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SANDRO ALEX LEMMERMEIER DA ROSA
ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICA PARA CRIANÇAS MEDICALIZADAS
EM UM ESPAÇO ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE BRUSQUE-SC
Itajaí (SC)
2019
SANDRO ALEX LEMMERMEIER DA ROSA
ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICA PARA CRIANÇAS MEDICALIZADAS
EM UM ESPAÇO ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE BRUSQUE-SC
Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. Orientador Prof. Dr. George Saliba Manske.
Itajaí (SC) 2019
Ficha Catalográfica
Bibliotecária Eugenia Berlim Buzzi CRB 14/963
R71
Rosa, Sandro Alex Lemmermeier da, 1969- Organização didática pedagógica para crianças medicalizadas em um espaço escolar no município de Brusque-SC. [Manuscrito] / Sandro Alex Lemmermeier da Rosa. – Itajaí. SC. 2019.
93 f. ; il. ; tab.
Inclui referências bibliográficas. Cópia de computador (Printout(s)). Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. “Orientador Prof. Dr. George Saliba Manske”
1. Medicalização. 2. Educação. 3 Organização Escolar. 4. Sujeito Escolar. I. Universidade do Vale do Itajaí. II. Título.
CDU: 615.03
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me dado saúde e força para superar as adversidades
enfrentadas ao longo do processo e por me permitir realizar esse sonho.
Agradeço especialmente a minha esposa Rosélis, que permitiu que eu me dedicasse
a esse projeto mesmo abdicando de momentos familiares assim como eventos
sociais tão importantes num relacionamento. Obrigado por permanecer ao meu lado,
mesmo sem os carinhos rotineiros, sem a atenção devida e depois de tantos
momentos de lazer perdidos. Obrigado pelo presente de cada dia, pelo seu sorriso e
por saber me fazer feliz.
Agradeço a Secretaria de Educação de Brusque, especialmente a querida Eliani
Aparecida Busnardo Buemo, minha professora de graduação pela qual tenho a mais
profunda admiração e respeito, e que proporcionou a realização da minha pesquisa.
Agradeço ao meu orientador, George, um sujeito sensacional, divertido, competente
a quem gostaria de chamar de amigo. Tantas vezes cheguei a estar desmotivado,
porém nos encontros de orientação, bastavam alguns minutos de conversa e umas
poucas palavras de incentivo e lá estava eu, com o mesmo ânimo do primeiro dia de
mestrado. Obrigado por fazer parte da desconstrução literária ao longo desse
processo tenho certeza que não chegaria neste ponto sem o seu apoio.
Aos membros da banca examinadora, Professora Fabiola Hermes Chesani e
Professor Luís Henrique Sacchi dos Santos, que tão gentilmente aceitaram participar
e colaborar com esta dissertação. Ao Professor Luís Sacchi, não poderia deixar de
comentar o enorme apreço pela participação na minha banca, embora receoso pela
responsabilidade em ter o orientador do meu orientador na banca, agradeço
imensamente a disponibilidade do ilustríssimo senhor.
Não poderia deixar de agradecer aos meus grandes colegas da turma 15 do
Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho que ao longo desses quatro
semestres contribuíram na minha formação pessoal e acadêmica.
Agradeço ao “Bonde das Falcatruas” nome dado ao grupo de colegas que
estreitaram relações de amizade no dia a dia, através dos encontros no barzinho em
frente da Univali para conversar, divertir-se, debater e comer aquela saborosa
batatinha frita. Aldry, Grazielle, Marcelo, Marcos, Théo, Renatinha, Thiago Furão,
saibam que vocês foram os maiores responsáveis para que eu pudesse chegar
nesse momento. Muito obrigado pela companhia de vocês.
Para Finalizar, meu agradecimento final vai para o grupo de orientandos do George:
à novata Vanessa, seja muito bem vinda ao grupo, saiba que você esta muito bem
assessorada; Onishi o Japonês mais falante que já conheci e que aprendi a admirar
pela persistência frente às adversidades que vivenciou ao longo do mestrado; Gean
triatleta, sua caminhada esta começando, mas você já enfrentou desafios maiores,
esse será apenas mais um...; André o mais jovem pupilo do nosso orientador,
parceiro, dedicado e com um futuro promissor, continue com essa pegada, que o
sucesso você há de colher.
Você leitor, que conhece o grupo, deve estar questionando: ele se esqueceu de uma
pessoa! Não... Não esqueci, apenas acho que ela merece um paragrafo especial.
Muito difícil encontrar palavras para poder decifrar a minha amiga Grazielle Rocha
Franco. Você é aquela amiga que sabe ser o que é para ser na hora certa, parece
até “Psicóloga”. Ao longo desses dois anos, você se tornou minha AMIGA, minha
irmã, onde trocamos angustias, compartilhamos emoções e vivenciamos o
verdadeiro significado do pós-estruturalismo, pois descobrimos juntos com o bonde
da falcatrua o verdadeiro significado de ficar as margens de... Nesse caso, do
Mestrado. Obrigado por me aguentar, por suportar minhas loucuras, ouvir minhas
histórias, me escutar sem julgar, me animar e me apoiar sempre, criticar quando foi
necessário, enfim... Agradeço por fazer parte da minha história no Mestrado.
Por fim, a todos aqueles que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização
desta dissertação, o meu sincero agradecimento.
DEDICATÓRIA
Aos meus queridos pais Ivone e Ataliba (in memoriam), que dignamente me apresentaram à importância da família e ao caminho da honestidade e persistência. E à Rosélis, mulher da minha vida, obrigado pelo apoio incondicional em todos os momentos, principalmente nos de incertezas, muito comuns para quem tenta trilhar novos caminhos. Sem você nenhuma conquista valeria a pena.
“A escola não é de modo algum o mundo, nem deve
ser tomada como tal; é antes a instituição que se
interpõe entre o mundo e o domínio privado do lar.”
Hannah Arendt
“A educação é onde decidimos se amamos nossas
crianças o bastante para não expulsá-las de nosso
mundo.”
Hannah Arendt
ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICA PARA CRIANÇAS MEDICALIZADAS
EM UM ESPAÇO ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE BRUSQUE-SC
Sandro Alex Lemmermeier da Rosa
Julho/2019
Orientador: George Saliba Manske, Doutor em Educação.
Área de concentração: Saúde da Família.
Número de Paginas: 94
RESUMO: Face à crescente medicalização no espaço escolar para crianças
diagnosticadas com transtornos e déficits de atenção torna-se necessário refletir
criticamente acerca do papel da escola na condução desse processo educativo.
Para tanto, o conceito de organização escolar adquire uma dimensão central nesses
processos e as suas implicações são discutidas nessa dissertação, baseando-se na
produção de material empírico produzido mediante um conjunto de notas de campo
e entrevistas realizadas com os profissionais que fazem parte do processo didático
pedagógico de alunos medicalizados em uma escola de ensino fundamental num
município do sul do Brasil. A partir de uma metodologia de cunho qualitativo, com
entrevistas semiestruturadas, procuramos investigar e analisar discursos, ações e
significados que permeiam a organização didática pedagógica da escola que atende
alunos com transtornos de aprendizagem. Para a seleção das categorias,
priorizamos o objetivo do trabalho e o maior número de inferências elencadas nas
entrevistas para agrupar as categorias por ordem de importância, onde criamos três
níveis: 1) nível de maior relevância, que são as categorias propriamente ditas; 2)
nível de menor relevância, onde a temática dos entrevistados se caracteriza como
subcategorias; e 3) temas indiretos, onde não houve citações suficientes para
caracterizar uma subcategoria, porém tem relevância com o objetivo do trabalho.
Percebemos que há uma crescente culpabilização do aluno pelo fracasso escolar,
por um lado, e por outro, se o medicaliza de modo a não dar continuidade ao
reconhecimento das diferenças. Desse modo, reconhecemos que não há uma
organização didático-pedagógica específica que possa atender a demanda aqui
investigada. Todavia, percebemos um apelo por parte dos docentes, quanto a uma
política pública de formação continuada que será proposto através dessa pesquisa
em forma de tecnologia social aplicada na rede pública de ensino regular no
município de Brusque-SC, em forma de palestras e oficinas de capacitação, onde os
principais conceitos que nortearam essa pesquisa serão expostos através de slides
e vídeos, tendo como objetivo principal, a reflexão e o debate sobre o fracasso da
medicalização no espaço escolar.
Palavras chave: Educação. Medicalização. Organização Escolar. Sujeito Escolar.
PEDAGOGICAL DIDACTIC ORGANIZATION FOR MEDICALIZED CHILDREN IN A
SCHOOL IN THE TOWN OF BRUSQUE, STATE OF SANTA CATARINA, BRAZIL
Sandro Alex Lemmermeier da Rosa
July/2019
Supervisor: George Saliba Manske, Doctor of Education.
Area of concentration: Family Health.
Number of Pages: 94
ABSTRACT: In view of the growing medicalization in the schools for children
diagnosed with attention deficit disorders, it is necessary to reflect critically on the
role of the school in this educational process. To this end, the concept of school
organization acquires a central dimension in these processes and their implications
are discussed in this dissertation, based on the production of empirical material using
a set of field notes and interviews with professionals who are part of the didactic and
pedagogical process study of medicalized students in a primary school in a town in
the south of Brazil. From a qualitative methodology, with semi-structured interviews,
we seek to investigate and analyze discourses, actions and meanings that permeate
the didactic and pedagogical organization of the school that assists students with
learning disorders. For the selection of categories, we prioritized the objective of this
work and the largest number of inferences listed in the interviews to group the
categories in order of importance, where we created three levels: 1) the level of
highest relevance, which included the categories themselves; 2) the least relevant
level, where the interviewees’ themes are characterized as subcategories; and 3)
indirect themes, where there were not enough citations to characterize them as
subcategories, but their relevance relates to the objective of this work. We perceived
that there is a growing blame on the student for school failure, on the one hand, and,
on the other hand, students are medicalized so as to not give continuity to the
recognition of differences. Thus, we recognize that there is no specific didactic and
pedagogical organization that can meet the demand herein investigated. However,
we identified a call from the professors on a public policy of continuing education that
will be proposed by this research in the form of social technology applied to the
public regular education network of Brusque, state of Santa Catarina. These will be
lectures and training workshops, where the main concepts that guided this research
will be exposed through slides and videos, with the main objective being the
reflection and debate on the failures of medicalization in the school space.
Keywords: Education. Medicalization. School Organization. School Subject.
LISTA DE ABREVIATURAS
AEE - Atendimento Educacional Especializado
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CF88 - Constituição Federal de 1988
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC - Ministério da Educação
P – Participante da Pesquisa
SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica
TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade
TS – Tecnologia Social
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Características dos Participantes da Pesquisa p.38
Tabela 2 Categoria 1 com suas subcategorias e temas indiretos. p.40
Tabela 3 Categoria 2 com suas subcategorias e temas indiretos. p.40
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................13
2. DESENVOLVIMENTO.....................................................................................20
2.1. Revisão de Literatura.................................................................................20
2.1.1 Organização Escolar..................................................................................21
2.1.2 Medicalização.............................................................................................25
2.1.3 Sujeito Escolar............................................................................................29
2.2. Metodologia................................................................................................32
2.3. Análise e Discussão...................................................................................37
2.3.1 Percorrendo os Espaços Escolares...........................................................37
2.3.2 Estruturas Organizacionais........................................................................40
2.3.3 Conceitos de Medicalização e Caracterização de Comportamentos
Desviantes no Espaço Escolar...................................................................45
2.3.4 Prática Docente Permeada pelos Discursos de Medicalização Escolar
...................................................................................................................53
2.4. Devolutiva e Capacitação através de Palestras nas Escolas da Rede
Pública do Município de Brusque-SC, como Forma de Tecnologia
Social.........................................................................................................58
3. CONCLUSÃO..................................................................................................61
4. REFERÊNCIAS...............................................................................................65
APÊNDICES...............................................................................................................71
13
1. INTRODUÇÃO
Minha relação com o município de Brusque aconteceu no ano de 1997,
quando seguia ainda a carreira militar na Marinha do Brasil e fui transferido para o
município de Itajaí. Foi nessa época que conheci minha atual esposa que é nascida
e criada em Brusque. Após diversas partidas e chegadas provenientes da carreira
militar, fixei residência em 2004 no município. Hoje, encontro-me, aposentado do
serviço ativo da Marinha e sou Diretor de Uma Escola na rede pública de ensino
fundamental.
Na sociedade contemporânea, a medicalização no espaço escolar
passou a fazer parte das discussões entre os vários segmentos sociais. Segundo
Gaudenzi e Ortega (2012), discutem-se as estratégias de controle da vida humana,
cada vez mais intensas pela medicina. A medicina tornou-se um poder de condução
e controle dos corpos. Foucault (2010) corrobora afirmando que a medicina incide ao
mesmo tempo sobre o corpo e sobre a população, sobre o organismo e sobre os
processos biológicos e vai, portanto, ter efeitos disciplinares e efeitos
regulamentadores.
Em 11 de agosto de 2014, o jornal “Estadão” de São Paulo traz uma
reportagem sobre o uso abusivo da Ritalina no tratamento de crianças com Déficit
de Atenção. Hoje o uso terapêutico da droga está fundamentado no diagnóstico de
TDAH1. O aumento do uso do medicamento e sua confiabilidade passaram a servir
como referência para legitimar o diagnóstico (SINGH, 2007; DUPANLOUP, 2004).
A Ritalina tem sido a primeira opção no tratamento do TDAH, não
somente em crianças. O constante aumento da ampliação dos critérios diagnósticos
que abrangem adolescentes e adultos expandiu certamente a base de usuários da
Ritalina (CONRAD, 2007; OKIE, 2006; CONRAD, POTTER, 2000).
A alta do consumo é motivo de alerta, pois nos Estados Unidos e em
algumas partes da Europa o uso inadequado desse medicamento já é tratado como
um problema de saúde pública. Quando nos referimos à medicalização no espaço
escolar para crianças diagnosticadas com transtornos adquiridos na infância,
1 Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.
14
devemos refletir que o diagnóstico de TDAH nem sempre é acompanhado de uma
investigação aprofundada das possíveis causas do comportamento considerado
incomum da criança. Embora em alguns casos a medicação seja importante para o
convívio social, o diagnóstico rápido de TDAH e o tratamento medicamentoso
tornou-se a solução mais rápida para justificar transtornos considerados desviantes
na infância, deixando de questionar se essa dificuldade da criança pode estar
relacionada a alguma questão da escola ou aos métodos de ensino e aprendizagem.
Essa relação com a temática medicalização no espaço escolar surgiu no
meu primeiro ano de docência na rede de ensino público do Município de Brusque,
na qual eu ministrava aulas de Educação Física e onde diariamente percebia
colegas docentes sugerindo que determinadas crianças “deveriam” (aspas minhas),
ser encaminhadas para profissionais responsáveis pelo diagnóstico com intuito de
medicalização desses alunos.
Ao longo dos anos, percebi como a expressão (criança com laudo
médico) no espaço escolar apresentava-se cada vez mais naturalizado perante os
colegas de profissão. Logo compreendi que a medicalização na infância, em virtude
de comportamentos considerados desviantes, é sugerida como uma estratégia para
lidar com crianças que apresentam determinados tipos de dificuldades, sem que, no
entanto, esses comportamentos sejam considerados desvios de conduta. Christofari
e Baptista (2015), alertam que a medicalização no ambiente escolar é um processo
de produção discursiva que justifica as dificuldades de aprendizagem. Em suma, a
medicalização na infância passou a cumprir o papel de controlar e submeter
pessoas, silenciando questionamentos e desconfortos, justificando comportamentos
considerados inadequados às questões atinentes ao cotidiano escolar e
transformando esses sintomas em patologias.
Christofari e Baptista (2015) apontam citando que as crianças
diagnosticadas precocemente estão tornando-se portadoras de distúrbios de
comportamento e aprendizagem. Aprendizagem e comportamento: exatamente os
campos de maior diversidade e complexidade, constituintes da – e constituídos pela
– subjetividade e singularidade; campos em que a avaliação do sujeito é mais
complexa e mais questionada. Aprendizagem e comportamento; crianças e
adolescentes. Estes são os alvos preferenciais dos processos que buscam
padronizar, normatizar, homogeneizar, controlar a vida. E nesses processos de
15
medicalização, controle e judicialização da vida, um instrumento é fundamental: (os
laudos). Laudos médicos, psicológicos, fonoaudiólogos, pedagógicos,
neurológicos. Instrumento fundamental porque pode realizar a função de
julgamento, condenação e sentença. Os desafios que o mercado impõe, favorecem
a necessidade de uma educação profissional através das escolas, mas que
possibilite, além da formação técnica específica, o desenvolvimento de habilidades
que possam diferenciar esse aluno no mercado de trabalho. Para que haja uma
formação em que o aluno saia responsável, este deve ser incentivado à criatividade,
a autonomia e a capacidade critica, propiciando uma formação ampliada.
