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Organização: Veríssimo, C.J.

Organização: Veríssimo, C.J. - iz.sp.gov.briz.sp.gov.br/pdfs/1438631955.pdf · 1. Boophilus microplus. 2. ... (Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro) pela Universidade de

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Organizao:Verssimo, C.J.

Resistncia e Controle do Carrapato-do-boi

Organizao:Verssimo, C.J.

Nova Odessa, SPInstituto de Zootecnia

2015

R433 Resistncia e controle do carrapato-do-boi / Organizao: Ceclia Jos Verssimo. - Nova Odessa: Instituto de Zootecnia, 2015. 135p.;il. ISBN: 978-85-61852-13-9

Inclui referncias 1. Boophilus microplus. 2. Carrapato - controle. 3. Carrapato Resistncia aos inseticidas. I. Verssimo, C. J. [org.]. II. Ttulo.

CDD - 595.429

Ficha catologrfica elaborada por: Tatiane Salles CRB 8/8946 Ncleo de Informao e Documentao

Governador do Estado de So PauloGeraldo Alckmin

Secretrio de Agricultura e AbastecimentoArnaldo Jardim

Secretrio Adjunto de Agricultura e AbastecimentoRubens Rizek Junior

Coordenador da Agncia Paulista de Tecnologia dos AgronegciosOrlando Melo de Castro

Diretor Tcnico de Departamento do Instituto de ZootecniaRenata Helena Branco Arnandes

Centro de Comunicao e Transferncia do Conhe-cimentoIvani Pozar Otsuk

COORDENAO

Ceclia Jos VerssimoFone: (19) 34669431/[email protected]

EDITORAO

Maria Isabel Rodrigues AlvesNcleo de Editorao Tcnico-Cientifica

NORMALIZAO BIBLIOGRFICA

Tatiane Helena Borges de Salles

CAPA

Lisley Silvrio

Esclarecemos que todas as informaes contidas neste Anais so de inteira responsabilidade de cada palestrante.

Todos os direitos autorais reservados ao Instituto de Zootecnia. A reproduo de partes ou de todo deste trabalho s poder ser feita mediante a citao da fonte.

Instituto de Zootecnia (IZ/APTA/SAA)Rua Heitor Penteado, 56, Centro, CEP 13460-000, Nova Odessa, SP.

Fone: (19) 3466-9400/www.iz.sp.gov.br

O Livro Resistncia e controle do carrapato-do-boi est licenciado com uma Licena Creative Commons.

PREFCIO

Este livro aborda as palestras proferidas durante o IV Workshop Controle do Car-rapato, realizado em agosto de 2014. Neste evento, foi discutido o problema atual da resistncia gentica dos carrapatos aos carrapaticidas, e formas de controle alternativo e estratgico de combate ao carrapato, alm de ensinar a maneira correta de se aplicar o carrapaticida na forma de asperso, e como todos esses conhecimentos podem chegar ao produtor rural. Sempre contando com a experincia de especialistas em cada rea, esperamos com este livro aumentar e reciclar o conhecimento de tcnicos e produtores sobre o carrapato-do-boi e seu controle, colaborando para que este parasita possa ser combatido de modo eficaz e sustentvel.

Ceclia Jos Verssimo

PALESTRANTES

Luciana Gatto Brito concluiu o doutorado em Cincias Veterinrias pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em 2003 e ps-doutorado em 2010 pelo Livestock Insect Research Laboratory (USDA/ARS). Atualmente Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria, docente e vice coordenadora estadual do Programa de Doutorado da Rede Bionorte (Roraima). Atua na rea de Sade Animal - Parasitologia Veterinria tendo como principais linhas de pesquisa a entomologia e a hemoparasitologia veterinria.

Possui graduao em Medicina Veterinria pela Universidade Federal de Minas Gerais (1999), Mestrado em Medicina Veterinria pela Universidade Federal de Minas Gerais (2002) e Doutorado em Cincia Animal, tambm pela Escola de Veterinria da UFMG. Pesquisador da rea de Controle de Ecto e Endoparasitoses da Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais - EPAMIG. Responsvel Tcnico do Sistema de Produo de Leite - Rebanho 3/4 Holands x Zebu, da Fazenda Experimental Santa Rita - FESR/EPAMIG.

Luciana Gatto Brito

Daniel Sobreira Rodrigues

Lew Kan Sprenger

Possui graduao em Medicina Veterinria pela Universidade Federal do Paran - Campus Curitiba (2010). Atualmente doutorando do Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias pela Universidade Federal do Paran, na linha de pesquisa em Sanidade Animal e Medicina Veterinria Preventiva. Tem experincia nas rea de Doenas Parasitrias dos Animais Domsticos, Microbiologia, Fitoterapia, Produo Animal, Inspeo e Vigilncia Sanitria, TIPOA, Agroecologia, Zoonoses e Sade Pblica.

Cecilia Jose Verissimo

Possui graduao em Medicina Veterinria pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1982), mestrado em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (1991) e doutorado em Zootecnia - Qualidade e Produtividade Animal pela Universidade de So Paulo (2008). Atualmente pesquisador cientifico nivel VI do Instituto de Zootecnia. Tem experincia nas reas de Zootecnia e Medicina Veterinria Preventiva, com nfase em Produo Animal, atuando no tema controle alternativo de parasitas, especialmente do carrapato-do-boi.

Marcia Cristina Mendes

Possui graduao em Biologia pela Universidade de Taubat (1984), mestrado em Cincias (Biologia da Relao Patgeno-Hospedeiro) pela Universidade de So Paulo (1997) e doutorado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (2005). pesquisadora cientfica do Instituto Biolgico (APTA/SAA), em So Paulo. Tem experincia na rea de Parasitologia, com nfase no diagnstico da resistncia do carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus aos carrapaticidas.

Carlos Pagani Netto

Mdico Veterinrio com MBA em Agronegcio pela Fundao Getlio Vargas, trabalha na CATI Regional de Catanduva, SP, sendo o Coordenador do Projeto CATI Leite no Estado de So Paulo.

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SUMRIO

Palestras

Diagnstico de resistncia s bases carrapaticidas em populaes do carrapato dos bovinos (Luciana Gatto Brito, Fbio da Silva Barbieri, Mrcia Cristina de Sena Oli-veira, Maribel Funes Huacca)................................................................................... 02

Aplicao de carrapaticida em bovinos (Daniel Sobreira Rodrigues, Rebeca Pas-sos Wanderley Muller, Romrio Cerqueira Leite)...................................................... 29

Tratamento parcial seletivo do Rhipicephalus (B.) microplus e variaes raciais de resistncia em vacas de corte no Rio Grande do Sul, Brasil: uma experincia em larga escala (Marcelo Beltro Molento, Fernanda Silva Fortes, Andria Buzatti, Fernando Staude Kloster, Lew Kan Sprenger, Luis Dorneles Soares)...................... 57

Alternativas de controle do carrapato-do-boi na pecuria leiteira (Ceclia Jos Verssi-mo, Luciana Morita Katiki)........................................................................................ 76

Controle estratgico do carrapato dos bovinos Rhipicephalus (B.) microplus, no Estado de So Paulo (Mrcia Cristina Mendes)....................................................... 114

Projeto CATI Leite: como fazer chegar a tecnologia ao produtor (Carlos Pagani Netto)........................................................................................................................ 124

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DIAGNSTICO DE RESISTNCIA S BASES CARRAPATICIDAS EM POPULAES DO CARRAPATO DOS BOVINOS

Luciana Gatto Brito1*; Fbio da Silva Barbieri1; Mrcia Cristina de Sena Oliveira2; Maribel Funes Huacca3

1Embrapa Rondnia, Porto Velho, RO3Embrapa Pecuria Sudeste, So Carlos, SP,

3Universidade Federal de Rondnia, Porto Velho, RO*Autor correspondente: [email protected]

RESUMO: Os programas de controle direcionados aos parasitas ainda exigem a utiliza-o de produtos qumicos para maior estabilidade operacional das aes de controle e o uso de carrapaticidas qumicos a principal ferramenta de controle para as infestaes do carrapato dos bovinos. A correta escolha de princpios ativos capazes de controlar as infestaes nos rebanhos uma necessidade premente, devido ao rpido surgimento e estabelecimento de populaes de carrapatos resistentes. A utilizao de tcnicas fe-notpicas de avaliao in vitro da suscetibilidade de carrapatos s bases pesticidas so ainda o mtodo mais prtico e de maior aceitao para se diagnosticar e mensurar o grau da resistncia s bases carrapaticidas nas populaes, porm provas diagnsticas moleculares esto sendo desenvolvidas e utilizadas para a identificao de populaes do carrapato dos bovinos resistentes s principais molculas utilizadas em seu controle. A rpida e acurada identificao da resistncia pesticidas nas populaes do carra-pato dos bovinos deve ser considerada como uma demanda prioritria para reduzir a dependncia qumica relacionada ao controle das infestaes, mitigar a contaminao ambiental determinada pelos pesticidas e eliminar a presena de resduos parasiticidas nos alimentos. Lembrando que, a identificao de produtos de degradao de frmacos parasiticidas em produtos de origem animal se apresenta como uma barreira no tarifria que ser cada vez mais explorada pelo competitivo mercado internacional de produtos crneos e lcteos.

Palavras-chave: Carrapato dos bovinos, pesticidas, resistncia, diagnstico.

