mídia, a crise econômicae redução do número de assistentes sociaissão a base do aumento da violência."

Muitas vezes, os professores não são sufi-cientemente treinados para lidar com alunosvindos de famílias desfeitas ou problemáti-cas que não respeitam a autoridade. Mesmoquando suas condições de trabalho sãosatisfatórias e suas turmas não estão super-lotadas, os desafios são enormes. A respon-sabilidade dos professores, que têm quelidar com alunos de diversas origens sociaise com diferentes formações culturais, tem

Alunos desmotivadosOlhando para o teto, com a cabeça em outro lugar, muitos alunos não conseguem se inter-essar no que está sendo dito na sala de aula. Ainda assim, a escola é o lugar de socializaçãopreferido dos adolescentes, um lugar onde eles se sentem à vontade e até mesmo ra-zoavelmente bem supervisionados. Este foi o paradoxal resultado de uma pesquisa com 17milhões de adolescentes em 32 países feita pela OCDE* como parte de seu Programa Inter-nacional de Avaliação de Estudantes (PISA).

Ainda que os alunos digam que estão desinteressados – com taxas recorde de desinteressena Alemanha (67%) e na Grécia e na Espanha (66%)– a esmagadora maioria dos estudantesvê a escola como um lugar onde eles podem fazer amigos facilmente (82%), onde se sentemem casa (75%) e onde os outros alunos parecem gostar deles (77%). Somente 14% dizemque não se sentem à vontade e 10 % dizem que se sentem sozinhos.

Outra conclusão desta pesquisa é que os professores têm dificuldade em impor disciplinaem suas aulas. Ter paz e silêncio parece ser especialmente difícil nas salas de aula gregas,norueguesas e brasileiras. Na Grécia, 58% dos alunos dizem que "mais de cinco minutos se pas-sam no começo da aula sem que nada seja feito," 46% dizem que há barulho e tumulto e29% dizem que os alunos não prestam atenção ao que o professor diz. Por outro lado, a dis-ciplina reina nas salas de aula na Federação Russa, na Latívia e na Polônia.

Apesar de prontamente admitirem que são inquietos, os alunos dizem que são relativa-mente bem supervisionados. Seis em cada dez jovens de quinze anos dizem que seu profes-sor se interessa pela performance de cada aluno. No entanto, a percepção do apoio ofere-cido pelos professores aos alunos varia muito dependendo do país. Na Austrália, em Portu-gal e no Reino Unido, mais de três em cada quatro adolescentes de quinze anos dizem queseus professores mostram interesse no progresso de cada um dos alunos. Na Itália e naPolônia, somente um terço dos alunos têm a mesma opinião. A Austrália, o Canadá, os Esta-dos Unidos, a Nova Zelândia e o Reino Unido são os países onde os alunos recebem maisapoio e são mais encorajados por seus professores.

Contato: Andreas Schleicher, Deputy Head, Statistics and Indicators Division, OECD

* Países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico)mais Brasil,Latívia,Liechtenstein e Federação Russa.

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Educando adolescentesdela." Hilda Surraco reconhece que "é difícilpara os professores considerar a situação emsala de aula uma interação e as atitudes dosalunos uma reação à organização da aula."

Todos concordam que o ensino médio deveevoluir. Mas evoluir em que direção? Esta foia pergunta discutida por especialistas naConferência Internacional sobre a Reformado Ensino Médio, que aconteceu em Muscat,em Oman, de 22 a 24 de dezembro de 2002."Devemos nos perguntar de uma vez portodas qual é o propósito da educação formal.Em outras palavras, o que nós queremospassar, para quem e por quê, " diz Jean-MichelLeclerq, especialista em ensino médio.

O primeiro desafio é mudar o conteúdo edu-cacional. O ensino não pode continuar a serpuramente acadêmico quando se estálidando com alunos que não pretendem irà faculdade, ou muitos deles acabarão pordeixar a escola. Em outras palavras, as disci-plinas acadêmicas devem fazer parte docurrículo, mas não podem mais ser as únicasmatérias oferecidas.

"As escolas devem saber como fazer com queos alunos se interessem pelo mundo à sua

volta. Devemos encorajar habilidades queos ajudem a desenvolver seu potencial defuturos cidadãos, inclusive espírito crítico,iniciativa, a habilidade de organizar projetose de se comunicar, " diz Sonia Bahri, Chefe daSeção Geral de Ensino Médio da UNESCO. Asescolas devem também ser um lugar ondeos alunos são conscientizados a respeito dequestões como saúde e meio ambiente.