Ao pensar numa educação escolar contemporânea, na qual foi
desenvolvida para atender aos interesses e necessidades capitalistas, Libâneo
(2004) comenta que entender a educação como mero ajustamento às expectativas e
exigências da sociedade existente significa desconhecer a constituição histórico-
social do conceito de educação e que os modelos sociais que dominam são
definidos pelas classes que detêm o poder político e econômico.
A justificativa para o encaminhamento dessas crianças com dificuldades
de aprendizagem, (podem ser atribuídas por fatores diversos, como: desnutrição da
criança, diagnóstico social, dificuldade de aprendizagem, e outros). Enredado às
reflexões sobre os motivos pelos quais meus colegas de docência, constantemente
nas reuniões cotidianas entre os professores, elencavam alguns alunos que, por não
seguirem (as normas) que a escola “preconiza”, solicitam a gestão escolar que
encaminhem essas crianças para profissionais especializados com intuito de
diagnosticarem transtornos relacionados à infância. Brzozowski e Caponi (2013)
alertam sobre as consequências da medicalização exacerbada aplicadas para
comportamentos considerados inadequados entre escolares, e ressalva ainda que
essas crianças estejam sendo tratados como patológicas, sendo que esses
comportamentos apresentados pelas crianças podem ser considerados
características cotidianas que eles apresentam no seu ambiente familiar.
“Enquadrar uma criança em um diagnóstico psiquiátrico apresenta sérias
consequências indesejáveis, e acaba sendo mais útil para a sociedade e para o
entorno da criança do que para a própria criança” (BRZOZOWSKI; CAPONI, 2013,
p. 209).
16
É bem possível que você leitor já tenha se deparado na escola que você
frequentou ou esteja frequentando, em sala de aula, crianças, colegas que
apresentam problemas de aprendizagem, principalmente na aquisição da leitura e
da escrita. Possivelmente, essas crianças não são os únicos casos de “crianças
problemas” existentes no espaço escolar. As crianças que estão diante de nós não
se encontram sozinhas nesse universo chamado escola. Provavelmente na minha
escola, na sua escola, nas escolas vizinhas, naquela escola da outra cidade, do
outro estado e ainda na escola vizinha dessa escola, encontramos inúmeras
crianças que não estão tendo sucesso, que fracassam em seu aprendizado. Muitas
vezes, essas crianças com dificuldades de aprendizagem passam anos
frequentando a escola até que um dia acaba desistindo e partindo para outros
caminhos que lhe garantam uma possibilidade financeira para ajudar em casa, ou
mesmo, subsistir-se.
A partir desses questionamentos, inicia-se então uma busca por
respostas e, em meio às respostas, surge à oportunidade de ingresso em curso de
mestrado voltado para a saúde pública, com a possibilidade de estudar com maior
propriedade a medicalização. Além do mais, possibilita discutir conhecimentos
paralelos à educação, determinação social, estudos culturais, conceitos de sujeito
escolar e organização escolar, conceitos esses que ao longo da minha formação
foram explanados muito superficialmente.
Diante deste cenário, a literatura apresenta alguns estudos tratando sobre
temas da medicalização no espaço escolar, temas sobre o papel da escola perante
a sociedade, temas relevantes sobre distúrbios adquiridos na infância, porém, faltam
pesquisas relacionadas às metodologias e estruturas organizacionais que a escola
oferece para esse aluno que foi encaminhado e retornou com diagnóstico (laudo
médico).
O termo medicalização no espaço escolar, fenômeno social que atinge a
sociedade como um todo, cada vez mais contundente, levando ao uso excessivo de
remédios e terapias, transformando sofrimentos e dificuldades em doenças e a vida
das pessoas em produtos, originou o “3º Seminário Internacional A Educação
Medicalizada: Reconhecer e acolher as diferenças”. Este evento foi organizado pelo
Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, e ocorreu na capital
paulista no ano de 2013 tendo como foco central contestar a criação de pretensos
17
transtornos que justificariam diferentes comportamentos, questionamentos e ritmos
de aprendizagem, além de discutir a crescente judicialização e criminalização das
relações sociais.
A revista “Intelligentsia-Ciência e Além”, publicou no dia 22 de fevereiro
de 2016, uma reportagem intitulada: “A medicina da doença e a medicalização da
sociedade: estrago para sua saúde, mas fonte de bilhões para a indústria”. Nesta
reportagem afirma que a medicalização da sociedade é um processo nefasto que faz
com que as pessoas criem dependência direta de uma medicina "moderna" que é
baseada praticamente exclusivamente em tratamento, não em prevenção e muito
menos em cuidar do principal elemento do processo, o ser humano. Esses
tratamentos, por sua vez, baseia-se em medicamentos, que geram bilhões em
receita para a indústria farmacêutica e enormes vantagens para médicos.
Percebemos como esse fenômeno social vinculado a cultura social está atingindo
todos os segmentos da sociedade contemporânea. A medicalização que começou
dentro da medicina, agora se estendeu para todas as áreas, onde a construção de
novas doenças, assim como as soluções, se amplia.
De acordo com o supracitado, essa aflição da medicalização em crianças
no espaço escolar ocasionou a organização do problema de pesquisa aqui proposto:
De que forma ocorre à organização didática pedagógica escolar para as crianças
que retornaram à escola e mantém atividade escolar regular mediante tratamento na
rede pública de saúde sobre comportamentos tidos como transtornos na infância?
Na busca por respostas a essa questão tivemos como objetivo geral de
pesquisa compreender como ocorre à organização didática pedagógica escolar para
as crianças que retornaram à escola e mantém atividade escolar regular mediante
tratamento na rede pública de saúde sobre comportamentos tidos como transtornos
na infância.
Na intenção de atingir o objetivo geral, os objetivos específicos foram os
seguintes: identificar quais profissionais fazem parte desse processo; quais as
estruturas organizacionais didático-pedagógicas para atender as crianças
medicalizadas; analisar a representação de sujeito escolar foco desta organização; e
a elaboração de um material pedagógico em forma de oficinas e capacitação que
18
possam colaborar para a qualificação desses profissionais que atendem o aluno
medicalizado.
A presente pesquisa ancora-se no campo dos Estudos Culturais, com
aporte pós-estruturalista. Conforme Hall (1997), a cultura é um dos elementos mais
dinâmicos e mais imprevisíveis da mudança histórica do novo milênio. Não devemos
nos surpreender, então, que as lutas pelo poder deixem de ter uma forma
simplesmente física e compulsiva para serem cada vez mais simbólicas e
discursivas, e que o poder em si assuma, progressivamente, a forma de uma política
cultural. Os Estudos Culturais vão surgir em meio às movimentações de certos
grupos sociais que buscam se apropriar de instrumentos, de ferramentas
conceituais, de saberes que emergem de suas leituras do mundo, contestando
aqueles que se interpõem, ao longo dos séculos, aos anseios por uma cultura
pautada por oportunidades democráticas, assentada na educação de livre acesso.
Uma educação em que as pessoas comuns pudessem ter seus saberes
valorizados e seus interesses contemplados.
A cultura é entendida "não como uma expressão orgânica de uma comunidade, nem como uma esfera autônoma de formas estéticas, mas como um contestado e conflituoso conjunto de práticas de representação ligadas ao processo de composição e recomposição dos grupos sociais” (JOHN FROW e MEAGHAN MORRIS, 1997).
Por sua vez, Stuart Hall (1997) diz que na ótica dos Estudos Culturais, as
sociedades capitalistas são lugares da desigualdade no que se refere à etnia, sexo,
gerações e classes, sendo a cultura o lócus central em que são estabelecidas e
contestadas tais distinções. Em outras palavras, percebemos que é através da
cultura que ocorre todos os processos de ressignificações. Nesse sentido, os textos
culturais são o próprio local onde o significado é negociado e fixado.
O referencial de análise teórica que norteou essa pesquisa, esta ancorada
no conceito de disciplina e nos processos de biopoder elaborados por Michel
Foucault. A discussão acerca desses conceitos está situada mais adiante neste
projeto. Cabe destacar que Veiga Neto (2003) afirma que há muitos entendimentos
sobre o que são cultura e o que é educação, assim como as relações entre ambas.
Há um aumento crescente pelos interesses em questões culturais, seja na esfera
acadêmica, seja na esfera política ou da vida cotidiana. A centralidade da cultura
para pensar o mundo esta crescendo. Hall (1997) afirma o entendimento de que a
19
cultura é central não porque ocupe um centro, uma posição única e privilegiada, mas
porque perpassa tudo o que acontece nas nossas vidas e todas as representações
que fazemos desses acontecimentos. Quando colocamos o poder no centro das
significações e identidades culturais, esse campo abre uma frente para que se possa
construir uma ponte com o pensamento pós-estruturalista de Michel Foucault.
Para Williams (2005), pós-estruturalismo é o nome para um movimento na
filosofia que começou na década de 1960, onde projeta o limite sobre o interior do
conhecimento e sobre nossa compreensão estabelecida na verdade e no bem. Em
outras palavras, não podemos identificar esses limites, mas podemos analisar seus
efeitos. No pós-estruturalismo, condições e valores não são tidos nunca como
identidades fixas ou como regra lógica.
Williams (2005) argumenta que Michel Foucault é mais um filósofo-
historiador do que simplesmente um ou outro, oferecendo novos modos de pensar a
relação com o passado e fornecendo métodos complexos e poderosos para
escrever a história. Sua obra é vista como uma ruptura revolucionária com o que
veio antes, não só em termos da história, mas também de filosofias do tempo e do
condicionamento do social. Em suma, é Foucault quem provê uma nova e pós-
estruturalista forma de crítica histórica com relação à temática dessa pesquisa.
Para o desenvolvimento desta pesquisa traçamos o percurso
metodológico através de uma abordagem qualitativa, que conforme Flick (2009) é de
enorme relevância aos estudos das relações sociais devido à pluralização das
esferas de vida. Para Turato (2005), não se busca estudar o fenômeno em si, mas
entender o seu significado individual ou coletivo para a vida das pessoas. O método
qualitativo tem a finalidade de estudar um significado individual ou coletivo, e não
apenas um fenômeno em si. Pode-se dizer que uma pesquisa qualitativa tende para
o estudo de questões delimitadas, locais, apreendendo os sujeitos no ambiente
natural em que vivem nas suas interações interpessoais e sociais, nas quais tecem
os significados e constroem a realidade. Assim, “a abordagem permite análises
contextualizadas dos fenômenos da realidade social, do conhecimento e do ser
humano em sua totalidade” (CHIZZOTTI, 2003).
20
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 REVISÃO DA LITERATURA
Este capítulo tem como finalidade apresentar alguns registros acadêmicos
sobre o objeto de estudo em questão, naquilo que se refere à medicalização do
espaço escolar. Para tanto, apresentamos uma revisão acerca dos tópicos da
medicalização, da educação e sua organização escolar e, por fim, do sujeito escolar.
Para tanto, recorremos a diversos autores que abordam essas temáticas, a fim de
melhor delimitar nosso objeto de estudo.
Para partirmos de uma compreensão de medicalização iniciamos como
contorno inicial o conceito do sociólogo Peter Conrad (1975), que em 29 de junho de
2011, proferiu uma conferência sobre “medicalization and its Discontents” no
auditório do IMS-UERJ e afirma que medicalização significa “definir um
comportamento como um problema médico e licenciar à profissão médica a oferta
de algum tipo de tratamento para tal comportamento”, e também conceitua que “a
medicalização descreve um processo pelo qual problemas não médicos passam a
ser definidos e tratados como problemas médicos”, frequentemente em termos de
doenças ou transtornos (CONRAD, 1975). No entanto, a partir de Conrad outros
desdobramentos e atualizações do conceito foram realizados, e estas serão
apresentadas no decorrer da pesquisa. Além do mais, estudos recentes sobre este
conceito são trazidos à baila em relação com objetos de estudos vinculados a
educação. Heloísa Helena Pimenta Rocha (2003), por exemplo, apresenta um artigo
sobre “Educação escolar e higienização na infância”, que vem a ser justamente a
temática pela qual nos propomos a discutir e trazer o assunto para dentro da área da
educação. Daniela Cristina Rático de Quadros, em sua dissertação de Mestrado,
sobre o tema “Medicalização da atenção e do comportamento: Discutindo os
processos Medicalizantes e a formação de sujeitos no espaço escolar”, também
apresenta argumentos sobre o tema. Quadros (2017) compila uma discussão
importante que analisa os discursos realizados por profissionais da educação de
escolas públicas de um município do sul do Brasil, a fim de compreender como
ocorrem os processos de encaminhamento de crianças aos especialistas da área da
saúde responsáveis pelo diagnóstico e tratamento biomédico de transtornos
21
relacionados à infância. Um tema que aproxima a realidade da rede pública de
ensino da qual fazemos parte e ainda contribui com uma boa reflexão sobre o
conceito de normalidade.
Frente a esta abordagem inicial acerca do objeto de estudo, as seções
que seguem procuram melhor debater sobre estes assuntos, com a intenção de
mais bem contornar o problema de pesquisa proposto.
2.1.1 Organização Escolar
Conforme o Ministério da Educação preconiza, os sistemas de ensino
devem prover e promover mudanças em sua organização, a partir do projeto político
pedagógico das escolas de modo que possam oferecer um atendimento educacional
com qualidade a todas as crianças, eliminando barreiras atitudinais, físicas e de
comunicação. Ou seja, a escola deveria atender “todas” as crianças que voltassem
diagnosticadas e com laudos, por especialistas da saúde. A Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional - LDB (Lei nº. 9394/96) e a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146 de 2015), preconizam, entre outros
princípios, a "igualdade de condições para o acesso e permanência na escola" e
sugeriu que a educação para, "educando com necessidades especiais” ocorra,
preferencialmente, na rede de ensino regular.
Severino (2006) afirma, com relação à LDB, que, “apesar dos avanços
conceituais trazidos por ela, as políticas oficiais que a programaram, representam
um retrocesso na qualidade de formação dos professores”. Diante dessa
perspectiva, faz-se necessário buscar maior compreensão a respeito desse
impasse. Na realidade, mediante o grande desafio, o MEC tem programado políticas
educacionais, buscando alternativas para melhorar a qualidade de ensino. A
formação docente tem recebido diferentes denominações: formação continuada,
formação em serviço, qualificação profissional.
A qualidade de ensino, não é uma preocupação da contemporaneidade,
essa preocupação já se fazia presente na antiguidade grega, preocupação que vem
acompanhando a trajetória da Humanidade e assumindo diversos formatos e
significados, nas diversas formações sociais que o Mundo conhece.
22
Como podemos mensurar a qualidade de ensino na educação básica
atual? Silva e Vizim (2001, p.30) ressalvam que, em “São Paulo, o Estado mais rico
do país, a maioria dos jovens de 18 a 24 anos (56,2%) estão fora da escola, sendo
que destes, 44,3% não completaram o ensino fundamental”. Em 2003, os resultados
da pesquisa realizada pelo SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica),
apontam que a qualidade da educação pública apresenta índices bastante
insatisfatórios. Um dos problemas diagnosticados com bastante ênfase foi que “os
alunos de 4ª série se atrapalham ao interpretar textos longos ou com informação
científica e não conseguem ler horas em relógios de ponteiros. Também não
conseguem fazer operações de multiplicação com números de dois algarismos”.
(SANDER, 2006).
Outro problema diretamente relacionado com a qualidade de ensino é a
evasão escolar. O censo de 2010 aponta que a imagem da educação pública
continua sendo a de uma ampulheta. O sistema de ensino escolar brasileiro tem
quase o dobro de alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental em relação com
as matrículas no Ensino Médio. Os dados revelam que o país registrava 13,4
milhões de matrículas nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano; com
crianças a partir dos seis anos) e 7,1 milhões de matrículas no Ensino Médio (1º ao
3º ano). (GOMES, 2010). ‘
Dessa forma, analisando os dados estatísticos, percebe-se que os
resultados das pesquisas, apontam que a escola não tem conseguido cumprir
integralmente a sua função social. E, lamentavelmente, os alunos que fracassam na
escola são justamente aqueles que mais precisam dela. São os filhos das classes
sociais desprovidas de recursos, que teriam nesta oportunidade de ascender
socialmente e, mais importante que isso, citando Paulo Freire (2007), de aprender a
“ler o mundo” de forma crítica, e tornando-se um sujeito com autonomia para
construir e transformar a própria história. Diante dessas observações com relação à
qualidade de ensino no Brasil, como podemos concluir que nossas crianças no
espaço escolar “devem” (aspas minhas) ter algum transtorno adquirido na infância
por apresentarem dificuldades de aprendizagem? Essa temática de alunos
medicalizados no espaço escolar, nos incomoda desde a época que éramos apenas
estudantes. Percebíamos “colegas” sofrendo todo o desamparo pedagógico em
relação aos outros “alunos regulares”, pois além do problema diagnosticado, eles
ainda tinham que lidar com o descaso de sua aprendizagem.