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DIAGNOSTIC OF RESISTANCE TO ACARICIDES IN BOVINE TICK POPULATIONS

ABSTRACT: Programs targeted to parasites control still require the use of chemicals for greater operational stability of the actions and the use of chemical acaricide is the main control tool for the cattle tick infestations. The correct choice of active principles able to control infestations in cattle is urgently needed due to the rapid emergence and establishment of resistant tick populations. The use of phenotyping techniques for evaluating the susceptibility to pesticides used in the control of cattle ticks populations is still the most practical method and with greater acceptance to diagnose and measure the degree of resistance to acaricides bases in these populations. Molecular diagnostic tests are being developed and used for identification of tick populations of cattle resistant to molecules used to control infestations. The quick and accurate identification of resistance to pesticides in cattle tick populations should be considered a priority demand to reduce addiction related to the chemical control of infestation, to mitigate the environmental contamination by pesticides and eliminate the presence of parasiticides residues on food. Should be highlighted that the identification of pesticides degradation products in animal products is presented as a non-tariff barrier that will be increasingly exploited by competitive international market of meat and dairy products.

Keywords: cattle tick, pesticides, resistance, diagnosis.

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1. Introduo

A infestao pelo carrapato dos bovinos, Rhipicephalus microplus, um dos fatores limitantes para a melhor rentabilidade da produo pecuria nacional. As condies climticas predominantes na maior parte do Brasil contribuem para aumentar a intensidade e o perodo de parasitismo, tornando os prejuzos determinados pelas infestaes um problema significativo e impactante para os rebanhos bovinos nacionais.

Figura 1. Bovino intensamente parasitado e pastagem com alta densidade de larvas do carrapato

dos bovinos.

Ao longo do sculo passado a indstria farmacutica veterinria desenvolveu medicamentos mais eficazes e como resultado, as perdas associadas a produtividade dos rebanhos foram reduzidas. O acesso fcil a produtos parasiticidas e a facilidade com que eles podem ser aplicados, combinado ao progresso no conhecimento da epidemiologia de parasitas de ruminantes, levou a um perodo de relativo sucesso no controle das parasitoses, particularmente em sistemas de produo intensivos. No entanto a falsa suposio de que o controle parasitrio pode ser facilmente realizado somente atravs da utilizao de produtos qumicos levou ao aparecimento da resistncia s bases qumicas parasiticidas mais utilizadas, aumentando tambm a presena de resduos nos produtos de origem animal, alm da perda de confiabilidade dos produtores na eficincia dos programas sanitrios de controle de parasitas.

A resistncia s bases carrapaticidas considerada um fenmeno de origem gentica nas populaes de carrapatos, onde uma ou mais mutaes conferem ao carrapato a

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capacidade de sobreviver a exposio s bases qumicas. Na prtica, a seleo causada pelos tratamentos qumicos leva ao aumento da frequncia de indivduos resistentes na populao, com consequente reduo da eficcia dos frmacos.

Falhas no controle do carrapato dos bovinos decorrentes da resistncia as bases carrapaticidas, tm sido cada vez mais comuns nas principais regies pecurias do pas. A situao da resistncia no controle das populaes de carrapato tende a agravar-se em curto prazo, no apenas devido ao uso inadequado e excessivo das bases carrapaticidas, mas porque a maioria dos produtos utilizados para o controle da mosca-dos-chifres tambm possui ao contra o carrapato dos bovinos. Assim, o tratamento qumico dirigido a uma espcie impe uma seleo indesejvel outra, uma vez que o carrapato e a mosca infestam o mesmo hospedeiro e so expostos simultaneamente as mesmas bases qumicas.

Apesar das desvantagens do uso de carrapaticidas na bovinocultura, tais como a poluio ambiental, a produo de resduos na carne e no leite e a exposio txica imposta s pessoas que aplicam as formulaes carrapaticidas, estes frmacos so ainda essenciais para o controle das populaes de ectoparasitas. No entanto, o uso exaustivo das formulaes responsvel pela perda de eficcia das bases qumicas e determina o estabelecimento, o desenvolvimento e a emergncia de populaes resistentes do carrapato bovino, assim como, da mosca-dos-chifres.

No Brasil, o controle das populaes de carrapatos que infestam os rebanhos bovinos se d pela utilizao de uma ampla gama de pesticidas, porm, devido ao baixo custo relativo, os grupos qumicos piretride, organofosforado e amidina so os de uso mais comum, lembrando que, a amidina no possu indicao de uso para o controle das infestaes causadas pela mosca-dos-chifres. A disseminao da resistncia s diferentes bases pesticidas demonstra as limitaes existentes no controle qumico parasitrio, sendo essencial que as bases parasiticidas sejam administradas como preciosos recursos no mbito do manejo sanitrio dos rebanhos.

O diagnstico precoce da resistncia em populaes parasitrias pode viabilizar o uso mais adequado dos grupos qumicos disponveis para o controle das infestaes por carrapato, j que novos compostos no esto sendo disponibilizados com a mesma velocidade com que a resistncia se estabelece nas populaes. Novas opes para o controle parasitrio e para o manejo da resistncia em populaes do carrapato dos bovinos so prioritrias para que se possa reduzir a dependncia qumica e a emergncia

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da resistncia, bem como o consequente aumento dos custos de produo e dos riscos ambientais e sade daqueles que trabalham e, ou consomem alimentos de origem animal.

O desenvolvimento e a emergncia da resistncia a pesticidas est relacionado ao aumento na frequncia das mutaes genotpicas decorrentes da presso de seleo exercida pelas bases qumicas. Mutaes que conferem resistncia aos pesticidas se caracterizam por alteraes pontuais e especificas, normalmente de base nica, as quais determinam o aparecimento de fentipos resistentes aos grupos qumicos parasiticidas. Atualmente ferramentas de diagnstico fenotpico e molecular para deteco da resistncia s bases qumicas esto disponveis e podem ser utilizadas com eficincia em estudos epidemiolgicos, fundamentais para a identificao e a quantificao dos fatores de risco relacionados ao estabelecimento da resistncia em populaes do carrapato dos bovinos.

2. Bases moleculares da resistncia a pesticidas em artrpodes

As bases moleculares da resistncia a pesticidas podem ser resumidas em trs tipos: amplificao, alterao da regulao e alterao estrutural do gene, sendo que as duas primeiras resultam em alteraes quantitativas, enquanto que a ltima envolve uma mudana estrutural em sua expresso (SCOTT, 1995).

Em artrpodes, os principais mecanismos de resistncia pesticidas so a reduo na penetrao e o aumento no sequestro e na detoxicao de xenobiticos. Tais mecanismos contribuem para diminuir a efetividade da dose dos pesticidas, considerando que uma diminuio da sensibilidade no local alvo ou a alterao do local de destino tambm podem fazer com que a dose do frmaco torne-se ineficaz.

Trs famlias de protenas so amplamente responsabilizadas pelo metabolismo dos frmacos pesticidas: citocromos P450 (oxidases de funo mista ou MFO), as esterases (EST) e a glutationa S-transferases (GSTs). As protenas destas famlias tambm esto envolvidas na sntese e degradao de uma grande variedade de compostos metablicos endgenos, assim como na proteo contra o estresse oxidativo, na transmisso de sinais nervosos e no transporte de compostos atravs das clulas (RANSON et al., 2002).

A grande maioria dos compostos qumicos usados como acaricidas atua em stios especficos do sistema nervoso dos parasitas, alterando processos fisiolgicos vitais. O sistema nervoso dos artrpodes formado por agregaes de clulas nervosas, os quais

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so denominadas como neurnios. Os impulsos nervosos so transmitidos ao longo das clulas, por meio de alteraes na diferena de potencial eltrico atravs da membrana do neurnio, alteraes estas que se propagam ao longo do mesmo. Em condies de repouso, existe uma diferena de potencial entre o interior e o exterior da clula, sendo o interior mais eletronegativo. A concentrao de Na+ fora da clula neuronal muito maior do que dentro, sendo que o inverso ocorre com K+. Tais gradientes ocorrem devido ao transporte ativo de ons atravs das membranas celulares (bombas de Na+ e de K+) e ao fato de, na condio de repouso, as membranas permanecerem impermeveis ao transporte passivo de Na+. Estmulos fsicos ou qumicos produzem alteraes estruturais nas protenas do canal de Na+ que permitem a passagem deste on e a consequente despolarizao da membrana a partir deste ponto, nova polarizao ocorre quando se abrem os canais de K+. Quando o estmulo chega extremidade do neurnio ocorre a liberao de neurotransmissores, responsveis pela propagao do estmulo nervoso atravs das sinapses (ETO, 1990).

Alm da complexidade e dificuldade de sua reverso, o desenvolvimento da resistncia em artrpodes compromete no apenas a base qumica a que as populaes foram expostas, mas a todo o grupo qumico a que elas pertencem. O estabelecimento da resistncia nas populaes parasitrias impede a utilizao de todas as classes de pesticidas disponveis, fazendo com que o controle do carrapato torne-se praticamente invivel.

Levantamento realizado na Austrlia indica que 80% dos carrapatos em Queensland so resistentes aos acaricidas organofosforados, 50% resistentes aos piretrides sintticos e 12% so resistentes ao amitraz (CUTULL et al., 2009). O surgimento deste tipo de mltipla resistncia tem tornado o manejo das populaes do carrapato cada vez mais difcil, representando uma grave ameaa bovinocultura, uma vez que o trnsito de bovinos infestados com carrapatos resistentes possibilita a difuso de populaes que trazem consigo mutaes que determinam o desenvolvimento da resistncia as diferentes bases carrapaticidas.