Habilidades vocacionais

Se basearmos mais o currículo escolar notrabalho, evitaremos que os jovens entremno mercado de trabalho sem habilidadesreais. Isso significa melhorar a imagemda educação técnica e vocacional – a primapobre da rede de ensino em vários países.Esta discussão se torna ainda mais impor-tante porque o ensino médio está se tornandocada vez mais necessário para aqueles queprocuram emprego. Por exemplo, em 1950,nos Estados Unidos, 60% dos empregos nãoprecisavam de treinamento especial.Meio século depois, somente 25% dos em-pregos não requeriam treinamento. Alémdisso, é esperado que as pessoas que entramno mercado de trabalho mudem de em-

aumentado. Eles são treinados para minis-trar aulas de uma matéria específica, massão cada vez mais chamados a fazer o papelde educadores. Esta divergência entre seutreinamento e seu trabalho diário é umafonte de apreensão e tensão.

Este fenômeno não ocorre somente nospaíses industrializados. Sofia Caballero,professora em Bogotá (Colômbia), tambémlida com a falta de interesse de seus alunos,que muitas vezes preferem "deixar a escolapara conseguir um emprego ou, nos piorescasos, entrar para uma gangue."

Os alunos são menos passivos e mais elo-qüentes. Além disso, há um maior número dealunos. O ensino médio é o componente daeducação formal que mais cresce. Um númerocada vez maior de países vê o ensino médiocomo parte da educação básica.

Lidando com números

O número de alunos no ensino médio nomundo cresceu de 40 para 400 milhões nosúltimos 50 anos. As escolas têm sido pres-sionadas a acompanhar este enorme cresci-mento. Isso acontece principalmente nospaíses em desenvolvimento, onde o númerode alunos nas turmas aumentou por causada falta de professores e instalações.

No Sudão, as turmas de ensino médio têmcerca de 50 alunos. Na Republica Domini-cana, na Malásia, no Vietnã e nas Filipinas, amédia é de mais de 40 alunos por turma.

Esta expansão afeta a qualidade do ensino."Em muitos países, o crescimento do númerode matrículas é acompanhado por um au-mento da repetência, o que é demonstradopelas altas taxas de repetência e evasão,"diz Rupert Maclean, Diretor do Centro Inter-nacional de Educação e Qualificação Técnicae Vocacional, em Bonn. A cada ano, quaseum terço dos alunos repetem de ano naAmérica Latina.

Reformas necessárias

De acordo com Beatriz Macedo, Especialistaem Ensino Médio da UNESCO Santiago, múlti-plas mudanças terão que ser feitas. A maiscrucial delas envolve a cultura dos profes-sores de ensino médio. "Os professores têmque compreender que a idéia não é maisensinar uma matéria, e sim educar por meio

Satisfazendo as necessidadesdos empregadores na NigériaSessenta e cinco por cento da riqueza da Nigéria provêem da indústria do petróleo, massomente 2% da população trabalha neste setor. A maior parte desta força de trabalho vem defora do país. Este fato mostra o abismo entre as necessidades dos empregadores e a qualifi-cação dos trabalhadores. Apesar de a taxa de desemprego estar perto dos 30%, a Nigériaprecisa de trabalhadores estrangeiros qualificados. A UNESCO e o governo da Nigéria, emuma tentativa de diminuir essa distância, lançaram um programa educacional vocacional.

"A política educacional tem se concentrado no nível fundamental nos últimos anos. O resul-tado disso é que o ensino médio e o desenvolvimento de habilidades técnicas foram colocadosem segundo plano," diz Hashim Abdul-Wahab, consultor da UNESCO para o projeto de reformana Nigéria. Hoje em dia, os cursos vocacionais são freqüentados por somente 1% dos alunos,enquanto nos anos 70 a porcentagem era de 15%.

A Nigéria hoje compreende a importância da educação técnica e vocacional para a economiado país. Por isso, 30 matérias que vão de mecânica a eletrônica foram introduzidas no currículonos últimos dois anos. "Cursos de administração de negócios também foram integrados aosprogramas para que os alunos possam abrir seus próprios negócios," diz Abdul-Wahab.

A educação técnica custa de duas a dez vezes mais que o ensino regular. Equipar as salas de aulacom máquinas, ferramentas, laboratórios, matéria-prima e professores qualificados resultaem uma conta muito mais alta do que aquela paga pelos cursos tradicionais. Em conseqüênciadisso, o governo da Nigéria teve que repassar US$ 1.5 bilhão a mais em três anos.

prego de três a cinco vezes durante ocurso de suas vidas. A educação deve,portanto, se adaptar a essa evolução.