23
Ao vivenciarmos o outro lado dessa situação, ou seja, ao passar a ser
docente, percebemos que o problema é de maior proporção, pois na maior parte dos
casos de alunos medicalizados, o encaminhamento a clinica especializado parte da
sugestão do grupo docente no espaço escolar. Oliveira (2004) cita a Conferência
Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em março
de 1990, como a origem na formulação de políticas públicas governamentais para a
educação na última década do século passado. Nesse cenário, todas as dificuldades
com relação à aprendizagem, passam a ser admitidas. Entretanto, não apenas em
relação a um público especial, mas sim, em relação a todas as crianças que se
encontram numa situação socioeconômico, que não permite as suas famílias
custearem os serviços educacionais e de suporte, ofertado a uma gama cada vez
menor e privilegiado da população brasileira.
Por outro lado, a Declaração de Salamanca (Brasil, 1994) afirma que,
para a conquista da inclusão, é preciso que os Sistemas Escolares “incluam todo
mundo e reconheçam as diferenças, promovam a aprendizagem e atendam as
necessidades de cada um”. Trata-se, sem dúvida, de um documento importante,
pois coloca para o sistema educacional o desafio de se reestruturar para acolher
todas as crianças, indistintamente, independente de suas diferenças, e, dessa
forma, atendendo-as dentro das suas necessidades.
Na construção do Projeto Pedagógico da Escola, acontece o processo
amplo de discussão, trocas e interações, que também fazem parte do Currículo da
escola. Tal processo também resulta em aprendizado e, portanto, em
desenvolvimento de conceitos e de práticas. O fator essencial nessas leis refere-se
na obrigação das escolas adequarem-se tanto na questão organizacional, quanto na
qualificação pedagógica para atenderem a demanda dos alunos diagnosticados com
algum grau de deficiência. Por conseguinte, a formação dos professores deve
merecer atenção especial, pois, a grande rejeição dos professores quanto à ideia de
inclusão se dá justamente por não sentirem-se preparados para enfrentar o grande
desafio. Para ensinar a todos com qualidade, é imprescindível que se esteja aberto a
aprender e a inovar sempre. Dessa forma, os recursos e investimentos na formação
permanente dos professores é requisito fundamental para o processo de inclusão.
Assim, é necessário pensar nos processos de exclusão e inclusão que
observamos no cotidiano. Sejam eles, grupos, classes sociais ou crianças no espaço
24
escolar, que é o tema central dessa pesquisa. Na atualidade contemporânea, é
nítida a fragmentação do tecido social, pois a exclusão gera uma generalizada
ameaça aos incluídos. Dessa forma, acreditamos que não seja possível governar
mais pela exclusão. É necessário incluir para conhecer, para controlar, para
normalizar. Perigoso hoje: é não incluir.
A escola deve constituir-se num espaço de relações sociais e de
interação, comprometido com a formação dos indivíduos, por isso ela não deve ser
pensada separada da sociedade. Pelo contrário, ela é uma instituição social como
outras, possui ideologias igualmente as formas de relacionamento presente em seu
entorno. Porém a escola tem a responsabilidade de desempenhar uma função que
as outras instituições não são capazes de realizar sozinhas, a transmissão e a
construção do conhecimento. As diferenças estão presentes em todos os lugares e
devem ser aceitas e entendidas como algo positivo, que traz uma enorme
contribuição para o enriquecimento e aperfeiçoamento da sociedade atual. O Brasil,
apesar de ser um país que possui uma grande diversidade de raças, culturas,
ideologias, é um país que não está livre do preconceito e da discriminação. Desta
forma, a escola deve ser espaço de inclusão social, mesmo que ela não possa ser a
única responsável pelas transformações da sociedade, mas sem ela tão pouco as
transformações se darão.
Foucault (1996) corrobora afirmando que, mais do que instituições
estatais ou não, há uma rede de sequestro que opera intraestatalmente. As funções
do aparelho de Estado passam por toda e qualquer instituição em que nos
encontramos fixados ou aprisionados como sujeitos morais ou econômicos. Logo, o
que acontece é o surgimento de novas estratégias e novos aparatos que colocam o
Estado sob uma nova lógica. É por isso que os discursos neoliberais insistem em
afirmar que o Estado deve se ocupar só com algumas atividades “essenciais”, como
a Educação e a Saúde; e, mesmo assim, encarregando-se de, no máximo, regulá-
las ou provê-las “nesse caso, aos estratos sociais comprovadamente carentes”
(Veiga-Neto, 2000, p. 198).
A Inclusão no contexto da Contemporaneidade passou a ser uma das
formas que os Estados, em um mundo globalizado, preconizam para manter o
controle da informação e da economia. Sua justificativa encontra-se em garantir para
cada indivíduo uma condição econômica, escolar e de saúde condizente. Pressupõe
25
estar aplicando investimentos para que a situação presente de pobreza, de
escassez em educação básica e de ampla miserabilidade humana talvez se
modifique em curto e médio prazo. A garantia de uma mudança de status dentro das
relações de consumo, uma garantia que chega até aqueles que vivem em condição
de pobreza absoluta, articulada ao anseio de mudança das condições de vida, são
fontes que mantêm o Estado na parceria com o mercado e que mantêm a inclusão
como um imperativo da sociedade atual. Foucault (1996) já afirmava que no jogo do
mercado, o Homo economicus e a sociedade civil formam parte de um mesmo
conjunto de tecnologias da governamentalidade.
Quando retomamos o título da pesquisa, Organização Didática
Pedagógica (...), deve-se refletir que: quando falamos em ensino-aprendizagem, soa
com certo reducionismo, pois aprendizagem parece estar subjugada ao ensino e
quando analisamos esse processo no espaço escolar, logo podemos refletir que: o
aprendiz (aluno) está diretamente condicionado aquele que ensina dependendo
totalmente do saber daquele que ocupa a função de ensinar. A escola é uma
instituição fortemente constituída por práticas de uma sociedade disciplinar.
Retornando ao tema central da pesquisa: Práticas Didáticas Pedagógicas; deve-se,
ter o discernimento de que para ser pedagógico, tem que haver uma
intencionalidade naquilo que fazem. Os docentes que fazem parte do processo de
ensino-aprendizagem dos alunos medicalizados que retornaram à escola com
diagnósticos de transtornos adquiridos na infância devem buscar a educar, partindo
daquilo que mobilizam os indivíduos. Esses mecanismos educadores integram
diferenciadas maquinarias, que necessariamente não possuem uma relação entre
mecanismos, mas obrigatoriamente devem possuir uma ligação com a forma de vida
com que essas crianças são criadas.
2.1.2 Medicalização
Acredita-se que para o aluno aprender são enfatizadas normas e regras
ao invés de um espaço e um tempo em que se privilegiam as trocas de experiências
e vivências entre as próprias crianças e os adultos que compõem o espaço escolar.
Com práticas autoritárias e escolarizantes, a escola é capaz de transformar vidas em
objetos. O espaço escolar, potente espaço de absorção de conhecimento, mostra-se
frágil e acolhedora ao processo de medicalização de alunos na infância. E os alunos,
26
figura central nesse contexto social e que deveriam merecer um olhar cuidadoso
diante das dificuldades de aprendizagem enfrentadas ou por terem comportamentos
diferenciados dos que se desejam, recebem conforto imediato em algum diagnóstico
apressado. Em outras palavras, com permanentes coerções e controles, as
instituições escolares modernas, criam e moldam o homem moderno (MESOMO,
2004, p.105).
Percebemos nas leituras de Moysés e Collares (2010) que o fracasso
escolar, assim como as dificuldades de aprendizagem, são elencados como
problemas da criança, do indivíduo e não no seu contexto social ou dos processos
de aprender. A dificuldade de aprendizagem passa a ter característica simplesmente
biológica, em causas supostamente emocionais, neurológicas, ou em condições
debilitantes como a desnutrição que podem ser os “supostos” causadores das
dificuldades de aprendizagem. Ao focar apenas no indivíduo a origem e a causa do
problema, temos o processo chamado de culpabilização do indivíduo, no qual ele
próprio é o culpado pelo seu fracasso. Na roda ativa de todas essas frustrações e da
culpabilização do indivíduo pelo fracasso escolar, a medicalização aparece como
forma mágica de tratamento para os distúrbios da vida moderna.
Na década de 1920, a política sanitária sofreu uma redefinição, tendo a
escola primária à tarefa de disciplinar a natureza infantil, com um poder modelador
dos hábitos, da saúde e da educação infantil. O caráter obediente da criança de
acordo com as normas impostas pela medicina sanitária configurava-se como a
melhor medida de controle da infância no espaço escolar.
Com essa disposição, procurava-se caracterizar a medicina como uma verdadeira e efetiva ciência do social e, para fazer valer tal vontade, a higiene também se instalou no coração da formação médica, na forma de uma disciplina. (GONDRA, 2003, p.28).
A higienização, como um modo de disciplina, foi prevalecendo nas
instituições de ensino infantil, de tal modo que a criança passou a ser pensada
somente de uma perspectiva moral, individual e patológica. A escola tornou-se
especificamente reguladora e o processo ensino\aprendizagem passou a ser a mola
propulsora da ordem e do progresso cientifico e social, com o intuito de eliminar
atitudes viciosas e de disseminar hábitos salutares. No século 19, a punição passa a
integrar um sistema de controle social mais amplo, que Foucault chama de
27
disciplina: “uma série de mecanismos que visam separar o indivíduo dos outros e de
si mesmo e, assim, qualificá-lo como são ou louco, normal ou anormal, sadio ou
doente, bom cidadão ou delinquente”. Para Foucault, a “disciplina” também se
manifesta nas escolas, indústrias e Forças Armadas modernas, justamente como
uma maneira de exercer o poder para produzir sujeitos capazes de funcionar como
engrenagens da nova sociedade pós-absolutismo. Até o tempo de que as pessoas
dispõem, será controlado de formas muito mais estritas do que se via antes. Os
higienistas acreditavam que para ser alcançado o avanço cientifico quanto ao
processo de medicalização no espaço escolar, os professores tinham que colaborar
na diferenciação entre os alunos considerados “normais” e os “anormais”, sendo
estes últimos, isolados do restante para que fossem corrigidos, modificados e
disciplinados por métodos próprios. Uma fase de segregação, justificada pela crença
de que a pessoa diferente seria mais bem cuidada e protegida se confinada em
ambiente separado, também para proteger a sociedade dos anormais (MENDES,
2006, p.1). Porem, hoje com o crescente aumento das indústrias farmacêuticas,
sensações físicas ou psicológicas consideradas normais, como: sono, insônia,
tristeza, depressão, vem provocando uma verdadeira epidemia de diagnósticos,
relacionando-os com doenças e transformando essas crianças em pacientes
potenciais. Sendo assim, hoje, temos a medicalização como a principal forma de
controle dos indivíduos.
Não é de hoje que a medicalização da infância existe. Foi nos últimos
anos, entretanto, que esse problema alcançou patamares insustentáveis. Hoje, o
Brasil é o segundo maior consumidor mundial de Ritalina, medicamento prescrito
para as crianças diagnosticadas como portadoras do Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH). De 71 mil caixas desse medicamento distribuídas
pelas escolas em 2000, passamos para 2 milhões em 2009, 2,6 milhões em 2013, e
no ano de 2018, mais especificamente em agosto, houve um aumento de consumo
de 229% em relação ao ano anterior, ocasionando escassez no mercado nacional,
segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Para
compreender esse fenômeno, é necessário olharmos brevemente para o processo
de medicalização da infância e essa tendência, bastante atualizada, de patologizar
as dificuldades durante o processo de escolarização. Os padrões “desviantes”, que
questionam condutas hegemônicas ou normalizadas, seja lá em que âmbito, é
usualmente transformado em doença. Para Conrad e Schneider (1992), os desvios
28
consistem em categorias de julgamentos sociais negativos que são construídos e
aplicados socialmente, geralmente de alguns grupos de uma comunidade para
outros. O desvio de um padrão é um fenômeno universal, e a noção de que todas as
sociedades possuem normas sociais já pressupõe a existência do desvio. Os grupos
sociais criam regras e impõem suas definições para os outros membros por meio do
julgamento e da aprovação social; por isso, o desvio é contextual, e a definição e a
aprovação do desvio envolvem relações de poder.
Buscando compreender esse processo de medicalização no contexto
escolar, é preciso entender que a visão mais ampla do trabalho escolar nos remete
aos gestores escolares e a importância de seu papel como responsáveis pelos
resultados finais e personagem central na condução do processo educativo no
âmbito da escola. A partir desta visão no contexto escolar, o gestor pode utilizar da
dificuldade do aluno para potencializar um momento de aprendizado, criando
mecanismos concretos através da referida avaliação para diagnosticar as possíveis
causas do fracasso escolar buscando alternativas, meios e soluções concretas para
encaminhar este aluno ao atendimento especializado se necessário for, ou para
auxiliar o professor a detectar as dificuldades. No entanto, também temos outros
atores nesse processo como: a família, os professores, os profissionais
especializados na saúde. Quando falamos em medicalização, Foucault parte de
uma hipótese que contradiz a opinião segundo a qual, com o capitalismo, assistimos
a um processo de privatização da saúde e do corpo.
Sustento a hipótese de que, com o capitalismo, não se passou, de uma medicina coletiva a uma medicina privada, mas que se produziu precisamente o contrário. O capitalismo que se desenvolve até finais do século XVIII e início do XIX socializou, antes de tudo, um primeiro objeto em função da força produtiva, da força de trabalho do corpo. O controle da sociedade sobre os indivíduos não se efetiva somente mediante a consciência ou a ideologia, mas também no corpo e com o corpo. Para a sociedade capitalista o que importava acima de tudo era o bio-político, o biológico, o somático, o corporal. O corpo é uma realidade bio-política; a medicina é uma estratégia bio-política (FOUCAULT, 1974: t. III 210).
Não se trata obviamente de criticar a medicalização de doenças, nem de
negar as bases biológicas do comportamento humano. O que se defende é uma
firme contraposição em relação às tentativas de se transformar problemas de viver
em sintomas de doenças ou de se explicar a subjetividade humana pela via estrita
dos aspectos orgânicos. O social não apenas “interage” com o biológico, ele é
29
capaz de criar novos sistemas funcionais que engendram novas formas de
atividades.
2.1.3 Sujeito Escolar
A reflexão do sujeito escolar logo nos remete ao aluno, ao corpo
discente, porém é imprescindível reconhecer num sentido mais amplo que “sujeito
escolar” são todos os sujeitos que fazem parte da escola e independente de
identidades de classes, raça, etnias, gênero ou cultura, participam direta ou
indiretamente na organização do espaço escolar e que influenciam no ambiente e na
aprendizagem. Nesta perspectiva o ordenamento curricular dos sujeitos escolares
na escola não é neutro, é condicionado por essa pluralidade de imagens, que requer
sempre um reordenamento organizacional repensando sempre em prol dos sujeitos
reais com direito ao ensino\aprendizagem dos educandos\educadores. Para Silva
(1999), essa definição curricular não revela uma suposta essência do currículo, mas
revela o que uma determinada teoria pensa que o currículo é. Segundo o autor, há
questões que toda teoria do currículo enfrenta: como exemplo: Qual conhecimento
deve ser ensinado; O que os alunos devem ser; Que identidades construir. Com
base em quais relações de poder essas perguntas serão respondidas. Evert e
Piaget (1961) afirmam que as coordenações de todos os sistemas de ação
traduzem, assim, o que há de comum em todos os sujeitos e se referem, portanto, a
um sujeito universal, ou seja, sujeito epistêmico e não ao sujeito individual.
Quando ouvimos o som intermitente da campainha, juntamente com
diversos burburinhos de vozes, agrupados nos espaços escolares, notamos que a
escola dá o seu primeiro sinal de vida. Percebemos uma grande agitação, sujeitos
encontram-se espalhados em grupos de acordo com afinidades e claramente
delimitados por questões que perpassam o ambiente escolar. Essa entrada dos
alunos na escola segue uma rotina parecida com um ritual, repetem-se, todos os
dias caracterizando uma diversidade cultural muito ampla. Afinal quem são estes
jovens e o que vão buscar na escola? Qual o significado destas experiências
vivenciadas no espaço escolar? Se questionarmos os professores, sobre essas
perguntas, as respostas serão obvias: “são os sujeitos alunos da nossa escola”. Mas
30
afinal, será que todos os sujeitos que se encontram na escola (professores, alunos,
gestores, secretários, serventes, merendeiras, pais, zeladores) também não são
alunos?