2.1. Mecanismo de resistncia a pesticidas piretrides

Pesticidas piretrides so derivados sintticos de neurotoxinas naturais de plantas que se ligam seletivamente s protenas dos canais de sdio, impedindo seu fechamento e inibindo a desativao e a estabilizao dos canais. Como consequncia o neurnio no consegue voltar posio de repouso e ocorre o bloqueio na transmisso dos impulsos nervosos.

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Figura 2. Estrutura qumica dos pesticidas piretroides sintticos.

Devido a sua seletividade txica aos invertebrados, piretrides correspondem a 25% de todos os pesticidas utilizados mundialmente (GEORGHIOU, 1990). O uso em larga escala de piretrides possibilitou o desenvolvimento da resistncia a este pesticida em muitos artrpodes como os carrapatos, a mosca domstica, a mosca-dos-chifres, a mosca-das-frutas, baratas, entre outros (DONG; SCOTT, 1994; WILLIANSOM et al., 1996; JAMROZ, 1998; HE, 1999; DOMINGUES et al., 2012; LOVIS et al., 2012; FAZA et al., 2013). Mudanas estruturais nos canais de sdio devido a presena de mutaes podem diminuir a interao entre os compostos piretrides e seu local alvo, e, assim, reduzir a sensibilidade dos artrpodes estes pesticidas (DONG, 2007).

A resistncia aos pesticidas piretrides em artrpodes parasitas baseada na detoxicao, na insensibilidade do stio alvo e em caractersticas comportamentais do parasita, porm no se conhece a importncia relativa de cada um destes fatores em condies de campo e qual seria o principal fator determinante da resistncia (GUGLIELMONE et al., 2002).

As mutaes genticas tm sido associadas capacidade de vrios parasitas sobreviverem ao tratamento com pesticidas. Artrpodes em geral possuem um curto intervalo entre geraes, o que favorece a emergncia de populaes com diferentes perfis genotpicos de acordo com a presso seletiva a que esto sendo submetidos. Tais mecanismos de resistncia tornam os pesticidas ineficazes em um curto espao de tempo, sendo necessrio o aumento de sua concentrao, a mudana do princpio ativo empregado e a utilizao de formulaes com associaes de diferentes princpios ativos (SUTHERST et al., 1983).

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Porm, o mais importante mecanismo de resistncia, determinado por mutao no gene que codifica a protena do canal de sdio caracterizado por uma reduo na sensibilidade do sistema nervoso de artrpodes a piretrides e ao diclorodifeniltricloroetano (DDT), conhecido como knockdown resistance (kdr), que inicialmente foi observado em cepas de Musca domestica resistentes ao pesticida (WILLIAMSON et al., 1996).

Trs mutaes nos canais de sdio tm sido associados resistncia aos piretrides em populaes de R. microplus (HE et al., 1999; CHEN et al., 2009; MORGAN et al., 2009; JONSSON et al., 2010; GUERRERO et al., 2012). He et al. (1999) identificaram uma mutao de ponto no segmento S6 do domnio III do gene do canal de sdio, altamente conservado em cepas de carrapato dos bovinos muito resistentes aos piretrides e ao diclorodifeniltricloroetano (DDT). A mutao envolve a substituio de uma tiamina por uma adenina (T2134A), resultando na substituio de uma Fenilalanina por um resduo de Isoleucina em indivduos suscetveis e resistentes, respectivamente.

Figura 3. Ponto da mutao KDR no segmento S6 do domnio III do gene do canal de sdio que

determina a resistncia a piretrides em carrapato dos bovinos.

Morgan et al. (2009) identificaram uma mutao localizada no linker do domnio II S4-5 do gene do para-canal de sdio a qual determinada pela substituio de uma base nucleotdica citosina presente em indivduos suscetveis por uma adenina (C190A) em indivduos resistentes aos pesticidas piretrides. Essa substituio determina a troca do aminocido Leucina por Isoleucina, a qual associada a resistncia aos piretrides. Uma nova mutao foi identificada por Jonsson et al. (2010) em populaes australianas

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de R. microplus, a qual est localizada no linker do domnio S4-S5, onde h a substituio do aminocido Glicina por Valina o que determina a resistncia somente ao piretride Flumetrim.

Guerrero et al. (2001) desenvolveram uma prova molecular diagnstica para identificao da resistncia a piretrides em populaes de R. microplus, onde a substituio do aminocido Fenilalanina por Isoleucina no segmento S6 da transmembrana do domnio III do canal de sdio em indivduos resistentes aos piretrides, possibilitou a clara identificao de gentipos heterozigotos e homozigotos suscetveis ou resistentes.

2.2. Mecanismo de resistncia a pesticidas organofosforados

Os grupos qumicos pesticidas organofosforados e carbamatos tm como alvo os genes que determinam a atividade enzimtica das acetilcolinesterases (AChEs) no sistema nervoso central de artrpodes. Pesticidas organofosforados inibem irreversivelmente a ao da enzima AChE, provocando constante estimulao nervosa que acarreta a morte por paralisia (MASON et al., 1984).

Figura 4. Estrutura qumica dos pesticidas organofosforados.

Embora grandes esforos de pesquisa sejam realizados para a identificao dos mecanismos de resistncia aos organofosforados em populaes do carrapato dos bovinos, muito pouco se conhece em relao as bases moleculares envolvidas. Acredita-se que a resistncia aos pesticidas organofosforados se estabelece e mantida atravs de um complexo processo multifatorial envolvendo diversas AChEs (GUERRERO et al., 2012; TEMEYER et al., 2013). Uma srie de estudos vm sendo realizados para a busca de evidncias relacionadas aos mecanismos de resistncia a pesticidas organofosforados em populaes de R. microplus. Porm, mecanismos especficos relacionados a resistncia

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este pesticida no foram identificados. A incerteza relacionada a identidade de transcritos que codificam AChEs funcionalmente relevantes para os mecanismos de resistncia de R. microplus a organofosforados uma realidade.

Uma ou mais AChEs parecem estar envolvidas na resposta acaricidas (BAFFI et al., 2008; TEMEYER et al., 2010; TEMEYER et al., 2013). Recentemente, Bellgard et al. (2012) identificaram sete contigs (conjunto de sobreposio de segmentos de DNA que em conjunto representam uma regio consenso de DNA) no transcriptoma de R. microplus com significante similaridade com sequncias de AChEs. Temeyer et al. (2013) expressaram trs transcritos tipo acetilcolinesterases isolados em duas cepas resistentes e uma suscetvel de R. microplus e demonstraram que h uma variante de alelos nos indivduos de cepas que apresentam diferentes respostas a organofosforados, concluindo que o fentipo resistente a organofosforados deve ser um carter complexo e multignico.

Infelizmente, mutaes especficas relacionadas s AChEs no tm sido correlacionadas a resistncia aos pesticidas organofosforados em populaes de campo do carrapato dos bovinos (GUERRERO et al., 2012). Ensaios genotpicos alelo especficos ou sequenciamento de cDNA com cepas de R. microplus resistentes e suscetveis, sugerem que mutaes adicionais esto potencialmente associadas insensibilidade de R. microplus a pesticidas organofosforados (TEMEYER et al., 2011).

2.3. Mecanismo de resistncia aos demais grupos pesticidas

2.3.1. Amitraz

Amitraz um acaricida da classe formamidina que tem sido utilizado de forma eficaz no controle de importantes pragas agropecurias, incluindo o carrapato dos bovinos (HAIGH; GICHANG, 1980; DAVEY et al., 1984; GARRIS; GEORGE, 1985; KAGARUKI, 1996). O mecanismo de ao da formamidina, pelo qual exerce seu efeito txico, se d atravs da interao da molcula com os receptores de octopamina (,4-dihidroxifenetilamina) e 2-adrenoreceptores no sistema nervoso central de artrpodes (EVANS; GEE, 1980; DUDAI et al., 1987; JONSSON; HOPE, 2007), e, possivelmente, tambm por inibio da enzima monoaminaoxidase (ATKINSON et al., 1974; SCHUNTNER; THOMPSON, 1976).

Embora os mecanismos de ao para o amitraz ainda no estejam completamente compreendidos, tanto esse pesticida quanto outras formamidinas pertencem a uma classe de pesticidas que apresenta mecanismo de ao distinto.

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Figura 5. Estrutura qumica do pesticida amidina.

A base molecular da resistncia ao amitraz relacionada ao stio-alvo da molcula foi verificada comparando-se sequncias de cDNA de receptores de uma octapamina putativa em populaes australianas do carrapato dos bovinos resistentes e suscetveis ao amitraz, porm a sequncia deste gene a partir da anlise de uma variedade de populaes demonstraram que tanto cepas suscetveis quanto resistentes apresentam sequncias idnticas relacionadas aos receptores de octapamina (BAXTER; BARKER, 1999).

Estudo realizado por Li et al. (2005) buscando identificar os mecanismos metablicos envolvidos no aparecimento e na fixao da resistncia ao amitraz em uma cepa brasileira de R. microplus identificou que a resistncia essa base pesticida herdada como trao recessivo incompleto envolvendo mais de um gene, e com um forte efeito materno na expresso da resistncia ao amitraz na prognie larval. Evidncias encontradas por esses autores, sugerem que tambm h o envolvimento de mecanismos de detoxificao metablica relacionados com a resistncia ao amitraz. Dada a possibilidade da resistncia ao amitraz envolver tanto mecanismos stio-alvos como mecanismos de detoxificao, esperado que a resistncia ao amitraz em populaes de R. microplus seja de natureza polignica.