"Os ministros da educação estão começandoa perceber sua importância, mas por muitotempo este tipo de ensino foi visto comoinferior ao ensino regular," diz Wataru Iwamoto,Diretor da Divisão de Ensino Médio, Técnicoe Vocacional da UNESCO. Há exceções. Umadelas, comumente citada, é o sistema deensino alemão, que treina dois terços deseus jovens em habilidades técnicas:eletr icidade, eletrônica, novas tecnologias,mecânica e assim por diante. Como a Alemanha,um número cada vez maior de países estácompreendendo a vantagem de se criar pontesentre o ensino regular e a educação vocacional.Na Austrália, por exemplo, os adolescentesnão são mais obrigados a escolher entre oensino médio tradicional e a educação voca-cional, porque o currículo combina os dois.Quando os alunos terminam o ensino médio,recebem um diploma reconhecido tantopela indústria como pelas universidades.

Mas a reforma do ensino médio não deve serreduzida à sua dimensão técnica. Ela deveenvolver toda a sociedade. "O engajamentode todos na educação dos adolescentes é achave para o sucesso acadêmico e paraa resolução de conflitos," diz Qian Tang,Diretor do Escritório Executivo do Setor deEducação da UNESCO. "Devemos prepararos alunos para a universidade e para otrabalho e ao mesmo tempo criar cidadãosresponsáveis."

Mais investimentos

No entanto, os países mais pobres, cujanecessidade de desenvolver o ensino médioregular e vocacional é maior, são também osmais atrasados nesta área visto que sãonecessários mais investimentos para o ensinomédio do que para o ensino fundamental.Para aumentar o número de matrículas noensino médio, o Estado pode aumentar suasdespesas com as escolas de ensino médioou tentar melhorar o rendimento da escola.

"Por exemplo, fazer com que os professorespassem mais tempo com os alunos e aumen-tar o ano letivo são medidas que reduziriamas taxas de repetência, que custam caro aoorçamento para a educação," explica FrançoiseCaillods, do Instituto Internacional de

FOCO

Planejamento Educacional da UNESCO (IIEP).

No Uruguai, os professores de ensino médio,que dão um menor número de aulas do queseus colegas que trabalham no ensino fun-damental, permanecem na escola algumashoras a mais para ajudar os alunos comdificuldade em acompanhar as matérias.Recorrer a outras fontes de recursos, comoautoridades locais, agências de desenvolvi-mento ou ONGs, pode ser uma alternativaquando secam os cofres do governo.

O Zimbábue descobriu um meio próprio

A UNESCO insiste na reformaA UNESCO está chamando a atenção dos países para a necessidade de repensar o papeldo ensino médio completamente. A Organização defende uma reforma que faça com queo aprendizado para toda a vida se torne uma realidade para que jovens e adultos sejammais bem preparados para a vida no mundo de hoje. A UNESCO também defende maisflexibilidade e interação entre o ensino regular e os cursos vocacionais. A educação téc-nica é um elo vital entre a escola e o mundo do trabalho, e as matérias regularesenriquecem o currículo técnico. Para satisfazer a estas necessidades, a UNESCO lançouo Projeto Internacional sobre Educação Técnica e Vocacional (UNEVOC) em 1992, e, apóso término do projeto, criou o Centro Internacional de Educação e Qualificação Técnica eVocacional (UNESCO-UNEVOC) em Bonn, em julho de 2000.

A rede UNEVOC, coordenada pelo Centro em Bonn, liga mais de 200 instituições educa-cionais técnicas e vocacionais em 137 países. Em 1999, o II Congresso sobre EducaçãoTécnica e Vocacional, em Seul, recomendou que a educação e a qualificação técnica evocacional fossem adaptadas às necessidades dos empregadores. Tais recomendaçõesserviram de base para uma nova versão da Recomendação Revisada a respeito daEducação Técnica e Vocacional em 2001. Um instrumento da UNESCO nessa área é aConvenção sobre Educação Técnica e Vocacional, adotada em 1989.

de lidar com esta situação após a sua inde-pendência. Naquele país, a porcentagem deadolescentes matriculados em escolas deensino médio aumentou de menos de 15 para42%. Os pais foram os primeiros a tirar deseus bolsos para pagar pelas mensalidadesescolares de seus filhos.Depois,as comunidadesreligiosas, os municípios e outras agênciasse envolveram, construindo novas escolas edoando recursos ao ensino médio até que ogoverno pudesse assumir o controle. Este éum exemplo a ser seguido.

O Ensino médio está se tornando cada vez mais necessária para aqueles que procuram emprego

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Muito mais em

EDUCAÇÃO PARA TODOS

O boletim escolarQuase um terço da população mundial vive em países onde a educaçãode qualidade para todas as crianças até 2015 e melhores oportunidadesde aprendizado para jovens e adultos continuam sendo um sonho O Grupo de

Alto Nível sepronuncia"Achamos alarmante que, de acordo com astendências atuais, somente 83 paísestenham atingido ou tenham boas chancesde atingir três das seis metas de Dakar até2015 – a universalização do ensinofundamental, a igualdade de gêneros e aalfabetização de adultos."