Podemos buscar a compreensão desses sujeitos escolares se
abordarmos uma perspectiva de sujeito sociocultural. Para tanto, devemos superar a
visão homogeneizante e estereotipada de aluno\professor\funcionário, e tentar
compreendê-los nas suas diferenças, enquanto indivíduos que possuem uma
história, conjunto de valores, sentimentos, emoções, hábitos e comportamentos que
lhe são peculiares. Cada um desses sujeitos, ao chegar à escola é fruto de
conjuntos de experiências sociais vivenciadas nos mais diferentes espaços culturais.
Como lembra Thompson (1984), é a experiência vivida que permite apreender a
história como fruto da ação dos sujeitos. É estas experimentações nas mais
diferentes situações e relações que fazem do espaço escolar um tempo de
ressignificações aos diversos sujeitos escolares que elaboram essa experiência em
sua consciência e cultura.
Esse espaço escolar tem um sentido próprio, que na maioria das vezes
não coaduna com as características ideais que os funcionários e o corpo docente
gostariam, porém os sujeitos escolares se apropriam, recriando neles novos
sentidos, ressignificando-os. Assim, o pátio se torna local de encontros e
relacionamentos, o corredor, inicialmente construído e focado para a locomoção se
torna espaço de confraternizações, a sala de aula, se torna dividida entre a turma da
frente e o fundão, a geografia escolar se transforma desvelando e aprofundando a
polissemia da escola. É evidente que a escola é essencialmente um espaço coletivo
de relações sociais, neste sentido o comportamentos destes sujeitos escolares ficam
demarcados pelo diálogo, trocas de experiências, culturas e as expectativas com a
tradição ou a cultura da escola.
As relações de poder que encontramos no espaço escolar reforça a
relação de dominação e manipulação entre os sujeitos no âmbito escolar. Por
exemplo, a relação que o professor tem com o aluno ou da relação entre diretor e
professor. São relações que buscam exercer a influencia de um sujeito sobre o
outro, valendo-se sempre de mecanismos de pratica dominadora. Moreira (2005)
corrobora, afirmando que “poder e saber, como dois lados do mesmo processo,
entrecruzam-se no sujeito, seu produto concreto. Não há relação de poder sem a
31
constituição de um campo de saber, nem saber que não pressuponha e não
constitua relações de poder”. Logo, a escola é uma instituição vinculada ao mundo
vivido, mas sua logística organizacional é vinculada aos mecanismos do mundo
sistêmico, por isso a dificuldade de reconhecimento do lugar do sujeito escolar nos
processos de discussão e decisão coletiva. Portanto, é possível pensar que o
cotidiano escolar é um espaço de continua tensão, por ser uma instituição disciplinar
secular, com diversificadas praticas culturais empreendidas por vários sujeitos
sociais.
As disciplinas são os mecanismos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade. "A disciplina "fabrica" indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício."
(Foucault, 2004, p. 143). ·.
Para Neto (2007), Foucault acreditava que a escola era uma típica
instituição de sequestro. A forma com que os espaços são construídos serve para
disciplinar, de forma sutil, por vezes invisível, embora as crianças e os jovens
frequentem a escola com o intuito de aprendizagem, eles, na verdade, estariam
sofrendo o “sequestro” de seus corpos. Lá, os indivíduos aprendem a ficarem horas
sentados, passivos, aprendendo como devem se comportar em sociedade e, até, os
desejos que lhes são permitidos ter. “Foucault acha que a prisão é a materialização
máxima daquilo que nós vivemos no cotidiano” (VEIGA NETO, 2003). Ao pensar o
poder como uma relação e não como uma “propriedade”, Michel Foucault (1962),
enfatiza que não são por suas vontades conscientes ou por suas liberdades de
atuação que os “indivíduos” seriam caracterizados, mas sim por um “conjunto de
condições que os possibilitam cumprirem uma função de sujeito”. Nesse sentido, por
conta das características da sociedade disciplinar, os “indivíduos” tornam-se sujeitos
sociais.
No transcorrer da década de 80, surgiu uma nova vertente de análise da
instituição escolar, que tinha como foco, superar os determinismos sociais. Essa
vertente se inspira no movimento das ciências sociais. Conforme Boaventura (1991),
o paradigma emergente, tem como característica a superação do conhecimento
dualista, expresso na volta do sujeito às ciências: "o sujeito, que a ciência moderna
lançara na diáspora do conhecimento irracional, regressa investido da tarefa de
32
fazer erguer sobre si uma nova ordem científica (p.43)". O reflexo desse paradigma
emergente é um novo humanismo, que coloca a pessoa, enquanto autor e sujeito do
mundo, no centro do conhecimento, mas, tanto a natureza, quanto as estruturas,
está no centro da pessoa, ou seja, a natureza e a sociedade são antes de tudo
humanas.
Nessa perspectiva, a instituição escolar seria resultado de um confronto
de interesses: pois de um lado as estruturas organizacionais que definem
conteúdos, determinam funções, organizam, separam, hierarquizam o espaço
escolar, definindo assim as relações sociais. No outro lado, temos os sujeitos
(alunos, professores, funcionários) que criam seu próprio sistema de inter-relações,
fazendo da escola um processo permanente de construção social.
2.2 METODOLOGIA
Realizamos a pesquisa numa escola pública da rede de ensino
fundamental no município de Brusque. A cidade se encontra no Vale Europeu, em
Santa Catarina, Sul do Brasil. Conforme dados no site da Prefeitura a cidade é um
importante polo por seu grande potencial em compras de vestuário e tecido na
pronta entrega, e além do comércio, a cidade apresenta peculiaridades herdadas
dos imigrantes alemães, italianos e poloneses. Segundo dados do IBGE (2017), a
população atual é estimada em 118.818 pessoas. A taxa de escolarização do
município para alunos entre 6 a 14 anos é de 98%, sendo o primeiro colocado no
ranking nacional. A escola em que foi realizada a pesquisa está localizada distante
quatro quilômetros do centro. Essa Unidade Escolar oferece o Ensino Fundamental
(1º ao 9º ano) em dois períodos, nos períodos da manhã e tarde. Atende a 330
(trezentos e trinta alunos), tem 36 (trinta e seis) professores em seu quadro, além de
três membros da equipe gestora e oito funcionários. Essa escola tem uma grande
demanda por professor 2 (dois)2, já que semanalmente se encaminha para a clínica
especializada relatórios sugerindo algum tipo de transtorno adquiridos na infância de
alunos das séries iniciais.
2 Professor dois no Município de Brusque significa um monitor com a formação mínima de ensino médio, para trabalhar com esse aluno medicalizado. È um reforço dentro da sala de aula para ajudar no desenvolvimento desse aluno.
33
Para atingir os objetivos já enunciados optou-se por uma pesquisa
qualitativa com técnicas de pesquisa de campo e com uso de entrevistas
semiestruturadas. Minayo (2014) cita a entrevista como uma tomada no sentido
amplo de comunicação verbal, e no sentido restrito de coleta de informações sobre
determinado tema científico, e é a estratégia mais usada no processo de trabalho de
campo. Através da entrevista semiestruturada conseguimos mapear e compreender
o processo didático pedagógico dos respondentes, ou seja, a compreensão
detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações dos profissionais que fazem
parte no processo em relação aos atores sociais e contextos sociais específicos.
Foram realizadas sete (7) entrevistas com sujeitos que vivenciam cotidianamente o
acompanhamento dos alunos que retornaram à escola com laudos médicos,
caracterizados conforme quadro abaixo:
Quadro 1 – Características dos Participantes.
Participante Sexo Idade Grau de instrução
Pós-Graduação
Formação Função Experiência com
inclusão
P 1 M 52 Superior Sim Pedagogia
Ciências
Matemática
Coordenador 18 anos
P 2 F 32 Superior Não Administração Professor 2 3 anos
P 3 M 54 Superior Sim Ed. Física Diretor 30 anos
P 4 F 39 Cursando
Superior
Não Artes Professor 2 2 anos
P 5 M 44 Cursando
Superior
Não Ed. Especial Professor 2 3 anos
P 6 F 37 Superior Não Ed. Especial Coordenador do AEE
8 anos
P 7 F 36 Ensino Médio
Não xxx Professor 2 1 ano
Legenda: Li: Licenciatura; Li Plena: Licenciatura Plena; Ba: Bacharelado.
Fonte: elaboração dos autores.
O processo de realização das entrevistas ocorreu em salas de aulas
diversificadas, conforme o ambiente de trabalho dos sujeitos pesquisados. Os
participantes P1 e P3 foram entrevistados na sala da direção escolar em momentos
distintos, os participantes P2 e P4, em dias diferentes, foram entrevistados na sala
34
de projetos3, O participante P5 foi entrevistado no espaço escolar, mais
especificamente na biblioteca sem a presença de terceiros. O participante P6 foi
entrevistado na sala de recursos multifuncionais4, seu local de trabalho, já que é a
coordenadora da educação inclusiva na escola. A participante P7 foi entrevistada em
sua casa, em virtude de ter encerrado seu contrato no início do mês de novembro,
mas entendemos que sua participação era bastante relevante em virtude de já
termos a acompanhado ao longo do segundo semestre de 2018 através do diário de
campo. Esses espaços diversificados que fizeram parte das entrevistas com os
participantes elencados no quadro 1 foram determinantes para conhecer os
elementos norteadores que configuram o espaço escolar.
Já as observações registradas no diário de campo ocorreram no pátio
escolar e na quadra, tendo como finalidades verificar estrutura física; rotina dos
alunos na escola; relação entre alunos e demais membros da equipe escolar. Cabe
especificar aqui, que o foco da pesquisa são os professores/docentes que trabalham
com os alunos diagnosticados com transtornos adquiridos na infância e que
retornam a escola medicalizados, porém essas crianças participam da observação
indiretamente, pois são os sujeitos escolares, foco dessa pesquisa. Dessa forma
foram incluídos no processo dos diários de campo 16 alunos regularmente
matriculados no Ensino Fundamental, pertencentes ao primeiro ciclo (séries iniciais
do 1º aos 5º anos). A idade das crianças variou entre seis e doze anos. Esse
procedimento compreendeu cinco salas e os dois períodos de funcionamento da
escola: matutino e vespertino.
Na descrição, análise e discussão de todos os dados consideramos os
registros das entrevistas e os relatórios de observação do diário de campo,
agrupando-se os resultados em categorias de acordo com similaridade, recorrência,
pertinência e relevância. Para tanto utilizamos os princípios da analise temática, que
conforme Minayo (2014, p. 316) “consiste em descobrir os núcleos de sentido que
compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa
para o objeto analítico visado”. Sendo assim, elencamos algumas palavras, frases e,
3 A sala de projetos é uma sala de aula vazia, onde foi adaptada com duas mesas grandes, um computador com rede e um quadro branco, tendo como objetivo: planejar trabalhos ou projetos voltados para o ambiente escolar. 4 Sala de Atendimento Especializado Multifuncional para as crianças que necessitam de acompanhamento pedagógico.
35
consequentemente, algumas sequencias de falas para em seguida categorizá-las
por temas. Usando as inferências de Minayo (2014), tais procedimentos tiveram
base na compreensão de que o significado de um tema se caracteriza como uma
afirmação sobre determinado assunto, que pode ser manifestada através de uma
sequência de falas, de uma frase ou até mesmo de uma palavra. Com os temas
selecionados, a próxima etapa se configurou em selecionar alguns tipos de
categorias de análise, tendo a preocupação de filtrar algumas temáticas, pois nem
todo material pré-selecionado corresponderia a uma categoria.
Para a seleção das categorias, priorizamos o objetivo do trabalho e o
maior número de inferências elencadas nas entrevistas para agrupar as categorias
por ordem de importância, onde criamos três níveis: 1) nível de maior relevância,
que são as categorias propriamente ditas; 2) nível de menor relevância, onde a
temática dos entrevistados se caracteriza como subcategorias; e 3) temas indiretos,
onde não houve citações suficientes para caracterizar uma subcategoria, porém tem
relevância com o objetivo do trabalho. Sendo assim, tivemos como tópicos de
discussão nas análises os seguintes temas: Categoria 1 - organização escolar,
subcategorias: espaços escolares e capacitação pedagógica, Como temas indiretos:
Surgiram as estruturas organizacionais e interação social. Na Categoria 2, o maior
número de inferências foi quanto à Medicalização e comportamentos desviantes,
como Subcategoria encontramos: Conceitos de medicalização e a caracterização de
comportamentos, e temos também os Discursos Permeados pelo saber docente
quanto aos desvios de comportamento e medicalização. Os temas Indiretos, foram
encontrados temas como normal/anormal – laudo/diagnóstico e Inclusão ou
exclusão. Todos estes temas, foram permeados pelo objeto geral do estudo que são
os alunos concebidos com transtornos de aprendizagem e que retornam a escola
após processos de medicalização.
36
Quadro 2 – categoria 1 com suas subcategorias e temas indiretos.
Categoria 1
Organização Escolar
Subcategoria:
Espaços Escolares
Subcategoria:
Capacitação pedagógica
Tema Indireto:
Estruturas Organizacionais
Tema Indireto:
Interação Social
Fonte: Elaborado pelo autor.
Quadro 3 – categoria 2 com suas subcategorias e temas indiretos.
Categoria 2
Medicalização, comportamentos desviantes.
Subcategoria:
Conceitos de medicalização e
caracterização de comportamentos.
Subcategoria:
Discursos Permeados pelo saber
docente quanto aos desvios de
comportamento e medicalização.
Tema Indireto:
Normal/anormal – Laudo/diagnóstico
Tema Indireto:
Inclusão ou exclusão
Fonte: Elaborado pelo autor.
37
2.3 ANÁLISE E DISCUSSÃO
2.3.1 Percorrendo os Espaços Escolares
As escolas de educação básica e, consequentemente, o grupo docente,
tem sido requisitado para suprir as mais variadas demandas da sociedade, o que
requer conhecimento e metodologia próprios para a intervenção com cada caso
trazido para atuação (SEABRA JÚNIOR; MANZINI, 2008). No ensino fundamental,
nas turmas com alunos regulares5, é comum encontrarmos alunos tidos com
deficiência ou algum tipo de transtorno adquirido ou desenvolvido na infância. As
pesquisas6 indicam uma grande dificuldade dos docentes para atender a demanda
da inclusão escolar. Mas as dificuldades não advêm apenas de um fator, seja ele
vinculado â escola, aos alunos ou aos docentes, mas sim, são um conjunto de
fatores que contribuem para o desafio do trabalho docente em turmas com alunos
com as mais amplas diferenças. O contexto cotidiano que configura as estruturas
organizacionais, caracterizado, principalmente, pelas características físicas,
administrativas e pessoais, influencia na inclusão de alunos ”medicalizados”.
Atualmente, percebemos uma grande demanda para a clínica
especializada a partir do que se denominam transtornos adquiridos na infância.
Muitos desses alunos com dificuldades escolares, após avaliação com especialistas
da área da saúde, recebem diagnósticos e consequente ingestão de medicação
constituindo as salas de aula num universo substancial de patologias ou distúrbios,
ressignificando o espaço escolar. O tratamento medicamentoso tornou-se a solução
mais rápida para justificar transtornos considerados desviantes na infância, deixando
de questionar se a dificuldade apresentada pela criança pode estar relacionada a
alguma questão da escola, dos métodos de ensino e aprendizagem e, ainda mais,
da própria estrutura social de onde advém a criança.
5 Quando nos referimos ao termo regular, queremos tratar do aluno matriculado normalmente no ano letivo. Faço essa observação, por saber que a palavra regular pode ter significados diferentes, assim como leis, regras, praxes, padrões, normas, etc. 6 Conforme pesquisas apontadas no III CONEDU (Congresso Nacional de Educação), realizado em Natal-RN,
entre os dias 05 e 07 de outubro de 2016, com o tema: Cenários Contemporâneos: a educação e suas
multiplicidades.
38
A alta do consumo de Ritalina no espaço escolar é motivo de alerta, pois
nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa o uso inadequado desse
medicamento já é tratado como um problema de saúde pública. Quando nos
referimos à medicalização no espaço escolar para crianças diagnosticadas com
transtornos adquiridos na infância, devemos refletir que o diagnóstico nem sempre é
acompanhado de uma investigação aprofundada das possíveis causas do
comportamento considerado incomum da criança. Christofari e Baptista (2015)
destacam que as crianças diagnosticadas precocemente estão tornando-se
portadoras de distúrbios de comportamento e aprendizagem, justamente campos de
conhecimento em que a avaliação do sujeito é complexa e bastante questionável.
Aprendizagem e comportamento; crianças e adolescentes, estes são os
alvos preferenciais dos processos que buscam homogeneizar o controle da vida no
âmbito escolar aqui investigado. E nesses métodos de medicalização, controle e
judicialização da vida, um instrumento é fundamental: os laudos sejam eles médicos,
psicológicos, fonoaudiólogos, pedagógicos ou neurológicos. O laudo torna-se
instrumento fundamental porque pode realizar a função de julgamento, condenação
e sentença. Tem o poder de representar e criar representações sobre quem se
refere, de (se) legitimar pela máscara da imparcialidade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº.