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O envolvimento de vrios genes e o efeito materno sobre o nvel de resistncia ao diflubenzuron foi demonstrado em uma linhagem selecionada em laboratrio de Lucilia cuprina (KOTZE; SALES, 2001). Embora a herana ligada ao sexo na resistncia a pesticidas venha sendo demonstrada em vrias espcies de insetos (DALY; FISK, 1998; DE LAME et al., 2001; SHEARER; USMANI, 2001), no h a possibilidade de se testar a resposta a resistncia relacionada com o sexo em R. microplus, uma vez que o bioensaio recomendado pela avaliao da resistncia a pesticidas preconizado pela Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a Agricultura (FAO) o teste do pacote de larvas TPL (Larval Packet Test - LPT) modificado, onde avaliada a susceptibilidade e a resistncia as bases pesticidas nas larvas do carrapato, o que impossibilita a identificao sexual dos espcimes (LI et al., 2005).

2.3.2. Lactonas macrocclicas

Duas classes de lactonas macrocclicas (LMs) apresentam atividade acaricida: as avermectinas e as milbemicinas. Avermectinas so lactonas macrocclicas derivadas do actinomiceto Streptomyces avermitilis enquanto que as milbemicinas so derivados dos produtos de fermentao de S. hygroscopicus aureolacrimosus (LASOTA; DYBAS, 1991). Ivermectina, eprinomectina e doramectin pertencem a classe das avermectinas, sendo que a moxidectina a nica das milbemicinas comercializada para o controle de carrapatos. Cada uma dessas lactonas macrocclicas ativa sistemicamente em doses muito baixas para o controle de carrapatos.

Figura 6. Estrutura qumica de alguns pesticidas da classe das avermectinas e das milbemicinas.

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As avermectinas e a milbemicina atuam principalmente sobre o cido -aminobutrico (GABA) e os canais de cloro-glutamato (FRITZ et al., 1979; CLARK et al., 1995). Poucos estudos destinam-se a identificar os mecanismos de desenvolvimento da resistncia s lactonas macrocclicas em caros. Clarck et al. (1995) demonstraram que o aumento da excreo e a diminuio da absoro, combinados a elevao do metabolismo (ou conjugao do composto) esto envolvidos na resistncia abamectina, assim como, de forma indireta, a resistncia metablica (CAMPOS et al., 1995; STUMPF; NAUEN, 2002).

A insensibilidade do GABA e o fechamento dos canais de cloro glutamato, stio-alvos relacionados com a resistncia as avermectinas e as milbemicinas em carrapatos, so sugeridos como os mecanismos que determinam a diminuio da disponibilidade de abamectina em stios de ligao especficos, especialmente nas subunidades do receptor de ligao, sendo esse tambm mais um possvel mecanismo de resistncia s avermectinas (CLARK et al., 1995; BLACKHALL et al., 1998).

2.3.3. Fipronil

Fipronil um pesticida da classe das fenilpirazolonas que tem como mecanismo de ao o bloqueio de ons cloreto controlados por GABA (GABA-Cl) presentes no sistema nervoso central de artrpodes. O sistema receptor de GABA responsvel pela inibio da atividade neuronal e o bloqueio de tais funes responsvel pela hiperexcitao do sistema nervoso e consequente morte. O bloqueio dos canais de ons cloreto ativados por glutamato determinado pelo fipronil a caracterstica, que em parte, responsvel pela maior toxidade seletiva dessa molcula para artrpodes, uma vez que mamferos no possuem canais de ons cloreto (NARAHASHI et al., 2007).

Figura 7. Estrutura qumica do pesticida fipronil.

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O neurotransmissor glutamato um aminocido simples que desempenha papel excitatrio do sistema nervoso central. Dois tipos de canais de cloro ligados ao glutamato apresentam caractersticas eletrofisiolgicas e farmacolgicas distintas. Em insetos, o gene da subunidade do receptor de GABA foi clonado primeiramente em Drosophila melanogaster (Meigen) e designado como Rdl (relacionado a resistncia ao Dieldrin, composto organoclorado sinttico), o qual associa-se com outra subunidade do receptor GABA para formar o stio de atuao de pesticidas ciclodienos e fenilpirazolonas. A mutao que confere resistncia ao dieldrin est associada a substituio de um aminiocido Alanina na posio 302 por um aminocido Serina, mutao essa que confere a resistncia tambm ao fipronil.

3. Teste diagnsticos para identificao da resistncia a pesticidas em populaes do carrapato dos bovinos

O diagnstico precoce da resistncia mostra-se como uma importante ferramenta para viabilizar o uso mais adequado dos grupos qumicos disponveis para o controle das infestaes por carrapatos. Estudos epidemiolgicos direcionados ao conhecimento da situao da resistncia s bases pesticidas realizados em diferentes populaes do carrapato dos bovinos demonstram a estreita associao entre os fatores fenotpicos, tais como limites de concentrao letal (CL) e fator de resistncia (FR) das populaes de carrapato com a frequncia de alelos mutantes nas populaes.

A associao de provas diagnsticas fenotpicas e genotpicas para a identificao da presena de resistncia s bases pesticidas mostra-se como uma ferramenta vivel para o monitoramento da resistncia nas populaes de carrapatos, sendo tambm til na elaborao de novas estratgias de manejo de bases carrapaticidas para o controle das populaes de R. microplus.

3.1. Testes fenotpicos para o diagnstico da resistncia a pesticidas

De acordo com a FAO (2004), a escolha de um teste laboratorial adequado para avaliar a resistncia a pesticidas em populaes do carrapato dos bovinos deve apresentar alguns requisitos, tais como:

ser sensvel o suficiente para identificar a resistncia no incio de seu surgi-mento;

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abranger toda a gama de grupos qumicos que esto em uso, incluindo os prin-cpios ativos mais recentemente desenvolvidos;

ser simples e de baixo custo e, fornecer um resultado rpido e confivel, sendo tambm adequado para pa-

dronizao para utilizao em laboratrios de vrios pases.Os testes de avaliao in vitro mais utilizados para a identificao fenotpica da

resistncia a pesticidas so os bioensaios realizados com larvas e fmeas ingurgitadas de R. microplus. Nenhum dos bioensaios at o momento desenvolvidos atende a todos os requisitos preconizados pela FAO, sendo necessrio o aperfeioamento dos protocolos diagnsticos da resistncia pesticida direcionados s populaes do carrapato dos bovinos (FAO, 2004).

A anlise das resposta relacionadas a um questionrio aplicado pelo Grupo de Trabalho da FAO sobre a resistncia em parasitas (Working Group on Parasite Resistance/WGPR), demonstra que o mtodo mais amplamente utilizado nos laboratrios envolvidos com o diagnstico de resistncia a pesticidas em populaes de carrapatos o Teste de Imerso de Adultos TIA (Adult Immersion Test - AIT) (FAO, 2004).

Diversos so os protocolos disponveis para a identificao de cepas resistentes de carrapatos. No entanto, para facilitar o monitoramento global da resistncia e fornecer uma base histrica para a comparao dos resultados dos testes, devem ser adotados mtodos diagnsticos padronizados. Em vista disso e seguindo o conselho de especialistas, desde 1975, a FAO tem recomendado a realizao do Teste do Pacote de Larvas TPL (Larval Packet Test - LPT) para investigao da resistncia em cepas de campo do carrapato dos bovinos, especialmente para acaricidas organofosforados e piretrides sintticos (KEMP et al., 1999).

3.1.1. Teste do Pacote de Larvas (TPL)

Esse um bioensaio amplamente utilizado na Amrica Latina e na frica e baseia-se em protocolos australianos utilizados pelo Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization (CSIRO) e pelo Queensland Department of Primary Industries (DPI). O bioensaio utiliza larvas para o diagnstico da resistncia em populaes do carrapato dos bovinos e os resultados so obtidos em cerca de seis semanas, podendo tambm ser utilizado para outras espcies de carrapatos ixoddeos.

No TPL, mtodo preferencial da FAO para o diagnstico de resistncia em

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populaes de carrapatos, as larvas so expostas a papis filtros impregnados com bases pesticidas e a mortalidade das larvas quantificada aps 24 horas de exposio aos princpios ativos. Mais recentemente, os protocolos foram adaptados para avaliao da resistncia lactonas macrocclicas (LMs).

Foto: Mrcia C. de Sena Oliveira/Embrapa.

Figura 8. Teste do pacote de larvas (TPL) utilizado para o diagnstico da resistncia a pesticidas em

populaes do carrapato dos bovinos.

Algumas modificaes ao TPL so necessrias para o diagnstico da resistncia amitraz, uma vez que cepas resistentes do carrapato dos bovinos no apresentam uma relao linear entre o probit da mortalidade e o log da concentrao do acaricida, no se conhecendo as razes que determinam essa situao. Tal fato impossibilita que seja determinada a dose discriminante (2 LC99.9) e, por isso, se faz necessria a utilizao de trs diferentes concentraes de amitraz: 0,2; 0,05 e 0,0125% peso/volume. O teste segue exatamente o protocolo LPT mas os pacotes so colocados em placas de Petri de plstico (com cada repetio de uma concentrao depositada em uma placa separada) e o tempo de exposio estendido para 48 horas. importante ressaltar que o LPT no deve ser utilizado para acaricidas reguladores de crescimento, tais como o Fluazurom.