Esta é uma das observações do Comunicadoemitido pelo Grupo de Alto Nível sobreEducação para Todos no encerramento deseu encontro ocorrido de 18 a 20 denovembro em Abuja, na Nigéria. A previsãofoi retirada do recém-lançado Relatório deMonitoramento Global da Educação paraTodos 2002.

O Grupo de Alto Nível, que tem 24 membrose inclui ministros, organizações dedoadores, agências das Nações Unidas eONGs, também expressou sua preocupaçãocom a diminuição da assistência para aeducação e incitou a comunidadeinternacional a avançar mais rapidamente.

Também é necessário que os própriospaíses aumentem seus esforços, disse oComunicado, enfatizando a importância deum bom planejamento e considerandodesafios como o HIV/Aids e outros conflitos.O envolvimento da sociedade civil noplanejamento, implementação, supervisão eavaliação dos esforços na área de Educaçãopara Todos foi enfatizada pelo grupo.É necessário que as habilidadesprofissionais que estas tarefas requeremsejam desenvolvidas.

Contato: Abhimanyu Singh, Coordenador Principalda Unidade de Acompanhamento de Dakar E-mail: [email protected]

Paquistão fazem parte deste grupo.

Ainda assim, tem havido avançosencorajadores. O número de meninasmatriculadas no ensino fundamentalaumentou em todos os países durante adécada de 90. Oitenta e seis países jáatingiram a igualdade sexual. Trinta e cincooutros países estão a ponto de atingi-la, e31 países estão seriamente atrasados. Se atendência atual for mantida, auniversalização do ensino fundamental nãodeverá ocorrer em 57 países. Certos paísesna Europa central e oriental recuaramnessa área. Ao todo, 78 países nãoconseguirão diminuir pela metade suastaxas de analfabetismo até 2015. Entreestes países estão Bangladesh, China, Índiae Paquistão – onde vivem 61% dos adultosanalfabetos no mundo.

O relatório também conclui que o preço aser pago pela Educação para Todos foisignificativamente subestimado em virtudedos custos com a aids. Além disso, osconflitos não tinham sido adequadamentelevados em consideração. Só o HIV/Aidsdeverá aumentar em US$975 milhões oorçamento anual para a Educação paraTodos. Pelo menos US$5.6 bilhões extrasserão necessários anualmente somentepara atingir a universalização do ensinofundamental e a igualdade sexual.

Os governos terão que aumentar oorçamento para o ensino médio e recursosinternacionais terão que ser distribuídos deforma mais eficaz.

A crescente falta de professores está setornando outro obstáculo para o progressoem direção à Educação para Todos. Nospróximos anos, de 15 a 35 milhões deprofessores terão que ser recrutados paraque seja alcançada a universalidade doensino fundamental até 2015.

Contact: Christopher Colclough, Director of the Monitoring Report on Education for All E-mail: [email protected]

Oitenta e três países devem atingir oobjetivo definido pelo Fórum Mundial deEducação em Dakar (Senegal), Educaçãopara Todos até 2015. No entanto, mais de 70países não atingirão a meta. Estes são algunsdos achados do Relatório de MonitoramentoGlobal da Educação para Todos 2002 - OMundo Está no Caminho Certo? Esterelatório foi publicado pela UNESCO eapresentado durante o segundo encontrodo Grupo de Alto Nível sobre Educação paraTodos em Abuja, na Nigéria, em novembro doano passado. "Isto reconfirma o diagnósticodo Fórum,segundo o qual um terço da populaçãomundial vive em países onde atingir auniversalização da educação continua sendoum sonho," diz o professor ChristopherColclough, coordenador do relatório.

De acordo com o relatório, 28 países podemnão atingir nenhum dos três objetivosmensuráveis de Dakar: ensino fundamentaluniversal, igualdade entre os gêneros eredução da taxa de analfabetismo à metade.A maioria destes países está localizada naÁfrica Sub-Saariana, sendo que Índia e

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Tour mundial> Burkina Faso, Guiné, Guiana,Honduras, Mauritânia, Nicarágua, eNíger são os primeiros países que sebeneficiarão da iniciativa do BancoMundial para ajudar os países aimplementar seus Planos de Ação para aEducação para Todos. Um trabalho estásendo desenvolvido para que estespaíses adquiram a capacidade requeridae os recursos necessários paracompletar o financiamento do programa,hoje estimados em US$400 milhões paraos próximos três anos (2003 – 2005).