9394/96), constituiu, entre outros princípios, a “igualdade de condições para o
acesso e permanência na escola”, e sugeriu que a educação para “alunos com
necessidades especiais” ocorra, preferencialmente, na rede de ensino regular. Além
da questão normativa, observa-se na atualidade rápidas e intensas transformações
a respeito de exclusão social. Segundo Mantoan (2003), a temática da inclusão
escolar vem rendendo, tanto no meio acadêmico quanto na própria sociedade,
novas e acaloradas discussões.
Nos debates a respeito da inclusão escolar manifestam-se dados que
ganham ainda maior importância neste período de afirmação das práticas e teorias
que a fundamentam. Discorrer desta nova realidade para pessoas descritas com
necessidades educacionais especiais constitui entender que seu desenvolvimento e
socialização urgem como necessário debate, pois há que se problematizar a
construção de representações de sujeitos tidos como capazes, habilidosos e
competentes, enquanto outros não.
39
A cultura relacionada à exclusão das pessoas que não se adequam a um
padrão de normalidade imposto socialmente materializou-se historicamente. Tais
pessoas são marginalizadas e excluídas de participação de espaços sociais gerais.
Após o período de exclusão, outras ocasiões se fizeram presentes no que se refere
ao reconhecimento dos indivíduos tidos com alguma deficiência na sociedade.
Dentre elas, encontraram-se a segregação, a institucionalização, a integração e a
inclusão, respectivamente. Um dos princípios básicos da inclusão, e consequente
processo de normalização, é a reorganização da sociedade, objetivando acolher
todos os habitantes, independentemente de suas características singulares, de
modo que suas necessidades (dos indivíduos e, sobretudo, da sociedade) sejam
atendidas.
A inclusão educacional, por sua vez, é um processo em edificação e
envolve vários segmentos da sociedade, começando pelas políticas públicas de
valorização docente e de melhor capacitação. A formação inicial e continuada de
toda a equipe escolar é fundamental para que se possa caminhar em direção a uma
escola inclusiva, assim como devem ser garantidas condições dignas de trabalho a
todos. Grande parte das escolas, hoje, precisa se reorganizar, objetivando a gestão
democrática, o trabalho colaborativo entre os membros da equipe escolar, a cultura
de estudos, a busca pelo conhecimento e a atenção aos novos modelos que
permeiam o campo educacional para que práticas excludentes não sejam
perpetuadas. A preocupação com as estruturas organizacionais da escola é de
suma importância para a legitimação da inclusão escolar, uma vez que a
participação escolar da criança tomada com disfunção depende de sua interação
dinâmica e recíproca com o ambiente (Palisano et al., 2003).
A escola é uma instituição de extrema relevância, pois tem influência
direta em todas as outras organizações sociais, já que a maioria dos sujeitos já
passou pela escola e, em determinadas perspectivas, modelou-lhes alguma forma
de pensamento. Justamente esse modelo de pensamento, presente em toda a
sociedade, influencia a escola e a ela retorna, e deveria sustentar a garantia do
status quo e a produção de valores. Logo, entendemos um viés dialógico entre
reprodução e transformação permanente no cotidiano escolar, tipificando entre
diversos fatores a organização escolar. Partindo desse pressuposto a escola merece
ser mais bem pesquisada, na medida em que se deseje interpretar com maior
40
acuidade os fenômenos que ali se manifestam e, ao mesmo tempo, trazer à baila as
dimensões esquecidas dos sujeitos na organização.
Definir a organização escolar é uma tarefa árdua, na medida em que
delimitar os conteúdos a serem inseridos nesse conceito evoca a limitação e a
polissemia dos termos, além das diferentes perspectivas dos autores que constroem
suas definições de um lugar determinado, com bagagens e repertórios distintos,
mais ou menos próximos do universo escolar e de seus atores, como reflete Nóvoa
(1992).
Entrementes a estas recorrências sociais e culturais acerca da
medicalização escolar e da organização didático-pedagógica de ensino
desenvolvemos um estudo que teve como objetivo identificar quais profissionais e
que estruturas organizacionais didático-pedagógicas fazem parte do processo de
ensino e aprendizagem em contextos que haja crianças medicalizadas que retornam
à escola.
Percebemos que o tema proporciona problematizar o mapeamento das
relações estabelecidas no ambiente escolar entre os alunos medicalizados e os
demais integrantes da escola que fazem parte do processo de ensino e
aprendizagem. De outro modo possibilita verificar quais ajustamentos são
necessárias à escola a fim de atender a todo o alunado. De tal modo, frente a
considerar o objetivo anteriormente aludido, estruturamos esse texto nas seguintes
discussões, a saber, resultados e discussão. Ressalta-se que os resultados estão
subdivididos em tópicos – com as respectivas indicações das questões abordadas
para melhor tratar da análise e discussão do objeto problematizado.
2.3.2. Estruturas Organizacionais
As estruturas organizacionais devem compor formas de agenciamento
que permitam o desenvolvimento da organização para a prática pedagógica. O
ambiente bem organizado e pensado é de grande relevância para promover uma
aprendizagem qualitativa, aumentando as expectativas que possibilitem às crianças
41
(medicalizadas ou não) autonomia, interação, motivação, equilíbrio, sensações,
descontração e experiências positivas.
Considerar o ambiente escolar, em sua organização e estrutura, é uma
tarefa a ser enfrentada na discussão de uma instituição de ensino para um aluno
considerado com algum tipo de deficiência. A inobservância e análise entre
organização x ambiente e da relação ambiente x alunos tem proporcionado os mais
variados efeitos para o aluno e comunidade escolar no processo de inclusão.
Quando um dos entrevistados foi questionado se são realizadas
modificações na organização didática pedagógica escolar para que o aluno
encaminhado possa acompanhar o processo de aprendizagem, assim respondeu:
- Sim, o aluno passa a ter direito ao professor dois, para acompanha-lo fora e dentro da sala de aula (P. 4);
- E quais adaptações na rotina escolar foram modificadas? (Entrevistador).
- Ah! Eles podem fazer o lanche em horário um pouco diferenciado, eles não precisam pedir permissão ao professor para ir ao banheiro, o professor dois tem autonomia para isso (P. 4).
A inclusão exige novos posicionamentos da escola, implicando num
esforço de atualização e reestruturação das condições atuais, para que os
professores adequem suas ações pedagógicas as múltiplas características das
crianças em processo de inclusão. De acordo com Silva e Rodrigues (2011, p. 62),
“não se trata de apenas acolher a diversidade, mas de compreender sua produção e
complexidades na realidade de cada sujeito”.
Nesse ínterim, uma das possibilidades de acolhimento da produção da
diferença pode ser a organização do espaço escolar. Para Libâneo (2004, p.97),
“organizar significa dispor de forma ordenada, articular as partes de um todo, prover
as condições necessárias para realizar uma ação”, ou seja, para viabilizar condições
em que ações aconteçam é necessário a construção de relações saudáveis de
organização.
Também é fundamental, para o entendimento da organização escolar,
refletir sobre os conceitos de gestão escolar e gestão democrática. Entendemos
perante essa realidade que existem diversos fatores que dificultam a efetivação
deste processo de inclusão, tais como: inadequação das estruturas organizacionais,
falta de materiais didáticos adaptados e metodologias diversificadas capazes de
42
atender às necessidades de cada aluno. E ainda um aspecto que merece ênfase: a
formação dos docentes. É possível ampliar a discussão desses aspectos mediante
diálogo extraído de entrevistas realizadas com os participantes do estudo, conforme
a seguir:
- O professor regente, pelo que acompanhei nos anos iniciais, o aluno não acompanha, o professor não consegue atingir didaticamente aquele aluno, daí ele tenta colocar essa falha dele no aplicar ao justificar a dificuldade de aprendizagem do aluno, e que se tiver laudo, ele nem tenta concluir as atividades (...), ah! Ele tem laudo, não vou nem tentar, vou dar a média para ele passar e está tudo certo (P. 2).
- Se você fosse citar um número de professores com quem você já trabalhou e que faz alguma atividade diferenciada para esse aluno, quantos elencaria? (Entrevistador).
- Muito pouco, para falar a verdade, na outra escola que trabalhei, nunca houve atividades diferentes para os alunos que acompanhei, e aqui, dois no máximo e isso seriam uma ou duas atividades diferenciadas no bimestre, e só aconteceu porque houve cobrança dos pais do aluno, (P.2).
De acordo com Bueno (1999), não há como incluir crianças no ensino
regular sem apoio especializado, sem oferecer aos professores dessas classes
orientação e assistência. Nessa perspectiva, Pimentel (2012) destaca que a
ausência de conhecimento dos professores sobre as peculiaridades dos alunos
considerados com algum transtorno se torna a maior barreira visível, pois o não
reconhecimento das potencialidades dos alunos impõe resistência com relação à
inclusão, o que ocasiona um distanciamento das necessidades atribuídas aos
educandos. Cabe destacarmos que a Constituição Brasileira (1988) legitima o direito
de todos à educação, portanto, o atendimento educacional às pessoas sem restrição
de categorização deve ser oferecido. De acordo com a Declaração de Salamanca
(1994), assim como a lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (2015), o
estado deve assegurar que a educação de todas as pessoas seja parte integrante
do sistema educacional.
As crescentes patologias mal definidas, com critérios diagnósticos vagos
e imprecisos, têm levado, de um lado, à rotulação de deficientes crianças sem
nenhuma patologia e, de outro, a uma desvalorização crescente do professor, que
passa a ser considerado, nessa avalanche de construção de subjetividades e
43
identidades escolares tão múltiplas, cada vez menos apto a lidar com tantos
distúrbios atribuídos as crianças no espaço escolar. O aluno estigmatizado incorpora
os rótulos; introjeta a doença. Passa a ser considerada uma criança doente, com
consequências previsíveis sobre sua aprendizagem. Na prática, ela acaba, ao se
sujeitar, confirmando o diagnóstico e rótulo estabelecidos em processo de
subjetivação.
Outro agravante decorre do fato de que parece que a única preocupação
do docente em justificar a dificuldade de aprendizagem do aluno consiste em
encontrar diagnósticos que expliquem e justifiquem o não aprender. E mais: uma vez
diagnosticado um laudo, cessam as preocupações e angústias pelo processo de
ensino e aprendizagem.
(...), vamos supor assim, ele volta para a escola e o que acontece! O procedimento correto seria o coordenador passar para o professor a CID do laudo e juntamente com o responsável pelo AEE7, apresentar as características patológicas do diagnóstico. Automaticamente, o professor adaptaria sua prática pedagógica para esse aluno medicalizado, porém nas nossas escolas da rede pública, não temos ninguém que faz isso, porque eles não estão preparados, não tem formação para isso e não há uma preocupação da secretaria de educação quanto às capacitações dos profissionais para dar continuidade aos alunos que voltam para a escola com diagnósticos de transtornos e laudos, (P. 1).
Os registros acima nos permitem uma reflexão, junto com Ball (1999, p.
126), de que constatamos um fenómeno de “crescente colonização da política
educacional pelos imperativos da economia”. Esta espécie de gestão educacional
representa a lógica dominante em várias organizações internacionais e em muitos
países, tomando as práticas educacionais enquanto conceito em ligeiro processo de
erosão nos discursos políticos, e em muitos casos suprido pela aprendizagem ao
longo da vida, pelas qualificações, competências e “habilidades economicamente
valorizáveis”. Desta feita culpando cada indivíduo pelo seu processo biográfico de
formação, na busca de percursos de aprendizagem considerados úteis e eficazes,
buscam-se padrões restritos de aferição, destoantes de uma educação crítica e que
permita emancipação, indiferente das características de cada sujeito escolar.
Aos profissionais que atuam no espaço escolar, ressaltamos a
importância de compreender este processo para trabalhar com os alunos que por
7 AEE (Atendimento Educacional Especializado), coordenado por um professor especializado em educação especial.
44
acontecimentos diversos acabam fazendo parte da crescente expansão da
racionalidade biomédica na sociedade. Nesses acontecimentos de subjetivação da
vida escolar, “a medicalização transforma aspectos próprios da vida em patologias,
diminuindo, assim, o espectro do que é considerado normal ou aceitável” (Gaudenzi
e Ortega, 2012, p. 24) e, no caso desse estudo, nos modos como constitui alunos
que devem ser atendidos de forma diferenciada.
O que deveria ser objeto de reflexão e mudança - o processo pedagógico
fica mascarado, ocultado pelo diagnosticar e tratar singularidades, uma vez que o
"mal" está sempre localizado no aluno. E o fim do processo é a culpabilização do
escolar e a persistência de um sistema educacional que ora não atende a demanda
que lhe é imputada (e isto por questões das mais diversas ordens, mas, destacamos
aqui, o fato de um “sem fim” de diagnósticos medicalizantes), ora não atende como
lhe é recomendado.
Cabe fazer, aqui, uma ressalva: não entendemos que haja de fato uma
responsabilidade específica nesse processo por parte nem do aluno tampouco do
professor, assim como da escola. Detemo-nos a analisar os processos de
medicalização escolar sobre alunos e os modos como tal processo acaba por
culpabilizar sujeitos e instituições, lhes atribuindo responsabilidades de tamanha
ordem que não há como acompanhar tal demanda para atender a tudo que é
requisitado. No entanto, nos coube aqui tecer discussões acerca desses aspectos,
ora apresentando facetas relacionadas ao alunado, ora os docentes, ora a escola,
demonstrando que a suposta ineficiência não advém dos próprios sujeitos ou
instituição, mas sim, do modo como se gerencia no plano político-ideológico
subjetividades escolares e escolas.
Nesse ínterim, um ponto que foi amplamente mencionado na produção de
material empírico se refere às questões de formação do professorado. A importância
da capacitação profissional fica evidenciada nas entrevistas abaixo:
O entendimento do atendimento que acontece nas salas de recursos multifuncionais (...), tem professores e pais de alunos que acham que é reforço escolar, e não é isso (P5);
Hoje temos nas escolas, profissionais sem nenhuma formação e alguns com formação, porém sem interesse de buscar o conhecimento (P3);
45
Faltam professores de sala de aula que não sejam apenas qualificados, mas acima de tudo, estarem abertos, receptivo a buscar essas informações (P6);
Ao longo do ano anterior, o professor de sala de aula nunca fez uma atividade adaptada para meu aluno, porém ele me cobrava para eu “dar um jeito” no conteúdo que ela passava para a turma (P7).
Além da culpabilização dos docentes, é comum associar as dificuldades
de aprendizagem ou incapacidades dos alunos ao fato de não aprenderem
determinados conteúdos, o que acaba reificando, como propõe Angelucci et al.
(2004), que o fracasso está intimamente ligado às capacidades cognitivas dos
indivíduos. Todavia ainda hoje se é ressaltado nas falas dos professores que o aluno
não aprende por problemas inerentes a ele e que não aprendem por não serem
capazes.
Abrangemos que a dificuldade evidenciada na fala dos entrevistados está
interligada não apenas as questões organizacionais de forma estrita, como o espaço
físico, mas também e principalmente a organização escolar que compõe a prática
docente, como por exemplo, métodos de ensino, capacitações, valorizações, entre
outros. As problemáticas aqui evidenciadas não se restringem apenas as escolas,
mas são fruto de diversos aspectos sociais. Portanto, atribuir a dificuldade de
aprendizado do aluno, não diz respeito apenas ao aluno, mas a uma rede complexa
de toda a sociedade, nos quais docentes e escolas se colocam como filtro primário
de trabalho.
2.3.3. Conceitos de medicalização e caracterização de comportamentos desviantes
no espaço escolar
A medicalização no âmbito escolar vem aumentando gradativamente nas
escolas Brasileiras nos últimos vinte anos. Michel Foucault (2004), já anunciava
essa característica em diversos pontos do tecido social afirmando, há algum tempo,
que “o discurso médico passa a produzir realidades, práticas e discursos que
induzem os indivíduos a adotarem diferentes formas de viver, pensar e acima de
tudo, comportarem-se”. Conforme o autor é possível refletir que o saber médico
hoje é o grande responsável por preconizar os padrões pré-existentes de conduta na
sociedade.
46
Cada vez mais presente no cotidiano social e ocorrendo de forma explicita
nas instituições de ensino, o domínio sobre os corpos, sobre os indivíduos, está
cada dia mais alicerçado pelo poder biomédico. As práticas medicalizantes que são
cada vez mais assíduas no âmbito escolar, abrangendo a infância e adolescência,
são massificadas por um processo de discurso alicerçado pelos saberes sobre o
corpo e contextualizado com maior relevância no espaço escolar, onde percebemos
uma infância governada, vigiada e conduzida pelo saber biológico, estabelecendo
uma relação de dualidade onde a constituição de um saber disciplinar se ancora em
discursos que têm como objetivo o controle social, realocando o aluno em um papel
de mero paciente, num corpo estritamente patológico.