3.1.2. Teste de Imerso de Adultos (TIA)

O TIA um ensaio biolgico que utiliza fmeas ingurgitadas de carrapatos. O TIA foi descrito por Drummond et al. (1973) e utilizado para determinar a eficcia relativa de novos acaricidas contra vrias espcies de carrapatos.

Este bioensaio foi adaptado a partir de testes de resistncia realizados em diferentes laboratrios, sem que houvesse sido estabelecido um protocolo-padro. O Agriculture Research Service/United States Department of Agriculture (ARS/USDA),

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instituio que inicialmente desenvolveu o teste disponibilizou o protocolo que mais amplamente utilizado e que tambm pode ser utilizado para avaliao da resistncia s lactonas macrocclicas e ao Fluazuron (FAO, 2004).

Foto: Luciana Gatto Brito/Embrapa.

Figura 9. Teste de imerso de adultos (TIA) realizado para o diagnstico da resistncia a pesticidas

em populaes do carrapato dos bovinos.

3.1.3. Teste de Imerso de larvas (TIL)

Este bioensaio larval desenvolvido por Shaw (1996) no to amplamente utilizado para o diagnstico de resistncia quanto o AIT e o LPT. O mtodo tambm fornece seu resultado em cerca de seis semanas, o mesmo tempo que o TPL. Estudos comparativos indicaram que os resultados do TIL podem ser comparados com aos resultados do TPL j que h uma boa concordncia entre os resultados dos ensaios. A incapacidade do TPL para diagnosticar a resistncia fluazuron tambm se aplica ao TIL. Pode-se considerar o TIL para o desenvolvimento de novos testes para a deteco de resistncia LMs em larvas do carrapato. O TPL tambm pode ser usado para LMs mas resultados preliminares da CSIRO, Austrlia, tm mostrado que a TIL muito mais sensvel (FAO, 2004).

3.2. Diagnstico molecular da resistncia a pesticidas

Na atualidade, os mtodos moleculares para identificao de alelos mutantes relacionados a resistncia a pesticidas em populaes dos carrapatos dos bovinos encontram-se bem estabelecidos para o diagnstico da resistncia a pesticidas piretrides.

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O ensaio da reao em cadeia da polimerase para amplificao de alelos especficos (PCR amplification of specific alleles/PASA) tem como alvo o diagnstico da resistncia local em um segmento do canal sdio, uma vez que pesquisas utilizando cepas de R. microplus resistentes aos piretrides descobriram apenas um stio de mutao (JAMROZ et al., 2000; HE et al. 1999; GUERRERO et al., 2001).

Os mecanismos de resistncia para piretrides que atuam no carrapato dos bovinos esto comeando a ser bem entendidos no nvel molecular. H uma compreenso bsica dos mecanismos metablicos que suportam a resistncia organofosforado em R. microplus, no entanto, um alvo nico capaz de identificar a resistncia a este pesticida parece no ser o caminho para que tenhamos uma prova molecular nos moldes da utilizada para a identificao da resistncia a pesticidas piretrides.

Muito pouco se conhece nas populaes de R. microplus a cerca dos mecanismos envolvidos na resistncia ao amitraz, ao fipronil e s lactonas macrocclicas. Estudos so necessrios para que possamos identificar tais mecanismos relacionados resistncia pesticida em populao do carrapato dos bovinos. Porm, consenso que avanos no conhecimento da genmica de R. microplus iro estabelecer novos alvos moleculares e novas ferramentas moleculares de diagnstico da resistncia.

4. Situao da resistncia a pesticidas em populaes brasileiras do carrapato dos bovinos

Observa-se que o relato da identificao da resistncia a pesticidas nas populaes brasileiras do carrapato dos bovinos vem aumentando principalmente a partir de 2010, porm relatos anteriores j demonstram a preocupao da comunidade cientfica nacional em relao a emergncia da resistncia a pesticidas nas populaes de R. microplus.

Os estudos fenotpicos diagnsticos da resistncia a pesticidas ainda so os mais frequentemente realizados no Brasil e demonstram que a resistncia as classes pesticidas mais utilizadas, como piretrides, organofosforados e amidina uma realidade e encontra-se dispersa em importantes polos pecurios de produo de bovinos, conforme podemos observar na Tabela 1.

Ainda so poucos os estudos que utilizam mtodos moleculares para avaliar a resistncia a pesticidas nas populaes brasileiras do carrapato dos bovinos. No estudo epidemiolgico conduzido por Andreotti et al. (2011) direcionado a identificar a situao da resistncia acaricidas em populaes do carrapato dos bovinos estabelecidas no Mato Grosso do Sul os autores realizaram a pesquisa de alelos mutantes tipo kdr em trs populaes de carrapatos fenotipicamente identificadas como resistentes a piretrides, porm, no evidenciaram a presena da mutao.

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Tabela 1. Estudos realizados no Brasil direcionados a identificar fenotipicamente a resistncia a pesticidas em populao do carrapato dos bovinos

Base Pesticidas Mtodo Diagnstico rea do Estudo Populaes Resistentes Autor/Ano

Piretrides TIL GO 100%* Fernandes, 2001Piretrides TPL SP 80% Mendes, 2005Piretrides TIA RO 35% Brito et al, 2010

Piretrides TIA MS 80% Gomes et al, 2011

Piretrides TIA RN 5%* Coelho et al, 2013

Piretrides TTL SP, RS, MS, PR, ES 95% Lovis et al, 2013

Piretrides TIA MS 46% Andreotti et al, 2011

Piretrides TPL MS e RSCipermetrina: 100%

Mendes et al., 2013Deltametrina: 100%

Flumetrina: 75%Piretrides +

Organofosforados TIA PE 23%Santana et al.,

2013Piretrides +

Organofosforados TIA MS 25%Andreotti et al,

2011PiretrideS +

Organofosforados TIA MS 42%Gomes et al,

2011Piretrides +

Organofosforados TIA RO 24% Brito et al, 2010

Organofosfarados TTL SP, RS, MS, PR, ES 88% Lovis et al, 2013

Organofosfarados TIA MS 43% Gomes et al, 2011

Organofosfarados TIA MS 19% Andreotti et al, 2011

Amidina TTL SP, RS, MS, PR, ES 82% Lovis et al, 2013

Amidina TIA RO 23% Brito et al, 2010

Amidina TIA MS 36% Gomes et al, 2011

Amidina TIA RN 15%* Coelho et al, 2013

Amidina TIL SP 69% Mendes et al, 2013

Abreviaes: TIL - Teste de Imerso de Larvas; TIA - Teste de Imerso de Adultos; TPL - Teste de Pacote de Larvas; TTL - Teste Tarsal de Larvas. *Avaliao realizada em uma nica populao de carrapato dos bovinos.

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Faza et al. (2013) tambm realizaram a pesquisa de alelos tipo kdr em larvas de R. microplus provenientes de 587 populaes do estado de Minas Gerais. Os autores identificaram que 91,9 % das populaes avaliadas so heterozigotas, demostrando que a maioria das populaes apresentam o alelo que confere a resistncia a pesticidas piretrides.

Estudo realizado por Mendes et al. (2013) no identificou em nenhuma das 10 populaes avaliadas a mutao de ponto no segmento S6 do domnio III do gene do canal de sdio, a qual envolve a substituio de uma tiamina por uma adenina (T2134A) identificada por He et al. (1999).

Estudos epidemiolgicos direcionados a identificar a situao da resistncia a pesticidas piretrides em populaes do carrapato dos bovinos nos estados de Rondnia e So Paulo esto em fase final de realizao. Os resultados obtidos at o momento demonstram que a disperso dos alelos mutantes kdr bastante distinta, sendo que em Rondnia a maioria das populaes do carrapato dos bovinos avaliadas so heterozigotas (Figura 10), enquanto que as populaes de So Paulo apresentam uma alta frequncia de gentipos SS.

Figura 10. Gel de agarose a 4% corado com brometo de etdeo com produtos de amplificao das

amostras de DNA de larvas de carrapato Rhipicephalus microplus provenientes de

populaes estabelecidas em Rondnia genotipadas para KDR, mutao que confere

resistncia aos carrapaticidas piretrides. Onde: poos 1 e 20 = padro de pares de

bases (100 pares de base); SR= amostras de larvas com gentipo heterozigoto; RR=

amostra de larva com gentipo homozigoto resistente; KDR= indicao da banda com

cerca de 68 pb que torna possvel o diagnstico da mutao.

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5. Consideraes Finais

Bioensaios padronizados para determinao do fator de resistncia em populaes do carrapato dos bovinos, tais como o LPT (STONE; HAYDOCK, 1962), so teis uma vez que oferecem um mtodo fenotpico de resposta das populaes s diferentes bases pesticidas. No entanto, bioensaios muitas vezes requerem um grande nmero de larvas e vrias semanas para que se disponibilizem os resultados. Ensaios diagnsticos fundamentados em alvos moleculares podem produzir resultados rpidos, em at 24 horas, a partir da anlise de poucos, ou at mesmo, de um nico indivduo. O desconhecimento dos mecanismos moleculares envolvidos na resistncia a maioria das bases pesticidas utilizadas no controle das populaes do carrapato dos bovinos ainda um fator limitante para a ampla utilizao do diagnstico molecular.