> Espera-se que o novo Projeto Regionalde Educação para a América Latina(PRELAC), com duração de 15 anos,estimule mudanças substanciais naspolíticas. Ele foi aprovado pelos Ministrosda Educação da Região em umaconferência em Havana, em novembro.

> Parlamentares da América Latina edo Caribe se encontraram pela primeiravez em São Paulo, no Brasil, no começo denovembro, para desenvolver a agenda deEducação para Todos. Eles concordaramem tornar este encontro interparlamentarpermanente e em montar um fórumpara a troca de informações entre oslegisladores da região.

> No leste e no sudoeste da Ásia, osresponsáveis pelo planejamentoeducacional de vários países começarama discutir seus planos de ação para aEducação para Todos por meio devideoconferências. Organizadas pelaUNESCO e pelo Banco Mundial, asvideoconferências continuarão em 2003.

> Os Planos Nacionais de Educação paraTodos do Egito, da Jordânia, do Sudão eda República Árabe Síria foramrevisados e corrigidos durantediscussões entre membros da UNESCO,especialistas e equipes de Educaçãopara Todos desses países em umseminário em Beirute em outubro.

O Relatório de Monitoramento Global daEducação para Todos lista a Nigéria

mo um dos países que podem não alcançaruniversalização da educação até 2015, aenos que haja um considerável progresso.

ocê está confiante no progresso de seu país ?u tenho muita confiança em nossapacidade. Em primeiro lugar, a equipe quecreveu o relatório usou dados de 1999. Em

utras palavras, os dados eram anteriores aakar. Depois de Dakar, já aconteceram muitasisas. Por exemplo, o número de criançasatriculadas saltou de 15 milhões em 2001

ara 18 milhões em 2002.

O que vocês estão fazendo de concretopara levar a Educação para Todos adiante?

ós estabelecemos a infra-estrutura para afabetização em massa e para o desenvolvimento táticas de sobrevivência e introduzimos umograma educacional para populações nômades.cluímos também na constituição umaterminação segundo a qual todas as criançasvem freqüentar a escola por nove anos.

Fizemos uma revisão do currículo para torná-lomais relevante e estamos treinando 40.000professores por ano. Progredimos bastante, ese mantivermos o ritmo de mudançaatingiremos as metas de Dakar até 2015.

Você enfatizou a necessidade de contarcom substancial ajuda externa. De quanto

a Nigéria precisa para universalizar a educação?Precisamos investir aproximadamente $800milhões anualmente só na educação básica.Nacionalmente, já estamos fazendo um esforçoconsiderável. Muitas críticas têm sido feitas arespeito do quanto a Nigéria gasta com educação.Mas as verbas federais e estaduais para estesetor representam mais de 26 por cento detodo o orçamento. Esta é a porcentagem quedeve ser gasta com educação de acordo com asagências independentes, inclusive a UNESCO. Noâmbito federal, tentaremos fazer mais – acabarcom os gastos desnecessários, por exemplo, eguardar o dinheiro poupado para a educação.Mas continuamos precisando da ajuda dacomunidade internacional.

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perguntas paraAbraham Babalola Borishade

braham Babalola Borishade é o Ministro da Educação da Nigéria

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Semana Mundial da Educação Para Todos 2003São grandes as expectativas para a SemanaMundial da Educação para Todos 2003, queserá celebrada em todo o mundo de 6 a 13de abril. Indivíduos e organizações estãoconvidados a organizar eventos que vão dedebates na televisão, acontecimentos públicose outras festividades sobre o tema desteano: "Construindo o Momento para Eliminaras Diferenças entre os Gêneros até 2005 ".

"Esperamos que haja ainda maismobilização do que no ano passado, quando90 países participaram," diz AbhimanyuSingh, Coordenador Principal da Unidade deAcompanhamento de Dakar da UNESCO.

Os eventos estão sendo organizados pela

UNESCO em colaboração com a CampanhaGlobal pela Educação, coordenada por ONGs.No entanto, organizações de base, agênciasinternacionais, professores, universidades,a imprensa e a população em geral estãoconvidados a participar da ocasião. Pormeio da ênfase às diferenças entre osgêneros na educação, a Semana deEducação para Todos busca diminuir asdisparidades amplamente difundidas naeducação de meninos e meninas. Das 113milhões de crianças que não vão à escolanos países em desenvolvimento, 60% sãomeninas.

Contato: Equipe de Mídia do Setor de EducaçãoE-mail: [email protected]

Desenhe-me a PazOs dezoito ganhadores do concurso “Desenhe-me a Paz” da UNESCO para crianças entre 4 e7 anos de idade foram escolhidos por um júri de artistas e crianças em Paris no dia 20 denovembro. Dois dos desenhos escolhidos estão reproduzidos acima.