Os discursos quanto aos processos de medicalização foram ganhando
força a partir da década de 60, que segundo Gaudenzi e Ortega (2012), discutiam-se
intensamente como a medicina regulava as esferas da sociedade. A temática da
Medicalização nos remete a pensar que alguma coisa passou a ser analisada pelo
olhar da saúde e que supostamente será diagnosticado e tratado sob o olhar
patologizante de base biomédica.
Falar da temática da medicalização nos remete, de forma mais
estruturada, aos debates dos anos 60, onde pesquisadores como Freidson, Szasz,
Zola, Illich, Conrad, Rose, Clarke et al., publicaram trabalhos sobre a problemática
da medicalização em todos os segmentos da sociedade. Rose (2007) corrobora
citando que o termo medicalização apresenta diferentes significados, dentre os
quais, práticas onde se cria ou inclui-se um problema não médico ao saber da
medicina, embora não atente apenas para essa definição. Percebemos que ao longo
dos anos os saberes biomédicos vêm tornando-se um dos principais embasamentos
de mecanismos de controle social, em que no espaço escolar tem sua aplicabilidade
em ascensão.
Illich (1970) aponta que a medicalização ultrapassa a fronteira do
tratamento medicamentoso para intervir em problemas não médicos como forma de
controle da sociedade. Hoje não se busca o verdadeiro diagnóstico, mas o previne-
se através de patologias precoces tendo como ponto norteador o senso comum e
ações baseadas no risco.
47
Na escola cresce o número de alunos encaminhados pelos docentes
com o objetivo único de medicalizar esse sujeito, transformando-o em um individuo
passivo, dependente e regulado. As dificuldades encontradas no dia a dia dentro da
escola vêm sendo tratadas como doenças, patologias, síndromes que são
alicerçadas por um discurso biologizante do saber médico.
Essa articulação da medicina como forma de controle da sociedade
tem se naturalizado de forma cada vez mais crescente, e para isso basta ver o
contexto dos últimos dois séculos, em que um simples desvio de conduta já é
tratado como transtorno e enquadrado em problemas de comportamentos
desviantes na infância, sendo hoje o principal diagnóstico observado nas crianças
que representam o espaço escolar. Conforme percebemos, a medicalização esta
presente em todos os aspectos sociais, seja como meio de controle de determinados
padrões pré-definidos ou como prática biologizante de proteção à saúde.
Quanto aos desvios de comportamento, para Conrad e Schneider
(1992), estes consistem nas práticas ou discursos contrários àqueles que foram
norteados por uma determinada comunidade, conceitos previamente construídos e
seguidos pela sociedade que em algum momento fogem da padronização ora
definida.
O desvio é um fenômeno universal, e a noção de que toda sociedade tem normas sociais já pressupõe a existência do desvio. Grupos sociais criam regras e impõem suas definições para os outros membros por meio de julgamento e da aprovação social, por isso o desvio é contextual, e a definição e aprovação do desvio envolvem relações de poder (CONRAD e SCHNEIDER, 1992).
Conforme os autores é possível pensar que grande parte desses
diagnósticos aplicados pela clínica especializada aos nossos alunos ocorre ou são
descobertos na escola, no momento que o professor identifica alguma resistência do
aluno quanto ao processo de ensino e aprendizagem, perpassando o campo do
saber docente e incorporando à área médica como tentativa de resolução dos
problemas observados pelo professor como justificativa de normatização da conduta
desse sujeito.
Nesse ínterim, é possível trazer à baila, também, estudos e
problematizações relativas a Michel Foucault. O filósofo francês é um dos autores
que problematizam a medicalização nas instituições como forma de fortalecer
48
discursos nas relações saber e poder. Sendo assim, é possível pensar que a escola
é uma dessas instituições ancoradas pelo discurso médico, exercendo sobre seus
alunos, através da medicalização dos corpos, um controle, governo, imbricando suas
práticas pedagógicas como forma de regulação através do saber biológico.
No contexto do espaço escolar percebemos que o tema medicalização faz
parte dos processos discursivos apoiados e ratificados por toda uma rede8, com a
finalidade de rever as suspeitas de transtornos, déficits de aprendizagem e
comportamentos que justifiquem os sintomas pré-diagnosticados pelos docentes.
Por trás dessas práticas cada vez mais intermitentes nas nossas escolas,
procuramos discutir os problemas de comportamento que justifiquem um
acompanhamento médico. Afinal, nem toda criança agitada ou que apresenta
dificuldade de concentração deve ser rotulada com algum tipo de transtorno
adquirido na infância. Na maioria dos casos, trata-se de características comuns a
determinadas faixas etárias.
No Município que foi realizada a pesquisa, é essencial citar um fenômeno
cada vez mais recorrente nas salas de aulas da rede pública de ensino fundamental:
cresce o número de alunos provenientes de outros estados e até mesmo de outros
Países. Hoje é comum encontrar nas salas de aulas alunos provenientes da região
norte e nordeste do país, assim como encontramos também alunos de outros países
como Haiti e Venezuela. Dessa forma, as salas de aulas hoje são constituídas entre
50% a 60% de alunos oriundos de regiões e países diferentes.
Diante dessa realidade frequente que nos deparamos no espaço escolar,
como podemos definir o que seria comportamento “normal” e “anormal”, se a sala de
aula é composta por uma diversidade cultural em que as crianças estão iniciando
sua caminhada educacional e ainda não tem discernimento e compreensão da
cultura local?
Pelo que observamos, a prática habitual de justificar os problemas de
aprendizagem e comportamento que os docentes encontram nos seus alunos são
ratificados pelo saber biomédico e produzem o encaminhamento desses alunos
8 Quando falamos em rede, queremos dizer um leque de instituições como: UBS (Unidade Básica de Saúde), CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social), CRAS (Centro de Referência em Assistência Social), Psicólogos, Neurologistas, e demais repartições públicas que participam desse processo.
49
considerados pela escola com algum tipo de transtorno adquirido na infância, como
forma de suprimir essas dificuldades ao longo do processo de ensino e
aprendizagem, e ainda como forma de desconsiderar as diferenças culturais
presentes nas salas. Como incorrência dessas práticas alunos encaminhados para
um Neurologista, por exemplo, retornam diagnosticados e com laudo que se perdura
ao longo de todo seu caminhar acadêmico, tendo sido avaliado uma única vez por
esse profissional, e na maioria dos casos, os alunos provenientes da escola pública,
não tem ao menos um retorno para acompanhamento dos processos de
medicalização.
As instituições sociais, também como produto e produtoras de discursos
medicalizantes, acabam por responsabilizar o sujeito medicalizado pelas suas
dificuldades, sejam elas de aprendizagem ou de comportamento, não considerando
os diferentes fluxos e relações culturais que constituem os espaços escolares.
Moysés (1990) traz um diagnóstico do espaço escolar em que há uma constituição
errônea entre doença e dificuldade de aprendizado, pois essa afirmação
corresponde a um modelo de pensamento tendo como único argumento o saber
biológico. Assim, se desconsidera completamente o aspecto cultural pelo qual o
sujeito está ou estava inserido, transformando o fator cultural em algo abstrato e
secundário.
Com o crescimento do número de alunos sendo medicalizados, através
de diagnósticos médicos, muitas vezes precipitados, percebemos narrativas cada
vez mais presentes na sala de aula, em que os docentes concentram suas
atividades diárias de conteúdos nos alunos regulares, deixando os alunos tidos com
necessidades especiais “desamparados” com relação à elaboração de atividades
adaptadas que proporcionem para esse aluno acompanharem os mesmos
conteúdos ofertados aos alunos regulares.
Muitas vezes, tem-se a ideia de que é mais fácil lidar com problemas de
cunho médico do que buscar uma reflexão sobre práticas e metodologias no espaço
escolar, pois percebemos que a criança medicalizada não tem o mesmo aporte
pedagógico dos alunos considerados regulares.
Nessa categoria de análise buscamos avaliar os discursos permeados
pelo saber e práticas docentes quanto aos desvios de comportamentos dos alunos e
50
os conceitos de medicalização, com base nos registros das entrevistas realizadas
com os profissionais que trabalham diretamente com os alunos que possuem laudos
médicos, além de buscar problematizar como são produzidos os modos de ser e
aprender desses alunos no espaço escolar.
Partindo da teoria de Foucault (1994), é possível pensar que na
modernidade não existe um declínio de poder, mas uma nova concepção que usa a
escola como forma de propagação desse novo tipo de controle sobre os sujeitos.
Dessa forma, podemos refletir os motivos pelos quais a escola, assim como a
comunidade escolar, tornam-se sujeitos da discursividade da medicalização como
forma de controle, através de relações de saber/poder. O poder disciplinar e a
biopolítica unificam-se, garantindo a construção da sociedade normalizada e
normalizadora, disciplinar, em que as características consideradas anormais são
reguladas ancoradas no discurso do saber médico.
Partindo do material empírico produzido pelas entrevistas no espaço
escolar, bem como, os apontamentos no diário de campo, é possível destacar
enunciados acondicionados em uma racionalidade biomédica com base em
afirmações como: “essas crianças nunca irão aprender a mesma coisa que os
alunos regulares (Diário de Campo, 27/11/2018); Esses alunos só estudam aqui
porque hoje toda criança a partir dos quatro anos de idade, tem que estar
matriculada numa escola” (Diário de Campo, 04/12/2018); Ou então, como aponta o
participante seis: (...) Isso aí é um problema que acontece nas escolas é porque hoje
virou meio modismo o professor ou profissional que trabalha na escola fazer um
diagnóstico e observar algumas características que possam futuramente ser
classificadas como laudos (...) (P. 6).
Em nossa pesquisa de campo foi possível perceber que a escola é um
campo sociocultural riquíssimo pelas múltiplas culturas que ali encontramos, mas
que infelizmente, está perdendo esse espaço de troca de relações, de interação e
acima de tudo, socialização entre os diversos sujeitos que ali se encontram. É
possível perceber que as práticas discursivas que estabelecem diferentes tipos de
alunos, no espaço escolar, estão dando lugar ao discurso dos quais a categoria do
comportamento desviante tem se ampliado. Há uma compulsão em encontrar e
afirmar o culpado pelo fracasso escolar considerando quase sempre o aluno, seu
51
contexto familiar, sua situação social e econômica e suas condutas como os únicos
responsáveis pelas dificuldades de aprendizagem.
Collares e Moysés (2006) afirmam que todas as áreas sociais estão
sofrendo com o avanço do poder biomédico, mas dentre todas elas, na Educação
vem crescendo exacerbadamente, e tem se destacado pelo hábito de se medicalizar
o sujeito pelos corriqueiros disparates de dificuldades “de aprendizagem”, “de
comportamentos”, “desvios de normas”, consumando o fracasso escolar dessas
crianças por rótulos precoces e diagnósticos equivocados.
O diagnóstico mal definido e precocemente rotulado tem levado alunos
antes considerados normais ao status de “deficientes”, “especiais”, “portadores de
necessidades especiais”. Rótulos com fundamentação e validação cientifica que
devem ser postos sobrasura, e implicam, também, em desvalorização crescente do
professor que se sente cada vez menos apto a lidar com tantas patologias e
distúrbios.
As autoras são ainda mais contundentes quando afirmam:
A biologização da sociedade, só consegue se difundir tão rapidamente e for tão facilmente aceita por trazerem a si a mesma ideologia que permeia todo o sistema de preconceitos que opera na vida cotidiana de cada homem. Então, é incorporada a esse sistema com grande facilidade, sem conflitos ideológicos, ao contrário, resistir a ela gera conflitos, e infiltram-se no bom censo, no censo comum, termos usualmente empregados para nomear esse sistema de preconceitos no qual opera o pensamento do homem em sua vida de todo dia (Collares e Moysés, 2006, p.26).
Segundo as autoras, é possível argumentar que o pensamento hoje que
predomina na educação é o de encaminhar essa criança para a clínica especializada
ao primeiro sinal de desconforto ou adversidade encontrada pelo professor na sala
de aula, ao invés de procurar compreender e rever suas práticas pedagógicas, pois
justificar as dificuldades presentes no processo aluno e professor, através de
diagnósticos médicos, está se tornando senso comum na área da educação.
Conforme a fala do participante abaixo, é possível ratificar o pensamento
das autoras supracitadas.
Nós temos um rompante muito sério dentro das unidades escolares, os nossos profissionais infelizmente não conseguem identificar qual a patologia
52
clinica que o aluno apresenta, na visão educacional, ele esta incomodando dentro da sala de aula e ele passa a ser um aluno que deve ser medicalizado. E as práticas pedagógicas não são revistas para mudar, ah! O que acontece... A criança não para, a criança é imperativa... Ah! A criança é... Hummm não para no lugar... Ela vê isso como um incomodo na sala de aula e automaticamente encaminha um relatório para o AEE... Só que ela não faz um relatório pedagógico de tudo que é de desenvolvimento dele... Se for imperativo, se ele acompanha... Verifica outras áreas de conhecimento dele... Ela simplesmente encaminha para o AEE, dentro da área do AEE é feito um relatório de anamnese com essa criança... Não só com a criança, mas enfocado com a família e o processo vem para frente. O certo seria um encaminhamento para o NASF, que são os grupos de apoio dentro das unidades de saúde, onde têm os psicólogos, os psicoterapeutas, os psicopedagogos... Os assistentes sociais... É o conjunto... E os CRAS também... Uma equipe multidisciplinar. Só que a origem... A justificativa que se vê hoje em dia para encaminhar uma criança para o AEE é quando ela esta incomodando dentro da sala de aula. E o que que acontece... Essa situação não é monitorada depois, ele volta com laudo de hiperatividade e déficit de atenção. É lógico que vai ser isso, ele não tem isso dentro da sala de aula e automaticamente se ele não passar na mão de um especialista correto que é um Neuro... Ele não vai ter condições de dizer se a criança tem isso ou aquilo... (P.1).
Com relação ao excerto acima, percebemos que os professores tem
um sentimento de impotência quanto ao processo de ensino e aprendizagem dos
alunos medicalizados, por não conseguirem se inserir como parte ativa desse
problema, assim como, não se sentem preparados para influir nesse processo.
Diante dessa situação, é possível pensar que os docentes buscam alternativas ora
apresentadas no cotidiano escolar para solucionar os problemas de comportamento,
sendo o encaminhamento ao saber médico, uma das alternativas.
Moysés & Collares (1992) apontam que as dificuldades elencadas pelos
docentes hoje no espaço escolar podem ser pensadas pelo excesso da
patologização como forma de controle no processo de ensino e aprendizagem, pois
a preocupação constante passou a ser, encontrar uma justificativa para o mau
desempenho do aluno ao invés de buscar uma discussão coletiva em torno das
práticas educacionais.
Nesse contexto, é importante refletir que a escola precisa elaborar um
novo projeto educacional onde se discuta o papel do docente nesse processo da
medicalização escolar, respeitando suas características físicas, culturais,
compreendendo o educando e educador na sua totalidade e acima de tudo, na sua
singularidade.
53
2.3.4. Prática docente permeada pelos discursos de medicalização escolar
Conforme amplamente discutido em seções anteriores, os discursos
sobre transtornos adquiridos na infância e os processos de medicalização no espaço
escolar estão tornando-se uma prática cada vez mais recorrente nas escolas
públicas da rede de ensino fundamental no contexto Brasileiro. Percebe-se uma
prática mais assídua nas instituições de ensino e ratificadas pelas Unidades Básicas
de Saúde. É perceptível observar como os docentes no espaço escolar recorrem a
discursos de saberes médicos para rotular os alunos e encaminhá-los para a clínica
especializada com diagnóstico previamente estabelecido, conforme podemos
observar na fala do participante abaixo:
Na visão educacional, ele está incomodando o professor e seus colegas dentro da sala de aula, portanto passa a ser um aluno que deve ser medicalizado (...). A justificativa que se vê hoje em dia para encaminhar uma criança para o AEE é quando ela está incomodando dentro da sala de aula (P.1).
Esses argumentos se ancoram, em grande medida, naquilo que Machado
e Lessa (2012) nos trazem sobre o crescimento da indústria farmacêutica ao longo
dos anos, e a relação de como a farmacologia com o saber médico adentrou os
outros segmentos da sociedade, buscando na medicalização a solução para os
empecilhos do cotidiano social.