A demanda por avanos metodolgicos e recomendaes prticas relacionadas ao controle das populaes do carrapato dos bovinos, torna necessria a busca de tecnologias que permitam acompanhar a crescente complexidade da cadeia produtiva da bovinocultura. O desenvolvimento de ferramentas diagnsticas para deteco da resistncia a pesticidas em populaes de campo do carrapato dos bovinos capazes de gerar resultados rpidos so fundamentais para o desenvolvimento de novas estratgias de controle parasitrio e para o manejo das bases pesticidas.

A rpida e acurada identificao da resistncia pesticidas nas populaes parasitrias de ruminantes deve ser considerada como uma demanda prioritria para reduzir a dependncia qumica, mitigar a contaminao ambiental e buscar a eliminao da presena de resduos pesticidas nos alimentos. Na atualidade, a identificao de produtos de degradao de frmacos parasiticidas em produtos de origem animal se apresenta como uma barreira no tarifria que ser cada vez mais explorada pelo competitivo mercado internacional de produtos crneos e lcteos.

O Brasil, por possuir o maior rebanho comercial do mundo, deve buscar estratgias que resguardem os produtos advindos da bovinocultura nacional. Nesse sentido, o manejo das bases parasiticidas, incluindo os frmacos carrapaticidas, merece especial ateno. A padronizao de procedimentos diagnsticos e a realizao de amplos estudos epidemiolgicos direcionados a estabelecer a situao da resistncias as bases qumicas utilizadas para o controle das populaes do carrapato dos bovinos mostram-se como aes necessrias para o correto uso do arsenal farmacolgico pesticida direcionado ao controle das populaes do carrapato dos bovinos, o que possibilitar a oferta de produtos crneos e lcteos livres de contaminantes qumicos pesticidas.

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APLICAO DE CARRAPATICIDAS EM BOVINOS

Daniel Sobreira Rodrigues1*, Rebeca Passos Bispos Wanderley Muller2, Romrio Cerqueira Leite2

1Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais (EPAMIG)2Escola de Veterinria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

*Autor correspondente: [email protected]

RESUMO: A correta aplicao de carrapaticidas essencial para o controle de carrapatos. A asperso uma das alternativas mais tradicionais, e apesar disso, h pouco estudo sobre o uso em bovinos. Neste texto, a discusso sobre a adequao e o custo dos procedimentos elaborada a partir de reviso bibliogrfica e de resultados de pesquisa. A pulverizao com equipamento estacionrio motorizado se destacou entre quatro tcnicas avaliadas e demonstrou ser uma opo apropriada para uso na rotina. Contudo, sua configurao ainda no est completamente definida. A especificao de peas e parmetros de funcionamento deve possibilitar o aproveitamento do melhor desempenho possvel.

Palavras-chave: Rhipicephalus microplus; carrapaticida; asperso.

APPLYING ACARICIDES ON CATTLE

ABSTRACT: The proper way of applying acaricides is an important key to the success of controlling ticks. Despite that spraying methods are very common there is little study about its use on livestock. Matters of quality and costs are the aim of this text, since discussion about literature reports and recent research results is presented. The power sprayer showed better outcomes than the other techniques and was considered to be the best option. However, its configuration is not completely defined. The set parts of the equipment and the operating standards should be assessed to reach maximum performances.

Keywords: Rhipicephalus microplus; acaricide; spray.

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1. Introduo

A principal arma disponvel para o controle do carrapato dos bovinos ainda o controle qumico. As demais alternativas so consideradas medidas auxiliares, j que no so suficientes para evitar o uso de acaricidas e/ou apresentam limitaes que desencorajam sua implantao.

No difcil imaginar que falhas na aplicao de produtos comprometam a qualidade do procedimento. Inadequaes dos mais diversos tipos so amplamente observadas e frequentemente citadas como importante causa de fracasso em programas de controle. Alm de afetar a eficincia, promovem aumento do custo de produo, dos riscos para sade pblica, e favorecem o desenvolvimento da resistncia aos carrapaticidas.

A resistncia vem reduzindo a eficcia dos princpios ativos disponveis e contribuindo para inviabilizar tcnicas. Com isso, as opes ficam cada vez mais restritas e caras, com a possibilidade de se esgotarem as alternativas qumicas, em algumas situaes (KLAFKE, 2008).

A correta aplicao indispensvel, tanto para se obter maior eficincia nos tratamentos quanto para se preservar a ao dos acaricidas. Mas falta informao. So poucos os estudos cientficos, e a disponibilidade de equipamentos comerciais para esse fim tambm considerada insuficiente.

Somente Drummond et al. (1966ab), Wharton et al.(1970) e Davey et al. (1997) realizaram avaliaes especficas sobre tcnicas de aplicao. Os estudos de Oba (1972) e Amaral et al. (1974), realizados no Brasil, tambm apresentaram alguns resultados, mas foram delineados para avaliao de produtos.

2. Tcnicas de aplicao de carrapaticidas

Acaricidas sistmicos so encontrados nas formas, injetvel, pour on, oral e intraruminal. J acaricidas de contato esto disponveis para utilizao em banhos por imerso ou asperso e nas apresentaes pour on e brincos inseticidas (FURLONG, 1998, GEORGE et al., 2008; PRIETSCH et al., 2014).

A classe das avermectinas a nica disponvel na forma injetvel. No entanto, apresenta ao limitada contra carrapatos, principalmente em situaes de alto desafio parasitrio (KLAFKE et al., 2010).

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O longo perodo de ao promove o contato do princpio ativo com mais parasitos, o que , em um primeiro momento, aparentemente bastante coveniente. No entanto, essa propriedade favorece o aumento da presso de seleo por indivduos resistentes e da presena de resduos de pesticidas na carne e no leite. Quando no so observados os intervalos mnimos entre dosificaes, nem os perodos de carncia, os problemas se tornam ainda maiores (GUERRERO et al., 2012). Apesar da grande praticidade, as apresentaes com elevada ao residual, sistmica ou por contato, apresentam essas limitaes.

J os banhos com acaricidas de baixo poder residual, apesar de trabalhosos, apresentam menos impacto. Tecnicamente, no h diferena de eficincia entre imerso e asperso, desde que realizadas de forma adequada (DRUMMOND et al.,1966a; WHARTHON et al., 1970; OBA, 1972; AMARAL et al., 1974; DAVEY et al.,1997).

O correto banho carrapaticida deve garantir que toda a superfcie de pele do animal tenha contato com calda, conferindo uniformidade ao procedimento (WHARTON et al., 1970; BECK, 1979; GEORGE, 1989; NARI, 1990). Isso, porque os diversos estdios de desenvolvimento de Rhipicephalus microplus podem se fixar em qualquer regio. No obstante essa capacidade, reas protegidas e de difcil acesso encontram-se frequentemente entre as mais parasitadas (KEMP et al., 1976; NUEZ,1987).

Os dois principais pontos crticos que envolvem a aplicao de acaricidas so a qualidade do produto e a qualidade da aplicao (WHARTON et al., 1970; NARI, 1990).

No caso do banho por imerso, a qualidade da aplicao no considerada uma grande preocupao, j que o sistema faz com que os animais mergulhem completamente, proporcionando uma aplicao uniforme. A qualidade do produto, no entanto, um ponto vulnervel. Como a mistura permanece no banheiro por longos perodos e utilizada para vrios procedimentos, sofre muitas interferncias. A passagem de animais no apenas remove calda, mas afeta sua concentrao, que precisa ser mensurada periodicamente para os clculos de recarga. Mesmo os produtos mais estveis esto sujeitos a alteraes de pH e demais conseqncias da presena de matria orgnica que se acumula com o uso. Alm disso, tambm so necessrios cuidados extras para homogeneizao (KEARNAN et al., 1982; NARI, 1990; DAVEY et al., 1997; LEITE, 2004; LABRUNA, 2008).

Essa tcnica vem perdendo popularidade em funo dos elevados custos de implantao e de operao. Embora ainda difundida na regio Sul do Brasil, a desativao desses equipamentos crescente (MARTINS et al., 2005). O desenvolvimento de

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mecanismos de resistncia pelos carrapatos tem inviabilizado sua utilizao no Brasil e tambm ameaa a barreira quarentenria do programa oficial de erradicao nos Estados Unidos (DAVEY et al., 2001; LEITE, 2004).

Com relao ao banho por asperso, a situao diferente. A mistura produzida para pronto uso e, desde que no haja erros de diluio, a qualidade da aplicao o principal ponto crtico desse mtodo. A asperso pode ser feita por um ou mais operadores, ou mecanizada. No primeiro caso, os equipamentos so pulverizadores costais ou estacionrios, com sistema de pressurizao motorizado ou manual. J para a asperso mecanizada, so utilizados modelos de cmaras atomizadoras ou bretes de asperso (WHARTON et al., 1970; NARI, 1990; GEORGE et al. 2004).

Quando realizada por operador, a ocorrncia de falhas atribuda principalmente ao componente humano, pois depende obrigatoriamente da habilidade e da disposio individual (WHARTON et al., 1970; NARI, 1990). Mas, no caso do pulverizador costal manual considera-se tambm a contribuio do equipamento, pois demanda esforo fsico para seu manuseio. Como alternativa, a asperso com pulverizador estacionrio motorizado, tambm denominada de power spray ou hand spray, tem sido implantada associada a um corredor de cordoalha para conteno dos animais (LEITE, 2004; RODRIGUES, 2012).