Contato: Bernard Combes, UNESCO Paris • E-mail: [email protected]: www.unesco.org/education/painting/index.shtml

Intercâmbio de jovens naprevenção da AidsA segunda etapa do intercâmbio entre jovensbrasileiros e moçambicanos acontecerá emjunho próximo, quando 20 jovens de Maputo,Moçambique, irão à Bahia para resgatar acultura afrobrasileira e, especialmente,buscar informações e experiências sobre aprevenção do HIV/Aids. A promoção é daUNESCO e da USAID (Agência Norte-Americana para o DesenvolvimentoInternacional), que de 6 a 25 de fevereiropassado enviaram 20 jovens brasileiros paraMaputo, com o objetivo de promover adifusão de práticas de arte-educação comoinstrumento de mobilização em resposta àepidemia de HIV/Aids entre os jovens.

Segundo a Oficial de Projetos de Educação eSaúde na UNESCO no Brasil, Cristina Raposo,descobriu-se grande potencial das organiza-ções da sociedade civil brasileira em passarexperiências e adaptá-las à realidade africana.

As instituições participantes do intercâmbiobrasileiro são: Projeto Axé, Grupo CulturalBagunçaço e Centro de Referência Integralao Adolescente – CRIA. Paralelamente, afotógrafa Mila Petrillo está registrando cadaetapa do projeto. A idéia é montar umaexposição prevista a ser exibida emWashington, EUA, e em Paris, França.

Contato: Cristina Raposo, UNESCO no BrasilE-mail: [email protected]

Pesquisa revelarealidade do ensinomédio no Brasil São muitas as críticas e frustrações sobre aqualidade de ensino, as condições físicas daescola, o desinteresse dos alunos e a insatisfaçãodos professores do ensino médio no Brasil. Noentanto, isso não é o bastante para abalar acredibilidade na escola e o apelo por maioresinvestimentos: nas escolas públicas eprivadas, 17% dos alunos que abandonaramalguma vez a escola voltaram a estudar.

Uma radiografia detalhada da atual situaçãodo ensino médio no País está contida no livro“ENSINO MÉDIO: MÚLTIPLAS VOZES”, lançadoem 29 de abril deste ano, pela UNESCO noBrasil em parceria com o Ministério da Educação(MEC), em Brasília. A pesquisa foi coordenadapor Miriam Abramovay e Mary Garcia Castro.

O livro esmiúça desigualdades sociais váriasentre tipos de escolas, como por exemploentre escolas públicas e privadas, e entrecursos diurnos e noturnos. Trata-se da maiorpesquisa já realizada sobre o assunto naAmérica Latina. Englobou 13 capitaisbrasileiras, de todas as regiões do País. Todasessas capitais são concentrações urbanasonde se localiza a grande parte da matrículano ensino médio.

Outra revelação da pesquisa foi que mais dametade dos alunos de ensino médio não têmacesso a computador em suas residências. Aexclusão digital é mais perversa para osalunos de escola pública. Na maioria dascapitais, enquanto mais de 60% dos alunosdas escolas privadas declararam tercomputador, nas escolas públicas a tendênciaé que apenas 20% tenham. Quanto aosprofessores, em muitas cidades mais de 40%deles não têm computadores em suasresidências, tendendo estes a estarem maisrepresentados nas escolas públicas.

Contato: Mary Castro, UNESCO no Brasil

E-mail: [email protected]

BREVES

SeminárioInternacionaldiscutiu ensinomédio e o trabalhoPartindo do princípio que a obtenção docertificado de conclusão do ensino médio écada vez mais necessária para o acesso aotrabalho, o Seminário Internacional “O EnsinoMédio no Contexto do Mundo do Trabalho” foirealizado em 2002, em Brasília. O evento foiorganizado pela UNESCO, em parceria com aUniversidade de Brasília (UnB), e contou coma presença do Representante da Organização,Jorge Werthein; do secretário de Educaçãode Buenos Aires, Argentina, Daniel Filmus; eda professora da Faculdade de Educação daUniversidade de São Paulo (USP), Elba SiqueiraSá Barreto.

Durante o seminário foi lançado o livro“Ensino Médio: Cada Vez Mais Necessário,Cada Vez Mais Insuficiente”, de autoria deDaniel Filmus. Trata da relação conflituosaentre educação e emprego. O autor analisa afalta de articulação do ensino médio com asdemandas do mercado de trabalho. Estaanálise parte do estudo dos padrões dedesenvolvimento seguidos pelos países daAmérica Latina. E finalmente estabelece umarelação entre mobilidade social, distribuiçãode renda, ensino médio e mercado de trabalho.