Percebemos ao longo da coleta de dados que o discurso de
medicalização para alunos que fogem da rotina pré-estabelecida pela instituição
escolar são postos em movimento baseados em saberes biomédicos, e tem-se
tornado um prática comum nas escolas, conforme os textos abaixo:
Eu acho que o professor pega, separa, analisa aquele aluno que não está conseguindo acompanhar a turma, que seja pela defasagem ou pelo comportamento que também, muito acontece, e na maioria das vezes fundamenta esse encaminhamento (...). Eu nunca participei em indicar um aluno, eu não identifico na sala, porque eu já venho direcionado para determinado aluno, mas geralmente quem faz esse papel é o professor regente, então pelo que eu percebo que é normalmente aquela criança que não consegue acompanhar, que deve ter algum problema meio que pontua e às vezes não é somente a criança que tem um tempo diferente uma da outra, mas é mais ou menos dessa forma. (P.2).
Primeiro são duas coisas que eu vejo com maior ênfase, primeiro a questão comportamental né, que normalmente é o primeiro ponto que os professores percebem né, ó, o cara não para quieto, o aluno não se
54
concentra, então às vezes nem é problema nenhum, mas com relação a isso, e segundo é o desempenho estudantil dele né, o aprendizado dele, e muitas vezes vem de outra cultura, e está chegando numa cultura totalmente diferente, dá um baque numa criança dessa e às vezes ele não tem nada, mas só a questão da mudança, a faz perder essa noção, então eu acho que essas duas coisas são as mais importantes que eu acho que nós podemos analisar para ver se existe a possibilidade ou não do encaminhamento ( P.3 ).
Estes excertos nos permitem problematizar, conforme Lamberte e
Polanczyk (2012), que as crianças que não atendem aos padrões pré-estabelecidos
de inteligência e do ideal imposto de aprendizado logo são remetidas a um
desequilíbrio orgânico. Ao serem encaminhadas, percebemos que o meio de
reparação que a escola espera é a utilização de psicotrópicos. Nesse sentido, junto
ao avanço da indústria farmacêutica, o sistema atual vigente atrelado à ascensão
dos problemas de aprendizagem e a crise no sistema educacional banalizou a sua
utilização.
Ainda, segundo Lamberte e Polanczyk (2012), as questões pontuais da
vida cotidiana e a própria criança adquirem a patologias, sendo que a saúde e os
cuidados com a infância se encontram ameaçados por uma epidemia de
diagnósticos que se alastram a partir do discurso social vigente. Percebemos ao
longo das entrevistas e até mesmo nas observações de campo que alguns dos
profissionais investigados que trabalham com o aluno medicalizado demonstram na
rotina escolar terem um aprofundamento maior quanto aos conceitos de desvios,
medicalização e inclusão. Fica evidenciado nos trechos elencados a seguir:
Ao longo do tempo que eu venho trabalhando com a área da Educação Especial, já atendi vários alunos, várias crianças com diferentes síndromes e déficits nas necessidades especiais. Em minha opinião acho assim, que o aluno a princípio tem que ter uma mudança de comportamento Severa né porque apenas agitação em sala de aula ou a falta de concentração ou a falta até de memorização, isso não indica que o aluno necessita de atendimento numa clínica, um atendimento especial. Porque são vários os fatores que englobam isso e temos que primeiro fazer uma análise desses fatores para depois tentar buscar uma solução para o problema e descobrir realmente se é um problema (P.5).
O professor faz a queixa, ou ele passa para a coordenação e a coordenação passa para mim... A partir disso, eu fico com a criança aqui, geralmente 3,4 ou 5 vezes, chamo a criança para fazer uma conversa, faço uma sondagem, partindo dessa conversa eu falo com o professor aonde chegamos a uma conclusão (...). Dessa conclusão, ou encaminha ou a gente vê que realmente precisa de um reforço escolar ou é uma baixa estima, problema emocional, problema na família... Ai se tem algum problema na família, a gente chama para fazer uma entrevista de anamnese
55
que é o procedimento padrão. Depois que a gente faz o encaminhamento para o posto para ver se realmente precisa ou não de medicação ou realmente de um laudo, de uma CID, mas é esse o procedimento (P.6).
Conforme observamos na entrevista acima, é possível pensar que esse é
o papel que se espera do professor no âmbito escolar, pois a função prioritária do
docente é estimular o desenvolvimento cognitivo do aluno, assim como contribuir
para a busca incessante da autonomia e transformação desse sujeito em um
cidadão crítico.
Segundo Antônio Nóvoa,
A formação de professores tem ignorado, sistematicamente, o desenvolvimento pessoal, confundindo “formar e formar-se”, não compreendendo que a lógica da atividade educativa nem sempre coincide com as dimensões próprias da formação. Mas também não tem valorizado uma articulação entre a formação e os projetos das escolas, consideradas como organizações dotadas de margens de autonomia e de decisão de dia para dias mais importantes. Estes dois “esquecimentos” inviabilizam que a formação tenha como eixo de referência o desenvolvimento profissional dos professores na dupla perspectiva do professor individual e do coletivo docente (Nóvoa, 1995, p.24).
Esse esquecimento que o autor aponta, cada vez mais frequente, nos
remete a uma preocupação já existente sobre uma sistemática do processo de
ensino e aprendizagem embasada no poder biologizante da medicina. Pensando
nesse argumento, devemos refletir nossas práticas, nossa metodologia e priorizar
nossas relações com o alunado, pois essa busca pela compreensão dos conteúdos
aplicados aos nossos alunos se dará através de algumas adaptações de atividades
como forma de considerar os aspectos relativos ao saber discente.
De acordo com Cardoso (2006), é possível pensar numa educação onde
o professor que atue no ensino fundamental consiga promover um padrão regular de
ensino para todos, mesmo aqueles que possuem alguma necessidade especial,
utilizando-se de organizações didático-pedagógicas coerentes com as necessidades
dos alunos da sua sala de aula.
Outras questões que percebemos ao longo das entrevistas foram às
formas de conhecimento dos docentes quanto ao conceito de medicalização.
Observamos que medicalização significa para eles que o aluno deve fazer uso
ininterrupto de determinado psicotrópico no espaço escolar, conforme os
participantes abaixo:
56
Tenho convicção que os alunos com necessidades especiais, na maioria das vezes, não são medicalizados, pois percebo que ele não toma o remédio na escola, ai fica fácil de perceber o excesso de hiperatividade que ele apresenta na sala de aula. (...) deixam dúvidas se realmente tomou o remedinho na hora certa, por isso não acredito que ele seja medicalizado (p.7).
(...) Medicalização é quando ele vem dopado, logo notamos que na sala de aula ele fica tranquilo, muitas vezes só quer dormir, quando acontece isso, temos a certeza que ele foi medicalizado e o desvio de comportamento dele está estabilizado (P.1).
Percebemos uma ausência de conhecimento sobre os diferentes
conceitos de medicalização. Beyer (2007) argumenta que o professor docente esta
despreparado para tanta suposta patologização no espaço escolar, e que falta um
melhor discernimento sobre esses conceitos. Por outro lado Souza e Cunha (2010)
nos remete a reflexão de que o aumento de sujeitos potenciais patológicos na escola
transfere campos de saber pedagógico ora atribuídos a instituições de ensino para o
campo biomédico, excluindo-se a responsabilidade de aprendizagem desse sujeito
pela escola. Sendo assim, podem-se observar novas narrativas nas escolas
públicas, em que um novo mercado ancorado pelo saber médico passa a avaliar,
diagnosticar e patologizar as dificuldades provenientes do processo de ensino e
aprendizagem, isentando a escola das suas funções básicas.
Sobre esse olhar patologizante e o uso recorrente de psicotrópicos aos
alunos diagnosticados precocemente, Rose (2008) alerta que;
Crianças recebendo Ritalina por prescrição médica estão sendo drogadas como método de controle social. Isto é, me parece uma questão ética real. Se nós não reconhecemos a situação do mundo real em que drogas são compradas, prescritas e usadas, então o debate ético é vazio. (Rose, 2008, p.521).
Percebemos que pelas relações de saber-poder, hoje presentes no
espaço escolar, através do discurso médico, implicam no fato de professores
apropriarem-se conceitualmente de formas de diagnóstico de comportamentos no
espaço escolar, por acreditarem, tanto quanto quaisquer outros sujeitos de discursos
medicalizantes, que o problema passa a ser de ordem médica. Sendo assim, é
possível refletir que as instituições de ensino corroboram com práticas em que a
medicina exerce controle social da sociedade vigente. O objetivo dessa pesquisa é
57
problematizar que saberes e práticas atravessam e permeiam o espaço escolar, em
seus diferentes tipos de sujeitos, questionando os efeitos e consequências de tais
práticas, que buscam regular aspectos comportamentais de ordem social e cultural
dos alunos diagnosticados com algum tipo de desvio de comportamento,
aprendizagem ou conduta.
É importante salientar que nessa categoria de análise esperávamos
encontrar ao longo da coleta de dados um discurso por parte dos docentes em que
demonstraria a evidência da incapacidade formativa do sujeito educador quanto aos
problemas que ocorrem com maior relevância nas salas de aulas, ratificando o
fracasso escolar através da patologização do aluno e isentando o professor quanto
as suas praticas metodológica e organizacional em relação ao processo de ensino e
aprendizagem. Porém foi possível perceber que esse profissional, tem o
discernimento do problema crescente nas escolas, e acreditam que o desafio do
docente é criar um campo de potência onde possam oferecer possibilidades para
que o educando se desenvolva. Mas para que isso ocorra, é necessário que a
escola tenha como foco não as dificuldades do educando, mas, antes, as
aprendizagens e, estas aconteçam sempre diferenciadas.
Há um processo de crescente medicalização escolar. E isso atinge a
todos os sujeitos envolvidos na escola, e inclusive, a própria escola em suas formas
de organização, gestão e administração. Procuramos discutir, a partir da
medicalização dos processos escolares, em especial, de alunos tidos com
transtornos, como que a escola e seus profissionais compreendem e atuam nesse
cenário.
É possível elencar alguns desdobramentos dessas discussões na direção
de algumas sínteses: a) há uma crescente medicalização dos alunos transformando
questões de comportamento e aprendizagem em distúrbios, ou seja, culpabiliza-se o
aluno (e/ou família) pelo fracasso escolar, por um lado, e por outro, o medicaliza de
modo a não dar continuidade ao reconhecimento das diferenças; ao ser
medicalizado; b) não há uma organização didático-pedagógica que possa atender
essa situação, na medida em que nem estruturas organizacionais nem formação de
recursos humanos para tal são realizadas de forma permanente e diretiva (e, talvez,
pelo acúmulo e velocidade de diagnósticos e processos medicalizantes de fato não
seja possível acompanhar o ritmo de laudos e etiologias para haver processos de
58
formação para tal); e c) acaba por haver uma via de ‘mão dupla’ nesse processo, o
professor ao não conseguir desenvolver uma metodologia eficiente (modelo de
educação e ensino-aprendizagem baseado em eficiências, habilidades e
competências) que possa alcançar o aluno diagnosticado com transtornos, também
é rotulado como ineficiente para tratar dessas questões, e com isso o sistema
educacional é desacreditado.
Em direção a considerações finais, percebemos que os processos aqui
analisados configuram o espaço escolar colocando-o em situação de atual objeto
educacional, e salientamos que tal ocorrência se alicerça em processos de
medicalização sociais mais amplos, em que se versa sobre indivíduos e sociedade
formas de regulação dos corpos e da vida por vieses de patologização e
normalização social. Destacamos, por fim, que esse estudo evidenciou a realidade
da escola em que a pesquisa de campo foi realizada, portanto, não se pretende
generalizar, mas, sim, enquanto fomento para discussões acerca dessa
problemática. Em função dos resultados obtidos almejamos contribuir para uma
discussão do cotidiano escolar, visando uma ampliação do debate de uma educação
para todos.
2.4 Devolutiva e Capacitação através de palestras nas Escolas da Rede Pública
do Município de Brusque-SC como forma de Tecnologia Social.
No século XX, na Índia, Gandhi se utilizou da roca de fiar como
instrumento de inclusão social, pois tinha como objetivo, valorizar as práticas e
costumes do seu povo, sendo assim, através desse instrumento, ele proporcionou
um ofício de forma sustentável. Fator esse, que foi considerado como a primeira
tecnologia apropriada do mundo.
No Brasil, “tecnologia apropriada” significa tecnologia social. Dessa forma,
percebemos que o termo é compreendido como um conjunto de metodologias,
práticas, técnicas, capazes de transformar uma parcela perceptível da população
que quando aplicadas, representam alguma solução coletiva, bem como melhorias
das condições de vida.
59
Dagnino (1976, p. 86) aponta que as tecnologias sociais, podem ser
conceituadas como um conjunto de técnicas e aplicações que usa os recursos
disponíveis para maximizar o bem estar de uma sociedade.
Quanto ao processo de desenvolvimento tecnológico, este só poderá
constituir-se efetivamente em um instrumento de emancipação se for criada por meio
de um processo de construção social, onde seja considerada a realidade e o
contexto de seus beneficiários e que estes possam ser agentes plenos do
desenvolvimento.
Russel (1986) aponta que é preciso dotar e capacitar os beneficiários
para conseguirem romper suas próprias limitações humanas e estruturais.
Pensando nesse sentido, percebemos que a tecnologia social deve
superar a intervenção pontual, como solução de curto prazo e passar a ser
compreendida como um processo que considere a realidade presente em uma
perspectiva de mudança futura.
Justamente refletindo sobre esta perspectiva, já que é requisito da
formação do mestrado profissional em saúde e gestão do trabalho, que seus
mestrandos elaborem uma tecnologia social, foi criado uma apresentação em Power
Point, onde trazemos em forma de reflexão e debate, os principais conceitos
pesquisados nesse trabalho, abordando a medicalização na sociedade, o crescente
aumento de patologias de transtornos adquiridos na infância, o uso exarcebado da
Ritalina no espaço escolar, a diversidade cultural encontrada hoje nas salas de aulas
na educação básica, a concepção dos docentes quanto a temática, a diferença entre
medicalização e inclusão, assim como o fenômeno que o município de Brusque esta
vivenciando quanto a crescente migração de famílias provenientes de outras
regiões. O objetivo principal da elaboração dessa apresentação, vem como um
apelo observado pelos profissionais que lidam diretamente com o aluno
medicalizado sobre uma formação continuada bem como proporcionar uma
capacitação sobre o tema para toda a rede de professores. Assim, urge como
proposta dessa tecnologia, levar para a rede pública de ensino no município de
Brusque-SC, palestras em forma de capacitação e formação continuada, onde se
tem por objetivo, promover reflexões acerca de: medicalização na infância,
60
comportamentos desviantes, organizações pedagógicas, biopoder e conceitos
ancorados no arcabouço dessa pesquisa.
Novaes e Dias (2009) afirmam o quanto a Tecnologia Social está voltada
para a “produção coletiva e não mercadológica” e, da mesma forma, está “mais
imbricada a realidades locais, de modo que pudesse gerar respostas mais
adequadas aos problemas colocados em um determinado contexto”.
Sendo assim, é possível afirmar que temas transversais como
medicalização no espaço escolar, e ensino/aprendizagem são processos que
caminham juntos. A transformação social implica compreender a realidade de
maneira sistêmica, onde a transformação social ocorre na medida em que há
respeito às identidades locais e que qualquer indivíduo é capaz de gerar
conhecimento e aprender.
As instituições não são naturalizadas, mas sim socialmente construídas,
sendo resultado de processos adaptativos, evolutivos, moldados pelo homem. O
processo de institucionalização, segundo Garrido Filho, Machado-da-Silva e
Gonçalves (2009) representa um processo condicionado pela lógica da
conformidade às normas socialmente aceitas, aliado a um sistema de conhecimento,
inclusive técnico, construído ao longo da interação social.
Igualmente, esperamos contribuir com a instituição levando ao
conhecimento o resultado da pesquisa e estimular o discurso coletivo sobre a
temática preocupante que cresce no contexto escolar, através de oficinas de
formação continuada para todos os profissionais que compõem o âmbito escolar.
Ao final do trabalho foi realizada uma devolutiva para a Secretaria de
Educação para informar os resultados alcançados.
61
3. CONCLUSÃO
Este estudo nos deu condições de adentrar um pouco na organização
didática pedagógica para crianças medicalizadas, que dividem o espaço escolar com
alunos regulares da rede de ensino de uma escola pública no município de Brusque-
SC. A proposta inicial era analisar como se procede ao processo metodológico para
contemplar os alunos diagnosticados com algum transtorno adquirido na infância e
que se julgue que necessite de aportes pedagógicos especiais para acompanhar os
alunos considerados “normais” e regulares.
É bom esclarecer que não partimos com um ideal de docente, embora
seja claro que existem pressupostos teóricos que vão indicar caminhos possíveis
para a atuação desse profissional, de modo a favorecer o desenvolvimento da
criança e as suas possibilidades. Além disso, não existe, nesta pesquisa, uma
procura pelo professor perfeito. Sabemos que, ao abrangermos os conhecimentos,
as concepções e as práticas dos profissionais participantes da pesquisa,
encontraríamos um conjunto diversificado e possivelmente contraditório de práticas
e sujeitos, o que não desmerece, em absoluto, o trabalho desenvolvido por eles.