As cmaras atomizadoras e os bretes de asperso, tambm denominados de spray race ou spray dip, consistem de tnel equipado com bicos de asperso em localizaes estratgicas. A asperso realizada de forma mecanizada durante a passagem dos animais pelo seu interior, e a calda que escorre pelo piso coletada e recirculada. No caso do spray dip, no disponvel comercialmente no Brasil, os animais so mantidos no interior da cmara durante a asperso e o tempo de permanncia controlado por operador. O custo de implantao desses equipamentos considerado elevado e existem relatos de necessidade de manuteno freqente, alm de limitaes para a qualidade do banho, que contribuem para que sejam poucos difundidos (BARNETT, 1961; WHARTON et al., 1970; NARI, 1990; VERSSIMO, 1993; DAVEY et al., 1997; LEITE, 2004).

A asperso ainda o mtodo tradicionalmente mais utilizado e recomendado, no Brasil. Certamente uma alternativa muito importante, mas a exemplo da imerso, tambm vem perdendo popularidade. Falta aos produtores condio necessria para realizar banhos que proporcionem agilidade e eficincia ao procedimento, e conforto ao operador. Ao contrrio, o uso de apresentaes pour on tem se tornado cada vez mais frequente, estimulado pela facilidade de aplicao e pela reduo do custo desses produtos.

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3. Resultados de pesquisa

Em estudo realizado pela Empresa de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais EPAMIG, e a Escola de Veterinria da UFMG, na Unidade Demonstrativa para Banhos Carrapaticidas da Fazenda Experimental Santa Rita (FESR/EPAMIG) (Figura 1.), foi avaliada a adequao ao uso de quatro tcnicas de banho carrapaticida por asperso (RODRIGUES, 2012).

Figura 1. Unidade Demonstrativa para Banhos Carrapaticidas da Fazenda Experimental Santa Rita

(FESR) EPAMIG.

Durante dois anos, foram realizados 31 banhos em um rebanho com 80 vacas leiteiras divididas em quatro grupos mantidos em reas contguas independentes e submetidos a banhos por meio de uma das seguintes tcnicas: Usual, Pulverizador Costal Manual, Cmara Atomizadora e Pulverizador Estacionrio Motorizado.

Com o objetivo de avaliar uma conduta comumente praticada em condies reais, para a tcnica Usual foi mantido o procedimento anteriormente utilizado na propriedade, sem interferncias. As demais foram executadas de acordo com as recomendaes tcnicas e a literatura especializada disponvel. Os parmetros avaliados foram: tempo de durao do procedimento, consumo de mistura carrapaticida, custo operacional

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efetivo, ergonomia fsica, freqncia de entupimentos e vazamentos nos equipamentos e qualidade de banho.

Os dados apresentados para a tcnica Usual so referentes ao primeiro ano de avaliao, enquanto para as demais, so do segundo. Nesses momentos os procedimentos representaram melhor as tcnicas avaliadas.

Com o passar do tempo, o vaqueiro encarregado acabou promovendo melhorias na tcnica Usual, possivelmente estimulado pela conduo do experimento, provocando efeito halo. Para as demais, aps o primeiro ano os operadores estavam mais bem treinados, o que conferiu maior padronizao na sua execuo.

O estudou gerou dados quantitativos e qualitativos que foram avaliados por meio de estatstica descritiva e da tcnica de triangulao de mtodos (MINAYO, 2005).

4. Tcnica Usual

Para a tcnica Usual, o equipamento utilizado foi uma barra de asperso improvisada, construda a partir de um aspersor de jardim, um bico de asperso agrcola com o orifcio da ponta alargado e tubulao hidrulica de PVC, ligado a uma mangueira de 1/2 conectada a um sistema estacionrio de bombeamento, composto de reservatrio de 250 litros e motobomba de 1cv de potncia que proporcionou uma presso de 45 psi (Figura 2.).

A asperso foi realizada por um funcionrio da fazenda e o banho foi considerado como sem conteno, com os animais soltos, mas reunidos em um curral de manejo com 135 m (Figura 3.).

A tcnica apresentou baixo desempenho para qualidade do procedimento. Foram constantes as falhas de uniformidade do banho, j que no houve acesso adequado cabea, axilas, virilhas, regio perianal e parte inferior do trax e abdome. Enquanto algumas regies passavam despercebidas pelo operador, outras, como o perneo, eram banhadas de forma excessiva.

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Figura 2. Equipamento utilizado para tcnica Usual: barra de asperso improvisada e em detalhe, o

bico de asperso e o reservatrio.

Figura 3. Banho carrapaticida por meio de tcnica Usual de asperso.

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Ainda que o consumo de mistura carrapaticida tenha sido considerado adequado, entre as tcnicas, essa foi a que apresentou os maiores valores (Tabela 1). A asperso na forma de jato slido e a falta de conteno contriburam para isso. Ambos so relacionados como causa de desperdcio (LEITE, 2004; LABRUNA, 2008). No existem avaliaes cientficas sobre consumo carrapaticida. Os poucos registros so referentes a estimativas realizadas a partir de consulta a produtores, recomendaes tcnicas de especialistas, ou foram considerados os volumes recomendados pelos fabricantes dos produtos (SILVA, 1979; HORN, 1985; SING et al., 1983; JONSSON et. al., 2001).

Em banhos por imerso, cada animal remove 2,5 a 3,5 litros com seu corpo (KEARNAN, 1982). Essa faixa considerada a mnima necessria para a realizao de um procedimento adequado (BARNETT, 1961; SILVA, 1979; LEITE, 2004). Geralmente recomenda-se a utilizao de 04 a 06 litros por animal. A margem de segurana busca minimizar possveis falhas e garantir um banho de qualidade (VERSSIMO, 1993; OLIVEIRA e OLIVEIRA, 1998; LABRUNA, 2008).

Tcnica de banho carrapaticida Volume (L)*Usual 4,29 1,48

Pulverizador Costal Manual 3,68 0,33

Cmara Atomizadora 3,78 0,60

Pulverizador Estacionrio Motorizado 3,37 0,84

* Valores de mdia e desvio padro por animal.

A tcnica Usual apresentou os menores valores de tempo entre as tcnicas com asperso manual (Tabela 2.), no foram observados problemas de ergonomia fsica, e os entupimentos e vazamentos foram considerados espordicos. Em condies reais, os operadores buscam reduzir o tempo de execuo dos banhos para diminuir o desgaste fsico e para disponibilizar tempo para outras atividades. As alternativas desenvolvidas, por meio de adaptaes e improvisos, embora favorveis para quem executa, muitas vezes deixam de considerar recomendaes tcnicas, o que interfere na qualidade do procedimento (IIDA, 1990; ROCHA et al., 2011).

Tabela 1. Consumo de mistura carrapaticida em banhos por asperso

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Tabela 2. Tempo de durao de procedimentos de banho carrapaticida

Para o custo do banho, tambm foram observados os menores valores entre as tcnicas com asperso manual (Tabela 3.). De acordo com Horn (1985), em 1983 o valor do procedimento no Brasil era de US$ 0,19 por animal. Os valores calculados atualmente indicam a ocorrncia de aumento real em mais de 100%, nos ltimos 30 anos.

Tcnica de banho carrapaticida Tempo*

Usual 01min12s 38s

Pulverizador Costal Manual 04min8s 35s

Cmara Atomizadora 06s 05s

Pulverizador Estacionrio Motorizado 01min35s 13s

* Valores de mdia e desvio padro por animal.

Tabela 3. Custo operacional efetivo (COE) de banhos carrapaticidas

Tcnica de banho carrapaticida COE (R$)* COE (US$)*

Usual 0,87 0,43

Pulverizador Costal Manual 1,23 0,61

Cmara Atomizadora 0,65 0,32

Pulverizador Estacionrio Motorizado 0,93 0,46*Valores de mdia por animal.

Tcnica pulverizador costal manual

O equipamento utilizado foi um modelo comercial fabricado em polietileno, com capacidade para 20 litros, equipado com ponta de jato cnico cheio, de ao inox, com vazo de 0,61 L/min para uma presso mxima de trabalho de 85 psi. O sistema de conteno foi um corredor, construdo com 10 m de comprimento, 0,70 m de largura e 1,80 m de altura; postes de eucalipto de 18 cm de dimetro, com espaamento de 1,50 m; seis fios de cordoalha com 25 cm de espaamento; e duas peas de madeira, uma de cada lado, com 10 m de comprimento e seco de 10 x 06 cm, instalada a 1,80 m de altura fazendo a amarrao dos postes.

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Os banhos foram realizados de forma criteriosa, por operador treinado (Figura 4.). A sequncia de regies anatmicas aspergidas foi determinada previamente e encontra-se descrita adiante, em item especfico.

Figura 4. Banho carrapaticida por meio da tcnica Pulverizador Costal Manual.

A ergonomia foi considerada o principal aspecto negativo da tcnica, que tambm apresentou os maiores valores para tempo e custo (Tabelas 2 e 3.).

Durante o estudo, foram relatadas dores e desconfortos nas regies dos ombros, cotovelo esquerdo, pescoo e costas, alm de esforos fsicos exaustivos, provocando fadiga e desgaste fsico em todas as ocasies. A atividade de bombeamento manual demanda grande esforo e a movimentao do operador fica dificultada pelo peso do reservatrio, demonstrando ntida desvantagem em relao aos sistemas motorizados estacionrios.