Contato: Marilza Regattieri, UNESCO no BrasilE-mail: [email protected]

ABRIL 6-13Semana EFA (Educação para TodosContato: [email protected]

82º Encontro Nacional do Fórum Brasil de EducaçãoAuditório Professor Anísio Teixeira - Plenário do CNE,em BrasíliaContato: [email protected]

9Maior Aula do Mundo (como parte da Semana EFA)Ministério da Educação, BrasíliaContato: [email protected]

MAIO 8Seminário "Exercendo a Liberdade de Imprensa"(Em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade deImprensa)• Naoum Plaza Hotel, às 14hContato: [email protected]

8–9Seminário Internacional Pobreza e Desigualdade noBrasil: Traçando Caminhos para Inclusão Social.Auditório do Instituto Rio Branco, BrasíliaContato: [email protected]

11-14II Conferência Internacional Violências nas EscolasCentro de Convenções de Québec, CanadáContato: www.unesco.org.br (eventos)

15–2511ª Bienal Internacional do LivroRiocentro, Rio de Janeiro, RJLançamento do livro “Vinte Ficções Breves”Contato: [email protected]

23V Seminário de Responsabilidade SocialMar Hotel, em Recife, PEContato: [email protected]

20-24Articulando Pesquisa e Gestão Participativa deEstuários e Manguezais • Avenida Presidente Vargas,2456, Olinda, Salvador, BAContato: http://www.mangrove2003.ufba.br/

Avaliação comprova eficiência no combateà violênciaElaborada pelo sociólogo Jacobo Waiselfisz,coordenador do escritório antena da UNESCOem Pernambuco, e pela Mestra daUniversidade Federal de Pernambuco (UFPE),Maria Maciel, a publicação “RevertendoViolências, Semeando Futuros” é uma análisede dois anos desde a implementação doPrograma Abrindo Espaços: Educação e Culturade Paz. E o resultado é positivo: os índices deviolência vêm diminuindo nas escolas queaderiram ao Programa e em seus arredores.

O principal objetivo do estudo é avaliar oimpacto do Programa Abrindo Espaços naredução da violência no ambiente escolar.Desde o ano 2000, as escolas públicaslocalizadas em regiões que apresentamelevados índices de violência têm sidoselecionadas para integrar o que no Rio deJaneiro é conhecido como Programa Escolasde Paz e, em Pernambuco, Programa EscolaAberta. O Programa Abrindo Espaçosconstitui-se da abertura das escolas nosfinais de semana com oficinas de cultura,esporte e lazer para a comunidade.

Na análise de incidentes violentosacontecidos nas escolas durante o primeirosemestre de 2002, constatou-se que,comparando-se as que participam com asque não participam do Programa, os índicesde violência do primeiro grupo são 16%inferiores no Rio de Janeiro e 14% menoresem Pernambuco em relação aos índices dasescolas não participantes.

Em Pernambuco, as escolas que estão noPrograma desde o ano 2000, apresentamíndices de violências 54% inferiores aos dasque ingressaram em 2002. Já as que adotaramo Programa em 2001, 35% mais baixos do queos das escolas participantes a partir de 2002.

No Rio de Janeiro, as escolas que aderiram aoPrograma em 2000 indicam índices 31%inferiores aos das escolas que ingressaramem 2001. Em cada ano de atuação, os índicesde violência diminuem, em média, 30%.

Contato: [email protected] no Brasil

AGENDA

PUBLICAÇÕES

Educação Hoje é um informativo trimestral sobre tendências e inovações na educação, os esforços mundiais para aEducação para Todos e as atividades educativas da UNESCO. O informativo é publicado pelo Setor de Educação da UNESCOem árabe, chinês, inglês, francês, português, espanhol e russo. Todos os artigos estão livres de restrições relativas adireitos autorais, podendo ser reproduzidos desde que o crédito seja atribuído ao Educação Hoje.Editoras: Anne Müller and Teresa MurtaghEditora contribuinte: Agnès Bardon • Assistente: Martine Kayser • Design: Pilote Corporate • Layout: Sylvaine BaeyensCrédito da foto (capa): UNESCO/Dominique Roger, P. Wales; A. Kompanijcheko

Educação Hoje, Escritório Executivo, Setor de Educação, UNESCO • 7, place de Fontenoy • 75352 Paris 07 SP • France Tel: 33 1 45 68 21 27 • Fax: 33 1 45 68 56 26/27 • E-mail: [email protected]

Mais notícias em: www.unesco.org/education

Ensino Médio: múltiplas vozes.Miriam Abramovay e Mary Castro. Brasília:UNESCO Brasil, 2003. Este livro apresenta umestudo das percepções de alunos, professores emembros do corpo técnico-pedagógico deescolas privadas e públicas sobre o ensinomédio, o cotidiano escolar, anseios, desejos eanálises sobre as relações que estabelecem naescola. O estudo compreende 13 capitaisbrasileiras e se vale de técnicas quantitativas(survey) e qualitativas (entrevistas e gruposfocais)..