Quando analisamos os conhecimentos dos profissionais que
acompanham diariamente o aluno medicalizado percebemos uma demanda muito
requisitada por capacitações e aperfeiçoamentos não somente para o professor 2,
como para toda a rede de docentes, pois cresce substancialmente o número de
alunos com laudos médicos no espaço escolar e não ocorre uma formação
adequada para esse profissional lidar com as diferentes situações diagnosticadas
como patologias na sala de aula.
A questão que se dispõe, frente a essa condição, é a fragilidade de
conhecimentos para atuar num cenário em que se constroem cada vez mais
necessidades especiais para alunos. O professor tem como atribuição mediar o
processo educacional da criança, e logo, pressupõe-se que ele possua ou deva
possuir conhecimentos que coadunem com a realidade que lhe é imposta. Contudo,
a base para esse processo de ensino e aprendizagem torna-se frágil à proporção em
que a velocidade de diagnósticos e inclusão de alunos tidos com transtornos são
implementadas.
62
Partindo desses pressupostos, é possível pensar que atualmente a figura
do professor já não alcance o reconhecimento outrora confiável para a educação do
alunado. Essa reflexão nos remete ao processo capitalista em que as instituições de
ensino estão sendo submetidas, transformando a escola numa repartição do poder
público, engessada pelas maquinarias politicas que perfazem a sociedade,
discorrendo, assim, na figura de um professor cada vez com menor aporte
institucional.
Com base nos dados realizados em uma escola do ensino fundamental,
no município de Brusque, pudemos observar que os profissionais responsáveis por
participarem do processo pedagógico de alunos diagnosticados que necessitam
acompanhamento do professor 2 apresentam vulnerabilidades quanto à
compreensão dos conceitos que lhe se são colocados quando da construção cada
vez maior de situações problemas a partir da medicalização escolar, materializado
no crescente número de alunos patologizados com algum transtorno adquirido na
infância.
Apesar das políticas municipais ancoradas pelas legislações e normas
que em nível nacional avançaram nos últimos anos, é possível refletir sobre a
necessidade de aprofundar o debate sobre medicalização escolar e o direito à
educação no município de Brusque-SC, abordando insumos necessários à
qualidade da educação, norteando o trabalho docente quanto à temática, através de
formação coletiva em capacitações pré-agendadas ao longo do ano, além de uma
revisão de currículo para lidar com a educação especial.
Percebemos através das narrativas durante a entrevista e ao longo da
pesquisa, com base nos diários de campo, que não somente os profissionais que
trabalham diretamente com os alunos medicalizados, mas todos que compõem o
espaço escolar elencam dificuldades sobre a compreensão de inclusão escolar,
mesmo demonstrando um crescimento quanto à politicas públicas voltadas para a
educação especial na perspectiva inclusiva. O AEE trava uma batalha diariamente
pelo reconhecimento dos alunos com necessidades especiais no espaço escolar, e
percebemos que a compreensão de inclusão escolar demonstra uma fragilidade
perante o trabalho docente a ser desenvolvido, sobre suas atribuições e
principalmente quanto à formação do professor. Essa formação/capacitação deve
ser tratada como subsídio essencial para um bom processo de ensino e
63
aprendizagem de alunos medicalizados. É primordial que ocorram processos
formativos para todos os profissionais envolvidos na educação, e de suma
importância que tenham inter-relação com todos os indivíduos que vivenciam o
espaço escolar.
Como considerações finais, percebemos que o crescente aumento de
matriculas na rede regular de ensino para alunos com necessidades especiais tidos
com transtornos adquiridos na infância aumenta o desafio do município tanto no
aspecto de investimento e planejamento quanto na necessidade de intensificar a
politica de formação continuada em uma perspectiva inclusiva critica e com
profundidade no debate curricular para as questões voltadas ao direito à qualidade
da educação, sendo extremamente necessário direcionar a concepção de conceitos
como: medicalização, inclusão escolar, dificuldades de aprendizagem e transtornos
na infância para todos os professores e profissionais com atuação no lócus da
escola, tendo como perspectiva a inclusão escolar, não incorrendo no erro de
apenas ampliar os processos formativos pelo viés biomédico, potencializando o
transtorno em si, mas discutir incessantemente sobre o trabalho docente para com
os alunos medicalizados.
A medicalização infantil no âmbito escolar está se naturalizando como a
forma mais comum para o tratamento de possíveis transtornos, deixando de se
procurar métodos alternativos bem como desconsiderando o meio social da criança
para como primeira opção, medicalizá-la.
As queixas dos indivíduos participantes da pesquisa apresentam fatores
que interferem no processo de organização pedagógica da escola e, no mesmo
sentido, nos remetem a possíveis rumos de enfrentamento das dificuldades e da
ruptura da medicalização na escola. Dessa maneira, podemos pensar em um
caminho onde a escola possa ser um ambiente responsável através de intervenções
pedagógicas, uma instituição que acolhe e que incorporam em suas práticas as
diferentes expressões e múltiplas formas de aprendizado das crianças, superando o
fracasso escolar.
Procuramos trazer nesse trabalho, também, uma reflexão histórico-
cultural, porque acreditamos que o ser humano pode ao longo da sua vida modificar-
se, ou seja, viver momentos distintos de transformação, sendo assim, cabe à escola
64
colaborar com sua inserção cultural, desenvolvendo um ensino que tenha significado
para esses alunos, os quais devem ser considerados como sujeitos do
conhecimento. Para que isso ocorra, os profissionais necessitam de formação
contínua, onde se busque o estabelecimento de uma articulação entre o saber
cientifico e o saber prático, havendo a necessidade de uma organização didática
pedagógica mais sólida na formação do educador.
Por isso, é necessário pautarmos por uma reflexão acerca da importância
da formação dos educadores, não somente no significado de preparar o docente
para o aluno medicalizado, mas para sensibilizá-lo à diversidade, visto que a
inclusão não traz respostas prontas, não é um certificado, um norte para atender a
todas as dificuldades possíveis na sala regular, mas uma formação por meio da qual
o educador irá olhar seu aluno sob outro contexto, tendo acesso às suas
particularidades, entendendo e buscando o apoio necessário.
A formação dos profissionais da educação caracteriza-se como elemento
fundamental para a efetivação de uma escola inclusiva, dentro das premissas que a
norteiam hoje como política de educação. Esse contexto escolar demanda
educadores conhecedores das patologias encontradas nas salas de aula e que
saibam como atuar com o aluno medicalizado, como também os professores do
ensino regular precisam saber como intervir face às diferenças entre os alunos
atendidos, a fim de que transformações no sistema de ensino venham a beneficiar
todo e qualquer sujeito, considerando a especificidade do ser humano e não mais as
suas limitações.
Embora a pesquisa realizada por nós seja um recorte de uma única
escola no Município de Brusque-SC, ela está situada num contexto mais amplo, na
medida em que está em consonância com as demais pesquisas realizadas que
abordam temas similares. Esta pesquisa se atrela à intenção de valorizar os
conhecimentos educacionais e ao fortalecimento do profissional que atua com
crianças medicalizadas no ensino regular, apoiando esse ambiente como lócus
privilegiado de desenvolvimento dessa aprendizagem infantil.
65
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71
APÊNDICES
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevistas
Roteiro de Entrevistas para os Profissionais que trabalham diretamente com o aluno
Medicalizado.
1. Quais as características que o aluno deve apresentar para ser sugerido o
encaminhamento deste para a clinica especializada?
2. Quais são as etapas no âmbito escolar para o encaminhamento desses alunos
com suspeitas de transtornos?
3. São realizadas modificações na organização didática pedagógica escolar para
que o aluno encaminhado possa acompanhar o processo de aprendizagem? E se
sim, cite quais?
4. Quais os profissionais que trabalham com esses alunos e quais são suas
formações?
5. Quais são as maiores dificuldades encontradas no espaço escolar para garantir a
esses alunos a mesma educação do aluno regular?
72
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma
pesquisa. Caso você não queira, não há problema algum. Você não precisa me
explicar porque, e não haverá nenhum tipo de punição por isso. Você tem todo o
direito de não querer participar do estudo.
Caso você queira participar, eu irei te informar sobre todos os
procedimentos da pesquisa. Depois de passar a você todas as informações e você
aceitar meu convite, será necessário que você assine todas as folhas deste
documento. Eu também irei assinar todas as folhas dele, assim como você. Este
documento está em duas vias. Uma delas é sua, e a outra é minha.
A presente pesquisa intitulada “(Organização didática pedagógica para
crianças medicalizadas em um espaço escolar no município de Brusque-SC)”, tem
como objetivo “(Compreender como ocorre à organização didática pedagógica
escolar para as crianças que retornaram à escola e mantém atividade escolar
regular mediante tratamento na rede pública de saúde sobre comportamentos tidos
como transtornos na infância)”.
Esta pesquisa será realizada na instituição a qual você está inserido (a)
durante dois meses. A parte da pesquisa que caberá a você consistira em participar
de uma entrevista em ambiente reservado no espaço escolar, a serem realizado em
dia e horário combinado juntamente com a Gestão Escolar, e que melhor lhe
convier, com duração de aproximadamente 45’ minutos. Sua participação na
pesquisa consistirá em responder a um questionário semiestruturado que será
conduzido pelo entrevistador.
Nesta pesquisa não haverá respostas certas ou erradas, o importante é a
sua opinião. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá
acarretar qualquer penalidade, custo ou perda de benefícios. A aceitação não
implica que você estará obrigado a participar, podendo interromper sua participação
a qualquer momento, mesmo que já tenha iniciado. Caso você esteja sob qualquer
forma de tratamento, assistência, cuidado, ou acompanhamento, também poderá
interromper sua participação, mesmo que já tenha iniciado. Em ambos os casos
bastara comunicar aos pesquisadores sem a necessidade de nenhuma explicação,
73
desta forma você poderá retirar o consentimento da pesquisa a qualquer tempo, e
sua desistência não causara nenhum prejuízo à continuidade do
acompanhamento/tratamento usual e/ou prejuízo a sua saúde ou bem-estar físico e
mental.
Durante a realização das entrevistas a previsão de riscos é mínima e
seria no sentido de ocorrer possíveis desconfortos, constrangimento ou sentir-se
constrangido em decorrência dos assuntos abordados e das respostas dadas. Você
também pode achar que determinadas perguntas incomodam a você, porque as
informações que coletamos são sobre suas práticas pessoais. Neste caso para
minimizar ou excluir o desconforto você pode escolher não responder quaisquer
perguntas que o (a) façam sentir-se incomodado. Outro procedimento para
minimizar ou excluir o desconforto será a escolha do local da entrevista. Será um
local reservado escolhido em comum acordo entre a instituição, pesquisador e os
(as) participantes, para que o (a) senhor (a) se sinta à vontade em responder aos
temas abordados, desta forma assegurando também à confidencialidade e a
privacidade de suas falas durante a entrevista, no entanto, será garantido a você o
direito de interromper imediatamente a entrevista ou desistir em continuar
fornecendo os dados questionados sem necessidade de justificativa ou penalização.
Todas as entrevistas serão gravadas em áudio. As gravações serão ouvidas pelo
pesquisador e marcadas com um número de identificação durante a gravação e seu
nome não será utilizado. O documento que contém a informação sobre a
correspondência entre números e nomes permanecerá trancado em um arquivo. As
gravações serão utilizadas somente para coleta de dados. Se você não quiser ser
gravado em áudio, você não poderá participar deste estudo. A entrevista gravada
será transcrita, sendo que seus dados pessoais serão mantidos em sigilo,
garantindo o seu anonimato. O sigilo e a confidencialidade dos dados serão
orientados pelas resoluções nº 466/12 e 510/16 do CNS (Conselho Nacional de
Saúde).
Os dados coletados serão manipulados apenas pelo pesquisador, que
tomará os devidos cuidados para que pessoas estranhas não tenham acesso a este
material, minimizando assim a possibilidade de perda dos dados ou indevida
exposição dos mesmos. Com o objetivo de minimizar riscos de extravio, perda ou
roubo, mantendo-se assim o sigilo e a confidencialidade da entrevista, logo após a
gravação será copiada para um notebook e apagada do gravador. Este notebook é
74
protegido por senha e de utilização única e exclusiva do pesquisador. Os
documentos e o notebook ficarão guardados na casa do pesquisador dentro de um
armário fechado com chaves de seu uso exclusivo.
Você não terá direito a remuneração por sua participação, ela é
voluntária. A participação no estudo não acarretará em custos materiais ou
financeiros para você e não será disponível nenhuma compensação financeira
adicional. Contudo caso a pesquisa lhe cause algum dano explicitado nos riscos,
seu direito de indenização nos termos da lei vigente será garantido. Se por algum
motivo a entrevista interferir em sua rotina diária que cause algum transtorno, custo
ou perda, você terá direito a indenização, nos termos da lei vigente, ao
ressarcimento de despesas, em decorrência da pesquisa.
Caso no dia em que você for convidado (a) para a entrevista, e não
querer realizá-la poderá postergá-la para outra data sem necessidade de explicação,
custo ou justificativa.
Os resultados desta pesquisa serão utilizados somente com finalidade
acadêmica podendo vir a ser publicado em revistas especializadas, porém em todas
as fases da pesquisa, seus dados pessoais serão mantidos em anonimato. Seu
nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua
permissão. Você não será identificado (a) em nenhuma publicação que possa
resultar deste estudo. Os dados da pesquisa serão arquivados em arquivo físico e
digital, sob guarda dos pesquisadores por um período de cinco anos após o término
da pesquisa e depois serão incinerados.
Ao participar você poderá ser beneficiado indiretamente após a conclusão
da pesquisa com o desenvolvimento e fortalecimento de novas estratégias,
metodologias ou capacitações que auxiliem na busca por melhores organizações no
espaço escolar voltadas para o aluno medicalizado, pois as informações coletadas e
analisadas possibilitarão a confecção de um instrumento tecnológico social, ou seja,
um instrumento protocolar/informativo que auxiliará a nortear ações visando à
recuperação e reinserção pedagógica dos alunos diagnosticados com transtornos
adquiridos na infância. Ressalta-se, ainda, que haverá uma devolutiva específica,
acerca dos resultados encontrados, para a instituição aonde se realizou a pesquisa
em dia e horário previamente agendados de acordo com a disponibilidade de todos.
75
Findada a pesquisa será elaborado um documento final e será entregue
para a instituição de referência, com a possibilidade de reunião com os integrantes
da pesquisa onde serão expostos verbalmente os dados e apresentação dos
resultados.
Você terá direito de obter informações referentes à pesquisa antes,
durante e depois da pesquisa concluída. Durante a participação, se você tiver
alguma reclamação, do ponto de vista ético, você poderá contatar com o
responsável por esta pesquisa através de telefone/e-mail abaixo descrito.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, caso persistam dúvidas, sugestões e/ou
denúncias após os esclarecimentos do pesquisador o comitê está disponível para
atender: CEP/UNIVALI - Rua Uruguai, n. 458 Centro Itajaí. Bloco F6, andar térreo.
Horário de atendimento: Das 8:00 às 12:00 e das 13:30 às 17:30, Telefone: 47-
33417738. E-mail: [email protected]
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu, ______________________________________, abaixo assinado,
concordo em participar do presente estudo como participante. O pesquisador me
informou sobre tudo o que vai acontecer na pesquisa, o que terei que fazer, inclusive
sobre os possíveis riscos e benefícios envolvidos na minha participação. O
pesquisador me garantiu que eu poderei sair da pesquisa a qualquer momento, sem
dar nenhuma explicação, e que esta decisão não me trará nenhum tipo de
penalidade ou interrupção de meu tratamento/assistência/acompanhamento.
Local e data: _________________________________________________________
Nome: ______________________________________________________________
Assinatura do Participante: _____________________________________________
Telefone para contato: _________________________________________________
Nome do Pesquisador Responsável: George Saliba Manske
76
Telefone para contato: ([email protected] ou (47) 3341-7932)
Nome do pesquisador assistente: Sandro Alex Lemmermeier da Rosa
Telefone(s) para contato: ([email protected] ou (47) 99243-8236).
77
APÊNDICE C - OFICINAS NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL COMO TECNOLOGIA
SOCIAL
Figura 1GESTORES DE ESCOLA
GESTORES DE ESCOLAS
COORDENADORES EDUCAÇÃO
ESPECIAL
MONITORES IIALUNOS
MEDICALIZADOS
PROFESSORES DE SALA DE AULA
ALUNOS REGULARES
Medicalização Acompanhamento Socialização
Comportamentos
Desviantes Aprendizagem
Espaço
Escolar
Dificuldades de
Aprendizagem
Atividades
Diferenciadas
Projeto
Político
Pedagógico
Cultura Encaminhamentos Inclusão