Freitas (2006), ao realizar anlise ergonmica da atividade com pulverizador costal em plantaes de caf, observou queixas de dores e desconfortos em 90% dos casos, sendo que 80% foram localizadas na regio dos ombros. Alm disso, concluiu que o risco de lombalgias alto e que a carga de trabalho, tomando como base, a freqncia cardaca, foi alta para 63,6% dos operadores e moderadamente pesada para o restante.

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De acordo com a Norma Regulamentadora NR5, que trata da CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidentes, o carregamento e o manuseio de cargas, a exigncia de posturas inadequadas e o desgaste fsico encontram-se entre os principais riscos para a ocorrncia de doenas e acidentes do trabalho (BRASIL, 1978).

A fadiga provoca aumento do tempo despendido no procedimento e consequentemente, do custo de mo de obra (Tabela 4.), alm de contribuir para que no seja realizado de forma adequada (VERSSIMO, 1993; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 1998; LABRUNA, 2008). Rocha et al. (2011) atribuem frequente ocorrncia de falhas, s dificuldades na utilizao desse tipo de equipamento.

Apesar das limitaes, a tcnica apresentou banhos de alta qualidade. A uniformidade foi obtida porque a asperso foi realizada de acordo com recomendaes tcnicas e em um pequeno nmero de animais contidos de forma apropriada. Em um mesmo dia foram banhados no mximo 21 animais. O conjunto composto por barra de asperso e mangueira foi considerado curto e, juntamente com os problemas ergonmicos, dificultou, mas no comprometeu a obteno de banhos uniformes.

O pulverizador costal manual foi desenvolvido principalmente para asperso agrcola, e seu uso para asperso animal deve ser evitado sempre que possvel.

Tabela 4. Custo de mo de obra e de produto acaricida para diferentes tcnicas de banho por asperso

Tcnica de banho carrapaticida Mo de obra* Produto Acaricida*

Usual 0,14 0,73

Pulverizador Costal Manual 0,58 0,65

Cmara Atomizadora 0,01 0,64

Pulverizador Estacionrio Motorizado 0,40 0,53

*Valores de mdia em reais (R$) por animal.

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Tcnica Cmara Atomizadora

Para essa tcnica, o procedimento consistiu em se conduzir os animais pelo interior de um modelo comercial de Cmara Atomizadora em funcionamento (Figura 5.), de acordo com as recomendaes do fabricante.

Figura 5. Banho carrapaticida por meio da tcnica Cmara Atomizadora.

O equipamento era composto por um tnel de madeira e ferro galvanizado com 3,50 m de comprimento, equipado com 25 bicos de asperso com vazo de 3,33 L/min cada, e vazo total de 83,25 L/min. Os bicos estavam distribudos, quatro no piso, trs no teto, e nove em cada parede lateral. Essa estrutura ficava suspensa a 20 cm do cho, assentada sobre uma base de alvenaria com rampas para entrada e sada dos animais. O equipamento contava tambm com um motor de 1,50 cv de potncia que fazia o recalque da mistura carrapaticida para os bicos de asperso, a partir de uma caixa dgua de 310 litros instalada abaixo do nvel cho. A base de alvenaria funcionava como uma caixa de coleta para recirculao do lquido que no sofreu arraste pelo animal (Figura 6.).

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Figura 6. Modelo comercial de cmara atomizadora.

Embora tenha proporcionado os banhos mais rpidos e baratos, a cmara atomizadora apresentou problemas relacionados ao funcionamento e uniformidade do procedimento.

O tempo de durao do banho extremamente pequeno, de 12 a 41 vezes menor do que os demais (Tabela 2.), no influenciou o custo na mesma proporo, j que o consumo de produto carrapaticida observado foi semelhante (Tabela 1.).

Na asperso, o consumo de mistura carrapaticida decorre principalmente da vazo do equipamento, do tempo de durao do procedimento e das perdas, por deriva e vazamentos (RAMOS et al., 2010). Entretanto, como nesse caso o equipamento promove a recirculao de parte da calda aspergida, a vazo e o tempo passam a ter menor importncia. O consumo fica ento relacionado basicamente ao volume retirado do sistema pelos animais, alm das perdas.

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Os entupimentos dos bicos de asperso foram considerados muito frequentes, observados em mais de 90% das ocasies. Na peneira responsvel por filtrar a calda para recirculao, foram pouco frequentes, mas ocasionaram perdas por transbordamento e a interrupo da asperso, por falta de mistura no sistema. A peneira era fixada tampa do reservatrio o que dificultava a sua limpeza. Tambm foi observada dificuldade de esgotamento do reservatrio para limpeza, pois o tubo de suco no atingia o fundo e no havia sistema de drenagem.

A frequncia de entupimentos foi muito alta em relao ao pequeno perodo de funcionamento. A cmara funcionava, no mximo, por dois minutos em cada dia de operao. J os vazamentos foram considerados espordicos.

Os bicos de asperso, embora numerosos, no conseguiram atingir adequadamente as reas de pele mais protegidas, alm dos entupimentos constantes, que tambm contriburam para as constantes falhas de uniformidade observadas.

Tcnica Pulverizador Estacionrio Motorizado

O equipamento utilizado foi dimensionado e construdo a partir de dados de literatura e da experincia de pesquisadores (BARNETT, 1961; LEITE, 2004). O sistema era composto por uma caixa dgua, uma bomba hidrulica, tubulao, mangueiras, barras e bicos de asperso. A mistura carrapaticida preparada na caixa dgua, era mantida em constante agitao por meio de uma tubulao de retorno, controlada por registro, enquanto uma parte da mistura era bombeada por tubulao enterrada at duas sadas, nas laterais de um corredor de cordoalha (Figura 7.). Nessas sadas eram acopladas mangueiras equipadas com barras de asperso.

Esse equipamento foi construdo com uma caixa dgua de 500 litros; uma bomba hidrulica com potncia de 1cv; tubulao de retorno e de sada de 1, com reduo para 1/2 nas sadas laterais ao brete; registros de 1 na tubulao de retorno e sada da bomba e registros de 1/2 nas sadas laterais ao brete; conexes de engate rpido de 1/2 para acoplamento de mangueiras; duas mangueiras lonadas de 1/2 e cinco metros de comprimento; duas barras de asperso de uso agrcola, fabricadas em alumnio, com 82 cm de comprimento, equipadas com filtro, registro e bico universal trs sadas com vazo de 1,90 a 2,25 L/min para presso de 200 a 300 psi (Figura 8.).

Resistncia e controle do carrapato-boi, Nova Odessa, 2014

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Figura 7. Equipamento utilizado para tcnica Pulverizador Estacionrio Motorizado. Em detalhe, as sadas da tubulao, nas laterais do corredor de conteno.

Figura 8. Barra de asperso utilizada para tcnica Pulverizador Estacionrio Motorizado. Em detalhe, a manopla precedida de filtro e vlvula, e o bico de asperso com trs sadas.

Resistncia e controle do carrapato-boi, Nova Odessa, 2014

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Os banhos foram realizados por dois operadores treinados, sendo um de cada lado, trabalhando em sentidos opostos. A asperso foi realizada de forma semelhante descrita para tcnica Pulverizador Costal Manual e o sistema de conteno tambm foi o mesmo (Figura 9.). A presso de trabalho foi de 45 psi.

Figura 9. Banho carrapaticida por meio da tcnica Pulverizador Estacionrio Motorizado.

Essa tcnica apresentou desempenho positivo em todos os aspectos avaliados (Quadro 1). No foram relatados problemas de ergonomia e os valores de custo ficaram em nvel intermedirio, mesmo trabalhando com dois operadores, evidenciando a importncia da reduo do tempo de banho na reduo do custo total (WHITE et al., 2003). Alm disso, a combinao entre tempo de durao e vazo proporcionou o melhor rendimento em relao ao consumo (Tabela 1.). No foram observadas ocorrncias relevantes em relao a entupimentos sendo considerados espordicos. Os vazamentos, localizados nos engates rpidos, foram considerados pouco frequentes e corrigidos com fita de teflon.

Resistncia e controle do carrapato-boi, Nova Odessa, 2014

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Quadro 1. Quadro comparativo: avaliao de parmetros relacionados execuo de banhos

carrapaticidas por meio de diferentes tcnicas

Ergonomia fsica*

Entupimentos e vazamentos*

Uniformidade do banho*

Custo do banho

(R$/animal)

Usual + + - 0,87

Pulverizador Costal Manual

- + + 1,23

Cmara Atomizadora + - - 0,65

Pulverizador Estacionrio Motorizado

+ + + 0,93

*Desempenhos positivos e negativos so representados, respectivamente, por (+) e (-).

A uniformidade do banho foi obtida em funo da conteno adequada e da asperso criteriosa. As condies de acesso ao animal foram consideradas as melhores entre as tcnicas de asperso manual, proporcionadas principalmente pelo mtodo de conteno e pela barra de asperso de 82 cm.

Exposio ao risco de intoxicaes

O risco de intoxicaes com produtos qumicos foi considerado semelhante para as tcnicas. Em todas as ocasies os operadores encontravam-se rigorosamente paramentados com equipamentos de proteo individual EPIs. Entretanto, em condies de campo isso no ocorre da mesma maneira.

Como existem em diversos modelos, para diferentes funes, fundamental que os EPIs sejam confortveis