Avaliação das ações de prevenção de DST/AIDS e uso indevido dedrogas nas escolas de ensino fundamental e médio em capitaisbrasileiras, Maria das Graças Rua e Miriam Abramovay. Apresenta aavaliação do processo, resultados e impactos da iniciativa dasorganizações envolvidas em promover a saúde e prevenir doençassexualmente transmissíveis em adolescentes e crianças no ambienteescolar, com ênfase em aids e abuso de drogas.

Raça e gênero no sistema de ensino: os limites das políticasuniversalistas na educação, Ricardo Henriques. Brasília: UNESCOBrasil, UNDP, 2002. Consiste em subsídios importantes para aimplementação de políticas públicas na área da educação que tenhama eqüidade de gênero e raça como um de seus fundamentos.

Violências nas escolas. 3ª ed., Miriam Abramovay e Maria dasGraças Rua. Brasília: UNESCO Brasil, UNDP, 2002. Apresenta um estudoanalítico dos fenômenos de violência nas escolas, incluindo a descriçãode muitas maneiras em que a violência se expressa, e exemplos explícitosde como a experiência de violência é vivida e sentida de acordo comos indivíduos envolvidos, em que as vítimas dos jovens estudantes nãofazem parte necessariamente da comunidade escolar.

Discriminação racial nas escolas: entre a lei e as práticas sociais,Hédio Silva Jr. Brasília: UNESCO Brasil,UNDP, 2002. Por meio dotrabalho de compilação dos principais estudos quantitativos equalitativos sobre discriminação racial e escola, o autor propõesugestões para diminuir as desigualdades entre a população escolarnegra e branca.

Estratégias educativas para a prevenção da violência, RosarioOrtega-Ruiz e Rosario del Rey. Brasília: UNESCO Brasil, UniversidadeCatólica de Brasília, Observatório de Violências nas Escolas, 2002.As autoras propõem uma abordagem multidisciplinar paraidentificação dos conflitos nesse ambiente, tendo em vista asespecificidades de cada unidade escolar e a interpretação desentimentos, emoções e pensamentos envolvidos, mas nem sempreverbalizados.

Escola e violência, Miriam Abramovay. Brasília: UNESCO Brasil,Universidade Católica de Brasília, Observatório de Violências nasEscolas, 2002. Reúne quatro artigos que resumem os resultados depesquisas sobre as relações entre juventude, drogas e violênciarealizadas pela UNESCO no Brasil. Enfatiza o valor de soluçõeseducacionais para prevenir os riscos dessa relação.

Violência nas escolas: dez abordagens européias, Éric Debarbieux eCatherine Blaya. Brasília: UNESCO Brasil, 2002. Integra o conjunto detextos da literatura internacional sobre o tema da violência nas escolasque a UNESCO no Brasil vem publicando em português. Lançadoinicialmente pelo Observatório Europeu da Violência Escolar, reúnetrabalhos de renomados especialistas, nos quais são discutidasexperiências de 10 países europeus, examinando as causas dosfenômenos, suas implicações e os impactos decorrentes de políticaspúblicas na área.

Violência nas escolas e políticas públicas, Éric Debarbieux eCatherine Blaya. Brasília: UNESCO Brasil, 2002. É composto por umaseleção de ensaios que abordam diferentes aspectos da violênciajuvenil discutidos em Seminário Internacional promovido peloObservatório Europeu da Violência Escolar realizado em Paris,França, em março de 2001.

Aids: o que pensam os jovens. Brasília: UNESCO Brasil, 2002.Este projeto contou com recursos da UNAIDS e seu principal objetivofoi promover a inclusão da percepção jovem na formulação e naexecução de políticas públicas em HIV/Aids.

Mapa da violência III : os jovens do Brasil, Julio JacoboWaiselfisz. Brasília: UNESCO Brasil, Instituto Ayrton Senna, 2002.Analisa as causas da mortalidade juvenil na década de 1991 a 2000.A conclusão é que índices de suicídio mantiveram-se inalterados nesteperíodo enquanto que os de mortes por acidentes de trânsitodiminuíram, basicamente em virtude da imposição da Nova Lei de Trânsito.

Maiores informacões sobre as publicacões da UNESCO no Brasil no e-mail: [email protected]

Publicação sobre a UNESCOe Educação.Uma introdução interessantesobre a missão da UNESCO na áreade educação, suas estratégias eprincipais prioridades.Atualmente disponível em inglês,francês e espanhol. Edições emárabe, chinês, português e russoestão sendo preparadas.